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ESTUDO DE CASO: ESCOLA ESTADUAL _ “TRAÇOS DA VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA NO AMBIENTE ESCOLAR” Eduardo de Oliveira Silva 1 RESUMO O presente artigo discute a interface entre a teoria e a prática docente, na pós-formação dos cursos de extensão e aperfeiçoamento voltados para a temática da Educação para a Diversidade. Sendo objeto deste estudo uma instituição de ensino da rede estadual na região metropolitana de Goiânia, que participou de duas experiências: Oficinas Cidadãs “Gênero e Sexualidade” e o Curso “Gênero e Diversidade na Escola” ofertada em 2009/2010, pela Universidade Estadual de Goiás, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Goiás. A análise destes eventos aplicados ao contexto escolar fez suscitar evidencias de que a dinâmica do conhecimento adquirido pelos/pelas docentes por meio dos cursos provocou pouco a mudança na prática pedagógica, bem como no ambiente educacional, que desarticulado, não constrói um espaço de respeito às diferenças (de gênero, diversidade sexual, identidade de gênero, étnica, cultural e religiosa) voltadas para uma escola que eduque para a diversidade e cidadania, reconstruindo valores seculares, baseados na heteronormatividade, de forma a coibir a homofobia e toda forma de discriminação no ambiente escolar. Palavras-chave: Homofobia. Escola. Práticas Pedagógicas. Formação Continuada. Discriminação. Cidadania. Diversidade Sexual 1 Geógrafo, Professor na Universidade de Rio Verde e Professor Formador, das turmas do Curso: Gênero e Diversidade na Escola, em 2009, ofertado pela Universidade Estadual de Goiás. Email:[email protected]

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O presente artigo discute a interface entre a teoria e a prática docente, na pós-formação dos cursos de extensão e aperfeiçoamento voltados para a temática da Educação para a Diversidade. Sendo objeto deste estudo uma instituição de ensino da rede estadual na região metropolitana de Goiânia, que participou de duas experiências: Oficinas Cidadãs “Gênero e Sexualidade” e o Curso “Gênero e Diversidade na Escola” ofertada em 2009/2010, pela Universidade Estadual de Goiás, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Goiás. A análise destes eventos aplicados ao contexto escolar fez suscitar evidencias de que a dinâmica do conhecimento adquirido pelos/pelas docentes por meio dos cursos provocou pouco a mudança na prática pedagógica, bem como no ambiente educacional, que desarticulado, não constrói um espaço de respeito às diferenças (de gênero, diversidade sexual, identidade de gênero, étnica, cultural e religiosa) voltadas para uma escola que eduque para a diversidade e cidadania, reconstruindo valores seculares, baseados na heteronormatividade, de forma a coibir a homofobia e toda forma de discriminação no ambiente escolar. RESUMO O presente artigo pondera a respeito da reflexão sobre os caminhos da homofobia institucional, suas implicações e funcionalidades para a manutenção das identidades da juventude em idade escolar. Ao mesmo tempo, este artigo, evidência o ambiente de uma escola pública da grande Goiânia – Colégio Estadual Colina Azul, a importância e emergência da formação continuada para a injunção dos profissionais da educação como agentes políticos passíveis e capazes de deslocar a lógica da classificação social Palavras-chave: Homofobia. Escola. Práticas Pedagógicas. Formação Continuada.

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ESTUDO DE CASO: ESCOLA ESTADUAL _ “TRAÇOS DA VIOLÊNCIA

HOMOFÓBICA NO AMBIENTE ESCOLAR”

Eduardo de Oliveira Silva1

RESUMO

O presente artigo discute a interface entre a teoria e a prática docente,

na pós-formação dos cursos de extensão e aperfeiçoamento voltados

para a temática da Educação para a Diversidade. Sendo objeto deste

estudo uma instituição de ensino da rede estadual na região

metropolitana de Goiânia, que participou de duas experiências:

Oficinas Cidadãs “Gênero e Sexualidade” e o Curso “Gênero e

Diversidade na Escola” ofertada em 2009/2010, pela Universidade

Estadual de Goiás, em parceria com a Secretaria de Estado da

Educação de Goiás. A análise destes eventos aplicados ao contexto

escolar fez suscitar evidencias de que a dinâmica do conhecimento

adquirido pelos/pelas docentes por meio dos cursos provocou pouco a

mudança na prática pedagógica, bem como no ambiente educacional,

que desarticulado, não constrói um espaço de respeito às diferenças

(de gênero, diversidade sexual, identidade de gênero, étnica, cultural e

religiosa) voltadas para uma escola que eduque para a diversidade e

cidadania, reconstruindo valores seculares, baseados na

heteronormatividade, de forma a coibir a homofobia e toda forma de

discriminação no ambiente escolar.

Palavras-chave: Homofobia. Escola. Práticas Pedagógicas. Formação Continuada. Discriminação. Cidadania. Diversidade Sexual

1 Geógrafo, Professor na Universidade de Rio Verde e Professor Formador, das turmas do Curso: Gênero e

Diversidade na Escola, em 2009, ofertado pela Universidade Estadual de Goiás.

Email:[email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Este artigo destaca a problemática da homofobia2 na escola, com

recorte em um estudo de caso no Colégio Estadual Colina Azul, na periferia de

Aparecida de Goiânia, município localizado na região metropolitana de Goiânia,

capital do Estado de Goiás. A escolha por uma instituição de ensino pública, que

atende o Ensino Fundamental e Médio, se deu pela obviedade de que a

discriminação homofóbica, ocorre no ambiente escolar. Espaço público e de

freqüência obrigatória onde crianças, jovens e adolescentes começam a construir e

socializar suas identidades e a transmitir vínculos de afetividade. Esse ambiente de

afetividades é moldador de imposições, debates, moral, regras, limites, proibições,

que depois do grupo familiar, em grande medida, são transmitidos para os/as jovens

por meio dos espaços de aprendizagem.

Como objeto de estudo, a unidade escolar, foi escolhida pelo fato de ter tido

seu corpo docente capacitado por dois projetos de formação continuada promovidos

pela Universidade Estadual de Goiás, Oficinas Cidadãs: “Gênero e Sexualidade” e o

curso: “Gênero e Diversidade na Escola”, desta forma, configurando-se em um

valioso referencial para o ambiente de investigação em questão.

Assim, abordar a diversidade sexual, na escola, para além dos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), torna-se imprescindível e, hoje, já não é

motivo de preocupação, visto que inúmeras publicações acerca do tema se

encontram disponíveis em livros, periódicos e revistas.

Conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal.( PCN, 1998, p. 121)

2 Homofobia é “a discriminação contra as pessoas que mostram, ou a quem se atribui, algumas qualidades (ou defeitos) atribuídos ao outro gênero” (WELZER-LANG, 2001: 465). Também pode ser compreendida como a intolerância ou o medo irracional relativos à homossexualidade, que se expressa por violência física e/ou psíquica.

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Contundo, observamos cada vez mais, casos e situações envolvendo o

preconceito e a discriminação nos marcos que tramitam a diferença das pessoas no

espaço de ensino-aprendizagem. Comportamentos que, por hora, se naturalizam em

adolescentes e crianças e, ao qual, convencionamos chamar de bullying, alcunhado

pela língua inglesa para determinar a violência na Escola, com o objetivo de

achincalhar e agredir, estudantes que não fazem parte dos determinismos sociais

impostos culturalmente.

E por mais do rol da literatura a cerca do tema, ainda percebemos a

falta de preparo da sociedade (escola) para minimizar os efeitos dessas situações

que se impõem no cotidiano escolar. Quem não se enquadra na moral e nos

costumes majoritários acaba estranhado, e sofre com tal prática (bullying). Situação

está amplamente revelada numa “triste realidade travestida de novidade” tanto

difundida pela mídia impressa e televisiva, ao dar notoriedade a casos variados

Brasil afora.

Os cursos de extensão alteraram ou não a prática docente? Em que medida

isso se deu? De que maneira? O interesse de docentes e estudantes por esta

temática e a efetiva realização destes cursos de extensão, refletiu sobre o contexto

da comunidade escolar? A discriminação e preconceito diminuíram ou foram se

quer, amenizados?

2. ESTIMULANDO A EDUCAÇÃO PARA O RESPEITO ÀS DIFERENÇAS

Como estratégia e missão, além de consciente da realidade homofóbica

que passam nossa juventude, a Universidade Estadual de Goiás, (UEG)3, em 2008,

por meio da Pró Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, em convênio com a

Secretária de Estado da Educação de Goiás, realizaram oficinas de Gênero e

Diversidade Sexual, em 10 (dez) escolas, das cidades de Aparecida de Goiânia,

Goiânia, Senador Canedo, Trindade, Águas Lindas de Goiás e Anápolis. O Projeto

denominado “ Por um Mundo Possível”, teve como prerrogativa a idealização e

3 Informações disponíveis em : http://www.ueg.br/?aplicativo=busca_interna&funcao=visualizar&variavel=5262&tipo=n > Acesso em 09/11/2011.

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execução das ações nominadas de projetos: Abá, Foco, Sophia, Oficinas Cidadãs,

Lupa e Semente, que visaram dar formação continuada e aperfeiçoamento, a

professores/as e estudantes da rede pública estadual de ensino, sobre os temas:

racismo, degradação ambiental, padrões da heteronormatividade4, intolerância

religiosa, sexismo, exclusão cultural.

Assim, idéias como as de raça – no sentido social e histórico do termo –

de economia solidária, tolerância religiosa, biodiversidade, desenvolvimento

sustentável, inclusão cultural e reciprocidade das relações de gênero e sexual, foram

apresentadas como atitudes e ações diletas para a construção de um mundo

possível, de reconhecimento e respeito das diferenças, em um contexto de

mobilidade e exercício de cidadania.

Para a realização das oficinas, produzimos material específico, focado na

linguagem juvenil, em formato de livreto, cujo objetivo foi organizar na rede de

escolas públicas estaduais (um dos espaços mais importantes de concentração da

juventude) oficinas que contribuam para o protagonismo juvenil, na busca da

cidadania, possibilitando o enfrentamento das desigualdades entre homens e

mulheres, a inclusão das questões de gênero, etnia e cor, nos currículos escolares,

além do reconhecimento e busca de forma que altere as práticas educativas, a

produção de conhecimento, a educação formal e não formal a cultura e a

comunicação não discriminatórias; propiciando no sistema educacional, que não se

reproduzam estereótipos de gênero, preconceitos sexuais, étnicos, culturais, mas

que dêem cor e garantam a promoção, igualdade de direitos e a emancipação de

homens e mulheres. E foi a realização dessas oficinas, que tiveram por foco

principal a alteridade, no qual suscitou à necessidade deste artigo.

Conseqüentemente a UEG, em 2009, celebrou parceria com a

Universidade Aberta do Brasil (UAB), para replicar o Curso: Gênero e Diversidade

na Escola. Curso oferecido aos profissionais da educação da rede pública de ensino,

abordando as temáticas de gênero, sexualidade e igualdade étnicorracial. Trata-se

4 Consiste em práticas, idéias e discursos que tendem a estabelecer as relações heterossexuais como naturais e necessárias à sociedade - Moreira, Felipe; Escola e sociabilidade; as entrelinhas discursivas nos livros didáticos. Disponível em: www.identidade.org.br/2010/GATS.../Felipe%20F.%20Moreira.doc Acesso em: 01/12/2011.

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de um curso de 200 (duzentas) horas, semipresencial, que em seu bojo fornece

elementos para transformar as práticas de ensino, desconstruir preconceitos e

romper o ciclo de sua reprodução pela escola.

Mais de 60 (Sessenta) vagas para profissionais da Educação, foram

ofertadas no Pólo da UAB, em Aparecida de Goiânia; dessas vagas, 2 (duas) foram

preenchidas por professores do Colégio Estadual Colina Azul que passaram por

conteúdos modulares: Módulo 1 – Diversidade; Módulo 2 – Gênero; Módulo 3 –

Sexualidade e Orientação Sexual; e Módulo 4 – Relações Étnico-raciais.

Ávidos por caminhos que demonstrem como as práticas pedagógicas que

apontem o respeito à diversidade: étnicas, religiosas e sexuais, podem interferir nos

rumos dos processos educativos, professores/as, buscaram espontaneamente o

curso, visando instrumentos que os auxiliassem no cotidiano escolar,

especificadamente para enfrentar os assuntos da contemporaneidade: sexualidade,

gênero, homossexualidade, homofobia, relações etnicorraciais.

O Curso Semipresencial contou com 36(trinta e seis) horas aulas

presenciais, para avaliações e repasses de metodologia, e outras 164 (cento e

sessenta e quatro horas aula á distância, para leitura, atividades, trabalhos, chats

que foram desenvolvidos com o auxilio de um/uma tutor/tutora a distância e

outro/outra presencial.

Tais proposições e ações, expuseram diante dos diálogos e das

intervenções por meio dos projetos aplicativos, que foram avaliados ao fim do 6º

módulo a fragilidade que professores/as traziam consigo e se sentissem

minimamente capazes para alterar suas rotinas pedagógicas, estabelecendo um

caminho de interdisciplinaridade (Etnia, Gênero e Sexualidade), reformulando e

inovando suas propostas pedagógicas, bem como naturalizando tabus

internalizados, por meio da “moral” construída ao longo dos séculos. Esse é o

desafio que o estudo tende a demonstrar.

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3. DESCONTRUINDO E RECONSTRUINDO CAMINHOS PARA A DIVERSIDADE

E CIDADANIA

Baseado em pesquisa qualitativa, não experimental que por meio do

Estudo de Caso, tem traço marcante com a referência na – Metodologia

Participativa – que permite a atuação constante dos/das participantes no

desenvolvimento do processo educativo sem considerá-los/las meros/as

receptores/as, e nas quais depositam saberes e informações. Sampieri et al. (1991)

afirma que a pesquisa é um processo, o que implica em algo dinâmico, em

constante mudança e contínuo. Nesse caso em específico, o objeto de estudo, são

as implicações no processo de ensino aprendizagem, no pós formação e

aperfeiçoamento de profissionais da Educação, que passaram por cursos ofertados

pela Universidade Estadual de Goiás, para temas como Gênero, Identidade de

Gênero, Diversidade Sexual: Homossexualidade, Relações Étnicorraciais,

Multiculturalismo.

No enfoque participativo, como proposto para o Estudo, valoriza-se

os conhecimentos e experiências dos participantes, envolvendo-os na discussão,

identificação e busca de soluções para problemas que emergem em seu cotidiano. É

uma forma de trabalho didático – pedagógico com foco no significado de prazer, na

vivência e na participação em situações reais e imaginárias, onde através de

técnicas de dinâmica de grupo, jogos dramáticos e outros, os participantes

conseguem, trabalhar situações concretas.

Metodologias participativas têm dado suporte no embasamento

teórico da pesquisa-ação que procura conhecer e intervir em uma realidade, porém

de forma conjunta entre proponente e beneficiário das propostas (Thiollent, 1988;

Vasconcellos, 1998), e considerando as dimensões históricas, éticas, políticas e

socioculturais do conhecimento.

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Historicizando o conceito, Chizzotti, interpela que o estudo de caso

como modalidade de pesquisa origina-se nos estudos antropológicos de Malinowski

e na Escola de Chicago e, posteriormente, teve seu uso ampliado para o estudo de

eventos, processos, organizações, grupos, comunidades etc.

Neste sentido buscamos na etnografia a base de dados para o

impulsionamento do Estudo e conforme Ferreira (1986) que define a etnografia

como “estudo e descrição dos povos, sua língua, raça, religião e manifestações

materiais de sua atividade; descrição da cultura material dum determinado povo”. Ou

seja, é a descrição de determinados aspectos da cultura sem que se faça juízo de

valor.

O pesquisador etnógrafo lida com uma modalidade de pesquisa que

se vê “diante de diferentes formas de interpretações da vida, formas de

compreensão do senso comum, significado variados atribuído pelos participantes às

suas experiências e vivências e tenta mostrar esses significados múltiplos ao leitor”,

André (2004, p.20).

Enquanto a etnografia possui amplo interesse na descrição da

cultura de um grupo social, a preocupação dos profissionais da educação é com o

processo educativo porque passa esse grupo. Aqui, cabe ressaltar o entendimento

de André (2004), de que é necessário fazer uma diferenciação de enfoques nestas

duas áreas, pois os educadores não cumprem determinados requisitos da

etnografia, como, por exemplo, permanecer uma longa temporada em campo para

poder estabelecer o vinculo, o pertencer ao grupo e os dados serem revelados para

a descrição e análises. O que se tem feito, segundo André (2004) “(...) é uma

adaptação da etnografia à educação(...)” este fato leva à compreensão de que na

educação se faz estudos do tipo etnográfico.

Destacam-se, como fontes ao estudo e fundamentação teórica,

bibliografias de diversos autores e autoras, com obras relacionadas ao tema em

estudo, ao qual tive acesso, devido a participação em cursos de aplicação da

metodologia, ofertados pelo Ministério da Educação e também disponibilizados por

meio a lista de contatos da REDE da Diversidade – Secretaria de Educação

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Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI/ MEC). Foram

consultadas, como fontes principais, obras de Louro: Gênero, sexualidade e

educação; Junqueira: O reconhecimento da diversidade sexual e a problematização

da homofobia no contexto escolar; Abramovay: Juventudes e sexualidade; Carrara:

Política, direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 9ª Parada do Orgulho

GLBT – Rio 2004, dentre outros.

Além da pesquisa bibliográfica, primaz nesse trabalho, foi efetuado

visitas a campo para observação, que serviu para coletar informações necessárias

ao exame da situação. A necessidade de se utilizar a estratégia de pesquisa “Estudo

de Caso” se justifica pelo desejo de entender um fenômeno social complexo, como

o caso da HOMOFOBIA no ambiente escolar.

Assim embasados ficou claro que a homofobia faz parte de nossas

rotinas escolares. Ela é consentida e ensinada nas nossas escolas (LOURO, 2004a;

2004b). Pesquisas realizadas em 2002 pela Unesco revelaram uma inegável

presença de homofobia nas escolas brasileiras (UNESCO, 2004; ABRAMOVAY;

CASTRO; SILVA, 2004). Em outras pesquisas, realizadas em diversas Paradas do

Orgulho LGBT, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, entre

outras capitais, a escola comparece como o primeiro ou o segundo pior

espaço institucional de mais marcada manifestação homofóbica. (CARRARA;

RAMOS, 2005; CARRARA et al., 2006; PRADO et al., 2006).

Essa escola que não respeita as diferenças é descrita por Guacira

Lopes Louro:

[...] sem dúvida, um dos espaços mais difíceis para que alguém “assuma”

sua condição de homossexual ou bissexual. Com a suposição de que só

pode haver um tipo de desejo e que esse tipo – inato a todos – deve ter

como alvo um indivíduo do sexo oposto, a escola nega e ignora a

homossexualidade (provavelmente nega porque ignora) e, desta forma,

oferece muito poucas oportunidades para que adolescentes ou adultos

assumam, sem culpa ou vergonha, seus desejos. O lugar do

conhecimento mantém-se, com relação à sexualidade, como lugar do

desconhecimento e da ignorância (LOURO, 1999, p. 30).

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Políticas educacionais centradas e discussões acerca da função

social da escola na construção de masculinidades e feminilidades contrapostas ao

modelo convencional, masculino, heteronormativo, branco e de classe média, devem

permear o acento das Universidades e Escolas de todo o país.

Complementando a idéia exposta em, Junqueira (2007), lemos que,

a escola se coloca na condição de negadora dos direito de ser na sexualidade da

juventude em idade escolar, quando de forma velada, tenta negar a existência de

práticas homofóbicas:

A homofobia não é negada diretamente, mas de maneira, digamos, mais

implícita (aliás, como as denegações tendem quase sempre a ser). Assim,

na negação implícita, são negadas as suas implicações psicológicas,

físicas, morais, políticas e, em geral, o interlocutor lança mão de

arremedos de justificativas, racionalizações, evasivas, técnicas de fuga

ou desvio etc. A tônica é a da banalização autoapaziguadora (Junqueira,

2007)

Essa escola que acolhe a diversidade como princípio básico da

dignidade humana, é descrita pelo educador Paulo Freire, em sua trajetória de luta:

O respeito à autonomia moral e à dignidade de cada um é um imperativo

ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros.

(FREIRE, 1997)

Embora os teóricos acima citados defendam a escola como espaço

em que às diferenças devem ser priorizadas, pesquisa realizada em 2009 pela

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São

Paulo (FEA-USP)5 apontou que no Brasil 87% da comunidade escolar – sejam

alunos, pais, professores ou servidores – têm algum grau de preconceito contra

homossexuais.

Rebeca Grynspan, administradora-adjunta do Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e subsecretária-geral da Organização das

Nações Unidas, (ONU), afirmou em recente transmissão de mensagem para o Dia

Internacional contra a Homofobia, em 18 de Maio de 2011, que o preconceito afeta

5 Outras informações disponíveis em: <http://www.fea.usp.br/noticias.php?i=268>. Acesso em: 10/11/2011

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o acesso a educação e saúde; alertando que em mais de 80 países ainda existem

leis que consideram crime relações entre pessoas do mesmo sexo. Em alguns

casos, isso é punido com prisão perpétua ou pena de morte. “Em muitos países, a

mera defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais é algo

perigoso”, comenta a Administradora.

Outro estudo que aponta tal problemática foi realizado pela

Fundação Perseu Abramo (FPA)6 em parceria com a alemã Rosa Luxemburg

Stiftung, entitulado: “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil, Intolerância e

respeito às diferenças sexuais” revelou elevado grau de intolerância com a

diversidade sexual no Brasil. Esse estudo aponta que para 93%, há preconceito

contra travestis (para 73% muito, para 16% um pouco); contra transexuais, 91%

(respectivamente 71% muito e 17% pouco); contra gays, 92% (70% muito e 18%

pouco); contra lésbicas, 92% (69% muito e 20% pouco); e, em escala um pouco

menos intensa, 90% acreditam em preconceito contra bissexuais (para 64% muito,

para 22% um pouco). E ainda, comparativamente, o estudo assinala que é alta,

também, a taxa dos que admitem tal postura.

Apesar da realidade apresentada, é de fácil comprovação que a

sexualidade no cotidiano escolar, muito das vezes e em geral tratada por

experiências muito pontuais e esporádicas, com o viés basicamente da prevenção,

cujo a abordagem remete a doenças sexualmente transmissíveis (DST) e gravidez

na adolescência , ressaltando sempre o discurso biologizante os quais os processos

educativos envolvem em tais situações. Obstante a isso, outras emoções da

sexualidade deixam de ser explicitadas, transformando tudo em problema e

esquecendo-se de dar prazer ao vinculo afetivo e emocional, que as experiências

amorosas podem remeter, além, de invisibilizar as diferenças, criando um discurso

normalizador.

Outro aspecto a ser atentado, é o de que as escolas em sua

maioria, não possuem atividades, programas e projetos, que versem sobre a

temática de Diversidade Sexual. Professores/as vale-se de não se sentirem

6 A Fundação Perseu Abramo foi instituída pelo Partido dos Trabalhadores por decisão do seu Diretório Nacional no dia 5 de maio de 1996. Disponível em: http://www2.fpa.org.br/uploads/Pesquisa_LGBT_fev09.pdf

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habilitados para trabalhar com os “problemas” que remetam a gênero, sexualidade,

diversidade sexual, identidades de gênero.

Infantilizar as relações de afetividade e sexuais é a estratégia de

outra parcela das profissionais da educação que insistem em tratar crianças como

se fossem assexuadas, partindo da premissa de santidade angelical, também algo

da cultura e dominação judaico-cristã, que remete sexo, há pecado.

Certa feito, que crianças nessa idade já são expostas por demasia a

uma erotização dos corpos, por parte dos setores midiáticos, o que acarreta numa

deturpação de suas identidades de gênero e de suas sexualidades.

O papel da escola e de maxi salutar, quando da pré formação das

identidades sexuais e das relações de gênero, a final de contas e nesse ambiente de

convívio social que a criança e jovem, experimentam as contradições de credo, raça

e de gênero constituindo-se em um espaço genereficado (LOURO, 1997).

Os padrões e o que se deriva chamar “normalidade”, na vida sexual,

são resultantes do histórico-social e cultural, no qual, agentes e vivências são

intrínsecos como se vê nas possibilidades de variações do erotismo, caso da

homossexualidade (Barbero,2005).

Para combater a homofobia e demais preconceitos, se faz

necessário atuar no processo educativo, com os conceitos do multiculturalismo,

como forma de elucidação ao pensamento niilista heteronormativo, onde é

predominante o pensamento masculino, heterossexual, branco e cristão, entendido

aqui como: “fenômeno recente de confronto de culturas num mesmo território,

possibilitado pelo processo urbano-industrial moderno” ( GADOTTI,1995, p. 283).

Para Gadotti (1995) os princípios do multiculturalismo na educacao

e a chave mestra, para alem do mundo cada vez mais unilateralista, homogeneizado

pela tecnologia e o capital. O cenário traçado e o do equilíbrio entre o local e global

(universalizado), buscando sempre o diálogo entre as culturas com vistas a uma

convivência democrática. Para isso, “reivindica a inclusão de outros legados no

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currículo: o africano, o árabe, o oriental, o feminino, o homossexual, etc” (GADOTTI,

1995, p. 285).

Infelizmente o ambiente familiar, antes da escola é por muitas vezes

o espaço onde acontecem os primeiros contatos com a homofobia, para algozes e

vítimas, tais espaços são legitimados por padrões culturais que cultivam simbólica e

explicitamente hierarquias e moralismos em nome da virilidade, da masculinidade e

da rigidez que codifica uma determinada vivencia da sexualidade como a normal, a

consentida.

Equipe formada pela Pro Reitoria de Extensão e Assuntos

Estudantis, em parceria com a Subsecretaria Regional de Educação, em Aparecida

de Goiânia, escolheram o Colégio Estadual Colina Azul, para participar do Projeto.

Decidido, a primeira ação foi ir a Instituição de Ensino e tratar com seu corpo gestor,

para expor o conteúdo das oficinas, a forma de participação da comunidade escolar,

bem como recursos materiais necessários, etc.

No caso das oficinas cidadãs, em especial a de Gênero e

Sexualidade, optamos pela participação em separado de docentes e discentes em

salas separadas. Dividimos as turmas de 25(vinte e cinco) participantes, inscritos

voluntariamente entre os 4 (quatro) professores/as, para aplicação do vivencias,

dinâmicas em grupo, depoimentos sobre as relações de gênero e sexualidade.

Temas com Machismo, Homofobia, Racismo deram o tom dos debates em salas de

aula.

Ao todo nessa escola um pouco mais de 100 (cem) estudantes e

outros 30 (trinta) professores/as de todas as áreas do conhecimento participaram

das oficinas, voluntariamente, o prazo de duração dessa fase foi de 02 (dois) dias de

intervenção. Entre os docentes, duvidas de como desconstruir a moral carregada

em suas trajetórias de vida, trazidas pela religião e da moral social, eram o tempo

todo confrontadas com “novidades” e possibilidades de trato nas ações pedagógicas

pautadas na transversalidade do tema, bem como na interdisciplinaridade da ação

do magistério.

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Estudantes se preocupavam mais em tirar duvidas sobre as

orientações sexuais: heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade.

Foram convidados em determinados momentos a demonstrar como as hostilidades

aos seus pares que se portavam diferentes das convenções majoritárias, impostas

socialmente, por meio da heteronormatividade, se traduziam no ambiente escolar.

Foi então que os papeis de gênero, suas implicações do como se educa – Meninos

X Meninas – pode se extrapolar do retórico para o prático.

Situações vexatórias para com as meninas que se portavam mais

abertas em relação a sua sexualidade, em contraposição aos ditos ritos de

passagem, voltados aos atores masculinos, eram trazidos para o centro da roda de

conversa com questionamentos do tipo: O porque mulheres não podem “ ficar” no

primeiro encontro? Que cor foi o enxoval escolhido por seus pais, quando souberam

que você era menina/menino? O que é ser mulher? Como é ser mulher? O que

homem pode e mulher não? Existem diferenças na educação de meninos e

meninas? O que é o machismo? Por que sinto atração por pessoas do mesmo

sexo? Homossexualismo ou Homossexualidade? Homens nasceram para se

relacionar somente com as mulheres? O que é família? Como é a sua família?

Minha família: que arranjo é esse?

De forma alternada o bate papo acontecia em sala e conduzido por

um /uma especialista, o dialogo acontecia e ajudava a traçar o perfil dos desafios

que a escola deveria enfrentar, para com os/as estudantes. Entre os professores/as,

iniciamos com a construção dos conceitos de Gênero, articulados com suas

formações: educacional, religiosa, social. Por outro lado era necessário resgatar o

porquê de educar e como educar, particularmente com o que diz respeito às

diferenças.

Aliados à primeira fase de observações e vivências a oferta do

curso: Gênero e Diversidade na Escola garantiu duas vagas para que docentes da

instituição pudessem participar de mais esse momento de formação continuada.

Como fase final desse processo, retorno ao ambiente escolar, para observar a base

de aprendizado do curso, provocou mudanças na prática pedagógica dos/das

docentes do Unidade de Ensino.

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Foram avaliados os momentos de planejamento pedagógico, o

papel do coordenador pedagógico nesse debate, bem como a postura do

professor/a na conduta dos currículos e planos de aula, com ênfase na multiplicação

dos conhecimentos adquiridos, agregados ao conceito de interdisciplinaridade que a

discussão da diversidade sexual propiciou.

3.1. ETNOGRAFIA DO AMBIENTE EDUCACIONAL DA UNIDADE DE ENSINO

O Colégio que tem em sua comunidade de nível socioeconômico médio-

baixo residente nos setores circunvizinhos, tem uma área construída de 1.870,71m²,

contendo 18 salas de aula, laboratório de Informática, Línguas, Ciências, uma

quadra poliesportiva, biblioteca, secretaria, sala de professores, além de instalações

sanitárias suficientes para os alunos e funcionários, uma cozinha e uma lanchonete.

Funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno, distribuídos assim

em 54(cinqüenta) turmas, as quais oferecem Educação Fundamental de 6º a 9º ano

e Ensino Médio, em regime seriado, atendendo assim alunos a partir de 10 anos de

idade, de ambos os gêneros tendo um total de 2.016 (dois mil e dezesseis, alunos

matriculados.

A Instituição mantém o Conselho Escolar Colina Azul, composto por

representantes de cada segmento da comunidade escolar , eleitos

democraticamente conforme recomendado pela Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Estadual (LDB/GO), Lei Complementar Nº 267, DE 28 DE DEZEMBRO

DE 1998, que determina em seu Art. 106:

As escolas mantidas pelo poder público estadual obedecem aos princípios da gestão democrática, assegurada a existência de conselhos escolares paritários, dos quais participam os seguintes segmentos: direção, professores, demais servidores, alunos e pais de alunos. (Art.106, LDB/Goiás, 1998)

O quadro de servidores com 121 (cento e vinte um) funcionários sendo

59(cinqüenta e nove) professores/as e 62 (sessenta e dois) funcionários/as

administrativos distribuídos nos três turnos. A faixa etária dos professores/as é da

mais jovem com 25(vinte e cinco) anos, a veterana de 59 (cinqüenta e nove) anos.

7 Disponível em: http://www.gabinetecivil.go.gov.br/pagina_leis.php?id=7070, acesso: 20/11/2011.

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Entre os/as funcionários/as administrativos a faixa etária varia entre a mais jovem de

29(vinte e nove) e 62 (sessenta e dois) anos a veterana. Como se trata de um

Colégio de idade mediana, uma boa parcela dos professores/as é mantida com

regime de 20 (vinte) a 30 (trinta) horas semanal, distribuídas em atividades nos três

turnos: matutino, vespertino e noturno.

Com uma visão aberta à comunidade, a gestão escolar empreendeu nos

últimos anos projetos que aproximaram ainda mais os/as estudantes dos

professores/as, que aderiram a uma proposta de ressignificação dos conteúdos

propostos pela Secretaria de Estado da Educação, entre os anos de 2008 a 2010.

Disciplinas optativas foram criadas e foi adotado um regime de semestralidade,

transformando o Ensino Médio de 03 (três) anos corridos, em séries anuais, em 6

(seis) períodos semestrais, distribuídos na mesma carga horária legal. Sendo

necessariamente redistribuído por área de conhecimento: Ciência da Natureza e

suas tecnologias, Ciências Exatas e suas tecnologias, Códigos e Linguagens e suas

tecnologias, Ciência Humanas e suas tecnologias.

Tal processo diminuiu de 48% (quarenta e oito por cento) para 35%

(trinta e cinco por cento) o índice de evasão, segundo dados obtidos nas

sistematizações do último conselho de classe, realizado no final do segundo

semestre de 2010.

Para o Gestor, Prof. Rui Carlos Fernandes de Almeida, o linear das

disciplinas em ciência equitativas, dão uma noção mais abrangente da função do

conhecimento e da pratica social que os/as jovens estão buscando, pois assim

reconhecem que aprender a aprender é importante para os demais processos da

evolução do ser, para o mundo do trabalho e na continuidade dos estudos.

O trabalho pedagógico é orientado e coordenado por uma equipe de

coordenadores/as formada por pedagogos/as e graduados em áreas afins. Além dos

conhecimentos da base curricular comum a escola mantém a Banda Marcial e Corpo

Coreográfico com aulas e apresentações em horários de contra turno e finais de

semana, além de apresentações no município e cidades vizinhas. Aos sábados a

escola desenvolve o projeto Espaço de Cidadania com atividades voltadas para

atender a comunidade, pais e alunos.

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Quanto à presença dos pais, grande maioria não participada vida escolar

do/da aluno/a, pois não há evidências de incentivo ao hábito de estudos e

acompanhamento domiciliar das atividades.

No que tange o Projeto Político Pedagógico8, a direção busca mante-lo

a disposição, inclusive na rede mundial de computadores, por meio do blog do

Colégio na Internet, através do endereço: www.colinanet.com.br, pais, mães,

funcionários, estudantes e professores foram envolvidos na elaboração do

documento, que foi apresentando ao Conselho Estadual de Educação (CEE), em

maio de 2009.

Por ser uma região periférica, o setor onde a escola está inserida

apresenta alto índice de violência, prostituição e uso de entorpecentes que acabam

refletindo no cotidiano escolar. Entretanto a direção do colégio avalia que as

recentes mudanças e a abertura da escola a comunidade, bem como o

desenvolvimento de projetos de inclusão social e educacional, vêem atraindo um

número maior de “bons alunos” na escola.

Em visitas ao espaço escolar e com um olhar mais crítico em torno das

questões que envolvem a diversidade sexual em suas múltiplas facetas, é possível

perceber que, como muitas das unidades escolares, paredes da salas de aula e

banheiros são objetos de exposição de pensamentos homofóbicos, oriundos de uma

educação heterosexualizada que tem como referência o homem, classe média,

branco e cristão. Escritas com o “VIADO”, “BICHA’, “BOIOLA”, “MULHERZINHA” e

isto é visto com normalidade por estudantes e professores.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Infelizmente muito há que ser feito. O ambiente atual desta escola, por

mais que aberta, carece de mudanças. A comunidade escolar: docentes, discentes,

funcionários, pais e mães, precisam agir em conjunto, dotando seus projetos

8 Disponível em : http://www.colinanet.com.br/downloads/ppp_projeto.pdf, acesso: 11/11/2011.

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políticos pedagógicos, currículos e planos de aula, que visem à construção de um

ambiente favorável a prática e ao discurso da cidadania. Cidadania plena, que

reconheça nas diferenças, um dos principais aliados na busca de um convívio de

fraternidade, que vanglorie as especificidades de gênero, identidade de gênero,

orientações sexuais, de novas relações entre os povos e suas culturas, bem com o

respeito às raças e etnias de outras nações.

Os letrados e abastecidos com o conhecimento, precisam acordar para

alem das progressões salariais, fazendo valer o gasto de dinheiro publico na

formação continuada e de aperfeiçoamento, com particular atenção aos e as jovens

que por exercerem sua sexualidade de forma diferente, acabam sendo alvo do

preconceito e discriminação ocasionados pelo silêncio dos catedráticos professores

e professoras.

Também e importante uma revisão de conteúdo nos cursos de formação

continuada, em especial, aos de modalidade à distância, para um real aplicabilidade

de suas metodologias, haja visto, quem em uma parcela relevante dos concluintes

escolhem tratar das relações étnicorraciais e deixam de lado os projetos de final de

curso que privilegiem a transversalidade dos temas abordados: Gênero, Identidade

de Gênero, Diversidade Sexual, Raça e Etnia; em particular caso a Homofobia.

A escola é local onde a diversidade prevalece, mas até então esta tem

sido escamoteada, e continua a impor uma visão única e padrão da realidade vivida.

Por isso, a escola também virou ponto de confronto. Nela, como em outros espaços

e tempos, a alteridade é sinônima de inferioridade e não de diferença.

REFERÊNCIAS

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ANEXOS

Fac-Smile da Publicação do Projeto: Por Um Mundo Possível – UEG;2009

Fotos: Oficinas Cidadãs – Colégio ECA/ 2008/2009