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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ADMINISTRAO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO

APLICAO DE TECNOLOGIA DE PRODUO MAIS LIMPA NO SETOR METAL-MECNICO: UM ESTUDO DE CASO

ROBERTO BIRCH GONALVES

PROF. DR JAIME E. FENSTERSEIFER (ORIENTADOR) PROF. DR LUIS FELIPE M. NASCIMENTO (ORIENTADOR)

Porto Alegre, 17 de dezembro de 1998

Janete, mulher extraordinria, meu suporte nos momentos angustiantes, minha ncora no dia-a-dia, meu referencial humano a ser alcanado. Ao meu filho, Frederico, uma pequena contribuio para que tenha um meio ambiente melhor. minha me. Ao meu pai.

I

AGRADECIMENTOS

impressionante a quantidade de pessoas maravilhosas que nos ajudaram a concretizar esta rdua tarefa. Aqui registro os agradecimentos: - aos profissionais da PIGOZZI S/A Engrenagens e Transmisses, pela disponibilidade em fornecer informaes e ajuda; em especial ao Diretor Industrial, Eng. Jones Francisco Mariani, por ter oportunizado e participado, acolhendo nosso trabalho; - professora Elaine Braghirolli, pela lucidez e sensibilidade cientfica durante o desenvolvimento do trabalho; - ao professor Jaime Evaldo Fensterseifer, por um dilogo que me fez acreditar, iniciando-me neste trabalho, e tambm pela orientao eficiente e bem colocada; - ao professor Luis Felipe M. Nascimento, sobretudo um amigo, cuja orientao e estmulo nos oportunizou participar de trabalhos e pesquisas do Ncleo de Gesto da Inovao Tecnolgica do Programa de Ps-graduao em Administrao da UFRGS.

II

SUMRIO

RESUMO ..................................................... VI ABSTRACT .................................................. VII INTRODUO .................................................. 1 1- OBJETIVOS E METODOLOGIA DO ESTUDO ........................ 6 1.1- Objetivos do Estudo ................................ 6 1.1.1- Objetivo Geral ............................... 6 1.1.2- Objetivos Especficos ........................ 6 1.2- Metodologia ........................................ 7 2- TECNOLOGIA DE PRODUO MAIS LIMPA ........................ 9 2.1- Histrico .......................................... 9 2.2- Situao Brasileira ............................... 12 2.3- Gerenciamento dos Custos Ambientais. .............. 14 2.4- Produo Mais Limpa ............................... 15 2.5- Anlise do Ciclo Ecolgico ........................ 18 2.6- Gerenciamento de Produo Mais Limpa .............. 21 2.6.1- Reduo na Fonte ............................ 22 2.6.1.12.6.1.2Modificaes no Produto .............. 23 Modificao no Processo .............. 23

2.7- Operacionalizao do Processo nas Empresas ........ 25III

3- A APLICAO DE TCNICAS DE PRODUO MAIS LIMPA .......... 29 3.1- Caracterizao da Empresa ......................... 29 3.2- Cronologia dos Contatos entre Empresa e Senai-Cntl para Aplicao de Tecnologia de Produo Mais Limpa31 3.3- Motivos que Impulsionaram a Empresa a Adotar Tecnologia de Produo Mais Limpa ................. 40 3.4- Resultados da Aplicao de Tcnicas de Produo Mais Limpa ............................................. 43 3.5- Alternativas de Boas Prticas Housekeeping ...... 50 3.6- Percepo Relativa ao Atendimento dos Objetivos da Unido na Empresa .................................. 56 3.7- Perspectivas Futuras com Relao Aplicao de Tecnologia de Produo Mais Limpa na Empresa ...... 58 3.8- Dificuldades Encontradas .......................... 58 4- PROPOSIO DE UMA METODOLOGIA PARA APLICAO DE TECNOLOGIA DE PRODUO MAIS LIMPA .................................. 64 5- CONSIDERAES FINAIS E RECOMENDAES .................... 71 5.1- Consideraes Finais .............................. 71 5.2- Recomendaes ..................................... 73 BIBLIOGRAFIA ............................................... 75 ANEXOS ..................................................... 79

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 : Modelo Esquemtico do Processo Industrial. ...... 18 Figura 2 : Nveis e Estratgias de Produo Mais Limpa. .... 22 Figura 3 : Leiaute do Setor de Tratamento Trmico. ......... 49 Figura 4 : Vista Superior dos Tonis de Lixo. .............. 52IV

Figura 5 : Formulrio de Inventrio Ecolgico (IE). ........ 67 Figura 6 : Formulrio Escolha da Alternativa (EA). ......... 68 Figura 7 : Formulrio para Aplicao da Alternativa (AA). .. 70 Figura 8 : Formulrio para Validao da Alternativa (VA). .. 70

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 : Instituio, Cargo e Cdigo dos Entrevistados .... 8 Quadro 2 : Principais Marcos Legislativos Brasileiros Sobre o Meio Ambiente ................................... 13 Quadro 3 : Categorizao dos Tipos de Resduos ............. 20

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 : Motivos que Impulsionaram a Empresa a Adotar Tecnologia de Produo Mais Limpa ............... 41 Tabela 2 : Resultados da Aplicao de Tecnologia de Produo Mais Limpa na Empresa ........................... 44 Tabela 3 : Caractersticas Positivas e/ou Negativas dos Resultados ...................................... 46 Tabela 4 : Resultado do Questionrio Aplicado aos Assessores do SENAI-CNTL e Internacionais .................. 56 Tabela 5 : Perspectivas Futuras com Relao Aplicao de Tecnologia de Produo Mais Limpa na Empresa .... 58

V

RESUMO

Buscando contribuir na discusso sobre a validade de uma viso ecolgica sobre os sistemas produtivos, este

trabalho estuda o caso de uma empresa, em Caxias do Sul, que est implementando tecnologia de Produo Mais Limpa. Depois de descrever o processo de implantao desta tecnologia e de avaliar os resultados econmicos e ambientais da medida,

descreve suas dificuldades e perspectivas futuras. O trabalho prope, tambm, de e uma nova Mais metodologia Limpa, na de aplicao a uma de

tecnologia

Produo

visando de

maior o

simplicidade

praticidade,

inteno

socializar

conhecimento adquirido.

VI

ABSTRACT

In search of a way to add to the discussion about the value of an ecological view on productive systems, this dissertation presents a study case of a company situated in Caxias do Sul, RS, which is implementing the technology of Clean Production. of After Clean describing Production the process and of after

implementation

technology

evaluating the economical and environmental results of this measure, the present study describes difficulties and future perspectives on its application. This study also proposes a new simpler and more practical methodology of application of Clean Production technology and aims at sharing this acquired knowledge.

VII

INTRODUO

Nas ltimas dcadas, principalmente no perodo psconferncia Rio-92, tem aumentado a presso internacional pela preservao dos ecossistemas. Outros fatores, como uma

legislao ambiental rgida e a

preocupao cada vez maior

dos consumidores com a qualidade ambiental dos produtos, tm levado as empresas a repensarem suas estratgias de produo. As empresas, atravs de suas estratgias de

produo, so, portanto, impulsionadas a se posicionarem de uma forma mais holstica, considerando a as e extenses, a como do

ressalta

Fensterseifer

(1996),

jusante

montante

processo de manufatura, da extrao da matria-prima at a disposio final do produto, quando o consumidor no mais desejar o produto. O sentimento de ecologicamente correto firma-se tcnicas em de a toda a cadeia Mais produtiva. Limpa Neste sentido, as

Produo serem

tornam-se no nvel

ferramentas estratgico

importantes produtivo.

consideradas

A nfase da Produo Mais Limpa resduos, ao invs de tratamento

em no gerao de seja, as

do resduo, ou

tcnicas

end-of-pipe

(fim-de-tubo),

pode

significar

bons

ganhos econmicos

organizao. Este fato reforado por as tecnologias end-of-pipe transferem para o produto, seja pela adoo de

Tigre (1994, p.53): custos diretamente

acessrios que os tornem menos poluentes, seja pelo repasse do custo de minimizao dos rejeitos no seu processo produtivo. O entendimento do conceito de Produo Mais Limpa e de sua forma de aplicao torna-se, portanto, um diferencial competitivo vantajoso. Os estrategistas de produo

necessitam compreender o paradoxo ambiental: o que no passado era visto como restritivo, na verdade, pode tornar-se uma grande oportunidade de novos negcios, ou de reforo do

negcio atual. Fundamentalmente, o tema despertou interesse pelo momento histrico que o mundo est vivendo, no sentido de absoro de conceitos Na ecolgicos por em ser todas inerente ser as ao reas do

conhecimento. produtivo

indstria, impacto

processo especial

algum

ambiental,

deve

dada

ateno forma pela qual se convive ambientais.

e gerencia

as questes

Neste contexto, este trabalho visa a analisar o caso de uma empresa do ramo metal-mecnico que est implementando tecnologia impactos de Produo Mais e/ou Limpa e avaliar os possveis dessa S/A

econmicos A

ambientais analisada

resultantes a PIGOZZI

implementao.

empresa

Engrenagens e Transmisses, sediada em Caxias do Sul, Regio Nordeste do Rio Grande do Sul.

2

A PIGOZZI S/A foi escolhida, juntamente com outras duas empresas da regio, pelo SENAI-CNTL (Servio Nacional da Indstria Centro Nacional de Tecnologia Limpa), em 1996, para participar de um Projeto denominado mega, de

implementao de tecnologia de Produo Mais Limpa promovido pela UNIDO (Organizao da Naes Unidas para o

Desenvolvimento Industrial). O projeto mega est baseado na implementao de tecnologia de Produo Mais Limpa atravs do mtodo ecoprofit. Ecoprofit significa (ECOPROFIT PROjeto ECOlgico para Tecnologias Ambientais integradas) (ECOlogical Project For Integrated Environmental Tecnologies). Segundo

Fresner (1996) este programa visa fortalecer economicamente a indstria atravs da preveno da poluio. A escolha da

PIGOZZI S/A como participante do projeto mega, deveu-se ao adiantado estgio tecnolgico da empresa e sua

representatividade no setor e regio. O programa de Produo Mais Limpa da UNIDO tem trs objetivos, segundo cita a revista Industry and Environment (1994,p.4): aumentar o conhecimento mundial do conceito de Produo Mais Limpa; ajudar os governos e a indstria a

desenvolver e adotar programas de Produo Mais Limpa com uma viso de mudana do modelo de produo; facilitar a

transferncia de tecnologia de Produo Mais Limpa. Este trabalho investiga os principais motivos que

levaram a organizao a introduzir as referidas tcnicas na sua estratgia em de produo. Verifica o e retorno observa sobre se o os

investimento

quesitos

ambientais,

3

objetivos

da

UNIDO

se

concretizam

no

caso

estudado,

descrevendo as dificuldades e as alternativas encontradas. A empresas conscientizao ecolgica vem exigindo das

produtos e processos mais favorveis ao ecossistema.

No entanto, em funo da novidade do assunto, h carncia de trabalhos cientficos. As organizaes precisam de suporte terico que lhes ampare na busca da Produo Mais Limpa e conseqente reduo de custos, que ser conseguida com uma

nova viso do combate gerao dos desperdcios. Desta forma, se as organizaes tiverem melhores

referncias de como executar a produo de modo mais limpo, de se esperar uma reduo de riscos potenciais devido a danos ambientais, tanto materiais (indenizaes) quanto pessoais

(processo civil aos executivos, diretores, etc.). preciso fornecer-lhes, enfim, um melhor ferramental terico de

gerenciamento produtivo com vistas a um controle ambiental adequado. Isso reforado por Epstein (1996, p.1) que, aps discusses com diversos lderes de empresas, conclui: eles (os lderes das empresas) querem agir responsavelmente no

momento em que so sensibilizados pelas necessidades de vrios constituintes acionistas, e a empregados, comunidade. clientes, Eles querem fornecedores, estabelecer e

implementar uma estratgia corporativa sensvel ao ambiente, mas tm pouca orientao, como estrutura e mtodos para fazlo. A opo por este tema, neste trabalho, deve-se contribuio, a curto prazo, dos resultados que podem ser

4

fornecidos s organizaes que estiverem no mesmo caminho e, tambm, por sua contribuio social e que este trabalho pode ao meio ambiente, uma viso

considerando

despertar

ecolgica e mostrar que o trade-off no necessariamente negativo, ou seja, cuidar do ambiente pode no significar aumento de custos ou altos investimentos.

5

1- OBJETIVOS E METODOLOGIA 1.1- Objetivos do Estudo 1.1.1- Objetivo Geral Verificar, num caso concreto, o processo de

aplicao de tecnologia de Produo Mais Limpa e avaliar os seus resultados, objetivando contribuir para a discusso da utilidade de uma viso ecolgica sobre os sistemas produtivos.

1.1.2- Objetivos Especficos Identificar os principais motivos que levaram a

organizao estudada a introduzir o conceito de Produo Mais Limpa na sua estratgia de produo. Verificar os benefcios econmicos e ambientais

provenientes da aplicao de tcnicas de Produo Mais Limpa. Verificar se os objetivos da UNIDO esto sendo

atingidos na empresa pesquisada.

6

1.2- Metodologia A metodologia empregada neste trabalho a do estudo de caso. Esta opo deveu-se ao fato de que, na regio

proposta, a aplicao de tcnica de Produo Mais Limpa muito recente. As empresas que esto aplicando esta tecnologia encontram-se em estgios muito diferenciados, o que

dificultaria a generalizao de eventuais concluses. Os dados provenientes deste estudo podero, posteriormente, ser

comparados com os de outros casos, avanando-se, assim, na direo de um fato cientfico, como ressalta Yin (1994, p.10). As tcnicas utilizadas para o levantamento de dados foram : - 1 entrevistas semi-estruturadas com roteiro prestabelecido (Anexo 1), com a finalidade de contemplar os objetivos especficos primeiro e terceiro (item 1.1.2 deste trabalho) ; - 2 pesquisa documental, que forneceu elementos para se atingir o segundo objetivo especfico. As entrevistas foram desenvolvidas com os principais envolvidos (eco-time) na implementao do processo de aplicao da tecnologia de Produo Mais Limpa na organizao, bem como com os tcnicos

do SENAI-CNTL e assessores internacionais da empresa Stenum as ustria que participam do projeto. O Quadro 1 mostra a

instituio a que pertencem, os cargos ocupados e o cdigo para referenciar cada um dos entrevistados.

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Quadro 1 : Instituio, Cargo e Cdigo dos Entrevistados.

INSTITUIO EMPRESA:

CARGOGerente de Trat. Trmico Gerente de Forjaria Gerente de Engenharia Diretor Industrial Gerente de Manufatura

CDIGOA B C D E

SENAI-CNTL:ASSESSOR Eng. Qumica ASSESSOR Eng. Qumica ASSESSOR Eng. Qumico C1 C2 C3

STENUM:Assessor Internacional Assessor Internacional C4 C5

- 3 observaes, foram feitas durante todo o perodo analisado. Estas observaes foram executadas passos da operacionalizao da aplicao das em todos os tcnicas de

Produo Mais Limpa, focalizando com intensidade a atividade de execuo e seus resultados. A pesquisa documental foi executada nos registros da organizao alcanar e tambm nos registros do SENAI-CNTL buscando

todo o desenvolvimento do processo. Os documentos foram: atas de de reunies entre de os envolvidos, as aes

pesquisados registros

das

fichas

acompanhamento

todas

empreendidas pela empresa conforme o mtodo definido no item 2 deste trabalho, planilhas eletrnicas de clculo de

viabilidade econmica, relatrios para a FEPAM da empresa.

8

2- TECNOLOGIA DE PRODUO MAIS LIMPA 2.1- Histrico O perodo posterior Segunda Guerra Mundial trouxe um mundo vido de consumo, uma maior exigindo que os sistemas de

produo

buscassem

capacidade

produtiva

para

atender quelas necessidades. Este ajuste produtivo consigo

trouxe

um descompasso: de um lado, as naes buscando um

crescimento em benefcio de seu povo; de outro, uma agresso proporcional a este crescimento atingindo numa velocidade maior do que este o meio ambiente, absorver sem

poderia

problemas maiores. Torna-se difcil definir com preciso quando teve incio, em nvel mundial, a preocupao com a degradao do planeta. Conforme Valle (1995), diversos autores, de forma pontual, tais como precursores em Spinoza, Malthus, Humbolt e Darwin, foram seus temores em relao

manifestar

conservao dos recursos naturais. Valle Growth (1995) ao cita ainda o relatrio por um Limits grupo to de

(Limites

Crescimento)

feito

cientistas reunidos no chamado Clube de Roma, na dcada de 60. O grupo, utilizando modelos matemticos, previu riscos de um9

crescimento econmico contnuo baseado em recursos naturais esgotveis. Este documento props crescimento zero para as naes como forma de evitar a degradao ambiental. Segundo Grn (1995), o relatrio foi duramente criticado pelos pases do Terceiro Mundo, liderados pelo Brasil. O principal

argumento era de que esta limitao manteria os desnveis sociais existentes num mesmo patamar, mantendo um sofrimento social sem perspectivas de melhora. Talvez tenha sido este o

primeiro grande sinal de alerta que teve ressonncia mundial. Em 1972, em Estocolmo, aconteceu a Primeira

Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente. Como ressalta Grn (1995,p.17): a educao ambiental ganha status de assunto oficial na pauta dos organismos internacionais. O relatrio do Comit Brundtland, ou Comisso

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, publicado em 1987, Our Common Future, trouxe tona os problemas da

industrializao. A altssima demanda por recursos naturais e sua finitude foram enfocados, iniciando um processo forte em busca do desenvolvimento sustentado. A partir do conceito de desenvolvimento necessidade do sustentado, presente sem que aquele a que responde

comprometer

capacidade

das

geraes futuras de responder s suas necessidades, comeouse a equacionar a grande questo de convivncia entre

crescimento econmico e problemas ambientais. O conceito de desenvolvimento sustentado traz no seu bojo, segundo Donaire (1995, p.40), trs vertentes principais: crescimento

econmico, eqidade social e equilbrio ecolgico, induzindo

10

na direo da socializao da responsabilidade entre todas as foras da sociedade. Em julho de 1992 aconteceu no Rio de Janeiro a ECO92, Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentado, evento amplamente divulgado, e que contou com a presena de mais de uma centena de chefes de estado, mostrando que a preocupao com o meio ambiente estava globalizada . H que se adicionar a esta seqncia de fatos que denotam a preocupao ambiental os grandes desastres

ecolgicos das ltimas dcadas, de Seveso, Bhopal, Chernobyl, Basel e, mais recentemente, o vazamento de petrleo do Valdez, fatos que marcaram profundamente a comunidade mundial. A carncia e a falta de atualizao de dados no permitem avaliar mas o efeito alguns global dados dos danos ser ambientais O

perfeitamente, Relatrio Wicke

podem em

analisados. et al.

(1986), custos

citado do

Capra

(1993), na

referindo-se

aos

dano

ambiental

estimados

Alemanha Ocidental, diz que o total de danos significava 6% do PNB da Alemanha Ocidental em 1984. Conforme citado pelo mesmo autor, no h dados de balanos ecolgicos disponveis para outros pases, mas, segundo a Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), o dano est entre 3 e 5% do PNB de cada pas. Transportando para o caso do Brasil, num PIB estimado para 1997 de setecentos bilhes de dlares, teramos de vinte e um a trinta e cinco bilhes de dlares de custo de dano ambiental.

11

Por

iniciativa

da

Europa,

criou-se,

a

partir

da

dcada de 1980, um conceito de administrao e controle no sentido de reduzir danos ambientais pela produo de produtos menos agressivos ao ambiente. A preocupao ambiental tem sido foco tambm do

governo americano. Na dcada de 1960, foi criada a agncia de proteo ambiental (EPA - Environmental Protection Agency) e aprovadas leis como: Lei do Ar Puro e Lei da gua Pura, as quais tornaram-se marcos da preocupao do governo e do povo americano com o meio ambiente.

2.2- Situao Brasileira difcil saber com exatido quando iniciou Brasil a conscincia da necessidade de preservao no

ambiental.

O Quadro abaixo (Quadro 2) indica uma sucesso cronolgica de acontecimentos que marcam o desenvolvimento legislativo

brasileiro, no tendo a inteno de ser um apanhado completo. Para uma anlise aprofundada, devem ser consultadas as

legislaes estaduais e municipais.

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Quadro 2 : Principais Marcos Legislativos Brasileiros Sobre o Meio Ambiente. DOCUMENTO Decreto n. 25.645 10/07/1934 Decreto Lei n 1413 21/01/1961 Lei 73030 1973 Lei 6902 27/04/1981 Lei 6938 31/08/1981 Lei 7347 24/07/1985 Decreto n. 99274 06/06/1990 Art. 225 Constituio (1988) DESCRIO Focaliza a proteo dos animais e esclarece que todos os animais existentes no pas so tutelados pelo estado. Aprova o Cdigo Nacional de Sade Criao da Secretria Nacional Especial do Ambiente, objetivando a centralizao das aes de diversos rgos federais. Dispe sobre a criao das estaes ecolgicas e reas de proteo ambiental. Dispe sobre a poltica nacional do meio ambiente, caracterizando seus fins e mecanismos de formulao e aplicao. Disciplina a ao civil pblica por danos causados ao meio ambiente. Regulamenta as leis 6938 (31/08/1981) e 2902 (27/04/1981). Dispe em seis pargrafos as diretrizes nacionais com respeito ao meio ambiente.

O objetivo do Quadro 2 mostrar que no por falta de leis ou normas (srie de normas tcnicas NBR) que o

ambiente depredado. uma questo de cumprimento de leis, de conscincia e de vontade, ressaltando-se a intensidade da conquista

vontade poltica como um dos principais fatores da

de um bom meio ambiente. Uma das expresses polticas de muita fora no Brasil, citada por Donaire (1995), refere-se aos cuidados que o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento

(PND), para o perodo de 1975-1979, em seu captulo sobre o desenvolvimento urbano, preservao densamente do meio manifestou em relao poluio e priorizando inferir as a reas mais

ambiente,

povoadas.

Poder-se-ia

que

indstria

nacional comeava a sentir os efeitos do controle do estado; no entanto, se ainda hoje o aparato estatal de controle se mostra sem condies de prestar um servio eficiente na sua plenitude, de se pensar que naquele perodo gozava de

13

menores

condies

tcnicas

e,

portanto,

era

ainda

menos

eficiente.

2.3- Gerenciamento dos Custos Ambientais. A partir do momento em que as organizaes passam a considerar uma nova varivel nos seus processos, como o

caso da varivel ambiental, inegavelmente o sistema de custos precisa adequar-se para refletir seus efeitos, sob pena de estarem desconsiderando um componente importante que pode

afetar o resultado final da organizao. Segundo Martins (1990), a contabilidade financeira (contabilidade mercantilista, geral), que foi desenvolvida at o na era da

mostrou-se

eficiente

advento

revoluo industrial (Sculo XVIII). O autor segue dizendo ainda que, diferentemente do comrcio, a contabilidade hoje

no pode considerar apenas o valor de compra para atribuir valor aos estoques, precisam considerar uma srie de valores pagos pelos fatores de produo utilizados. Desde a

industrializao, os gestores de custos tm-se utilizado da contabilidade de custos na tentativa de refletir os

acontecimentos de produo e avaliao de seus estoques. Os grandes princpios ou filosofias de custo normalmente

utilizados so: - 1 custeio por absoro total (ou integral), em que todos os custos fixos (que no se alteram conforme variao da produo) so distribudos produo; - 2 custeio parcial, em que somente uma parcela ideal dos custos fixos

distribuda produo; - 3 custeio direto (ou varivel), em que os custos fixos no so distribudos produo.14

Conforme Campos (1996), os atuais sistemas de custos tm evoludo, adequando-se s novas necessidades, mas suas respostas no tm sido totalmente satisfatrias. Uma das

razes o fato de no incorporarem ao clculo de custos os valores intangveis no qual se inserem os ambientais. Na tentativa de as empresas encontrarem mecanismos que interiorizem os custos ambientais, Sanches (1997) destaca trs abordagens: 1 comando poder e de controle polcia (instrumentos do Estado, de

poltica

governamental,

para

conter a degradao ambiental); - 2 instrumentos econmicos (utilizados pelo governo para forar a empresa a embutir no preo do produto os custos da poluio); - 3 auto-regulao (incentivo s empresa Todos para esses adoo de prticas trazem ambientais e

sustentveis).

mecanismos

vantagens

desvantagens, cabendo s empresas adequarem-se e procederem a melhor escolha. Na viso de Sanches (1997), parece haver um

consenso de que a melhor abordagem seria uma composio das trs citadas, o que exigiria um melhor entrosamento entre governo, sociedade e indstria.

2.4- Produo Mais Limpa Muitos conceitos tentam definir Produo Mais Limpa. A UNIDO introduziu em 1989 o seguinte: a contnua aplicao de uma estratgia ambiental preventiva e integrada, aplicada a processos, produtos, e servios para aumentar a eco-eficincia e reduzir riscos humanos e ao ambiente.

15

Processos: conservao de matrias-primas e energia, eliminao de matrias-primas txicas e reduo na quantidade e toxidade de todas as emisses e resduos. Produtos: reduo nos impactos negativos ao longo do ciclo de vida do produto, da extrao da matria-prima at a disposio final. Servios: incorporao de conceitos ambientais

dentro do projeto e execuo dos servios. O termo eco-eficincia expresso na definio de Produo Mais Limpa anterior, segundo o WBCSD (World Business Council for Sustainable Development, 1993), entendido como alcanado pela entrega de produtos e servios com preos competitivos que satisfaam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, enquanto, progressivamente, reduzem o

impacto ambiental e os recursos energticos, do comeo ao fim do ciclo de vida, para um nvel, pelo menos, compatvel com as estimativas da capacidade de carregamento da terra.

Capacidade de carregamento, aqui, entendida como a capacidade da natureza absorver o elemento poluidor, reciclando-o sem prejuzo ao meio ambiente. No momento em que esta definio se refere a uma estratgia ambiental preventiva e integrada, deixa claro, com o termo preventiva, que a Produo Mais Limpa focaliza as causas dos problemas ambientais, no tratando apenas dos

sintomas. E com o termo integrada, que no se trata de uma estratgia de produo apenas, mas sim aplicvel a todas as reas da empresa.16

Conforme o Eco-Trade Manual (1995), estimado que 70% de todo o lixo gerado (resduos slidos e emisses) nos processos industriais poderia ser combatido na fonte pelo uso de atitudes ecologicamente Fica corretas, difcil, trazendo, portanto, inclusive, compreender

vantagens

financeiras.

porque no se aplica sempre as boas prticas ambientais se elas protegem o ambiente, o produtor e o consumidor. Uma

explicao razovel deve ser a de que a comunidade empresarial no est suficientemente conscientizada dos benefcios

econmicos e ambientais advindos da Produo Mais Limpa. Pela definio do PNUMA (Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente, citado em Valle, 1995, p.65) tecnologia Mais Limpa (cleaner production) significa aplicar, de forma contnua, uma estratgia ambiental aos processos e produtos de uma indstria, a fim de reduzir riscos ao meio ambiente e ao ser humano. Essa estratgia em primeiro e lugar, visa e a prevenir a gerao ainda minimizar com a o uso de de de no

resduos,

matrias-primas raciocnio de

energia.

Continuando uma

linha limpa

Valle:

adotar

tecnologia

significa dizer, entretanto, que as instalaes de uma fbrica existente tenham Ainda a que , na ser inteiramente de substitudas Kinlaw no e

sucateadas. afirma que

questo Mais

custos,

(1997) exige

Produo

Limpa,

geralmente,

investimento adicional, mas sim melhores prticas. Essas possvel, nas colocaes atuais levam de concluso de que

condies

nossas

empresas,

adotar

alguma tecnologia limpa em benefcio do bem comum.

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Ainda, com relao a definies, a ONG (Organizao No Governamental) Greenpeace, em seu documento Greenpeace`s Briefing (1995, p.1), define Produo Mais Limpa como: o alcance de nossas Isto necessidades significa usar e de produtos de modo

sustentvel. renovveis, conserva

eficientemente a energia,

recursos se

material

no-txico

enquanto

a biodiversidade. Em sntese, nas definies anteriores e conceitos de

Produo Mais Limpa, percebe-se a coincidncia no sentido de uma abordagem de preveno e no de correo do impacto

ambiental.

2.5- Anlise do Ciclo Ecolgico Segundo o que diz a primeira lei da termodinmica, ou lei da conservao de energia (citada por Odum, 1983,

p.55), a energia pode ser transformada de um tipo em outro, mas no pode ser o criada nem destruda. produtivo Desta forma, como um

possvel

analisar

processo

industrial

processo entrpico (de en, em; trope, transformao), no qual de toda energia (em todas as suas formas) que entra, parte transformada em algum tipo de resduo, conforme ilustrado na Figura 1.

energia

Processo Industrial

Produtos

Figura 1 : Modelo Esquemtico do Processo Industrial.

18

Equao Ecolgica resultante: Produtos = Materiais + Perda Residual onde Perda Residual = Resduos + Emisses + EfluentesSlidos Atmosfricas Lquidos

Concentrando-se na questo da perda residual, podese analis-la decompondo-a em dois componentes: resduos

(slidos e lquidos) e emisses, podendo-se proceder o combate no gerao ou gerenciamento de vrias formas. Mas deve-se ter claro de que forma se originam os resduos. Tem-se uma tendncia de lig-los apenas tecnologia usada no processo, o que no verdade; precisa-se ir alm, considerando outros fatores, tais como (Fresner, l996): pessoal, know-how tecnologia, (processo),

fornecedores/parceiros

comerciais,

capital, matrias-primas, produtos. Conforme Quadro 3, pode-se categorizar os resduos, para anlise e estudo. Para cada categoria de resduo algumas solues solues costumam tpicas ser tomadas como para seu gerenciamento. no entanto As as

servem

referncia,

empresas devem definir a mais adequada a seu caso especfico.

19

Quadro 3 : Categorizao dos Tipos de Resduos.CATEGORIA DE RESDUOS Matrias-primas no usadas EXEMPLOS SOLUES TPICAS Mudanas na tecnologia, automao, uso cuidadoso, treinamento do pessoal, uso de diferentes matrias-primas, estocagem melhoradas,... Uso de diferentes matrias-primas, procura de possibilidades adicionais de utilizao

Aparas de metal, papis em branco, resduos de verniz, agentes de tintura em gua residual de produtos txteis Impurezas/substncias Cinzas de combustveis, leo e secundrias de matrias-primas graxa de lminas de metal, cascas e sementes de processamento de frutas Subproduto no-desejados Gesso de precipitao do conduto de gs, lodo do tratamento de gua residual Materiais auxiliares usados leos, solventes, pincis, catalisadores Substncias produzidas na Produtos no-comerciais, partida ou no corte do empuxo recipientes apenas parcialmente do motor enchidos Lotes mal produzidos, refugos Resduos e manuteno materiais de

Materiais do manuseio, estocagem, amostragem, anlise, transporte Perdas devidas evaporao

Materiais de vazamentos

distrbios

e

Material de embalagem

Reutilizao como um novo produto, melhoria tecnolgica, mudanas no processo Reciclagem interna, limpeza e manuteno, checagem de dosagem Programao das operaes melhorada, treinamento de pessoal, tecnologia melhorada, lote de produo maiores, reciclagem interna Produtos no-comerciais Tecnologia melhorada, treinamento de pessoal, automao, garantia de qualidade Panos de filtro, leos Vida til de servio melhorada, diferentes lubrificantes, trapos de limpeza matrias-primas, fontes externas, manuteno Resduos da limpeza do Logsticas de controle, fontes externas laboratrio ou do recipiente, mercadorias deterioradas ou danificadas Perda de solventes devido a Treinamento de pessoal, uso cuidadoso, recipientes abertos, evaporao diferentes matrias-primas durante o envernizamento/limpeza, etc. Agentes de fixao de leo, Garantia de qualidade, manuteno impurezas em matrias-primas melhorada, automao, treinamento ou produtos devido ao manuseio inexperiente, perda de calor (vazamento) Papelo, lminas, pallets,... Orientaes para compra, embalagens retornveis, reciclagem/reutilizao

Fonte : Fresner, 1996, p.13. Observe-se, no entanto, que a equao ecolgica,

para sua eficcia, no se esgota no produto final. Para o ciclo completo, deve-se ter um destino ao produto quando o consumidor no precisar, por qualquer motivo, mais dele.

Questes surgem como o que fazer com o produto? Como recicllo? O Promise Manual-Concept traz o conceito de cenrio de fim-de-vida para o produto , que trabalha com estas questes

20

no sentido de evitar, ou ao menos minimizar, os impactos aps o uso. Este conceito promove uma extenso da responsabilidade da indstria.

2.6- Gerenciamento de Produo Mais Limpa A metodologia a ser utilizada pelas empresas na

aplicao de tcnicas de Produo Mais Limpa pode ter vrias origens. A definio e escolha da empresa. A Figura 2 mostra vrios nveis e estratgias com vistas Produo Mais Limpa e minimizao de resduos, a forma de aplicao depender da

segundo a filosofia Ecoprofit que foi utilizada pela empresa do caso estudado. A nfase da filosofia Ecoprofit que as medidas sejam tomadas no nvel 1, onde o custo de alteraes demanda menos esforo, tanto fsico quanto financeiro, das

organizaes. Somente aps esgotadas as medidas no nvel 1

que o nvel 2 e o 3 devem ser trabalhados, j que os custos crescem nessa ordem. Na seqncia, tm-se detalhadas as aes que englobam o nvel 1.

21

Produo Mais Limpa

Minimizao de resduos e emisses

Reuso de resduos e emisses

Nvel 1

Nvel 2

Nvel 3

Reduo na fonte

Reciclagem interna

Reciclagem externa

Ciclos bigenos

Modificao no produto

Modificao no processo

Estruturas

Materiais

Boa manuteno da casa

Substituio de matrias-primas e de processo

Modificao de tecnologia

Fonte :

Fresner, 1996, p.14.

Figura 2 : Nveis e Estratgias de Produo Mais Limpa. 2.6.1- Reduo na Fonte A reduo na fonte coincide com a expectativa da preveno, aspecto principal abordado pela tecnologia de

Produo Mais Limpa, uma vez que se elimina todo o esforo e custo de gerao dos resduos e, aps o uso, administra-se, com nova aplicao de recursos, seja na reciclagem, reuso ou disposio final. A reduo22

na

fonte

pode

ser

feita

subdividindo-se em dois grandes blocos que so: modificao no produto e modificao no processo.

2.6.1.1- Modificaes no Produto Esta medida traz consigo a simples lgica de que, na fase de desenvolvimento e projeto inicial do produto, o custo das modificaes (que ajustariam o produto tornando-o ecologicamente correto) est na habilidade e tempo do

projetista para transformar as caractersticas inadequadas. Nessa linha surge, ento, o conceito de Eco-Design, que segundo o Promise Manual (1996, p.18) significa que o

ambiente ajuda a direcionar as decises de projeto. Em outras palavras: o ambiente o co-piloto. Como exemplo, neste

estgio de desenvolvimento do produto, a escolha de um outro material mais adequado custaria, metaforicamente, apagar e

colocar uma nova descrio de material a ser utilizado.

2.6.1.2- Modificao no Processo O que no foi possvel adequar-se no projeto pode ainda ser trabalhado no nvel de processo, sempre com a viso primeira de preveno e no gerao de resduos. Como exemplo pode ser observado que, ao invs de tratar o resduo gerado pela usinagem (retirada de material) de uma pea, separando e tratando o cavaco (resduo slido excessivo retirado) e o leo, dever-se-ia analisar se realmente o leo necessrio para a usinagem do produto, se aquela operao pode ser

realizada de outro modo ou, at, eliminada.

23

As modificaes de processo podem ser subdividas em trs atuaes, a saber:

Boa Manuteno da Casa A ateno no manuseio e uso dos materiais, bem como o processo de transformao so por si s medidas de extrema valia na administrao de solues ecolgicas. quando os sistemas tradicionais Exemplo mais disso podem so os contribuir sistemas de de com seu

conhecimento. contnua,

melhoria de

programas

tradicionais

eliminao

desperdcios, o sistema 5s, etc.

Substituio de Matrias-primas e de Processo Neste contexto, as solues podem ser bastante

radicais se forem enfocados os materiais de difcil reciclagem ou de muita gerao de resduos. Talvez seja possvel obter melhorias processo significativas gerador de caso estes sejam substitudos. O

resduos

deve

constantemente

ser

criticado, j que, se for modificado, pode-se ter gerao menor de resduos, e ainda ganhos secundrios de economia de custo e de tempo.

Modificao de Tecnologia Normalmente as modificaes tecnolgicas tm sua

origem nas evolues de produto ou caractersticas de mercado. Este procedimento exige, em geral,24

custo

e/ou

esforo

de

desenvolvimento elevados; portanto, sua aplicao necessita de anlise profunda e cuidadosa.

2.7- Operacionalizao do Processo nas Empresas A forma de operacionalizao nas empresas depender da assimilao do mtodo de Produo Mais Limpa a ser

implementado. A Tecnologia UNIDO, Limpa no atravs Rio de Grande seu do Centro Sul, Nacional apresenta de uma

metodologia baseada no mostrada, que traz o

desenho da Figura 2, anteriormente delineamento e fluxo seqencial de

trabalhos a serem realizados para uma Produo Mais Limpa. A Figura 2 mostra que o combate ao resduo, partindo do nvel 1, busca a soluo na fonte com nfase preventiva, contrariamente ao que dispe a tcnica fim-de-tubo. Esta posio reforada por Valle (1995) que constata que a abordagem lgica, ao invs da tradicional (fim-de-tubo), embora exija mais complexidade

no desenvolvimento da soluo a ser utilizada, menos onerosa para a empresa. Descrevem-se, a seguir, os passos da metodologia

referida com algumas consideraes sobre cada passo.

25

Diagnstico Procede-se o levantamento das reas que geram

resduos ou emisses para ter uma viso macro do sistema, tanto da qualidade (tipo, toxidade, caractersticas)quanto da quantidade de resduos.

Coleta de Dados A importncia coleta para de a dados considerada Mais Limpa. de fundamental Deve-se ter

Produo

conhecimento atualizado dos principais fluxos de materiais e energia, construindo o que se chama balano de material e energia, que servir como alicerce para todos os passos da

metodologia e estudos futuros. Alm disso, deve-se coletar documentos emisses de entrada de e sada de que tratem de resduos e de

(faturas

firmas

disposio,

documentos

rgos ambientais, faturas de concessionrias, etc.)

Avaliao do Balano de Material e/ou Energia Neste estgio, faz-se a avaliao dos desperdcios, respondendo a questes do tipo: Por que so gerados? Como? De onde?

Definio de Prioridades A hierarquizao partir das da avaliao, a serem procede-se atacadas. a uma

prioridades

Fazem-se

perguntas do tipo: Onde so gerados os maiores desperdcios? Onde temos o maior problema?

26

Balano Detalhado das Prioridades Tomam-se pontualmente, as prioridades em definidas tais e analisam-se locais

dividindo-as

partes,

como:

especficos, mquinas, ou qualquer outra que contribua para a anlise das prioridades.

Identificao das Tcnicas de Produo Mais Limpa Identificam-se as tcnicas limpas indicadas, e

possveis, para cada caso analisado. Esta fase requer um bom domnio das tcnicas e/ou assessoramento.

Estudo de Viabilidade Verifica-se se a aplicao da tcnica de Produo Mais Limpa vivel economicamente. Os conceitos de matemtica financeira (vpl valor presente lquido e tir taxa interna de retorno) mostram-se se bem suficientes em para avaliao de

investimento,

que,

alguns

casos,

tornam-se

desnecessrios pela obviedade do melhoramento.

Identificao de Barreiras Analisa-se a possibilidade de outras barreiras, que no foram consideradas at este passo, para implementar-se a tcnica. Elas podem ser comportamentais, de treinamento, de espao fsico, de tempo de execuo, etc.

27

Implantao da Tcnica Neste medidas vistas estgio, como operacionaliza-se, uma vez executando que os as

necessrias,

estgios

anteriores j garantiram sua exequibilidade.

28

3- A APLICAO DE TCNICAS DE PRODUO MAIS LIMPA 3.1- Caracterizao da Empresa PIGOZZI S/A ENGRENAGENS E TRANSMISSES, tradicional fabricante de engrenagens, sediada em Caxias do Sul, foi

fundada em 1 de abril de 1955, por Ramiro Pigozzi, Ubaldino Pigozzi, e Joo Luiz Cipolla, sob a denominao social de Pigozzi Cipolla & Cia Ltda. O objetivo social era, ento, a fabricao de

mquinas industriais e oficina mecnica. Ela localizava-se Av. Jlio de Castilhos, nmero 1301, em Caxias do Sul, RS. Durante o governo de Jucelino Kubitschek (1956 a 1961), a indstria automobilstica e de tratores teve o seu impulso inicial. Paralelamente a este fato, surgiram as

indstrias de implementos agrcolas. Todas estas indstrias aplicavam engrenagens em seus produtos. Nascia, ento, um

mercado muito atraente. Nesta poca, mais exatamente em 1957, a fabricar engrenagens e conjuntos Pigozzi passa veculos

para

autopropelidos. Ainda neste ano, a empresa adquiriu a primeira geradora de dentes Rennia do sul do pas.

29

Com

a

crescente

procura

por

engrenagens,

e

a

necessidade de maior espao fsico, em 1959, a Pigozzi mudouse para a Rua Visconde de Pelotas, nmero 2145, em Caxias do Sul, onde permaneceria at dezembro 1986. Em 1962, devido crescente procura por engrenagens, a Pigozzi passou a operar em regime de dois turnos de oito horas, experincia pioneira na poca, e que perdura at hoje. Em 1966, a empresa mudou o tipo jurdico, passando a ser Sociedade Annima. A nova denominao social passou a ser Pigozzi Cipolla S/A Indstria de Engrenagens. No ano de 1966, a Pigozzi abriu uma filial em So Paulo para melhor atender o mercado de peas para reposio. Esta filial atuou at 1971, quando a empresa centralizou em Caxias do Sul o departamento comercial. No perodo de 1972 a 1976, com o crescimento da fabricao de tratores agrcolas, surgiu a oportunidade de mercado que, associada disponibilidade de recursos federais para investimentos (via BRDE), determinou a importao de

dezenas de mquinas, com base em projeto aprovado pelo CDI (Conselho de Desenvolvimento Industrial). Essas importaes foram incentivadas pela reduo de alquotas de impostos de

importao. Tal fato foi determinante para o desenvolvimento da capacidade produtiva e tecnolgica da empresa, marcando uma passagem para outra fase.

30

Em 25 de maio de 1988, a empresa alterou a razo social para Pigozzi S/A Engrenagens e Transmisses,

perdurando essa razo at hoje. A empresa caracteriza-se, ainda, por um evidenciado grau de pioneirismo em suas aes. Exemplo disto so: a

empresa adquiriu sua primeira mquina de comando numrico em 1974 quando poucas empresas nacionais tinham este tipo de equipamento; compete produzindo lotes pequenos de produtos com alta tecnologia de processo, de do exigindo de sua produo no data seu de

constante processo; dezembro novamente utilizadas comandadas

habilidade a de a conquista 1994, nsia na por

inovar,

principalmente da ISO-9001

certificado iniciado em as so

sendo pela

1992,

caracterizando de medio, gerao, de

inovao; de peas,

mquinas de o

aferio

ltima

computador,

colocando

Departamento

Qualidade na ponta tecnolgica da regio. A empresa compete produzindo lotes pequenos de produtos com alta tecnologia de processo, exigindo de sua produo constante habilidade de inovar, principalmente no seu processo produtivo;

3.2- Cronologia dos Contatos entre Empresa e Senai-Cntl para Aplicao de Tecnologia de Produo Mais Limpa O pesquisador traou, com base nas atas de reunies entre a empresa e o SENAI-CNTL, e em suas observaes, a cronologia das atividades relacionadas ao processo de

aplicao de tecnologia de Produo Mais Limpa na empresa. Ela foi submetida apreciao a do eco-time possuem da as empresa. Os

acontecimentos

descritos

seguir

retificaes

31

sugeridas

pelo

eco-time,

bem

como

mantiveram-se

o

mais

fielmente possvel aos registros documentais pesquisados.

Incio do Projeto O projeto teve incio com a assinatura, por parte da empresa, de dois documentos, Acordo de Parcerias e Termo de Adeso, na data de 03 de junho de 1996, sendo que a durao prevista do projeto mega era de doze meses. O referido

projeto iniciou em maio de 1996, com trmino previsto para julho de 1997.

Dia 17/07/1996 A empresa recebeu comunicado do SENAI-CNTL

informando da programao proposta para a primeira visita dos consultores internacionais, e do primeiro encontro tcnico com finalidade de treinamento inicial, que seria orientado pelos assessores internacionais, e destinar-se-ia a todas as

empresas participantes do projeto.

Dia 04/09/1996 Reunio entre a empresa e a equipe do SENAI-CNTL. Equipe interna: Eco-time Equipe externa: Assessores do SENAI-CNTL (C1,C3) Objetivo Esclarecimento sobre preenchimento das folhas de

trabalho para o mtodo Ecoprofit.

32

Nesta reunio foi definido que o preenchimento seria feito da seguinte forma: Folha de Trabalho n. 1: Colocao dos principais produtos. Na discusso, apareceu a idia de colocar os

principais conjuntos fabricados (carros-chefe). Folha de Trabalho n. 2: Os principais resduos e emisses. Foram listados alguns resduos, como exemplos: cinzas do incinerador; lodo de cianeto; sal de tmpera; cadinho dos fornos de tratamento; sucatas diversas (peas refugadas, ferro fundido, ao inox, etc.); resduos dos leos solveis e lubrificantes; borra de tinta; solvente.

Folha de Trabalho n. 3: Destinada ao preenchimento das principais matrias-primas e materiais auxiliares, onde foi decidido incluir sais e leos, dentre outros. Folha de Trabalho n. 4: Destinada listagem dos produtos perigosos, de todos os qumicos, inclusive

detergentes, solventes, tintas e graxas. Folha de Trabalho n. 5: Categorizar os resduos e emisses, tendo sido definido seguir o exemplo da pgina 19 do manual Ecoprofit.

33

Folha de Trabalho n. 6: As discusses prosseguiram explicando-se a lgica de preveno e minimizao de resduos e emisses. Neste momento, foi alertado para a idia da no gerao. Folha de Trabalho n. 7: Orienta para a discusso da preveno e minimizao de resduos atravs da substituio de materiais. Folha de Trabalho n. 8: Foi esclarecido que tinha o mesmo objetivo de preveno e minimizao, da folha 7, mas atravs de modificao tecnolgica. Folha de Trabalho n. 9: Foi sugerido pelas pessoas do SENAI-CNTL que fosse vista posteriormente, pois naquele momento no havia conhecimento suficiente para esclarecimentos necessrios. Nesta reunio, os comentrios pelas pessoas da

empresa davam conta que seria mais uma carga de trabalho sem benefcios claros. Mas, como a empresa tinha inteno de

certificar-se em ISO 14000, este processo, talvez, pudesse ajudar.

Perodo de 04/09/1996 a 04/11/1996: O processo ficou a cargo do Gerente de Engenharia, que repassou a parte operacional, principalmente para o

Gerente do Centro de Informao pela possibilidade maior de conseguir os dados.

34

Os consumo de

dados estoque

foram de

obtidos produtos

atravs (leos,

de

relatrios

de

sais,

materiais

qumicos e outros), e um relatrio especialmente criado para este fim, que trazia o peso inicial e final das peas, sendo possvel calcular o material retirado durante o processo de produo. As folhas foram preenchidas prximo da reunio com assessores do SENAI e da UNIDO. Como a produo estava alta, relegando este processo a segundo plano.

Reunio de 04/09/1996 Equipe SENAI-CNTL, e assessores; Equipe empresa. Objetivo: Avaliao das folhas preenchidas e definio do

andamento dos trabalhos. Na abertura da reunio, o Gerente do Centro de

Informao esclareceu sobre o critrio de avaliao, o qual, ao invs de listar os produtos principais, a empresa optou por definir que o consumo maior poderia ser medido atravs da quantidade utilizada de ao e ferro fundido, utilizados na transformao em produto final, uma vez que estes eram as grandes geradores de resduos. Foi transmitido que a empresa encontrou dificuldades no preenchimento de alguns campos das folhas do mtodo Ecoprofit. Posteriormente a empresa apresentou seus dados folha a folha, colocando-os para avaliao e orientao dos

assessores sobre o diagnstico e atos da empresa, at aquele35

momento. A opinio dos assessores foi favorvel, pois que ficou claro seu contentamento com a forma como a executou continuar suas o aes. As orientaes observando-se foram a no empresa de das

sentido

processo,

preciso

informaes, como o elemento fundamental para sustentar as atividades posteriores de anlise e definio de tcnicas a serem aplicadas. Aps, foi realizada uma visita na empresa. No setor de tratamento trmico, os assessores mostraram sua preocupao com o consumo de cianetos, material altamente txico. Foi comentada, ainda, a questo dos leos residuais, pois os

assessores internacionais observaram excesso deste produto no cho da fbrica e tambm junto ao depsito de resduo slido de ao (excesso retirado das peas). Neste local, o leo

escorria pelo cho indo at o esgoto cloacal, no passando por nenhum tipo de tratamento posterior. Foi visitada, tambm, a instalao de tratamento de

efluentes, no agradando aos assessores, principalmente pela ausncia de um controle mais rigoroso, com medies das

diversas variveis periodicamente. Depois da visita algumas sugestes foram feitas.

Entre elas, destacam-se: fazer um levantamento mais detalhado dos resduos slidos, definindo etapas e pontos mais crticos de gerao; medir os vazamentos que, no36

de

ar de

comprimido. semana, com

Foi os

sugerido

final

equipamentos medir qual

de

consumo desligados, a quantidade o

poder-se-ia por o

era

perdida medindo

vazamento,

procedendo-se

clculo

tempo em que os compressores se esvaziariam; priorizar as perdas de ao sob o ponto de vista econmico. Para isso, torna-se importante

acompanhar o processo das peas com maior perda de material entre o incio e o fim do processo. Perodo de 04/11/1996 a 06/03/1997 Neste perodo, houve nova certificao da empresa na norma NBR ISO 9001, pela certificadora DNV, certificao esta que substituiu a antiga de 1994 junto ao Inmetro, de carter nacional apenas. Apesar dessa situao e do grande nmero de documentos a serem preenchidos, os trabalhos desenvolveram-se

e puderam ser apresentados na reunio de maro/1997.

Reunio 06/03/1997 Equipe externa: Assessores SENAI-CNTL (C1,C2,C3) Equipe interna: Eco-time Objetivo Avaliao dos trabalhos realizados e preparao da reunio com assessores internacionais programada para o final de maro. Diversos tpicos foram abordados na reunio, quando, ento, a empresa explicou o que fez, sem, contudo, demonstrar os dados, explanou suas intenes futuras e solicitou

informaes. Entre os tpicos abordados, destacam-se:

37

-

reaproveitamento

de

leo

de

corte

com

mquina

centrfuga adquirida para este fim; inteno demanda deveria de com adquirir novo um novo controlador o de que de

software no

especfico, e

repercutir

consumo

controle

energia eltrica; inteno embora, de suas estudar o corte com de ao sem leo, dessem

pesquisas

fornecedores

conta de que era impossvel. A empresa solicitou ajuda ao SENAI-CNTL para resolver este assunto; solicitao ao SENAI-CNTL para que os documentos e correspondncias fossem traduzidas para o

portugus; definio da forma de registrar os acontecimentos envolvendo a aplicao de tcnicas de Produo Mais Limpa; solicitao ao SENAI-CNTL de informaes sobre

processos como por exemplo, a conformao a frio, que interessava empresa; solicitao ao SENAI-CNTL para de informaes de sobre de

financiamento

implantao

sistema

gesto ambiental. O SENAI-CNTL comunicou que, a partir daquela data, os assessores C2 e C3, Eng. mega, qumicos, por 2 estavam e integrados que no dia

oficialmente

ao

projeto

anos,

26/03/1997 ocorreria um seminrio sobre economia ambiental na Universidade de Caxias do Sul.

Perodo de 06/03/1997 a 03/04/199738

A

empresa

finalizou

as

planilhas

exigidas

pelo

mtodo Ecoprofit, com dificuldades pela falta de seqncia lgica entre as folhas do mtodo, e preparou a reunio do dia 03/04/1997.

Reunio 03/04/1997 Equipe Externa: Assessores SENAI-CNTL, (C1,C2,C3) Assessores Internacionais, (C4,C5) Equipe Interna: Eco-time Objetivo Apresentar e avaliar medidas relacionadas de

Produo Mais Limpa e discutir assuntos gerais. Na abertura da reunio, o Gerente de Engenharia

falou da dedicao da empresa ao projeto mega ressaltando que a empresa iniciou, no perodo, um plano de implantao de ISO 14000. Aps, o Gerente do Centro de Informaes apresentou algumas transparncias sobre os trabalhos realizados at

aquela data. Os itens mais enfocados foram as melhorias no reaproveitamento de leos, reduo dos resduos slidos de aos e fundidos. Em relao quase sem gua, custo que de da provm de poos foi um

artesianos, definido que

portanto seria

aquisio, colocao de

controlada

atravs

medidor, com vistas melhora ambiental, orientando na reduo de seu consumo. Foi esclarecido que a pronta colocao em funcionamento de um novo forno de 200 kw para normalizao (processo de tratamento trmico nas peas), que estava em

39

construo,

economizaria

200

kw

de

energia

eltrica,

pois

substituiria outros dois existentes de construo antiga e ineficientes na transformao da energia eltrica em calor. Ao final da reunio todos os elementos do eco-time da empresa manifestaram-se, demonstrando conscincia e

determinao na busca de alternativas de melhoria atravs da aplicao de tcnicas de Produo Mais Limpa em cada parte da empresa. Cumpre ressaltar que, aps esta ltima reunio formal do projeto mega, a empresa continuou a aplicao de tcnicas de Produo Mais Limpa, embasada no conhecimento adquirido,

tendo havido um distanciamento dos assessores externos com a empresa assumindo o controle total do processo.

3.3- Motivos que Impulsionaram a Empresa a Adotar Tecnologia de Produo Mais Limpa O entendimento dos motivos que impulsionam uma

empresa a adotar uma nova tecnologia um fator relevante e uma referncia bsica para outras organizaes. Tomando-se Anexo 2 (tabela de como base a Tabela tem-se 1, o reproduzida mapeamento do das

resultados),

respostas dadas referentes primeira pergunta, com seus dois enfoques. (Que motivos voc cr levaram a empresa a aplicar as tecnologias de Produo Mais Limpa? Destes motivos, qual o principal?).

40

Tabela 1 : Motivos que Impulsionaram a Empresa a Adotar Tecnologia de Produo Mais Limpa. Resposta Motivos Conscincia pela melhoria do meio ambiente Buscar um retorno financeiro, eliminar sobras que so custos Atender a legislao Buscar o objetivo ISO 14001 Reforo de marketing (divulgao) Atender a uma demanda interna dos funcionrios Recomendao de assessor da empresa Motivos Principais Cumprir a legislao Retorno financeiro, reduo de custos Conscientizao A B C D E 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Freqncia 5 4 2 2 2 1 1

1 1 1 1

1

2 2 1

Observa-se que a resposta dada com maior freqncia primeira parte da questo (Que motivos voc cr levaram a empresa a aplicar as tecnologias de Produo Mais Limpa?) foi a conscincia da necessidade de melhoria do ambiente. Esta unanimidade vem a favor da afirmao de Epstein (1996, p.1), j citada anteriormente na introduo deste trabalho, de que os empresrios querem agir responsavelmente, mas no sabem exatamente como faz-lo, pois no dispem de mtodo e/ou

instrumento tcnico para sua execuo. No caso avaliado, como a empresa teve a seu alcance uma metodologia, seus dirigentes imediatamente perceberam este fato e partiram para a ao, executando medidas que minimizaram, e at eliminaram em alguns casos, o impacto ambiental . O segundo motivo mais citado foi o retorno

financeiro, tambm entendido como eliminao de sobras ou de custos. Esta varivel apenas no foi lembrada por um dos

41

participante do eco-time, que chefe de setor, ou seja, no participa das decises de investimento e no tem acesso a todos os indicativos financeiros da empresa, o que talvez seja a razo principal dele no ter citado o retorno financeiro como um fator preponderante na aceitao da nova tecnologia. Em terceiro lugar, com igual freqncia de do da

respostas, aparecem: atender a legislao, conquista certificado imagem de de gesto ambiental da ISO-14001 e e reforo

tecnologia

empresa

mercadolgica.

Aqui

observa-se a legislao aparecendo como fator impulsionador externo, e o reforo de imagem e certificao em sistema de gesto ambiental como impulsionadores internos empresa. Uma

resposta que merece ateno foi a de atender a uma demanda dos funcionrios. Perguntando-se mais a respeito, o

entrevistado explicou que como a empresa j havia aplicado o sistema de organizao e limpeza 5S, os funcionrios da rea que ele chefiava j manifestavam, poluio. existem Este esporadicamente, fato refora que a

preocupaes idia de que

relacionadas em locais

onde

sistemas

buscam

organizar, limpar, etc. estes podem servir de base e auxiliar nos processos mais limpos. Apenas um dos entrevistados lembrou a recomendao de um assessor da empresa, induzindo concluso de que este fator no relevante se comparado conscientizao por parte da empresa e o retorno financeiro possvel de ser obtido. Caso este fato se comprovasse em outras anlises de casos,

orientaria as empresas de consultoria em projetos ambientais a venderem o produto tecnologia42

de

Produo

Mais

Limpa,

justificando,

principalmente,

atravs

do

possvel

retorno

financeiro, uma vez que o fato de assessores recomendarem no parece, por si s, ser um fator suficiente. Quando na questo 1 (Roteiro de entrevista, Anexo 1) se solicitou aos entrevistados que apontassem o motivo

principal, observa-se que a conscientizao aparece em ltimo lugar. No entanto, quando se perguntou, na primeira parte da questo, apareceu sobre de os motivos sem hierarquiz-los, Isto reafirma este fator a

maneira seja

unnime. um fator

que, o

embora

conscientizao

sempre

lembrado,

elemento

coercitivo como a legislao se mostra mais eficiente como impulsionador de atitudes ambientalmente corretas. A varivel retorno financeiro como fora impulsionadora aparece tambm com maior freqncia induzem a do que concluir conscientizao. que as trs Estas foras

constataes

impulsionaras das solues ambientais so: o estado exercendo o papel de legislador, a indstria buscando novas formas de lucro e adequao e a sociedade participando e assimilando os conceitos ambientais. O comprometimento socializado e ordenado destas trs foras tm como resultado o desenvolvimento

sustentado e a ecoeficncia do sistema produtivo.

3.4- Resultados da Aplicao de Tcnicas de Produo Mais Limpa A anlise destes resultados pode ser dividida em duas partes: uma qualitativa, baseada nos dados coletados nas entrevistas, por conseguinte, na percepo dos entrevistados;

43

e uma quantitativa, baseada nos dados extrados da verificao documental na empresa.

Qualitativa A anlise qualitativa baseia-se na Tabela 2 que

retrata as respostas questo 3, e seu subitem, Anexo 1 (Quais so os resultados da aplicao de tecnologia de

Produo Mais Limpa na empresa? Comente as caractersticas positivas e/ou negativas destes resultados.).

Tabela 2 : Resultados da Aplicao de Tecnologia de Produo Mais Limpa na Empresa. Resposta A B C D E Coisas simples com efeito e retorno imediato, 1 1 1 economia. Desenvolvimento da capacidade da empresa em 1 relao s tecnologias de Produo Mais Limpa. Conscientizao dos funcionrios, aculturamento 1 1 1 1 de todos. Reconhecimento externo do trabalho ambiental, 1 na empresa. Viso de eliminar desperdcio na fonte, nova viso de olhar o processo, melhorias no processo, 1 1 1 quebra de tabus. Surpreendente revelao da quantidade de 1 resduos. Conservao do meio ambiente e das pessoas. 1 Adequao dos processos legislao. 1 Freqncia 3 1 4 1 3 1 1 1

Observa-se

que

duas

das

respostas

de

maior

freqncia, Conscientizao dos funcionrios, aculturamento de todos e Viso de eliminar desperdcio na fonte, nova viso de olhar o processo, melhorias no processo, quebra de

44

tabus, poderiam ser resumidas do seguinte modo: uma nova forma de encarar o processo produtivo. Assim vieram tona, e comearam a ser considerados desperdcios, os excessos de

materiais, energia e esforos que, antes da aplicao das tcnicas de Produo Mais Limpa, eram considerados inerentes ao processo de produo. A resposta surpreendente revelao da quantidade de resduos refora esta observao no momento em que revela o desconhecimento da quantidade de resduos, portanto aceitando-os como inerentes ao processo. Partindo-se do princpio de que os resduos sempre existiram, e estavam por toda a empresa, apenas ela no percebia o que eles

significavam em termos de custos ou de esforo na sua gerao. Estas respostas indicam uma nova postura, da e na

organizao, perante o meio ambiente e diante de seus prprios resduos. A empresa adotou a prtica de questionar os porqus da gerao do resduos e no mais a de que fazer com os mesmos ou a de deixar o problema de lado. Este fato pode ser resumido nas palavras do diretor industrial, quando se refere aos

benefcios da aplicao de tecnologia de Produo Mais Limpa: quantitativamente no saberia colocar, mas a conscientizao que o programa trouxe acerca do problema, a economia e a conservao do meio ambiente e ainda, esta nova forma de

encarar a produo, acho que no tem como avaliar. A resposta Coisas simples com efeito e retorno

imediato enfoca, no mbito da percepo dos entrevistados, que houve Produo benefcios financeiros em adotar as tcnicas de Mais Limpa, como No reduo em de custos, foram e retorno

financeiro

atrativo.

momento

que

executadas

coisas simples, sem custo, somente boas prticas reforando45

na prtica o que foi colocado na reviso da literatura por Valle (1995, p.65) e Kinlaw (1997, p.157). Ainda a respeito da anlise qualitativa, observa-se a tabela a seguir (Tabela 3) que reproduz as respostas questo 3, segunda parte (Comente as caractersticas positivas e/ou negativas destes resultados).

Tabela 3 : Caractersticas Positivas e/ou Negativas dos Resultados. Resposta Positivas Melhoria contnua. Conscincia de que vlido fazer algo pelo meio ambiente. Aumento da capacidade de raciocnio e interpretao, reforando as idias com tcnicas. Aumento de competitividade por evoluo do processo Negativas No tem nenhum. A B C D E 1 1 1 1 1 1 Total 1 3 1 1

1

1

1

1

1

5

Pode-se ver, nessa Tabela, no item que se refere s caractersticas positivas, que variam as colocaes, mas todas indicam a validade, para a empresa estudada, da aplicao de tecnologias de Produo Mais Limpa. O aspecto principal da anlise da Tabela 3 est na unanimidade da afirmao de que no houve aspecto negativo ao se aplicarem as tcnicas de Produo Mais Limpa. Os

comentrios negativos, deste item, referem-se relao entre os participantes, principalmente, devido pouca experincia

46

do pessoal ligado ao SENAI-CNTL neste tipo de implementao de sistema, o que distanciou a empresa, fazendo com que ela tomasse muitas medidas por conta prpria. No entanto, este fato comprova o quanto a empresa absorveu os conceitos e

internalizou a filosofia de Produo Mais Limpa.

Quantitativa A anlise quantitativa baseia-se na verificao de documentos da empresa. A seguir, tm-se alguns exemplos de alternativas utilizadas com os resultados medidos de forma objetiva.

CASO 1 Aquisio de uma centrfuga para separao de limalha e leo de integral. Anteriormente, era uma quantidade com o

muito

grande

leo

integral

arrastado

junto

resduo metlico que era retirado do produto final, quando de sua usinagem. O leo era levado junto com os resduos slidos, atravs de caminhes, para reciclagem em usinas produtoras de ao. Alm do custo do leo, tem-se um impacto ambiental por derrame de leo no transporte ou por evaporao na reciclagem. So os seguintes os resultados: - investimento: R$ 2.800,00; R$ 26.750,00 ao ano; do investimento: 5,5

- benefcio econmico: semanas; perodo de

recuperao

- Benefcio ambiental: reduo de 11.500 litros de leo/ano.

47

CASO 2 - Troca de matrizes simples por matrizes duplas (5 matrizes x 2). Na empresa estudada, havia o conceito de que, em funo dos lotes de fabricao serem pequenos (mdia de 100 peas), o investimento em se executar matrizes com figuras duplas, ao invs de simples, no se justificava. Isto ocorria porque a anlise contemplava apenas o investimento inicial, e a dificuldade de execuo da matriz dupla, que maior do que a simples. A partir da nova viso, proveniente do Projeto mega, a empresa detalhou os clculos de 5 matrizes, que foram transformadas de simples para duplas, e considerou a produo mdia das peas produzidas pelas mesmas, chegando ao seguinte resultado: - investimento: R$ 17.260,00; R$ 30.490,00 ao ano;

- benefcio econmico:

- perodo de recuperao do investimento: 7 meses; ao/ano. benefcio ambiental: reduo de 30.600 Kg de

CASO 3 - Recuperao de resduos do banho de sais Para os casos 3 e 4, deve-se considerar a figura abaixo do leiaute do setor de tratamento trmico por imerso em sal. Este processo consiste em imergir as peas num cadinho com sal C3K5, rico em cianeto, dentro a de um forno as para peas

cementao,

aquecido

eletricamente

930C.

Aps

passam para um forno a 850C, para homogeneizar a dureza da

48

pea, em sal inerte. Seguindo, as peas passam no forno de mar-tmpera a 250C e aps so lavadas, retirando-se os

excessos de sal remanescentes.

1Cementao

2Tmpera

3Mar-tmpera

4Lavagem

ETE

Estao de TratamentoIntermedirio

Figura 3 : Leiaute do Setor de Tratamento Trmico.

As peas durante o processo passam do forno 1 ao 2, gotejando sal do tratamento das peas no cho. Foi colocada uma ponte de chapa de ferro, retirada da sucata, entre os fornos, a qual recolhe o material derrubado e, aps, quando o resduo esfria (15 min), ele retorna ao forno, erguendo-se a ponte e batendo-se na parte de baixo da mesma. Para a coleta de dados foi pesado, durante 15 dias, o material recolhido na ponte. So os seguintes os resultados: - investimento: - Nenhum; - benefcio econmico: R$ 245,00 ao ano;

- perodo de recuperao do investimento: imediato; - benefcio ambiental: recuperao de 92 Kg sais/ano (LTDS e C3 / K3).

49

CASO 4 - Lavagem em cascata aps o banho de sais. Considera-se a Figura 2, apresentada no caso 3, que retrata o setor de tratamento trmico. No processo antigo, quando havia necessidade de

acrescentar gua no mar-tmpera, era adicionada gua limpa, proveniente dos poos artesianos. Hoje, em funo da

tecnologia de Produo Mais Limpa, foi criado o hbito de colocar gua do tanque de lavagem de peas, e no mais gua nova. Esta medida reduziu o tratamento de gua na estao subseqente. So os seguintes os resultados: - investimento: - Nenhum; - benefcio econmico: R$ 45,00 ao ano;

- perodo de recuperao do investimento: imediato; - benefcio ambiental: reduo de 720 Lt de gua contaminada com cianetos/ano.

3.5- Alternativas de Boas Prticas Housekeeping Atravs das observaes feitas na empresa,

encontraram-se muitas medidas tomadas para as quais no foi possvel medir o investimento nem o benefcio. Estas

alternativas so as relacionadas melhoria no jeito que algo era feito, isto housekeeping. As medidas que a

50

empresa desenvolveu, num primeiro estgio, esto listadas a seguir. - Reduo do sobre-metal no ferro fundido. Antes da aplicao de tcnicas de Produo Mais

Limpa, a empresa aceitava que o fornecedor de peas em ferro fundido enviasse as peas com excesso de material. Isto se devia ao fato mais menor de que, para o no fundidor, processo e este de no excesso fundio, do

significava permitindo

facilidade cuidado na

desmoldagem

decorrer

processo. Esta facilidade ao fundidor acarretava um excesso de peso da pea e, na maioria dos casos, mais material a ser retirado durante a usinagem da pea. A empresa iniciou um processo de rever as condies de recebimento dos fundidos, exigindo o cumprimento das medidas solicitadas nos desenhos. Para isso foram mantidas inmeras reunies com os fundidores para ajuste e convencimento desta medida. As primeiras peas recebidas, dentro da nova filosofia, possuam de 3% a 5% de material a menos. A expectativa de reduo mdia de 2% de retirada de sobre-metal, considerando-se que nem todo o ajuste feito pelo fundidor est localizado em rea que ser usinada na empresa. A quantificao exata muito difcil, pela

variedade de peas e de condies em que cada uma se encontra, mas o importante que haver reduo de matria-prima e de esforo de usinagem. - Reduo no consumo de ar-comprimido. A empresa procedeu uma verificao na busca de

pontos de desperdcio de ar-comprimido (vazamentos, mau uso).51

Realizou esta tarefa em fins-de-semana, quando se torna fcil descobrir os vazamentos, pois o rudo, nos locais onde eles existem, os indica. Quanto ao mau uso, precisa ser verificado caso-a-caso e discutido com os usurios, num processo de

treinamento, para que seja possvel verificar qual a melhor prtica. consumo Certamente, de energia e esta medida deu bons no resultados foi em

menor

rudo,

mas

possvel

quantificar pela dificuldade de dados iniciais que no foram levantados. - Coleta seletiva. A empresa implantou um sistema de coleta seletiva de resduos, como: papel, plstico e lixo orgnico (restos de comida, cigarros e outros). Foram dispostos em recipientes, tonis cortados ao meio que estavam na sucata, no cho de em corte

fbrica, subdivididos conforme a Figura 4 (desenho

com vista de cima). Cada subdiviso dos tonis foi pintada de uma cor: orgnico, azul; papel, vermelho; plstico, amarelo.

orgnico

papis

Plsticos

Figura 4 : Vista Superior dos Tonis de Lixo.

52

Nos setores administrativos, para a disposio de resduo de papel, foram recortadas bombonas plsticas que

foram pintadas em amarelo e receberam a inscrio reciclvel. Os papis e plsticos so recolhidos semanalmente e depositados num galpo, ficando disposio da agremiao de funcionrios para venda, sendo arrecadado trimestralmente, em mdia, R$ 14,00 com a venda de 380 Kg destes materiais. - Reduo no consumo de energia para iluminao. Em relao iluminao muitas alternativas foram aplicadas. Foram lavadas as calhas refletoras das lmpadas fluorescentes no piso de fbrica (750 lmpadas). A medio feita, com da luxmetro, fbrica, mostrou e de 5% um ganho mdio s de 10%, no

interior

prximo

paredes.

Foram

trocados os suportes cebolinhas que fornecem energia para as lmpadas, com expectativa de reduzir a sua queima e seu custo operacional. No entanto, no h registro disponvel do ganho. Outro fato, referente s lmpadas, que a partir do

conhecimento do impacto ambiental quando elas so descartadas no meio ambiente, a empresa passou a armazen-las para

posterior destino final, e est procurando um parceiro lhe auxilie neste trabalho. Foi reativada a CICE (Comisso Interna de

Conservao de Energia), com a principal funo de manuteno de campanha e treinamento de combate ao desperdcio e maus hbitos no uso de energia, gua e ar-comprimido.

53

-

Aerao (ETE).

da

estao

de

tratamento

de

efluentes

O processo desenvolvido na ETE da empresa por oxigenao constante, bactrias as quais Para pois provoca reproduo o material uma acentuada de e, aps, dos

consomem tanto

residual sada

consomem-se.

existia

direta

compressores de ar para a ETE. Esta sada consumia 40% de um dos compressores de 100 hp. Utilizando a lgica da Produo Mais Limpa, o eco-time perguntou-se se precisava, realmente, daquele ar e naquela quantidade, por mais absurda que pudesse parecer a pergunta. A resposta foi de, para oxigenar apenas, como era o caso, qualquer sistema menos sofisticado do que o ar-comprimido serviria. Optou-se por colocar uma bomba de

vcuo de 1,5 hp no encanamento j existente. O ganho no foi possvel de ser determinado porque o compressor no trabalha continuamente em plena carga, mas sim alterna com perodos de alvio, ao passo que a bomba a vcuo trabalharia

continuamente. Mas certamente haver um ganho considervel. - Troca de bias. Foram trocadas as bias a mercrio por bias

eletrnicas, com sensores para captao do nvel de gua, que em caso de acidente so menos nocivas do que o mercrio. - Campanha de preveno. O jornal interno da empresa, com circulao diria, tem um espao reservado para idias e notcias relacionadas

54

aos cuidados com o ambiente. O motivo principal preparar a base para o sistema de gerenciamento ambiental da empresa. - Sistemas de lavagem. A empresa dispe de alguns locais para limpezas, sendo a gua eliminada junto com leo, graxa ou outros tipos de resduos. Neste locais, so limpos diversos equipamentos, tais como tanques de leo solvel das mquinas de retificagem, partes de equipamentos em manuteno, peas com leo protetivo antes da montagem e veculos. O resduo dessas operaes era destinado ao esgoto da comunidade sem qualquer tratamento. A empresa definiu a construo de uma estao de tratamento de efluentes no lado sul, semelhante existente atualmente, e definiu tambm que fosse construdo, aos moldes de posto de gasolina, sistemas internos de separao de leo e gua

resultante das lavagens. Separao por bomba a vcuo.

Foi adquirido uma bomba a vcuo, junto mobil oil, por R$ 700,00. Este equipamento passou a ser utilizado para separar leo de corte do leo solvel quando acontece algum problema nas mquinas e estes leos misturam-se. A partir da mistura, todo leo era perdido. Com o uso da bomba, o leo integral, que fica por cima do solvel, por heterogeneidade da mistura, retirado o solvel reaproveitado. No foi

possvel quantificar o ganho, porque este fato espordico, mas, avaliando-se o uso, percebe-se que o reaproveitamento do solvel resulta num beneficio econmico.

55

3.6- Percepo Relativa ao Atendimento dos Objetivos da Unido na Empresa Para a anlise deste item considera-se a Tabela 4 uma vez que retrata os resultados da questo: Voc acredita que os objetivos da UNIDO foram alcanados? Por qu?, questo que foi aplicada para os assessores internacionais (Stenum) e do SENAI-CNTL.

Tabela 4 : Resultado do Questionrio Aplicado aos Assessores do SENAI-CNTL e Internacionais. Resposta Em parte, obter cases brasileiros empresa assimilou o conceito de PL. Total, a empresa assumiu a filosofia. C1 C2 C3 C4 C5 Total 1 1 1 1 1 2 3

Nesta questo, tm-se dois grupos de respostas: que considera em parte e o que considera totalmente alcanados os objetivos.

Objetivos em Parte Alcanados Quando se analisam as respostas de C1 e C2,

assessores do SENAI-CNTL, observa-se que a

crtica principal,

que no entende os objetivos como totalmente alcanados, muito mais dirigida ao relacionamento entre o SENAI-CNTL e a empresa do que relacionada ao alcance dos objetivos

56

especficos da UNIDO, com seu programa de tecnologia mais limpa. Este fato reforado pelos elementos do eco-time C,

D, que durante a entrevista manifestaram idntica preocupao sobre a relao empresa e o SENAI-CNTL. Isto induz a duas constataes: 1) o SENAI-CNTL no tinha domnio total do mtodo e de sua forma de aplicao por se tratar da primeira aplicao prtica. O domnio do mtodo foi obtido com o

decorrer do projeto, chegando a bom termo ao final do mesmo quando a empresa 2) estava a praticamente percebeu no esta mesmo nvel de e

conhecimento;

empresa

deficincia

definiu suas metas realizando os procedimentos que acreditava corretos, no apenas os orientados, mas por sua conta. Isso foi possvel pela internalizao dos conceitos e mtodos de Produo Mais Limpa, manifestado, principalmente, pela nova viso assumida na empresa.

Objetivos Totalmente Alcanados Dos que consideraram totalmente atendidos os

objetivos tm-se dois do eco-time, um assessor do SENAICNTL, e dois assessores internacionais. Considerando-se que os que consideraram em parte o atendimento aos requisitos da UNIDO, conforme salientado no pargrafo anterior), no se

prenderam totalmente a estes requisitos, mas sim a outras questes, conclui-se que no caso estudado os objetivos da UNIDO foram alcanados. Pode-se, ento, transmitir este

resultado a UNIDO, dando um feedback positivo do projeto e estimulando a continuidade de investimentos em locais e

empresas semelhantes ao caso estudado.

57

3.7- Perspectivas Futuras com Relao Aplicao de Tecnologia de Produo Mais Limpa na Empresa Esta questo fornece uma clara idia da utilidade de imprimir a tecnologia de Produo Mais Limpa no sistema de produo, pois, de forma concreta, d um resumo da percepo da empresa. A anlise ser feita a partir da Tabela 5, que foi retirada do Anexo 2.

Tabela 5 : Perspectivas Futuras com Relao Aplicao de Tecnologia de Produo Mais Limpa na Empresa. Resposta Processo deve continuar e ser ampliado, crescente. Processo continuar. A B C D E Freqncia 1 1 1 1 4 1 1

Considerando-se a Tabela 5 e a Tabela 3, pode-se concluir que, e na percepo na da empresa, de haver o de

prosseguimento

ampliao

aplicao

tecnologia

Produo Mais Limpa. Esta concluso, certamente, em funo dos ganhos obtidos tanto na forma tangvel de retorno sobre investimento, quanto na sua forma intangvel de benefcios ambientais, mercadolgicos e sociais.

3.8- Dificuldades Encontradas As implantao listadas, dificuldades de tecnologia coletadas encontradas de a Produo partir pela Mais de empresa Limpa, na aqui do

foram

observaes

pesquisador e da percepo dos entrevistados.

58

A empresa enfrentou uma srie de dificuldades no seu processo de aplicao desta nova tecnologia, tanto de ordem interna quanto externa. As dificuldades podem ser divididas em trs estgios: inicial, processo de aplicao e maturidade do processo.

Estgio Inicial A primeira dificuldade foi de aceitao pela

empresa, pois, no incio, quando no existia nenhum benefcio claramente definido, a aceitao fica a cargo da percepo das pessoas de a que haver do vantagens. diretor foi de Neste estgio, que foi o

fundamental projeto.

figura

industrial a

aceitou do

Outra e

dificuldade sua seqncia

compreenso

mtodo

ecoprofit

aplicao,

principalmente

porque o SENAI-CNTL no dominava o mtodo perfeitamente para ser o orientador. Uma situao importante, inicialmente, foi de que as pessoas, na empresa, no tinham no seu dia-a-dia cuidados com o meio ambiente. A forma de atuao era de que, para se livrar do resduo, poder-se-ia utilizar do processo de queima, eliminar atravs do esgoto cloacal, enterrar e de outros, ou seja, retirar das vistas significava eliminar o problema. Esses comportamentos foram de difcil remoo, em todos os nveis hierrquicos, e no se pode considerar que esta situao esteja totalmente revertida. A empresa se valeu de muitas aes, tais como: reunies, treinamento, jornal

interno, mudana de hbito dos nveis superiores. H que se considerar que este processo, alm de lento, tem o agravante de no agregar valor, ao menos num primeiro estgio.

59

Processo de Aplicao Durante o processo de aplicao, algumas aes se mostraram com extrema dificuldade na sua realizao ou at inviveis. Este fato surpreendeu a empresa que no imaginava o quanto estava sendo pioneira. Seguem alguns exemplos dessa situao. - Disposio final de leos. Num primeiro estgio a empresa buscou algum parceiro que se responsabilizasse pelo destino final do produto (leos solvel e integral). Quanto ao integral, h muito interesse, pois ele pode ser filtrado e reativado com aditivos, podendo ser vendido novamente. Em

relao ao solvel, diludo em gua com concentrao de 3%), ele de difcil reciclo e sem retorno financeiro razovel. Foi, ento, solicitado aos fornecedores destes produtos (de 1 linha mundial) que se responsabilizassem pelo descarte final. Esta alternativa soou como novidade, mostrando claramente que eles no tinham, ainda, recebido qualquer presso de clientes sobre esta alternativa, ao menos no estado do Rio Grande do Sul. At o momento eles esto dispostos a participar da

soluo mas no de solucion-la. Esta participao envolve, como contrapartida, um volume maior de compra de produto. A

empresa achou um parceiro para depositar o resduo de leo. Se for observado o Art. 8 da lei dos resduos slidos do estado do Rio Grande do Sul, decreto n 38.356, de 01 de abril de 1998, ele diz : a coleta, o transporte, o tratamento, o processamento e a destinao final dos resduos slidos de estabelecimentos industriais, comerciais e de prestao de

60

servios, inclusive de sade, so de responsabilidade da fonte geradora, isto significa que a fonte geradora indstria pode, no mximo, dividir a responsabilidade com o depositrio, mas o problema seu. Portanto, depositar apenas transfere para o futuro, quando alguma forma de reciclo surgir, o problema de destino final. - Corte sem refrigerante. A partir do questionamento sobre se preciso de refrigerante (leo solvel ou integral) para usinagem das peas, a mas ao invs de o que nos fazer com o e o

refrigerante fornecedores

usado, ajuda,

empresa no

buscou

assessores At

conseguiu

resultado.

momento, a nica soluo possvel exige a troca de mquinas por outras novas, com um nvel de rigidez mecnica acentuado, o que invivel na quantidade necessria. - Tempo disponvel. A empresa no conseguiu dedicar, no seu entender, bem tempo como devido suficiente as a para explorar dos que mais os

benefcios,

contribuies atividades

assessores ocorreram

internacionais,

outras

simultaneamente, como a auditoria do sistema da qualidade e o aumento da produo de engrenamentos que ocorreu no perodo. Treinamento. Em relao ao treinamento, as

dificuldades iniciais permaneceram, pois mais do que treinar foi preciso quebrar paradigmas, os quais se apresentavam a todo instante, afortunadamente, de forma decrescente. - Auxlio externo. Alm dos envolvidos no projeto mega, a empresa no conseguiu ajuda de nenhum organismo da regio, como associao industrial,61

escolas

ou

outras

empresas. Isto denota a novidade da preocupao quanto ao assunto sentido. - Custo das Solues. Algumas solues podem ser bastante onerosas. A empresa encontrou uma das respostas no gerao de resduo slido de ao durante seu processo meio ambiente e as poucas aes concretas neste

produtivo, na mudana do processo de forjamento, passando do processo a quente para o processo a frio. Isto significa que na operao de forjamento, a pea j obter as medidas prximas das dimenses finais, eliminando vrias operaes

posteriores de corte. Como resultado, tm-se menos matriaprima inicial, menor esforo de usinagem e energia

consequentemente, um processo bem mais limpo de produo. No entanto, o investimento em equipamentos, tecnologia de

processo e matrizes extremamente alto para a empresa no momento.

Maturidade do Processo Depois dos estgios anteriores, o que se observa atualmente conceito cresceu de a que os nveis Mais superiores e que internalizaram nos outros tambm o

Produo

Limpa

nveis que,

conscientizao.

Conclui-se

principalmente, em funo dos resultados financeiros obtidos, a empresa entende que o meio ambiente pode ser uma

oportunidade e conforme o item 3.7, um processo a ser seguido, mas no se observa ainda uma disseminao ampla dos conceitos que permitiria que as aes fossem criadas de forma natural, atravs do sistema de participao de62

idias (gpp) ou

da

criao

de instrumentos que

no fosse

atravs de ordens

superiores. De um modo geral, no se observa o conceito de sustentabilidade; por enquanto est-se usando um novo elemento induzido pelas razes descritas anteriormente (item 3.3).

63

4- ELEMENTOS DE UMA METODOLOGIA PARA APLICAO DE TECNOLOGIA DE PRODUO MAIS LIMPA Pode-se deste estudo, verificar, a pela anlise trazida apesar tambm do caso, pela dos trouxe objeto e

que

metodologia SENAI-CNTL, constatados, as

UNIDO

disponibilizada resultados

pelo

inmeros muitas da

positivos Dentre

dificuldades.

dificuldades

especficas

metodologia, no aquelas j referidas como do SENAI-CNTL, tmse: - a pouca flexibilidade para ajustes locais; - a seqncia de formulrios a serem preenchidos sem uma ligao adequada entre si; - ausncia de indicadores dos resultados alcanados; - ausncia de feedback que reoriente as aes implementadas; - campos a serem preenchidos de difcil interpretao ou at desnecessrios; - ausncia de controle durante a aplicao das alternativas, principalmente, de prazo e responsabilidade. Esta nova metodologia, proposta pelo pesquisador, visa a fornecer um instrumento prtico e simples com vistas orientao financeiro das ao organizaes, mesmo tempo no em sentido que est de buscar retorno cuidados

tomando

ambientais. Contrapondo-se com a observao feita por Epstein (1996, p.1), citado na introduo deste trabalho e expresso por empresrios, eles querem agir responsavelmente, porm no

64

sabem como. Esta metodologia busca ser uma ferramenta que mostra o como, auxiliando a insero da viso ecolgica nas empresas, no como um fator oportunidade a ser explorada. restritivo, mas sim como uma

Metodologia Verde-amarela A metodologia proposta sintetizada a partir da reviso da literatura feita durante trabalho, na metodologia proposta pela UNIDO, no ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act) dos sistemas da qualidade, e nos conceitos de melhoria contnua. Consiste de quatro passos assim definidos : 1- inventrio ecolgico, 2- identificao de problemas e alternativas, 3aplicao das alternativas de produo mais limpa, 4-

validao das aplicaes. Formando o ciclo ecolgico (IPAV), inventrio, problemas, aplicao e validao. Para uma melhor compreenso cada passo do ciclo ecolgico (IPAV) subdividido em trs etapas: objetivo, procedimentos e registros. Os

objetivos definem o que se pretende, de forma geral, em cada um dos passos . Nos procedimentos, mostra-se a forma de

trabalho em cada passo. Nos registros, tem-se a comprovao objetiva dos acontecimentos em registros de e cada passo. Os registros Os

subdividem-se

registros

auxiliares.

auxiliares no so documentos da prpria metodologia, mas sim pertencem organizao que a est aplicando. Em muitos casos, os registros auxiliares podem no existirem, havendo

necessidade de serem elaborados, isto pode ser feito atravs de desenhos ou de qualquer outra forma de visualizao que permita sua utilizao.

65

Os quatro passos da metodologia verde-amarela esto discorridos a seguir.

Passo 1 Inventrio Ecolgico Objet