Estudo Dirigido - 1º Resumo
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Estudo Dirigido
Primeiro Resumo
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
Curso: História – Licenciatura
Disciplina: História das Américas I
Aluno(a): Jessyca Medeiros
Professora Verônica Pires
Rio de Janeiro
2015.1
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Karnal inicia sua discussão ressaltando as “verdades” difundidas nos livros didáticos
de História e que encobrem outros vieses de verdades históricas. Delineia seu objetivo no
artigo, que é o de apresentar os constructos utilizados para representar o continente latino-
americano, especificamente as áreas de origem hispânica. Fala sobre as dores sempre
atreladas à narrativa da invasão espanhola e que, de tal forma, passaram dos cronistas
europeus contemporâneos à conquista aos manuais didáticos do século XX. À princípio com a
visão de Cortés e Pizarro e posteriormente com a imagética do sofredor indígena de Las
Casas. Karnal ressalta que há entre eles sempre presente um elemento derrotista. Esse é o
ponto da terceira parte de sua análise, o mito dos vencedores e dos vencidos.
Desde Leopold von Ranke, a tradição cientificista pressupõe a ideia de uma cultura
dominante, responsável pela colonização, a espanhola. Nesse cenário, o índio passou a mero
coadjuvante, presente apenas para figurar como receptáculo da civilização ibérica. Não apenas
eram esses indígenas bárbaros, mas também inferiores, dada a forma passiva pela qual
receberam a nova fé espanhola. Nesse caso, o empirismo empregado por Ranke ao analisar
tão somente documentos formais referentes a rebeliões de índios não o permitiu enxergar
sentido nas revoltas de nativos já convertidos contra seus conversores.
Outro historiador contemporâneo à Ranke, William Prescott, que escreve no contexto
da Guerra Civil americana, pondera dois lados do indígena sem, entretanto, confrontá-los.
Retrata o bom selvagem, que é concomitantemente dócil, estranho e inferior. Por outro lado,
abre discussão sobre a civilidade e a urbanização asteca, de maneira à julga-lo com base nos
ideais dos estados do Norte dos EUA e da Europa. Em sua obra, a sociedade mexicana é
valorizada contanto que seus elementos possam ser identificados com contrapartes europeias,
como as construções fluviais e de domínio sobre a natureza, bem como comparações entre
seus armamentos.
Já na década de 1950, Jacques Soustelle revisa o tema em A vida cotidiana dos
astecas na véspera da conquista espanhola, no qual cita diretamente Ranke e Prescott, mesmo
tendo analisado pessoalmente diversas fontes primárias. Inverte a leitura, colocando a
conquista dos astecas como uma fatalidade, vide que para ele haviam muitas similaridades
desses com a cultura europeia. Encara, assim, o “Estado asteca” como forte dentro de seu
contexto na América, porém o descreve com base no conceito de estado-nação europeu. Ao
mesmo tempo, coloca a superioridade técnica europeia como principal responsável pela
conquista. Todas essas conceituações negativas ou pessimistas foram assim passadas aos
manuais de História e aos livros didáticos.
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Outra tradição importante é a de Bartolomé de Las Casas, padre dominicano, que
apesar de em momento algum questionar a invasão espanhola, questionava a maneira pela
qual essa ocorria. No lugar da violência física, defendia a conversão ao catolicismo como
forma de sobrepujar os nativos. É Las Casas o primeiro a enfatizar a fraqueza e a
verdadeiramente transformar os indígenas em vítimas indefesas frente aos espanhóis.
Em sua retaguarda vem a releitura contemporânea de Las Casas com Eduardo
Galeano, em Veias Abertas da América Latina, grande referência em livros didáticos. Galeano
basicamente descreve a América Latina como um corpo aberto à mercê de todo tipo de
sanguessugas estrangeiros. Assim, os latino-americanos seriam no século XX “colônia” dos
EUA, como antes o foram da Inglaterra e, anteriormente, da Península Ibérica. Ao mesmo
tempo, assim como Las Casas, os mostra como acostumados ao autoritarismo e aquiescentes a
ele.
A percepção de conquista e exploração no ideário dos manuais de História é tão
recorrente que mesmo a palavra “indígena” sucumbe a uma infinidade de explicações
eurocêntricas em relação à sangria da América Latina. O questionamento à leitura da história
continental não é relativa aos massacres coloniais ou às posteriores ditaturas, mas ao
reducionismo ao âmbito econômico que teria sido capaz de aniquilar culturas e passados, de
maneira a pressupor ineficazes outras independências e lutas para além da norte-americana.
O mito dos vencedores e dos vencidos se apresenta nos livros didáticos na
contraposição constante entre os indígenas fracos e abatidos e os europeus conquistadores
fortes, altivos e nocivos. Ao mesmo tempo, passou-se a buscar o lado dos vencidos para
valorizá-los, em uma mistura de “conquista e imaginário cristão, cuja premissa é a piedade
com o menos favorecido” (KARNAL, p.154).
León-Portilla começa seu texto discorrendo sobre as características geográficas e
climáticas e sobre a habitação pré-histórica na Mesoamérica. Descreve então os olmecas,
supostamente o primeiro povo da região a desenvolver uma espécie de centro urbano, mais
particularmente na ilha de La Venta. Suas construções parecem ter tido diversas funções, com
destaque para fins religiosos. Pareciam ter alguma especialização e/ou divisão do trabalho e
adoravam a um deus-jaguar, assim com cultuavam os mortos. Acredita-se serem responsáveis
pelo primeiro calendário e pelo início da escrita na região. Tudo isso parece evidenciar uma
alta cultura que se difundiu por toda a Mesoamérica. Mesmo assim, esse povo apresentava
limitações como o não-uso prático da roda, o desconhecimento da metalurgia e a ausência
quase total de animais domesticados. Ainda assim, aprecem ter servido de cultura matriz para
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muitos povos posteriores, como aquela que construiu a metrópole de grande valor
arqueológico e arquitetônico de Teotihuacán, cuja classe governante, por exemplo, já utilizava
o náhuatl, que viria a ser a língua oficial dos astecas.
Além dos olmecas e dos citados teotihuacanos, outros povos de alto nível cultural
desenvolveram-se na região, como os zapotecas e os maias, dentre muitos outros posteriores e
concomitantes que precederam a chegada europeia. Esses últimos altamente complexos,
dividiam-se em dois estratos sociais, produziam uma imensa quantidade de material artístico,
e cultural e estendiam-se por uma extensa região da América Central, sendo considerados o
apogeu da Mesoamérica clássica.
É interessante ressaltar que, apesar de sua complexidade, essas civilizações
desaparecem sem motivo aparente. Sua alta cultura, no entanto, sobreviveu herdada por outros
povos que os seguiram. Na práitca, a realidade da Mesoamérica após o declínio dos maias foi
uma sucessão de povos de relativa importância, que, no entanto, não se mantinham
preponderantes por muito tempo.
No final do século XIII, um novo grupo, os astecas ou mexicas, chegou à região,
falando o náhuatl dos antigos teotihuacanos e dos importantes toltecas posteriores. Segundo
seus próprios textos, esses recém-chegados descendiam dos toltecas que viviam nas fronteiras
da Mesoamérica.
No ápice de seu desenvolvimento, os astecas apagaram seu passado e forjavam sua
próprio origem e identidade com a extinção de documentos anteriores, tanto políticos quanto
religiosos. Para substituí-os, foram desenvolvidas novas imagens do passado relacionadas ao
grupo então dominante. O autor conta toda a história como que para representar a
engenhosidade dos mexicas. Da mesma forma, ressalta que os mexicas também
reverenciavam organização e governo ligados à divindade, no caso o Quetzacóatl dos toltecas.
Assim também, na reescrita de sua história, os mexicas passaram a se enxergar como
descendentes dos toltecas e do próprio Quetzacóatl. É interessante ressaltar que as fontes
documentais posteriores à construção de tal imagética não a corroboram à princípio, mas
somente mais de um século depois de sua chegada à Mesoamérica, com a vitória sobre
Azcapotzalco e a independência de sua senhoria do pagamento de tributos a esse.
Em análise livre, esse posicionamento parece pouco diferir os “historiadores” mexicas
dos próprios cronistas espanhóis, na medida em que substituíram sua história por uma
“imagem verdadeira” do passado de seu povo. Da mesma maneira a História foi contada pelos
vencidos, diminuindo a importância e o potencial de outros povos.
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Ao escreverem sobre essas questões, os cronistas e mesmo historiadores se utilizaram
de termos da História medieval e antiga europeia. Já no século XIX, Lewis H. Morgan
condenou tais denominações, pois compreendia que a organização asteca aproximava-se mais
da democracia do que da monarquia como era descrita. Suas ideias ao serem disseminadas, no
entanto, fizeram com que os mexicas passassem a ser vistos como uma civilização sem
divisões de classes sociais, como que com tribos ou clãs não haveria tal diferenciação. Cerca
de meio século depois, novo estudo com fontes indígenas levou a novo revisionismo, que
alcança conclusões bem diferentes da visão deturpada de uma sociedade rasa e sem classes.
Mais recentemente, pesquisas baseadas no modo de produção asiático e em leituras
marxistas, consideraram que essa sociedade asteca teria como pilar aldeias comunais
primitivas onde trabalhava-se coletivamente a terra. A organização em governos ocorria de
tempos em tempos sempre sob o julgo de autoridades despóticas que se apropriavam de sua
mais-valia.
A grande discussão se deve ao intuito de todos esses estudiosos de explicar a posição
social e os feitos do grupo dominante, os pipiltin. Mesmo essa denominação se tornou fluída e
subdividida com a evolução da sociedade, como descreve León-Portilla sobre a organização
da hierarquia e da escolha de governantes. Até mesmo o huey tlatoani, o chefe supremo, era
eleito. Os pipiltin eram encarregados dessas eleições, de cargos administrativos, de governar à
mando do chefe supremo novas cidades conquistas, dentre outras funções, para as quais eram
preparados os filhos dos pipiltin em escolas especiais desde novos.
Já a questão da terra é controversa. Alguns autores acreditam na ideia de que as terras
seriam todas comunais, pertencentes à tribo. Outros as colocam nas mãos do huey tlatoani e
dos pipiltin, como uma espécie de propriedade privada. Outras fontes ainda parecem indicar
que as terras eram ligadas a posições hierárquicas.
Para além das construções de diques e aquedutos, que podiam ou não fazer referência
à supremacia da classe dos pipiltin, havia também a missão de cuidarem da vida espiritual e
do culto aos deuses. Dessa forma, lhes cabia a construção de templos e mesmo a manutenção
de exércitos organizados, assim como a urbanização e a organização administrativa e
comercial.
Os macehualtin, de estrato social mais baixo que os pipiltin, formavam unidades
socioeconômicas, os calpulli, parte integrante de grandes cidades ou comandadas por
nobrezas locais. Organizavam-se por formas de produção, fossem elas relacionadas à terra ou
não, e era através dos calpulli que cobrava-se tributos e requeria-se serviços pessoais. Era
também os calpulli que tomavam conta daqueles necessários aos serviços locais, como
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sacerdotes, escribas etc. A terra então era de propriedade comum dos calpulli, cujo produto
final era de propriedade da unidade política a qual estava submetido. No fim, todos que não
faziam parte dos pipiltin, eram macehualtin, independentemente se na cidade ou em zona
rural.
O autor passa a descrever a especialização do trabalho e os recursos naturais nos quais
se baseava a economia. Descreve ainda a escassa produção de instrumento e suas técnicas
agrícolas, o que leva aos comerciantes. Essa classe, chamada de pochtecas, cuidavam do
comércio interno e externo da região e se organizava em verdadeiras guildas. Suas funções
perpassavam ainda pela administração dos mercados e o o estabelecimento de padrões de
troca, visto que os maiores eram também responsáveis por comércio e trocas com regiões
distantes como a costa do Pacífico.
Outro quesito importante da sociedade asteca era sua religião, cuja veneração se fazia
ao Sol, à terra, às forças da natureza e a um deus dual. Para esses, realizavam-se sacrifícios de
forma a manter a “vida do Sol” e assim evitar cataclismas e continuarem a sobreviver e
prosperar. Muito importante também é a figura da Deusa Mãe e como era intensamente
cultuada pelos astecas, fato também percebido pelos espanhóis quando de sua chegada e razão
para o sincretismo com a Virgem Maria, que gerou a forte devoção dos posteriores mexicanos
à Virgem de Guadalupe.
Nas proximidades da invasão espanhola, Tenochtitlán-México, a metrópole asteca, era
o centro da Mesoamérica. Mesmo cidades que continuavam a ser controladas por seus
próprios senhores, pagavam tributo a ela e contavam com sua proteção sobre as estradas. Da
mesma maneira, o náhuatl se tornou a língua comum em uma extensão região da
Mesoamérica. Algumas poucas senhorias resistiram à invasão dos mexicas, gerando guerras,
e, em regiões mais distantes, longe da influência direta dos mexicas, diversos povos
mantiveram suas próprias culturas.
Já o autor John Murra inicia seu texto discutindo a falta de estudos arqueológicos
referentes ao império inca próximo à invasão de Pizarro. Segundo ele, o único estudioso que
verdadeiramente se dedicou ao estudo da região, ainda que de forma esparsa, foi Marcos
Jiménez de la Espada, que publicou diversas fontes relacionadas. Recentemente, houve uma
maior elucidação nas relações dos grupos étnicos locais com os incas através dos estudos
litigiosos, demográficos e tributários das primeiras décadas de domínio espanhol, mas o
trabalho maior ainda demanda atenção e dedicação.
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Sobre as primeiras impressões dos espanhóis no império inca, pode-se dizer que não
era nada do que espanhol algum houvesse tido como experiência, assim como o império era
mais rico em quantidade de pessoas e em suas habilidades do que poderia ser quantificado.
Ele relata como que uma geração interia de europeus estavam familiarizados com os costumes
dos pagãos e dos índios ali existentes. Grande parte de objetos, como peças de cerâmica foram
minuciosamente estudadas, pois esses objetos datavam de períodos antigos, muito antes dos
incas. Os aspectos decorativos de outras técnicas, especialmente a tecelagem que era a
principal arte dos Andes, foram catalogados, fotografados e preservados. Por volta de 1532, o
estado andino foi dominado e repartido, sendo assim as possibilidades de obtenção de
conhecimento através da arqueologia dependentes dos relatos escritos daqueles que lá
estiveram.
Murra diz que a paisagem dos Andes não se assemelhava a nada que já houvesse sido
visto ou ouvido antes pelos europeus. Nos Andes, as impressões eram sempre mais extremas.
O autor relata que no país havia uma grande riqueza na quantidade de pessoas e em suas
habilidades, nas maravilhas tecnológicas observáveis, na metalurgia, na construção de
estradas, na irrigação e nos produtos têxteis. Mesmo depois que os espanhois levaram tudo o
que desejaram, ainda parecia que nada havia sido tocado.
No texto Murra diz que o domínio do império estava sob o controle de um príncipe,
cerca de três ou quatro gerações antes de 1532, e a fácil adaptação de variedades europeias e
africanas cultivadas nas condições andinas mostra como era natural e antigo o sistema
agrícola andino. É relatado também no texto que a população andina foi forçada a buscar
recursos em locais mais distantes. As bruscas mudanças de temperatura deixaram a
agricultura andina em desvantagem, pois as noites eram glaciais e os dias tropicais. Em 1549,
cada grupo familiar possuía grandes hortas de coca a uma distância de três a quatro dias de
caminhada. As folhas de coca quanto o sal eram partilhados por pessoas de fora da
vizinhança. Em 1538-1539, cinco anos após a invasão, as encomendas oferecidas por Pizarro
seguiam o princípio de que ao beneficiário não era concedida a terra, mas as pessoas dos dois
senhores locais. O que se pode dizer é que o Estado inca deu continuidade às colonizações
complementares nos Andes, mesmo que as novas dimensões tenham implicado dificuldades.
O autor mostra que o Estado controlava uma instalação manufatureira. As roupas constituíam
a mais importante forma de arte andina, tinha uso político, rituais e militares, exigindo que
fossem tecidas para o Estado em grandes proporções remetendo aos padrões de produção
industrial europeu do século XVI. Há indícios suficientes para afirmar que algo que começou
como um meio de complementar o acesso produtivo a uma série de pisos ecológicos se
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transformaram em um imponente meio de controle político. As muitas comunidades políticas
incorporadas ao estado inca mantinham as distinções étnicas e a consciência de sua própria
identidade. No Período Intermediário Tardio cada região produzia artefatos nitidamente
distintos, isentos de manifestações pan-andinas.
Após longo período de conflito que separou o horizonte Médio do horizonte Tardio ou
Incaico, Cuzco deixou de ser, no século XV, o núcleo de uma comunidade local para tornar-se
um importante centro urbano, capital da Tahuantinuyo. Agora o aldeão tinha não só que
encher os armazéns de seu senhor e do santuário local, mas também produzir renda para o
Estado, trabalhando em suas terras há pouco desapropriadas, e pastoreando os rebanhos de
camelídeos do Estado. Os funcionários reais inspecionavam os senhores provinciais
submetidos e seus territórios. O censo era simultâneo com o reconhecimento pelo Estado dos
casamentos recentes: Os novos casais entravam nas listas por direito próprio. Nenhuma
pessoa solteira devia serviços pessoais de mita; ela era incluída como parte da família de
alguém, como diz o autor. O casamento foi transformado em um rito familiar de artifício
político da ideologia inca. Três cordas faziam a contagem da mineração de sal e a colheita de
pimentas fortes e de folhas de coca. A cerveja feita de milho era indispensável para os rituais
e para a generosidade institucionalizada. As funções de soldado, agricultor e pedreiro,
constituíam gastos de energia em benefício do Estado. O complemento ecológico funcionou
melhor onde não havia mercados em grande escala; era mais fácil impor as rendas do Estado
baseadas no serviço de mita onde as autoridades políticas regionais eram usadas para recolher
essas rendas.
O autor diz que o escambo e o comércio, se quando presentes, eram marginais, pois as
caravanas de um único grupo étnico ligavam o núcleo político e econômico aos distantes
locais de trabalho que controlavam. Uma das mercadorias de luxo comercializadas era a folha
de coca, cultivada no norte pelos habitantes das planícies que não eram colonos nas
montanhas. Outro fator que estimulou a fixação permanente longe de sua base étnica foram
privilégios concedidos a esses removidos. Observadores europeus relataram que algumas
populações ficaram isentas das obrigações étnicas e do parentesco.
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