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Estudo dos Efeitos da Renaturalização no Regime Hídrico do Baixo Curso do Rio São João Coordenado pelos Professores: Edson Benigno, Cláudio Saunders e Julio Cesar Wasserman (Departamento de Análise Geoambiental e PGCA - UFF) Com o Apoio Financeiro do Consórcio Intermunicipal Lagos São João Fundo Mundial para Natureza (WWF) Niterói, Setembro de 2003

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Estudo dos Efeitos da Renaturalização no Regime Hídrico do Baixo Curso do Rio São João

Coordenado pelos Professores:

Edson Benigno, Cláudio Saunders e Julio Cesar Wasserman (Departamento de Análise Geoambiental e PGCA - UFF)

Com o Apoio Financeiro do

Consórcio Intermunicipal Lagos São João

Fundo Mundial para Natureza (WWF)

Niterói, Setembro de 2003

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RELATÓRIO

Estudo dos Efeitos da Renaturalização no Regime Hídrico do Baixo Curso do Rio São João

Coordenado pelos Professores:

Edson Benigno, Cláudio Saunders e Julio Cesar Wasserman (Departamento de Análise Geoambiental e PGCA - UFF)

Participaram da elaboração deste estudo os alunos:

Flávia Carmem Amorim Mendes Franco de Sousa

Rodrigo da Costa Caetano

Com o Apoio Financeiro do

Consórcio Intermunicipal Lagos São João

Fundo Mundial para Natureza (WWF)

Niterói, Setembro de 2003

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Sumário: 1. Introdução 1 2. Fotorestituição da Área Estudada 2

2.1. Metodologias 2 2.2. Mosaico das Fotos Aéreas 3 2.3. Fotorestituição 3 2.4. Mapa do Risco de Inundação 5 2.5. Conclusões 6

3. Clima da Região 6 4. Salinização do Rio 8

4.1. Metodologias 8 4.2. Levantamento da Maré 9 4.3. Salinidade 10 4.4. Conclusões 12

5. Condições do Leito Antigo 13 5.1. Metodologias 13 5.2. Perfil do Axial Rio São João 14 5.3. Perfís Transversais 16 5.4. Áreas Hidráulicas 21

6. Descrição das Margens 22 6.1. Metodologia 22 6.2. Caracterização Visual e Fotográfica Georeferenciada das Margens 22

7. Determinação da Vazão do Rio em Diversos Pontos 35 7.1. Metodologia 35 7.2. Resultados da Vazão no Rio São João 35 7.3. Conclusões 37

8. Modelo de Vazão do Rio São João 38 9. Conclusões Finais 39 10. Bibliografia 40 11 Anexos

11.1. Mapa Fotorestituido do Rio São João 41 11.2. Mapa de Risco de Inundação 42

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1. Introdução

Desde o início da colonização do Brasil a necessidade de limpeza e esterilização da terra predominou (DEAN, 1996). Segundo o entendimento do recém chegado colono, a floresta, o brejo e a lama deviam ser eliminados pois o homem não podia sobreviver em tal inóspito ambiente. Embora já seja identificado algum pensamento ambiental no início do século XVIII, como representado pelo naturalista e político José Bonifácio, este naturalismo tinha um caráter mais prático, visando à preservação dos mananciais de água e à proteção da erosão (Oliveira 2003). No início do século com a descoberta dos transmissores de doenças como o mosquito da malária e da febre amarela, a destruição dos ambientes naturais alagados e florestas passou a ser chamada de “saneamento”. O saneamento, representado pelas grandes obras empreitadas pelo DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento) gerou a destruição de manguezais, matas ciliares, extensas áreas de brejo, etc. Um exemplo notório foram os aterros realizados às margens da baía de Guanabara, que viu suas áreas de manguezais se reduzirem a menos de 25% de sua área original (AMADOR, 1997).

Mesmo que tardiamente, o Rio São João não escapou às obras vultuosas do DNOS. O projeto para toda a região foi esboçado ainda nos anos 30, e incluía a construção da barragem de Juturnaíba, retificação e drenagem de vários trechos dos diversos rios da bacia de drenagem. No baixo curso, o projeto continha uma grande obra de retificação e a construção de numerosos canais de drenagem, que foi iniciada em meados dos anos 70 e concluída no início dos anos 80. Dentro da perspectiva pouco ecológica do DNOS, o objetivo era drenar as grandes áreas de brejo da baixada, visando ao desenvolvimento de um grande projeto agrícola para o cultivo do arroz, que foi implementado por agricultores imigrantes do Rio Grande do Sul (BINZSTOK, 1999).

Poucos anos após o início da atividade agrícola, o solo se mostrou desgastado, tendo a maior parte dos imigrantes vendido suas terras, que foram adquiridas por grandes latifundiários e empresas agrícolas com o objetivo de implantar a pecuária. Segundo a população local, o principal fator que teria causado a queda na fertilidade do solo foi a retificação do canal que teria facilitado a penetração de água marinha, salinizando assim o solo. Atualmente os grandes investimentos resultaram em terras muito pouco cultivadas, grandes extensões de terra improdutiva (criação de gado extensivo), presa às constantes invasões de grupos de Sem-Terras, que têm a perspectiva de ali tentar desenvolver alguma lavoura. O fato é que dessecamento das áreas de brejo deve ter provocado uma rápida degradação do solo, que hoje é praticamente área imprestável à agricultura.

Neste projeto, o Fundo para Conservação da Vida Selvagem (WWF) junto com o Consórcio Intermunicipal Lagos-São João (CILSJ) e a Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade Federal Fluminense objetivam determinar a viabilidade de recuperar o gigantesco passivo ambiental deixado pelas obras do DNOS no baixo curso do Rio São João, através da renaturalização de parte da área retificada. Resgatando projetos similares em outros países, a idéia é assorear as partes retificadas, através da construção de barreiras à passagem da água, levando o rio a novamente circular pelo leito original (Figura 1). Dentro desta perspectiva, existem alguns aspectos que devem ser avaliados, como a possibilidade de inundação das margens, formação de novas áreas alagadas, condições estas que implicariam na perda de terra para as comunidades ribeirinhas.

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Figura 1: Esquema do processo de renaturalização do Rio São João. As barras esverdeadas

correspondem aos trechos a serem assoreados e as setas vermelhas correspondem à retomada do leito antigo.

Com o objetivo de realizar um prognóstico dos efeitos da renaturalização do rio na

paisagem ribeirinha, são apresentados neste relatório os resultados de estudos de: 1) Avaliação da penetração da cunha salina para tentar avaliar sua influência na

qualidade dos solos. 2) batimetria detalhada, incluindo perfís batimétricos do leito antigo, com o objetivo

de determinar o estado de assoreamento deste leito 3) Determinação da granulometria dos sedimentos do rio, a fim de se determinar

como evoluíram os processos sedimentares no leito antigo 4) Determinação do estado de conservação da mata ciliar ao longo do rio, através de

trabalho de registro fotográfico georeferenciado e de descrição sucinta do tipo de vegetação

5) Avaliação das vazões do rio devidas exclusivamente aos aportes de água doce, a fim de se determinar se o leito antigo teria capacidade de receber o volume d’água que hoje flui pela calha retificada.

Estas informações permitirão uma avaliação da viabilidade de um projeto de renaturalização, dimensionando a abrangência geográfica do projeto. É importante frisar que a determinação da viabilidade técnica da renaturalização não implica em “carta branca” ao início das obras, já que os atores ribeirinhos devem também opinar. Na verdade o presente estudo apenas apresenta as conseqüências e impactos da renaturalização. Cientes dos resultados deste estudo, são os atores que devem tomar a decisão. 2. Fotorestituição da Área Estudada

A fotorestituição da área estudada está sendo realizada a partir de um conjunto de fotos aéreas datadas dos anos de 1999 e 2000. Este estudo se mostra muito importante pois a última fotorestituição disponível data dos anos 70, e não inclui ainda a retificação do Rio São João e os canais de drenagem. Numa primeira fase, as fotos aéreas foram digitalizadas em scanner e foi montado um mosaico para indicar com precisão a atual situação geográfica da área.

2.1 Metodologias:

Inicialmente, as fotos aéreas foram digitalizadas e foi montado um mosaico de

fotografia aéreas da região. Utilizando procedimentos de estereoscopia, foi construído um

0 5000 500

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mapa da área de estudos na escala 1:30.000 onde são apresentadas as configurações da rede de drenagem, incluindo a largura dos leitos da rede hidrográfica, desde que significativos dentro da escala utilizada. A vegetação marginal (mata ciliar) e as outras regiões florestadas também aparecem no mesmo mapa. Foram ainda distintas as áreas de relevo mais declivoso, daquelas de relevo mais suave (principalmente planícies aluvionares). Outros pontos notáveis foram plotados como a represa de Juturnaíba, grandes estradas, etc. Com o auxílio de um planímetro, foram medidas diversas superfícies da área em estudo, a saber: área do canal retificada (do início até o Rio Indaiaçu); área do leito antigo da foz até o Rio Indaiaçu; área restituída neste estudo; área coberta por vegetação densa; área coberta por vegetação média; área coberta por mata ciliar. Foi calculada ainda a amplitude altimétrica da área em estudo, dada pela diferença entre o ponto mais alto da área medida e o ponto mais baixo; o índice de sinuosidade do rio (s) no trecho em estudo também foi calculado seguindo o seguinte procedimento: 1) foi medido o estirão E ou comprimento do rio é o comprimento da principal linha de água desde a sua origem até à secção da bacia hidrográfica, no nosso caso medida até o Rio Indaiaçú. 2) A diretriz D é medida em linha rata, entre o ponto mais afastado do rio principal e a secção da bacia. Finalmente o índice de sinuosidade é dado pela equação s=E/D. Quanto maior for o valor de s, mais sinuoso é o rio.

A declividade do canal principal foi calculada utilizando a equação: Js = (? Jn)/n, onde Js é a declividade média, J é a declividade em cada um dos trechos analisados, dada pela equação J=AH/D, onde A é a área de um triângulo retângulo ideal cujos vértices correspondem aos pontos mais a montante e mais a jusante respectivamente. O valor H é a diferença de altura entre o ponto mais alto do trecho e o ponto mais baixo e D é a distância entre o início e o final do trecho

Graças à estereoscopia, a topografia do terreno também pode ser plotada no mapa, que juntamente com o figurado da rede de drenagem e com os valores de altitude constantes de levantamentos anteriores serviram de base para a construção do mapa de curvas altimétricas (4, 6 e 9 metros) que serve de base para a construção do mapa de riscos de inundação. Neste mapa de riscos, alguns levantamentos topográficos realizados in situ também contribuíram para uma descrição mais precisa da topografia.

2.2 Mosaico das Fotos Aéreas

A Figura 2 mostra o mosaico de fotos aéreas do baixo Rio São João datadas de 1999/2000. Através do mosaico é possível identificar a porção retificada do canal e o leito antigo. É interessante notar que no trecho entre o início da retificação (perto do Morro de São João) e o ponto indicado com a menção “final do trecho estudado” (Figura 2) o leito antigo ainda parece apresentar boas condições. A partir deste ponto o rio passa a ficar muito estreito e freqüentemente coberto por macrófitas aquáticas, fazendo com que seu traçado praticamente desapareça do mapa. Através das fotos aéreas, podemos afirmar que a inclusão destas partes no projeto de renaturalização implicaria em grandes obras de dragagem e limpeza. Os outros aspectos estudados permitirão uma melhor avaliação deste problema. 2.3 Fotorestituição

A partir do mosaico de fotos aéreas descrito acima, foi construído um mapa da área de

estudos em escala 1:30.000 (mesma escala das fotos aéreas). No mapa construído (Anexo 11.1) foram restituídas as feições com suas respectivas superfícies (Tabela 1).

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Tabela 1: Parâmetros geomorfológicos relativos à região estudada Feição geomorfológica Valor calculado Observação Extensão da parte retificada 15,2 Km do início até o Rio Indaiaçu Extensão do rio original 42,0 Km da foz até o Rio Indaiaçu Área abrangida pela fotorestituição 30.690 ha 306,9 km2 Área da bacia a jusante da barragem 102.400 ha 1.024 km2 A área de drenagem da Bacia Hidrográfica do Rio São João (incluindo área a montante da represa)

219.000 ha 2.190 km2 (Semads-1999)

Vegetação densa 2.286,99 ha 22,9 km 2 (7,46% da área estudada) Vegetação média 1.121,76 ha 11,2 km2 (3,65% da área estudada) Mata ciliar 823,71 ha 8,2 km2 (2,27 % da área estudada)) Amplitude altimétrica da área em estudo 706 m Índice de sinuosidade do rio no trecho em estudo

2,2

Declividade do canal principal 0,46 %

Figura 2: mosaico de fotos aéreas da região do baixo São João, datadas de 1999/2000

A partir dos dados apresentados é possível fazer alguns cálculos, definindo índices de

qualidade para a região e particularmente para a mata ciliar. É interessante notar que a cobertura florestal densa representa uma porcentagem muito pequena da área total estudada (Tabela 1), sendo que esta fica restrita exclusivamente às áreas de maior declividade. Quanto à vegetação de média densidade, esta se encontra fortemente associada às matas densas, constituindo áreas de transição e por conseqüência apresenta porcentagens insignificantes em relação à área total (Tabela 1). Quanto à mata ciliar, embora a percentagem em relação à área total seja muito pequena, é possível fazer um cálculo da superfície ideal para o leito antigo, assumindo uma faixa mínima de 50 m e máxima de 100 m. Estes valores de largura são obtidos a partir de experiência no Rio Jacaré-Pepira (afluente do Rio Tietê), de dimensão similar ao Rio São João, embora em terreno menos plano (JOLY et al., 2001). O valor ideal de mata ciliar oscilaria entre 210 e 420 ha, correspondendo a aproximadamente 50 % da área já existente. É importante contudo frisar que o maior problema é a distribuição das áreas, muito mais ampla na porção mais próxima ao mar do que na porção mais a montante (Anexo

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1). Assim, um programa de reconstituição da mata ciliar em algumas áreas críticas é imprescindível. Estas áreas foram discriminadas na Figura 3

Analisando as outras informações da Tabela 1 é possível identificar algumas características interessantes do estudo. A amplitude altimétrica é resultante da existência de constituições rochosas de morfologia de pão de açúcar que se sobressaem de uma planície muito arrasada. As alturas menores correspondem ao nível do mar, sendo que boa parte do baixo curso do rio situa-se na altitude zero, sofrendo inclusive influência da maré dinâmica em toda sua extensão (até a represa de Juturnaíba) nos períodos de sizígia e de baixo valor de vazão.

O índice de sinuosidade é extremamente elevado, e resultante do relevo da região, que é extremamente plano. A sinuosidade elevada é coerente com a baixa declividade do canal principal, muito próximo de zero.

Área sugerida para replantio da vegetação ciliar Área sugerida para replantio da vegetação ciliar

Figura 3: Áreas prioritárias para o replantio da vegetação ciliar Voltando um pouco a atenção para o canal retificado, é necessário sublinhar que na

hipótese de renaturalização do Rio São João, o trecho retificado será abandonado e constituir-se-á em um verdadeiro passivo ambiental, já que seu aterro seria inviável economicamente (o volume de material seria muito grande). Assim, algumas medidas de “remediação” ou de reutilização sustentável da área serão necessárias. Dentre estas medidas podemos sugerir inicialmente o reflorestamento das margens, que atualmente encontram-se cobertas com densa vegetação de taboa ou nos casos extremos, completamente nuas. A presença de mata ciliar em corpos d’água é importante para a manutenção da cadeia trófica do sistema. Outra sugestão que poderia contribuir para a reutilização do canal retificado seria a piscicultura, com espécies naturais ou endêmicas da região. A transformação de passivos ambientes resultantes do garimpo em áreas de piscicultura tem mostrado resultados muito encorajadores na Amazônia (HACON et al., 2003a; HACON et al., 2003b).

2.4 Mapa do Risco de Inundação

Uma preocupação importante durante o processo de renaturalização do Rio São João é

saber se o leito antigo terá capacidade de escoar toda a água proveniente da sua bacia de drenagem (do baixo curso) e mais a água que entra via represa de Juturnaíba. Para se determinar a capacidade de suporte de vazão de um rio com precisão, é necessária a construção de modelos numéricos capazes de simular as diversas situações de pluviosidade. A

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mais importante limitação com relação aos modelos determinísticos para a simulação da vazão de um rio está relacionada à pouca compreensão que temos dos processos de retenção de água pelos solos da bacia de drenagem. Uma evento de chuva de curta duração e elevada intensidade incidindo em um solo de elevada declividade e pouco poder de retenção, funcionaria como uma superfície impermeável, facilitando muito a simulação da vazão do rio. Trata-se o chamado escoamento hortoniano, já que resultante dos trabalhos de (HORTON, 1940). Tratar uma região tão plana e complexa como a do Rio São João com aproximações como o escoamento hortoniano geraria resultados muito distantes da realidade.

A partir de modelos determinístico seria possível construir simulações mais realistas determinando-se os tipos de solo da região, suas profundidades e respectivas taxas de retenção (o que pode ser feito com experimentos de lixiviação in situ). Contudo, a diversidade de solos e a baixa declividade não permitiria bons resultados.

Abandonando os modelos determinísticos poderíamos partir para os modelos estocásticos, que em hidrologia são os efetivamente mais utilizados atualmente. A grande desvantagem dos modelos estocásticos é que estes precisam trabalhar com uma grande quantidade de informações de campo, particularmente oriundos de estações linimétricas, nem sempre disponíveis. No caso do Rio São João, não há registro de nenhuma estação que faça qualquer medida de vazão em qualquer parte do rio.

Diante da dificuldade de se construir um modelo razoável capaz de simular a vazão do Rio São João, optamos por construir um modelo de “risco de inundação”, que mesmo que não seja baseado em dados de vazão, permite trabalhar com hipóteses de inundação.

O modelos, como descrito na parte de metodologia é baseado na topografia do terreno e permite delimitar três áreas de risco: área de risco elevado até 4 m; área de risco médio, até 7 metros; área de baixo risco, até 9 metros. A delimitação das áreas aparece no mapa apresentado no Anexo 11.2. As medidas de vazão não foram completamente abandonadas pela adoção deste modelo, e os resultados são apresentados mais para frente neste relatório.

O mapa de risco apresentado no Anexo 10.2, embora pouco preciso é uma ferramenta importante de convencimento dos ocupantes das margens do Rio São João. Este documento deve ser levado aos atores interessados e deve ser discutido. 2.5 Conclusões

Nesta parte do estudo, pode-se concluir que apesar da extensa área de mata ciliar

presente na região, sua presença pouco uniforme sugere a necessidade de montagem de um programa de recomposição desta vegetação, de maneira que constitua uma faixa contínua de pelo menos 50 metros de largura. Da mesma forma deve-se incluir dentro do processo de renaturalização o trecho retificado do rio, que passa a constituir um passivo ambiental que deve ser recuperado. O plantio de mata ciliar e a utilização dos reservatórios para atividades sustentáveis e ecologicamente benéficas são sugeridos. No caso das atividades, é sugerida a piscicultura de espécie naturais da região e endêmicas.

O mapa de risco de inundação (Anexo 10.2) será extremamente útil para construir cenários futuros para a região. O documento deve ser levado aos atores para que de maneira participativa sejam tomadas as decisões de gestão da bacia de drenagem. 3. Clima da Região

Neste estudo o dado de maior interesse no tocante ao clima é a pluviosidade, tendo em

vista que a quantidade de chuva que cai será responsável pela altura do rio. As condições climáticas da região, e particularmente a pluviosidade foram detalhadamente caracterizadas

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por (BARBIERI et al., 1999). Nesse estudo, foi feito o agrupamento dos dados de todas as estações meteorológicas do Leste fluminense. Aqui, apresentaremos apenas os dados das estações de Iguaba Grande, Barra de São João e Barra do Lontra (Figura 4). Na Tabela 2 são apresentados os resultados médios do ano para cada uma das estações.

Tabela 2: Pluviosidade anual nas estações de Iguaba Grande, Barra de São João e Barra do Lontra (os valores relativos às estações do ano correspondem ao somatório dos três meses).

Estação % área Total Verão Outono Inverno Primavera Iguaba Grande 10 940,2 238,0 223,2 169,2 309,8 Barra de São João 70 1140,0 369,9 229,8 135,6 404,7 Barra do Lontra 20 1914,2 775,3 339,9 173,7 625,3

Iguaba Grande

0

50

100

150

200

250

300

350

Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Plu

vios

idad

e (m

m)

MáximaMédiaLevantamento de 1970 a 2001

Barra de São João

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Plu

vios

idad

e (m

m)

Barra do Lontra

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Plu

vios

idad

e (m

m)

Figura 4: Pluviosidade média de 30 anos nas estações de Iguaba Grande, Barra de São João e

Barra do Lontra.

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Os valores apresentados na Tabela 2 indicam uma considerável variabilidade desde a

parte mais litorânea, mais seca até a parte mais continental, mais úmida. Este comportamento é bastante característico da região e já havia sido observado por vários autores (BARBIERI, 1984; SILVA-FILHO et al., 1998; SILVA-FILHO et al., 1999) e atribuído a processos orográficos. Esta forte variabilidade dificulta o estabelecimento de um valor padrão de chuva que possa ser inserido no modelo de vazão que será apresentado ao final deste relatório.

Optou-se por estabelecer um valor médio ponderado a partir da área coberta pelas isoietas de pluviosidade (Tabela 2) apresentadas no trabalho de (BARBIERI et al., 1999). O valor obtido foi 1274.9 mm, que será utilizado como chuva média para a região. Não obstante, é preciso ter em mente que em alguns anos os valores máximos de pluviosidade mensal podem atingir cifras bastante significativas, como mostra o gráfico de pluviosidade de Iguaba Grande, apresentado na Figura 4. Pode-se constatar assim que valores excepcionais de eventos de chuva, atingindo 50 a 80 mm em um só dia não são impossíveis, e que ocorrendo em um contexto de elevada pluviosidade, quando os aqüíferos e corpos receptores já se encontram saturados poderão então se aproximar da situação extremas que estamos desenhando para o Rio São João renaturalizado.

4. Salinização do Rio

Segundo os agricultores e moradores da região, a salinização dos solos e sua queda de fertilidade teriam sido causados pela retificação do rio, que facilitou significativamente a entrada de água marinha até a região da barragem. Em uma análise inicial, a percepção da salinização teria sido gerada pela observação de subida e descida do nível da água do rio, de acordo com a maré. Contudo, e sem menosprezar o conhecimento tradicional local, o processo de subida e descida da maré não precisa necessariamente estar associado à entrada de água salgada, mas sim a um processo meramente hidráulico de pressão causada pela entrada da água do mar. A este tipo de movimento chamamos de maré dinâmica (veja maiores detalhes em (MIRANDA et al., 2002)

4.1 Metodologias - Levantamento de dados de maré astronômica. Na tábua de maré (DHN) a estação do Porto

do Forno, foi identificada como a mais próxima da área estudada, e nesta foram selecionados períodos de maré de sizígia para o estudo de salinidade. O período de sizígia deve provocar uma entrada mais intensa de água do mar no rio, sendo assim considerado como situação extrema, e é neste período que foi feita a avaliação da salinização do rio. A fim de se obter um resultado mais refinado, foram realizados cálculos harmônicos a partir de dados de maré do Rio das Ostras, determinando uma variação astronômica da maré mais próxima da variação esperada para o Rio São João. Este trabalho foi realizado por Albano Ribeiro Alves da Diretoria de Hidrografia e Navegação (Marinha do Brasil) Como os dados de maré astronômica podem não coincidir com a real entrada da maré no Rio São João, durante o estudo foi instalada uma régua no estuário do Rio e nos pontos de coleta foram feitas medidas da variação da profundidade. Embora a régua e as medidas de profundidade não sejam valores referenciados (em relação a um datum), a evolução da altura permitiu uma informação importante quanto à entrada da onda de maré.

- Medições de salinidade: Foram selecionadas três estações ao longo do baixo curso do Rio São João na suposta área de influência da maré (Figura 5). Uma em barra de São João (S1), uma intermediária (S2) e outra a 400 m do início do canal retificado (S3). Nestas

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estações, perfís de salinidade superfície, meio e fundo foram realizados a cada hora, durante um ciclo de maré (12 horas). As medições foram feitas com um salinômetro do tipo refratômetro portátil, cuja precisão chega no máximo à unidade de salinidade. Esta precisão é perfeitamente adequada para o estudo de ambientes estuarinos onde a variação é muito grande. Este campo ocorreu nos dias 2 e 3 de junho, em um período de muito baixa pluviosidade, que junto com a maré de sizígia caracterizam uma situação extrema de penetração da maré. Para este campo foi desenvolvido e construído um amostrador para águas rasas (até 4 metros, Figura 6). Amostragens de superfície e fundo foram ainda realizadas em três estações mais a montante (S4, S5 e S6, Figura 5) durante a maré alta para verificar a altura da penetração da maré.

S1S2S3S4 S6

S5

0 500

Figura 5: Posicionamento das estações de salinidade

Figura 6: Amostrador de fundo desenvolvido para o estudo.

4.2 Levantamento da Maré

Para viabilizar as campanhas de campo, foram levantadas as alturas de maré No Porto do Forno, cujos resultados são apresentados na Tabela 3. Levando em consideração que a DHN já realizou levantamentos de altura de maré no estuário do Rio da Ostras, foi possível

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fazer o cálculo da altura da maré astronômica no momento da coleta, cujos dados estão apresentados na Figura 7. Paralelamente, durante o estudo de salinidade, foi instalada uma régua de maré no estuário do Rio São João e foram feitas medidas de hora em hora. Na estação S3 (Figura 5) também foram feitas medições de profundidade a fim de se determinar a dinâmica da onda de maré. O resultado deste estudo é apresentado na Figura 7.

Observa-se assim uma concordância entre a maré do estuário e a maré prevista pela maré astronômica para o Rio das Ostras e identifica-se ainda um ligeiro atraso da maré no ponto S3. É provável que a penetração da onda de maré até o estuário esteja ligeiramente atrasada em relação à maré em mar aberto. Este atraso é de quase uma hora no ponto S3, o que é perfeitamente normal e esperado na medida em que a distância entre o estuário e o ponto S3 é de quase 20 km.

Tabela 3: Maré no Porto do Forno (Arraial do Cabo)

Hora altura (m) dia 03/06/2003 3:51 1.1 10:53 0.2 16:58 1.1 23:11 0.5

Variação da maré

0.0

0.5

1.0

1.5

7:00 9:00 11:00 13:00 15:00 17:00Hora

Pro

fund

idad

e (m

)

3.0

3.5

4.0

4.5EstuárioRio das OstrasPonto 3

Figura 7: Variação relativa da altura da maré ao longo do dia de amostragem (03/06/2003)

Deve-se sublinhar que a penetração da onda de maré não implica necessariamente na

penetração da água marinha. No baixo Rio São João foi observado que em períodos de baixa pluviosidade a maré dinâmica penetra até a base da Represa de Juturnaíba. No estudo da vazão, nós pudemos verificar este processo, quando observamos um fluxo de água muito pequeno e apesar disto, uma significativa variação no nível da água. A implicação desta observação é que na verdade a baixada percorrida pelo Rio é extremamente plana. Com efeito, em levantamentos topográficos anteriores, ainda da época em que o canal ainda não havia sido construído, observa-se alturas já a dois ou três km da margem do rio que não ultrapassam os 4 metros em relação ao nível do mar.

4.3. Salinidade

Para o entendimento da entrada da maré no Rio São João, foram escolhidas as estações indicadas na Figura 5. Os resultados da penetração da salinidade no Rio são apresentados nas Figuras 8, 9 e 10.

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11

Variação da salinidade no Estuário

15

20

25

30

35

40

7:00 9:00 11:00 13:00 15:00 17:00Hora

Pro

fund

idad

e (m

)

Superfície

Fundo

Meia água

Figura 8: Variação da salinidade na superfície meio e fundo da estação S1 (estuário)

Variação da salinidade no Ponto 2

0

5

10

15

20

7:00 9:00 11:00 13:00 15:00 17:00Hora

Pro

fund

idad

e (m

)

Superfície

Fundo

Meia água

Figura 9: Variação da salinidade na superfície meio e fundo da estação S2.

Variação da salinidade no Ponto 3

0

2

4

6

8

10

12

7:00 9:00 11:00 13:00 15:00 17:00Hora

Pro

fund

idad

e (m

)

Superfície

Fundo

Meia água

Figura 10: Variação da salinidade na superfície meio e fundo da estação S3

É interessante notar que embora na estação estuarina (S1) ocorra uma estratificação considerável na maré alta, durante a vazante a água passa a ficar mais bem misturada e durante a enchente praticamente não há estratificação. Pode-se assim considerar o estuário

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12

como muito bem misturado. Na verdade não foi observada uma verdadeira penetração de cunha salina no rio, principalmente quando estudamos a estação S3.

O processo de penetração da água salgada no Rio São João está ilustrado na Figura 11, onde observamos que temos um pequeno aporte de água doce oriundo da Represa de Juturnaíba e no outro extremo uma água marinha que faz pressão hidrostática na água do Rio. No meio das duas, temos uma água que é lentamente misturada, mas que sobe e desce o rio conforme a maré. Visto que as salinidades nas estações S6, S4 e S5 são nulas, mesmo em maré alta de sizígia, em período de baixa pluviosidade, podemos concluir que a penetração desta zona de mistura é limitada à estação S3.

Água marinha

Água marinha

Zona de mistura

Zona de mistura

Zona de mistura

Água doce

Água doce

Água doce

Nível do mar

Nível do mar

Nível do mar

Rep

resa

Rep

resa

Rep

resa

Maré alta

Maré baixa

Enchente ou vazantePequena entrada

de água doce

Pequena entrada de água doce

Pequena entrada de água doce S3

S3

S3 S1

S1

S1

Figura 11: Esquematização da entrada da maré no Rio São João em situação de baixa pluviosidade e maré de sizígia

4.4. Conclusões

É possível concluir a partir do estudo da salinidade que embora a comunidade local aponte a penetração de água salgada no canal retificado como o principal responsável pela salinização do solo da região, este estudo mostra que esta penetração não é tão significativa. A alegada salinização do solo pode ser devida a outros fatores, particularmente ao processo de dessecamento das áreas de brejo, largamente relatada na literatura como responsável pelo aumento da concentração de sais do solo. A dessecamento de áreas pantanosas tem causado também uma significativa acidificação do solo, diminuindo assim o potencial agrícola daquela região. Embora análises de solo ainda não tenham sido feitas, algumas amostras já foram coletadas para algumas análises. Levantamentos de estudos de solos realizados na região também serão apresentados no relatório final.

A renaturalização do Rio São João não deve em princípio resolver o problema da salinização do solo, contudo caso as margens do leito renaturalizado voltem a se alagar periodicamente, é provável que esta área volte a apresentar solo mais fértil, rico em matéria orgânica e menos salino, viabilizando o cultivo de algumas espécies comerciais adaptadas àquele sistema.

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13

5. Condições do Leito Antigo A renaturalização só é viável se o leito antigo do rio não sofreu nestes últimos anos

assoreamento excessivo, de maneira que sua recuperação seria impossibilitada pela dimensão da obra necessária para sua recuperação. Além disto, uma obra exagerada pode provocar um impacto tão grande no ecossistema que a renaturalização tornar-se-ia mais prejudicial à ecologia da região do que como está atualmente. Assim para avaliar as condições do leito do rio, foi feito um estudo batimétrico e um estudo da granulometria dos sedimentos de fundo ao longo de toda a parte que encontrava-se desobstruída. 5.1. Metodologias - batimetria: Foi feita a batimetria (contínua) do eixo do canal, com marcação do

posicionamento por GPS a cada 1 minuto, com o barco em velocidade reduzida (aproximadamente 5 km hora-1). A medição da profundidade foi feita com um ecobatímetro digital (Modelo Piranha). A batimetria foi calibrada com fio de prumo. O percurso percorrido está indicado na Figura 12. Além da profundidade foi indicado também o tipo de fundo, se arenoso, lamoso ou intermediário, tal qual indicado pelo ecobatímetro. Os resultados foram inseridos no programa Excel para a construção de um gráfico de distância x profundidade. A distância entre os pontos sucessivos foi calculada a partir das posições tiradas com o GPS.

- Foram feitos ainda 16 perfís batimétricos transversais nos canais e no leito retificado nas estações indicadas na Figura 13. Em cada ponto o barco foi posicionado na margem do rio e foi iniciado um percurso transversal a muito baixa velocidade, sendo anotadas as profundidades a cada segundo. É assumida uma velocidade constante do barco e os valores de profundidade foram plotados a intervalos iguais. A largura do rio foi tirada com um paquímetro mecânico a partir das fotos aéreas.

- 18 amostras de sedimento foram coletadas para análises granulométricas (Figura 14). A granulometria está sendo realizada pelo laboratório de análises ambientais da Companhia Álcalis e estão sendo determinadas as frações indicadas na Tabela 4. Os resultados desta parte serão apresentados no relatório final.

Percurso da embarcação durante o estudo batimétrico

Início

Fim

0 500

Figura 12: percurso feito ao longo do eixo do leito antigo para determinar a profundidade.

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14

Tabela 4: Abertura correspondente das peneiras utilizadas para a granulometria. Peneira n° ABNT 7 10 14 18 25 35 45 60 80 120 170 230

Abertura em mm 2,83 2,00 1,41 1,00 0,71 0,50 0,35 0,25 0,177 0,125 0,088 0,062

A(4)

0 500

1

2

3B(10)4

56

789

C(15)10

1112

D(20)

Perfís batimétricos transversais Figura 13: Posicionamento dos perfís batimétricos transversais ao longo do Rio São João.

-42.18 -42.16 -42.14 -42.12 -42.1 -42.08 -42.06 -42.04 -42.02 -42 -41.98

-22.6

-22.58

-22.56

-22.54

-22.52

-22.5

-22.48

A

B

1

6/72

34/5

89

10

1112

1314

1516

-42.18 -42.16 -42.14 -42.12 -42.1 -42.08 -42.06 -42.04 -42.02 -42 -41.98

-22.6

-22.58

-22.56

-22.54

-22.52

-22.5

-22.48

A

B

1

6/72

34/5

89

10

1112

1314

1516

Figura 14: Posição das estações de amostragem de sedimento para a granulometria 5.2. Perfil do Axial Rio São João

A batimetria feita ao longo do eixo do canal seguiu o percurso descrito na Figura 12 e

permitiu a construção do gráfico da Figura 15.

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Profundidade no Eixo Central do Rio São João

-10,0

-9,0

-8,0

-7,0

-6,0

-5,0

-4,0

-3,0

-2,0

-1,0

0,0

0 5000 10000 15000 20000 25000 30000

Distância do início do trecho retificado (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 15: Perfil batimétrico do eixo central do leito antigo do Rio São João

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16

Embora a retificação do rio tenha ocorrido há mais de 20 anos, o leito antigo permanece

com profundidades que atingem os 9 metros. Alguns moradores locais e pescadores relataram que em alguns pontos a profundidade do rio pode chegar a 20 metros, contudo, embora tenhamos deixado o ecobatímetro ligado em permanência durante todo o percurso, não pudemos identificar tais profundidades. A profundidade máxima medida de 9 metros já é bastante profunda para garantir um bom percurso hidráulico para o rio, quando de sua renaturalização. É importante contudo observar que a medida que subimos em direção à barragem as condições do leito ficaram cada vez mais degradadas e a profundidade ficava cada vez menor, indicando aí já um início de assoreamento. No trecho em que o leito antigo atravessa o retificado e passa à margem esquerda deste (na altura do perfil 10), as condições pioram, a profundidade excepcionalmente ultrapassa os 4 metros até que o rio fecha completamente, totalmente tomado por macrófitas aquáticas emergentes e flutuantes. A partir deste trecho o estudo não foi mais possível pois a penetração com o barco fica impossibilitada, por outro lado, como trata-se de macrófitas flutuantes, o leito pode apresentar ainda condições adequadas à renaturalização, bastando para isto retirar as macrófitas e os restos orgânicos que se encontram no fundo (trabalho de dragagem).

No trecho no qual não pudemos penetrar, embora a profundidade esteja consideravelmente reduzida em relação ao início, o rio ainda atinge os 3 metros em média, viabilizando a retomada deste leito pelo fluxo principal. Contudo, no estudo da descrição das margens veremos que aqui o rio encontra-se com grande quantidade de detritos orgânicos (galhos e folhas) no fundo. 5.3. Perfís Transversais

Para complementar o entendimento da morfologia do fundo dos canais antigos, foram

feitos ainda perfís batimétricos transversais, cujos posicionamentos são apresentados na Figura 11 e os perfís são apresentados nas figuras 16 a 31

Perfil A (4)

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40 50 60D is tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 16: Perfil batimétrico do canal no ponto A (4)

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17

Perfil 1

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 20 40 60Dis tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 17: Perfil batimétrico do canal no ponto 1

Perfil 2

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40 50Dis tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 18: Perfil batimétrico do canal no ponto 2

Perfil B (10)

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40Distância da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 19: Perfil batimétrico do canal no ponto B (10)

Perfil 3

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40 50 60 70Dis tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 20: Perfil batimétrico do canal no ponto 3

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18

Perfil 4

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40Dis tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 21: Perfil batimétrico do canal no ponto 4

Perfil 5

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40Dis tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 22: Perfil batimétrico do canal no ponto 5

Perfil 6

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40D is tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 23: Perfil batimétrico do canal no ponto 6

Perfil 7

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40D is tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 24: Perfil batimétrico do canal no ponto 7

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19

Perfil 8

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40Dis tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 25: Perfil batimétrico do canal no ponto 8

Perfil 9

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 5 10 15 20 25D is tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 26: Perfil batimétrico do canal no ponto 9

Perfil C (15)

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 5 10 15 20 25 30 35D is tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 27: Perfil batimétrico do canal no ponto C (15)

Perfil 10

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20 30 40 50 60 70 80Dis tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 28: Perfil batimétrico do canal no ponto 10

Page 23: Estudo dos Efeitos da Renaturalização no Regime Hídrico do ...

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20

Perfil 11

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 5 10 15 20D is tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 29: Perfil batimétrico do canal no ponto 11

Perfil 12

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 5 10 15 20D is tânc ia da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 30: Perfil batimétrico do canal no ponto 12

Perfil D (20)

-10

-8

-6

-4

-2

0

0 10 20Distância da margem (m)

Pro

fund

idad

e (m

)

Figura 31: Perfil batimétrico do canal no ponto D (20)

A análise dos perfís batimétricos indica que além das fortes profundidades o leito

apresenta ainda uma boa simetria. Normalmente nos rios existe uma assimetria entre as margens causada pelo curvatura do rio, que por sua vez gera um fluxo preferencial das água em uma das margens. Este fluxo preferencial vai resultar em erosão em uma margem e sedimentação na outra (Figura 32).

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21

A

A

B

B

A B

BA

Erosão

Erosão

Sedimentação

Sedimentação

F l u

x o

P r

i n c

i p a

l

Sedimentação

Erosão

Sedimentação

Erosão

Figura 32: Esquema mostrando os padrões erosivos e sedimentares do leito de um rio.

A boa simetria entre os lados do leito indica que o rio não apresenta uma evolução significativa de seu traçado. Quando existe um desequilíbrio no perfil batimétrico de um curso d’água, existe uma tendência a uma maior mobilidade dos meandros, tendência mais característica de regiões onde existe mais significativo transporte de material em suspensão. Na região do Rio São João, além da baixa declividade (menor competência), a barragem de Juturnaíba retém grande quantidade de material em suspensão proveniente de a montante do rio. No tocante à renaturalização, a baixa quantidade de material em suspensão é um ponto positivo que permitiu a manutenção da profundidade da maior parte do rio nestes mais de 20 anos de leito retificado. A retomada do leito antigo não modificará significativamente este aspecto, isto é, o rio permanecerá com uma baixa quantidade de material em suspensão. O ponto negativo, é que o assoreamento esperado do leito retificado pode levar muito mais tempo do que se imagina. Provavelmente muitas dezenas de anos. 5.4. Áreas Hidráulicas

A partir do levantamento batimétrico, foi possível ainda calcular a área hidráulica de

cada perfil, cujos valores são apresentados na Tabela 5

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22

Tabela 5 : Áreas hidráulicas calculadas para cada um dos perfís Perfil área hidráulica (m2) A (4) 335 1 251 2 180 B(10) 230 3 312 4 218 5 232 6 228 7 265 8 165 9 72 C (15) 157 10 221 11 81 12 53 D (20) 68

A partir das informações dos perfís e da área hidráulica e estabelecendo algumas

aproximações, foi possível estabelecer um modelo de vazão dos canais em um cenários de retomada do leito antigo do Rio São João.

6. Descrição das Margens

Além das condições do leito, mostrou-se importante a determinação das condições da margem do leito antigo, para se avaliar se a renaturalização seria justificada ao longo de toda a região 6.1. Metodologia

Com a embarcação em velocidade reduzida, no percurso indicado na Figura 10, foi feita uma descrição detalhada e georeferenciada da vegetação da margem, com registro fotográfico das condições de ambas as margens. A cada mudança nas condições da margem, era feito um breve descritivo relacionando-se o tipo de vegetação e o nível de conservação que apresentava. Eventualmente eram tiradas fotografias para facilitar o entendimento do processo descrito. As descrições georeferenciadas foram inseridas na tabela 4 e as referências das fotos são mencionadas na tabela (com a respectiva posição) e estas são apresentadas na seqüência. Posteriormente será construído um mapa com o posicionamento de cada ponto descrito. Na versão digital deste estudo é possível abrir as fotografias a partir das tabelas, apenas clicando nos números

6.2. Caracterização Visual e Fotográfica Georeferenciada das Margens

Os resultados são apresentados na Tabela 6 e as fotografias são apresentadas na

seqüência (Figura 33-1 a 33-52).

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23

Tabela 6: Descrição detalhada das características da margem do leito antigo do Rio São João

Hora Longitude Latitude Foto Descrição da margem esquerda Descrição da margem direita Foto

15:42 0805182 7502052 01 Mangue. Próximo ao morro de São João

Taboa com mangue, hibiscus e gramíneas.

02

15:45 804958 7502168 Mangue. Próximo ao morro de São João

Mangue, hibiscus e ciperácea 03

04

15:46 804864 7502168 Hibiscus, taboa, limfacea flutuante

15:47 804791 7502135 Mangue , taboa Hibiscus, taboa, limfacea flutuante

15:49 804714 7502018 Cruza o canal retificado

15:50 804701 7501941 06 06a

Taboa e mangue com hibiscus e ciperacea

Ciperácea, taboa (às margens do canal). Por trás da vegetação marginal tem pasto

05

15:55 804676 7501784 Taboa e mangue com hibiscus e ciperacea

Transecção amostragem de sedimento (amostra 2)

16:08 804535 7501321 Taboa Manguezal mais denso (termina a vegetação de hibiscus, taboa e Ciperácea

16:10 804477 7501266 Taboa com algumas árvores de mangue

Mangue e hibiscus, por trás vê-se o pasto a 10 metros da margem

16:11 804410 7501216 Taboa de franja, aparecem algumas árvores de mangue por trás

Fim do mangue, presença de hibiscus, pasto aparece a poucos metros da margem

07 07a

16:42 803993 7501480 08 Taboa com algumas árvores por trás (início da mata ciliar)

Início de hibiscus 09

09a

16:49 803957 7501544 Ciperácea, hibiscus

16:50 803917 7501606 Taboa com mangue por trás. Atrás ainda da faixa bem preservada com mangue e brejos, ocorre pasto

Pasto com alguma vegetação marginal esparsa. Vegetação marginal bem degradada. À margem aparecem alguns tufos de hibiscus sem folhas

10

16:53 803753 7501771 Taboa com mangue por trás. Atrás ainda da faixa bem preservada com mangue e brejos, ocorre pasto

Gramíneas rasteiras (similar a «campo de golfe»)

11

16:56 803598 7501961 Taboa com mangue por trás. Atrás ainda da faixa bem preservada com mangue e brejos, ocorre pasto

Taboa passa a dominar gramíneas já desenvolvidas por trás. Identifica-se algumas áreas alagadas por trás

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24

Tabela 6: (Continuação) Hora Longitude Latitude Foto Descrição da margem esquerda Descrição da margem direita Foto

16:57 803538 7502018 Inicia vegetação ciliar diversificada

Taboa domina as gramíneas já desenvolvidas por trás. Identifica-se algumas áreas alagadas por trás

16:58 803463 7502042 Avista-se parte retificada, que cruza leito antigo. Presença de hibiscus na intersecção

Avista-se parte retificada, que cruza leito antigo. Presença de hibiscus na intersecção

16:59 803379 7502027 A 30? ocorre fazenda às margens da subida do Morro de São João. Vegetação ciliar diversificada

Taboa e hibiscus, formando faixa de 20 metros

17:02 803170 7501900 13 Vegetação ciliar diversificada Em meio a uma vegetação muito degradada, aparece um caminho bem próximo à margem

12

17:04 803000 7501854 Ciperácea aparece na franja e taboa passa a formar pequenos arbusto bem mais atrás

Vegetação muito degradada

17:05 802917 7501856 Taboa e hibiscus. Por trás vegetação arbustiva baixa

Mangue, hibiscus e inicia outros de vegetação ciliar característica. Aqui ficou o grupo da topografia.

17:07 802749 7501909 Taboa e hibiscus. Por trás vegetação arbustiva baixa

Vegetação ciliar densa, mas esporadicamente vê-se pasto por trás (50 metros)

17:08 802749 7501909 Transecção de batimetria, amostra 4

17:26 802522 7502032 Ainda taboal com alguma vegetação arbustiva

Mangue ainda aparece misturado com vegetação ciliar

14

17:28 802391 7502116 Parte retificada do rio, com taboal que se converte em arbustiva às 17 :29

Aparece alguma taboa, formando franja na frente de frondosa vegetação ciliar

17:30 802274 7502216 Ausência de vegetação. Apenas pasto em fazenda com porteira, próximo ao rio.

Dentro do retificado, com vegetação de taboa mais dominante

17/06/2003

Entramos no rio bem a montante, pelo canal retificado e descemos até o ponto onde terminamos no dia anterior

9:27 22 33 34 42 03 49 Vegetação ciliar variada e bem preservada. Por trás da mata domina hibiscus

Esta parte é ainda o leito retificado que se confunde com o leito antigo. Taboa está largamente presente na margem

9:31 22 33 41 42 03 44 Mata ciliar bem preservada Mata ciliar preservada

9:32 22 33 43 42 03 42 Algumas árvores de mangue invadem a margem que ainda é dominada por mata ciliar

Mata ciliar preservada

9:34 22 33 49 42 03 37 Algumas árvores de mangue invadem a margem que ainda é dominada por mata ciliar

Mata ciliar preservada

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Tabela 6: (Continuação) Hora Longitude Latitude Foto Descrição da margem esquerda Descrição da margem direita Foto

9:40 22 33 59 42 03 37 Manguezal mistura-se a taboa e Ciperácea

Ciperáceas e hibiscus formam franja com pasto por trás

9:41 22 34 03 42 03 37 15 Mangue Mata ciliar mais densa, mas até aqui as árvores ainda são relativamente pequenas (máximo de 15 metros)

9:46 22 34 03 42 03 36 Hibiscus com taboa. Por trás vegetação de mata relativamente bem preservada

Mata ciliar

9:47 22 34 12 42 03 33 Manguezais aparecem misturados a mata ciliar ainda de pequeno porte

Desaparece a mata ciliar e o pasto atinge a beira do rio

9:50 22 34 29 42 03 39 Vegetação secundária de mata Canais de drenagem podem ser observados atingindo o leito antigo do rio

9:51 22 34 21 42 03 42 Vegetação arbustiva de pequeno porte e hibiscus

Mata ciliar pouco significativa, aparecendo por trás pasto

9:52 22 34 21 42 03 45 O mesmo da outra margem Mata ciliar bem preservada mas ainda de pequeno porte

9 :53 22 34 19 42 03 47 Mata ciliar se aproxima da margem e a vegetação de taboa desaparece

Mata ciliar preservada com franja de hibiscus

9:55 22 34 19 42 03 47 Mata ciliar Bromélias aparecem às margens do rio. A salinidade neste ponto é de zero

16

10:17 22 34 14 42 03 48 Mata ciliar que se desenvolve na Ilha entre o leito antigo e o trecho retificado.

Hibiscus aparecem por trás da mata de ciperáceas e de vegetação aquática.

17 18

10:22 22 34 03 42 03 58 Mata ciliar se aproxima da margem e forma vegetação mais densa

Canal natural que deságua no leito antigo

10:23 22 34 07 42 03 51 Mata ciliar forma vegetação mais densa

taboal

10:26 22 34 04 42 03 58 Taboa se desenvolve em franja, e por trás aparece pasto

Mata ciliar se aproxima da margem, formando uma mata bastante densa. Aparecem algumas árvores de mangue

10:30 22 34 03 42 03 11 Hibiscus substituem a taboa na margem e o pasto aparece por trás.

Mata ciliar bastante densa. Ainda aparecem algumas árvores de mangue

10:34 22 34 02 42 03 22 19 Mata preservada Mata ciliar densa com árvores que já atingem 20 metros

10:35 22 34 03 42 03 24 Taboa e hibiscus alternados com ciperáceas

Mata ciliar bem preservada 20

21

10:38 22 34 15 42 03 23 Taboa e hibiscus alternados com ciperáceas

Mata ciliar bem preservada

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Tabela 6: (Continuação) Hora Longitude Latitude Foto Descrição da margem esquerda Descrição da margem direita Foto

10:44 22 34 27 42 03 43 Barranco em área onde não existe vegetação aquática

Transecção

10:48 22 34 23 42 05 43 Canal artificial que deságua no leito antigo

10:58 22 34 03 42 05 05 Franja de hibiscus

11:00 22 34 14 42 05 07 Mata ciliar também aparece deste lado

Mata ciliar bem preservada com árvores que eventualmente atingem os 20 metros

11 :02 22 34 17 42 05 11 Taboa Mata ciliar

11 :04 22 34 23 42 05 13 24 22

23

11 :07 22 34 23 42 05 24 26

27

28

29

Queimada aparece ao longe 25

11 :11 22 34 23 42 05 24 Transecção (barranco da margem) mesmo local das fotos acima

11 :43 22 33 59 42 05 27 30

31

32

Vegetação de capoeira no barranco

Mata ciliar

12 :02 22 33 48 42 05 53 Mata ciliar 33

12 :03 22 33 48 42 05 53 34

35

Mata ciliar fotos de gramíneas Transecção (próximo a área onde cria-se capivaras – propriedade particular. Autorizado pelo IBAMA)

12 :11 22 33 47 42 06 03 Transecção

12 :16 22 33 41 42 06 19 36 Mata ciliar preservada Mata ciliar preservada 37

12 :20 22 33 35 42 06 17 Canal com cerca eletrificada que vai dar no retificado

12 :28 22 33 51 42 06 24 Mata ciliar bem conservada ainda com árvores de até 20 m

Marcas recentes de manutenção de canal de drenagem retificado

12 :36 22 33 51 42 06 41 Mata ciliar bem conservada Canal de drenagem aparece

13 :08 22 33 57 42 06 45 Transecção

13 :13 22 33 55 42 06 51 Pastagem e cerca eletrificada. Mata ciliar

13 :16 22 33 53 42 07 03 Vestígios de decomposição orgânica muito intensa

Mata ciliar

13 :19 22 33 53 42 07 13 Gramíneas Mata ciliar passa a ficar mais desenvolvida, com mais de 25 metros (ocorre mudança de paisagem

13 :20 22 33 54 42 07 13 Leito mais estreito em função do assoreamento

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Tabela 2 : (Continuação) Hora Longitude Latitude Foto Descrição da margem esquerda Descrição da margem direita Foto

13 :21 22 33 52 42 07 13 Vegetação muito densa de gramíneas na forma de franja, desenvolvendo hibiscus por trás

Pasto e canal de drenagem

13 :25 22 33 47 42 07 27 Mata ciliar muito densa, com árvores bem desenvolvidas

No canal há sinais de colmatação

13 :28 22 33 44 42 07 13 Mata ciliar Franja de gramíneas 38

13 :35 22 33 27 42 07 11 39 Neste ponto entramos novamente no Canal retificado. O leito antigo apresenta-se bastante estreito e assoreado

13 :39 22 33 25 42 07 29 Vegetação arbustiva de pequeno porte

13 :40 22 33 25 42 07 23 Pasto Vegetação arbustiva de pequeno porte

13 :46 22 33 25 42 07 37 Mata devastada Pasto. Neste ponto foi feito transecção

13 :48 22 33 22 42 07 43 Entramos no canal antigo novamente

13 :50 22 33 13 42 07 54 Mata ciliar rala Mata ciliar rala

13 :52 22 33 12 42 08 03 40 Vegetação menos densa Vegetação menos densa. O canal aqui tem não mais que 25 a 30 metros de largura

41

13 :56 22 33 03 42 07 52 Mata ciliar termina Transecção. A margem, mistura de várias formações vegetais

13 :59 22 33 02 42 07 53 42

14 :03 22 32 47 42 07 51 Morfologia do relevo na forma de meia laranja

Mata ciliar termina, é substituída por Cirpus

14 :04 22 32 43 42 07 51 Pasto Pasto

14 :06 22 32 33 42 07 53 Volta mata ciliar pouco densa, Pasto

14 :10 22 32 23 42 08 07 42a Ponte e ancoradouro

14 :17 22 32 23 42 08 27 44 Canal alarga mais um pouco 43

14 :22 22 32 24 42 08 47 Mata ciliar reaparece, mas pouco densa e bem degradada

Pasto

14 :26 22 32 32 42 08 44 Leito fica cada vez mais reduzido, área bastante degradada 45

14 :29 22 32 37 42 08 33 46a 46

14 :37 22 32 54 42 08 23 46b Trecho fechado pela vegetação 47

48

14 :54 22 32 37 42 08 34 49

50

51

52

Casa de morador (ex-funcionário do Dilvo Perez). Não mora na casa. Só aparece nos fins de semana. Tem uma pequena roça de milho e outros produtos para consumo próprio.

Transecção.

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01 02

03 04

05 06

06a 07

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07a 08

09 09a

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32 33

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38 39

40 41

42 42a

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43 44

45 46

46a 46b

47 48

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49 50

51 52

Figura 33-1 a 33-52: Fotos do estudo das margens do Rio São João 7. Determinação da Vazão do Rio em Diversos Pontos

A determinação da vazão ao longo do trecho retificado é muito importante para se avaliar a viabilidade da renaturalização do Rio São João. A quantidade de água que passa nesta parte do rio, deverá voltar a passar pelo leito antigo, podendo, caso o leito antigo não apresente uma área hidráulica suficiente, vir a transbordar. 7.1. Metodologia

Em situação de maré de quadratura (dia 23 de julho), foram feitos três perfís de velocidade de corrente (Figura 34), com medições de 5 em 5 metros na superfície e a 2 metros de profundidade, utilizando-se um molinete. Para a realização do perfil foram instaladas estacas em cada margem e fixadas a estas foi esticado um cabo de aço com 100 metros comprimento, de margem a margem, com marcações a cada 5 metros. As medidas foram feitas a partir de uma embarcação leve, fixada no cabo graças a uma corda e um mosquetão. Após a medição em cada ponto, o barco era deslocado até a marca seguinte, 5 metros mais distante da margem. O posicionamento de cada uma das estações foi anotado com o GPS e a profundidade de cada ponto também foi medida. Nestes perfís, dispomos assim dos valores de velocidade da corrente, profundidade e largura com elevada precisão.

7.2. Resultados da Vazão no Rio São João

Os resultados estão apresentados nas Tabelas 7, 8 e 9 a seguir. Os valores de vazão

foram extremamente baixos e na verdade não puderam ser medidos (não chegavam sequer a

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movimentar o hélice) nas estações 1 e 2. Assim, os valores apresentados foram calculados a partir do limite de medida do aparelho que é de 1 cm s-1. Na verdade, a vazão nas partes mais baixas do rio (estações 1 e 2) são praticamente zero, sofrendo alguma influência da maré. A estação 3 que é na saída da barragem de Juturnaíba apresentou alguns valores mensuráveis, mas também muito próximos ao limite de medida do aparelho. Conclui-se assim que a vazão de água doce neste período de estiagem é insignificante e a dinâmica do rio é toda controlada pela maré. Este estudo precisa ser repetido no período de chuvas, quando a vazão será significativamente aumentada, afim de que possamos calcular com mais precisão se em condições de grande fluxo, existe possibilidade de inundação das margens. Com o valor medido neste estudo (menos de 4 m3 s-1), é muito improvável que na hipótese de renaturalização do rio, ocorra inundação das margens.

0 5000 500

123

Figura 34: Estações de medição da vazão no Rio São João

Tabela 7: Medições de vazão na estação 1 (lat. -22,55680 long.-42,12230)

Profundidade (m)

distância da margem

(m)

velocidade Superfície (cm s-1)*

Velocidade Fundo

(cm s-1)*

Vazão na Superfície (m3 s-1)*

Vazão no Fundo

(m3 s-1)* 3,4 5 1 1 0,05 0,11764 3,7 10 1 1 0,05 0,13288 4,0 15 1 1 0,05 0,14812 4,0 20 1 1 0,05 0,14812 3,7 25 1 1 0,05 0,13288 4,0 30 1 1 0,05 0,14812 2,7 35 1 1 0,05 0,08716 3,7 40 1 1 0,05 0,13288 3,7 45 1 1 0,05 0,13288 3,7 50 1 1 0,05 0,13288 3,0 55 1 1 0,05 0,1024 3,7 60 1 1 0,05 0,13288 4,6 65 1 1 0,05 0,1786 4,3 70 1 1 0,05 0,16336 4,3 75 1 1 0,05 0,16336 4,6 80 1 1 0,05 0,1786

Vazão total (m3 s-1) 3,03276 * Corresponde ao limite mínimo da medida, sendo que os valores são sempre inferiores aos apresentados. Não é possível precisar quanto inferiores.

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Tabela 8: Medições de vazão na estação 2 (lat. -22,55867 long. -42,19380)

Profundidade (m)

distância da margem

(m)*

velocidade Superfície (cm s-1)*

Velocidade Fundo

(cm s-1)*

Vazão na Superfície (m3 s-1)*

Vazão no Fundo

(m3 s-1)* 2,4 5 1 1 0,05 0,07192 3,0 10 1 1 0,05 0,1024 3,4 15 1 1 0,05 0,11764 3,4 20 1 1 0,05 0,11764 3,4 25 1 1 0,05 0,11764 3,4 30 1 1 0,05 0,11764 3,0 35 1 1 0,05 0,1024 2,1 40 1 1 0,05 0,05668 2,1 45 1 1 0,05 0,05668 1,5 50 1 1 0,05 0,0262 1,2 55 1 1 0,05 0,01096

Vazão total

(m3 s-1) 1,4478 * Corresponde ao limite mínimo da medida, sendo que os valores são sempre inferiores aos apresentados. Não é possível precisar quanto inferiores.

Tabela 9: Medições de vazão na estação 3 (lat. -22,5873 long. -42,2697)

Profundidade (m)

distância da margem (m)

velocidade Superfície (cm s-1)

Velocidade Fundo (cm s-1)

Vazão na Superfície (m3 s-1)

Vazão no Fundo (m3 s-1)

2,1 5 7 5 0,35 0,2834 2,1 10 5 10 0,25 0,5668 2,1 15 13 1* 0,65 0,05668* 2,4 20 16 1* 0,8 0,07192* 2,4 25 8 1* 0,4 0,07192* 2,7 30 1* 1* 0,05* 0,08716* 1,8 35 8 8 0,4 0,33152

Vazão total (m3 s-1) 4,3694*

* Corresponde ao limite mínimo da medida, sendo que os valores são sempre inferiores aos apresentados. Não é possível precisar quanto inferiores. 7.3. Conclusões

O estudo da vazão do Rio São João ainda foi muito preliminar. A ausência de medidas de vazão, associadas a medidas de pluviosidade não permitiu a construção de um modelo analítico estabelecendo a relação entre estes dois parâmetros. Seria necessária a estruturação de um programa de acompanhamento da vazão do rio São João, tanto a jusante quanto a montante, na altura da barragem. Este acompanhamento é tanto mais necessário para que se possa estabelecer as bases de gestão das comportas de Juturnaíba. Não é possível que duas empresas de água continuem a explorar este valiosíssimo recurso natural, sem que assumam também a responsabilidade de gerir a bacia de drenagem do sistema. Atualmente a situação tende a piorar, pois além da demanda por água na Região dos Lagos encontrar-se em expansão, já se fala em levar a água de Juturnaíba para complementar o abastecimento da cidade de Niterói.

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8. Modelo de Vazão do Rio São João A partir dos dados levantado até aqui, foi construído um modelo determinístico de

caixa, capaz de simular de maneira aproximada a vazão do Rio São João, determinando o risco de enchente. É importante frisar que trata-se de uma aproximação extremamente grosseira e que um modelo numérico mais detalhado (poderia ser um modelo de elementos finitos) precisaria ser construído. Uma séria limitação à modelagem hídrica da região é a ausência de informações quanto à capacidade de retenção de água pelo solo e pela vegetação. Trata-se também de uma região onde nunca foi feito acompanhamento em longo prazo das vazões dos rios (de preferência com réguas linimétricas), o que dificulta ainda mais a acurácia da previsão.

O modelo ora apresentado faz algumas simplificações grosseira, mas que caracterizariam a situação mais extrema. Assim o escoamento da água é considerado totalmente hortoniano, isto é, a água da chuva escoa diretamente para o canal central, sem que intervenha qualquer tipo de corpo de retenção. Outra aproximação grosseira é a velocidade do escoamento na superfície para uma chuva, que por não ser conhecida, foi assumida como uniforme e distribuída ao longo das 24 horas (ou 86400 segundos).

No item caracterização do leito antigo, apresentamos a área hidráulica dos perfis e sua média foi utilizada como área hidráulica de referência para todo o rio. Os cálculos também foram feitos com a área hidráulica mínima já que esta pode constituir um gargalo. Uma vez que sem o modelo numérico não é possível determinar o empilhamento da água (possibilidade de inundação) durante os eventos definimos como limite de escoamento sem empilhamento a velocidade de corrente de 1 m s-1. Embora este valor seja relativamente pequeno, é necessário considera que a declividade da região é muito pequena, dificultando assim o escoamento das águas.

O modelo foi construído para duas áreas hidráulicas diferentes, uma média de toda a região (192 m2) e outra mínima (53 m2). A razão da utilização de área hidráulica mínima é que nestas áreas pode ocorrer um gargalo para as águas, que assim viriam a transbordar apenas naquele trecho.

As simulações estão apresentadas na Tabela 10. As simulações para as diferentes áreas hidráulica foram feitas para situação de evento pluvioso de 24 horas, que despejou uniformemente em toda a bacia de drenagem do baixo curso 100 mm de chuva (situação muito extrema e que deve ocorrer muito raramente. Em seguida foi utilizado o mesmo procedimento para simulação do valor limite de chuva para que em cada situação de área hidráulica não houvesse transbordamento.

Na Tabela 10 observa-se que em um evento excepcional de chuva de 100 mm (simulações 1 e 3), deve ocorrer transbordamento do rio, já que os valores ultrapassam em muito o limite de 1m s-1 estabelecido inicialmente como parâmetro para o empilhamento. O modelo não permite determinar qual altura tomaria o rio em tal situação, contudo é importante sublinhar que o transbordamento do "levée" lateral da margem do rio deve provocar a submersão de áreas muito extensas, já que a declividade é muito baixa. Por outro lado, o espalhamento da água em tais áreas planas deve gerar uma lâmina d’água muito pequena no evento de inundação, além de uma rápida queda na velocidade de vazão do rio.

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Tabela 10: Simulações de vazão para o Rio São João. Simu-lação Área

hidráulica média (m2)

Área da bacia a jusante da barragem

(x106m2) Evento de chuva (m)

Volume por evento

(x106m3)

Volume por segundo

(m3 s-1)**

Velocidade da corrente na situação

extrema (m s-1) 1 192 1024 0.1000 102 1185 6.2 2 192 1024 0.0160 16 190 1.0 3 53 1024 0.1000 102 1185 22.4 4 53 1024 0.0045 5 53 1.0

As simulações 2 e 4 representam o limite de chuva antes de haver empilhamento.

Assim, os valores de chuva de 20 mm e 4,5 mm corresponderiam aos limites onde não haveria empilhamento significativo e também não haveria inundação.

Mais uma limitação significativa do modelo é o fato dele não considerar a maré dinâmica. A interação dos parâmetros maré e vazão só poderia ser modelizado por diferenças finitas. Contudo, pode-se supor que em situação de maré de sizígia, o escoamento do rio deve sofrer uma pressão suplementar, aumentando o risco de transbordamento. 9. Conclusões:

• A mata ciliar é muito extensa e bem preservada; • Em alguns pontos, a mata ciliar encontra-se bastante degradada, onde a restituição é

justificada; • A canal retificado deve ser incluido no projeto de renaturalização pois constitui-se

num passivo ambiental. São sugeridos projetos de reutilização do canal retificado (piscicultura);

• Mapa de risco deve ser discutido com a comunidade; • A entrada de água marinha não é responsável pela propalada salinização do solo. As

variações de maré observadas até a represa de Juturnaíba são atribuidas à maré dinâmica. Não ocorre estratificação da sailidade na coluna d’água;

• A conformação do leito antigo ainda apresenta condições adequadas para sua retomada, sobretudo até o km 20. Na porção que corre na margem esquerda do rio, as condições já são muito mais degradadas, contudo é possível pensar em retomada a partir da dragagem e limpeza do leito e replantio da mata ciliar;

• A descrição georeferenciada da margem é um documento de referência para a determinação dos impactos e modificações que venham a ocorrer no futuro;

• O levantamento fotográfico constituído por 52 fotografias também auxilia na caracterização e no estabelecimento de parãmetros para determinação dos impactos futuros que devem ocorrer na região;

• O estudo da vazão indica que a entrada de água doce no Rio São João no período de inverno (seco) é insignificante. Será necessário refazer as medidas no perído de verão (úmido) afim de se estabelecer parâmetros mais adequados à modelização;

• O modelo de vazão apresentado é extremamente grosseiro pois parte de premissas muito distantes da realidade. É, não obstante um modelo que parte de premissas extremas (pior caso). Assume-se assim, que podem ocorrer inundações localizadas a partir de chuvas de 4,5 mm em 24 horas;

• A vazão do rio precisa ser acompanhada e um modelo numérico de diferenças finitas pode ser construido para melhorar as estimativas de inundação das margens. Um modelo relacionando vazão e pluviosidade (estocástico) só pode ser construido com informações vazão e chuva durante um período bem mais longo do que o ora apresentado.

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10. Recomendações Finais

Nestas recomendações fizemos um resumo das principais conclusões do projeto e

apresentamos a seguir um plano para a renaturalização do Rio São João. Como detalhado ao longo de todo o texto, a previsão dos eventos é muito complicada, pela ausência de dados de longo prazo e pelo pouco conhecimento dos processos que controlam a qualidade ambiental. Assim é importante que a renaturalização ocorra por etapas e que a cada etapa, um programa de monitoramento detalhado seja realizado para podermos pouco a pouco entendermos melhor os processos, desenvolvendo modelos que sejam mais eficientes e representativos da realidade.

As principais conclusões do estudos estão relacionadas a seguir: • A mata ciliar tal qual foi mapeada no estudo deve ser demarcada e protegida além dos

limites definidos pela legislação. • A restituição da mata ciliar naqueles pontos mais degradados é necessária. Às margens

do canal retificado também deve ser plantada vegetação ciliar; • A canal retificado deve ser incluido no projeto de renaturalização pois constitui-se

num passivo ambiental. São sugeridos projetos de reutilização do canal retificado como por exemplo a piscicultura;

• Embora o modelo de previsão de inundações seja muito simplista, deve-se considerar que durante o processo de renaturalização existe risco de transbordamento do canal, assim a implementação da renaturalização deve ser largamente discutida com as comunidades ribeirinhas, particularmente os grandes fazendeiros que se estabeleceram às margens do rio, já que não existem comunidades carentes vivendo às margens do trecho estudado.

• A conformação do leito antigo ainda apresenta condições adequadas para sua retomada, sobretudo até o km 20. Este trecho deve constituir a fase piloto da renaturalização, que deve ser acompanhada por um detalhado monitoramento de pelo menos um ano (de maneira a estudar-se todas as fases hídricas do ano).

• Acima do km 20, na porção que corre na margem esquerda do trecho retificado, as condições já são muito mais degradadas, contudo é possível pensar em retomada a partir da dragagem e limpeza do leito e replantio da mata ciliar. A renaturalização desta parte do rio só poderá iniciada após o estudo completo (pelo menos um ano de monitoramento) do trecho inferior do rio;

10.1 Etapas da renaturalização

Como apresentado nas conclusões, é sugerido que a renaturalização ocorra em várias etapas. A primeira etapa seria a construção de uma barragem no km 20 do estudo (figura 1). Dada a baixa energia da região, não é necessário construir uma barragem rígida, concretada. É possível pensar em dragar e limpar o leito antigo um pouco antes que este atinja o retificado, e com o bota-fora desta limpeza seria possível construir a barragem (figura 2). A barragem pode em seguida ser fixada com vegetação com as mesmas características da mata ciliar.

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Figura 1: Trecho a ser retifica na primeira etapa

Bota-fora/barragem

Área de dragagem e limpeza

Área comprometida por assoreamento e preenchimento por vegetação Braço do rio para

renaturalização em segunda etapa

Figura 2: Situação da obra proposta

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Nesta primeira fase do programa de renaturalização são sugeridos os seguintes parâmetros de monitoramento:

1. Hidrologia: As medições de vazão devem ser feitas em pelo menos dois pontos do rio, sendo um obrigatoriamente na saída da barragem, e o outro possivelmente na última curva do trecho retificado. As medidas devem ser quinzenais, sempre em situação de maré de quadratura. Uma vez que a maré dinâmica influencia de maneira significativa a altura do rio, a vazão deve ser medida por molinete e não por régua limnimétrica.

2. Deve ser feito um estudo detalhado da evolução da calha do leito antigo após um ano de estudo, nos mesmos moldes do apresentado neste estudo.

3. A pluviosidade deve ser acompanhada de maneira contínua durante o período estudado. Este dado, juntamente com a vazão permitirão a construção de um primeiro modelo estocástico da vazão do rio, que permitirá uma previsão mais precisa dos possíveis processos de inundação das margens.

4. Deve ser construído ainda um modelo numérico determinístico, a partir da área da bacia de drenagem (a jusante da barragem), que considerará o escoamento da água pelos diferentes tipos de solo constituintes da região e a vazão gerada em cada trecho do rio. Para construir este modelo, deverão ser instalados piezômetros afim de se determinar as alturas da água e sua velocidade de recarga em função da pluviosidade. Para este estudo, seria necessária a instalação de 20 piezômetros, cuja recarga deve ser medida mensalmente. Para afinar o ajuste do modelo, seria interessante realizar algumas análises químicas, como concentrações de sódio, cloreto, fluoreto e COP, indicadores que podem determinar taxas de mistura e aporte de águas de diferentes fontes.

5. O replantio da mata ciliar deve ser iniciado com um estudo da composição e estrutura ecológica da vegetação. Este levantamento deve ser utilizado no trabalho de recomposição da mata ciliar nos trechos especificados no relatório. A evolução da cobertura da vegetação ciliar deve ser acompanhada durante a renaturalização através de estudos com imagens de satélite.

6. A comunidade e os agricultores locais devem ser mantidos informados com relação aos resultados do estudo, de maneira que possam colocar suas dúvidas e estas possam ser respondidas em termos de redirecionamento da pesquisa.

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11. Bibliografia: AMADOR, E.S. 1997. Baía de Guanabara e Ecossistemas Periféricos: Rio de Janeiro, UFRJ.

325 p. BARBIERI, E. 1984, Cabo Frio e Iguaba Grande, dois microclimas distintos a um curto

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ANEXO 12.1: MAPA FOTORESTITUIDO DO RIO SÃO JOÃO

Vegetação densaVegetação médiia

Vegetação rasteiraMata ciliarCulturas: permanente, temporária

Rodovia EstadualVia secundáriaCaminhoFerroviaLaagoa, canal

Fonte: Embraero, Aerofotogrametria Ltda.Fotografias aéreas n° 43-18 a 22, 44-17 a 20,45-17 a 23, 46-19 a 22, 47-19 a 21, 48-20 a 22, 49-20 a 22Fevereiro de 2000. Escala das fotos 1:30 000

0 1500 m

76

00

7 847 927 008 088

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ANEXO 12.2: MAPA DE RISCO DE INUNDAÇÃO

Fonte: Embraero, Aerofotogrametria Ltda.Fotografias aéreas n° 43-18 a 22, 44-17 a 20,45-17 a 23, 46-19 a 22, 47-19 a 21, 48-20 a 22, 49-20 a 22Fevereiro de 2000. Escala das fotos 1:30 000

0 1500 m

76

00

7 847 927 008

75

alto risco (4 m)médio risco (7 m)baixo risco (9 m)

risco de inundação: