Estudos da Saúde Oral e Necessidades de Tratamento em Idosos

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  • Estudo da Sade Oral e Necessidades de

    Tratamento em Idosos Institucionalizados

    Maria do Pranto Valente Braz

    Porto, 2011

  • II

  • III

    Estudo da Sade Oral e Necessidades de

    Tratamento em Idosos Institucionalizados

    Maria do Pranto Valente Braz

    Dissertao de candidatura ao grau de doutor apresentada

    Faculdade de Medicina Dentria da Universidade do Porto

    Porto, 2011

  • IV

  • V

    Orientador

    Prof. Doutor Accio Couto Jorge

    Professor Auxiliar da Faculdade de Medicina Dentria

    da Universidade Porto

    Co-Orientador

    Prof. Doutora Cristina Maria L. M. Coelho

    Professora Coordenadora sem Agregao do

    Instituto Politcnico da Sade - Norte

  • VI

  • VII

    CONSELHO CIENTFICO DA FMDUP

    Prof. Doutor Accio Eduardo Soares Couto Jorge

    Prof. Doutor Afonso Manuel Pinho Ferreira

    Prof. Doutor Amrico dos Santos Afonso

    Prof. Doutor Antnio Cabral Campos Felino

    Prof. Doutor Antnio Manuel Guerra Capelas

    Prof. Doutor Antnio Marcelo Azevedo Miranda

    Prof. Doutor Csar Fernando Coelho Leal Silva

    Prof. Doutor David Jos Casimiro Andrade

    Prof. Doutor Fernando Jorge Morais Branco

    Prof. Doutor Fernando Jos Brando Martins Peres

    Prof. Doutor Filipe Poas Almeida Coimbra

    Prof. Doutor Germano Neves Pinto Rocha

    Prof. Doutora Irene Graa Azevedo Pina Vaz

    Prof. Doutora Ins Alexandra Costa Morais Caldas

    Prof. Doutor Joo Carlos Antunes Sampaio Fernandes

    Prof. Doutor Joo Carlos Gonalves Ferreira de Pinho

    Prof. Doutor Joo Fernando Costa Carvalho

    Prof. Doutor Jorge Manuel Carvalho Dias Lopes

    Prof. Doutor Jos Albertino Cruz Lordelo

    Prof. Doutor Jos Albino Teixeira Koch

    Prof. Doutor Jos Antnio Ferreira Lobo Pereira

    Prof. Doutor Jos Antnio Macedo Carvalho Capelas

    Prof. Doutor Jos Carlos Pina Almeida Rebelo

    Prof. Doutor Jos Carlos Reis Campos

    Prof. Doutor Jos Mrio Castro Rocha

    Prof. Doutor Manuel Jos Fontes de Carvalho

    Prof. Doutor Manuel Pedro Fonseca Paulo

    Prof. Doutora Maria Cristina P. C. M. Figueiredo Pollmann

    Prof. Doutora Maria Helena Guimares Figueiral da Silva

    Prof. Doutora Maria Helena Raposo Fernandes

    Prof. Doutora Maria Purificao Valenzuela Sampaio Tavares

  • VIII

    Prof. Doutora Maria Teresa Pinheiro Oliveira

    Prof. Doutor Mrio Jorge Rebolho Fernandes Silva

    Prof. Doutor Mrio Ramalho Vasconcelos

    Prof. Doutor Miguel Fernando Silva Gonalves Pinto

    Prof. Doutor Paulo Rui Galro Ribeiro Melo

    Prof. Doutor Tiago Lus Costa Morais Caldas

    PROFESSORES JUBILADOS OU APOSENTADOS

    Prof. Doutor Ado Fernando Pereira

    Prof. Doutor Amlcar Almeida Oliveira

    Prof. Doutor Durval Manuel Belo Moreira

    Prof. Doutor Fernando Jos Brando Martins Peres

    Prof. Doutor Francisco Antnio Rebelo Morais Caldas

    Prof. Doutor Jos Carlos Pina Almeida Rebelo

    Prof. Doutor Jos Serra Silva Campos Neves

    Prof. Doutor Manuel Guedes de Figueiredo

    Prof. Doutora Maria Adelaide Macedo Carvalho Capelas

    Prof. Doutor Rogrio Serapio Martins Aguiar Branco

  • IX

    AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Doutor Accio Couto Jorge, pela orientao desta tese, pela mestria,

    acessibilidade e incentivo que sempre me soube transmitir ao longo destes anos.

    Prof. Doutora Cristina Coelho, pela orientao deste trabalho, estimulo e amizada

    que sempre me tem dispensado.

    Prof. Doutora Filomena Salazar pela colaborao, confiana e amizade.

    Prof. Doutora Isabel Pires, pela colaborao no trabalho de recolha de dados,

    pela ajuda imprescindvel na elaborao de todo este estudo.

    Dra. Orqudea Ribeiro pela disponibilidade e apoio na anlise estatstica dos

    dados.

    A todos os idosos observados quero expressar a minha gratido por terem

    contribudo para a realizao deste trabalho.

    Aos Directores dos Lares e Centros-de-dia de idosos e a todo o pessoal auxiliar,

    quero agradecer a colaborao que tornou possvel a execuo deste trabalho.

  • X

  • XI

    DEDICATRIAS

    Ao Manel, meu marido

    Aos meus filhos, Ana, Man e Miguel

    minha famlia

  • XII

  • XIII

    ABREVIATURAS USADAS

    ONU Organizao das Naes Unidas

    OMS Organizao Mundial da Sade

    WHO World Health Organisation

    INE Instituto Nacional de Estatstica

    OHIP Oral Health Impact Profile

    OIDP Oral Impact Daily Performance

    MG1 Mucina de elevado peso molecular

    MG2 Mucina de baixo peso molecular

    Ig A Imunoglobulina A

    Ig G Imunoglobulina G

    ICD International Classification of Diseases

    ATM Articulao temporomandibular

    AIQ Amplitude inter-quartil

    TER Tratamento endodntico radical

    % Percentagem

    ICR ndice de cries radiculares

    CPO Cariados perdidos e obturados

    CPOD ndice mdio de CPO

    NT Necessidade de tratamento

    SPSS Statistic Package for Social Sciences

    CPI ndice periodontal comunitrio

    p Prevalncia

    rs Correlao

    n Nmero

    mm milmetros

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FDI Federation Dentaire Internationale

    IADR International Association for Dental Research

  • XIV

  • XV

    NDICE

    I INTRODUO 1

    1. Dados demogrficos 3

    2. Aspectos scio-econmicos 5

    3. Consideraes sobre o envelhecimento humano 8

    4. Principais alteraes orgnicas no idoso 9

    4.1. Sistema cardiovascular 9

    4.2. Sistema respiratrio 10

    4.3. Sistema gastrointestinal 10

    4.4. Sistema msculo-esqueltico 11

    4.5. Sistema neurolgico 11

    4.6. Fgado 12

    4.7. Rim 13

    5. O envelhecimento e a sade oral 13

    6. Alteraes fisiolgicas da cavidade oral relacionadas com o

    envelhecimento 15

    6.1. Esmalte 15

    6.2. rgo pulpo-dentinrio 16

    6.3. Cimento 16

    6.4. Periodonto 17

    6.5. Glndulas salivares 17

    6.6. Lbios, Lngua e Mucosas 18

    7. Patologia oral no idoso 19

    7.1. Mortalidade dentria 19

    7.1.1. O edentulismo e o uso de prtese 20

    7.2. Crie dentria 22

    7.2.1. Cries radiculares 23

    7.3. Doena periodontal 25

    7.4. Leses da mucosa oral e cancro oral 26

    7.5. Xerostomia 28

    8. Reviso de estudos relacionados 29

    9. Avaliao das necessidades de tratamento e utilizao dos servios

    de sade dentrios em idosos 34

  • XVI

    9.1. Determinantes da utilizao dos servios de sade mdico-dentrios 37

    10. Qualidade de vida relacionada com a sade oral 40

    11. Objectivos 42

    II MATERIAL E MTODOS 43

    1. Caractersticas gerais do estudo 45

    2. Amostragem 45

    2.1. Tamanho da amostra e mtodo de amostragem 45

    3. Equipa de exame 47

    4. Calibragem 48

    5. Condies de Inspeco Clnica 48

    6. Instrumentos e material utilizado 49

    7. Recolha de dados 49

    7.1 Variveis relacionadas com condies demogrficas 50

    7.2 Variveis relacionadas com auto-percepo e auto-avaliao

    da sade oral 50

    7.3 Variveis relacionadas com os cuidados de sade oral 50

    7.4 Critrios de diagnstico 51

    7.4.1. Crie dentria 51

    7.4.2. Critrios de avaliao das necessidades de tratamento

    dentrio 53

    7.4.3. Avaliao periodontal 55

    7.4.3.1 Avaliao das necessidades de tratamento periodontal 56

    7.4.4. Presena ou ausncia de prtese na cavidade oral 57

    7.4.5. Necessidade de prtese dentria 57

    7.4.6. Avaliao das leses da mucosa oral 57

    7.5 Processamento de dados e anlise estatstica 59

    III RESULTADOS 61

    1. Caractersticas scio-demogrficas da amostra 63

    2. Anlise das variveis relacionadas com os cuidados de sade oral 64

    3. Anlise das variveis relacionadas com a auto-percepo

    e auto-avaliao da sade oral 65

    4. Dados recolhidos pelo exame clnico 70

    4.1 Edentulismo e uso de prtese 70

  • XVII

    4.2 Necessidades de reabilitao prottica 74

    4.3 Crie dentria 79

    4.3.1 Associao entre o CPO e a autoavaliao da sade oral 82

    4.3.2 Associao entre o CPO e a necessidade de ir ao Dentista 83

    4.3.3 Necessidade de tratamento dentrio 84

    4.4 Estado periodontal 86

    4.4.1 Associao entre a situao periodontal e a autoavaliao da

    sade oral 91

    4.4.2 Associao entre a situao periodontal e

    a necessidade de ir ao Dentista 92

    4.4.3 Necessidade de tratamento periodontal 93

    4.5 Leses da mucosa oral 94

    IV DISCUSSO 99

    1. Populao pesquisada 101

    2. Caractersticas scio-demogrficas da amostra 102

    2.1 Sexo e idade 102

    2.2 Nvel scio-econmico 103

    3. Avaliao dos cuidados de sade oral, visitas ao mdico dentista 104

    4. Autoavaliao e auto-percepo de sade oral 106

    5. Anlise dos indicadores clnicos 108

    5.1 ndice CPO 108

    5.2 Necessidade de tratamento dentrio 110

    5.3 ndice CPI 111

    5.4 Necessidade de tratamento Periodontal 113

    5.5 Edentulismo e uso de prtese 115

    5.6 Necessidades protticas 119

    5.7 Leses da mucosa oral 121

    5.8 Diferenas geogrficas entre as populaes dos dois distritos 124

    V CONCLUSO 129

    VI RESUMO 133

    VII RESUMEN 137

    VIII ABSTRACT 141

    IX BIBLIOGRAFIA 145

    X - ANEXOS 169

  • XVIII

  • Introduo

    1

    I INTRODUO

    ___________________________________________________________________

  • Introduo

    2

  • Introduo

    3

    I INTRODUO

    1 Dados demogrficos

    A intensidade do envelhecimento, os aspectos que envolve, assim como os novos

    desafios e oportunidades que se deparam a uma sociedade constituda por

    pessoas com idade cada vez mais avanada, tornam este tema sempre actual

    exigindo uma anlise multidimensional.

    O sculo XX foi caracterizado por uma verdadeira revoluo politica e social

    acompanhada de enormes progressos cientficos que vieram alterar a nossa

    percepo do homem e do mundo.

    Estes progressos cientficos fizeram-se sentir em diversas reas, proporcionando

    uma melhoria das condies de vida da populao, dando mais anos vida e em

    melhores condies. Os programas de vacinao, a pasteurizao de alguns

    alimentos, consumo de gua potvel, o uso de antibiticos, e o controlo da

    natalidade foram algumas das medidas que revolucionaram a sade. Estas e

    outras medidas proporcionaram a nvel global, no s um aumento da esperana

    de vida nascena, e diminuio da taxa de mortalidade infantil mas tambm uma

    diminuio da taxa de natalidade, sobretudo nos pases desenvolvidos,

    modificando assim, os dados demogrficos e as principais causas de morte e

    morbilidade da populao (1).

    O envelhecimento demogrfico define-se pelo aumento da proporo das pessoas

    idosas na populao total. Esse aumento consegue-se em detrimento da populao

    jovem, e/ou em detrimento da populao em idade activa (1).

    O fenmeno do envelhecimento resulta da transio demogrfica, normalmente

    definida de um modelo demogrfico de fecundidade e mortalidade elevados para

    um modelo em que ambos os fenmenos atingem nveis baixos, originando o

    estreitamento da base da pirmide de idades, com reduo de efectivos

    populacionais jovens e o alargamento do topo, com acrscimo de efectivos

    populacionais idosos (2).

  • Introduo

    4

    Qualquer limite cronolgico para definir as pessoas idosas sempre arbitrrio e

    dificilmente traduz a dimenso biolgica, fsica e psicolgica da evoluo do ser

    humano. A autonomia e o estado de sade devem ser factores a ter em conta, pois

    afectam os indivduos com a mesma idade de maneira diferente. Contudo, a

    demarcao necessria para a descrio comparativa e internacional do

    envelhecimento.

    Igualmente no consensual a designao a atribuir s pessoas idosas.

    Considera-se habitualmente pessoas idosas os homens e mulheres com idade

    igual ou superior a 65 anos, idade que em Portugal est associada idade de

    reforma. Quanto s designaes, so utilizadas indiferentemente, pessoas idosas

    ou populao snior, dado no existir nenhuma norma especfica a nvel nacional.

    Dados do Instituto Nacional de Estatstica (INE) indicam que entre 1960 e 2000 a

    proporo de jovens (0-14 anos) diminuiu de cerca de 37% para 30%. Segundo

    uma projeco das Naes Unidas, a proporo de jovens na populao mundial

    continuar a diminuir, para atingir em mdia 21% do total da populao em 2050

    (1).

    Ao contrrio, a proporo da populao mundial com mais de 65 anos registou uma

    tendncia crescente, aumentando de 5,3% para 6,9% do total da populao, entre

    1960 e 2000, e aumentar para 15,6% em 2050, segundo as mesmas hipteses de

    projeco. Sendo de referir que o ritmo de crescimento da populao idosa

    quatro vezes superior ao da populao jovem (1).

    At 2025 esperado um crescimento de 300 % da populao idosa em muitos

    pases especialmente na Amrica Latina e na sia.

    Globalmente, a taxa de crescimento anual das crianas com menos de 5 anos ser

    de apenas 0,25%, enquanto que a taxa de crescimento anual da populao com

    mais de 65 anos ser de 2,6% (3).

    Em Portugal entre 1960 e 2001 o fenmeno do envelhecimento demogrfico

    traduziu-se por um decrscimo de cerca de 36% na populao jovem e um

    incremento de 140% da populao idosa. Segundo os dados da World Population

    Ageing 2009 Relatrio anual da Organizao das Naes Unidas (ONU) sobre

    populao, somos o oitavo pas mais velho do mundo. A populao portuguesa tem

    uma mdia de 40,6 anos (1).

  • Introduo

    5

    A proporo da populao idosa, que representava 8,0% do total da populao em

    1960, mais que duplicou, passando para 16,4% em 2001, data do ltimo

    recenseamento da populao. Em valores absolutos a populao idosa aumentou

    quase um bilio de indivduos, 708 570, em 1960, para 1.702.120, em 2001, dos

    quais 715.073 so homens e 987.047 mulheres.

    Assiste-se tambm a um envelhecimento da prpria populao idosa. Assim, na

    ltima dcada, a proporo de indivduos com 60 e mais anos aumentou de 19,2%

    em 1991 para 21,8% em 2001, enquanto que o grupo dos 80 e mais anos

    aumentou de 2,6% da populao total para 3,5% no mesmo perodo.

    As diferenas entre os sexos so bem evidentes sendo o envelhecimento mais

    notrio nas mulheres, em consequncia do fenmeno da sobremortalidade

    masculina (1).

    Este fenmeno social um dos desafios mais importantes do sculo XXI obrigando

    reflexo sobre questes com relevncia crescente como a idade da reforma, os

    meios de subsistncia, a qualidade de vida dos idosos, o estatuto dos idosos na

    sociedade, a solidariedade intergeracional, a sustentabilidade dos sistemas de

    segurana social e de sade e sobre o prprio modelo social vigente.

    2 Aspectos scio-econmicos

    Provavelmente as doenas tm a sua origem numa cadeia complexa de eventos

    ambientais e comportamentais moldados por muitos determinantes scio-

    econmicos. Nos futuros programas de Sade Publica, a avaliao dos factores de

    risco sistmicos devem ser instrumentos no planeamento e vigilncia da promoo

    de sade oral e dos programas de interveno de doenas orais (4).

    Os idosos so um dos grupos populacionais mais vulnerveis pobreza e

    excluso social, quer por serem um grupo socialmente marginalizado, quer por, na

    sua maioria, usufrurem de rendimentos que se situam abaixo do limiar de pobreza.

    A populao idosa acumula, baixos nveis de instruo, baixos rendimentos,

    isolamento fsico e social, baixa participao social e cvica, a que se juntam

    condies de sade, de habitao e conforto desfavorveis.

  • Introduo

    6

    Tal como nos outros pases desenvolvidos, em Portugal, os idosos so foco de

    grandes atenes poltico-sociais e dos mdia. Apesar de os resultados do

    Inqurito ao Emprego de 2001 revelarem que a maioria da populao idosa

    inactiva (81%) cada vez existem mais incentivos a Actividade de Lazer para a

    populao idosa, Universidade Snior, Turismo Snior, bem como campanhas de

    preveno de doenas cardiovasculares, do cancro, da osteoporose, etc., o que

    no mais que o reflexo Politico, Econmico e Social que este estrato populacional

    vem adquirindo na nossa sociedade (1).

    De um modo geral as pessoas idosas estereotipam-se, bem como aos da sua

    idade, de uma maneira negativa. Vem a doena como uma consequncia

    inevitvel da idade. O idoso aceita ser menos saudvel e activo sem procurar ajuda

    mdica. Sendo que, quanto mais pobre e disfuncional a condio e quanto menor o

    grau de educao independentemente da idade, maior a incidncia de doenas

    crnicas e agudas. Aproximadamente 80% dos idosos sofrem de pelo menos uma

    doena crnica (5).

    Relativamente incidncia de determinadas doenas crnicas, o Inqurito Nacional

    de Sade de 1998/1999 (Continente) permite observar que a hipertenso e as

    lombalgias so as mais frequentes entre a populao idosa inquirida. Estas

    doenas juntamente com a diabetes registam uma maior prevalncia nas mulheres.

    Por outro lado, alguns indicadores da Organizao Mundial da Sade (OMS)

    alertam para o facto de a depresso constituir a doena mais frequente entre as

    mulheres com propores bastante significativas em idades avanadas. O rcio

    mdio de 1,5 mulheres por cada homem, embora em determinados pases esta

    proporo seja de 3:1 (1).

    O isolamento fsico e psicolgico a que grande parte dos idosos esto votados,

    juntamente com acontecimentos fulcrais que afectam o modo de vida, tais como, a

    sada do mercado de trabalho sem ter sido planeada uma actividade alternativa, a

    discriminao de que frequentemente so alvo no final da vida activa, a perda de

    relaes sociais concentradas ao ambiente do emprego, podem proporcionar

    sentimentos de solido, baixa auto-estima, dificuldades em enfrentar a situao e

    encontrar formas alternativas de ultrapassar positivamente o problema.

  • Introduo

    7

    Estudos longitudinais nos Estados Unidos da Amrica (EUA) sugerem que

    pessoas com mais de 65 anos tm 40% de probabilidade de passar algum tempo

    numa instituio antes de morrer. Daqueles que entram nas instituies, 55% ficam

    pelo menos um ano e 20% ficam 5 anos (5).

    Quanto mais velho o indivduo, maior o risco de ser institucionalizado. Tendo

    em conta o aumento da populao de mais de 85 anos, parece inevitvel, no futuro,

    o aumento da populao institucionalizada.

    Este grupo de pacientes institucionalizados, tende a ser, frgil, funcionalmente

    dependente, sem qualquer interesse pela sua sade oral, com declnio cognitivo,

    falta de motivao, limitao fsica e pelo menos uma doena crnica. Tudo isto

    contribui para uma diminuio da capacidade dos cuidados pessoais e aumento do

    risco de doenas orais, constituindo este grupo de indivduos o maior desafio em

    Gerontologia.

    O impacto negativo das fracas condies orais na qualidade de vida dos idosos

    um importante problema de sade pblica que deve ser tratado a vrios nveis e

    valorizado pelo poder poltico.

    Globalmente esta fraca sade oral tem sido particularmente evidente atravs de

    elevados nveis de perdas dentrias, cries, taxas elevadas de doena periodontal,

    xerostomia e cancro oral (6).

    Por este motivo, os pases devem adoptar estratgias para melhorar a sade oral

    dos idosos, e segundo recomendao da OMS as autoridades nacionais para a

    sade devem desenvolver politicas, definindo metas e objectivos mensurveis para

    a sade oral em que os programas nacionais de sade pblica devero incorporar

    a promoo da Sade Oral e a preveno de doenas baseadas nos factores

    comuns de risco (6).

  • Introduo

    8

    3 Consideraes sobre o envelhecimento humano

    O declnio das aptides fsicas com a maturidade inevitvel e faz parte integrante

    da natureza de todas as formas de vida. Os processos metablicos dos tecidos

    alteram-se ao longo do tempo no se compreendendo ainda na totalidade a

    natureza destas modificaes (7).

    O envelhecimento biolgico define-se como a alterao progressiva das

    capacidades de adaptao do organismo ao meio ambiente verificando-se,

    consequentemente, um aumento gradual das probabilidades de morrer devido a

    determinadas doenas.

    Burger, citado por Kunzel (8), define o envelhecimento como toda a modificao

    irreversvel num ser vivo, que seja funo do tempo.

    Se para uns o envelhecimento visto como um processo biolgico, para outros

    trata-se de um processo patolgico ou ainda de um processo scio-econmico ou

    psicossocial. Assim, pode dizer-se que ainda no existe um consenso na forma de

    definir o envelhecimento (9).

    Existe grande variao em termos de consequncias cronolgicas ou psicolgicas

    do envelhecimento entre os indivduos dependendo do nvel econmico, estado de

    sade, nvel cultural e expectativas, o que dificulta uma definio nica (10).

    Embora o idoso seja definido pela idade cronolgica, atendendo s grandes

    variaes no estado fsico, mental e scio-econmico neste grupo de indivduos

    mais adequada a utilizao de critrios funcionais (11).

    A Fdration Dentaire Internationale (FDI) considera como pessoas idosas

    aquelas com mais de sessenta anos classificando-as em trs grupos, de acordo

    com o grau de dependncia: independentes, parcialmente dependentes e

    totalmente dependentes (12) (13).

    O envelhecimento um processo contnuo no se iniciando em nenhuma idade ou

    momento particular, por isso, estabelecer uma idade para considerar algum como

  • Introduo

    9

    idoso um limite arbitrrio, tornando-se no entanto essencial para a realizao de

    trabalhos cientficos quando a definio de conceitos fundamental (14).

    4 Principais alteraes orgnicas no idoso

    4.1 Sistema cardiovascular

    Devido elevada prevalncia de patologia coronria e cardiopatia hipertensiva

    nesta populao, torna-se difcil diferenciar as alteraes do sistema cardiovascular

    relacionadas com a idade, daquelas que esto associadas doena. No entanto,

    uma das modificaes mais frequentes o aumento do dimetro das grandes

    artrias e espessura das suas paredes, associado a um aumento da presso

    arterial sistmica com o avano da idade (15). Tambm se verifica um aumento da

    hipertenso sistlica no idoso, enquanto que a presso diastlica se estabiliza ou

    diminui, tornando-se um dos factores de risco de acidente vascular e falncia

    cardaca (16).

    Depois dos 60 anos, a calcificao da vlvula mitral comum aumentando o risco

    de endocardite infecciosa, mesmo no havendo antecedentes de cardiopatia (7).

    Sendo comum o paciente idoso sofrer de algum tipo de doena vascular,

    hipertenso, doena coronria, arritmias, doenas vasculares perifricas, e

    doenas vasculares cerebrais, ser de ter em conta a posio da cadeira, a

    durao e hora da marcao da consulta, uso de anestsico com vasoconstritor, o

    estado da coagulao e interaco medicamentosa aquando das consultas

    dentrias.

    No entanto, a variabilidade da presso sangunea e a prevalncia da hipertenso

    associada ao tratamento dentrio nas pessoas idosas tem uma importncia clnica

    controversa (17).

  • Introduo

    10

    4.2 Sistema respiratrio

    A reserva pulmonar diminui com a idade diminuindo o volume expiratrio e a

    capacidade vital forada (18). A tosse menos vigorosa, as defesas mucociliares

    tm um papel diminudo e menos eficaz, aumentando o risco de infeco pulmonar,

    (19), facto que o clnico da rea da medicina dentria deve avaliar devido

    implicao directa que este sistema apresenta nos procedimentos da cavidade oral.

    4.3 Sistema gastrointestinal

    A mastigao o resultado da aco sinergtica de diferentes elementos da regio

    orofacial que so os msculos mastigatrios, a lngua, os dentes, o periodonto, a

    saliva, as mucosas orais e uma coordenao neuro-muscular (20).

    A conjugao entre a diminuio de velocidade e amplitude dos movimentos

    mandibulares conduz a uma alterao da durao dos ciclos mastigatrios nos

    indivduos idosos, (21) levando a uma perda significativa da eficcia mastigatria.

    Por outro lado, parece haver tambm uma forte correlao entre a perda de

    destreza lingual e a diminuio da eficcia mastigatria, pelo facto da importncia

    da mesma no controlo da passagem dos alimentos dum sector ao outro das

    arcadas dentrias e na formao do bolo alimentar (22).

    Alguns estudos tm demonstrado que a deglutio nas pessoas idosas mais

    lenta, (23) (24) sendo isto o reflexo da deteriorao do sistema nervoso central e da

    adaptao estratgica necessria ao desenvolvimento de presso necessria

    ejeco do bolo alimentar (25).

    A diminuio do tnus muscular pode tambm atrasar a passagem do bolo

    alimentar atravs do trato digestivo superior at ao estmago (19).

    Uma diminuio da capacidade mastigatria dever ser avaliada pois pode

    complicar as alteraes associadas idade, relacionadas com qualquer fase da

    deglutio (26).

  • Introduo

    11

    A disfagia outro factor a ter em conta na abordagem destes pacientes, sendo

    muito frequente nomeadamente nas situaes de osteoartrite avanada, doena de

    Parkinson, demncia, acidente vascular e tumores (27) (28).

    O conhecimento destas modificaes fisiolgicas do aparelho mastigatrio

    extremamente importante para o Mdico Dentista, j que devero ser tidas em

    conta no estabelecimento duma reabilitao prottica (29).

    4.4 Sistema msculo-esqueltico

    Em geral, os msculos do esqueleto conservam a sua integridade morfolgica

    praticamente durante toda a vida observando-se modificaes histolgicas apenas

    em idades avanadas (7).

    Sendo difcil de separar completamente as modificaes normais do

    envelhecimento com a atrofia provocada pelo desuso, existem no entanto

    alteraes que aparecem com a idade devido a uma diminuio do contedo de

    gua nos tendes e ligamentos levando a um aumento da rigidez. A taxa de

    modificao do colagneo corporal est diminuda e, como tal, o processo de

    remodelao de tendes e ligamentos (19).

    Com a idade existem perdas sseas que podem ter vrios factores etiolgicos, tais

    como, inactividade, deficincia de estrogneos, deficincias nutricionais e

    modificaes relacionadas com a prpria idade. Nas situaes de osteoporose

    avanada, os idosos podem apresentar dor por tenso mecnica ou fracturas

    vertebrais por compresso, sendo factores a ter em conta na consulta

    odontogeritrica aquando do posicionamento dos pacientes para o tratamento (19).

    4.5 Sistema neurolgico

    Como noutros sistemas torna-se difcil distinguir as leses orgnicas do

    envelhecimento natural. Observa-se no entanto uma diminuio da densidade das

  • Introduo

    12

    grandes fibras nervosas e uma irregularidade crescente das distncias internodais,

    que sero a causa do abrandamento da conduo nervosa nas pessoas idosas (7).

    As alteraes ocorridas com a idade no sistema nervoso central so por outro lado

    muito difceis de diferenciar de leses de doenas ou de anomalias vasculares (7).

    No entanto, o fluxo sanguneo do crebro diminui com o envelhecimento,

    considerando-se tambm que existe uma perda de neurnios, o que pode afectar

    determinadas reas do mesmo (30).

    Verifica-se tambm que a densidade de conexes dendtricas diminui assim como

    numerosos neurotransmissores. Assim, a funo cognitiva nos idosos pode estar

    influenciada pela elevada prevalncia de doenas demenciais. No entanto, apesar

    destas modificaes, quando no existe demncia a funo cognitiva pode estar

    bem conservada na maioria dos idosos (31).

    Deste modo, na abordagem destes pacientes implica que o clnico tenha em

    ateno estes factos, proporcionando instrues por escrito aos mesmos e

    colocando questes para assegurar a compreenso e memria da informao

    transmitida (19).

    4.6 Fgado

    Com a idade existe uma diminuio do tamanho do fgado e do fluxo sanguneo,

    diminuindo tambm a sua capacidade metablica.

    De qualquer modo, as modificaes neste rgo parecem estar mais associadas a

    factores como o tabaco, lcool, cafena, medicamentos e determinadas doenas,

    do que propriamente idade (19). Existem no entanto frmacos que no idoso se

    devem usar com precauo, para evitar risco de efeitos secundrios, devido ao seu

    metabolismo heptico (32).

  • Introduo

    13

    4.7 Rim

    Existem mudanas estruturais e funcionais que ocorrem no rim com a idade. Estas

    mudanas tm um impacto sobre a gesto do paciente, especialmente em relao

    terapia medicamentosa (33).

    A doena renal crnica um problema importante nos idosos e est associada a

    um risco elevado de insuficincia renal, doena cardiovascular e morte (34). Estes

    pacientes apresentam uma reserva de gua menor do que as pessoas jovens em

    que, a diminuio da concentrao da urina e a diminuio na conservao renal

    do sdio podem levar estes pacientes facilmente situao de desidratao (35).

    Existem determinados frmacos que devem ser prescritos com precauo a este

    grupo de pacientes como o caso dos anti-inflamatrios no esterides, que na

    rea da Medicina Dentria so utilizados em inmeras situaes, e em que a

    inibio das prostanglandinas renais induzidas por estes frmacos pode produzir

    efeitos secundrios no paciente que apresente insuficincia renal, tais como:

    edema, hiponatremia e agravamento da hipertenso (36) (37).

    5 O envelhecimento e a sade oral

    O envelhecimento do organismo humano tem uma expresso concreta no

    envelhecimento dos seus sistemas, rgos, tecidos e clulas (40).

    Na maioria dos rgos e tecidos estudados tm-se encontrado alteraes

    relacionadas com a idade, alteraes estas bem documentadas na pele, e por este

    motivo, alteraes similares seriam de esperar nas mucosas e tecidos conjuntivos

    orais (38).

    Dados epidemiolgicos apontam para uma deteriorao progressiva das condies

    dos tecidos orais com o envelhecimento, porm, as alteraes clnicas no aspecto

    das mucosas nem sempre so claramente detectadas. Assim, alguns estudos

    apontam para que a idade e o envelhecimento s por si no supem alteraes no

    estado das mucosas existindo uma notvel resistncia da cavidade oral no

    processo de envelhecimento (39).

  • Introduo

    14

    Tradicionalmente identificava-se sade oral com dentes livres de cries e doena

    periodontal. No entanto, tem sido demonstrado que alm do elevado nvel de

    perdas dentrias e doena periodontal os idosos apresentam cries, abraso,

    xerostomia cancro oral e leses da mucosa oral (6).

    No passado, a mortalidade dentria era considerada inevitvel fazendo parte do

    processo normal do envelhecimento. Na actualidade temos conhecimento que a

    fisiologia oral se mantm relativamente estvel em indivduos saudveis, podendo

    no entanto sofrer deteriorao na presena de determinadas doenas (40).

    Por outro lado, este grupo de pacientes tende a estar mais bem informado, sendo

    no entanto um grupo heterogneo, devido s diferentes experincias de vida

    acumuladas por cada indivduo. Encontramos idosos que variam muito quanto ao

    nvel econmico, estado de sade, nvel cultural e manuteno da sade oral.

    Estas diferenas devem ser levadas em considerao pois podem afectar a

    aceitao, o recebimento e o sucesso do tratamento.

    Para a identificao de um idoso bem sucedido, um dos principais critrios a

    manuteno, por toda a vida da sua dentio natural, saudvel e funcional,

    incluindo todos os factos sociais e benefcios biolgicos tais como a esttica, o

    conforto, capacidade para mastigar, sentir sabor e falar (41) (42).

    As perspectivas de melhoria global de sade oral no sero muito favorveis, caso

    as politicas actuais de sade continuem a ignorar a sade oral. Ser necessrio

    que a Medicina Dentria organizada dedique o tempo e esforos necessrios para

    impulsionar suficientemente a vontade politica dos governos para atender as

    necessidades de sade oral dos idosos.

  • Introduo

    15

    6 Alteraes fisiolgicas da cavidade oral relacionadas com o

    envelhecimento

    O envelhecimento produz alteraes progressivas e irreversveis na morfologia e

    funo de certos rgos. As estruturas orais sofrem um processo involutivo que

    no ocorre em simultneo, o que dificulta a percepo de uma relao causa efeito.

    O clnico da rea da Medicina Dentria ter um papel primordial na deteco

    destas modificaes fisiolgicas integrando estas variaes no estabelecimento da

    sua teraputica.

    6.1 Esmalte

    O esmalte dentrio um tecido acelular em que previamente ao incio da erupo

    j atingiu a sua concentrao final de 95% de minerais e 5 % de gua e matriz

    orgnica, baseado no seu peso. Os valores baseados no seu volume so 86% de

    minerais, 2% de material orgnico e 12% de gua (43).

    A maturao ps-eruptiva do esmalte, traduz-se pelo seu enriquecimento em

    diferentes ies, designadamente de flor e de clcio e por calcificao progressiva

    acentuada da trama orgnica interprismtica, que condiciona uma maior resistncia

    dissoluo pelos cidos (43).

    A perda de substncia dentria por atrio uma caracterstica normal do

    envelhecimento sobretudo quando o nmero de dentes j reduzido implicando

    uma sobrecarga nos remanescentes. Nas regies cervicais as leses por abraso

    devido a escovagem tambm so importantes (7).

    Com a idade, o esmalte torna-se menos permevel podendo haver acumulo de

    pigmentao. Existe tambm uma tendncia para o aparecimento de fendas

    longitudinais na coroa dos dentes, que so atribudas perda de gua e tambm a

    uma sobrecarga mastigatria (7). Em contrapartida, existe um aumento do seu

    contedo mineral e do tamanho dos cristais de superfcie, o que participa numa

    melhor defesa contra os cidos cariognicos (29).

  • Introduo

    16

    6.2 rgo pulpo-dentinrio

    A dentina composta por uma matriz orgnica (50%) e por tecido mineralizado

    (70%) em relao ao seu peso, no entanto, em relao ao seu volume a dentina

    50% mineral e 50% matriz orgnica. Tal como no esmalte o mineral a

    hidroxiapatite, sendo no entanto cristais de muito menor dimenso enquanto que a

    matriz orgnica composta por colagneo (43).

    Os canalculos dentinrios apresentam um tamanho reduzido devido deposio

    de dentina peritubular, dando-se uma hipercalcificao o que leva tal como a

    hipermineralizao do esmalte a uma resistncia aos agentes cariognicos,

    permitindo tambm a realizao de tratamentos conservadores (29). Por outro lado,

    esta dentina hipermineralizada torna-se mecanicamente mais frgil aumentando o

    risco de fracturas dentrias nomeadamente no decurso de exodontias (7).

    No decorrer do envelhecimento, a densidade celular intrapulpar diminui devido a

    fibrose, traduzindo-se num aumento dos feixes de colagneo e diminuio de

    odontoblastos (29).

    Devido deposio de dentina secundria existe uma retraco pulpar quer a nvel

    dos canais quer da cmara levando a dificuldades no tratamento endodntico nas

    pessoas idosas. Histologicamente, o contedo fibroso da polpa aumenta

    diminuindo o nmero de clulas dos tecidos nervosos e vasculares, tornando o

    dente menos sensvel aos estmulos e aos testes de vitalidade (7).

    Estas modificaes levam a que muitas cries, nomeadamente as radiculares,

    sejam assintomticas neste grupo de indivduos.

    6.3 Cimento

    A aposio do cimento um processo igualmente contnuo ao longo da vida,

    principalmente nas zonas apicais e linguais dos dentes (44).

  • Introduo

    17

    Este fenmeno reaccional participa na manuteno da dimenso vertical,

    compensando a abraso oclusal fisiolgica (7).

    Comparativamente, o cimento cervical no renovvel, apresentando uma camada

    acelular extremamente fina o que explica a sua rpida degradao quando exposto

    aos factores cariognicos (45).

    6.4 Periodonto

    A espessura do ligamento periodontal diminui cerca de 25% na ausncia de

    patologia, podendo ser explicada esta reduo pela diminuio de funo,

    nomeadamente, menores foras mastigatrias relacionadas com o envelhecimento.

    Como todo o tecido conjuntivo, o ligamento periodontal sofre alteraes

    degenerativas como a hialinazao e calcificao de certas zonas (44).

    O osso alveolar tambm sofre alteraes fisiolgicas, traduzindo-se numa atrofia

    alveolar levando consequentemente a uma retraco gengival e exposio do

    cimento radicular. No entanto, apesar desta reduo na altura do osso alveolar s

    um nmero reduzido de indivduos desenvolve periodontite avanada (46).

    De qualquer modo, estas alteraes fisiolgicas podem ser agravadas por factores

    iatrognicos, trauma oclusal, doena periodontal e seu tratamento (47).

    Todas estas alteraes, levam exposio do cimento radicular, sendo esta

    condio imprescindvel para a ocorrncia de crie radicular, influenciando tambm

    o tratamento dentrio.

    6.5 Glndulas salivares

    As glndulas salivares com o envelhecimento sofrem alteraes fundamentalmente

    dinmicas e histomorfolgicas.

  • Introduo

    18

    No que se refere ao nvel histolgico existe uma acumulao de tecido linfide e

    tecido adiposo no parnquima glandular o que vai provocar uma diminuio no

    volume dos cinos (48).

    A secreo de electrlitos encontra-se modificada, existindo um aumento de ureia

    que vai diminuir a capacidade de tamponamento enzimtico e consequentemente

    uma diminuio do pH.

    Vrios estudos tm demonstrado que nos indivduos com mais de 65 anos em

    repouso existe uma diminuio da secreo salivar das glndulas sub

    mandibulares, sub linguais e das glndulas acessrias (49) (50) (51).

    A sntese proteica encontra-se fortemente reduzida, estando nomeadamente

    reduzida para dois teros a secreo de imunoglobulina A (Ig A) (51).

    Verifica-se tambm que as glndulas sub-mandibulares, sub linguais e acessrias

    reduzem a secreo de mucinas de elevado peso molecular (MG-1) em 75% e as

    de baixo peso molecular (MG-2) em 25% (52).

    Relativamente s glndulas partidas, como a secreo salivar principalmente

    provocada por estmulos mecnicos, parecem estar aptas a manterem um fluxo

    constante apesar do envelhecimento (53).

    Determinados medicamentos com efeitos anti-sialogogos so a causa mais

    frequente de diminuio do fluxo salivar, nomeadamente anti-histamnicos, anti-

    hipertensores e antidepressivos, tratamentos radioteraputicos, quimioteraputicos

    e imunosupressores bem como determinadas patologias (54).

    6.6 Lbios, lngua e mucosas

    A cavidade oral revestida por um epitlio escamoso estratificado cuja principal

    funo formar uma barreira entre o meio interno e o meio externo,

    proporcionando proteco contra a entrada de substncias nocivas e

    microrganismos, sendo tambm uma barreira para o intercmbio de fluidos e contra

    as agresses mecnicas (40).

  • Introduo

    19

    A mucosa da cavidade oral pode ser dividida histolgicamente em trs tipos: a

    mucosa do palato duro e gengivas, a mucosa do revestimento do vestbulo, palato

    mole, solo da boca e superfcie ventral da lngua e a mucosa especializada do

    dorso da lngua e dos lbios (40).

    Com a idade, a mucosa oral torna-se mais fina, lisa e seca apresentando um

    aspecto edematoso com perda de elasticidade (55) (56).

    Tem sido tambm descrita uma reduo na espessura da camada basal epitelial,

    reduo do nmero das clulas de Langerhans, bem como, diminuio da

    capacidade de sntese de colagneo pelos fibroblastos (57).

    Os lbios tendem a sofrer queratinizao diminuindo de espessura o que associado

    a uma perda da dimenso vertical no compensada pode levar ao aparecimento de

    queilite angular (7).

    A face dorsal da lngua tem tendncia para ficar mais lisa devido a atrofia das

    papilas, desenvolvendo por vezes fissuras profundas e extensas (7).

    7 - Patologia oral no idoso

    7.1 Mortalidade dentria

    A mortalidade dentria pode ser definida como o nmero mdio, por pessoa, de

    dentes permanentes extrados ou com extraco indicada (58).

    geralmente aceite que a crie dentria a principal razo de perda de dentes nos

    indivduos jovens enquanto que a doena periodontal se torna predominante aps a

    meia-idade (59). Contudo, estudos recentes indicam que mesmo em adultos a crie

    dentria a razo predominante de mortalidade dentria (60) (61).

    Entender as razes da perda dentria numa populao importante para o

    planeamento dos servios de sade oral existentes, j que se trata de um indicador

    importante quer das doenas dentrias de uma populao, quer ainda da

  • Introduo

    20

    quantidade e qualidade dos cuidados de sade desta especialidade,

    disponibilizados a essa populao.

    A distribuio das razes de extraco dentria pode depender dos critrios de

    diagnstico, dos planos de tratamento efectuados pelos profissionais de sade oral,

    vontade do paciente e motivos financeiros (59) (61), ou seja, resulta de uma

    combinao complexa de atitudes tanto dos mdicos como dos pacientes (62),

    sendo portanto factores condicionantes o nvel educacional, o baixo rendimento

    implicando a no acessibilidade aos tratamentos e tambm factores sistmicos,

    (39).

    Com a idade aumenta a prevalncia de edentulismo sendo geralmente mais

    elevada na mulher do que no homem. Outra caracterstica comum a vrios estudos

    a maior prevalncia de desdentados totais em populaes institucionalizadas do

    que em idosos independentes (9) (63) (64).

    Um estudo efectuado na China para avaliar o impacto da doena oral entre idosos

    institucionalizados e no institucionalizados concluiu que a sade oral medida pelo

    exame clnico foi diferente entre os dois grupos observados, 268 institucionalizados

    e 318 no institucionalizados.

    O edentulismo para o grupo de institucionalizados foi de 19% enquanto que para os

    no institucionalizados foi de 10%.

    No grupo dos idosos institucionalizados verificou-se um menor nmero de dentes

    obturados e maior nmero de dentes cariados e perdidos do que nos idosos no

    institucionalizados.

    O valor mdio do CPO para os idosos institucionalizados foi de 21,35 e para os no

    institucionalizados foi de 17,67, em que a componente dos dentes perdidos teve

    grande peso no valor do ndice (65).

    7.1.1 O edentulismo e o uso de prtese

    Quando a mortalidade dentria elevada, tornam-se mais evidentes as

    modificaes faciais nos idosos devido a reabsoro ssea e atrofia muscular,

    levando geralmente a um padro de mastigao alterado tornando-se esta

  • Introduo

    21

    impossvel quando a perda dentria total e as prteses completas no esto

    equilibradas e ajustadas. Estes problemas levam a alteraes importantes nos

    hbitos alimentares produzindo ou agravando problemas nutricionais nos idosos

    (66).

    No mundo ocidental, mais de metade da populao idosa usa prtese removvel

    verificando-se uma tendncia para o tratamento provisrio, parecendo este facto

    estar relacionado com questes financeiras (67).

    Apesar de muitos idosos estarem muito familiarizados com as prteses, muitas das

    que usam falham nos requisitos mnimos. Alguns destes indivduos mostram-se

    mesmo satisfeitos com as suas prteses apesar de vrias deficincias detectadas

    quando observadas pelo mdico dentista (68). Estes defeitos so o motivo pelo

    qual a maioria dos portadores de prtese frequentemente recorrem ao uso de

    adesivos que podem ter consequncias nefastas para os dentes, uma vez que

    estes promovem uma diminuio do pH da cavidade oral no sendo por isso

    aconselhveis em pacientes com dentes remanescentes passveis de sofrerem

    desmineralizao. Alm disso, existe tambm a possibilidade destes serem

    deglutidos e provocarem nuseas, vmitos, dores epigstricas e reaces

    alrgicas, sendo necessrias ainda medidas acrescidas de higiene (69). Alguns

    estudos tm estabelecido uma relao positiva entre o uso de prtese parcial

    removvel, o aumento de cries radiculares e a deteriorao da sade periodontal

    (67).

    Num estudo da populao Portuguesa institucionalizada realizado por Fernandes

    em 1995, 30,13% dos indivduos eram desdentados totais em que 17,27% dos

    edntulos no estavam reabilitados com prtese (70).

    Num outro estudo realizado por Magalhes em 2000 numa populao com as

    mesmas caractersticas, encontrou 38,4% de edntulos em ambos os maxilares

    (71).

    Numa populao institucionalizada do concelho do Porto em 2005, Braz encontrou

    32,4% de desdentados totais (72).

  • Introduo

    22

    Rodriguez Baciero em 1998 num estudo da populao espanhola institucionalizada

    encontrou uma taxa de edentulismo superior a 50% (73).

    A perda dos dentes no deve ser considerada como um evento natural, mas sim, o

    resultado de doenas, traumas e composio gentica. Quando bem tratados, os

    dentes naturais podem permanecer funcionais para toda a vida, devendo

    desaparecer o mito de que o edentulismo uma consequncia natural do

    envelhecimento.

    7.2 Crie Dentria

    A crie dentria pode ser definida como um infeco bacteriana influenciada pela

    combinao da virulncia das bactrias acidognicas da boca, o potencial

    acidognico do padro dos alimentos ingeridos, a capacidade do indivduo de

    manter uma correcta higiene e a resistncia inerente dos dentes

    desmineralizao (74).

    A sade oral, nomeadamente o tratamento e preveno da crie dentria tem sido

    relegada, quando se discutem as condies de sade da populao idosa. A perda

    total de dentes, ainda aceite pela sociedade como algo normal e natural com o

    avano da idade e no como um reflexo de falta de politicas preventivas de sade,

    destinadas principalmente populao adulta para que mantenha a sua dentio

    at idades mais avanadas.

    Numa importante reviso internacional, Ettinger afirmou que a crie pode ser

    considerada o principal problema de sade oral das pessoas com mais de 60 anos

    (75).

    Segundo Reich, o acentuado declnio da crie em crianas e adolescentes no tem

    sido observado em adultos e idosos europeus. A percentagem de idosos edntulos

    vem sofrendo uma considervel reduo, porm, os dentes remanescentes

    acabam por aumentar o risco do desenvolvimento de novas leses de crie,

    principalmente na superfcie radicular (76).

  • Introduo

    23

    Nos estudos epidemiolgicos efectuados em Portugal por Magalhes e Braz que

    avaliaram a crie coronria em idosos institucionalizados foram encontrados

    elevados ndices de crie dentria tendo sido encontrado um ndice CPO de 26,01

    (C=2,86; P=22,67; O=0,48) em 2000 e um ndice CPO de 22,9 (C=2,8; P=19,8;

    O=0,3) em 2005 respectivamente (71) (72).

    Estudos longitudinais realizados em idosos suecos concluram que os indivduos

    com 60 e mais anos de idade desenvolvem leses de crie sendo que os nveis

    salivares de Lactobacillus spp. e Streptococcus mutans, o nmero de dentes,

    determinadas medicaes e higiene oral foram os melhores preditores de

    incidncia de crie (77) (78).

    7.2.1 Cries radiculares

    As leses de cries radiculares podem apresentar-se, clinicamente, com aspectos

    morfolgicos distintos e com um envolvimento maior ou menor da estrutura

    dentria, pelo que a unanimidade quanto ao seu diagnstico pode tornar-se

    particularmente difcil, sendo as variaes entre os examinadores uma das causas

    de subjectividade que eventualmente tornam os resultados epidemiolgicos no

    comparveis.

    Segundo Hix & O`Leary, citado por Silva, as cries radiculares so definidas como

    aquelas que, localizando-se nas superfcies radiculares se apresentam como

    leses amolecidas, com ou sem formao de cavidade, em geral bem delimitadas,

    de fcil penetrao por sonda, com alteraes da colorao, e envolvendo o

    esmalte justaposto raiz dentria ou a restauraes (45).

    Os factores etiolgicos deste tipo de leses so os mesmos que os observados

    para as cries coronrias, no entanto, as cries radiculares s aparecem devido

    exposio das superfcies radiculares ao meio bucal, sendo precedidas de uma

    recesso gengival ou perda de aderncia. Apesar deste factor no ser suficiente

    para que se desenvolva crie radicular, existe uma correlao positiva entre a

    recesso gengival e o aparecimento deste tipo de crie (79).

  • Introduo

    24

    Vrios estudos apontam para um aumento destas leses de crie com a idade (80)

    (45) (78). Alguns estudos tm demonstrado tambm uma correlao positiva entre

    as cries coronrias e radiculares (81).

    So associados a estas leses de crie os Streptococcus mutans e Lactobacillus

    spp (82). Nas leses avanadas, a formao de cavidades favorece o

    aparecimento de uma sucesso de espcies bacterianas (83), levando a uma flora

    complexa, envolvendo outros microrganismos, tais como Actinomyces e

    Enterococcus (82) (83).

    No estudo efectuado por Silva em 1995 em indivduos institucionalizados no Porto

    foi encontrada uma prevalncia de 63% para as cries radiculares (45).

    Tambm em Portugal num estudo sobre cries radiculares efectuado por Sousa em

    2005 numa populao com as mesmas caractersticas foi encontrada uma

    prevalncia de 59,4% de crie radicular (84).

    Hand, tendo em vista estudar as taxas de incidncia de cries coronrias e

    radiculares em idosos institucionalizados realizou um estudo em 451 indivduos

    institucionalizados no estado de Iowa nos Estados Unidos.

    Foi seleccionada uma amostra representativa e efectuado exame clnico no incio

    do estudo e nova observao aps 18 meses.

    Na coorte dentada, foi observada uma mdia de 0,87 novas superfcies cariadas

    por ano e por pessoa para a coroa e 0,57 superfcies cariadas por ano e por

    pessoa para a raiz.

    A crie coronria ocorreu a uma taxa anual de 1,4% e as superfcies sensveis

    crie radicular a uma taxa anual de 2,6% de superfcies radiculares susceptveis.

    Este estudo mostra que tanto a crie coronria como a crie radicular esto activas

    nesta populao idosa, indicando a necessidade de nfase na preveno e

    tratamento de crie em adultos mais velhos (85).

  • Introduo

    25

    7.3 Doena periodontal

    A populao idosa afectada de uma maneira geral pelas formas leves de

    gengivite e periodontite, estando um nmero mais reduzido sujeito s formas mais

    graves da doena (86). Assim, vrios estudos apontam para uma elevada

    percentagem de pessoas com necessidade de algum tipo de tratamento periodontal

    (4).

    A doena periodontal depois da doena crie aparece como responsvel pela

    elevada taxa de mortalidade dentria nos adultos idosos (61) (87) (59).

    Os idosos funcionalmente dependentes tm maior risco de desenvolver doena

    periodontal devido sua fragilidade fsica, confuso mental ou demncia

    relacionada com a sua incapacidade para manter uma higiene oral de forma

    independente.

    O factor idade mostrou correlao positiva com a presena de placa bacteriana

    num estudo efectuado a 51 indivduos aos quais foi efectuada anamnese, recolha

    de dados clnicos dentrios e efectuado Raio X e fotografias intra-orais, tendo estes

    dados sido fornecidos a 23 examinadores especialistas em Periodontologia (88).

    Alm da deficiente higiene oral, outros factores de risco podem agravar o estado

    periodontal dos indivduos tais, como os hbitos tabgicos e determinadas doenas

    sistmicas, entre elas a diabetes (89) (88).

    Aps reviso bibliogrfica, Kamen concluiu que os levantamentos nacionais

    realizados nos Estados Unidos da Amrica so concordantes quanto forte

    associao entre a perda de insero e recesso e o aumento da idade, alta

    prevalncia de sangramento sondagem e que a perda severa de ligamento

    periodontal restrita a uma pequena percentagem da populao (90).

    Em Espanha Rodrigues Baciero num estudo numa populao institucionalizada

    conclui que todos os idosos tinham necessidade de algum tipo de tratamento

  • Introduo

    26

    periodontal, embora a prevalncia de sextantes com bolsas profundas tenha sido

    baixa (40).

    Tambm em Espanha num estudo realizado por Mallo-Prez, numa amostra de

    3282 indivduos, concluiu que todos os idosos necessitavam de algum tipo de

    tratamento periodontal, no entanto, a prevalncia de sextantes com bolsas

    periodontais profundas foi muito baixa (91).

    7.4 Leses da mucosa oral e cancro oral

    Existem diversas patologias que podem afectar a mucosa oral em que os sinais e

    sintomas associados podem ser muito semelhantes, o que contribui para uma

    maior dificuldade no diagnstico diferencial destas doenas.

    Segundo vrios autores o envelhecimento supe um aumento do risco de leses da

    cavidade oral (92).

    A presena de leses proliferativas ou ulceradas, estomatite prottica e queilite

    angular esto geralmente relacionadas com o uso de prteses dentrias, com o

    estado da prtese e com o uso dirio e/ou nocturno, sendo prevalentes neste grupo

    de indivduos.

    Num estudo efectuado na Dinamarca, Vigild observou que cerca de 50% dos

    indivduos apresentavam uma ou mais condies patolgicas da cavidade oral. O

    achado mais prevalente foi a estomatite prottica que se manifestou em um tero

    dos idosos. A prevalncia foi fortemente influenciada pela higiene deficiente da

    prtese, pelo uso da prtese durante a noite e com o nmero de anos da prtese

    (93).

    Num outro estudo realizado no Brasil numa populao institucionalizada, 58,9%

    dos examinados apresentavam uma ou mais leses na mucosa oral sendo tambm

    a estomatite induzida por prtese a patologia mais frequente (20,0%). O sexo e a

    higiene das prteses foram factores estatisticamente significativos para a

    prevalncia da estomatite prottica (94).

  • Introduo

    27

    Em Espanha, num estudo realizado em 3460 indivduos com idade superior ou

    igual a 65 anos foi encontrada uma prevalncia de 16,7% para uma ou mais leses

    da cavidade oral tendo sido identificados 3 casos de cancro oral. A probabilidade

    de apresentarem mais do que uma leso estava determinada pelo tabagismo, ter

    poucos dentes, ser desdentado total, usar prtese removvel e ter hbitos de

    higiene deficientes. A idade, a medicao e o estar institucionalizado no mostrou

    ter correlao. A presena de leucoplasia foi associada ao tabagismo e a

    Candidase e as lceras orais a ser portador de prtese removvel (95).

    Em Portugal num estudo realizado por Silva em 2000 em portadores de prteses

    removveis para avaliar a prevalncia de leses orais, constatou que 92,4% das

    leses associadas ao uso de prtese apresentavam-se assintomticas. Encontrou

    uma prevalncia de estomatite prottica de 45,3%, a presena de outras leses

    tambm foi significativa sendo 12,1% para a queilite angular, 7,9% para ulcera

    traumtica, 5,7% para a hiperplasia fibroepitelial, 2,8% para leses pigmentadas na

    mucosa, 2,1% para fibroma, 1,4% para a glossite rombide mediana e 1,4% para

    lquen plano oral (96).

    O cancro oral referido como um subgrupo de cancros da cabea e pescoo que

    se desenvolvem na lngua, nas glndulas salivares, nas gengivas, no assoalho da

    boca, na orofaringe, nas superfcies orais e noutros locais intra-orais de acordo com

    a classificao internacional das doenas International Classification of Diseases

    (ICD) (97). O cancro oral um problema srio e crescente em muitas partes do

    globo, sendo o cancro oral e farngeo em conjunto o sexto tipo de neoplasia mais

    comum a nvel mundial (98).

    Cerca de 90% dos cancros da cavidade oral so carcinomas espino-celulares e

    esto associados ao consumo de tabaco e lcool, aumentando o risco com o abuso

    associado destas duas substncias (99). Apesar dos avanos no tratamento desta

    patologia, a taxa de mortalidade aos 5 anos mantm-se nos 50-60%, variando com

    os estudos (100).

    O risco de desenvolver cancro oral aumenta com a idade, ocorrendo a maioria dos

    casos em indivduos a partir dos 50 anos (98) (101).

  • Introduo

    28

    A expresso clnica do cancro oral muito varivel e, por isso, leses suspeitas na

    mucosa oral devem ser cuidadosamente investigadas, especialmente na ausncia

    de etiologia local associada.

    7.5 Xerostomia

    A saliva desempenha um papel importante na manuteno da sade oral j que

    uma das suas principais funes proteger a cavidade oral das diversas agresses

    atravs de diferentes mecanismos (aco antibacteriana, antifngica e antivrica,

    capacidade tampo, remineralizao, hidratao, manuteno do pH, digesto,

    etc.) (102) (103).

    Por definio, xerostomia a sensao de boca seca devido a uma diminuio

    quantitativa apenas do fluxo salivar em repouso, quando este baixa para menos de

    50% ou quando existe uma alterao da composio da saliva com perda de

    mucina e consequente diminuio da capacidade de lubrificao, sem diminuio

    do fluxo (104).

    Existe no entanto alguma controvrsia sobre a influncia da idade na taxa de fluxo

    salivar, acredita-se que a xerostomia est implcita no paciente geritrico, no

    entanto, a hiposalivao nestes pacientes parece ser o resultado de determinadas

    doenas crnicas e medicao associada (105) (106).

    A medicao que pode contribuir para a hiposalivao inclui anticolinrgicos, anti-

    histamnicos, opiceos, tranquilizantes, antidepressivos, antiparkinsonianos,

    ansiolticos antihipertensivos e diurticos (107).

    Outras causas de diminuio do fluxo salivar so as doenas auto imunes, radiao

    da cabea e pescoo, Sndrome de Sjgren, tumores, infeco e aplasia das

    glndulas salivares (107).

    Segundo um estudo realizado por Lpez em idosos institucionalizados espanhis,

    existe uma perceptvel diminuio salivar com a idade dos indivduos e

    relativamente ao consumo de frmacos verificou-se uma correlao positiva entre o

    nmero de frmacos consumidos e as taxas de fluxo salivar, tanto para a saliva de

  • Introduo

    29

    repouso como para a estimulada. Para a saliva de repouso os valores mdios para

    os idosos que tomavam um frmaco eram de 42,2 mm, enquanto que para os que

    tomavam 3 frmacos existe uma reduo considervel para valores mdios de 19,2

    mm humedecidos em 5 minutos (102).

    8 Reviso de estudos relacionados

    O estudo das condies de sade oral em populaes idosas e as respectivas

    necessidades de tratamento tem sido objecto de vrios trabalhos cientficos:

    Grabowski estudou a sade oral e necessidades de tratamento odontolgico em

    560 idosos com 65 e mais anos, do municpio de Vestsjaelland (West Zelndia) na

    Dinamarca.

    Seleccionou uma amostra representativa de toda a populao dinamarquesa em

    relao ao sexo e condio scio-econmica para esta faixa etria especfica.

    Concluiu que esta populao apresentava fracas condies de sade oral em que

    68,2% da populao eram desdentados totais (sendo 64,7% para o sexo masculino

    e 70,7% para o sexo feminino). Os idosos dentados tinham em mdia 12 dentes.

    Dos desdentados totais, 3,6% no estavam reabilitados em ambos os maxilares e

    5,5% carecia de reabilitao num dos maxilares em que 83,4% estavam

    reabilitados com prteses removveis (108).

    Apenas 3,4% dos dentados e 28,2% dos desdentados totais no necessitavam de

    qualquer tratamento odontolgico, 80% dos indivduos necessitavam de tratamento,

    sendo o tratamento prottico o principal requisito.

    Em contraste com estes dados, apenas 25% dos entrevistados tinham uma

    necessidade subjectiva de tratamento.

    O autor concluiu que a populao idosa dinamarquesa necessita de informao e

    ajuda econmica para tratamento odontolgico (108).

    Um estudo comparativo entre duas coortes foi efectuado em noruegueses

    institucionalizados comparando os anos de 1988 e 2004 tendo em vista avaliar o

    estado de sade oral e verificar se houve ou no e quais as alteraes entre estes

    dois anos.

  • Introduo

    30

    Verificaram-se vrias alteraes demogrficas entre as duas coortes, um aumento

    da idade mdia e uma tendncia de aumento da proporo de mulheres. Os

    resultados obtidos indicaram uma melhoria no status dentrio 1988-2004. Este foi

    caracterizado por uma diminuio do edentulismo e um aumento de indivduos com

    dentes remanescentes, a percentagem de idosos que tinham 20 a 28 dentes

    aumentou de 3% para 23%.

    Foi no entanto observado um aumento substancial na prevalncia de crie, a

    proporo de indivduos com dentes cariados aumentou de 55% em 1988 para

    72% em 2004, verificou-se um aumento do CPOD de 19,4 para 23,2.

    Relativamente ao estado periodontal, verificou-se um aumento significativo da

    prevalncia de bolsas periodontais de 4 mm ou mais de 1988 para 2004.

    Coroas, pontes e implantes foram mais prevalentes em 2004 (74%) do que em

    1988 (60%), tendo sido menos prevalentes as prteses parciais.

    Quanto mucosa oral, a estomatite prottica foi encontrada em 36% dos

    portadores de prtese em 2004, em comparao com 20% em 1988 (109).

    Um estudo em idosos institucionalizados efectuado em Melbourne, em que a idade

    mdia encontrada foi de 83,7 anos, sendo 80% dos indivduos pertenciam ao sexo

    feminino, concluiu que, globalmente, 35,4% dos pacientes eram dentados e todos

    apresentavam experincia de crie tendo sido encontrado um CPOD de 24,3 para

    o sexo masculino e 25,1 para o feminino. Relativamente condio periodontal,

    devido perda de dentes, mais de metade dos sextantes foram excludos da

    anlise. A condio mais severa observada foi a presena de bolsas de 4-5 mm de

    profundidade em que o indicador mais grave foi a presena de depsitos de trtaro.

    Nenhum indivduo necessitava de tratamento periodontal complexo. Cerca de 50%

    dos indivduos no apresentavam necessidade de qualquer tratamento dentrio

    (110).

    Warren, numa amostra de 449 indivduos do Estado de Iwoa nos Estados Unidos

    da Amrica, em que 107 (23,8%) eram desdentados totais, sendo 68 % do sexo

    feminino, com uma idade mdia de 85,1 (intervalo 79-101 anos), observou que a

    mdia de dentes remanescentes entre estes sujeitos era de 19,4, com um intervalo

    de 1 a 31 dentes e 37,1% dos indivduos tinham pelo menos 24 dentes. De um

    modo geral, quase todos os indivduos (96%) tinham experincia de crie

  • Introduo

    31

    coronria, 23% apresentavam crie coronria no tratada. Relativamente crie

    radicular, 64% da amostra teve experincia deste tipo de crie, em que 23% dos

    indivduos apresentavam cries de raiz no tratadas.

    Entre os indivduos dentados, 73,4% relataram terem visitado o dentista no ltimo

    ano, enquanto apenas 9,8% informou ter visitado o dentista h quatro ou mais

    anos. Aqueles com um maior nmero de dentes eram mais propensos a ter visitado

    o dentista nos ltimos anos e a faze-lo de uma forma regular (111).

    Um estudo efectuado em Espanha incluiu 459 indivduos com uma idade mdia de

    83,8 anos sendo 23% homens e 77% mulheres.

    Foi encontrado um CPOD de 27,02 com 76,7% de dentes perdidos, 3,6% de dentes

    obturados e 4,2% de dentes cariados.

    No que respeita condio periodontal dos indivduos estudados 71% no

    puderam ser avaliados devido aos sextantes excludos por perda de dentes, 1,8%

    apresentavam um periodonto saudvel, 46,4% apresentavam doena periodontal

    leve (presena de sangramento gengival e clculo dentrio), sendo a prevalncia

    de doena periodontal moderada (bolsas de 4-5mm) de 8,9%.

    No grupo estudado, 52,7% dos indivduos apresentavam edentulismo maxilar e

    mandibular, estando 40,3% reabilitados com prtese total superior e inferior.

    Ao avaliar a necessidade de prtese dentria, 17,9% dos indivduos necessitavam

    ser reabilitados com prtese maxilar e mandibular (112).

    Num estudo efectuado por Magalhes numa populao portuguesa

    institucionalizada para avaliar as necessidades de tratamento, observou 245

    indivduos com mais de 65 anos. Com este estudo concluiu que 38,4% do total da

    amostra era desdentado total, em que a maioria tinha mais de 11 dentes perdidos

    no apresentando uma dentio funcional. Em mdia existiam 2,2 (2,4) dentes por

    pessoa para restaurar, 1,0 (1,8) dentes para tratamento endodntico radical por

    pessoa e 2,0 (2,9) para extraco tambm por pessoa.

    O ndice CPO encontrado foi de 26,01 sendo elevado devido ao peso dos dentes

    perdidos (P=22,67), o peso dos dentes cariados foi de 2,86 e os obturados de 0,48.

    Apesar do elevado nmero de edntulos e de dentes perdidos nesta populao o

    estudo concluiu que a crie dentria constitui mesmo assim um problema de

    grande prevalncia.

  • Introduo

    32

    Relativamente situao periodontal, a maioria dos sextantes foram excludos

    devido perda de dentes. No entanto, o estudo concluiu que todos os pacientes

    necessitavam de tratamento periodontal. S uma pequena percentagem, 5,9% dos

    indivduos dentados necessitavam de tratamento periodontal complexo.

    Apenas 17,1% do total da amostra no revelava necessidades protticas, enquanto

    que 82,9% da amostra necessitava de alguma interveno na prtese (conserto,

    revasamento ou substituio) e 36,1% necessitavam de reabilitao com prtese

    total.

    Este estudo concluiu que esta populao apresentava grande nvel de

    necessidades, tanto a nvel de promoo, educao e formao em sade oral

    como de tratamentos operatrios (71).

    Isaksson, efectuou um estudo na populao Sueca tendo observado 866 indivduos

    institucionalizados e inscritos em cuidados de longa durao com o objectivo de

    avaliar as necessidades reais de tratamento oral levando em considerao a

    inteno de tratamento de cada indivduo. O estudo concluiu que o edentulismo

    aumentou com a idade enquanto que uma dentio funcional, mais de 20 dentes,

    diminuiu com o aumento da idade dos indivduos. lceras orais foram encontradas

    em 9% e hiperplasia em 10% da populao. Alteraes na mucosa do palato foram

    registadas em 22% dos indivduos e alteraes graves, inflamaes em geral foram

    encontradas em 9%. Na mucosa lingual foram observadas alteraes em 14% dos

    casos em que 90% dessas alteraes foram do tipo atrfico. Foram encontradas

    tambm duas manifestaes suspeitas de leses malignas.

    O estado de higiene oral foi considerado bom/aceitvel em 62% dos indivduos.

    Os resultados deste estudo indicam que as necessidades reais de tratamento oral,

    guiadas por estimativa do examinador da inteno de tratamento adequado, so

    modestas nesta populao. Dos indivduos avaliados, 31% necessita tratamento

    profiltico enquanto que 30% necessita de tratamento reparador. Apenas 1% foram

    estimados para necessidade de tratamento urgente (113).

    Vigild, efectuou um estudo numa populao institucionalizada Dinamarquesa que

    teve como objectivo determinar a ocorrncia de crie no tratada em idosos

    institucionalizados, avaliar o pedido expresso para o tratamento operatrio da crie

    entre os idosos e relacionar a ocorrncia de crie no tratada com o grau de

  • Introduo

    33

    dependncia, o uso do servio odontolgico, tipo de servio odontolgico e o tempo

    de permanncia na instituio.

    Este estudo constatou que o estado de sade oral dos idosos institucionalizados

    muito pobre, 70% apresentavam crie no tratada. A maior parte desta degradao

    foi traduzida por restos radiculares retidos. Os idosos dependentes apresentaram

    mais cries no tratadas do que aqueles que eram capazes de se dirigirem

    sozinhos consulta, sendo a sade oral melhor naqueles que foram vistos

    regularmente por um dentista. O tempo de permanncia na instituio no

    influenciou a prevalncia e o nmero mdio de superfcies com cries no tratadas.

    O estudo concluiu que o factor preponderante que influenciou a ocorrncia de crie

    no tratada entre os idosos institucionalizados foi o acesso ao servio odontolgico

    (114).

    No Japo, na cidade de Kitakynshu foram avaliados em termos de sade oral 1 908

    idosos com idade igual ou superior a 65 anos a viverem em 29 instituies desta

    cidade.

    A percentagem de edntulos foi de 27% no grupo de 65 a 74 anos e 56% no grupo

    dos 85 e mais anos.

    Nos indivduos dentados o nmero mdio de dentes remanescentes e CP (cariados

    e perdidos) foi de 13,4 e 8,6; 9,5 e 6,8; 8,4 e 6,5 nos grupos 65-74, 75-84 e com

    mais de 85 anos respectivamente. Dos idosos observados, 81% no apresentaram

    nenhum sintoma invulgar da articulao temporomandibular (ATM), sendo o rudo

    articular o sintoma mais frequente, em 17% dos indivduos. A higiene dos dentes e

    das prteses apresentou-se muito deficiente. Necessitavam de prteses totais

    novas e/ou prtese parcial removvel 36% dos indivduos e 41% necessitava

    apenas de conserto. Foi encontrada uma grande percentagem de dentes para

    tratamento, necessidades de reabilitao oral e pobre higiene oral nos idosos com

    pior estado de sade geral comparativamente com os que apresentavam melhores

    condies de sade.

    Segundo os autores deste estudo, estes resultados indicam que os sistemas de

    cuidados de sade oral para idosos institucionalizados, principalmente em idosos

    com deficincias devem ser planeados, e que a importncia dos programas de

    sade oral entre as geraes mais jovens devem ser enfatizadas porque a

    assistncia na rea da sade oral para idosos torna-se mais difcil com o aumento

  • Introduo

    34

    da idade e os cuidados de sade oral so fornecidos tarde demais para a maioria

    das pessoas (115).

    9 Avaliao das necessidades de tratamento e utilizao dos servios de

    sade dentrios em idosos

    O uso dos servios odontolgicos e a sade oral entre idosos melhoraram

    consideravelmente na maioria dos pases industrializados durante as ltimas

    dcadas, mas existem ainda grandes disparidades no estado e acesso aos

    cuidados de sade oral.

    Como j foi referido, o crescimento do nmero de pessoas idosas o resultado

    duma melhoria nas condies de vida social e assistncia mdica e determinada

    pelo tamanho das coortes de natalidade. Estes factos contribuem para um ganho

    perceptvel na esperana de vida aps os 65 anos, no entanto, este ganho da

    expectativa de vida inclui tanto indivduos activos como dependentes (116).

    O conceito de compresso de morbilidade argumenta que um melhor acesso

    sade e estilos de vida saudveis nos anos mais jovens, vai levar a um adiamento

    do prazo de doenas crnicas e de dependncia na idade avanada. Por outro lado

    o conceito de extenso da morbilidade afirma que a sobrevivncia aumentada ir

    resultar num perodo mais longo com deficincia no fim da vida (116). Assiste-se a

    uma polarizao em que uma parte da populao de idosos est mais saudvel

    enquanto outra parte est cada vez mais dependente, acumulando doenas

    crnicas e incapacitantes. Estes indivduos, frequentemente sofrendo de alguma

    incapacidade fsica ou mental e outras formas de doenas crnicas, ficam limitados

    para poderem interagir com os servios dentrios (117).

    Tm sido sugeridos diferentes modelos para as necessidades de tratamento

    dentrio (118) (119):

    - necessidades definidas pelo profissional (necessidades normativas)

    - necessidade percebida

    - necessidade expressa

  • Introduo

    35

    - necessidade real

    Existe uma enorme discrepncia nos resultados para avaliar as necessidades de

    tratamento de um determinado individuo, essas diferenas podem ser ainda mais

    significativamente demonstradas entre a frgil populao institucionalizada (120). A

    avaliao pelo profissional, das necessidades de tratamento oral baseado

    exclusivamente no diagnstico clnico, leva muitas vezes a uma sobrestimao da

    real necessidade do tratamento especialmente entre os idosos frgeis e

    funcionalmente dependentes, alguns dos quais no querem o tratamento porque

    no existe nenhuma necessidade percebida ou no expressam a necessidade.

    Estes indivduos muitas vezes no beneficiam do tratamento porque no

    conseguem expressar o pedido, ou no sentem a necessidade do mesmo, sendo

    necessrio uma avaliao profissional para determinar uma relao do beneficio

    que pode advir do tratamento (119).

    Uma das reas que deveria ser melhor explorada a de aces de educao em

    sade com nfase na auto-percepo, conscencializando o indivduo para a

    necessidade de cuidados com a sua sade oral.

    Para isso essencial entender como o idoso percebe a sua condio oral, pois o

    seu comportamento condicionado pela auto-percepo e pela importncia que lhe

    dada. Mesmo nos pases que mantm programas dirigidos a idosos, a principal

    razo para estes no procurarem os servios mdico-dentrios, a no percepo

    da sua necessidade (121).

    Estudos sobre a auto-percepo mostram que a mesma est relacionada a alguns

    factores clnicos, como nmero de dentes cariados, perdidos ou restaurados, e com

    factores subjectivos como, sintomas de doenas e capacidade de sorrir, falar ou

    mastigar sem problemas (122), alm de ainda poder ser influenciada por factores

    como classe social, idade e sexo (123).

    De um modo geral, os idosos conseguem perceber a sua condio oral, usando

    porm critrios diferentes do profissional, enquanto este avalia a condio clnica

    pela presena ou ausncia de doena, para o paciente so importantes os

    sintomas e os problemas funcionais e sociais decorrentes das doenas orais.

  • Introduo

    36

    Em idosos, a percepo tambm pode ser afectada por valores pessoais, como a

    crena de que algumas dores e incapacidades so inevitveis nessa idade, o que

    pode lev-los a subvalorizar a sua sade oral (121).

    Assim, ser necessria uma combinao entre as necessidades avaliadas pelo

    profissional, a auto-percepo das necessidades, a exigncia expressa e ter em

    conta o estado fsico e mental do paciente, bem como consideraes ticas.

    Mesmo assim, avaliaes com base nas necessidades reais de tratamento, podem

    criar uma significativa base para a comunicao entre o poder poltico, a equipa

    institucional, e os planificadores de sade.

  • Introduo

    37

    9.1 Determinantes de utilizao dos servios odontolgicos

    Muitos factores tm sido identificados como possveis determinantes na mitigao

    das taxas de utilizao dos servios dentrios entre idosos, podendo estes interagir

    de uma forma complexa entre si e com outros factores, particularmente, os

    comportamentais (120), como se pode observar na figura I.1.

    - Acessibilidade ao consultrio odontolgico

    - Disponibilidade de servios odontolgicos/nmero de dentistas e higienistas

    - Status dentrio (nmero de dentes, edentulismo)

    - Caractersticas pessoais do individuo

    - Percepo de sade oral, sintomas (por exemplo, dor)

    - Organizao do sistema de sade odontolgico (privado, publico, no local)

    - Rendimento

    - Custo dos cuidados

    - Educao

    - Factores sociais

    - Factores geogrficos

    - Factores culturais (etnia)

    - Relaes sociais

    - Estilo de vida

    - Estado geral de sade, incapacidade funcional, declnio cognitivo, nmero de

    medicamentos usados

    - Limitaes dos profissionais

    Figura I.1 Determinantes para a utilizao dos servios dentrios na populao

    idosa

    No entanto, nos diversos estudos, o uso dos servios dentrios tem sido definido

    apenas pelos seguintes parmetros: 1) nmero de visitas anuais por pessoa, 2)

    proporo de pessoas que visitam o dentista durante um ano, 3) reportam primeira

    consulta de uma sria de visitas, 4) despesas agregadas para a consulta e 5)

    consulta de rotina versus de emergncia (124).

  • Introduo

    38

    Um estudo retrospectivo recente efectuado na Sucia em adultos com oitenta anos,

    constatou que 66% dos indivduos dentados tinha efectuado visitas regulares ao

    dentista nos anos noventa. Em mdia foram feitas 3,3 visitas por perodo de

    tratamento. Uma pequena fraco, 10%, registou grande nmero de consultas de

    urgncia (125).

    Num outro estudo foi comparada a utilizao da consulta dentria entre cidados

    suecos e dinamarqueses com idade entre 60 e 69 anos, em que mais de 80%

    tinham visitado o dentista no ltimo ano. Enquanto que 77% dos dinamarqueses

    relataram visitas ao dentista duas vezes por ano s 28% dos suecos fizeram o

    mesmo nmero de consultas. Porm, foi constatado que apesar dos

    dinamarqueses usarem mais frequentemente os servios odontolgicos, tinham

    piores condies de sade oral do que os suecos (124).

    No Reino Unido um estudo relatou que quase 50% dos idosos visitaram o dentista

    durante o ltimo ano enquanto que 10% referiu ter recorrido consulta no ltimo

    ano por uma emergncia (126).

    Smith avaliou clinicamente as necessidades de tratamento em 254 indivduos com

    60 e mais anos comparando-as com as necessidades sentidas e expressas. Nesta

    amostra, 78% dos indivduos apresentavam necessidades de tratamento

    principalmente prottico. Verificou-se uma grande discrepncia entre os

    tratamentos normativos e as necessidades sentidas pela populao idosa. Apenas

    42% daqueles que foram avaliados clinicamente com necessidade de tratamento

    dentrio sentiu que lhe era imposto, enquanto 19% tentou realmente obter o

    tratamento. Muitos dos idosos referiram uma srie de obstculos obteno de

    cuidados dentrios, que incluam o custo do tratamento, a dificuldade de locomoo

    e a sensao de que no deveriam incomodar o dentista (127).

    Em Portugal num estudo efectuado por Magalhes concluiu que 22% dos

    indivduos tinham visitado o dentista h menos de um ano enquanto que 51% no o

    fazia h mais de 5 anos, 19,6% recorreu consulta quando sentia dor, enquanto

    que por rotina apenas 1,2% dos indivduos o fazia (71).

  • Introduo

    39

    Num outro estudo efectuado por Braz, tambm numa populao institucionalizada,

    concluiu que 21,7% dos indivduos tinham visitado o dentista h menos de um ano

    enquanto que 55,6% no o fazia h mais de trs anos. Relativamente ao motivo da

    visita, 10,6% fazia-o por rotina enquanto que 40,6% s quando sentia dor (72).

    No estudo efectuado por McMillan na China em idosos institucionalizados e no

    institucionalizados a procura de tratamento pelos idosos foi similar em ambos os

    grupos, com mais de metade a no ter visitado o dentista nos ltimos dois anos.

    Segundo este autor este achado pode dever-se a dificuldades no acesso a

    cuidados dentrios acessveis. Nesta populao prtica comum recorrer ao

    dentista apenas em situao de emergncia (65).

    Para um subgrupo da populao vivendo em situao de pobreza, isolamento

    social, residentes em instituies de cuidados de longa durao, e com quadros

    clnicos complexos, os cuidados de sade oral podem ser inacessveis. O

    envelhecimento da populao refora a urgncia de dar resposta s necessidades

    cada vez maiores dos idosos dentados que se encontram em risco de doenas

    orais levando ao declnio da sade oral (128). Estratgias para envolver a

    comunidade criando novos modelos educacionais, abordagens interdisciplinares,

    concentrar o dilogo entre parcerias pblicas e privadas sero esforos

    necessrios para melhorar as actuais disparidades de sade oral no idoso.

    Embora a maioria dos idosos viva de forma independente na comunidade, existe

    um nmero crescente de idosos com necessidades especiais, que necessitam de

    cuidados de longa durao, quer em casa quer numa instituio. Esses idosos

    frgeis e funcionalmente dependentes, possuem necessidades dentrias

    significativas e experimentam maiores obstculos para receber atendimento em

    comparao com os idosos dependentes (129). So necessrias pesquisas

    adicionais para caracterizar com preciso o estado de sade oral e necessidades

    de tratamento de um nmero crescente de idosos institucionalizados.

  • Introduo

    40

    10 Qualidade de vida relacionada com a Sade Oral

    A medio do impacto das condies orais na qualidade de vida dos indivduos

    deve ser parte da avaliao das necessidades de sade oral, pois os indicadores

    clnicos sozinhos no podem descrever a satisfao ou sintomas dos pacientes ou

    a sua capacidade para executar actividades dirias (130) (131).

    Qualidade de vida um conceito de classificao amplo, abrangendo a percepo

    pelo indivduo da sua posio na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores

    nos quais se insere e em relao com os seus objectivos, expectativas, padres e

    comportamentos. A qualidade de vida pode ser afectada de um modo complexo

    pela sade fsica do indivduo, estado psicolgico, relaes sociais, nvel de

    independncia e pelas suas relaes com as caractersticas do meio ambiente

    (132).

    O crescente reconhecimento de que a qualidade de vida uma importante

    consequncia de cuidados de sade oral, levou necessidade de usar

    instrumentos de medida de sade oral relacionados com a Qualidade de Vida

    desenvolvidos para avaliar e medir o impacto social das desordens orais, sendo

    instrumentos vlidos e fiveis, tendo benefcios potenciais para a tomada de

    decises clnicas.

    Nos ltimos anos, tm sido desenvolvidos e validados vrios ndices com a

    finalidade de medir o impacto da sade oral na qualidade de vida dos indivduos. O

    Oral Health Impact Profile (OHIP-49) composto por 49 questes valorizadas entre

    0,747 e 2,555 e o (OHIP-14) com 14 questes valorizadas entre 0,34 e 0,66 tm

    sido amplamente usados nos ltimos anos, sugerindo confiana, validade e

    preciso (122) (133). A verso reduzida tem como base um modelo terico

    desenvolvido pela Organizao Mundial de Sade tendo sido adaptado por Locker

    para a sade oral (134).

    Para ilustrar a importncia destes ndices na avaliao do impacto que a sade oral

    tem na qualidade de vida foram seleccionados alguns estudos:

  • Introduo

    41

    Num estudo levado a cabo por Pires em Portugal numa populao

    institucionalizada, em que foi usado o questionrio Oral Health Impact Profile 14

    (OHIP-14) para avaliar o impacto da Sade Oral na Qualidade de Vida, os

    participantes no estudo identificaram a existncia de problemas com a sua Sade

    Oral e necessidade de tratamento dentrio, principalmente na presena de

    situaes periodontais mais graves e dentes cariados.

    Foram registados mais impactos na Qualidade de Vida nos indivduos:

    - com pior auto-avaliao da sade oral;

    - que relataram possuir problemas com os dentes e/ou gengivas;

    - que indicaram necessidade de ir ao dentista para tratamento;

    - nos portadores de prtese dentria;

    - que apresentavam maior nmero de dentes perdidos;

    - que apresentavam situaes periodontais mais graves.

    O mesmo estudo registou menos impactos na Qualidade de Vida nos indivduos

    com:

    - mais dentes presentes, independentemente se eram ou no portadores de

    prtese;

    - mais dentes obturados.

    Tambm verificou que a existncia de cuidados regulares de Medicina Dentria

    contribuiu para uma melhor Qualidade de Vida dos intervenientes no estudo. (135)

    Outros estudos tm demonstrado que a idade e a perda dos dentes tm uma

    relao positiva com a qualidade de vida do indivduo e a sade oral. Verificaram-

    se ndices de qualidade de vida significativamente melhores em indivduos com 25

    ou mais dentes presentes, apresentando piores resultados o grupo de idosos, pelo

    facto de apresentarem menos dentes presentes na arcada (136).

    Os impactos negativos mais comuns referidos pelos indivduos com mais de 65

    anos quando so avaliadas as desordens a nvel dentrio e oral na sua vida diria

    esto relacionadas com a alimentao, com aspectos fonticos e discursivos,

    afectando assim a sade oral a qualidade de vida dos indivduos nomeadamente a

    facilidade de ingesto de alimentos que habitualmente consomem (66).

  • Introduo

    42

    11 OBJECTIVOS

    Este estudo epidemiolgico transversal foi realizado com os seguintes objectivos:

    1 Estudar a prevalncia das patologias orais numa populao snior

    institucionalizada.

    2 Avaliar as necessidades de tratamento na mesma populao.

    3 Encontrar possveis diferenas na prevalncia das patologias estudadas nas

    populaes dos dois distritos (Porto e Vila Real).

  • Material e Mtodos

    43

    II MATERIAL E MTODOS _____________________________________