Idosos-Necessidades de Aconselhamento Em Diferentes Contexto

146
Universidade do Algarve Faculdade de Ciências Sociais e Humanas IDOSOS: NECESSIDADES DE ACONSELHAMENTO EM DIFERENTES CONTEXTOS (Dissertação para a obtenção do grau de mestre em Psicologia- especialização em Psicologia da Saúde) Sílvia do Carmo Martins Guerreiro Faro (2008)

Transcript of Idosos-Necessidades de Aconselhamento Em Diferentes Contexto

  • Universidade do Algarve

    Faculdade de Cincias Sociais e Humanas

    IDOSOS: NECESSIDADES DE ACONSELHAMENTO EM

    DIFERENTES CONTEXTOS

    (Dissertao para a obteno do grau de mestre em Psicologia- especializao em Psicologia da Sade)

    Slvia do Carmo Martins Guerreiro

    Faro (2008)

  • NOME: Slvia do Carmo Martins Guerreiro DEPARTAMENTO: Departamento de Psicologia ORIENTADOR: Gabriela Maria Ramos Gonalves DATA: 13 de Maro de 2008 TTULO DA DISSERTAO: IDOSOS: NECESSIDADES DE ACONSELHAMENTO EM DIFERENTES CONTEXTOS. JRI: Presidente: Doutor Jos Carlos Pestana dos Santos Cruz, Professor Auxiliar da Faculdade de Cincias Humanas e Sociais da Universidade do Algarve. Vogais: Doutora Maria Filomena Lopes Capito Bayle, Professora Associada do Instituto Superior Dom Afonso III de Loul. Doutora Gabriela Maria Ramos Gonalves, Professora Auxiliar da Faculdade de Cincias Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.

  • AGRADECIMENTOS

    Desde o incio ao trminus deste estudo, houve todo um percurso desenvolvido. Percurso

    este, repleto de avanos e vrios recuos, de reformulaes e de pequenos passos que

    diariamente conduziram ao todo final. Neste longo percurso no estive s, pois justo que,

    ao finalizar, lembre algumas pessoas que pelo seu apoio, cumplicidade, pacincia, estmulo,

    disponibilidade e at carinho, me ajudaram a concretizar os meus objectivos.

    - minha Orientadora, muito especial, Professora Gabriela Gonalves;

    - A Santa Casa da Misericrdia de Loul;

    - Aos idosos aos quais foram aplicados os questionrios;

    - Ao meu pai, Fernando Guerreiro;

    - minha me, Maria Nomia Guerreiro;

    - minha mana, que muito me ajudou, Fernanda Guerreiro;

    - Ao meu namorado, Filipe Bento;

    - s minhas queridas avs. Deolinda. Alice.

    - Aos meus amigosaos meus colegas. C.N.O.

    A TODOS MUITO OBRIGADO.

  • RESUMO Nas ltimas dcadas a populao da terceira idade, maiores de 65 anos tem

    aumentado quer em nmero, quer em proporo. Esta problemtica adquire cada vez mais

    relevncia e actualidade, quer a nvel nacional, quer a nvel mundial, dado o crescimento da

    populao idosa.

    O propsito desta investigao, foi abordar o fenmeno do envelhecimento

    observando as necessidades de aconselhamento percepcionadas pelos idosos em trs grupos

    distintos.

    O estudo recaiu sobre trs grupos de idosos: os idosos que residem com familiares;

    os idosos que residem sozinhos e o terceiro grupo, idosos que residem em instituies de

    apoio terceira idade.

    A amostra foi constituda por 302 pessoas idosas, residentes no Concelho de Loul,

    com idades superiores ou iguais aos 65 anos.

    Os dados foram recolhidos atravs do instrumento Verso Portuguesa da Escala

    de Necessidades de Aconselhamento de Idosos (OPCNS) (Nunes, 1997). Foi tambm

    aplicado um questionrio scio-demogrfico aos participantes.

    Os resultados sugerem que o grupo em estudo que sente mais necessidades de

    aconselhamento, so os idosos que habitam sozinhos e que tm mais de 75 anos, quer sejam

    do sexo masculino, quer sejam do sexo feminino. Os que sentem menos necessidades de

    aconselhamento so os idosos do sexo masculino, com idade inferior a 75 anos e que

    habitam com familiares. Observmos assim, no estudo realizado, uma relao forte entre as

    necessidades sentidas pelos idosos e o contexto no qual habitam.

    Palavras- chave: idosos; necessidades de aconselhamento.

  • ABSTRACT

    In the last decades, the geriatric population is growing, people over 65 years old

    has grown, in number and in proportion. This problematic acquires more relevance

    nowadays, nationally and internationally, because elder population is growing compared to

    the youngest generations.

    The main reason of this study consists in the observation of perceived needs on the

    elder people in three distinct groups.

    It was selected for these study three main groups: elder people who lived alone;

    elder people who lived with their families and elder people who lived in geriatrics

    institutions.

    The sample consisted of 302 participants, aged 65 and older, who lived in Loul.

    To the development of the study, it was selected the Portuguese scale of perceived

    needs on elder people. It was also applied a demographic and social inquire.

    Results show that the group who feels more perceived needs are the participants

    who lived alone, older than 75 years old, both genders. The participants, who feel less

    perceived needs, are men, younger than 75 years old, who lived with their family. It was

    observed a significant relation between context and needs, which means that perceived

    needs increase or decrease depending on who the participants live with, alone, with their

    family or in geriatric institution.

    Key words: elder people; perceived needs.

  • NDICE

    INTRODUO ............................................................................................................................... 1

    Parte I- ENQUADRAMENTO TERICO

    CAPITULO I

    1. O Envelhecimento ...7 1.1. Alteraes psicossociais do envelhecimento ...12 1.2 Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso...... ..18

    CAPITULO II

    2. Necessidades do idoso.. ......................25 2.1 Suporte social para a Terceira Idade..................... 29 2.2 A Familia Cuidadora......................... 35 2.3 Institucionalizao.....38 2.4 Qualidade de vida na velhice.........41

    Parte II- ESTUDO EMPIRICO

    Objectivos e Metodologia de Investigao

    3. Overview. ............52 3.1. Exposio das variveis ...........................................................54 3.2. Metodologia..57 3.2.1. Populao e amostra...................................................................57

  • 3.2.2. Procedimento.66

    3.2.3. Instrumento.. 67

    4. Apresentao e Anlise de resultados......69

    4.1. Necessidades de Aconselhamento....69

    4.1.2. Contexto.....76

    4.1.3. Classe etria...78

    4.1.4. Gnero....79

    4.1.5. Necessidades Pessoais....80

    4.1.6. Necessidades Sociais..81

    4.1.7. Necessidades de Actividade...82

    4.1.8. Necessidades Ambientais...83

    4.1.9. Regresso Mltipla....87

    4.2. Desejos de Aconselhamento.90

    4.2.1. Contexto.91

    4.2.2. Classe Etria...93

    4.2.3. Gnero94

    4.2.4. Desejos Pessoais95

    4.2.5. Desejos Sociais......96

    4.2.6. Desejos de Actividade96

    4.2.7. Desejos Ambientais97

    4.2.8. Regresso Mltipla- Desejos de Aconselhamento...101

    4.3. Anlise Correlacional..108

    4.4. Discusso de resultados..................................................................................109

    Concluses gerais.......118

    Referncias Bibliogrficas..................................................................... 122

    ANEXOS

    Anexo A)- Questionrio Scio-demogrfico. Anexo B)- Verso Portuguesa da Escala de Necessidades de Aconselhamento de Idosos.

  • INDCE DE QUADROS

    Quadro 3.1- Distribuio da varivel Gnero.58

    Quadro 3.2- Distribuio da varivel Idade....59

    Quadro 3.3- Distribuio da varivel Contextos vs Classe etria e Gnero...61

    Quadro 3.4- Distribuio da varivel Escolaridade62

    Quadro 3.5- Iniciativa de Internamento......64

    Quadro 3.6- Motivo de Internamento65

    Quadro 4.1- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos....70

    Quadro 4.2-Anlise de varincia para as necessidades (Mdia Total) ......72

    Quadro 4.3- Teste T-Student- Gnero / Necessidades- Total.73

    Quadro 4.4- Teste T-Student- Classe etria / Necessidades- Total....73

    Quadro 4.5- Teste T-Student- Contexto / Necessidades- Total......74

    Quadro 4.6- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos....75

    Quadro 4.7- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos76

    Quadro 4.8- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos78

    Quadro 4.9- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos....79

    Quadro 4.10-Anlise de varincia para necessidades pessoais......80

    Quadro 4.11-Anlise de varincia para necessidades sociais.....81

    Quadro 4.12-Anlise de varincia para necessidades de actividade..82

    Quadro 4.13-Anlise de varincia para necessidades ambientais......83

    Quadro 4.14-Teste t-student para as necessidades- Gnero...84

    Quadro 4.15- Teste t-student para as necessidades- Classe etria..84

    Quadro 4.16- Teste t-student para as necessidades85

  • Quadro 4.17- Teste t-student para as necessidades86

    Quadro 4.18- Teste t-student para as necessidades86

    Quadro 4.19- Regresso Mltipla- necessidades pessoais.87

    Quadro 4.20- Regresso Mltipla- necessidades Sociais...88

    Quadro 4.21- Regresso Mltipla- necessidades de Actividade....88

    Quadro 4.22- Regresso Mltipla- necessidades Ambientais....89

    Quadro 4.23- Mdia e desvio padro para os desejos de aconselhamento nos grupos......90

    Quadro 4.24- Mdia e desvio padro para os desejos de aconselhamento nos grupos..91

    Quadro 4.25- Mdia e desvio padro para os desejos de aconselhamento nos grupos..93

    Quadro 4.26- Mdia e desvio padro para os desejos de aconselhamento nos grupos..95

    Quadro 4.27-Anlise de varincia para desejos pessoais...95

    Quadro 4.28-Anlise de varincia para desejos sociais..96

    Quadro 4.29-Anlise de varincia para desejos de actividade...96

    Quadro 4.30-Anlise de varincia para desejos ambientais...97

    Quadro 4.31- Teste t-student para as necessidades de aconselhamento- Gnero..98

    Quadro 4.32- Teste t-student para as necessidades de aconselhamento- Classe etria..98

    Quadro 4.33- Teste t-student para os desejos de aconselhamento.....99

    Quadro 4.34- Teste t-student para os desejos de aconselhamento...100

    Quadro 4.35- Teste t-student para os desejos de aconselhamento...100

    Quadro 4.36- Regresso Mltipla- Desejos Pessoais...101

    Quadro 4.37- Regresso Mltipla- Desejos Sociais.....101

    Quadro 4.38- Regresso Mltipla- Desejos de Actividade......102

    Quadro 4.39- Regresso Mltipla- Desejos Ambientais......102

    Quadro 4.40- Regresso Mltipla- Necessidades de aconselhamento- total103

  • Quadro 4.41- Regresso Mltipla- Necessidades pessoais..104

    Quadro 4.42- Regresso Mltipla- Necessidades sociais.....104

    Quadro 4.43- Regresso Mltipla- Necessidades de actividade...105

    Quadro 4.44- Regresso Mltipla- Necessidades ambientais..105

    Quadro 4.45- Regresso Mltipla- Desejos pessoais...106

    Quadro 4.46- Regresso Mltipla- Desejos sociais..106

    Quadro 4.47- Regresso Mltipla- Desejos de actividade...107

    Quadro 4.48- Regresso Mltipla- Desejos ambientais...107

    Quadro 4.49- Matriz de correlao- Nec. de Aconselh. vs Des. de Aconselh.....108

  • INDCE DE GRFICOS

    Grfico 3.1- Iniciativa de Internamento.64

    Grfico 3.2- Motivo de Internamento.....65

    Grfico 4.1- Mdias para as Necessidades (Mdia Total) em cada condio....71

    Grfico 4.2- Necessidades pessoais nos trs grupos...77

    Grfico 4.3- Necessidades sociais nos trs grupos.77

    Grfico 4.4- Necessidades de actividade nos trs grupos...77

    Grfico 4.5- Necessidades ambientais nos trs grupos...77

    Grfico 4.6- Necessidades para as classes etrias..78

    Grfico 4.7- Necessidades para cada gnero..80

    Grfico 4.8- Desejos pessoais nos trs grupos...92

    Grfico 4.9- Desejos sociais nos trs grupos..92

    Grfico 5.10- Desejos de actividade nos trs grupos..92

    Grfico 4.11- Desejos ambientais nos trs grupos.....92

    Grfico 4.12- Desejos para a classe etria..93

    Grfico 4.13- Desejos de aconselhamento nos dois gneros..........94

  • A vida na minha idade no fcil,

    mas a Primavera est magnfica e o amor como ela

    Sigmud Freud, carta a Hilda Doolittle, 24 de Maio de 1936

  • INTRODUO As investigaes relativas ao fenmeno envelhecimento humano assumem,

    presentemente, uma grande actualidade e pertinncia devido, sobretudo, ao rpido aumento

    da populao da chamada terceira idade.

    O envelhecimento demogrfico considerado um fenmeno social actual que

    caracteriza os pases industrializados e muito particularmente a Europa. Portugal no

    constitui excepo a esta regra, prevendo-se que no ano 2020 a populao com 65 anos e

    mais atingir nesta data os 18,1% (INE, 1999).

    Nos dias de hoje, o grupo etrio da terceira idade representa j 16,4% do total da

    populao portuguesa, ultrapassando assim o nmero da populao com idades

    compreendidas entre os 0 e os 14 anos (INE, 1999).

    O facto de, actualmente, termos muito mais idosos, quer como proporo da

    populao total, quer em termos absolutos, implica uma diferente ponderao dos problemas

    que os afectam. Por esse motivo tem vindo a ser accionado o reconhecimento social das

    necessidades de intervir com polticas orientadas especificamente para a velhice.

    A gesto da velhice foi por muito tempo considerada, em sociedades ocidentais

    modernas, como uma problemtica especfica da vida privada e familiar. Em meados do

    sculo XX, o envelhecimento adquiriu visibilidade social, ou seja, conquistou publicidade,

    expresso e legitimidade no campo das preocupaes sociais e transformou-se numa questo

    da esfera pblica dessas sociedades (Debert, 1999).

    1

  • Introduo

    Neste sentido, tem existido uma maior ateno para com esta populao, no s no

    que se refere ao lugar e ao papel que o idoso ocupa na sociedade, mas tambm no que

    respeita aos servios e equipamentos disponveis, que procuram combater o isolamento e a

    falta de condies dignas, bem como, as necessidades e as dificuldades que os idosos

    enfrentam (Pimentel, 2001).

    Apesar das disparidades entre pases e regies, o envelhecimento demogrfico

    hoje uma realidade generalizada ao conjunto dos pases ocidentais, constatando-se o

    aumento das pessoas idosas dependentes.

    Neste mbito, os cuidadores familiares representam actualmente um papel

    importante junto das pessoas idosas dependentes, dado o nmero crescente que necessita de

    cuidados de longa durao e da satisfao das suas necessidades (Imaginrio, 2004).

    Em Portugal a maioria dos cuidados aos idosos continuam a ser efectuados pelas

    famlias. Dos cuidados informais prestados s pessoas idosas, 80% so exercidos pela

    famlia, vizinhos, amigos e voluntrios (Verssimo, 2003).

    Tambm tem aumentado a conscincia das implicaes desta mudana para a vida

    da famlia e do cuidador principal, pois a responsabilidade de proporcionar ajuda pessoa

    idosa dependente, tem sido identificado como um dos factores que pode precipitar crises

    familiares e afectar especialmente o cuidador familiar, que o membro da famlia que

    suporta a maior sobrecarga fsica e emocional dos cuidados, como refere o autor Jani-le Bris

    (1994, cit. in Verssimo, 2003).

    2

  • Introduo

    neste mbito, que surge a necessidade de realizarmos este estudo, no qual

    pretendemos conhecer melhor o contexto em que se desenvolve a situao de apoio ao

    idoso, analisando as necessidades que esta populao sente, tendo em conta que a interaco

    dos diferentes factores contribui, de forma salutar, para a sua formao e desenvolvimento e,

    consequentemente, para todo o desenvolvimento e comportamento pessoal e social do

    indivduo idoso.

    Assim, o estudo que aqui apresentamos descritivo-correlacional de cariz

    exploratrio que teve como objectivo principal comparar trs grupos de idosos: idosos que

    habitam com familiares, idosos que habitam sozinhos e idosos que habitam em Lares de

    terceira idade, comparando-os ao nvel das suas necessidades de aconselhamento.

    Esta investigao decorre da necessidade de desenvolver medidas de apoio e

    programas de interveno ao nvel comunitrio, de modo a promover uma maior qualidade

    de vida do idoso dependente, institucionalizado ou residente no seu prprio domiclio.

    Compreendendo estes factores, podem ser implementadas estratgias e/ ou

    programas mais eficazes que permitam uma actuao conjunta dos profissionais e entidades

    envolvidas, que contemplem a conciliao da vida activa com as necessidades da famlia,

    dos agregados familiares e dos indivduos, assegurando que os idosos tenham uma melhor

    qualidade de vida, quer na sua prpria residncia, quer em Lares de apoio Terceira idade.

    Para uma melhor compreenso do trabalho realizado, apresentamos na primeira

    parte, a fundamentao terica, na qual foram abordados temas subjacentes ao estudo,

    3

  • Introduo

    tais como: o envelhecimento; as alteraes psicossociais do idoso; a autonomia e a

    dependncia do idoso; a institucionalizao; as necessidades sentidas pelos idosos, a nvel

    fsico, social e psicolgico e a qualidade de vida na velhice, temas importantes para uma

    melhor compreenso do trabalho.

    Na segunda parte apresentamos o estudo realizado, assim como os resultados

    obtidos e consequente discusso dos mesmos. Por fim, apresentar-se-o as consideraes

    finais do estudo.

    O presente trabalho pretende ser um contributo e uma reflexo sobre a temtica do

    envelhecimento, tendo como objectivo abrir novos caminhos, quer de aco, quer de

    investigao, para este grupo populacional.

    4

  • Parte I

    ENQUADRAMENTO TERICO

  • CAPTULO 1

    O Envelhecimento

    PRIOR VELHICE

    Sou velha e triste. Nunca o alvorecer Dum riso so andou na minha boca!

    Gritando que me acudam, em voz rouca, Eu, nufraga da Vida, ando a morrer!

    A Vida, que ao nascer, enfeita e touca

    De alvas rosas a fronte da mulher, Na minha fronte mstica de louca Martrios s poisou a emurchecer!

    E dizem que sou nova... A mocidade

    Estar s, ento, na nossa idade, Ou est em ns e em nosso peito mora?!

    Tenho a pior velhice, a que mais triste,

    Aquela onde nem sequer existe Lembrana de ter sido nova... outrora...

    Florbela Espanca

  • 1. O Envelhecimento

    Binet e Bourliere (1998, cit in Fernandes, 2002), referem que o envelhecimento

    diz respeito a todas as modificaes morfolgicas, fisiolgicas, bioqumicas e psicolgicas

    que aparecem como consequncia da aco do tempo sobre os seres vivos.

    Outro autor, Robert (1994) define o envelhecimento como a perda progressiva e

    irreversvel da capacidade de adaptao do organismo s condies mutveis do meio

    ambiente.

    Biologicamente falando, o envelhecimento compreende os processos de

    transformao do organismo que ocorrem aps a maturao sexual e que implicam a

    diminuio gradual da probabilidade de sobrevivncia (Neri, 2001).

    As pessoas envelhecem de forma diferenciada, dependendo de como organizam a

    sua vida, das circunstncias histricas, culturais, econmicas, sociais em que vivem e

    viveram, da ocorrncia de problemas de sade durante o processo do envelhecimento e da

    interaco entre factores genticos e ambientais, de forma a facilitar a sua adaptao s

    mudanas ocorridas em si e no mundo que os cerca (Imaginrio, 2004).

    O processo de envelhecimento ocorre em diferentes pessoas e grupos. Muitos

    ainda pensam que envelhecer deixar de desenvolver-se, adoecer e afastar-se de tudo. Na

    verdade o indivduo pode envelhecer e continuar a viver bem e com uma boa qualidade de

    vida, para isso necessrio que as suas necessidades bsicas sejam satisfeitas.

    importante implementar a ideia do envelhecimento activo e saudvel, como

    factor da possibilidade de a pessoa idosa permanecer autnoma e capaz de se bastar a si

    prpria, no seu meio natural de vida, ainda que com recurso a pequenas ajudas.

    7

  • O Envelhecimento

    A realidade mostra, porm, que h um nmero considervel de pessoas idosas em

    condies de acentuada dependncia, que no encontram resposta capaz nesse meio, por

    inexistncia ou insuficincia de meios econmicos e apoios, nomeadamente familiares

    (Imaginrio, 2004).

    Torna-se, por isso, frequente a necessidade do recurso a respostas sociais, em que

    se inclui o alojamento em estrutura residencial, a ttulo temporrio ou permanente.

    Particularmente nestes ltimos anos, a esperana de vida aumentou, no existindo

    qualquer previso de uma inverso nesta tendncia, antes, pelo contrrio, pensa-se que este

    fenmeno se ir generalizando, progressivamente, aos pases em vias de desenvolvimento e

    aos do terceiro mundo (Robert, 1994).

    De acordo com Fernandes (2002), o envelhecimento no uma doena: vive-se,

    logo envelhece-se. no entanto, um processo complexo e universal, sendo comum a todos

    os seres vivos, nomeadamente ao homem.

    Considerado como um processo contnuo, o envelhecimento diferente de

    indivduo para indivduo, no entanto, inevitvel e observvel em todos os seres humanos.

    O envelhecimento pode ser caracterizado em trs fases sucessivas, podendo no

    entanto, o idoso no chegar a atingi-las todas, ou pelo contrrio, atingi-las em simultneo

    como refere o autor Lidz, (1983, cit. in Fernandes, 2002).

    8

  • O Envelhecimento

    A primeira fase denomina-se, Idoso, no existindo grandes alteraes orgnicas,

    as modificaes observam-se no modo de vida provocado pela reforma, sendo que o

    indivduo ainda se considera capaz de satisfazer as suas necessidades pessoais.

    A segunda fase denominada por Senescncia, que ocorre no momento em que o

    indivduo passa a sofrer alteraes na sua condio fsica, que o levam a ter de confiar nos

    outros para satisfao das suas necessidades.

    Por ltimo, surge uma terceira fase, a fase da Senilidade, aqui o crebro j no

    exerce a sua funo como rgo de adaptao, o indivduo torna-se dependente e necessita

    de cuidados completos.

    Existem vrios factores a considerar, para alm dos genticos, quando falamos em

    envelhecimento e que vo interferir no processo, assim sendo, importante considerarmos

    os factores externos ou ambientais os socio-econmicos e os profissionais.

    A nvel individual, tm influncia negativa no envelhecimento, os problemas de

    obesidade, hbitos txicos e o no respeito por factores higinicos. Contudo os factores que

    mais parecem contribuir para o envelhecimento so a incidncia de doenas, como refere o

    autor Fernandes (2002).

    9

  • O Envelhecimento

    Motta (2006) defende que, a idade, evidentemente, no um factor natural, mas,

    sobretudo, simblico, como definio cultural, a considerao de uma certa representao

    corporal e idealista referida passagem do tempo, que se convencionou para regular a

    participao social, primeiro de grupos, grupos etrios, em graus etrios, mais tarde na

    histria em relao aos indivduos.

    A condio de idade, principalmente no que se refere ao envelhecimento,

    realmente afecta de modo diferencial homens e mulheres, bem como as suas necessidades.

    Tendo vivido, homens e mulheres, processos socializadores muito diversos, na

    sua juventude e trajectria de vida, por mais que tenham, no processo de envelhecimento,

    experincias que sejam ou aparentem ser comuns sua condio etria e tempo geracional,

    a condio de gnero d origem a experincias e representaes distintas (Motta, 2006).

    Um dos grandes equvocos em relao ao envelhecimento a tendncia para

    considerar todos os membros de uma mesma faixa etria como iguais. O tempo no a

    nica, nem a mais importante dimenso da vida, o que evidencia a falta de exactido de

    termos como terceira idade (Motta, 2006).

    O envelhecimento um processo e a velhice um perodo cujos limites nem sempre

    so ntidos.

    Sem pretender ignorar as manifestaes comuns do envelhecimento, impe-se

    considerar os aspectos individuais que fazem com que cada um apresente particularidades

    ao longo de sua vida e uma condio distinta nos anos finais de sua existncia (Guimares,

    2006).

    10

  • O Envelhecimento

    Guimares (2006), refere que o desenvolvimento individual multidimensional,

    ocorrendo nas dimenses biolgica, psicolgica e social. Desenvolve-se em mltiplas

    esferas, como famlia, trabalho, educao, lazer e outras tantas. tambm multidireccional

    uma vez que, simultaneamente, registam-se ganhos (crescimento) e perdas (declnio),

    fazendo com que aqueles que maximizam os ganhos e tenham perdas minimizadas sejam

    candidatos ao envelhecimento bem sucedido.

    O envelhecimento satisfatrio envolve a preservao e a expanso das reservas

    para o desenvolvimento pessoal, e visto como a capacidade do indivduo para responder

    com flexibilidade aos desafios resultantes das mudanas que acontecem no seu corpo, na

    sua mente e no ambiente, como resultado do processo do envelhecimento (Freitas, 2002).

    Essa capacidade vista pelo autor Freitas (2002) como competncia adaptativa e

    tem trs diferentes dimenses: emocional (estratgias e habilidades para lidar com os

    factores estressores); cognitiva (capacidade para resoluo do problema) e comportamental

    (desempenho e competncia social).

    Se os indivduos envelheceram com autonomia e independncia, com boa sade

    fsica, desempenhando papeis sociais, permanecendo activos e desfrutando de senso de

    significado pessoal, a Qualidade de Vida pode ser muito boa refere o autor Paschoal (2000

    cit. in Freitas, 2002).

    necessrio ter conscincia que envelhecer sem incapacidade um factor

    indispensvel para a manuteno de boa Qualidade de Vida.

    11

  • 1.1. Alteraes Psicossociais do Envelhecimento

    Segundo Chambel (2003) alm das alteraes biofisiolgicas, o envelhecimento

    acarreta uma srie de alteraes psicolgicas, que podem resultar em futuras necessidades

    sentidas pelos idosos:

    - Dificuldade em se adaptar a novos papis;

    - Falta de motivao e dificuldade em planear o futuro;

    - Necessidade de trabalhar as perdas orgnicas, afectivas e sociais;

    - Dificuldade em se adaptar s mudanas rpidas, que tm reflexos dramticos nos

    idosos;

    - Alteraes psquicas que exigem tratamento;

    - Depresso, hipocondria, somatizao, parania, suicdios;

    - Diminuio da auto-imagem e auto-estima.

    Tal como as caractersticas fsicas do envelhecimento, tambm as de carcter

    psicolgico esto relacionados com a hereditariedade, com a histria e com as atitudes de

    cada indivduo. As pessoas mais saudveis e optimistas tm mais capacidade em se adaptar

    ao processo psicolgico do envelhecimento (Chambel, 2003).

    Os indivduos com mais de 65 anos de idade apresentam muitas vezes quadros de

    depresso, que, muitas vezes passam despercebidos aos familiares e profissionais de sade,

    sendo encarados como caractersticas naturais do envelhecimento.

    12

  • Alteraes psicossociais do envelhecimento

    Com o avano dos anos, as pessoas deparam-se com uma srie de perdas

    significativas.

    Segundo Levet (1995), o que afecta primeiro o psiquismo da pessoa idosa a perda

    dos seus diferentes papis. Esta autora refere que a maioria das teorias da personalidade

    insiste na importncia dos papis na construo da personalidade. Da que a perda dos

    diferentes papis que foi ganhando ao longo da vida, provoque na pessoa idosa algumas

    alteraes.

    O primeiro papel a ser perdido o papel de pai. Apesar de continuarem a ser pais

    ou mes, deixam de ter responsabilidades para com os filhos, nem moral, nem econmica,

    fica apenas a dimenso afectiva, o que vai deixar um vazio doloroso, geralmente chamado

    de complexo do ninho vazio (Levet, 1995).

    O segundo papel a ser abandonado o profissional. A perda deste papel muitas

    vezes acompanhada pela perda de outros papis: sindical, social e poltico, o que vai

    acentuar o vazio social. O facto de deixar de produzir leva o reformado a sentir que perdeu

    toda a utilidade social (Levet, 1995).

    Segundo o mesmo autor, Levet (1995), o vazio social criado pela perda do estatuto

    profissional pode provocar uma perturbao do equilbrio psquico, o que implica uma nova

    estruturao da personalidade, a busca de novos centros de interesse e de ocupao.

    13

  • Alteraes psicossociais do envelhecimento

    Vivendo numa sociedade fortemente marcada por regras econmicas e bastante

    orientada pelo e para o trabalho, a vida profissional de cada indivduo assume, uma

    condio de exigncia social e de estatuto pessoal, assumindo um papel importante na

    definio e desenvolvimento da identidade.

    Segundo Fonseca (2005) a ocorrncia da reforma e a vivncia da condio de

    reformado so realidades susceptveis de gerar um conjunto de percepes, expectativas e

    sentimentos caractersticos de um processo de transio-adaptao, com eventuais

    consequncias ao nvel da satisfao de vida e do bem estar psicolgico, da sade, do

    relacionamento com os outros, dos hbitos da vida quotidiana e at mesmo da

    personalidade.

    A reforma um momento de viragem na vida das pessoas, que vale a pena estudar

    quer em termos de factores implicados na passagem reforma, quer em termos dos

    factores implicados na adaptao nova condio de vida enquanto reformado refere o

    autor Prentis (1992, cit. in Fonseca & Paul, 2005).

    No estudo efectuado por Fonseca (2005) sobre os aspectos psicolgicos da

    passagem reforma os dados evidenciaram uma perspectiva global da forma como os

    idosos lidaram com a transio inerente passagem da reformae da vida que actualmente

    levam, dando claramente a entender que, no geral, a reforma no prejudicou, alguns at

    beneficiou, o seu bem estar psicolgico, tanto pelo facto de esse bem estar se encontrar j

    adquirido, como pelo facto de as pessoas terem conseguido lidar com sucesso com as

    tarefas adaptativas que este acontecimento imps.

    14

  • Alteraes psicossociais do envelhecimento

    Quando esse bem-estar est comprometido, tal fica a dever-se sobretudo a:

    solido, ausncia de sade, incapacidade de ocupao do quotidiano com actividades

    gratificantes, ausncia de objectivos.

    O ltimo papel a desaparecer o de cnjuge, o que vai instaurar a solido afectiva

    e sexual.

    O envelhecimento, pois um perodo de grande mudana e permanente adaptao

    s novas condies de vida, todas elas mais ou menos marcadas pela limitao e pela perda.

    essencialmente caracterizado pelo luto que a pessoa de idade vai ter de fazer de uma certa

    imagem de si prprio, como pessoa, como ser social e como membro da comunidade

    Oliveira (2005).

    Sousa et al (2004), referem que enfrentar a morte do prprio e dos outros uma

    tarefa emocional marcante, especialmente na velhice, assim sendo, fazem referncia aos

    trabalhos de Howarth (1998) que verificou que os idosos, em relao morte, se

    comportavam com elevada diversidade, uns afirmavam a sua preparao para a morte,

    outros preferiam pensar s no presente ou expressar sentimentos que demonstravam o seu

    claro apego vida (os mais activos socialmente).

    Os mesmos autores (Sousa et al, 2004) identificaram quatro dimenses

    interligadas de pensamentos acerca da morte de si prprio: morte boa ou m, grau de

    controlo sobre este momento da vida, formas que podem tornar a morte legtima ou

    significativa e questes relacionadas com os rituais de funeral e desejo de ser relembrado.

    15

  • Alteraes psicossociais do envelhecimento

    A viuvez um acontecimento muito marcante na velhice. As tarefas mais

    relevantes neste perodo so o luto pela perda e reinvestimento no funcionamento futuro.

    O luto representa um grave risco de depresso em idosos, especialmente se

    associado a pouco apoio social, solido e incapacidade (Oliveira, 2005).

    O luto um conflito permanente entre a busca de um passado ao qual no se pode

    voltar, e a necessidade de aprender a viver com essa ausncia permanente, mesmo contra os

    desejos mais ntimos. um desafio difcil e que requer esforos e energia nem sempre

    fceis de reunir (Doll, 2006).

    Dibelius (2000, cit. in Doll, 2006) destaca a necessidade, especialmente nos

    primeiros meses aps o falecimento, de criar uma atmosfera de conforto e de segurana.

    Nesse sentido, poder continuar a morar no mesmo lugar, onde tudo conhecido, pode

    contribuir para encontrar essa atmosfera. Uma mudana, forcada por questes econmicas,

    percebida, muitas vezes, como uma segunda morte.

    Um outro elemento de conforto relatado por Hoonaard (2001, cit. in Doll, 2006),

    a partir de entrevistas com mulheres vivas mais velhas: quando, na primeira fase depois da

    perda, surgiram manifestaes ou ajudas sem terem sido esperadas, despertava uma

    sensao de aconchego e conforto especial, mostrando s vivas a continuao dos vnculos

    com a comunidade.

    16

  • Alteraes psicossociais do envelhecimento

    Ao serem retirados os seus interesses, actividades habituais, os seus amigos e

    familiares, toda a energia libidinosa posta nestas relaes pessoais e nestes investimentos

    sociais e profissionais, a pessoa idosa sente um vazio. Este um momento crtico para a

    pessoa de idade, ela encontra-se bruscamente com tempos livres em excesso e dispensada

    de participao na sociedade, Levet (1995).

    Para Chambel (2003) na terceira idade, as perdas aceleram-se e as crises tornam-

    se cada vez mais frequentes e difceis de ultrapassar.

    A vivncia de perda de objecto, quer se trate de perdas reais ou imaginadas e

    receadas, bem como a forma como a personalidade ser capaz de reagir a essa situao

    desempenham um papel essencial no decurso do envelhecimento.

    A solido, o isolamento e o abandono so as grandes problemticas do processo

    de envelhecimento, conduzindo a uma crescente quebra de laos sociais.

    As inmeras perdas pelas quais a pessoa passa, com especial nfase na velhice,

    conduzem a pessoa idosa a um estado progressivo de isolamento, deixando de estabelecer

    relaes com a sociedade, com aqueles que o rodeiam, deixando de se interessar pelo

    mundo e acabando por pensar que j nada tem para fazer (Chambel, 2003).

    Pode-se assim compreender a importncia que o tipo de relaes humanas que

    existem na sociedade tem para a sade mental da pessoa de idade. Numa sociedade em que

    a pessoa conta, apenas, na medida em que produtora de riqueza, em que apenas um elo

    de uma organizao marcada pela produtividade e pela rentabilidade, no h, muitas vezes,

    lugar para a pessoa de idade, que frequentemente marginalizada, suportada ou esquecida.

    17

  • 1.2 Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso

    A forma como a velhice vivida paradoxal: Tememos a velhice quase tanto

    como tememos no viver o suficiente para a atingir Walsh (1989, cit. in Sousa, Figueiredo,

    & Cerqueira, 2004).

    Hoje em dia constata-se uma clivagem e um distanciamento social entre o que

    pode ser considerado uma velhice autnoma e uma velhice dependente. Esta ltima integra

    os que se encontram em maior situao de risco, devido a situaes de dependncia fsica,

    psicolgica e social. Em oposio, a velhice autnoma demarca-se da anterior, na medida

    em que ao inserir-se num sistema de trocas recprocas em redes sociais prximas (filhos

    adultos e netos, vizinhos, amigos) possui um papel importante em termos de solidariedade

    intergeracional (Simes, 2006).

    Contudo, no caso da velhice duplamente dependente, isto , institucionalizada, ela

    apresenta configuraes especficas, parecendo ser mais solidria, predominantemente

    feminina, marcada pela viuvez, pouco escolarizada e com poucos recursos econmicos,

    procurando nas instituies funes e suportes que necessita a vrios nveis, econmico,

    social, afectivo, de sociabilidade e lazer.

    Segundo Fernandes (2002), muitas vezes a forma como a sociedade considera a

    velhice afecta a imagem que os idosos fazem de si mesmos, aumentando o risco de que as

    pessoas idosas se tornem incapazes e acabem por desenvolver uma atitude em que

    sentem apenas os aspectos negativos da sua condio. Envelhecer torna-se, por si s, um

    problema.

    18

  • Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso

    A dependncia um estado transitrio ou de longa durao em que, por razes

    ligadas falta ou Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso perda de autonomia

    fsica, psquica ou intelectual, as pessoas tm necessidade de assistncia para realizar actos

    da vida quotidiana.

    Num estudo realizado em Portugal com 1747 idosos de 75 anos ou mais (Sousa &

    Figueiredo, 2004) verificou-se que 12,5% eram totalmente dependentes, 14,7% muito

    dependentes, 54% completamente independentes e 15,8% apenas com limitaes nas

    actividades de vida diria.

    Neste estudo de salientar que, eram os idosos que respondiam e a amostra

    integrava idosos a viver na comunidade, ss ou com familiares, e em lares.

    Segundo Sousa e colegas (2004), importante fazer uma distino entre

    dependncia, Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso independncia e autonomia.

    Os autores referem que a independncia e dependncia tm sido consideradas

    como estados que s podem existir em relao a algo ou a algum para realizar uma

    determinada tarefa.

    A independncia definida como condio de quem recorre aos seus prprios

    meios para satisfao das suas necessidades, a dependncia encarada enquanto

    incapacidade do individuo para se bastar a si prprio, necessitando da ajuda de outro(s)

    para alcanar um nvel de aceitvel de satisfao das suas necessidades.

    19

  • Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso

    A autonomia ser um comportamento do indivduo em relao a si mesmo, como

    autor das suas decises, regras e escolhas (Sousa & Figueiredo, 2004).

    Sixsmith (1980, cit in Sousa & Figueiredo, 2004) estudou o significado e

    importncia da independncia para os mais velhos. Os resultados indicam que sinnimo

    de idependncia: a capacidade de tomarem conta de si prprios, sem estarem dependentes

    dos outros para tarefas domsticas e cuidados pessoais; a competncia de auto-deciso e

    liberdade para fazer escolhas (autonomia); no se sentir um fardo/ obrigao para os outros.

    Meiser- Ruge (1988, cit in Fernandes, 2002), refere que a imagem sobre as

    pessoas idosas a de que so pessoas gastas, solidrias e pobres. Esta imagem contrasta

    com a de muitos pases do terceiro mundo onde se considera que as pessoas idosas possuem

    sabedoria e afinado julgamento, pelo que so distinguidas e respeitadas, como alis o

    eram nas nossas sociedades antigas.

    Esta atitude social negativa impede as pessoas idosas de apreciarem e assumirem

    os valores positivos da velhice. A sociedade dever estar sensibilizada para a integrao

    social dos idosos, contribuindo para a reduo da dependncia, preservando a auto-

    confiana e elevando a auto-estima (Fernandes, 2002).

    Segundo Neri (1999), a autonomia a meta primordial do desenvolvimento,

    depender dos outros na vida adulta algo rejeitado e temido pela maioria das pessoas,

    principalmente quando a dependncia fsica acompanhada por perda da capacidade de

    decidir por e para si prprio, que configura incapacidade cognitiva emocional.

    20

  • Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso

    Na velhice, a manuteno da autonomia e da independncia est intimamente

    ligada qualidade de vida. Uma das formas de se verificar a qualidade de vida de um idoso

    avaliando-se o grau de autonomia que ele possui e o grau de independncia com que

    desempenha as funes do dia-a-dia, sempre levando em conta o contexto scio- cultural

    em que vive. Isso porque este que vai-lhe oferecer oportunidades ou restries para o

    exerccio total ou parcial da independncia e da autonomia (Fernandes, 2002).

    Contextos aceitadores e respeitadores dos direitos de todos os cidados, e que, por

    isso, oferecem compensaes e ajudas arquitectnicas, ergonmicas, econmicas, estticas,

    educacionais a cada um, segundo a sua singularidade, tem maior capacidade para garantir a

    autonomia e a independncia de seus membros, entre eles os idosos (Neri, 1999).

    Na literatura gerontolgica, a dependncia definida como a incapacidade de a

    pessoa funcionar satisfatoriamente sem a ajuda de um semelhante ou de equipamentos que

    lhe permitam adaptao.

    Segundo Neri (2001), a dependncia na velhice pode estar ligada a um ou vrios

    dos seguintes elementos:

    H um aumento nas perdas fsicas e nas experincias de incapacidade.

    Os problemas de sade j existentes tendem a se agravar, e as doenas tpicas

    da velhice podem comear a instalar-se.

    21

  • Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso

    Tende a aumentar a presso exercidas por pequenos eventos na vida quotidiana

    (por exemplo: pequenos conflitos e contratempos domsticos; pequenas preocupaes com

    os familiares e o cnjuge) e por grandes eventos estressantes da vida pessoal e da vida dos

    entes queridos (por exemplo: perda dos pais; e divrcio dos filhos).

    Ocorre uma tendncia para acumular os efeitos das presses exercidas por

    perdas em vrios domnios (por exemplo: morte de entes queridos, perda do trabalho e do

    emprego, afastamento dos filhos, e doenas).

    Com a idade, ocorre progressiva reduo da expectativa de vida. A conscincia

    desse facto requer esforo de adaptao do idoso. Dependendo da sade fsica e mental e de

    factores de personalidade, os idosos podem envolver-se de maneiras diferentes na

    manuteno de uma vida activa, produtiva e saudvel e no cultivo da espiritualidade. Tais

    actividades podero ajud-los a manter a independncia e a autonomia por mais tempo,

    mesmo na presena de limitaes fsicas e sociais.

    O ambiente pode impor barreiras arquitectnicas e ergonmicas, ou no

    proporcionar equipamentos que ajudem o idoso a adaptar-se a um ambiente que no foi

    construdo para ele.

    As prticas sociais discriminatrias em relao ao idoso podem restringir

    substancialmente a sua autonomia e a sua independncia por fazerem dele um ser mais

    pobre, desamparado, doente, frustrado, ressentido e sem esperana. Recusar emprego ou

    demitir; tratar como incapaz; restringir salrios e benefcios; tratar de modo desrespeitoso

    ou infantil.

    22

  • Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso

    O facto de uma pessoa no poder efectuar sem ajuda, porque idosa ou por outros

    motivos, as principais actividades de vida, quer sejam fsicas, psicolgicas, sociais ou

    econmicas, torna-o dependente.

    O autor Fernandes (2002), faz referncia a que a dependncia nos idosos surge com

    mais frequncia face a obstculos que o impedem de satisfazer as suas necessidades como:

    falta de apoio e afecto familiar; isolamento e solido devido a perda de familiares e

    amigos (com significado afectivo); a inactividade proveniente da reforma ou perda de

    foras, originando diminuio dos rendimentos econmicos; alterao do estatuto e perda

    do prestgio ou a passividade, porque no tem compromissos.

    Estes e outros factores provocam ansiedade e estresse da o resultando o

    desequilbrio que d origem a problemas que se manifestam atravs de mltiplos sinais e

    sintomas.

    23

  • CAPITULO II

    Necessidades do Idoso

    Recordando a Mocidade

    Mocidade porque foges De mim que no te esqueci

    Volta atrs mocidade No posso viver sem ti.

    Passam meses, passam anos

    Tudo tem princpio e fim S no passa esta saudade Que sinto dentro de mim.

    Saudades, tenho saudades

    Dos anos que j vivi Saudades, tantas saudades Quando me lembro de ti.

    Mocidade por onde andas?

    Volta, preciso de ti Tantos anos so passados

    E hoje sei que te perdi.

    Ermelinda Laginha Santa Casa da Misericrdia de Loul

  • 2. Necessidades do Idoso

    No ltimo censo populacional (INE, 2002) os idosos constituem 16,4% da

    populao geral. A maioria dos idosos do sexo feminino 59%. A esperana de vida

    actualmente de 79,4 anos para as mulheres e 72,4 anos para os homens. A taxa de iliteracia

    entre os idosos, ainda que em plano descendente dada a renovao geracional, continua a

    ser muito elevada (55,1%), sendo mais expressiva nas mulheres (64,7%) do que nos

    homens (41,3%). A percentagem de famlias com pelo menos um idoso 32,5% e, dentro

    destas, 50,5% consistem em idosos a viverem sozinhos e 48,1% correspondem a casais de

    idosos, sendo a coabitao reduzida, ou seja, o nmero de famlias de idosos est a

    aumentar.

    De acordo ainda com dados do INE (2002), a actividade social mais importante

    nomeada pelos idosos conversar com os vizinhos (68% fazem-no diariamente). Ver

    televiso a actividade de lazer mais frequente, mencionada por 96% dos idosos.

    O nvel de actividade e participao comunitrio muito baixa. Em mdia, menos

    de 5% dos indivduos referem participar em qualquer iniciativa ou organizao comunitria

    e a maioria diz permanecer em casa durante todo o dia. As mulheres dizem ter pior sade

    que os homens e referem ter ido ao mdico pelo menos uma vez nos ltimos trs meses.

    Um tero do total dos idosos pode ser considerado pobre, de baixos rendimentos,

    especialmente em relao aos que vivem ss.

    25

  • Necessidades do idoso

    Barreto (1988), refere que o status social influencia os problemas da terceira idade

    e a maioria das perturbaes nesta fase da vida so devidas pobreza e s privaes

    econmicas-sociais. Indivduos com elevado status social tm maiores probabilidades de

    participao activa na resoluo dos seus problemas.

    Os idosos reformados deparam-se com vrios problemas, entre os quais a perda de

    rendimentos. Outro problema com que se deparam que numa sociedade moderna, assente

    na rentabilidade e no lucro, os idosos no sendo produtores mas sim consumidores de bens

    e de servios, so vistos como improdutivos, tornando-se caros para a nossa sociedade,

    especialmente quando se trata de idosos dependentes. A sociedade moderna valoriza ainda

    a juventude e beleza, e uma vez que os idosos se afastam desse modelo, so relegados para

    segundo plano, Hasse e Cadete (1992, cit in Grcio,1999).

    Segundo os autores, Vicente, Alvarez, Cadete, Quintela, Lopes e Cordeiro,

    (2005), todas as pessoas tm necessidades bsicas - fsicas, intelectuais, emocionais,

    sociais e espirituais, assim sendo, e tendo em conta os idosos, os autores consideram vrios

    tipos de necessidades :

    - As necessidades fsicas, relacionadas com a alimentao equilibrada, a higiene, a

    preveno de doenas, a habitao e a necessidade de segurana.

    - As necessidades intelectuais, como a capacidade de comunicar, de relacionar-se

    com o meio envolvente, de raciocinar e de cultivar-se.

    26

  • Necessidades do idoso

    - As necessidades emocionais, a capacidade de amar e ser amado, a autoconfiana,

    a auto-estima, o ser valorizado e respeitado.

    - As necessidades sociais, relacionadas com sentimento de pertena, relaes

    sociais, familiares e de amizade

    - As necessidades espirituais, que compreendem a reflexo sobre o ser humano e o

    mundo, as crenas religiosas ou metafsicas.

    Para alm destas necessidades bsicas comuns a toda a humanidade, qualquer

    pessoa pode ter necessidades especficas, temporrias ou permanentes, decorrentes de

    situaes como por exemplo: estar fisicamente dependente devido a uma queda ou outro;

    ter dificuldades auditivas ou de viso; sofrer de demncia, ou de outra doena mental.

    As necessidades especficas tm uma repercusso sobre as necessidades bsicas,

    na medida em que impedem ou limitam a possibilidade de a pessoa as satisfazer sozinha.

    Se, por exemplo, fracturarmos uma mo, vamos precisar de ajuda para realizar actividades

    do quotidiano como as refeies, a higiene, as compras. Isto significa perder alguma

    autonomia e, provavelmente, sofrer restries no que respeita vida social.

    De acordo com Lowy (1983, cit in Nunes, 1999), na categorizao das

    necessidades dos idosos so definidos 4 grupos de necessidades:

    - Necessidades de coping, que segundo o autor so o ponto fulcral de todo o

    sistema de necessidades dos indivduos, porque podem condicionar a forma como estes

    indivduos se iro adaptar a esta fase do ciclo da vida;

    27

  • Necessidades do idoso

    - Necessidade expressa, que se prende essencialmente como a manuteno do

    status quo, manter o nvel de actividade que lhes permite manter a sua auto-estima,

    sentimentos de competncia assim como um sistema de relaes;

    - Necessidades de contribuio, a obrigao por parte dos idosos de contribuir

    para o bem-estar dos outros. Esta obrigao, mais uma necessidade, uma vez que neste

    intercmbio existe uma potencializao dos sentimentos de auto-estima; poder e controle

    das relaes para com os idosos;

    - Necessidade de poder, influenciar os factores externos que agem sobre as

    nossas vidas.

    A este propsito Lowy (1983, cit in Nunes, 1999) afirma que se os idosos no

    forem capazes de influenciar os outros, tm uma certa dificuldade em lidar com as suas

    necessidades bsicas. Da que os indivduos idosos tenham necessidade de manterem um

    certo nvel de autonomia e de controle nalguns aspectos do seu espao vital. Estas

    necessidades devem ser analisadas tendo em conta os aspectos Fsico; Psicolgico;

    Econmico e Social dos idosos.

    28

  • 2.1. Suporte Social para a Terceira Idade

    Embora velhice no seja sinnimo de doena, na idade mais avanada h maior

    risco de comprometimento da capacidade funcional, com consequente perda de autonomia

    e independncia. A maioria dos idosos permanece capaz de cuidar de si mesma at idade

    bem avanada. S uma minoria deles torna-se incapacitada a ponto de necessitar de ajuda

    para as actividades de vida diria.

    Cerca de 5% dos idosos de mais de 65 anos tm algo grau de incapacidade

    funcional; 20% apresentam leve grau de incapacidade; 13% dos que tm entre 65 e 74 anos

    e 25% dos que esto entre 75 e 84 apresentam incapacidade moderada; aos 85 anos, mais

    46% so moderadamente incapacitados referem os autores Gatz, Bengston & Blum (1990,

    cit. in Medeiros & Lemos, 2006).

    Quando as funes deterioram, surgem as dificuldades e a necessidade por

    cuidados cada vez mais intensos, abrangentes e constantes. Entram em cena, ento, as redes

    de suporte ou de apoio social.

    O cuidado pode ser classificado como formal e informal. Segundo Campedelli

    (1993, cit. in Medeiros & Lemos, 2006) no cuidado informal o conjunto de aces de

    ajuda e proteco total ou parcialmente exercido pelos familiares, vizinhos ou amigos de

    idosos que vivenciam situaes temporrias ou permanentes de comprometimento da

    capacidade de auto cuidado e de exercer actividades prticas do dia-a-dia.

    29

  • Suporte Social para a Terceira Idade

    Fala-se em cuidado formal quando o conjunto de aces de ajuda e proteco ao

    idoso com problemas eventuais ou permanentes de sade prestado por profissionais e pela

    rede de servios de sade, estatais e particulares.

    Veremos que o suporte ou apoio ao idoso pode assumir vrias feies,

    dependendo das suas necessidades fsicas, sociais e psicolgicas e das condies do

    contexto em que vive.

    No atendimento s necessidades especficas desse grupo, os sistemas de suporte

    social so fundamentais.

    Redes de suporte social so conjuntos hierarquizados de pessoas que mantm

    entre si laos tpicos das relaes de dar e receber. Elas existem ao longo de todo o ciclo

    vital, atendendo motivao bsica do ser humano vida gregria. No entanto, a sua

    estrutura e suas funes sofrem alteraes dependendo das necessidades das pessoas (Neri,

    2001).

    A mesma autora Neri (2001), resume a literatura psicogerontolgica sobre as

    principais funes das redes de relaes e suporte social para os adultos e idosos em:

    Dar e receber apoio emocional, ajuda material, servios e informaes.

    Manter e afirmar a entidade social.

    Estabelecer novos contactos sociais.

    Permitir s pessoas crer que so cuidadas, amadas e valorizadas.

    Dar-lhes garantia de que pertencem a uma rede de relaes comuns e mtuas.

    30

  • Suporte social para a Terceira Idade

    Auxiliar as pessoas a interpretar expectativas pessoais e grupais e avaliar as

    prprias realizaes e competncias.

    Ajud-las a encontrar sentido nas experincias do desenvolvimento,

    principalmente quando elas so no-normativas e estressantes.

    Possibilitar que as pessoas desenvolvam estratgias de comparao de suas

    competncias e realizaes com as de outras pessoas (mecanismos de comparao social)

    com isso elas podem manter a auto- imagem e a auto-estima e aprender sobre si prprias.

    Esses mecanismos so muito importantes na velhice, principalmente se e quando os idosos

    tm que se adaptar s perdas fsicas e sociais.

    Embora os apoios sociais e financeiros terceira idade no nosso pas ainda sejam

    insuficientes face s carncias da populao idosa, ser importante salientar os existentes.

    No mbito da aco social podemos encontrar uma srie de respostas sociais para a

    populao idosa, desde as mais tradicionais s mais inovadoras (Grcio, 1999).

    Como respostas tradicionais temos os Lares de Idosos, que so equipamentos

    colectivos de alojamento permanente ou temporrio, destinados a fornecer respostas a

    idosos que se encontram em risco, com perda de independncia e/ou autonomia.

    Tm como objectivos proporcionar servios permanentes e adequados

    problemtica do idoso; contribuir para a estabilizao ou retardamento do processo de

    envelhecimento, desenvolver apoios necessrios s famlias dos idosos, fortalecer a relao

    inter-familiar.

    31

  • Suporte Social para a Terceira Idade

    Os servios proporcionados pelos lares so o alojamento, a alimentao, cuidados

    de sade, higiene e conforto, convvio, ocupao, animao e recreio.

    Os Centros de Dia, constituem um apoio atravs da prestao de um conjunto de

    servios dirigidos a idosos da comunidade, cujo objectivo fundamental desenvolver

    actividades que proporcionem a manuteno dos idosos no seu meio scio-familiar.

    O objectivo do Centro de Dia reintegrar os idosos na comunidade, mantendo-os

    no seu domicilio, prestar servios que satisfaam as necessidades bsicas, alertar os idosos

    para um diagnstico e tratamento de preveno, prestar apoio psicossocial, fomentar as

    relaes interpessoais entre os idosos e dos idosos com outros grupos etrios, tendo com

    finalidade evitar o isolamento.

    Os servios prestados consistem no fornecimento de refeies, proporcionar o

    convvio, recreio, animao e ocupao, proporcionar cuidados de higiene e conforto e

    fornecer o tratamento de roupas.

    Nas respostas inovadoras destaca-se o Apoio Domicilirio, que consiste na

    prestao de servios por ajudantes familiares no domicilio dos utentes, quando estes por

    motivo de doena ou outro tipo de dependncia, sejam incapazes de assegurar temporria

    ou permanentemente a satisfao das necessidades bsicas e realizar as suas actividades

    dirias.

    32

  • Suporte Social para a Terceira Idade

    Os objectivos deste apoio domicilirio so contribuir para melhorar a qualidade de

    vida dos idosos, contribuir para retardar ou evitar a institucionalizao, assegurar s pessoas

    idosas a satisfao das suas necessidades bsicas, prestar cuidados fsicos e psicossociais

    aos idosos, contribuindo para o seu equilbrio e bem-estar e colaborar na prestao de

    cuidados de sade.

    Os servios prestados incluem cuidados de higiene e conforto, trabalhos de

    limpeza e arrumao da casa, confeco, transporte e/ou distribuio de refeies,

    tratamento de roupas, aquisio de artigos necessrios para a casa, acompanhamento,

    recreao e convvio, pequenas reparaes em casa, contactos com o exterior e

    administrao de medicamentos.

    A problemtica crucial dos idosos na sociedade actual, e em particular na famlia,

    hoje mais cadente, no s pela percentagem cada vez maior de velhos em comparao

    com outras faixas etrias, mas tambm pelo abandono a que podem ser votados (Fernandes,

    2002).

    No so s os familiares e as Instituies sociais que tm o dever de apoiar e

    confortar o idoso, mas tambm os responsveis da Nao, para cumprirem minimamente o

    que diz a Constituio da Republica Portuguesa que dedica aos idosos o artigo 72: 1- As

    pessoas idosas tem o direito segurana econmica e a condies de habitao e convvio

    familiar e comunitrio que respeitem a sua autonomia e evitem e superem o isolamento ou

    a marginalizao social.

    33

  • Suporte Social para a Terceira Idade

    2- A poltica da terceira idade engloba medidas de carcter econmico, social e cultural,

    tendentes a proporcionar s pessoas idosas oportunidade de realizao pessoal, atravs de

    uma participao activa na vida da comunidade. (Oliveira, 2005).

    34

  • 2.2. A Famlia cuidadora

    Em qualquer idade, a famlia considerada, social e culturalmente a base e o

    habitat de uma pessoa. Observa-se, porm, que tanto na fase da infncia, quanto na fase da

    velhice exigem do ambiente familiar cuidados frente s alteraes hormonais, culturais e

    psicossociais. No caso de idosos, h necessidades que exigem cuidados fisiolgicos e

    psicolgicos (Imaginrio, 2004).

    Antigamente, existia como que um culto aos antigos, num ritual de respeito

    sabedoria de antecedentes, as famlias tradicionalmente honravam cuidar de seus idosos.

    A famlia como instituio fundamental tem sofrido transformaes, devido ao

    envelhecimento demogrfico e a uma vasta gama de mudanas econmicas e sociais,

    apesar das mudanas sociais influenciarem a estrutura familiar e afectarem a sua

    capacidade de cuidar, mesmo assim, a famlia proporciona aproximadamente 80 a 90% dos

    cuidados aos familiares idosos refere o autor Haley (1995, cit in Lage, 2002).

    O papel da famlia na prestao de cuidados aos idosos dependentes comea a ser

    reconhecido e tornou-se um assunto de prioridade crescente nos ltimos anos.

    De acordo com Imaginrio (2004), uma percentagem significativa de idosos

    encontra-se alojado em casa de familiares e entre os idosos que mudaram de residncia o

    principal motivo para a mudana foi a necessidade de apoio da famlia.

    35

  • A Famlia Cuidadora

    ainda de salientar que, por vezes o motivo que est na origem da mudana de

    casa pelo idoso, so os maus tratos por parte do cuidador anterior, tal facto, parece

    evidenciar de algum modo a vulnerabilidade dos idosos e particularmente dos idosos

    dependentes (Lage, 2002).

    A maioria dos estudos realizados com familiares prestadores de cuidados apontam

    para o predomnio das mulheres nas relaes entre geraes e redes de apoio familiar. As

    principais razes pelas quais os cuidadores se ocupam do idoso, prendem-se com motivos

    de obrigao familiar ou pessoal seguindo-se a solidariedade familiar ou conjugal

    (Imaginrio, 2004).

    frequentemente referenciado, que o apoio pessoa idosa dependente, origina

    um estresse crnico, com efeitos negativos para a sade dos vrios membros da famlia

    envolvidos (Lage, 2002).

    Outros autores, tais como Mendona (2000) referem que a maioria dos cuidadores

    mencionam que o facto de cuidarem interferiu com a sua vida, ressaltando as interferncias

    com a sade, com a esfera afectiva, com o plano econmico e com a profisso.

    Lage (2002), faz uma distino entre trs categorias de cuidadores: primrios,

    secundrios e tercirios. Os primrios so os principais responsveis pelo idoso e pelo

    cuidado e os que realizam a maior parte das tarefas; os secundrios no tm o mesmo nvel

    de responsabilidades em geral actuam de forma pontual em algumas tarefas de cuidados

    bsicos e principalmente em tarefas instrumentais.

    36

  • A Famlia cuidadora

    Os cuidadores tercirios no tm responsabilidade pelo cuidado, actuam

    esporadicamente e geralmente realizam tarefas externas que no implicam contacto com o

    idoso.

    Na realidade, o grupo familiar e a comunidade so lugares naturais de proteco e

    incluso social. Sempre estiveram presentes, como suporte a programas voltados a criar

    processos de incluso social, vnculos relacionais e de implementao de projectos

    colectivos de melhorias da qualidade de vida. na casa, na famlia, no convvio com

    vizinhos que o indivduo constri relaes primrias que constituem a sua base de

    sustentao para o confrontar das dificuldades quotidianas.

    37

  • 2.3 Institucionalizao

    Os servios institucionais representam um recurso importante para os idosos,

    tendo em conta a perda da autonomia e o estado de sade geral, deste modo importante

    compreender as necessidades sentidas pelo idoso que a determinada altura de sua vida

    internado numa instituio.

    De acordo com Fernandes (2002), quando as incapacidades fsicas e psicolgicas

    da pessoa idosa aumentam e as capacidades do meio ambiente diminuem, torna-se

    necessrio, encarar a hiptese de internamento numa instituio.

    A institucionalizao do idoso surge, normalmente para a famlia ou para o idoso,

    como a ltima alternativa, quando todas as outras so inviveis. No entanto, as respostas

    sociais nem sempre tm tido em conta as dimenses em que se decompe a problemtica

    social da velhice e os resultados afastam-se muitas vezes dos objectivos inicialmente

    propostos.

    Ao contrrio do que muitas vezes se pensa, a percentagem de idosos

    institucionalizados relativamente baixa. Segundo dados do INE (1999), 97,5% da

    populao idosa vive em famlias clssicas e apenas 2,5% vive em instituies.

    Os principais motivos da admisso de idosos em instituies so, segundo uma

    pesquisa realizada por Prado e Petrilli (1999, cit in Vicente et al, 2005), a falta de

    disponibilidade familiar relacionado a dificuldades financeiras, distrbios de

    comportamento, e precariedade nas condies de sade.

    O ambiente um factor importante a ter em conta na problemtica das pessoas

    idosas.

    38

  • Institucionalizao

    Se elas se sentirem em perigo, refugiam-se para a segurana de um mundo interior, entram

    em regresso e a sua sade pode ser por tal facto afectada, Fernandes (2002).

    O mesmo autor, Fernandes (2002) considera que o ambiente deve ser avaliado,

    quer no domiclio quer em instituies, a fim de assegurar que este suficientemente eficaz

    e simultaneamente estimulante. Os idosos so particularmente vulnerveis s modificaes

    do ambiente, dado que sofrem com muita frequncia dfices sensoriais e ou outros

    problemas. Quando o ambiente no adequado e ameaa a integridade do idoso, este pode

    regredir e o seu estado de sade deteriorar-se de forma rpida.

    So mltiplos os factores de risco que integram o ambiente dos idosos, que podem

    representar uma ameaa satisfao das suas necessidades bsicas e que podem ameaar a

    sade.

    Os idosos quando integram na Instituio, geralmente vivenciam uma radical

    ruptura de seus vnculos relacionais afectivos, convivendo quotidianamente com pessoas

    que no possuam qualquer vnculo afectivo. Independentemente da qualidade da

    instituio, ocorre normalmente o afastamento da vida social e familiar. Na instituio, o

    idoso torna-se obrigado a se adaptar e aceitar normas e regulamentos, como horrios e

    alimentao.

    Papaleo Netto (2000), defende que mesmo estando numa instituio, para a vida

    do idoso o ambiente familiar crucial, pois o contacto com a famlia permite que os idosos

    se mantenham prximos ao seu meio natural de vida (a prpria famlia). Alm disso, o

    contacto familiar preserva o seu auto-conhecimento, valores e critrios.

    39

  • Institucionalizao

    A institucionalizao do idoso surge, normalmente para a famlia ou para o idoso,

    como a ltima alternativa, quando todas as outras so inviveis. No entanto, as respostas

    sociais nem sempre tm tido em conta as dimenses em que se decompe a problemtica

    social da velhice e os resultados afastam-se muitas vezes dos objectivos inicialmente

    propostos.

    Assim sendo, uma vez o idoso institucionalizado, importa evitar todos os factores

    negativos da institucionalizao (Vicente et al, 2005).

    Devem ser aceites e respeitadas as necessidades sociais, psicolgicas, religiosas,

    culturais, polticas e sexuais dos idosos. Permitindo apenas as restries necessrias

    consecuo de um bom nvel de cuidados, proteco da sade e segurana do idoso,

    Fernandes (2002).

    As estruturas residenciais para pessoas idosas apesar de uma evoluo

    significativa, ainda se encontram pouco sensibilizadas para novos modelos de interveno,

    que privilegiem um projecto institucional dinamizador, orientador e respeitador dos

    projectos individuais dos residentes.

    Tomar a deciso e entrar para uma estrutura residencial uma grande mudana na

    vida de uma pessoa. Com ela vem, quase sempre, a separao do meio familiar, obrigando

    a pessoa idosa a adaptar-se a um novo ambiente. , pois, um acto de grande impacto

    emocional, que representa muitas vezes uma ruptura em relao vida e aos hbitos

    anteriores.

    40

  • 2.4 Qualidade de vida na velhice

    Nas ltimas dcadas a populao da terceira idade, tem aumentado quer em

    nmero, quer em proporo. Esta problemtica adquire cada vez mais relevncia e

    actualidade, quer a nvel nacional, quer a nvel mundial, dado o crescimento da populao

    idosa e o seu peso cada vez maior em relao populao jovem. Assim, j que o

    envelhecimento populacional est a generalizar-se necessrio viver esta idade de uma

    forma positiva (Neri, 1999).

    Diminuir dificuldades, melhorar as condies de habitao, ter sade, estar

    prximo da famlia, entre outras, so necessidades importantes para o idoso e para a sua

    qualidade de vida.

    Para Shumaker, Anderson e Czajkowski (1990, cit In Ribeiro, 1994)

    Qualidade de Vida consiste numa satisfao global e individual com a vida, uma sensao

    de bem-estar geral e pessoal.

    Segundo Ribeiro (1994) h que considerar algumas concepes subjacentes

    definio de qualidade de vida. Para tal e de modo a obter uma melhor compreenso deste

    conceito, podem considerar-se vrias abordagens:

    - A abordagem psicolgica, que se centra na distribuio entre o ter doena e

    sentir, a doena;

    - a abordagem custo benefcio, que se centra na anlise da quantidade e da

    qualidade de vida;

    41

  • Qualidade de Vida na Velhice

    - a anlise centrada na comunidade, que avalia o impacto da doena numa

    comunidade;

    - a abordagem funcional que enfatiza os aspectos funcionais, fsicos, psicolgicos

    e sociais como um todo.

    Ribeiro (1999) refere que vrios dos resultados encontrados em diferentes

    trabalhos, permitem observar, que o conceito de sade dos que apresenta correlao mais

    elevada com a qualidade de vida.

    Segundo o mesmo autor Ribeiro (1999), interagindo na sade melhora-se a

    qualidade de vida.

    De facto, o avano da idade aumenta a possibilidade de ocorrncia de doenas e

    de prejuzos funcionalidade fsica, psquica e social. Mais anos vividos podem ser anos de

    sofrimento para os indivduos e suas famlias; anos marcados por doenas, com sequelas,

    declnio funcional, aumento da dependncia, perda da autonomia, isolamento social e

    depresso (Simes, 2006).

    Cramer (1993, cit In Ribeiro, 1994) define Qualidade de Vida como bem estar

    fsico, mental e social completo, e no apenas a ausncia de doena.

    O autor Paschoal (2006), refere que se os indivduos envelhecerem com

    autonomia e independncia, com boa sade fsica, desempenhando papis sociais,

    permanecendo activos e desfrutando de senso de significado pessoal, a qualidade de sua

    vida pode ser muito boa.

    42

  • Qualidade de Vida na Velhice

    Segundo Ribeiro (1994), a Qualidade de Vida relacionada com a sade avaliada,

    considerando cinco componentes: sade fsica, sade psquica, nvel de independncia,

    relaes sociais e ambientais.

    Lawton (1983, cit. in Paschoal, 2006), construiu um modelo de qualidade de vida na

    velhice em que a multiplicidade de aspectos e influncias inerentes ao fenmeno

    representada em quatro dimenses interrelacionadas:

    - A primeira, condies ambientais, diz respeito ao contexto fsico, ecolgico e ao

    construdo pelo homem, que influi na competncia adaptativa (emocional, cognitiva e

    comportamental) e lhe d as bases. Ou seja, o ambiente deve oferecer condies adequadas

    vida das pessoas.

    - A segunda, competncia comportamental, traduz o desempenho dos indivduos

    frente s diferentes situaes de sua vida e, portanto, depende do potencial de cada um, de

    suas experincias e condies de vida, dos valores agregados durante o curso da vida e do

    desenvolvimento pessoal, que, por sua vez, influenciado pelo contexto histrico

    cultural.

    - A terceira, qualidade e vida percebida, reflecte avaliao da prpria vida,

    influenciada pelos valores que o indivduo foi agregando e pelas expectativas pessoais e

    sociais. Igualmente, a pessoa avalia as condies do seu ambiente, fsico e social, e a

    eficcia de suas aces nesse ambiente.

    43

  • Qualidade de Vida na Velhice

    - A quarta, bem- estar subjectivo, significa satisfao com a prpria vida,

    satisfao global e satisfao especfica em relao a determinados aspectos da vida;

    reflecte as relaes entre condies objectivas (ambientais), competncia adaptativa e

    percepo da prpria qualidade de vida, as trs dimenses precedentes.

    analisada pelos antecedentes pessoais (histricos, genticos e socioeconmicos,

    culturais), pela estrutura de traos de personalidade e pelos seus mecanismos de auto-

    regulao (e senso de significado pessoal, sentido da vida, religiosidade/ transcendncia,

    senso de controle, senso de eficcia pessoal e adaptabilidade.

    O autor Paschoal (2006) faz referncia a estudos empricos que indicam existirem

    fortes associaes entre a qualidade de vida percebida, o bem-estar subjectivo e

    mecanismos da personalidade, como, por exemplo o senso de controle, o senso de eficcia

    pessoal, o senso de significado e as estratgias de coping. Elas tm fortes relaes com a

    competncia adaptativa, que se expressa em competncia emocional (capacidade de lidar

    com factores de estresse), em competncia cognitiva (capacidade de resoluo de

    problemas) e em competncia comportamental (desempenho e competncia social).

    No que diz respeito imagem social da velhice, muitas vezes esta vista como

    uma poca de perdas, incapacidades, impotncia, dependncia, mas, tambm, pela situao

    objectiva de reformas insuficientes, analfabetismo, oportunidades negadas, desqualificao

    tecnolgica, exclusosocial. Mesmo em condies to adversas, encontramos idosos que se

    sentem felizes, que se dizem contentes com suas vidas (Neri, 1999).

    44

  • Qualidade de Vida na Velhice

    Paschoal (2006) refere que uma parte da literatura gerontolgica tem trabalhado

    os conceitos de envelhecimento bem sucedido, envelhecimento positivo e qualidade da

    velhice sob o enfoque de satisfao de vida e do estado de nimo (moral), tanto que

    satisfao de vida no s representa qualidade de vida, como tambm uma dimenso

    chave nas avaliaes de estado de sade na velhice.

    Larson (1978, cit. in Paschoal, 2006) pesquisou factores associados satisfao de

    vida entre idosos e encontrou sade ptima, nvel socio-econmico mais alto, ser casado e

    maior actividade social. Em contrapartida, idade, raa, sexo e emprego no mostraram

    relao significativa. Os factores predisponentes mais importantes foram sade, actividade

    social e prazer sexual.

    Paschoal (2006) refere uma reviso de literatura feita por Diener e Suih (1998)

    que apontam os seguintes dados sobre a relao entre eventos objectivos e subjectivos e a

    avaliao da qualidade de vida na velhice:

    (a) Os eventos subjectivos mostram maior associao com qualidade de vida na

    velhice do que os objectivos, tais como a renda, arranjos de moradia e sade fsica;

    (b) H forte relao entre ter medo de ficar velho, solido e isolamento, senso de

    desamparo e de incompetncia comportamental, como depresso, baixa sade percebida e

    insatisfao com a vida;

    (c) A despeito do declnio na sade, da viuvez e da diminuio de renda que

    ocorrem na velhice, existe estabilidade no senso de bem-estar dos idosos, que geralmente

    pontuam alto em escalas de satisfao;

    45

  • Qualidade de Vida na Velhice

    (d) Os jovens so mais pessimistas e exigentes quanto qualidade de vida do que

    os idosos;

    (e) Os idosos mais ajustados so os que tm metas de vida e que so mais capazes

    de adapt-las s condies impostas pela velhice;

    (f) Doenas e incapacidade que determinam restries nas oportunidades de

    acesso estimulao satisfatria e ao envolvimento social relacionam-se com a depresso e

    com afectos negativos;

    (g) Os idosos tm vida emocional menos intensa do que os adultos, possivelmente

    como resposta adaptativa aos limites da velhice, ou, ento, como reflexo de um processo de

    seleco de interesses;

    (h) Os homens idosos so mais satisfeitos do que as mulheres idosas, que so mais

    doentes e mais queixosas do que aqueles;

    (i) As mulheres idosas tendem a apresentar pior qualidade de vida do que os

    homens porque em geral so mais velhas, mais doentes, mais isoladas, mais pobres e mais

    oneradas por cuidados casa e ao conjugue do que os homens.

    Qualidade de vida do idoso parte importante da pesquisa em qualidade de vida,

    devido relevncia que a longevidade trouxe vida humana. Para os idosos, populao

    com prevalncia aumentada de doenas, a dimenso Sade tem importncia fundamental

    para sua qualidade de vida (Neri, 1999).

    46

  • Qualidade de Vida na Velhice

    O desafio que se prope aos indivduos e s sociedades conseguir uma esperana

    de vida cada vez maior, com uma qualidade de vida cada vez melhor, para que os anos

    vividos em idade avanada sejam plenos de significado e dignidade.

    Paschoal (2006), numa pesquisa recente, entrevistando 193 idosos da cidade de

    So Paulo, divididos em quatro grupos (doentes de um ambulatrio de geriatria; saudveis,

    pertencentes a grupos de terceira idade; doentes, com dificuldade de sair de casa; saudveis,

    praticantes de actividade fsica regular), encontrou oito dimenses extremamente relevantes

    para a qualidade de vida de idosos. So elas: Sade fsica, Capacidade Funcional/

    Autonomia Psicolgica, Social/ Famlia, Econmica, Espiritualidade/ Transcendncia,

    Hbitos/ Estilos de Vida e Meio Ambiente.

    Neri (1999) refere que, felizmente, aumenta a conscincia de que ter uma boa

    velhice, no atributo ou responsabilidade pessoal. Depende sim, da interaco entre o

    indivduo e o seu contexto, ambos em constante transformao. Os limites de envelhecer

    bem significam ento um referencial, horizonte ou ideal, sujeitos a condies e valores

    histrico-culturais.

    Com a previso do crescimento do nmero de idosos que necessitam de

    assistncia ao longo dos prximos anos, surge o objectivo de promover uma vida

    satisfatria para os idosos, satisfazendo as suas necessidades, tanto a nvel fsico como

    mental, tentando fazer do envelhecimento uma recompensa e no um enorme fardo, que o

    idoso acarreta, possuindo assim uma vida com qualidade refere o autor Paschoal (2000, cit

    In Freitas, 2002).

    47

  • Qualidade de Vida na Velhice

    A natureza das necessidades dos idosos situam-se a vrios nveis (so de

    ordem social, familiar, fsica e psicossocial e de ordem socio-econmica) e vrios so os

    autores (e.g. Neri, Paschoal e Ribeiro) que reflectem sobre a influncia destes factores

    na sade do idoso.

    Os idosos raramente tm problemas de sade especficos, nicos e precisos,

    eles so qualificados como vulnerveis, susceptveis e frgeis. no mundo dos

    cuidados ao e com o idoso que necessrio entrar, entrando nele de forma a perceber os

    idosos como alvo principal de cuidados, na perspectiva que diz respeito ao idoso que

    est nossa frente, com caractersticas muito especificas, as suas, das quais decorre

    aquilo que chamado, cuidados personalizados (Paschoal, 2006).

    Neri (1999) aponta vrios elementos como determinantes ou indicadores de

    bem-estar na velhice: longevidade; sade biolgica; sade mental; satisfao; controle

    cognitivo; competncia social; produtividade; actividade; eficcia cognitiva; status

    social; renda; continuidade de papeis familiares e ocupacionais e continuidade de

    relaes informais em grupos primrios.

    Segundo Neri (1999) identificar as condies que permitem envelhecer bem,

    com boa qualidade de vida e senso pessoal de bem estar, a tarefa de vrias

    disciplinas no mbito das cincias biolgicas, da psicologia e das cincias sociais. A

    investigao sobre as condies que permitem uma boa qualidade de vida na velhice,

    bem como sobre as variaes desse estado reveste-se de grande importncia cientfica e

    social.

    48

  • Qualidade de Vida na Velhice

    Ao tentar resolver a aparente contradio que existe entre velhice e bem-estar,

    a pesquisa pode no s contribuir para a compreenso do envelhecimento e dos limites

    para o desenvolvimento humano, como tambm para a gerao de alternativas vlidas

    de interveno visando ao bem-estar de pessoas maduras (Neri, 1999).

    De acordo com Paschoal (2006) para os idosos que vivem em lares e

    instituies, so vrios os factores que podem contribuir para o aumento da qualidade

    de vida, que passam desde a preservao da identidade, fazendo com que o idoso

    mantenha: uma percepo pessoal com uma histria, sentimentos de utilidade e uma

    noo de realizaes pessoais; o direito privacidade; tomada de deciso e uma

    continuidade dos papis sociais normais,s assim o idoso poder sentir que as suas

    necessidades esto a ser respeitadas.

    Reconhece-se, no entanto, que o envelhecimento um processo de perdas

    biolgicas e sociais, que traz vulnerabilidades que so diferenciadas por gnero, idade,

    grupo social, raas e regies geogrficas, entre outros (Neri, 1999).

    diferenciado tambm o momento (a idade) em que elas se iniciam. Tais

    vulnerabilidades so afectadas pelas capacidades bsicas (com as quais o indivduo

    nasceu), pelas capacidades adquiridas ao longo da vida e pelo contexto social em que os

    indivduos se encontram.

    Conclui-se assim, que a satisfao das necessidades na velhice depende da

    capacidade de manter ou restaurar o bem-estar subjectivo, justamente numa poca da

    vida em que a pessoa est mais exposta a riscos e crises de natureza biolgica,

    psicolgica e social.

    49

  • PARTE II

    ESTUDO EMPRICO

  • OBJECTIVOS E METODOLOGIA DE INVESTIGAO

  • 3. OVERVIEW A questo do envelhecimento vem ganhando representatividade tendo em

    conta o prolongamento da esperana de vida da populao e consequente crescimento

    do nmero de idosos em todo o mundo.

    As diversas reas do conhecimento vm dando nfase, nas suas pautas de

    investigao e interveno, velhice e ao processo de envelhecimento bem como

    disponibilizando aparatos tcnico-cientficos para a melhoria das condies de vida

    dessa populao, cujo crescimento gira em torno de 11 milhes a cada ano (Neri, 2002).

    A Psicologia Social, particularmente nas ltimas dcadas, tem desenvolvido

    microteorias contemplando a velhice, de modo que tem contribudo, ao lado da

    Psicologia da Personalidade, para o entendimento dos diversos factores intrnsecos ao

    processo de envelhecimento, possibilitando, com isso, intervenes psicossociais que

    propiciem melhores condies de vida ao idoso (Neri, 2002).

    Muitos estudos tm sido desenvolvidos com a populao idosa, no entanto

    importante ter em conta, as necessidades especficas dos idosos, no esquecendo que

    muitas vezes esses mesmos idosos, esto inseridos em contextos diferenciados.

    Assim, nosso propsito abordar neste estudo, o envelhecimento,

    relacionando as necessidades de aconselhamento percepcionadas pelos idosos, tendo em

    conta o contexto em que os idosos habitam.

    Para tal foi elaborado um estudo descritivo correlacional de cariz

    exploratrio, com o objectivo de comparar trs grupos, ao nvel das necessidades de

    aconselhamento.

    52

  • O estudo incide sobre a populao idosa e participaram nesta investigao 302

    participantes, divididos por trs grupos de idosos: idosos institucionalizados; idosos que

    residem sozinhos e idosos que residem com os seus familiares.

    Pretende-se assim comparar estes trs grupos ao nvel das necessidades de

    aconselhamento em funo do design: 3 (contexto: habitam com familiares vs habitam

    sozinhos vs institucionalizados) x 2 (gnero: homem vs mulher) x 2 (classe etria: igual

    ou inferior a 75 anos vs superior a 75 anos).

    No sentido de elaborar este trabalho procedeu-se ao levantamento de algumas

    questes fundamentais para este estudo.

    Pergunta 1- Em que medida que existe relao entre as necessidades de

    aconselhamento e os desejos de aconselhamento, tendo em conta os diferentes

    contextos (grupo de idosos - institucionalizados, que residem sozinhos e que residem

    com os seus familiares).

    Pergunta 2- Em que medida que existe relao entre as necessidades de

    aconselhamento e os desejos de aconselhamento, tendo em conta o gnero.

    Pergunta 3- Em que medida que existe relao entre as necessidades de

    aconselhamento e os desejos de aconselhamento, tendo em conta diferentes classes

    etrias.

    .

    53

  • 3.1. EXPOSIO DAS VARIVEIS

    Variveis Organsmicas

    Definio Operacionalizao

    Classe etria 1- Igual ou inferior a 75 anos

    2 -Superior a 75 anos

    Gnero 1- Masculino

    2- Feminino

    Contexto 1- Idosos que habitam com familiares

    2- Idosos que habitam sozinhos

    3- Idosos institucionalizados

    Variveis em Estudo

    Alpha Global

    Necessidades de aconselhamento

    Desejos de aconselhamento

    0.914

    Definio Operacionalizao

    Necessidades de Aconselhamento

    Todas as variveis que a seguir se apresentam so operacionalizadas atravs de uma escala tipo Likert, de 5 pontos, em que os extremos vo de Discordo Totalmente (1) a Concordo Totalmente (5). So 18 itens avaliados no total, distribudos por 4 dimenses, necessidades pessoais (7 itens), necessidades sociais (4 itens), necessidades de actividade (4 itens) e necessidades ambientais (3 itens).

    54

  • 1.Necessidades Pessoais 3-Eu no tenho visitas suficientes. 4- Eu estou preocupado com a minha sade. 5- difcil, para mim, tomar decises. (Alpha- 0.457) 6- Estou preocupado(a) com as mudanas do meu corpo medida que envelheo. 7- Sentia-me melhor comigo prprio(a) quando era mais novo(a). 15- Eu tenho problemas em lidar com a morte. 18- Eu estou preocupado(a) com a minha sade.

    2.Necessidades Sociais 2- difcil, para mim, lidar com os meus familiares. 8- difcil, para mim, fazer amizades. (Alpha-0.741) 10- Eu estou preocupado(a) com os meus sentimentos Sexuais. 16- Eu estou preocupado(a) com a minha situao Marital.

    3.Necessidades de Actividade 1- Eu no estou feliz com as minhas actividades de tempos livres. 12- Eu estou preocupado(a) com a adaptao minha (Alpha- 0.423) reforma. 13- difcil, para mim, encontr