Estudos econômicos sobre a política habitacional e o ......Habitacional e o Desenvolvimento”,...

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Estudos econômicos sobre e o desenvolvimento a política habitacional Fernando Garcia de Freitas Ana Lelia Magnabosco CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS

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  • Estudos econômicos sobree o

    desenvolvimento

    apolítica habitacional

    Fernando Garcia de FreitasAna Lelia Magnabosco

    CONFEDERAÇÃONACIONAL DESERVIÇOS

  • Estudos econômicossobre a políticahabitacional e o

    desenvolvimento

    Fernando Garcia de FreitasAna Lelia Magnabosco

    São Paulo

    2019Confederação Nacional de Serviços

    1ª edição

  • DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (CÂMARABRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL)

  • Presidente da República

    Vice Presidente da República

    Ministro do Desenvolvimento Regional

    Secretário Nacional de Habitação

    Chefe de Gabinete

    Diretora do Departamento de Urbanização

    Diretor do Departamento de Produção Habitacional

    Coordenador-Geral de Gestão Integrada

    Coordenadora de Cooperação Técnica

    Equipe Técnica

    Coordenador da Pesquisa Universidade FederalFluminense - UFF

    JAIR MESSIAS BOLSONARO

    HAMILTON MOURÃO

    ROGÉRIO SIMONETTI MARINHO

    ALFREDO EDUARDO DOS SANTOS

    RHAIANA BANDEIRA SANTANA

    ALESSANDRA D'AVILA VIEIRA

    HELDER MELILLO LOPES CUNHA SILVA

    PAULO ALEXANDRE DE TOLEDO ALVES

    MARINA AMORIM CAVALCANTI DE OLIVEIRA

    MIRNA QUINDERÉ BELMINO CHAVES, ANGÉLIA AMÉLIAFADDOUL, RICARDO FIUZA DE LIMA, EDSON LEITE

    RIBEIRO, JULIA RABELLO SPINELLI, LETÍCIA MIGUELTEIXEIRA, NELSON CARPES.

    GUSTAVO HENRIQUE NAVES GIVISIEZ

  • SUMÁRIO

    Apresentação do Sr. Ministrodo Desenvolvimento Regional

    Apresentação do Sr. SecretárioNacional da Habitação

    Apresentação do Sr. PresidenteFundador da CNS

    1. Introdução

    2. Evolução das condições de moradia no Brasilde 2008 a 2018

    3. Impactos dos investimentos do PMCMV nageração de renda e emprego

    4. Carga tributária, renúncia fiscal e subsídios nacadeia da construção civil e o programa MinhaCasa Minha Vida

    5. Causas e efeitos da inadimplência na Faixa 1do Programa Minha Casa Minha Vida

    Sobre os autores

    5

    7

    9

    11

    15

    67

    101

    127

    165

  • Apresentação do Sr.Ministro do Desenvolvimento Regional

    É com grande prazer que apresentamos o livro “Estudos Econômicos sobre

    a Política Habitacional e o Desenvolvimento”, de autoria dos pesquisadores Fernando

    Garcia de Freitas e Ana Lelia Magnabosco, desenvolvido a partir de um trabalho de

    Cooperação Interinstitucional desta Secretaria Nacional com a Universidade Federal

    do Rio de Janeiro – UFRJ.

    Tais estudos se revestem de grande importância, uma vez que, além dos

    impactos sociais positivos notáveis decorrentes da Política Nacional de Habitação

    tendo em vista a importância da mesma como um direito humano fundamental, a

    produção edilícia na construção civil, particularmente a produção habitacional

    sempre representa um fato positivo e sensível para a conjuntura do País. Seus

    impactos diretos, indiretos e induzidos representam, no contexto brasileiro, uma

    enorme contribuição à geração de emprego e renda e ao funcionamento da economia

    nacional como um todo.

    Neste momento, em que dedicamos nossos esforços para a revisão e

    atualização da Política Nacional de Habitação e do Plano Nacional de Habitação –

    PlanHab, estudos como esses têm grande relevância para complementar as

    informações necessárias para embasar tal trabalho. Da mesma forma, acreditamos

    que o mesmo tenha também importância fundamental para subsidiar e estimular

    iniciativas do capital privado sobre a área da habitação social.

    Além dos capítulos dedicados ao estudo dos aspectos econômicos da

    política habitacional, o capítulo específico sobre o Desenvolvimento Urbano e a

    evolução das condições qualitativas de moradia vem contribuir fortemente para o

    desejado tratamento integrado da questão habitacional no contexto das políticas

    gerais sobre a cidade. Nesse sentido, consideramos que seja um trabalho que possa

    preencher algumas lacunas importantes na análise da questão habitacional e dos

    impactos socioeconômicos positivos da sua produção, bem como reabre e reinsere

    novas reflexões sobre a questão da qualidade habitacional e sua interdependência e

    indivisibilidade em relação à cidade, reintegrando-as às políticas habitacionais e

    urbanas.

    5

  • Na oportunidade, agradecemos aos autores, à equipe técnica, à Assessoria

    de Comunicação de nosso Ministério e aos patrocinadores da edição dessa publicação:

    a Confederação Nacional dos Serviços – CNS e desejamos a todos os usuários e leitores

    uma ótima leitura e que seu conteúdo lhe traga uma boa contribuição à compreensão

    da temática da contribuição da política de habitação para a sociedade brasileira.

    ROGÉRIO SIMONETTI MARINHO

    Ministro do Desenvolvimento Regional

    6

  • Apresentação do Sr. Secretário Nacional da Habitação

    Como parte de um conjunto de esforços para a obtenção de subsídios para

    a revisão e atualização da Política Nacional de Habitação, bem como do Plano Nacional

    de Habitação, apresentamos esta publicação “Estudos Econômicos da Política

    Habitacional e o Desenvolvimento”, dos pesquisadores Fernando Garcia de Freitas e

    Ana Lelia Magnabosco, elaborada como um valioso subproduto escrito a partir do

    desenvolvimento de um trabalho de pesquisa e atualização sobre a Demanda Futura

    por Moradia, através de uma cooperação interinstitucional com a Universidade

    Federal Fluminense – UFF.

    Este trabalho se compõe de 4 capítulos principais, além do capítulo

    introdutório com conteúdos específicos e complementares que contribuem de forma

    significativa para a compreensão dos capítulos do conteúdo central. No primeiro

    destes capítulos centrais, os autores retomam as questões fundamentais dos déficits

    quantitativo e qualitativo de forma regionalizada e abordam a evolução das condições

    de moradia, notadamente dos setores de mais baixa renda em uma perspectiva

    histórica mostrando os últimos dez anos. A partir dos componentes que eram

    utilizados para a formação do déficit qualitativo, os autores levantam elementos que

    auxiliam a avaliar a evolução dinâmica das condições da oferta habitacional

    observada nos dados das pesquisas domiciliares do IBGE. Portanto, condições de

    moradia, tais como o adensamento, as condições de suas envoltórias e coberturas, a

    disponibilidade de infraestruturas e facilidades sanitárias, as condições de proprieda-

    de e comprometimento da renda com o aluguel foram detalhadas e estratificadas em

    recortes espaciais e sociais, de forma dinâmica, para se observar tendências.

    No capítulo central seguinte, apresentou-se a avaliação dos impactos da

    produção habitacional, notadamente a produção da habitação social na geração de

    emprego e renda no Brasil. Apoiando-se na metodologia desenvolvida por Givisiez &

    Oliveira (2018), no estudo da “Demanda futura por moradias, demografia, habitação

    e mercado”, estudou-se os efeitos de investimentos habitacionais no Brasil e projetou-

    se possibilidades para o horizonte temporal compreendido entre 2016 e 2040,

    tomando-se como referência os impactos dos investimentos em habitação entre 2009

    e 2018. O trabalho apresenta tais efeitos de forma regionalizada e estratificada,

    mostrando claramente suas particularidades sobre cada região do país e cada

    segmento social.

    Ainda no próximo capítulo central, o estudo apresenta uma importante

    análise dos subsídios governamentais, da renúncia fiscal e da carga tributária na

    cadeia da construção civil dentro de um quadro de grande intensidade de produção,

    como o Programa Minha Casa, Minha Vida. Os subsídios habitacionais, além de

    7

  • viabilizar o acesso à casa própria por parte das famílias de menor renda, possibilita-

    ram a oferta de crédito para tais famílias, pela redução dos riscos de crédito.

    Ao mesmo tempo em que os subsídios foram mais intensos, e algumas

    renúncias fiscais foram adotadas a arrecadação tributária oriunda desses efeitos

    diretos, indiretos e induzidos da grande produção habitacional aumentou, favorecida

    também com um aumento da carga tributária, notadamente após 2007. Neste

    sentido, os autores mostram que a dinamização econômica e a arrecadação ao longo

    da cadeia da construção e dos efeitos induzidos sobre outras áreas da economia

    tiveram efeitos positivos na economia e na geração de empregos, sendo, portanto

    positiva sobre a economia nacional.

    E finalmente, no último capitulo, os autores refletem sobre as causas e os

    efeitos da inadimplência, especialmente no caso dos beneficiários da faixa 1 (a de mais

    baixa renda) do MCMV. De inicio apresentam uma análise das causas dessa

    inadimplência. Posteriormente, apresentam uma análise do problema de forma

    regionalizada e por unidade da Federação. E, finalmente explicam a relação entre os

    índices de inadimplência e as condições das famílias e dos chefes de famílias

    inadimplentes, com base em dados de junho de 2018. Nessas análises, também

    comparam com estudos internacionais aplicados ao problema em vários países.

    No caso brasileiro, o estudo demonstra um crescimento da inadimplência,

    considerando a comparação entre 2014 e 2017 que chegou a índices muito altos,

    especialmente na região Norte e Nordeste, ou seja, também nas áreas de maior

    carência. No entanto, apesar de alguns aspectos do estudo não mostrarem resultados

    tão positivos como desejaríamos, outros aspectos demonstram ainda que as políticas

    em prol da habitação social, não apenas contribuem para o acesso à moradia digna

    para boa parte da população sem acesso pelas vias normais no mercado, como

    também contribuem de forma clara para o conjunto da economia, sendo, portanto,

    uma política a ser sempre priorizada.

    Esperando ter oferecido aos leitores e segmentos interessados no tema

    uma contribuição significativa para a compreensão da temática, agradecemos aos

    autores, às equipes técnicas e à Confederação Nacional de Serviços – CNS que foram

    os patrocinadores desta publicação. Também aproveitamos para desejar aos leitores

    desta produção uma ótima e fecunda leitura.

    ALFREDO EDUARDO DOS SANTOS

    Secretário Nacional de Habitação

    8

  • Apresentação do Sr. Presidente Fundador da CNS

    Ao longo dos últimos dez anos, as políticas de fomento à construção e

    aquisição de moradias assumiram um papel central no desenvolvimento brasileiro. A

    produção habitacional levada a cano nesse período não só possibilitou a expansão

    mais rápida da oferta de residências, o que possibilitou a recuperação de alguns

    indicadores ruins do desenvolvimento urbano do país, como contribuiu largamente

    para a geração de renda e emprego na economia brasileira.

    Esse modelo de política habitacional, inspirado nas experiências chilena e

    mexicana, combinou a concessão de subsídios para as famílias de baixa renda com a

    expansão do crédito imobiliário. O FGTS, fundo em cujo conselho a CNS teve assento

    por muitos anos, desempenhou papel crucial nesse processo, possibilitando a

    elevação do número de financiamentos habitacionais de 240 mil unidades por ano

    entre 2000 e 2004 para o patamar de 780 mil unidades por ano com crédito

    imobiliário no período de 2014 a 2018.

    Este livro, escrito pelos pesquisadores Fernando Garcia de Freitas e Ana

    Lelia Magnabosco, analisam pontos importantes da política habitacional e do

    desenvolvimento experimentado pelo país nesse período. Temas importantes como a

    geração de emprego e renda, o balanço fiscal dos programas habitacionais e a

    inadimplência foram tratados de forma técnica e inovadora.

    Com o apoio institucional a esta publicação, a CNS espera contribuir ainda

    mais para o debate e o aprimoramento das políticas públicas no Brasil e, em especial,

    para o desenvolvimento da política habitacional. A construção de moradias dignas,

    além de seu impacto social inquestionável, tem sido um importante polo de geração

    de empregos e renda e uma atividade que, cada vez mais, possibilita o desenvolvimen-

    to das atividades de prestação de serviços no Brasil.

    LUIGI NESE

    Presidente Fundador da Confederação Nacional de Serviços

    9

  • 11

    Capítulo 1.Introdução

    A política habitacional e urbana brasileira teve avanços

    significativos nos últimos anos. Vários programas de governo

    atacaram de forma ampla questões nas áreas de urbanização,

    produção habitacional, resiliência das cidades, saneamento e mobili-

    dade urbana. Um dos programas mais importantes foi o Programa

    Minha Casa Minha Vida (PMCMV) que atuou no fomento à produção

    de moradias.

    O PMCMV introduziu um modelo novo de subsídio no país

    (desconto complemento) que reduziu os custos de aquisição de

    imóveis para as famílias de classes de renda baixa e média. Conjugado

    ao crédito imobiliário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

    (FGTS), o programa propiciou o aumento do número de unidades

    financiadas e produzidas no país. Desde seu início, em 2009, até o final

    de 2018, o programa foi responsável pela contratação de quase 6

    milhões de novas moradias, sendo que aproximadamente 4 milhões já

    estavam entregues aos novos proprietários.

  • 12

    De forma articulada ao fomento da produção habitacional, o

    PMCMV propiciou o desenvolvimento urbano com o avanço da coleta

    de esgoto (uma das exigências para o financiamento das unidades

    habitacionais), a instalação de infraestrutura urbana e equipamentos

    sociais, tais como creches, escola, postos de saúde, praças etc.

    Além de ter sido fundamental para a expansão da oferta de

    imóveis residenciais no Brasil para segmentos da sociedade que não

    eram atendidos pelo mercado até então, o PMCMV foi estratégico para

    combater a crise financeira internacional de 2009. Os investimentos

    no programa foram responsáveis pela geração de emprego e renda

    atuando como uma típica política anticíclica keynesiana. Nesse

    sentido, o programa atuou simultaneamente na geração de empregos

    e na redução das desigualdades sociais.

    Esta publicação traz quatro estudos sobre o

    desenvolvimento econômico e urbano do país. Três dos estudos

    fizeram parte do projeto realizado em parceria entre o antigo

    Ministério das Cidades, hoje incorporado ao Ministério de

    Desenvolvimento Regional, e a Universidade Federal Fluminense

    (UFF) para o desenvolvimento dos estudos que fundamentarão a

    revisão do Plano Nacional de Habitação.

    O primeiro estudo (Capítulo 2) analisa a evolução das

    condições habitacionais no país com base em dados da Pesquisa

    Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) dos anos de 2008 e 2018.

    O panorama traçado destaca os movimentos demográficos e de

    formação de domicílios. Também avalia a evolução das condições

    materiais e de infraestrutura sanitária das moradias e traz uma

    discussão sobre a regularidade dos terrenos e do comprometimento

    de renda das famílias com o pagamento de aluguel. Por fim, o estudo

    traça uma síntese das principais tendências observadas nesses dez

    anos de análise.

    o PMCMV e

  • O Capítulo 3 analisa o tema da geração de emprego e renda

    sustentados pelos investimentos do PMCMV. A metodologia está

    baseada no Modelo de Leontief de produção a coeficientes fixos, a qual

    foi orginalmente desenvolvida na parceria com a UFF para projetar os

    efeitos do investimento habitacional no Brasil até 2040, uma das

    questões analisadas no projeto de demanda futura por moradias no

    Brasil e exposta no Capítulo 12 do livro de Giviziez e Oliveira (2018).

    Neste estudo, ela é aplicada, com pequenas alterações, para medir os

    efeitos do PMCMV entre 2009 e 2018.

    A renda gerada com os investimentos do PMCMV teve efeito

    sobre a arrecadação de impostos. Esse tema é abordado no Capítulo 4,

    que tem por objetivo estimar a carga tributária das construtoras

    envolvidas nesses programas e, com isso, calcular o valor de impostos

    e contribuições arrecadados por elas. Na sequência, o estudo estima o

    valor dos impostos e contribuições coletados ao longo da cadeia

    produtiva da construção e a arrecadação de impostos e contribuições

    sobre a renda induzida pelas atividades construtivas diretamente

    associadas ao PMCMV. Esses valores podem ser comparados direta-

    mente ao custo dos subsídios para o OGU de forma a estabelecer um

    balanço fiscal do programa.

    Por fim, o quinto capítulo analisa as causas e os efeitos da

    inadimplência entre os beneficiários da Faixa 1 do Programa Minha

    Casa Minha Vida (PMCMV) de 2014 a 2018. A análise parte da

    investigação da literatura internacional sobre o tema de inadimplên-

    cia em programas habitacionais e no crédito imobiliário. São empre-

    gados dados de inadimplência obtidos em três bases de informação

    sobre o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) e o Fundo de

    Desenvolvimento Social (FDS). Esses dados revelam expressivo

    aumento da inadimplência, mais acentuado em algumas regiões do

    país do que em outras. O estudo empreende uma análise econométri-

    13

  • ca para identificar as causas da inadimplência da Faixa 1 do PMCMV.

    O desemprego que surgiu com o ajuste fiscal de 2015 e a crise política e

    econômica subsequente figuram como as principais razões do

    crescimento da inadimplência na Faixa 1 do PMCMV.

    14

  • Capítulo 2.

    A evolução das condições de moradia no

    Brasil de 2008 a 2018

    2.1. Introdução

    A literatura brasileira sobre habitação teve como um dos

    temas principais o déficit habitacional. Na segunda metade da década

    de 1990, a Fundação João Pinheiro (FJP) desenvolveu, a pedido do

    Ministério do Planejamento, uma metodologia do déficit habitacional

    no país e procedeu à sua mensuração empírica.¹ Foram analisados os

    dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e do

    Censo Demográfico do IBGE, tanto para áreas urbanas como rurais.

    Desde então, a metodologia continuou em desenvolvimento e a FJP

    realizou estudos quantitativos sobre o tema até 2018, quando foram

    analisadas as informações da PNAD de 2015.

    A partir da PNAD de 2016, que trouxe mudanças metodológi-

    cas profundas na pesquisa, o cálculo do déficit habitacional como

    estava convencionado ficou impraticável. As variáveis que permitiam

    15

    ¹ Sobre esse tema, ver os estudos da Fundação João Pinheiro (1995), Azevedo e Araújo

    (2007) e Magnabosco et al (2012).

  • calcular o número de domicílios improvisados e a coabitação familiar

    deixaram de constar do questionário. Como se trata de uma mudança

    permanente, que inclusive foi estendida ao Censo Demográfico de

    2020², surgiu a necessidade de se discutir abordagens alternativas

    para tratar as questões de fundo da carência de moradias no país.

    Muito embora o déficit não possa mais ser medido direta-

    mente, as abordagens alternativas para o estudo da questão habitacio-

    nal passam pelos conceitos que fundamentaram o cálculo do déficit. A

    definição de déficit habitacional está contida na ideia de mensurar o

    excedente da demanda por moradias em relação à oferta de unidade

    habitacionais adequadas. Num dado momento do tempo, a demanda é

    determinada por fatores demográficos e socioeconômicos e a oferta

    depende do estoque de moradias em uso e das condições materiais

    dessas unidades. Esses dois elementos têm comportamento dinâmico,

    o que significa dizer que eles variam ao longo do tempo conforme as

    forças por traz da demanda e da oferta: expansão demográfica,

    formação de famílias, hábitos de convivência e produção e manuten-

    ção de moradias, por exemplo. Portanto, o déficit habitacional é

    apenas um retrato de um fenômeno em movimento resultante de

    vários fatores que mudam ao longo do tempo,

    O estudo organizado por Givisiez e Oliveira (2018) para o

    Ministério das Cidades abordou com profundidade a questão deman-

    da futura por moradias, ou seja, a parte dinâmica da demanda que

    afeta a evolução do déficit habitacional. Foram desenvolvidas análises

    das tendências históricas recentes e foram feitas estimativas do

    crescimento demográfico e da formação de domicílios até 2040.

    Também foi dimensionada a produção necessária para atender a essa

    demanda, pressupondo o equacionamento do déficit habitacional que

    16

    ² Vale notar que o Censo Demográfico de 2020 também não permitirá o calculo do

    ônus excessivo com aluguel, a principal componente do déficit habitacional.

  • existia em 2014 até o ano de 2040. Isso implica uma produção

    suficiente para dar conta das pressões demográficas e econômicas

    futuras e para reduzir gradativamente o excesso de demanda sobre a

    oferta que existia no período inicial da análise.

    O presente estudo, de maneira complementar à abordagem

    empregada por Givisiez e Oliveira (2018), retoma as questões

    fundamentais do déficit habitacional e aborda a evolução das condi-

    ções de moradia numa perspectiva histórica de 2008 a 2018. São

    analisadas a evolução do número de domicílios por região e tipo e as

    tendências demográficas recentes. Depois, o estudo se aprofunda nas

    questões fundamentais dos conceitos de déficit e inadequação

    habitacionais avaliando a evolução das condições de moradia:

    adensamento, condições materiais de parede e cobertura, disponibili-

    dade de infraestrutura sanitária, condições de propriedade e compro-

    metimento de renda com aluguel. Contudo, não se busca uma

    agregação desses elementos para computar um excedente estático

    como era feito na análise do déficit. Ao contrário, busca-se levantar

    elementos que auxiliem a avaliar de forma isolada a evolução dinâmi-

    ca de cada uma das condições de oferta que podem ser observadas

    com os dados das pesquisas domiciliares do IBGE.

    Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de

    Domicílios Continuada (PNADC) de 2018, havia pouco mais de 61,4

    milhões de domicílios em áreas urbanas no Brasil. Dessas moradias,

    2. 2. Moradias e população

    2.2.1. Número de domicílios

    A situação em 2018

    17

  • 18

    Mapa 2.1.Distribuição regional das moradias, em mil unidades e (%) dototal, 2018

    Fonte: IBGE.Elaboração própria.

    47,4% ficavam localizadas no Sudeste, região que abriga os três

    estados com maior número de residências: São Paulo (15,3 milhões),

    Minas Gerais (6,4 milhões) e Rio de Janeiro (6,2 milhões). A região

    Nordeste abrigava o segundo maior contingente, com 13,9 milhões de

    moradias ou 22,7% do total. As regiões Sul, Centro-Oeste e Norte

    responderam por, respectivamente, 15,2%, 8,1% e 6,7% dos domicíli-

    os brasileiros.

    No contexto urbano brasileiro, 28,2% das moradias (17,3

    milhões) ficavam nas capitais dos estados e no Distrito Federal. Os

    demais municípios das regiões metropolitanas do país responderam

    por 18,9% das moradias urbanas (11,6 milhões) e as demais cidades

    dos estados participaram com a maior parte dos domicílios: 32,5

    milhões ou 52,9% do total. O Gráfico 2.1.a ilustra essa distribuição.

    4.129,5 (6,7%)

    13.929,4 (22,7%)

    29.080,9 (47,7%)

    9.330,6 (15,2%)

    4.945,3 (8,1%)

    127,9 (0,2%)200,1 (0,3%)

    1.367,6 (2,2%)

    669,2 (1,1%)

    2.302,8 (3,7%)

    874,3 (1,4%)

    1.003,9 (1,6%)

    2.625,5 (4,3%)

    837,3 (1,4%)584,7 (1,0%)

    -4,2%

    -0,3%

    -2,1%

    1.205,0 (2,0%)

    6.187,9 (10,1%)

    3.466,2 (5,6%)

    2.185,0 (3,6%)

    3.679,4 (6,0%)

    6,8%

    -5,5%

    -7,1%

    -4,9%

    2,5%

    8,1%

    -2,2%

    Brasil: 61.415,8 (100%)

    934,4 (1,5%)1.801,3 (2,9%)

    974,5 (1,6%)

    825,7(1,3%)

    2.192,3(3,6%)

    952,9(1,6%)

    6.407,0(10,4%)15.281,0

    (24,9%)

    420,0(0,7%)

    3.664,0(10,4%)

    195,4 (0,3%)

    450,5 (0,7%)

  • 19

    Gráfico 2.1.Distribuição das moradias, por área e tipo, (%) do total, 2018

    Fonte: IBGE. (*) Inclui as Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico.Elaboração própria.

    (A) Área (B) Tipo

    Gráfico 2.2.Distribuição entre casas e apartamentos, por área, (%) do total,

    2018

    Fonte: IBGE. (*) Inclui as Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico.Elaboração própria.

    Capitais28,2%

    Demaiscidades das

    RM*18,9%

    Demaismunicípiosdo estado

    52,9%

    Capitais83,9%

    Demais cidadesdas RM*15,9%

    Demaismunicípios do

    estado0,2%

    69,4%

    86,5%90,9%

    30,6%

    13,5%9,1%

    0,0%

    20,0%

    40,0%

    60,0%

    80,0%

    100,0%

    Capitais Demais cidades das RM* Demais municípios do estado

    Casas Apartamentos

  • Quando se considera o tipo de domicílio, nota-se uma

    enorme concentração de moradias em casas: 51,5 milhões de casas

    que representaram 83,9% do total de moradias urbanas no país em

    2018. Conforme ilustra o Gráfico 2.1.b, as moradias em edifícios de

    apartamentos somaram 9,8 milhões, representando 15,9% do total, e

    as habitações em casa de cômodo somaram 104,6 mil moradias (0,2%

    do total). Excetuando habitações em casa de cômodo, nota-se que a

    presença de moradias em edifícios é maior nas capitais, onde esse tipo

    de domicílios respondia por 30,6% do total. Nas regiões metropolita-

    nas, essa participação caia para 13,5% e, nas demais cidades do

    interior, era ainda menor, de apenas 9,1%. (Gráfico 2.2)

    Ao total, essas moradias tinham 5,9 cômodos em média.

    Como indica o Gráfico 2.3.a, as moradias do interior eram relativa-

    mente maiores, seguidas pelas habitações das capitais. Em termos de

    número de dormitórios, as três áreas apresentaram médias muito

    próximas de 1,8 dormitório por habitação. As casas no meio urbano

    brasileiro eram menos compartimentadas que os apartamentos: 5,8

    contra 6,4 cômodos por moradia em média. Contudo, as casas tinham

    uma média maior de dormitórios por residência. Os cortiços tinham

    uma média menor, de 1,2 dormitório por residência.

    Em termos de crescimento, os dados do IBGE mostram que

    foram criados 13,267 milhões de novas moradias entre 2008 e 2018.

    Isso representa um incremento médio anual de 1,327 milhão de novas

    moradias, ou uma taxa de expansão média de 2,5% ao ano. Vale

    observar que esse ritmo de crescimento reflete a expansão demográfi-

    ca nos anos 1970 e 1980, ou seja, a taxa de crescimento da populacional

    da geração que tem atualmente entre 40 e 50 anos de idade.

    Evolução entre 2008 e 2018

    20

  • 21

    Gráfico 2.3.Número de cômodos e de dormitórios, por área e tipo, (%) do

    total, 2018

    Fonte: IBGE. (*) Inclui as Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico.Elaboração própria.

    (A) Área (B) Tipo

    Em termos regionais, os estados do Norte e do Centro-Oeste

    brasileiros foram os que observaram maiores taxas de crescimento do

    número de moradias (Mapa 2.2). No Norte, as maiores taxas de

    crescimento foram observadas em Tocantins (4,1% a.a.), Amazonas

    (3,8% a.a.) e Rondônia (3,5% a.a.). Na região Centro-Oeste, todos os

    estados e o Distrito Federal tiveram crescimento de pelo menos 3,0%

    ao ano. Brasília teve crescimento elevado, de 3,8% ao ano nesses dez

    anos. Na região Nordeste, as maiores expansões foram em

    Pernambuco (3,2% a.a.) e Alagoas (3,5% a.a.) e na região Sudeste, o

    maior crescimento foi verificado no Espírito Santo (3,3% a.a.).

    As regiões metropolitanas, incluindo suas capitais, tiveram

    um crescimento mais acentuado no período, de 4,7% ao ano como

    ilustra o Gráfico 2.4.a. O interior registrou um ritmo mais lento de

    formação e novos domicílios – de 0,9% ao ano no período – indicando

    5,95,4

    6,0

    1,8 1,8 1,8

    Capitais Demais cidadesdas RM*

    Demais municípiosdo estado

    Cômodos Dormitórios

    5,86,4

    3,2

    1,8 1,71,2

    Casa Apartamento Habitação em casade cômodos

    Cômodos Dormitórios

  • a continuidade do movimento acelerado de concentração urbana em

    grandes metrópoles. Por tipo de moradias (Gráfico 2.4.b), vale

    observar que a taxa de expansão de apartamentos foi bem maior que o

    ritmo de expansão das moradias em casas, um resultado também

    consistente com a ideia de concentração nas grandes metrópoles do

    país.

    Um fato que chama a atenção foi a redução do número de

    moradias em cortiços que passaram de 164,3 mil unidades nas áreas

    urbanas do país para 104,6 mil entre 2008 e 2018. O encerramento de

    quase 60 mil unidades desse tipo de habitação representou uma

    queda de 4,4% ao ano nesse período.

    22

    Mapa 2.2.Crescimento do número de moradias, por unidades daFederação e regiões, (%) ao ano, 2008 a 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    2,9% a.a

    2,4% a.a

    2,3% a.a

    2,4% a.a

    3,2% a.a

    2,9% a.a2,2% a.a

    1,7% a.a

    1,9% a.a

    2,4% a.a

    2,9% a.a

    1,5% a.a

    3,2% a.a

    3,5% a.a2,6% a.a

    -4,2%

    -0,3%

    -2,1%

    3,3% a.a

    12,0% a.a

    1,9% a.a

    3,4% a.a

    2,4% a.a

    6,8%

    -5,5%

    -7,1%

    -4,9%

    2,5%

    8,1%

    -2,2%

    Brasil: 2,5% a.a

    3,8% a.a2,3% a.a

    3,1% a.a

    3,1% a.a

    3,8% a.a2,5% a.a

    2,1% a.a

    2,4% a.a

    4,1% a.a

    2,2% a.a2,5% a.a

    3,5% a.a

  • Em termos de número de cômodos, nota-se uma estabilidade

    para o total das moradias com ligeira retração no caso de habitações

    em edifícios de apartamento. Nesse último grupo, o número médio de

    cômodos por moradia caiu de 6,5 para 6,4 entre 2008 e 2018. No

    período, houve retração de 5% no número médio de dormitórios por

    residência, seja nas casas seja nos apartamentos.

    A população urbana do país aproximou-se de 178 milhões de

    pessoas segundo dados da PNADC de 2018. Desse total, 82 milhões de

    pessoas moravam no Sudeste, região que abriga os três estados mais

    populosos São Paulo (43,7 milhões de pessoas), Minas Gerais (18,3

    2.2.2. Perfil demográfico

    População

    23

    Gráfico 2.4.Taxa de crescimento do número de moradias, por área e tipo,

    2018

    Fonte: IBGE. (*) Inclui as Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico.Elaboração própria.

    (A) Área (B) Tipo

    5,0%

    2,5%2,1%

    4,7%

    2,5%

    0,9%

  • milhões de pessoas) e Rio de Janeiro (16,6 milhões de pessoas). A

    região Nordeste abrigava o segundo maior contingente demográfico,

    com 42,1 milhões de pessoas ou 23,6% do total. As regiões Sul,

    Centro-Oeste e Norte responderam por, respectivamente, 14,4%,

    8,1% e 7,7% da população urbana brasileira.

    Da população urbana do país, 27,5% morava nas capitais dos

    estados e no Distrito Federal. Os demais municípios das regiões

    metropolitanas do país responderam por 18,9% da população e as

    demais cidades dos estados participaram com a maior parte dos

    brasileiros: 95,2 milhões de pessoas ou 53,5% do total.

    No meio urbano brasileiro, 153,5 milhões de pessoas

    moravam em casas e 24,2 milhões em apartamentos em 2018. As

    24

    Gráfico 2.5.Distribuição das pessoas por condição no domicílio, (%) do total,2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Chefes35%

    Filhos eenteados

    34%

    Conjunges21%

    Neto ou bisneto5%

    Pais e sogros2%

    Outros parentes1%

    Irmãos1%

    Genros enoras1%

  • 25

    habitações em casa de cômodo abrigavam 232,1 mil pessoas (0,1% do

    total). A presença de pessoas morando em edifícios era maior nas

    capitais, onde esse tipo de domicílios respondia por 26,5% da

    população total da área. Nas regiões metropolitanas, essa participação

    era de 11,6% e nas demais cidades do interior, de 14,9%.

    A população residente na área urbana era formada por 61,4

    milhões de chefes de domicílio.³ Com os chefes de domicílio moravam

    37,2 milhões de cônjuges e 59,9 milhões de filhos ou enteados.

    Também era muito frequente a presença de netos ou bisnetos na

    moradia (cerca de 8 milhões) e de país ou sogros (3,5 milhões). O

    Gráfico 1.5 apresenta essa distribuição incluindo irmão, genros e

    noras e outros parentes.

    Em 2008, a população urbana brasileira era de 159,1 milhões

    de pessoas. Excetuando pensionistas e empregados domésticos o

    número de chefes de domicílio e de seus parentes somava 157,7

    milhões de pessoas. Isso indica um crescimento de 1,1% ao ano da

    população residente da mesma família entre 2008 e 2018. O Mapa 2.3

    traz as variações demográficas nas unidades da Federação e das

    Grandes regiões nesse período.

    Vale observar que o crescimento não foi homogêneo confor-

    me a posição no domicílio. Conforme ilustra o Gráfico 2.6, o número

    de chefes de domicílio cresceu 2,3% ao ano, valor muito próximo ao

    do crescimento do número de domicílios. A expansão do número de

    Tendências

    4

    ³ O mesmo número que o de moradias.

    4 Os dois números não são idênticos devido ao fato de que uma mesma pessoa pode

    chefiar dois domicílios (uso permanente e uso ocasional). Além disso, a migração do

    meio rural para o meio urbano também interfere nessas taxas.

  • 26

    cônjuges foi menor, de 1,6% ao ano nesse período. Isso refletiu a

    tendência de expansão mais acentuada do número de moradias

    unipessoais. Também é reflexo da maior taxa de cisão familiar, ato que

    reduz estatisticamente a relação entre número de chefes de domicílio

    e número de cônjuges.

    A taxa de crescimento do número de filhos foi negativa no

    período (-0,2%). Esse fato indica a tendência de redução do ritmo de

    crescimento demográfico do país e leva necessariamente a uma

    redução de tamanho das famílias brasileiras. A taxa de expansão do

    número de pessoas na condição de outros parentes foi menor que a de

    chefes de família, sugerindo uma redução na prática de coabitação.

    Mapa 2.3.Crescimento demográfico, por unidades da Federação e regiões, (%)

    ao ano, 2008 a 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    1,6% a.a

    0,9% a.a

    1,2% a.a

    1,3% a.a

    1,9% a.a

    9,9% a.a2,3% a.a

    0,6% a.a

    1,0% a.a

    0,7% a.a

    2,0% a.a

    0,6% a.a

    1,6% a.a

    1,3% a.a0,3% a.a

    -4,2%

    -0,3%

    -2,1%

    2,0% a.a

    1,0% a.a

    1,0% a.a

    1,9% a.a

    1,1% a.a

    6,8%

    -5,5%

    -7,1%

    -4,9%

    2,5%

    8,1%

    -2,2%

    Brasil: 1,2% a.a

    1,6% a.a1,1% a.a

    1,9% a.a

    1,8% a.a

    2,0% a.a1,7% a.a

    0,8% a.a

    1,4% a.a

    2,8% a.a

    0,6% a.a1,5% a.a

    2,2% a.a

  • 27

    Gráfico 2.6.Crescimento demográfico por condição no domicílio, variação (%) ao

    ano, 2008 a 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    2,3%

    -0,2%

    1,6%

    0,9%

    -1%

    0%

    1%

    2%

    3%

    Chefes Filhos e enteados Conjuges Outros parentes

    2.2.3. Perfil econômico

    Critérios de classificação

    Para avaliar as condições econômicas dos domicílios, foram

    adotados dois critérios: (i) o de classes de renda domiciliar per capita e

    (ii) o de linha de pobreza. O critério de classe de renda é empregado

    em boa parte da literatura sobre o tema de distribuição de renda e

    desigualdade e norteia as políticas sociais em uma parcela considerá-

    vel de países, principalmente os da União Europeia. Esse critério

    estabelece grupos com base em sua participação da distribuição da

    renda domiciliar per capita das moradias.

    Na presente análise, são consideradas 5 classes para cada

    unidade da Federação. Na primeira classe, estão as famílias mais

    pobres que, no caso do Distrito Federal, por exemplo, tinham uma

  • renda domiciliar per capita inferior a R$ 400,00 por mês em 2018. No

    segundo grupo, estão as famílias do Distrito Federal com renda

    domiciliar per capita de R$ 401,00 a R$ 2.200,00. Isso abarca aproxi-

    madamente 50% das moradias que são justamente aquelas cuja

    renda domiciliar per capita está acima da linha de corte dos 25% de

    moradias mais pobres, mas abaixo dos 25% de moradias mais ricas do

    Distrito Federal. No terceiro grupos, estão as famílias com renda

    domiciliar per capita de R$ 2.201,00 a R$ 7.000,00. Esse grupo é

    formado pelas moradias que pertencem às 25% mais ricas, mas não

    pertencem às 5% mais ricas do Distrito Federal. No quarto e quinto

    quintis estão, respectivamente, as famílias com renda domiciliar per

    capita entre R$ 7.001,00 e R$ 11.933,33 e aquelas com renda superior a

    R$ 11.933,33 por mês em 2018. O último grupo corresponde a 1% das

    moradias mais ricas do Distrito Federal. A Tabela A.1 do Anexo

    Estatístico traz as linhas de corte entre as classes para cada unidade da

    Federação.

    O segundo critério, o de linha de pobreza, estabelece uma

    renda mínima com a qual uma pessoa possui condições de obter os

    recursos necessários para viver. O Banco Mundial propõe três linhas

    de pobreza distintas. A primeira, que é empregada para medir a

    pobreza nos países de renda média-alta, é estimada em USD 5,50 por

    dia por pessoa. Já a segunda linha, empregada para medir a pobreza

    nos países de renda média-baixa, é estimada em USD 3,20 por dia por

    pessoa. Por fim, há a linha de pobreza extrema que estabelece o limite

    de USD 1,90 por dia por pessoa. Para este estudo, adotou-se o limite

    aplicado aos países de renda média-baixa, grupo ao qual o Brasil

    pertence. Ajustado à paridade do poder de compra do consumo e

    considerando a taxa de câmbio de 2018, os USD 3,10 por dia por

    pessoa correspondiam a R$ 6,97 por dia por pessoa, ou R$ 209,13 por

    mês por pessoa, em 2018.

    28

  • 29

    Vale observar que o segundo critério é mais simples e

    intuitivo que o primeiro, pois ao demarcar uma linha associada à

    sobrevivência dá uma noção mais precisa da renda necessária para

    manutenção digna de uma família. Contudo, esse critério traz o

    problema da heterogeneidade regional. Como há diferenças de preços

    de bens e serviços nas diferentes unidades da Federação, e mesmo

    dentro delas (capital e interior), o valor fixo de R$ 209,13 por mês por

    pessoa gera distorções. Nas regiões em que é menor o custo de vida, a

    linha fixa superestima o número de pobres e naquelas em que é mais

    elevado o custo de vida, a linha subestima a pobreza.

    A Tabela 2.1 traz a distribuição das moradias brasileiras por

    classe de renda domiciliar per capita em 2018. Cerca de 28% das

    moradias abrigava a população entre os 25% da população mais

    pobres, o que correspondeu a um total de 17,4 milhões de moradias

    naquele ano. O grupo de moradias que estavam acima da linha de

    corte dos 25% mais pobres, mas abaixo dos 25% mais ricas somou

    27,2 milhões de residências (44,2% do total). Vale notar que a

    participação de cada região ou estado dentro dos grupos é relativa-

    mente constante, dada a metodologia de selecionar os mais pobres e

    mais ricos de cada unidade.

    A Tabela 2.2 traz a distribuição das moradias em cada

    unidade da Federação, grande região e no Brasil entre as que estavam

    abaixo ou acima da linha de pobreza do banco Mundial em 2018.

    Seguindo esse critério, 28% das moradias estavam abaixo da linha de

    pobreza naquele ano. Essa parcela era maior na região Nordeste, onde

    as moradias abaixo da linha de pobreza representaram 38,6% do

    total. Na região Norte, essa participação foi de 30,6%.

    Situação em 2018

  • 30

    Tabela 2.1Moradias por classe de renda per capita domiciliar, por unidades da

    Federação, 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    25% maispobres

    dos 25%aos 75% dadistribuição

    dos 75%aos 95% dadistribuição

    dos 95%aos 99% dadistribuição

    1% maisricos

    Total

    Norte 1.088.587 1.816.919 957.081 209.301 57.629 4.129.517

    Rondônia 121.739 201.098 94.075 26.472 7.087 450.471Acre 54.331 86.950 42.034 9.300 2.749 195.362Amazonas 234.420 405.475 231.233 50.638 12.629 934.396Roraima 31.114 59.571 29.031 6.411 1.811 127.938Pará 480.454 791.813 421.018 83.048 24.959 1.801.292Amapá 49.425 90.841 45.162 11.620 3.057 200.105Tocantins 117.104 181.170 94.528 21.813 5.336 419.952

    Nordeste 4.036.318 5.969.921 3.098.877 643.886 180.440 13.929.443

    Maranhão 386.564 600.943 298.744 63.716 17.665 1.367.631Piauí 203.966 282.759 148.284 25.884 8.338 669.230Ceará 646.506 1.027.104 498.999 105.784 24.417 2.302.810Rio Grande do 258.722 377.304 193.910 35.713 8.700 874.347Paraíba 286.363 434.653 225.836 43.926 13.139 1.003.917Pernambuco 754.594 1.137.820 571.670 126.216 35.219 2.625.519Alagoas 279.167 316.006 189.947 39.546 12.661 837.327Sergipe 170.330 250.992 129.312 24.909 9.129 584.672Bahia 1.050.107 1.542.341 842.175 178.193 51.173 3.663.989

    Sudeste 8.245.262 13.050.288 6.061.241 1.339.359 384.784 29.080.933

    Minas Gerais 1.787.754 2.835.933 1.407.528 293.075 82.750 6.407.039Espírito Santo 351.425 517.814 263.257 59.042 13.484 1.205.022Rio de Janeiro 1.839.502 2.670.135 1.319.721 273.864 84.688 6.187.909São Paulo 4.266.581 7.026.406 3.070.735 713.378 203.862 15.280.963

    Sul 2.680.582 4.078.380 2.042.943 406.298 122.359 9.330.562

    Paraná 990.415 1.532.056 749.925 147.624 46.221 3.466.240Santa Catarina 621.799 957.654 472.859 101.668 30.980 2.184.960Rio Grande do Sul 1.068.368 1.588.670 820.160 157.006 45.158 3.679.363

    Centro-Oeste 1.322.697 2.258.660 1.059.276 235.980 68.727 4.945.340

    Mato Grosso do Sul 211.552 382.888 182.804 38.126 10.321 825.690Mato Grosso 256.493 442.438 213.552 49.199 12.812 974.493Goiás 605.420 996.186 462.521 100.904 27.270 2.192.300Distrito Federal 249.232 437.148 200.400 47.751 18.324 952.856

    Brasil 17.373.446 27.174.168 13.219.418 2.834.824 813.939 61.415.795

  • 31

    Tabela 2.2.Moradias abaixo e acima da linha de pobreza, por unidades da

    Federação, 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    TotalN (%) N (%)

    Norte 1.265.293 30,6% 2.864.224 69,4% 4.129.517

    Rondônia 115.449 25,6% 335.022 74,4% 450.471Acre 63.711 32,6% 131.651 67,4% 195.362Amazonas 293.559 31,4% 640.836 68,6% 934.396Roraima 31.036 24,3% 96.902 75,7% 127.938Pará 572.575 31,8% 1.228.717 68,2% 1.801.292Amapá 61.333 30,7% 138.772 69,3% 200.105Tocantins 127.629 30,4% 292.323 69,6% 419.952

    Nordeste 5.370.802 38,6% 8.558.640 61,4% 13.929.443

    Maranhão 600.008 43,9% 767.624 56,1% 1.367.631Piauí 270.559 40,4% 398.671 59,6% 669.230Ceará 839.302 36,4% 1.463.508 63,6% 2.302.810Rio Grande do Norte 334.681 38,3% 539.666 61,7% 874.347Paraíba 404.835 40,3% 599.081 59,7% 1.003.917Pernambuco 931.602 35,5% 1.693.917 64,5% 2.625.519Alagoas 366.773 43,8% 470.554 56,2% 837.327Sergipe 230.199 39,4% 354.473 60,6% 584.672Bahia 1.392.843 38,0% 2.271.145 62,0% 3.663.989

    Sudeste 7.407.699 25,5% 21.673.234 74,5% 29.080.933

    Minas Gerais 1.727.689 27,0% 4.679.350 73,0% 6.407.039Espírito Santo 317.483 26,3% 887.539 73,7% 1.205.022Rio de Janeiro 1.742.809 28,2% 4.445.100 71,8% 6.187.909São Paulo 3.619.719 23,7% 11.661.244 76,3% 15.280.963

    Sul 2.289.184 24,5% 7.041.378 75,5% 9.330.562

    Paraná 819.830 23,7% 2.646.410 76,3% 3.466.240Santa Catarina 469.804 21,5% 1.715.156 78,5% 2.184.960Rio Grande do Sul 999.550 27,2% 2.679.813 72,8% 3.679.363

    Centro-Oeste 1.065.118 21,5% 3.880.222 78,5% 4.945.340

    Mato Grosso do Sul 184.281 22,3% 641.409 77,7% 825.690Mato Grosso 212.868 21,8% 761.625 78,2% 974.493Goiás 495.581 22,6% 1.696.719 77,4% 2.192.300Distrito Federal 172.388 18,1% 780.468 81,9% 952.856

    Brasil 17.398.097 28,3% 44.017.698 71,7% 61.415.795

    Abaixo da linha de Acima da linha de

  • Tendências

    O Mapa 2.4 traz os aumentos do número de domicílios entre

    os 25% mais pobres nas unidades da Federação e grandes regiões.

    Nota-se que na média nacional, o número de moradias que abrigavam

    os 25% mais pobres da população brasileira cresceu 3,4% ao ano,

    uma taxa maior que o crescimento do número total de moradias, cuja

    expansão foi de 2,5% ao ano. Isso significa que a expansão das

    moradias se deu de forma mais intensa na população mais pobre

    durante esses dez anos da análise. Isso ocorreu na maior parte dos

    estados e regiões, mas as expansões foram particularmente elevadas

    32

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Mapa 2.4Crescimento do número de moradias que abrigam os 25% maispobres da população, por unidades da Federação, (%) ao ano, 2008 a2018

    3,2% a.a

    3,7% a.a

    3,3% a.a

    3,5% a.a

    3,4% a.a

    2,5% a.a1,5% a.a

    3,0% a.a

    3,9% a.a

    3,1% a.a

    4,7% a.a

    2,7% a.a

    4,3% a.a

    5,7% a.a3,5% a.a

    -4,2%

    -0,3%

    -2,1%

    4,6% a.a

    3,6% a.a

    3,1% a.a

    4,2% a.a

    3,5% a.a

    6,8%

    -5,5%

    -7,1%

    -4,9%

    2,5%

    8,1%

    -2,2%

    Brasil: 3,4% a.a

    3,4% a.a2,7% a.a

    3,3% a.a

    2,7% a.a

    3,7% a.a3,6% a.a

    3,0% a.a

    3,2% a.a

    4,6% a.a

    3,5% a.a3,6% a.a

    4,0% a.a

  • nos meios urbanos dos estados de Alagoas, Piauí, Rio de Janeiro e

    Paraná.

    Essa ideia é corroborada pelas informações do Mapa 2.5, que

    traz os aumentos do número de domicílios abaixo da linha de pobreza

    nas unidades da Federação e grandes regiões. Nesse caso, o aumento

    médio nacional de moradias abaixo da linha da pobreza foi de 11,0%

    ao ano, o que dá uma taxa 8,5 pontos percentuais acima do crescimen-

    to médio do número de moradias. O número absoluto de moradias

    abaixo da linha da pobre passou de 6,129 milhões em 2008 para

    17,398 milhões em 2018, indicando o acréscimo de 11,269 milhões de

    moradias urbanas nessa condição.

    33

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Mapa 2.5.Crescimento do número de moradias abaixo da linha de pobreza, por

    unidades da Federação, (%) ao ano, 2008 a 2018

    9,0% a.a

    8,3% a.a

    12,4% a.a

    16,1% a.a

    11,1% a.a

    6,4% a.a12,8% a.a

    9,1% a.a

    8,6% a.a

    7,8% a.a

    10,8% a.a

    7,6% a.a

    7,4% a.a

    8,5% a.a8,7% a.a

    -4,2%

    -0,3%

    -2,1%

    13,9% a.a

    10,7% a.a

    14,7% a.a

    20,0% a.a

    15,9% a.a

    6,8%

    -5,5%

    -7,1%

    -4,9%

    2,5%

    8,1%

    -2,2%

    Brasil: 11,0% a.a

    9,7% a.a7,0% a.a

    10,8% a.a

    13,4% a.a

    12,1% a.a8,9% a.a

    12,7% a.a

    13,0% a.a

    14,4%a.a

    8,5% a.a9,9% a.a

    12,0% a.a

  • 2.3. Condições habitacionais

    2.3.1. Adensamento domiciliar

    A relação entre o número de moradores e o número de

    moradias dá uma primeira noção do adensamento domiciliar. Além

    desse indicador, os dados da PNADC permitem medir o adensamento

    por meio da razão entre o número de moradores e o número de

    cômodos ou da razão entre o número de moradores e o número de

    dormitórios. O terceiro indicador é o mais adequado quando se tem

    mente que a principal função da moradia é prover meios para que seus

    moradores possam “.

    .” (Ministério das Cidades, 2014, p.25).

    Em 2018, havia 2,9 moradores por domicílio no Brasil

    segundo as informações da PNADC. O número de moradores por

    domicílio era relativamente maior nas regiões Norte (3,3) e Nordeste

    (3,0) e menor no Sul e Sudeste, as duas regiões com média de 2,8

    moradores por domicílio. O Gráfico 2.8 traz esses indicadores.

    Dez anos antes, em 2008, a densidade era maior, de 3,3

    pessoas por domicílio. A relação entre as regiões era bastante seme-

    lhante. O ordenamento das regiões por adensamento era a mesma de

    2018, mas nota-se que as mais adensadas em 2008, o Norte (3,9

    pessoas por moradia) e o Nordeste (3,5 pessoas por moradia), foram

    as que apresentaram as maiores reduções, com taxa de queda do

    número de pessoas por domicílio de respectivamente, 1,5% ao ano e

    1,6% ao ano. Na média nacional, essa razão caiu à taxa de 1,3% ao ano.

    ..praticar a privacidade e a intimida domésticas,

    obtendo com isto, o restauro físico e emocional para novamente voltar

    ao mundo exterior

    Pessoas por domicílio

    34

  • 35

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Gráfico 2.8.Número de pessoas por moradia, por região, 2008 e 2018

    Gráfico 2.9.Número de pessoas por cômodo, por região, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    3,863,54

    3,35 3,30 3,17 3,123,34

    3,02 2,91 2,90 2,82 2,76

    -

    1,00

    2,00

    3,00

    4,00

    5,00

    Norte Nordeste Centro-Oeste Brasil Sudeste Sul

    2008 2018

    0,84

    0,660,61 0,59 0,59

    0,53

    0,86

    0,67 0,65 0,63 0,630,58

    -

    0,20

    0,40

    0,60

    0,80

    1,00

    Norte Nordeste Brasil Sudeste Centro-Oeste Sul

    2008 2018

  • Pessoas por cômodo

    Pessoas por dormitório

    A distribuição por regiões e a tendência de redução do

    tamanho dos domicílios também se observaram na relação pessoas

    por cômodos das moradias. Em 2018, havia 0,65 moradores por

    cômodo no Brasil segundo as informações da PNADC, o que equivalia

    a aproximadamente 1,5 cômodo por morador. O número de morado-

    res por cômodo era relativamente maior nas regiões Norte (0,86) e

    Nordeste (0,67) e menor no Sul e Sudeste, onde se registraram médias

    de respectivamente 0,58 e 0,63 moradores por cômodo. O Gráfico 2.9

    traz esses indicadores.

    Em 2008, a densidade era menor, de 0,61 pessoas por

    cômodo. A relação entre as regiões era semelhante. Entre os dois

    períodos, a razão entre moradores e cômodos subiu 0,6% ao ano em

    termos nacionais. Como essa taxa é positiva e houve queda de pessoas

    por moradias, entende-se que o número de cômodos por moradia caiu

    no período. Em outros termos, as mudanças de adensamento têm

    caráter demográfico e também espelham a evolução da oferta de

    imóveis, que estão ficando menores em número de cômodos.

    O adensamento de pessoas por dormitório é apresentada no

    Gráfico 2.10. Em 2008, os dados do IBGE indicaram a existência de

    1,79 pessoa por dormitório na média nacional, densidade que cresceu

    para 1,87 pessoa por dormitório em 2018. Isso equivaleu a um

    aumento média de 0,4% ao ano entre 2008 e 2018. Essa tendência,

    comparada com a evolução do índice de pessoas por cômodo, indica

    36

  • uma ligeira queda na percentagem de cômodos servindo de dormitó-

    rio nas moradias. Isso é consistente com a redução do número de

    pessoas por moradia.

    Na comparação entre regiões, Norte e Nordeste figuram

    novamente com os maiores adensamentos em 2018: 2,17 moradores

    por dormitório e 1,90 morador por dormitório. Contudo, essas foram

    as duas regiões que apresentaram as menores taxas de crescimento da

    densidade entre 2008 e 2018 – quedas de 0,4% ao ano e 0,3% ao ano.

    O Gráfico 2.11 traz o adensamento por classe de rendimento

    domiciliar per capita em 2018 para o Brasil. Nota-se que quanto maior

    a classe de rendimento domiciliar per capita, menor o adensamento.

    Nas moradias dos 25% mais pobres do país, havia 2 pessoas por

    dormitório em 2018. Nos domicílios do 1% mais rico, a densidade era

    de 1,5 pessoa por dormitório nesse ano.

    37

    Gráfico 2.10.Número de pessoas por dormitório, por região, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    2,08

    1,85 1,79 1,74 1,781,65

    2,17

    1,90 1,87 1,87 1,86 1,80

    -

    0,40

    0,80

    1,20

    1,60

    2,00

    2,40

    Norte Nordeste Brasil Centro-Oeste Sudeste Sul

    2008 2018

  • 38

    Adensamento excessivo

    Uma das condições habitacionais que integram o cálculo do

    déficit habitacional da Fundação João Pinheiro (FJP) é o adensamento

    domiciliar em moradias de aluguel. A FJP considera que as habitações

    de aluguel que têm mais de 3 pessoas por dormitório são excessiva-

    mente adensadas e, portanto, inadequadas. Ademais considera que

    elas fazem do déficit por que: “

    .” (FJP, 2018, p. 24).

    Os dados do IBGE indicam que em 2018 havia 1,498 milhão

    de moradias com adensamento excessivo no Brasil. Esse número é

    5,6% maior do montante de moradias com adensamento excessivo

    em 2008, que totalizou 1,419 milhão de unidades. O Gráfico 2.12 traz

    Como, nesses casos, os inquilinos não

    podem ampliar o imóvel nem vendê-lo para comprar um maior,

    caracteriza-se a necessidade potencial de um novo imóvel para essas

    famílias

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Gráfico 2.11.Densidade de pessoas por dormitório, por classe de rendimentodomiciliar per capita, 2008 e 2018

    2,22

    1,74 1,79

    1,491,39 1,34

    2,00 1,94 1,87

    1,611,51 1,49

    -

    0,40

    0,80

    1,20

    1,60

    2,00

    2,40

    25% maispobres

    dos 25% aos75% da

    distribuição

    Total dos 75% aos95% da

    distribuição

    dos 95% aos99% da

    distribuição

    1% mais ricos

    2008 2018

  • distribuição desses domicílios entre aqueles que estavam acima ou

    abaixo da linha de pobreza. Nota-se que houve uma concentração nas

    moradias de pessoas pobres. Em termos absolutos, houve crescimen-

    to de 298 mil para 342 mil habitações nessas condições de adensa-

    mento excessivo e pobreza entre 2008 e 2018, o que indica uma

    expansão de 14,7%.

    As pesquisas domiciliares do IBGE também permitem avaliar

    as condições materiais das moradias brasileiras. Há informações

    sobre os tipos de materiais das paredes, da cobertura e dos pisos das

    2.3.2. Condições materiais

    Definições

    Gráfico 2.12.Número de moradias com adensamento excessivo, por condições de

    pobreza, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    39

    298.286 342.219

    1.120.3451.155.700

    -

    300.000

    600.000

    900.000

    1.200.000

    1.500.000

    2008 2018

    Abaixo da linha de pobreza Acima da linha de pobreza

  • habitações e considerando esses tipos é possível classificá-los como

    adequados ou não.

    Conforme a metodologia de cálculo do déficit habitacional da

    FJP, os imóveis com paredes de alvenaria ou madeira aparelhada

    (própria para edificações) são considerados adequados. Os que não

    atendem a esse critério, são considerados rústicos e, portanto,

    inadequados como habitação, pois “

    ” (FJP, 2018, p. 20).

    Seguindo a mesma linha, a FJP considera que os imóveis com

    cobertura de telhado, laje ou madeira aparelhada (própria para

    edificações) são adequados. Os que não atendem a esse critério são

    considerados inadequados porque não fornecem isolamento apropri-

    ado do meio ambiente, expondo os moradores às condições climáticas

    que podem ser adversas.

    Em 2018, havia 338,7 mil moradias com material de parede

    inadequado segundo as informações da PNADC, o que representava

    0,6% das habitações no país. O número de moradores habitando

    nessas unidades habitacionais somou quase 1,1 milhão de pessoas. A

    situação em 2008 era notadamente pior: o número de moradias em

    condições inadequadas segundo o material das paredes era de 431,8

    mil onde moravam quase 1,6 milhão de pessoas. O Gráfico 2.13 traz o

    número de moradias e o nessas condições em

    2008 e 2018. A queda no número de pessoas morando nessas condi-

    ções foi de 32,7% nesses dez anos.

    5

    em decorrência das suas condi-

    ções de insalubridade, esse tipo de edificação proporciona desconforte

    e traz risco de contaminação por doenças

    Material da parede

    número de moradores

    40

    5 As informações sobre as características do piso são mais recentes e não permitem a

    comparação temporal proposta neste estudo.

  • As distribuições por classe de rendimento são apresentadas

    no Gráfico 2.14 e 2.14. Em 2008, 54,3% das moradias com paredes

    inadequadas abrigavam os 25% mais pobres da população brasileira.

    Esse percentual caiu para 45,5% em 2018. Em compensação, houve

    aumento do número de moradias sem condições adequadas de

    paredes nas classes intermediárias de renda. Isso indica uma melhoria

    das condições das paredes entre os mais pobres.

    Segundo as informações da PNADC havia 1,031 milhão de

    moradias com material da cobertura inadequado, o que representava

    1,7% das habitações urbanas no país. O número de moradores

    habitando nessas unidades habitacionais somou quase 3,2 milhões de

    pessoas. Neste caso, ao contrário do que se viu na avaliação das

    Material da cobertura

    41

    Gráfico 2.13.Número de moradias e número de moradores em domicílios comparedes inadequadas, Brasil, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    431.385338.691

    1.579.970

    1.062.965

    -

    300.000

    600.000

    900.000

    1.200.000

    1.500.000

    1.800.000

    2008 2018

    Moradias Moradores

  • condições das paredes, a situação em 2008 era notadamente melhor:

    o número de moradias em condições inadequadas segundo o material

    da cobertura era de 478,9 mil onde moravam quase 1,6 milhão de

    pessoas. O Gráfico 2.15 traz a distribuição por região do número de

    moradias e do em 2008 e 2018. O aumento do

    número de pessoas morando nessas condições foi de 93,5% em dez

    anos.

    As distribuições por classe de rendimento são apresentadas

    no Gráfico 2.16. Em 2008, 41,2% das moradias com paredes inade-

    quadas abrigavam os 25% mais pobres da população brasileira. Esse

    percentual caiu para 33,7% em 2018. Contudo, como o crescimento

    do número total de moradias nessas condições cresceu entre os dois

    períodos, em termos absolutos, as moradias dos 25% mais pobres da

    população morando em habitações com material de cobertura

    inadequado passou de 197,2 mil em 2008 para 347,9 mil unidades em

    2018 – aumento de 76,5%.

    Além das condições materiais das paredes e da cobertura a

    situação do saneamento constitui uma das questões críticas de

    avalição das condições das moradias. As pesquisas do IBGE são

    amplas neste aspecto e permitem avaliar o acesso e a regularidade do

    abastecimento de água, a disponibilidade de banheiro de uso exclusivo

    nas moradias e a forma de escoadouro sanitário.

    Conforme as diretrizes do Plano Nacional de Saneamento

    (Plansab) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), os imóveis

    número de moradores

    2.3.3. Condições de saneamento

    Definições

    42

  • 43

    Gráfico 2.14.Número de moradias e número de moradores em domicílios com

    paredes inadequadas, por classe de rendimento domiciliar per capita,2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Gráfico 2.15.Número de moradias e número de moradores em domicílios

    com cobertura inadequada, Brasil, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    54,3%

    41,7%

    3,9%0,1% 0,0%

    45,5% 45,3%

    8,2%

    0,8% 0,1%0,0%

    10,0%

    20,0%

    30,0%

    40,0%

    50,0%

    60,0%

    25% mais pobres dos 25% aos 75%da distribuição

    dos 75% aos 95%da distribuição

    dos 95% aos 99%da distribuição

    1% mais ricos

    2008 2018

    478.944

    1.031.190

    1.628.474

    3.151.269

    -

    1.000.000

    2.000.000

    3.000.000

    4.000.000

    2008 2018

    Moradias Moradores

  • urbanos que recebem água tratada por rede geral de distribuição são

    considerados adequados. Os que não atendem a esse critério são

    considerados inadequados. Além da ligação na rede geral de abasteci-

    mento, é necessária regularidade na distribuição. O Plansab e a OMS

    consideram adequados apenas o abastecimento diário, visto que a

    irregularidade pode comprometer a qualidade da água consumida ou

    pode provocar a descontinuidade dos serviços de higiene pessoal e

    alimentação.

    Considera-se inadequada a moradia que não dispõem de

    banheiro de uso exclusivo. A ocorrência dessa condição restringe

    severamente as condições sanitárias da residência urbana. Também

    são inadequadas as formas de escoamento sanitário que não a coleta

    por rede geral de esgoto.

    44

    Gráfico 2.16.Número de moradias e número de moradores em domicílios com

    cobertura inadequada, por classe de rendimento domiciliar per capita,2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    41,2%

    51,4%

    7,0%

    0,4% 0,0%

    33,7%

    46,8%

    17,0%

    1,7% 0,7%0,0%

    10,0%

    20,0%

    30,0%

    40,0%

    50,0%

    60,0%

    25% mais pobres dos 25% aos 75%da distribuição

    dos 75% aos 95%da distribuição

    dos 95% aos 99%da distribuição

    1% mais ricos

    2008 2018

  • 45

    Completa o conjunto de condições sanitárias as condições de

    disposição de resíduos sólidos das residências. No meio urbano, é

    considerada adequada apenas a moradia que tem acesso a serviço

    regular de coleta na residência ou em caçambas coletivas.

    Segundo as informações da PNADC havia 3,763 milhões de

    moradias sem acesso à rede geral de abastecimento de água tratada

    nas cidades brasileiras em 2018, o que representava 6,1% das

    habitações urbanas no país. O número de moradores habitando

    nessas unidades habitacionais alcançou 11,761 milhões de pessoas. A

    situação era pior em 2008: o número de moradias em condições

    inadequadas segundo o acesso à água tratada era de 3,818 milhões de

    unidades habitacionais urbanas onde moravam quase 13,110 milhões

    de pessoas. O Gráfico 1.17.a traz a distribuição por região do número

    de moradias nessas condições em 2008 e 2018 e o Gráfico 1.17.b a

    distribuição do número de moradores. Entre os dois períodos, houve

    queda de 10,3% no número de pessoas morando em residências não

    ligadas à rede geral de abastecimento de água.

    As distribuições por classe de rendimento são apresentadas

    no Gráfico 1.18. Em 2008, 33,3% das moradias sem acesso à rede

    geral de abastecimento de água abrigavam os 25% mais pobres da

    população brasileira. Esse percentual caiu para 31,5% em 2018. Como

    redução geral do número total de moradias nessas condições, o

    número de moradias dos 25% mais pobres da população morando em

    habitações sem acesso à água tratada caiu 6,7% entre 2008 e 2018.

    Os dados de 2018 da PNADC permitem avaliar a regularidade

    na distribuição de água. No meio urbano do país, das 51,304 milhões

    de residências que estavam ligadas à rede geral de abastecimento de

    Abastecimento de água

  • 46

    água tratada, 6,349 milhões (12,4% do total) não recebia água com a

    devida regularidade. Como ilustra o Gráfico 2.19.a, esse problema é

    mais frequente na região Nordeste do país, onde a irregularidade no

    abastecimento aflige a quase 30% das moradias ligadas à rede geral

    de abastecimento. O problema é mais frequente entre as residências

    das famílias mais pobres (Gráfico 2.19.b).

    No diz respeito à inexistência de banheiro de uso exclusivo

    das moradias, vê-se uma evolução muito favorável dos indicadores

    entre 2008 e 2018. A falta de banheiro de uso exclusivo afligia 428,7

    mil moradias nas áreas urbanas em 2018 segundo as informações da

    PNADC. O número de moradores dessas unidades habitacionais

    Banheiro de uso exclusivo

    Gráfico 2.17.Número de moradias e número de moradores em domicílios sem

    acesso à rede geral de abastecimento de água tratada, por regiões,em mil unidades, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    (A) (B)

    -

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    3.500

    4.000

    4.5002008 2018

    -

    2.000

    4.000

    6.000

    8.000

    10.000

    12.000

    14.0002008 2018

  • 47

    Gráfico 2.18.Número de moradias e número de moradores em domicílios sem

    acesso à rede geral de abastecimento de água tratada, por classe derendimento domiciliar per capita, Brasil, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Gráfico 2.19.Frequência de moradias com abastecimento de água tratadairregular, por região e por classe de rendimento domiciliar per

    capita, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    33,3%

    50,4%

    13,2%

    2,6%0,6%

    31,5%

    46,3%

    17,4%

    3,7%1,1%

    0,0%

    10,0%

    20,0%

    30,0%

    40,0%

    50,0%

    60,0%

    25% mais pobres dos 25% aos 75%da distribuição

    dos 75% aos 95%da distribuição

    dos 95% aos 99%da distribuição

    1% mais ricos

    2008 2018

    (A) (B)

    12,8%

    29,9%

    4,6%2,6%

    13,1% 12,4%

    0%

    5%

    10%

    15%

    20%

    25%

    30%

    35%14,1%

    13,4%

    10,4%

    5,7%

    3,7%

    0%

    2%

    4%

    6%

    8%

    10%

    12%

    14%

    16%

    25% maispobres

    dos 25%aos 75% dadistribuição

    dos 75%aos 95% dadistribuição

    dos 95%aos 99% dadistribuição

    1% maisricos

  • Gráfico 2.20.Número de moradias e número de moradores em domicílios sembanheiro de uso exclusivo, por regiões, em mil unidades, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    48

    (A) (B)

    -

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    3.500

    4.0002008 2018

    -

    200

    400

    600

    800

    1.000

    1.2002008 2018

    Gráfico 2.21.Frequência de moradias sem banheiro de uso exclusivo, por classe derendimento domiciliar per capita, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    47,6%45,4%

    6,3%

    0,7% 0,0%

    56,8%

    36,6%

    6,2%

    0,3% 0,1%0,0%

    10,0%

    20,0%

    30,0%

    40,0%

    50,0%

    60,0%

    25% mais pobres dos 25% aos 75%da distribuição

    dos 75% aos 95%da distribuição

    dos 95% aos 99%da distribuição

    1% mais ricos

    2008 2018

  • somou quase 1,348 milhão de pessoas. Em 2008, havia 1,093 milhão

    de moradias urbanas nessas condições onde moravam 3,535 milhões

    de pessoas. A queda no número de pessoas sujeitas a essa condição

    caiu quase 62% em dez anos, sendo particularmente elevada nas

    regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

    A população remanescente nessas condições concentrou-se

    ainda mais na população mais pobres conforme indica o Gráfico 2.21,

    que traz as distribuições das moradias sem banheiro de uso exclusivo

    por classe de rendimento em 2008 e em 2018. Em 2008, 47,6% das

    moradias urbanas sem banheiro de uso exclusivo abrigavam os 25%

    mais pobres da população brasileira. Esse percentual elevou-se para

    56,8% em 2018.

    A situação mais grave na área do saneamento no Brasil é falta de coleta

    de esgoto por rede geral. Também é a área em que a situação avançou

    muito pouco. Em 2008, o número de moradias urbanas nessa

    condição era de 15,115 milhões onde moravam 52,228 milhões de

    pessoas. Em 2018, o número de residências que ainda estavam nessas

    condições foi de 15,021 milhões que abrigavam 46,367 milhões de

    pessoas nas áreas urbanas do país. Como ilustra o Gráfico 2.22.a,

    houve crescimento desse déficit no Norte e Nordeste do país e redução

    só foi expressiva no Sudeste e Sul do país, onde os números de

    residências nessa condição caíram respectivamente 19,0% e 9,0% e o

    de moradores, 27,5% e 18,4% entre 2008 e 2018.

    Os dados do Gráfico 2.23 revelam que as famílias de menor

    poder aquisitivo respondem por parcelas grandes do déficit de coleta

    de esgoto. Contudo, vale observar que cresceu consideravelmente a

    participação e famílias maior poder aquisitivo nessa situação,

    Coleta de esgoto

    49

  • 50

    Gráfico 2.22.Número de moradias e número de moradores em domicílios semcoleta de esgoto, por regiões, em mil unidades, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Gráfico 2.23.Frequência de moradias sem coleta de esgoto, por classe derendimento domiciliar per capita, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    -

    2.000

    4.000

    6.000

    8.000

    10.000

    12.000

    14.000

    16.000

    2008 2018

    -

    10.000

    20.000

    30.000

    40.000

    50.000

    60.0002008 2018

    31,2%

    51,9%

    14,5%

    2,1% 0,3%

    31,9%

    46,7%

    18,0%

    2,7%0,6%

    0,0%

    10,0%

    20,0%

    30,0%

    40,0%

    50,0%

    60,0%

    25% mais pobres dos 25% aos 75%da distribuição

    dos 75% aos 95%da distribuição

    dos 95% aos 99%da distribuição

    1% mais ricos

    2008 2018

    (A) (B)

  • inclusive entre os 25% mais ricos da população. Em 2008, essa

    participação era de 16,9% e, em 2018, ela alcançou 21,4% das

    moradias. Isso indica que o avanço da coleta e tratamento de esgoto

    está descolado do progresso econômico das famílias. Possivelmente

    isso ocorre porque o crescimento das metrópoles não foi suprido por

    investimentos dos operadores de saneamento para ampliar a cobertu-

    ra de coleta de esgoto nas grandes cidades brasileiras.

    A coleta de lixo é uma dimensão do saneamento cuja situação

    se deteriorou nesses dez anos de análise. Em 2008, havia pouco mais

    de 1 milhão de moradias nas áreas urbanas sem coleta regular de lixo,

    número que cresceu 25% entre 2008 e 2018, alcançando 1,257 milhão

    Coleta de lixo

    51

    Gráfico 2.24.Número de moradias e número de moradores em domicílios semcoleta de lixo, por regiões, em mil unidades, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    -

    200

    400

    600

    800

    1.000

    1.200

    1.4002008 2018

    -

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    3.500

    4.000

    4.5002008 2018

    (A) (B)

  • Gráfico 2.25.Frequência de moradias sem coleta de lixo, por classe de rendimentodomiciliar per capita, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    52

    45,0% 45,6%

    8,3%

    0,8% 0,2%

    40,8%

    48,1%

    10,2%

    0,8% 0,1%0,0%

    10,0%

    20,0%

    30,0%

    40,0%

    50,0%

    60,0%

    25% mais pobres dos 25% aos 75%da distribuição

    dos 75% aos 95%da distribuição

    dos 95% aos 99%da distribuição

    1% mais ricos

    2008 2018

    de habitações. Em termos populacionais, o número de pessoas nessa

    situação aumentou 15,2%, passando de 3,488 milhão em 2008 para

    4,017 milhão em 2018. Neste aspecto, as regiões que tiveram maiores

    deteriorações formam o Sudeste e o Sul.

    Em termos de distribuição por classe de rendimento, a

    situação se alterou pouco entre 2008 e 2018 como ilustra o Gráfico

    2.25. No último ano, apenas 11,1% das moradias urbanas sem coleta

    regular de lixo abrigavam pessoas entre os 25% mais ricos. Em 2008,

    essa proporção era ligeiramente menor, de 9,4%, indicando uma

    ligeira diminuição da frequência de domicílios sem coleta regular de

    lixo na população mais pobre.

  • 2.3.4. Regularidade e comprometimento de renda

    As questões de fundo

    A situação dos imóveis próprios e a dos alugados remetem a

    questões distintas na área do desenvolvimento urbano. No caso de

    imóveis próprios, um tema que emerge usualmente nas discussões é a

    questão da regularidade fundiária. No caso de imóveis de aluguel, o

    assunto crítico é o comprometimento de renda com as despesas

    mensais.

    A regularidade fundiária é um tema complexo que envolve

    questões jurídicas que vão muito além do que as pesquisa domiciliares

    conseguem identificar. As pesquisas domiciliares do IBGE, incluindo o

    Censo Demográfico, apenas verificam se a moradia é própria e, em

    caso afirmativo, se o imóvel está assentado sobre um terreno próprio.

    Com base na combinação dessas respostas, define-se como irregular a

    moradia própria assentada sobre terreno que não é próprio, na

    suposição de que é uma área coletiva, cedida ou invadida.

    Efetivamente, a regularidade fundiária vai muito além desse

    ponto passível de ser vislumbrado com os dados do IBGE. A autodecla-

    ração de propriedade do imóvel e do terreno está distante de constituir

    a regularidade fundiária. A pessoa entrevistada pelo IBGE pode se

    considerar um proprietário mesmo não tendo um documento regular

    de propriedade, ou o documento pode estar desatualizado em virtude

    de sucessão familiar ou de mudança do estado civil. O mesmo pode

    ocorrer no caso da propriedade do terreno.

    As alternativas metodológicas seriam consultar registros

    imobiliários ou administrativos das prefeituras. Contudo, os registros

    imobiliários estão dispersos numa malha com alta capilaridade de

    cartórios que iniciaram sua informatização e sua articulação instituci-

    53

  • onal há muito pouco tempo. As prefeituras também têm um nível de

    organização pouco uniforme e capacidades administrativas bastantes

    diversas. Assim, por mais precária que seja a avaliação com base em

    dados do IBGE, resta essa opção para se fazer mesmo que uma

    aproximação do problema.

    O tema do comprometimento de renda é mais consensual e

    pode ser bem compreendido com base nas pesquisas domiciliares,

    sejam as de maior regularidade como a PNAD, sejam as pesquisas de

    orçamento familiar (POF), que ocorrem a cada dez anos. A visão

    consagrada da FJP (FJP,2018) emprega o comprometimento excessivo

    de renda com o pagamento de aluguel – também chamado de ônus

    excessivo – como uma das situações em que há um déficit habitacio-

    nal. Tecnicamente, uma moradia está no déficit habitacional se (i) o

    rendimento domiciliar for inferior a três salários mínimos e (ii) se o

    pagamento de aluguel superar 30% da renda domiciliar.

    Segundo as informações da PNADC, 71,4% dos imóveis em

    áreas urbanas eram autodeclarados próprios em 2018. Isso equivaleu

    a um total de 40,771 milhões de moradias em todo o país. Conforme

    indica o Gráfico 2.26, a parcela de domicílios próprios no total de

    moradias era maior nas regiões Norte, Nordeste e Sul do país. Em

    2008, essa proporção era maior: 74,0%. Isso indica que houve

    crescimento maior dos imóveis alugados e cedidos do que das

    moradias próprias nesses dez anos.

    As frequências de moradias próprias por classe de rendimen-

    to são apresentadas no Gráfico 2.27. Nota-se uma enorme transfor-

    mação nesses dez anos. Em 2008, a parcela de moradias próprias no

    total de domicílios era maior nas classes de renda mais elevadas. Nos

    Imóveis próprios e alugados

    54

  • 55

    Gráfico 2.26.Parcelas das moradias próprias no total de domicílios, por regiões,2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    79,0%

    75,6%

    72,9%

    76,3%

    67,8%

    74,0%74,8%

    73,1%

    69,9%

    74,1%

    66,7%

    71,4%

    60,0%

    64,0%

    68,0%

    72,0%

    76,0%

    80,0%

    Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil

    2008 2018

    Gráfico 2.27.Frequência de moradias próprias no total de domicílio, por classe derendimento domiciliar per capita, Brasil, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    70,5%

    74,5%

    76,5% 76,9%

    79,6%

    75,0%

    69,4%70,3%

    72,4%71,1%

    63,0%

    66,0%

    69,0%

    72,0%

    75,0%

    78,0%

    81,0%

    25% mais pobres dos 25% aos 75%da distribuição

    dos 75% aos 95%da distribuição

    dos 95% aos 99%da distribuição

    1% mais ricos

    2008 2018

  • 56

    25% mais pobres da população, a percentagem de imóveis próprios

    era de 70,5%. Nos 1% mais ricos da população, a percentagem

    aproximava-se de 80%. Em 2018, essa relação se inverteu: nas

    moradias entre os 25% mais pobres, a frequência de imóveis próprios

    foi de 75% de imóveis próprios e nos 1% mais ricos da população, a

    percentagem caiu para 71,1%.

    Em 2018, as estatísticas da PNADC indicam a existência de

    3,051 milhões de moradias próprias assentadas em terreno de

    terceiros nas áreas urbanas do Brasil. Desse total, 48,0% estava na

    região Sudeste do país e 23,5%, na região Nordeste. O Mapa 2.6 traz a

    distribuição desses imóveis por unidade da Federação e regiões.

    Conforme aponta o Mapa 2.7, na média nacional o número de

    moradias próprias assentadas em terreno de terceiros cresceu 6,0%

    ao ano entre 2008 e 2018. Isso significou o acréscimo de quase 1,7

    milhão de moradias nessa condição nos dez anos analisados. As taxas

    de expansão foram particularmente elevadas nas regiões Centro-

    Oeste, Norte e Nordeste do país. Distrito Federal, Rio Grande do Norte,

    Sergipe e Alagoas tiveram aumentos alarmantes que ficaram acima de

    15% ao ano.

    Em 2018, conforme apontam os dados da PNADC, o aluguel

    médio pago no Brasil foi de R$ 703,11 por mês. Esse valor foi fortemen-

    Terreno irregular

    Aluguel e comprometimento de renda

  • 57

    Mapa 2.6.Moradias próprias assentadas em terreno de terceiros, por unidade da

    Federação e regiões, em mil unidades, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    te influenciado pelo valor dos aluguéis no Sudeste do país, onde a

    média alcançou R$ 827,14 por mês (17,6% acima da média nacional).

    Conforme ilustra o Gráfico 2.28, os alugueis na região Sul ficaram

    próximos da média nacional e nas demais regiões, ficaram muito

    abaixo da média. Vale observar que, em 2008, já havia certa disparida-

    de do valor de alegueis entre as regiões brasileiras, mas a variabilidade

    era bem menor. Na média do país, o aluguel foi de R$ 308,17 por mês e,

    na região Sudeste, de R$ 347,58 por mês, valor 12,8% superior à

    média.

    Os dados apontam elevações de custos bastante acentuadas

    no período. Para as áreas urbanas do país, o aumento do aluguel

    143,0

    715,9

    1.465,4

    505,2

    222,0

    2,113,6

    51,7

    11,6

    112,9

    22,6

    74,1

    141,3

    37,221,0

    -4,2%

    -0,3%

    -2,1%

    82,6

    520,7

    154,6

    106,5

    244,1

    6,8%

    -5,5%5,5%

    -7,1%

    -4,9%

    2,5%

    8,1%

    -2,2%

    Brasil: 3.051,4

    33,767,8

    22,9

    30,5

    99,569,0

    165,7

    696,4

    1,8

    243,66,0

    18,0

  • Mapa 2.7.Crescimento do número de moradias próprias assentadas em terrenode terceiros, por unidade da Federação e regiões, em (%) ao ano,2008 a 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    médio foi de 8,6% ao ano entre 2008 e 2018, período em que o IPCA

    cresceu apenas 5,9%. Isso indica que os preços dos serviços de aluguel

    subiram 2,7 pontos percentuais a mais que a inflação a cada ano. Na

    região Sudeste, o aumento do valor médio dos aluguéis foi de 9,1% e

    no Nordeste, de 8,7%.

    Esse padrão de evolução refletiu sobre o comprometimento

    de renda das moradias com aluguel. De fato, a renda média domiciliar

    dos imóveis alugados passou de R$ 1.274,19 por mês em 2008 para

    2.096,84 por mês em 2018, indicando crescimento de apenas 5,1% ao

    ano. Dessa forma, o comprometimento da renda domiciliar com o

    pagamento de aluguel passou de 24,2% em 2008 para 33,5% em

    58

    8,5% a.a

    7,7% a.a

    4,3% a.a

    6,7% a.a

    11,9% a.a

    14,8% a.a5,5% a.a

    3,7% a.a

    0,1% a.a

    4,1% a.a

    17,0% a.a

    6,9% a.a

    4,0% a.a

    25,2% a.a20,3% a.a

    -4,2%

    -0,3%

    -2,1%

    15,0% a.a

    14,9% a.a

    8,0% a.a

    10,3% a.a

    4,8% a.a

    6,8%

    -5,5%

    -7,1%

    -4,9%

    2,5%

    8,1%

    -2,2%

    Brasil: 6,0% a.a

    12,5% a.a7,6% a.a

    1,3% a.a

    12,9% a.a

    14,5% a.a15,0% a.a

    1,0% a.a

    0,6% a.a

    -3,8%a.a

    13,0% a.a3,9% a.a

    14,3% a.a

  • 59

    Gráfico 2.28.Valor do aluguel em R$ por mês, por regiões, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Gráfico 2.29.Comprometimento de renda domiciliar com aluguel,

    por regiões, 2008 e 2018

    Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    253,3201,1

    347,6 335,3 325,9 308,2

    529,7

    461,1

    827,1

    707,4 684,3 703,1

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil

    2008 2018

    21,5%22,7%

    24,7%26,2%

    23,1% 24,2%

    33,0%

    35,9%34,5%

    28,9%30,8%

    33,5%

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil2008 2018

  • 60

    2018 na média das áreas urbanas do país, um aumento de 9,3 pontos

    percentuais. O aumento do comprometimento de renda superou 10

    pontos percentuais no Norte e no Nordeste brasileiro.

    Os dados da PNADC indicam que das 10,886 milhões de

    moradias de aluguel em 2018, 4,122 milhões gastavam mais de 30%

    de sua renda domiciliar no pagamento de aluguel. Isso indica que

    37,9% das moradias tinham ônus excessivo com aluguel. A maior

    parte dessas moradias (54,2%) ficava na região Sudeste do país, como

    era de esperar. Outros 20,6% ficavam no Nordeste como ilustra o

    Mapa 2.8.

    O avanço rápido do comprometimento excessivo de renda

    com aluguel pode ser visualizado no Gráfico 1.30. Em 2008, do total de

    imóveis alugados, 22,4% apresentava comprometimento de renda

    domiciliar com aluguel superior ou igual a 30%. Essa percentagem

    cresceu para 37,9% das moradias de aluguel em 2018. O aumento de

    frequência dessa situação foi generalizada no país, mas mais intensa

    nas regiões Sudeste e Nordeste, onde os aumento de taxas foram de

    16,7 pontos percentuais e 18,2 pontos percentuais, respectivamente.

    O Quadro 2.1 traz um balanço da situação atual e da evolução das

    condições de moradias no Brasil. É possível concluir que há dois

    problemas no desenvolvimento urbano brasileiro que se agravaram

    nesses dez anos:

    Ônus excessivo com aluguel

    6

    3.4. Conclusão

    Neste estudo, considerou-se o ônus excessivo para todos os imóveis, independen-

    temente da classe de renda do domicílio.

    6

  • Fonte: IBGE. Elaboração própria.

    Mapa 2.8.Moradias com ônus excessivo do aluguel, por unidade da Federação eregiões, 2018

    61

    No que diz respeito às moradias de aluguel, nota-se que

    houve uma elevação considerável de preços, a qual teve

    impacto sobre o comprometimento de renda e trouxe um

    agravamento rápido e intenso da situação de ônus excessivo

    com aluguel. Também se elevou o adensamento excessivo

    em imóveis alugados.

    No que diz respeito ao saneamento, a redução do número

    de moradias sem coleta de esgoto foi muito pequena no

    período e o número de moradias sem coleta de lixo cresceu.

    Essas questões estão diretamente relacionadas às condições

    197,0

    848,4

    2.234,0

    476,5

    366,5

    9,87,2

    48,6

    26,8

    186,5

    50,0

    68,8

    188,1

    49,542,4

    -4,2%

    -0,3%

    -2,1%

    71,0

    471,9

    178,9

    128,7

    168,9

    6,8%

    -5,5%

    -7,1%

    -4,9%

    2,5%

    8,1%

    -2,2%

    Brasil: 4.122,5

    62,661,5

    60,7

    45,3

    147,1113,4

    410,8

    1.280,3

    25,0

    188,18,5

    22,9

  • fiscais e às capacidade dos municípios brasileiros, que não

    foram capazes de expandir a oferta desses serviços na

    medida do necessário.

    Além desses pontos, vale observar que houve piora nas

    condições de cobertura dos imóveis e a irregularidade do terreno

    aumentou. Esses dois fatores estão ligados diretamente a construções

    irregulares e fora de padrão, geralmente realizadas por conta própria,

    e que não seguem um ordenamento adequado de desenvolvimento

    urbano. Apesar de ter havido um avanço substancial da produção