Estudos Europeus I - Perspetiva histórica - Autor desconhecido-1

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Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão. A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo possível imputar-lhe quaisquer responsabilidades. Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuído fora do site da Associação Académica da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito. 31016 – Estudos Europeus I Apontamentos de: Autor desconhecido E-mail: Data: Bibliografia: PIRES, Maria Laura Bettencourt, Estudos Europeus I, Lisboa, Universidade Aberta, 2001. Nota:

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Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão. A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo possível imputar-lhe quaisquer responsabilidades. Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuído fora do site da Associação Académica da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito.

31016 – Estudos Europeus I

Apontamentos de: Autor desconhecido E-mail: Data: Bibliografia: PIRES, Maria Laura Bettencourt, Estudos Europeus I, Lisboa, Universidade Aberta, 2001. Nota:

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ESTUDOS EUROPEUS I Tema 1 – A Europa até 1914 – A construção de uma id eia Introdução A palavra Europa possui uma longa história, mas a ideia de Europa é muito mais recente. Foi apenas no início do século XIX que esta ideia, que resultou de um nova forma de entender a natureza e as origens da Europa, começou a apresentar contornos claros. A Revolução Francesa é, inegavelmente, o acontecimento que marca o momento em que se começou a pensar a Europa de forma diferente. Os três principais elementos que estão presentes na história da ideia de Europa são: • A ideia de Liberdade – surgiu pela primeira vez na Grécia Antiga, no século V a.C. • A ideia de Cristandade – no século XV • A ideia de Civilização – no século XVIII, com o Iluminismo (a partir do século XIX esta ideia era

sinónimo de progresso).

A ideia de liberdade surgiu pela primeira vez na Grécia Antiga, em consequência da guerra entre Gregos e Persas, originada pela expansão do Império Persa. A oposição entre a Grécia e a Pérsia era vista pelos Gregos como representando a oposição entre a Europa e a Ásia, entre a liberdade e o despotismo. Assim, Europa, um nome geograficamente vago, ganhou uma especial conotação. A ideia de Cristandade - É sobretudo dentro do contexto da ameaça Turca que a Europa se torna sinónimo do mundo cristão. A palavra Europa começa a ser utilizada com mais frequência e a identificação da Europa com Cristandade tornou-se habitual. A ideia de Civilização - O sentimento de superioridade europeu baseava-se num aglomerado de ideias desenvolvidas pelo Iluminismo que, por seu turno, veio a ficar ligado à noção de civilização. O Cristianismo continuou a desempenhar um papel importante, mas já não era a força dominante. Europa e Cristandade já não são sinónimos.

Séc. V a.C. A ideia de li berdade surgiu pela primeira vez na Grécia Antiga , em consequência

da guerra entre Gregos e Persas, originada pela expansão do Império Persa. A oposição entre a Grécia e a Pérsia era vista pelos Gregos como representando a oposição entre a Europa e a Ásia, entre a liberdade e o despotismo. Assim, Europa, um nome geograficamente vago, ganhou uma especial conotação.

Séc. V a.C. A origem da palavra Europa , enquanto nome de Continente, está envolta em grande mistério Heródoto (historiador grego) dizia desconhecer a razão porque se considerava que o mundo está dividido em 3 partes – Europa, Ásia e África – e porque tinham nomes de mulher. Desconhecia-se se existia um mar a norte e a leste da Europa. Apenas se sabia com segurança que o Mediterrâneo separava a Europa de África; a Leste, o mar de Azov e o Rio Don marcavam a fronteira entre a Europa e a Ásia; e a ocidente, as colunas de Hércules. A divisão do mundo em continentes é assim muito antiga, tal como o nome desses continentes.

Séc. V a.C. Na mitologia greg a, a Europa é filha de um rei fenício. O Deus supremo dos gregos, Zeus apaixona-se por ela, assumindo a forma de touro deita-se aos pés dela. Assim que a Europa se senta no seu dorso encaminha-se para o mar e nada até Creta levando-a. Assume a forma humana e gera três filhos a Europa. O rapto da Europa foi um tema muito popular na literatura e artes plásticas durante o período clássico. Os cristãos insistiram mais tarde neste mito, como um comportamento indigno do deus supremo dos Gregos pagãos. Alguns estudiosos defendem que:

• A palavra Europa pode derivar da língua fenícia na qual significa: Terra do Entardecer ;

• ou derivar do Grego e nesse sentido Europa significa: a de Aspecto Escuro ;

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Séc. IV a.C. Hipócrates (médico grego) estabeleceu uma relação entre o clima e o comportamento: • Ásia – despotismo; falta de coragem e de inteligência; são menos belicosos e

mais submissos que os Europeus. • A Europa – liberdade, belicosidade, irracionalidade e paixão.

Séc. IV a.C. Aristóteles (filósofo grego) • Ásia – são inteligentes e hábeis mas carecem de coragem e força de vontade; • Europa – São corajosos, não são inteligentes ou hábeis, são independentes,

mostram pouca coesão entre si, são incapazes de governar outros povos; • Gregos – devido à sua posição geograficamente intermédia entre os europeus e

os asiáticos, reúnem as características positivas dos povos dos 2 continentes: são livres, possuem as melhores instituições políticas e são capazes de governar outros povos.

Os Gregos foram dominados pelos Macedónios que vieram do norte frio mas rapidamente se tornaram nos seus instrutores em todas as matérias de nível intelectual.

Séc. III a.C. Eratóstenes (matemático grego) elaborou o cálculo da circunferência da terra. Elabora um mapa segundo os cálculos de Píteas (linhas de latitude)

Séc. I a.C. Estrabão (historiador grego) elogiou os Romanos pela coragem militar e clarividência política e por terem conquistado quase toda a Europa. Europa é prodigamente beneficiada pela natureza: gado e fruta com abundância. Prevalece o elemento pacífico dos povos, apesar de alguns serem belicosos. A hegemonia na Europa pertenceu: Gregos, Macedónios e depois aos Romanos.

Séc. I Plínio, o velho (autor clássico) na Enciclopédia de História Natural refere que a Europa é o continente mais encantador, que alimentou o povo que conquistou todos os outros. Contudo, não comparou de forma concreta a Europa com a Ásia.

Séc. I O desenvolvimento do Império Romano nunca foi visto como uma expansão europeia. Não havia qualquer sentimento de identidade europeia.

Séc. I A palavra Europa não se encontra na Bíblia e para os Patriarcas, Profetas e Apóstolos não existe um conceito de Europa. Todavia a Europa tornou-se numa ideia cristã ou pelo menos um elemento importante do pensamento cristão. Existe, contudo, uma divisão tripartida dos Gregos que pode se encontrada na Bíblia. No Livro I do Génesis os três filhos de Noé – Sem, Cam e Jafé; e como, depois do dilúvio, foi a partir deles que os povos se dispersaram sobre a terra.

Séc. I Foi muito importante o trabalho de Flávio Josefo (historiador); foi o primeiro a descrever como a progenitura de Noé se separou para povoar a terra: Jafé � Europa; Cam � África; Sem � Ásia. Narra a história da maldição lançada sobre a progenitura de Cam, por este ter ridicularizado o pai.

Séc. IV-V São Jerónimo (padre) pega no texto de Josefo e tradu-lo para Latim e acrescenta que o nome Jafé significa “alargamento” ou “expansão”. O texto contém a profecia que os Judeus, que descendem de Sem, serão ultrapassados em erudição e conhecimentos da Bíblia pelos Cristãos, descendentes de Jafé.

Séc. IV-V Santo Agostinho (padre) faz uma interpretação alegórica da bíblia e ligeira referência à divisão tripartida do mundo. Analisa o significado da história bíblica dos filhos de Noé como uma profecia: • Cam (África) – significa calor, o que aponta para futuras heresias • Sem (Ásia) – significa o nomeado, dos Judeus nascerá Jesus Cristo. • Jafé (Europa) – significa alargamento, expansão – os cristãos são identificados

com Jafé Séc. IV-V Paulo Orósio (padre), discípulo de Santo Agostinho , escreveu a historiografia da

Idade Antiga e, para ele, o mundo estava dividido em 3 partes. • Rio Don – marcava a fronteira entre a Europa e a Ásia; • A fronteira da Europa prolonga-se através do Mar de Azov e do Mar Negro; • A África é mais pequena que a Europa;

Séc. VII Isidoro (bispo de Sevilha) elaborou o mapa mais antigo e completo no qual a descrição do mundo é a mesma dada que Santo Agostinho : o mundo encontra-se dividido em três partes. Refere também, como Josefo , uma origem com base na progenitura de Noé.

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Séc. VII Expansão Árabe - a unidade do Mediterrâneo foi quebrada, devido à enorme expansão árabe que se iniciou nesse século e que culminou com a conquista da Palestina e da Pérsia.

Séc. VIII Carlos Magno dominou Saxões, Itália, o reino dos Lombardos e restaurou o Império Romano. Foi considerado rex, pater Europae e elogiado com a veneranda coroa da Europa. No entanto a palavra Europa ainda não tem conotaçõe s emotivas, apenas territoriais.

Séc. X Oto – O Grande, ao derrotar os Magiares (Húngaros) nómadas foi apelidado como o Libertador da Europa , só quando havia uma ameaça do exterior é que era mencionada a palavra Europa.

Séc. XI Avanço dos Turcos – tomam algumas das possessões Bizantinas e Jerusalém. Séc. XI Papa Urbano II pediu ajuda ao Imperador de Bizâncio para organizar uma cruzada

para libertar o Santo Sepulcro (Jerusalém). É feita a associação entre Europa e o Cristianismo, mas não entre Europa e Cristandade (segundo Malmesbury – historiador inglês).

Séc. XII Os Normandos, que se haviam constituído mercenários a favor da causa cristã, desempenham um papel decisivo no reforço da posição da Cristandade Latina.

Séc. XII O mapa mais antigo da Europa (o mapa de Lambert) – Um manuscrito maravilhosamente ilustrado, inclui, numa das suas páginas, o mapa mais antigo que se conhece da Europa, provavelmente desenhado por Lambert, um cónego de Santomer. A Europa representa ¼ do mundo e reflecte um conceito geográfico de Europa com divisões políticas. Não há relação entre Europa e Cristandade.

Séc. XIV Foram recuperados os escritos sobre a geografia de Ptolomeu datados do século II. Os mapas da Europa passaram a ser desenhados segundo as indicações de Ptolomeu , onde era notável a redução do tamanho da Europa no mapa-mundo. O primeiro destes mapas parece ter sido realizado em Bizâncio pelo cronista Nicéforo Gregorias . Estes mapas eram ainda baseados na concepção medieval do mundo.

Séc. XV Andreas Walsperger desenha um mapa-mundo redondo, ilustrando um vasto conjunto de lendas e mitos, em que todas as cidades da Europa estão pintadas a vermelho, ou seja, toda a Europa é Cristã.

Séc. XV Cartas de Navegação (Portolani) utilizadas pelos marinheiros italianos, portugueses e espanhóis, registavam as rotas costeiras, identificando a identidade política das várias cidades e regiões. O objectivo destes mapas são práticos e não têm objectivos políticos, são também um meio de consolidar visualmente a identificação da Europa com a Cristandade.

Séc. XV Descob rimentos contribuíram para o desenvolvimento de uma certa imagem de Europa e para o desenvolvimento da cartografia moderna. Durante todo o século XV os portugueses transformaram drasticamente o conhecimento geográfico, 1492 – Descoberta do continente americano – Cristóvão Colombo 1498 – Descoberta caminha marítimo Índia – Vasco da Gama 1500 - Descoberta do Brasil – Álvares Cabral A Cristandade , o comércio e a colonização são os elementos da expansão europeia que estão na base dos sentimentos de superioridade.

Séc. XV A palavra Europa começa a ser utilizada com mais fr equência e a identificação da Europa com Cristandade tornou-se habitual. Época precedida pela enorme depressão económica, instabilidade social, guerra dos cem anos, fomes, pestes e todas as crises políticas e religiosas que a Europa suportou desde meados do século XIV até ao final do século XV.

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Séc. XV Grande Cisma (1378-1418). O Papa Clemente V transferiu a residência Papal para Avinhão dando origem a uma sucessão de Papas de origem Francesa. Em 1378 assiste-se à eleição simultânea de dois papas, um em Avinhão e outro em Roma, que esteve na base do grande Cisma (1378-1418). Este cisma só veio a terminar 40 anos mais tarde no Concílio de Constança. Os argumentos para se manter o papa: • em Avinhão foi de que desta forma o papado ficava equidistante das fronteiras

contemporâneas da Igreja. • em Marselha, porque era o centro do mundo cristão, a Europa, Estas polémicas servem para deixar clara a ideia de que a Europa era considerada o continente cristão e que a fronteira oriental desta Europa tinha recuado consideravelmente para ocidente.

Séc. XV Foi num contexto de expansão do Império Otomano que o Papa Pio II apela à defesa conjunta da Respublica christiana contra a ameaça turca. O Papa utilizou o termos: 1. Respublica christiana e Europa como sinónimos; 2. referiu-se à “nossa Europa cristã ”, 3. foi um dos primeiros a utilizar o adjectivo “europeu ”; 4. e foi o primeiro a utilizar a palavra europeus para designar os habitantes da

Europa. Séc. XV O humanismo tornou-se factor de união na Europa. Teve uma influência profunda e

duradoura na investigação e na educação, da maior importância em todos os países europeus. Desenvolveu-se um sentimento de solidariedade devido ao facto dos estudiosos e intelectuais terem obtido os conhecimentos a partir da mesma fonte clássica. Desenvolve-se o conceito de República Literária , paralelamente à ideia de República Cristã .

Séc. XV Erasmo de Roterdão (humanista) afirmou que o humanismo é primeiro um fenómeno Cristão e não Europeu . No seu pensamento a Europa é o continente Cristão e ele apela à união de todos os povos cristãos da Europa, independentemente das suas fronteiras físicas.

Séc. XV É sobretudo dentro do contexto da ameaça Turca (tom ada de Constantinopla) que a Europa se torna sinónimo do mundo cristão.

Séc. XV Juan Luís Vives (humanista) fez um paralelo entre o avanço turco e a distinção que os Gregos faziam entre Europa e Ásia, muito antes do período cristão. Referiu que todas as invasões asiáticas à Europa acabaram em derrotas para os asiáticos. Apesar de ser cristão interpretava a luta com os Turcos no contexto da distinção entre Europa e Ásia que não tinha naturalmente nada a ver com a cristandade.

Séc. XVI Reforma protestante - Para a Cristandade Latina, tão perturbada durante séculos por cismas e heresias, o século XVI marcou o momento em que desapareceu completamente a ilusão da unidade. Dá-se a divisão entre católicos e Protestantes. Foi esta divisão, fragmentação e desunião que tornou cada vez mais difícil que se mantivesse a identific ação simplista da Europa com a Cristandade.

Séc. XVI O conceito de Europa está a emergir; está a enfraqu ecer a identificação da Europa com a Cristandade.

Séc. XVI A teoria do equilíbrio do poder ganha especial rele vância no contexto de desenvolvimento político da Europa, desligado da re ligião. Maquiavel – Foi o primeiro a a presentar uma descrição puramente política, não religiosa, do que é a Europa. O império cristão universal não tem para ele qualquer relevância. Parte do pressuposto que existem vários estados soberanos na Europa. As relações entre os vários estados são comparadas a uma balança em que a situação ideal era aquela em que o poder estava equilibrado.

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Séc. XVI Equilíbrio de poder Neste século, a casa de Habsburgo detinha o poder de alguma forma dividido com França. Como consequência, também outros países da Europa esforçaram-se para criar alianças com o objectivo de contrabalançar o poder dos Habsburgos. Talvez por isso se afirmava que se há paz ou guerra no mundo cristão, esse facto depende das duas mais poderosas casas reinantes – Espanha e França.

Séc. XVII Equilíbrio de poder Na segunda metade do século XVII, a situação política internacional foi condicionada pelos objectivos expansionistas de Luís XIV. O poder da Casa de Habsburgo enfraquece e, pouco a pouco, a França começa a ser vista como a ameaça mais significativa ao equilíbrio de poder na Europa. Lisola, estadista austríaco, foi a primeira pessoa a acusar a França de estar a tentar estabelecer uma monarquia universal. Assim e com o objectivo de restaurar o equilíbrio de poderes contra a França, tentou convencer a Inglaterra a aliar-se à Áustria e assim precaverem-se com os planos do rei francês. Lisola associa a teoria do equilíbrio de poderes não só à paz, mas também ao comércio e à liberdade. Orange, governador da república holandesa, conseguiu defender-se do ataque de Luís XiV – Autoproclamou-se como “O defensor da liberdade na Europa” e tentou quebrar os laços que ligavam a Inglaterra à França, com o apoio político dos Whigs liberais ingleses. Por volta de 1700, a Europa tinha-se transformado n um espaço modelo para o pensamento político. A teoria do equilíbrio de pode res tinha encontrado vasta aceitação e tinha-se ligado profundamente ao ideal de Liberdade.

Séc. XVIII Equilíbrio de poder A Inglaterra é agora vista como o fiel da balança que tenta manter o equilíbrio de poderes entre os Bourbons e os Habsburgos, equilíbrio este que foi perturbado pelo rápido crescimento do poder da Rússia e da Prússia. O resultado final foi o aparecimento de um novo e complexo sistema denominado pentarquia: o equilíbrio de poderes formado por cinco potências: Inglaterra; França; Áustria, Rússia e Prússia. Rousseau, Grotius e o Abade de Mably defendiam o estabelecimento da paz tornando-a de conforme alguns acordes de princípio, com base no Direito Natural e estabelecidos no Direito Internacional.

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Séc. XVIII No século XVIII, Cristianismo continuou a desempenhar um papel importante, mas já não era a força dominante: Europa e Cristandade já não são sinónimos. O sentimento de superioridade europeu baseava-se num aglomerado de ideias desenvolvidas pelo Iluminismo que, por seu turno, veio a ficar ligado à noção de civilização. Montesquieu segue a mesma linha de pensamento que Maquiavel, ou seja uma descrição puramente política da Europa, desligada da religião. Montesquieu explica a natureza específica da Europa por comparação com a Ásia, tal como fizera Hipócrates cerca de 2000 anos antes, tendo por base as condições climatéricas: • Europa = liberdade � sistemas moderados de governo • Ásia = escravatura � despotismo Voltaire defende que os europeus partilham os mesmos costumes e cultura. As ideia de Voltaire resultam do conceito humanista de República Literária, em que o sentimento de superioridade é desenvolvido pelo facto de os estudiosos e intelectuais terem obtido os seus conhecimentos a partir da mesma fonte clássica. O conceito de Europa desenvolvido por Voltaire é também anti-clerical. Para ele, a posição dominante da Europa baseia-se no desenvolvimento das artes e ciência, que se aproximam e reforçam. A Europa é o continente mais civilizado.

Séc. XVIII O conceito de cultura ganhou relevo durante o Iluminismo e a palavra civilização foi escolhida para descrever essa dimensão social de fé no progresso O Marquês de Maribeau utilizou pela primeira vez a palavra civilização, na década de cinquenta. O Abade de Baudeau utilizou pela primeira vez a expressão “civilização europeia”. Para ele, civilização e França são sinónimos. Coincide com o sentimento de superioridade europeu.

Séc. XIX Durante o século XIX verificou -se uma enorme expansão na utilização e no sentido da palavra civilização – de facto é nesse s éculo que se verifica uma total identificação entre a civilização e a Europa.

Séc. XIX Os ideias da Revolução Francesa (1789) tiveram eco por toda a Europa: Liberdade, igualdade, Fraternidade . Toda a velha Europa era abalada, para horror dos que detinham poderes estabelecidos.

Séc. XIX Edmund Burke – nenhum cidadão da Europa pode ser considerado exilado em qualquer nação europeia.

Séc. XIX A agitação revolucionária que se seguiu à Revolução Francesa de 1789, cujos ecos chegaram a toda a Europa, acalmou. Começava agora a era napoleónica. Neste contexto há dois aspectos relevantes: • Por um lado, o Império napoleónico por toda a Europa conduzia a uma certa

uniformidade, pela implantação das instituições francesas; • Por outro, a tirania exercida tornou-se o elemento percursor para o

desenvolvimento de movimentos nacionalistas de libertação. Já no exílio, Napoleão escrevera que desejara criar: • Um código europeu (Tribunal de Apelação); • Uma moeda única; • Uma Academia Europeia de Investigação; • Uma Europa como uma única família.

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Séc. XIX Fundamentos históricos da Europa – neste período pós revolucionário, muitos dos conceitos teóricos evoluíram para conceitos históricos. A ruptura face ao passado é um estímulo intelectual e uma forma de ver as coisas como uma evolução histórica. A palavra Europa começou a ser utilizada de forma mais consciente, que agora estava enriquecida com interpretações que conduziram a uma certificação histórica que antes carecia.

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Séc. XIX Europa Cristiana No seguimento da revolução francesa (1789) que conduziu à secularização da Igreja, persistiam ainda alguns autores que defendiam alguns aspectos do conceito clerical. Novalis (1799), a Europa medieval tinha sido uma vasta comunidade cristã com um único chefe: o Papa. Devia servir de fonte de inspiração para reavivar a fé cristã sem se preocupar com fronteiras nacionais. Chateaubrian (1802), o Cristianismo teve um salutar efeito formativo em todos os aspectos da vida humana. Comparada com a antiguidade clássica, a Idade Média Cristã apresentava uma superioridade moral inegável.

Séc. XIX A Europa segundo a Santa Aliança A Santa Aliança foi uma tentativa da Rússia, Prússia e Áustria, as 3 potências vencedoras da guerra contra Napoleão Bonaparte , de garantir a realização prática das medidas aprovadas no Congresso de Viena, promovendo a união entre os povos da Europa, bem como impedir o avanço das ideias nacionalistas que se difundiram e fortaleceram com a revolução francesa (1789) Foi neste contexto que Metternich , chanceler da Áustria, afirmou “a Europa é uma pátria única ”. Via a Europa como uma comunidade de Estados.

Séc. XIX A Europa segundo os Liberais Os liberais representaram a forma de oposição à Santa Aliança. Um dos liberais mais influentes na elaboração do conceito histórico da Europa foi François Guizot (1928), segundo o qual: • a civilização da Europa começa com a queda do Império Romano e o

desenvolvimento da Cristandade. • o que torna a civilização europeia superior é a sua diversidade. • vê a reforma do século XVI como uma revolta contra a autoridade absoluta. • o Iluminismo corresponde ao progresso do espírito humano Mas, em suma, a liberdade constitui a essência da c ivilização Europeia, a qual deverá ser garantida.

Séc. XIX A Europa segundo os Democratas Foi por volta de 1840 que a cultura popular foi reorganizada; centrava-se agora no conceito de Nação. O apelo ao direito de voto e às reformas sociais eram cada vez mais insistentes. Muitos defensores da democracia insistiam que o povo tinha que ser considerado à escala nacional Michelet (1840). Os democratas vêm a Europa não como um equilíbrio de poderes mas como uma federação de nações, não havendo lugar para disputas individuais, sendo o objectivo supremo a fraternidade. George Grote (1846) – afirma que o berço da civilização europeia é a democracia.

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Séc. XIX A Europa nas garras do nacionalismo (1848 -1914) A Revolução Francesa de 1848 provocou uma onda de choque por toda a Europa. Lutava-se por: • Problemas sociais; • Constituição liberal; • Independência. A segunda metade do século XIX foi dominada pelo realismo político: os movimentos de libertação tomaram uma atitude mais pragmática. Bismarck , chanceler de ferro, põe fim à supremacia francesa; Paris é cercada e capitula. A Europa cai nas garras do nacionalismo. Dá-se a unificação da Alemanha com a Itália. Todo o sistema educativo foi orientado para a construção de ideias nacionalistas. Começa uma corrida às armas alimentada por uma política externa agressiva por parte do império Alemão. Bismarck afirmava que a Europa não passava de um espaço geográfico. O pensamento político era dominado por interesses nacionais. Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deixou de existir a relação da Europa com civilização. A tomada de consciência da crise dominou todos os países, mesmo aqueles que não estavam directamente envolvidos no conflito. A Europa é invadida por um desespero profundo e pas sa a estar associada às ideias de degeneração e declínio. Tratava-se, contu do, de mais uma forma de autoconsciência europeia.

Iconologia A tradição iconológica, tal como a cartográfica, pode fornecer-nos alguma informação sobre a forma de como a Europa tem sido representada. Antiguidade Na antiguidade não existe nenhuma forma iconológica da Europa, apenas o “rapto da

Europa” retratado na literatura e artes plásticas do período clássico.

Séc. XII 12 Candelabro de Liège – são representados os 3 continentes. A Europa empunha espada (Europa guerreira).

Séc. XVI 16 Tornam-se populares as imagens em que a Europa aparece coroada. Os outros continentes não têm qualquer coroa.

Séc. XVII 17 Desenvolvem-se emblemas clericais e burgueses representativos da Europa, como por exemplo a fachada ca câmara municipal de Amsterdão, que foi considerada no século XVII, a 8ª maravilha do mundo.

Séc. XVIII 18 A superioridade da Europa é expressa de forma cada vez mais directa: a Europa sentada num trono e os outros continentes em posição de subordinação.