Etapa Resolve Vunesp 2012 - Grupo ETAPA Educacional · Além da na-tureza destaca-se a mulher...

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O artista holandês Albert Eckhout (c.1610- c.1666) esteve no Brasil entre 1637 e 1644, na comitiva de Maurício de Nassau. A tela foi pintada nesse período e pode ser considerada exemplar da forma como muitos viajantes europeus representaram os índios que aqui viviam. (Albert Eckhout. Índia Tarairiu (tapuia), 1641.) Identifique e analise dois elementos da ima- gem que expressem esse “olhar europeu” so- bre o Brasil. Resposta Existem pelo menos dois aspectos marcantes que podem expressar o "olhar europeu" em relação ao Novo Mundo na imagem em questão. O primeiro deles é o destaque à exuberância da natureza – a árvore, arbustos frondosos, flores, frutos – em contraste com as características natu- rais da paisagem dos Países Baixos. Além da na- tureza destaca-se a mulher indígena, nua, de por- te altivo, sendo notável a concepção europeia da antropofagia. Na imagem, a personagem segura em sua mão direita um antebraço e mão decepa- dos e, no cesto que sustenta preso à sua cabeça, aparece um pedaço de perna e pé humanos, igual- mente contrastante com hábitos europeus. Também merece destaque a cobertura do genital feminino, um toque caracteristicamente bíblico, europeu, que se chocava com a nudez dessas populações indígenas do Novo Mundo. Noite após noite, quando tudo está tranquilo E a lua se esconde por trás da colina, Marchamos, marchamos para realizar nosso [desejo. Com machado, lança e fuzil! Oh! meus valentes cortadores! Os que com golpes fortes As máquinas de cortar destroem. Oh! meus valentes cortadores! (...). (Canção popular inglesa do início do século XIX. Citada por: Luzia Margareth Rago e Eduardo F. P. Moreira. O que é Taylorismo, 1986.) A canção menciona os “quebradores de má- quinas”, que agiram em muitas cidades ingle- sas nas primeiras décadas da industrializa- ção. Alguns historiadores os consideram “re- beldes ingênuos”, enquanto outros os veem como “revolucionários conscientes”. Justifique as duas interpretações acerca do movimento. Resposta Os chamados "quebradores de máquinas" cons- tituíram uma das primeiras manifestações popula- res em protesto contra os efeitos da Revolução Industrial, movimento também conhecido como "ludismo", e que se difundiu na Inglaterra e em outros países no início do século XIX. De um lado, o movimento dos quebradores de máquinas representou uma simples negação de profundas transformações econômicas e sociais da época, não chegando a atingir algum propósito duradou- ro, o que pode ter levado alguns historiadores a considerá-lo uma manifestação de "rebeldes ingê- Ciências Humanas Questão 1 Questão 2

Transcript of Etapa Resolve Vunesp 2012 - Grupo ETAPA Educacional · Além da na-tureza destaca-se a mulher...

O artista holandês Albert Eckhout (c.1610-c.1666) esteve no Brasil entre 1637 e 1644,na comitiva de Maurício de Nassau. A tela foipintada nesse período e pode ser consideradaexemplar da forma como muitos viajanteseuropeus representaram os índios que aquiviviam.

(Albert Eckhout. Índia Tarairiu (tapuia), 1641.)

Identifique e analise dois elementos da ima-gem que expressem esse “olhar europeu” so-bre o Brasil.

Resposta

Existem pelo menos dois aspectos marcantes quepodem expressar o "olhar europeu" em relação aoNovo Mundo na imagem em questão.O primeiro deles é o destaque à exuberância danatureza – a árvore, arbustos frondosos, flores,frutos – em contraste com as características natu-rais da paisagem dos Países Baixos. Além da na-tureza destaca-se a mulher indígena, nua, de por-

te altivo, sendo notável a concepção europeia daantropofagia. Na imagem, a personagem seguraem sua mão direita um antebraço e mão decepa-dos e, no cesto que sustenta preso à sua cabeça,aparece um pedaço de perna e pé humanos, igual-mente contrastante com hábitos europeus.Também merece destaque a cobertura do genitalfeminino, um toque caracteristicamente bíblico,europeu, que se chocava com a nudez dessaspopulações indígenas do Novo Mundo.

Noite após noite, quando tudo está tranquiloE a lua se esconde por trás da colina,Marchamos, marchamos para realizar nosso

[desejo.Com machado, lança e fuzil!Oh! meus valentes cortadores!Os que com golpes fortesAs máquinas de cortar destroem.Oh! meus valentes cortadores! (...).

(Canção popular inglesa do início do século XIX.Citada por: Luzia Margareth Rago e Eduardo F. P.

Moreira. O que é Taylorismo, 1986.)

A canção menciona os “quebradores de má-quinas”, que agiram em muitas cidades ingle-sas nas primeiras décadas da industrializa-ção. Alguns historiadores os consideram “re-beldes ingênuos”, enquanto outros os veemcomo “revolucionários conscientes”.Justifique as duas interpretações acerca domovimento.

Resposta

Os chamados "quebradores de máquinas" cons-tituíram uma das primeiras manifestações popula-res em protesto contra os efeitos da RevoluçãoIndustrial, movimento também conhecido como"ludismo", e que se difundiu na Inglaterra e emoutros países no início do século XIX. De umlado, o movimento dos quebradores de máquinasrepresentou uma simples negação de profundastransformações econômicas e sociais da época,não chegando a atingir algum propósito duradou-ro, o que pode ter levado alguns historiadores aconsiderá-lo uma manifestação de "rebeldes ingê-

Ciências Humanas

Questão 1

Questão 2

nuos". Por outro lado, o movimento empregava aviolência combinada com algum nível de organi-zação e divulgação de suas mensagens por meiode canções, panfletos e manifestos abordandoproblemas como os baixos salários e as condi-ções precárias de vida entre os operários, o quecertamente levou muitos historiadores a enxergarnessas pessoas "revolucionários conscientes".Vale lembrar, ainda, que o ludismo contou com oapoio de artesãos e manufatureiros que passarama sofrer a concorrência de uma nova forma deprodução de mercadorias, a moderna indústriamecanizada.

Nunca houve um ano como 1968 e é imprová-vel que volte a haver. Numa ocasião em quenações e culturas ainda eram separadas emuito diferentes – e, em 1968, Polônia, Fran-ça, Estados Unidos e México eram muitomais diferentes um do outro do que são hoje –ocorreu uma combustão espontânea de espíri-tos rebeldes no mundo inteiro.

(Mark Kurlansky. 1968 – O ano que abalouo mundo, 2005.)

Indique dois movimentos de “espíritos rebel-des” ocorridos em 1968 e identifique, em cadaum deles, o caráter “espontâneo” mencionadono texto.

Resposta

As agitações em várias partes do mundo, em 1968,de maneira geral, posicionavam-se contra o statusquo e o conservadorismo dos governos daquelemomento.As agitações tiveram início na França, em maiode 1968, com estudantes que protestavam contraa estrutura das universidades francesas em Parise rapidamente se alastraram para toda a França.A ampliação do movimento francês resultou noquestionamento do próprio governo, chefiado pelogeneral De Gaulle. Os manifestantes, entre os vá-rios setores sociais, tinham posições em um am-plo leque: reformistas, socialistas e anarquistas("É proibido proibir").Nos Estados Unidos, as manifestações de 1968envolveram posicionamento contra a Guerra doVietnã, portanto eram pacifistas ("Faça amor, nãofaça a guerra") ou contrárias ao serviço militarobrigatório. Para além dessas questões, nosEUA, as manifestações ocorriam também entre apopulação negra do país – movimento por igual-dade de direitos. Segundo alguns autores, esses

movimentos também tiveram um aspecto anar-quista, expresso no movimento hippie.Na América Latina, muitos países viviam sob go-vernos militares ditatoriais, daí os movimentos de1968 posicionarem-se contra as ditaduras, comono caso do Brasil.Na Tchecoslováquia, o movimento de 1968, noinício, colocava-se a favor do governo estabeleci-do de Alexander Dubcek, o qual adotava medidasliberalizantes dentro do regime socialista tchecos-lovaco (Primavera de Praga); a partir de agostodo mesmo ano, protestava-se contra a ocupaçãodo país por tropas do Pacto de Varsóvia, que co-locaram um fim à curta experiência de um "socia-lismo humanizado".No México, as agitações de 1968 foram caracteri-zadas pelo movimento estudantil.Na Polônia ocorriam críticas de setores católicoscontra o governo socialista imposto no país desdeo fim da Segunda Guerra Mundial.Todos esses movimentos tiveram um caráter"espontâneo" pelas suas ações desvinculadas ini-cialmente de ações partidárias ou de políticas arti-culadas.Esses movimentos eclodiram em vários setoressociais por questões que os atingiam e, assim, jul-gavam ser possível mudar sem os canais tradicio-nais de participação política.

(Henfil. Diretas Já, 1984. Adaptado.)

Questão 3

Questão 4

(www.redes.unb.br)

As duas charges foram publicadas em jornaisbrasileiros durante a década de 1980. Identi-fique as campanhas que elas apoiaram e ca-racterize o significado e os resultados dessascampanhas.

Resposta

A primeira charge relaciona-se à campanha pelas“Diretas Já” em 1984, que levou a manifestaçõespopulares em várias capitais, buscando apoiopara aprovação da Emenda Dante de Oliveira,que, se aprovada, estabeleceria eleições diretaspara presidente da República. No entanto, aemenda não foi aprovada pelo Congresso.A segunda charge relaciona-se ao período de go-verno de José Sarney (1985-1990), quando, emfevereiro de 1987, foi instalada a Assembleia Na-cional Constituinte, que resultou na promulgaçãoda Constituição em outubro de 1988. A Constitui-ção possui características liberais e democráticas,consagra a autonomia dos poderes e estabeleceeleições diretas em todos os níveis, consolidandoo processo de redemocratização iniciado em1985, após 21 anos de governos militares.

No mapa, estão indicadas as principais cor-rentes marítimas.

(Wilson Teixeira. Decifrando a Terra, 2009.Adaptado.)

Explique a influência da Corrente do Golfono Atlântico Norte sobre a Europa Ocidental,e destaque os motivos das cidades de Londrese Paris terem invernos mais amenos do queMontreal e Nova Iorque.

Resposta

A corrente do Golfo, por ser quente, exerce gran-de influência sobre a Europa Ocidental, aumen-tando a piscosidade e a pluviosidade no AtlânticoNorte, e amenizando os invernos, fazendo comque a amplitude térmica seja menor que no conti-nente. É o que explica a suavidade do inverno deParis e Londres com relação a Montreal e NovaYork, que não são influenciadas por essa corrente(motivo pelo qual seus portos se congelam), e simpela corrente fria do Labrador, além da maior in-fluência da massa polar dessas duas cidades eda maritimidade em Londres e Paris.

Embora a miséria esteja espalhada pelomundo, é possível delimitar áreas de concen-tração de extrema pobreza – pessoas vivendocom menos de US$ 1 por dia.No mapa, produzido pelo Centro de Pesqui-sas da Pobreza Crônica, a escala de tamanhodos países (anamorfose) está de acordo comseu número de habitantes em pobreza irre-versível. A cor indica o nível de renda damaior parte dos habitantes pobres de cadapaís. Quando dados oficiais são insuficientes,os pesquisadores estimam as taxas nacionaisde pobreza.

DOENÇA CRÔNICA: MUNDO RICO, GENTE POBRE

(Scientific American Brasil, ano I, n° 7, 2011.Adaptado.)

Questão 5

Questão 6

A partir da análise do mapa, cite o nome de duas regiões geográficas que se destaquem comodesesperadamente pobres ou muito pobres. Exemplifique com o nome de um país que melhordemonstre a condição de desesperadamente pobre e de um país com a condição de muito po-bre. A partir dos conhecimentos sobre essas regiões, mencione elementos geográficos que jus-tifiquem essa pobreza.

Resposta

Entre as áreas desesperadamente pobres ou muito pobres, destacam-se, respectivamente, a ÁfricaSubsaariana (Burkina Fasso, Etiópia, Níger, entre outros) e o Subcontinente Indiano (Índia, Nepal, Ban-gladesh).Entre os elementos geográficos que justificam essa pobreza, podemos destacar: o elevado crescimen-to demográfico, domínio da economia primário-exportadora, elevada concentração de renda e de ter-ras, elevada taxa de analfabetismo, precária infraestrutura de saúde e de saneamento básico e eleva-da taxa de subnutrição.

No mapa, estão traçados os cortes 1–2 e 3–4.

(IBGE. Atlas Geográfico Escolar, 2009. Adaptado.)

Questão 7

Indique o corte que identifica o perfil topo-gráfico representado e mencione três caracte-rísticas geográficas encontradas ao longo des-se perfil.

Resposta

Ao longo do perfil apresentado, localizado nomapa pelo eixo 3-4, encontramos os seguintesaspectos geográficos:• Relevo: partindo a Sudoeste, temos as planíciesjunto ao rio Paraguai, seguidas pelos planaltos edepressões ao longo do segmento entre a serra dosCaiapós e a serra Geral e, por fim, a planície litorâ-nea, na região da Baía de Todos-os-Santos.• Vegetação: ao longo do trecho, encontramos oComplexo do Pantanal, sucedido pelo cerrado,pela caatinga e, no trecho litorâneo, a Nordeste,pela mata Atlântica.• Clima: da região do rio Paraguai até a serraGeral de Goiás, temos o clima tropical continental,com chuvas de verão e estiagem de inverno, naaltura do rio São Francisco, clima semiárido comchuvas escassas e clima tropical úmido (ou litorâ-neo), com chuvas de outono-inverno junto à Baíade Todos-os-Santos.• Hidrografia: ao longo do perfil, temos duasgrandes bacias hidrográficas: a do Paraguai, comrios de planícies, e a do São Francisco, com pre-domínio de rios de planalto.

Observe a charge.

(www.fabianocartunista.com. Adaptado.)

Cite quatro problemas ambientais geradospela forma urbana de viver representada nacharge.

Resposta

Entre os problemas ambientais gerados no meiourbano, principalmente nas grandes cidades,pode-se citar:• poluição do ar, água e solo;• chuva ácida;• ilhas de calor;• enchentes;• poluição visual e sonora;• carência de áreas verdes;• assoreamento dos rios.

A ciência moderna tem maior poder explicati-vo, permite previsões mais seguras e asseguratecnologias e aplicações mais eficazes. Não hádúvida de que a explicação científica sobre anatureza da chuva comporta usos que a expli-cação indígena não comporta, como facilitarprognósticos meteorológicos ou a instalaçãode sistemas de irrigação. Para a ciência mo-derna, a Lua é um satélite que descreve umaórbita elíptica em torno da Terra, cuja dis-tância mínima do nosso planeta é cerca de360 mil quilômetros, e que tem raio de1 736 quilômetros. Para os gregos, era Selene,filha de Hyprion, irmã de Hélios, amante deEndymion e Pan, e percorria o céu numa car-ruagem de prata. Tenho mais simpatia pelaexplicação dos gregos, mas devo reconhecerque a teoria moderna permite prever os eclip-ses da Lua e até desembarcar na Lua, faça-nha dificilmente concebível para uma culturaque continuasse aceitando a explicação mito-lógica. Os astronautas da NASA encontraramna superfície do nosso satélite as montanhasobservadas por Galileu, mas não encontraramnem Selene nem sua carruagem de prata.Para o bem ou para o mal as teorias científi-cas modernas são válidas, o que não ocorrecom as teorias alternativas.

(Sérgio Paulo Rouanet, filósofo brasileiro, 1993.Adaptado.)

Cite o nome dos dois diferentes tipos de co-nhecimento comentados no texto e expliqueduas diferenças entre eles.

Resposta

Os tipos de conhecimentos diferenciados naquestão foram o científico e o mitológico. O co-nhecimento científico, ancorado na racionalidade,

Questão 8

Questão 9

supõe métodos, formulação de hipóteses, verifica-ção, teorias aceitas publicamente e por extensãoa previsão de eventos e fenômenos; na mitologia,por sua vez, o conhecimento está relacionadocom a crença absoluta, a revelação, a autoridadede sacerdotes, pitonisas, etc.; não se cogitandoqualquer verificação ou validade para previsõesmais seguras.

Leia os textos.

TEXTO 1Ora, a propriedade privada atual, a pro-

priedade burguesa, é a última e mais perfeitaexpressão do modo de produção e de apro-priação baseado nos antagonismos de classes,na exploração de uns pelos outros. Neste sen-tido, os comunistas podem resumir sua teorianesta fórmula única: a abolição da proprieda-de privada. (…)

(…)A ação comum do proletariado, pelo me-

nos nos países civilizados, é uma das primei-ras condições para sua emancipação. Suprimia exploração do homem pelo homem e tereissuprimido a exploração de uma nação por ou-tra. Quando os antagonismos de classes, nointerior das nações, tiverem desaparecido, de-saparecerá a hostilidade entre as própriasnações.

(Marx e Engels. Manifesto comunista, 1848.)

TEXTO 2Os comunistas acreditam ter descoberto o

caminho para nos livrar de nossos males. Se-gundo eles, o homem é inteiramente bom ebem disposto para com seu próximo, mas ainstituição da propriedade privada corrom-peu-lhe a natureza. (…) Se a propriedade pri-vada fosse abolida, possuída em comum todaa riqueza e permitida a todos a partilha desua fruição, a má vontade e a hostilidade de-sapareceriam entre os homens. (…) Mas soucapaz de reconhecer que as premissas psicoló-gicas em que o sistema se baseia são uma ilu-são insustentável. (…) A agressividade nãofoi criada pela propriedade. (…) Certamente(…) existirá uma objeção muito óbvia a serfeita: a de que a natureza, por dotar os indiví-

duos com atributos físicos e capacidades men-tais extremamente desiguais, introduziu in-justiças contra as quais não há remédio.

(Sigmund Freud. Mal-estar na civilização,1930. Adaptado.)

Qual a diferença que os dois textos estabele-cem sobre a relação entre a propriedade pri-vada e as tendências de hostilidade e agressi-vidade entre os homens e as nações? Explici-te, também, a diferença entre os métodos oupontos de vista empregados pelos autores dostextos para analisar a realidade.

Resposta

No primeiro texto, a propriedade privada é apon-tada como causa da hostilidade e da agressivida-de entre homens e entre nações. Essa aborda-gem é sustentada por uma visão otimista da hu-manidade e, segundo ela, a solução para o malsocial é a extinção da propriedade. O segundotexto apresenta uma visão de desigualdade natu-ral entre os homens. A partir dela pode-se concluirque a hostilidade, tanto entre homens dentro deuma nação como entre nações, é natural e, portan-to, inevitável e insuperável.

Leia os textos.

TEXTO 1Segundo Descartes, a realidade é dividi-

da em duas vertentes claramente distintas eirredutíveis uma à outra: a res cogitans(substância pensante) no que se refere aomundo espiritual e a res extensa (substânciamaterial) no que concerne ao mundo material.Não existem realidades intermediárias. A for-ça dessa proposição é devastadora, sobretudoem relação às concepções de matriz animista,segundo as quais tudo era permeado de espí-rito e vida e com as quais eram explicadas asconexões entre os fenômenos e sua naturezamais recôndita. Não há graus intermediáriosentre a res cogitans e a res extensa. A exem-plo do mundo físico em geral, tanto o corpohumano como o reino animal devem encon-trar explicação suficiente no mundo da mecâ-nica, fora e contra qualquer doutrina mági-co-ocultista.

(Giovanni Reale e Dario Antiseri.História da filosofia, 1990. Adaptado.)

Questão 10

Questão 11

TEXTO 2Se você, do nada, começar a sentir enjoo,

mal-estar, queda de pressão, sensação de des-maio ou dores pelo corpo, pode ter se conecta-do a energias ruins. Caso decida procurar ummédico, ele possivelmente terá dificuldadepara achar a origem do mal e pode até fazerum diagnóstico errado. Nessa hora, você poderezar e pedir ajuda espiritual. Se não conse-guir, procure um centro espírita e faça a suarenovação energética. Pode ser que encontredificuldades para chegar lá, pois, no primeiromomento, seu mal-estar poderá até se intensi-ficar. No entanto, se ficar firme e persistir,tudo desaparecerá como em um passe de má-gica e você voltará ao normal.

(Zibia Gasparetto.http://mdemulher.abril.com.br. Adaptado.)

A recomendação apresentada por Zibia Gas-paretto sobre a cura espiritual é compatívelcom as concepções cartesianas descritas noprimeiro texto? Explique a compatibilidadeou a incompatibilidade entre ambas as con-cepções, tendo em vista o mecanicismo car-tesiano e a diferença entre substância espi-ritual e substância material.

Resposta

A recomendação apresentada por Zibia Gasparettoé incompatível com a concepção cartesiana. Odualismo cartesiano defende a separação entremundo físico e pensamento – nas palavras deDescartes, "substância material" e "substânciapensante" –, o que permite ao filósofo buscar umaexplicação puramente mecânica para os fenôme-nos do mundo físico. Zibia Gasparetto, ao contrá-rio, assume a conexão entre espírito e corpo, aopressupor que os sintomas físicos possam pos-suir causas espirituais.

“O homem é o lobo do homem” é uma dasfrases mais repetidas por aqueles que se refe-rem a Hobbes. Essa máxima aparece coroadapor uma outra, menos citada, mas igualmen-te importante: “guerra de todos contra todos”.

Ambas são fundamentais como síntese do queHobbes pensa a respeito do estado natural emque vivem os homens. O estado de natureza é omodo de ser que caracterizaria o homem antesde seu ingresso no estado social. O altruísmonão seria, portanto, natural. No estado de na-tureza o recurso à violência generaliza-se,cada qual elaborando novos meios de destrui-ção do próximo, com o que a vida se torna “so-litária, pobre, sórdida, embrutecida e curta, naqual cada um é lobo para o outro, em guerrade todos contra todos”. Os homens não vivemem cooperação natural, como fazem as abe-lhas e as formigas. O acordo entre elas é na-tural; entre os homens, só pode ser artificial.Nesse sentido, os homens são levados a esta-belecer contratos entre si. Para o autor do Le-viatã, o contrato é estabelecido unicamenteentre os membros do grupo, que, entre si, con-cordam em renunciar a seu direito a tudopara entregá-lo a um soberano capaz de pro-mover a paz. Não submetido a nenhuma lei, osoberano absoluto é a própria fonte legislado-ra. A obediência a ele deve ser total.

(João Paulo Monteiro. Os Pensadores, 2000.)

Caracterize a diferença entre estado de natu-reza e vida social, segundo o texto, e expliquepor que é atribuída a Hobbes a concepção po-lítica de um “absolutismo sem teologia”.

Resposta

Para Hobbes, o estado de natureza é caracteriza-do pela igualdade entre os homens (onde eles po-deriam tudo) e a ausência de direitos sociais. Issosignificaria um "Estado de Guerra" no qual todosestariam contra todos, o que impediria qualquerpossibilidade de direito. Hobbes assim afirma quea vida social é artificialmente construída (ao con-trário das abelhas e formigas, que não possuemautonomia).Essa vida social seria um consenso (ou pacto) so-cial em que os indivíduos iriam abdicar de todosos seus direitos em favor de viver na "paz" paraum "Soberano" (Rei, Colegiado ou República),que seria o único com poderes totais. Dessemodo, o Soberano não seria intermediário entreuma divindade e seus súditos, mas alguém esco-lhido pelos próprios súditos, o que caracterizaria o"absolutismo sem teologia".

Questão 12