Ética: A busca de fundamentos!

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Moral e Ética: Busca pelos Fundamentos Aluno: Thomás Freud de Morais Gonçalves Disciplina: Ética Geral e Profissional CAPITULO I - ÉTICA: A DOENÇA E SEUS REMÉDIOS Nos tempos atuais, a humanidade está a viver um período de crise generalizada decorrente da atividade humana altamente depredadora dos ecossistemas terrestres, deste modo, a vida como conhecemos está seguindo tendências voltadas para um fim imponderável e incerto e, ao que parece, inevitável, caso a humanidade não se preste a formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros; ou fazemos isso, ou correremos o risco de nos destruirmos e, também, a biodiversidade terrestre. Perseguindo o sonho da prosperidade material, da dominação dos povos e a subjugação da natureza e seus recursos, o homem fomentou o surgimento das grandes revoluções do conhecimento, tais como industrial e científico-tecnológica, as quais, marcaram a humanidade e proporcionaram incontáveis melhorias a vida e a existência humana, entretanto ao "alto preço" da depredação do meio ambiente, assim como da desumanização das relações entre as pessoas e os povos. Tal prosperidade material, tão desejada, mesmo proporcionando tantos benefícios, por sua condição essencialmente material, acarretou um vazio existencial, uma imensa devastação da natureza e um anticuidado descabido com nossa Morada Comum. A BUSCA CONTÍNUA do sonho da prosperidade materialista provocou o rompimento das dimensões relacionais humanas. Tal fato se deu por conta do desequilíbrio entre a força de AUTOAFIRMAÇÃO e a força de INTEGRAÇÃO que fomentam o edificar da vida humana. Com isso, o homem, paulatinamente foi desligando-se de seus irmãos e da natureza, deixando que predominasse o egocentrismo, e a disputa, a busca por SEUS INTERESSES, acarretando um individualismo que culminou na ruptura das relações humanas. AGORA, mais do que em qualquer outra época, precisamos reaver os laços que formam a teia das relações humanas integradas, encontrando a plenitude e a paz comum. O Antropocentrismo precisa ser revisto, em seu lugar, devemos assumir uma postura de cuidado com a vida, e com nosso LAR COMUM, esta se propõe a ser a revolução ética que a humanidade precisa. Ou seja, precisamos assumir o paradigma da vita in centro e, deste modo, curam omne quod vivit. CONQUISTAR versus CUIDAR Historicamente, o homem sempre precisou conquistar o necessário para sua sobrevivência, em decorrência de sua indeterminação; precisou conquistar a natureza e dobrá-la à suas necessidades, conquistar o planeta e suas terras. Entretanto, de tanto conquistar e alimentar sua voraz sede, ilimitada, de saciar seus desejos, o homem depredou o planeta e comprometeu sua existência. Agora, urge que a humanidade adote uma postura de autolimitação, de consumir o necessário, de integrar todos os povos e culturas de maneira pacífica, para que possamos cuidar do planeta e da vida e assim, evitarmos o processo natural da entropia. Portanto, "[...]é essa atitude que precisamos

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Moral e Ética: Busca pelos Fundamentos

Aluno: Thomás Freud de Morais GonçalvesDisciplina: Ética Geral e Profissional

CAPITULO I - ÉTICA: A DOENÇA E SEUS REMÉDIOS

Nos tempos atuais, a humanidade está a viver um período de crise generalizada decorrente da atividade humana altamente depredadora dos ecossistemas terrestres, deste modo, a vida como conhecemos está seguindo tendências voltadas para um fim imponderável e incerto e, ao que parece, inevitável, caso a humanidade não se preste a formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros; ou fazemos isso, ou correremos o risco de nos destruirmos e, também, a biodiversidade terrestre.

Perseguindo o sonho da prosperidade material, da dominação dos povos e a subjugação da natureza e seus recursos, o homem fomentou o surgimento das grandes revoluções do conhecimento, tais como industrial e científico-tecnológica, as quais, marcaram a humanidade e proporcionaram incontáveis melhorias a vida e a existência humana, entretanto ao "alto preço" da depredação do meio ambiente, assim como da desumanização das relações entre as pessoas e os povos. Tal prosperidade material, tão desejada, mesmo proporcionando tantos benefícios, por sua condição essencialmente material, acarretou um vazio existencial, uma imensa devastação da natureza e um anticuidado descabido com nossa Morada Comum.

A BUSCA CONTÍNUA do sonho da prosperidade materialista provocou o rompimento das dimensões relacionais humanas. Tal fato se deu por conta do desequilíbrio entre a força de AUTOAFIRMAÇÃO e a força de INTEGRAÇÃO que fomentam o edificar da vida humana. Com isso, o homem, paulatinamente foi desligando-se de seus irmãos e da natureza, deixando que predominasse o egocentrismo, e a disputa, a busca por SEUS INTERESSES, acarretando um individualismo que culminou na ruptura das relações humanas.

AGORA, mais do que em qualquer outra época, precisamos reaver os laços que formam a teia das relações humanas integradas, encontrando a plenitude e a paz comum.

O Antropocentrismo precisa ser revisto, em seu lugar, devemos assumir uma postura de cuidado com a vida, e com nosso LAR COMUM, esta se propõe a ser a revolução ética que a humanidade precisa. Ou seja, precisamos assumir o paradigma da vita in centro e, deste modo, curam omne quod vivit.

CONQUISTAR versus CUIDAR

Historicamente, o homem sempre precisou conquistar o necessário para sua sobrevivência, em decorrência de sua indeterminação; precisou conquistar a natureza e dobrá-la à suas necessidades, conquistar o planeta e suas terras. Entretanto, de tanto conquistar e alimentar sua voraz sede, ilimitada, de saciar seus desejos, o homem depredou o planeta e comprometeu sua existência.

Agora, urge que a humanidade adote uma postura de autolimitação, de consumir o necessário, de integrar todos os povos e culturas de maneira pacífica, para que possamos cuidar do planeta e da vida e assim, evitarmos o processo natural da entropia. Portanto, "[...]é essa atitude que precisamos

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assumir e adotar como ética mínima e universal, se quisermos preservar a herança que recebemos do universo e da cultura e garantir nosso futuro"1.

INTEGRAÇÃO DOS POVOS: Base da civilização planetária

"[...] Os sonhos são a força que mantêm o horizonte de esperança sempre aberto"2. E o sonho que o homem precisa buscar é o da integração de todas as culturas, etnias, tradições e caminhos religiosos e espirituais no patrimônio comum da humanidade, que é o Planeta Terra.

Precisamos abandonar a cultura materialista baseada no consumo e saciedade dos desejos materiais, e encontrar o sentido de Ser da vida no convívio pacífico e integrado, na justiça e liberdade. Assim, "[...] poderá nascer uma nova ética, expressão do novo estado de consciência da humanidade e da realidade que lentamente foi se transmutando até inaugurar a fase globalizada do destino humano e da Terra” 3.

CAPITULO II - GENEALOGIAS DA ÉTICA

A ÉTICA emana, historicamente, de duas principais fontes, as quais são a RAZÃO e a RELIGIÃO, estas que, ao longo dos tempos orientam ética e moralmente as sociedades.

Na religião, buscar-se-ia nos pontos comuns, entre as varias doutrinas, um mínimo consensual que proporcionasse um nicho onde habitaria a ética consensual, capaz de manter a humanidade unida e preservar o capital ecológico indispensável para a vida. A razão crítica, por sua vez, buscou, desde seu perigeu até seu apogeu, que se alastra pelos tempos atuais, estabelecer códigos éticos universalmente válidos fundados na racionalização da ética e da moral4.

Em momentos de crise, onde se faz necessário encontrarmos as raízes da ética na base última da existência humana, a qual é a afetividade. Pela afetividade, podemos captar o valor das coisas e preservá-los, vivenciá-los e ensiná-los. Todavia, cabe ressaltar que, propondo a afetividade como fonte da ética, se faz necessário que haja um consenso, uma harmonia, na verdade, uma dialética entre a razão e a paixão, que é o Ser do afeto.

A Paixão sem ser tensionada à Razão, subjugaria tudo ao desejo, por outro lado, caso a razão predominasse, a vida seria um script de autorepressão e insatisfação. Todavia, com a vontade, em sua justa medida, dialogando com a paixão, emergem a ternura e o vigor, forças que estruturam a ética em volta de “valores fundamentais ligados à vida, ao seu cuidado, ao trabalho, às relações cooperativas e à cultura da não violência e da paz”5.

ETHOS – MORADA HUMANA

Ethos, que pode significar morada, constitui o conjunto das relações que o ser humano estabelece com o meio natural. Assim, nas palavras do autor, tal definição corresponde a “ética do dever ser”,

1 BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos. 5. Ed. – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2009. p.222 BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos. 5. Ed. – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2009. p.233 BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos. 5. Ed. – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2009. p.264 Por se constituir no processo de racionalização da moral e da ética; e por estas volatilizarem-se em decorrência da

dinâmica social, a fundamentação ética pela razão constitui-se um processo de busca constante e, até então, infindável. É a procura ética ou “ethos que procura”.

5 BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos. 5. Ed. – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2009.

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esta que deve co-existir com a noção do que é justo e bom, a ideia de que atitude tomar em cada situação. Em suma, a ideia de que: tudo que fizermos, para que possamos coexistir de forma pacífica e boa com nossos semelhantes, é bom e também ético,o contrário é antiético e mau.

Com o advento da razão crítica, o homem esqueceu a existência da noção inerente ao homem do que é justo e bom, em seu lugar, implantou os sistemas éticos, fundados na racionalização da moral e costumes, criando valores abstratos e apriorísticos, indo de encontro ao caráter historicamente empírico da ética.

Com isso, os sistemas éticos criaram valores apriorísticos, que fogem ao crivo da consciência crítica, tornando-se artificiais e anti-históricos, além de se constituírem em superegos castradores da essência humana.

A revolução ética está ligada a necessidade de recuperarmos o bom senso ético, a nossa consciência do que deve ser, simplesmente porque é o bom para o geral. Assim, o valor deve seguir o caminho emergente ao ser, que emana da consciência do indivíduo, que fundamenta-se em seu juízo do que é correto e justo, ao invés de normas abstratas, apriorísticas que não se fundam na práxis do agir ético.

ÉTICA E MORAL

Enquanto a ética é a parte da filosofia que estatui princípios e valores que orientam as pessoas e sociedades, a moral é a práxis do cotidiano expressa através de costumes, hábitos e valores culturais.

A ética, portanto, busca fundamentar racionalmente as regras e costumes sociais, atribuindo-lhes, quando valorados de forma positiva, princípios universais que passam a reger o comportamento humano. Nesse contexto, a ética, enquanto sistematizada e apriorística, “se faz um instrumento de normatização do indivíduo, forçando a introjetar as leis para inserir-se na dinâmica do processo social, leis pelas quais é fiscalizado ou punido”6.

Assim, para que a ética tenha sua função precípua readmitida, precisa integrar em si, o senso de justiça, de amorosidade e respeito, compaixão, solidariedade7, responsabilidade,8 e, englobando tudo isso, o EXEMPLO.

É pelo exemplo que aprendemos e é pelo exemplo que ensinamos. Os líderes da humanidade, sobretudo eles, precisam assumir posturas éticas exemplares, para que os demais, ao observarem, façam o mesmo.

CONSIDERAÇÕES

A crise ética que atualmente vivenciamos irrompeu-se com o advento da razão crítica e, por mais paradoxal que possa parecer, com o surgimento dos sistemas éticos criados a partir de então.

Não nos prestaríamos aqui, tentar chegar a razão primeira de tal crise, porém, especulativamente,

6 BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos. 5. Ed. – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2009.7 Cuidado com tudo o que existe, demonstrando respeito e valor, observando a ideia de dignidade de condições de

vida adequadas e, não sendo redundante, de valorizar a existência de tudo e todos aqueles que vivem.8 A ética de ilimitada responsabilidade por tudo o que existe e vive, como a condição mínima da existência coletiva. É

a responsabilidade, pois a capacidade que os indivíduos têm de assumir as conseqüências de seus atos, e pelos atos daqueles que estão a cabo de seus cuidados.

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chegamos a uma questão chave do problema: o consenso, ou, na verdade, seria a falta deste.

Na história da humanidade, o que não seguiu as “vias” do consenso e, ainda assim, estabeleceu-se, seguiu as “vias” da imposição e, estranhamente, ao que parece, foi assim com os sistemas éticos atuais.

A MORAL APRIORÍSTICA

Antes da “generalização” do pensamento crítico, com o surgimento do iluminismo, o que predominou, sobretudo na sociedade ocidental, foi a MORAL CRISTÃ, como mecanismo de regulação do comportamento humano em sociedade. Moral esta, definitivamente apriorística, era o mecanismo predominantemente adotado para a dominação, exploração e controle dos homens pelos homens. Uma parceria secular entre o Estado e, na era medieval, a Igreja Católica.

Irrompeu-se o iluminismo, toda a luta pela libertação da mente humana dos grilhões metafísicos que mantinha a grande maioria da humanidade em condições de vida miseráveis e desprovidas, enquanto uma minoria, aristocrata, conservava o poder e a opulência as custas da dominação e exploração dos povos.

A revolução iluminista conseguiu seu propósito, mudou a condição humana em virtude da razão, entretanto, refutando a moral predominantemente cristã, apriorística e, portanto, irracional, uma vez que se fundamentava em metáforas e princípios que fugiam a lógica e a práxis, estabeleceram os sistemas éticos, abstratos e, também, meta empíricos.

A questão é, substituiu-se a moral apriorística e criou-se os sistemas éticos, estes, sempre negligenciando o crivo crítico dos indivíduos e estabelecidos pela força. Deste modo, os valores éticos que passaram a se uniformizar, sobretudo na cultura ocidental, foram impostos sobre os povos conquistados, aniquilando qualquer tipo de sistema e realidade que fosse oposta a esta.

Resumindo, negligenciou-se a consciência crítica individual, e os valores éticos estabelecidos a pulso, fundaram a sociedade pós-moderna.

A CRISE

A evolução do pensamento é marca pessoa do homem, o conhecimento fomenta o desenvolvimento e o senso crítico. Com o acesso a informação, a humanidade passou a perceber os valores éticos estabelecidos como utópicos e contraditórios, pois o que prevalece é uma leque de normas morais encobertas por uma roupagem ética. Resultado disso, conflitos cognitivos éticos generalizados.

Das contradições éticas, regras castradoras da liberdade humana, as quais criaram uma falsa ideia de liberdade e vontade, ao serem processadas pela razão crítica, mostram-se irracionais, verdadeiras ideologias estabelecidas para manter uma realidade social semelhante a vivida na idade média, o neoimperialísmo, surgiu a crise ética que estamos vivenciando.

A moral capitalista, criadora de falsas necessidades, fomentadora do princípio da autodestruição e do individualismo, predomina e, como uma doença em alto grau de desenvolvimento, começou a apresentar sintomas do colapso geral.

UM NOVO CAMINHO: NEOÉTICA

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Para que a ética se estabeleça de forma consensual ela precisa ser assimilada por todos, formando um consenso. Para tanto, surge a necessidade de que o homem reaveja o conceito do bom senso e do bem comum, porque é bom, garante a paz e a vida, a justiça e o bem estar coletivo.

LEONARDO BOFF propõe uma ética que observa a autonomia da vontade humana e lhe confie a capacidade de julgar as ações, assumindo responsabilidades e promovendo o bem estar comum. Um comportamento ético que inspire o cuidado e o respeito com o próximo e com tudo o que vive e existe no mundo; uma ética baseada na ideia inerente do bem pelo fato de ser o melhor para todos, uma ética que reaveja as bases das dimensões relacionais do homem promovendo o sentimento de fraternidade e cuidado uns com os outros e, o que é mais importante, com o Planeta Terra.