Ética Na Imprensa - Relatorio Final Caso Escola Base (Veja Isto É Folha Estadão São Paulo Rede...
Transcript of Ética Na Imprensa - Relatorio Final Caso Escola Base (Veja Isto É Folha Estadão São Paulo Rede...
TGI -
Esc
ola
Base
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES
CURSO DE JORNALISMO
ÉTICA NA IMPRENSA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 90 E AS LIÇÕES DO CASO ESCOLA BASE
GUSTAVO GUEDES BRIGATTO PAULO RODRIGO RANIERI DIAS MARTINO PINTO
THIAGO RAFAEL DOMENICI
São Paulo 2004
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
2
GUSTAVO GUEDES BRIGATTO PAULO RODRIGO RANIERI DIAS MARTINO PINTO
THIAGO RAFAEL DOMENICI ÉTICA NA IMPRENSA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 90 E AS LIÇÕES DO
CASO ESCOLA BASE Trabalho de Graduação Interdisciplinar
apresentado à Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Presbiteriana Mackenzie
para obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo, sob a orientação do Prof. Ms.
Vanderlei Dias de Souza
SÃO PAULO
2004
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
3
REITOR DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Prof. Dr. Manasses Claudino Fonteles
DIRETOR DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES Prof. Ms. Osvaldo Hattori
CHEFE DE DEPARTAMENTO DE JORNALISMO Prof. Ms. Vanderlei Dias de Souza
COORDENADORA DO TGI Prof. Dra. Angela Schaun
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
4
Gustavo A meu pai que sempre me apoiou, minha mãe que soube agir com sapiência em um momento
difícil, amigos e professores que fizeram de mim o que sou hoje.
Paulo Rodrigo Ranieri A Deus que sempre é fiel para os que o são com Ele e esteve ao meu lado para me orientar
nos momentos decisivos, a minha mãe Zuleide que jamais esmoreceu e sempre me apoiou em cada fase da minha educação, a minha tia Selma que foi minha primeira professora e a todos
os meus amigos, familiares, demais professores e ao Programa Dogão Prensado.
Thiago Domenici A minha mãe Zilda que sempre me apoiou e foi a principal responsável por minha formação educacional, aos amigos do grupo pela paciência e companheirismo e a cada pessoa que de
alguma maneira participou desses momentos.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
5
Agradecemos a todos os amigos estudantes de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie em especial José Renato de Luca,
que certamente estaria presente conosco em mais essa etapa da vida, Barba, Batata e Thiago Manolio. A toda equipe do CRT, em especial
Reginaldo, Ronaldo, Ricardo, Paulo e Guga e aos professores que nos foram fundamentalmente importantes para caminhar e crescer pessoal e
profissionalmente: Alberto Chammas, André Santoro, Cicélia Pincer, Esmeralda Rizzo, Eun Yung Park, Fernando Salinas, Francisco Periago, João Manoel Barros, Luciano Maluly, Malena Contrera, Oscar Roberto
Junior, Paulo Roberto, Rosali Figueiredo e Vanderlei Dias.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
6
“O Jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”. Cláudio Abramo
“Há certos furos que é melhor publicar só quando todo mundo tiver”.
Carlos Laino Jr.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
7
Resumo
A pesquisa Ética na Imprensa Brasileira na Década de 90 e as Lições do Caso Escola Base trata dos erros da imprensa brasileira e sua relação com a ética profissional, tomando como norteador o livro Jornalismo nos anos 90 do jornalista Luís Nassif, e a análise do caso da Escola Fundamental de Base, expoente máximo da negligência da imprensa policial que não desempenhou seu papel e simplesmente não apurou, não ouviu todas as partes envolvidas e se restringiu a confiar nas declarações do delegado que cuidava do caso. Irresponsabilidade que gerou danos irreparáveis aos envolvidos. Os principais deles Icushiro Shimada e sua esposa, que ainda sofrem as conseqüências psicológicas e financeiras dos acontecimentos de 1994. O assunto tem grande relevância no universo das ciências sociais e políticas, mais precisamente na história da comunicação no Brasil e para avaliálo foram entrevistados profissionais da imprensa que apresentam discursos variados sobre o tema. São eles: Bóris Casoy, Marcelo Tas, Luís Nassif e Laurindo Leal Filho. Além destes, foram entrevistados também Icushiro Shimada e seu advogado Kalil Abdala. A análise das entrevistas foi realizada cruzandoas com material publicado pelos jornais Folha de São Paulo, Notícias Populares, Estado de São Paulo, e revistas Veja e IstoÉ na época do caso. A opinião de escritores como Michael Kunczik, Clóvis de Barros Filho e Francisco José Karam também foi usada na análise. A disputa por mercado entre os veículos e a conseqüente aceleração da rotina nas redações relacionamento são apontadas por todos os entrevistados como as grandes causadoras dos erros da imprensa. A partir do momento que parte da mídia se transformou em grandes empresas de comunicação, os jornalistas se tornaram grandes burocratas e passaram a seguir a “Ética do Furo”, deixando de lado as regras básicas do jornalismo. Palavr asChave: Jornalismo. Imprensa. Ética. Anos 90. Escola Base.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
8
Abstr act The research Ethics in Brazilian Press and the Lessons from Escola Base case is about the mistakes made by Brazilian press and their relation with professional ethics, based on the book by Luís Nassif “Jornalismo nos anos 90”, and the analysis of the Escola Base case, maximum exponent of presses negligence in hearing both sides of a story, which made clear its tendence to base the coverage only in official sources. Irresponsibility that caused great damage to people’s lifes. Most of it to Icushiro Shimada and his wife Aparecida, the school owners, who still feel the psychological and financial consequences of 1994 events. The matter has great value in the universe of social and political sciences, more specifically in the history of media in Brazil and, to analyze it, interviews with journalists with different opinions about the case we’re made. They are: Bóris Casoy, Marcelo Tas, Luís Nassif e Laurindo Leal Filho. Icushiro Shimada and his lawyer, Kalil Abdala were also heard. The analisis of interviews were made by crossing them with articles published by newspapers Folha da Tarde, Notícias Populares, Estado de São Paulo, and magazines Veja and IstoÉ during the period. The opinion of writers Michael Kunczik, Clóvis de Barros Filho e Francisco José Karam was also used in this process. All professionals interviewed pointed out that the dispute by market between vehicles and the consequent acceleration in journalistic routines are to be blamed for media mistakes. From the moment media turned into big communication companies, journalists became bureaucrats, leaving aside basic journalism rules.
Keywords: Journalism. Press. Media. Ethics. Ninetees. Escola Base.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
9
Sumár io
I. Introdução ................................................................................................................... 10 1. O Jornalismo e a Ética ........................................................................................... 13
1.1 O que é Jornalismo ........................................................................................... 13 1.2 O que é Ética ....................................................................................................... 14 1.3 Ética no Jornalismo ........................................................................................... 15
2. O Caso Escola Base .................................................................................................... 19 3. Comportamento da imprensa ..................................................................................... 24
3.1 Diário Popular ..................................................................................................... 24 3.2 Revista Veja ....................................................................................................... 26 3.3 Revista IstoÉ ....................................................................................................... 28 3.4 O Estado de S. Paulo ........................................................................................... 29 3.5 Folha da Tarde e Agora S. Paulo ........................................................................ 30 3.6 Notícias Populares ........................................................................................... 31
4. Atividades Desenvolvidas ........................................................................................... 32 5. Conclusão ................................................................................................................... 35 6. Referências ............................................................................................................... 40 7. Apêndice ................................................................................................................... 42
7.1 Roteiro de perguntas ........................................................................................... 42 7.2 Análise das entrevistas ....................................................................................... 43
7.2.1 Luis Nassif ................................................................................................. 43 7.2.2 Boris Casoy ................................................................................................ 43 7.2.3 Laurindo Leal ........................................................................................... 44 7.2.4 Marcelo Tas ................................................................................................ 45 7.2.5 Kalil Rocha Abdala ................................................................................... 46 7.2.6 Icushiro Shimada ....................................................................................... 46
7.3 Roteiro do VídeoDocumentário ........................................................................ 47 8. Anexos ...................................................................................................................... 54
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
10
Introdução
Esta pesquisa se dispõe a discutir o modelo de jornalismo praticado no Brasil durante a
década de 90 à luz da cobertura realizada no Caso da Escola Fundamental Infantil de Base,
em março de 94, mostrando o quanto é difícil ser ético no exercício da profissão e, na medida
do possível, apresentando alternativas para que erros como esse não sejam mais cometidos.
Tendo em vista a insensibilidade em se criticar apenas pelo prazer de contestar, e como diz
Christofoletti (2001, p. 20), mais do que apontar deslizes éticos, é preciso dispor de
mecanismos para avaliação da mídia, sedimentando novas práticas sociais de
acompanhamento dos veículos de comunicação, tentouse encontrar respostas para perguntas
clássicas da prática jornalística, como por exemplo: de que forma as faltas de ética e apuração
podem influenciar os erros de reportagens em publicações da mídia? Seria a imprensa
prepotente e detentora de uma incorrigível autosuficiência? Por que a “confissão de culpa”
fica restrita à grafia de nomes, erros conceituais ou datas nas colunas “Erramos”? Por quê não
há espaço para uma detalhada análise da cobertura, onde possa entrar um “sim, causamos
prejuízos com nossa cobertura e queremos nos retratar”?
Os métodos utilizados para a busca de respostas às problemáticas apresentadas foram as
pesquisas exploratória, bibliográfica e de campo, passando pelo estudo observacional e
entrevistas estruturadas (com roteiro de perguntas em comum) com profissionais direta e
indiretamente envolvidos no caso citado.
Com a pesquisa exploratória, buscouse esclarecer conceitos e idéias, destacandose a ênfase
dada à descoberta de práticas ou diretrizes que precisam modificarse e a elaboração de
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
11
alternativas que possam substituílas. A pesquisa, portanto, pretendeu não só mostrar, mas
apresentar alternativas aos erros da imprensa.
Com a Pesquisa Bibliográfica, pôdese desnudar um dos mais conhecidos erros da imprensa,
analisando fitas de vídeo, livros, revistas e jornais da época em que este se desenrolou 1994.
Para complementar as pesquisas foram realizadas entrevistas préestruturadas com jornalistas
e personagens envolvidos no Caso Escola Base, inclusive Icushiro Shimada, exdono da
escola.
A priori, a pesquisa remete o leitor a uma discussão acerca do jornalismo, que,
intrinsecamente, deve carregar a Ética. Muitas são as definições acadêmicas para o
jornalismo, mas é inegável que se trata da profissão do convencimento. “É uma fascinante
batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou
ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente
inofensiva: a palavra, acrescida de imagem, no caso da televisão” (ROSSI, 1994, p. 01).
A discussão ética sempre esteve presente nos meios de comunicação. Ética deriva do grego
éthos, que está relacionado aos costumes, ou seja, caráter individual que deve ser educado
para os valores da convivência em sociedade. Todavia, tomar decisões em nome da ética não
é algo muito simples para o profissional de imprensa. No exercício da profissão, diariamente,
os jornalistas enfrentam problemas e as soluções nem sempre são simples de serem
encontradas.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
12
Mesmo em assuntos de pouca influência política, por exemplo, o futebol, a imparcialidade é
quase inatingível. Até porque, não há como ignorar que a enorme maioria dos jornalistas
esportivos torce por algum time.
Entretanto, mesmo consciente de que há inúmeros casos de erros cometidos pela imprensa, a
pesquisa decidiuse focar única e exclusivamente, com detalhes, no Caso Escola Base que,
neste ano de 2004, completa 10 anos e ainda traz máculas irreversíveis aos injustiçados
diretamente envolvidos.
O vídeo produzido (roteiro anexo) contém imagens de 1994 ano em que a Escola os fatos
aconteceram sua depredação e como está o local agora. Traz também declarações
importantes de Icushiro Shimada e dos jornalistas Boris Casoy e Luis Nassif, que viveram
ativamente aqueles tenebrosos dias que a imprensa gostaria de esquecer.
Partindose do pressuposto dos manuais de redação da grande mídia e das condutas éticas e de
abordagem ensinadas nas faculdades de jornalismo, concluiuse que o caso da Escola de
Educação Infantil Base foi um show de equívocos e despreparo na apuração, checagem e
redação das matérias.
A grande pergunta é: como fazer para evitar que essa manipulação ou essa falta de
investigação e apuração, muitas das vezes irresponsável, seja evitada ou tenha seus efeitos
minimizados? Uma tentativa de controle vem da Inglaterra. Os Monitores de Mídia são
órgãos especializados em policiar o que é veiculado na imprensa e vem dando certo por lá. No
Brasil já existe uma tímida manifestação nesse sentido com o surgimento do cargo de
ombudsman.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
13
1. O Jornalismo e a Ética
1.1 O que é Jor nalismo?
“O jornalismo é uma arte pragmatista. Não se pode desprender nunca do seu resultado, nem se
desligar do seu objeto. A veracidade, o realismo é a sua grande força” (ARBEX, 2001, p.
104).
Na visão ocidental o jornalismo tem essa função de “esclarecer os cidadãos”, um conceito
forjado no quadro das revoluções liberais do século XVIII, existindo para informar,
comunicar utilmente, analisar, explicar, contextualizar, educar, formar etc., mas também para
tornar transparentes os poderes, para vigiar e controlar os poderes de indivíduos, instituições
ou organizações, mesmo que se tratem de poderes legítimos, manifestados no sistema social.
Daí a conclusão de que:
“Os meios jornalísticos atuariam sobretudo através do ato de informar os cidadãos, no
pressuposto de que estes são atores responsáveis num sistema social de que fazem parte e
sobre o qual devem intervir. Informar jornalisticamente será, assim, em síntese, permitir
que os cidadãos possam agir responsavelmente” (SANTOS, 2001, p. 58).
Para que esse exercício iluminista seja praticado da forma mais correta, devese ter noção das
grandes responsabilidades e afazeres envolvidos, da responsabilidade social que uma simples
notícia tem, e procurar nunca deixar de lado os princípios que norteiam a profissão. Esse
conjunto de princípios e regras de conduta do profissional são os formadores da tão procurada
mas sempre aviltada ética jornalística.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
14
1.2 O que é Ética?
“Ética é o estudo dos juízos de valor (bem/mal) aplicáveis à conduta humana, no todo ou em
um campo específico” (LAGE, 2001, p. 89).
Seu sentido está relacionado aos valores e costumes de uma sociedade e ao caráter individual
que deve ser educado para os valores da convivência nela.
“Em sua origem, ética e moral tinham significado quase idêntico, o de cará ter, costume,
maneira de ser, sendo que o primeiro termo é derivado do grego ethos, enquanto o
segundo é orginá rio do latim moralis. Deontologia, derivado do grego deontos, significa
o que deve ser, isto é, a cr istalização provisória do mundo moral, validado pela reflexão
ética, em normas sociais concretas, em princípios formais e, em alguns ca sos, em normas
jurídicas. A normatização deontológica de regras e condutas morais reflete, portanto, a
sistematização social daquilo que existe na esfera moral e é objeto da reflexão ética”
(KARAM, 1997, p.33).
O que é ser ético? Como ser ético? Quando ser ético? Quais códigos são relevantes para o
exercício do jornalismo? São questões que sempre estiveram presentes nas redações e nos
debates entre profissionais, sejam estes realizados em grandes auditórios ou em conversas do
diaadia. Tomar decisões em nome daquilo que se julga ser uma conduta ética, que analisa os
acontecimentos e não se deixar influenciar por interesses diferentes do de informar com
qualidade, não é algo muito simples para o profissional de imprensa. No cotidiano da
profissão, os jornalistas enfrentam grandes dilemas, e as soluções para eles nem sempre são
simples de serem encontradas.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
15
1.3 Ética no Jornalismo
Durante a década de 90 período em que estão inseridos os acontecimentos do Caso Escola
Base com o fim da Guerra Fria e a franca expansão dos ideais liberais e seu conceito de fim
de barreiras entre nações, as notícias passaram a fluir com muito mais rapidez de seu local de
origem até seus receptores. Iniciouse com isso um forte processo de profissionalização, ou
melhor, burocratização da atividade jornalística, com o estabelecimento de rígidas rotinas de
fechamento, culminando na queda da qualidade das notícias pela falta de tempo para apuração
e pela incorporação da prática de se consultar sempre as mesmas fontes, evitando assim
“perda de tempo”.
“Um efeito imediatamente visível [da burocratização] é a adoção de cores, diagramação
mais “leve”, a ampla utilização de mapas e boxes didáticos, o aumento no tamanho do
corpo dos caracteres, a recomendação aos colaboradores no sentido de escreverem
parágrafos mais curtos etc. em outros termos, a transformação de “fato” em “notícia”
passa pela sanção do mercado” (ARBEX, 2001, p. 97).
A informação transformouse, mais do que nunca, em sinônimo de poder. Não aquele poder
transformador de antes, mas o poder econômico, pois, a empresa que a produzisse em maior
quantidade, tornarseia mais conhecida, ganharia mais credibilidade e, conseqüentemente,
lucraria mais. A capacidade de produção, leiase velocidade na produção, tornouse predicado
fundamental para um profissional “empregável” no século 21.
Na briga para “construir carreira” dentro de um meio tão competitivo, os jornalistas
abraçaram esse ideal de maior produção em menor tempo e passaram a valerse de tudo (ou
quase tudo) para se destacar. A concorrência entre profissionais e a sede pelo “furo de
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
16
reportagem” passaram a superar os valores éticos, e artifícios um tanto quanto duvidosos e
passíveis de longas discussões (como o famoso “copiar e colar”) passaram a ser utilizados,
eliminando o princípio básico para a produção de uma reportagem: a investigação.
A pressa em perseguir os furos e o receio de que a concorrência se antecipasse estimulou o
estilo do ´atire primeiro, pergunte depois´. “A pressa pelo furo fácil fez com que por aqui, se
abrisse mão dos cuidados mínimos requeridos para uma boa apuração. E é aí que deve se
tomar cuidado” (NASSIF, 2003, p. 28).
Se esse interesse é valorizado pelos jornalistas e incentivado pelos donos das empresas para
alavancar a venda de seus produtos, o que acontecendo é uma deturpação do noticiário ou
uma cobertura que culpa sem provas e condena sem julgamento. Em suma, os resultados
podem ser desastrosos. Em um primeiro momento, surge o sentimento de “fazer justiça com
as próprias mãos”, a vontade de pressionar e o clamor para que os supostos culpados sejam
punidos o mais rápido possível.
Depois, à medida que vão surgindo fatos novos, e os assuntos vão ficando “ultrapassados”,
vem o total esquecimento. Então, a imprensa que se proclama ética e dizse preocupada em
desempenhar seu papel de formar e informar, interpreta papel contrário, pois, a partir do
momento em que um acontecimento tornase “frio” (vai deixando o noticiário por não vender
mais), não há muito interesse em retomálo para explicar seu desfecho.
E as falhas da imprensa são mais comuns do que se pensa, ou se tem notícia, já que não há
grande interesse em dizer onde elas estão e quais foram as circunstâncias que as causaram. O
tempo fica a cargo de apagálas da memória.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
17
Para Bucci (2000, p. 02), não é preciso ser um estudioso da mídia para perceber os pecados da
imprensa: “É a rede de televisão que apóia um candidato à Presidência da República,
distorcendo o noticiário; é o colunista que, em época de eleição, ganha ´um extra
assessorando o político sobre o qual publica notas favoráveis (...)”. É também o repórter que
confia integralmente na versão oficial de um caso e não se preocupa em falar do “outro lado”
até que todo o noticiário se mostre escancaradamente controverso.
Na guerra do poder, da qual a informação é elemento essencial, vale tudo ou quase tudo, nada
é desprezado. A briga entre os jornalistas pelo furo de reportagem muitas vezes supera os
valores éticos e alguns artifícios duvidosos são utilizados. A manipulação da informação é um
deles.
O jornalista, editor ou produtor, tem o poder de manipular um discurso e criar uma ilusão
daquela história que você está captando, ou seja, você capta um assunto qualquer, vai para
uma ilha de edição e ali você cria uma outra história que pode não ter nada a ver com aquela
que você acabou de viver naquele lugar com a câmera.
A rotina do jornalismo é quase sempre apontada como a grande causadora dos erros e deslizes
dos profissionais e dos veículos. Por causa dos prazos curtos e do acúmulo de trabalho, a
edição é feita às pressas para que não atrase o fechamento. As cobranças são muitas e é sob
pressão que a jornada cotidiana é vencida. Não é à toa que o momento mortal, a hora em que
o tempo se esgota seja chamada de deadline. Dar a matéria ou não, furar a concorrência ou
segurar a reportagem até que o outro lado seja ouvido, divulgar os nomes dos suspeitos ou
omitilos. Os dilemas éticos fazem parte da rotina do jornalismo. O debate sobre a atuação dos
meios de comunicação e a intervenção que devem sofrer é contemporâneo à explosão mundial
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
18
do uso da informação. É necessário acompanhar seus passos e sua evolução, analisar a
influência dos meios na sociedade, e construir mecanismos que os monitorem
(CHRISTOFOLETTI, 2001)
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
19
2. O Caso Escola Base
“Fatos” e “notícias” não existem por si só, como entidades “naturais”. Ao contrário, são
designados por alguém (por exemplo, por um editor), por motivos (culturais, sociais,
econômicos, políticos) que nem sempre são óbvios. Mas essa operação fica oculta sob o
manto mistificador da suposta “objetividade jornalística” (ARBEX, 2001, p. 111).
Será mesmo que tudo que é noticiado é de “interesse público”? Toda matéria selecionada
dentre as centenas de outras que entopem as redações todos os dias é de suma importância
para o cotidiano dos leitores?
Nessa discussão, um dos casos mais conhecidos no jornalismo brasileiro é, definitivamente, o
Caso Escola Base. O caso sem provas onde, no primeiro dia, haviam declarações do delegado
responsável pelo inquérito sobre supostos abusos sexuais contra crianças de quatro anos e a
imprensa as ecoou em coro. Pouco espaço era dado aos acusados e a mídia se mostrou
antiética, ou no mínimo incoerente, por não dar o devido espaço para a versão dos suspeitos.
Era mesmo necessário dar tintas a um fato que nem havia sido comprovado ou dado como
comprovado por um laudo ambíguo?
No dia 27 de março de 94, Lúcia Eiko Tanoue, mãe do menino Fábio, na época com quatro
anos, e Cléa Parente de Carvalho, mãe da menina Carla, também com quatro anos, foram ao
6º DP, no Cambuci, bairro da zona sul de São Paulo, para registrar queixa contra os diretores
da Escola de Educação Infantil Base. Segundo elas, Icushiro e Aparecida Shimada, Maurício
e Paula Alvarenga, os donos da Escola, organizavam orgias sexuais com a participação das
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
20
crianças, filmando e fotografando tudo. Lúcia ouviu seu filho dizer que, junto de Carla, foi à
casa de um coleguinha da escola, Ronaldo, 4 anos, filho do casal Saulo e Mara Nunes. Contou
ter visto filmes de “gente pelada”, que batiam “fotos” e havia cama redonda. Tudo isso
aconteceria durante o horário das aulas, e as crianças seriam levadas para fora da escola na
Kombi de Maurício. A apuração foi deixada para o dia seguinte.
Quem dava plantão naquela segundafeira, 28 de março, era o delegado Antonino Primante.
Após encaminhar as duas crianças para exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal
(IML) e conseguir um mandato de busca e apreensão, Primante dirigiuse ao apartamento dos
pais de Ronaldo, acompanhado de seis policiais, Cléa e Lúcia.
No apartamento a comitiva achou uma cama retangular, uma fita de vídeo com um show do
cantor Fábio Jr. e filmes da máquina fotográfica do casal. Em seguida foram à escola. A essa
altura, a imprensa já sabia sobre o caso. O repórter Antônio Carlos Silveira dos Santos, do
Diário Popular acompanhou a revista na escola.
A escola foi revirada. Uma coleção com fitas de Walt Disney foi levada e nada mais foi
encontrado. O delegado e os policiais, sem provas de que um crime havia acontecido,
retornaram com as mães para a delegacia. Achando que o caso não havia recebido a atenção
necessária, Cléa telefonou para a Rede Globo.
Com a chegada do repórter Valmir Salaro, a polícia se mobilizou a escutar os acusados. Todos
alegaram inocência. No dia seguinte, uma novidade: um telex do IML adiantando o resultado
do exame do menino Fábio.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
21
Referente ao laudo nº 6.254/94 do menor F .J.T. Chang, BO 1827/94, informamos que o
resultado do exame é positivo para a prática de atos libidinosos. Dra. Eliete Pacheco,
setor de sexologia, IML, sede.
Naquela mesma noite, o Jornal Nacional noticiava o acontecido. Nada havia sido
comprovado, mas todos os grandes veículos de São Paulo abraçaram as denúncias e deram
manchetes sobre o caso a partir do dia 30.
As primeiras matérias podem ser consideradas corretas do ponto de vista técnico. Como não
havia muito a noticiar, as acusações eram creditadas ao delegado encarregado do caso,
Edélcio Lemos.
Notícias como essa, de abuso sexual, principalmente envolvendo crianças, têm grande
repercussão e, apesar de todo o rigor das matérias, que procuravam não acusar ninguém, surge
a vontade da população de fazer justiça com as próprias mãos. Resultado: a escolinha foi
depredada. Começava também o linchamento moral dos envolvidos. Todos tiveram que
abandonar suas casas para não receber castigos físico por um crime que não haviam cometido.
O feriado da Páscoa se aproximava, e a abordagem da imprensa começou a mudar, deixando
de lado o relato formal para mergulhar no sensacionalismo. Percebendo isso, o delegado
Edélcio Lemos começou sua busca por 15 minutos de fama, passando informações
desencontradas para uma imprensa deslumbrada com a potencialidade do caso. Tornavase
muito mais fácil acreditar na versão oficial do que correr atrás dos envolvidos, que se
escondiam, não por assunção de culpa, mas por medo dos juízes da opinião pública. Ninguém
percebeu isso.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
22
Mais três denúncias surgiram. Os jornais se adiantavam ao inquérito policial, ou até traziam
informações que nem lá constavam. Como na matéria do dia 31 de março do Jornal Nacional,
que sugere o consumo de drogas durante as supostas orgias, ou a possibilidade de contágio
com o vírus HIV, em decorrência dos abusos. O caso havia tomado dimensões estratosféricas.
Inicialmente com acusações de molestar sexualmente duas crianças, os acusados terminaram a
semana drogando, e possivelmente transmitindo Aids para sete. Novamente a Base é
saqueada. A casa de Maurício e Paula também.
O silêncio precisa ser quebrado. Icushiro, Cida e Paula resolvem falar à imprensa. Mas a
percepção do erro veio tarde. O delegado já havia ganhado bastante espaço e achavase
amparado em qualquer atitude que tomasse. Foi assim que no dia 5 de abril ele decretou a
prisão preventiva de todos os suspeitos. Saulo e Mara se apresentaram para depoimento na
polícia e ficaram presos. A advogada do casal teve acesso ao laudo final do IML. A vista
aconteceu acidentalmente uma vez que Edélcio não mostrava para ninguém a pasta do
inquérito. O resultado do exame: inconclusivo. As lesões encontradas poderiam ser atribuídas
tanto a coito anal quanto a problemas intestinais (mais tarde, a segunda explicação seria
confirmada). Os Nunes foram soltos três dias depois.
Lemos foi afastado do caso. Em seu lugar assumiram Jorge Carrasco e Gérson de Carvalho. A
investigação foi reiniciada. Novas e velhas testemunhas foram ouvidas, as residências dos
suspeitos foram visitadas, tudo com calma e em silêncio. A imprensa começava uma trégua e
o caso finalmente seria explicado.
Novo revés. A partir de uma denúncia anônima, a casa do americano Richard Pedicini foi
invadida pela polícia e ele preso por pedofilia. Ele seria o contato internacional dos
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
23
molestadores da Base, promovendo orgias em seu casarão e filmando e fotografando crianças
de várias idades. Mais uma vez os jornais se apressaram e colocaram Pedicini como vilão da
história.
Nada ficou provado. Carvalho foi a público desmentir a ligação entre um caso e outro. A
imprensa voltou atrás. O americano foi solto depois de nove dias.
No dia 22 de junho Gérson inocentou os seis acusados. O inquérito do Caso Escola Base foi
arquivado. A conclusão: se houve crime, este ocorreu em outro lugar, com outros
personagens. Pedicini só viria a ser inocentado um ano depois.
Apesar da absolvição legal, os acusados deste episódio nunca mais tiveram paz. Suas vidas
foram destruídas e nenhuma compensação financeira foi paga até hoje, dez anos após a
comprovação de sua inocência.
Nenhuma rede de televisão, rádio, ou impresso se retratou formalmente pelos erros cometidos,
nem procurou tocar no assunto. Com exceção da Folha de S. Paulo que lançou uma série de
palestras e editorias de mea culpa.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
24
3. Compor tamento da Imprensa
A seguir segue uma pequena análise da cobertura do Caso Escola Base feita pelos principais
veículos: revistas Veja e Istoé e jornais O Estado de S. Paulo, Folha da Tarde, Agora S. Paulo,
Notícias Populares e Diário Popular.
3.1 Diário Popular
O Diário Popular atualmente Diário de S. Paulo foi o único a não publicar matérias sobre a
Escola Base, mesmo tendo sido o primeiro veículo a receber a notícia sobre os possíveis
abusos sexuais e com um possível furo nas mãos.
Paulo Breiten Vieser era o editor de polícia do Jornal à época. Em dúvida sobre a veracidade
das informações dadas pelo delegado Edélcio Lemos, desconfiança gerada por uma rusga
entre os dois (uma semana antes do desenrolar dos acontecimentos da Escola Base Edélcio
havia apreendido de forma arbitrária o filme de um fotógrafo do Diário), Paulo pediu para seu
repórter Antônio Carlos Silveira dos Santos redigir uma matéria bastante técnica com as
(poucas) informações que tinha. De posse desta, ele a levou para Jorge de Miranda Jordão,
diretor responsável do jornal. Não publicar foi a sua opção. Ele fez o que ninguém
“percebeu”: analisar as contradições do caso.
Primeira: Um delegado afirma que tem fotos e fitas de vídeo que mostram adultos fazendo
sexo com os alunos, mas não mostra o material alegando que poderia prejudicar as
investigações. Princípio único de qualquer acusação: quem acusa deve provar o que diz. A
imprensa noticiou mesmo assim.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
25
Segunda: As crianças foram interrogadas (crianças de quatro anos) sem a presença de um
psicólogo e suas declarações tomadas como verdades absolutas e noticiadas sem o menor
critério de apuração.
Terceir a: O laudo do Instituto Médico Legal (IML) utilizado pelo delgado Edélcio Lemos
como prova cabal dos abusos era ambíguo, dizendo ser “compatíveis com a prática de atos
libidinosos” as lesões no ânus de uma das crianças. Lesões estas que, tempos depois se
cogitaria, eram também compatíveis com a excreção de fezes ressecada e mais tarde se
confirmaria eram conseqüência de um sério problema intestinal do garoto. Mas isso ninguém
quis destacar.
Essas foram as três contradições principais do Caso Escola Base que o Diário Popular
questionou. A pressão que a redação do jornal sofreu por não noticiar nada a respeito não foi
pouca. Leitores suspeitaram até de um acordo entre o Diário e a Escola para abafar o caso. O
Diário percebeu equívocos, analisou os dados, confrontou informações e não noticiou os fatos
falsos, como deve ser a conduta de um veículo de comunicação.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
26
3.2 Revista Veja
Veja se equivocou tanto quanto as outras publicações jornalísticas que cobriram o Caso
Escola Base. Em reportagem publicada no dia 06 de Abril de 1994 (cópia em anexo), a
Revista trouxe aos leitores uma reportagem de aproximadamente duas laudas intitulada Uma
escola de horrores. Apesar da manchete causar impacto, o leitor mais atento pode perceber
que, já no olho da matéria, a Revista não afirma a culpa dos donos da Base e apenas diz que
eles são acusados por alguém: “Mães acusam uma creche de São Paulo de promover orgias
sexuais com crianças de 4 anos de idade”. A sutil diferença na interpretação está no fato de
Veja dizer que “mães acusam” ao invés de afirmar com convicção que “orgias sexuais são
promovidas”.
Na semana seguinte, na edição do dia 13 de Abril, a mesma Revista Veja produziu uma
reportagem completa, com exatas 6 páginas, intitulada O drama dos inocentes. Nessa
reportagem, baseada em dados estatísticos oficiais, Veja afirma que o abuso sexual vitima
15% das crianças do país e atinge todas as classes sociais. Essa matéria sobre pedofilia não
envolvia apenas a Escola Base, mas cobria o assunto de maneira abrangente. Estava aberta a
temporada de denúncias sobre abuso sexual no Brasil, mesmo sendo a Escola Base, segundo
Icushiro Shimada, apenas um “bode expiatório”.
Vale ressaltar que, pouco mais de dois meses após essas primeiras publicações, mais
precisamente no dia 29 de junho do mesmo ano, Veja apresentou na editoria Comportamento,
a matéria Tragédia de horrores – Como a falsa acusação de abuso sexual numa escolinha
destruiu a vida de três casais inocentes, onde a jornalista Angélica Santa Cruz afirma em
determinado momento do texto: “(...) Chegaram a ser citados na CPI sobre a Prostituição
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
27
Infantil na Câmara dos Deputados. A escola foi saqueada. Quebraramse vidros, levaramse
móveis e equipamentos e espalharamse fezes pelo chão. A casa de um dos acusados ganhou
uma pichação em que se exigia a ´morte do estuprador . Na semana passada, dois meses
depois que a investigação foi entregue a outro delegado, a polícia encerrou seus trabalhos. Sua
conclusão: todos são inocentes”.
Interessante frisar que naquela primeira reportagem, do dia 06 de Abril, um dos trechos da
matéria dizia: “As duas crianças foram examinadas no Instituto Médico Legal. O resultado
inicial comprovou que o menino foi submetido a coito anal”. As reportagens destacam ainda
informações secundárias como o valor das mensalidades – 38 mil cruzeiros reais e o número
de alunos matriculados na escola – 72 crianças.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
28
3.3. Revista Istoé
Revista ISTOÉ, 20 de Abril de 1994. Nessa edição, número 1281, a Revista destaca “os riscos
que se corre quando um investigador, seja ele credenciado ou não por função pública,
antecipa os resultados do seu trabalho”.
ISTOÉ apresenta ao leitor uma matéria abrangente sobre os prejulgamentos e alguns erros
graves cometidos pela imprensa e cita outros casos além da Escola Base. Por exemplo o caso
Alceni Guerra. O exministro foi investigado durante onze meses pelo suposto “escândalo das
bicicletas” e nada foi encontrado contra ele.
A Revista destaca uma foto do muro da casa do perueiro Maurício Alvarenga, que foi pichado
com os dizeres Maurício estuprador de crianças e alerta para as ações do delegado
responsável pelo caso: “No caso da denúncia de abuso sexual praticado pelos responsáveis
por uma escola, num bairro classe média de São Paulo, esse mesmo açodamento, estimulado
por um delegado decidido a viver seus 15 minutos de fama, quase provocou um linchamento
físico dos acusados. Se não foi físico, houve pelo menos um linchamento moral”.
Diz ainda: “O delegado Edélcio Lemos declarou que a prisão era baseada nas provas que
tinha, mas o fato é que ele contava apenas com o testemunho das crianças.”
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
29
3.4 O Estado de S. Paulo
Quartafeira, 30 de Março de 1994. Um dia após as denúncias de abuso sexual terem sido
apresentadas por Lucia Eiko Tanoue e Cléa Parente de Carvalho, o jornal O Estado de S.Paulo
buscava cobrir o caso. O repórter Renato Lombardi apenas se limita a publicar que “mães
afirmam que meninos de 4 anos participaram de filmes pornográficos”. Utilizandose do
mesmo recurso que a Revista Veja, o Estado de S. Paulo não acusa com convicção os donos
da Escola Base, mas não descarta a possibilidade das acusadoras terem razão, como mostra
um olho da matéria: Crianças podem ter sido violentadas.
O caso estava apenas começando e o tema era uma grande novidade a todos os jornalistas que
cobriram. Algumas reportagens já começavam a trazer implícitas um certo ar de culpa aos
acusados. A matéria do dia 31 de Março de 1994, por exemplo, afirma no olho: “Mãe vive
sob efeito de calmantes, depois de descobrir o que se passava na escola do filho”.
Em 4 de Dezembro de 1999, depois de ter sido provada a inocência dos acusados de abuso
sexual, O Estado de S. Paulo divulgou nota informando que o delegado Edélcio Lemos foi
transferido de posto dentro da Polícia Civil foi para o Denarc, e o advogado dos acusados
processou o Governo: “O Estado foi processado porque o advogado das vítimas, Kalil
Abdalla, considerou que o delegado – funcionário público paulista – foi o principal
responsável pelos danos causados a seus clientes”.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
30
3.5 Folha da Tar de e Agora S.Paulo
O Jornal Folha da Tarde cobriu o caso com mais intensidade. No início do caso, foram mais
de 10 matérias em pouco mais de uma semana. Apesar da quantidade de matérias publicadas,
o contexto apresentado pela Folha não fugiu aos outros periódicos e os textos continham
declarações das acusadoras, do delegado Edélcio Lemos e de todos os outros envolvidos.
Vale ressaltar que Folha da Tarde publicou no dia 31 de Março um Box informando a
clandestinidade da Escola Base. De acordo com o texto assinado pelo jornalista Marcelo
Rollemberg, a escola era clandestina e funcionava sem ter a autorização do Conselho Estadual
de Educação ou ter passado por vistoria da delegacia regional de ensino.
O jornal Agora S.Paulo ainda não havia sido criado nos primeiros meses de 1994, período das
acusações. Em 10 de Outubro de 1999, no entanto, pouco mais de 5 anos após os
acontecimentos, o Agora publicou uma nota informando o leitor que o local onde funcionava
a Escola Fundamental Infantil de Base transformouse em uma unidade da Febem. A casa
abrigava 11 meninas que estavam em regime de semiliberdade.
Hoje em dia, sabese que o local é uma casa abandonada.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
31
3.6 Notícias Populares
O jornal Notícias Populares cobriu o caso seguindo uma linha editorial considerada
sensacionalista. As manchetes que mencionavam o local dos supostos abusos davam um tom
agressivo aos acusados e à escola. Algumas delas:
30 de Março de 1994 “Escola usava crianças para filme pornô”
31 de Março de 1994 – “Kombi era motel na escolinha do sexo”
31 de Março de 1994 – “Perua escolar levava crianças pra orgia no maternal do sexo”
1º de Abril de 1994 – “Exame procura a Aids nos alunos da escolinha do sexo”
13 de Abril de 1994 – “Americano taradão ataca na Aclimação”
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
32
4. Atividades Desenvolvidas
Os acusados da Escola Base seriam de fundamental importância para o vídeodocumentário a
ser produzido e, para tanto, buscouse instrumentos literários ocasionados por uma longa
pesquisa e uma investigação bibliográfica e de campo. “Ayres continua trabalhando no quinto
andar de um prédio da Praça da Sé”, (RIBEIRO, p. 164, 2003). Este trecho engendrou o início
da busca por Icushiro Shimada – cujo nome de batismo católico é Ayres. Em pesquisa na
internet, chegouse, por acaso, no email de uma repórter nissei que à época havia
entrevistado Ayres. O contato foi estabelecido por email sem saber se haveria um retorno
positivo. Dias depois, por telefone, o dono do jornal (o grupo se deu conta que o email era do
jornal) e não a repórter passou ao grupo o contato mais importante do projeto.
Antes de desligar o telefone um alerta: “quando ligar seja cauteloso, pois ele não fala com a
imprensa, afinal, o que aconteceu, em parte, é culpa dela”. Antes de estabelecer o primeiro
contato com Ayres o grupo certificouse de que o número era realmente da loja de xerox na
Praça da Sé. Na ligação feita, realmente a voz do outro lado da linha era de Shimada. Foram
três ligações até agendar a entrevista. Nas três o tom crítico e aversivo de Shimada era claro.
Não queria falar sobre o assunto, não tinha interesse, não agüentava mais ser explorado e
“ajudar e nunca ser ajudado”, como ele mesmo disse. A entrevista foi possível devido a dois
fatores: o primeiro, por sermos estudantes e objetivar um vídeo no qual seriam discutidos os
erros cometidos e não corrigidos pela mídia. O segundo, o pagamento de R$ 150 reais pela
entrevista concedida. A princípio, Shimada pediu R$ 300,00, mas com muita conversa e
negociação, chegouse a um valor comum de R$ 150,00.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
33
Os outros contatos foram feitos de forma mais simples, todos por telefone ou por email e não
tiveram custos financeiros para o grupo. A entrevista com o jornalista Luís Nassif da TV
Cultura, por exemplo, foi marcada após agendamento com sua secretária. Ele foi procurado
por ter escrito o livro Jornalismo nos anos 90, principal referência do trabalho.
Bóris Casoy, da Rede Record de Televisão, foi contactado por telefone. A entrevista foi
desmarcada no dia, causando desapontamento no grupo. Duas semanas depois, no entanto, a
entrevista foi concedida.
Laurindo Leal Filho, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, foi
procurado no dia do lançamento do Instituto Livre de Jornalismo, no Espaço Unibanco. Sua
experiência na Inglaterra e seus trabalhos sobre Ética na televisão foram os norteadores da
entrevista.
Marcelo Tas, da TV Cultura, foi contactado por sua experiência em vídeodocumentário. A
proposta era pedir sua opinião para a produção da peça. Porém, mais importantes do que um
simples auxílio técnico, foram suas declarações sobre ética no jornalismo.
O advogado de Shimada, Kalil Rocha Abdala, foi o último entrevistado do trabalho. A idéia
de procurálo surgiu do orientador Vanderlei Dias de Souza para mostrar as providências
legais tomadas para tentar minimizar as conseqüências do caso. Seu telefone foi conseguido
através do próprio Shimada.
O grupo também tentou entrevistar Mino Carta, editorchefe e dono da revista Carta Capital,
mas no dia marcado o entrevistado não pôde comparecer. Foi programada outra data mas
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
34
decidiuse que as declarações não seriam mais necessárias, uma vez que os depoimentos
conseguidos em outras entrevistas supriam as necessidades do trabalho.
Tentouse conversar com o jornalista da Rede Globo, Valmir Salaro, responsável pela
primeira matéria relacionado ao Caso Escola Base e muito citado por Shimada. Foi
requisitado por ele o envio de um email pedindo autorização para a entrevista. O email, no
entanto, não existia, e após o primeiro contato não foi mais possível falar com Salaro.
Marcelo Godoy, repórter do Estado de São Paulo, que em 94 trabalhava no Folha, também foi
procurado, mas não quis gravar entrevista alegando falta de tempo. Porém, concedeu longa
entrevista por telefone, onde afirmou que “o que tornou o caso o que ele é foi a coincidência
de a imprensa estar cobrindo um erro da polícia”.
A etapa final foi a busca por imagens de cobertura e a elaboração do roteiro do vídeo, o que
envolveu visitas à Biblioteca Mário de Andrade e ao arquivo da Folha de São Paulo. Neste
último podese ter acesso a praticamente todas as reportagens sobre o Caso Escola Base na
época em que estava acontecendo. São matérias de jornais impressos e Revistas, com datas
entre março e maio de 1994.
Além da Biblioteca Mário de Andrade, os acervos de imagens da Rede Globo de Televisão e
da TV Cultura também foram visitados e a pesquisa pode ser embasada com materiais de
suma importância, além de contribuir de maneira ímpar à qualidade de produção e conteúdo
do vídeodocumentário.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
35
5. Conclusão
Partindose dos pressupostos dos manuais de redação que orientam a forma com que cada
veículo faz suas coberturas e das condutas éticas ensinadas nas faculdades de jornalismo, fica
claro que o Caso da Escola Base foi um show de equívocos e despreparo na apuração,
checagem e redação das matérias. Para que não fique vago, ou mesmo confuso, explicarseão
tais equívocos.
A intenção é mostrar o caminho básico, ou seja, as perguntas e as cobranças que a mídia
deveria ter feito quando o caso estourou. O estímulo é a vontade de aplicar o conhecimento
adquirido na faculdade. Bagagem não tão prática, é certo, e com uma visão romântica de um
jornalismo que não é o vivido no cotidiano. Mas essas limitações são sabidas, e pretendese
fazer delas motivação.
Analisar o caso 10 anos depois, sob o olhar da história, parece uma tarefa fácil e simplória já
que se tem todo o tempo necessário para cruzar e analisar as informações. No entanto,
menosprezar essa visão com medo de se tornar uma estátua de sal não parece melhor. Afinal,
o que seria da história se não fossem as análises dos acontecimentos?
Certos erros e vivências devem sempre ser discutidos para pautar ações futuras. Claro que não
é garantido que em idênticas condições de pressão as mesmas decisões não seriam tomadas,
mas, segundo Luiz Nassif, a “notícia precisa ter valores, pois uma notícia sem valores vira
produto de supermercado”, aliada à de Marcelo Tas de que “a ética jornalística é uma questão
de postura individual”, parece ser a mais sensata. E o estudo do comportamento da imprensa
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
36
em casos polêmicos como o da Escola Base sem dúvida é a melhor forma de ser chegar a tal
conclusão.
Esse exercício pode trazer apreensão de ingressar no meio jornalístico, mas, sem dúvida,
ajuda a ter consciência, reserva, cautela e respeito pelas informações e pelas figuras humanas
envolvidas em acusações de ordem moral. Respeito pela honra das pessoas como ressaltou
Boris Casoy.
Revendo os fatos, a relação subversiva entre mídia e polícia revelouse um espetáculo de má
conduta. A fonte oficial, o delegado Edélcio Lemos, ironizava perguntas sobre os acusados
com sorrisos de canto de boca, passava informações mentirosas que a mídia publicava sem
questionar. Ninguém, exceto o Diário Popular, duvidou da suposta eficiência do delegado,
que inventava teorias e soluções em tempo recorde.
Dessa forma, podese aceitar a afirmação de Bóris Casoy, de que a culpa não pode ser
atribuída apenas à imprensa já que o delegado é quem provia as falsas informações. Mas não é
papel do jornalista ser um mediador da realidade, ouvindo todos os lados, agindo como um
investigador?
Além disso, essa suposição cai por terra ao lembrarse que mesmo após o afastamento de
Edélcio Lemos e a entrada de Jorge Carrasco e Gérson de Carvalho, a mídia mentiu sozinha
quando, a partir de uma denúncia anônima acusou o americano Richard Pedicini de realizar
orgias com crianças no casarão em que morava. “Alunos da Escola Base reconhecem a casa
do americano”, publicou o Estadão; “Criança liga americano a abuso de escola”, manchetou a
Folha. “Americano taradão ataca na Aclimação”, publicou o Noticias Populares. A fonte? O
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
37
advogado das mães acusadoras, Artur Proppmair. Até a polícia concordou que não havia
relação entre os acontecimentos e a mídia, em seu surto de criatividade deu a notícia.
No final das contas, depois de todo o estrago, dos veículos, o único que procurou debater o
tema foi a Folha de S. Paulo. O jornal também fez um mea culpa em seu editorial de 19 de
dezembro de 1994, mesmo assim pouco ficou esclarecido.
Essa pretensão seria fruto de ingenuidade? Falta de critério? De caráter? A única certeza é:
quem informa não deve somente registrar fatos, mas investigálos.
A Escola Base não foi o primeiro nem será único erro cometido pela imprensa. A imprensa é
feita por seres humanos e está fadada ao erro. Todavia, já que estes erros existem, esperase
que, pelo menos, sejam debatidos e os culpados condenados.
A imprensa não aprendeu nada com esse caso? Nem tanto. Notícias contraditórias ou que
possam gerar dúvidas sobre sua correta apuração são dadas diariamente, mas não ganham
notoriedade.
“O que tornou o caso o que ele é foi a coincidência de a imprensa estar cobrindo um erro da
polícia”, diz Marcelo Godoy, repórter do Estadão que trabalhava na Folha em 94. “Fomos
bode expiatório, fomos assassinados socialmente para gerar uma atenção que até aquele
momento não existia”, lamenta Icushiro Shimada. Só quando “o homem morde o cachorro”,
no sentido de que as peças que compõem a história não conseguem se encaixar, é que
discussões são suscitadas.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
38
Órgãos como os “monitores de mídia” sugeridos por Christofoletti, que vão de dispositivos
normativos como os códigos profissionais e empresariais a comissões de aconselhamento
ético nos órgãos classistas; de páginas de discussão na internet a seções de cartas nos meios
impressos; de publicações especializadas a serviços de “vigilância” ética nos meios,
realizados por algumas organizações nãogovernamentais, parece ser uma boa alternativa para
evitar esses tipos de conduta.
Assim como na Inglaterra, onde a mídia é vista como um serviço, um meio que trabalha para
a melhoria da sociedade como um todo, e existem núcleos de discussão sobre o papel da
mídia e a qualidade de seu conteúdo, que envolvem representantes de todas as classes, do
governo e do empresariado, no Brasil, algumas posturas poderiam ser mudadas. Também
seria preciso rever as leis que regem a imprensa. No Caso Escola Base nenhum jornalista foi
punido e todos continuam na ativa como se nada tivesse acontecido.
No Brasil existe a figura do ombudsman (Folha de S. Paulo e Rádio Bandeirantes), uma
espécie de “ouvidor” que estabelece um canal entre o público e o veículo. Ele trabalha como
um leitor, ou expectador, dentro da empresa, vendo de forma crítica todo conteúdo produzido,
recebendo reclamações e com generoso espaço para tratar dos assuntos que avaliar necessário.
Mas ações como são vistas como desperdício de dinheiro pelos donos das empresas de
comunicação, e o debate sobre essas possibilidades não é incentivado nem pelos profissionais
nem pela sociedade.
Em visita ao imóvel onde funcionava a Escola Fundamental Infantil de Base (hoje
abandonado) para a gravação de imagens para o vídeodocumentário, tevese a certeza de que
esses questionamentos são legítimos e relevantes.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
39
Ao perguntar a uma vendedora de pastéis que trabalha há mais de 12 anos (o Caso Escola
Base completou 10) na feira que acontece na rua Oliveira Peixoto toda semana, sua opinião
sobre o que aconteceu, a resposta foi surpreendente: “uma vergonha o que fizeram com
aquelas crianças, espero que estejam pagando pelo que fizeram”.
Surpresa maior foi a dela quando soube que os acusados já foram inocentados: “Sério? Eu não
vi nada a respeito, quem disse isso pra vocês? Aí, meu Deus, que história louca”. Depois de
alguns esclarecimentos, ela se comprometeu a espalhar a informação para as pessoas da
região que toda quartafeira comem seu pastel.
Talvez utópico, mas fica a vontade do grupo de que se um erro foi cometido em uma
reportagem, deve ser feita uma reportagem sobre o erro.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
40
6. Referências
ARBEX JÚNIOR, José. Shownarlismo: a notícia como espetáculo. São Paulo: Casa
Amarela, 2001. BARROS FILHO, Clóvis. Ética na comunicação: da informação ao receptor. São
Paulo: Moderna, 1995. BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 CONTI, Mário Sérgio. Notícias do Planalto. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. CHRISTOFOLETTI, Rogério. Monitores de Mídia: Como o Jornalismo Catarinense
percebe seus Deslizes Éticos. Itajaí: Univali e UFSC, 2001 DAMATA, Roberto. Relativizando. São Paulo: Rocco, 1997. DIMENSTEIN, Gilberto. Armadilhas do poder – Bastidores da imprensa. São Paulo:
Summus Editorial, 1990. FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. São Paulo: Saraiva, 2001. GABLER, Neal. Vida, o filme. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. KARAM, Francisco José Castilhos. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo:
Summus, 1997. KUCINSKI, Bernardo. Síndrome da Antena Parabólica: Ética no Jornalismo
Brasileiro, São Paulo: Ed. Perseu Abramo, 1998. KUNCZIK, Michael. Conceitos de Jornalismo: Norte e sul : Manual de
Comunicação. São Paulo, 2001. LAGE, Nilson. A Reportagem: Teoria e Técnica de Entrevista e Pesquisa
Jornalística. São Paulo: Record, 2001. MEYER, Philip. A ética no jornalismo, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1985 NASSIF, Luiz Nassif. O Jornalismo dos Anos 90. São Paulo: Futura, 2003 NERY, Sebastião. Os Grandes Pecados da Imprensa. São Paulo: Geração, 2000. OLIVEIRA, Sílvio Luiz de. Tratado de Metodologia Científica. São Paulo: Pioneira,
2000. ORTIZ, Renato. Mundialização da Cultura. São Paulo: Brasiliense, 2000 RIBEIRO, Alex. Abusos da Imprensa: O caso Escola Base. São Paulo: Ática, 1995. ROSSI, Clóvis. O que é Jornalismo. São Paulo: Brasiliense, 1994. SANTOS, Rogério et al. O Jornalismo Português em Análise de Casos, Lisboa:
Editorial Caminho S.A., 2001. SOUSA, Jorge Pedro. Teorias da Notícia e do Jornalismo. Argos: Chapecó, 2002. O QUARTO PODER. [Filme] Direção de Konstantinos Gavras. Warner Bros, 1976.
114 min. EUA: 1997. 114 min. O INFORMANTE. [Filme]. Direção de Michael Mann. Touchstone Pictures, 1999.
160 min. TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE. [Filme]. Direção de Alan J. Pakula.
Warner Bros/Wilwood, 1976. 138 min. Código de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo.
São Paulo, 1999. Revista Veja Revista Istoé Folha da Tarde Agora S. Paulo O Estado de S. Paulo
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
41
Notícias Populares Sites: www.bocc.ubi.ptwww.bocc.ubi.pt
www.observator iodaimprensa.com.brwww.observator iodaimprensa.com.br www.igutemberg.com.brwww.igutemberg.com.br www.paremasmaquinas.com.brwww.paremasmaquinas.com.br
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
42
7. Apêndice
7.1. Roteiro de Perguntas par a os Entr evistados 1) Nosso tema trata dos “erros da imprensa na década de 90”. O fato dela cometer grandes equívocos no noticiário, prejudicar pessoas, como no Caso da Escola Base, e não assumir a culpa ou se penitenciar como se deve. Então, farei uma pergunta mais pontual pra começar a entrevista: qual é o limiar entre a ética jornalística e os interesses de sensacionalizar os fatos – talvez levados por interesses comerciais (audiência, venda de jornal, etc...)? 2) O tempo de apuração é muito pouco. Os joguetes e interesses de utilizar a mídia para conseguir espaço são muito grandes. Como ter coerência na hora de analisar uma pauta? Pergunto isso, pois no livro do Luiz Nassif, são inúmeros os erros cometidos. Isso, porque ele citou somente alguns. Então acho bem provável que ou às pautas são mal analisadas e com pouco tempo de apuração ou existe sempre um interesse por trás dos assuntos. O que o senhor acha? 3) Errar é normal. Cometer alguns equívocos também. Agora a mídia errou feio em vários casos, Escola Base, Alcenir Guerra e as bicicletas, o recente episódio do Gugu e do PCC. São erros que mexem com vidas humanas. Nesses casos não deveria haver uma punição exemplar? 4) Em palestra realizada no Espaço Unibanco, o jornalista e empresário de mídia Mino Carta disse que a imprensa brasileira fecha com o poder em qualquer circunstância com raríssimas exceções. É isso mesmo ? Pode ser considerado um erro da imprensa esse relacionamento direto com o poder? 5) O que pensa dos órgãos monitores de mídia como acontece na Inglaterra, mas especificamente com a BBC de Londres? Não poderia ser implantado em todos os veículos brasileiros? 6) Carlos Costa, representante do Brasil no FBI por quatro anos disse em entrevista à revista Carta Capital, que uma das mais importantes missões da embaixada norteamericana é manipular, conduzir e controlar a imprensa brasileira... o que pensar sobre isso?
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
43
7.2 Análise das Entrevistas
7.2.1 Luis Nassif
A entrevista foi fundamental por ser ele o autor do livro Jornalismo nos anos 90, referencial teórico primeiro do projeto de pesquisa. Nassif esclareceu muitas coisas sobre o Caso Escola Base, mas também citou outros casos relevantes para se engendrar debates acerca da ética no jornalismo, como o Bar Bodega, Caso Proer e Alceni Guerra e as bicicletas. Para Nassif, a imprensa errou por conta de um ímpeto pelo furo e falta de responsabilidade no momento da apuração: “o editor olha e fala: é uma baita duma matéria. Se eu vou colocar em dúvida, vou apurar todos os dados, eu tiro o impacto da matéria (...) Daí passam uns dias e a manchete está errada. Você se desmoraliza e começa uma autodefesa”. O grupo pôde abstrair da entrevista que a proposta de se implantar os órgãos monitores de mídia na imprensa brasileira pode não ser tão eficiente e se não houver um controle do próprio jornalista, a ética passa a ser elemento supérfluo nas redações. 7.2.2 Bor is Casoy O jornalista Boris Casoy falou sobre o Caso Escola Base e a aplicação da ética na imprensa brasileira. Quando veio à tona as acusações de abuso sexual em uma escola infantil da cidade de São Paulo, Boris Casoy estava no SBT, apresentando o telejornal TJ Brasil. Casoy afirmou que cobria o caso porque é um dever jornalístico, mas procurava sempre ser ponderado e imparcial em seus comentários. Assim com Luis Nassif, Boris não sentia confiança nas declarações do então delegado do 6º DP Edélcio Lemos e, enquanto a imprensa acusava veementemente Icushiro Shimada como responsável pelos abusos, Boris remava na contramão e tinha suas dúvidas. Em aproximadamente 80 minutos de conversa, Boris também criticou a proposta do grupo para implantar órgãos que pudessem monitorar a mídia, como ocorre na Inglaterra com a BBC. Para Boris, o melhor monitor de mídia é o próprio repórter que deve sempre preocuparse com o autocontrole (mesmo termo usado por Nassif) e buscar ser ético em todas as situações. De acordo com Boris, é extremamente perigoso a imprensa deixar de apurar detalhes de um caso: “Eu senti na pele isso (...) fui acusado de pertencer ao Comando de Caça aos Comunistas e me viram em lugares onde nunca estive”, finaliza Boris. Veja alguns outros trechos da entrevista com o jornalista Boris Casoy:
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
44
“Eu acho que a ética é móvel. Ela se move de acordo com o momento, de acordo com o tempo e como a sociedade encara os fatos. No fundo a ética é aquele porto onde você aporta o seu barquinho todas as noites e no seu travesseiro você examina os fatos ante a luz do que a sociedade e a tua consciência de propiciam naquele momento” “Então quando surge um fato onde a honra alheia pode ser arranhada e a imprensa pode matar uma pessoa através do assassinato da sua honra a ordem é esperar, porque no seguinte terá mais tempo de analise, mais tempo de apuração, mais tempo de meditação. Eu posso ser furado. Não me interessa se eu sou furado ou não. O que eu não posso é matar um ser humano” “Eu fui vitima disso. Eu fui acusado de pertencer ao Comando de Caça aos Comunistas e eu não me livrei até hoje. Então talvez isso tenha sido uma boa lição e tenha sido colocado no meu destino para que eu sentisse na carne o que significa isso. Tudo isso foi pela imprensa. Tem gente até que me viu em lugares onde eu não estive. Então eu tomo cuidado com a honra alheia.” Sobre a Escola Base: “ Foi um rolo compressor. Eu estava no SBT, no Telejornal Brasil do SBT e foi um rolo compressor inclusive na Redação. Era um delegado ansioso, que, eu acho, tinha algum problema patológico. Mitômano, ele mentiu. Eu não quero perdoar a imprensa, mas tem o fato de que uma autoridade induziu a isso.” “Era um caso na época extremamente sensível, ligado a criança e tudo novo. Se você olhar hoje tem Michael Jackson e outros, então hoje a analise desse tipo de caso é mais comum na imprensa, mas na época era uma grande novidade. O tema era um tema tabu.” “ Não foi um erro só da imprensa. Foi uma conjugação de esforços em direção ao erro. E foi uma “foquice” mesmo. Ninguém foi apurar e as pessoas acreditavam no que diziam.” “ Eu não acho que foi a ânsia pela audiência (...) Houve um emburramento generalizado. As pessoas acreditavam no que aquele delegado dizia porque ele tinha aparência humilde, expressão boa e ele se fazia acreditar.” “Todo mundo acreditava no delegado, todo mundo estava vendo daquela forma. Mas você começa a pensar, pô pêra aí. Olha a declaração desse senhor, olha a declaração dessa senhora, tinha o tio da perua, todo mundo pedófilo e levava pra uma casa de prostituição, etc. etc.. tudo muito fantasioso. Eu parei e pensei: tem alguma coisa errada nessa estória. Nós dávamos a matéria porque tínhamos que dar, mas aí eu entrava e colocava dúvida.” 7.2.3 Laur indo Leal O jornalista Laurindo Leal, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, falou sobre a aplicação da ética na imprensa brasileira. Laurindo Leal citou com exemplos tudo o que dizia e podese caracterizar a importância das suas palavras para o embasamento teórico da pesquisa.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
45
Entre as muitas coisas importantes expressas por Laurindo, valese ressaltar duas delas: “O Cláudio Abramo que falava que a ética dele não era a ética do jornalismo era a ética do marceneiro. Ética você tem aqui na nossa relação, na sua vida. O grande problema é você ser ético em um mundo e às vezes o mundo do jornalismo não é ético. Aí é o problema. A ética vem do berço, você tem toda uma formação ética. O que é uma formação ética: respeito de valores, respeito à verdade, respeito à dignidade, respeito à sociedade e aos problemas sociais. Você tem também esses valores, se você é colocado em uma redação de um jornal, de uma TV que de repente tem outras intenções. Aí é o drama individual, pessoal. O grande conflito ético está em você ser ético e o conjunto o qual você vive muitas vezes não ter essa mesma ética. Está voltado para interesses nos negócios, interesse na política, de favorecer este ou aquele grupo. Como é que você se vê diante disso. Tenho pensado muito nisso desde quando eu era dirigente sindical do sindicato dos jornalistas. Ou você procura desenvolver isso coletivamente com seus companheiros de profissão e discute isso, e tenta enfrentar isso coletivamente ou vai para o divã do analista. Porque não tem muito jeito, é uma coisa muito pessoal de você defender sua ética, seus valores, é não ter onde praticar esses valores. E ainda: “Pode ser que quem está começando hoje possa conseguir isso mais p/ frente, depende do espaço que você tem para colocar sua postura ética a serviço do jornalismo, ou a favor da sociedade. Porque o jornalismo é uma função. O jornalismo é um meio para que a sociedade funcione de uma maneira civilizada com informações variadas para que a pessoa possa ter sua posição na sociedade. O jornalismo é um meio não um fim em si. Então a ética é a ética da sociedade, não do jornalismo em si.” 7.2.4 Marcelo Tas Marcelo Tas é apresentador do programa “Vitrine”, na TV Cultura. Tas falou sobre ética na imprensa, furos jornalísticos, falhas na apuração e manipulação da mídia. Em uma entrevista bastante descontraída, o criador do polêmico entrevistador Ernesto Varela considera a televisão burra e conservadora: “Fazse programas ruins, buscando audiência.”, relata o apresentador, que diz gostar do apresentador Ratinho, pois, segundo ele, soube “transformar tudo em um grande circo popular, onde as pessoas que não têm lugar na tevê conseguem se expressar” Leia alguns pontos a serem destacados na entrevista, relevantes para a pesquisa: “O furo é até uma coisa saudável no jornalismo. É uma briga pela informação, enfim, por saber uma coisa antes. Agora, você extrapolar um fato, você dar tintas a um fato que não tem, isso é uma coisa que se tornou muito freqüente por conta de uma briga por aparecer mesmo, de chamar atenção.” “A briga pela atenção do público ela é saudável até o limite da honestidade, até o limite da ética, até o limite de você ser um grande contador de história. É importante que você seja um grande contador de história, mas que você não altere a história em seu próprio benefício.” “Eu acho que o jornalismo distorce sim a história que ele ta contando, sempre. Não existe jornalismo imparcial, isso é uma bobagem, é papo furado, isso é populismo. O jornalista ele
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
46
botou uma câmera, o jeito que ele vai me olhar, por exemplo, pra fazer essa entrevista, o fundo que ta ali atrás, tudo isso já é uma manipulação desse espaço que a gente ta aqui. Mas tudo bem.” “Eu sempre tive isso em todos os veículos que eu trabalhei. Todos os veículos que eu trabalhei existia um limite pra essa liberdade. Eu acho que o papel do jornalista é esticar esses limites ao máximo e mostrar que a liberdade é a maneira como você lê a realidade, com maior liberdade possível, é uma coisa que interessa quem ta do outro lado. Esse é o ponto.” 7.2.5 Kalil Rocha Abdala O advogado de Icushiro Shimada teve importância para pesquisa em relação aos assuntos jurídicos. Kalil informou ao grupo detalhes dos processos em andamento e algumas das suas declarações puderam ser inseridas no vídeodocumentário. 7.2.6 Icushiro Shimada O principal acusado do caso Escola Base, hoje em dia, é um senhor de meia idade tentando ainda reconstruir sua vida. 10 anos após o incidente, Icushiro ainda carrega uma tristeza muito grande e um sentimento nítido de revolta em relação à cobertura da imprensa no período das acusações: “Acaba com um sujeito. Você não levanta mais não amigo. Você não levanta mais. Que nem eu, eu to com 60 anos rapaz e tô aqui engatinhando. Estou pendurado no banco e até hoje estou pagando. Não tenho conta, não tenho cheque, não tenho porra nenhuma”, disse Shimada. A entrevista de 2 horas, imprescindível para o desenvolvimento da pesquisa e para a confecção do vídeodocumentário, foi realizada no seu atual local de trabalho, uma pequena loja de xerox no centro de São Paulo. Icushiro detalhou momentos vividos no turbulento período das acusações e também falou sobre o motivo que o levou a comprar uma escolinha infantil: “o sonho da minha esposa era montar uma escola. Ela sempre lecionou, foi funcionária da prefeitura e dava aula no estado”, afirmou.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
47
7.3 Roteiro do VídeoDocumentário
Ética na Impr ensa Brasileira na Década de 90 e as Lições do Caso Escola
Base
IMAGEM TC TEXTO SOBE BG
GC FADE IN
GC FADE OUT
Código de Ética do SJSP Artigo 7 O compromisso do jornalista é com a verdade dos fatos e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.
DESCE BG FITA 8 – Repórter Cultura
O exame de corpo delito feito no
garoto pelo IML constatou realmente que ele foi vítima de abuso sexual. A
polícia está esperando agora o resultado de um outro exame feito em
uma outra garota da escola. SOBE BGS GC FADE IN GC FADE OUT
Ética na Impr ensa Brasileira na Década de 90...
FADE IN FITA 1 SHIMADA E 0:49:23 Acaba com um... S 0:49:32 ... não levanta mais
FLASH FRAME FITA 1 SHIMADA E 0:49:39 não tenho conta... S 0:49:40 ...porra nenhuma!
Acaba com um sujeito. Você não levanta mais não amigo. Irresponsável né? Você não levanta mais. Não tenho conta, não tenho cheque, não tenho porra nenhuma!.
SOBE BGS GC FADE IN GC FADE OUT DESCE BGS BLACK
... e as lições do Caso Escola Base
SOBE TRILHA: HINO NACIONAL BRASILEIRO SOLO DE GUITARRA
OFF1
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
48
IMAGENS: * Pouco mais // consolidada FITA 7 COLLOR E 00:16:43 S 00:16:53 *A corrida // acirrava FITA 7 – LULA, FHC E 00 :17:13 S 00 :17:24 * Os preparativos // próximo FITA 7 – COPA
1994 Início de 1994. Pouco mais de um ano depois do impeachment de Fernando Collor , a democracia parecia, enfim,
consolidada. A cor rida para as eleições presidenciais de outubr o se
acir rava e os preparativos para a copa do mundo de futebol nos Estados Unidos estavam adiantados. O tão
sonhado tetr a estava próximo.
IMAGENS: FITA 6 Fotos Shimada e Cida E 01:09:51 S 01:10:05 FITA 6 Fotos Maurício e Paula
E 01:07:00 S 01:07:09 FITA 7 Fachada Base Cultura E 00:05:00 S 00:05:08 DESCE TRILHA
OFF2 16s
O casal Icushiro e Aparecida Shimada e seus sócios Maurício e Paula Alvarenga colhiam os frutos de um investimento feito dois anos antes. A compra da Escola de Educação Fundamental Base. Era a realização de um sonho.
GC Icushiro Shimada Dono da Escola Base FITA 1 SHIMADA E 0:03:44 A minha esposa S 0:04:01
FLASH FRAME FITA 1 SHIMADA E 0:03:17 S 0:03:34
A minha esposa o sonho dela era montar uma escola. Ela sempre lecionou, foi funcionária da prefeitura, dava aula no estado, em particular também A gente comprou a escolinha porque tava anúncio no jornal, quebrada, não tinha nenhum aluno. Mas por causa do nome a gente foi lá. Como era barato eu vendi o carro. Vendi tudo que tinha, meu sócio também.
IMAGENS: A escolinha // 70 FITA 8 CRIANÇAS No dia // dois casais FITA 8 CALENDÀRIO TRILHA: Giz Legião
OFF3
A escolinha estava crescendo. Em 93 cerca de 30 alunos já estavam matriculados. No ano seguinte já eram mais de 70. No dia 28 de março de 94, no entanto, a sorte mudou para os dois casais.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
49
FITA 1 – SHIMADA E 0:05:31 S 0:05:35 FLASH FRAME E 0:06:14 S 0:06:18 FLASH FRAME E 0:07:01 S 0:07:08 FLASH FRAME E 0:07:53 S 0:08:08
Era 5:30 da tarde nois tava lá dentro De repente toca a campanhia e desci para abrir o portão Abri o portão e a rua tava cheia Delegado me segurou: polícia
SOBE TRILHA: Introitus – the Truth and the Light IMAGENS: FITA 7 CAPA ISTOÉ E 00:10:34 S 00:10:42
OFF4 5s
Começava um dos casos mais polêmicos da história do jornalismo brasileiro.
SOBE TRILHA: Rage Against IMAGENS: FITA 6 E 1:09:17 S 1:09:31 FITA 6 E 01:08:20 S 1:08:22 FITA 7 E 00:12:17 S 00:12:26
GC FADE IN GC FADE OUT
Código de Ética do SJSP III Da Responsabilidade Profissional do Jornalista Artigo 14 Alínea a Ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, todas as pessoas objeto de acusações não comprovadas, feitas por terceiros e não suficientemente demonstradas ou verificadas.
IMAGENS: FITA 7 Rotativas FSP
FITA 7 Redação FSP FITA 7 Banca Mackenzie
TRILHA: Living In the Past – Jethro
OFF5
O jornalismo é uma profissão de extrema importância social. Sua abrangência e função de mediador da realidade lhe concedem um grande poder de interferir na vida das pessoas através do que noticia se as informações são divulgadas sem seguir os princípios básicos da investigação.
GC Laurindo Lalo Leal Filho PUCSP FITA 6 LAURINDO E 0:44:26 Jornalismo é uma S 0:44:45 fim em si
Jornalismo é uma função. O jornalismo é um meio para que a sociedade funcione de uma maneira civilizada, com informações variadas para que a pessoa possa ter sua posição na sociedade. O jornalismo é um meio, não um fim em si
IMAGENS:
OFF6
O caso Escola Base é um exemplo clássico do
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
50
FITA 8 TELEJORNAIS TRILHA: The Whistler Jethro
que acontece quando esse meio funciona de maneira irresponsável.
FITA 3 NASSIF E 0:10:13 S : :
FLASH FRAME
FLASH FRAME
FLASH FRAME
FLASH FRAME
Você começa com um erro básico porque o seguinte, vem uma matéria, vem um delegado e diz que ouve lá uma orgia.Isso é uma baita duma matéria. Daí você chega pro editor. O editor olha fala é uma baita duma matéria. Se eu vou colocar em dúvida, se eu vou apurar todos os dados, eu tiro o impacto da matéria. Então você vai naquele ímpeto de eu não quero estragar a manchete. Então você dá a manchete.
IMAGENS: FITA 8 Imagens JN FITA 8 LÚCIA
TRILHA: Mother fuckin´ Racists – Planet Hemp
OFF7
A primeira manchete saiu no Jornal Nacional de vinte e nove de março de noventa e quatro baseada em uma denúncia sobre possível abuso sexual de crianças de quatro anos que estaria acontecendo na Escola Base.
MATÉRIA CULTURA I. OFF repórter e
entr evista Lúcia
IMAGENS FITA 8 – Imagens títulos de jornais
OFF8 A notícia foi repetida por todos os veículos nos dias seguintes, num show de equívocos e despreparo na apuração. Só o Diário Popular não publicou nada sobre o caso
SOBE BG GC FADE IN
GC FADE OUT
Um delegado chama a imprensa e diz que você molestou sexualmente uma criança... e agora? IstoÉ, 20/04/94
FITA 2 – BÓRIS Não desculpo a impr ensa
E 00:13:17 S 00:13:40
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
51
IMAGENS FITA 8 Fotos e muro pichado E 00:30:25 S 00:32:40 FITA CULTURA Prisão Saulo e Mara E 00:15:15 S 00:17:15
OFF9 Além de Icushiro e sua esposa Aparecida, também foram incriminados os casais Maurício e Paula Alvarenga e Saulo e Mara Nunes. O julgamento dos envolvidos aconteceu de maneira prematura. A Base foi depredada, os Alvarenga tiveram o muro de sua casa pichado, e os Nunes foram presos sem provas.
FITA CULTURA Saulo preso injustamente
E 00:15:15 S 00:17:15
FITA CULTURA Edélcio falando das provas
E : : S : :
IMAGENS: Fita Cultur a Ansiedade: mãe na base Contra: mãe pedindo cadeia Favor: mãe na delegacia
OFF 10
Enquanto a imprensa se baseava apenas na fonte oficial, a ansiedade cr escia. Alguns pais de alunos se colocavam contr a e outros a favor dos diretores da escola. O delegado seguia convicto com seu show particular.
FITA CULTURA Edélcio falando das provas
E : : S : :
FITA CULTURA Advogado E 00:25:12 S 00:28:12
FITA 2 – BÓRIS E 00:45:40 S 00:47:52
Todo mundo acreditava no delegado, todo mundo estava vendo daquela forma. Mas você começa a pensar, pô pêra aí. Olha a declaração desse senhor, olha a declaração dessa senhora, tinha o tio da perua, todo mundo pedófilo e levava pra uma casa de prostituição, etc. etc.. tudo muito fantasioso.
FITA 1 – Shimada E 00:36:25 S 00:39:50
FITA 3 – NASSIF Diário E 00:28:10 S : :
IMAGENS:
OFF 11
A falta de ética e a luta pela atenção do público continuaram a todo vapor.
FITA 4 – Tas E 0:29:52 S0:30:16
A br iga pela atenção do público ela é saudável até o limite da honestidade, até o limite da ética , até o limite de
você ser um grande contador de histór ia. É impor tante que você seja um gr ande contador de história, mas que você não altere a história em seu
própr io benefício.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
52
FITA3 – Nassif Jornalismo nos anos 90
IMAGENS:
OFF 12
Só a partir dia 5 de abril o caso começou a virar. Shimada, Cida e Paula, que até então haviam fugido das câmeras ganharam espaço para se defender.
FITA CULTURA Entr evistas Florestan
IMAGENS:
OFF 13
Edélcio foi afastado do caso. Em seu lugar assumiram Jorge Carrasco e Gérson de Carvalho. A fonte oficial mudou, mas a imprensa resolveu mentir sozinha
FITA CULTURA Matéria Pedicini
OFF 14
Gérson acionou a imprensa. Dessa vez para desmentir a relação entre os dois casos. No final de junho a convocou novamente para comunicar o arquivamento do inquérito
FITA CULTURA Delegado falando do encerramento
SHIMADA FALANDO Q FOI BODE
EXPIATÓRIO
BÓRIS FALANDO SOBRE LIÇÃO
SOBE BG GC FADE IN
GC FADE OUT DESCE BG
Se um erro é cometido em uma reportagem, deve ser feita uma reportagem sobre o erro.
FITA 7 – Kalil E 00:18:25 S 00:23:35
SOBE GC
Hoje Icushiro trabalha em sua xerox no centro se São Paulo. O imóvel da Base foi usado pela FEBEM durante 5 anos e hoje está abandonado. Edélcio continua na Polícia.
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
53
Lúcia, que fez a primeira denúncia, continua vivendo normalmente e diz ter certeza que seu filho foi molestado. Os outros envolvidos se mudaram da cidade e tentam viver anonimamente suas vidas.
SOBE GC
Ficha Acadêmica
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
54
8. Anexos
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
55
O Estado de S. Paulo
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
56
Folha da Tarde e
Agora S. Paulo
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
57
Notícias Populares
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
58
Revista IstoÉ
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.
TGI -
Esc
ola
Base
59
Revista Veja
Evaluation notes were added to the output document. To get rid of these notes, please order your copy of ePrint IV now.