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VIVIAN BAUMANN
A ÉTICA PUBLICITÁRIA: CASE BENETTON
BLUMENAU
1999
VIVIAN BAUMANN
A ÉTICA PUBLICITÁRIA: CASE BENETTON
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado para
obtenção do título de bacharel em Comunicação Social,
habilitação em Publicidade e Propaganda, Centro de
Ciências Humanas e da Comunicação da Universidade
Regional de Blumenau.
Orientadora: Profa . Marilde Sievert.
BLUMENAU
1999
Para
Meus pais e meu irmão,
que me apoiaram, me deram
força e acreditaram que
eu era capaz.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, a Vida e ao Mundo, por iluminarem meus caminhos e me darem a
oportunidade de chegar até aqui.
Agradeço àqueles que acreditaram em mim e me orientaram: professora Marilde
Sievert e Sr. Francisco Socorro.
Aos meus pais, Alfredo e Glória, pelo carinho, pela força, pela paciência e pela
atenção que tiveram comigo, não apenas nesse período, mas durante toda a vida.
Ao meu irmão Alexandre que, de alguma maneira, esteve sempre ao meu lado.
Às pessoas e amigos especiais, presente em todos os momentos, incentivando e
apoiando na conquista de mais essa etapa da minha vida.
"A verdade está dentro de nós.
Não surge das coisas externas, mesmo que assim
acreditemos.
Há um centro interno onde a verdade habita em sua
plenitude."
Sidarta Gautama (Buda)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................ 01
1.1 Apresentação do Tema e Justificativa.................................. 01
1.2 Abordagem Geral do Problema.............................................01
1.3 Questões Específicas............................................................03
1.4 Pressupostos........................................................................04
1.5 Fatores Qualitativos de Análise...........................................04
1.6 Objetivos.............................................................................05
1.7 Definição de Termos............................................................05
1.8 Metodologia.........................................................................06
1.8.1 População e Amostra......................................................06
1.8.2 Instrumentos de Coletas de Dados..................................07
COMUNICAÇÃO E PROPAGANDA...............................................09
PSICOLOGIA DA PROPAGANDA..................................................13
MENSAGEM PUBLICITÁRIA.........................................................16
CRIATIVIDADE................................................................................20
O QUE É ÉTICA?..............................................................................23
ÉTICA E LEGISLAÇÃO PUBLICITÁRIA.....................................26
BENETTON ......................................................................................32
A ÉTICA E OS ANÚNCIOS DA BENETTON.................................37
OPINIÕES DE PROFISSIONAIS DE PROPAGANDA
E CONSUMIDORES.....................................................................53
CONCLUSÃO....................................................................................56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................60
ANEXOS.............................................................................................64
INTRODUÇÃO
1.1. Apresentação do Tema e Justificativa
O estudo titulado “A ÉTICA NA PUBLICIDADE: CASE BENETTON” tem
como objetivo analisar a propaganda da Benetton que abordam assuntos polêmicos
como: AIDS, RELIGIOSIDADE e RACISMO, para verificar como ela afronta o
Código de Ética Publicitária.
Tem também por objetivo identificar se as polêmicas causadas pelas
campanhas da Benetton funcionam como um potencializador da mídia, onde é feito
um determinado investimento e se obtém muito mais “recall” através da repercussão
da imprensa.
O desenvolvimento desse trabalho é importante para avaliar como a ética é
usada na publicidade, baseando-se nas campanhas da Benetton, e como a falta de
ética pode ferir a moral da população que muitas vezes não está preparada para
receber determinados tipos de imagens e conceitos.
1.2 Abordagem Geral do Problema
Sabe-se que a propaganda é uma arte que seduz, criando nas pessoas
necessidades e desejos inconscientes, induzindo-as ao consumo. É uma atividade que
faz parte do dia- a- dia do consumidor, informando e despertando o interesse de
compra e de posse de determinada marca ou produto. Pode-se dizer que a propaganda
é um poderoso instrumento de ação sobre a população e, se mal empregada, pode ser
um grande afronto à sociedade. Para evitar que a propaganda ficasse mal vista diante
da população, principalmente pelo fato de ser uma presença inevitável na vida de
todos, foi decidido que houvesse um acompanhamento da publicidade, para que sua
seriedade e seu prestígio não fossem comprometidos.
Em decorrência dessa necessidade de regulamentação, foi apresentado e
aprovado, em 1978, durante o 3o Congresso Brasileiro de Propaganda, em São Paulo,
o Código de Auto- Regulamentação Publicitária.
Um dos propósitos da auto- regulamentação profissional, é a boa conduta da
publicidade em relação à moral alheia. Qualquer anúncio que fere a moral da
população está sujeito a ser sustado, conforme o Art. 20 do CBARP: “Nenhum
anúncio deve favorecer ou estimular qualquer espécie de ofensa ou discriminação
racial, social, política, religiosa ou de nacionalidade.”
Assim sendo, pode-se observar as campanhas da Benetton, consideradas
polêmicas em todo o mundo, e analisar de que maneira ela agride o conceito de moral
vigente na sociedade.
A Benetton é uma empresa que vende roupas alegres e coloridas, mas que
usa a publicidade para chocar a população. As imagens de suas campanhas são fortes,
fazem com que as pessoas reflitam, critiquem, odeiem ou se ofendam com as
mesmas.
Sob o ponto de vista de alguns juristas, a propaganda da Benetton fere a
dignidade da pessoa humana, discriminando-a em anúncios como os da AIDS e os do
racismo, e desrespeita a cultura e princípios religiosos.
Sonia Rykiel, estilista parisiense, em citação no livro de TOSCANI ( 1996, p.
78), diz que: “(...) A campanha da Benetton é provocante, irritante, atraente,
insuportável, no limite, além dos limites.
Dramática porque é o próprio drama.
Provocante: ela obriga a parar.
Atraente: belas imagens, belo trabalho do fotógrafo.
Insuportável: freqüentemente difícil de ser olhada, porque delirante de
desespero e de angústia...
Há coisas que não se mostram, porque incomodam, porque o sofrimento que
provocam é insuportável. (...)”
1.3. Questões Específicas
1) Qual o objetivo da Benetton ao abordar, em suas campanhas, assuntos
como AIDS, RELIGIOSIDADE e RACISMO?
2) Existem objetivos sociais nas campanhas da Benetton ou elas buscam
apenas causar polêmica?
3) Os anúncios da Benetton são anti- éticos? Se são, como afrontam o
Código de Ética Publicitária no Brasil?
4) A Benetton tem como objetivo maior gerar a polêmica como um
potencializador de “recall” da mídia?
1.4. Pressupostos
1) A Benetton quer causar um choque emotivo na população. Provocando
polêmica, ela induz as pessoas a refletirem sobre temas atuais de cunho
social
2) As polêmicas causadas pela publicidade da Benetton são decorrência dos
temas tratados e resultado das reflexões propostas, sendo que poucos são
os efeitos em benefício da sociedade.
3) As campanhas da Benetton são anti- éticas quando agridem a moral da
sociedade, afrontando o Código de Ética Publicitária em nosso país.
4) Com as polêmicas causadas pelos anúncios da Benetton, há uma grande
repercussão na imprensa, resultando em uma grande quantidade de mídia
não paga.
1.5. Fatores Qualitativos de Análise
Os fatores qualitativos de análise deste estudo são os seguintes:
- a indução à reflexão de temas polêmicos atuais
- a falta de credibilidade das campanhas com objetivos sociais
- a agressão à moral alheia
- a mídia gratuita em espaço editorial
1.6. Objetivos
O estudo tem por objetivo:
• Verificar as possíveis razões dos anúncios polêmicos lançados pela
Benetton.
• Analisar peças publicitárias da Benetton para diagnosticar o tema das
campanhas e seu aspecto de persuasão.
• Identificar como as campanhas da Benetton ferem o Código de Ética
Publicitária.
• Verificar se a Benetton busca, de fato, potencializar a mídia.
1.7. Definição de Termos
Benetton: “United Colors of Benetton”, grife italiana mundialmente conhecida por
suas roupas e propagandas.
Case: caso. Fato real ocorrido e analisado no estudo.
CBARP: Código Brasileiro de Auto- Regulamentação Publicitária.
CONAR: Conselho Nacional de Auto- Regulamentação Publicitária.
Ética: estudo dos juízos de apreciação referente à conduta humana.
Internet: rede mundial de comunicação de computadores.
Moral: conjunto de regras de conduta ou hábitos julgados válidos.
Recall: neste texto significa o retorno obtido pela mídia.
Sustar: neste texto significa interromper a veiculação de um anúncio.
Latente: oculto, inconsciente.
Mídia: meios pelos quais se veiculam a mensagem publicitária.
Comunicação: tornar uma idéia comum; propagar uma idéia.
Persuadir: induzir, convencer.
Consumidor: pessoa que compra para uso ou consumo próprio.
1.8. Metodologia
A pesquisa realizada será um estudo de caso.
As bases auxiliares para o desenvolvimento deste trabalho serão entrevistas
com profissionais da área de propaganda e jurídica, do Estado de Santa Catarina e de
outros estados e uma breve pesquisa com possíveis consumidores da marca Benetton.
As campanhas de referência para esta pesquisa são as que abordam os temas AIDS,
RACISMO e RELIGIOSIDADE.
Serão observados como referência casos de jurisprudência do CONAR,
matérias de jornais e revistas e sites da Internet sobre os anúncios da Benetton em
geral e dentro da ética publicitária.
As informações bibliográficas serão fundamentadas em livros de Publicidade
e Propaganda, Direito do Consumidor, Ética, sobre a própria Benetton e entre outros
de Psicologia, Filosofia e Comunicação.
1.8.1. População e Amostra
Durante o desenvolvimento do trabalho serão entrevistados profissionais da
área de Propaganda e de Direito, de acordo com a acessibilidade aos mesmos, além
de uma breve pesquisa que será feita entre consumidores e profissionais da área para
saber suas opiniões em relação à propaganda da Benetton.
1.8.2. Instrumentos de Coletas de Dados
Os dados coletados na presente pesquisa serão de dois tipos:
- Dados primários: referências bibliográficas, tais como livros e revistas
especializados no segmento publicitário e jurídico e sites da Internet.
- Dados secundários: entrevistas e pesquisas.
COMUNICAÇÃO E PROPAGANDA
A comunicação é a maneira pela qual as pessoas recebem e transmitem idéias
e abrange todos os campos da comunicação humana. A palavra Comunicação deriva
do latim “comumunis”, “communicare”, que significa tornar comum, partilhar entre
outros, isto é, tornar as idéias comum às pessoas. Pode-se dizer que a comunicação é
o principal instrumento de sobrevivência da sociedade, pois possibilita a interação
social. Usada em todos os momentos, em todos os lugares, de todas as maneiras, seu
principal objetivo é gerar entendimento entre os homens. São vários os motivos que
fazem as pessoas se comunicarem.
Segundo BERLO (1972, p.16), a meta principal da comunicação é a
persuasão, a tentativa de levar outras pessoas a adotarem o ponto de vista de quem
fala. Os objetivos da comunicação são persuasivos e informativos. “Nós
comunicamos para influenciar. Todo o comportamento de comunicação tem um
objetivo, uma meta, que é produzir reação”. Sendo estes um apelo à mente e ao
emocional. Influenciar e induzir aos outros a aceitarem idéias e mudar o
comportamento do receptor, são o principal motivo pelo qual as pessoas se
comunicam.
A comunicação eficaz é composta, segundo KOTLER (1991, p. 651), por
nove elementos básicos e fundamentais: emissor, receptor, mensagem, veículo,
codificação, decodificação, resposta, feedback, ruído. As duas partes mais
importantes da comunicação são: o emissor, que transmite a mensagem ou a idéia, e o
receptor, que recebe a mensagem. Já suas duas ferramentas mais importantes são: a
mensagem, que é o conjunto de símbolos emitidos, e o veículo, que são os canais de
comunicação pelos quais as mensagens passam do emissor ao receptor. Suas funções
primordiais são: a codificação, tida como o processo de colocar o pensamento em
forma simbólica; a decodificação, que é o processo de dar significado aos símbolos; a
resposta que é a reação do receptor diante da mensagem, e o feedback, que é a parte
da resposta que retorna ao emissor. E por último, tem-se o que chamamos de ruído do
sistema, que é toda a interferência não planejada que a mensagem sofre durante a
comunicação, podendo se alterar ao chegar ao receptor.
O principal desafio para o comunicador é projetar uma imagem que ganhe a
atenção do receptor apesar das interferências a sua volta.
Sabe-se que para haver uma comunicação eficiente, o comunicador, no caso
o publicitário, deve identificar seu público alvo para que se possa definir o que vai
ser dito, como, onde e para quem. Em seguida, faz-se um estudo para saber qual a
visão do consumidor em relação ao produto e, consequentemente, através de uma boa
comunicação, influenciá-lo, mudando sua atitude e levando-o ao ato da compra, do
consumo.
Pode-se dizer que é pelo meio da propaganda, através de mensagens
relacionadas às características de determinada marca, que o comunicador cria
consciência no consumidor, fazendo-o conhecer o produto anunciado. Mas, para isso,
o anúncio tem que causar um certo impacto para atrair a atenção, pois, diariamente
são despejados milhares de outros anúncios em sua mente. Além disso, deve ser de
fácil memorização, algo com o qual o consumidor possa fazer uma associação entre a
marca ou o produto que está sendo anunciado, e como está sendo anunciado, através
da linguagem e das imagens, fazendo com que haja uma fácil identificação entre eles.
Segundo LOIS ( 1997, p. 19), “A boa publicidade deve produzir sempre o impacto de
um soco na boca”, mas é preciso estar atento ao que é dito e ao que é entendido,
porque nem sempre o que se diz é entendido pelo receptor da maneira que foi
desejado, pois, como já foi dito, sempre há a interferência de ruídos em qualquer tipo
de comunicação. Se as palavras ou imagens não estão bem claras e específicas, pode
causar uma certa confusão na mente do consumidor e, consequentemente, uma
identificação falha em relação ao produto.
Pode-se dizer que a propaganda é uma arte, uma técnica de comunicação com
o objetivo de divulgar produtos e idéias, de vender sonhos e desejos, fornecendo
informações, persuadindo e desenvolvendo atitudes de consumo e ação, agregando
valor a uma determinada marca e, consequentemente, conquistando um espaço na
mente do consumidor. Isso acontece porque a propaganda atua no psico- social das
pessoas, seduzindo, criando desejos e necessidades, propondo novas experiências,
novas atitudes, interferindo nas suas vontades, despertando o interesse de compra e
de uso dos benefícios oferecidos pelos produtos anunciados.
“A propaganda, na verdade, não reflete simplesmente o mundo real como
nós vivenciamos: o mundo da publicidade funciona ao nível do devaneio, o que
implica numa insatisfação com o mundo real expressa por meio de representações
imaginárias do futuro tal como ele poderia ser: uma utopia.” ( VESTEERGAARD,
1994, p. 134). A propaganda descreve as qualidades e as vantagens de um
determinado produto a seus usuários de maneira envolvente, reproduzindo uma
imagem claramente distinta do mundo real. A propaganda cria esse espaço
imaginário, apesar de estar totalmente ligada ao mundo real, onde são destacados
valores e atitudes sociais. Ela seduz, intriga, propaga idéias e pensamentos, vende
sonhos e felicidade cria nas pessoas o desejo de ser mais um figurante nesse mundo
onde tudo parece estar bem e onde todos estão sempre felizes. De acordo com
GEORGE (....., p.29): “A publicidade é uma arte que brota da intuição, do instinto e,
acima de tudo, do talento.”
A publicidade supre certas necessidades, até então inconscientes, das
pessoas, fornecendo informações e argumentações. Satisfaz o desejo de auto-
afirmação, perante a sociedade e a ele próprio, exibindo conceitos de identificação
que modifica a própria imagem. Satisfaz a vontade da comunidade de participar da
vida coletiva baseada no comércio e no consumo. Promete uma vida melhor, em um
mundo melhor, através da libertação dos medos e das limitações. Se for bem sucedida
em formar atitudes adequadas, promoverá o comportamento de compra, pois os
indivíduos tendem a ajustar seus comportamentos às suas atitudes.
Sendo assim, todo o anúncio deve ser facilmente visível, com a marca em
destaque, de maneira que chame a atenção e desperte o interesse do consumidor,
criando nele um desejo pelo produto através de promessas de benefícios, para que ele
seja convencido de que o produto anunciado pode suprir suas necessidades,
estimulando-o a adquiri-lo. Assim, pode-se dizer que a sociedade é movida, em
grande parte, pela propaganda. De acordo com ALDRIGHI (Atlas, 1989, p. 57), a
propaganda é uma tática mercadológica, um instrumento de vendas que trabalha com
arte, criatividade, raciocínio, moda, cultura, psicologia (...) um conjunto de valores e
manifestações humanas com a função de persuadir o consumidor.
PSICOLOGIA DA PROPAGANDA
Como foi colocado anteriormente, publicidade é o meio pelo qual se leva a
promessa de satisfação obtida através de um produto ou idéia, ao conhecimento do
maior número possível de pessoas.
Toda campanha publicitária é movida pelo interesse de chamar a atenção e
criar, no consumidor, a necessidade de possuir um determinado produto ou de se ligar
a uma idéia. Ao se lançar uma campanha publicitária, é necessário saber como elas
reagirão, para que se defina a maneira mais eficiente de se atingir o público
consumidor. De acordo com SPINALL (s. d, p. 90), em publicidade é necessário que,
além da técnica de persuasão, se conheça as características psicológicas do cliente e
sua reação em relação ao produto que lhe é oferecido.
Ao se elaborar um anúncio publicitário, analisa-se a personalidade do
público que será atingido: o que mais agrada, emociona e interessa, para que a
mensagem chame a atenção e desperte o interesse. Assim, MUCCHIELLI ( 1978, p.
17), diz que a publicidade está ligada aos interesses espontâneos das pessoas, estes
que podem ser automáticos, pois estão ligados à surpresa, ao incomum, ao
desconhecido e estes são despertos pela propaganda de impacto. O interesse racional
e objetivo, seguido pela razão, pelo sentimento de lógica e pela necessidade de
informação. E também através da participação nos interesses do público e na moda,
que é uma maneira eficiente de captar a atenção, de despertar a curiosidade e a
tendência de querer desfrutar o novo. A publicidade se utiliza muito dessas técnicas,
inclusive desta última, pois todas as pessoas tem sede pelo que é novo e pelo que está
em alta no mercado.
Na publicidade, as reações mostradas por parte dos consumidores, podem ser
manipuladas, podendo assim se tornarem determinantes, atraindo ou provocando
repulsa em relação a um determinado produto. MUCCHIELLI (1978, p. 18) diz que
para que se obtenha uma reação positiva, a publicidade usa apelos psicológicos
favoráveis à satisfação de desejos, resultando numa resposta de cobiça. “A
Publicidade e a Propaganda mostram o sonho para seduzir, para provocar o desejo e
utilizar seu poder instigador.” Consequentemente, resultando na conquista do
objetivo proposto, pois o consumidor será induzido, por fatores psicológicos, ao ato
da compra: “as escolhas positivas ou negativas das pessoas, suas decisões e seus
objetivos, expressam, freqüentemente, manifestações inconscientes”. (p. 12)
As pessoas tem a necessidade de realização própria. Exemplos disso seriam
as sensações de saciedade e imagem de si próprio em relação aos outros. O que lhes
interessa são as coisas, as idéias que lhe envolvem, que tem a ver com seus valores e
com seus sistemas de valores. Conforme MUCCHIELLI (1978, p. 24), a publicidade
supre certas necessidades do consumidor: a de saber, fornecendo informações; a de
explicação e compreensão com argumentos e significados; a de auto- afirmação,
dando oportunidade de possuírem objetos com o qual possam se identificar; a de
participação da vida coletiva, criando a comunidade ideológica; e de libertação,
proporcionando a liberação dos medos e limitações e a esperança de uma vida
melhor. O profissional de propaganda precisa conhecer o consumidor, identificar seus
pontos fracos e seus pontos fortes, para que possa atingi-lo da maneira certa,
envolvendo e motivando.
Motivação é o estímulo dos desejos e necessidades latentes que surgem
através de mensagens e do seu impacto, ou da percepção de um sinal. O nível das
motivações, segundo MUCCHIELLI (1978, p.14), é uma chama de “imagens
materiais”, investidas de simbolismo e de valores de sonho. Os objetos simbolizam o
que o consumidor quer ser. Uma pessoa motivada é aquela que se sente atraída por
aquilo que é mostrado. Ela se envolve, reage. Já para o indivíduo não motivado, o
estímulo da mensagem pode passar despercebido, pois essa não tem sentido algum.
Assim, a mensagem publicitária deve ter uma linguagem simples, compreensível às
pessoas, insinuando seus desejos e ressentimentos, evocando seus valores para
mobilizar suas motivações.
O comportamento humano é regido muito mais pelo caráter, pelos
sentimentos e paixões do que pela razão. A propaganda se utiliza desse fato,
manipulando as carências e as preferências do consumidor, de maneira que o leve a
procurar determinado tipo de satisfação. “A gama de valores e motivações utilizadas
pela publicidade está ao nível mais individualizado e mais sócio- cultural possível:
as satisfações sensoriais ou de ostentação”.
Na publicidade, as causas que motivam o sucesso ou o fracasso de um
produto ou de uma idéia são resultados de uma soma de fatores, também ligados ao
consumidor e às suas reações psicológicas, resultante dos estímulos causados pelas
motivações, estas que indicam o porquê do fracasso de determinada campanha e o
melhor caminho a seguir para obtenção de sucesso.
A MENSAGEM PUBLICITÁRIA
“A Publicidade é uma arte; a solução para cada novo problema ou desafio
deve começar com uma tela em branco e uma mente aberta, sem as interferências
etéreis da mediocridade de sempre.” (MARTINS, 1992, p.7 ) Uma grande idéia, na
hora certa e no lugar certo, tem força e velocidade de persuasão e repercussão
inimagináveis, pois seu elemento chave, no caso da propaganda, a marca ou o
produto com suas vantagens e benefícios, tem o poder de mudar e influenciar idéias,
hábitos e pontos de vista. “A publicidade não tem regras negativas porém, mais do
que as ‘regras’, ela precisa de um pensamento não aprisionado.” (LOIS, 1997, p.
31 ).
O papel da propaganda é vender uma imagem, uma filosofia ou um produto,
tornando reais idéias e pensamentos que antes eram tidos como consensuais pela
sociedade. Sendo assim, ao se comunicar um produto, analisa-se como este irá
contribuir para a vida de quem o consome, o que ele irá oferecer, como poderá
satisfazer sonhos e desejos. Provoca-se a mente do consumidor tocando e
influenciando o seu lado emocional, conduzindo-o a usufruir dos benefícios que o
produto oferece.
A mensagem publicitária é a idéia que pode ser expressa de três maneiras:
escrita, oral e visual. São mensagens que possuem lógica e linguagem própria, direta,
persuasiva e sedutora, que despertam interesses e transformam desejos em motivação
de compra. Cabe a ela mostrar a cara do produto, tornando-o familiar, acrescentando
valor e ressaltando seus diferenciais. É através do autoritarismo e do imperativismo
que convence e persuade, tornando-se necessário ter cuidado e sutileza para que as
pessoas não se sintam forçadas, podendo criar uma imagem negativa em relação ao
produto, pois, segundo RAMOS ( 1987, p.20), todas as mensagens estão dirigidas à
compreensão e à sensibilidade das pessoas, ao seu cérebro e ao seu coração, à sua
razão e à sua emoção.
No anúncio publicitário são impostos valores, mitos e ideais com o objetivo
de despertar o interesse, de informar, de convencer e de induzir o consumidor a uma
ação pré- determinada pelo anunciante: a de consumo. É necessário ter certos
cuidados na elaboração da mensagem publicitária, pois para que se obtenha o retorno
desejado, a idéia da mensagem precisa ser facilmente compreendida e memorizada,
devendo ser original, criativa e envolvente. “A publicidade, quando perseguida com
amor e talento, especialmente talento, pode tornar-se uma linguagem de massa a
explicar e iluminar o significado da vida cotidiana através de imagens e idéias
sucintas, mas poderosas.” (LOIS,___, p. 20). Uma mensagem deve surpreender,
seduzir e motivar, aumentando o impacto daquilo que quer ser comunicado, tocando
fundo no emocional de quem vai comprar o produto.
A mensagem publicitária, segundo KOTLER (1991, p. 659), requer, em sua
formulação, a resolução de quatro problemas básicos: O que dizer para produzir a
resposta desejada; seria o apelo emocional, racional ou moral, através da formulação
de algum benefício, imagem ou identificação que leve o público a pensar ou a
procurar o produto. Como dizer corretamente a mensagem ao público, se oferece uma
conclusão definitiva sobre o produto anunciado ou se deixa o consumidor tirar suas
próprias conclusões. O terceiro problema é definir qual será a forma da mensagem.
Quanto mais atraente, maior o recall. Nesse caso são usados recursos visuais,
roteiros, imagens, emoção, etc. E o último é estudar qual será a fonte para emitir a
idéia. Os fatores mais indicados são a especialização, a confiabilidade e a simpatia.
Uma imagem forte consiste em símbolos que resultam na identificação do
consumidor com a marca. Uma imagem pode ser comunicativa e estimulante, sendo
esta a maneira mais forte e eficaz de comunicar uma idéia e de fazer com que ela
fique guardada no subconsciente das pessoas. O efeito de recepção da mensagem
transmitida é extremamente necessário para que haja uma boa repercussão e aceitação
do produto.
Sabe-se que o apelo emocional, tem grande influência na relação do
consumidor com a marca, pois quando se gosta de um determinado produto, a pessoa
é capaz de aceitar certas desvantagens funcionais, principalmente quando a
apresentação do mesmo é feita com o requinte de uma cena sedutora onde o produto
se torna a origem da felicidade (PENINOU, p.71). A imagem do produto expressa o
principal benefício que a marca oferece.
Pode-se dizer que a principal qualidade da imagem publicitária é a
substituição do objeto apresentado pela sua função útil, pelo que ele oferece e não
pela sua forma. Ela exibe como, por quem e onde o produto será utilizado, fazendo
com que as pessoas se vejam e se sintam usufruindo e vivenciando a cena por vezes
apresentada.
A imagem é a captação daquilo que há de mais real na vida. “A fotografia
fala a ponto de recusar as palavras.” (NEIVA JR.,1986, p. 66 ). Existem imagens de
tamanha significância, de tamanha produção e criatividade que, muitas vezes, tornam
qualquer texto, por melhor que este seja, dispensável. As imagens dizem muito mais
do que aquilo que se quer explicar por palavras. Como é o caso da propaganda da
Benetton, imagens fortes, tocantes, apelativas que, por si só, são capazes de envolver
e persuadir.
CRIATIVIDADE
Criatividade é o aperfeiçoamento de idéias já existentes, é a manifestação da
intuição, do livre pensamento, da espontaneidade, do não- convencional, da
originalidade. Segundo LADEIRA (1987, p. 28), criar é uma forma não comum de
transmitir a realidade mais comum. É a busca do novo, do inédito, do inovador.
Criatividade é uma característica exclusiva dos seres humanos, é um tipo de
raciocínio construtivo que se aplica no dia- a- dia. “O homem criativo não é o homem
comum ao qual se acrescentou algo; o homem criativo é o homem comum do qual
nada se tirou (Abraham Maslow)” (PREDEBON, 1997, p. 34). Criatividade é um
dom que já nasce nas pessoas, algumas com mais, outras com menos. É uma
característica universal que pode ser desenvolvida, estimulada e explorada de acordo
com a vontade de cada um. Não é preciso ser artista, poeta ou inventor para ser
criativo. A criatividade é usada de diferentes maneiras, nos mais diversos ramos de
atividade, inclusive na solução de problemas e na descoberta de oportunidades.
A capacidade criativa de cada pessoa é utilizada e desenvolvida em função
do meio, de seus estímulos, das suas limitações e dos bloqueios que impõe. Ela se
manifesta de acordo com a sua vontade, com o seu emocional. A pessoa que tem o
dom da criatividade é “viciado” pelo novo, pelo inimaginável, por mudanças e
inovações. É fascinado por tudo aquilo que não foi feito ou inventado antes. Tem o
prazer de criar, de conquistar. “O exercício de criatividade liga-se à psicologia do
indivíduo, como o comportamento se liga à sua personalidade” (PREDEBON, 1997,
p. 32). O comportamento criativo é resultado de uma maneira de se ver a vida, de se
ver o mundo. É a manifestação de um estado de espírito, de como desempenhar seu
papel no mundo.
PREBEBOM ( 1997, p. 161) ainda diz que “a criatividade é uma grande
arma para a descoberta de oportunidades e esta, por sua vez, é uma grande arma
para melhorar a qualidade de vida”. Através da mente criativa as pessoas podem
desenvolver idéias e conceitos que podem influenciar, e até mesmo mudar a maneira
de ser e de viver de cada um, criando oportunidades para um desenvolvimento socio-
cultural da sociedade.
A criatividade é usada em todos campos profissionais, desde os mais simples
até os mais complexos e por aqueles que desempenham as mais diferentes funções.
Na publicidade, o campo de criação baseia-se nas informações gerais do produto,
sobre suas funções específicas, o que ele oferece e sua importância em relação ao
mercado, através de um planejamento apropriado. Sendo assim, para o
desenvolvimento de idéias criativas, faz-se, muitas vezes, o brainstorm baseado nas
informações existentes sobre o produto. O brainstorm é o processo de estímulo da
criatividade para gerar idéias. Acontece quando várias pessoas se reúnem com o
objetivo de encontrar uma idéia criativa. É um processo baseado em palpites e
sugestões. Na propaganda a criatividade significa a busca da solução de problemas
objetivos.
Durante a criação da campanha publicitária, o criador coloca-se no lugar do
consumidor para que haja uma identificação com a idéia que vai ser passada a ele,
podendo criar aquilo que o consumidor gostaria de ver, de receber e de comprar.
“Através de traços e palavras buscam, os publicitários, a forma que se pretende
comunicar” (LADEIRA,____, p. 25). Toda publicidade se desenvolve em torno de
sentimentos e de tudo o que afeta os interesses humanos, pois todo anúncio criado é
baseado nas expectativas de quem vai comprar o produto e aderir a uma determinada
idéia ou marca.
Criação publicitária é texto, imagem, resultado de raciocínio, de emoção, de
um conjunto de idéias. É função da propaganda atrair a atenção das pessoas através
do novo, do ousado, pois é essencial causar impacto para que se obtenha o retorno
esperado. Segundo LADEIRA (1987, p. 30): “O que não solta faíscas, o que não
brilha, o que não demonstra verdadeira garra, não cumpre sua função”. Sendo
assim, o criador de propaganda retrata a realidade social de várias maneiras
diferentes, refletindo nelas as transformações do cotidiano.
O QUE É ÉTICA?
No Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, tem-se a definição de Ética
como “o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de
qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada
sociedade, seja de modo absoluto”. SÁ ( 1996, p. 15) define Ética como sendo “a
ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes”. Em resumo, pode-se
dizer que Ética é o estudo sobre os costumes e ações humanas.
O comportamento ético, a boa conduta ética, devem ser adequados aos
costumes atuais, sociais e morais. A Ética busca a conduta conveniente dos seres
humanos, como a da respeitabilidade às outras pessoas. A Ética diz como se deve agir
e o que está dentro dos padrões impostos pelo meio, pela sociedade. O indivíduo age
de acordo com a sua razão natural, com o que lhe foi passado ao longo de sua vida.
Agir eticamente é agir de acordo com o bem.
A Ética mostra às pessoas valores e princípios que orientam sua maneira de
viver. Segundo NALINI ( 1999, p. 35), “a Ética aprimora e desenvolve seu sentido
moral e influencia a conduta”. Cada pessoa tem seu conceito próprio de Ética, seus
julgamentos e intuições sobre aquilo que se tem como certo e verdadeiro. “A
consciência ética nas pessoas impõe um sentimento de cumprimento da mesma, pois
cumprir o que se faz útil e necessário à sobrevivência harmônica das pessoas, é uma
obrigação perante as regras de convivência” (SÁ, 1996, p. 77). Sendo assim, todas
as pessoas tem um dever moral para com o próximo e para com a sociedade, a fim de
que haja respeito e boa conduta humana entre as pessoas.
SÁ ainda diz que “Nada é ético se produzido com o objetivo de prejudicar
alguém ou em favor de si próprio”. Ainda há alguns princípios morais que precisam
ser cultivados e estimulados, entre eles estão o da dignidade da pessoa humana e o da
responsabilidade social, pois aquele que possui consciência moral e responsabilidade
é uma pessoa ética. A Ética atual preocupa-se com o julgamento do sistema
econômico como um todo, pois o bem e o mal, o certo e o errado, também estão
presentes nas estruturas institucionalizadas de um sistema.
Pode-se dizer ainda que a base da ética é a moral, esta que é uma
característica do comportamento humano, isto é, “um conjunto de regras de
comportamento e formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor
do bem” (NALINI, 1999, p. 34).
As pessoas são conduzidas ao cumprimento do dever ético como algo natural
e intuitivo. “A conduta do ser, de acordo com sua ambiência social é que caracteriza
determinada ação no campo da Ética” (SÁ, 1996, p. 88). O autor citado ainda diz
que a ética, como a conduta, aperfeiçoa-se, quanto à complexidade dos deveres, pelos
Códigos, pelas leis, pelo consenso nas comunidades. O que parece ser algo natural
nas pessoas, pelos seus costumes, pode-se ligar a regulamentos e leis, confundindo o
que é legal com o que é ético, sob os ângulos da razão e da emoção. “Essa
capacidade de receber emoções e de reagir a tais estímulos de julgamento no campo
da conduta humana consubstancia-se no que aceitavelmente se toma como dever,
como espontânea forma de reagir diante de uma situação qualquer”.
Pode-se afirmar, de acordo com NALINI ( 1999, p. 307), que não haverá vida
humana sem sinalização interior do campo proibido e do permitido, tendo pouco
significado moral as regras positivas. Consequentemente, estas regras seriam
impostas a força, tornando-se inviável a liberdade de consciência moral. “Quiseram
construir um mundo sem ética. E a ilusão se transformou em desespero”
ÉTICA E LEGISLAÇÃO PUBLICITÁRIA
A propaganda é um meio de comunicação altamente visível e de presença
inevitável na vida das pessoas. Reflete seus valores, influencia, seduz e atrai sua
atenção. Na propaganda, usa- se da emoção, da ironia, do cômico, atuando num
mundo de ficção e fantasia, para fazer com que o receptor se identifique com a
mensagem a ser passada. Por ser persuasiva, a publicidade deve reservar seu poder de
convencimento à mensagem, apresentando-se de maneira formal e magnífica,
tomando os cuidados adequados para que sua seriedade e seu prestígio não sejam
comprometidos pela falta de ética e de boa conduta. (PASQUALOTTO,1997, p.84)
A publicidade exige uma responsabilidade social, que cuida e respeita a
moral da comunidade, pois ela será julgada não pelo que diz, mas pelo o que o
consumidor acha que diz. Como cita ROMAN (1994, p. 159), “há certas coisas que
fazemos em propaganda porque a lei manda, outras porque são corretas.” A
propaganda, como já foi dito, joga com a fantasia para conquistar o consumidor e,
segundo PASQUALOTTO (1997, p. 16), “o Direito joga com a ficção para tentar
controlar a publicidade”, analisando seus efeitos prejudiciais para sociedade,
censurando o que vem contra a moral e a lei.
As restrições que se fazem à publicidade sofrem o confronto dos argumentos
em favor da liberdade de expressão. Sendo assim, para evitar abusos, desrespeito e
para evitar que a publicidade fique mal vista diante do consumidor, foi necessário
policiar a propaganda, tornando-a uma forma de expressão protegida
constitucionalmente.
Foi durante a década de 30, na Europa, que surgiram as primeiras
preocupações com a publicidade e com os princípios que a disciplinassem. Assim,
por iniciativa do ICC ( International Chambre of Commerce), foi editado em 1937 o
Código Internacional da Prática Publicitária, em prática até hoje. Mas, o Código que
inspirou a formulação de grande parte dos Códigos de Regulamentação Publicitária
na maioria dos outros países, inclusive no Brasil, foi o inglês British Code of
Advertising Practice.
No Brasil, a atividade publicitária foi regulamentada com a lei de no 4.680,
chamada de Lei da Propaganda, aprovada pelo Decreto de no 57.690 em 18 de junho
de 1965, que determina as regras para o exercício profissional da propaganda e as
relações entre agências, veículos de comunicação e anunciantes. O Art. 5o dessa lei,
conceitua a publicidade como: “qualquer forma remunerada de difusão de idéias,
mercadorias ou serviços, por parte de um anunciante identificado.”
Além da Lei de no 4.680 e do Decreto de no 57.690, a atividade publicitária
também é regulamentada por um conjunto de normas auto- estabelecidas reunidas no
Código Brasileiro de Auto- Regulamentação Publicitária (CBARP), que foi
apresentado e aprovado em 1978, durante o III Congresso Brasileiro de Propaganda,
em São Paulo. A aprovação do CBARP foi conseqüência da ansiedade dos
publicitários, que desejavam um estatuto que regulamentasse a propaganda, sem que
fosse imposto pelo governo. Pode-se dizer que o Código valoriza a atividade
publicitária e amplia os canais de defesa do consumidor. “O principal objetivo deste
Código é a regulamentação das normas éticas aplicáveis à publicidade comercial,
assim entendida como toda atividade destinada a estimular o consumo de bens e
serviços, bem como promover instituições, conceitos e idéias” (Art. 8o). O CBARP é
constituído por 50 artigos dispostos em 1 preâmbulo e 5 capítulos.
O Art. 1o do CBARP diz que “todo anúncio deve ser respeitador e
conformar-se com as leis do País; deve ainda ser honesto e verdadeiro”, em
consonância pode-se citar o Art. 5o da Constituição Federal: “Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade”. A lei assegura a igualdade entre homens e
mulheres e a igualdade religiosa, filosófica, política e racial, tornando-se anti- ético,
qualquer anúncio publicitário que afrontar essa lei ferindo a moral pública. Sendo
assim, ao citar esses artigos, sugere-se um Código de Ética onde é enfatizado a
responsabilidade do anunciante, da agência de propaganda e do veículo de
comunicação junto ao consumidor. De acordo com o Art. 17 da lei de no 4.680: “A
atividade publicitária nacional será regida pelos princípios e normas do Código de
Ética dos Profissionais da Propaganda, instituído pelo I Congresso Brasileiro de
Propaganda, realizado em outubro de 1957, na cidade do Rio de Janeiro” (CONAR,
Caderno 6).
A falta de ética é amplamente enfatizada na lei, deixando claro que o
interesse juridicamente protegido é o social, não compatível com a consideração
individual do consumidor. É certo ainda dizer que o anúncio anti- ético não afeta
somente os consumidores, mas também o anunciante de maneira direta ou indireta,
prejudicando seu nome, sua marca; é também negativo para a agência que o criou; e
pode causar conseqüências ao veículo de comunicação de massa que o veiculou. É
por esses e outros motivos que a aplicação do Código deveria ser feita por um órgão
responsável, composto por publicitários, consumidores e profissionais de outras
áreas: o CONAR ( Conselho Nacional de Auto- Regulamentação Publicitária). O
objetivo desse órgão é proteger o consumidor, demonstrando uma responsabilidade
social. Mas, acima de tudo, é proteger a credibilidade da instituição Propaganda.
O CONAR é uma entidade privada, uma associação ética sem fins lucrativos,
cujo o objetivo é aplicar as normas regulamentadoras da publicidade. Atende a
denuncias de consumidores, autoridades, associados, ou formuladas pela própria
diretoria. O CONAR tem hoje 42 órgãos do mesmo gênero em todo o mundo. O
brasileiro é o mais antigo da América Latina e se distingue pela participação de
representantes de consumidores em suas Câmaras de Ética, e pela independência e
autonomia em relação aos poderes públicos. Sua missão é impedir que a publicidade
enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor ou às empresas ( Boletim
do CONAR).
O Conselho de Ética do CONAR é o órgão responsável pela fiscalização,
pelo julgamento e pela deliberação dos anúncios apontados como anti- éticos, através
do cumprimento do Código do CONAR. Qualquer cidadão tem o direito de
encaminhar queixas e denuncias sobre o setor Publicitário para o CONAR. Essas
denúncias serão analisadas e julgadas democraticamente, por uma Câmara composta
por conselheiros, de origens e profissões diversas, de acordo com o CBARP.
Além de julgar os anúncios infratores, o Conselho de Ética atua como
intermediário de Anunciantes, Agências e Veículos de Comunicação, visando sempre
o melhor entendimento entre eles. Também compete-lhe a aplicação das
recomendações e medidas previstas no Código, que podem ser: advertência ao
Anunciante, alteração da Peça publicitária, sustação da veiculação do Anúncio e
arquivamento do caso se, por ventura, a peça publicitária não apresentar qualquer
infração, na opinião dos julgadores (CONAR, Caderno 6).
A Auto- Regulamentação é a expressão de livre manifestação da vontade de
particulares. Sua execução é um ato voluntário, isto é, independe da imposição legal.
É um documento privado, escrito, aprovado e mantido pela comunidade publicitária.
A intervenção do Executivo e do Legislativo na regulamentação publicitária podem,
de certa maneira, atrapalhar o bom desempenho das normas regulamentadoras da
propaganda. Sendo que a eficiência desse Código será alcançada com
responsabilidade social e respeito a valores e princípios éticos.
Pode-se dizer que ao longo desses 21 anos, a Auto- Regulamentação
Publicitária abriu canais de defesa do consumidor frente a anúncios abusivos e
enganosos; contribuindo para o aprimoramento da arte publicitária e evitando que
houvesse intromissão oficial que censurasse a publicidade.
Segundo CENEVIVA (1991, p. 97), os sistemas de controle da propaganda
são divididos em dois tipos: no primeiro, a punição dos abusos valoriza a intervenção
do Poder Público com a criminalização da publicidade mentirosa ou abusiva e com
sanções administrativas. No segundo, os abusos e excessos são verificados e
proibidos ou punidos pela ação privada, definida em códigos de ética dos órgãos de
classe. Ou seja, em um modelo o controle é extremo; no outro há auto- controle,
movimentado-se com maior força pelos impulsos da livre- concorrência, cujo abuso
pode levar a sanções civis. É assegurado, pela Constituição Federal, a indenização
pelos danos morais causados pela inviolabilidade da honra e da imagem das pessoas,
conforme o Art. 5o, inciso X: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação”.
O Código representa a expectativa social brasileira sobre a boa conduta ética
da publicidade, a fim de preservar sua credibilidade. (GIACOMINI,1991, p. 104). O
profissional de propaganda sabe que os valores sociais devem ser respeitados e é só
atuando em favor a esses valores que sua atividade será eficiente e trará os resultados
esperados. De acordo com PERUZZO (1995, p. 42), qualquer sentimento de
escândalo pode causar extrema repulsa por parte do consumidor em relação ao
produto anunciado, uma vez que as pessoas repelem aquilo que as ameaça, tanto na
vida real quanto por meio de símbolos.
BENETTON
A Benetton é uma grife italiana de renome internacional. Sua história tem
início na década de 60, quando os pulôveres ainda eram tricotados a mão. Hoje há
nove fábricas do Grupo Benetton em todo o mundo e mais de sete mil lojas
espalhadas em 120 países. Organização, eficiência, imagem clara e propaganda
efetiva são os ingredientes que impulsionam a Benetton à fama (www.benetton.com).
As campanhas de propaganda da Benetton são globais, homogêneas e
caracterizam-se, em todo o mundo, por abordarem temas reais e atuais. Expressam a
época, o período, atraindo a atenção e causando impacto mundial. Sua estratégia de
comunicação surgiu com o desejo de produzir imagens de interesse global para
consumidores de todas as culturas, de todos os lugares e de todas as raças. Optaram
por uma estratégia onde o foco principal da campanha é o tema abordado, e não as
roupas a serem vendidas (www.benetton.com). Sendo assim, pode-se dizer que a
Benetton optou por comunicar, não por convencer. Oliviero Toscani ( 1996, p. 25),
fotógrafo responsável pelas campanhas da Benetton, diz que “ A condição humana é
inseparável do consumo; neste caso, porque a comunicação que o acompanha
deveria ser superficial?”
A Benetton aborda, em suas campanhas, assuntos polêmicos, considerados
grandes problemas da atualidade. Mostram imagens fortes e provocantes, visando
estimular as críticas sobre os problemas sociais, criando polêmicas e discussões.
Toscani ainda cita que “todas essas imagens são endereçadas aos nossos
preconceitos e procuram sacudi-los”, porque são imagens que incentivam a reflexão
e visam o choque emotivo.
As campanhas da Benetton apoiam-se na marca “United Colors of
Benetton”, segundo Oliviero Toscani, ela transforma um slogan publicitário numa
iniciativa humanista. “Ela se aplica em colorir a Benetton com uma atitude
progressista. E desenvolve uma imagem de marca filosófica, que vai muito além de
mero consumo”. Pode-se dizer que a Benetton optou por um caminho radicalmente
diferente da propaganda convencional.
Os anúncios da marca não mostram o produto, nem suas vantagens, somente
seu “United Colors of Benetton”. São anúncios que se distanciam da irrealidade
fictícia da propaganda tradicional. Pelo contrário, elas pretendem mostrar a realidade
social do mundo, abordando assuntos como AIDS, RELIGIOSIDADE e RACISMO,
visando com que as pessoas reflitam sobre os mesmos. Consequentemente, os
anúncios da Benetton, sofrem proibições, censuras, rejeições e geram polêmicas no
mundo todo, pois são considerados abusivos, anti- éticos, ousados e ferem a moral
alheia.
As reações do público consumidor, diante das campanhas da Benetton, são as
mais variadas possíveis, sendo acompanhadas de repulsa e surpresa. Segundo
TOSCANI (1996, p.85), “O virtual é o real. A Imagem é a verdade. Uma verdade
aberta. Turbulenta. (...) A mensagem da Benetton é o debate. A mensagem é a
discussão. A mensagem é a polêmica acirrada”. Assim a Benetton alcança seu
objetivo, gerando polêmica em torno de um assunto real nos dias de hoje.
Como fotógrafo, Toscani quer fazer com que as pessoas apreciem as marcas
através da propagação de novas mensagens, sendo assim, a capacidade comunicativa
das marcas determinaria seu valor. “Sou um provocador em estado de total
inocência” (1996, p.54).
Há mais de dez anos que a Benetton aborda, em suas campanhas, assuntos de
todos os gêneros, chocando o meio publicitário com imagens que nunca foram usadas
nessa área. São anúncios ousados, que questionam os tabus, os medos e a moral da
população, rompendo os hábitos sociais. Eles fazem com que as pessoas discutam sua
mensagem através do simbolismo de um recurso que foge ao convencional.
Além dessas campanhas, cujo objetivo primordial é o de conscientizar a
população, a Benetton promove campanhas educacionais, trabalhando junto a
entidades de apoio, para despertar a atenção das pessoas em relação à problemas de
cunho social, como a discriminação e o rápido crescimento de soropositivos no
mundo. A Benetton patrocina eventos para arrecadar fundos em prol a entidades do
mundo inteiro, como a G.A.P.A ( Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS) no Brasil,
“S.O.S Racism”, entidade internacional de combate ao racismo, A.S.A ( Associazione
Soliderietá AIDS), entre outras. Além de distribuir preservativos e livretos
informativos a respeito do sexo seguro, e de promover palestras e debates em
Escolas e Universidades, entre outras ações importantes e representativas para a
sociedade.
A primeira estratégia de comunicação da Benetton começou em 1984 com o
título: “All the Colors of the World” ( Todas as Cores do Mundo). O anúncio mostra
grupos de jovens de cores e raças diferentes vestindo roupas coloridas. A partir daí a
Benetton começou a enfatizar temas como o RACISMO, a AIDS e a
RELIGIOSIDADE, para chamar a atenção da população em relação a esses
problemas que são mal administrados pela sociedade ( www.benetton.com).
Em 1989 lançou o anúncio de um bebê branco sendo amamentado por uma
mulher negra, uma suposta ama- de- leite. Seu objetivo era mostrar para as pessoas
que a igualdade racial vai muito além de reações absurdas e percepções
convencionais. Queria fazer com que elas refletissem sobre o assunto em questão,
sugerindo uma idéia filosófica de miscigenação racial.
Ainda abordando o tema racismo, em 1991 foi lançado uma campanha em
favor da igualdade racial. O anúncio mostrava duas crianças. Uma branca, loira, de
cabelos cacheados, simbolizando um anjinho, e a outra negra, com o cabelo penteado
em forma de chifres, simbolizando um diabinho. O objetivo de Toscani ( 1996, p. 50)
com essa imagem era indagar: “Quem é o anjo e quem é o diabo? O branco ou o
negro?”.
No outono desse mesmo ano, a Benetton decidiu mostrar que o amor está
acima de qualquer tabu. Foi publicada uma foto de um padre e uma freira se beijando.
Seu objetivo era verificar se essa imagem provocaria o tabu de algo tido como
inadmissível pela igreja e pela sociedade, afrontando costumes e crenças religiosas.
Em 1992, foram lançadas campanhas de AIDS contra a exclusão dos
aidéticos. O cartaz mais emocionante e polêmico da época foi o de um moribundo,
David Kirby, em seu leito de morte rodeado pela família, morrendo nos braços do
pai. Uma imagem forte, sem nada que a tornasse mais leve, apenas a marca “United
Colors of Benetton” no rodapé. O objetivo, era mostrar que um aidético pode partir,
cercado das pessoas, sem contaminá-los. Foi um anúncio polêmico, publicado com a
autorização da família de David Kirby, que transformou sua doença numa batalha e
queria continuar lutando mesmo após a morte.
No ano seguinte foram feitos mais três anúncios sobre o mesmo tema: um
mostrava as nádegas, outro o braço e outro o abdome e neles apareciam tatuados a
inscrição “HIV POSITIVO”. As imagens representam os canais através dos quais o
vírus da AIDS pode ser transmitido. Oliviero Toscani, ao criar essa campanha, se
inspirou em um fato ocorrido nos Estados Unidos, onde um jovem na sua luta contra
a AIDS, apareceu na escola, totalmente nu, com a inscrição “HIV Positive” tatuada
no braço.
O objetivo da Benetton ao lançar essa campanha, era o de lutar contra a
discriminação dos aidéticos, pois as imagens foram usadas como uma metáfora sobre
a marcação dos soropositivos na sociedade (TOSCANI, 1996, p. 82).
A ÉTICA E OS ANÚNCIOS DA BENETTON
Muitas vezes a ousadia e a criatividade das mensagens publicitárias chegam a
limites imprecisos, desrespeitando e agredindo a dignidade das pessoas, causando
polêmicas, afrontando as Leis e provocando a mídia. O desrespeito à dignidade das
pessoas ocorre quando os anúncios são ofensivos e estimulam à discriminação racial,
social, religiosa, política e de nacionalidade, conforme o Art. 20 do Código do
CONAR e o Art. 17, inciso I, letra “a” do Decreto 57.690. Quando eles afrontam
princípios religiosos, sociais e morais e quando despertam e incutem o medo nas
pessoas sem razão plausível (Art. 24 do Código do CONAR), entre outros casos
considerados abusivos e anti- éticos.
Tais anúncios, por serem considerados um afronta às leis regulamentadoras
da publicidade, estão sujeitos à análise e julgamento pelo Conselho de Ética do
CONAR, podendo ser considerados infratores e sofrer as penalidades estabelecidas
no ART. 50 do Código do CONAR.
Como exemplo prático da ética na propaganda e da ação do CONAR sobre a
mesma, pode-se citar alguns anúncios da Benetton que causaram polêmica, não só no
Brasil, mas em todo o mundo. Como base principal da análise destes anúncios, têm-se
o Caderno 5 de Jurisprudência e o Caderno de Coletânea no 3 do CONAR.
Figura 1
O primeiro anúncio que despertou polêmica no mundo inteiro, foi o que
veiculou a imagem de uma mulher negra, representando uma ama- de- leite, com uma
criança branca no colo, conforme mostra a figura 1. Esse anúncio foi denunciado ao
CONAR com a alegação de ser discriminatório e ofensivo à raça negra (Coletânea no
3, CONAR). A publicidade discriminatória afronta o princípio da igualdade de todos,
indo contra o Art. 20 do Código do CONAR: “Nenhum anúncio deve favorecer ou
estimular qualquer espécie de ofensa ou discriminação racial, social, política,
religiosa ou de nacionalidade”, sendo assim, os anúncios que infringirem essas as
leis regulamentadas estão sujeitos a sustação e a punição.
Segundo PASQUALOTTO (1997, p. 128), o anúncio em questão
representava a discriminação racial, principalmente porque lembrava a época da
escravatura.
A Benetton argumentou que sua publicidade sempre procurou estimular a
integração racial e que sua publicidade é integracionista, jamais racista. Sendo essa
uma imagem que demonstra afeto e ternura.
Oliviero Toscani deixa claro o seu ponto de vista quando diz que “todas as
imagens são endereçadas aos nossos preconceitos e procuram sacudi-los. Tornam
um anacronismo a idéia de raça, realçando as variações de cor no interior de um
mesmo povo, mostrando o amor misto, confrontando o corpo nu dos homens para
além da epiderme” (1996, p. 52).
Por fim, de acordo com o Conselho de Ética do CONAR, o anúncio foi
considerado adequado à imagem institucional do Anunciante, não infringindo a ética
publicitária. O processo foi arquivado por decisão unânime.
É importante destacar que quando a Benetton argumenta que suas campanhas
promovem integração de cores, pessoas e raças, ela admite que sua propaganda pode
causar polêmica, pois às vezes traz a tona situações que podem causar impacto ao
público.
Figura 2
Com base no caso anterior ( figura 1), pode-se citar outro anúncio ( figura 2)
que gerou polêmica por ser considerado racista: duas crianças, uma branca, com
penteado angelical, e uma negra, com o penteado semelhante a dois chifres de diabo.
Nesse caso a Benetton se defende, explicando que “o penteado da criança
negra não foi feito para parecer dois chifres. Trata-se de um penteado muito comum
entre mulheres e crianças negras em determinadas regiões da África”.
De acordo com o parecer do Conso Arthur Amorin (Coletânea no 3,
CONAR), integrante do Conselho de Ética do Conar, “não há como deixar de
reconhecer que as campanhas da Benetton, como um todo, favorecem a integração
racial. Quando pessoas de diversas raças são mostradas juntas, em pé de igualdade,
sem conotações outras”. Mas, mesmo assim, segundo ele, o anúncio em questão
infringe o Art. 20 do CBARP por ser ofensivo a raça negra, pois o que pode ser moda
na África, como o penteado de chifres, no Brasil são vistos como dois chifres de
diabo, que também é negro, e que está ao lado de uma criança branca parecida com
um anjo. “Um anúncio pode ser ofensivo a determinada raça sem caracterizar, pela
ausência de culpa, a discriminação”.
Por decisão final, o anúncio foi sustado, de acordo com o Art. 50, letra “c”
do já referido Código do CONAR.
Figura 3
A Benetton também afrontou os princípios religiosos com um anúncio que
mostrava um rapaz vestindo uma batina , representando um padre, e uma moça com
hábito e véu brancos, representando uma freira, se beijando (Figura 3). O anúncio,
segundo jurisprudência do CONAR, infringiu os Arts. 1o e 20 do Código do CONAR.
Para a Benetton, esse anúncio representa afeição e carinho, com um
significado fraterno. Queria mostrar, como já foi dito, que o amor vence qualquer
barreira, até a do tabu.
Segundo o Conselho de Ética (CONAR, Caderno 5), tal anúncio agrediu a
sensibilidade cristã, indo contra seus princípios: “Não há dúvida de que esta
campanha publicitária, que utilizou o padre e a freira, atingiu duramente o modo de
ser, a educação e o respeito que primam em nosso país”.
Foi requerida a sustação do anúncio e a advertência ao anunciante.
Concluiu-se que o objetivo único do anunciante era causar impacto sobre a
opinião pública através dessa mensagem publicitária.
Figura 4
Figura 4.1
Figura 4.2
Anúncios relacionados à Aids, como os das figuras 4 e 5, foram a causa de
muitas reações negativas e de repulsa em todo o mundo. TOSCANI ( 1996, p.81) diz
que “esses anúncios obrigaram todos os especialistas em comunicação a se
interrogarem sobre a maneira de falar do sexo e da Aids (...) Em tempo algum uma
pessoa teria ousado mostrar o que seria a tatuagem bastante real, sobre a carne, de
um soropositivo”.
Em uma das campanhas, a Benetton veiculou três anúncios que mostravam
imagens de diferentes partes do corpo humano, que representam os canais por onde
ocorre a transmissão do vírus HIV: púbis, braço e nádegas, com a inscrição “HIV
Positive” tatuado neles, conforme mostra a figura 4.
Segundo o processo do CONAR ( Caderno 5), os anúncios infringiram os
artigos 1o, 19 e 34 do Código do CONAR, “pelo desrespeito à dignidade do ser
humano”, os artigos 20 e 24 “pela discriminação do portador do vírus e por
despertar o medo”, e o artigo 27.
A Benetton quer, com essas imagens, chamar a atenção para a problemática
da Aids e combater o preconceito aos soropositivos. “Com esse cartaz, queria que a
Benetton conservasse sua capacidade de intervenção, comprometendo-se contra a
exclusão dos aidéticos” ( TOSCANI, 1996, p.80). Seu objetivo é causar discussão e
reflexão sobre o tema em questão. “O fato de gerar polêmica é mera decorrência do
tema tratado e resultado da reflexão proposta” (CONAR, Caderno 5, p.33)
Segundo o CONAR, os anúncios “HIV Positivo” não apresentam defesa
alguma em relação à qualquer causa social, apesar de estimularem discussões sobre o
assunto. Por mais que a Benetton quisesse passar a idéia de combate à discriminação,
não foi esta a mensagem compreendida pelo público atingido. As imagens são
discriminatórias e afrontam o Código de Ética de acordo com os artigos citados
anteriormente. A decisão final, tomada pelo Conselho de Ética do CONAR, foi a de
sustação dos anúncios, de acordo com o Art. 50 do Código do CONAR.
Figura 5
O anúncio mostrado na figura 5, foi o que mais gerou polêmica em todo o
mundo, por mostrar uma foto real de um aidético em seu leito de morte, abraçado
pelo pai, com a família em volta A foto apresenta uma grande semelhança com a
Pietà de Michelangello, conforme diz TOSCANI.
O objetivo dessa imagem, é mostrar que uma pessoa portadora do vírus da
Aids pode continuar tendo um convívio social sem contaminar os outros. Foi uma
maneira que a Benetton encontrou de mostrar a realidade, assim como ela realmente
é, mas com um lado de ternura e compaixão.
A foto foi veiculada com a aprovação dos pais do doente – David Kirby, pois
eles queriam conscientizar as pessoas sobre o risco da Aids.
Pode-se dizer que, esse anúncio, se considerado anti- ético, infringiria os
artigos 1o, 19, 24 e 34 do Código do CONAR, por ser uma ofensa à dignidade
humana, pois afeta, de maneira cruel, os soropositivos, que são obrigados a enxergar
seu fim, incultindo-lhes o medo em relação à doença.
Pode-se dizer que a exploração do medo também é uma forma de
constrangimento moral, que pode ser exercida pela publicidade, segundo a ementa do
Conselho de Ética do CONAR: “o anúncio não deve infundir medo de doenças no
consumidor, tanto se a ‘ameaça’ é totalmente destituída de fundamentação
científica”.
Essa campanha foi censurada no mundo todo, resultando em uma série de
entrevistas coletivas nas grandes Capitais: “Queríamos debater com o público, com a
crítica, com os jornalistas, a fim de explicarmos nossos trabalhos, defender nossa
concepção da publicidade (...) essas reuniões conseguiram juntar muito mais do que
apenas jornalistas (...)” ( TOSCANI, 1996, p. 65).
Não foi encontrado nenhum caso sobre essa campanha nos cadernos de
jurisprudência do CONAR, mas pode-se dizer que, apesar de ser uma imagem
mostrada pela livre vontade de alguém, ela causou repulsa nas pessoas em geral e nos
publicitários, por ser ousada, impactante e mostrar uma realidade que não precisa ser
vista friamente.
OPINIÕES DE PROFISSIONAIS DE PROPAGANDA E CONSUMIDORES
Foram feitas entrevistas e uma breve pesquisa com profissionais da área de
Propaganda e com possíveis consumidores da marca Benetton. O objetivo era obter
opiniões sobre as campanhas da Benetton, em relação à Ética e às polêmicas
causadas.
Com base na pesquisa, aplicada em estudantes e profissionais das mais
diversas áreas, como: Direito, Propaganda, Medicina, Administração, Engenharias,
entre outras, concluiu-se que: a maioria deles acha que as campanhas da Benetton são
chamativas, impactantes, agressivas, criativas e bem produzidas. Segundo eles, o
objetivo primordial da Benetton é, além de criar uma conscientização da população
para o assunto exibido, gerar polêmica para obter espaço gratuito na mídia. Sob seu
ponto de vista, apesar de serem anúncios que chamam a atenção à realidade social,
não acham que haja algum objetivo funcional diretamente ligado às mesmas. A
maioria dos entrevistados não consideram os anúncios apresentados anti- éticos. Mas
houve os que disseram que a Benetton afronta a moral, ferindo a dignidade humana,
veiculando imagens discriminatórias e que vão contra os princípios da sociedade.
Segundo o publicitário Luiz Alberto Marquez, da agência Denison de
Brasília, em entrevista via e-mail, a Benetton usa temas polêmicos em seus anúncios
para obter recall para suas peças e sua marca. “A polêmica funciona como um
potencializador da mídia: a Benetton investe um determinado valor e obtém muito
mais pela repercussão da imprensa”. Segundo ele, as campanhas da Benetton, apesar
de chamarem a atenção, não acrescentam nada à marca. Diz ainda que imagens
chocantes como estas não estão na mente do consumidor na hora da compra: “o
consumidor não se identifica com o lado negativo da vida”. Para ele não existe
nenhum objetivo de cunho social na publicidade da Benetton e que a polêmica
causada só serve para aumentar a “tropa” de rebeldes sem causa. “Sob meu ponto de
vista, não existe quebra de ética, mas mau emprego de uma bela arte fotográfica”.
A publicitária Priscila Norcia ( Publicis Norton RJ), diz que a estratégia das
campanhas da Benetton é, basicamente, mexer com os paradigmas da sociedade:
padrões éticos, morais e religiosos padronizados e inquestionados pela sociedade,
mas que apesar disso, levam as pessoas à reflexão. “Acho que alguns anúncios
traduzem ( ou parecem traduzir) uma preocupação sincera com a problemática
social ( especialmente aqueles que tratam do racismo). Mas como toda a
comunicação lida com extremos, o risco de ‘ir além’ e cair no exagero, no mau gosto
e no desrespeito ao ser humano, é grande”. Norcia não acredita que tais campanhas
contribuam para a construção de uma imagem sólida para marca a longo prazo, pois
não criam afinidade e nem aproximam o consumidor.
Pode-se citar a opinião de Luis Grottera, presidente e diretor de planejamento
da Grottera, em entrevista à Revista Propaganda ( nov. 1998, p. 41), em relação ao
assunto: “A propaganda da Benetton faze a marca crescer mas é totalmente anti-
ética”. Segundo ele, a Benetton utiliza temas polêmicos para atrair a atenção do
consumidor, não para debatê-los com a sociedade. Assim, pode-se dizer que a
Benetton mexe com o lado emocional das pessoas, utilizando-se de técnicas
publicitárias.
No mesmo artigo, Lema Riqué, diretor de arte da Propeg de São Paulo,
acredita que a propaganda da Benetton é um trabalho desprovido de preconceitos: ”A
publicidade da Benetton procura evitar a ‘entrega’ subliminar de um conjunto de
valores da sociedade consumista junto com o conceito Publicitário”, pois sabe-se
que a publicidade é uma instituição que visa gerar consumo, não sendo para ela,
vantagem adotar esse tipo de propaganda.
Já Francisco Socorro, Diretor Executivo da Casa da Comunicação de
Florianópolis, não acredita que os problemas abordados nas campanhas da Benetton
possam ser resolvidos com a publicidade, elas apenas chamam a atenção para tais
situações. “A Benetton vive um outro universo, é uma espécie de anunciante autista,
que ignora as regras da economia de mercado e adota uma estratégia diferenciada,
que cria polêmica principalmente por estar na contramão da publicidade legítima”.
Socorro diz ainda que esse não é um tipo de publicidade produtiva, pois não cumpre
sua função básica, que é informar e vender. Diz também que a prioridade da Benetton
é o choque pelo choque: “Como cidadãos, temos que respeitar as convicções de
outros cidadãos”, pois a publicidade reflete o que acontece na sociedade mas, por
uma questão de ética, a publicidade não deve reforçar sentimentos que vão contra as
convicções da sociedade ou que estejam relacionados a qualquer tipo de
discriminação. Sob seu ponto de vista, a publicidade da Benetton não é só anti- ética,
“ela é inútil para a sociedade, para o consumidor e para o anunciante. Ela gera
polêmica, se alimenta da polêmica e termina aí a sua função”. Concluindo, diz que a
Benetton segue esse caminho para se diferenciar e, além disso, acha evidente que a
marca tenha um espaço considerável na mídia não paga, por conseqüência de sua
característica polêmica, considerando esse um de seus prindipais objetivos.
CONCLUSÃO
A Propaganda é um meio de comunicação com o objetivo primordial de
divulgar, promover e vender uma idéia ou um produto, transmitindo ao receptor, no
caso o consumidor, as vantagens e os benefícios do mesmo. A publicidade se utiliza
da persuasão para convencer e induzir as pessoas à compra, despertando nelas desejos
e necessidades latentes. Além de persuadir, a publicidade é vista como um meio de
comunicação informativo, pois é através dela que o consumidor fica sabendo, por
exemplo, da existência de um produto e de suas respectivas características.
A propaganda está presente constantemente na vida das pessoas, informando,
seduzindo e induzindo. Mas, para que se obtenha um resultado positivo, é necessário
e essencial que o comunicador conheça o consumidor: aquilo que mais lhe agrada,
seus sonhos e suas necessidades, para que ele possa ser manipulado e envolvido, de
maneira positiva, em relação ao que está sendo anunciado, motivando-o à ação.
É através da mensagem que o publicitário mostra as características essenciais
de um produto. Ela deve ser clara, curta e direta para ser facilmente entendida pelo
consumidor. A mensagem publicitária pode ser visual, escrita ou oral, dependendo do
veículo que será utilizado. Sua linguagem, de sedução e de persuasão, envolve o
consumidor, despertando seus interesses, transformando seus desejos em motivação
de compra. Ela precisa ser forte e criativa, para que fique registrada na mente das
pessoas e para que se crie uma identificação com o produto anunciado. A mensagem
publicitária, tanto a visual quanto a verbal, tem que ser, por si só, capaz de envolver e
de seduzir o consumidor.
É necessário lembrar que além de criativa, persuasiva e envolvente, a
publicidade deve manter uma boa conduta ética, de acordo com os atuais costumes
sociais e morais. A propaganda deve respeitar a dignidade humana, não incutindo o
medo nem discriminando as pessoas. Em vista disso, foram criadas leis
regulamentadoras da publicidade, para evitar o abuso e a enganosidade, mas
respeitando a liberdade de expressão. No Brasil, a atividade publicitária é
regulamentada pela Lei 4.680, pelo Decreto 57.690 e pelo Código de Auto-
Regulamentação Publicitária. O órgão auto- regulamentador responsável pela a
aplicação desse Código, é o Conselho Nacional de Auto- Regulamentação
Publicitária – CONAR. Seu objetivo é defender o consumidor e proteger a instituição
Propaganda. Todos os cidadãos tem o direito de encaminhar queixas e denúncias, em
relação ao setor publicitário, ao CONAR. Todas as denúncias serão analisadas e
julgadas pelo Conselho de Ética de acordo com o Código do CONAR, conforme o
Art. 1o: “todo anúncio deve ser respeitador e conformar-se com as leis do País:
devem ainda ser honesto e verdadeiro”. Caso contrário, todo o anúncio que for
contra o previsto pelo CBARP, está sujeito às punições previstas no Art. 50 do
mesmo.
Sendo assim, foram analisados alguns anúncios da Benetton, como os da
AIDS, RELIGIOSIDADE e RACISMO, considerados polêmicos no Brasil e no
mundo, para verificar se eles afrontam o Código de Ética Publicitária.
A Benetton é uma grife italiana, conhecida no mundo inteiro pela sua
propaganda chocante e impactante. Seus anúncios mostram imagens atuais, de
realidade social, que os tornam polêmicos por serem fortes e agressivas. Seu objetivo
é o de gerar polêmicas e discussões em torno de assuntos reais e de cunho social, para
fazer com que as pessoas reflitam sobre o assunto e se conscientizem dessa
realidade. Além disso, a Benetton promove campanhas educativas no mundo inteiro
para arrecadar fundos para entidades sociais, como a G.AP.A ( Grupo de Apoio à
Prevenção à AIDS) no Brasil. Mas, isso torna-se questionável , pois não acredita-se
que haja crescimento de uma marca através de anúncios que, de certa forma, causam
repulsa nos consumidores, pois ninguém vai se sentir motivado a comprar uma roupa,
alegre e colorida, como as da Benetton, porque foi induzido por um anúncio de um
homem em seu leito de morte. Acredita-se que as polêmicas causadas pela
publicidade da Benetton são mais para criar discussões sobre sua ousadia e
agressividade do que sobre o assunto exibido e, em cima dessas discussões, despertar
a mídia para mais um ‘furo’ no meio publicitário. Sendo assim, pode-se dizer que o
objetivo principal da Benetton é criar a polêmica como um potencializador da mídia
gratuita, pois é sabido que qualquer tipo de discussão gera uma grande repercussão na
imprensa.
Quanto a questão de ética, é relativo afirmar se esses anúncios afrontam ou
não o Código do CONAR, pois depende muito da interpretação e da cultura de cada
cidadão que é abordado pelo anúncio. Os anúncios sobre o racismo apresentam
imagens integracionistas, pois colocam todas as raças sob a mesma situação, juntos,
numa mesma imagem. A imagem do padre e da freira, apesar de ser uma foto
maravilhosa, afronta princípios religiosos, ofendendo uma cultura cristã desenvolvida
há séculos pelas pessoas, onde se cultivou a visão do padre e da freira como pessoas
puras, que se dedicam a ajudar aos outros, sem malícia, sem maldade e a foto
mostrou exatamente o contrário, uma conotação de promiscuidade para a Igreja. Já os
anúncios da Aids, podem ser considerados pesados e agressivos, apesar de realistas.
São anúncios que querem evitar a discriminação dos aidéticos de maneira rude. O
fato de mostrar um homem em seu leito de morte, pode despertar o medo e deprimir
ainda mais os portadores do vírus HIV. Estes podem se imaginar, em um futuro
próximo, numa situação parecida àquela. Já os anúncios que focam a inscrição “HIV
Positivo”, mostram que os soropositivos são pessoas como a gente, que estão no
mesmo meio em que nos encontramos e não estão marcados ou carimbados com uma
inscrição que os identifique. Sendo assim, enfatizo mais uma vez a relatividade da
interpretação dos anúncios da Benetton em relação à ética. Noutras pralavras, a
interpretação é uma questão de educação, de cultura e de moral de cada cidadão e da
sociedade.
Não obstante a questão moral, não devemos perder de vista o fato de que a
Benetton está inserida numa economia de mercado capitalista. Nesse sentido, tudo
leva a crer que a Benetton não é eficaz no uso da propaganda.
Sendo assim, a propaganda além de criativa e envolvente, deve estar dentro
dos padrões éticos estipulados pelo Código do CONAR, para que haja uma melhor
receptividade por parte do consumidor e uma repercursão positiva no meio
publicitário.
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ANEXOS