Eticidade, campo comunicacional e midiatização3

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Impacto da Eticidade, campo comunicacional e midiatização Muniz Sodré trabalho cultura Reflete sobre as ciências sociais: fenômeno midiático Tentativa de melhor posicionamento epistemológico: sobre o objeto e o acompanhamento das mutações sociais provocadas pela mídia e pela realidade virtual

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MUniz Sodré

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Mudança na natureza do espaço público

Expansão da dimensão tecnocultural, onde se constituem e se movimentam novos sujeitos sociais.

Formas tradicionais de representação da realidade

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Medium televisivo (com possibilidades de mutação técnica, a exemplo das previsões de especialistas sobre o "telecomputador"): permanece como apoio da mídia tradicional

Medium virtual e as redes (internet): aponta para caminhos abertos. Tempo real e espaço virtual operam o redimensionamento da relação espaço-temporal clássica.

Apoiadas no computador, as redes e as neotecnologias do virtual deixam, todavia, intacto o conceito de medium, entendido como canalização - em vez de inerte "canal" ou "veículo" - e ambiência estruturados com códigos

próprios.

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Empenho por redescrição das relações entre o homem e as neotecnologias

Nova antropologia ético-política da comunicaçãoNova antropologia ético-política da comunicação

Empenho ético-político-antropológico de viabilizar compreensão das mutações socioculturais

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Sociedade contemporânea (pós-industrial) Sociedade contemporânea (pós-industrial) é regida pela é regida pela midiatizaçãomidiatização

É diferente de mediação que significa fazer ponte ou fazer comunicarem-se duas partes, que implica diferentes tipos de

interação.

Tendência à virtualização das relações humanas, é a

articulação do funcionamento das instituições sociais com a

mídia.

Dispositivo cultural historicamente emergente no momento em que o processo da comunicação é técnica e

mercadologicamente redefinido pela informação.

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MidiatizaçãoMidiatização

Não designa algo separado do sujeito, mas

forma resultante de extensão espectral que

habita, como novo mundo, com nova ambiência,

código próprio e sugestões de conduta.

Ordem de mediações socialmente realizadas (tecnomediações), caracterizadas por espécie de prótese tecnológica e mercadológica da realidade

sensível, denominada medium.

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Afetação de formas de vidas tradicionais por qualificação de natureza informacional: prevalência da forma (código, meio) sobre os conteúdos semânticos.

Aspectos dehipertrofia

dos códigos

Desconfiança de críticos

como Baudrillard

Boas novas a críticos como

McLuhan (sensorial)

Expansão do processo chamado “reflexividade institucional” (um dos motores da modernidade): uso sistemático da

informação com vistas à reprodução de um sistema social.

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Modernidade clássica

Reflexividade institucionalReflexividade institucional

Contemporaneidade

Competência analítica voltada para a compreensão dos fenômenos humanos e sociais

Auto-reflexividade, exaltada como demonstração da soberania do espírito

Mediação exacerbada

Elevado grau de indiferenciação entre o homem e sua imagem

Pouco solicitado a viver auto-reflexivamente, no interior das tecnomediações, cujo horizonte comunicacional é interatividade absoluta.

Midiatização: bios (existência humana) específico; qualificação cultural própria (tecnocultura)

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Questão inicial

Como a midiatização atua em termos de influência ou Como a midiatização atua em termos de influência ou poder na construção da realidade social, desde a mídia poder na construção da realidade social, desde a mídia tradicional até a novíssima, baseada na interação em tradicional até a novíssima, baseada na interação em tempo real e na possibilidade de criação de espaços tempo real e na possibilidade de criação de espaços artificiais ou virtuais?artificiais ou virtuais?

É questão central de toda sociologia ou toda antropologia da comunicação contemporâneas.

Convicção das pesquisas: mídia é estruturadora ou reestruturadora de percepções e cognições, funcionando como espécie de agenda coletiva. Hipótese acadêmica

norte-americana: agenda-setting (fixação)

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A tecnocultura (4º bios) implica nova tecnologia perceptiva e mental: um novo tipo de relacionamento do indivíduo com as referências concretas e com a verdade, uma outra condição antropológica.

Televisão e entretenimento: poder da tecnocultura é homólogo à hegemonia norte-americana no ocidente.

Da mídia para o público não parte apenas influência normativa, mas principalmente emocional e sensorial: identidades pessoais, comportamentos, juízos éticos passam pelo crivo de invisível comunidade do gosto, na realidade o gosto “médio”, estatisticamente determinado.

Esclarecimento preliminar quanto à natureza do poder da informação, quanto à sua especificidade

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Estimula-se extroversão sistemática, na forma de emocionalismo grosseiro, cuja influência sensorial (relacionamento das tecnologias comunicacionais com o aparelho perceptivo dos indivíduos) conforma o sentido de nossa presença no território que habitamos, no nosso espaço humano de realização.

Grego antigo deu o nome de ethos e fez dele o objeto de uma episteme: a ética (Ethiké)

Designa tanto a morada quanto as condições, as normas, os atos práticos que o homem repetidamente executa e por isso

com eles se acostuma, ao se abrigar num espaço determinado: instância de regulação das identidades

individuais e coletivas.

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Forma de vida de um grupo social específico / ethos Não há ethos sem ambiente cognitivo que o dinamize, sem

uma unidade dinâmica de identificações do grupo, modo de relacionamento com a singularidade própria.

Toda repetição padronizada de uma ação implica também em intervenção e controle da temporalidade, o que atesta o modo de presença do tempo no ethos.

Ética social imediata ou Eticidade

Lógica taylorista

Tempo métrico do trabalhador

Fordismo

Divisão técnica do trabalho/reorganização da rotina

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Caráter e personalidade afirmam-se no ethos, no modo como o sujeito se conduz, age ou produz.

Instala-se, assim, a consciência “prática”, da qual parte o controle reflexivo sobre a ação dos agentes sociais, esta que, ao realizar-se pode transformar tanto o sujeito quanto o objeto.

Ao vivenciar o padrão rotineiro do ethos, tem a possibilidade de transformá-lo em virtude de um bem-agir, bem-fazer.

Kant: Implica a lei moral, princípio definitivo de toda ação, que se deduz da razão; é um a priori do agir humano.

É fato observável que a sociedade contemporânea determina e integra a sua prática relacional por meio da escolha individualista quanto a comportamentos e modos de pensar.

Ética social imediata ou Eticidade

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Prática de diversas “morais” ou moralidades assumidas por diferentes estratos sociais.

Não há consenso absoluto sobre o julgamento moral, impõem-se o direito ou a legalidade.

Entretanto, a obrigação moral permanece latente, representando uma interpelação anônima ou coletiva à consciência do sujeito social.

Pode ser veiculada por qualquer instância, mas sua força costuma partir, na modernidade, da institucionalização da experiência religiosa ou da palavra daqueles que se autorizam como porta-vozes de estruturas imutáveis e intemporais.

Ética social imediata ou Eticidade

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Discurso profético-religioso com força moral transmuta-se eventualmente em revolta, política e, na contemporaneidade, em ethos dos meios de comunicação.

A midiatização da sociedade oferece a perspectiva de um eticismo vicário ou paralelo, atravessado por injunções da ordem de “ter de” e “dever” e suscetível de configurar uma circularidade de natureza moral, fundamentada pela tecnologia e pelo mercado.

A mídia é levada a encenar uma nova moralidade objetiva, pautada pela criação de uma eticidade vicária e de conteúdos “costumbristas”, a partir de ensaios, “negociações” discursivas ou interfaces com o ethos tradicional.

Ética social imediata ou Eticidade

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A mídia se torna espécie de suporte da consciência prática na medida em que os fluxos informativos fazem interface, reorganizam ou mesmo inventam rotina inscritas no espaço-tempo existencial.

E tudo com um conteúdo moral próprio que corresponde: por um lado, ao ethos individualista do universo jurídico: o

formalismo dos direitos humanos ou da suposta igualdade de todos diante da lei;

por outro, à abstrata equivalência dos sujeitos da troca na economia monetária.

O sujeito é sempre individual e só existe socialmente enquanto tem algo para comprar ou vender, ou pelo menos assim pense.

Ética social imediata ou Eticidade

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A mídia, enquanto sintaxe de um novo modo de organização social e agendamento universalista, implica uma qualificação especial da vida, logo, uma ordem sub-reptícia de exigências no que diz respeito a valores, a partir de uma intersubjetividade simulada e paralela.

Por que usar a noção de moral para discutir a midiatização?

conseguida por meio ilícito, fraudulenta

o conhecimento depende de outras pessoas e a idéia não é dada pela mente, mas pelo uso da palavra numa determinada comunidade, em práticas coletivas.

1º Contra-argumento: a atitude de adesão à mídia não se define como exigência intersubjetiva e que, portanto, não

pertence à moral.

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Um princípio moral não é exclusivamente imperativo; não se reduz ao enunciado de uma conduta obrigatória, do tipo “todos devem andar vestidos em público”, característica das convenções sociais, embora a ideia de um acordo possa estar latente em toda moralidade

Por que usar a noção de moral para discutir a midiatização?

2º Contra-argumento: a ideia de moral traz à consciência conotações de imperatividade na direção da atitude virtuosa,

com sanções implícitas

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A linguagem da moral é prescritivista, como o conteúdo injutivo de uma receita médica: implica pensá-la, para além da obrigatoriedade pura e simples; orientação racional ou logicamente justificável sobre possibilidae de

conduta e dependente de um querer pessoal.

A prescrição moral está implícita no discurso midiático “aja de tal modo”, porque é “moderno”, porque é o “melhor” ... de

acordo com a lógica da inserção social na contemporaneidade; não existe sanção externa ou explícita para a não observância

dessa prescrição, mas fica implícita a vergonha (fato interno), consequente à autodesvalorização estética, à inadequação pessoal a um padrão.

Considerações finais

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A eticidade moralista da mídia é de fato pensável como manifestação particular de uma “ética material” (Sheler): é forçosamente hedonismo e se funda na existência de estados de

prazer sensível produzidos pelos objetos;

heteronomia dessa ética (sua dependência do mercado) e sua colocação da pessoa a serviço de seus próprios estados emocionais ou das “coisas-bens” chamadas mercadorias;

“bem” entendido como ato de consumo.

A prescrição moral-midiática é difusa, sem linearidade discursiva ou regulamentação explícita: carente de regra de juízo estável, incapaz de solucionar conflito

a postura cognitiva diante da lógica não-sequencial do hipertexto é o da “exploração” interpretativa em vez da dedução de verdades. Não há hierarquia discursiva para organizar os regimes heterogêneos de expressões da mídia, assim como não há agendamento homogêneo de seus conteúdos.

Considerações finais

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Na construção do objeto comunicacional, é preciso levar em conta esse tipo de lógica, mais “hermenêutica” do que propriamente epistemológica.

Dentro dessa perspectiva, a história das tecnologias e das culturas, tanto política quanto ética deverão ser enfatizadas como plataformas do campo comunicacional.

Considerações finais