Etnogenese - Michael Banton

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A IDEIA DE RACA nlo era uma incapacidade inerente ao negro, mas o preconceito do branco. Este movimento intelectual conheceu um novo impeto com o -anti-semitisrno nazi. Muitos acadkinioos judeus que fugiram da Alemanha trouxeram as suas preocupa~6es para a investigaq50 americana. Isto levou ti publica@io, em 1950, do volume intitulado The Authoritarian Personality, de autoria de T. W. Adorno e outros escritores, obra que, pela sua esfera e impacte, merece um lugar ao lado de An American Dilemma. Ao examinar o tipo de pessoas vulnerttveis A propaganda fascista, Adorno e os seus colegas desco- briram um tipo especial de personalidade. As pessoas desta esptcie, altm de se inclinarem para as doutrinas fascistas e simpatizarem com as atitudes anti-semitas e antinegro, manifestam um grande sentido de decsncia sexual, e assim por diante. Se se pudesse oferecer uma terapia a estas pessoas, eliminar-se-ia por este processo uma importante fonte de tensBes nas relacties sociais. Esta possibilidade- inspirou grande parte da investiga~tio americana na esfera das rela- ~6es raciais durante o dectnio de 1950, uma dtcada em que, grasas a homens como Joseph McCarthy, a investiga~tio sobre as origens socio-estruturais do preconceito correu o risco de ser incfuida na lista das actividades antiamericanas. Mas esta nlo foi a linica raz5o para que a investigacZo se concentrasse no lado branco da equa~lo inter-racial. 0 s brancos liberais, como Myrdal, pensavam que nFio havia nada na natureza da raqa que impedisse o negro de ser ti50 bom cidadlo como o branco. Se os polacos, os italianos e 0s armknios vtio sendo assimilados, os negros tambtm tCm de procurar a assimilaqgo. 0 linico obst9culo 6 o preconceito. A esquerda politics, quer negra quer branca, destaca a forma~lo da classe e nega que a longo prazo haja outra base para a solidarie- dade. Tambkm se preocupam com o preconceito branco, apesar de possutrem uma outra teoria sobre a sua origem. 0 s anos da dtcada de 1950 n50 foram, por conseguinte, bons tempos para a investiga~lo sobre a estrutura das rela~Bes raciais. 0 s problemas centrais pare- cem ter sido resolvidm e .o interesse acadtmico deslocou-se para a aplica~lo desta nova perspectiva. VIII Nos anos_Se40.ps cientist_associ.a_isa~renF1eram alguma coi= acerca da natureza das rela~ties raciais a partir dos estudos da - -- . - .~ -. - .~ spciedade dos amencane brancos 'e. da pdclo-' da. @noria . . . . . , .. ... . - negra . , . - . . . . - nessa sociedade, Embora muito deste saber~novo~fosse caracteristico - .- .. .. - - .. ..-,---. - do context0 americano, uma boa parte relacionava-se com o pro- . .. ... . --. . . - . . . . , ,.. .., . - cesso social fundamental baseado, tal como a psicodinlmica do pre- ---- . - -. . -- conceit~ e a estrutura do sistema social, em duas categorias e ~odX> - .. . --. p~nt~~~apli~ado~~~ativas de explicactio de padrties de felaq6es intergrupais noutros paises. 0 s novos movimentos sociais que Gmanifestaram =tfF-dsdsn~~i.osSsamericanos nos anos 60 tinham certamente algo para ensinar, mas, a esta distAncia no tempo, nlo se pode estar excessivamente confiante acerca do seu aut6ntico carttcter. Este capftulo mostrad que, enquanto os primeiros estudos punham em ._ destaque . . . . a natureza . . _ 'e _. ..- 'o-pOCIEf-'a;is-m~--~s __.-__ _ . .- 60 iluminaram o poder que .as minorias podiam-mobjli.g~~-co&- - .- dic6es modificadas. Defender& tambtm que se compreenderZo corn . .-.. - .. . , ,, . . .--. ---.P. - maior facilidade, ambos o s lad%-das-~ela~&s'a-&-alisar pas op0siq50 -. . . .. ---- -- . --- -- do conceit~ -. -.. de . e t ~ c d mod.o_g_ue.-oepf@ei~ reflicta as tend6ncias ~ositivas de identificado e includo e o dltimo v.. > As provas mais eyidentes ,do-pod_ee_r-kanco e do mod0 como pA9 -foi utilizado provsm dos tempos do .... linchamento. Entre 1889 e 1940 houve 3833 linchamentos registados,..,dos~~quais, quatro--quintos eram .- -- -- - -. . negros, e'.corn uma maior incidsncia no Sul. 0 ndmero de assassi- . . - - . . - . . . -- . . -. nios raciais n6o regktados foi p r o v ~ ~ e r i t b m u i t o mais elevado. 153 'I! '11 ; .. p jb 8, i .i-l' 1 . c244ct3<ic C, !, &- e& LC'. 1; D-0~ F 0 P1 I :

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A IDEIA DE RACA

nlo era uma incapacidade inerente ao negro, mas o preconceito do branco. Este movimento intelectual conheceu um novo impeto com o -anti-semitisrno nazi. Muitos acadkinioos judeus que fugiram da Alemanha trouxeram as suas preocupa~6es para a investigaq50 americana. Isto levou ti publica@io, em 1950, do volume intitulado The Authoritarian Personality, de autoria de T. W. Adorno e outros escritores, obra que, pela sua esfera e impacte, merece um lugar ao lado de An American Dilemma. Ao examinar o tipo de pessoas vulnerttveis A propaganda fascista, Adorno e os seus colegas desco- briram um tipo especial de personalidade. As pessoas desta esptcie, altm de se inclinarem para as doutrinas fascistas e simpatizarem com as atitudes anti-semitas e antinegro, manifestam um grande sentido de decsncia sexual, e assim por diante. Se se pudesse oferecer uma terapia a estas pessoas, eliminar-se-ia por este processo uma importante fonte de tensBes nas relacties sociais. Esta possibilidade- inspirou grande parte da investiga~tio americana na esfera das rela- ~ 6 e s raciais durante o dectnio de 1950, uma dtcada em que, grasas a homens como Joseph McCarthy, a investiga~tio sobre as origens socio-estruturais do preconceito correu o risco de ser incfuida na lista das actividades antiamericanas. Mas esta nlo foi a linica raz5o para que a investigacZo se concentrasse no lado branco da equa~lo inter-racial. 0 s brancos liberais, como Myrdal, pensavam que nFio havia nada na natureza da raqa que impedisse o negro de ser ti50 bom cidadlo como o branco. Se os polacos, os italianos e 0s armknios vtio sendo assimilados, os negros tambtm tCm de procurar a assimilaqgo. 0 linico obst9culo 6 o preconceito. A esquerda politics, quer negra quer branca, destaca a forma~lo da classe e nega que a longo prazo haja outra base para a solidarie- dade. Tambkm se preocupam com o preconceito branco, apesar de possutrem uma outra teoria sobre a sua origem. 0 s anos da dtcada de 1950 n50 foram, por conseguinte, bons tempos para a investiga~lo sobre a estrutura das rela~Bes raciais. 0 s problemas centrais pare- cem ter sido resolvidm e . o interesse acadtmico deslocou-se para a aplica~lo desta nova perspectiva.

VIII

Nos anos_Se40.ps cientist_associ.a_isa~renF1eram alguma coi= acerca da natureza das rela~ties raciais a partir dos estudos da - -- . - .~ - . - .~

spciedade dos amencane brancos ' e . da pdclo- ' da. @noria . . . . . , .. .. . . - negra . , . - . . . . - nessa sociedade, Embora muito deste saber~novo~fosse caracteristico - ~

.- .. .. - - .. ..-,---. - do context0 americano, uma boa parte relacionava-se com o pro-

. .. ... . --. . . - . . . . , ,.. .., . - cesso social fundamental baseado, tal como a psicodinlmica do pre-

---- . - -. . -- conceit~ e a estrutura do sistema social, em duas categorias e ~odX> - .. . --.

p ~ n t ~ ~ ~ a p l i ~ a d o ~ ~ ~ a t i v a s de explicactio de padrties de felaq6es intergrupais noutros paises. 0 s novos movimentos sociais que Gmanifestaram =tfF-dsdsn~~i.osSsamericanos nos anos 60 tinham certamente algo para ensinar, mas, a esta distAncia no tempo, nlo se pode estar excessivamente confiante acerca do seu aut6ntico carttcter. Este capftulo mostrad que, enquanto os primeiros estudos punham em ._ destaque . . . . a natureza . . _ ' e _. ..- 'o-pOCIEf-'a;is-m~--~s __.-__ _ . .-

60 iluminaram o poder que .as minorias podiam-mobjli .g~~-co&- - .- dic6es modificadas. Defender& tambtm que se compreenderZo corn . ~ .-.. - .. . , ,, . . .--. ---.P. - maior facilidade, ambos o s lad%-das-~ela~&s'a-&-alisar pas op0siq50 -. . . .. ---- -- . --- -- do conceit~ -. -.. de . e t ~ c d mod.o_g_ue.-oepf@ei~ reflicta as tend6ncias ~ositivas de identificado e includo e o dltimo

v . . >

As provas mais eyidentes ,do-pod_ee_r-kanco e do mod0 como pA9 -foi utilizado provsm dos tempos do . . . . linchamento. ~ Entre 1889 e 1940 houve 3833 linchamentos registados,..,dos~~quais, quatro--quintos eram .- -- -- - -. .

negros, e'. corn uma maior incidsncia no Sul. 0 ndmero de assassi- . . - - . . - . . . -- . . -.

nios raciais n6o regktados foi p r o v ~ ~ e r i t b m u i t o mais elevado.

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'I! '11

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p jb 8, i .i-l' 1 .

c244ct3<ic C , !, &- e& LC'. 1; D - 0 ~ F 0

P 1 I :

B tambkm evidente que em muitos casos as vitimas eram falsa- mente acusadas ou tinham exasperado os brancos por urna mera quebra da etiqueta das relaqbes raciais -por exemplo, por comprar um carro (Myrdal, 1944: 564). Nem houve sequer qualquer carhcter judicial em muitos linchamentos; muitas vezes incluiam tortura, assalto sexual (castrac5o) ou urna luta, para obterem dedos ou outras porqdes do corpo como recordaq50 ou para exibic20. As noticias dos linchamentos eram regularmente publicadas . . . . . . - -. -. -. . . ... no jornal da Associaqb Nacional para o Progress0 d a Popu- . laqd'-d6. ._ coi'e b.s~ii'.tesf6munho. .ds .falt.i .de "oKtade .do-s gove--gs -: .. dos Estados Unidos para proteger o s . . . . . . . seus cidadtios ardeu comb

--dFaiiiaa n a s m66r ias de , mais de uma geracgo de negrds. - . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

I2 urna passagem d a , experiCncia negra que afecta desde h?, muito, o -. . . juizo dos negros , sobre a sociedadeamericana. .

Contra os dados deste tipo levanta-se o optimismo tenaz sobre os ideais americanos que inspirou geraq8es de lideres negros e que foi caracteristicamente expressa na linguagem de p6lpito de Martin Luther King, no discurso de Washington de 1963, em que afirmava: ctEu tenho um sonho.)) Era um sonho de urna sociedade em que a discrimina~iio racial ja n2o existisse. Em 1963, jB essas esperancas estavam matizadas de desespero. As expectativas tinham-sido-d"_s_- pertadas pela declaraq20 de 1954 do Supremo Tribunal dos Estados . . . . .- .. -- ... .. ~ o S , ' ~ ~ u e ~ ~ ~ ~ a ~ ' p f o s S e g u i r -nas escolas . . . . ......... crcom . . . . . . . . . . . deliberada velo- ---. -. .... -.-A

- - -- -- . ... .......

ciZa8e)) a Xcc~-apt~:.se.gregacie.r!ista. 0 s . americanos., negros e p e - Taram, mas sentiram uma,_crescente. fr.~stra~.ti~o,..pois-.que_as suas. - - . . - . - . . . . . esperanGas n5o foram concretizadas. Com a mecaniz@o . . . . . da . . agri- - - - .-,. ... .

cultura do, :Suli,. foiiiii Ideixando-eig terra para, di-rigirem cada -- - .- . - ...- - . . . . . . . . .-. ~ . . . . . . . . vez em maior ndmero para as cidades do ~oge. , , . ,No ano de 1960 -. asdistiu-se B admiss50 d e muitos paises africanos nas Nac6es Unidas. '6 tamb6m -a'.um n6vo .. ..r- impulso no movimento -. em . pro1 . dos direitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . <?"is doi rilegroi"~amer~canos. ..... . -... . " -,-,

0 s lideres negros dos anos 60 tiveram mais &xito ,que os seus predecessores a conseguir apoio e a mobilizar os seus segui- dores potenciais. Beneficiaram da nova situa~tio econ6mica e social, que concentrou muitos negros nas cidades, melhorou a comunica- qtio de massa e enfraqueceu os controlos tradicionais. -- At6 entiio, .. ~

a terminologia da raqa tinha sido principalmente usada~pela .popu- f-a --- '-- . . ... - . . aq o Franca como um meio de definir os outros. crNegro)).era-um - .... . . . . . - . - = - - - - ..-- -- -- -- .- ..*.- -- .

a d ~ v o ~ ~ r E ~ v o , um lnsulto potencial que se escondia por -..- detrai-do-. ter mo-5 ais-amFhtii :i:bba"e-"e< ipessoa --.-& - cG,,,-"Oi.-;-+~i~--&~

-- transfo-iriii-*a .. ninifiB, .etmadiiiaF..o-c ..s.~~-s-.adE-it-s-g ;m-o;iga-i-&y(;-ib; . . . . . . . . - . ....... . -

lho negro)) e a k'Ievar a ctcultura negra)). Todos os n5o brancos - . . _ . . . . -d

forim d.bnirida6os.a unir-se Iuta. 0 slogan ....... . . . . . . . . . . . . . crpoder negroa que . - - - - - - - - - ... . . Stokeley Carmichael lancou no , ~iss'lssipi em -1.96% -marcou , o .?nicioede um e c e & pelo qua1 diversos grupos subordinados che-

. . . . .

ETNOGGNESE

,garam i conscibncia -d_a_.sua- ~osicf i~) , ..!sfi.nind_q~a _an-apa&d~a~ que eles concebiam como, uma estrutura d,e,.-ex~1ia~B~,~~do,..,pode~ -.

branco explorador,.:.~ ,in-ve.rteram .~?,. .use ,do_ =te.mg .raa,-@p-resm- - . - ........... - ....... L/ tando-o como um princfpio definidor da pertenqa ao grupo. 0 exit0 f'oi;i-.eno~eee.eeSiirri"rriPPi l'i*- dFiitees "estimulou "'-o-;;t-& "g---*o~ a seguir

l o seu exemplo e obrigou a maioria branca a mudar alguns dos seus programas governamentais de mod0 a oferecer novas oportu-

i nidades a todas as minorias. Um dessesS,g~po~e~aao0de-h>~a . . . . . . . . . .

espanhola da Calif6rnia, que m r a a nova tend6ncia para usar a -.--.. -teiminoIogia 'da raqa comb um meio para r ec ru t a r~o~~ap ioooda

4 .

I . ..-...- minoria, dado que se chamavam a si pr6prios La Raza e Chicanos. :

i .. Mas n2o foram d as minorias d& Estados Unidos que beneficraram;'" Os --_. nruDos nenros. ' Gi-z- Bretanha inStjir.griin'--S .&.- nnoSmeei'ei ..n-6eg"r.6s

'dos-~siados cnidos e nas suas estractgias, e o impacte- da eip- &%cia americana entre os negros da ~ f r i c a do Sul tambtm foi --. significative. C- _ .--- .

I .Um elemento fundamental para o Cxito do movimento do poder --__C--.---

negro .... . foi a cobertura . que lhe dispensaram os meios de comunicactio i -. - - .- .-

de massa. -0s temas ~restavam-se a urna aoresentactio dramhtica e -... .................................. .. - - ... -.- - ....... -- - --. . multa gente, p a m a r m c n t e as geraqbes mais novas, acabou por .. ...... ........ --- - _ _ _ se ~. identificar ~ c o ~ ~ o s ~ m a n ~ f e ~ t a n t e s ~ ~ ~ ~ F o r a ~ ~ d o s Estados Unidos, os homens e as mulheres que se sentiam ambivalentes a respeito da

! ascenQo dos Estados Unidos ti sua posiqtio directora nos neg6cios mundiais eram os mais dispostos a sirnpatizar com urna minoria

i t50 claramente ma1 tratada no que as vezes se chamava as traseiras da Amtrica. Assim se espalhou a imagem dos negros americanos

I como urna rninoria politica relativamente unida nas exigsncias que fazia h America branca, embora a investigacgo dos cientistas sociais revele urna situaqtio muito menos clara. Este ponto foi escla- recido por urna strie de inqutritos sobre as concep@es de dpoder negro)) levadas a cab0 em Detroit em 1967, nas areas da cidade

1 em que tiveram lugar os actos de violkncia (Aberbach e Walker,

I 1970). Quando se lhes perguntou ((0 que 6 que a express20 'poder

I negro' significa para si?)), cerca de 23 por cento dos negros inquiridos responderam aN2o penso nada)) (que se usa geralmente em

1 termos de mofa); no total, cerca de 49,6 por cento dos negros disseram

I que, para eles, a expressfio tinha conotaq8es negativas, enquanto 42,2 por cento Ihe atribufram um significado positive. 0 s inquiridos tambtm foram solicitados a pronunciar-se sobre a forma de relap3es raciais que mais lhes interessava: integra~tio, separaqtio, ou outra

I soluqiio intermtdia. Entre os negros que apresentaram urna inter-

I pretaq20 favorilvel do poder negro, 46 por cento favoreceram a integraq20 e 46 por cento qualquer coisa intermtdia, mas os que

I advogavam a separaqzo representaram urn ndmero insignificante do ponto de vista estatfstico. 0 s que niio se sentiam atrafdos pelo poder

. -

A IDEIA DE R.4CA

negro favoreciam presumivelmente urna ampla integraqiio. 0 apoio ao slogan veio fundamentalrnente dos negros mais jovens, que nasceram ou foram criados em Detroit, que niio pertenciam As igrejas e que comqavam a duvidar da rectidiio dos governos federal e municipal. As suas principais preocupaqSes centravam-se na unidade negra e na participaqiio. Do estudo parece transparecer urna grande vontade de participaqiio nas campanhas politicas de toda a esptcie, mas h6 outras fontes que demonstram a existCncia de um movimento para a organizaqiio de urna comunidade negra mais unificada e hais empenhada; portm, as diferenqas de consciencializac50 politica e de orientaqiio continuavam a ser profundas.

I3 notkvel que os negros tenham atingido objectivos politicos de tanto significado num tempo de debilidade econ6mica, nurh tempo em que alguns comentadores perguntavam: ((Quem 6 que precisa dos negros?))

((A trernenda rnutafio hist6rica est6 a realizar-se do seguinte rnodo: ele n8o 6 necesslrio. Ele 6 mais indesejado que oprimido; mais desne- cesslrio que indesejado; e rnais ignorado que enganado. 0s brancos dorninantes jd nlo tern necessidade de explorar a rninoria negra.. . A ArnQica branca ernprega urna nova tecnologia, n5o corn a finalidade de a incorporar mas, ao contrhrio, para prescindir da rapa de tor))

(Willhelm, 1970: 210-11).

Como repetidamente fez este autor, pergunta-se: porque se emprega a discriminaqiio,.se o mero emprego de crittrios objectivos faz com que os candidatos negros fracassem? A eliminaqiida

,,-, discriminaq50 niio reduziria as desigua1dades.-raciais..-B- fambgm iiiij55ZiintGGtUdar'K m T d F e z i - o s ' negros contra o paddo dos grupos de pressao dos Hstados Unidos. ,Consegue-se muito na ..... .) - .I. - --- - - pomica amencana atravts das coligaC6&, proc~sopeI6-qua diversos ... grupbs-'ae-liiteresse convergem no apoib a um determinado cap-

................................ JTdato ou .partido. A p01ftica 4tnicaa entre~ou-se mmu~~svezees_a-es~ ,---- . ,

l processo, mas nZo havia um b i c o grupo que estivesse interessado -- _ _ ____________ 1 . en~idzfiiicar-se com os negros, e os seus lideres tinham.,as

. . . . . . . . . , . , , ! G 7--p----.

malores dificiiT&XEs~pBr8'eiTtEr e m ~ X g a ~ ~ % o com os outros gqpos. -_ Para sG d~iit-i.- -iGi- & aaaaaeer~...nne.c i:&r;ibbl,I aal.goo~msiissss q.Gi--.. vote . ......... , , .....................__.... negro: os negros tinham de desafih a estlutura existente, de modo a estimurar os element& doutros '.&$s (especialmente' os ................................................... brancos liberais) a formar coligacbes tacitas com-eles.

----a

Qualquer sistema social oferece aos seus participantes recom- pensas ti sua lealdade e empenhamento. Aos imigrantes brancos, a Amtrica prometia progress0 material e a oportunidade de participa- rem na construq50 e no govern0 da sociedade. Para que o sistema funcionasse, os brancos tinham de transladar a sua fidelidade para urna nova bandeira, para urna nova constituiqiio numa nova lfngua e apoiar as regras. Tinha de valer a pena tudo isto porque, niSo sendo

cidadlos originais desse pais, se lhes oferecia a oportunidade de viver nos Estados Unidos, embora formando comunidades separadas, como alguns grupos religiosos que se auto-segregaram, ainda que numa escala mais vasta. 0 s negros niio tiveram, durante muito tempo, esta oportunidade, embora houvesse algumas comunidades negras auto- -segregadas. Ningutm pensou procurar a alianqa dos cidadzos negros, porque eles pareciam n5o ter outro futuro sen50 a assimilaq50, e a assimilaq50 estabelecida em termos de brancos. 0 s negros iam entrar na sociedade maioritaria esperando a aceitaqiio por parte dos brancos, mas como os n5o brancos desejavam ser identificados com a categoria social mais baixa da hierarquia, seria duvidoso que os negros fossem aceites do mesmo mod0 que os membros de outras minorias menos caracteristicas o foram. Portanto, os negros tinham de lutar contra a discrirninac50 branca na base de aue ela era antiamericana, e isto encerrou-os numa posiq5o que implicava pre- ferirem eles pr6prios a companhia dos brancos B compan'hia dos negros. Para sair deste la~o , necessitaram fazer os brancos acreditar que eles tinham uma escolha e que a sua fidelidade B America era urna coisa que niio deveria ser tomada por certa. Niiopoderiam per- suadir'os brancos.deste ponto atkterem efectivamente uma outra via; mesmo que noventa e nove por cento optasse pela sociedade maiori- aria, haveria sempre a possibilidade de o equilibria se deslocar para urna alternativa pouco simpktica aos americanos.

.. A - hist6ria da politica negra nos .EstaR~~.Unid4s,de$de ..os.~.rk meiros anos-c!qte.secuk.__p p e r ~ 0 d 0 ~ . ~ ~ ~ . 3 . ~ e ~ g . e r a f l ~ % d . ~ ~ ~ ~ ~ e ~ r ~ ~ - _estava._reduzida. A sua ,jnfima .e~.~~ess~o_.~~~?ode_..,ser.~kis_ta_.c~_~o,,. urn period0 de testagem de . estrattgit)~. ej?_osibflidade~.-a.Jter_nat&a.s.~ Booker T. Washington foi - como se tem dito - um l i d e ~ o - m maior-@flu&ncia . na -. opini5o . . . . . . . . . . . da populaq50 bhnca que . . n a d a ..... negra.

Ba rcus Gamey, com o~..seu,.mos4mento- de cmegros .para -&.Africa)), desempenhou ...... um pagel_immrtank-M_dese~l~rd~ - n_egro, - . . . mas - 0 seuprogra!?aa e x e ~ ~ ~ a ~ ~ n a s u r n a p _ e l o ~ ~ ~ ! o _ 1 i , m & ? ~ o ~ Do mesmo modo, certos ..................... mcvimentos religi0s~o~~.~~_o.~ort9d~x_os,-com~

e os muqulmanos negros, tiveram uma..imp&nci& hi i to - maiofdo . . . . . . . . . . . . . . . . que o ntImero.de inscritos faria supor, . . . . . . - -. porque ..... - .-- elal boraram concepq6~_altern_ativ~ p a r < a ~ ~ o s i E $ o d ~ ~ e g ~ ~ ~ n _ _ o ~ m @ , o

-da' .. A&ri& _ _ . ._... br i ca . . 0 novo elemento f o i . , a s s i n ~ l ~ o , ~ ~ d , ~ ~ o ~ e~tu(1p~_de-~s~sle~.~d~fi;. &bre-8-(cna~~i.ia~~!~~.a_0~~,_~_1a~&~gii~nari.r~. 0s ' cientistas sociais....estudar_ammmas_sbarr~r_a,ssaa~~i~l~~Booodo_Lad. o_ branco enunci investigaram o lado negro; mas talvez haja urna

. . . . .. . - -- - . - .

jacilmente . identlfickvel nestes m o v i m e n t o s e q u i ~ ' - < ' ~ e ~ ~ c ~ ------- --*- seja melhor apreendido atravb -do 'coiic~to~~-dcibf6~~co de naaona- .- ..-.--..-I-.. - ------- ----- 1ism.0,. definido do .seguinte mode,,,

cc[ ...I a crenga de urn grupo de que possui, ou deve possuir, urn pais; de que participa, ou deverti participar, numa heran@ comurn de lingua,

A IDEIA DE RACA

cultura e religilo; e que a sua heran~a, mod0 de vida e identidade 6tnica 60 diferentes das de outros grupos. 0 s nacionalistas pensam que devem governar-se a si mesmos e definir o seu prbprio destino, e que, portanto, devem controlar as suas instituicks sociais, econbmicas e politicasp (Essien-Udom, 1962: 21-2).

Algumas das nacdes de Africa 350 excessivamente heterogdneas ara se qualifiCarGm segundoes~ciit'T'~-m~-6KaEd.fiB1iS~~-fi-e~id .... , - - - . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. nos Estados Unidos apresenta uma dificuldade-mEto especial- em .........

;.* .. se adaptar-'a'-ist- ~ . . . i i ' ~ fin.;F-go - O . . . ~ - .b-V dGm..ap'r.e.sennt .$-. ummmmmob.jeccfivO-~ . - --- --. ---..._____ - ... ..... -.- mais limitado a partir de afirmacoes como as de-UITibZisyGe 'acre- %tFi~a ser Co Xever dbS.~mencanos d e SsceKdEiiCG ... riegr*, como urn . . . . . . . . . . _ t ~ X a 5 t e ~ a ' - s u r ' i d e n t i d a d e . - . . . . . . . . . . . . . . racial at6 .............. a misdo do povo negro ........... se fornar numa possibilidade . prtitica)). Esta doutrina de nacionalismo embfibnbrio, de preparacLo para um futuro em que seja possivel um programa mais positivo, denomina-se nacionalismo cultural. Nos dltimos anos ela recebeu muitos elementos novos da cultura africana, confirmando a profecia de Franklin Frazier em 1962, quando, no decurso de -a-onda de amargo criticism0 dos intelec- tuais negros,.,asseverou que ctos negros ameikanos' eSp0uc0=t% -_ buigm para a Africa, mas a Africa, logo que alcance a indepen- dencia, salvaiti pr6vavelmente a alma dos ~ n e g r o S . B m e ~ o s ~ - o f e ~

, -- - cendo-lhes urna nova identificag~o,. urna nova- imagem-gje_sl-memos _ . ~ __._ -- - - - .

.e .um novo senbdo da dignidade .pessoal~ . . . . . . . . . . . . (Edwards, 19-79). -. \ A identificaG6 'cultural coln a Africa atingiu, . p r a ~ a ~ e l m e a k - .

- -v--?---- ---- apenas'uma minona pensante.33~ americanos, em geral, estlo nor-

........... . . . . . . ..-,L------ malmente ma1 , informados_acerca da Africi anterior W a a - . . . . . . . . na poflti.gternacional_..dos Estados negros indepezntes . Nos .... ........... -- - . . --- . . anos da ddcada de 50, os amencGnos negros pensavam que os afri- 'canos nLo tinham civiliza$io, de mod0 que, ao verem, no fim do decCnio, no kcran da televisLo, homens de Estado e diplomatas africanos e ao saberem da atens80 que mereciam nas Nacdes Unidas, sentiram que tinham sido ultrapassados por atletas que julgavam estar muito atrtis deles na corrida. ~Come~aiam a,olhar para as suas pr6prias condi~des de urna nova maneira. Este elemento de novas expectativas, de novos grupos de referencia, parece ter sido vital na nova consciCncia de identidade. ;&cgm&arag-g5.e

. ...... -> s i mesmos c b m as nac6es africanas e os discursos da naciona-

......I.. ----y.l

lidade n8o transformavam os negros amencanos numa na~80, miis . . . . . . . . . . . . . . . . .

~ a P a c i t a ~ m 7 i i s ~ r ~ ~ ~ t ~ a - i - u m -*. - . nbvo-tipo de pertenca que ............ tarvez I possa ser 'melhor express0 dizendo que passa&m,,a s e n t i r - s e , , ~ ~ o , riiuito mais consc'ientes d a sua diferensa como povo vivend.o_n_oya- - d_ro dosEstados ---.- ~ n i d o s . - - -- &te processo de criaqlo de um povo foi des- drito por Lester Singer (1962) como etnogdnese. 0 autor fez reviver

'NO:,, uma expressZo previamente utilizada em Franca hh mais de um rCculo I &?I%"

(Moreau de Jonnts, 1861; Broca, 1974, 11: 508) .e que nos dltimos anos tem sido crescentemente usada -sem dlivida independente- mente - pelos antrop6logos sovikticos (Bromley, 1974: 18).

A relacgo entre a etnogdnese e o nacionalismo exige um estudo mais amplo, mas, tomando por principio que houve alguns d w n - volvimentos do tipo descrito no parhgrafo anterior, sera dtil fazer urna paragem para investigar a sua relaglo com os esquemas concep- tuais que fizeram parte da tradiq5o sociol6gica. Jti se fez notar que os soci6logos falharam cm predizer o resultado de meados dos anos 60, embora falar de previs6es em tais situacdes seja pedir demasiado a uma disciplina como a Sociologia, +_. e, sem duvida, ..... _ . os

I . '., .,J . cientistas - sociais americanos apontaram, durante viirios decdnios,

as relacdes raciais como ielacdes' q u e col6&;m ~ii.6i%emas"'mliRod' mais drios que aquelei que os politicos . - e . . . . . . . . . . o publico'em geral'estavir5 . . . . . ........... - . preparaaos-para recGhecii. Tfma critica mais . . - &ria e a de que o -............. -- --. .-- dkienvolvimento dos &os 60 nLo podia ser'satisfatoriamente interpre- t a b -cientm - d w q u ~ m T i n i Z p t u a l ilC CoXy:wr&aI' o%--KaiiTbi, . . . . . . . . . - Wenhhuumm- dGst~...8uto-r-es---~~stbu aikne.$oidsuficiente da . T

~~m~i~e-negraa~af~fa~~fia-Ca~ij; ~ i i m & ~ ~ ~ - ~ & ~ ~ h a x r @ & L . . . . . . . . . . . .

c. . . _

I -. uma~'categoria_c~adaapelossbrancos~.ma~,se_existe uma base .- para - a i d e . n t i f i ~ a ~ ~ ~ ~ a s - m ~ o r i ~ ~ ~ p d c r n . . em. [email protected]. mutuas, criando lagos . - . . . positivos entre os seus membros. Myrdal fra-. --- ... .I.... __._._.l____.^. -_ cassou noestud6cIas prktondi~Bes para a assimila~Zo na cultura ame- ricana. Cox desprezou o aviso de Max Weber de que a ace50 cornmi-. tbria, assente no senthiento 'de ~rtpn~a.~a~m'.~:drilu#.~~-fem.,de~s~

h

distinguir da aci lo societhria, baseada na . . . . uniformidade-do--gc.do- individual; tratar cccla~e)) . . . . . . . . . c o n ~ e ~ J u a l m . c ~ & - c ~ 1 e s e - ~ ~ @ior tTe comunidade conduz ..urna~dj~tor~Bo,~.por~~e.,~as ..situ.a~gg d g c l ' a s ~ s6 e m e r g e . m a i ~ b . a s e ~ d a + ~ k i a ~ ( ~ e b e r , 1947: 183-85; cf. 1968: 928-30). A socio16gicas tern sido ~ l h a r os negros como as.~i_ti~~de~out.~s~.as-lasse~en~ - . , . .~ . - . -

. . . como grupos de direito pr6prio. Nem Myrda1.-nem C~x..ouprxsen; .. . @am como . ~ _ e s o ~ s ~ ~ . 1 ! . s t r u i r ! d 0 . . . ~ . ~ s ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ p r ~ ~ . ~ ~ ~ s _ t _ ~ , ~ ~ ,

b - .. 0 s soci6logos tiveram a maior dificuldade em investigar que tipo

de comunidade era a comunidade negra porque, na tentativa de esta-. belecer bases independentes para a sua matdria, os te6ricos soci6logos. negligenciaram as dimensdes politicas na formaciio do grupo. 0 s livros de texto modernos prestam ainda menor atensgo ao conceit0 de naclo que ao mod0 como os povos se definem a si pr6prios.

1 coma raqas. Procurando rectificar esta negligencia, Ellie Kedourie argumentou ser o nacionalismo urna doutrina inventada pelos

i sofos europeus no comeco do sCculo XIX que merece a maior atenqlo (1960: 9). Antes deste dculo, a.populas80 da Europa estava

I unida e dividida segundo vkias linhas de convergencia, como a. lingua, I a religilo e a regiLo; a naqLo n5o era uma forma predominante.

A IDEIA DE RACA

Afinal de contas, a Ithlia s6 alcancou a unidade em 1870 e a AIe- manha em 1871. Mas o movimento do stculo IX,IIX conseguiu pel0 menos convencer as pessoas de que a posse de urna nacionalidade era uma coisa natural ao homem; que era de esperar que ele dese- jasse ser governado como membro de urna unidade nacional; e que esses sentimentos eram politicamente legitimos. Como explica Ernest Gellner (1964: . ....... 147-50), estas reivindicacdes im~ic%ni~pr0@5~

.' . -- slcdes de tipo filos6fico-antropo16gic'o, . . . . . . . . psicol6gico " e -nomlati% q u E

-3 - - - - -.- parece'm-inuito...mgos' persuasivas. quando-.sco_. sujeitas ..... a ........... uni exame . .: -- critico. Os_mmo~en tos nacionalistas, afirma, inventaram na~iies onde - . ... - e l a s ~ n ~ o o o ..existiam;.-"TT . -. -.porque .. procederam assim? . . . . Para-.--que ,. OK indidduos e os grupos se agi&&em para os seus pr6prios fins.

- -.-- ..-A*. .- .- -. ... ........ - . . . . . -.-

0 s economistas liberais do s&culo :XIK n b esperavam que o nacionalismo se tornasse numa forea importante. A expando das redes comerciais mundiais criaria inumerhveis interesses, que actua- riam como contrapesos. ,Nem o marxismo. A sua filosofia da his- t6ria ensinava-lhes que o principal determinante dos padrdes sociais reside nos meios e nas relaciies de produqiio. Tudo o resto Ihe deve estar subordinado. Mas a verdade 6 que se a previsiio marxista se esM a realizar, o processo 6 deveras vagaroso. A consci6ncia nacional dos povos tern tido um efeito profundo sobre as suas actividades produtivas. 0 nacionalismo .tornou-se um dos factores mais potentes e mais legftimos n a polftica do sBculo IXD(, encoraiado por Woodrow Wilson, o professor que se tornou presidente dos Estados Unidos. Ele trouxe para a politica internacional a convicm de que os Gnicos governos legitimos eram os do povo. Todos os povos deviam ser capacitados para se autogovernarem. Um dos seus q"atro principios para a paz, depois da guerra de 14-18, era o de que cctodas as aspirac6e.s nacionais bem definidas seriio tanto quanto possivel realizadas),. Mas quem era o povo? Que era urna naqiio? Wilson n50 considerava os irlandeses como urna das nacdes rlutando pela liierdade,), e o Miaist6rio britgnico das Rela~des Externas avisou que (tseria claramente pouco pmdente dar um passo, por mais peque- no que fosse, na admisdo das reivindicac6es dos negros americanos)) (urn ponto contra Wilson!), ccou dos sulistas, irlandeses, flamengos ou cataliies, apelar para a ConferCncia Interestatal passando por cima do seu pr6prio governo)). Contudo, a filosofia politica de Wilson teve tanta influ6ncia na cena diplomtitica que a guerra acarretou que parecia o triunfo final do nacionalismo, ao mesmo tempo que a paz levava ti criaq8o de um 6rgiio internacional, a Liga das Na~des, que o tornou um dos principios mais respeitados. Aplicado a emaranhada geografia polftica da Europa, deu a diversas minorias novas bases para se queixarem sem oferecer qualquer esquema satis- fat6rio para as renegociac6es de fronteiras. Israel Zangwill, o te6rico

-do cccadinho de raws)), comentou sardonicamente a debilidade da

I ETNOGGNESE

nova doutrina, fazendo notar que (to pensamento nacional ngo e uma cerebraciio mas um conthgio, niio 6 urna actividade mas urna epidemia)) (1917: 64). A guerra de 39-45 deu nova f o r ~ a ao nacio- nalismo e enfraqueceu as unidades politicas que, como os imptrios coloniais, nHo se encontravam baseadas numa naeo. Efectiva- mente, o nacionalismo determinou o caminho da independencia para as antigas col6nias como um caminho que levava formaqiio de Estados (cada um deles com os seus pr6prios problemas de minorias) num corpo reconstituido, que era internacional no sentido de ser global e, ao mesmo tempo, urna organizacgo de nacdes - as Naqdes Unidas. Contudo, o desenvolvimento do nacionalismo nem sempre seguiu o mesmo caminho em todas as circunstlncias. ,Pode formar-se em oposi~8o: neste caso, muitos aspectos hk que dependem de quem siio os vizinhos ou os governantes do territ6rio e das matkrias clue suscitam a hostilidade das massas contra eles. HA uma diferenqa muito importante entre um movimento nacionalista tentando mobi- lizar as suas forqas e a situa~go em que alcanqa &xito, convencendo os outros de que hti agora urna nova na$iio, defrontando-se assim com o problema de cultivar a unidade em novas circunst&ncias. 0 Ban- gla Desh conseguiu este objectivo e 6 agora aceite como urna nova naqHo. 0 Biafra niio. A diferen~a entre as situaqdes antes e clepois

1 C de tal ordem que uma autoridade nesta materia reserva o termo

1 nacionalismo para a primeira situaqiio, preferindo falar de crsenti-

t mento national), a respzito das naqdes j& cstabelecidas (Smith,

I 1971: 68). 0 s soci6logos do sCculo .XBX como .Gumplowicz viram a r a p

e a nacionalidade como agrupamentos sociais que resultavam de qualidades inerentes a natureza humana num determinado esttidio de evolu~go. 0 s soci6logos contemporlneos veem os agrupamentos politicos como o resultado de um alinhamento em encontros de

1 gmpo. As pessoas podem cooperar umas com as outras numa situaqiio comuniaria sem estar conscientes daquilo que hti de caracteristico no seu grupo. ,Quando encontram estranhos, tornam-se conscientes de aspectos a seu respeito que at6 tinharn tomado como seguros, e a espCcie de consciencializa~iio que adquirem da sua identidade pode ser influenciada por um desejo de se diFerenciarem dos que

I s8o os vizinhos mais pr6ximos. A ilustra$io mais simples deste t I process0 pode-se encontmr na descriciio de migrantes urbanos para I i as cidades mineiras da ZBmbia. 0 s homens deixaram as suas regiiies

1 etnicamente homogtneas e vieram para as. cidades, onde encontraram ' outros africanos falando outras lingwas e apresentando outros costu-

i mes. Nestas circunstlncias, os homens aceitariam com agrado como ctirmiios)) homens de grupos que poderiam ter sido inimigos em

1 tempos passados, mas com quem tCm, agora, tnais em comum que corn outros estranhos mais afastados. Surgem assim rapidamente

A IDEIA DE IZACA I 0 desenvolvimento do comtrcio mundial significou que os Estados j& n b eram corpos soberanos, no antigo sentido do termo. Que grandes quantidades de pessoas migrassem para trabalhar noutros pafses n8o B um awntecimento novo, mas 6 notftvel que j& ntio fiquem sob tanta presslo como antigamente para se assimilarem ti cultura da sociedade receptora. Podem, de variadissimos modos, ficar em contact0 com as sociedades donde vieram: j& n l o se limi- tam ao envio de cartas, mas telefonam, enviam fotografias, fitas gravadas e, inclusivamente, fazem visitas. Para um emigrante irlan- d&s em Boston visitar os seus familiares em Killarney custar-lhe-6 menos que um m&s de sal&rio e pode integrar essa visita numas f6rias de duas semanas. H& cinquenta anos custaria muito mais e levaria muito mais tempo. Com a melhoria dos niveis de vida, muita gente parece querer cultivar as diferenqas Btnicas como um modo de tornar as suas vidas um pouco mais interessantes. A impor- tincia crescente para a vida das pessoas das suas opqdes como consumidores tem muito a ver com esta situaqLo. Depois, a tre- menda expando e significado dos meios de wmunicaqlo de massa deu A populaqlo de muitos paises a sensaqlo crescente de pertencer a urna sociedade internacional, enfraquecendo o seu apego ao slogan: ((Viva o meu pals, quer tenha r a d o quer nlo.)) Hh urna grande variedade de sentirnentos que podem afectar o nivel e o carhcter da consciCncia Btnica e ela deve ser continuamente comparada com outros tipos de identificaqlo Por exemplo, tem-se sugerido hs vezes que o nacionalismo gal& e o escoces devem ser encarados como urna reacqlo A presslo inglesa no sentido de as diferencas de classe em Inglaterra desempenharem um papel importantfssimo. 0 nacionalismo dB aos galeses e aos escoceses urna base para as relaqdes que passam por cima das linhas de classe e para afirmar valores para os quais a classe 6 irrelevante.

Em cada situaqlo de modificaqlo da consci6ncia Btnica inter- \ i actua urna grande variedade de forcas e circunstincias. Numa pers- , pectiva hist6rica, pode-se agora ver que o influente soci6logo arne-

ricano Louis Wirth condudu os seus colegas a um caminho errado 1 quando os persuadiu de que seria melhor abordar esta Area de problemas com um conceito eclBtico de urna minoria. Ele estudou os agrupamentos que na Europa e na America contempor&neas se denominavam minorias e discutiu as suas caracterfsticas comuns. 0 que descreveu foi o conceito popular europeu e americano de minoria, que tem tanta relaclo com a anhlise sociol6gica como a concepclo popular de raqa com a an&lise das relaqdes entre os povos de diferentes cores de pele. Para Witrh, um grupo s6 6 urna minoria se se destaca pelo tratamento diferente que originam as suas caracterfsticas ffsicas e culturais e se os seus membros se consi- deram, portanto, objectos de discriminaqtio colectiva e tendem

novos agrupamentos: migrantes de uma regilo opostos a migrantes de outra, e um agrupamento de todos os africanos como oposto aos europeus. A medida que se formam os novos grupos, os seus I membros adquirem urna nova consci&ncia de si mesmos como mem- , ,,

i bros destes grupos, compartilhando interesses comuns corn os outros ; ."

I membros e reconhecendo que estlo em oposiqlo a grupos cuja 1 ! existgncia n lo conheciam anteriormente (Epstein, 1958: 231-40). j , Parece que, nos 6ltimos anos, se registou um grande increment0

na consci6ncia Btnica em todas as partes do mundo, embora seja dificil document&-lo e estar seguro de urna explicaqlo para o fen6- meno. *H& jovens judeus nos Estados Unidos que hoje reagem

. . . -. - . . .~ . i contra-a falfade vontade dos seu3 pais em participar nas ce_rim6nias

'ntuais dq _Judai_smo; as cnanqas-. estudam .hib&iio, _.visiiiirri I&ail, I filiam-se nas sinagogas ortodoxas e reinstituem os rituais do Sabath e outros; Niio 6, igualmente, Ac i l de 'expi icar"este'~s~bi~'~i inter~e 'entre os j'udeus da Uni% S~vi1tica em ailigrarein:fiia.Isra~l:.Mui~ 'dos emigrantes potenciais beneficiam de posiqdes privilegiadas e de 1 um nivel de vida na Unilo SoviBtica que s6 muito dificilmente poderlo recuperar em Israel; e, contudo, arriscam-se a ser punidos e perseguidos, e inclusivamente as famflias, por persistirem no desejo de emigrar. 0 s judeus sovidticos sofreram a discriminaqlo durante

I

muitas geraqdes. Entlo porque B que esta aparente mudanqa no sen- timento s6 agora apareceu? 0 caso judeu tem algumas caracteris- i ticas especiais por causa do estabelecimento relativamente recente do Estado de ,Israel (que por sua vez estimulou um processo de i etnogbnese entre os palestinianos), mas h& desenvolvimentos seme-

I'

lhantes em todo o mundo. No Canada e nos Estados Unidos o sen- timento ktnico parece estar a reviver. Em muitos paises da Europa, como na regilo basca de Espanha, na Btlgica, na Esc6cia e em Gales, poucas d6vidas poderlo existir sobre o seu significado. Na MalBsia, na fndia e em certas regides da Africa negra, as transformaqdes poli- ticas revelaram-se como um reforqo do alinhamento Btnico.

Tentar explicar as variaq6es do nivel de conscikncia Btnica atravks de uma h i c a causa seria repetir o mesmo tipo cle err0 do stculo IXIX. .Os fenbmenos a explicar slo variados e t&m ainda de ser ana1isados.-e cla~ificados,:mas; talvez. sejg necesi&?io fa= +

.-...+ uma distinqgo . bdsica entre o sentido da i'dentidade .... ttnica-a - - . ,1151, ~ - nacion~e.e.se..sentido4en~~~~doo .. . . . . . esiado-naqfio~~s.validades nacio- nais aumentam ... - o .. sentido .. da solidariedade . . nacionafe refo@Cmma

.-.- .... 'consciencializaq.lo .... da-peeenga.. .ktnBc_a.. as a promessa de paz.pode 1 igualmente promover a consciencia Btnica ao nivel inferior, dado qut--mpacita os - g r u p o y d . ~ t ~ - ~ o ~ , ~ S t a d o .para expressar.. og$eui Sentimentos d e diferenciaqlo sem desafiar a unidade mais vasta.

. - -. . .. . . . ~ s ~ u d - ~ - f i ~ - i s <c-&&'-i&;' g ~ o ~ ~ o ' ~ 61timos vinte. .ano;s.aumefi- 1 taram a importtincia das identificaq6es Btnicas dentro dm Estados.

A IDEIA DE R A C A

interesses e construct uma fronteira inclysiua. .,As bases das fron- teiras inclusives. slo, regra ,geral, as crengas sobre , a nacionaliie comum,,' &,,mesma etnia e a mesma religi60~.4s-cren~as .acera.-da raga serviram frequentemente de base para a formaggo de fronteiras

. .- '~xclusivas., Esta maneira de definir os gruqos raciais e kthicos taq- b6m.apr.esenta 0s seus problemas,.. dado. que a .ideologia racial das minorias.brancas, e a dos nazis, funcionou quer para-,definir,fron- - . .. ... . .. .... .. ,,, teiras inclusivas quer para estabelecer . . _ . fronteiras . exclusivas. .. ........,..I. Para

'c1assiBcar as diversas- inter-ielag6es possiveis entre fronteiras inclu- sivas e exclusivas em diferentes circunsthncias, tornar-se-ia neces- sfiria urna tipologia complexa, mas para os objectos deste capitulo 1150 6 obrigat6rio entrar numa anklise comparativa. 2 suficiente notar que se as minorias racicas e etnicas forem definidas em termos de fronteiras, como sugeriu peIa primeira vez Michael IH. Lyon (1972), isso capacita o estudioso a olhar para as forgas sociais de ambos os lados, o que define as unidades sociais envolvidas no processo. TambCm leva a distinguir os valores, culturalmente trans- mitidos, das prkticas sociais, dado que urna crenqa sobre a natureza da r a p pode ser vista como um elemento definidor da fronteira e a pr6pria fronteira como urna forqa de manutengb da crenqa. Do mesmo modo, as mudanqas na natureza de urna fronteira podem /// ser relacionadas com mudancas nos grupos a que dizem respeito.

Pelo exame do tipo de fronteira e da justificag&o avanqada para o sustentar, pode-se chegar A definigHo dos tipos de minorias. Uma minoria racial cria-se quando a oposi$-io ,@_incorp!xa$go social1

', 3e . ._ uma . .._.___..- min~ria--e:justifiCada em*'te?mos ,das caracter@ticas_ here- ditfirias dos membros da minoria, especialmente com .base. noslxqos _ -... .. . - . . . f i s i~o i i sSc~ados com a . cor, da pele e nas doutrinas da tipologia

. . . . . . - - . .-.. --...- f+ii["& stcufo x i ~ . A insistsncia por paite de uma elite 'em manter dis'tin@j&i "d'&.-tip ' c u l t u ~ l " e , . . . . . . . . politico - como naYAfri+i',,*-_SUl,-+ p6de- fesiiltiF~~si.~.6rii$~ooo ,de u m a : maioria racial. wC AS I..-l. justifica~des .. .- --.. _ ii-Eia;i$ podti~~iambCm. ser usadas paxa a.manuten~ao . de . . m a mlnp ria pu;amente _ . voluntkria,inclusiva, . . mas na prktica, durante o dltimo. sCculd,~: a caracteristica sociol6gica , principal das relag6es conside I.-. . , radas' .&i;icf&r.-EA' _ . &E;ei;~olviam uma categoria da p$ulaqgo ' c o n t ~ - ~ ~ q ~ I - s e tinham erigido fortes barfeiras -dais-.Umzr'minC- - --. I . _ _ . . Aa nacional abarca pessoas que' B o cidad&os de out&' Estado, ou que se olham a si pr6prias como tais, reivindicando urna revisgo do mapa politico para que o seu estatuto seja reconhecido e para que eles possam viver corn os seus concidadgos da mesma naciona-

, lidade. Um movimento nacionalista C um movimento que pressiona i

.yl no ent ti do de obter o reconhecimento de um novo estado-naqBo. / Uma minoria ktnica 6 urna minoria que cultiva uma diferenga 1 baseada na descendsncia comum e que quer ver este facto reco- \ nhccido no Estado em que vivem m seus membros. Uma classe

a desenvolver atitudes diferentes que os afastam ainda mais da sociedade global (Wirth, 1945: 347). Wirth classificou as minorias segundo a sua orientaggo para a sociedade global, mas n5o explorou

-'(o significado das rela~des sociais das diferentes espCcies de caracte- I risticas ffsicas e culturais que as singularizam. Ao insistir que o con- oeito de minoria ngo era estatistico, que um grupo pode ser superior . ii 50 por cento da popula$io. c ainda constituir urna minoria, Wirth foi seguido por outros autores igualmente influentes na sua geracHo (por exemplo, Wagley e Harris, 1958: 10).

A definiggo de Witrh combina.nuitas-ca.r-acleristicas ,que podem , ser iridividualizadas com utilidade, Desvia a a&ng%o das. . diGis6es

dentro das minorias :e da nature% d a . pnidade . -. - -. den&.-d,%. . . .. .- qual- urn-- 'grupo constisuma-minoria, Entra em oposigHo com a utifizaq~o

I

-- n o r m X o f e r m o , que permite a urna pessoa dizer que os cat6licos sZo urna maioria na cidade de Boston mas urna minoria no estado de Massachusetts ou nos Estados Unidos da Am6rica. Se urna minoria 6 definida numericamente, fhcil sera identificar minorias dentro de minorias e aplicar o termo a grupos linguisticos, religiosos, privilegiados, e assim por diante. Segundo a definiqgo de Wirth, os negros na Africa do Sul sZo uma minoria, embora constituam bas- tante mais de metade da populagBo. Se os negros conquistassem urna

i ,.- maior p_articipa~Bo. no poder-.polftico 'pod&riC chegar um momen&

i

-.,I - ~. ~. - em que seria dificil chegar a acordo sobre se eles eram ou nHo ;ma. -iniKoiia; segundo a definigtio de Wirth. Por outro ladb, & evidente ,.poder-se afirmar que eles constituem urna maioria.numtriCa njhs urna minoria polftica (apesar de tal afirmacgo partir. da suposis50 de ciue o poder se pode medir) e que, alCm disso, se encontranl divididos em diversas minorias Ctnicas (zulu, khosa, venda, etc.):

,Na maior parte das situagdes intergrupais, as minorias s5o .- '' definidas de dois modos diferentes: por si mesmas e pela maioria.

A classificac~o das minorias feita por Wirth, em assimilacionistas. pluralistas, secessionistas e'militantes, estfi relacionada com as poli-

'ticas das minorias e nZo leva em linha de conta as variaq6es nas

I disposigdes da popuIagHo maioritkria. A abordagem qu? aqui se

. ,:.;\.+, defende parte do principio de que hh duas fronteiras, urna de

\A\; - inclusZo, reflectindo o reconhecimento que os membros da minoria t6m uns dos outros como pertencentes a urna unidade, e ulna de exclusZo, que reflecte o. mod0 como a seccHo mais poderosa da

I popu1agHo define urna categoria social menos poderosa conlo um grupo que deve ser posto de lado (e que pode ser urna maioria numkrica). Quando urna minoria ?e isola, a maioria respondera. segundo t0d%>6~~obabil~dades; tra3ando urna fronteira .qile a ejrclui de certo tipo de relagdes sociais. <Quando urna maioria ,exclui .un~a: categoria da populaCHo da participagBo em qualquer drea da vida social, o normal 6 que esta se mobilize em defesa dos seus pr6prios

. .

A IDEIA DE RAGA

social pode tambCm ser uma minoria com fronteiras exclusivas e inclusivas, tal como urn grupo religioso. A formacb de urna

>) minoria Ctnica depende de uma crenga existente entre os membros da minoria de que a natureza da sua ascendgncia comum exige ou justifica a sua junciio e ela seria mais fticil se a maioria compar- tilhasse tambbm, por sua vez, essa mesma crenca. Neste ponto 6 que a natureza do Estado em que vivem se pode revelar de importhncia primordial. Em algumas sociedades, C normal que qualquer cidadTio tenha uma identidade etnica e nacional, mas, em outras, o ideal da cidadania comum 6 suposto de superar os particularismos Btnicos e os sentimentos etnicos sgo ma1 vistos e pouco encorajados. Nas Areas em que o Estado se identifica com urna dada religi5o (corno nos pafses islhmicos e em Israel) haverti menor tolerhcia para as organizacdes Ctnicas com aspiracdes a separaciio. A formaciio das minorias ktnicas e a esfera de ace80 que Ihe 6 reconhecida depende portanto de uma crenFa comum na legitimidade das organizaqdes de base etnica.

Uma caracteristica importante de classificaeiio que defendemos e que ela toma em considerac8o o facto de urna minoria ser simultaneamente Btnica e racial e as mudancas nas relacbes entre as fronteiras inclusivas e exclusivas. A hist6ria dos negros ameri- canos principia como a hist6ria de individuos capturados entre urna variedade de povos da Africa Ocidental e logo separados da sua cultura traditional. Ao principio eram uma categoria, uma minoria racial constitufda pelas atitudes e pelo comportamento dos brancos. A partir da sua expenencia elaboraram urna heranca comum e a vontade de se identificarem uns com os outros. Tornaram-se um grupo, A discrimina~iio continuou e um negro americano n8o se pode unir B maioria branca do mesmo mod0 que o pode fazer um imigrante branoo da Europa, mas esse imigrante tambCm nso pode juntar-se ao grupo negro. 0 s negros americanos tornaram-se urna minoria Btnica e urna minoria racial. Por outro lado, os asititicos entraram na Africa Oriental como urna sCrie de minorias Ctnicas e religiosas (goeses, guzarates, sikhs, ismaelitas, mu~ulmanos, etc.), isolados por fronteiras inclusivas. A sua auto-segregacTio chribuiu para o crescimento da liostilidade dos africanos contra eles, que eram vistos como uma h i c a categoria, de tal mod0 que na dltima fase da sua permansncia no Uganda todos os asititicos formavam uma minoria'etnica. 0 s judeus na Europa Oriental ilustram uma sequ6ncia diferente nos finais do sCculo .iXIX. Constituiam simulta- neamente uma minoria racial (pelo que eram frequentemente. mar- ginalizados e perseguidos pela maioria) e urna minoria Ctnica (pois possuiam as suas pr6prias instituicbes e encaravam o casamento fora do grupo como uma vergonha). 0 s que emigraram para Nova Iorque descobriram que o seu sentimento de identidade j6 n5o era

reforeado pela hostilidade dos outros. Tiveram de desenvolver novas instituicbes para responder ao novo desafio da assimilacgo. Logo que a fronteira exclusiva enfrequeceu, os membros da minoria tra- taram de reforcar a fronteira inclusiva.

Embora os Estados Unidos se destaquem pelo n h e r o das duas minorias etnicas, a diversidade de tipos de minorias C provavelmente maior no Reino Unido, de mod0 que a classifica~80 proposta sera muito melhor testada no material brithnico. 0 Reino Unido 6 urn Estado que contem trss nacbes: ingleses, galeses e escoceses. A populaeiio que vive na provincia da Trlanda do Norte k cultural- mente diferente da que habita o resto da ilha; encontram-se politi- camente divididos e a identificacgo religiosa (ou secttiria) C frequen- temente utilizada como urn indicador do alinhamento politico. HA lambem diferencas culturais entre as duas seccdes. Embora os unio- nistas na ,Irlanda do Norte sejam uma maioria numkrica e politics, em relacgo ao Reino Unido eles oonstituem uma minoria Btnica que, ao mesmo tempo que cultiva os tracos caracteristicos do seu grupo, esth satisfeita em permanecer com a cidadania do Estado. 0 s repu- blicanos siio urna minoria nacional, dado que querem ser cidadiios da Rep~blica da Irlanda. HA tambCm votantes cat6licos que se opkm aos unionistas, mas cuja atitude relativamente ik Repdblica B mais equfvoca. Mas, do ponto de vista de que o Estado irlandes deve integrar os seis condados, siio os unionistas no Norte que aparecem como uma minoria nacional. A distinc5o entre nacionalidade e cida- dania tem interesse para a Sociologia, embora niio seja reconhecida cluando us cidadiios do Reino Unido pedem o passaporte. Nessa altura dizem-lhe que a sua nacionalidade C brianica, em vez de inglesa, galesa ou escocesa. Esta prtitica reflecte a suposic50 de que a nacgo e o Estado s5o duas express6es do memo corpo popular, mas, como demonstram os desenvolvimentos normais do Reino Unido, as relacdes existent= entre as nacionalidades e o Estado s5o relacbes em transformac50.

Entretanto, instalaram-se em Inglaterrra minorias asititicas com um certo significado. 0 s imigrantes hindus constituem uma. minoria nacional que se divide e m minorias etnicas, como os sikhs e 0s guzarates. 0 s paquistaneses Go uma minoria nacional com um estatuto constitucional ligeiramente diferente, jB que os paquista- neses abandonaram a Comunidade. EstTio divididos em minorias ktnicas (mirpuris, chhachhis ou campbelIpuris, outros grupos do Punjab e Pathans). 0 s ingleses ngo t6m normalmente conscihcia destas divides Ctnicas e podem muito bem encarar todos os asih- ticos como um dnico grupo. PorCm, os askiticos andam longe de se unir, mesmo ao nfvel do grupo Ctnico. As ideias da origem Btnica e da identidade ktnica derivam de um mod0 de pensar sobre a linha de ascendsncia, que 6 como as sece&s de urn telesc6pio que podem

A IDEIA DE RAC.4 I ser congregadas ou montadas umas sobre as outras. Em certas cir- t cunsGncias, as pessoas identificam-se com determinados grupos de acendencia, desde a familia em que vivem at& Iinhagem ou cl5, de mod0 que os segmentos de uma linha de ascendencia sSio como as sec~8es de um telesc6pio. Noutras circunstincias, 6 precisamente um pequeno grupo de pessoas estreitamente relacionadas por laqos familiares que se juntam, mas, as vezes, C urn desafio externo que estimula a constituiqlo de urna sCrie cie grupos. As divisdes Ctnicas de urna minoria nacional podem ser tambem identificadas com diferentes posiq6es nurna escala de estatutos sociais ou estar baseadas numa divido religiosa, de mod0 que ha sempre a possibilidade de se formarem diversas aliancas entre grupos, dependendo da natu- reza dos estimulos que se exercem sobre eles.

Neste momenta parece ser evidente urn argulnento funda- 1 mental subjacente a organizaq80 social. Afirma que a sociedade humana utiliza as diferen~as e as relacdes naturais como urna

1 maneira de organizar as relacdes sociais (cf. Banton, 1967: 55-68). HB uma diferen~a sexual entre homem e mulher e ha relaqde~ I

\ de carhcter biol6gico entre pais e filhos. As sociedades humanas desenvoIvem papCis adequados ao gknero, mas que v8o mais alCm dos imperatives ditados pela sexualidade. Elas criaram princfpios i de parentesco que ultrapassam os principios da genttica e as relaqdes necesshrias para a educaqlo das crianqas. 0 s individuos utilizam

i tambBm as diferencas fisicas, que siio consideradas raciais, para ajudar a criar e a identificar os papCis sociais. Utilizam o patrim6nio comum em materia de lingua, cultura e expenencia compartilhada, para desenvolver as noq6es de nacionalidade. Alguns te6ricos pode- rSo dizer que, sobre as divisdes do trabalho que originam, as socie- dades formulam as ideologias das relaqdes de classe, e embora esta anWise sugira urn diferente tipo de relaclio, ha suficientes seme- lhan~as para ter em conta esta abordagem.

Ji5 se propds urna definiqgo de minoria, mas falta ainda escla- recer o que e a etnicidade. Tal corno a nacionalidade, deve ser encarada como uma qualidade compartilhada, ((uma condi~lo de 1 pertenca a urn grupo etnico)) (para seguir o Diciondrio dg Ingl2s de Oxford), mas com a particularidade de os lnembros significativos

\ terem consci&ncia de pertencer ao grupo. Eles pensam que o grupo possui um caficter ttnico e este caracter e aceite peIos outros como tal. A exigencia de que um grupo ttnico seja urn grupo autoconsciente distingue-o daquilo que os etnbgrafos sovikticos denominam o etnos ou a comunidade ttnica, um grupo de pessoas possuindo o mesmo tip0 de vida comum, mas que nSto se encontra cornprometido num process0 de competiqBo por recursos corn outros grupos semelhantes. Eles encaram estas comunidades como ctunidades b8sicas)) que exis- tern antes da conscisncia Btnica (Bromley, 1974: 19-23). Em ingles,

estes grupos podem ser perfeitamente denominados ethne (plu- ral de ethnos) para captar este sentido primordial. Ha exemplos contemporlneos que podem ser examinados entre algumas das pequenas sociedades das florestas da Nova Guine, cuja existkncia s6 recentemente se tornou conhecida para o Mundo Ocidental. Estando isoladas e tendo pouco contacto corn outros povos ou ethne, os individuos nessas sociedades n8o poderiam ter o mesmo nivel de conscikncia que surge em iireas onde os povos mantCm um contacto regular. JA antes se fez referCncia aos africanos que dei- xavam as suas sociedades tradicionais para se juntarem B sociedade heterogknea das cidades mineiras. 0 que se denomina cttribalismo)) e uma manifesta~tio de etnicidade que se desenvolve nas cidades corno urna resposta a rela~Ses sociais competitivas.

Ningutm 6 obrigado a ser membro da mesma minoria Btnica ou religiosa de seus pais porque, se o individuo for suficientemente determinado, pode romper com essa identidade e integrar-se corn qualquer outro grupo. As vezes, a oportunidade para abandonar a identidade dos pais e extremamente pequena ou os custos proibi- tivos, mas em geral pode-se encarar corn grandes probabilidades a identifica~go religiosa e ttnica como urna op@o individual e como um elemento da f o r m a ~ l o de minorias volunthrias. Este 6 um dos principais impulsos que e s t b por detrhs das mudancas das fronteiras e leva-nos a voltar ao debate das inter-relaqbes entre os dois tipos de fronteiras. 0 nivel da consciencia Btnica e influenciado pela a c ~ 8 0 dos individuos que procuram mobilizar o sentimento ttnico para a obtenqlo dos seus objectives, que normalmente s5o de caracter material. 0 s indios choctaw, do Mississipi, fornecem urn bom exem- plo, que jb anteriormente se referiu. A sua hist6ria sugere que, de 1930 a 1960, mantiveram urn sentimento de identidade, de mod0 que, quancio as oportunidades aumentaram, eles forarn capazes de se organizar coma um grupo diferente dos outros. A publica~lio em 1964 da lei dos Direitos Civicos e as suas disposiq6es relativa- mente ao emprego abriram as portas da inddstria local aos choctaw. 0 emprego na indlistria aumentou rapidamente. Regist~u-se, por- tanto, um grande increment0 nos fundos disponiveis n a Agkncia choctaw e no ConseIho Tribal Choctaw, que iniciou um programa que conseguiu, pela primeira vez, o acesso dos choctaw a lugares profissionais e directivos. Em 1968 reobtiveram o direito de adminir trar a justiqa ao seu pr6prio povo e na sua propria terra, e comecou entlio a funcionar um tribunal tribal que era o primeiro depois de 140 anos de audncia. A forma~iio da Tribos Unidas do Sudeste testemunha o poder crescente dos govemos tribais e a crescente consciEncia do povo de possuir urna identidade diferente como indios do Sudeste (Peterson, 1971: 123; 1972: 1289. Para um estudo parti- cularmente instrutivo da influkncia do interesse de cIasse sobre

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a formaciio de grups Ctnicos chineses na Jamaica e na Guiana, ver Patterson, 1975).

0 caso dos lapdes na Escandinkvia oferece urn exemplo muito similar, mas completamente estranho it influencia do desenvolvi- mento americano. &la cerca de 10 000 lapdes na Suecia e 22 000 na Noruega, e menores quantidades na Finlgndia e na UniHo SoviCtica. A partir de 1960 registou-se um increment0 na organiza~fio etnica dos lapdes na SuCcia e nos seus sentimentos etnicos, coisa que nHo tem ainda paralelo na Noruega, embora aqui constituam uma pro- pore80 maior na populac80. 0 s acontecimentos na SuCcia tbm mais interesse porque os lapdes constituem a 6nica minoria indtgena no pais, e B um grande avango para um pais, jk de si quase homo- g6neo (que sublinha fortemente a igualdade constitucional Entre todos os seus cidadiios), considerar certos cidadiios como formando parte de um grupo especial que merece urna representaciio de tipo diferente daquele que C normalmente atribuido aos outros grupos dentro da popula~iio maiorit8ria.

0 s lapdes suecos formaram uma associae80 em 1950 denorninada Svenska Samernas Riksforbund (SSR). Doze anos depois surgiram dois importantes desenvolvimentos com grande relevkincia para eles. Um, foi a reforma do governo local, que deu a todas as cidades, inclusive as cidades lap6nicas (dado que o termo cidade 6 utilizado para pequenas instalacdes), o direito de terem os seus pr6prios con- selhos. 0 outro foi a decisiio do governo central de nomear urn ombudsman especial para os lapdes, fazendo-o responskvel perante o SSR. Este facto foi extremamente importante porque os pIanos que incluiam a construciio de estacdes hidro-elkctricas nas montanhas do Norte, de reservat6rios, de bases de foguetdes, de novas estradas, a exploraqHo de novas minas, e assim por diante, iam privar de pastos as manadas pertenca dos pastores lapdes e interferir seriamente com as rotas dos seus rebanhos nas desloca~des de transurnfincia entre os pastos de Verfio e de Inverno. 0 ombudsman dos lapdes levou alguns destes casos a tribunal e obteve, para os seus clientes, acordos impossfveis de alcancar sob os antigos procedimentos. Por exemplo, urna proposta norueguesa no sentido de afastar os lapdes suecos de algumas das suas pastagens tradicionais do lado ocidental das montanhas levou a uma acego judicial em que o Supremo Tri- bunal de Justica noruegues condenou as propostas oficiais norue- guesas como contrkrias a um c6dice associado a um tratado de 1751. 0 6xito destas ac$c?es tem estimulado a moral dos lapdes e a sua organizaciio, que 6 realmente impressionante, porque os lapdes vivem normalmente em pequenas comunidades espalhadas a enormes dis- tdncias umas das outras e com comunica~des extremamente pre- c8rias. 0 Conselho N6rdico dos 'Lapdes, fundado em 1953, para

ETNOGENESE

agremiar os lapdes residentes em diferentes paises, tem alcancado um reconhecimento cada vez maior. A ideologia do SSR modificou- -se. Em lugar de se considerar urna associa$iio volunthria represen- tante de um grupo de interesses, apresenta-se agora As autoridades suecas como o organismo que deve represeritar os lapdes em todas as matCrias que lhes digam respeito, como membros de um grupo Ctnico (Svensson, 1973). As vezes falam de si pr6prios como a ctnaefio lap6nica)) e recentemente fundou-se um partido politico lapiio. 0 reforco da sua consciencia Btnica esta claramente ligado a inte- resses materiais caracteristicos, embora niio se explique exclusiva- mente atrav6s deles. A acciio do governo sueco, ao criar e encorajar urna estrutura de base para a organizaciio Ctnica, B um dado funda- mental para explicar as diferen~as registadas entre os desenvolvi- mentos da minoria na Sutcia e na Noruega.

0 exemplo dos lapBes 6 ainda importante noutro sentido. & relativamente fficil para os membros de uma minoria identificarem- -se como um grupo Ctnico, se vivem numa sociedade que reconhece a etnicidade e na qua1 se espera que as pessoas tenham uma iden- tidade Ctnica, corno, por exemplo, na Nigeria e em certas regides dos Estados Unidos. PorCm, 6 muito mais dificil atingir este objec- tivo numa sociedade que define as divisdes Ctnicas como ilegitimas ou transit6rias. Embora as oportunidades e a resistencia sejam diferentes de lugar para lugar, a forqa fundamental que estk por detrhs de movimentos como o dos choctaw e o dos lapdes C a de que, ao organizarem-se como minorias Btnicas, os membros da minoria podem obter vantagens materiais de carficter individual. A organizaciio da minoria fornece servicos aos seus membros. Ajuda os lapdes a controlar um nicho ecologico e econ6mico carac- terfstico, ao defender o seu monop6lio legal sobre os rebanhos de renas. Em muitas cidades industriais, a f o r ~ a de trabalho em certas secedes 6, em grande parte, fonnada por urna minoria e as pessoas que af trabalham ttm muitas facilidades em empregar os seus familiares e amigos quando aparecem vagas. Ao estreitar e reforcar os laqos familiares (que sgo uma defesa em tempos de dificu1dade.s) e ao dar uma base para a formaqiio de clubes de credit0 e outras formas de ajuda mbtua, as organizacdes Ctnicas apoiam a formaciio de capital, que C um dos factores mais decisivos na mobilidade vertical ascendente das minorias.

0 s membros de pequenas minorias como os choctaw e os lapdes t6m uma posiciio social idbntica (participando na mesma classe social), urna experigncia semelhante de tratamento discriminat6rio por parte da maioria e um sentimento comum de pertenea a um grupo 6tnico ou naciond. 0 s negros americanos tinham um sentimento mais fraco da diferen~a natural e as suas maiores esperancas de progress0

ETNOGENESE

guntando a sua audigncia negra se, nessa circunsthcia, eles deviam adoptar pura e simplesmente os ideais dos americanos.

social cifravam-se na mobilidade ascendente de mod0 que conse-

ctIsso significa que deixariamos de ser negros e passariamos a ser brancos do ponto de vista da acqso, ou at6 mesmo complemente brancos.

Fisicamente, significaria que poderfamos ser integrados nos ameri- canos, perdendo em primeiro lugar todas as evidhcias fisicas de cor de tip0 racial. Perderiamos a nossa mem6ria da hist6ria negra [...I )) (Du Bois, 1975: 46).

guissem ser aceites por causa do seu estatuto, apesar de a cor da pele militar em contrkrio. Mas, n5o obstante os individuos subirem e as barreiras terem sido eliminadas nos anos 50 e 60, a meta parecia ser inatingivel. Apesar do rendimento crescente da minoria negra e das diferen~as de estatuto dentro dela, os negros de classe mCdia afas- taram-se das vagas perspectivas da assimila~50 e, q u i ~ k encorajados pela imagem positiva dos lideres negros africanos, comecaram a iden- tificar-se mais segundo as linhas de cor. Tornou-se entiio aparente urna tendhcia para falar dos negros americanos em vez dos ameri- canos negros, o que implicitamente sugeria que os americanos negros tinham mais em comum com os negros africanos que com os ?me- ricanos brancos. Tambtm implicit0 na Cnfase desta diferenqa se encontrava um novo mod0 de utilizar a palavra raca.

0 s soci6logos do dculo IXLX tiveram boas razGes, mas talvez n5o suficientes, para negar aos agrupamentos nacionais um lugar importante nos seus esquemas conceptuais. Mas esta atitude demons- trou estar errada. A nova doutrina do nacionalismo, para o bem ou para o ma1 - e Kedourie, pel0 menos, pensa que foi para o ma1 -, capturou a imagina~lo dos homens e as naq6es converteram-se em importantes unidades. Do mesmo modo, os soci6logos modernos negaram que a semelhanca do tipo racial levasse naturalmente a formac5o de urna unidade social, mas o curso dos acontecimentos demonstrou que tambtm aqui a teoria necessita de revislo. Existe urna diferenca importante entre os dois casos porque, por definiciio, nZio hB naq5o alguma que possa ser inerenten~ente melhor que outra qualquer, enquanto as raqas siio supostas de ser desiguais. As racas s6 se podem tornar agrupamentos aut6nomos na sociedade quando os grupos anteriormente subordinados aceitam as designaqbes raciais do .mesmo modo que as nacionais, e quando o preconceito da desi-

Embora a identificaciio racial fosse primeiramente utilizada pelos brancos como um instrumento para manter os negros disthncia,

Du Bois usou-a para evocar a solidariedade negra. Parece haver agora alguns negros americanos tambtm inclinados em utilizar essa identificaclo para promover a consciencializa~iio ttnica como urna base para urna fronteira inclusiva e, se assim for, isso n5o deixarh de assinalar urna nova fase na carreira da ideia de raca. I

gualdade t superado. Suspeito que um process0 deste gtnero comeqou por volta de 1960. Foi como se os lideres negros nos Estados Unidos declarassem: ctVocCs definem-nos como um grupo racial. Perfeita- mente. Aceitamos esse r6tulo. Vamos mostrar-vos que a nos& posiciio subordinada niio 6 unl resultado da nossa natureza fisica mas sim da nossa posi~iio social e politics. Provaremos este facto pondo fim

nossa subordina~50 e mantendo as nossas caractensticas raciais.)) Houve sempre alguns negros que se identificaram a si mesrnos

racialmente. W. E. B. Du Bois, numa confersncia proferida em 1960, com a idade de 92 anos, disse que estava a vista o momento em que os negros poderiam reivindicar a igualdade social e civil completa. ((Isso 1150 representad, como muitos h8o-de pensar, um fim para o denominado problema negro, mas sim o principio de problemas ainda mais dificeis de raca e cultura.)) E continuava, per-