etnologia_bovina

87
BOVINA

Transcript of etnologia_bovina

Page 1: etnologia_bovina

BOVINA

Page 2: etnologia_bovina

A ETNOLOGIA, em sentido lato e na concepção mais usual, é definida como o estudo dos povos ou do homem em associação cultural fundamentada na filogenia (daí que o estudo do parentesco seja o centro das suas preocupações, como afirmaram COPANS et al., 1971), e consolidada por princípios linguísticos, religiosos, morais, etc.

* Há múltiplas definições de Etnologia e, até, concepções contraditórias, fundamentalmente na sua relação com a Antropologia, mais propriamente com a Antropologia Física. Em Zootecnia foi adoptada, para o estudo das raças, o conceito de Etnologia como ciência dos povos, no sentido de “colectividade”.

Page 3: etnologia_bovina

Em Zootecnia, e na sua definição mais simples, a Etnologia é a ciência que estuda os caracteres distintivos dos animais pertencentes a uma espécie, com vista a agrupa-los em unidades produtivas homogéneas

ou, como na definição de SOTILLO e SERRANO (1985), «a parte da Zootecnia que se ocupa do estudo e classificação

das raças dos animais explorados pelo Homem ››.

Page 4: etnologia_bovina

CORNEVIN (1891), no seu "TRAITÉ DE ZOOTECHNIE

GÉNÉRALE", salientou que o primeiro objectivo da

Zootecnia, como ciência, é identificar as raças de

animais domésticos, isto é, perceber, no contexto

da espécie, as diferenças morfofuncionais

persistentes ao longo de gerações sucessivas e

capazes de definir um dado "tipo constitucional".

Page 5: etnologia_bovina

Os caracteres subespecíficos, desde

que hereditários, e

correlacionados, designam-se

por étnicos e constituem os

componentes estruturais do

"standard racial".

Page 6: etnologia_bovina

Plástica e fanerótica (caracteres ditos físicos);

Comportamental (caracteres psíquicos e físico-patológicos);

Page 7: etnologia_bovina

Compreensão da origem e evolução;

Page 8: etnologia_bovina

manifestações fenotípicas em função das mudanças ecológicas.

Page 9: etnologia_bovina

O primeiro vector, descrição dos caracteres étnicos, determina o tipo racial, ou seja, o modelo étnico identificador do grupo, e baseia-se no reconhecimento comparativo dos acidentes morfológicos, tais como:

-variações de localização, forma e cor de determinados órgãos;

-variações de perfis de determinadas regiões corporais;

-variações de medidas, pesos e respectivos índices (ditos de significância etnológica) dos indivíduos;

-variações de expressão fenotípica das suas funções orgânicas.

Page 10: etnologia_bovina

O segundo estuda a filogenia ou evolução

genética do grupo desde o ancestral mais antigo

até à actualidade com principal realce para a

comparação do agriótipo (antecedente pré-

histórico) com os antecedentes históricos e o

modelo actual.

Page 11: etnologia_bovina

O terceiro sistematiza as

propriedades fisiológicas,

histológicas e bioquímicas do

organismo definidoras da

constituição interna e

determinantes da correlação entre a

disposição orgânica e a função

produtiva do grupo.

Page 12: etnologia_bovina

2- CLASSIFICAÇÃO ZOOLÓGICA DAS ESPÉCIES DA SUB-FAMÍLIA BOVINA

As relações étnicas que suportam a filogenia

e a própria definição de raça estão contidas

na matriz biológica das várias espécies

organizadas na sub-família Bovinae.

Page 13: etnologia_bovina

2.1- ENQUADRAMENTO TAXONÓMICO DA SUB-FAMÍLIA BOVINAE

A classificação zoológica das diversas formas vivas toma

como entidade básica a espécie, agrupa as espécies,

segundo semelhanças, em géneros, géneros semelhantes

são agrupados em famílias, estas em ordens, as ordens

em classes, podendo ainda utilizar agrupamentos

intermédios como, sub-espécies, sub-géneros, sub-

famílias, sub-ordens e sub-classes. Para englobar as

várias classes existe um grupo superior, o tipo (phyllum),

com os correspondentes sub-tipos (subphyllum).

Page 14: etnologia_bovina

Propostas de ordenação

A classificação e a nomenclatura zoológica

respectiva dos animais da sub-família Bovinae

têm suscitado alguma controvérsia, pelo que

se mantêm as várias propostas de ordenação,

ainda que umas reúnam mais consenso do

que outras.

Page 15: etnologia_bovina

A hierarquia LINEANA (tabela 2.1), enquadra as

várias formas da sub-família Bovinae que povoam

actualmente o globo, em dois géneros, o género

Bubalus e o género Bos, uma vez que as formas

que pertenciam ao género Leptobos, estão

extintas.

Page 16: etnologia_bovina

PHYLLUM: Chordata SUB-PHYLLUM: Vertebrata CLASSE: Mammalia ORDEM: Ungulata SUB-ORDEM: Arctiodactyla Ruminantia FAMILIA: Bovidae SUB-FAMÍLIA: Bovinae

GÉNERO: Leptobos GÉNERO: Bubalus SUB-GÉNERO: Bubalus anoa ESPÉCIE: Bubalus depressicornis - búfalo Gamuza ESPÉCIE: Bubalus mindorensis - búfalo das Filipinas SUB-GÉNERO: Bubalus bubalus ESPÉCIE: Bubalus bubalis - búfalo da água ESPÉCIE: Bubalus caffer nanus - búfalo do Congo ESPÉCIE: Bubalus caffer - búfalo de Cafreria, ou do Cabo ESPÉCIE: Bubalus caffer brachycerus - Lago Tchad ESPÉCIE: Bubalus indicus - búfalo de arni GÉNERO: Bos SUB-GÉNERO: Bibos ESPÉCIE: Bibos gaurus - gauro ESPÉCIE: Bibos frontalis - gaial ESPÉCIE: Bibos banteng - bantengue SUB-GÉNERO: Phoephagus ESPÉCIE: Phoephagus grunniens - iaque SUB-GÉNERO: Bison ESPÉCIE: Bison bonasus - bisonte europeu ESPÉCIE: Bison bison - bisonte americano SUB-GÉNERO: Bos ESPÉCIE: Bos taurus - bovinos ESPÉCIE: Bos indicus - zebuínos Tabela 2.1 - Classificação da sub-família Bovinae, adaptado da hierarquia LINEANA.

Page 17: etnologia_bovina

Para HILZHEIMER a sub-família Bovinae divide-

se em quatro géneros, coincidindo com a

hierarquia anterior apenas a ordenação dos

búfalos, (género Bubalus), passando as outras

espécies a distribuírem-se pelos géneros Bison,

Bibos e Bos (tabela 2.2).

Page 18: etnologia_bovina

I. GÉNERO BUBALUS inclui todos os búfalos.

II. GÉNERO BISON inclui os bisontes.

III. GÉNERO BIBOS inclui as espécies designadas por

bibovinas, isto é, bantengue, gauro, gaial, iaque e zebú.

IV. GÉNERO BOS inclui a espécie Bos taurus ou gado

bovino europeu actual.

Page 19: etnologia_bovina

A classificação de DUERST, que foi baseada

no desenvolvimento do crânio, estabelece

três géneros, como a hierarquia LINEANA,

mas com um enquadramento diferente

(tabela 2.3).

Page 20: etnologia_bovina

I. GÉNERO BUBALUS, inclui todos os búfalos.

II. GÉNERO BISON, inclui os sub-géneros Phoephagus

e Bison, isto é, o iaque e os bisontes europeu e

americano.

III. GÉNERO BOS, inclui os sub-géneros Bos (Bos

taurus e Bos indicus) e Bibos (bantengue, gauro e gaial).

Page 21: etnologia_bovina
Page 22: etnologia_bovina

O género Leptobos é dado como extinto desde há

muito e as suas espécies constariam de uma

série de formas parecidas com as dos antílopes

que teriam povoado a Europa e a América do Sul

durante o plioceno .

Estes animais segundo alguns autores situar-se-iam na escala zoológica entre os bovinos e os antílopes.

Page 23: etnologia_bovina

• O género Bubalus, com a designação comum

de búfalos, divide-se em dois sub-géneros, o

Bubalus anoa e o Bubalus bubalus.

Page 24: etnologia_bovina

Fig. 2.2- Anoa depressicornis planície (esquerda), Anoa montanha (direita).

O subgénero Bubalus anoa engloba duas espécies de búfalos com formas morfofuncionais consideradas bastante primitivas: a espécie Bubalus anoa depressicornis (Fig. 2.2) designada vulgarmente por búfalo gamuza e com origem nas ilhas Celebres, e a espécie Bubalus anoa mindorensis ou búfalo do Mindoro, mais conhecido por tamaraw (figura 2.3), que habita, para além do Mindoro, as Filipinas.

Fig. 2.3- Anoa mindorensis

Page 25: etnologia_bovina

Fig. 2.4- Bubalus caffer nanu e Bubalus caffer sparm

O subgénero Bubalus Bubalus enquadra várias espécies, sub-espécies e mesmo variedades de búfalos que se distribuem pelos continentes Africano, Asiático e Europeu.As espécies africanas encontram-se todas no estado selvagem e distinguem-se perfeitamente das asiáticas pela forma craniana e pelo desenvolvimento dos cornos. As suas espécies principais são a Bubalus caffer nanus, a Bubalus caffer sparm e a Bubalus caffer brachycerus.

Page 26: etnologia_bovina

Fig. 2.5- Bubalus bubalis, ou búfalo da água.

No continente asiático, existem duas espécies, uma selvagem, o Bubalus indicus, e outra doméstica, o Bubalus bubalis.

A espécie Bubalus indicus, designada por búfalo de arni ou simplesmente búfalo indiano, é de grande corpulência, com cerca de 180 cm de altura à cernelha, vulgarmente de cor castanha cinza com zonas mais claras, e habita desde a Índia até à Mesopotâmia (chegando na época das primeiras dinastias egípcias até ao Norte de África).

A espécie Bubalus bubalis, ou búfalo da água (figura 2.5), é subdividida em duas sub-espécies, a Bubalus carabanesis e a Bubalus bubalis propriamente dita.

Page 27: etnologia_bovina

• O género Bos tem quatro sub-géneros, Bibos,

Phoephagus, Bison e Bos, todos com uma

conformação craniana muito semelhante,

fecundos nos seus cruzamentos recíprocos e

com o género Bubalus, mas, neste caso, os

descendentes são estéreis.

Page 28: etnologia_bovina

• O sub-género Bos Bibos apresenta várias

espécies, todas asiáticas, o Bos Bibos gaurus, o

Bos Bibos frontalis, e o Bos Bibos banteng,

com as particularidades de possuírem 13

pares de costelas e grandes apófises

espinhosas, desde a terceira à décima

primeira vértebra dorsal.

Page 29: etnologia_bovina

Figura 2.7- Bos Bibos banteng ou Bali.

Figura. 2.6- Bos Bibos gaurus e Bos Bibos frontalis

A espécie Bos Bibos gaurus (figura 2.7 – esquerda) vulgarmente designada por gauro habita na Índia em estado selvagem e divide-se em numerosas formas locais

A variedade doméstica gaurus é

conhecida pelas designações de gaial e

mithan (MASON, 1984) e é explorada

nas montanhas das regiões Este da Índia

e Bangladesh

Na forma doméstica o bantengue é designado por Bali, nome de uma das ilhas Indonésias.

Page 30: etnologia_bovina

O subgénero Bos Phoephagus é, dentro dos sub-géneros expostos, aquele que tem apresentado maior controvérsia na sua constituição. Para alguns autores tem apenas uma espécie, a Phoephagus grunniens, também conhecida pelo nome comum de iaque, (figura 2.8). CORBET designou por Phoephagus grunniens, apenas o iaque doméstico, atribuindo a designação de Phoephagus mutus, ao iaque selvagem. Esta última proposta de divisão assenta no facto de estas duas formas serem inférteis no acasalamento entre si, o que justificaria a sua classificação em espécies diferentes.

Page 31: etnologia_bovina

A morfologia geral do iaque é bastante diferente das demais espécies do género Bos, facto que provocou muitas hesitações na sua classificação pelos mais variados naturistas. GMELIN e PALLAS chamaram-lhe "vaca de cauda equina" e "búfalo de cauda equina" respectivamente, pela semelhança da sua cauda com a da espécie equina.

Page 32: etnologia_bovina

• O sub-género Bison, apresenta duas espécies, a

Bison bonasus e a Bison bison e, como todos os

bóvidos selvagens, apresenta grande

desenvolvimento do terço anterior, pescoço

curto e grande giba, colocada sobre a base das

apófises espinhosas das vértebras dorsais e das

últimas cervicais

Page 33: etnologia_bovina

A espécie Bison bonasus, chamado bisonte europeu (embora alguns autores façam a distinção entre o Bison bonasus, o verdadeiro bisonte europeu, e o Bison caucasicus, o bisonte do Cáucaso), existiu em toda a Europa central e meridional até por volta da Idade Média e encontra-se, na actualidade, apenas em algumas regiões do Cáucaso, onde é mantido em estábulos de “preservação”.

É um animal de grande tamanho, com um comprimento de 250 a 350 cm (incluindo a cabeça), uma altura à cernelha entre 180 e 200 cm e um peso vivo de 800 a 1000 kg. A pelagem é castanha escura, e os cornos quase pretos e curvados para trás e para baixo. A longevidade é muito elevada, 30 a 40 anos.

Page 34: etnologia_bovina

A espécie Bison bison (figura 2.10), onde se classifica o bisonte americano, é, para alguns investigadores, dividida em três "formas": o bisonte das planícies (Bison bison bison), o bisonte das florestas (Bison bison athabascae) e o híbrido resultante do acasalamento desses dois.

Page 35: etnologia_bovina

• Caracteres morfológicos mais salientes:cabeça volumosa, (com ossos frontais muito desenvolvidos

que formam toda a parte superior do crânio e parte da nuca, cavilhas ósseas percorridas por sulcos e atravessadas por orifícios que sustentam os cornos que, por sua vez, são de tamanho e forma muito variável, parietais muito reduzidos situados no alto da cabeça e concorrendo com o occipital para a formação da nuca), pescoço alargado no bordo inferior por uma dobra de pele (denominada papada ou barbela), tronco espesso, membros compridos, cauda fina e comprida, quatro mamas inguinais, pele grossa e elástica e pêlo curto de cores variáveis conforme as raças.

• Apresenta duas espécies, a Bos taurus e a Bos indicus, que são fecundas entre si.

Page 36: etnologia_bovina

• A espécie Bos taurus ou bovina onde se incluem os

actuais bovinos europeus e os seus ancestrais,

apresenta como caracteres físicos mais

diferenciadores, a coluna vertebral composta por 7

vértebras cervicais, 13 dorsais, 6 lombares, 5

sagradas e 16 a 20 coccígeas.

• A fórmula dentária é constituída por 32 dentes,

sendo 6 incisivos e 2 caninos inferiores (os

superiores substituídos por uma placa

cartilaginosa), 12 pré-molares e 12 molares.

• A cabeça é encimada por uma faixa de pêlos mais

ou menos encrespados, denominada marrafa.

Os ossos parietais são muito reduzidos,

situados no cimo da cabeça, e juntamente

com o occipital, formam a nuca. Da parte

superior da cabeça emergem cavilhas

ósseas celulosas, onde se apoiam os

cornos.

Page 37: etnologia_bovina

• A espécie Bos indicus ou zebuina apresenta um morfotipo bem diferenciado da espécie Bos taurus.

• - A presença de giba, sendo torácica, isto é, situada na região da cernelha, mais propriamente entre a 1ª e a 9ª vértebra torácica e de constituição tecidular musculo-gorduroso, no zebú asiático, ou cervico-torácica, situada desde 6ª - 7ª vértebra cervical à 4ª - 5ª vértebra torácica e natureza muscular no zebú africano;

• - A cabeça comprida, fina, de perfil convexo e de cornos projectados para trás;

• - O esqueleto mais fino e garupa muito inclinada; - A maior superfície de pele, traduzida nas enormes barbela e prega do umbigo;

• - a pele com pigmentação de cor escura neutralizando mais facilmente os efeitos dos raios ultravioletas e pêlos densos e curtos, favorecem a refracção dos raios solares;

- Maior número de glândulas sudoríparas, portanto, transpiração mais abundante;- Músculos subcutâneos mais flexíveis que possibilitam a movimentação da pele (favorecendo a defesa contra os ectoparasitas);- Duração de gestação maior (291 dias em média).

Page 38: etnologia_bovina

• As espécies Bos taurus e Bos indicus estavam, segundo a opinião da maioria dos investigadores, já perfeitamente individualizadas, senão antes, pelo menos no paleoceno inferior. Contudo, já é menos consensual a interpretação da sua relação filogenética e do modo como se originaram.

• Uma das propostas explicativas defende a diferenciação de um ramo a partir do Bos primigenius, remo esse designado por Bos namadicus, o qual terá evoluído ao longo dos tempos para Bos indicus, mantendo-se em paralelo a forma inicial, o Bos primigenius primeiro ascendente do Bos taurus. Outras opiniões defenderam que a individualização do Bos indicus ocorreu em paralelo à formação do Bos primigenius, percorrendo, a partir daí cada um, evoluções próprias.

Page 39: etnologia_bovina

• 3.3.1- Conceito de raça

O conceito de raça tem sido, ao longo dos tempos, objecto de imensa controvérsia e,

consequentemente, de inúmeras definições. Mesmo antes desta discussão, o

próprio reconhecimento desta entidade taxonómica não tem sido consensual, já

que, como afirmam RAMOS e SERRANO (1985), foram muitos os naturalistas que,

sem negarem categoricamente a existência das raças, não valorizaram

devidamente esta entidade taxonómica por ser baseada em diferenças relativas e

subjectivas. De facto, a apreciação etnológica não diferencia funções, mas sim

particulariza eficiências orgânicas, as quais são individualizadas em função do

interesse zootécnico em vista.

Page 40: etnologia_bovina

• No que respeita à definição de raça, GARCIA-FIERRO (1956), apresentou uma lista

exaustiva das várias propostas, incluindo uma análise crítica às mais divulgadas.

Assim, quanto ao conceito clássico de raça, em que criticou as concepções

naturalistas desprovidas de preocupações económicas, referiu as definições de

BUFFON, SANSON e WILCKENS, respectivamente:

• "... Raça é a maior colecção natural de indivíduos que representam a

descendência de uma parelha ...",

• "... grupo de animais que gozam da faculdade de se reproduzir indefinidamente,

perpetuando o seu tipo ..." e,

• "... conjunto de indivíduos da mesma espécie que se distinguem dos demais por

traços característicos que persistem enquanto as circunstâncias que os

condicionam carecerem de força suficiente para os alterar ...".

Page 41: etnologia_bovina

• Defensor das concepções económico e afirmativo

quanto à influência ecológica, GARCIA-FIERRO

(1956), fez a apologia da definição de DECHAMBRE

(1928), que definiu a raça como o número de

indivíduos da mesma espécie que vivem em iguais

condições, que têm a mesma aparência exterior e

idênticas qualidades produtivas, características que

herdaram da sua ascendência e se repetem

fielmente nos seus descendentes.

Page 42: etnologia_bovina

• Na mesma linha conceptual, colocaram-se outros investigadores, tais

como, SCHNEIDER, LEYER e KOCH, para os quais a raça é um agrupamento

de animais que são portadores de um conjunto de características

genéticas que os criadores desenvolveram e fixaram pela selecção, com

vista não só, a um tipo de produção económica concreta, mas também, a

uma identificação ou "marca", de fácil reconhecimento, consubstanciada

num conjunto de características fenotípicas, energéticas e funcionais

específicas e transmissíveis hereditariamente.

• Na opinião de DARWIN, (1868) a raça era uma espécie ou variedade de

animais domésticos, criados pelo trabalho humano e adaptados para a

satisfação das suas necessidades.

Page 43: etnologia_bovina

• A introdução dos critérios ecológico e económico

dotou o conceito de raça do princípio de

dinamismo adaptativo, bem expresso, quando se

afirma que as raças não são entidades absolutas,

uma vez que significam sempre um estado de

equilíbrio entre os efeitos genéticos e ambientais

incluindo nestes, de forma cada vez mais

preponderante, a acção do homem.

Page 44: etnologia_bovina

• A uniformidade somática imposta já por

critérios selectivos assentes no conhecimento

da genética conduziu à definição de raça para

a de grupo de animais com maior identidade

genotípica e, consequentemente, com

combinações raras de genes com fins de maior

adaptação a ambientes específicos.

Page 45: etnologia_bovina

• Nesta perspectiva as raças são, portanto, um dado histórico,

determinado por factores biológicos (tais como a deriva e a

mutação genéticas), ecológicos (tais como o solo, o relevo, o clima,

etc.) e consequência da evolução social do Homem e do seu

domínio tecnológico. Como referiu PEREIRA (1977), o termo raça

sugere a intervenção humana, desde logo, com o objectivo de

limitar a reprodução a indivíduos seleccionados.

• Para além das diferentes concepções, a explicação para tantas

definições pode estar, desde logo, no desacordo quanto à origem da

palavra raça, se do árabe "ras" cujo significado é "sexo" ou "cabeça

principal" ou do latim radix que significa origem no sentido

ascendência - descendência.

Page 46: etnologia_bovina

• Não há dúvida, que as raças são antecedentes à sua própria

noção, surgida no século XII. O recurso, por motivos vários, a

cruzamentos de tipos diferentes de animais, após isolamentos

ecológicos mais ou menos longos, obrigou, por certo, a

identificar e rotular cada um dos componentes do cruzamento

e, eventualmente, à medida que se colhem experiências dos

resultados, a fixar, antes do acto de cruzar, algumas

características que se desejam transmitir em simultâneo com

outras já fixadas.

Page 47: etnologia_bovina

• A Zootecnia, como ciência aplicada, baseia-se num conjunto de pressupostos

científicos que têm como objecto de acção técnica (maneio higio-sanitário,

alimentação, reprodução, etc.) um grupo particular de animais, a raça,

tomado como unidade económica e estrato de onde partem e se

desenvolvem os planos de melhoramento genético tanto pela selecção, com

vista à evolução das frequências genéticas intrarraciais potenciadoras de

maiores produções de leite e carne, como por cruzamento, entre raças de

características complementares, para a formação de novos conjuntos

produtivos, sejam eles de primeira geração, raças de síntese ou combinações

genéticas em cadeia.

Page 48: etnologia_bovina

• Esta perspectiva do papel das raças tem sido sujeita a várias tentativas de

desvalorização relativamente ao indivíduo. Como afirmaram RAMOS e

SERRANO (1985), muitos investigadores defenderam de há muito, a

importância acrescida do indivíduo em detrimento da raça no que se

refere ao aumento da produção. De facto, a necessidade de abastecer de

proteína animal a grande massa da população, que entretanto se

concentrou em grandes centros urbanos, desenvolveu correntes

altamente produtivistas entre geneticistas que deram origem a um

período de desenvolvimento dos trabalhos de melhoramento genético

sobre estirpes ou indivíduos, mais concretamente na avicultura,

cunicultura e suinicultura, que desenvolveram a "tentação" para justificar

a minimização da raça e realçar o papel dos indivíduos como factor de

melhoramento.

Page 49: etnologia_bovina

• Em princípio tal evolução pode reportar-se de favorável, fundamentalmente,

para o caso das espécies citadas. A sua elevada prolificidade e os intervalos

entre gerações relativamente curtos, permitem o desenvolvimento de raças

a partir de um grupo muito restrito de indivíduos ou mesmo, em

determinados casos, de um único indivíduo de características

extraordinárias, cuja descendência devidamente seleccionada e cruzada

quase incestuosamente, foi modelando novas estruturas raciais ou novas

raças, conforme a concepção que se queira usar.

Page 50: etnologia_bovina

• Estas acções, como práticas controladas para evitar o exagero que sempre

se comete quando se assumem cegamente teorias estritamente

produtivistas, em nada contraria, com o papel da raça. Por outro lado,

possuindo, como hoje sucede, bons instrumentos matemáticos para o

estudo massal (genética de populações), pode-se, e com vantagens, tendo

como base na raça, isto é, seleccionando os indivíduos mais destacados da

raça, obter produções óptimas sem recurso a animais desviados

patologicamente.

Page 51: etnologia_bovina

• Em complemento, e com base na concepção prática de raça, "grupo de animais que possuem algumas características morfológicas e produtivas semelhantes", é possível dividir a raça em grupos mais restritos que, agregados determinam a estrutura da raça: Sub-raça, Grupo racial, Ramo, Linha, Família e Ferro.

• Sub-raça é a parte da raça bem adaptada à reprodução em determinadas condições climáticas e zonais. A sub-raça surge como resultado do desmembramento ecológico da raça.

• Grupo racial é o grupo de animais que participaram ou participam no processo de formação da raça e que ainda não possuem características firmes das raças novas já criadas.

• Ramo é uma parte considerável da raça que se criou noutra região ou país e que frequentemente tem características que a diferenciam da raça principal.

• Família é um grupo de animais com traços e propriedades característicos que derivam de um excelente progenitor. Em determinadas raças as famílias formam-se através de linhas femininas (raças Shorthorn e Angus); noutras (Hereford) as linhas familiares seguem a via masculina de genealogia.

• Linha é um grupo de animais originários de dentro da raça, que descendem de um progenitor relevante e mantêm com ele parentesco segundo os caracteres principais de utilidade económica.

• Estirpe é um grupo de animais que têm um antepassado semelhante pelo menos numa das partes do "pedigree"

• Ferro é um grupo de animais cuja constituição física e propriedades são características exclusivamente de um criador.

Page 52: etnologia_bovina

• A controvérsia à volta do conceito de raça é causa e efeito da dificuldade

classificativa.

• As propostas mais redutoras, surgidas ao longo dos tempos, procuraram suporte,

com vista a uma definição mais precisa, num único princípio justificativo. Daí que,

nenhuma delas tivesse sido aceite como suficientemente abrangente já que

deixavam sempre zonas obscuras, limites imprecisos, complicações de

ajustamentos, etc..

• VILLEROY propõe um enquadramento racial em função da geografia do seu

território de formação, daí a classificação dos animais em raças de montanha e

raças de planície.

Page 53: etnologia_bovina

• Para NATHUSIUS, SETTEGAST e BARON, cada espécie é classificada em função do

grau de intervenção humana na sua evolução, propondo então, para os casos de

nenhuma ou pouca acção do homem, a designação de raças primitivas, naturais ou

primárias e para o caso de forte intervenção humana na selecção e acasalamentos

correctivos intragrupais e acasalamentos em cruzamento, a designação de raças

cultivadas, derivadas ou secundárias.

• WECKERLIN e ZWAENEPOEL acrescentaram as designações de raças originárias no

caso de uma estreita aproximação genotípica aos ancestrais, intermediárias, para o

caso de raças em processo evolutivo, artificiais, quando, fundamentalmente, a sua

formação foi totalmente dirigida pelo homem a partir de genótipos diferentes, e

de “sangue puro” quando a sua formação foi feita a partir do mesmo genótipo por

endogamia.

Page 54: etnologia_bovina

• Na mesma linha conceptual, APARICIO (1960) classificou também, as raças

em dois grandes grupos: ambientais (aquelas cujo desenvolvimento foi

mais determinado pelas condições ambientais que pela intervenção

humana) e constitucionais (onde o processo evolutivo foi

determinantemente dirigido pelo homem, tendo em vista uma

determinada produção), subdividindo o grupo das constitucionais em

tipos morfofuncionais.

Page 55: etnologia_bovina

• As raças ambientais seriam todas de tipo rústico, isto é, com uma

morfologia caracterizada por apresentar um terço anterior muito mais

desenvolvido que o posterior, principalmente realçado pelo grande

volume da espádua e da barbela, pela pronunciada saliência da cernelha e

pelo tamanho da cabeça com destaque para o tamanho dos cornos e das

orelhas. Os membros são significativamente compridos e finos, a pele é

grossa e os pêlos compridos e ásperos. Estas características traduzem

fisiologismos de alta adaptabilidade a condições agro-climáticas extremas,

a regimes alimentares descontínuos, forte aptidão dinamófora e baixas

aptidões creatófora e lactófora.

Page 56: etnologia_bovina

• As raças constitucionais seriam fundamentalmente de dois tipos

morfofuncionais - o tipo leiteiro, de fisiologia lactopoiética e forma

morfológica triangular, com pescoço pouco musculoso e espalmado,

barbela despercebida, apófises espinhosas bem pronunciadas e costelas

fortemente arqueadas (grande capacidade torácica); o tipo cárnico, de

fisiologismo creatopoiético e silhueta cilíndrica com pescoço curto,

redondo e musculado, barbela carnuda, peito largo e profundo e esterno

proeminente, região dorso-lombar larga, cernelha musculada, lombo recto

e musculado, garupa e nádegas bem desenvolvidas e costelas abauladas.

Page 57: etnologia_bovina

• SAÑUDO, et al. (1984), KRONACHER, divide os

biótipos constitucionais em: cerebral, quando

predomina a região craneal; respiratório ou

leptossómico, quando o predomínio é da caixa

torácica; digestivo ou pícnico, com o

predomínio do aparelho digestivo; e, muscular

ou atlético quando o predomínio é das massas

musculares.

Page 58: etnologia_bovina

• BARON propôs uma metodologia classificativa a partir da

sistematização das coordenadas étnicas, isto é, da

interpretação das variações plásticas ou morfológicas, das

diferenças fanerópticas ou particularidades da pele, pêlos,

cascos e cornos, e das variações energéticas ou variações

fisiológicas.

• As coordenadas plásticas agrupam os animais em função do

trigamo signaleptico, isto é, do seu perfil ou aloidismo, do seu

peso ou heterometria e das suas proporções ou anamorfosis

(Quadro 3.1).

Page 59: etnologia_bovina

• Quanto ao perfil, as raças podem enquadrar-se em côncavas

ou celoides, (com subdivisões mais ou menos acentuadas de

ultra-côncavas, côncavas e sub-côncavas), rectas ou ortoides e

convexas ou cirtoides, (também com subdivisões de sub-

convexas, convexas e ultra-convexas), conforme a sua silhueta

global tenha a forma côncava, recta ou convexa,

respectivamente.

Page 60: etnologia_bovina

• Quanto à heterometria ou pesos, as raças podem ser agrupadas em:

• Eumétricas (de peso situado na média da espécie, isto é, para as fêmeas

um peso vivo à volta dos 450 kg e para os machos entre os 600 e os 700

kg);

• Elipométricas (com as subdivisões de ultra-elipométricas, elipométricas e

sub-elipométricas) de peso inferior ao médio;

• Hipermétricas, (sub-divididas em ultra-hipermétricas, hipermétricas e sub-

hipermétricas), para as raças mais pesadas.

Page 61: etnologia_bovina

• No que respeita à anamorfosis ou proporções, isto é, quanto à relação existente entre as medidas de comprimento e largura do tronco, temos a divisão das raças em:

• Mediolíneas ou mesomorfas (quando a largura e o comprimento mantêm uma relação de equilíbrio);

• Brevilíneas ou braquimorfas, com as três subcategorias ultra, normal e sub (quando a raça é curta e grossa);

• Longilíneas ou dolicomorfas, também com as três subdivisões sub, normal e ultra, (quando a raça se destaca pelo seu comprimento).

• O estudo da anamorfose baseia-se num conjunto de índices, globalmente designados por índices zoométricos, fundamentalmente, no índice corporal (comprimento escápulo-isquial : perímetro torácico)x100.

Page 62: etnologia_bovina

• A fanerótica estuda as variações da boca (dentes e

papilas), dos membros (unhas e cascos), do revestimento

(pele e pêlos) e, ainda, as variações entre sexos no que

respeita aos caracteres sexuais secundários (cornos e

barbela).

• A partir das coordenadas energéticas estudam-se os

caracteres referentes à funcionalidade dos indivíduos, isto

é, precocidade, reprodução, produção, comportamento e

rusticidade ou adaptação às condições de exploração.

Page 63: etnologia_bovina

Côncavos ou celoides

Ultracôncavo

Côncavo

Subcôncavo

PERFIL

(Aloidismo) Rectos ou ortoides Recto

Convexos ou Cirtoides

Subconvexo

Convexo

Ultraconvexo

Elipométricos

Ultraelipométricos

Elipométricos

Subelipométricos

P L A S T I C A PESO

(Heterometria) Eumétricos Eumétricos

Hipermétricos

Ultrahipermétricos

Hipermétricos

Subhipermétricos

Brevelíneos ou

braquimorfos

Ultrabrevilíneos

Brevilíneos

Subbrevilíneos

PROPORÇÕES

(Anamorfosis) Mediolíneos ou mesomorfos Mediolíneos

Longilíneos ou

dolicomorfos

Sublongilíneos

Longilíneos

Ultralongilíneos

Page 64: etnologia_bovina

• Muitas outras classificações têm sido propostas para agrupar as raças. Uma delas é baseada num modelo

que discrimina as raças em grupos e subgrupos, por ponderação das características físicas, relações

geográficas e processos históricos.

• A evolução das várias concepções classificativas levou ao enquadramento étnico dos bovinos segundo os

seguintes fundamentos:

• - genético, segundo o qual, os animais são agrupados mediante semelhanças de descendência e de

evolução;

• - zoológico, segundo o qual a chave diferencial é definida pelas medidas esqueléticas, fundamentalmente as

craniais e faciais e do tipo de inserção dos cornos.

• - geográfico e topográfico, mediante os quais as raças são agrupadas por áreas geográficas de exploração e,

dentro destas, em função da topografia;

• - morfológico, que agrupa os animais segundo o trigamo signaleptico;

• - fisiológico, pelo qual se agrupam as raças em função das aptidões dominantes.

• O fundamento genético na classificação racial atribui a identidade étnica à similaridade de frequências génicas, isto é, a

arranjos genotípicos subespecíficos. É segundo este preceito que se definiu raça como um conjunto de indivíduos que

apresentam estreita semelhança nas características físicas hereditárias.

Page 65: etnologia_bovina

• De acordo com as medidas cranianas, a espécie bovina divide-se em

dois grandes grupos, as raças dolicocéfalas, se o diâmetro longitudinal

do crânio (distância medida do buraco auditivo ao ângulo externo do

olho) é superior ao diâmetro transversal (distância que separa as duas

orelhas) e braquicéfalas, se pelo contrário o diâmetro transversal

supera o longitudinal.

• MIRANDA DO VALE (1949), propôs um processo prático para avaliar o tipo cefálico que

assenta na forma da figura desenhada pela união de quatro pontos - base dos cornos e

pontos salientes das órbitas - por quatro linhas rectas. Assim, nos dolicocéfalos a forma é de

um trapézio e nos braquicéfalos de um quadrado.

Page 66: etnologia_bovina

• Quanto à inserção dos cornos distinguem-se três tipos: (figura 3.7)

• Proceros, quando a base dos cornos se insere na marrafa a formar uma concavidade anterior;

• Ortoceros, quando a base dos cornos se insere na marrafa a formar um prolongamento recto;

• Opistoceros, quando a base dos cornos se insere na marrafa a formar uma convexidade anterior.

Page 67: etnologia_bovina

Figura 3.6- Representação das cabeças em função do fundamento zoológico. Braquicéfala, quando a distância AB≥AC; Dolicocéfala quando AB<AC

Page 68: etnologia_bovina
Page 69: etnologia_bovina

• Quanto ao fundamento geográfico e

topográfico, as raças são agrupadas em função

da sua adaptabilidade por grandes regiões

climáticas (raça das regiões frias, raças

mediterrâneas, etc.) e regiões orográficas

(raças de montanha, planície ou mistas).

Page 70: etnologia_bovina

• Dado que os animais úteis o são precisamente pela

especificidade das características que possuem, e que cada

estrutura morfológica potência uma dada função orgânica,

os fundamentos morfológico e fisiológico interligam-se na

maioria das propostas classificativas.

• Na perspectiva étnica, as correlações estabelecidas na

estrutura morfológica, isto é, entre o perfil, o peso e as

proporções, sugerem um determinado grau de “pureza”. No

Quadro 3.2 apresentam-se as principais correlações étnicas,

propostas por SOTILLO e SERRANO (1985).

Page 71: etnologia_bovina

• A questão da origem das raças da espécie Bos taurus foi objecto de inúmeras teorias nos finais do século XIX e primeiras décadas do século XX.

• Das inúmeras opiniões saíram uma grande diversidade de teorias, as quais podem dividir-se em dois grandes grupos: as que admitem, que os bovinos domésticos descendem de diversas formas ancestrais (teorias polifiléticas) e as que lhes atribuem uma única (teorias monofiléticas).

Page 72: etnologia_bovina

• As teorias polifiléticas abarcam um conjunto de hipóteses confluentes em duas grandes

tendências, a difilética e a polifilética. A primeira, teoria difilética, defendeu que os bovinos

domésticos descendiam, paralelamente, de duas formas pré-históricas o Bos taurus

primigenius e o Bos taurus brachycerus. A segunda, a teoria polifilética propriamente dita,

defendeu a evolução da espécie a partir de várias formas primitivas, três, quatro ou, mesmo

mais. Para RUTIMEYER (1861), os actuais bovinos domésticos descenderam especificamente

de três tipos pré-históricos, o Bos primigenius, o Bos brachycerus e o Bos frontosus. Outros

investigadores acrescentam a estas três formas o Bos aqueratus.

• Nestas hipóteses as raças, ou pelo menos troncos étnicos, teriam, não só formação temporal

muitíssimo distante, como também, bases genéticas de partida substancialmente diferentes.

Isto é, umas raças teriam derivado directamente do Bos primigenius, sem passarem,

portanto, pelas formas brachycerus e frontosus, outras do brachycerus à margem do

frontosus, e as restantes directamente desta última forma.

Page 73: etnologia_bovina

• A teoria monofilética baseou-se no princípio da ascendência a partir de uma única forma ancestral selvagem designada, vulgarmente, por ‹‹aurochs›› ou ‹‹urus›› (figura 3.4) que, por sua vez, teria sido um descendente directo do Bos taurus primigenius.

• Independentemente da evolução das formas de "uros" ao longo da sua evolução no processo de doma e domesticação, a forma selvagem permaneceu, com mais ou menos transformações, até há aproximadamente 300 anos: a última fêmea morreu numa floresta da Polónia em 1627".

Page 74: etnologia_bovina

• A questão da origem dos bovinos domésticos associa-se às diferentes opiniões da origem da

domesticação. Para os defensores da teoria polifilética, o processo de domesticação sucedeu

simultaneamente em vários lugares do globo e, logicamente, a partir das formas locais. Para

os apologistas da teoria monofilética o processo localizou-se no continente asiático, mais

precisamente na Índia, Ásia Menor e Egipto, coincidindo com focos de antigas culturas dos

vales férteis dos rios Indus, Eufrates, Tigre e Nilo. Como afirmou BELDA (1984), "... a partir

destes pontos desenvolveram-se correntes migratórias, de animais já domesticados ou em

fase avançada de domesticação, para a Europa, por itinerários distintos, tendo, contudo,

como eixo o mar Mediterrâneo" (Mapa 3.1). Assim, a partir da Índia ou da Ásia Menor em

direcção a Oeste, cruzaram o Bósforo, alcançaram a Europa Central e daí, passaram às zonas

lacustres da Suíça, às Ilhas Britânicas e à Península Ibérica. Pelo lado oposto, partiu do Egipto

outra onda que rodeou a costa mediterrânea e, antes de passar o estreito de Gibraltar e

penetrar na Península Ibérica, enviou um ramo que seguiu paralelamente ao bordo Oeste de

África.

Page 75: etnologia_bovina
Page 76: etnologia_bovina

• Ao longo destas rotas e nos novos espaços de fixação,

continuaram o seu processo evolutivo em "raça pura" ou

em cruzamento com outras formas aí existentes, (em África

com os bovinos de cornos longos, Bos Primigenius

opisthonomus, na Península Ibérica e restante Europa com

os bovinos oriundos da Ásia pela rota do Norte), dando

origem a grandes "troncos étnicos" e destes, a raças

específicas, algumas delas, eventualmente ainda hoje

existentes ou mais ou menos próximas das actuais.

Page 77: etnologia_bovina
Page 78: etnologia_bovina

• Segundo afirmou BELDA (1984), " têm-se identificado estas duas rotas com os

tipos ancestrais primigenius, a primeira, e brachycerus, a segunda". Esta teoria

baseia-se na comparação dos achados arqueológicos ao longo das duas rotas.

Assim, as cabeças encontradas na "rota do Norte" apresentavam fronte larga e

comprida em proporções desiguais, formando os seus parietais um triângulo. A

marrafa era alta no centro, continuando proeminente até à frente, formando a

chamada crista frontal. Os cornos eram curtos (daí a designação de brachycerus ou

longifrons) e em forma de gancho. As arcadas orbitais eram muito salientes e

combinavam com o abobamento da fronte, com a qual se inseriam logo acima da

sua parte média produzindo na união frontonasal uma profunda depressão. O seu

tipo deve ter correspondido a um animal sub-côncavo, de pequenas proporções,

de esqueleto fino e baixo peso. A cor seria predominantemente parda com

extremidades negras e o focinho, bordo ventral e axilas mais grisalhas.

Page 79: etnologia_bovina

• Pelo contrário, os achados, no solar de domesticação (Índia, Ásia Menor e Egipto) e ao longo da

rota do Mediterrâneo e África, revelaram formas típicas do "aurochs", isto é de crânio largo de

fronte plana, tendendo para a forma quadrada, perfil recto, fossas temporais fundidas e estreitas.

As arcadas orbitais eram descidas, situando-se mais abaixo do que a parte média da fronte e muito

salientes. Os cornos eram fortes, em forma de lira alta, com a direcção avançada com suportes

ósseos largos e compridos. Em termos de corpulência era um animal grande e pesado.

• Contudo, ao contrário de alguns autores, estas constatações não são, por si só, suficientes para se

concluir que estes troncos tiveram origens diferentes. Primeiro porque se as migrações foram

elementos decisivos para a formação das raças bovinas, a chegada das novas formas não

pressupõe, obrigatoriamente, a inexistência de outras autóctones ou locais. Segundo, o processo

translatório teve duração de séculos, de modo que o bovino de chegada podia ser muito distinto do

de saída.

Page 80: etnologia_bovina

• É um dado adquirido que os animais da espécie bovina, hoje explorados no Mundo, não se enquadram num tronco étnico específico, já que as raças a que pertencem são de formação recente e, fundamentalmente, formadas a partir de grupos raciais heterogéneos. Mesmo as raças que se consideram mais antigas sofreram durante a sua evolução, tantos efeitos da selecção artificial e das migrações, que o que resta do tronco originário está de tal modo disfarçado que torna difícil o seu enquadramento filogenético.

• Seguindo o estudo de MASON (1984) concluímos que poucas são as raças que estão próximas dos seus tipos genético e morfotipo.

Virgílio Alves Zootecnia UTAD

Page 81: etnologia_bovina

• No que respeita às raças das ilhas Britânicas, as raças de filogenia directa

do Bos Taurus primigenius, que dominaram nesta região até ao século

XVII, estão hoje reduzidas a um pequeníssimo número e dimensão. A

partir desta época, a maioria das raças autóctones foram substituídas pela

Shorthorn de dupla aptidão leite - carne e pela Frísia importada da

Holanda. Outras, por processo selectivo intenso, tais como a Hereford e a

Aberdeen e a Angus, transformaram-se em raças especializadas na

produção de carne, perdendo as características ancestrais.

Page 82: etnologia_bovina

• Nos países bálticos, os bovinos do tronco brachycerus,

diferenciaram-se por selecção a partir do século XIX, e

deram origem às raças Angler, Danish Red, Estonian Red

e Latvian Brown. Por sua vez, este grupo de raças tem

sido responsável pela produção de novas raças na Europa

de Leste, tais como a Bulgarian Red, a Red Steppe e a

Romanian Red.

Page 83: etnologia_bovina

• Na Suécia, as raças locais foram cruzadas com

a Shorthorn e a Ayrshire no final do século XIX

e deste cruzamento formou-se a raça Preta e

Branca Sueca de aptidão leite, que hoje

domina o efectivo bovino deste país.

Page 84: etnologia_bovina

• Na Noruega, as raças locais mais antigas foram absorvidas por cruzamentos sucessivos com a Preta - e - Branca sueca e com a Ayrshire.

• Na Finlândia a raça nativa Ayrshire foi substituída pela Ayrshire importada.

Virgílio Alves Zootecnia UTAD

Page 85: etnologia_bovina

• Na Europa Central a maioria das raças autóctones pertenciam ao tronco

brachycerus, sendo quase totalmente substituídas pelas raças Simmental e

Parda Alpina da Suíça, as quais por sua vez absorveram as demais raças do

seu país.

• Estas mesmas raças, principalmente a Parda Alpina, difundiram-se, pelos

países do Mediterrâneo, Jugoslávia, Bulgária, Roménia, e Itália,

expulsando para pequenos "nichos" ecológicos as raças autóctones.

• Na Alemanha, França e Países Baixos as várias raças de planície foram

substituídas pela Frísia holandesa. Na França, após um forte período de

recessão, readquiriram algum dinamismo as raças originais do tronco

primigenius, Salers, Aubrac e Gascon.

Page 86: etnologia_bovina

• Na Península Ibérica, existem ainda raças próximas das formas

originárias, concretamente do Bos primigenius e outras

formadas a partir da fusão deste com o brachycerus.

• Os paleontologistas clássicos arrumam todas as raças actuais,

em grupos derivados directamente das quatro formas pré-

históricas, Bos primigenius, Bos brachycerus, Bos frontosus e

Bos aqueratus.

Page 87: etnologia_bovina

• As raças de perfil recto, crânio alargado, fossas temporais fundidas, arcadas

orbitais muito salientes e cornos fortes de direcção avançada (normal) e com

suportes ósseos largos e compridos (raças de grande aptidão para o trabalho),

derivariam do Bos primigenius.

• As raças de perfil convexo, cabeça grande, arcadas orbitais pequenas e cornos em

saca-rolhas ou redondos (raças de aptidão múltipla), derivariam do Bos frontosus.

• As raças sem cornos, de perfil subcôncavo, esqueleto fino e tamanho reduzido, tais

como as raças de carne inglesas, Aberdeen-Angus, e a raça mocha da Suécia,

derivariam do Bos aqueratus.

• As raças de perfil concavo, fronte larga e comprida, cornos curtos e esqueleto fino

(raças de maior aptidão leiteira tais como a Jersey), derivariam do Bos brachycerus.