Eu sou jovem, pô!
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B | QUINTA-FEIRA, 28 DE JANEIRO DE 2010 |
Gazeta de Alagoas
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Gazeta de Alagoas
Cinema
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Teatro
Música
Livros didáticos
Livros
Periódicos (jornal, revistas etc.)
Outras saídas
6,3 186 11,7 Total
12 anos ou mais 29,8
6,5
20,6
2,8
7,1
4,4
15,1
4,2
3,0
1,7
8,1
7,1
28,1
8,4
18,6
Total
12 anos ou mais
Total
12 anos ou mais
Total
12 anos ou mais
Total
12 anos ou mais
Total
12 anos ou mais
Total
12 anos ou mais
Total
12 anos ou mais
227
190
246
403
458
237
309
94
131
157
237
235
306
400
679
67,5
12,4
50,7
11,5
32,5
10,6
46,6
3,9
4,0
2,7
19,3
16,6
86,1
33,5
126,4
PERFIL DO CONSUMO CULTURAL DE JOVENS E ADULTOS (15 A 29 ANOS)
Fonte: Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2003/Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Tipo de consumo Escolaridade
Percentual de jovens que consumiram bens culturais
Gastos entre jovens que consumiram bens culturais*
Gastos per capita dos jovens brasileiros*
* Valores em reais
Eu sou jovem, pô!Divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no último
dia 19, a pesquisa Juventude e Políticas Sociais traz uma análise sobre o
papel do Estado na elaboração de planos que possam garantir o bem-
estar e o desenvolvimento da população juvenil no Brasil. Até aí, nada
de tão inédito assim. O diferencial, dessa vez, é a atenção dispensada
pelos pesquisadores ao segmento cultural: com dados precisos sobre a
produção e o consumo de bens culturais por parte dos adolescentes e
jovens adultos, o estudo pode ajudar a desenhar ações mais efetivas
junto a esse contingente de mais de 50 milhões de brasileiros
| RAMIRO RIBEIRO Repórter
O Brasil possui uma população de mais de 50 milhões de jovens. Algo em torno de 26% dos 190 milhões de brasileiros encontra-se na faixa etária entre 15 e 29 anos, um contingente que por si só poderia dar origem a um pe-queno país. Diante desse núme-ro – e levando em conta as idios-sincrasias que nos caracterizam –, que tipo de recorte seria pos-sível fazer acerca desse conjunto específico de indivíduos?
Para conhecer os anseios, ob-jetivos e carências desse seg-mento da população, no último dia 19 o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lan-çou o livro Juventude e Políticas Sociais, publicação que apresen-ta os resultados de uma pesqui-sa realizada durante dois anos e que traz informações palpá-veis sobre a juventude brasileira a partir de diferentes aspectos: emprego, educação, segurança pública, sexo e cultura, entre ou-tros pontos relevantes.
Intitulado Juventude e Cultura, no capítulo que analisa o ‘pa-norama cultural’ da juventude brasileira os pesquisadores Fre-derico Barbosa e Herton Araú-jo contextualizam o cenário do estudo atual a partir da compa-ração com pesquisas realizadas em meados do século passado no País. Assim, apontam as ações desenvolvidas pelo poder públi-co ao longo da última década e – o mais interessante – fornecem dados precisos sobre a produção e o consumo de bens culturais por parte dos adolescentes e jo-vens adultos.
Apesar dos avanços, os núme-ros são insatisfatórios: envoltos numa nuvem de previsibilidade, acabam por evidenciar as defici-ências dos mecanismos públicos
de disseminação do acesso à cul-tura, bem como os entraves do setor. Apesar disso, e por mais que não seja novidade, assusta saber que apenas 4,2% dos jo-vens brasileiros vão ao teatro – a informação consta da última Pesquisa de Orçamentos famili-ares do IBGE, de 2003. Ou ainda que somente 1,7% compraram (e leram) livros que não os didáti-cos e/ou escolares, ou que o gas-to médio per capita com cinema não costuma ultrapassar a cifra de R$ 11,70.
Os dados são mais alarman-tes quando comparados com ou-tros que incidem sobre os jovens com 12 anos ou mais de esco-laridade, os universitários: eles expõem graves desigualdades, a exemplo da dicotomia entre con-sumo e frequência de visitação a equipamentos e bens culturais e níveis de escolaridade e ren-da. Assim, a pergunta é: o que fazer para reverter esse quadro, aumentando a demanda e garan-tindo, de fato, o acesso à cultura?
Entre as ‘soluções’ apontadas no estudo, o programa Cultura Viva, do governo federal, tem se mostrado uma alternativa ra-zoável. Criado em 2004, seu prin-cipal instrumento de ação são os Pontos de Cultura, um conjunto de iniciativas que visa envolver comunidades em atividades liga-das a segmentos como arte, cul-tura, cidadania e economia soli-dária. O programa atua na lacu-na deixada pelo sistema de edu-cação, que há muito se ausentou do cotidiano dos jovens – a ins-tituição escolar parece ter perdi-do a capacidade de operar con-teúdos culturais.
Para se ter uma ideia, cerca de 67,7% do público preferencial nos 742 Pontos de Cultura insta-lados hoje no País é formado por adolescentes e jovens adultos. A maioria dos agentes (64,2%) que
trabalha nessas entidades tam-bém pertence a essa faixa etária. Em compensação, são os adultos os responsáveis pela gestão efe-tiva desses núcleos – os jovens são apenas 22% na função.
Os Pontos de Cultura repre-sentam a tentativa do poder pú-blico federal de mudar o viés his-tórico das políticas públicas de cultura e mesmo das pesquisas realizadas na área no País. En-tre as décadas de 60 e 80, por exemplo, os estudos eram feitos por meio da análise cultural le-gitimista, que somente reconhe-cia as formas de arte tradicio-nalmente estabelecidas: arquite-tura, cinema, música, literatura, teatro e artes plásticas. Houve então o movimento consciente de adotar uma análise pluralis-ta da cultura, que não se utilizas-se apenas de conceitos univer-sais e irredutíveis, mas que des-se conta das diversas manifesta-ções culturais existentes no Bra-sil. A intenção é fazer com que as ações desenvolvidas pelas comu-nidades sejam devidamente re-conhecidas, o que lhes habilita-ria a receber recursos públicos.
Mas o programa enfrenta difi-culdades práticas. Aqui em Ala-goas, por exemplo, muitos dos pontos estão inadimplentes com a prestação de contas das pri-meiras parcelas dos recursos alo-cados. O segmento sofre com a centralização de informações e com a ausência de um moni-toramento mais detalhado dos trabalhos realizados. Os entra-ves burocráticos também atra-palham o desenvolvimento das atividades, do mesmo modo que as constantes discussões teóri-cas acerca da “propriedade” das ações. A conclusão é cristalina: é necessário instrumentalizar – de fato, e não apenas simbolica-mente – os espaços e os agentes envolvidos nesse mecanismo. 50 milhões
É a quantidade de jovens (na faixa etária entre 15 e 29 anos) no País, ou seja: 26% da população total
R$ 31 bilhões É o patamar de consumo cultural atingido pelas famílias brasileiras, segundo pesquisa realiza-da pelo IBGE em 2003
R$ 2 bilhões É o montante de recursos públicos investidos no setor
13% É o índice de jovens com acesso ao ensino superior na faixa etária dos 18 aos 24 anos
18% É o número de jovens que estão fora da escola
67,7% É o percentual de jovens entre 15 e 24 anos que estão entre as vítimas de mortes violentas no País
JOVENS E NÚMEROS