Eu voltei, aqui é o meu lugar!

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº 1845 Agosto/2014 Pajeú do Piauí Há 9 anos quando dona Maria das Graças Alencar, de 64 anos, e seu Antônio Coelho de Sousa, 69, decidiram deixar de morar na cidade de Canto do Buriti, Piauí, e foram para a comunidade Tabocas, zona rural do município vizinho, Pajeú, muitos não acreditaram. Ele, natural de São João do Piauí, e ela, de Floriano, nasceram e se criaram na roça. Não se acostumaram com a cidade. Como disse dona Maria das Graças: “queriam sossego”. No começo, a falta de estrutura do local assustou até mesmo os filhos do casal. “Quando chegamos aqui não tinha energia, não tinha água, estrada ruim. Só uma casinha velha que nós compramos”, disse dona Maria das Graças. Dos seis filhos, apenas dois acompanharam. Os outros ficaram na cidade. A dificuldade no começo foi grande, principalmente, pela falta de água. “Muitas vezes dividimos um balde de água barrenta para nós dois, mas nunca pensamos em desistir”, afirmou seu Antonio. Hoje, quem chega, percebe que, mais do que a água, faltava mesmo são políticas públicas que garantam o direito, não só deles, mas de todos os agricultores/as que não querem deixar suas casas. Ou que para aqueles que pretendem voltar. Os dois são aposentados. Mesmo com pouco dinheiro, primeiro mandaram construir um pequeno barreiro ao lado de casa. Com a água acumulada, Maria das Graças começou a plantar seu primeiro Eu voltei, aqui é o meu lugar!

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Quando dona Maria das Graças Alencar, de 64 anos, e seu Antonio Coelho de Sousa, 69, decidiram deixar de morar na cidade de Canto do Buriti, Piauí, e foram para a comunidade Tabocas, zona rural do município vizinho, Pajeú, muitos não acreditaram. Hoje, quem chega, percebe que, mais do que a água, faltava mesmo era uma política pública que olhasse não só para eles.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº 1845

Agosto/2014

Pajeú do Piauí

Há 9 anos quando dona Maria das Graças Alencar, de 64 anos, e seu Antônio Coelho de Sousa, 69, decidiram deixar de morar na cidade de Canto do Buriti, Piauí, e foram para a comunidade Tabocas, zona rural do município vizinho, Pajeú, muitos não acreditaram. Ele, natural de São João do Piauí, e ela, de Floriano, nasceram e se criaram na roça. Não se acostumaram com a cidade. Como disse dona Maria das Graças: “queriam sossego”.No começo, a falta de estrutura do local assustou até mesmo os filhos do casal. “Quando chegamos aqui não tinha energia, não tinha água, estrada ruim. Só uma casinha velha que nós compramos”, disse dona Maria das Graças. Dos seis filhos, apenas dois acompanharam. Os outros ficaram na cidade.A dificuldade no começo foi grande, principalmente, pela falta de água. “Muitas vezes dividimos um balde de água barrenta para nós dois, mas nunca pensamos em desistir”, afirmou seu Antonio.

Hoje, quem chega, percebe que, mais do que a água, faltava mesmo são políticas públicas que garantam o direito, não só deles, mas de todos os agricultores/as que não querem deixar suas casas. Ou que para aqueles que pretendem voltar.Os dois são aposentados. Mesmo com pouco dinheiro, primeiro mandaram construir um pequeno barreiro ao lado de casa. Com a água acumulada, Maria das Graças começou a plantar seu primeiro

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí

Realização Apoio

quintal produtivo. Era o começo, ou recomeço de uma vida feliz na roça. Ela trata seu pequeno canteiro com muito carinho. “Amo minhas plantas, chego a conversar com elas. Aqui tenho meu cheiro verde, meus tomates, minha alface”, diz.Em 2012, eles conquistaram uma cisterna de 16 mil litros, através do Programa Um Milhão de Cisternas. As coisas começavam a melhorar. Agora, a l ém do qu in ta l p rodut i vo , começaram criar galinhas e cocás, em outros lugares conhecido como galinha d´angola ou capote. “Essa cisterna foi uma benção na nossa vida, depois disso temos água suficiente para nossos pequenos animais. Todo fim de semana tem galinha caipira no almoço em família”, disse seu Antonio.As fruteiras também começaram a fazer parte da paisagem. A poucos metros da casa, depois de descer uma pequena ladeira de terra, dona Maria das Graças mostra com orgulho os pés de banana, manga e mandioca. Ela explica que mesmo em tempos de seca, a localização do terreno ajuda na produção, principalmente das bananas. “Aqui o terreno é mais baixo, quando chove alaga tudo aqui. Por isso quando chega a seca, mesmo assim as bananas estão amadurecendo, o terreno fica molhado por mais tempo”, completou revelando o motivo de plantar as bananas neste espaço da propriedade.Dona Maria das Graças e seu Antonio informaram que já chegaram a colher mais de 8 mil bananas por safra. A seca dos últimos anos fez diminuir a produção. “Aqui a gente vendia banana, dava, emprestava. Era muito bom”, brinca seu Antonio.Mesmo com o pequeno barreiro e a cisterna de 16 mil litros, faltava algo mais para

guardar água, para ajudar na pequena produção. O casal conquistou uma cisterna de enxurrada, com capacidade para 52 mil litros. Seu Antonio, feliz com a nova conquista, garante que mesmo com 69 anos vai continuar cuidando das bananeiras. “Nunca tive preguiça. Já levei água pra esses pés de bananas no balde. Aguei um por um. Agora com essa cisterna vou fazer uma pequena irrigação”, disse seu Antonio.