Eugenio Mussak ha - funcef.com.br · Eugenio Mussak escreve ha tempos neste espa
EUGENIO PAES CAMPOS PROF. DR. MÉDICO CARDIOLOGISTA 1.
Transcript of EUGENIO PAES CAMPOS PROF. DR. MÉDICO CARDIOLOGISTA 1.
EUGENIO PAES CAMPOSPROF. DR. MÉDICO CARDIOLOGISTA
1
1.1. O CUIDADOR SOB TENSÃO
× Lidar com o sofrimento alheio implica, muitas vezes, reviver momentos pessoais de sofrimento, pois conviver com sofrimento gera sofrimento.
× O intercâmbio entre profissionais é pequeno, pois, tradicionalmente, o relacionamento se faz diretamente e isoladamente, através da díade profissional-paciente.
× O Profissional de saúde, no seu cotidiano, vê-se compelido a suportar um conjunto de angústias, de conflitos, de obstáculos diante de cada ato e de cada pessoa com quem se defronta.
2
Não é de praxe atender em equipe e mesmo quando há consciência da importância da troca entre profissionais, nem sempre existe disponibilidade de tempo.
Todos são obrigados a conviver com a doença e suas conseqüências, como emoções, sentimentos e conflitos intensos presentes nos pacientes, nos familiares e nos outros profissionais.
Psicologicamente, acabam tornando-se indivíduos estressados, exigidos, isolados, sobrecarregados, culpados, revoltados e desamparados.
O PROFISSIONAL DE SAÚDE: UM CUIDADOR
3
O encontro do profissional de saúde e paciente, ou cuidador-cuidado, não é fácil nem linear.
Por que o profissional de saúde se propõe a cuidar de alguém? Solidariedade, disposição de ajudar os outros, fonte de recurso financeiro? A motivação não fica clara.
Não existe o “cuidador absoluto”, ou seja, nem sempre se colocar no lugar de cuidador significa o desejo de ajudar, muitas vezes, o que realmente motiva é o desejo de ser ajudado.
O PROFISSIONAL DE SAÚDE: UM CUIDADOR
4
Considerando o estresse cotidiano em que vivem tais profissionais, no contato direto com o sofrimento e a morte, fácil é imaginar que, também eles, estejam vulneráveis à doença.
Os profissionais de saúde, tanto quanto os pacientes, demandam apoio e suporte.
Não há o “cuidador absoluto”. O cuidador também precisa ser cuidado. Precisa de alguém que lhe dê suporte, que lhe ofereça proteção e apoio, facilitando seu desempenho, compartilhando, de algum modo, sua tarefa.
O PROFISSIONAL DE SAÚDE: UM CUIDADOR
5
O conceito de suporte social foi sendo construído nos campos da Psicologia Social e da Saúde Comunitária, em torno de duas idéias básicas:
- De um lado, o estabelecimento de vínculos interpessoais, grupais ou comunitários próximos, proporcionando sentimento de proteção e apoio às pessoas envolvidas e
- De outro lado, a repercussão desses vínculos na integridade física e psicológica dos indivíduos.
Bloom (1983)& Cassel (1990) = Os suportes sociais constituem importante recurso neutralizador do estresse.
Não há suporte se não há encontro.6
FREUDENBERGER (1974) = SÍNDROME DE BURNOUT: Estado de esgotamento devido ao estresse ocupacional prolongado. Afeta sobremaneira os profissionais de saúde que, em seu trabalho, lidam com pessoas que sofrem.
MASLACH (1976) = BURNOUT: Síndrome de esgotamento psíquico e emocional levando ao desenvolvimento de imagem negativa de si mesmo, atitudes negativas face ao trabalho e perda de interesse pelos pacientes.
Três elementos identificam a Síndrome:1. Esgotamento físico e psíquico, também chamado exaustão
emocional;2. Despersonalização, entendida como desinteresse pelos
pacientes (alguns autores chamam de desumanização);3. Sentimento de insatisfação pessoal com atitude negativa face
a si mesmo, desânimo e retraimento. 7
ALONSO & GRANADO (2001) = Prevenção do Burnout:1. Favorecer a comunicação entre os vários profissionais, 2. Melhorar a organização do serviço, com distribuição
eqüitativa e clara das tarefas assistenciais;3. Fomentar a participação de todos nas tomadas de
decisão;4. Estimular atividades lúdicas ou sociais;5. Criar grupos de reflexão e supervisão;6. Dar especial atenção aos profissionais que estejam
apresentando sinais ou sintomas da síndrome.
A dinâmica do suporte social cria condições para o enfretamento do estresse cotidiano e pode funcionar como agente preventivo da eclosão de doenças.
8
Parece que uma equipe, que se reúne semanalmente, gera a possibilidade de funcionar como cuidadora de si mesma.
WINNICOTT = Conceito de holding: A dinâmica do holding mostra que precisamos ser
cuidados para “aprender” a sermos cuidadores e que, dependendo das circunstâncias, somos ora cuidadores, ora cuidados. Importante é que haja sempre, à nossa volta um segundo espaço ou círculo de sustentação, que nos dê apoio e suporte para podermos ser, ora uma coisa, ora outra.
9
O desafio é romper com um modelo de atenção à saúde que, na verdade, privilegia a doença. Um modelo que idealiza o profissional, que “coisifica” o paciente e impessoaliza o relacionamento entre eles. Um modelo que quando pensa em dar atenção ao profissional, o faz tardiamente, quando o profissional já adoeceu.
O desafio é fazer com que o encontro com os profissionais de saúde, entre eles e com seus pacientes, seja um momento significativo, investido de afeto e do desejo de cuidar-ser-cuidado.
10
Implica no reconhecimento, por parte dos profissionais dos seus próprios limites e na sensível percepção das aflições e fragilidades dos seus pacientes.
Implica na percepção de que um ambiente acolhedor, afetuoso e empático, vivenciado pela equipe de saúde no seu exercício cotidiano, contribui de maneira decisiva para o enfrentamento das tensões geradas pela prática profissional, desse modo, reduzindo a possibilidade de eclosão de doenças e repercutindo diretamente na qualidade e nos resultados do cuidado proporcionados aos pacientes.
11