Evangelii Gaudium | artigos de opinião

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Data: 2013/11/29 SOL - PRINCIPAL Título: A voz de Francisco e o disco riscado - Artigo/Crónica por Vicente Jorge Silva Tema: Igreja Católica Periodicidade: Semanal Âmbito: Nacional Temática: Generalista Imagem: 1/1 Pág.: 10 GRP: 2.4 % Inv.: 5133.33 € Tiragem: 51901 Área: 46208 mm2 Copyright 2009 - 2013 MediaMonitor Lda. 2013-11-29 Página 1 de 1

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Artigos de opinião sobre a exortação apostólica Evangelii Gaudium do Papa Francisco. Articulistas: Vicente Jorge Silva, Viriato Soromenho-Marques, Paulo Teixeira Pinto e Francisco Louçã.

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Data: 2013/11/29 SOL - PRINCIPAL

Título: A voz de Francisco e o disco riscado - Artigo/Crónica por Vicente Jorge Silva

Tema: Igreja Católica

Periodicidade: Semanal Âmbito: Nacional

Temática: Generalista Imagem: 1/1

Pág.: 10

GRP: 2.4 %

Inv.: 5133.33 €

Tiragem: 51901

Área: 46208 mm2

Copyright 2009 - 2013 MediaMonitor Lda. 2013-11-29 Página 1 de 1

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Palavra deCristochamadoPedrochamadoFranciscochamadoJorge

IO Papa Francisco, primei-ro do nome, apesar de cu-riosamente não usar o or-dinal (ao contrário do seu

antecessor João Paulo, que sem-pre foi chamado de “primeiro”,como se fosse inevitável vir logoa seguir um “segundo”, como afi-nal acabou mesmo por suceder)tornou público aquele que é odocumento doutrinal fundadordo seu pontificado. Certamenteque não por mero acaso fê-lo noencerramento do Ano da Fé,mais propriamente no exato diaem que se celebra a solenidadede Jesus Cristo Rei do Universo.Isto não é um pormenor. A Igre-ja não faz caso do acaso. O quediz vale pelo que é dito. Mas tam-bém por quando é dito.

IIO referido documento éuma Exortação Apostóli-

ca cujas duas primeiras pala-vras, em latim, são EvangeliiGaudium, as quais assim lhe em-prestam o título. A Exortação es-tá dividida em cinco capítulos,por sua vez desdobrados em 288pontos. De entre estes o eco pú-blico ressoou quase exclusiva-mente ao referente entre os nú-meros 53 a 60, ou seja, no âmbi-to do que o Papa designou “al-guns desafios do mundo atual”.

Efetivamente, o Papa trata aquida condenação de uma “econo-mia de exclusão”. Tal veredictoé sumário e encontra fundamen-to num lugar paralelo: tem de sedizer não a esta economia por-que esta economia mata, tal co-mo se manda ”não matar” paraproteger o valor da vida huma-na. Assim mesmo, sem mais.Tão claro e assertivo como isto.

IIO Papa denuncia de segui-da o desenvolvimento do

que chama de “globalização daindiferença”, responsável poruma anestesia coletiva que fazcom que nós (não “eles”, não oEstado, note-se) sejamos incapa-zes de nos compadecermos dosoutros ao mesmo tempo que per-demos a calma quando o merca-do nos oferece algo que aindanão temos. Mas é a propósito daidolatria do dinheiro que o Papasobe mais alto para apontar pa-ra o mais fundo dos fundos,quando sustenta que a crise fi-nanceira que atravessamos tempor origem uma crise antropoló-gica resultante da negação doprimado do ser humano, reduzi-do que é a uma só necessidade:o consumo.

IVE o Papa continua sempoupar nas palavras nem

usar outras mais neutras ou dú-bias: instalou-se uma nova tira-nia invisível, consequência dasideologias prevalecentes queconsagram a autonomia absolu-

ta dos mercados e a especulaçãofinanceira. Segundo o Papa, pordetrás desta atitude está a recu-sa da ética e de Deus. E ele pró-prio acaba por se intercalar naequação quando afirma: “O Pa-pa ama a todos, ricos e pobres,mas tem a obrigação, em nomede Cristo, de recordar que os ri-cos devem ajudar os pobres”.

VOutra dimensão importan-te incide sobre a temática

da segurança. Fazendo recordara célebre sentença de Brecht (“-toda a gente diz que é violento orio que arrasta tudo à sua frente,e ninguém diz que violentas sãoas margens que o oprimem”), oPapa afirma taxativamente queserá impossível (note-se que nãodiz difícil, diz impossível) erradi-car a violência enquanto perdu-rarem a exclusão e a iniquidadedentro de uma sociedade e entreos distintos povos.

VIComo se tudo isto não fos-se já um enorme murro

no estômago e um espetar de de-dos nos olhos, segue-se depoisum puxar de orelhas a um certohistoricismo em voga. Sim, ga-rante o Papa, estamos ainda lon-ge do chamado “fim da história”,porquanto as condições de umdesenvolvimento sustentável eem paz não estão devidamentegarantidas. E depois disto umgrito de alma: tudo se torna ain-da mais “irritante”(sic) quandoos excluídos vêm crescer o can-cro social da corrupção, profun-damente arreigada em muitospaíses, independentemente daideologia política.

VII Por fim, uma nota pes-soal. É certamente possí-

vel não se acreditar no que diz oPapa Francisco. Mas parecefrancamente impossível nãoacreditar que ele acredita em tu-do quanto diz e faz. Para umaovelha tresmalhada como é omeu caso não é sem comoçãoque se ouve um pastor assim.

A cavalariaprussianacontrao Papa

A exortação apostólica divulga-da pelo Papa nos últimos diasprovocou um júbilo compreensí-vel nos sectores mais diferencia-dos. Quem na Igreja Católica es-perava ar fresco sentiu que “AAlegria do Evangelho” lhe diziarespeito; quem no mundo se in-digna com os predadores reco-nheceu o que quer dizer que “es-ta economia mata”.

Todos têm bons motivos parauma leitura auspiciosa. Para osprimeiros, esta exortação temmesmo duas novidades mobiliza-doras. A mensagem papal crispa--se contra o discurso de resigna-ção, chegando a contestar o assis-tencialismo que, afinal, é a baseda atividade social da Igreja: o úl-timo comunicado da reunião daConferência Episcopal portugue-sa lembra a sua função na carida-de, o que não parece comover oPapa. Mas, além disso, a exorta-ção aponta à ostentação dos prín-cipes da religião, clamando poruma Igreja que saiba estar “sujapor andar na rua”, próxima dasvítimas da “tirania económica”.

Para outros, os que observamna Igreja mais um dos sinais dasperturbações culturais multipli-cadas nesta era de exterminis-mo financeiro, a exortação éigualmente interessante. De fac-to, o texto do Papa propõe umaideia radical: a de que nesta vio-lência social, há “algo de novo:os excluídos não são explora-dos, são lixo”. Essa novidade éperturbadora. Talvez seja aindamais perturbadora pelo efeitode descoberta que será duradou-

ro, porque denuncia os pilaresde um dos discursos mais difun-didos e mais perversos das últi-mas décadas, aquele que faz da“exclusão” um universal vazio,um sujeito dissolvente das fron-teiras sociais, uma justificaçãoda resignação contra a ação cole-tiva. Ora, lendo-se a vida a partirda “exclusão”, o mundo de den-tro sabe que não protege o mun-do de fora mas pode oferecer--lhe caridade. Esta caridade dosque têm poder ajuda assim assuas próprias vítimas, não dei-xando de as tornar em lixo.

Mas, se a exclusão cria lixo, en-tão é porque já ultrapassamos olimiar da humanidade, e esse é oextremismo que causa toda adesgraça. Que fazer então comesta “tirania económica”, essepassa a ser o problema: não sepode salvar as gentes sem des-truir o monstro. A isso, o Papanão responde, mas pelo menosexige aos seus que terminem aostentação e se sujem na rua.

Há ainda uma outra frase doPapa que ficará na nossa peque-na história, não por ser sur-preendente, até pelo contrário,por ser banal: é o reconhecimen-to de que a lixificação das pes-soas no mundo gera violência.Se “esta economia mata”, não élegítimo e imperativo opormo--nos à subjugação? O Papa acei-ta que sim. Evidentemente,num país distante e à beira-marplantado, tínhamos tido dias an-tes a efervescência da cavalariaprussiana do PSD e CDS contraquem constatara que a vida é in-suportável para as vítimas. “Óda guarda”, “a Pátria está em pe-rigo”, há agitadores da AulaMagna, gritaram compenetra-dos os nossos condes de Abra-nhos, Nuno Melo, Portas,Aguiar Branco, nunca imaginan-do que levariam o responso namissa do dia seguinte.

Nem eles sabiam que, afinal, amaior fortuna do nosso país du-plicou no último ano e que, por-tanto, o país vai bem.

“Temos de dizer não a uma econo-mia da exclusão e da iniquidade,porque esta economia mata. Nãopode acontecer que não seja notí-cia que um velho morra de frio narua e o seja a queda de dois pontosda Bolsa. Isso é exclusão. Não sepode tolerar mais que se deite foracomida quando há gente que pas-sa fome. Isso é iniquidade”.

É desta forma que o Papa Fran-cisco, no primeiro documento im-portante que escreveu — umaExortação Apostólica com 84 pá-ginas divulgada esta semana co-mo o programa oficial do seu pa-pado — ataca o capitalismo, nu-ma linguagem não clerical. Cha-ma-se “A Alegria do Evangelho”e constitui um convite aos católi-cos, sejam bispos, padres ou lai-cos, para viverem a sua fé deuma nova forma. Essa vivênciainclui um modo diferente de aigreja se relacionar com as socie-dades contemporâneas, com umolhar que abandone a rigidez daburocracia e das verdades eter-nas para se centrar nos outros“como uma mãe”.

O documento compreendeuma longa parte, revolucionáriapara um católico, dedicada aosassuntos internos da igreja, maso Papa dedica outra à necessida-de de os católicos saírem de casapara ver como estão as coisasem concreto. “Não nos podemosesquecer — escreve — que amaioria dos homens e mulheresdos nossos tempos vive precaria-mente o dia a dia, com conse-quências funestas e que o medoe o desespero se apoderam docoração de muitas pessoas, in-cluindo nos chamados países ri-cos”. Pelo que “há que lutar pa-ra viver e, muitas vezes, para vi-ver com pouca dignidade”.

Seguindo a linha de Bento XVIna encíclica “Caristas in Verita-te”, que constituía até hoje amaior crítica feita por um Papaao capitalismo neoliberal, JorgeBergoglio indica as causas eco-nómicas do mal-estar atual.“Grandes massas da populaçãoveem-se excluídas e marginaliza-das: sem trabalho, sem horizon-tes, sem saída”, porque “se con-sidera o ser humano em si mes-mo como um bem de consumo,que se pode usar e deitar fora”.

Francisco desmente que a li-berdade de mercado “provoquepor si mesma uma maior igual-dade e inclusão social”, porqueexpressa “uma confiança nésciae ingénua na bondade de quemdetém o poder económico e nosmecanismos sacralizados do sis-tema económico imperante”.

“Uma das causas desta situação— sublinha — está na relação queestabelecemos com o dinheiro, jáque aceitamos pacificamente o seupredomínio sobre nós e as nossassociedades”, enquanto “a crise fi-nanceira que atravessamos nos fazesquecer que na sua origem estáuma profunda crise antropológica:a negação da primazia do ser hu-mano”. Assim, “instaura-se umanova tirania invisível”, que podedespertar novas violências. “Acusa--se de violência os pobres e os po-vos pobres mas, sem igualdade deoportunidades, as diversas formasde agressão e de guerra encontra-rão um caldo de cultura que cedoou tarde provocará a sua explo-são”, avisa o Papa.

A razão de fundo, segundoFrancisco, é que falta ética e is-so requer “uma mudança de ati-tude enérgica por parte dos diri-gentes políticos. O dinheiro de-ve servir e não governar”.

Rossend Doménechcorrespondente em Roma

[email protected]

Num documento com 84 páginas, de sua autoria e divulgado esta semana, o Papa Francisco critica o sistemacapitalista e a primazia do dinheiro sobre o ser humano. Um sistema que acusa de ‘tirania invisível

PauloTeixeiraPinto

FRANCISCOLOUÇÃ

“Não nos podemos esquecer que a maioria dos homens e das mulheres dos nossos tempos vive precariamente o dia a dia, com consequências funestas”, diz oPapa Francisco FOTO MAX ROSSI/REUTERS

Opinião

EXORTAÇÃO

É certamente possívelnão se acreditar no quediz o Papa Francisco. Masparece francamenteimpossível não acreditarque ele acredita em tudoquanto diz e faz

Papa contra o domínio do dinheiro

26 ECONOMIA Expresso, 30 de novembro de 2013

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Data: 2013/11/29 CORREIO DA MANHA - PRINCIPAL

Título: Uma Igreja para a rua - Artigo/Crónica por Fernando Calado Rodrigues

Tema: Igreja Católica

Periodicidade: Diaria Âmbito: Nacional

Temática: Generalista Imagem: 1/1

Pág.: 2

GRP: 13,0 %

Inv.: 3828,13 €

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PATROCÍNIO

Um cristão em RomaOPapa Francisco tem despertado entusiasmo e esperança dentro e fora da IgrejaCatólica. Num tempo tão cinzento como o nosso, em que o governo do mundoparece ter sido entregue ao triângulo funesto da incompetência intelectual, daganância económica e da iliteracia ética, é preciso ter cuidado para não nosdeixarmos seduzir por promessas que, depois, correm o risco de nos desiludir. Hálimites, contudo, até para a suspeita crítica. Quando se comemoram os 50 anos daEncíclica "Pacem in Terris", do Papa João XXIII, Francisco resolveu publicar umaExortação contendo 288 parágrafos de reflexão profunda e diversificada sobre ostemas mais agónicos do mundo contemporâneo. O título é significativo: "A Alegriado Evangelho" (Evangelii Gaudium). Trata-se de um documento cuja riqueza,necessariamente desigual, não se esgota numa síntese, mas se a tivermos defazer, então a Exortação constitui uma comovente e contundente recusa da misériamoral em que habita uma sociedade mundial corroída pela "idolatria do dinheiro" e odesprezo pela condição humana. Se olharmos para a Exortação como europeus eportugueses, é impossível não perceber o contraste entre uma União Europeia quese transformou numa máquina de fazer pobres, ou Portugal, onde o Estadoconfunde reforma com eutanásia, e o apelo papal à justiça social e ao reforço dopapel do Estado na sua defesa do "bem comum". Os interesses instalados (acomeçar por dentro da própria Igreja) que se cuidem. Desta vez, quem chegou aoTrono de São Pedro não é apenas um funcionário diligente ou um teólogo erudito.Há um cristão completo à frente do Vaticano. De doutrina e ação. E isso faz toda adiferença.

VIRIATO SOROMENHO-MARQUES

publicado a 2013-11-28 às 01:05

Para mais detalhes consulte:http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3557548GRUPO CONTROLINVESTECopyright © - Todos os direitos reservados