Evento de Alteridade Na História Recente - A Recepção Da Cultura Hispano Americana Na Imprensa...

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Eventos de Alteridade na História Recente: A Cultura Hispano-Americana na Imprensa Brasileira 1 Sebastião Guilherme Albano da Costa (Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN). Leandro William Pires Travassos (Bolsista de IniciaçãoCientífica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN). Resumo Este é o resultado de uma pesquisa iniciada nos anos 2000 e retomada parcialmente em 2011. Sua primeira parte culminou em signos que reclamaram uma interpretação que a estatística apenas insinuou. A fim de aquilatar o tipo de informação acerca da cultura hispano-americana na chamada grande imprensa brasileira e vincular os resultados com argumentos de viés histórico e geopolítico, percebeu-se a quase inexistência de matérias publicadas sobre as expressões culturais dos países vizinhos, dado que desenhava por si mesmo a opinião dos diários e revistas observados e, como consequência, a relevância atribuída pelo Estado brasileiro aos países mencionados. O que apresentamos agora foram os dados relativos aos inícios dos anos 2000. O trabalho completo, com números e contexto de 2011, será entregue à revista da Rede Alcar para parecer. Palavras-chave Imprensa; cultura hispano-americana; geopolítica; dependência. O presente texto está embasado em um estudo que constatou a escassez de menções sobre a literatura e a cultura hispano-americana em geral em três jornais brasileiros de circulação nacional e uma revista, a saber, Correio Braziliense, Folha de São Paulo e O Globo, todos com seções de entretenimento e encartes literários semanais importantes, e a revista Cult, publicação mensal especializada em literatura. Prefigurado esse parâmetro, parece pertinente anteceder a descrição com uma sentença que foi proferida pelo intelectual peruano Simón Rodríguez em 1828 mas que em suas linhas gerais permanece vigente: “Vea la Europa como INVENTA y la América como IMITA” (1954, p. 91). Convém comentar que as conclusões da pesquisa pareciam pertinentes até meados do primeiro decênio do século XXI, os anos 2000, de modo que hoje deve ser 1 Trabalho apresentado no GT 1 Jornalismo do II Encontro Nordeste de História da Mídia, Teresina 20 e 21 de junho de 2012

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Artigo aborda a recepção da cultura dos países vizinhos pela chamada grande imprensa brasileira.

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  • Eventos de Alteridade na Histria Recente: A Cultura Hispano-Americana na

    Imprensa Brasileira1

    Sebastio Guilherme Albano da Costa (Professor Adjunto da Universidade Federal do

    Rio Grande do Norte, UFRN).

    Leandro William Pires Travassos (Bolsista de IniciaoCientfica da Universidade

    Federal do Rio Grande do Norte, UFRN).

    Resumo

    Este o resultado de uma pesquisa iniciada nos anos 2000 e retomada parcialmente em

    2011. Sua primeira parte culminou em signos que reclamaram uma interpretao que a

    estatstica apenas insinuou. A fim de aquilatar o tipo de informao acerca da cultura

    hispano-americana na chamada grande imprensa brasileira e vincular os resultados com

    argumentos de vis histrico e geopoltico, percebeu-se a quase inexistncia de matrias

    publicadas sobre as expresses culturais dos pases vizinhos, dado que desenhava por si

    mesmo a opinio dos dirios e revistas observados e, como consequncia, a relevncia

    atribuda pelo Estado brasileiro aos pases mencionados. O que apresentamos agora

    foram os dados relativos aos incios dos anos 2000. O trabalho completo, com nmeros e

    contexto de 2011, ser entregue revista da Rede Alcar para parecer.

    Palavras-chave

    Imprensa; cultura hispano-americana; geopoltica; dependncia.

    O presente texto est embasado em um estudo que constatou a escassez de

    menes sobre a literatura e a cultura hispano-americana em geral em trs jornais

    brasileiros de circulao nacional e uma revista, a saber, Correio Braziliense, Folha de

    So Paulo e O Globo, todos com sees de entretenimento e encartes literrios semanais

    importantes, e a revista Cult, publicao mensal especializada em literatura. Prefigurado

    esse parmetro, parece pertinente anteceder a descrio com uma sentena que foi

    proferida pelo intelectual peruano Simn Rodrguez em 1828 mas que em suas linhas

    gerais permanece vigente: Vea la Europa como INVENTA y la Amrica como IMITA

    (1954, p. 91). Convm comentar que as concluses da pesquisa pareciam pertinentes at

    meados do primeiro decnio do sculo XXI, os anos 2000, de modo que hoje deve ser

    1 Trabalho apresentado no GT 1 Jornalismo do II Encontro Nordeste de Histria da Mdia, Teresina 20 e

    21 de junho de 2012

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    lida como uma lente historiogrfica. Apresentaremos estas concluses agora e o restante

    da pesquisa, concernente ao ano de 2011, em ocasio prxima. Portanto, este trabalho

    um prembulo parcial de uma investigao mais ambiciosa que vincula as circunstncias

    polticas e econmicas do pas ao incio de 2000 e dez anos depois, perodo em que se

    vislumbra uma transformao significativa da relevncia poltica e econmica do Brasil

    no mundo e uma renovao do olhar do jornalismo nacional em relao aos vizinhos.

    Muito embora indiquem alguma consequncia auspiciosa, nossas concluses confirmam

    o signo da dependncia a orientar atividades como a poltica exterior e o jornalismo no

    pas.

    A origem do texto que ora apresentamos corresponde a uma pesquisa que foi

    realizada entre os dias sete de abril e seis de maio de 2004 nos trs dirios mencionados e

    entre outubro de 2000 e agosto de 2002 na Cult. Malgrado distarem da demonstrao de

    um quadro geral, suas concluses tangenciavam o panorama da recepo das obras

    literrias e artsticas dos pases vizinhos do Brasil, que lidam muito bem com os ofcios

    da cultura. Por sua vez, a pesquisa foi motivada por uma sensao de que a cultura em

    lngua espanhola estava ganhando um terreno que antes no lhe era conferido. Em certo

    sentido uma impresso equivocada.

    Alguns signos anunciavam isso: em 2001 a X Bienal do Livro, realizada no Rio

    de Janeiro, homenageou a produo hispnica e em abril de 2001 o dossi da revista Cult

    foi consagrado produo literria Argentina. Para incremento da nossa esperana

    naquele tempo, o prestigioso Centro Cultural Banco do Brasil promoveu um ciclo de

    conferncias com autores latino-americanos, entre eles nomes de vulto como a mexicana

    Elena Poniatowska. Mas o surto hispanfilo no tardou em findar e logo percebemos que

    a situao continuou a mesma. At 2005 nenhum indcio acenava para que o tema se

    tornasse assduo e tudo apontava para uma perpetuao das notas espordicas,

    surpreendentes e sempre gratas. Hoje teramos de fazer o mesmo esforo classificatrio

    para confirmar uma tendncia que no cremos ser a mesma. Ademais de circunstncias

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    internacionais que adiante referiremos, a aprovao da lei 11.161 em 2005 que dispe

    sobre a obrigatoriedade da oferta da disciplina de lngua espanhola nas escolas do ensino

    mdio no Brasil semeou um futuro de aproximao com os vizinhos.

    A expensas da maior pertinncia de correntes especficas dos estudos

    jornalsticos, tais como a Newsmaking ou a Agenda-Setting, optamos por adotar aqui uma

    posio inspirada na Histria, nos Estudos Culturais e na Teoria da Recepo como

    sustento epistemolgico para legitimar, mesmo que subliminarmente, as circunstncias

    que as amostras estatsticas no do conta. Deve-se a escolha crena de que, mesmo que

    todas essas correntes suscitem concluses de interesse, as duas primeiras regem-se por

    iniciativas que se perfilam no cambiante campo da psicologia social. J os Estudos

    Culturais e a Teoria da Recepo convergem num mtodo que contempla a

    multiplicidade de cdigos implicados nas mensagens miditicas, mas apostam numa

    espcie de unicidade complexa da sua significao, o que consideramos ser mais

    apropriado aqui. Em verdade, queremos dizer com isso que a demonstrao dos nmeros

    obtidos foi encarnada em uma interpretao de cunho sociolgico.

    Por ltimo, comentamos que se em estudos como estes o fator esttico deveria ser

    o mais relevante por considerar o fenmeno da recepo em arte e literatura, esse

    estmulo esttico foi incorporado ao discurso abrangente das cincias sociais por tratar-se

    de recepo pela imprensa. Esta entendida como um gnero discursivo amplo que

    realiza a apreenso dos contedos sociais mediante estruturas particulares que encerram,

    entre muitos outros, componentes scio-econmicos, retricos e estticos. Isso porque as

    concluses sobre a recepo das manifestaes da arte e da literatura nos pases hipano-

    americanos pelo Correio Brazileinse, Folha de So Paulo, O Globo e a Cult foram

    inequvocas ao corresponderem pouca influncia poltica e econmica que os pases

    hispnicos e lusos exercem no mundo contemporneo, a despeito de sua boa tradio nas

    sries consideradas simblicas, como a arte e a literatura.

    No falta de pudor dizer que a economia poltica reveste todas as instncias da

    sociedade, inclusive os processos de elaborao esttica. desolador perceber que tal

    fenmeno em nossos dias ganha um feitio exacerbado, como anteciparam os intelectuais

    da chamada Escola de Frankfurt ao ponderar o uso da categoria de cultura popular na

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    classificao de certa produo simblica da sociedade moderna e preferir cunhar a noo

    de indstria cultural, termo que supunha as contradies de nosso formato de civilizao.

    Na atualidade, Frederic Jameson, por exemplo, estima que experimentamos os estertores

    da modernidade e vivemos sob os auspcios da ps-modernidade ou de uma lgica do

    capitalismo tardio (1997), que em suas palavras soa como um sistema fechado. A

    despeito da qualidade das asseres, h muito tempo autores latino-americanos debatem o

    tema, mas quase ningum os ouve. Nomes como Alfonso Reyes, Pedro Henrquez Urea,

    Jos Carlos Maritegui, Jos Maria Arguedas, Gilberto Freyre, Srgio Buarque de

    Holanda, Ezequiel Martinez Estrada etc., foram os precursores de um pensamento sobre a

    modernidade na regio. Na atualidade, Beatriz Sarlo, Nelly Richard, Jos Joaqun

    Brunner, Nestor Garca Canclini, entre muitos outros, correspondem a essa tradio.

    O idioma castelhano est entre os quatro mais falados no mundo e nem por isso

    tem estatuto privilegiado em algum foro das relaes internacionais. Ocorre algo

    semelhante com o portugus, fato que redunda no axioma de que o nmero de praticantes

    de um idioma no oferece nenhuma prerrogativa favorvel em momentos de tomada de

    deciso em cpulas polticas e econmicas multilaterais. Cerca de 400 milhes de

    pessoas falam espanhol nos mais de 20 pases em que o idioma oficial, afora os Estados

    Unidos e as Filipinas, que contam com contingentes importantes de hispano hablantes.

    Cerca de 300 milhes de pessoas tem como primeira lngua o portugus, falado em oito

    pases em quatro continentes. O espanhol o idioma neolatino mais utilizado no mundo,

    seguido do portugus. Juntos, seus praticantes se aproximam a um bilho de pessoas.

    Cabe recordar que a instncia executiva de fato da Organizao das Naes

    Unidas (ONU), o Conselho de Segurana, no conta com nenhum representante

    hispnico ou lusfono entre seus membros permamentes, mesmo que ambos os idiomas

    juntos correspondam ao falado pela populao da Amrica Latina, parte de Espanha e

    Portugal, vastas regies da frica e enclaves na sia. O formato de sociedade em que

    vivemos privilegia uma srie de valores cuja origem atribuda sobretudo civilizao

    anglfona, o que torna a alteridade uma dissidncia cultural apesar do discurso

    multiculturalista. Inclusive no mbito das publicaes chamadas cientficas, o grosso dos

    estudos so realizados em ingls, a lngua franca na sociedade do conhecimento. De

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    acordo com o Jornal da UNICAMP, 6-12 de dezembro de 2004, nos Estados Unidos

    produziram-se 243.269 mil artigos cientficos indexados em 2000, o que significou 34

    por cento do total. No entanto, se fosse contada a produo em ingls realizada fora dos

    Estados Unidos, o percentual aumentaria substancialmente. Essa posio j foi ocupada

    pelo latim na construo do mundo cristo e pelo francs durante a infncia das

    repblicas laicas modernas.

    Sabe-se que a imprensa um gnero da comunicao de massas que tem como

    um de seus princpios ser uma mediao entre os interesses e valores das esferas pblica

    e privada. De outro lado, quando se trata da chamada grande imprensa -meios cujo

    alcance fsico proporcional a sua influncia ideolgica- tem-se a impresso que

    pretendem desempenhar seu papel de representao dos fatos com certo equilbrio de

    opinies. Todavia, sabe-se tambm como esse requisito se torna relativo diante de uma

    srie de fatores, muitos deles inconscientes. Por exemplo, nesta investigao verificamos

    a hiptese de que os grandes jornais brasileiros tendem a reproduzir uma agenda cultural

    subordinada a critrios alheios tanto ao valor esttico das obras de arte e literrias que so

    resenhadas em suas pginas, como patente proximidade histrica e sobretudo

    geogrfica dos pases hispano-americanos. Talvez fosse prudente recorrer s reflexes

    sobre a colonizao do imaginrio de Serge Gruzinski, ou mesmo aos avatares da noo

    de territrio (territorializao-desterritorializao) ponderados por Milton Santos, mas

    preferimos cingir os comentrios a reflexes tericas menos abrangentes.

    Certamente a discusso se enriqueceria com a entrada das noes de colonizao

    do imaginrio, cunhada por Serge Gruzinski em livro homnimo traduzido por Beatriz

    Perrone-Moiss na edio da Companhia das Letras, 2003. Tambm se incorporasse as

    reflexes de Jess Martn Barbero, Nestor Garca Canclini ou Walter Mignolo sobre a

    territorializao do imaginrio, ou desterritorilizao propiciada pelos meios de

    comunicao de massa etc., mas cremos que no so vertentes que possam redundar em

    conseqncias produtivas aqui. Talvez um livro que valesse mesmo uma referncia fosse

    A natureza do espao, de Milton Santos (So Paulo, Hucitec, 1996), onde estabelece a

    necessidade de haver uma referncia de tipo espao-cultural para o equilbrio das relaes

    sociais no mundo cuja dinmica da economia se tornou global, transnacional etc., e a

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    percepo de espacialidade e de pertena cultural (territorializao simblica do espao

    habitado) se transformou bastante.

    Com os nmeros da pesquisa em mos, de pronto concluimos ser uma anomalia o

    fato de apenas dois escritores hispano-americanos escreverem com certa freqncia nos

    jornais mencionados, o cubano Juan Pedro Gutirrez, em O Correio Braziliense, e o

    argentino Juan Jos Saer, para A Folha de So Paulo. Sabemos que s vezes apareciam

    textos de Vargas Llosa, de Carlos Fuentes, do poltico e escritor mexicano Jorge

    Castaeda etc., mas careceria de um esforo mnemmico dizer outros nomes naquela

    poca. Os ibricos escasseavam tambm e os africanos pareciam no existir.

    Antes de apresentarmos os nmeros e seus argumentos implcitos faamos outro

    interregno de contextualizao. do conhecimento comum que o prprio estado

    brasileiro parece manter uma relao histrica conflituosa com a posio geogrfica do

    pas. Bastaria evocar nossa independncia relativa, sem mudana substancial no regime

    poltico monrquico, em muito diversa s revolues sanguinrias e definitivas ocorridas

    nos vizinhos. Esses, a exceo de Cuba e talvez do Uruguai, segundo o enfoque, eram j

    repblicas autnomas antes de nosso ambguo distanciamento da metrpole portuguesa.

    Com efeito, o fato de entre 1822 e 1889 nos mantermos em consonncia com um sistema

    poltico de feitio portugus inclusive parece um dado que foi e ainda motivo de certa

    jactncia entre alguns brasileiros que insistem em aventar hipteses esdrxulas para a

    nossa especificidade no cenrio latino-americano.

    Nosso af de alheamento simblico do espao que habitamos, uma corrente de

    perfil conservador, tem seu histrico ilustrado pela obra de Manuel Bonfim que em 1905

    disse ser a Amrica Latina uma regio com males de origem, portanto com atributos

    quase irrecuperveis (1993). Cremos que desde ento os brasileiros almejam se apartar

    dessa denominao fronteiria. revelia da negativa explcita no livro, Manuel Bonfim

    reproduz um sistema de interpretaes tergiversadas das teorias do bilogo Charles

    Darwin em seu A origem das espcies (1858), sistema em muito suscitado por uma srie

    de ressonncias nas cincias sociais e humanas da poca, cujo caso mais sonoro talvez

    seja o do filsofo Herbert Spencer, para quem os pobres eram seres inferiores

    biologicamente. Sem pretenso de sermos exatos, cremos que esse regime de idias pode

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    ser o germe para que at hoje alguns brasileiros se excluam, especialmente na fala

    cotidiana, do gentlico latino-americano.

    Esse um subtexto que tambm flui nas entrelinhas do discurso jornalstico sobre

    a comunidade de pases hispnicos e pode se materializar na pouca ocorrncia de

    assuntos relacionados com eles nos dirios brasileiros no perodo pesquisado e no teor

    negativo que esses insinuam quando presentes. Esquecem-se os editores de cultura, por

    exemplo, que a literatura hispano-americana conta com cinco prmios Nobel, enquanto o

    idioma portugus apenas um, Jos Saramago, e o Brasil, com nenhum. E prmios Nobel

    so, definitivamente, um grande assunto para a imprensa.

    Ressaltamos outra vez que este trabalho no enfatiza apenas valores esttico-

    literrios, mas postulados geopolticos. Tentamos evitar a criao de uma categoria

    extravagante como esttico-geopoltico e, como conseqncia, a necessria e quase bvia

    explicao que ela requereria. No caso da literatura, pode-se afirmar sem ironia que os

    livros e os autores hispano-americanos tm menos espao que a tradio de pases

    eslavos, por exemplo. Historicamente, Fiodor Dostoievski, Franz Kafka (judeu tcheco de

    expresso alem) e Leon Tlstoi so na imprensa brasileira mais aludidos que Miguel de

    Cervantes e Francisco de Quevedo. Se em princpio temos mais afinidades com os

    argentinos e mexicanos do que com os pases eslavos, os seus contedos culturais

    parecem merecer maior ateno. O motivo poderia estar em que essas literaturas, com

    obras produzidas por sociedades exticas quase em qualquer parte do mundo, salvo em

    seu raio de influncia geogrfica imediata, curiosamente tm maior prestgio e espao na

    imprensa das naes hegemnicas, particularmente nos Estados Unidos. Reiteramos que

    esse apenas um exemplo.

    Indo a alguns nmeros recolhidos no perodo mencionado, o jornal Folha de So

    Paulo, em sua seo cultural diria Ilustrada e no suplemento literrio de domingo, o

    Mais!, dedica em 17 de abril uma nota revivendo a querela do escritor mexicano Carlos

    Fuentes e do norte-americano Samuel J. Huntington, este ltimo criador do conceito de

    choque de civilizaes que explicaria as diferenas de viso de mundo entre o Ocidente e

    o Oriente e representaria o principal motor de rivalidades no sculo XXI. Samuel

    Huntington, grosso modo, escreveu artigos e um livro (1996) que defendiam uma tese em

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    que os hispnicos, notadamente a maioria mexicana, estariam descaracterizando a

    sociedade norte-americana, pelo que Carlos Fuentes o chamou de fascista. Essa

    escaramua era outro bom mote para a imprensa e mesmo assim no teve corolrio no

    Brasil.

    Para acirrar o tratamento dado ao tema, ou a falta de seu tratamento pela imprensa

    brasileira, acrescentamos que j na dcada de 1970, Edward Said (1978) indicava que, em

    verdade, o Oriente que todos ns parecemos conhecer, e que evocamos a cada aluso a

    um texto ou um filme produzido no Ir, na ndia ou na China, ou mesmo a um romance

    de Joseph Conrad e Rudyard Kipling, no era outra coisa seno uma inveno do

    Ocidente. Alis, Said apenas reproduz o que Srgio Buaque de Hollanda (2000) disse

    antes, em Viso do paraso, sobre a noo quimrica que os europeus tm do nosso

    continente e que o mexicano Edmundo OGorman resumiu em A inveno da Amrica

    (1958).

    Bem, no dia 18, o suplemento Mais!, no qual, como dissemos, mensalmente

    colaborava o argentino Juan Jos Saer, publicou uma entrevista com o chileno Ariel

    Dorfman, em razo do seu livro Memrias do deserto. No dia 24, a Ilustrada, tambm

    da Folha, fez meno obra do filsofo mexicano Gabriel Zaid, Livros demais (1996)

    traduzida ao portugus, e no dia 27, Bernardo Carvalho lembrou da nova edio dos

    Dirios Argentinos, de Witold Gombrowics, escritor polons que viveu muitos anos

    como exilado no pas vizinho do Brasil.

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    No caso de O Globo, na seo diria Segundo Caderno e no suplemento Prosa e Verso,

    no dia 17 de abril publicou-se um artigo sobre o livro de Ricardo Piglia, Formas breves,

    e apenas isso, em um ms!

    No Correio Braziliense a situao no difere. Em 10 de abril, no suplemento

    literrio de sbado, o Pensar, o jornal dedicou espao ao poeta peruano Antonio

    Cisneros, autor de Comentrios reais. No dia 13, a seo C, de cultura e

    entretenimento, falou da edio de Textos recobrados, o terceiro da srie que agrupa a

    obra no publicada de Jorge Luis Borges entre 1956 e 1986.

    Todavia, antes de encerrarmos esses comentrios lacnicos sobre a pesquisa nos

    jornais, convm alistar as outras menes a temas da cultura da regio. O filme de

    Walter Salles, Dirios de Motocicleta, sobre o priplo de Ernesto Che Guevara pela

    Amrica do Sul, e que sugere um perodo de aprendizado e conscincia poltica do

    revolucionrio, teve destaque em vrias edies, com a ressalva de que o diretor

    brasileiro, malgrado o tema seja do mbito hispnico.

    No dia 21 de abril, o cineasta argentino Fernando Solanas (Tango, o exlio de

    Gardel, 1985) tambm mereceu grande ateno de parte do Segundo Caderno, posto

    que se encontrava no Rio de Janeiro para uma srie de palestras e cursos. Em 23 o filme

    Sexo com amor, xito de bilheteria no mundo todo, do chileno Boris Quercia, teve um

    pequeno espao nessa seo. Lanamentos em dvd dos filmes do diretor tex-mex Robert

    Rodrguez e dos shows da colombiana Shakira, radicada em Miami, foram notificados

    em 09 de abril pela Ilustrada e 27 do mesmo ms pelo Segundo Carderno. A seo

    C de O Correio Braziliense publicou em 19 de abril uma nota sobre uma telenovela

    mexicana que seria adaptada pelo SBT e ganharia o nome de Teus olhos.

    No que concerne a temas de forte conotao poltica (ideolgica), embora

    publicados nos espaos dedicados arte e ao entretenimento, em 07 de abril a

    Ilustrada informou que a MTV faria uma pardia das telenovelas mexicanas, e no dia

    09, que John Malkovich estrearia como diretor em um filme malogrado sobre a luta

    armada no Peru, Guerrilha sem face. No dia 17 voltou a pendenga Fuentes-Huntington

    j referida e, em 22, o colunista Jos Simo glosou em tom de escrnio os comentrios

    acerca do problema de Maradona com as drogas e sua recuperao. No caso de O

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    Globo, a colunista Cora Rnai intitulou um artigo denunciatrio A Colmbia no se

    fez em um dia, de 22 de abril, em que comparou a guerra civil de mais de quarenta

    anos da nao vizinha com a violncia no Rio de Janeiro. Cumpre recordarmos que

    mais recentemente, desde fevereiro de 2005, foi tema corrente a chamada

    mexicanizao da poltica brasileira, devido aos escndalos de propinas para polticos

    do alto escalo do governo e do partido do presidente Luiz Incio Lula da Silva, o PT,

    antes arautos da moralizao do manejo do errio pblico.

    Na revista Cult a situao no distou muito do anterior, salvo incurses

    espordicas em temas que relacionaram o Brasil com os pases vizinhos imediatos ou

    com a Espanha. Quando dizemos pases vizinhos nos referimos Argentina,

    escamoteando paraguaios, bolivianos, colombianos etc., por no falarmos da alta

    literatura caribenha, mexicana ou centro-americana. No perodo de anlise, entre

    outubro de 2000 e agosto de 2002, no primeiro nmero revisado, outubro, havia um

    dossi sobre Julio Cortazar. Em dezembro de 2000 encontrou-se um depoimento de

    Eduardo Galeano, e em fevereiro e 2001uma bela traduo do poema Altazor, do

    chileno Vicente Huidobro, por Antnio Ribeiro, com ilustraes. Em abril de 2001

    houve um dossi sobre a literatura Argentina, em maio desse ano houve uma edio

    com Eduardo Subirats e menes Bienal dedicada lngua espanhola e, em junho de

    2001, comentou-se a empatia da literatura rio-grandense do sul com a argentina. Em

    julho aparecem notcias sobre as tradues existentes de textos argentinos e brasileiros

    em ambos os pases e, depois, silncio outra vez. Percebe-se, portanto, que 2001 se

    tornou ento um ano extraordinrio para a literatura em espanhol no que se refere

    ateno da Cult, muito embora tenha-se confinado s fronteiras imediatas e aos grandes

    nomes da literatura do Cone Sul, como Cortzar, Galeano, Huidobro etc., j bem

    esquadrinhados pela crtica e pelo pblico.

    Para compensar, cumpre dizer que a situao no diversa em relao nossa

    literatura nos pases hispano-americanos. Poucas tradues e pouca divulgao fazem

    do Brasil Uma ilha duplamente desgarrada, ttulo de um artigo de Luiz Costa Lima

    publicado no Mais! em 07 de maio de 2000 acerca do nosso carter insular. Mas

    acreditamos, apenas em uma leitura sem compromissos, que haja mais evocaes ao

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    Brasil nos pases hispnicos do que o contrrio. Em geral, nossa imagem menos

    desprezada pelos jornalistas hispnicos, que se deixam seduzir -e confundir- pelas

    belezas naturais amaznicas, as mulatas, a bossa-nova e a excelncia futbolstica, alis

    esporte tratado como um gnero artstico pelos jornalistas.

    De acordo com Luiz Costa Lima , mesmo assim, fato consumado sermos pouco

    conhecidos tanto pelos pases vizinhos, que compartilham histria e espao conosco,

    como pelos pases hegemnicos. Inclusive, no caso das universidades norte-americanas,

    h uma tendncia a confinar a literatura brasileira ao programa de estudos hispnicos,

    enjeitando-nos da especificidade da nossa cultura e dificultando a aproximao dos

    possveis interessados em conhecer nossas produes. Assim, se entre ns no h

    iniciativas de conhecimento mtuo, nos Estados Unidos somos estranhamente reunidos

    pelos mesmos motivos: indiferena, ignorncia, desprezo, preguia.

    As disfunes parecem ocorrer por vrios motivos, mas todos permeados por

    parmetros da economia-poltica, que apenas s vezes promovem a apreenso da obra

    de arte ou da obra literria como valor cultural ou esttico complexo, ou como produto

    de uma educao sentimental particular de uma regio que pode ser abordada

    analiticamente como uma unidad cultural, conforme o termo do crtico Angel Rama

    (1974), mas que certamente carece de iniciativas de autoconhecimento que

    propiciassem uma melhor viso do conjunto. O certo que os estudos comparativos que

    logram problematizar esses tpicos, quando assumem um tal projeto epistemolgico nos

    departamentos de cincias sociais e humanas, acabam ganhando um vis de resistncia

    algo incmodo e at anacrnico, mais ainda quando no conseguem sequer formular a

    questo: resistncia a qu?

    Pensemos agora na j obsoleta situao projetada por Harold Bloom, por

    exemplo, no livro The Western Canon (O cnone ocidental) (1994). Em sua tarefa de

    classificar o paradigma do gosto literrio no mundo, em lngua portuguesa atribuiu

    algum valor apenas a Carlos Drummond de Andrade entre os grandes autores latino-

    americanos. Recentemente, lembrou-se de Machado de Assis, a quem, por exemplo,

    Carlos Fuentes considera o maior escritor da regio no sculo XIX. Percebe-se portanto

    que o lugar de onde se emitem os juzos ganham relevncia argumentativa e o

  • 12

    jornalismo cultural brasileiro deveria ensejar uma espcie de revisionismo em seus

    padres, tanto estticos como os da noticiabilidade. Constata-se que na sociedade

    contempornea a resistncia contra a hegemonia discursiva, sustentculo das prticas

    da economia-poltica.

    Em sentido mais pontual do que o j aludido sobre a territorializao, esto os

    estudos de Gayatri Spivak em In Other Worlds: Essays in Cultural Studies, Nova York,

    Methuen, 1987, Can the Subaltern Speak?, em Marxism and the Intepretation of

    Culture, Cary Nelson e Lawrence Grossberg (eds.), Urbana, University of Illinois Press,

    1988, e Politics of the Subaltern, em Socialist Review 20, n. 3., 1993. Entre ns,

    cremos que Walter Mignolo incorre em exame da categoria de subalternidade tambm

    em relao com o lugar da elocuo dos enunciados, entre outros em Historias

    locales/diseos globales. Colonialidad, conocimientos subalternos y pensamiento

    fronterizo.

    O jornalismo brasileiro de alguma maneira ainda replica formatos cognitivos

    residuais da colnia, ao menos da poca em que os enunciados da modernidade

    comeavam a ganhar substncia na vida cotidiana dos pases centrais e entre ns ainda

    se anunciavam apenas. Sem xenofobia, os historiadores advertem para o fato de que

    geralmente eram os alemes, os franceses, os britnicos e os norte-americanos os que

    mais se indagavam sobre o que nos ocorria, atribuindo-nos valores segundo suas

    perspectivas, devido a que no logrvamos formular solues racionais para as

    circunstncias em que se produziam as textualidades que articulavam nossa

    especificidade. O fato de que no continente a criao do estado moderno tenha se

    antecipado criao da nao, conforme recorda Jorge Castaeda (1993), revela o

    processo de decretao de parte de nossa identidade pelos setores que controlavam os

    meios de produo e reproduo de idias. Algo comea a ocorrer agora com o assalto

    da academia estadounidense por intelectuais asiticos e latino-americanos que, decerto,

    no esto confinados apenas aos departamentos de estudos culturais -o que poderia

    sugerir acepes de tolerncia tnica, uma espcie e simpatia como a que se tem pela

    world music-, dado que os sobrenomes paquistaneses, hispnicos, cingaleses, chineses

    entre os pesquisadores das chamadas cincias duras confirmam a impresso.

  • 13

    Pode-se afirmar que nos ltimos tempos, a pauta histrica de reflexo na

    Amrica Latina dependncia econmica e cultural, polticas para homogeneizao de

    relaes inter-raciais, modos alternativos de racionalidade etc.- ganharam visibilidade

    nas discusses mundiais, inclusive sem o chamativo vis miserabilista dos estudos mais

    contundentes do ps-colonialismo ortodoxo, como Os condenados da terra, (s/d) de

    Frantz Fanon, por exemplo. Os novos termos do debate podem ter sido apresentados

    pelo chileno Jos Joaqun Brunner:

    Existe una tesis que sostiene que la modernidad se impuso en

    Amrica Latina como un artificio, una mentira; en cualquier caso

    como una constelacin cultural superpuesta a una realidad ms real

    de Latinoamrica, la profunda, indgena, ancestral, macondiana. De seguro, aqu residira su sustrato ms autntico. [] Segn esta tesis, para ser modernos nos falt casi todo: reforma religiosa,

    revolucin industrial, burocratizacin en serio del Estado,

    empresarios shumpeterianos y la difusin de una tica

    individualista, procesos que recin producidos hubieran hecho

    posible, despus, la aparicin en estas latitudes del ciudadano

    adquisitivo que produce, consume y vota conforme a un clculo

    racional de medios y fines (1992, p.121).

    No que tange aos estudos sobre a cultura latino-americana, a importao e o

    emprego de categorias tericas formuladas a distncia j se mostram mesmo como

    resultado da miopia histrica e do recalque das elites formadoras de opinio, como no

    Brasil perceberam Flora Sssekind (1990) e Roberto Schwarz (2000). Homi Bhabha, o

    crtico indo-britnico, em O local da cultura (1998) elabora bons argumentos para a

    nossa circunstncia atual quando conclui que no terceiro mundo a noo de progresso

    distinta da inglesa, por exemplo. Em nossos pases, o signo da modernidade nos chega

    por intermdio do rdio, da televiso, dos quadrinhos e quando muito do cinema e da

    Internet. Ele sentencia que ns apenas ouvimos falar da modernidade, nunca a sentimos

    ou a vivemos, salvo nas relaes catrticas que mantemos com a representao dos

    meios de comunicao de massa.

    Inmeros autores latino-americanos emitiram comentrios idnticos, entre eles,

    Carlos Monsivais, Beatriz Sarlo, Guillermo Bonfil Batalla, Nestor Garca Canclini e

    Renato Ortiz, entre muitos outros. Quando Jesus Martn Barbero estudou a relao entre

  • 14

    o romance de folhetim no sculo XIX na Amrica Latina, o cinema melodramtico no

    incio do sculo XX e a conformao de uma imaginao nacional que nos inseria,

    quase que por contrabando, no concerto dos pases com imaginao moderna, aclarou o

    modelo de racionalidade que desenvolvemos:

    Por ms escandaloso que suene, es un hecho cultural que las

    mayoras en Amrica Latina se estn incorporando a, y

    apropindose de la modernidad sin dejar su cultura oral, esto es, no

    de la mano del libro sino desde los gneros y las narrativas, los

    lenguajes y los saberes, de la industria y la experiencia audiovisual.

    []Lo que entonces necesitamos pensar es la profunda compenetracin la complicidad y complejidad de relaciones- que hoy se produce en Amrica Latina entre la oralidad que perdura

    como experiencia cultural primaria de las mayoras y la visualidad

    tecnolgica, esa forma de oralidad secundaria que tejen y organizan las gramticas tecnoperceptivas de la radio y el cine, del

    vdeo y la televisin. Pues esa complicidad entre oralidad y

    visualidad no remite a los exotismos de un analfabetismo

    tercermundista [] (MARTN-BARBERO;REY, 1999, p. 34)

    A despeito dos ramos interpretativos que surgiram a partir dos nmeros da

    pesquisa quantitativa realizada nos dirios Correio Braziliense, Folha de So Paulo, O

    Globo e na revista Cult, as concluses mais pontuais so no sentido de que a imprensa

    brasileira ainda em 2004 e se pode dizer que ainda em 2011 reproduzia uma ordenao

    noticiosa de vis dependente ou mesmo colonizada, tal como sugere Masao Miyoshi

    (2010). Essa idia surge devido a que se nas editorias de poltica e economia se

    explicaria essa propenso a obedecer aos ditames noticiosos dos pases centrais, no caso

    das manifestaes culturais, em princpio, deveramos seguir antes o gosto, que tende a

    alinhar-se com estmulos que provocam o reconhecimento. No obstante, na imprensa

    tematizam-se uns em relao com os outros, demonstrando o carter condicionado e

    convergente dos discursos contemporneos, com vistas formao de uma imaginao

    consensual que propicie a manuteno do equilbrio cognitivo. Se uma tal concluso era

    possvel h quase dez anos, no cremos poder confirm-la agora sem aditar valores que

    impliquem na ingerncia de novos enunciados no jogo de foras em busca da

    representao discursiva, elemento central no atual formato de sociedade.

  • 15

    Referncias Bibliogrficas:

    BHABHA, H. O local da cultura. Trad. de Myriam vila et. al.. Belo horizonte: UFMG, 1998.

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    pensamiento fronterizo. Trad. de Juan Maria Madariaga e Cristina Veja Solis. Madri: Akal,

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    RAMA, A. Um processo autonmico: das literaturas nacionais literatura latino-americana. Argumento, So Paulo, ano 1. n. 3 (janeiro 1974).

  • 16

    RODRIGUEZ, S. Sociedades americanas em 1928. IN: RODRIGUEZ, Simn. Escritos de Simn Rodrguez. Caracas: Sociedad Bolivariana, 1954, vol. I.

    SAID, E. Orientalism. Nova York: Pantheon Books, 1978.

    SCHWARZ, R. Um mestre na periferia do capitalismo. So Paulo: Duas Cidades/Editora 34,

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    __________________Que horas so? So Paulo: Companhia das letras, 1997.

    SSSEKIND, F. O Brasil no longe daqui. So Paulo: Companhia das Letras, 1990.

    ZAID, G. Los demasiados libros. Mxico: Ocano, 1996.