Aula 5 adolescência e alteridade

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Adolescência e alteridade Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá. Ítalo Calvino

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Adolescência e alteridade

Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que

não teve e o que não terá.Ítalo Calvino

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Narrador – Era uma vez uma rainha que vivia em umgrande castelo. Ela tinha uma varinha mágica que fazia aspessoas bonitas ou feias, alegres ou tristes, vitoriosas oufracassadas. Como todas as rainhas, ela tinha um espelhomágico. Um dia querendo avaliar sua beleza, também ela

perguntou ao espelho. Rainha – Espelho, espelho meu, existe alguém mais

bonita do que eu?

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ESPELHO- Minha rainha os tempos estão mudados. Estanão é uma resposta tão simples. Hoje em dia, para

responder a sua pergunta eu preciso de alguns elementosmais claros.

NARRADOR – atônita, a rainha não sabia o que dizer.Só lhe ocorreu perguntar. RAINHA – como assim?!

ESPELHO – veja bem. NARRADOR – Respondeu o espelho.

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ESPELHO – em primeiro lugar, preciso saber por que

vossa majestade fez essa pergunta, ou seja, o que pretende

fazer com minha resposta. Pretende apenas levantar dados

sobre ´seu ibope no castelo? Pretende examinar seu nível

de beleza, comparando com o de outras pessoas, ou sua

avaliação visa ao desenvolvimento de sua própria beleza,

sem nenhum critério externo? É uma avaliação

considerando a norma ou critérios predeterminados?

De toda forma, é preciso, ainda, que vossa majestade me diga

se pretende fazer uma classificação dos resultados.

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NARRADOR – e continuou o espelho: ESPELHO – além disso, eu preciso que vossa majestademe defina com que bases devo fazer essa avaliação. Devoconsiderar o peso, a altura, a cor dos olhos, o conjunto?

Quem devo consultar para fazer essa análise? Porexemplo se consultar somente os moradores do castelo,

vou ter uma resposta; por outro lado, se utilizarparâmetros nacionais, poderei ter outra resposta.

Entre aturma da copa ou mesmo entre os anões a Branca de Neveganha estourado. Mas, se perguntar aos seus conselheiros,

acha que minha rainha terá o primeiro lugar. Depois,ainda tem o seguinte.

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NARRADOR – continuou o espelho: ESPELHO – como vou fazer essa avaliação? Devo

utilizar análises continuadas? Posso utilizar alguma provapara verificar o grau dessa beleza? Utilizo a observação?

NARRADOR- Finalmente concluiu o espelho: ESPELHO – será que estou sendo justo? Tantos são os

pontos a considerar...”

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O que é alteridade?

“Estado, qualidade daquilo que é outro, distinto (antônimo de

Identidade)”

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Jodelet (1998) destaca que a questão daalteridade vem sendo tratada há muito tempo por uma diversidade de espaços intelectuais que vão desde a filosofia às ciências ditas humanas e sociais, sendo que a psicologia esteve ausente desse debate até a emergência da abordagem das representações sociais.

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Se no passado o outro era de fato diferente,distante e compunha uma realidadediversa daquela de meu mundo,hoje, o longe é perto e o outro é tambémum mesmo, uma imagem do eu invertidano espelho, capaz de confundir certezas pois, não se trata mais de outros povos, outras línguas, outros costumes.

O outro hoje, é próximo e familiar, masnão necessariamente é nosso conhecido.(Gusmão, 1999, pp. 44-45)

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Para Vygotsky a existênciade um eu só é possível via relações sociais e, ainda que singular, é sempre e necessariamente marcado pelo encontro permanente com os muitos outros quecaracterizam a cultura.

Cada pessoa, para Vygotski (2000, p. 33), é “

um agregado de relações sociais encarnadas num indivíduo”.

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A sensação de alteridade - de distância ou separação de determinados outros - é praticamente um resultado inevitável da vida social

Geramos realidades e moralidades dentro de grupos específicos- família, amizades, local de trabalho, contexto religiosoAtravés de nossos interlocutores - explícita ou implìcitamente obtemos um idéia de quem somos, do que é real e do que é certo.

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A importância do diálogo

• Paulo Freire

• Gergen (diálogo transformador)

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A égide de um ideal único de supremacia faz nascer a intolerância a qualquer alteridade mais próxima, em função de resguardar o narcisismo. O diferente ao produzir um estranhamento fomenta impulsos hostis contra aqueles que ameaçam o espelho. O apagamento da diferença eu / outro, sob a bandeira da imagem idealizada parece, em nossa cultura, estar se transformando em um ideal de normatização social.

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É nesta cultura que nega a alteridade e empobrecida simbolicamente, que o adolescente necessita buscar as referências que lhe permitam um suporte àconstrução de seus ideais. Desta forma, podemos afirmar que, uma cultura que toma o corpo como ideal máximo de perfeição, leva o adolescente à busca de um corpo idealizado o que não lhe permite transpor os muros do narcisismo.

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Texto: Por uma valorização da alteridade.

Filme: Carruagens de fogo