Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)

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Excedente do consumidor e do produtor 2014 1. EFICIÊNCIA DE MERCADO 1 Como você já sabe, mercado é, em uma definição econômica simples, o espaço de encontro entre ofertantes e demandantes em uma determinada economia, ou seja, onde os produtores oferecem seus produtos e os demandantes compram esses produtos. Você deve se lembrar também que, em economias chamadas “economias de mercado”, a oferta e a demanda se ajustam de modo a determinar o preço e a quantidade de equilíbrio. Dessa maneira, o mercado aloca de maneira satisfatória os seus recursos escassos. Mas fica aí uma dúvida: no equilíbrio de mercado, os preços e quantidades são realmente os desejáveis? Inicia-se aqui o estudo da economia do bem-estar, que envolve a análise de como a alocação dos recursos escassos afeta o bem-estar econômico. Sem dúvida, produtores e consumidores se beneficiam por participarem do mercado, uma vez que aqueles conseguem vender aí seus produtos e estes conseguem aí os bens e serviços cujo consumo consideram necessários. Mas, reformulando a pergunta feita acima, é possível dizer que o equilíbrio de mercado maximiza o bem-estar econômico de uma sociedade? Surgem aqui dois conceitos importantes para ajudar-nos a responder a essa pergunta: o de excedente do consumidor e o de excedente do produtor. 1.1 O Excedente do Consumidor A disposição de um consumidor para pagar por um produto depende de suas preferências individuais. Assim, o “excedente do consumidor” 1 Esse texto é baseado em MANKIW, Gregory. Introdução à Economia. Cap. 7, 14, 15, 16 e 17. Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

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Excedente do consumidor e do produtor 2014

1. EFICIÊNCIA DE MERCADO1

Como você já sabe, mercado é, em uma definição econômica simples, o espaço de encontro

entre ofertantes e demandantes em uma determinada economia, ou seja, onde os produtores

oferecem seus produtos e os demandantes compram esses produtos.

Você deve se lembrar também que, em economias chamadas “economias de mercado”, a

oferta e a demanda se ajustam de modo a determinar o preço e a quantidade de equilíbrio . Dessa

maneira, o mercado aloca de maneira satisfatória os seus recursos escassos. Mas fica aí uma dúvida: no

equilíbrio de mercado, os preços e quantidades são realmente os desejáveis?

Inicia-se aqui o estudo da economia do bem-estar, que envolve a análise de como a alocação

dos recursos escassos afeta o bem-estar econômico. Sem dúvida, produtores e consumidores se

beneficiam por participarem do mercado, uma vez que aqueles conseguem vender aí seus produtos e

estes conseguem aí os bens e serviços cujo consumo consideram necessários. Mas, reformulando a

pergunta feita acima, é possível dizer que o equilíbrio de mercado maximiza o bem-estar econômico de

uma sociedade?

Surgem aqui dois conceitos importantes para ajudar-nos a responder a essa pergunta: o de

excedente do consumidor e o de excedente do produtor.

1.1 O Excedente do Consumidor

A disposição de um consumidor para pagar por um produto depende de suas preferências

individuais. Assim, o “excedente do consumidor” lida com o valor máximo que o consumidor pagaria por

um determinado bem ou serviço. Envolve, portanto, a medida do valor que um consumidor atribui a

esse produto.

Tomemos como exemplo as preferências de três compradores diferentes, Cláudia, Maísa e

Pedro, por um prato de sushi. Considere que, ao se perguntar a cada um deles quanto estariam

dispostos a pagar por um prato de sushi, eles respondam,

respectivamente, que estariam dispostos a pagar R$50, R$30 e

R$20 (observe o quadro ao lado). A noção de excedente do

1 Esse texto é baseado em MANKIW, Gregory. Introdução à Economia. Cap. 7, 14, 15, 16 e 17.Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

ConsumidorDisposição para Pagar

Cláudia R$50Maísa R$30Pedro R$20

Page 2: Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)

Preço

R$50 Disposição para pagar de Cláudia

R$30 Disposição para pagar de Maísa

R$20 Disposição para pagar de Pedro

Demanda

0 1 2 3 Quantidade

Preço Preço: R$30

R$50

R$30

R$20

Demanda

0 1 2 3 Quantidade

Excedente do consumidor e do produtor 2014

consumidor leva em conta essa disposição para pagar por um determinado produto em relação ao valor

efetivamente pago. Assim, temos que:

Dessa maneira, caso os três consumidores fossem a um restaurante japonês e cada um

consumisse, por exemplo, um prato de sushi no valor de R$20 reais, teríamos como Excedente do

Consumidor: R$30 para Cláudia, R$10 para Maísa e R$0 para Pedro.

O excedente do consumidor pode também ser calculado a partir da curva de demanda. Imagine

que o quadro ao lado tenha por referência o

mesmo prato de sushi referido acima, com a

relação existente entre o preço do prato, o

número de potenciais consumidores e a

quantidade demandada do produto.

Podemos representar essa situação

graficamente da seguinte maneira 2:

Vimos acima que podemos calcular o excedente do consumidor por meio da diferença entre a

disposição para pagar e o valor efetivamente

pago por um produto. Graficamente, também

podemos medir o valor desse excedente por

2 ATENÇÃO: Essa é apenas uma representação didática da situação apresentada, visto que há apenas três consumidores aqui representados. Você viu em textos anteriores que as curvas de oferta e demanda são normalmente representadas por retas (ou curvas), e não por meio de escadas. Isso porque elas representam a oferta e a demanda agregadas, ou seja, de todos os produtores e consumidores desse mercado (e não de apenas alguns, como nesse exemplo). Portanto, continue utilizando retas (ou curvas) para representar a oferta e a demanda em um dado mercado!Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

PreçoNº de Potenciais Compradores Quantidade

DemandadaAcima de R$50 0 0R$30 a R$50 1 1R$20 a R$30 2 2R$20 ou menos 3 3

Excedente do Consumidor = Disposição para Pagar – Valor Efetivamente Pago

Page 3: Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)

Preço A

Excedente do Consumidor para o preço P1

P1 B C

Demanda

Q1 Quantidade

Excedente do consumidor e do produtor 2014

meio da área do polígono formado entre a curva de demanda e um preço P determinado. Vejamos os

exemplos abaixo para compreender melhor.

Para qualquer preço acima de R$30 e abaixo de R$50, temos um consumidor disposto a pagar

pelo prato de sushi (Cláudia). O excedente do consumidor é, portanto, equivalente à diferença entre

R$50 (disposição para pagar de Cláudia) e o valor do prato. A R$30, temos que o excedente do

consumidor de Cláudia será igual à área sombreada. Temos, assim, um excedente do consumidor igual a

R$20. Isso significa que Cláudia pagou R$20 a menos pelo prato de sushi do que estaria disposta a pagar.

Analisemos agora qual o excedente do consumidor ao preço de R$20. Veja o gráfico a seguir.

Nesse gráfico, está representada uma

situação em que o preço do prato de sushi é

igual a R$20. A esse preço, sabemos que os três

consumidores estariam dispostos a consumir o

prato de sushi, mas como a disposição para

pagar de Pedro é igual a R$20, não temos

excedente do consumidor para Pedro a esse

preço. Pelo gráfico, podemos perceber que o

excedente do consumidor de Cláudia, aqui

representado pela área sombreada mais clara,

seria igual a R$30. Da mesma maneira, o excedente do consumidor de Maísa, representado pela área

sombreada mais escura, é igual a R$10. Temos, portanto, que o excedente do consumidor total, ao

preço de R$20, é igual à soma das duas áreas sombreadas, ou seja, é igual a R$30 + R$10 = R$40.

Vimos aqui uma representação didática do excedente do consumidor, considerando-se que

temos apenas três consumidores demandando o produto oferecido no mercado (o prato de sushi).

Entretanto, a situação da maioria dos mercados que encontramos no dia-a-dia é bem diferente, com

inúmeros consumidores demandando os bens e serviços ofertados pelos produtores. Assim, a

representação gráfica do excedente do consumidor a um determinado preço P1, em uma curva de

demanda agregada, seria a seguinte:

Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

Preço Preço: R$20

R$50

R$30

R$20

Demanda

0 1 2 3 Quantidade

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Excedente do consumidor e do produtor 2014

O excedente do consumidor na situação representada no gráfico ao lado pode ser facilmente

identificado como a área sombreada acima de P1. Isso porque, ao preço P1, há Q1 consumidores

dispostos a pagar pelo bem em questão. À medida que esse preço aumentar, a quantidade demandada

certamente diminuirá, até que se atinja o ponto A, acima do qual nenhum comprador está disposto a

pagar por esse produto por qualquer que seja o preço. Temos, portanto, que a área sombreada nesse

gráfico representa o excedente do consumidor total para esse mercado ao preço P 1, isso é, a soma dos

excedentes do consumidor de cada agente econômico demandante desse bem a esse preço. Assim, o

excedente do consumidor total ao preço P1 pode ser calculado por meio da área do triângulo ABC.

Considere agora outra situação, com referência ao mesmo mercado, em que se estabelece um

preço P2, menor que o preço P1. Assim, teremos que:

Como demonstrado acima, o excedente

do consumidor inicial, a um dado preço P1, era

igual à área sombreada mais clara,

correspondente à área do triângulo ABC. Agora, a

um preço P2 menor que P1, temos que o

excedente do consumidor para os compradores

iniciais (isso é, aqueles que compravam esse

produto quando o preço era igual a P1)

aumentou, como se pode ver pela área

sombreada mais escura, correspondente ao

retângulo BCED. Além disso, há uma nova quantidade de compradores (Q2 – Q1) disposta a também

adquirir esse produto, caso seja comercializado ao preço P2. Temos, assim, que o excedente do

consumidor para os novos compradores corresponde à área quadriculada no gráfico, correspondente à

área do triângulo CEF. Desse modo, temos que o excedente do consumidor total a um preço P2 equivale

ao somatório das áreas do triângulo ABC, do retângulo BCED e do triângulo CEF, ou simplesmente à área

do triângulo maior ADF.

Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

B

D EF

Preço A

Excedente do Consumidor para o preço P2

P1 C C P2

Demanda

Q1 Q2 Quantidade

B

D EF

Page 5: Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)

Preço Oferta

R$20 Custo total do restaurante Natural

R$15 Custo total do restaurante Saboroso

R$10 Custo total do restaurante Mestre Cuca

0 1 2 3 Quantidade

Excedente do consumidor e do produtor 2014

1.2 O Excedente do Produtor

Da mesma maneira como temos para os consumidores um excedente que indica a diferença

entre o preço que se estava disposto a pagar e o preço efetivamente pago, temos também essa relação

para os produtores, que indica a diferença entre o valor ao qual um determinado produto foi vendido

no mercado e o seu custo3 de produção. É o que chamamos de excedente do produtor. Assim, temos

que:

O excedente do produtor, portanto, mede os benefícios

que os produtores recebem ao participar do mercado.

Considere, por exemplo, a produção de pratos de sushi por três

diferentes restaurantes, Natural, Saboroso e Mestre Cuca. O

custo de produção dos três restaurantes é, respectivamente, igual

a R$20, R$15 e R$10 (observe o quadro).

O excedente do produtor pode ser

avaliado a partir da curva de oferta. Assim,

imagine que o quadro ao lado tenha por

referência a produção desse prato de sushi,

com a relação existente entre o preço do

prato, o número de potenciais vendedores e a quantidade ofertada do produto.

Para melhor visualizar essa situação, vamos construir um gráfico que a ilustre. Observe abaixo.

3 O custo de produção inclui o lucro “normal”, ou seja, a remuneração suficiente para manter os produtores no mercado.Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

RestauranteCustos de Produção

Natural R$20Saboroso R$15Mestre Cuca

R$10

PreçoNº de Potenciais Vendedores

Quantidade Ofertada

Acima de R$20 3 3R$15 a R$20 2 2R$10 a R$15 1 1Abaixo de R$10 0 0

Excedente do Produtor = Valor Recebido – Custos de Produção

Como vimos acima, o excedente do consumidor mede objetivamente o benefício que o consumidor

recebe ao adquirir um bem, de acordo com o seu próprio ponto de vista. O excedente do consumidor é,

portanto, uma medida do bem-estar econômico, e quanto maior o seu valor, maior o benefício aos

consumidores desse mercado.

Page 6: Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)

Preço Oferta

R$20

R$15 Preço: R$15

R$10

0 1 2 3 Quantidade

Excedente do consumidor e do produtor 2014

Da mesma forma que o excedente do consumidor, o excedente do produtor também pode ser

calculado por meio do gráfico. Teremos, desse modo, que o excedente do produtor equivale à área do

polígono determinado pela curva de oferta e um determinado preço de comercialização. Assim, temos

que o valor mínimo para que haja excedente do produtor é igual ao menor custo de produção dentre os

três restaurantes (R$10). Portanto, acima de R$10 existe excedente do produtor para quaisquer preços

determinados. Vamos proceder agora à análise gráfica do excedente do produtor.

Ao preço de R$15, temos que há dois

restaurantes dispostos a ofertar seus produtos

no mercado: Mestre Cuca e Saboroso.

Entretanto, o excedente do produtor para o

Saboroso é igual a zero, visto que, a esse preço, o

preço ao qual o prato de sushi é comercializado é

igual ao seu custo de produção. Portanto, nessa

situação o excedente do produtor total diz

respeito apenas ao excedente do produtor do

restaurante Mestre Cuca. Assim, o excedente do

produtor do restaurante Mestre Cuca é igual à área sombreada no gráfico, ou seja, igual a R$5.

Analogamente, analisemos agora qual será o excedente do produtor ao preço de R$20.

Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

Page 7: Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)

Preço Oferta

R$20

R$15 Preço: R$20

R$10

0 1 2 3 Quantidade

Excedente do consumidor e do produtor 2014

Conforme o gráfico ao lado, ao preço de

R$20 todos os produtores estariam dispostos a

ofertar seus pratos de sushi no mercado (embora

o restaurante Natural não possua excedente do

produtor, visto que seus custos de produção

seriam iguais ao seu preço de comercialização).

Assim, temos que o excedente do produtor total,

ao preço de R$20, seria igual à soma do excedente

do produtor do restaurante Mestre Cuca

(sombreado mais claro no gráfico ao lado) e do

excedente do produtor do restaurante Saboroso (sombreado mais escuro no gráfico ao lado). Nessa

situação, temos que, ao preço de R$20, o excedente do produtor total é igual a R$10 + R$5 = R$15.

Do mesmo modo que podemos mensurar

o excedente do consumidor em um mercado

maior por meio das relações estabelecidas entre

preço e quantidade no gráfico que representa a

curva de demanda, conforme mostrado acima,

podemos também calcular o valor do excedente

do produtor por meio das relações entre preço e

quantidade no gráfico que representa a curva de

oferta agregada. Temos, portanto, que o

excedente do produtor ao preço P1 é igual à área

delimitada pela curva de oferta e esse preço, ou seja, corresponde à área do triângulo ABC.

Estabelecendo-se um novo preço P2,

maior que P1, temos que:

O excedente adicional em P2 para os

primeiros produtores, ou seja, aqueles que já

possuíam excedente do produtor em P1 (Q1), é

igual à área do retângulo BCED, sombreado mais

escuro. O excedente do produtor para os novos

produtores, ou seja, aqueles que não produziam

em P1 (Q2 – Q1), é igual à área quadriculada, que é

Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

Preço

Oferta

P1

Excedente do Produtor para o preço P1

Q1 Quantidade

A

B C

Preço

P2 Oferta

P1

Excedente do Produtor para

o preço P2

Q1 Q2 Quantidade

A

B C

D E FF

Page 8: Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)

Excedente do consumidor e do produtor 2014

correspondente à área do triângulo CEF. Temos, portanto, que o excedente do produtor total em P 2 é

igual à soma das áreas do triângulo ABC, do retângulo BCED e do triângulo CEF, ou simplesmente à área

do triângulo maior ADF.

1.3 A Eficiência de Mercado

Vimos acima como são calculados o excedente do consumidor e o excedente do produtor, e

como podemos mensurá-los por meio das representações gráficas de oferta e demanda que já

conhecemos. Analisaremos agora as duas situações de maneira simultânea. Relembrando, temos que:

Se somarmos o excedente do consumidor e o excedente do produtor, chegaremos ao excedente

total do mercado, visto que levaremos em consideração, dessa maneira, os excedentes tanto dos

demandantes quanto dos ofertantes. Temos, assim, que:

Como o valor pago pelos compradores é igual ao valor recebido pelos vendedores, esses dois

valores irão se anular na fórmula do excedente total descrita acima, e teremos, assim, que:

Logo,

Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

Excedente do Consumidor = Disposição para Pagar – Valor Efetivamente Pago

Excedente do Produtor = Valor Recebido – Custos de Produção

Excedente Total = Excedente do Consumidor + Excedente do Produtor

Excedente Total = Disposição para Pagar – Valor Efetivamente Pago + Valor Recebido – Custos de Produção

Excedente Total = Disposição para Pagar – Custos de Produção

Dessa maneira, o excedente do produtor mede objetivamente o benefício que o produtor recebe ao

vender um bem, de acordo com o seu próprio ponto de vista. O excedente do produtor também é, portanto,

uma medida do bem-estar econômico, e quanto maior o seu valor, maior o benefício aos produtores desse

mercado.

Valor Efetivamente Pago = Valor Efetivamente Recebido

Page 9: Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)

Excedente do consumidor e do produtor 2014

Dessa maneira, temos que o excedente total do mercado corresponde à diferença entre a

disposição para pagar e os custos de produção.

Um mercado é considerado eficiente quando a alocação de recursos maximiza o excedente

total e seu resultado, para a sociedade, é o maior possível. Entretanto, isso não significa que esse

resultado seja dividido de maneira igual entre seus participantes. Pelo contrário. Como visto na unidade

1 dessa apostila, há uma diferença importante entre os conceitos de igualdade e equidade. O que ocorre

aqui é a equidade, ou seja, uma imparcialidade na distribuição desse resultado da alocação de recursos

para a sociedade. Em outras palavras, todos os participantes desse mercado são beneficiados em uma

situação de eficiência de mercado, mas nem todos são beneficiados de maneira igual.

Mas afinal, qual é essa situação na qual se maximiza o excedente total? Em que situação

podemos dizer que chegamos à “eficiência de mercado”?

Você viu, ao longo dos demais textos da unidade 2, que a oferta e a demanda de um bem em um

determinado mercado podem ser representadas por duas curvas, uma crescente e outra decrescente,

em um gráfico cujos eixos são preço e quantidade, como mostrado abaixo.

De acordo com o que vimos acima,

referente aos excedentes do consumidor e do

produtor a determinados preços P1 e P2, por

exemplo, podemos dizer que, no ponto em que

as curvas de oferta e demanda se cruzarem no

espaço (ou seja, no ponto de equilíbrio), teremos

uma situação que maximiza o excedente total

desse mercado, como demonstrado na

representação gráfica ao lado. Na área

sombreada mais escura, temos o excedente do

consumidor e, na área sombreada mais clara, o excedente do produtor. O excedente total corresponde,

portanto, à soma dessas duas áreas.

Assim, podemos afirmar que é no

equilíbrio de mercado que alcançamos a

eficiência. Isso nos permite dizer que o mercado

livre aloca a oferta aos compradores que

atribuem um valor máximo a um bem e a

demanda aos produtores com o mínimo custo de

Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

Preço

Oferta

Preço de Equilíbrio

Demanda

QE Quantidade

E

Preço

Oferta

Preço de Equilíbrio

Preço máx Demanda

Q Quantidade

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Excedente do consumidor e do produtor 2014

produção. Para preços maiores que o preço de equilíbrio, o valor para os compradores é maior que o

custo para os produtores. Para preços menores que o preço de equilíbrio (como no gráfico ao lado,

que representa a imposição de um preço máximo pelo Governo), o valor para os compradores é

menor que o custo para os produtores. Pelo gráfico, percebe-se que a quantidade Q que será

comercializada é inferior à quantidade de equilíbrio (uma vez que, a esse preço, os ofertantes desejam

vender uma quantidade menor do produto). O excedente total, portanto, corresponde à soma das áreas

dos trapézios representadas no gráfico (e é, claramente, menor que aquele em uma situação de

equilíbrio de mercado). Em ambas as situações, não temos uma situação de eficiência de mercado.

Assim, é a quantidade de equilíbrio que maximiza a soma dos excedentes do produtor e do

consumidor.

Quando os mercados não são perfeitamente competitivos, um único comprador ou vendedor (ou

um pequeno grupo) pode controlar os preços, e essa capacidade de influenciar os preços é chamada de

poder de mercado. O poder de mercado pode resultar em ineficiência, porque pode manter preços e

quantidades fora do ponto de equilíbrio. Passaremos agora à discussão acerca das estruturas de

mercado existentes, que dizem respeito à forma de organização dos mercados, começando pela já

mencionada estrutura de concorrência perfeita.

2. ESTRUTURAS DE MERCADO

2.1 Concorrência Perfeita

Em um mercado de concorrência perfeita, há quatro pressupostos básicos:

1) Existem inúmeros compradores e vendedores, e cada um deles sem influência sobre a

determinação dos preços (são tomadores de preço);

2) Os vendedores oferecem produtos homogêneos, isso é, produtos sem diferenciação entre si;

3) A entrada e a saída de empresas do mercado são livres.

4) Compradores e vendedores, em um mercado de concorrência perfeita, possuem também

livre acesso à informação, sem quaisquer custos.

Dessa maneira, em um mercado de concorrência perfeita, a ação individual de um comprador ou

de um vendedor tem impacto negligenciável sobre os preços, dado o pressuposto 1 citado acima. Os

compradores e vendedores, nesse tipo de estrutura, entendem os preços como um dado do mercado, e

têm que aceitar os preços praticados nele. O pressuposto número 2 é fundamental para que se

caracterize um mercado de concorrência perfeita. A existência de diferenciações entre os produtos

Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

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Excedente do consumidor e do produtor 2014

oferecidos já não o caracteriza mais como tal, mas sim como uma concorrência monopolística, como se

verá melhor abaixo. O pressuposto número 3 indica que não há barreiras (como a formação de trustes e

cartéis) que impeçam a entrada de outros vendedores e compradores nesse tipo de mercado.

2.2 Monopólio

A característica mais importante em um monopólio é o número de empresas: há apenas uma.

Nessa situação, não há curva de oferta. O monopolista apenas observa a curva de demanda do mercado

e ajusta o preço de maneira a alcançar o lucro máximo. Assim, o monopolista detém o mercado de um

determinado produto ou serviço, e pode impor preços aos que o comercializam.

Existe monopólio quando se tem apenas um vendedor de um determinado bem para o qual

não existem substitutos próximos. Além disso, como forma de proteção contra possível concorrência,

há barreiras à entrada de empresas que queiram vender o mesmo bem ou um bem substituto a ele,

como por exemplo:

- Economias de escala: geralmente, empresas novas tendem a entrar no mercado com níveis de

produção inferiores aos das empresas já ali estabelecidas. Dessa maneira, devido às “economias de

escala” (os custos médios de produção decrescem com o aumento do volume de produção), os custos

médios da empresa nova serão mais altos que os de uma empresa já estabelecida e, assim, aquela

empresa não consegue entrar no mercado de maneira competitiva.

- Lobby político: ocorre quando as condições de um monopólio são dadas por influência política.

- Proteção legal: garantindo ao detentor exclusividade no mercado, proteções legais tais como o

direito autoral e as patentes protegem os produtores contra possíveis empresas concorrentes.

- Propriedade exclusiva de matéria-prima: por meio do controle de recursos necessários à

produção de determinado bem, pode-se proteger o mercado da entrada de novas empresas

concorrentes.

É fato que, da mesma forma como na concorrência perfeita, os casos de monopólios “puros” são

raros, mas a “teoria do monopólio” trata do comportamento de empresas que se aproximam dessas

condições de monopólio puro. Dessa maneira, ter o poder de monopólio significa o fato de o vendedor

ter capacidade de controlar o preço do produto, sem uma curva de oferta.

Os monopólios podem surgir de três formas.

A primeira delas é quando há recursos monopolísticos, ou seja, quando apenas uma empresa

tem um recurso exclusivo, quando tem um direito exclusivo de propriedade ou quando os custos de

Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

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Excedente do consumidor e do produtor 2014

produção a tornam o único produtor, por ser mais eficiente que os demais e, dessa forma, criar uma

barreira à entrada de outras empresas no mercado.

A segunda se refere aos monopólios criados pelo governo, como pelos direitos autorais, pela lei

das patentes ou mesmo por questões políticas, quando se trata de interesse público. Os benefícios da

criação de tal monopólio estão no incentivo à atividade criadora.

A terceira forma refere-se a uma situação que será estudada em um dos próximos textos: é o

chamado “monopólio natural”. Essa é uma situação de mercado na qual os investimentos iniciais para

entrada no mercado são extremamente elevados e os custos marginais são muito baixos, o que

inviabiliza a existência de concorrência. Assim, tem-se por sua característica que o custo total diminui

com o aumento de uma unidade produzida.

As políticas públicas podem servir para melhorar os resultados nos mercados monopolísticos por

meio de quatro formas principais de interferência. Como principais políticas públicas, temos: as leis

antitrustes impedem fusões e desmembram empresas (no entanto, deve-se analisar o custo social dos

monopólios com os benefícios das sinergias a serem impedidas); a regulamentação dos preços, comum

nos monopólios naturais, tem por maior problema a falta de incentivos à redução de custos; a

privatização das empresas, ou seja, a administração das empresas pelo governo (e não mais pela

iniciativa privada); e não intervir, pois, de acordo com os defensores desse pensamento, a definição do

papel apropriado do governo na economia requereria julgamentos tanto sobre política quanto sobre

economia.

Uma das estratégias de maximização dos lucros do monopolista se chama discriminação de

preços. Por meio dela, fomenta-se uma separação dos compradores pela sua disposição a pagar. A

discriminação de preços aumenta o bem-estar econômico, pois gera um maior excedente do produtor.

Alguns exemplos dessa situação são os ingressos de cinema mais baratos para crianças, diferenças nos

preços das passagens aéreas em função das “classes” do avião etc.

A estrutura de mercado que se situa entre os mercados competitivos e os monopólios

representa uma situação em que as empresas não enfrentam o mesmo grau de competição dos

mercados competitivos e não são tomadoras de preço. Trata-se da chamada “competição imperfeita”,

que compreende a concorrência monopolística e os oligopólios (explicados abaixo).

2.3 Concorrência Monopolística

Na concorrência monopolística, há um grande numero de empresas com livre entrada e saída do

mercado, cada uma oferecendo produtos que não são similares ou idênticos. Dessa maneira, os

Egas Armando ( em Revisão) Notas de aula 1

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Excedente do consumidor e do produtor 2014

vendedores têm alguma liberdade sobre a escolha de preço, visto que cada produto é único. Dessa

maneira, o preço tende a ser maior que o custo marginal de produção. A existência desses produtos

diferenciados é fundamental para a existência desse tipo de mercado. Assim, como já mencionado na

parte sobre a concorrência perfeita, a principal diferença entre o mercado de concorrência perfeita e o

mercado de concorrência monopolística é que, neste, há essa diferenciação entre os produtos

oferecidos.

Exemplos possíveis seriam:

- Revistas: há várias revistas que tratam de temas específicos comuns, como esportes, mas cada

uma delas é diferenciada, não há homogeneidade dos produtos ofertados;

- Softwares: da mesma maneira, há vários softwares disponíveis no mercado, mas cada um

possui uma singularidade, algo que o diferencia dos demais e que torna esse mercado uma concorrência

monopolística;

- Bebidas: ocorre com todos os tipos de bebida, sejam elas refrigerantes, cervejas, vinhos etc.

Ainda que as diversas marcas existentes dessas bebidas, em teoria, produzam um mesmo produto,

vemos na prática que cada um deles é diferenciado, seja pelo sabor, aspecto ou qualquer outra

característica. Sendo assim, temos aí mais um exemplo de mercado de concorrência monopolística.

- Bares/restaurantes: todos servem aos mesmos propósitos (oferecer comidas e bebidas), mas

há diferenciações nos produtos e serviços oferecidos, e isso os caracteriza como um mercado de

concorrência monopolística.

As empresas nesse tipo de mercado, apesar de oferecerem produtos diferenciados, assemelham-

se à situação de monopólio na definição do preço.

Com relação ao bem-estar social, o excedente total não é maximizado nessa situação, pois pode

haver entrada insuficiente ou excessiva de empresas no mercado. Esse mercado produz consequências

tanto positivas quanto negativas (que você verá posteriormente se tratar de externalidades), tais como

a variedade de produtos e o roubo de negócios, que não existiriam sob competição perfeita.

Temos assim que a publicidade é um fator-chave na competição monopolística, por tornar os

mercados menos competitivos e a demanda menos sensível a variações de preço. Os críticos da

publicidade alegam que ela manipula as preferências, criando um desejo através de mensagens

subliminares que não falam da qualidade ou do preço do produto, o que dificulta a competição. Desse

modo, tenta convencer que os produtos são mais diferentes do que realmente o são (veja, por exemplo,

as roupas de grifes famosas). Seus defensores dizem que ela permite maior entrada de empresas e

reduz o poder de mercado, fazendo com que os clientes aproveitem melhor as diferenças de preços,

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Excedente do consumidor e do produtor 2014

fornecendo-lhes informações valiosas a respeito do produto de cada empresa. Assim, torna-se mais fácil

encontrar empresas que vendem mais barato e aumenta-se a competitividade.

2.4 Oligopólio

Nos oligopólios, há um pequeno número de vendedores, cada um oferecendo produtos similares

ou idênticos. Devido a esse pequeno número de competidores, a principal característica dos oligopólios

é a tensão entre competição (interesse próprio) e cooperação. As empresas são, portanto,

interdependentes.

As empresas podem concordar em agir como um monopólio. Assim, temos:

Conluio ou Colusão: acordo entre empresas para evitar a concorrência, estabelecendo

quantidades a serem produzidas ou preços a serem cobrados.

Cartel: grupo de empresas agindo explicitamente como se fossem um monopólio.

Subdividem-se entre cartéis perfeitos e cartéis imperfeitos. Nos primeiros, há acordos formais de preços

e volumes entre as empresas. Nos segundos, não existem acordos formais; a empresa líder fixa os

preços e é seguida pelas demais.

Embora os oligopólios gostassem de agir como cartéis e ter lucros de monopólio, leis proíbem

acordos de preços entre as empresas, para proteger o interesse público. Além disso, acordos desse tipo

são difíceis devido ao comportamento oportunista das empresas. Dessa maneira, o equilíbrio do

oligopólio se dá da seguinte maneira. As empresas estabelecem suas estratégias de produção e preços

observando as estratégias de seus concorrentes. Quando as empresas em um oligopólio escolhem suas

estratégias procurando maximizar o resultado individual, elas produzem uma quantidade maior que o

monopólio, porém menor que o mercado competitivo. Os preços são menores que no monopólio e

maiores que no mercado competitivo. Os lucros são, assim, menores que no monopólio.

No caso dos oligopólios, pode-se ver uma clara aplicação da chamada “economia da

cooperação”, que envolve a Teoria dos Jogos, ou seja, o estudo de como as pessoas se comportam em

situações estratégicas, nas quais devem decidir considerando como os outros participantes reagirão à

sua decisão. Como o número de empresas em um oligopólio é pequeno, cada uma deve decidir

estrategicamente (isto é, considerando a reação das outras empresas). Cada empresa sabe que seus

lucros dependem não só da quantidade que ela produz, mas das quantidades produzidas pelos outros.

Empresas em oligopólios enfrentam um sério dilema. Mesmo que elas tenham feito um conluio,

por exemplo, é preciso confiar que nenhuma vai quebrar o acordo. Isso é complicado, pois um

comportamento oportunista de uma empresa irá lhe trazer lucros maiores. Quando cada vendedor

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Excedente do consumidor e do produtor 2014

escolhe para si a melhor estratégia, dadas as estratégias escolhidas pelos outros, temos aí que aumentar

a própria oferta acima disso reduziria seu lucro.

As políticas públicas tratam dos oligopólios através das leis antitrustes, de modo a induzir os

oligopolistas a competir e não a cooperar, por meio se uma série de práticas de mercado. A primeira

delas é a fixação do preço de revenda, que visa evitar que outros revendedores possam fomentar um

comércio injusto. A segunda é a determinação de preços predatórios, que é um corte de preços para

acabar com a concorrência, mas que pode ser combatido se a outra empresa reduzir sua oferta. A

terceira são as vendas casadas, que são uma forma de discriminação de preços.

2.5 Monopsônio

O monopsônio é a estrutura de mercado que se caracteriza pela existência de um único

comprador (chamado monopsonista) para um determinado produto e inúmeros vendedores. Ao

contrário da situação de monopólio, aqui não há curva de demanda. Há apenas a curva de oferta, e o

monopsonista ajusta o preço e a quantidade que irá demandar de acordo com ela, de modo a minimizar

o custo total da compra de um determinado produto. Dessa maneira, o monopsonista tem poder de

mercado, na medida em que pode influenciar os preços de um determinado bem, por meio apenas da

variação da quantidade comprada. Assim, seus ganhos dependem da elasticidade da oferta, ou seja, da

sensibilidade da oferta à variação de preços.

2.6 Oligopsônio

O oligopsônio é a estrutura de mercado que se caracteriza pela existência de um pequeno grupo

de compradores. É, portanto, um tipo de competição imperfeita inverso ao oligopólio. Assim como na

situação de oligopólio, é necessário haver cooperação entre os oligopsonistas para que se possa chegar

a uma situação mais favorável a todos. Cada empresa sabe que seus custos dependem não só da

quantidade que ela demanda, mas das quantidades demandadas pelos demais. Os ganhos dos

oligopsonistas estão, assim como na situação anterior, atrelados à elasticidade da oferta de bens.

Em microeconomia, os oligopsonistas e os monopsonistas são determinados como

maximizadores de lucros e, devido à restrição de quantidade adquirida, levam a falhas de mercado (o

que não ocorre em uma competição perfeita). Hoje em dia, exemplos de monopsônios são muito

comuns, especialmente no mercado de trabalho (veja, por exemplo, cidades que vivem em função de

uma única atividade produtiva, e que toda a mão-de-obra ofertada é absorvida por um só comprador).

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Excedente do consumidor e do produtor 2014

Oligopsônios também são facilmente identificáveis, como, por exemplo, na produção de eucaliptos em

Minas Gerais e na Bahia, onde três firmas (Aracruz, Suzano Bahia Sul e Cenibra) compram praticamente

toda a produção local para fabricar celulose.

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