Exclusivo / Luis Inácio Lula da Silva - Clube Mundo · 2010-02-28 · buíam a pobreza do Terceiro...

10
Mundo Geografia e Política Internacional SETEMBRO 1994 Tiragem da 1 a Edição: 25 mil exemplares ANO 2 - N o 5 Exclusivo / Luis Inácio Lula da Silva Em entrevista a Mundo, o candidato do Pt à Presidência promete dobrar os investimentos em pesquisa, promover a reforma agrária e a “democracia radical”. Lula fala, ainda, do Real, da dívida externa, da corrupção e de temas sociais como drogas, aborto e homossexualismo. Mundo dá, assim, continuidade à contribuição para o debate, iniciado em agosto, com a entrevista de FHC (do PSDB). Págs. 6 e 7 Navio do Greenpeace faz protesto na Amazônia O barco MV Greenpe- ace vai percorrer du- rante um mês o rio Amazonas, a partir de 8 de outubro, em pro- testo contra o desmata- mento selvagem e ex- ploração predatória do Mogno. Pág. 11 As sete regras do Nacionalismo Se um território pertenceu a nós por 500 anos e a vocês por 50 anos, ele deveria pertencer a nós – vocês são meros invasores. Se um território pertenceu a vocês durante 500 anos e a nós nos últimos 50 anos, ele deveria ser nosso – as fronteiras não devem ser mudadas. Se um território pertenceu a nós há 500 anos, e depois não mais, ele deveria pertencer a nós – é o Berço de nossa nação. Se a maioria de nosso povo vive ali o território deveria pertencer a nós – assim o exige o direito à autodeterminação. Se a maioria de nosso povo vive ali, o território deve pertencer a nós – é a única maneira de nos protegermos contra a vossa opressão. Todas essas regras se aplicam a nós mas não a vocês. Nosso sonho de grandeza reflete a necessidade Histórica, o vosso sonho é fascismo. Ir landa do Nor te: Em acordo histórico com Londres, IRA abandona o terrorismo Pág. 3 Diário de V iag em: O futuro do “paraíso sueco” na nova realidade européia Pág. 10 Anistia Internacional: Organização cobra compromisso dos candidatos com direitos humanos Pág. 10 O Meio e o homem: Controle da água é questão estratégica no Oriente Médio Pág. 11 Em todo o mundo, 49 milhões de pessoas foram expulsas de suas casas e terras por guerras, perseguições, epidemias e fome, afirma Newton Carlos. Pág 8 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. A James Boyce / Gamma C ONFERÊNCIA SOBRE A P OPULAÇÃO ONU ignora a miséria dos povos terceira Conferência Mundial sobre a População, patrocinada pela ONU e realizada no Cairo, atuali- zou a polêmica sobre os significados da expansão demográfica e as políticas de controle da natalida- de. A primeira Conferência (Bucareste, 1974) e a segunda (Ci- dade do México, 1984) foram palco das teorias neomalthusianas sustentadas pelos países ricos. Ecoando as idéias do economis- ta inglês Thomas Malthus (1766-1834) sobre a relação entre crescimento populacional e recursos naturais, essas teses atri- buíam a pobreza do Terceiro Mundo à explosão demográfica que, desde a 2ª Guerra, multiplicava s população da Ásia, Áfri- ca e América Latina. O neomalthusianismo foi uma reação às teses que pediam novas relações, mais justas, entre o Norte prós- pero e o Sul miserável. No Cairo, as propostas de controle de natalidade apareceram com roupagens ambientalistas, explica a profª Regina Araújo. O debate, que opôs neomalthusianos a religiosos, ignorou os problemas urgentes causados pela misé- ria, como na África (págs. 4, 5 e 9). A Conferência tampouco deu respostas a questões colocadas pela rápida redução da natalidade em países pobres como o Brasil (pág. 8). A ONU acumula, assim, uma nova frustração.

Transcript of Exclusivo / Luis Inácio Lula da Silva - Clube Mundo · 2010-02-28 · buíam a pobreza do Terceiro...

Mun

doG

eogr

afia

eP

olít

ica

Inte

rnac

iona

l

SETEMBRO1994

Tiragem da 1a Edição:25 mil exemplares

ANO 2 - No 5

Exclusivo / Luis Inácio Lula da SilvaEm entrevista a Mundo, o candidato do Pt à Presidência promete dobrar os investimentos em pesquisa,

promover a reforma agrária e a “democracia radical”. Lula fala, ainda, do Real, da dívida externa, da corrupçãoe de temas sociais como drogas, aborto e homossexualismo. Mundo dá, assim, continuidade à contribuiçãopara o debate, iniciado em agosto, com a entrevista de FHC (do PSDB).

Págs. 6 e 7

Navio doGreenpeace faz

protesto naAmazônia

O barco MV Greenpe-ace vai percorrer du-rante um mês o rioAmazonas, a partir de8 de outubro, em pro-testo contra o desmata-mento selvagem e ex-ploração predatória doMogno.

Pág. 11

As sete regras do Nacionalismo

Se um território pertenceu a nós por 500 anos e a

vocês por 50 anos, ele deveria pertencer a nós – vocês

são meros invasores.

Se um território pertenceu a vocês durante 500 anos e

a nós nos últimos 50 anos, ele deveria ser nosso – as

fronteiras não devem ser mudadas.

Se um território pertenceu a nós há 500 anos, e

depois não mais, ele deveria pertencer a nós – é o

Berço de nossa nação.

Se a maioria de nosso povo vive ali o território

deveria pertencer a nós – assim o exige o direito à

autodeterminação.

Se a maioria de nosso povo vive ali, o território deve

pertencer a nós – é a única maneira de nos

protegermos contra a vossa opressão.

Todas essas regras se aplicam a nós mas não a vocês.

Nosso sonho de grandeza reflete a necessidade

Histórica, o vosso sonho é fascismo.

Irlanda do Norte: Em acordo histórico com Londres, IRA abandona o terrorismo Pág. 3Diário de Viagem: O futuro do “paraíso sueco” na nova realidade européia Pág. 10Anistia Internacional: Organização cobra compromisso dos candidatos com direitos humanos Pág. 10O Meio e o homem: Controle da água é questão estratégica no Oriente Médio Pág. 11

Em todo o mundo, 49 milhões de pessoas foram expulsas desuas casas e terras por guerras, perseguições, epidemias efome, afirma Newton Carlos. Pág 8

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

AJames Boyce / Gamma

CONFERÊNCIA SOBRE A POPULAÇÃO

ONU ignora amiséria dos povos

terceira Conferência Mundial sobre a População,patrocinada pela ONU e realizada no Cairo, atuali-zou a polêmica sobre os significados da expansãodemográfica e as políticas de controle da natalida-

de. A primeira Conferência (Bucareste, 1974) e a segunda (Ci-dade do México, 1984) foram palco das teorias neomalthusianassustentadas pelos países ricos. Ecoando as idéias do economis-ta inglês Thomas Malthus (1766-1834) sobre a relação entrecrescimento populacional e recursos naturais, essas teses atri-buíam a pobreza do Terceiro Mundo à explosão demográficaque, desde a 2ª Guerra, multiplicava s população da Ásia, Áfri-ca e América Latina. O neomalthusianismo foi uma reação àsteses que pediam novas relações, mais justas, entre o Norte prós-pero e o Sul miserável. No Cairo, as propostas de controle denatalidade apareceram com roupagens ambientalistas, explica aprofª Regina Araújo. O debate, que opôs neomalthusianos areligiosos, ignorou os problemas urgentes causados pela misé-ria, como na África (págs. 4, 5 e 9). A Conferência tampouco deu respostas a questões colocadas pela rápida redução danatalidade em países pobres como o Brasil (pág. 8). A ONU acumula, assim, uma nova frustração.

2

Outubro de 1994 Mundo

Seção Papo CabeçaO mundo quer ser iludido; seja, pois, iludido

(Paracelso – 1453-1541)

RESPOSTAS

Mundo traz uma importante contribuição no sentidode permitir uma compreensão atualizada e crítica dastransformações em curso na geopolítica internacio-nal. O índice de aproveitamento de leitura do boletimpor parte de nossos alunos tem sido excelente.(Prof° Paulo Fanaia, coordenador do ColégioMaster, Cuiabá-MT)

Somos uma escola comprometida em desenvolveruma visão crítica que capacite nossos jovens ao exer-cício da cidadania, com duplo objetivo: torna-los ci-dadãos politizados, participantes, influentes (objeti-vo geral) e equipa-los de informação e consciênciacrítica para enfrentar os vestibulares (objetivo práti-co). Com esse ideal, vivíamos à cata de literatura queapresentasse uma visão problematizadora e para tan-to reuníamos daqui e dali “gotas espersas”, publica-ções “de peso”, ao lado dos grandes jornais com seuseditoriais e artigos profundos, porém de difícil aces-so a uma clientela pré-universitária. Finalmente, asolução chegou: temos o Mundo em nossas mãos,porque nossa equipe pedagógica optou pela assinatu-ra desse jornal, capaz de auxiliar os nossos jovens efazer leitura consciente do mundo; e de prepara-los aenfrentar com sucesso os grandes vestibulares.(Profª Augustinha Luiz M. de Rio Campo, chefedo depto. De Comunicação e Expressão do Institu-to Americano de Lins-SP)

O mundo tornou-se uma aldeia, alargando nossas fron-teiras, exigindo que o conheçamos em detalhes. Essaexigência torna-se presente e inevitável para osvestibulandos que dispões, entretanto, de um períodode tempo exíguo. E nessa corrida contra o tempoMundo será um auxiliar precioso. Os estudantes doUniversitário de São José do Rio Preto aprovaramMundo e o elegeram leitura obrigatória. Parabéns!(Prof° Adaumir Rodrigues Castro, curso Univer-sitário de S. José do Rio Preto – SP)

ATIVIDADES & AGITOS

Paz no Oriente Médio:necessidade ou utopia?

Você está convidado para esse debate, or-ganizado por Mundo.Debatedores: Rabino Henry Sobel (pre-sidente do rabinato da Congregação Israe-lense Paulista); Prof° Nicolau Sevecenko(historiador da Universidade de São Pau-lo); Hassan El Emleh (presidente da Fe-deração Palestina do Brasil); José ArbexJr. (editor de Mundo)Mediador: Prof° Demétrio Magnoli (daRedação de Mundo)Data: 20 de outubro, às 19h30Local: Anfiteatro da Faculdade de Histó-ria da USP (campus universitário – SP)

Thomas Malthus, o profeta da superpopulação, e não Adam Smith, paladino do livre mercadoconverteu-se no mais importante pensador dos tempos vindouros.

(Paul Kennedy, historiador e pensador político norte-americano, O Estado de S. Paulo,03.ago.1994, pág. A2)

A “volta de Malthus” assinala uma tendência de pensamento cada vez mais freqüente, não rara-mente associada às teses ambientais e ecologistas.

Mundo no Vestibular

SEM FRONTEIRASEsta seção acolherá cartas de alunos e

professores contendo opiniões e críticas nãoapenas a respeito dos assuntos tratados no

boletim, mas também sugestões sobre sua formae conteúdo. Só serão aceitas cartas portando o

nome completo, endereço, telefone e identidade(RG) do remetente. A Redação reserva-se o

direito de não publicar cartas, assim como o deeditá-las para sua eventual publicação.

l) (Unesp) A desigual distribuição de homens sobre a superfície da Terra pode ser mais bem explicada, principalmentedevido:a) ao clima ser muito variadob) às condições históricas e às formas de povoamentoc) aos incentivos econômicos que atraíram mais populações para certos lugaresd) aos diversos fatores que se conjugam no espaço favorecendo ou restringindo a ação do homeme) às condições ecológicas, notadamente orográficas, que impediram o desenvolvimento econômico

2) (UFF-RJ) Há alguns anos, 31 países realizaram conferências em Genebra e Montreal, nas quais, se comprometeram areduzir a produção e o consumo dos compostos de CFC (clorofluorcarbono) em 50% até 1999 em relação aos níveis de1986. Esses gases, altamente nocivos ao meio ambiente, entram, por exemplo, na composição de determinadas emba-lagens e de produtos do tipo aerossol (ou spray). Seus efeitos diretos já foram detectados na atualidade. Assinale aopção correia que indica esses efeitos:a) O ataque imediato às grandes formações vegetais, sob a forma de chuvas ácidas, atuando sobretudo nas folhas de

suas espéciesb) A destruição da camada de ozônio que protege o planeta ao filtrar os raios ultravioletas do solc) A esterilização dos mares e dos rios, na medida em que retiram o oxigênio de suas águas, comprometendo a vida

marinhad) A degradação dos monumentos arquitetônicos, ao potencializarem a ação bacteriana sobre elese) A diminuição da capacidade das plantas de realizarem a fotossíntese e que reduz, assim, a quantidade de oxigênio na

atmosfera

3) (FMU-Fiam) Considere os seguintes movimentos populacionais em escala mundial:I) Migração de norte-africanos para os países da Europa OcidentalII) Migração de latino-americanos em direção ao nordeste dos EUAIII) Migração de italianos do sul em direção às áreas industrializadas do norte da ItáliaIV) Migração de nordestinos em direção ao sudeste brasileiroEmbora as áreas exemplificadas tenham diferentes graus de desenvolvimento, é possível identificar como causa co-mum aos movimentos o fator:a) administrativo, pois a pequena atuação do Estado em setores de atividade pode gerar instabilidade política.b) psicológico, pois as sociedades de consumo tendem a atrair grande número de imigrantesc) econômico porque a maior parte da população que migra o faz em busca de empregod) natural, uma vez que os problemas de ordem física (terremotos, secas, inundações) podem levar à imigração em

massa.e) histórico, pois todas as áreas que passaram por processos recentes de industrialização apresentam migrações.

4) (Unicamp-modificada) Ao observarmos um mapa político da África, percebemos que vários trechos de fronteiraforam traçados em linha reta. Sabe-se que essas fronteiras cortam acidentes naturais e freqüentemente dividem, emEstados diferentes, povos com a mesma identidade cultural. Explique os processos responsáveis por essa configuraçãoterritorial.

5) (PUC-SP) Sobre o México, afirma-se:a) sua população é composta principalmente de adultos e velhos.b) seu relevo é plano e, seu clima em geral é úmido.c) toda a exploração de seus recursos minerais e energéticos é feita por empresas estrangeiras multinacionais.d) a reforma agrária de 1917 criou os éjidos.e) pertence ao continente centro-americano

1) d2) b3) c4) A África foi partilhada pelos países europeus no final do século XIX, quando da realização do Congresso de Berlim. Adefinição das fronteiras coloniais só levou em conta os interesses dos países europeus que, viam a África como um grandereservatório de matérias-primas. Por isso, muitas vezes o desenho das tonteiras acompanhou o traçado dos paralelos oumeridianos. As conseqüências dessa ação das potências colonialistas se refletem até hoje através de conflitos que envol-vem grupos étnicos colocados no mesmo espaço contra a sua vontade. Os conflitos entre tutsis e hutus em Ruandaexemplificam bem o caso.5) d

3

Outubro de 1994PANGeA

EDITORIAL

“Votar? Para quê? Não resolve nada!”

– milhares, talvez milhões pensem assim, e

não sem motivos. Afinal, muita coisa “termi-

na em pizza” no Brasil, e o que não falta é

político corrupto, rico e alegremente solto por

aí. Se fosse só isso, votar seria mesmo coisa

de otário. Mas…

Mas tem muita coisa acontecendo. Bem

ou mal, Collor foi defenestrado; a rede de

corrupção no Congresso e a ação das

empreiteiras e corporações corruptas começa-

ram a vir à tona; num mundo cheio de proble-

mas e crises, começam a surgir alternativas

políticas concretas para o país.

Não há muito, se alguém dissesse que a

Presidência seria disputada por FHC e Lula,

isso soaria como um delírio, um disparate. A

ditadura governava com censura, tortura e atos

institucionais. Os dois candidatos favoritos à

Presidência na atual disputa eram, à época,

e em graus distintos, mal vistos e eventual-

mente perseguidos pelo regime. Isso dá uma

medida de como as coisas mudaram – e estão

mudando – em nosso país.

Certo: há muito por fazer – na verda-

de quase tudo. A questão é: como você se

coloca diante disso? Nada vai mudar se os

cidadãos – você entre eles – não se mobiliza-

rem. Se não exercerem no cotidiano os seus

direitos à opinião e à expressão. Isso, é cla-

ro, passa pelas urnas. Mas se você ainda

prefere fazer como o avestruz, OK, finja que

você nada tem a ver com a política nacional.

Só que, por favor,nada de queixumes depois.

É feio e chato.

E X P E D I E N T E

Mundo -Geografia e Política Internacional é uma publicação dePangea -Edição e Comercialização de Material Didático LTDA.Redação: Demétrio Magnoli, Nelson Bacic Olic (EditorCartográfico), José Arbex Jr. (Editor)Jornalista Responsável: José Arbex Jr. (MTb 14.779)Diretor Comercial: Arquilau Moreira RomãoEndereços: Em SP: Rua Romeu Ferro, 501, São Paulo - SP. CEP05591-000. Fone: (011) 211-9640. Em Ribeirão Preto: EspaçoCultural Tantas Palavras - R. Floriano Peixoto, 989 - CEP 14.025-010 - Fone: (016) 634-8320 Fax: 623-5480Colaboradores: Newton Carlos, J. B. Natali, Rabino Henry I. Sobel,Carlos A. Idoeta (Anistia Internacional), Guilherme Fiuza(Greenpeace), Hassan El Emlech (Federação palestina do Brasil).A Redação não se responsabiliza pela opinião ou informação veicu-ladas em matérias assinadas.

Assinaturas: Por razões técnicas, só oferecemos assinaturas coleti-vas para escolas conveniadas. Pedidos devem ser encaminhados aosendereços acima. Exemplares podem ser obtidos nestes endereços,em São Paulo:• Associação dos geógrafos Brasileiros (AGB), na Faculdade de

Geografia da Universidade de SP (USP)• Banca de jornais Paulista 900, à Av. Paulista, 900• Em Ribeirão preto: na Sucursal (v. endereço acima)

SERVIÇO:

Vídeos sobre o IRA e a ocupação do Ulster:• Jogos Patrióticos, Phillip Noyce, EUA, 1992• Em nome do Pai, Jim Sheridan, EUA, 1993

inte e cinco anos depois do desem-barque das tropas britânicas, a Irlan-da do Norte deixa de ser o principalcenário de guerra na Europa Ociden-tal. O comunicado do IRA (Exército

Republicano Irlandês) de 31 de agosto, anuncian-do a “suspensão completa”da luta armada pela inde-pendência, representa umnovo começo no velho con-flito entre católicos e pro-testantes.

A presença britânicana Irlanda tem oito séculos,pontilhados pela resistênciatenaz mais infrutífera dosirlandeses. A Reforma Pro-testante na Inglaterra, lide-rada por Henrique VIII(1509-1547) agravou oconflito, adicionando a po-ção religiosa ao caldo ex-plosivo da opressão nacional. O desembarque dasforças de Oliver Cromwell, em 1641, deflagrou olongo processo de desnacionalização das provín-cias do norte da ilha (Ulster): os soldados recebe-ram terras irlandesas, antecipando o intenso mo-vimento migratório de protestantes britânicos ex-pulsos pela dissolução das aldeias feudais na In-glaterra. A população católica, sujeita à persegui-ção, deslocou-se em massa para a América doNorte, configurando um nítido grupo nacional nomelting pot dos Estados unidos. Desde o séculoXIX, os protestantes tornaram-se maioria no Ulster.

O domínio britânico foi formalizado em1801, com a incorporação da Irlanda à Grã-Bretanha através da constituição do Reino Unido.A Guerra Anglo-Irlandesa de 1918-21 foi encer-rada com o Ireland Act. A Irlanda do Sul (Eire), deampla maioria católica, ganhou o estatuto de Es-tado Livre, vindo a proclamar a república e a inde-pendência em 1949. O Ulster permaneceu sob odomínio da Coroa, com autonomia limitada no

ACORDO HISTÓRICO NA IRLANDA DO NORTE

IRA troca terrorismo porargumentos

Cessar-fogo no Ulster muda cenário de violência criado pela ocupaçãobritânica e transforma o ETA basco no último bastião do terror europeu

interior do Reino Unido. Na década de 60, os ca-tólicos da Irlanda do Norte encheram as ruas deBelfast e Londonderry pedindo o fim da legisla-ção eleitoral discriminatória oriunda dos antigosregulamentos da Ordem de Orange. As tropas deocupação britânicas, solicitadas pelo governo pro-

testante de Belfast, chegaramem abril de 1969. Começavaa saga do IRA.

O IRA nasceu na guer-ra de 1918. Nos anos sessen-ta, participou do movimentopacífico pelos direitos civis.Depois do Domingo Sangren-to de Belfast, a 30 de janeirode 1972, quando soldados bri-tânicos abriram fogo contraum protesto de rua, transfor-mou-se na mais temida orga-nização terrorista européia.Até o Eire, que defende areunificação irlandesa e não

participa da Otan, afastou-se do IRA. Há um ano,o tabuleiro irlandês voltou a se mexer. Jornais in-gleses noticiaram contatos secretos entre o SinnFein (braço político do IRA) e o governo de Lon-dres. Em dezembro de 1993, o Reino Unido e oEire emitiram uma Declaração propondo negoci-ações cobre o Ulster e condicionando a participa-ção do IRA ao abandono da luta armada.

A Declaração Anglo-Irlandesa e o comuni-cado do IRA formam um trampolim para o desco-nhecido. O tabuleiro é complexo. Londrescondiciona a hipótese de reunificação irlandesa aum plebiscito no Ulster, onde os protestantes re-presentam 54% do 1,6 milhão de habitantes. O Eire(e o IRA) não podem aceitar uma consulta que nãoinclua os 3,5 milhões de irlandeses do sul (93%católicos). Os protestantes do Ulster, eleitores dopartido Unionista, têm lideranças como o reveren-do Ian Paysley, que rejeitam a própria idéia de ne-gociações com o IRA. Mas circuito autofágico daviolência e da repressão foi rompido. Se é verdadeque a guerra é a continuação da política por outrosmeios, o inverso pode, às vezes, ser falso: britâni-cos e irlandeses, protestantes e católicos, não po-dem mais fugir do mundo dos argumentos.

V

* Das 3.169 pessoas mortas nos 25 anosde conflito, mais de 2 mil eram civis

* Na Irlanda do Norte, cercas de aramefarpado e guaritas do Exércitobritânico separam os bairroscatólicos dos protestantes

*A Grã-Bretanha mantém 18 milsoldados na província;os gastossociais provocados pelo conflitosomam US$ 6 bilhões anuais

4

Outubro de 1994 Mundo

Segundo a Organização das NaçõesUnidas (ONU), o mundo tem 5,5 bi-lhões de habitantes. A cada ano, 95milhões somam-se a este contingen-te, a esmagadora maioria nascidos naÁsia, África e América Latina. Estesnúmeros e suas implicações pra o fu-turo da humanidade foram o centroda Conferência Internacional sobre a

População e Desenvolvimento (CIPD), que reuniu20 mil estudiosos no Cairo entre 5 e 13 de setem-bro. A CIPD foi a terceira conferência da ONU so-bre o tema, e a primeira com o objetivo de explicaras correlações entre população e desenvolvimento.

A população do mundo cresce de forma ex-tremamente desigual. Países desenvolvidos apresen-tam índices de incremento demográfico baixos ounegativos, economias mais pobres convivem comtaxas de crescimento superiores a 3% ao ano, proje-tando a duplicação do número de habitantes em me-nos de 25 anos. Assim, a associação simplista entreelevado incremento populacional e subdesenvolvi-mento é tentadora.

Para muitos, oalto crescimento demo-gráfico é uma das prin-cipais causas da genera-lização da pobreza emvastas regiões subdesen-volvidas. A miséria se-ria resultante… da pró-pria miséria. O aumen-to descontrolado do nú-mero de pessoas atrapa-lharia o desenvolvimen-to dos Estados pobres,desviando recursos parainvestimentos não pro-dutivos e criando umarelação desfavorável en-tre o número de pessoasem idade de trabalhar eo total de habitantes. Ocontrole de natalidadeseria o passaporte parao desenvolvimento.

CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE POPULAÇÃO MUNDIAL

Relação entre ‘explosão demográfica’,pobreza e ecologia divide especialistas

Neomalthusianos querem controlar a natalidade nos países pobres, para inibir crescimento vegetativo e liberar recursosem investimentos produtivos; outras correntes criticam os ricos, que somam 20% da população, mas consomem a maior

parte dos recursos naturais e são responsáveis por 80% da poluição

Muitas vezes, essa forma de enxergar a di-nâmica demográfica aparece com conotação “ver-de”, na voz dos que alertam para os riscos ambi-entais da “explosão” demográf ica. Osecomalthusianos exercem influência crescente naopinião pública, ancorados na força do movimen-to ambientalista mundial. Segundo eles, o rápidocrescimento demográfico se traduziria em pres-são sobre os recursos naturais – em especial nosecossistemas tropicais e equatoriais – e em sériofator de risco para o futuro. O controle da natali-dade seria uma forma de preservar o patrimônioambiental.

Em muitas áreas ecologicamente frágeis, ocrescimento demográfico implica sérias pressõessobre o meio ambiente. Em algumas regiões dostrópicos semi-áridos – o Sahel africano é o exem-plo mais tristemente famoso – o rápido incremen-to populacional tem como resultado asedentarização dos rebanhos e a superutilizaçãodas terras férteis, implicando em rápida perda defertilidade e em crises agudas de fome. Entretan-to, o padrão de produção e consumo dos países

ricos, cuja população parou de crescer, têm im-pactos ainda mais dramáticos sobre o meio ambi-ente. Os países desenvolvidos representam cercade 20% da população mundial, mas consomem amaior fatia dos recursos naturais disponíveis e sãoresponsáveis por 80% da poluição do planeta.

Os neomalthusianos enfrentaram na CIPD aoposição dos representantes do Vaticano e dos paísesmuçulmanos (v. o Box na pág. 5), contrário aos méto-dos anticoncepcionais, e principalmente, ao aborto.Mas a discussão entre neomalthusianos e religiososoculta as grandes transformações recentes na dinâmi-ca demográfica mundial. Apesar dos dogmas religio-sos, e, em muitos casos, da ineficiência dos progra-mas de planejamento familiar, as regiões subdesen-volvidas (à exceção da África subsaariana e África doLeste) diminuíram suas taxas de incremento demo-gráfico nas duas últimas décadas. Atualmente, a Amé-rica Latina e a Ásia meridional ocupam uma posiçãointermediária, entre as taxas explosivas da África e aestagnação demográfica européia e norte-americana(v. o mapa “Crescimento Demográfico”).

A modernização e a crescente urbanização im-primem novas característicasao comportamento reproduti-vo dos países pobres ao rom-perem com a unidade familiarde trabalho, na qual todos osmembros da família partici-pam juntos do processo produ-tivo. Em breve, o alto incre-mento demográfico vai deixarde ser característica comum aomundo subdesenvolvido. Serácircunscrito aos países marca-dos pela permanência do gru-po familiar no meio rural e pelamanutenção de um regime co-letivo de trabalho.

REGINA ARAÚJO

Regina Araújo é co-autoracom Demétrio Magnoli, dacoleção A Nova Geografiae de Geografia, Paisagem eTerritório (Ed. Moderna)

Terra da gente

Gente sem terra

5

Outubro de 1994PANGeA

A TRAGÉDIA DOS REFUGIADOS E DESABRIGADOS

49 milhões expulsos de seus laresenfrentam a fome, a miséria e a peste

Em cada dia de 1993, 10 mil pessoas em todo o mundo fugiram de perseguições e execuções políticas e raciais,segundo o Alto Comissariado da ONU para refugiados (Acnur); em 1994, a situação é muito pior

NEWTON CARLOS

Terra da gente

Gente sem terra

No ano passado, 10 mil pessoas selançaram às estradas diariamente, fu-gindo de perseguições, para não mor-rer a tiro, de pancada ou de fome. Em1994 a situação é muito mais trágica,de acordo com estatísticas e relatosdo Alto Comissariado da ONU pararefugiados (Acnur). Ele foi criadocomo agência temporária no começoda Guerra Fria, para cuidar do direito

de asilo. Hoje, administra acampamentos, como ode ruandenses no Zaire, que mais parecem cidadesgrandes e miseráveis. Em 1951, supunha-se que oAcnur não duraria mais de três anos.

Mas uma sucessão de tragédias faz com que omandato do Acnur seja sistematicamente renovado.Sua ação acabou se espalhando pelo mundo, sobretu-do na África, no sul da Ásia, na ex-Iugoslávia e naextinta URSS. Na América Central, o Acnur deu tetoe comida a guatemaltecos que se refugiaram no Méxi-co de uma guerra civil de mais de 30 anos e da repres-são brutal, e atuou na Nicarágua e em El Salvador.

A derrubada da “antiga ordem” tornou o mun-do mais volátil e númerosrecentes dão idéia do ta-manho das desgraças re-sultantes. No momento, érefugiado ou desabrigado,por expulsão, um em cada114 habitantes do planeta.Em 1974,os refugiadoseram 2,4 milhões. Aumen-taram para 10,5 milhõesdez anos depois e agorasão 23 milhões. Quando oAcnur soltou o seu últimorelatório, em novembro doano passado, eram 19,7milhões. Os refugiadosmais os 26 milhões dedesabrigados somam 49milhões de pessoas expul-sas de suas casas, elançadas a uma situaçãodesesperadora, expostas apestes, à miséria e à fome.

Essa escalada deixa o Acnur às voltas comfalta de recursos. Logo depois de divulgado o rela-tório de novembro, mais de 700 mil fugiram dogolpe militar e massacres raciais no Burundi. Emabril, começou a carnificina em Ruanda, com êxodode dois milhões, trágico e escandaloso, pela omis-são da comunidade internacional. O Acnur é finan-ciado caso por caso e o de Ruanda só agora conse-gue parte da ajuda de emergência pedida. Trinta porcento do total de refugiados estão na África.

Em casos de conflitos armados, é imperio-so que a ajuda seja acompanhada de desmobiliza-ção militar, mas isso raramente acontece. Aintermitência da guerra civil em Angola, onde che-garam a morrer mil por dia, torna mortíferos ostrabalhos de repatriação e reintegração executadossob fogo que não cessa – ou que cessa apenas poralgum tempo.

Em 18 países africanos há 30 milhões deminas terrestres, em boa parte herança de brigaspassadas. Só em Angola são nove milhões. EmMoçambique, onde houve uma guerra civil quedurou 16 anos, há um milhão de minas. Dois mi-

lhões na Etiópia e Eritréia, e um milhão no Sudão.No Afeganistão, depois de mais de uma década decombates de muçulmanos contra soviéticos, vol-taram para casa um milhão de pessoas que haviamse refugiado no Paquistão e Irã. Nada de desmobi-lização militar, no entanto, e os tiros recomeça-ram, agora disparados pelos próprios muçulmanos,uns contra os outros. Cabul, a capital, foi devasta-da, provocando outra fuga de povos civis apanha-dos no fogo cruzado.

O direito de asilo, tradição de 3.500 anos, esob assédio xenófobo em muitos países desenvol-vidos, é parte essencial da questão. Documento desete pontos, assinado em junho pelos ministros doInterior e da Justiça da União Européia (UE), trataa imigração como caso de polícia. Como a comu-nidade tem 18 milhões de desempregados, é fe-chado o ingresso a “cidadãos extracomunitáriosem busca de trabalho”, sem que isso seja muitobem explicado.

A imigração “econômica” está formalmen-te proibida na UE, ex-Comunidade EconômicaEuropéia, desde a metade dos anos 70. Nos Esta-

dos Unidos. Nos Estados Uni-dos, onde a xenofobia tema con-ta de regiões de concentração deestrangeiros, como o sul daCalifórnia, Washington coloca aimigração entre suas maiorespreocupações em política exter-na. Pediu ao presidente do Mé-xico que feche seu território àpassagem de latino-americanose asiáticos em busca da Améri-ca. No mar, são bloqueadoshaitianos e cubanos.

Os países nobres são maisacolhedores, segundo o Acnur,que considera vital o desenvolvi-mento de nova estratégia capaz deproporcionar o direito de asilo.Ela teria como base a “ação pre-ventiva envolvendo respeito aosdireitos humanos, conflitos étni-cos e ajuda ao desenvolvimento”.

Vaticano e fundamentalistas se unem contra o abortoO Vaticano aliou-se aos fundamentalistas islâmicos na tentativa de bloquear a aprovação

de qualquer forma de controle de natalidade na Conferência do Cairo sobre populações. A ofensivadiplomática papal envolve sobretudo o Irã e a Líbia. Informações dadas pelas agências oficiais denotícias Irna (Irã) e Jana (Líbia), a iraniana falando de “pleno apoio ao Papa nessa questão”,foram confirmadas em parte por fontes do Vaticano.

O “entendimento”, segundo é descrito por Teerã, poderá servir de base a ampla cooperaçãonuma “futura guerra entre religiosos e materialistas”. O núncio apostólico, monsenhor RomeoPonciroli, conversou com Mohamed Hashemi Rafsanjani, irmão do primeiro-ministro e vice-minis-tro do Exterior iraniano. A ele é atribuída a declaração w que “existem muitas possibilidades decooperação entre Estados religiosos”, publicada pelo jornal Abrar do Irã.

Para Rafsanjani, a “luta para manter o aborto na ilegalidade é bom começo para a coope-ração em outros campos”. Informação da agência Jana reproduzida pelo The New York Times dáconta de uma viagem a Triplo, capital da Líbia, do núncio apostólico da Argélia, monsenhor EdmondFarhat, para “tratar de interesses comuns”. O Vaticano se ofereceu como intermediário entre aLíbia, de um lado, e Inglaterra e Estados Unidos de outro.

Americanos e ingleses exigem do Líbano a entrega de dois líbios acusados de responsáveispela explosão de um avião comercial americano sobre a localidade de Lockerbie, na Escócia. Aajuda diplomática do Vaticano teria como contrapartida a condenação da Líbia ao documento dasNações Unidas sobre a “saúde reprodutiva” e o direito das mulheres ao aborto em determinadascondições. A agência Jana destaca a “identidade de opiniões”.

O Vaticano confirma a existência de “contatos de alto nível”, mas nega a existência deacordos. Tampouco o Irã e a Líbia fama de acordos formais, mas de “entendimentos”.

(Newton Carlos)

Outubro de 1994 Mundo Outubro de 1994PANGeA

ENTREVISTA EXCLUSIVA – ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS BRASIL 94

76

a impunidade do ex-presidente. Mas, talvez porser mais velho, sou mais otimista. Há algunsanos, roubava-se tanto ou mais, e nem se ficavasabendo. Temos que pensar estas coisas numaperspectiva de longo prazo. Graças aos jovensparte da maracutaia foi descoberta e punida. Sea vigilância continuar, vamos ganhar mais trans-parência e fazer um governo fundado na ética.

Mundo – Como você vê as questões do direi-to ao aborto pelo Estado, do homossexualismo edas drogas?

Lula – O aborto, além de ser uma questão desaúde pública, tem dimensão ética e moral. Nãopode ser uma decisão de governo, mas escolhada sociedade. Pessoalmente, não sou favorávelao aborto, mas não quero ser hipócrita. Cercade 5 milhões de abortos clandestinos são feitosno Brasil por ano, a maioria em condições pre-cárias. Mulheres da classe média e alta prati-cam o aborto com todos os cuidados. A maioriadas mulheres pobres o fazem nas piores condi-ções. AS conseqüências são conhecidas: mor-tes, graves seqüelas de saúde, esterilização.Aborto não é método anticonceptivo. Precisa-mos, e teremos no meu governo – como tive-mos e temos nas prefeituras governadas pelo PT– políticas contraceptivas, não impositivas,acompanhadas de campanhas de educação. Asmulheres que abortarem terão todo apoio médi-co e psicológico na rede hospitalar eambulatorial. O problema dos homossexuais édiferente. Trata-se de uma questão de cidada-nia. Ninguém pode ser discriminado por suaorientação sexual. Ela será respeitada. O temadas drogas é angustiante. Não acredito que umapolítica de repressão aos que usam drogas te-nha resultado. Mas o Estado tem que ser impla-cável com os traficantes, sobretudo porque cadavez mais eles se utilizam de crianças como es-cudo para suas atividades.

Mundo – Seus adversários dizem que vocênão tem experiência administrativa…

Lula – Para governar um país, necessita-se deexperiência política e sensibilidade social, e eu te-nho as duas. Governar não é administrar uma em-presa. Uma empresa busca o lucro, a rentabilida-de. O Estado busca o bem comum. Minha qualifi-cação política eu posso demonstrar com minha tra-jetória pessoal. Sobrevivi à fome e à seca nordes-tinas, consegui uma formação técnico-profissio-nal qualificada. Na fábrica, ganhei consciência dosproblemas de minha categoria e fui para o sindi-cato. Como sindicalista, ganhei consciência dosproblemas de minha classe e participei dos maisimportantes movimentos pela democracia, no fimdoa anos 70. Na luta, ganhei consciência dos pro-blemas do país. Fundei o mais importante partidodos trabalhadores da história da América Latina.Ajudei a construir a maior central sindical do país

Mundo – Muitos jovensrecebem o diploma universi-tário e deixam o Brasil paratrabalhar em subempregos noexterior. Como você mudariaisso?

Lula – Há dois tipos deuniversitários que abando-nam o país. Os que concluí-ram seus cursos com objeti-

vo de uma inserção imediata na carreira de tra-balho, e os que continuam carreira na universi-dade. Embora as duas situações sejam dramáti-cas, a segunda tem um agravante, à medida queo Estado gasta centenas de milhares de reais paraformar um professor/pesquisador durante anos,sem que seus conhecimentos possam reverterem proveito da sociedade. Exportamos cérebros.A retomada do desenvolvimento, com ênfase nomercado de bens de consumo que provocará ocrescimento da economia, associada ao nossoprograma de criação de empregos, serão os mei-os para atrair os jovens de volta. Em relação aosque estejam em universidades e centros estran-geiros, o instrumento fundamental para trazê-los de volta será a nova política de ciência e tec-nologia que meu governo irá implementar e quepretende expandir em 100% os investimentosnessa área.

Mundo – O governo Lula tem um programaclaro para combater a corrupção?

Lula – A experiência de nossas administraçõesmunicipais dá credibilidade às nossas propostasde combate de corrupção. A melhor maneira étornar o Estado transparente, multiplicando osinstrumentos de controle da sociedade sobre ogoverno. Em quase todas as prefeituras do PTtemos hoje a experiência dos orçamentosparticipativos. A sociedade contribui na propos-ta orçamentária, eliminando o clientelismo, con-trolando os custos e a execução dos gastos. Estaexperiência será retomada, com modificações, noplano federal. As empresas estatais terão a parti-cipação de trabalhadores e usuários em sua ges-tão. As políticas públicas (educação, saúde, ci-ência e tecnologia entre outras) serão geridas pororganismos nos quais estarão presentes represen-tantes do Estado e da sociedade.

Mundo – Muitos “carapintadas” sentem que for-ma manipulados por políticos interessados em der-rubar Collor em benefício próprio, especialmentedepois que a CPI da corrupção no Orçamento ter-minou em pizza. Como você avalia essa questão?

Lula – Não creio que tenha havido manipu-lação. Todos ficamos frustrados com o fato deque apenas alguns dos “anões” foram cassados,e nenhum preso, como ficamos frustrados com

e cheguei à condição de dirigente de uma grandealternativa política. Em reconhecimento a isso,milhares de quadros profissionais da mais altaqualidade estão conosco. Eles serão da maior im-portância para ajudar a administrar o Estado. Mas,francamente, os políticos tradicionais, com todasua experiência administrativa, o que fizeram? Elesnos levaram para o buraco. Desta experiência eunão preciso, nem o Brasil.

Mundo – A divisão do PT entre “moderados”e “xiitas” não diminuiria sua capacidade de darcoerência à Administração?

Lula – O PT é democrático, com muitas cor-rentes e sensibilidades. Nossas diferenças sãoresolvidas em debates, encontros e congressos,onde sempre é assegurada a palavra a todos. Quepartido faz isso? Meu partido não é governadopor caudilhos ou camarilhas. Nossas diferenças

são políticas. Não temos, por exemplo, PT-Éti-co e PT-Corrupto. Por que não se pergunta aoutros partidos como governarão o país com assuas divisões irreconciliáveis? Mas meu gover-no não será do PT, nem da Frente Brasil Popularpela Cidadania, mas a expressão de uma novamaioria que se formou neste país.

Mundo – Você propões a reforma agrária.Como seria feita? O país pode assumir o riscode uma luta com latifundiários?

Lula – A reforma agrária, combinada com umapolítica agrícola ativa, será um dos instrumentospara uma revolução produtiva que assegure umaumento da oferta de alimentos, além de contri-buir para o comércio exterior. A violência no cam-po não virá com a reforma. Ela já existe, e se nãohouver uma reforma, tenderá a aumentar. Os lati-fundiários que detém terras ociosas, que serãolegalmente desapropriadas, não são acima da lei,que podem reagir com armas às políticas do go-verno e à vontade da sociedade.

Mundo – Qual a sua opinião sobre o PlanoReal? Você ainda defende a moratória da dívidaexterna?

Lula – O Plano Real é eleitoreiro, um instru-mento de curto prazo para favorecer a candida-tura de FHC. Procura explorar o cansaço da so-ciedade com a inflação. Os que criaram o Realvão enterrá-lo, pois não pode haver um planoconsistente de combate à inflação se não atacaras suas raízes. E isto os autores do plano nãoexplicam. Eles querem esconder as receitasamargas que aprontam para a população. Voucriar condições para que a estabilidade seja du-radoura, como para que os trabalhadores tenhammais dinheiro no bolso. O combate à inflaçãoexigirá o controle dos monopólios e oligopólios,pôr fim à ciranda financeira, o que obrigará aum alongamento do perfil da dívida interna. Épreciso fazer com que o dinheiro que se investeno curto prazo, na especulação, seja dirigido aofinanciamento de longo e médio prazo da ativi-dade produtiva. Para terminar a inflação, é pre-ciso contrato coletivo de trabalho, câmarassetoriais para decidir preços e salários e, sobre-tudo, muita negociação entre governo, trabalha-dores e empresários. O acordo que o governoassinou sobre a dívida externa é mau. Propo-mos uma auditoria sobre o conjunto da dívida,renegociar a parte em discussão no Clube deParis e pagar o restante, desde que não compro-meta nossas metas econômicas. Se isso produ-zir um impasse, tentaremos renegociar.

Mundo – Recentemente, você defendeu a pos-sível invasão do Haiti para “restabelecer a de-mocracia”. Essa posição não contradiz a con-denação do bloqueio americano a Cuba?

Lula – Eu disse que a situação do Haiti é ina-ceitável, pois um presidente eleito foi deposto

Laureni Fochetto

Mundo no Vestibular Mundo no Vestibularl) Leia com atenção o texto abaixo:

“Na mesma medida em que tamanho e grandeza deum país desempenham um papel crítico na signifi-cação desse país no contexto mundial, as diferen-ças internas são essenciais ao equilíbrio e à própriaviabilidade do país. Contudo, formas exageradas deconcentração, tanto no que se refere à concentraçãode riqueza ao longo da hierarquia de pessoas, comonas unidades regionais do país, são focos de insta-bilidade social e, por via de conseqüência, de insta-bilidade política. Isso quer dizer que um objetivonacional fundamental e permanente, que é o de as-segurar a estabilidade social interna, para garantir oprogresso geral do país, é afetado, em suas própriasbases, por eventuais excessos de concentração.”

a) A parte do texto que fala das desigualdades regio-

nais poderia ser aplicado atualmente para a China?Justifique

b) As desigualdades regionais poderiam ocorrer tam-bém na Itália? Justifique

2) (PUC-SP) No continente asiático pode, num mes-mo dia, estar nevando em algumas regiões e fazen-do um calor sufocante em outras. Pode também es-tar acontecendo um dilúvio em algumas regiões, eem outras a água pode quase nunca estar presente.a) Qual a principal razão da grande variação térmi-ca apontada pelo texto? b) Aponte uma área do con-tinente onde podem estar ocorrendo os “dilúvios” eoutra onde a água seja muito rara.

3) O conflito em Ruanda foi talvez o mais brutal ocor-rido na África. Responda:

a) Em qual região da África Ruanda está localizada?b) Quais foram as duas potências coloniais que domi-

naram Ruanda?

4) (Unicamp) “Belfast, a cidade onde a influenciabritânica é visivelmente dominante (...). As lojasestão sempre abertas e cheias, mas nas ruas os sol-dados britânicos controlam a ordem do passeiopúblico com carros blindados e metralhadoras (...)”( Folha de S.Paulo, 14/10/93)

a) O texto refere-se a que território de influência britâ-nica? b) Identifique as causas que conferem ao espa-ço urbano de Belfast as características descritas.

5) (Unicamp) “O petróleo é uma riqueza estranha aoOriente Médio” (Pierre George)

Identifique as condições de produção do petróleo no

Oriente Médio e relacione-as à situação sócio-eco-nômica da região considerando que a frase de PierreGeorge é contemporânea a essa exploração.

RESPOSTAS

I a) Sim. A China apresenta grandes desigualdadesregionais entre o leste (litorâneo) e oeste do país(Tibet, Sinkiang e Mongólia Interior). Essa desi-gualdade é bastante antiga, mas se acentuou com acriação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs).

l b) Sim, a Itália também possui grandes desigualda-des regionais antigas. O norte é mais industrializa-do e urbanizado, o sul é mais agrário e subdesen-volvido.

2 a) A principal razão refere-se à grande extensão docontinente no sentido norte-sul, isto é, das latitudes,já que ele se estende das regiões polares (Sibéria) àsregiões equatoriais (arquipélago da Indonésia).

2 b) O subcontinente indiano detém o mais alto índicepluviométrico do planeta. Um dos pontos da Ásiaonde quase nunca chove é o Oriente Médio, regiãode dominância do clima desértico.

3 a) Ruanda está localizada na porção oriental da Áfri-ca, junto à região do Planalto dos Grandes Lagos.

3 b) As duas potências coloniais foram a Alemanha eBélgica após a Primeira Guerra).

4 a) O texto se refere à Irlanda do Norte.4 b) Belfast é a capital da Irlanda do Norte, onde os

católicos lutam para se libertar do jugo britânico eeventualmente se juntar à República do Eire (ou Ir-landa do Sul). A presença de soldados britânicostem o objetivo de combater o Exército RepublicanoIrlandês (IRA), grupo político-militar que luta pelaindependência, e para proteger os protestantes, quedesejam permanecer súditos britânicos. Recente-mente, o IRA resolveu deixar a luta armada e partirpara uma solução negociada com os britânicos.

5) O petróleo é uma riqueza “estranha ao Oriente Mé-dio” porque sua extração beneficiou apenas uma pe-quena parcela da população dos países produtores.A maior parte vive em condições tão precárias quan-to as que sofriam antes da descoberta desse impor-tante recurso mineral.

Luís Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência, pretende dobrar osinvestimentos em ciência e tecnologia, oferecendo aos que saem da universidade em

busca de emprego. Ele acredita que o desenvolvimento deva ser sustentado numareforma agrária contra o latifúndio ocioso, como parte de uma política agrícola para

resolver o problema da fome. Lula qualifica o Plano Real como “eleitoreiro” e diz que aequipe de FHC, o candidato do PSDB, esconde as medidas recessivas que teria queadotar para manter o Real estável. Lula pretende fortalecer os laços com a AméricaLatina, relacionar-se com todos os blocos, fazer uma auditoria na dívida externa e

praticar um protecionismo necessário ao desenvolvimento de alguns setores da economiae à criação de empregos. Pessoalmente contrário ao aborto, Lula promete assistência

médica e psicológica às mulheres que o praticam em condições clandestinas e precárias –5 milhões ao ano. Diz não acreditar na punição ao usuário de drogas, mas prometeguerra aos traficantes. E ataca os que discriminam homossexuais. Lula defende o

socialismo como uma democracia radical – política, econômica e social.Lula não convence ao explicar que apoiaria uma invasão do Haiti mas não a de Cubapara acabar com a ditadura, preferindo tomar s dores do regime de Fidel Castro. E,

como fez FHC, exagera a importância da participação que tiveram os “carapintadas” navida política nacional, num claro apelo eleitoral.Leia, aqui, os principais trechos da entrevista.

LULA QUER DEMOCRACIA RADICAL COM REFORMA AGRÁRIA E TECNOLOGIAJOSÉ ARBEX JR.

EDITOR

América latina

Caminhos da

por uma camarilha de militares. Fico preocupa-do com a impotência da comunidade internaci-onal diante desse fato. Estamos em contato coma equipe do presidente deposto Aristide paraapoiar a melhor solução. A situação de Cuba édiferente. O boicote dos Estados Unidos é de-sumano e improdutivo. Isso eu disse pessoal-mente ao deputado Torriceli, que é o autor dalei que autoriza o embargo. Se Washington pensaque vai derrubar Fidel com o bloqueio, estãoenganados. A melhor maneira para que Cubaevolua democraticamente é permitir que superesuas graves dificuldades.

Mundo – Como o seu governo pretende situ-ar o país em relação aos blocos? E a questãodo protecionismo de mercado?

Lula – A prioridade de meu governo será aAmérica Latina, em particular o Mercosul, quenão pode se reduzir a apenas uma zona de livrecomércio ou união alfandegária. Temos que arti-cular políticas agrícolas e industriais comuns,cooperação científica e tecnológica e intercâm-bio cultural, e inclusive pensar em formas de co-operação política mais estreitas. Devemos expan-dir nosso intercâmbio com a União Européia ecom o Nafta. Mas o Brasil deverá estabelecer re-lações muito estreitas com países como a Índia,China, Rússia e África do Sul. O protecionismopersiste como prática mundial, apesar das decla-rações sobre livre comércio. O Brasil buscaráabrir sua economia, mas pode estabelecer meca-nismos de proteção provisória para favorecer aexpansão de setores em vias de implantação alémde garantir emprego e crescimento.

Mundo – Você se considera socialista?Lula – Eu me considero socialista. O socia-

lismo é uma forma de levar a democracia às úl-timas conseqüências, de socializar a política, defazer com que todos possam ser sujeitos políti-cos. Mas para isso é preciso construir uma de-mocracia que seja política, mas também econô-mica e social. Não sei que formas concretas teráessa nova sociedade. O socialismo que nós que-remos não será conseqüência de nenhum mo-delo intelectual prévio, mas resultado das lutase da eleição política dos trabalhadores.

Mundo – Por que um jovem leitor deveriavotar em você para presidente?

Lula – Minha candidatura é expressão domais importante movimento de renovação queesse país já viveu. Começou nos anos 70, unin-do trabalhadores, intelectuais, estudantes e to-dos os que estavam excluídos do sistema políti-co. Este movimento, do qual o PT foi conseqü-ência, mudou a cultura política do país. Minhacandidatura é expressão de u sentimentolibertário que foi invadido essa conservadorasociedade brasileira.

“A melhor maneira de combater a corrupção

é tornar o Estado transparente, sob controle

da sociedade.

Não creio que uma política de repressão aos

que usam drogas dê resultado, mas o Estado

tem que ser implacável com os traficantes.

Os políticos tradicionais, com “experiência ad-

ministrativa”, nos levaram para o buraco.

O Plano Real é eleitoreiro. Os que criaram o

Real vão enterrá-lo.

A violência no campo não virá com a refor-

ma agrária. Ela já existe, e tenderá a au-

mentar se a reforma não for feita.

A prioridade de meu governo será a América

Latina, em particular o Mercosul”

A Redação de Mundo não tem preferência por qualquer dos candidatos. Sua intenção é contribuir, no limite desuas possibilidades, para o debate nas escolas. Com esse objetivo, publicamos na edição anterior uma entrevista

com FHC, que divide, com Lula, os maiores índices de preferência nas pesquisas de intenção de voto.

8

Outubro de 1994 Mundo

Brasil está vivendo a última fase deum longo processo de transição de-mográfica. A população brasileiracontinua crescendo, só que cada vezmais lentamente. Mantidos esses rit-

mos, o Brasil chegará ao ano 2050 com um cresci-mento populacional nulo, e contará então umapopulação inferior a 250 milhões de habitantes(equivalente à dos Estados Unidos em 1990). NoBrasil, o risco da “explosão demográfica” é coisado passado.

Entretanto, seu fantasma continua a assus-tar. Nos meios de comunicação, a miséria do paísé freqüentemente associada ao elevado incremen-to vegetativo de sua população. Muitos dos candi-datos às eleições gerais de outubro elegeram a mul-tiplicação do número de novas escolas como pla-taforma de campanha. A dinâmica demográficabrasileira mudou, mas grande parte da sociedadebrasileira ainda não se deu conta disso.

A transição demográfica brasileira começouna década de 1940, com a queda generalizada dastaxas de mortalidade. O avanço da medicina pre-ventiva e dos programas de saúde tiveram comoresultado a diminuição e, em alguns casos, aerradicação das doenças epidêmicas. Apesar daconhecida precariedade da saúde pública no Bra-sil, a disseminação do atendimento médico aju-dou a aumentar a expectativa de vida do brasilei-ro, que passou de 40 para 65 anos entre 1940 e1980.

UMA NOVA REALIDADE DEMOGRÁFICA NO BRASIL

Cresce a proporção de idosos e cai ade jovens na estrutura etária do país

A população cresce cada vez mais lentamente, superando o risco de uma “explosão demográfica”; no atual ritmo, oBrasil chegará ao ano 2050 com crescimento populacional nulo, afirma Regina Araújo

O

A queda da mortalidade teve um forte im-pacto no ritmo de crescimento da população bra-sileira. Entre 1890 e 1950, o incremento demo-gráfico permaneceu estável em torno de 1,8% aoano, passando para 2,4% nos anos 40, 3% nos anos50 e 2,9% nos anos 60. Em 1940, o Brasil contavacom 41,2 milhões de habitantes; em 1970, com93,1 milhões. Isso significa que a população cres-ceu 130% em apenas 30 anos.

O alarmismo que ainda está presente em am-plos setores da sociedade brasileira deriva dessesnúmeros. Só que ele desconsidera a segunda parteda história. Desde o final da década de 1960, afecundidade começou a cair de forma generaliza-da, puxando para baixo as taxas médias anuais deincremento da demográfico. Na década de 190,registrou-se um crescimento médio de 2,5% aoano. O último censo demográfico, realizado em1991, acusou uma população de 147 milhões depessoas, crescendo desde 1980 a uma taxa médiaanual de 1,9%.

A rápida alteração do comportamento repro-dutivo da população brasileira se relaciona com astransformações estruturais que se operaram naeconomia do país nas últimas décadas. O aumentodo custo de formação dos filhos – associado à mo-dernização da economia e à acelerada urbaniza-ção – funciona como um freio à natalidade, mes-mo entre as famílias mais pobres.

A queda das taxas de fecundidade no Brasilé um fato incontestável: na década de 1960, a cada

mulher brasileira em idade reprodutivacorrespondiam 6 filhos; atualmente, o número denascimentos por mulher gira em torno de 2,5. In-felizmente, essa queda não revela a melhoria dascondições de vida da população, mas apenas a suaadaptação às novas regras de inserção no mercadode trabalho. Desprovidas de informações acercade seu próprio corpo e de sua fisiologia reprodutivae com acesso limitado aos métodos contraceptivosmodernos, as mulheres brasileiras estão recorren-do em massa à esterilização. De acordo com da-dos oficiais recentes, cerca de 70% das mulheresbrasileiras casadas ou unidas, com idade entre 15e 44 anos, recorrem a algum método anticoncep-cional; destas, 44% fizeram laqueadura de trom-pas, e não terão mais nenhum filho.

As transformações recentes na dinâmica de-mográfica projetam para um futuro próximo pro-fundas alterações na estrutura etária do país. A pro-porção de idosos (acima de 65 anos) sobre a po-pulação total está aumentando rapidamente, en-quanto a proporção de jovens está diminuindo. (v.as pirâmides etárias nesta pág.). Se o planejamen-to governamental não levar esses dados em consi-deração, o sistema de seguridade social já croni-camente falido será incapaz de atender a demandadas novas aposentadorias. Por outro lado, corre-seo risco de aumentar inutilmente o número de va-gas nas escolas, e não investir no que realmente énecessário: a melhoria da qualidade do ensino pú-blico.

9

Outubro de 1994PANGeA

DESTRUIÇÃO E MORTE DA “TERRA DOS GORILAS”

Guerra na Ruanda deixa 1 milhão demortos e 2,5 milhões de refugiados

Os grupos étnicos hutus (90% da população) e tutsis (quase 10%) disputam o poder, reproduzindo um conflitoherdado do período colonial

Super natalidade refletemiséria africana

Na América Latina e na Ásia, explosão de-mográfica é coisa do passado. As curvas decrescimento populacional, que registraram ta-xas anuais ao redor de 3% há três décadas,cederam sob o impacto da modernização eco-nômica. A pobreza perdura, mas a natalidadedeclina com a urbanização e a dissolução daunidade familiar de produção. A transição de-mográfica marcha na direção de um cresci-mento populacional inferior a 2% ao ano.

A África desafia a lei da transição demo-gráfica. Nos países do leste africano, Golfo daGuiné e Sahel encontram-se taxas de incremen-to populacional de 3,5% (Quênia e Níger),3,3% (Uganda e Costa do Marfim) e 3,1%(Malavi, Mali e Togo), só comparáveis às decertos países islâmicos. Na África não é otradicionalismo religioso que sustenta a nata-lidade explosiva, mas a miséria.

Não é essa a causa essencial da tragédia afri-cana. O continente foi integrado à economiamundial de maneira perversa, ao longo dos sé-culos. O tráfico negreiro, entre os séculos XVIe XIX, drenou a população em idade produtiva,freou o aumento populacional e criou conflitosetno-tribais que ainda perduram. A coloniza-ção européia inventou fronteiras artificiais,agravou rivalidades regionais e gerou elitestribais autocráticas, que até hoje controlam osaparelhos de Estado. Nas últimas três décadas,a concorrência entre americanos e europeus nomercado mundial de alimentos sabotou o de-senvolvimento da agricultura africana e dissol-veu as estruturas comunitárias rurais.

A miséria africana alimenta a natalidade des-controlada, que compensa com sobras as catás-trofes humanas provocadas pela fome, guerrastribais e disseminação de epidemias (entre elas, aAIDS). A natalidade explosiva reforça o círculovicioso da miséria, esculpindo pirâmides etáriasachatadas, que refletem o predomínio numéricodas crianças: na Quênia, Uganda e Ruanda 49%da população tem menos que 15 anos.

Terra da gente

Gente sem terra

Nos últimos meses, uma feroz guerra entre hutus e tutsis deixou um trágico saldo emRuanda, até há bem pouco conhecida como a terra dos últimos gorilas da África: 1 mi-lhão de mortos, 2,5 milhões de refugiados, milhares de feridos e epidemias como cólerae tifo. As causas do conflito – recordista em número de vítimas – refletem o processo decolonização do país e as especificidades de sua política interna. Localizada nos altosplanaltos da África oriental, Ruanda é do tamanho de Alagoas, com uma população de7,5 milhões, formada por hutus (90%), e tutsis (quase 10%). Os hutus são originários daBacia do Congo e se estabeleceram primeiro em Ruanda. No século XV foram domina-dos pelos tutsis, originários das regiões próximas à Etiópia.

O Congresso de Berlim (1885) destinou Ruanda aos alemães, que dominaram o país até a Pri-meira Guerra (1914/18), quando a área foi cedida à Bélgica. Os belgas permitiram, em geral, que ostutsi mantivessem o poder. Em 1959, acreditando que o rei tutsi pretendia a independência, a monar-quia foi abolida e os hutus passaram a controlar a política interna. A mudança estimulou perseguiçõesde tutsis. Muitos fugiram para países vizinhos, especialmente Uganda. Em 1962, o país tornou-se inde-pendente. Em 1973, Juvenal Habiarimana instaurou sua ditadura. Desde então, a política interna pas-sou a três componentes: o partido do governo, formado só por hutus, a oposição “legal” de hutus, e aFrente Patriótica Ruandesa (FPR), de tutsis exilados em Uganda.

Em outubro de 1990, depois de várias tentativas frustradas, grupos da FPR – formados pelos filhosdos que fugiram de Ruanda nos anos 50 – invadiram o norte do país, reclamando o direito de retorno. De1990 a 93 Ruanda viveu uma guerra civil inter-mitente, que parecia se resolver com a assina-tura dos Acordos de Arusha, na Tanzânia (agostode 1993). Mas, a demora de Habiariama emcumprir os acordos agravou a situação. A guer-ra explodiu no início de abril, quando o seu aviãofoi derrubado por um míssil. Embora sem pro-vas, os tutsis da FPR foram acusados. Hutus co-meçaram a matar tutsis e os hutus da oposição.A FPR inicia, então, uma ofensiva que culmi-naria com a tomada do país três meses depois.

Os massacres praticados pelo governo eo avanço da FPR ocasionaram um êxodo gigan-tesco em direção ao oeste, para a fronteira doZaire. A comunidade internacional só depois demuita vacilação e de centenas de milhares devítimas definiu uma intervenção humanitária,efetuada inicialmente por 1.200 soldados fran-ceses. Esses soldados tinham como objetivoproteger os civis e se interpor entre as forçasem luta. A intervenção que durou dois meses(de junho a agosto), criou uma zona de segu-rança no sudoeste do país (v. o mapa). A FPRvenceu a guerra, formou um novo governo coma participação de hutus “moderados” que têmapelado para que os refugiados voltem às suascasas e ajudem reconstruir a Ruanda. Mas es-ses refugiados parecem achar mais seguro cor-rer o risco da fome e epidemias.

Font

e: L

e M

onde

Dip

lom

atiq

ue N

o 48

4 e

485

10

Outubro de 1994 Mundo

carro, cheio de compras distraidamentejogadas no banco traseiro, permaneceaberto em pleno centro da capital. Cen-tenas de pessoas passam, mas ninguémpensa em roubar a mercadoria “dando

sopa”. Medo da polícia? Improvável. Nem há polici-ais por perto. As lojas em volta nem instalaram siste-mas contra roubo. E não há pedintes na rua.

Estas cenas, do cotidiano de Estocolmo, con-vidam a refletir sobre um país que apenas começaa sentir alguns dos efeitos da crise que assola os“ricos”. Qual o segredo da Suécia? A resposta cer-tamente não agradará aos neoliberais de plantão,que receitam o mercado como panacéia de todosos males e confundem estatismo – qualquerestatismo – com atraso e miséria.

A Suécia é um dos países mais “estatistas” domundo. A política tributária, construída ao longo dedécadas de hegemonia política do Partido Social-Democrata, determina uma carga de impostos queoscila entre 40% e 60% dos rendimentos. Mas issose reflete numa excelente infraestrutura de bens eserviços sociais. É o “Estado de Bem-Estar Social”.Cada um dos 8,5 milhões de suecos tem estudos esaúde plenamente garantidos. Ricos e pobres têm,em média, a mesma estatura. Isso significa que hádécadas não diferença substancial na qualidade dealimentos básicos à disposição de uns e outros.

O sistema estatal de seguro-desemprego pa-rece gozação se comparado ao brasileiro. Ao serdemitido, o trabalhador sueco tem a garantia deque durante o primeiro ano de desemprego, rece-berá, mensalmente, o equivalente a 90% de seuúltimo salário. No segundo ano 80%, no terceiro70% e no quarto 60%. Só então é que deixará dereceber, mas continuará desfrutando da assistên-cia e de todos os direitos sociais.

O “estatismo” não impede o florescimentoda economia privada (o PNB per capita é de US$26 mil, comparado com US$ 22 mil dos EUA),que muitas vezes recorre ao subsídio público emnome da democracia. É o caso de pequenos jor-nais que têm assegurado pela Constituição o di-reito de subsídios para competir com jornais po-derosos. Considera-se que não há perigo maior doque o monopólio da informação, e se os impostosservirem para impedi-lo, tanto melhor.

Este é o mais significativo componente do “se-gredo sueco”: convicção democrática e sentimentode independência nacional baseados na tradição reli-giosa (luterana). Esse sentimento permitiu que a Su-écia se mantivesse neutra na 2a Guerra, preservando-

DIÁRIO DE VIAGEM

Memórias do paraísoA crise européia coloca questões vitais para os suecos, habituados a uma vida

calma e abastada, comenta José Arbex Jr.

se da destruição (isso explica a sólida posição quesua economia passou a ocupar no pós-guerra). Amesma convicção levou o país a apoiar os comunis-tas do Vietnã na guerra com os EUA, causando umabreve ruptura diplomática com Washington (1972-74). À época, o premiê era social-democrata OlofPalme, assassinado em 28 de agosto de 1986, quan-do estava na fila do cinema de Estocolmo.

A tolerância para com os imigrantes é outracaracterística. Nesses dias de xenofobia, a direitanacionalista sueca está em recuo. Os imigrantessão bem recebidos, embora as restrições à sua en-trada sejam crescentes. Cada cidade tem um Co-mitê de Imigrantes que zela para que todos tenhamseus direitos preservados.

E a crise? Pergunte a um sueco, e ele se quei-xará. Mas é difícil que um brasileiro entenda comocrise uma inflação anual que não chega a 3% edesemprego de 5%. Mas discute-se muito, princi-palmente quando o tema é aderir ou não à UniãoEuropéia (haverá um plebiscito em novembro). Osfavoráveis à adesão dizem que o país não pode iso-lar-se da Europa rica. Os contrários argumentamque a Suécia, aderindo, estaria abrindo mão de suaneutralidade, e acabaria “importando” problemas.

A cúpula social-democrata é favorável à ade-são, embora o PSD esteja dividido, como a própriasociedade. O PSD perdeu as eleições em 1991, apóstrês décadas no governo, para uma coligação con-servadora que tinha um programa “privatizante”.Mas recuperou parte de seu prestígio com a defesado “estatismo”.

O componente mais grave da “crise” sueca nãoé imediatamente econômico. É um sentimento demonotonia responsável pelos mais altos índices desuicídios do mundo. A Suécia racionalizou a vidaem excesso. Não há lugar para o imprevisto. O cami-nho de cada um está praticamente definido, do berçoao túmulo. Um sintoma de obsessão pela ordem é orespeito religioso com horários. Tudo funciona comomáquina. Um atraso de 15 minutos, mesmo entrenamorados, pode ser tomado como insulto.

O extraordinário crescimento do funciona-lismo público a partir dos anos 70 (seu número foimultiplicado por cinco, para somar quase 1,5 mi-lhão de empregados) agravou a situaçãopsicossocial de uma vida cinzenta e regulamenta-da em demasia pela máquina estatal.

Em qualquer hipótese, a Suécia chegoumuito mais perto da sociedade planejada, iguali-tária e abastada pretendida por Marx do que qual-quer Estado socialista chegou a sonhar.

O

ANISTIA INFORMANesta seção, Mundo divulga relatórios, campanhas e de-núncias da Anistia Internacional (AI) sobre o comporta-mento dos países em relação aos Direitos Humanos. Casovocê tenha dúvidas, queira saber mais ou pretenda partici-par da AI, anote o endereço: São Paulo: Rua VicenteLeporace, 833 CEP 04619-032 fone: (11) 542.9819

Os últimos números da Procuradoria Geraldo Brasil indicam que a polícia registrou 5.644mortes violentas de crianças entre 1988 e 1991. Desetembro de 1993 a junho de 1994, 1.200 pessoasteriam sido mortas pelos “esquadrões da morte” enove entre dez casos permaneceram sem solução.

Quando a polícia mata, a impunidade é qua-se total, especialmente se as vítimas são pobres. Apolícia de SP matou 1.140 civis em 1991. Em NovaYork, cidade de tamanho comparável, morreram 27.Lá, o número de mortos foi menos da metade donúmero de feridos. Aqui, foi mais do que o triplo.

A tortura e os maus tratos são comuns nasdelegacias e até dentro o sistema penitenciário,superlotado e carente de assistência médica e le-gal. Os presidiários são majoritariamente pobres(95%), jovens (68%) e negros (65%).

Tudo isso não interessa só às vítimas e seusentes queridos. A segurança de todos nós dependede reformas profundas e urgentes. As eleições de1994 oferecem uma oportunidade única para o iní-cio do fim desse medo institucionalizado.

A AI pretende manter reuniões com os can-didatos à Presidência para pedir o compromissointransigente com um programa efetivo de prote-ção e promoção de direitos humanos. O país é umafederação em que cada Estado tem jurisdição so-bre os crimes em seu território, mas esse modelonão pode justificar o abuso persistente em qual-quer parte do território nacional.

O governo federal é responsável diante danação e do mundo pelo respeito a direitos funda-mentais. Aos tribunais federais caberia investigare instaurar processo quando uma violação não forpronta, total e imparcialmente investigada a nívelestadual. Os poderes da Procuradoria Geral daRepública poderiam ser ampliados para que par-ticipe ativamente das investigações. Os órgãos ofi-ciais de direitos humanos deveriam receber os re-cursos humanos e materiais necessários. Tambémo Judiciário precisa ser aparelhado para a admi-nistração da justiça pronta e imparcial. As con-clusões das investigações devem ser publicadas.

A Lei justa não é obstáculo, é instrumento.Freio ao crime não é pena perversa, é pena infalí-vel. A ferocidade primitiva, de governados ougovernantes, é incompatível com a ordem justa esolidária que o Estado de Direito busca.

11

Outubro de 1994PANGeA

GREENPEACE DENUNCIA

Navio protesta contradevastação do mogno

Em outubro, o “MV Greenpeace” percorrerá o rio Amazonas para denunciar oimpacto nefasto na busca predatória do “ouro verde”

Em 1987, quando ainda não era o Secretá-rio-Geral das Nações Unidas, o egípcioBoutros-Ghali alertava: “As guerras do Orien-te Médio, daqui para frente, terão muito maisa ver com a água do que com a política.”

A água no Oriente Médio é escassa em fun-ção do domínio de clima áridos. Por isso, o aces-so a fontes de água pode levar países a situa-ções conflitivas, já que quase nunca há adequa-ção entre os recursos hídricos (precipitaçõesanuais e fluxo das águas superficiais e subter-râneas) e as necessidades presentes e futuras.Essa inadequação é explicada por várias razões:• o elevado crescimento demográfico que gera

demandas crescentes de água;• a má distribuição dos recursos hídricos com

a contaminação de mananciais e do lençofreático pela utilização de produtos quími-cos na agricultura;

• a falta de planejamento na hora de se esten-der as redes de irrigação;

• os desacordos entre países no que diz res-peito à utilização de recursos hídricos co-muns. Especialmente este último fato, podelevar ao surgimento das chamadas “zonashidroconflitivas”. As duas mais importan-tes no Oriente Médio estão juntas às baciasdos rios Jordão, Tigre e Eufrates.Esses dois últimos rios atravessam áreas da

Turquia, Síria e Iraque, países que enfrentamum alto crescimento demográfico, fato que osobrigam a aumentar a produção agrícola. A Tur-quia tem o domínio sobre as nascentes dos rios,enquanto que o Iraque tem sob seu controle par-tes do médio e baixo vales. Desde os anos 80, aTurquia vem desenvolvendo o Projeto da Gran-de Anatólia (PGA), com o objetivo de modifi-car radicalmente a região sudeste do país, coma construção de barragens, hidroelétricas e irri-gando quase dois milhões de hectares de terras.Esse projeto lhe permitiria se tornar um grandeprodutor de cereais e garantiria 50% de suasnecessidades em energia. A grande retenção deágua por parte dos turcos, prejudica tanto a Síria(que depende em 90% do Eufrates) como oIraque, localizado à jusante (rio abaixo).

Como domina as nascentes dos rios e, nãoexiste uma legislação internacional clara sobreo assunto, a Turquia tende a negociar com seusvizinhos desde uma posição de força. Por isso,o PGA para a Turquia pode se constituir numaetapa do projeto geopolítico de restaurar as an-tigas glórias do Império Otomano.

passagem do barco “MVGreenpeace” pelo rioAmazonas – em uma vi-agem de um mês que teráinício no dia 8 de outu-

bro – representará um novo impulso naluta da entidade para enfrentar o pro-blema do corte predatório de madeirasna Amazônia, que vem causando pro-fundos estragos na floresta (v. o bole-tim Mundo n.o 3, à pág. 11).

A Greenpeace participou, em1992, da Coalizão contra o Corte Pre-datório de Madeiras na Amazônia, quereúne 80 entidades e vem conduzindoa campanha contra o corte do mognobasicamente em quarto frentes:1) Documentação dos estragos causa-

dos pelas madeireiras. Nesse senti-do a Greenpeace realizou o vídeo “Mogno: Es-tradas da Devastação”;

2) Conscientizar o consumidor para que não com-pre a madeira enquanto ela estiver sendo pro-duzida de forma predatória. Isso tem sido feitotanto no exterior (dado que Inglaterra e EUAconsomem cerca de 80% do mogno produzidona Amazônia), quanto no Brasil. Em outubro de1993, a Greenpeace invadiu o Shopping LarCenter em São Paulo para alertar os consumi-dores sobre o problema;

3) Ações na justiça. A Greenpeace apoiou o Nú-cleo dos Direitos Indígenas, de Brasília, emações judiciais que resultaram na expulsão demadeireiras de várias áreas indígenas;

4) Pressão direta sobre as madeireiras. Entre asações neste campo, ativistas da Greenpeace ocu-param pacificamente a Madeireira Maginco, emRio Maria (PA), paralisando sua serraria.

Outro objetivo da campanha é apoiar a inclu-são do mogno no Apêndice II do Cites (a convençãointernacional sobre o comércio das espéciesameaçadas de extinção). A próxima reunião dessaconvenção acontecerá em novembro, e vários paísesestão se dispondo a votar a favor desta inclusão. OApêndice II não proíbe o comércio das espécies, masestabelece controles mais rígidos sobre a forma de

sua produção. Se refere a espécies que não estejamnecessariamente em extinção, mas que possam seextinguir no futuro, caso sua produção não seja con-trolada. Quando a espécie se encontra claramente emvias de extinção, recomenda-se a sua introdução noApêndice I que proíbe o seu comércio.

O governo brasileiro vem se posicionandocontra a inclusão do mogno no Cites, atendendo àpressões das madeireiras. É tempo ainda de lutarpara que essa posição seja mudada, e a presença dobarco “MV Greenpeace” na Amazônia certamentecontribuirá para expor à opinião pública a impor-tância desta medida. Do contrário, o mogno seráextinto comercialmente, assim como o foram o PauBrasil e o Jacarandá, e mais uma vez uma riquezanatural do Brasil será explorada até suaexaustão,apenas para enriquecimento de pequenos grupos.

JOSÉ AUGUSTO PAIVA

A

MEIO E O HOMEM

Água, questão estratégicano Oriente Médio

José Augusto Paiva coordena a Campanha deFlorestas Tropicais da Greenpeace na América Latina

Se você está interessado em participar do Greenpeace,

ou simplesmente que mais informações, anote: São Paulo

– R. dos Pinheiros, 240 cj. 32 CEP 05422-000

fone (11) 881.4940 Rio – R México, 21 cjs. 1301-

2 CEP 20.031-144 fones (21) 240.4476 e 262.7318

Div

ulga

ção