Expedição Cultural

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1 EXPEDIÇÃO CULTURAL R$ 2,00 • AGOSTO 2010 CONHEÇA DEZ IMPERDÍVEIS ROTEIROS DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO BRASIL

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EXPEDIÇÃO CULTURAL

R$ 2,00 • AGOSTO 2010

CONHEÇA DEZ IMPERDÍVEIS ROTEIROS DO

PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO BRASIL

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EditorialUma expedição cultural singular, mais que

isso, inusitada. Um vasto e original roteiro que abre perspectiva para uma viagem em duas versões, física e imaginária. Mesmo que não possamos estar pre-sentes, ao mesmo tempo, no Solar da Baronesa, na mineira Santa Luzia, e no Palacete de Bolonha, em Belém, capital paraense, podemos entrelaçá-los por meio desta publicação e dos textos, fotos e comentá-rios postados na internet. Não há como perder nada dos 10 roteiros e 20 monumentos e sítios culturais e históricos do país, do século XVI aos dias atuais.

O mais interessante dessa expedição cultural é exatamente a ligação, por identidade de acervos, de um patrimônio a outro. Uma ideia que facilita a busca de conteúdos, principalmente para quem, além do in-teresse turístico, deseja catalogar a história por meio de elementos, fatos e personagens intrínsecos. Daí, fica fácil entender a razão de o roteiro nos levar da Igreja de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte, à Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em Pirenópolis, no interior de Goiás; do Palácio dos Bispos, em Ma-riana, Minas Gerais, ao Palácio Anchieta, em Vitória, capital do Espírito Santo.

ROTEIRO 1 PG. 6Igreja de São Francisco de Assis • Belo Horizonte/MGIgreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário • Pirenópolis/GO

ROTEIRO 2 PG. 12Solar da Baronesa • Santa Luzia/MGPalacete de Bolonha • Belém/PA

ROTEIRO 3 PG. 18Museu de Artes e Ofícios • Belo Horizonte/MGMuseu da Língua Portuguesa • São Paulo/SP

ROTEIRO 4 PG. 24Museu do Oratório • Ouro Preto/MGPaço Alfândega • Recife/PE

ROTEIRO 5 PG. 30Seminário Apostólico N. S. S. Sacramento • Manhumirim/MGPortal da Misericórdia • Salvador/BA

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ROTEIRO 6 PG. 38Palácio dos Bispos • Mariana/MGPalácio Anchieta • Vitória/ES

ROTEIRO 7 PG. 44Museu Clube da Esquina • Belo Horizonte/MGDistrito Cultural da Lapa • Rio de Janeiro/RJ

ROTEIRO 8 PG. 50Museu da Música • Mariana/MGResidência de Olivo Gomes • São José dos Campos/SP

ROTEIRO 9 PG. 56Biblioteca Pública Est. Luiz de Bessa • Belo Horizonte/MGCatedral de Brasília • Brasília/DF

ROTEIRO 10 PG. 62Museu de Catas Altas da Noruega • C. Altas da Noruega/MGCatedral São Pedro de Alcântara • Petrópolis/RJ

www.expedicaocultural.com.br e postaram mensagens sobre as rotas indicadas, concorrendo a uma viagem, com acompanhante, a uma delas. Por força do regu-lamento, o concurso só premia um participante. Mas, todos são vencedores, pelo conhecimento e reconheci-mento do grande potencial turístico brasileiro.

A Expedição Cultural é um projeto realizado pelo jornal Estado de Minas, com patrocínio da Pe-trobras. Tem o objetivo de promover o conhecimento, o turismo e a cidadania. A jornada começou na inter-net, partindo de Minas Gerais rumo a importantes patrimônios de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Pará, Pernambuco, Espírito Santo e Bahia. Depois, equipes de jornalistas viajaram milhares de quilômetros para colher informações, imagens e conversar com quem convive mais de perto com a memória do país.

E outro grande destaque dessa aventura foi o con-curso. Os internautas acessaram um blog pelo endereço

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ousadasCurvasde umGÊNIOIGREJA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS • BELO HORIZONTE/MG

Alvo de polêmicas, a Igreja de São Francisco de Assis, a igrejinha da Pampulha, em Belo Horizonte, ainda hoje gera impacto. Difícil se manter alheio à edi-ficação: misto de singeleza e imponência, pousada às margens da lagoa. Construção que contrariou os es-tilos da época e lançou o nome de Oscar Niemeyer no cenário nacional, a igrejinha reuniu, num mesmo es-paço, obras de verdadeiros gênios da arte no Brasil.

A começar pelo próprio Niemeyer, jovem arqui-teto contratado pelo então prefeito Juscelino Kubits-chek, na década de 1940, para construir o complexo arquitetônico da Pampulha. A igreja foi a última obra e causou alvoroço. Afinal, foi um choque para a tradi-cional sociedade da época engolir aquelas curvas, num contexto em que predominavam linhas retas.

A igreja é composta de quatro arcos em concreto, revestidos de pastilhas. “Foi a primeira vez que se usou concreto armado como algo estético”, comenta a as-

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Curvas sessora de capacitação profissional da Belotur, Neuma Horta. Guia de turismo da Pampulha durante 20 anos, ela acredita que ainda hoje a obra causa espanto. “As pessoas a aceitam, mas estranham.” Para ela, a igreji-nha se destaca também pelas histórias que envolveram sua inauguração, em 1947. A mais polêmica foi a deci-são do então arcebispo dom Antônio dos Santos Cabral de não sagrar o templo. O religioso não aceitava as ino-vações arquitetônicas e a ornamentação. Somente em 1959 foi entregue ao culto.

Os “causos” da época da criação da igreji-nha chamam a atenção do empresário mineiro Hélio Cunha, que vive em Curitiba e sempre a visita. “Não foi só a construção que gerou polêmica. A pintura de São Francisco de Assis desnudo e as imagens do pecado original foram criticadas.”

O painel na parede de fundo do presbitério retra-ta a vida de São Francisco de Assis sob a ótica e traços de Cândido Portinari (1903–1962), conhecido por ter rompido padrões e por apresentar em suas obras forte temática social. Na pintura em tom pastel, ele mostra São Francisco com o peito descoberto, como se estives-se em processo de desintegração. “Era o momento em que o santo abandonava o plano terreno e chegava ao espiritual”, acredita Neuma Horta.

Portinari deixou sua marca nos 14 quadros da via-sacra, que se destacam por cores vivas e enqua-dramentos inovadores. Outros nomes que assinaram a ornamentação da obra de Niemeyer são o do escultor mineiro Alfredo Ceschiatti e do desenhista e ilustrador Paulo Werneck.

As curvas e técnicas inovadoras de Niemeyer estão presentes em todo o complexo arquitetônico da Pampulha: na Casa do Baile, no Museu de Arte (anti-go cassino), no Iate Clube e outros. Um mergulho no modernismo brasileiro que teve, na capital mineira, sua grande vitrine.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO:Avenida Otacílio Negrão de Lima, 3.000, Pampulha

TELEFONE: (31) 3427-1644

VISITAÇÃO: Diariamente, das 9h às 17h

ENTRADA: R$ 2

DICA: Não deixe de conhecer todo o complexo arquitetônico da Pampulha; caso queira contratar um guia de turismo, entre em contato com a Belotur pelo telefone (31) 3277-9777

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DO MODERNISMO AO NEOGÓTICO… Antes ou depois de viajar pelo modernismo da

Igreja de São Francisco de Assis, vale um passeio por outros templos religiosos de Belo Horizonte que tam-bém têm arquitetura de rara beleza. Cravada em meio ao caos da Avenida Afonso Pena, a Igreja de São José é recanto de paz para transeuntes, que costumam se acomodar nos degraus de sua escadaria. Construída em estilo manuelino, a segunda igreja da capital, data-da de 1910, tem 60m de altura e guarda em seu interior belas pinturas do alemão Guilherme Schumacher e um órgão de 1932.

Próximo dali, na Rua da Bahia, está a Basílica de Nossa Senhora de Lourdes. Entregue à cidade em 1923, em estilo gótico, é composta por três naves e tem 47m de comprimento. Em seu interior há três imagens dedicadas à santa. No Bairro Funcionários está a Catedral da Boa Viagem, que homenageia a pa-droeira de BH. A história do templo se confunde com a da capital, ainda que a atual construção tenha sido entregue à população somente em 1932. Em estilo neogótico, a catedral abriga em seu conjunto arqui-tetônico uma praça com belos jardins.

Mas BH não é só religiosidade. É uma cidade em que tradição e modernidade caminham juntas. Enco-mendada ao engenheiro Aarão Reis, no fim do século XIX, o projeto seguiu os moldes de metrópoles como Paris e Washington. Considerada a primeira cidade moderna planejada do país, foi erguida no povoado de Curral del Rey.

BH conserva suas raízes interioranas, que fazem com que seus moradores a caracterizem como uma “roça grande”. A denominação tem lá seus fundamen-tos. Basta percorrer os tradicionais bairros da Região

Leste, os primeiros da capital, para perceber alguns traços de cidade pequena. É o caso do Santa Tereza, que teve sua ocupação marcada por imigrantes italianos.

Outro orgulho do belo-horizontino é o Mercado Central, com 80 anos de história. Erguido no Centro, é frequentado por pessoas de todas as classes, que se es-barram em corredores de pimentas, hortaliças, cacha-ças, doces, queijos e outras iguarias ou nos apertados mas aconchegantes botecos.

A capital mais próxima de BH é o Rio de Janeiro, a 435 quilômetros. Em seguida vem Vitória, a 540; São Paulo, a 586; e Brasília, a 740. A cidade tem dois aeroportos: In-ternacional Tancredo Neves (Confins, a 38 quilômetros do Centro) e o Carlos Drummond de Andrade (Pampulha, a oito quilômetros do Centro)

O terminal rodoviário fica no Centro

BH abriga diversos hotéis, restaurantes e serviços. Para consulta, acesse o site da Belotur: www.belotur.com.br

@ DIRETO DO BLOG: “Minas é o cenário para quem tem sede de aventuras e fortes emoções. Um encontro com as montanhas e as tradições de um povo marcado pela simpli-cidade do viver. São diversas estórias, contos e igrejinhas... um mundo de aconchegos que deixa saudade para quem viaja e sonhos para quem mora nessas terras de calma e abundância. Lembro-me de cada pedacinho do cartão-postal de minha cidade, tão bela que se perde nesse hori-zonte repleto de luz. Vejo uma igrejinha de curvas macias em traços firmes que Niemeyer teve a ousadia de presente-ar nosso coração mineiro com arte, cultura e amor.”

Rosa Yazigi

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derrotaFé

Nem o tempo nem o fogo. Nada conseguiu ti-rar da bucólica Pirenópolis seu principal ícone patri-monial, a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Da privilegiada posição que ocupa no Vale do Rio das Almas, a Catedral de Barro colonial domina a paisa-gem da charmosa cidade goiana, a 150 quilômetros de Brasília e a 120 de Goiânia, fundada em 1727, no Ciclo do Ouro. A partir dela descortina-se um panorama de aquarela: estreitas ruas de pedra com casinhas multi-coloridas, cercadas por belezas naturais protegidas.

Caprichosamente conservado, o casario, tom-bado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1990, cresceu em torno da igre-ja matriz, o mais tradicional templo católico de Goiás. Grandioso, o monumento branco com janelas azuis, erguido entre 1728 e 1732, é simples no seu desenho:

na fachada principal, um quadrado encimado por um triângulo, a porta contornada por um portal singelo e duas janelas. Nos dois lados da fachada, torres subdi-vididas verticalmente em três quadrados.

Cercada por banquinhos de madeira, a igreja dedicada à padroeira de Pirenópolis pode ser vista de qualquer ponto da cidade, que nasceu como Arraial de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte, na região da Serra dos Pireneus. Do Largo da Matriz, onde foram assentados os alicerces de pedra e paredes em taipa de pilão (barro socado), com cobertura de telhas de bar-ro, o monumento, em quase três séculos, enfrentou os desgastes do tempo e acidentes. O primeiro, em 1830, quando a capela ruiu e teve que ser reconstruída.

Mas a grande provação viria com o incêndio na madrugada de 5 de setembro de 2002, que consu-

o FOGO e o TEMPOIGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO • PIRENÓPOLIS/GO

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miu quase todo o seu patrimônio artístico, restaurado pouco antes, em 1999. Aflita, a comunidade saiu em socorro da igreja e salvou 20 imagens, entre elas a da padroeira. Mas o fogo, que destruiu 60% da edificação, consumiu seus cinco altares barrocos revestidos com lâminas de ouro; o forro da capela-mor, onde estava gravada a imagem de Nossa Senhora do Rosário; e os dois anjos que enfeitavam o arco do cruzeiro. Peças ainda não apagadas da memória dos pirenopolinos. “Tenho saudade dos anjos de trombeta, dos altares”, diz Divina Dias de Oliveira, frequentadora assídua da igreja matriz.

“As chamas ainda iluminavam a madrugada mais triste de Pirenópolis quando o trabalho de salva-mento da igreja matriz começou”, lembra o delegado regional de Cultura, Pompeu Pina, o mais conheci-do “ativista do patrimônio” do município. Orgulhoso membro de uma família que chegou a Pirenópolis em 1780, o advogado, de 76 anos, foi um dos articulado-res das ações de emergência que impediram que o que sobrou da construção desabasse antes que ela pudesse ser restaurada.

Reerguida das cinzas, a matriz foi devolvida à comunidade em 2006, depois de meticuloso trabalho de restauração feito pelo Iphan, sem esconder as mar-cas de sua história. As cicatrizes causadas pelo fogo podem ser vistas nos altares laterais, agora montados nos buracos da parede de barro da nave-mãe. E o vazio deixado pelo altar-mor queimado abriu lugar para um irônico reencontro no tempo entre senhores e escravos do Vale das Almas. No seu lugar, foi instalado o altar da

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, cons-truída por escravos impedidos de entrar no templo dos brancos no período da mineração de ouro. Uma “vin-gança dos negros”, como dizem os moradores. Mas, também, um renascimento da peça, guardada por quase 60 anos por Pompeu Pina depois do desmonte da igreja dos escravos.

TERRA DE ARTE E AVENTURA

O ordenado e bem cuidado Centro Histórico de

Pirenópolis convida para um passeio a pé, feito len-tamente para que se possa desfrutar do bucolismo da paisagem, entre construções coloniais, neoclássicas e art déco. Fora dos limites do Centro, cachoeiras e parques esperam pelo visitante, quer ele queira ape-nas alguns momentos de descanso, quer busque muita aventura.

Pelo menos duas igrejas coloniais, além da ma-triz, merecem visita. A de Nosso Senhor do Bonfim, construída entre 1750 e 1754 e que tem uma belíssima imagem de seu padroeiro em tamanho natural, e a de Nossa Senhora do Carmo (1750), levantada pelos es-cravos e hoje ocupada pelo Museu de Arte Sacra.

Outros três museus ajudam a contar a história de Pirenópolis e dos costumes que marcaram seu povo. O Museu da Família Pompeu, instalado no prédio de 1830 onde funcionou o Matutina Meyapontense, primei-ro jornal de Goiás, e o das Cavalhadas, com mostra de roupas, máscaras e fotografias sobre a festa; e a Casa de Câmara e Cadeia e Museu do Divino, construída em 1919.

“As chamas ainda iluminavam a

madrugada mais triste de Pirenópolis

quando o trabalho de salvamento da igreja

matriz começou.”Pompeu Pina

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A viagem não se restringe ao passado. A Pirenó-polis do século XXI, com seus cerca de 20 mil habitan-tes, guarda segredos das coisas simples, mas não está parada no tempo. Sustentada pela extração de quart-zito, pecuária de corte e de leite e cultura de tomate, milho, mandioca, soja, maracujá, mexerica e banana, é apontada pelo governo federal como um dos 65 des-tinos indutores do turismo no Brasil, como informa o secretário municipal do setor, Sérgio Rady. Um título sustentado por uma estrutura de 104 pousadas e 3 mil leitos, além de casas de aluguel, uma boa rede de bares e restaurantes e o atendimento cordial dos gentis e re-servados pirenopolinos.

LOCALIZAÇÃO DA CIDADE:Em Goiás, a 150 quilômetros de Brasília e a 120 de Goiânia

COMO IR: De carro ou de ônibus, que saem diariamente das capitais federal e goiana

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: No Centro Histórico, é a mais alta edificação da cidade

VISITAÇÃO:Aberta diariamente, com entrada franca

DICA: Vale a pena esperar a noite para ver a igreja e o Centro Histórico iluminados por lampiões que demarcam a área tombada pelo Iphan

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Principal centro comercial do então Arraial de Santa Luzia do Rio das Velhas, a Rua Direita é hoje um dos grandes patrimônios da histórica Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte. Entre os belos exemplares de casario que compõem a rua, o Sobrado da Baronesa sur-ge com imponência. Erguido entre os séculos XVIII e XIX, o casarão conta a história de uma figura que ainda povoa o imaginário da população. Não se sabe ao cer-to quando a baiana, natural de Lençóis (na Chapada Diamantina), Maria Alexandrina de Almeida chegou à cidade mineira. Afilhada de dom Pedro II, ela se casou com o comendador Manuel Ribeiro Vianna, que recebeu

BarrocaImponência

SOLAR DA BARONESA • SANTA LUZIA/MG

o título de barão de Santa Luzia em 1841. Homem pode-roso, detentor do monopólio da venda do sal em várias regiões mineiras, ele ergueu o sobrado para a esposa.

A grandeza do casarão é expressa em seus 39 cô-modos. É difícil imaginar uma família pequena como a do barão, que só teve uma filha, vivendo em um imóvel dessa proporção. Mas, a casa raramente ficava vazia. Além do grande número de empregados, sempre rece-bia convidados para festas e saraus. Em 1825, registra-se a presença de dom Pedro I no solar. Mais tarde, em 1881, foi a vez de dom Pedro II. Ele até desenhou um pequeno trecho do Centro Histórico da cidade (uma

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reprodução está exposta no sobrado).A moradora Maria Luiza Tibúrcio, a Marilu, tra-

balha há 16 anos no setor de cultura da Prefeitura de Santa Luzia. Atual gerente do Museu Aurélio Dolabela, também na Rua Direita, é encantada com o Solar da Baronesa. É ela quem conduz os visitantes ao espaço mais bem conservado e belo da edificação, no segun-do pavimento. “Veja que maravilha essa cobertura”, aponta para os forros em esteira estilo azteca, presen-tes em três cômodos, e para os forros de gamela com detalhes em folha de ouro.

No mesmo pavimento, chamam a atenção a sin-geleza e o luxo de duas peças: um armário em madeira, encaixado em uma das paredes, e um oratório orna-mentado com belas pinturas. Depois que a baronesa ficou viúva do segundo marido, Quintiliano Rodrigues da Rocha Franco, e a saúde se encontrou debilitada, sua família a levou de volta à Bahia. Era o ano de 1881. “Contam que ela foi chorando e a população assistiu à partida balançando lenços brancos”, conta Marilu.

A popularidade é reflexo das obras sociais que a baronesa fez na cidade. Uma delas, a construção, em

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1840, da Santa Casa de Misericórdia, hoje Hospital de São João de Deus, que abriga uma capela no esti-lo barroco. O solar, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), foi restaurado em 2006. Hoje, é sede de um centro cultural, onde são ministradas aulas de teatro e música, orgulho da professora de música Tânia Rosália da Silva. “É como estar inserida na história da cidade, principalmente porque tocamos instrumentos erudi-tos, que têm tudo a ver com o sobrado.” Em breve, vai abrigar o Museu da Mulher, único do gênero no país.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Rua Direita, 408, Centro

VISITAÇÃO: De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h30. Sábado e domingo, das 9h às 13h

TELEFONE: (31) 3641-4791 (Secret. de Cultura e Turismo)

DICA: Para visitas orientadas, entre em contato com a Secretaria de Cultura do município

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DO OURO AO COMÉRCIO Desejos revolucionários, devoção, milagres e

muitas lendas. Todos esses elementos se reúnem em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Hori-zonte. Com a economia aquecida pela indústria e o comércio, a cidade cresceu, mas não renegou as tra-dições e mantém vivo seu rico passado de três séculos de história.

No Centro Histórico se ergueram as bases da cidade, que, no começo, teve suas primeiras constru-ções à beira do Rio das Velhas. Em 1695, uma enchente destruiu o arraial e o novo núcleo populacional se es-tabeleceu em pontos mais elevados. Hoje, Santa Luzia é dividida em parte alta, onde está o núcleo histórico, e parte baixa, que corresponde à área de ocupação mais tardia, caracterizada pelo forte comércio.

O comércio, inclusive, foi responsável pelo crescimento do município no início de sua ocupação, mais até do que a mineração. Com a escassez do ouro, o lugar virou ponto de parada de tropeiros e assumiu o papel de empório comercial. Assim como em todas as cidades históricas de Minas Gerais, a religiosidade tem força em Santa Luzia. A protetora dos olhos que dá nome ao município é também sua padroeira e a ela é atribuído um grande milagre. A tradição popular con-ta que uma imagem da santa teria sido encontrada por

pescadores no leito do Rio das Velhas. De Portugal, o sargento-mor Pacheco Ribeiro pediu a intercessão da santa para curar sua cegueira. Pedido atendido, o mili-tar se mudou para o povoado mineiro e lá ampliou uma antiga capela, datada de 1701, que se tornaria a Igreja Matriz de Santa Luzia.

Santa Luzia está a 29 quilômetros de Belo Horizonte e tem três acessos: pela BR-381, MG-020 e MG-433. A cidade fica a cerca de 11 quilômetros do Aeroporto Internacional Tancredo Neves

A cidade tem boa quantidade de hotéis, hotéis fazenda e pousadas

Há várias linhas regulares de ônibus coletivos para a cida-de. Informações no site www.der.mg.gov.br

INFORMAÇÕES: (31) 3641-4791

“É como estar inserida na história da cidade,

principalmente porque tocamos instrumentos eruditos, que têm

tudo a ver com o sobrado.”Tânia Rosália Silva

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para a PIANISTAPresente DE Luxo

PALACETE DE BOLONHA • BELÉM/PA

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Porta da Amazônia, Belém, capital do Pará, atiça os sentidos. O sol queima a pele, o suor jorra no ros-to, e os olhos se enchem com os vestígios do apogeu da Coroa e da borracha sob as mangueiras centenárias, algumas com mais de 20m, que projetam suas bendi-tas sombras nas ruas da Cidade Velha. Odores e sabo-res mil, das frutas, das ervas vendidas no Ver-o-Peso, a maior feira da América Latina, dos quitutes servidos nas barraquinhas, dos pratos típicos de uma das culi-nárias mais genuínas do Brasil. Cupuaçu, bacuri, pu-punha, açaí. Maniçoba, pato ao tucupi, tacacá, jambu. Cenários naturais, folclore e religiosidade. Qualquer caminho deságua em surpresa e encanto nessa cidade peninsular banhada pela Baía de Guajará.

Uma dessas surpresas, o Palacete Bolonha, na esquina da Avenida Governador José Malcher com a Travessa Dr. Moraes, é uma miscelânea de estilos – art noveau, neoclássico, gótico e barroco, rococó –, his-tória e conto de fadas. Uma prova de amor para uma sensível e requintada pianista carioca, o desejo de mu-dança de um homem com visão cosmopolita e rios de dinheiro brotando dos seringais. O presente do enge-nheiro Francisco Bolonha (1872-1938) à sua esposa, Alice Tem-Brink, inaugurado em 1907, ainda é des-lumbrante. “Não me canso de olhar tanto detalhe”, diz o guarda municipal Elton Dias, um dos encarregados da segurança do edifício .

E não é para menos. Em cada cômodo do palace-te, que serviu de residência ao casal Bolonha e sua filha

de criação, há detalhes que revelam preocupação com o luxo e o belo, símbolos da modernidade e da civiliza-ção que invadia a capital do Pará. Em plena belle épo-que, fazendeiros importavam hábitos europeus para a Amazônia, como o cultivo da língua francesa e a pre-sença do piano nas mansões e casas de classe média, graças às fortunas acumuladas no Ciclo da Borracha.

O estilo eclético do prédio reflete a bagagem tra-zida por um engenheiro que percorreu a Europa antes de concretizar sua obra. Barroco brasileiro na estrutu-ra. Rococó na cobertura à “La Mansard”, com telhas pintadas de forma a proporcionar jogo de cores a dis-tância. Influência gótica nas agulhas do teto, no porão, nas grades e revestimentos florais na entrada, nas sa-las de banquetes e de jantar e no teto dourado, executa-do na Europa com molduras de influência grega. Mais alta construção residencial da época em Belém, o pala-cete tem três andares, além do térreo, onde ficavam a cozinha e a área de serviço. O primeiro piso abrigava as salas de jantar, de banquetes e de visitas, onde a mais seleta sociedade belenense se reunia às quintas-feiras ao som do piano de Alice Tem-Brink.

A CAPITAL DOS SENTIDOS

Jogada no limbo com o fim do Ciclo da Borracha,

a capital paraense se reestrutura em torno de uma eco-nomia voltada para o extrativismo vegetal e mineral e a agropecuária. Metrópole da Amazônia, a maior cidade

“Não me canso de olhar tanto detalhe.”Elton Dias

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do mundo na zona equatorial vê seus 1,8 milhão de ha-bitantes dobrarem na tradicional festa do Círio de Na-zaré, no segundo domingo de outubro, a maior procis-são religiosa do Brasil. Mas busca também rumos para reforçar o turismo e modernizar sua estrutura.

“Belém dormiu por muito tempo no assunto tu-rismo e seu patrimônio ficou sem conservação adequa-da. Mas agora está se movimentando”, diz o secretário municipal do setor, Wadyr Salim Khayat. Como exem-plo, cita a restauração do Palácio Antônio Lemos, sede da prefeitura, e do Museu de Arte de Belém, “que vai colocar a cidade no cenário internacional de museus”.

Com o desafio de segurar no fim de semana o tu-rista de negócios que lota 95% da capacidade hotelei-ra até as quintas-feiras, o município investe também em roteiros gastronômicos e no ecoturismo. “O que a gente quer é ampliar o número de dias desse turista que já está em Belém para usufruir de nossas 39 ilhas, conhecer as referências do ecoturismo, poder visitar a parte cultural das igrejas e museus, a base científica do Museu Emílio Goeldi”, explica.

Nos novos caminhos do turismo em Belém, di-versão é certa na Estação das Docas, complexo gastro-nômico instalado em antigos galpões do porto, onde a cidade abre suas janelas para o rio. Entre um prato e outro, música ao vivo em palcos itinerantes suspensos. Desse cenário, entre exótico e pitoresco, abre-se o ca-minho das águas pela maior avenida fluvial de Belém, a Baía de Guajará. No passeio de barco, visão panorâ-mica da cidade, apresentação de danças folclóricas re-

gionais e shows musicais. Tradição e modernidade que se fundem no carimbó, no boi-bumbá, na guitarrada e no tecnobrega.

E não faltam opções para quem busca as belezas da floresta, que se descortinam até dentro da cidade. O Museu Paraense Emílio Goeldi, a mais antiga institui-ção de pesquisa da região, ou o Parque Ecológico Man-gal das Garças, às margens do Rio Guamá, convidam o viajante a se perder entre os exuberantes exemplares da fauna e flora da amazônia. No caminho da história, além do Palacete Bolonha há o colonial Forte do Presé-pio, primeira edificação da cidade, fundada em 12 de janeiro de 1616 por Francisco Caldeira Castelo Branco. De lá irradiam quase 400 anos de história em diversos estilos arquitetônicos.

COMO IR À CIDADE: Belém tem acessos rodoviário, aéreo ou fluvial e marítimo

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Na esquina da Avenida José Malcher com a Travessa Dr. Moraes, a dois quartei-rões da Praça da República, onde há ponto de várias linhas de ônibus

VISITAÇÃO: De terça a sexta-feira, das 9h às 12h, e das 14h às 17h

DICA: A presença do guia é essencial para que se compre-enda a história do palacete e os estilos arquitetônicos que o compõem

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Por trás das paredes dos imponentes prédios da Praça da Estação, cravada no Centro de Belo Horizonte, estão guardados inigualáveis tesouros. E para desven-dá-los é preciso aceitar o convite para uma verdadeira viagem de volta a três séculos de muita história. A por-ta de embarque é o Museu de Artes e Ofícios (MAO), espaço único que encanta os belo-horizontinos e “pas-sageiros” dos mais diversos estados.

Fundado em 2006, o Museu de Artes e Ofícios, iniciativa do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, abri-ga um rico acervo de mais de 2 mil peças, que levam o visitante ao mundo dos fazeres e ofícios da era pré-industrial. Uma expedição que percorre dois prédios históricos e os jardins das antigas Estação Central de Belo Horizonte e Estação Oeste de Minas. Algumas

memoriaPortal DA

MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS • BELO HORIZONTE/MG

partes da área de embarque, que hoje atende passa-geiros do metrô da capital, também são usadas para expor as peças.

Todo o acervo faz parte de uma coleção parti-cular que a empreendedora cultural Angela Gutierrez construiu ao longo de três décadas e que foi doado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para ela, as peças despertam emoção e dia-logam com os visitantes. “Sempre vem alguém que se recorda de como eram usadas as ferramentas e que traz a lembrança daquela peça em algum momento de sua vida. É um museu que valoriza as pessoas.”

Mesmo quem é jovem e está acostumado às faci-lidades do século XXI se encanta com o acervo. É o caso do estudante Lucas Pimentel, de 13 anos, que, pela pri-

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meira vez, visitou o museu. “Sempre passei por aqui, mas não sabia o que era. Vou lembrar para sempre. A peça que achei mais legal foi um tear.” Seus colegas de sala Richard dos Santos, de 12, e Leonardo de Paula Silva, de 13, também se divertiram. “Achei muito in-teressante a forma como o pessoal transportava água”, diz Lucas. “Há muita coisa legal aqui. A máquina de cortar cabelo, o compasso e o carro de boi foram os que mais gostei”, completa Richard.

Os jovens visitaram o acervo por meio do pro-grama de visitação mantido pelo setor educativo do museu. Marcadas com um mês de antecedência, as vi-sitas são acompanhadas por monitores que trabalham no MAO. Por se tratar de um espaço que dialoga com várias áreas do conhecimento, o museu recebe um pú-blico bem diverso.

TECNOLOGIA EXIBE VELHOS AFAZERES Professora do curso de Arquitetura e Urbanis-

mo do Instituto Izabela Hendrix, em Belo Horizonte, Luciana Rocha considera o museu um espaço rico para a aprendizagem. “Todo semestre trago meus alunos aqui. A gente discute a preservação do patrimônio, a urbanização da cidade, os estilos arquitetônicos do prédio e o acervo.”

Organizado em grupos de fazeres, o acervo do Museu de Artes e Ofícios guarda raridades. A princi-pal é uma balança de pesar escravos, adquirida em um ferro-velho, na Bahia. Para Angela Gutierrez, a peça é o ponto de partida da coleção: “Começamos com a es-cravidão e terminamos com a carteira de trabalho. É a trajetória dos trabalhadores deste país”.

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Para chamar a atenção principalmente das crianças e jovens, o museu aliou tecnologia e conheci-mento. Espalhadas pelo espaço estão 13 ilhas multimí-dias, que exibem vídeos com cenas dos ofícios mostra-dos na coleção. Na ala onde estão as peças relacionadas aos alimentos, por exemplo, o vídeo mostra a produção da farinha de mandioca, desde o plantio à finalização do produto.

Para a criação do museu, os prédios da Estação Central, até então abandonados, foram restaurados. As obras aceleraram o processo de revitalização da Praça da Estação, que deixou o coração da cidade de cara nova. O conjunto arquitetônico da praça abrange a Serraria Souza Pinto, construção de 1912, que hoje abriga diversos eventos da capital, e o tradicional Via-duto de Santa Teresa, erguido em 1929 para atender os tradicionais bairros da Região Leste, como Santa Teresa e Floresta. A região vem se fortalecendo como um importante polo cultural da cidade, adotado de vez pelos belo-horizontinos.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Pça. Rui Barbosa, s/nº, Centro

TELEFONE: (31) 3248-8600

VISITAÇÃO: Terça, quinta e sexta-feira, das 12h às 19h. Quarta-feira, das 12h às 21h. Sábado, domingo e feriado, das 11h às 17h

ENTRADA: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia). Estudantes de es-cola pública não pagam

DICA: Reserve muito tempo para percorrer toda a coleção

“Há muita coisa legal aqui. A máquina de cortar cabelo, o

compasso e o carro de boi foram os que eu mais gostei.”

Richard dos Santos

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A partida é na Estação da Luz, na capital São Paulo, onde se concentra o maior número de falantes do português no mundo. O destino, as raízes da lín-gua, seus falares, fragmentos de sua literatura. Como nas ruas da cidade onde vivem brasileiros de todas as origens, no Museu da Língua Portuguesa nada é estan-que. O acervo que o visitante traz consigo interage com o patrimônio vivo e dinâmico da linguagem.

O próprio prédio que abriga o museu ajuda a contar a história do idioma. “A escolha foi estratégica. A estação é ponto de confluência da língua”, diz a edu-cadora Lilian da Costa Grandizoli, integrante da equi-

conhecimentoEstações DO

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA • SÃO PAULO/SP

pe de 20 “maquinistas” que conduz os visitantes. Na estação ferroviária em estilo vitoriano, aberta ao públi-co em 1901, desembarcaram as personalidades ilustres que tinham a capital paulista como destino.

Não há começo nem fim obrigatório na viagem pela língua nos três andares da Estação da Luz. O pri-meiro é o das exposições temporárias. É dedicado, principalmente, à apresentação de obras literárias e a autores que são referência do idioma. Lá já foram homenageados Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Gilberto Freyre e outros. No elevador de acesso aos próximos “vagões”, o mantra palavra-língua envolve

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o visitante. Os dois termos são repetidos nos vários idiomas que influenciaram a formação do português, na composição musical de Arnaldo Antunes.

O mantra se materializa na “Árvore da palavra”, grande escultura de 16m de altura, em ferro, que nasce no térreo e se alonga até o último andar. Concebido por Antonio Risério, antropólogo e poeta responsável pela definição de todo o conteúdo exposto no museu, o mo-numento foi criado pelo artista Rafic Farah e expressa “o desenvolvimento da palavra como um organismo vivo em constante mudança”.

No próximo vagão, no segundo andar, está a Grande Galeria, uma parede de 106m com três es-tações. Em cada uma é exibido um videoclipe de seis minutos cada sobre cotidiano, natureza e cultura, culi-nária, carnaval, danças, festas, futebol, músicas, raiz lusa, relações humanas e religiões. “São 11 contextos, que compõem o pano de fundo da língua falada”, ex-plica Lilian Grandizoli. Na parede oposta, o percurso é cronológico. A Linha do Tempo conta a história da ori-gem da linguagem humana até o surgimento do por-tuguês europeu e suas transformações no Brasil. No fim do caminho, o Mapa dos Falares, um mergulho na variedade de modos de falar do nosso país.

No centro do segundo andar está o espaço cha-mado de Palavras Cruzadas. São oito totens touch screen por meio dos quais se descobrem informações sobre nossa língua e seu cruzamento com os idiomas que a influenciaram. Mais um totem mostra a distri-buição do português no mundo e a maneira como é fa-lado. A viagem no segundo andar termina no Beco das Palavras, espaço lúdico sobre a etimologia. A origem das palavras da língua portuguesa vira brincadeira de crianças e adultos, como as cearenses Georgia e Tereza Lima Canoas, que se divertiam em torno da mesa de jogos em sua primeira visita ao museu. “Aqui, a apren-dizagem é diferente. Mais leve. Dá para descobrir mui-to sobre a língua e se divertir”, diz Tereza.

Mas é no terceiro andar vagão que o português se mostra em sua plenitude. No espaço, em que se em-barca com hora marcada, um vídeo de cerca de 10 mi-nutos sobre as origens dos idiomas precede a chegada ao cume da viagem no museu: a Praça da Língua, um “planetário” literário, com curadoria de José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski, em que fragmentos po-éticos são apresentados em meio a projeções de ima-gens no teto e nas paredes. Uma experiência estética de tirar o fôlego.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Estação da Luz, na Praça da Luz, 1 – Luz- São Paulo

COMO CHEGAR: De carro ou metrô, pela Linha 1- Azul, basta descer na Estação Luz

VISITAÇÃO: De terça-feira a domingo, das 10h às 17h

@ DIRETO DO BLOG: “A Luz foi o portal de muitos que adentraram pela vasta São Paulo. Hoje, é provável que sua beleza esteja encoberta aos olhos de muitos que se omitem em explorar calmamente o que a faz ser assim, tão valiosa. Próximo desta, o Museu da Língua Portuguesa, por si só, é fonte de imensa preciosidade, simbolizando aquilo que nos permite expressar sortidas vontades: o nosso idioma. Con-tudo, diante de um monumento que representa a existên-cia de cerca de 600 mil palavras, estas nos faltam, perante tanta riqueza. Por isso, desejo poder conhecer o museu, e passar pela mencionada experiência, fascinante!”

Raísa Souto

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QUANTO CUSTA: R$ 6 inteira; R$ 3 estudantes; Gratuito para menores de 10 e maiores de 60 anos

DICA: Fique de olho nos horários de acesso às imperdíveis exibições do terceiro andar, previamente marcadas. A en-trada exige um tíquete específico

FRENÉTICA METRÓPOLE

São Paulo nunca fica para trás. Maior cidade do

Brasil e de todo o hemisfério Sul, está no topo finan-ceiro, corporativo e mercantil da América Latina. No seu ritmo frenético, é também a capital da cultura, do entretenimento e da gastronomia da região. Inquieta e vanguardista, conseguiu inovar até no que já era una-nimidade nacional, o futebol, ao abrir o único museu no mundo voltado para o esporte sem ter ligação com nenhum clube específico.

O acervo multimídia, o aspecto futurista das ins-talações, as referências aos grandes fatos da história brasileira do século XX fazem do Museu do Futebol um

excelente ponto de partida para um passeio por essa metrópole, mesmo para os menos fanáticos pela mo-dalidade. Na área de 6,9 mil metros quadrados, em-baixo das arquibancadas do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, emoção, história e diversão esperam pelo visitante.

Mais uma prova que de museu São Paulo en-tende. Como se não bastassem referências como o imperdível Museu de Artes de São Paulo Assis Cha-teaubriand (Masp). O prédio, projetado por Lina Bo Bardi, na Avenida Paulista, o principal símbolo da cidade, guarda um acervo de cerca de 8 mil peças, a mais abrangente e importante coleção de arte oci-dental da América Latina.

Se a fome for por arte contemporânea brasilei-ra, a indicação é o Museu de Arte Moderna (MAM), uma das atrações do Parque do Ibirapuera. Projeta-do pelo arquiteto Oscar Niemeyer em parceria com o paisagista Roberto Burle Marx, o parque oferece ainda áreas para atividades físicas, além dos eventos no Pavilhão da Bienal, na Oca e no Pavilhão Japonês.

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Da religiosidade de Minas Gerais brotaram as riquezas arquitetônicas das cidades históricas, mas também nasceram outras joias, guardadas como a ma-nifestação mais íntima da fé. São os oratórios, peças que, em Ouro Preto, ganharam um museu que é refe-rência mundial. Visitar o Museu do Oratório na anti-ga Vila Rica é adentrar os costumes e à cultura de uma época. São mais de 400 peças, entre oratórios e ima-gens, a maioria dos séculos XVIII e XIX. Um acervo de raridades doado pela empreendedora cultural Ângela Gutierrez ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artís-tico Nacional (Iphan).

Os objetos ocupam os três pavimentos de um ca-sarão do século XVIII, que integra o conjunto arquite-tônico da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, projetada por Manoel Francisco Lisboa, pai de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e ornamentada pelo escultor e pintor Manoel da Costa Ataíde. No subsolo, primeira

simbolosDevoção

MUSEU DO ORATÓRIO • OURO PRETO/MG

DA

etapa da visita, estão os oratórios de viagem, que são atribuídos a tropeiros e padres viajantes.

Outra peça da ala, conhecida como esmolar, chama a atenção do visitante Éder Sebastião Santos, de São João del-Rei. “Era um oratório para se pendu-rar no pescoço e pedir esmola.” No térreo, o oratório é apresentado como acessório imprescindível nas anti-gas residências. “Era usado para rezar ou para celebrar batizados e casamentos”, diz a diretora administrativa do museu, a arquiteta Deise Lustosa. Nessa seção está a preciosidade antiga do acervo: uma imagem em ma-deira de São Tiago de Compostela, do século XVI.

No pavimento superior, o luxo é evidenciado em detalhes, pinturas e ornamentação. Acredita-se que artistas consagrados, como Aleijadinho e Mestre Ataí-de, produziram algumas das peças da coleção. “Não se usavam assinaturas na época, mas quando comparamos os oratórios com obras desses artistas, achamos seme-

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@ DIRETO DO BLOG: “Se existe um caminho direto para o céu, Minas está na trilha, com seus encantos naturais, com seu jeitinho de vida simples e regado a muita fé. O Museu do Oratório é um louvor à cultura e à beleza da arte mineira, com trabalhos feitos por mãos de Minas, com os mais variados recursos doados por nosso Criador. É uma homenagem dos filhos desta terra abençoada, cercada por montanhas, que exala o perfume da fé, que expõe sua história em cada pedra, em cada janela, em cada oratório. Ficamos mais pertos de Deus.”

Angela Rocha

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lhanças”, conta Deise. Paulo Marcelo Gomes, de São João del-Rei, é admirador declarado do museu. Para ele, o acervo desperta a nostalgia da infância. “Antiga-mente, todas as fazendas tinham oratório. E na minha família também era assim. A gente fica lembrando…”

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: No adro da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, 28, Centro

TELEFONE: (31) 3551-5369

VISITAÇÃO: Diariamente, das 9h30 às 17h30

ENTRADA: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia)

DICA: Durante a visita, peça o acompanhamento de um funcionário para dar explicações sobre as peças. Visitas em grupo devem ser agendadas

SEGREDOS DE VILA RICA

Com a mesma saga com que os bandeirantes sa-

íram pelas Gerais à procura de ouro, turistas de todo o mundo aterrissam em Ouro Preto, na Região Central de Minas, a 95 quilômetros de Belo Horizonte, em bus-ca de preciosidades históricas. No sobe e desce ladeira, o barroco mostra sua beleza e seus segredos, desco-bertos em cada detalhe arquitetônico no casario e nas igrejas do século XVIII.

Nessa viagem pelo passado, curiosidade e dispo-sição são características que não podem faltar ao aven-tureiro. Afinal, são 11 igrejas, seis capelas e nove mu-seus, além de casarões, chafarizes e outros exemplares que saltam aos olhos. As pinturas de Mestre Ataíde, as obras de Aleijadinho, os altares ricos em ouro, as ima-gens cuidadosamente esculpidas na madeira e peças

raras expostas nos museus são só parte de uma histó-ria que começou em 1698, com a bandeira de Antônio Dias. Do alto da cidade, o desbravador escreveu os pri-meiros capítulos dessa história, que hoje se desenrola nas mãos de novos atores.

Em Ouro Preto, até não fazer nada é um progra-ma e tanto. Nada mais agradável que apreciar a cidade assentado na Praça Tiradentes, onde a cabeça do in-confidente ficou exposta depois de enforcado no Rio de Janeiro. Em uma ponta da praça está o imponente Museu da Inconfidência, que guarda em seu acervo os restos mortais de alguns dos inconfidentes.

Do outro lado está o Museu de Minas, antigo Pa-lácio dos Governadores, erguido no século XVIII. Hoje, é sede de vários museus da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), entre eles o de Mineralogia, com uma coleção de mais de 20 mil exemplares, uma das maiores do mundo, e o Astronômico, detentor de um observatório de 1911. Ao cair do dia, o momento é de pausar a maratona e se entregar aos prazeres da mesa. A cidade oferece charmosos bares, cafés e restauran-tes, a maioria ambientada em casarões antigos. No cardápio, a comida mineira é a estrela principal.

Ouro Preto fica a 95 quilômetros de BH. O principal acesso é pela BR-040

A empresa que faz o trajeto de ônibus é a Pássaro Verde. Telefone: (31) 3073-7575

Há hotéis e restaurantes com diversos preços

Para guias de turismo, entre em contato com a Associação de Guias de Turismo de Ouro Preto: (31) 3551-2655

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de doisCenárioTEMPOS

PAÇO ALFÂNDEGA • RECIFE/PE

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Passado e presente marcaram encontro no Reci-fe, em cenário digno do apelido de Veneza Brasileira da capital pernambucana. Lado a lado, conversam amiga-velmente no Paço Alfândega, moderno centro de com-pras, lazer, cultura e gastronomia, instalado em antigo edifício histórico no bairro que leva o nome e marcou o surgimento da cidade no século XVI. O antigo e o moderno se unem e se descolam nesse espaço, num jogo de tempos, retrato da memória urbana recifense e ponte para o futuro.

Memória urbana em que o comércio teve posição fundamental nesta cidade portuária marcada pelo es-coamento do açúcar produzido nos engenhos do Brasil colônia, pelas pontes e diques do governo holandês, do conde Maurício de Nassau, pelos barulhentos masca-tes portugueses, por franceses e judeus que até viraram apelido de rua e formam uma base multicultural. Ponte para o futuro numa Recife que investe em tecnologia e já transformou o Suape no terceiro maior porto digital do país. Abriga polos farmoquímico e petroquímico, se reinventa e se mantém como ponto de troca de cultura e porta aberta para o turismo.

Às margens do Rio Capibaribe, no coração da ilha em que está o Centro Histórico da capital per-nambucana, o edifício que foi sede da alfândega antes da transferência do porto para a beira-mar estava em ruínas até ser resgatado para a criação do complexo. “A maior parte das paredes internas não existia mais, nem a cobertura”, conta Cristiane Pontual, arquiteta do Paço Alfândega.

O renascimento do prédio veio com projeto de restauro assinado pelo arquiteto Antônio Pontual. A intenção, explica Cristiane, “foi expor e não esconder as interferências na criação dos espaços destinados às lojas”, inseridos na estrutura de paredões de tijolos feitos com óleo de baleia. O resultado é um contraste de tempos. Visto por fora, o paço é uma bem conser-vada edificação histórica, em nada revelando que, em seu interior, comércio e serviços fluem no ritmo do século XXI.

Materiais e arquitetura contemporâneos fazem contraponto ao estilo eclético, predominantemen-te neoclássico, da construção. No centro de compras Paço Alfândega, a primeira e única unidade da Livraria Cultura no Nordeste, a Faculdade Boa Vista, o espaço de festas Arcádia e um estacionamento para 2.600 ve-ículos revigoram e reintegram o edifício ao patrimônio histórico tombado do bairro.

O complexo renova o fio da história de uma construção usada para os mais diversos fins. Ergui-

do em 1732, o edifício abrigou, durante quase 100 anos, o Convento dos Oratorianos, antes de virar sede da alfândega, em 1826. Após a mudança do porto para a beira-mar, foi doado à Santa Casa de Misericórdia, virou cooperativa e armazém de açú-car e acabou transformado em estacionamento. Re-vigorado, hoje é parte do roteiro cultural do Recife e parada obrigatória no encontro com a história que a cidade proporciona.

FRENÉTICO RITMO PERNAMBUCANO

Da grande mandala que cobre o piso do Marco

Zero, a Rosa dos Ventos, de Cícero Dias, qualquer di-reção vale a pena no Recife. São 360 graus de belezas nas antigas edificações, nas pontes, no rio, no mar, no Parque das Esculturas. A cidade é um museu a céu

“A intenção foi expor e não

esconder as interferências

na criação dos espaços

destinados às lojas.”

Cristiane Pontual

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aberto, com todo o glamour de uma metrópole e a des-contração dos banhos nas piscinas naturais de praias como a da Boa Viagem, da cerveja nos mercados e do frevo, maracatu ou manguebeat que embalam o dia e a noite recifenses.

Entre o Rio Capibaribe e o mar, o Bairro do Re-cife, com seu casario dos séculos XVII e XVIII, merece um passeio vagaroso. A saída pode ser o próprio Marco Zero. Principal polo de animação do carnaval multicul-tural da cidade, a praça, batizada Barão do Rio Branco, ganhou o apelido por indicar, desde 1938, o quilômetro zero das rodovias de Pernambuco. Com visão panorâ-mica da região, é bom observatório para o Parque das Esculturas, que, desde 2000, abriga 90 obras de Fran-cisco Brennand.

A próxima parada é a Rua do Bom Jesus ou dos Judeus. Nela se encontra a Primeira Sinagoga das Américas, hoje Centro Cultural Judaico de Pernambu-co. Entre a Avenida Alfredo Lisboa e a Rua Barão Ro-drigues Mendes, a atração é o conjunto de estruturas e achados arqueológicos formado por um trecho da mu-

ralha de pedra do século XVII, período da dominação holandesa, parte das bases do Arco do Bom Jesus e do dique de contenção do mar, construído no século XIX. Dali, vale passar pela Torre Malakoff, a Praça do Ar-senal, o Teatro Apolo e a Igreja da Madre de Deus, de 1679, bem ao lado do Paço Alfândega.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Rua da Alfândega, 35, Bairro do Recife

VISITAÇÃO: De segunda-feira a sábado, das 10h às 22h; domingos, das 12h às 20h

COMO CHEGAR: De carro ou de ônibus, que param às margens do Rio Capibaribe. Para quem já está a passeio no Bairro do Recife, o melhor é ir a pé, aproveitando para desfrutar da bela arquitetura local

DICA: Todo primeiro domingo do mês, o Paço Alfândega re-aliza a Feira de Antiguidades Precioso Mascate, um motivo a mais para visitar o centro de compras

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Já diz o ditado popular: a fé move montanhas. Manhumirim, no Leste de Minas Gerais, a 311 quilôme-tros de Belo Horizonte, se orgulha de sua religiosidade, que tem origem, principalmente, no Seminário Apos-tólico Nossa Senhora do Sacramento, uma das obras de um famoso padre belga, que deixou forte marca por aquelas terras. O ano era 1928, quando o padre Júlio Maria de Lombaerde chegou à cidade e criou a Congre-gação dos Sacramentinos, uma ação que surgiu como resposta ao avanço da religião presbiteriana na região. “Em Alto Jequitibá, cidade vizinha, acabavam de criar um colégio presbiteriano. A gente percebe em seus es-critos um certo ataque àquela religião”, observa o reli-gioso Denilson Mariano, que vive no seminário.

É lá que estão guardadas histórias e lembranças do padre, que, com a ajuda de políticos e produtores de café, ergueu a imponente construção. As obras foram iniciadas em 1931 e concluídas cinco anos mais tarde. Além do seminário para formar padres da congrega-ção, funcionava no lugar o Colégio Interno Pio XI.

Em 2004, o seminário iniciou a primeira etapa de sua reforma, já finalizada. Uma das salas recebeu todo um aparato para abrigar o Museu Padre Júlio Maria, que conta a trajetória do missionário desde o nascimento, em 1878, à sua morte, em 1944. “Era véspera de Natal e ele foi celebrar uma missa na cidade de Vargem Grande e sofreu um acidente de carro”, conta Mariano.

Os objetos que o padre carregava naquele dia, como uma maleta, óculos e a Bíblia, estão guardados no museu. Até mesmo uma pequena porção de terra com vestígios de sangue, colhida no dia do acidente, está em exposição. Chamam a atenção também objetos de uso pessoal guardados em outra ala do memorial.

O memorial resgata as 80 obras escritas por Júlio Maria, publicadas pela tradicional editora O Lutador, que surgiu a partir da fundação, pelo padre, do jornal de mesmo nome, que circula há mais de 80 anos. Aos 18 anos, o seminarista Felipe Cunha de Azevedo é leitor assíduo das obras de Júlio Maria. “O que me motivou a vir para cá foi o que li a respeito dele e os livros.”

Dividida em três pavimentos, a imponente cons-trução modernizou sua estrutura sem agredir o estilo original. Como fonte de renda, há no seminário uma pequena fábrica de velas artesanais. O conjunto arqui-tetônico se completa com a Igreja Matriz de Bom Jesus, a primeira da América Latina a ser construída em con-creto armado, sem um tijolo sequer. A obra, de 1928, guarda a ossada do padre Júlio, que também tem seu rosto pintado no vitral da entrada da igreja.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Rua Nunes da Rosa, 134, Centro

VISITAÇÃO: Terça, quinta e sexta-feira, das 13h às 15h

TELEFONE: (33) 3341-1900

ABENÇOADA TERRA DE ANTIGOS CAFEZAIS

Do café se escreve a história de Manhumirim,

que tem nesta atividade agrícola a grande mola de sua economia. Mas, aos poucos, a cidade do Leste mineiro, bem próxima à divisa com o Espírito Santo, começou a mirar os olhos no turismo. Como cartão de visitas,

MONTANHASO ofício DAS

SEMINÁRIO APOSTÓLICO NOSSA SENHORA DOSANTÍSSIMO SACRAMENTO • MANHUMIRIM/MG

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apresenta seu rico legado de fé e uma natureza exuberan-te. Emancipada da vizinha Manhuaçu, em 1925, ganhou as primeiras edificações no fim do século XIX, quando ainda se chamava Pirapetinga. Depois, com a criação da estrada São Pedro de Alcântara, que ligava Minas Gerais ao estado capi-xaba, surgiram as bases do novo povoado.

O antigo caminho, que ganhou o nome de Rota Impe-rial, foi mapeado para atrair turistas às 31 cidades pelas quais ele passa. A estrada de 575 quilômetros foi criada em 1816, por determinação de dom João VI, para ligar Vitória, a ca-pital capixaba, à mineira Ouro Preto. Manhumirim, também nessa rota da histórica, quer pegar carona nessa empreitada e começa a organizar a casa para receber visitantes.

Um exemplo são as melhorias no Parque Municipal do Sagui da Serra, área de preservação, a sete quilômetros da cidade, na cabeceira do Córrego Caatinga. Aberto em 2000, oferece seis quilômetros de trilhas através de rica vegetação de mata atlântica. Há área de camping, alojamentos e condi-ções ideais para a prática de esportes, como rapel e trekking.

Parte dos eventos religiosos do município gira em tor-no da devoção de seu povo, sendo o ponto alto o Jubileu do Bom Jesus. Realizada desde 1917, em setembro, a manifes-tação atrai fiéis de todas as partes. “Na última festa, tivemos

uma procissão com mais de 5 mil pessoas”, conta Ale-xandre Jesus do Nascimento, funcionário da Secretaria de Esportes, Lazer e Turismo do município.

Manhumirim está a 311 quilômetros de Belo Horizonte. O acesso é pela BR-262

Há linhas regulares de ônibus para o município, pela em-presa Pássaro Verde. Telefone: (31) 3073-7575

INFORMAÇÕES: (33) 3341-1806

@ DIRETO DO BLOG: “Minas sempre surpreende! Quantos estilos, quantas cores, quantos sabores, quantas festas, quanta música, quanta poesia! Em cada canto, um encan-to. Parece que, por onde você passa, você descobre uma nova Minas, um jeito diferente ao olhar, mas o mesmo jeito mineiro de ser! Além do Seminário Apostólico, vale a pena esticar um pouquinho a viagem e chegar ao Parque Nacio-nal do Caparaó, ali do ladinho, para conhecer o terceiro maior pico do país, o Pico da Bandeira.”

Sueli Santos

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caminhosDEContrastes

PORTAL DA MISERICÓRDIA • SALVADOR/BA

Quatro séculos se cruzam na Rua da Misericór-dia, 6, em Salvador. No prédio construído em 1617, mais de 3 mil peças narram a vida da Santa Casa de Misericórdia na capital baiana. E vão além. Revelam costumes e contrastes do cotidiano dos séculos XVII ao XX, num acervo que se funde e confunde com a própria história da Bahia. No endereço, que abrigou o hospital da instituição de 1549 a 1893, está instalado,

há pouco mais de três anos, o Museu da Misericórdia. No edifício, de 5,1 mil quadrados, o visitante salta de um mundo a outro na linha do tempo. “As vozes da história são ouvidas por meio da arquitetura, mo-biliário, pinacoteca e peças sacras que compõem o acervo”, ensina a museóloga Jane Palma, que dirige o espaço com jeito de quem capricha no cuidado com a própria casa.

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O movimento dos séculos se mostra já no Salão Nobre, nos bancos grandes, pesados e desprovidos de ornamentos do século XVII dispostos no claustro. O correr dos tempos também é flagrado nos estilos ar-tísticos e arquitetônicos. No que Jane Palma chama de “horror ao branco”, do barroco no altar dourado do Definitório, em oposição ao rococó do altar-mor da Igreja da Misericórdia, onde cada parte é bem demar-cada. Ou no contraste entre a sóbria estrutura original do prédio, com paredes de pedra sobre pedra de mais de dois metros de largura, e o embelezamento a que foi submetida a partir do século XVIII.

É do século do culto à beleza a loggia (elemento arquitetônico, como uma galeria ou pórtico) que liga o primeiro ao segundo piso. Nesse espaço, de concepção italiana, tudo é puro deleite. A única loggia registra-da na América Latina, construída entre 1702 e 1706, é feita em mármore: o português lioz na estrutura e or-

namentos florais compostos por pedras italianas e es-panholas. Da varanda se abre uma vista para o século XIX. Em uma das paredes, pintura de Santa Bárbara. “Por conta dessa loggia, todo o prédio foi tombado como Patrimônio da Humanidade, em 1938, o que só iria ocorrer no Centro Histórico de Salvador 46 anos mais tarde, em 1984”, orgulha-se a museóloga.

Os objetos que falam das mudanças de estilos contam também a história da atuação da Santa Casa de Misericórdia, instituição que chegou a Salvador em 1549, mesmo ano da fundação da capital baiana por Thomé de Souza. Espelhada em modelo português, seu papel era o de poder social para atender pessoas caren-tes, nativas ou portugueses, que chegavam adoentadas no período colonial. “Em ruínas, as primeiras insta-lações do hospital, construídas em taipa, esperam por restauração”, conta Jane Palma.

“As vozes da história são ouvidas por

meio da arquitetura, mobiliário,

pinacoteca e peças sacras que compõem

o acervo.”Jane Palma

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Na história da Santa Casa não faltam dores, ge-midos e choros. No período entre a construção do novo e a desativação do velho hospital, a enfermaria das mulheres foi transferida para um abafado porão sob a nova sacristia. “Sempre que o padre tinha reuniões, as enfermas ficavam fechadas, com o ar entrando apenas por duas pequenas janelas”, narra a museóloga. Mais tarde, o local foi transformado em cemitério.

Na Ala Sul, a da nova enfermaria feminina, está a reprodução da roda dos acolhidos construída em 1734, por onde recém-nascidos indesejados eram entregues anonimamente à instituição. Lá ficavam até o casa-mento – as mulheres eram oferecidas em anúncios na imprensa – ou o até o momento de buscar um ofício. O Registro dos Acolhidos, livro original da roda, também está em exposição. História social que continua. Hoje, a Santa Casa tem seis creches no bairro mais populoso de Salvador, o da Paz, cuidando integralmente de 600 crianças, lembra Jane Palma.

A mesma Ala Sul é túnel do tempo para a histó-ria da medicina praticada até o século XIX. Aos ins-trumentos usados pelos médicos se junta o livro de registro de pacientes, as doenças, tratamentos, cura ou morte. A ala guarda ainda a farmácia original, com peças dos séculos XVIII e XIX. Mas não só doença e so-frimento passaram pelos caminhos da Misericórdia. Na Sala do Provedor está a escrivaninha e o original da carta de demissão de Rui Barbosa, funcionário da instituição de 1870 a 1877. E o Definitório, suntuoso salão em que o provedor e mesários decidiam o futuro da Santa Casa.

Foi lá que dom Pedro II assinou a ata de sua vi-sita à Bahia, em 1859. Foi também sob o teto do século XVII, de quatro toneladas, com pinturas de seis vir-

tudes (concórdia, caridade, fidelidade, razão, honra e liberdade), que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o acordo de unificação ortográfica do portu-guês, em 2008, na IX Cimeira Brasil-Portugal.

Mesmo depois de enriquecedora visita ao Museu da Misericórdia, ninguém pode dizer que conheceu Salvador se não pisar as ladeiras do Pelourinho, entrar numa igreja ou deixar de provar pelo menos um aca-rajé. Tudo isso, é claro, antes ou depois de se espraiar nas areias ou de uma boa caminhada, seja no Farol da Barra, em Ondina, ou em Itapoã. Nas ruas estreitas da região, que carrega o nome do local destinado ao cas-tigo dos escravos no período colonial, passeia a alma da capital baiana. Ladeadas por seculares sobrados coloridos, as ruazinhas cobertas por paralelepípedos do Pelourinho, base da fundação da cidade-fortaleza, atravessaram momentos de glória e de degradação. Recuperadas, hoje são um fervilhante centro cultural.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Rua da Misericórdia, 6, Centro Histórico de Salvador, em frente à prefeitura

COMO CHEGAR: De ônibus, nas linhas que cobrem o Cen-tro Histórico. O acesso para quem vai de carro é por trás do museu, pela Rua do Saldanha

VISITAÇÃO: De segunda-feira a sábado, das 10h às 17h; domingos e feriados, das 13h às 17h

QUANTO CUSTA: R$ 6 inteira e R$ 3 para estudantes; maiores de 65 anos e crianças de até 7 anos não pagam

DICA: Visitas guiadas podem ser feitas com marcação de horário pelos telefones (71) 3322-7355/3321

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trilhasDAHistória

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bispadoMilagrosoPALÁCIO DOS BISPOS • MARIANA/MG

Entre as particularidades que fazem de Mariana, na Região Central de Minas, uma cidade especial está o fato de ela ter sido a sede do primeiro bispado das Ge-rais. Antes vinculada à Arquidiocese do Rio de Janeiro, a Igreja católica mineira encontrou sua liberdade com a chegada de frei Manuel da Cruz, em 1748. Toda essa história pode ser conferida no antigo Palácio dos Bis-pos, também conhecido como Chácara da Olaria, casa-rão do século XVIII, que hoje guarda a rica memória da arquidiocese marianense.

Até a década de 1950, a casa abrigou oito bispos. E, seguindo tendências arquitetônicas da época, cada um fez modificações na construção. Para resgatar o es-tilo original, o imóvel passa, desde 2004, por restau-ração. O objetivo é equipar o antigo Palácio dos Bispos para receber uma série de atividades culturais do Cen-

tro Cultural Arquidiocesano Dom Frei Manuel da Cruz, nome atual do espaço.

Atualmente, lá estão instalados o Museu da Mú-sica e o Memorial dos Bispos, que conta um pouco da história desses homens, que tiveram papel importante em vários aspectos da cidade. Quem conduz a visita é o padre Enzo dos Santos, diretor do Centro Cultural e conhecedor de cada capítulo da trajetória dos bispos. E elege aqueles que se destacaram. A começar pelo por-tuguês dom frei Manuel da Cruz (1690-1764). Outros citados são dom Antônio Ferreira Viçoso (1787-1875), indicado por ele como o organizador da igreja, e dom Silvério Gomes Pimenta (1840-1922).

Dom Viçoso tem espaço especial na galeria, pois passa por processo de beatificação. Entre os milagres atribuídos a ele está a cura do bispo dom Luciano Men-

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bispadodes de Almeida (1930-2006), que esteve entre a vida e a morte depois de sofrer um grave acidente de carro, em 1990, na estrada que liga BH a Mariana.

O acidente deixou sérias sequelas em dom Lu-ciano, que, na ocasião, era presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Foram várias cirurgias e ele, então, invocou a graça de dom Viçoso. Viveu mais 16 anos e morreu como arcebispo da Ar-quidiocese de Mariana. Filósofo, deixou várias obras, que, para o padre Enzo, não cabem em uma sala. “Dom Luciano foi um homem do mundo, sua produção é de grande importância.”

No Memorial dos Bispos, parte do mobiliário original do século XVII foi mantido. Entre as riquezas do acervo está o trono de dom frei Manuel da Cruz e um oratório folheado a ouro, ambos feitos de madei-ra. Complementam a coleção vestimentas e objetos pessoais dos religiosos, como selos e tinteiros. Com a restauração, o Centro Cultural vai abrigar o Centro de Documentação Dom Luciano Mendes.”

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Rua Cônego Amando, 161, Centro

TELEFONE: (31) 3557-2778

VISITAÇÃO: De terça-feira a sábado, das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 18h; domingos e feriados, das 8h30 às 12h

SUA MAJESTADE, A PRIMEIRA VILA Ponto de partida da história de Minas Gerais,

Mariana, na Região Central, a 115 quilômetros de Belo Horizonte, é destino que inspira e atiça o imaginário. Primeira vila, primeira capital da província e sede do primeiro bispado do estado, a cidade mantém vivo um rico legado de fé e cultura. São três séculos de história. A começar pela beleza arquitetônica de igrejas e casa-rios dos séculos XVIII e XIX.

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Tempo para contemplar o patrimônio é essen-cial. Na Praça Minas Gerais, por exemplo, podem-se passar horas a fio assentado no gramado, entre as igrejas de São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo e o prédio da Câmara e da antiga cadeia, todos do século XVIII. Na primeira, obras de Aleijadinho e do pintor Manoel da Costa Ataíde, natural de Mariana, enchem os olhos do visitante. É lá que está enterrado o corpo do grande pintor, na sepultura de número 94.

Outras obras dos dois artistas podem ser vistas no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, montado em um casarão de 1770, onde funcionava a antiga Casa Ca-pitular, local onde se reuniam os cônegos da época. O museu reúne um acervo de mais de 2 mil peças sacras, provenientes de templos religiosos de várias igrejas da Arquidiocese de Mariana.

Para os que buscam um recanto de paz e uma bela vista para fotos, a Igreja de São Pedro dos Clérigos, erguida na segunda metade do século XVIII, é parada obrigatória. Seu interior é simples, mas encanta pelo altar esculpido em cedro e repleto de detalhes.

A cidade está a 115 quilômetros de Belo Horizonte e o aces-so é pela BR-040, sentido Rio de Janeiro

Há linhas regulares de ônibus, da empresa Pássaro Verde. (31) 3557-1215

Há, na cidade, um centro de informações turísticas, onde o visitante pode contratar um guia credenciado. Telefone: (31) 3557-1158

O visitante vai encontrar pousadas, hotéis e restaurantes a preços variados

“Dom Luciano foi um homemdo mundo, sua produção é de

grande importância.”Padre Enzo dos Santos

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Testemunha dos saltos e sobressaltos da vida política, econômica e social do Espírito Santo, o Palá-cio Anchieta não é mais só a sede do governo do esta-do. Restaurado, o edifício amarelo e branco, no alto da Praça João Clímaco, em Vitória, virou ponto de contato entre o presente e mais de quatro séculos da história capixaba, contada desde a chegada dos padres jesuítas, em 1551. “Isto aqui é quase um ser vivo. Retrata a vida em si do estado”, diz a gerente do palácio, Áurea Lígia Miranda Bernardi.

Aberto ao público em maio do ano passado, o monumento foi o começo de tudo em Vitória. Primeira igreja, primeira escola, sede de governo. Em seu inte-rior, vestígios de cada um dos momentos que deram a feição eclética ao edifício. A lápide do primeiro túmulo do padre jesuíta José de Anchieta, objetos deixados por índios, catequizadores e todos os que habitaram o lu-gar desde o século XVI, sala multimídia e os salões do gabinete e da residência do governador fazem a ponte entre cada um dos tempos.

A construção do monumento, conta Áurea Lígia, teve origem na primitiva Igreja de São Tiago, impro-visada em palha no topo da colina pelo jesuíta Afonso Brás, que aportou em terras capixabas em 1551. Incen-diada, a igreja deu lugar a uma nova, em pedra, que co-meçou a ser erguida em 1570. Dezessete anos depois, José de Anchieta construiu a primeira das quatro alas do colégio que levava o nome do templo. Para lá os ín-dios conduziram o corpo do catequizador, morto em 1597, sepultado aos pés do altar da igreja.

noMoldadoVAIVÉM da HISTÓRIA

PALÁCIO ANCHIETA • VITÓRIA/ES

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O colégio jesuíta só seria concluído em 1747. Mas não demorou para que mudasse de função. Dois anos depois da finalização da última ala, a escola e o templo passaram às mãos do governo imperial, depois da ex-pulsão dos jesuítas do país. Abandonada por 19 anos, virou sede do Executivo estadual em 1798.

Do Império à República, obras e adaptações borraram as características originais do complexo religioso. A arquitetura perdeu a singeleza colonial e ganhou a suntuosidade dos palácios, com influências europeias. Em 1860, o prédio foi reformado para re-ceber dom Pedro II. Em 1908, transformação feita pelo governo estadual mudou a fachada principal. Em 1911, a torre menor da Igreja de São Tiago foi destruída e a maior demolida em 1922. Em 1935, foram instaladas lajes de concreto. A partir da década de 1950, decora-ções encomendadas por catálogo levaram glamour ao prédio, batizado Palácio Anchieta por decreto de 1945.

Tudo deixou sua marca. Mas nem a homenagem ao catequizador nem o tombamento em 1983 impedi-ram que o monumento chegasse ao século XXI em vias de virar ruína. “Havia cupins, infiltrações. O pátio era um depósito de coisas velhas”, conta a gerente Áurea Lígia. A salvação veio de um programa de restauração finalizado em 2009, com investimento de R$ 21 mi-lhões captados da iniciativa privada.

No processo de restauração do palácio não falta-ram emoções e descobertas. A mais importante estava protegida entre paredes erguidas em uma das muitas reformas: um afresco em esgrafito, técnica de origem árabe. Também foram achadas fundações e paredes da antiga Igreja de São Tiago, o poço de água usado pelos jesuítas e o túmulo de José de Anchieta, embora seus restos mortais não estejam mais lá. “Isto aqui é quase um ser

vivo. Retrata a vidaem si do estado”

Áurea Lígia Miranda Bernardi

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Com esse rico acervo, o monumento já assumiu seu lugar de ponto de atração turística e, mais do que isso, se transformou em material didático indispen-sável para estudantes de vários níveis. “É um passeio fundamental para mostrar a história do estado”, julga a professora Claudete Rabelo Feriane, que, no início de julho, comandava a visita ao palácio de um grupo de 29 crianças, de 9 e 10 anos, que viajaram os 140 quilô-metros que ligam a interiorana Conceição do Castelo a Vitória para conhecer o monumento.

No passeio por Vitória não faltam praia nem boa culinária. No arquipélago formado por 30 ilhas, há uma vasta opção de orla para o turista que pretende re-laxar antes da moqueca de peixe, do siri, do pirão ou da torta capixaba. E o que nem todo mundo sabe é que um tesouro histórico e cultural salpica o Centro da cidade. São 46 monumentos encravados na curva do Saldanha da Gama, forte que fazia a defesa da cidade no passado, bem no meio da Baía de Vitória, até o mercado da Vila

Rubim, nos limites do maciço central. Pontos de atra-ção reunidos no Projeto Visitar, eles contam a história e peculiaridades da cidade.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Pça. João Clímaco, s/n˚, Cidade Alta – Centro – Vitória (ES)

ACESSO: De carro, táxi ou ônibus, que param próximo à escadaria que leva ao palácio

VISITAÇÃO: De quarta-feira a sábado, das 10h às 17h; aos domingos, visitas agendadas pelo telefone (27) 3321-3578

Entrada franca

DICA: confira os lustres em madeira com cristal do Salão Dourado, onde, diz a lenda, estão móveis que teriam sido importados por Evita Perón e, encalhados no porto, re-comprados pelo governo do estado

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Transformações políticas, ruptura de costumes, contracultura. A década de 1960 de fato foi – para o bem ou para o mal – efervescente. Enquanto os Be-atles despontavam nas paradas internacionais e, no Brasil, tinha início a era da Jovem Guarda e dos festi-vais, talentosos jovens mineiros começavam, em uma esquina de Belo Horizonte, um movimento que fica-ria gravado para sempre na memória cultural do país.

Reunir as histórias desses músicos e de tantas outras pessoas que fizeram parte desse grupo é a missão do Museu Clube da Esquina.

O projeto nasceu de uma saudade. O letrista mi-neiro Márcio Borges já sentia falta da música há algum tempo. E não só dela, mas de toda aquela magia que envolvia a turma, formada por Lô Borges, Milton Nas-cimento, Wagner Tiso, Toninho Horta, Beto Guedes,

movimentoDESonhosMUSEU CLUBE DA ESQUINA • BELO HORIZONTE/MG

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Fernando Brant, Ronaldo Bastos e outros. Com a mu-lher, Cláudia Brandão, hoje diretora do museu, Már-cio idealizou toda a história. “Queríamos perpetuar a chama daquela época.”

O Museu Clube da Esquina é diferente. Seu es-paço, ao contrário de galerias, está locado na inter-net. Em seu acervo há fotos, vídeos e músicas, mas as grandes preciosidades são as histórias contadas por quem testemunhou ou teve alguma ligação com o movimento. Um encontro de gerações presente em mais de 100 relatos, alguns deles em textos e outros em vídeo.

O material foi organizado em diversos links que chamam a atenção pela criatividade e riqueza de in-formações. Um verdadeiro espaço de referência, não só da música mineira, mas de todo o movimento cul-tural brasileiro a partir da década de 1960.

Assim como os corredores de um museu, o en-dereço eletrônico revela surpresas a cada clique. De repente, descobre-se um dicionário no qual foram reunidos diversos verbetes que, de alguma manei-ra, tiveram relação com o Clube da Esquina. Depois, chega-se a uma linha cronológica do movimento, a um livro que narra a infância de alguns dos artistas e por aí vai. Tempo é algo indispensável para desvendar toda a memória.

ENGAJAMENTO E CONSAGRAÇÃO O Museu Clube da Esquina já organizou diversas

exposições, que passaram por cinco municípios bra-sileiros. Uma delas homenageou o clássico LP Clube da Esquina, de 1972, aquele que traz na capa a foto de dois meninos. Um marco sob todos os aspectos, o disco se consagrou por letras engajadas e mistura de influências sonoras.

No site, o internauta tem acesso à exposição e pode viajar pelos casos que envolvem as 21 faixas da obra, entre elas as emblemáticas Nada será como an-tes e Cais. Todo o disco e os álbuns Clube da Esquina II (1978) e Lô Borges (1972) podem ser ouvidos no ende-reço eletrônico.

Outra ação do museu foi mapear Belo Horizonte seguindo os passos daqueles artistas pela capital. Fo-ram instaladas 25 placas em diversos pontos da cida-de, que contam a relação de cada lugar com o movi-mento. “É uma espécie de guia afetivo de BH”, conta a diretora Cláudia Brandão. Uma das placas está na famosa esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, onde tudo começou, no Bairro Santa Teresa, na Região Leste de BH.

A partir do ano que vem, o Museu Clube da Es-quina vai ganhar uma sede e passará a integrar o Cir-

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cuito Cultural da Praça da Liberdade, que vai reunir diversos espaços para disseminação da arte e da cul-tura. Mais que juntar lembranças, o museu será um espaço de referência e discussão da música feita pré e pós-Clube da Esquina. “Queremos que seja um museu vivo”, afirma Márcio.

A criação de uma sede para o Museu Clube da Esquina é comemorada por Toninho Horta. Para ele, será muito mais que um resgate da memória daquela sonhadora turma nos anos 1960. “Será uma referên-cia para os jovens, para que haja a criação de outros clubes da esquina. É um legado que deixamos para as novas gerações, tanto as músicas quanto o teor das le-tras, que falam de justiça, liberdade e amizade”, diz. O reconhecimento que o movimento tem nos cenários internacional e nacional é, segundo ele, a maior prova da força que atingiu, principalmente depois do lança-mento do LP Clube da Esquina.

O museu pode ser visitado no sitewww.museudapessoa.net/clube

DICA: Explore todos os recursos do site. Fotos, vídeos, áu-dio e muita curiosidade estão guardados nos vários links do endereço eletrônico

“Será uma referência para os jovens, para que haja a criação de

outros clubes da esquina.”Toninho Horta

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arcos osTons DE TODOS

O batuque do bloco Orumilá começa quando cai a noite, pouco depois de as luzes do belo lampadá-rio do Largo da Lapa se acenderem. Aos poucos, vai atraindo quem passa pela Avenida Mem de Sá, bem na boca do Aqueduto da Carioca, no Rio de Janei-ro. Curiosos aproveitam para tomar uma cervejinha, hipnotizados pelo ritmo. Se for sexta-feira, o bloco dá lugar ao hip-hop do Fúria, que vara a madrugada. Nas ruas em volta, no mesmo ou no outro lado do aquedu-to, já apelidado de Arcos da Lapa, bares, restaurantes e casas de shows fervem, no berço da boemia carioca.

DISTRITO CULTURAL DA LAPA • RIO DE JANEIRO/RJ

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O ensaio do Orumilá se repete às terças e quin-tas-feiras no sobrado do número 37 da avenida, parte do projeto Distrito Cultural da Lapa, dedo do estado na requalificação da região. Restaurado em 2005, ele abriga a Federação dos Blocos Afros do Rio de Janeiro (Febarj), na sequência de casas cedidas a entidades na formação da Quadra da Cultura, origem do projeto no início dos anos 1990: o Teatro do Oprimido, mais tar-de incendiado; o Hombu, o Tá na Rua, a própria Febarj e o Instituto Palmares/Casa Brasil Nigéria.

“Foi a partir da bagunça que essas casas faziam que a Lapa começou a retomar seu lugar de reduto boêmio. Na época (da cessão das casas), essa quadra estava fechada. Só havia o Circo Voador. Mas a gente começou a batucar, a batucar, e a Lapa acordou”, con-ta Paulo César Xavier, o Tio César, diretor do Orumilá. O bloco é um dos 16 ligados à Febarj que oferecem ofi-cinas de música e dança.

O prédio que serve de sede à Febarj chegou a ser interditado antes do restauro. Uma laje que separava seus dois andares ameaçava cair e foi retirada. Ago-ra, o vão integra o espaço superior – reservado para as mesas ocupadas pelos frequentadores e os “cama-rins”–, ao inferior, palco dos ensaios e espetáculos.

Nas paredes, telas de artistas plásticos da comunidade se revezam em exposições. “Isto aqui é como uma casa para mim”, conta Natasha Dolabella, uma das inte-grantes do Orumilá.

As oportunidades também surgem no restaura-do sobrado ao lado, na Avenida Mem de Sá, 39, que abriga o Instituto Palmares/Casa Cultural Brasil-Nigéria. A organização não governamental, que se propõe a “lutar pela superação do racismo e da into-lerância”, oferece cursos de línguas e pré-vestibular para alunos carentes. No processo de requalificação da Lapa, outros dois patrimônios da região passaram por restauro: o prédio onde se encontram preciosos arqui-vos destinados a pesquisas do Museu da Imagem e do Som (MIS), na Rua Maranguape, 15, e o Lampadário do Largo, quase em frente a ele.

Montado em uma coluna executada em granito e bronze, o Lampadário do Largo da Lapa é de autoria do escultor Rodolfo Bernardelli e marcou a abertura da Mem de Sá, em 1906. As caravelas, torres de castelos, serpentes e luminárias inseridas na coluna apresenta-vam desgastes. Pichações poluíam as bases, faltavam peças e outras haviam sido invertidas. Restaurado, voltou a iluminar o Largo em janeiro de 2006.

“Foi a partir da bagunça que essas casas faziam que a Lapa começou a retomar seu

lugar de reduto boêmio”Paulo César Xavier

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E O BARULHO ATRAVESSOU OS ARCOS A música e a arte transitam livremente pela

Lapa. Dos sobrados da Mem de Sá, a revitalização da Lapa se espalhou. “O projeto Quadra de Cultura con-tribuiu para sinalizar a área como um local em vias de recuperação. Estabeleceu-se então um circuito que incluía espetáculos, bailes e festas no Circo Voador, na Fundição Progresso, nas casas da Quadra de Cultura e no Asa Branca”, aponta documento do Instituto Esta-dual do Patrimônico Cultural (Inepac). Tio César con-firma: “O movimento foi se alastrando aqui por trás primeiro. Depois, o pessoal de grana viu que isso aqui era um filão e o barulho atravessou os Arcos”.

Do “lado de lá” do aqueduto, por onde passam os bondes de Santa Teresa, a boemia chegou até a Rua do Lavradio, onde está o bar antiquário Rio Scena-rium, no limite da região que o estado definiu como Distrito Cultural da Lapa. Surgiram casas de música como a Carioca da Gema, Café Cultural Sacrilégio, Estrela da Lapa e Casa da Mãe Joana. No burburinho, restaurantes tradicionais se reafirmaram, como o centenário Nova Capela, fundado em 1903.

O Rio de Janeiro tem muito mais. O escritor Coe-lho Neto já disse tudo quando o chamou de Cidade Ma-ravilhosa, apelido que virou marchinha de carnaval na composição de André Filho. Não há como discordar. De qualquer ângulo, em todo cantinho, há uma vista bo-

nita para apreciar, com praias e morros de fazer inveja. Não é à toa que a segunda maior metrópole nacional é a cidade mais conhecida do Brasil pelos estrangeiros e o principal destino turístico de toda a América Latina.

Se é para escolher um ângulo para começar a vê-la, nada melhor do que do alto, do Corcovado, um dos principais cartões-postais do Rio. Só o passeio para chegar ao topo do morro já vale a pena. O simpático trenzinho tomado no Bairro do Cosme Velho percorre cenários de rara beleza. Aos pés do Cristo Redentor, que abre seus braços a 710m de altura, a vista é puro êxtase: Copacabana, Ipanema, Leblon e a Lagoa Ro-drigo de Freitas desenham a cidade. Cenário que se transfigura no caleidoscópio do “concorrente” Pão de Açúcar, ao qual se chega via teleférico.

A área do Distrito Cultural da Lapa estende-se do Largo da Lapa à Rua do Lavradio, abarcando as seguintes vias: Ave-nida Mem de Sá, Rua do Riachuelo, Avenida Gomes Freire, Rua dos Arcos, Rua Joaquim Silva, Travessa do Mosque-teiro, Rua Resende, Rua da Relação e Rua Visconde do Maranguape

Como chegar à Lapa: Há várias linhas de ônibus que pas-sam pela região; de metrô, a estação mais próxima é a Ca-rioca; à noite, o mais seguro é pegar um táxi

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Primeiro, vieram as partituras do período bar-roco. Depois, o sagrado se juntou ao profano, abrin-do espaço para as bandas de música e as valsas. Hoje, um acervo imensurável, com raridades de dois séculos e muita história para contar e, principalmente, ouvir. Esse é o Museu da Música, parada obrigatória para quem visita a cidade de Mariana, na Região Central de Minas, a 115 quilômetros de Belo Horizonte.

preciosasNotasMUSEU DA MÚSICA • MARIANA/MG

O Museu da Música é um espaço de devoção à arte. Abrigado no Palácio dos Bispos, hoje Centro Cul-tural Arquidiocesano Dom Frei Manoel da Cruz, o mu-seu começou a ter seu acervo montado em 1965, pelo bispo dom Oscar de Oliveira. “Ele era um homem mui-to culto e resolveu recuperar e organizar as partituras. Com o tempo, o pessoal começou a fazer doações”, conta o diretor do museu, padre Enzo dos Santos.

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Dom Oscar deixou sua marca também no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana. Foi o res-ponsável por resgatar peças sacras de igrejas fechadas ou em estado de abandono. “Ele foi muito importante para a preservação do patrimônio de Mariana. Imagine o que teria se perdido se ele não tivesse tomado essas iniciativas”, afirma a museóloga Maria da Conceição Fernandes, coordenadora da área técnica do museu.

O bispo dá nome à coleção mais rara do museu, que incorpora músicas coloniais. “Nessa coleção, per-cebemos que há um avanço dos compositores mineiros em relação aos demais, pois eles estavam à frente do estilo barroco. É possível perceber, em algumas can-ções, traços de Mozart, expoente do neoclassicismo, que estava em voga na Europa”, explica o músico Vítor Gomes, funcionário do museu.

Entre os destaques da coleção é unânime a obra Tercio, datada de 1783, de autoria do compositor Lobo de Mesquita, um dos maiores expoentes da música do fim do século XVIII. Em uma exposição permanente do museu, o visitante pode ver uma reprodução da parti-tura, conhecer um pouco da história do compositor e, é claro, ouvir a sua obra. Além de Lobo de Mesquita, as músicas de outros compositores que marcaram época são apresentadas ao público em gravações feitas exclu-sivamente para o espaço.

RARIDADES QUE ENCANTAM O OUVIDO A viagem pelo Museu da Música de Mariana

passa também pelos instrumentos, que dialogam com as coleções de partituras. Alguns deles caíram em de-suso e chamam a atenção pelo formato e histórias pe-culiares. É o caso do oficleide, instrumento de sopro presente nas primeiras manifestações do chorinho, mas que perdeu espaço, no mesmo gênero, para o violão de sete cordas.

Outra peça desse acervo é o órgão Arp Schnit-ger, uma relíquia guardada na Catedral da Sé, que o público tem o prazer de escutar em concertos às sex-tas-feiras e aos domingos. O instrumento, fabricado pelo alemão Arp Schnitger, é o único que está fora da Europa e chegou ao Brasil em 1753, como presente de Portugal ao primeiro bispo de Mariana.

Educação também está presente no museu. Neste semestre, ele será espaço de aprendizagem de mais de 400 alunos da rede municipal de ensino de Mariana, que contarão com a disciplina no currículo. “É muito importante para eles perceberem a música como uma arte e não só como um produto comercial”, diz Vítor.

Quem se encantou com as muitas histórias ou-vidas e contadas no Museu da Música foi a pernam-

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bucana Rejane Santos, que reservou 10 dias de suas férias para desbravar as cidades históricas mineiras: “Tenho verdadeiro fascínio pela história. Vir a este museu e poder escutar essas músicas foi uma experi-ência muito boa”.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Rua Cônego Amando, 161, Centro

TELEFONE: (31) 3557-2778

VISITAÇÃO: De terça-feira a domingo, das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 18h

DICA: Não deixe de ouvir as músicas e pedir informações aos funcionários sobre as obras raras. As partituras ficam arquivadas, mas, quando solicitado, são retiradas dos ar-mários para pesquisa

“Tenho verdadeiro fascínio pela história. Vir a este museu e poder

escutar essas músicas foi uma experiência muito boa.”

Rejane Santos

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Idealizada pelo arquiteto francês Le Corbusier (1887-1965), a “máquina de morar” se realizou ple-namente na cidade paulista de São José dos Campos, a 97 quilômetros da capital São Paulo. Projetada por Rino Levi, um dos principais expoentes da arquitetura moderna brasileira, e inaugurada em 1952, ela serviu de residência para a família de Olivo Gomes, o empre-sário que comandou a Tecelagem Parahyba, marco da primeira fase da industrialização do município. Com painéis e paisagismo de Burle Marx, a casa está nas mãos do poder público, como parte do Parque da Cida-de, e a um passo da restauração.

“O projeto, patrocinado pela iniciativa priva-da, já está pronto. Falta um padrinho para assumir os custos das obras”, conta o arquiteto Robson Bernardo, do Departamento de Patrimônio Histórico da Funda-

a genialMáquinaDE MORAR

RESIDÊNCIA DE OLIVO GOMES • SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP

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ção Cultural Cassiano Ricardo, que cumpre o papel de Secretaria de Cultura em São José dos Campos. A ideia é que, depois de recuperada, a casa seja transformada em um centro cultural. Enquanto o restauro não vem, a Residência Olivo Gomes pode ser apreciada por fora, no Parque da Cidade. O que não é pouco.

Mesmo sem acesso ao seu interior, já se tem con-tato com os conceitos que fizeram da construção um dos ícones da arquitetura moderna no Brasil. Simpli-cidade formal, linhas retas e volumes puros marcam presença. Os ambientes se integram. Funcionalismo e conforto são perseguidos à exaustão. Materiais como cerâmicas, tijolos de vidro, esquadrias em ferro e te-lhas de fibrocimento tomam o lugar dos artesanais.

“A casa foi idealizada como espaço que con-gregasse as artes”, explica Bernardo. Nesse sentido, o desenho arquitetônico, painéis, as cores aplicadas em algumas paredes e os jardins conversam entre si e se complementam. A coesão entre o trabalho de Rino Levi

e Burle Marx foi tamanha que a residência é também marco de uma parceria que se arrastou vida afora.

Construída em terreno acidentado, a casa tem dois pavimentos, divididos em três blocos. O social é composto por duas salas, sala de jogos, bar e um grande salão, ligados por uma das atrações da re-sidência: uma escada helicoidal em concreto e ma-deira, construída na área externa. Nesse espaço, ce-nário das grandes recepções da família, convidados eram premiados com a arte de Burle Marx.

Uma belíssima vista se descortina na área ín-tima, formada por circulação, escritório e dormitó-rios. Nos quartos, uma alavanca suspende as per-sianas de metal das janelas, que vão do piso ao teto, os olhos mergulham na paisagem. Mecanismos engenhosos como esse estão por toda a casa. “Rino Levi era exímio projetista”, resume o arquiteto da Fundação Cassiano Ricardo. Mas não foi por acaso que essa engenhosidade foi parar nas mãos de um

“A casa foi idealizada como espaço que congresse as artes.”

Robson Bernardo

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empresário do interior paulista. “O próprio Olivo era visionário”, conta Bernardo.

A audácia de Olivo Gomes se revelou assim que ele assumiu a tecelagem Parahyba, com o desafio de salvá-la da bancarrota, em 1928, pouco antes da que-bra da Bolsa de Nova York. Conhecedor da cadeia têxtil, ele evitou a falência da empresa. Foi naquele período que ele comprou a Fazenda Santana do Rio Abaixo para transformá-la em polo de agronegócio. Lá estão alguns dos indicadores da ousadia do empresário, como uma ordenha com sistema automatizado, idealizada pelo próprio Olivo na década de 1930.

Assim como a Residência Olivo Gomes, a área da antiga fazenda e os galpões da Parahyba integram hoje o Parque Municipal Burle Marx, conhecido como Par-que da Cidade. O patrimônio passou às mãos do poder público em 1996, anos depois da morte do empresá-rio e da concordata da Parahyba, decretada em 1992. Aberto à população e sede dos principais eventos mu-nicipais, o parque tem extensa área verde.

O fim da tarde é uma boa hora para se chegar a São José de Campos. O pôr do sol colore o horizonte e convida para a contemplação no alto do Banhado, a grande depressão que se estende até o Rio Paraíba do Sul. Na orla de seu principal cartão-postal, área de proteção ambiental desde 1984, grupos desfrutam da

bela vista natural e caminhantes aproveitam a brisa nesta cidade serrana marcadamente industrial.

Ar, aliás, é palavra-chave na história de São José dos Campos, a 600m de altitude. Foi por causa de seu ar puro e do clima serrano que foi escolhida como es-tância climática para tratamento da tuberculose. Como cidade sanatório, se desenvolveu na primeira metade do século XX e ganhou ruas largas e boas condições sa-nitárias que a puseram na rota do Centro Tecnológico Aeroespacial, no início da década de 1950.

São José dos Campos está a 600 metros de altitude, na Serra da Mantiqueira, a 97 quilômetros de São Paulo

ACESSO: De avião, ônibus ou de carro, pela Rodovia Presi-dente Dutra, a BR-116, que corta o município

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: No Parque da Cidade, na Avenida Olivo Gomes, s/n˚, Santana. A casa e jardins de Burle Marx fazem parte do parque

Entrada franca

VISITAÇÃO: Diariamente, das 6h30 às 17h30

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Personagens fantásticos, atos heroicos, crônicas do dia a dia, dramas, epopeias, poesia, esperança, fan-tasia. Cabe tudo em um livro. Um universo sem tama-nho em Belo Horizonte: a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, que desde 1961 vem se constituindo um espaço de conhecimento e produção do saber.

O projeto de construção do prédio da nova bi-blioteca foi encomendado na década de 1950 pelo en-

universoEncantadoDAS LETRAS

BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL LUIZ DE BESSA • BELO HORIZONTE/MG

tão governador do estado Juscelino Kubitschek ao ar-quiteto Oscar Niemeyer. Depois de várias adaptações, devido à falta de recursos, a obra foi inaugurada em um dos mais belos cartões-postais da cidade: a Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul. O prédio, com ares modernos, passou a integrar o conjunto arquitetônico da praça, formado por prédios nos estilos neoclássico, eclético e art déco.

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universo

Para abrigar todo o acervo de mais de 300 mil volumes, foi inaugurado em 2000, nas antigas depen-dências da Secretaria da Fazenda, o anexo da biblioteca, onde estão os setores de empréstimo domiciliar e refe-rência, além de salas de estudos e pesquisas na internet.

Obras de modernização estão em andamento na casa. “Houve melhorias no espaço físico e no acervo. Também foram instalados equipamentos de seguran-ça”, conta a diretora de formação e processamento téc-nico de acervo, Maria da Conceição Araújo Bernardes.

Para conhecer a biblioteca é preciso explorar os espaços e tempo, diga-se de passagem. A viagem co-meça no terceiro pavimento, onde está a Hemeroteca Pública de Minas Gerais, que integra a coleção especial da biblioteca. Há verdadeiras preciosidades nas prate-leiras, como a primeira edição do jornal Universal, de Ouro Preto, datado de 1825. São 1,2 mil títulos de jornais e 150 títulos de revistas disponíveis para consulta.

Para escrever seu segundo livro, o escritor e pro-fessor universitário Luiz Morando frequenta a biblio-teca uma vez por semana. “Meu primeiro livro foi sobre o chamado crime do parque, que ocorreu em Belo Ho-rizonte em 1946. Agora, vou escrever uma continuação e preciso pesquisar tudo o que foi publicado nos jornais entre 1950 e 1969.”

RARIDADES AO ALCANCE DE TODOS

Carlito Homem de Sá, de 24 anos, é também fre-

quentador assíduo. O setor no qual costuma passar ho-ras do dia é o de braile. Portador de deficiência visual, ele é um dos vários usuários do espaço, em sua maioria pessoas que se preparam para vestibulares e concur-sos. Graças à dedicação aos estudos, ele conseguiu in-gressar no serviço público e agora vai tentar uma vaga no curso de Letras. Para isso, refaz provas antigas e ouve livros gravados.

Para ajudar pessoas como ele, a biblioteca con-ta com cerca de 50 voluntários, que emprestam a voz para gravar as obras e os olhos para ler os livros. O se-tor guarda um acervo de 6,5 mil volumes em braile e 690 em áudio.

Abrigadas no segundo pavimento estão outras obras que integram a coleção especial da Biblioteca Pú-blica Estadual Luiz de Bessa. Lá está a coleção Minei-riana, formada por 17 mil volumes de obras que retra-tam Minas Gerais sob diversos aspectos. Atualmente, a biblioteca faz uma campanha a fim arrecadar doações para essa coleção, que contempla desde autores consa-grados a novos nomes da literatura.

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É lá também que estão as obras raras, que reúnem mais de 1 mil títulos publicados entre os séculos XIV e XIX. Um incunábulo datado de 1493 é uma das joias da coleção. Em 2005, as obras foram restauradas e acomo-dadas em salas especiais que garantem sua conservação.

O acervo patrimonial, abrigado no mesmo pavi-mento, é outra preciosidade da coleção especial. Nas estantes, clássicos da literatura universal, como Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, e Os Lusíadas, de Luís de Camões, chamam a atenção por suas luxuosas encadernações e edições.

Um programa para toda a família, a Luiz de Bes-sa abriga, em seu primeiro piso, a Biblioteca Infantil, onde as crianças aliam conhecimento e diversão. Além de um rico acervo de 26 mil volumes, o espaço promo-ve várias atividades, como a hora do conto, bate-papo com o escritor e roda de leitura.

No primeiro piso há ainda o Teatro da Bibliote-ca, uma galeria para exposições e a seção de periódicos, que oferece 85 títulos de revistas e jornais correntes.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Praça da Liberdade, 21, Funcionários

TELEFONE: (31) 3269-1166

VISITAÇÃO: De segunda a sexta-feira, das 8h às 20h; sábado, das 9h às 13h

DICA: Para facilitar o acesso, a biblioteca tem um sistema de consultas on-line, que pode ser acessado sem sair de casa. O endereço está no site www.cultura.mg.gov.br

“Houve melhorias no espaço físico e no acervo. Também

foram instalados equipamentos de segurança.”

Maria da Conceição Araújo Bernardes

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simplesmenteMonumentalCATEDRAL DE BRASÍLIA • BRASÍLIA/DF

No ano em que Brasília completa 50 anos, a restauração dá vida nova a um de seus principais car-tões-postais: a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. E renova a beleza desse monumento, que continua a surpreender turistas e fiéis, num convite à contemplação, entre o impacto da primeira mirada e o encantamento provocado por cada detalhe do tem-plo. Visto por fora, o conjunto projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer causa impacto por sua forma singular. Mas a leveza aparente da estrutura circular de 60m de diâmetro e 40m de altura, com 16 arcos invertidos, em nada denuncia as toneladas de concreto armado usa-das na sua construção.

Compacta e límpida, a estrutura – rodeada por um espelho d’água e entregue à capital federal em 1960, 10 anos antes da inauguração, de fato, do templo, em 1970 —, se assemelha, para uns, a duas mãos estendidas com os dedos abertos, num espasmo de súplica; para outros, à coroa de espinhos de Cris-to na Paixão. Interpretações à parte, tudo é equilíbrio na Catedral de Brasília. Arquitetura e arte se integram em harmonia. O conjunto inclui o batistério em forma ovoide, que teve suas paredes cobertas pelo painel em lajotas confeccionadas em 1977 por Athos Bulcão; e o

campanário, com grandes sinos doados pela Espanha.Na praça de acesso, turistas posam para fotos na

entrada do templo. “Vim com um grupo do Paraná e estou maravilhada”, comenta Luciene Almeida, após deixar a igreja. Os que chegam são recebidos pelas quatro esculturas em bronze de Alfredo Ceschiatti ins-taladas na praça. Representando os evangelistas, com 3m de altura, elas são como um convite para o ingresso na catedral. Nem mesmo durante o período das obras de restauração o conjunto perdeu sua majestade.

Três anjos de bronze, também de Ceschiatti, fei-tos com a colaboração do escultor Dante Croce, zelam pelos fiéis, suspensos por cabos de aço. À frente está o altar, doado e abençoado pelo papa Paulo VI, e a ima-gem da padroeira Nossa Senhora Aparecida, uma ré-plica da original, que se encontra em Aparecida (SP). O visitante também aprecia réplicas da Pietà de Mi-chelangelo, produzida pelo Museu do Vaticano, e a do Santo Sudário, abençoada por João Paulo II.

Reconhecida como patrimônio histórico em ple-na adolescência, a Catedral Metropolitana de Brasília foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1985. Mas, apesar de sua relativa juventude, sofreu os desgastes causados,

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principalmente, pelo impiedoso sol do Planalto Cen-tral, exigindo obras de restauro. Os vidros externos, transparentes e temperados, destinados a proteger os vitrais, foram trocados por outros, autolimpantes e com características que reduzem a absorção do calor.

Com a restauração, o templo também ficou mais limpo. Os mármores de Carrara que revestem seu in-terior foram polidos e a pintura externa renovada. “A beleza da catedral está sendo restituída. Isso só vai au-mentar o gosto de vir rezar aqui”, elogia a fiel Maria de Lourdes da Gama, antes de uma das missas, quando turistas que não desejam acompanhar o culto têm que se contentar em observar a igreja a um canto da ram-pa de acesso. Por estar no Eixo Monumental, a igreja é frequentada basicamente por turistas e funcionários públicos que trabalham na região.

LOCALIZACÃO DO MONUMENTO: Esplanada dos Ministé-rios, s/n˚.

VISITAÇÃO: Segunda-feira, das 8h às 17h; de terça-feira a domingo, das 8h às 18h

Entrada franca

EIXOS DA IMAGINAÇÃO Turismo cívico ou arquitetônico. Qualquer que

seja o nome, o fato é que visitar a cinquentona Brasília significa viajar nos braços do avião do poder na dire-ção do futuro. A decolagem começa na Praça dos Três

Poderes, no Plano Piloto, único conjunto urbano no mundo com características rigorosamente fiéis à ar-quitetura moderna. Do lado Sul, o Supremo Tribunal Federal, sede do Judiciário; ao centro, o Congresso Na-cional, cartão-postal que sedia o Legislativo, um con-junto onde se destacam as duas cúpulas, da Câmara dos Deputados (convexa) e do Senado Federal (côncava); ao centro, o Palácio do Planalto, a casa do Executivo.

“Gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse”, na definição de Lúcio Costa, que assina o projeto urbanístico de Brasília, o Plano Pilo-to divide a cidade em dois eixos principais de circula-ção: o Rodoviário, conhecido como Eixão, onde estão as superquadras residenciais; e o Monumental, que a atravessa no sentido leste-oeste. É nele que se encon-tram as principais instituições do governo brasileiro e atrações do turismo cívico.

Surpresa é a melhor tradução da sensação que se tem ao visitar o Eixo Monumental, ainda que as ima-gens já tenham sido mostradas centenas de vezes na TV e em fotografias nos 50 anos da cidade. Reação já prevista pelo próprio Oscar Niemeyer, que arquitetou os monumentos. “Você vai gostar ou não, mas nunca vai dizer ter visto antes coisa parecida”, afirmou certa vez o arquiteto.

Além dos prédios que abrigam os três poderes, na praça se encontra a escultura Os guerreiros, de Bruno Giorgi, considerada um símbolo de Brasília. Em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal, a escultura A Justiça é de Alfredo Ceschiatti. Há ainda a Pira da Pátria e o Marco Brasília, idealizados por Niemeyer, o último em homenagem ao ato da Unesco (Organização das Nações

“A beleza da Catedral está sendo restituída.Isso só vai aumentar o gosto de vir rezar aqui”Maria de Lourdes da Gama

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Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) que con-siderou a cidade Patrimônio Cultural da Humanidade.

Outra atração é o Museu Histórico de Brasília, que traz na fachada a escultura da cabeça de Juscelino Kubitschek, o ousado presidente fundador da capital federal. Ainda em homenagem a ele há o Memorial JK, prédio-mausoléu projetado por Niemeyer para guar-dar os restos mortais do ex-presidente. O edifício tem auditório e biblioteca com 3 mil volumes que pertenceu ao fundador de Brasília, além de objetos e fotos dele.

Ainda no Eixo Monumental, o Ministério das Re-lações Exteriores do Brasil, uma das obras mais conhe-cidas de Niemeyer, merece observação mais detida. O prédio tem a fachada em arcos e painéis decorativos de vários artistas, como Athos Bulcão, Rubem Valentim,

Sérgio Camargo, Maria Martins, além de um afresco de Alfredo Volpi, e é rodeado por um espelho d’água.

Para se ter uma visão completa do Eixo Monu-mental, a pedida é a Torre de TV. Projeto de Lúcio Costa, é o ponto mais alto de todo o Plano Piloto, com 224m de altura, com mirante a 75m. No primeiro andar fun-ciona o Museu Nacional de Gemas. No térreo, em volta da torre, ocorre, nos fins de semana, a mais tradicional feira de artesanato de Brasília, conhecida como Feira da Torre. Para fechar a viagem nas asas do arrojo arquite-tônico, o cenário é a Ponte Juscelino Kubitschek. Obra do arquiteto Alexandre Chan, a ponte, que liga as saídas do Eixo Monumental à QL-26 do Lago Sul, foi eleita em 2003 a mais bonita do mundo pela Sociedade de Enge-nharia do estado da Pennsylvania, nos EUA.

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queA SantaCAIU do CÉU

MUSEU DE CATAS ALTAS DA NORUEGA • CATAS ALTAS DA NORUEGA/MG

O Museu de Catas Altas da Noruega, cidade da Região Central de Minas Gerais, não guarda peças ava-liadas em grandes valores econômicos. Nem tem seu acervo produzido por artistas de renome ou se dedica à memória de personagens conhecidos na história. Al-gum problema? Muito pelo contrário. É nisso que resi-de seu encanto.

O acervo começou a ser formado em 1999 para homenagear uma das figuras mais populares do mu-nicípio, o padre Luiz Gonzaga Pinheiro. Natural de Se-nhora dos Remédios, distrito de Barbacena, na mesma região, o pároco chegou à cidade em 1949 e por lá ficou até a morte, em 1995.

Durante os 46 anos em que viveu em Catas Altas da Noruega, padre Luiz atuou muito além do campo religioso. Foi ele quem proveu a cidade de água e luz, abriu ruas, criou o primeiro time de futebol, a banda de

música e outras benfeitorias. Dizem que ele era tam-bém exorcista e que muita gente foi à cidade à procura de ajuda espiritual.

Em meio a todas essas histórias, uma é sempre repetida: a da imagem de Nossa Senhora das Gra-ças, que, como dizem os moradores, caiu do céu. Foi na tarde de 29 de julho de 1949 que um avião Curtiss Commander C-46 deixou o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino a Belém (PA). No cami-nho, uma pane no motor forçou a tripulação a jogar a carga fora, momento em que a aeronave sobrevoava a comunidade de Jequitibá, que pertence a Catas Altas. Em meio a geladeiras, sapatos, roupas e outros objetos, estava uma imagem da santa, em gesso, que resistiu à queda sem um arranhão sequer.

“Dizem que o pessoal veio buscar a mercadoria e o padre não desgrudava da santa. Ele só dizia que era dele.

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queCAIU do CÉU

@ DIRETO DO BLOG: “Cercada pela imponente Serra do Caraça, esta cidade de nome peculiar é roteiro obrigatório para quem quer conhecer Minas. Sabe aquele lugar onde você vai passar o fim de semana e descobre que ainda existem oásis em meio ao caos do nosso dia a dia? Você fica balançado e chega a pensar em recomeçar sua vida de uma maneira mais calma, prestando atençao nos detalhes. É daqueles lugares que você vai passear e quer mudar para lá. Visitar a Capela de Santa Quitéria, a igreja matriz, o museu é se conectar com um pouco de paz que ainda há dentro da gente. Quem tiver oportunidade deve ir já. Hoje!”

Sueli Santos

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Acabaram levando o resto e deixando a imagem”, conta a secretária de Cultura, Sidnéia de Souza Martins, que ainda não havia nascido na época, mas, assim como os demais moradores, sabe de cor e salteado toda a história.

MUTIRÃO DEIXA RICO LEGADO

A história da santa atrai gente de todas as par-

tes ao município e, consequentemente, ao museu. Isso porque o padre Luiz Gonzaga foi o personagem cen-tral do que o povo chama de milagre. “Ele era devoto da santa e havia encomendado a imagem. Quem iria trazê-la de Belo Horizonte era o meu tio, mas ele se esqueceu. O padre sempre dizia que a imagem chega-ria. E chegou”, recorda a moradora Maria da Concei-ção Rezende Costa, a Naná, que tinha 9 anos quando o curioso fato ocorreu.

Fotos, documentos e objetos pessoais do padre Luiz foram organizados em uma ampla sala do museu. Os objetos são símbolos da fé da população. “Quando o museu foi criado, a prefeitura organizou um mutirão para que as pessoas doassem o que tivessem de lembran-ças, tanto do padre Luiz como da história da cidade”, diz a secretária Sidnéia Souza Martins.

Ao completar 10 anos de criação, o museu ga-nhou cara nova, o que atrai mais visitantes. O casarão do século XIX foi reformado, com pintura e obras no piso e assoalho. As peças saíram do chão e de móveis improvisados e foram para prateleiras e armários no-vos. O museu é também espaço de aprendizagem. Por meio de quatro projetos, crianças e idosos participam de uma aula de história mais que especial, em que eles, moradores, são os principais personagens.

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Rua Direita, 65, Centro

TELEFONE: (31) 3752-1379

VISITAÇÃO: De terça-feira a domingo, das 8h às 11h e das 13h às 17h

DICA: Não deixe de ouvir as histórias contadas pelos mo-radores que envolvem o caso da imagem de Nossa Senho-ra das Graças. A visita ficará muito mais interessante

OURO DE TERRAS ALTAS Catas Altas da Noruega, a 142 quilômetros de

Belo Horizonte, se movimenta em torno de uma histó-ria polêmica e repleta de mistérios. Sua formação co-

meçou por volta de 1664, época da corrida do ouro nas Gerais. Da mineração veio a primeira parte do nome da cidade, Catas Altas, e das características do lugar, Noruega. Ao contrário do que muitos pensam, a pala-vra em nada tem a ver com o país nórdico, mas sim à denominação de terras altas e frias.

Erguida em meio a uma bela paisagem de monta-nhas, a pacata Catas Altas da Noruega começa a trilhar novos caminhos para o desenvolvimento. O turismo é um dos projetos da prefeitura, que terá como impulso o famoso caso da santa. Sem pousadas e hotéis, a cida-de quer oferecer aos visitantes opções diferenciadas de hospedagem. “Queremos organizar os moradores para receberem os turistas em suas casas”, conta a secretá-ria Sidnéia.

A cidade vive basicamente da agricultura e da atividade carvoeira, mas há espaço para a arte em pe-dra-sabão, matéria-prima farta na região. São quatro oficinas de artesanato, que produzem peças vendidas dentro e fora do estado. Uma delas é a oficina de Marco Antônio da Costa, que há 10 anos desenvolve o ofício. Seu maior mercado é o Rio de Janeiro, para onde manda milhares de imagens do Cristo Redentor em miniatura.

Como em Catas Altas da Noruega não há opções de hospedagem, a dica é ficar nas cidades mais pró-ximas, como Conselheiro Lafaiete, Piranga e Itavera-va. Há apenas um restaurante, montado nos fundos de uma padaria, na praça central. Sem cerimônias, o visitante se serve, dentro da cozinha, de couve, arroz, feijão, inhame, carne de panela e angu. Um cardápio simples, mas saboroso.

Catas Altas da Noruega está a 142 quilômetros de Belo Ho-rizonte. O acesso é pela BR-040, sentido Rio de Janeiro. Ao chegar em Conselheiro Lafaiete, pegar a BR-482 sen-tido Piranga

Há linhas regulares de ônibus partindo da capital, pela em-presa Unida. Telefone: (31) 3272-5102

Como não há opções de hospedagem na cidade, a solução é ficar nas cidades vizinhas, como Conselheiro Lafaiete, Piranga e Itaverava

Informações: (31) 3752-1260

“O padre sempre dizia que a imagem chegaria. E chegou.”Maria da Conceicão Rezende Costa

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Primeiro foram os sons dos sinos, que voltaram a dobrar em 2004. Até o fim do ano, será a vez do ór-gão de 2.227 tubos, 33 registros e três teclados manuais encher com sua música a Catedral São Pedro de Alcân-tara. Em restauração, o instrumento musical é parte do acervo que tira o fôlego de fiéis e turistas que vão a Pe-trópolis, a 65 quilômetros da capital do Rio de Janeiro.

As proporções do templo em estilo neogótico francês se impõem. Cada folha metalizada da porta de

EmbalamSinos queCIDADE IMPERIAL

CATEDRAL SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA • PETRÓPOLIS/RJ

entrada, executada pela Escola de Aprendizes de São Paulo, segundo desenho de Glash Veiga, pesa 2,4 to-neladas. A partir dela, toda coluna e detalhes são como lembretes da dedicação de artífices, engenheiros e ar-tesãos que trabalharam na construção da igreja.

Erguer a São Pedro de Alcântara consumiu o trabalho de várias gerações, do lançamento da pedra fundamental, em 1876, passando pela inauguração, ainda inacabada, em 1925, à chegada dos sinos, já em

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1969, explica o administrador da catedral, Tiago Bar-ques Maiworm.

A nave, com mais de 70m de extensão, quase 20m de altura na abóbada central, está repleta de arte. Os recortes de luz e cor dos vitrais, executados por Champneulle, em Paris, e S. Sargenicht, em São Paulo, inspiram e conduzem aqueles que caminham por ela. “A sensação é de paz, de estar com Deus. Venho aqui pelo sentimento religioso que encontro na catedral”, confirma a fiel Darling do Espírito Santo.

Entre as colunas que sustentam a nave, em for-ma de ogiva, estão as estações da via-sacra, em gesso patinado, assinadas por G. Berner, que vieram de Pa-ris, em 1928. A cruz central, em granito negro, coroa o altar em bronze patinado, que guarda uma precio-sidade para os católicos: as relíquias de três mártires – Santa Tecla, São Magno e Santa Aurélia. Esculturas em mármore de Carrara completam o conjunto, com destaque para a que representa o padroeiro, de 2,8m de altura, obra do francês Jean Magrou. De sua autoria são também as imagens da Sagrada Família e do Cristo que adornam os altares laterais e o mausoléu imperial.

Inaugurado em 1939 pelo então presidente da República, Getúlio Vargas, depois do traslado dos res-tos mortais dos imperadores, que estavam, desde 1921, na Catedral Metropolitana no Rio de Janeiro, o con-junto pesa quase três toneladas. Nele estão as imagens

jacentes do imperador Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina. Lateralmente, ao fundo, no mesmo local, es-tão as imagens da princesa Isabel e do conde D’Eu.

Guardando o local onde a família imperial do Brasil encontrou seu descanso definitivo, o mausoléu remete também o visitante à base da construção da ca-tedral. “Provavelmente, não passaria de um sonho não fosse a insistência da princesa Isabel. Já no exílio, na França, em 1901, doou terrenos para a continuação das obras”, narra Tiago Maiworm.

Se o caminho da nave é deslumbrante, o da tor-re, aberto para visitas guiadas, é inesquecível. Do topo é possível apreciar os cinco sinos de bronze, fundidos na Alemanha, que pesam nove toneladas em conjunto. O maior deles, batizado São Pedro de Alcântara, pesa quatro toneladas e tem uma vibração particularmente preciosa, alcançando a extensão de 200 segundos. Des-sa área se descortina aos pés do visitante o Centro His-tórico de Petrópolis, um convite para uma caminhada pelo Brasil império.

PASSEIOS PARA TODOS OS DIAS

Qualquer época do ano combina com Petrópolis,

e a cidade combina com tudo. Com passeio histórico-cultural, encontro com a natureza, boa comida, vinho e cerveja. Do relógio de flores na Rua Barão do Amazonas

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às construções do século XIX, tudo é charme no muni-cípio, turístico por excelência, que oferece 89 hotéis e pousadas e mais de 160 restaurantes.

No verão, dias quentes e noites frescas convidam o visitante para caminhadas ecológicas, cachoeiras, cavalgadas, escaladas e arvorismo. Para os amantes da natureza, o destino é o Parque Nacional da Serra dos Órgãos. No inverno, o friozinho da serra e as noites estreladas são o cenário perfeito para um jantar a dois nos charmosos restaurantes, com grandes adegas e chefs de primeira.

Faça frio ou faça calor, não pode faltar o passeio pelo Centro Histórico da cidade, construída a man-do de dom Pedro II. Refúgio da família imperial para escapar dos sufocantes verões cariocas, Petrópolis guarda as marcas do segundo reinado e dos que a le-vantaram: os alemães, comandados pelo engenheiro Frederico Koeler, nascido no grão-ducado de Hesse-Darmstadt e naturalizado brasileiro.

Depois do banho de cultura, é hora do de loja. Os polos de moda da Rua Teresa e do Bingen merecem aquela “passadinha” obrigatória. Só nos dois quilôme-tros da Rua Teresa são 900 lojas, conhecidas pelo pre-ço baixo e qualidade alta, que contribuem com 14% da riqueza gerada pelo município. E mesmo se o cansaço já tiver batido, para terminar o dia, ou melhor, a noite na Cidade Imperial, gastronomia e boa música nas de-zenas de charmosos bares e casas noturnas do distrito de Itaipava.

Petrópolis está a 809 metros de altitude na Serra da Es-trela (denominação local da Serra do Mar), a 65 quilô-metros (uma hora de viagem) da capital do estado e a 40 minutos do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim

COMO CHEGAR: O acesso é pela BR-040. A viagem pode ser feita de carro ou de ônibus, que partem diariamente de todas as capitais do Sudeste para a cidade

LOCALIZAÇÃO DO MONUMENTO: Rua São Pedro de Al-cântara, 60, Centro

VISITAÇÃO: Diariamente, das 8h às 18h

VISITAÇÃO À TORRE: De terça-feira a sábado, das 11h às 17h; domingo, das 13h às 15h

INGRESSO (só para a torre): R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia, para idosos de 60 a 64 anos e estudantes de escolas pri-vadas); gratuito para estudantes de instituições públicas e maiores de 65 anos; para os moradores de Petrópolis, a entrada é franca toda quarta-feira

“Venho aqui pelo sentimento religioso que encontro na

catedral.”Darling do Espírito Santo

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a primeiraPaixãoVISTA

COMENTÁRIO SOBRE A BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL LUIZ DE BESSA É OVENCEDOR DO CONCURSO DA EXPEDIÇÃO CULTURAL ESTADO DE MINAS

Uma experiência mágica. Assim a engenheira belo-horizontina Sueli Santos, de 47 anos, descreve seu primeiro contato com a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, que ocorreu quando ela tinha 10 anos. Uma história de amor à primeira vista, que acaba de ga-nhar um capítulo especial. É que Sueli é a vencedora do concurso promovido pela Expedição Cultural, no qual os internautas podiam postar, em um blog, comentá-rios sobre os monumentos e sítios históricos e culturais visitados pelo projeto. Com inspiração de sobra, seu co-mentário sobre a Biblioteca Pública foi eleito o melhor entre os postados.

De 8 de junho a 18 de julho, os internautas pu-deram acompanhar, diariamente, as rotas da expedição por meio do blog do projeto. Como que um convite para viajar com as equipes, as pessoas achavam espaço para expressar suas impressões sobre os destinos ou mani-festar os motivos pelos quais gostariam de conhecê-los. Ao final, uma comissão avaliou os comentários,

até chegar àquele que, no caso a autora, de fato pegou carona com a expedição.

Sueli foi uma das que aceitaram o chamado e subiu a bordo na expedição. “Sempre acessava o site. Queria saber qual seria o destino visitado naquele dia”, conta. Como prêmio, ela poderá escolher uma entre três rotas visitadas pela expedição para viajar. “Alguns lugares já conheço, mas é sempre uma experiência. A cada vez que se visita um lugar, a cabeça se abre e fica-mos enriquecidos.”

O envolvimento de Sueli com o projeto foi tanto que, dos 10 comentários pré-selecionados pela comis-são julgadora, cinco eram de sua autoria. Entre eles, contudo, o da biblioteca tem caráter especial para a en-genheira: “Na escola em que estudava havia uma peque-na biblioteca e eu já era fascinada, porque naquela época não tínhamos tanto acesso à literatura. Quando entrei na Luiz de Bessa, fiquei impressionada”, recorda.

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EXPEDIÇÃO CULTURAL

@ DIRETO DO BLOG: “Desde criança, via as bibliotecas como um templo. Um lugar mágico, cheio de estórias e história, um mundo do saber a ser descoberto. O silêncio, o cheiro dos livros, a luz oblíqua vinda da janela, formando um ambiente místico. Uma igreja dedica-da ao conhecimento. E assim foi minha primeira visita à Biblioteca Pública. Hoje, passei a admirá-la com outros olhos. Sem tanta ma-gia, mas com igual fascínio porque passei a vê-la como parte de um dos mais completos conjuntos arquitetônicos do país. Mas ainda consigo ver através dos anos e me lembrar daquele dia mágico em que a visitei pela primeira vez.”

Sueli Santos

SUELI SANTOS – FOTO: MARIA TEREZA CORRÊA/EM/D.A PRESS

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Diretor-presidente: Álvaro Teixeira da CostaDiretor-geral: Édison ZenóbioDiretor-executivo: Geraldo Teixeira da Costa NetoDiretor de redação: Josemar Gimenez de ResendeDiretor de finanças: Hélio AmoniDiretor de tecnologia: Guilherme MachadoDiretor de publicidade: Mário NevesDiretor jurídico: Joaquim de FreitasEditor-geral: João Bosco Martins SallesSuperintendente de circulação: Caio Braga NettoConselho editorial: Cyro Siqueira e Fábio Proença Doyle

CirculaçãoAssinaturas Belo Horizonte (31) 3263-5800Outras localidades 0800 031 5005Venda avulsa capital e Contagem (31) 3263-5830Interior de Minas Gerais 0800 282 5062

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Revista Especial ExpediçãoCultural Estado De Minas

Editor: Arnaldo VianaEditor de artes gráficas: Álvaro DuarteTextos: Rachel Botelho e Bárbara FonsecaFotografias: João Marcos Rosa, Leo Drumonde Bruno Magalhães/ESP./EMProjeto gráfico e diagramação: Greco DesignImpressão: PosigrafDistribuição: EM LogTiragem: 56 mil exemplares

SedeAv. Getúlio Vargas, 291 – FuncionáriosCep: 30112-020Tel geral (31) 3263-5000Belo Horizonte-MG

Fundado em 7 de Março de 1928Fundador dos Diários Associados:Assis Chateaubriand

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EXPEDIÇÃO CULTURAL

Para o Estado de Minas, fazer parte da vida cultural de Minas Gerais não é uma opção, é um dever. Dever que o

jornal cumpre com alegria e prazer, por meio de patrocínios, apoios, promoção e apresentação das mais diversas

expressões culturais e artísticas. Além disso, o Clube A oferece vantagens e benefícios exclusivos em shows e espetáculos

e brindes culturais aos assinantes do Estado de Minas. O grande jornal da cultura. O grande jornal dos mineiros.

No último ano, o Estado de Minas apoiou mais de 500 eventos culturais, entre shows, festivais de gastronomia, danças, artes

plásticas, espetáculos teatrais, encontros culturais, arquitetura e decoração, pré-estreias e sessões exclusivas de cinema.

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