Experiência, Subjetividade e Autonomia; Uma Reflexão Para o Ensino Emancipatório

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    Experincia, subjetividade e autonomia: uma reflexo para o ensinoemancipatrio.

    LITON DIAS DA SILVA

    RESUMO

    Este trabalho tem por finalidade trazer algumas reflexes tericas alcanadas durante o

    percurso de desenvolvimento do !rojeto !ibid"#ilosofia$ problematizar a relao de ensino%

    aprendizagem em filosofia e pensar os elementos constituintes da noo de experincia

    filosfica: a filosofia, o professor e o estudante. &oncebemos a filosofia como um saber, um

    tipo de conhecimento 'ue no se desenvolveu de forma linear e suced(neo % de modo 'ue as

    proposies filosficas de outrora continuam a ter validade como proposta de viso demundo. ) professor, por sua vez, * algu*m 'ue pertence a esta tradio legada pelos filsofos

    ao longo de mais dois milnios. + partir de egel, pensamos a filosofia como um legado da

    cultura e do conhecimento, confiado ao professorado, cabendo%lhe, portanto, a tarefa de

    conserv-%lo e transmiti%lo. &ontudo, tendo em vista a 'ue o estudante, bem como o professor,

    so indivduos dotados de uma subjetividade, entendemos como problem-tica a noo de

    transmisso defendida por egel. ) problema filosfico pode ser o elo entre a subjetividade

    dos sujeitos envolvidos no processo do ensino da filosofia, haja vista o conhecimentofilosfico aparecer como um saber indissoci-vel do problema, um problema no 'ual o

    estudante de filosofia se v como parte$ indissoci-vel, portanto, do indivduo 'ue por ele se

    interessa. +ssim, a relao com a filosofia aparece como conse'uncia de um mover livre e

    decidido de um sujeito em direo ao conte/do filosfico, o pensamento do filsofo mediado

    pelo professor, en'uanto ator e elemento desta relao, movimento este intrinsecamente

    relacionado ao problema e 0 'uesto colocada, 'ue proporcionam uma autntica experincia

    filosfica. &ontudo, nos perguntamos at* 'ue ponto esta relao professor"estudante"filosofia

    no se configuram numa sujeio do pensamento, formatao da pessoa, enfim, em uma

    relao heter1noma 'ue impossibilita a emancipao e a autonomia. Esta reflexo nos

    conduziu a uma pergunta ainda mais elementar, o 'ue * a autonomia2 #omos buscar

    referencial terico em um dos grandes pensadores deste conceito na modernidade, 3mmanuel

    4ant. !ara o filsofo de 4onigsberg, o homem * resultado de um processo educacional, sem o

    'ual no desenvolveria as suas disposies naturais. + autntica educao no * mec(nica, de

    acordo com as circunst(ncias, mas, submetida 0 razo, 'ue se orienta para um ideal de

    humanidade e sociedade, 'uando o homem se reconhece como sujeito epistmico,

    transcendental, apto a conhecer o mundo, dono de sua ao moral e de aes livres,

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    contingentes e aut1nomas. + subjetividade * a autoconscincia, onde o sujeito se pensa numa

    atitude especulativa, fazendo com 'ue a razo justifi'ue a si mesma, bem como 0s suas

    possibilidades. !ortanto, a personalidade * definida a partir do homem como ente racional e

    respons-vel por si. + autonomia 5antiana s pode ser compreendida como capacidade de

    autodeterminao, na sua vontade legisladora, de estabelecer e concretizar fins no mundo

    social$ para tanto, conscientemente de sua liberdade, a razo por seu dever se submeter 0s

    regras sociais, 0 disciplina, enfim, 0 transformao de um eu egosta em um eu altrusta. 6ale

    ponderar 'ue este trabalho possui resultados parciais, pois, embora as reflexes a'ui

    apresentadas sejam importantes, elas objetivam a construo de um percurso de pensamento

    'ue deve nos conduzir 0 compreenso de subjetividade e autonomia na contemporaneidade.

    PALAVRAS-CHAVE: autonomia$ subjetividade$ experincia

    1. O despertar para o problema do ensino de filosofia.

    Este trabalho se desenvolve a partir das atividades desenvolvidas no (mbito do

    !rograma 3nstitucional de 7olsa de 3niciao 0 8ocncia, licenciatura em #ilosofia, da

    9niversidade Estadual !aulista, binio ;

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    disciplina na educao b-sica para a formao do cidado e do sujeito crtico, aos conte/dos a

    serem ensinados e 0 formulao de uma metodologia do ensino filosfico BAEC+D), ;;,

    p.

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    de forma linear e suced(neo. +o contr-rio, a trajetria do conhecimento filosfico est- mais

    prxima de ser melhor simbolizada por uma espiral. N+ filosofia se alimenta continuamente

    de si mesma e de sua prpria histriaO, conforme j- argumentava )sPaldo !orchat B

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    contempor(neo. Esta concepo vai ao encontro do 'ue pensa Cuc #errR, filsofo francs, 'ue

    v a filosofia como uma proposta secular de salvao:

    no se filosofa por divertimento, nem mesmo apenas para compreender o mundo e

    conhecer melhor a si mesmo, mas, 0s vezes, para Ssalvar a peleT. - na filosofiaelementos para vencermos os medos 'ue paralisam a vida, e * um erro acreditar 'ue

    a psicologia poderia, nos dias de hoje, substitu%la. B#E@@U, ;;V, p.

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    ) tesouro da cultura dos conhecimentos e das verdades, no 'ual trabalham as

    *pocas passadas, foi confiado ao professorado, para conserv-%lo e transmiti%lo 0

    posteridade. ) professor tem de se considerar como o guarda e o sacerdote

    dessa luz sagrada, para 'ue ela no se apague e a humanidade no recaia na noite da

    antiga barb-rie. BEAEC,

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    0. A e!peri$n#ia filos%fi#a na perspe#ti*a da s(b)eti*idade do est(dante.

    + histria da filosofia se desenvolve a partir de dois elementos centrais: o problema

    'ue afetou o filsofo, t,aumaze-#.e as solues 'ue estes lhe apresentaram. L conveniente,

    pois, pensarmos o ensino da filosofia de um modo semelhante, ou seja, a constituio do

    problema filosfico como ponto de partida para o ensino"aprendizagem. Este problema

    precisa ser indissoci-vel, do sujeito 'ue por ele se interessa, um saber 'ue o modifi'ue e o

    altere no modo de sua subjetividade.

    8esse modo, ensinar filosofia no * proferir longos discursos descrevendo os sistemas

    e doutrinas filosficas$ * alcanar um problema a ser desenvolvido. =o Em/l!o, @ousseau

    crtica 0 educao NtagarelaO de seu tempo, 'ue por meio de um ensino representacional

    apresenta o signo e afasta as coisas do educando, o 'ue, al*m de gerar uma experincia 'ue

    ser- facilmente es'uecida, no forma seno sujeitos f-ceis de serem convencidos e

    manipulados por bons oradores.

    &olocai 'uestes ao seu alcance e deixai 'ue ele as resolva. Mue nada ele saiba

    por'ue lhe dissestes, mas por'ue ele prprio compreendeu$ no aprenda ele a

    cincia, mas a invente. >e alguma vez substituirdes em seu esprito a razo pela

    autoridade, ele j- no raciocinar- e no ser- mais do 'ue joguete da opinio dos

    outros. B@)9>>E+9, ;;I, p. ilvio Aallo, NMueremos certezas para

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    educar$ 'ueremos fundamentos slidos para ancorar nossos projetos educativos. =o

    'ueremos experincia, no 'ueremos riscos.O BA+CC), ;;H, p. HJG

    ) ensino emancipatrio passa pela noo de experincia, en'uanto esta passa pela

    noo de subjetividade. + experincia depende da subjetividade, da imanncia do indivduo

    nas suas relaes estabelecidas com o mundo. Aelamo, comentando 8eleuze e Auattari,

    argumenta 'ue o sujeito no pode mais ser pensado nos termos de subst(ncia e identidade,

    no pode seno ser pensado como um modo de subjetivao,

    =o podemos supor a existncia de uma conscincia"sujeito 'ue esteja fora da

    imanncia 'ue seja respons-vel por determinar os modos de subjetivao, ou, ainda,

    'ue se distancie da imanncia para pens-%la. +o contr-rio, * no e pelo tensionamento

    da imanncia 'ue decorrem os modos de subjetivao como um processo de

    singularizao no e do mundo, no sendo possvel separar esses processos da prpria

    imanncia. BAEC+D), ;;, p.

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    Existir como sujeito significa, assim, 'ue no preciso referir%me a outro ser, a uma

    outra existncia para definir%me, para compreender%me, para justificar o 'ue sou.

    +'uilo 'ue em mim no depende de mim no * verdadeiramente eu mesmo.

    B63=&E=?3, p. JG.

    8esse modo, compreende%se 'ue a noo de sujeito exprime e se vincula, tamb*m, ao

    conceito de liberdade, haja vista 'ue o sujeito seria a'uele 'ue mant*m a si mesmo na

    existncia, sem a dependncia de determinaes externas, seno 0'uelas derivadas de sua

    prpria racionalidade, portanto, a liberdade * uma 'ualidade essencial do sujeito filosfico.

    !ara 4ant, portanto, N) sujeito moral * ento sujeito integral, por si s sujeito da ao e do

    conhecimento, simultaneamente.O B 6incent, p.

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    'ual'uer empreendimento ilustrativo permanecer- vazio, conforme argumenta 4ant: N=o se

    trata, pois, de enviar as crianas 0 escola para 'ue ai apreendam alguma coisa, mas, 'ue

    somente se acostumem a permanecer sentadas tran'uilamente.O #ica, posposto, ento o

    problema de como aliar uma coero sobre o indivduo e liberdade:

    N9m dos maiores problemas da educao * o seguinte: de 'ue modo unir a

    submisso sob uma coero legal com a faculdade de se servir de sua liberdade2

    !ois a coero * necess-ria[ Das como eu posso cultivar a liberdade sob a coero2

    4ant,3efle45es so"re a educa%o, p. JV.

    !ara 4ant, a liberdade no apenas coexiste com a coero, bem como a re'uer para

    'ue possa se efetivar$ para no se e'uivocar nesta relao, faz%se necess-rio compreender 'ue

    a coero no incide sobre a liberdade, mas sobre uma liberdade ilusria, 'ue se coloca como

    obst-culo para o desenvolvimento de uma verdadeira liberdade, uma liberdade transcendental.

    B6incent, p. ;G ?rata%se primeiramente, de uma liberdade 'ue est- sempre vinculada 0

    vontade, 'ue de imediato no pode ser livre, Nindependente das condies empricasO, 'uando

    determinada por seu conte/do$ a autonomia da vontade reside, pois na forma desta mesma

    vontade, no por a'uilo 'ue ela 'uer. &onforme comenta 6incent:

    N!ode%se ento, apresentar uma definio positiva da liberdade como autonomia da

    vontade, esta /ltima dando%se, a ela mesma e por ela mesma, sua lei de

    determinao. L apenas por esta condio 'ue a vontade pode ser verdadeiramente

    livre, e toda liberdade humana autntica baseia%se na conscincia desta lei moralO.

    B63=&E=?, p.

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    fen1menos, mas 'ue, ele mesmo, no seria submetido 0s condies da sensibilidade, e no

    seria se'uer um fen1menoO. B4+=?, &rtica da @azo !ura, endo forma ela no teria ainda um conte/do. !or*m, en'uanto *

    antecipadora, uma orientao em direo a um conte/do 'ue deveria colocar um

    termo 0 expectativa 'ue ela constitui, a 'uesto no possui uma forma pura, no

    sentido da lgica formal, mas uma forma indicadora, reclamando de algum modo o

    conte/do apropriado e, neste sentido, ela tem em si mesma, como 'uesto, um

    conte/do Y...Z Bcf. Cadriere,

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    muito menos 'uestes fundamentais no se encontram to facilmente como pedras ou -gua.

    Muestes no se do 0 maneira de sapatos ou roupas ou livros.] B\97E=,

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    AEC+D), @. !.E#s!#o da f!losof!a #o l!m!ar da co#tempora#e!dade6 O ue faz o f!l)sofoua#do o seu of/c!o * ser professor de f!losof!a< >o !aulo: &ultura +cadmica, ;;.

    EAEC, #.D!scurso so"re a educa%o9Cisboa: Edies &olibri, o !aulo, Editora 7rasiliense, pp. F%>E+9, X%X. Em/l!oou da educao. ?rad. @oberto Ceal #erreira. Q ed. >o !aulo:Dartins #ontes, ;;I.

    >K) !+9C). Secretar!a de Estado de Educa%o9 D!spo#/1el em6http:""desulQ.edunet.sp.gov.br"E+ssuntos;do;>ite"matrizcurricularparaoensmedio.pdf. +cesso em: "