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EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS COMO FERRAMENTA DE IMERSÃO NA PAISAGEM PREEXISTENTE: Estudos Para Salvaguarda Do Patrimônio Urbano Industrial. CHAPARIM, MATHEUS A. S. (1); HIRAO, HÉLIO (2). 1. Universidade Estadual Paulista. Campus Presidente Prudente Rua Rosa Cavagnoli, 110 [email protected] 2. Universidade Estadual Paulista. Campus Presidente Prudente Rua Roberto Simonsen, 305 [email protected] Resumo Os bens urbano-industriais foram e são elementos muito representativos nas paisagens das cidades. Constituem símbolos de um processo que alterou as dinâmicas urbanas e transformou suas estruturas. Estas preexistências além de possuírem o potencial para novos usos têm o papel de assegurar a memória coletiva, a identidade e o sentimento de pertencimento das sociedades. No entanto, suas grandes estruturas, hoje muitas vezes sem função, e as rápidas transformações urbanas, sociais, econômicas e demográficas das últimas décadas, fazem muitos destes testemunhos serem abandonados ou até destruídos, e, consequentemente, o impacto na paisagem é evidente. A maneira de se intervir nesse legado com a finalidade de retorná-lo para a cidade e a população sem perder suas características intrínsecas, torna-se o maior desafio para os profissionais e projetistas da área. Desta forma, este trabalho, parte de uma pesquisa com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, expressa o esforço metodológico de sintetizar as experiências sensoriais vividas, sentidas e percebidas das ambiências desses lugares. De maneira condizente e respeitosa, busca expor graficamente a percepção pessoal do pesquisador, sem perder de vista a necessidade de um esforço de interpretação caso a caso. Primeiramente, desenvolve uma revisão bibliográfica e documental sobre conceitos relacionados com o patrimônio industrial e sua paisagem específica, para em seguida, elaborar sua revisão diacrônica e evolutiva. Esta etapa visa fornecer a base conceitual para referenciar a investigação. Em uma segunda etapa, desenvolve visitas de campo destinadas a obtenção de dados e variáveis acerca desta paisagem da produção. Nestas visitas se produz sinergias e contatos entre investigadores, agentes sociais e culturais, técnicos municipais e da administração pública. Também são feitas percepções de fundo fenomenológico, identificando os pontos de maior circulação, vivências e visuais predominantes, assim como uma compreensão subjetiva da atmosfera do local. Entende que cada uma dessas fases constitui um “extrato” das informações da situação atual, e a sobreposição delas resulta em um diagnóstico das análises realizadas durante a pesquisa. Visa assim, subsidiar possíveis propostas para a salvaguarda da preexistência. Como resultado, têm-se uma caracterização da paisagem cultural deste sistema patrimonial específico, o que facilita seu re-conhecimento e a compreensão de seu contexto territorial, descrevendo e sistematizando seus atributos espaciais, além de identificar suas conexões e fluxos. Também trabalha com conceitos abstratos, mapeando seus resultados em um protótipo cartográfico. Uma metodologia multiescalar, que utiliza de fontes documentais e bibliográficas diversas, desenvolvendo uma estratégia de aproximação através de visitas e entrevistas aos agentes sociais, técnicos e administrativos locais, mapeando as camadas de análise em uma representação cartográfica de fundo fenomenológico e abstrato. Palavras-chave: Paisagem da produção; sistemas patrimoniais industriais; deriva.

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EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS COMO FERRAMENTA DE IMERSÃO NA PAISAGEM PREEXISTENTE: Estudos Para Salvaguarda Do

Patrimônio Urbano Industrial.

CHAPARIM, MATHEUS A. S. (1); HIRAO, HÉLIO (2).

1. Universidade Estadual Paulista. Campus Presidente Prudente

Rua Rosa Cavagnoli, 110 [email protected]

2. Universidade Estadual Paulista. Campus Presidente Prudente

Rua Roberto Simonsen, 305 [email protected]

Resumo Os bens urbano-industriais foram e são elementos muito representativos nas paisagens das cidades. Constituem símbolos de um processo que alterou as dinâmicas urbanas e transformou suas estruturas. Estas preexistências além de possuírem o potencial para novos usos têm o papel de assegurar a memória coletiva, a identidade e o sentimento de pertencimento das sociedades. No entanto, suas grandes estruturas, hoje muitas vezes sem função, e as rápidas transformações urbanas, sociais, econômicas e demográficas das últimas décadas, fazem muitos destes testemunhos serem abandonados ou até destruídos, e, consequentemente, o impacto na paisagem é evidente. A maneira de se intervir nesse legado com a finalidade de retorná-lo para a cidade e a população sem perder suas características intrínsecas, torna-se o maior desafio para os profissionais e projetistas da área. Desta forma, este trabalho, parte de uma pesquisa com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, expressa o esforço metodológico de sintetizar as experiências sensoriais vividas, sentidas e percebidas das ambiências desses lugares. De maneira condizente e respeitosa, busca expor graficamente a percepção pessoal do pesquisador, sem perder de vista a necessidade de um esforço de interpretação caso a caso. Primeiramente, desenvolve uma revisão bibliográfica e documental sobre conceitos relacionados com o patrimônio industrial e sua paisagem específica, para em seguida, elaborar sua revisão diacrônica e evolutiva. Esta etapa visa fornecer a base conceitual para referenciar a investigação. Em uma segunda etapa, desenvolve visitas de campo destinadas a obtenção de dados e variáveis acerca desta paisagem da produção. Nestas visitas se produz sinergias e contatos entre investigadores, agentes sociais e culturais, técnicos municipais e da administração pública. Também são feitas percepções de fundo fenomenológico, identificando os pontos de maior circulação, vivências e visuais predominantes, assim como uma compreensão subjetiva da atmosfera do local. Entende que cada uma dessas fases constitui um “extrato” das informações da situação atual, e a sobreposição delas resulta em um diagnóstico das análises realizadas durante a pesquisa. Visa assim, subsidiar possíveis propostas para a salvaguarda da preexistência. Como resultado, têm-se uma caracterização da paisagem cultural deste sistema patrimonial específico, o que facilita seu re-conhecimento e a compreensão de seu contexto territorial, descrevendo e sistematizando seus atributos espaciais, além de identificar suas conexões e fluxos. Também trabalha com conceitos abstratos, mapeando seus resultados em um protótipo cartográfico. Uma metodologia multiescalar, que utiliza de fontes documentais e bibliográficas diversas, desenvolvendo uma estratégia de aproximação através de visitas e entrevistas aos agentes sociais, técnicos e administrativos locais, mapeando as camadas de análise em uma representação cartográfica de fundo fenomenológico e abstrato. Palavras-chave: Paisagem da produção; sistemas patrimoniais industriais; deriva.

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho constitui uma tentativa de construção metodológica de um reconhecimento da

paisagem preexistente, por via da imersão em seu contexto territorial. Durante o transcurso

das investigações – financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP), houve a oportunidade, por intermédio da cooperação com o grupo de pesquisa

“Andalucía Transversal” da Universidad de Sevilla, de se ter o contato com outra realidade, no

caso, a Espanha. Como fruto desse intercâmbio, a aproximação das experiências sensoriais

como parte constitutiva da construção de seus resultados, levou ao interesse por seu

aprofundamento, visando o aprimoramento para futuras pesquisas.

A investigação no Brasil possui como objeto de estudo sistemas patrimoniais

histórico-industriais do Estado de São Paulo, analisando suas intervenções projetuais.

Durante os estudos no exterior, foi analisada a antiga fábrica de cerâmica do Conjunto

Monumental de La Cartuja, de Sevilha, com todo o seu potencial de valorização e reativação.

Assim, criaram-se subsídios para uma posterior transferência de conhecimento com uma

análise comparativa entre os casos - Andaluz e Paulista.

A pesquisa primeiramente desenvolve uma revisão bibliográfica e documental sobre

conceitos relacionados com o patrimônio industrial e sua paisagem específica, para em

seguida, elaborar sua revisão diacrônica e evolutiva. Esta etapa visa fornecer a base

conceitual para referenciar a investigação. Em uma segunda fase, visitas de campo

destinadas à obtenção de dados e variáveis acerca desta paisagem da produção são

realizadas, produzindo sinergias e contatos entre investigadores, agentes sociais e culturais,

técnicos municipais e da administração pública.

Por fim, são feitas percepções de fundo fenomenológico, identificando os pontos de maior

circulação, vivências e visuais predominantes, assim como uma compreensão subjetiva da

atmosfera1 do local, buscando expor graficamente a percepção pessoal do pesquisador, sem

perder de vista a necessidade de um esforço de interpretação caso a caso.

Como resultado, tem-se uma caracterização da paisagem cultural deste sistema patrimonial

específico, o que facilita seu re-conhecimento e a compreensão de seu contexto territorial,

descrevendo e sistematizando seus atributos espaciais, além de identificar suas conexões e

fluxos, e ainda, trabalhar com conceitos abstratos. Entende-se que cada uma dessas fases

1 O conceito de Peter Zumthor “Atmosferas”, de sua obra “Atmosferas: Entornos Arquitetônicos – As coisas que me

rodeiam”.

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constitui um “extrato” das informações da situação atual, e a sobreposição dessas análises

subsidia um diagnóstico com possíveis propostas para salvaguarda do objeto de estudo.

2 O PATRIMÔNIO INDUSTRIAL

Os bens urbano-industriais foram e são elementos muito representativos nas paisagens das

cidades. Constituem símbolos de um processo que alterou as dinâmicas urbanas e

transformou suas estruturas. Estas preexistências além de possuírem o potencial para novos

usos têm o papel de assegurar a memória coletiva, a identidade e o sentimento de

pertencimento das sociedades.

No entanto, suas grandes estruturas, hoje muitas vezes sem função, e as rápidas

transformações urbanas, sociais, econômicas e demográficas das últimas décadas, fazem

muitos destes testemunhos serem abandonados ou até destruídos (KÜHL, 1998, p. 221), e,

consequentemente, o impacto na paisagem é evidente.

A situação da preservação do patrimônio industrial se torna delicada, pois muitas vezes

ocupam vastas áreas dos centros urbanos com falta de rentabilidade. Além disso, há

questões como a ausência de sensibilidade em relação a esses conjuntos arquitetônicos,

vistos apenas como espaços livres e versáteis, que após tomarem novos usos perdem suas

especificidades (KÜHL, 2008). A preocupação por sua obsolescência é evidente, já que

grande parte está abandonada e subutilizada em meio à trama urbana, sofrendo fortes

pressões políticas, econômicas e especulativas (SOUKEF, 2012, p. 22).

Por conta disso, é preciso que o debate sobre como tratar estes bens seja aprofundado,

buscando conciliar a teoria com a prática. Esta é a única saída para preservar as

características únicas e irreproduzíveis desses conjuntos industriais de interesse cultural, não

sendo possível se contentar somente com o tombamento como ferramenta de proteção

(SOUKEF JR, 2012, p. 22-23).

Por outro lado, o interesse pelos edifícios patrimoniais tem aumentado cada vez mais nos

últimos anos, não só porque sua consciência como um valor histórico se ampliou, mas

também, por outras razões, relacionadas com o crescimento e desenvolvimento das cidades

(como a expansão da população e a saturação territorial), exigindo o desenho de novas

propostas e a criatividade nos projetos para satisfazer as necessidades atuais da sociedade.

Segundo Sanchiz (2015, p. 1), o patrimônio industrial na cidade contemporânea, em especial,

naquelas que experimentaram processos de industrialização mais intensos, são um problema

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de difícil gestão. Para o autor (2015, p. 10-11), o patrimônio industrial é um possível recurso

para a cidade, desde que seja realizada uma ativação apropriada, buscando o equilíbrio entre

a memória e a função.

Estes bens industriais, que incluem os ferroviários, tornam-se relevantes pelas suas formas,

variedades e riquezas históricas. Sem contar que suas localizações em áreas centrais tornam

sua transformação particularmente interessante para usos institucionais, comerciais, de

serviços, etc., dada a sua primitiva característica como centro de convergência de pessoas

(KÜHL, 1998a, p. 239).

Com relação aos estudos para a intervenção projetual, Kühl (1998, p.239) ressalta:

[...] Uma edificação não é apenas um objeto estético, mas engloba aspectos materiais e estruturais. Um estudo para sua restauração deveria visar também à preservação de sua tipologia construtiva, procurando conservar o documento autêntico de uma dada técnica de construção. A escolha de uma nova função deveria ser, então compatível com suas características espaciais e estruturais (KÜHL, 1998, p. 239).

O debate sobre a forma de atuar na preexistência persiste até os dias de hoje. Os projetos de

intervenção implicam mudanças no patrimônio a preservar e são subsidiados pelos princípios

estabelecidos pelos teóricos da conservação e da restauração, como também, por diretrizes

das cartas patrimoniais.

Assim, a maneira de se intervir nesse legado com a finalidade de retorná-lo para a cidade e a

população sem perder suas características intrínsecas, tratando de preservar e conservar os

diversos tempos de sua apropriação além de manter a atmosfera de seu antigo espaço físico,

torna-se o maior desafio para os profissionais e projetistas da área.

2.1 O Contexto Espanhol

Segundo Morales (2001, p. 204), nos últimos anos se registrou na Espanha importantes

iniciativas para a preservação do patrimônio industrial, desenvolvendo-se em cada

comunidade autônoma estratégias próprias, ao calor dos avanços regionais depois da Lei

Estatal de Patrimônio Histórico de 1985.

Todavia, os novos usos culturais e recreativos que se dão ao Patrimônio Industrial são o

reflexo da profunda mudança de mentalidade que a sociedade capitalista tem experimentado.

Sedenta por vínculos que a enraíze em sua própria realidade confere valor histórico para as

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experiências mais próximas, transformando os antigos espaços de trabalho em museus,

cenários para a arte e a cultura ou para o lazer (MORALES, 2001, p. 204).

Para Aguilar (2001, p. 168-169), além da precária legislação sobre o patrimônio industrial,

faz-se necessário pensar nas possibilidades para estas grandes construções, originalmente

situadas na periferia e que hoje se encontram em pleno centro urbano. A adaptabilidade de

sua tipologia arquitetônica favorece a utilização destes espaços para outros usos. No entanto,

tudo se tem realizado sem critério, sem uma seleção prévia ou alguma legislação que controle

as demolições e critérios sobre as intervenções.

Segundo a autora, a recuperação e conservação do patrimônio industrial devem estar

estreitamente ligadas a Arqueologia Industrial (a disciplina científica que desde sua origem

mantém uma íntima relação com o movimento de revalorização do patrimônio industrial), que

deve orientar a realização dos trabalhos e assessorar a administração sobre as

potencialidades culturais e educativas destes bens (AGUILAR, 2001, p. 160).

Em 2007 foi aprovada a “Ley de Patrimonio Histórico de Andalucía”, que possui quatro artigos

que descrevem sobre as questões relativas à preservação do Patrimônio Industrial. Define-o

como estando integrado “por el conjunto de bienes vinculados a la actividad productiva,

tecnológica, fabril y de la ingeniería de la Comunidad Autónoma de Andalucía en cuanto son

exponentes de la historia social, técnica y económica de esta comunidad”, além de ressaltar

que “El paisaje asociado a las actividades productivas, tecnológicas, fabriles o de la ingeniería

es parte integrante del Patrimonio Industrial, incluyéndose su protección en el Lugar de Interés

Industrial” (LEY DE PATRIMONIO HISTÓRICO DE ANDALUCÍA, 2008).

2.2 A Arquitetura Industrial em Andaluzia

Para Sobrino (1998, p. 10), o processo de criação das tipologias industriais esteve

estreitamento ligado aos movimentos de mudanças, sociais e políticas, que marcaram a

Europa desde a revolução francesa. No caso de Andaluzia, a arquitetura da indústria permite

conhecer algumas das chaves ocultas do desenvolvimento econômico desta região.

Nas palavras de Sobrino (1998, p. 10):

[…] en Andalucía se produjo un modelo diferente de industrialización, ni mejor, ni peor que otros, simplemente el que aquí se pudo llevar a término teniendo en cuenta las condiciones estructurales de esta región y que, para el tema que ocupa, tendrá un reflejo importante en los edificios industriales.

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Desde o ponto de vista da arquitetura industrial, o território foi um dos principais fatores que

possibilitaram os diversos modelos de industrialização que ocorreu nesta região. Existe uma

diversidade territorial enorme como consequência da interação de vários fatores físicos como

o relevo, o clima, os solos ou a vegetação (SOBRINO, 1998, p.21).

Segundo Sobrino (2015, p.184), as principais dificuldades para executar a gestão dos projetos

dos antigos espaços industriais são:

[…] el resultado de su ubicación dispersa en un territorio muy extenso, los diferentes y conflictivos entornos políticos, sociales y económicos, las distintas culturas de gestión de los proyectos y el escaso uso de las herramientas de trabajo colaborativo en red. (SOBRINO, 2015, p.184).

Para o autor (2015, p.184), as áreas industriais abandonadas deveriam constituir uma

prioridade em Andaluzia, por suas capacidades para revitalizar zonas que possuem elevados

índices de desemprego ou contaminação ambiental e desarticulação social.

3 O Caso de Sevilha

A área que hoje ocupa a cidade de Sevilha (capital da Comunidade Autônoma de Andaluzia),

em ambas as margens do Rio Guadalquivir, em seus tempos primitivos era constituída por

terrenos praticamente inabitáveis devido as suas enchentes. Assim mesmo, a civilização

tartésica criou os laços mais íntimos com as origens da cidade (MANTERO, 2015).

A época romana, por sua vez, foi muito importante e marcou Sevilha para sempre. No entanto,

próximo do ano 409 d.C., povos do norte da Europa invadiram o solo peninsular, entre eles, os

visigodos foram os que mais propiciaram mudanças profundas na cidade. Todavia, o auge da

Sevilha visigótica foi interrompido com a chegada dos árabes (MANTERO, 2015).

A ocupação da Sevilha islâmica durou cinco séculos – uma fase na qual os judeus, árabes e

cristãos povoavam a cidade, até que o rei Fernando III “o Santo”, consegue a Reconquista, em

finais de novembro de 1248 (MANTERO, 2015).

O “descobrimento da América” também mudou o destino de Sevilha, pois a cidade foi eleita

como a detentora da exclusividade nas relações com o novo continente. Fato este, explicado

por ter seu porto no interior (via Rio Guadalquivir), tornando-o mais protegido contra ataques

(MANTERO, 2015).

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Em torno do século XIX, a incorporação dos avanços técnicos em Sevilha, como obras de

infraestrutura e de melhoria dos serviços públicos, contribuiu de maneira definitiva para mudar

a imagem da cidade. A venda dos imóveis eclesiásticos teve grande importância na

configuração do espaço industrial da primeira revolução industrial em Sevilha. Feito que teria

uma influência extraordinária na cidade, com o aparecimento de uma burguesia local de

vocação rentista, além da modificação de seu espaço urbano e a mudança de uso dos antigos

edifícios religiosos reutilizados para fins comerciais e industriais (SOBRINO, 2015b, p.

165-166).

Ao passo que não conseguiu criar um tecido empresarial e industrial que potencializaria o

desenvolvimento econômico e social da cidade, Sevilha também se converteu em um foco de

atração turística cada vez mais importante, o que permitiu um crescimento notável do setor de

serviços. O papel destacado no panorama nacional, que teve em outros tempos, não foi

alcançado, mas a cidade experimentou uma indubitável modernização e se converteu em

uma das cidades mais atrativas e acolhedoras do país (MANTERO, 2015, p.166-167).

Contudo, atualmente muitas das antigas fábricas que proporcionaram riqueza e emprego para

Sevilha se converteram em um conflito para a administração municipal, que se vê diante do

desafio de dar novos usos a estes edifícios. Mesmo que por um período tenham sido

menosprezados, começam a ser reconhecidos e valorizados como uma parte substancial do

patrimônio cultural Andaluz (SEVLAB, 2015).

3.1 O Conjunto Monumental da Cartuja

O Conjunto Monumental da Cartuja de Sevilha está situado na costa direita do Rio

Guadalquivir, na “Ilha da Cartuja” (Figura 1). O Conjunto, que também é conhecido por

Monasterio de Santa María de las Cuevas, foi declarado Monumento Histórico e Artístico em

1964. Sua última modificação mais incisiva ocorreu para a celebração da Exposição Universal

de Sevilha, em 1992. (ALBIÑANA, 2011, p.1).

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Figura 1 – Localização do Monastério da Cartuja

Fonte: Google Earth. Editado. 2016.

O local primeiramente foi construído como Monastério, em 1400, tornando-se quartel das

tropas napoleônicas entre os anos de 1810 e 1812. Já em 1839 foi comprado pelo Inglês

Charles Pickman, que o transformou em fábrica de cerâmica, em 1841 (CAAC, 2015).

As adaptações para as necessidades da fábrica em um primeiro momento foram respeitosas,

mas a demanda da produção fabril propiciou a transformação do monastério original. Várias

chaminés e dez fornos, cinco dos quais ainda estão de pé, foram construídos e determinaram

a atual concepção visual do monumento (SEVLAB, 2015).

A fábrica de cerâmica esteve em Sevilha até o ano de 1982, quando o Governo expropriou os

terrenos para a “Espo’92”, movendo-a para Santiponce, onde se encontra até os dias de hoje

(MORAIS, 2008, p.1).

Em 1986, a Junta de Andalucía começou os projetos de restauração para converter o local em

Pavilhão Real para a Exposição Universal de Sevilha. Foi neste novo contexto, que em 1989

se criou o “Conjunto Monumental de la Cartuja de Sevilla”, com a missão de tutelar o

monumento, transformando-o ao mesmo tempo em um centro de pesquisa e difusão cultural.

(CAAC, 2015).

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Todavia, percebe-se que os registros materiais do período industrial agora se encontram

pontuais e fragmentados no conjunto da Cartuja, sendo poucos respeitados nos projetos de

intervenções pelos quais passou, dificultando a compreensão da atmosfera característica

desta fase de sua história.

Para finalizar esta fase da investigação, e tornar mais claro todas as fases pelas quais

passaram Sevilha e o Conjunto da Cartuja, uma time-line de suas cronologias foi construída

(Figura 2).

Figura 2 – Cronologia Sevilla/Cartuja

Fonte: Feito pelo Autor. 2016.

4 A PAISAGEM DA PRODUÇÃO DE SEVILLA

Na percepção tanto do âmbito puramente urbano como de seu entorno, a paisagem urbana de

Sevilha carece de algumas condicionantes geográficas, como fundos de montanha,

perspectiva em altura e diferenças de cota, entre outros fatores. Assim, a fisionomia

eminentemente plana do lugar e o curso do Rio Guadalquivir são os dois elementos básicos

nos quais a paisagem histórica de Sevilha se desenvolveu (JUNTA DE ANDALUCÍA, 2015,

p.129).

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As paisagens da produção se definem por sua escala e caráter urbano e constituem o

conjunto de edificações e infraestrutura que destacam as diversas tipologias da arquitetura

industrial, assim como seus modos de urbanização que nos informam dos antecedentes da

indústria artesanal, sua concretização durante a fraca protoindustrialização, a consolidação

da fábrica moderna até chegar à época da segunda indústria moderna (SOBRINO, 2015b, p.

148).

4.1 As Paisagens da Cartuja

Seja com a igreja, na fase monástica, ou com as chaminés e fornos da fábrica de cerâmica, as

construções da Cartuja seguramente impactaram a paisagem de Sevilha em cada época.

Com respeito à fase industrial da paisagem, isso pode ficar mais claro com o fragmento de

texto da revista “Heraldo de la Industria”, de 1901:

La hermosa fábrica de productos cerámicos, que lleva este nombre por ocupar el ex Monasterio de La Cartuja, es una de las más notables en su género. […] Sus grandes construcciones, sus altas chimeneas y elevados hornos, forman el bello conjunto que, desde luego, impresiona al visitante […] (MARAVER, 1901, p.3).

Segundo Sobrino (2015b, p. 170-171), os industriais tinham um grande interesse em produzir

a ilusão de progresso e atividade industrial, tentando criar uma imagem da cidade de Sevilha

como uma paisagem industrial. Isso foi muito marcante nas marcas comerciais da Fábrica da

Cartuja.

Atualmente, a Cartuja continua sendo um marco na paisagem de Sevilha, ainda que agora

não se encontre sozinha na “ilha da Cartuja”. Depois da “Expo’92”, compartilhou a paisagem

com outras edificações e pavilhões. Todavia, ela continua muito notável na paisagem para as

pessoas que passam pela margem do Guadalquivir.

As duas últimas edificações mais polêmicas de Sevilha – a Torre Pelli, na ilha da Cartuja; e o

Metropol Parasol, na Plaza de la Encarnación, possuem conexão com a paisagem do

Conjunto.

Primeiramente a Torre Pelli, por sua influência nas perspectivas internas do Conjunto da

Cartuja, é um elemento visual muito notável, podendo ser considerado até agressivo, sendo

visível de praticamente todos os pontos do lugar (Figura 3).

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Figura 3 – Paisagem da Cartuja

Fonte: Acervo do autor. 2016.

O Metropol Parasol, por sua vez, tornou-se um local que permite visualizar muitas paisagens

interessantes da cidade. Entre elas, está a Cartuja, que necessita de apenas um pouco mais

de atenção para ser reconhecida (Figura 4).

Figura 4 – “Puesta del Sol del Parasol”

Fonte: Acervo do autor. 2016.

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5 A IMERSÃO NA PAISAGEM PREEXISTENTE

A leitura do lugar também foi concebida através de uma visão fenomenológica da Cartuja. O

processo se iniciou com os passeios das derivas, com a finalidade de identificar suas

atmosferas, e, posteriormente, dividir a área espacialmente, de acordo com as sensações

sentidas.

Segundo Debord (1958), uma deriva ocorre quando:

Uma ou várias pessoas renunciam [...] durante um tempo mais ou menos longo, os motivos para deslocar-se ou atuar normalmente em suas relações, trabalhos e entretenimentos próprios de si, para deixar-se levar pelas solicitações do terreno e os encontros que a ele corresponde. [...] a deriva, em seu caráter unitário, compreende o deixar levar-se em sua contradição necessária: o domínio das variáveis psicogeográficas pelo conhecimento e o cálculo de suas possibilidades”. (DEBORD, 1958).

Assim, derivas foram realizadas com a finalidade de se ter uma percepção mais sensitiva do

lugar (Figura 5).

Figura 5 – Derivas na Cartuja

Fonte: Google Maps. Editado, 2016.

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Nesta imagem, o mapa que está ao fundo se encontra “borrado”, pois representa um lugar

desconhecido. A partir do momento em que se caminha por aquele lugar, descobrindo-o por

meio dos sentidos, o fundo vai se tornando mais nítido. Ao fazer diversas derivas e sobrepor

as imagens, tornou-se possível saber quais foram os pontos onde se conheceu melhor.

Entretanto, as primeiras percepções já foram ocorrendo no caminho até a Cartuja, enquanto

se conhecia sua própria “ilha”. A impressão é que a Cartuja parece destinada a estar

“sozinha”, pois antes o exterior ficava distante por conta de suas muralhas... Atualmente, o

exterior criou as “muralhas” para a Cartuja.

O próximo passo foi produzir um mapa das diferentes sensações sentidas ao longo das

derivas. Assim, a Cartuja foi dividida em várias áreas, cada uma com sua própria atmosfera

(Figura 6).

Figura 6 – Sensações na Cartuja

Fonte: Feito pelo autor. 2016.

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Procurou-se também reconhecer os poucos elementos da “fase Pickman” da Cartuja. Como

pegadas na areia, os vestígios de Pickman são suas memórias que foram deixadas no lugar.

Algumas precisam de um olhar mais cuidadoso para serem percebidas, outras se tornam os

referenciais de cada lugar (Figura 7)

Figura 7 – Pegadas Pickman

Fonte: Acervo do autor. 2016.

Para ampliar a visão fenomenológica do lugar, também foram tiradas algumas fotografias,

além de se fazer desenhos e anotações das percepções sentidas, com uma especial atenção

para o nível material/concreto (Figura 8).

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Figura 8 – Percepções e Sensações nas Derivas

Fonte: Feito pelo autor. 2016.

Na imagem anterior, a cor azul representa o elemento água que estabelece uma relação muito

forte com a Cartuja – seja pela presença do Rio Guadalquivir, ou por seu antigo sistema

particular de irrigação. Além disso, tem a intenção de representar a relação do

Monastério/Fábrica com seu entorno, como uma “ilha dentro de outra ilha”, pela falta de

contato entre o conjunto e o restante de pavilhões da ilha da Cartuja.

Como produto desta etapa se produziu um protótipo cartográfico (Figura 9), o qual consiste na

sobreposição de diversos aspectos das derivas – as várias sensações, os sentimentos, as

fotografias e desenhos, as marcas de Pickman, a pátina e as apropriações.

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Figura 9 – Mapa De Barras e Pegadas

Fonte: Feito pelo autor, 2016.

Por fim, estas experiências sensoriais visaram obter uma visão ampla da Cartuja, com uma

preocupação por um nível material/concreto, possibilitando a tomada dos referenciais de cada

lugar. As anotações de campo também foram muito importantes para sua compreensão, pois

através delas foi possível restituir as memórias sensoriais, indo além do predomínio do

sentido da visão. Assim, a construção de um protótipo cartográfico denominado “Mapa de

Barras e Pegadas”, sintetiza graficamente estas leituras e atmosferas, sendo possível

produzir uma análise crítica do lugar estudado.

6 ANÁLISES FINAIS

Todo o processo descreve uma metodologia multiescalar, que utiliza de fontes documentais e

bibliográficas diversas, desenvolvendo uma estratégia de aproximação através de visitas e

entrevistas aos agentes sociais, técnicos e administrativos locais, mapeando as camadas de

análise em uma representação cartográfica de fundo fenomenológico e abstrato.

Entende-se que estas fases constituem um “extrato” de informações da situação atual, e que a

sobreposição delas permite subsidiar possíveis propostas de usos para a Cartuja,

convertendo-se assim, em um resumo e diagnóstico das análises realizadas durante a

investigação.

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Nas condições atuais existem algumas poucas recordações da fase de Pickman dispersos

pelo Conjunto – peças de louça que adornam toda a Cartuja (em suas paredes, nas

coberturas das cúpulas, em alguns monumentos, etc.), chaminés “romantizadas”, fornos sem

uso...

Através das derivas foi possível fazer um reconhecimento do lugar e a partir das percepções

foram identificados os pontos de maior circulação, vivência, visuais predominantes, assim

como, uma compreensão subjetiva da atmosfera da Cartuja, expressa de maneira gráfica

posteriormente.

O Professor orientador Julián Sobrino, possuí uma proposta para a Cartuja denominada

“Espaço Pickman”, que poderia ser um recurso muito efetivo. Segundo o professor, a

valorização do processo e da memória da época fabril não causaria danos a imagem do

período monástico atual.

…En la actualidad quedan por cumplir importantes tareas de reconocimiento patrimonial referidas al siglo XIX en Sevilla, una de ellas consistiría en devolver al Conjunto Monumental de la Cartuja Pickman el legado patrimonial compuesto por el archivo histórico de esta fábrica que todavía subsiste, aunque con muchas dificultades económicas, manteniendo en activo la única fábrica de su tipo existente en España (SOBRINO, GUIA, p. 177).

A proposta se constitui de uma sinalização que identifique os restos desaparecidos e os

existentes da fase industrial do conjunto. Propõe a utilização dos 5 fornos (que ainda estão ali)

para se colocar peças de louça, sendo que cada um deles representaria um elemento – ar,

terra, fogo e água – todos essenciais para a produção da cerâmica. O último forno, por sua

vez, seria reservado para o “vazio”.

O “Espaço Pickman” traria documentos, máquinas e todo tipo de materiais que valorizassem o

processo de produção. Todavia, os atuais usuários e responsáveis pela Cartuja não se

demonstraram muito abertos para receber a ideia. Isso é uma pena, pois o “Espaço Pickman”

possivelmente traria a memória sentimental dos sevilhanos, sendo como um pequeno

reencontro do conjunto com a cidade.

Com base nos estudos realizados, percebe-se que o Conjunto da Cartuja, além de não ter

uma gestão unitária em seu todo, deveria difundir melhor o período industrial, que foi

praticamente esquecido. Desta forma, a partir da compreensão da existência de uma ruptura

no processo de transformação e renovação natural do conjunto arquitetônico, propostas que

tendam a incorporar a atmosfera industrial no Conjunto da Cartuja não devem contemplar

reconstruções, mas adaptações que visem construir um significado atual sempre pensando

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no futuro como processo natural da evolução, para que o conjunto permaneça como um

importante patrimônio de Sevilha.

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