Explicação sobre o texto de Kant O que é Esclarecimento Kant

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E FILOSOFIA FACULDADE DE FILOSOFIA MATÉRIA: PRÁTICA DE FILOSOFIA I PROFESSOR: PATRICK PESSOA ALUNA: GIANA C. DE C. ARAUJO TRABALHO 1: EXPLICAÇÃO SOBRE O QUE É O ESCLARECIMENTO, de Immanuel Kant.

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Explicação sobre o texto - trabalho de faculdade

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSECENTRO DE ESTUDOS GERAISINSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E FILOSOFIAFACULDADE DE FILOSOFIA

MATRIA: PRTICA DE FILOSOFIA I PROFESSOR: PATRICK PESSOAALUNA: GIANA C. DE C. ARAUJO

TRABALHO 1:

EXPLICAO SOBRE O QUE O ESCLARECIMENTO, de Immanuel Kant.

ABRIL 2015

Dizer o que o esclarecimento no simplesmente fornecer o significado da palavra, como a leitura do ttulo possa sugerir, mas situar o leitor dentro de um campo de entendimento que possa conferir este significado. Desvendar a sua argumentao com todos os conceitos apresentados em torno desta questo o objetivo desta explicao. De acordo com um tradutor[footnoteRef:0], Auflkrung um termo em alemo que no possui uma traduo satisfatria, por indicar mais um processo do que um estado ou uma categoria filosfica a serem descritos. Sendo auf um prefixo que indica sobre (em contato com a superfcie), e a palavra klrung uma clarificao, o sentido original alemo indica uma bonita metfora de um homem que est em contato com uma iluminao crescente medida em que se torna autnomo intelectualmente, em oposio s sombras, ou ausncia de claridade[footnoteRef:1], quando o homem que se recusa sair da tutela. A tnica da ao do homem buscada na tradio do pensamento latino (Horcio), segundo o qual o saber um resultado da ousadia: Sapere Aude! . A sada do homem da sua minoridade intelectual, portanto, depende muito mais de uma atitude. Cada um tem a total responsabilidade na atitude de utilizar ou no a razo de um modo autnomo, sem qualquer tutela. Tambm ao longo do texto estas atitudes so exemplificadas, bem como as suas consequncias sociais, dentro das concepes de razo privada e razo pblica. [0: Floriano de Sousa Fernandes, em Archangelo R, Buzzi e Leonardo Bolt (org.) Immanuel Kant - textos seletos, Petrpolis, Vozes, 1985, pp.100-17.] [1: Id,, p. 114 - sich nicht for Schatten furchtet - no deve temer as sombras.]

Seguindo a construo da argumentao do texto, temos a definio do que o esclarecimento onde o conceito de minoridade aparece em primeiro lugar. A minoridade definida, por sua vez, como a incapacidade de se servir de seu prprio entendimento sem a tutela de um outro. A minoridade no resulta da falta de entendimento portanto, mas da falta de resoluo e de coragem necessrias pra utilizar seu entendimento sem a tutela de outro. Esclarecimento, portanto, aponta para uma atitude humana de libertao de sua tutela, onde so necessrios coragem e determinao acima de tudo. Da decorre a segunda parte da definio de esclarecimento: a sada de sua minoridade pela qual ele prprio responsvel. A responsabilidade pelos seus atos o segundo conceito chave, depois de minoridade, que delimitam o campo de entendimento do esclarecimento kantiano.

Enumera, em seguida, algumas causas pelas quais o homem no toma esta atitude. As causas so de ordem moral, uma vez que, segundo ele, os homens esto libertos h muito tempo pela natureza de toda tutela alheia[footnoteRef:2]. A preguia e a covardia figuram em primeiro lugar: muito mais cmodo ser tutelado[footnoteRef:3], pois demanda um esforo mnimo do sujeito desta ao. Delegar ao outro atitudes que deveriam ser suas por preguia faz com que o homem no se esforce, por aceitar que fazer isso algo, alm de penoso, muito perigoso. Esta uma ideia que os seus tutores os levam a acreditar. A atitude dos tutores descrita de um modo forte: Aps ter comeado a emburrecer seus animais domsticos e cuidadosamente impedir que essa criaturas tranqulias [o homem na minoridade] sejam autorizadas a arriscar o menor passo[footnoteRef:4] Enfraquecendo o argumento dos tutores, porm, Kant lembra que tambm uma criana passa muitos perigos e quedas antes de aprender a andar. [2: Cf. naturaliter majorennes no original, traduo de Luiz Paulo Rouanet, p.1. disponvel em: Acesso em 14/04/2015.] [3: id., ibid.] [4: id, p. 2.]

No pargrafo seguinte passa descrio das dificuldades inerentes ao abandono da minoridade: em primeiro lugar porque a subservincia tornou-se uma espcie de segunda natureza do homem: o homem que se apega de tal forma a esta atitude passiva ao longo do tempo se torna DE FATO incapaz de se servir de seu entendimento[footnoteRef:5]. Mas a reposnsabilidade nesta situao compartilhada, na medida em que afirma que isso ocorre tambm porque no deixam que ele o experimente [o entendimento] jamais[footnoteRef:6]. Outro obstculo para o abandono da minoridade pelo homem a utilizao de preceitos e frmulas, que promovem o mau uso de seus dons naturais. Diante de todas as dificuldades e obstculos existentes que Kant conclui que so muito poucos aqueles que conseguiram, pela transformao do prprio esprito, emergir da menoridade e empreender ento uma marcha segura[footnoteRef:7]. [5: id, ibid] [6: id,ibid.] [7: Cf. Floriano de Souza Fernandes, in op. cit, p.102.]

Mesmo com todas os entraves, no pargrafo seguinte Kant mostra como no impossvel que um pblico se esclarea a si mesmo. Indo alm, afirma que num contexto de liberdade, esse processo se torna inevitvel, na medida em que a disseminao do livre pensamento promove a crtica situao vigente e at mesmo uma oposio ao prprio tutor no futuro. Mesmo assim, a oposio e a crtica podem no representar ainda o esclarecimento enquanto verdadeira reforma do modo de pensar. Por exemplo, numa situao em que apenas se substitui o dspota mas o despotismo permanece, ou quando um preconceito derrubado apenas para que outro vigore. Uma das caractersticas do esclarecimento, portanto, a de ser um processo lento para o pblico ...um pblico s muito lentamente pode chegar ao esclarecimento.

Este o momento em que a liberdade anunciada como condio para a existncia do esclarecimento: a liberdade de fazer um uso pblico da sua razo em todas as questes. Kant define o uso pblico da razo aquele que qualquer homem, enquanto sbio, faz dela diante do grande pblico do mundo letrado. Apenas este uso pblico e livre pode conduzir ao esclarecimento. J o uso privado da razo pode ser um fator limitador deste processo, j que os tutelados so exortados obedincia civil sem o raciocnio, por seus tutores. Kant define o uso privado como aquele que o sbio pode fazer de sua razo em um certo cargo pblico ou funo a ele confiado. O uso privado da razo tem atuao limitada, pois um uso domstico, por grande que seja a Assemblia. Mas por mais que existam mecanismos de funcionamento dos setores da sociedade que devem ser executados de modo passivo, sem questionamento, em benefcio da coletividade (para finalidades pblicas a expresso utilizada), esta situao no impede o esclarecimento. O cumprimento da disciplina a que o homem est submetido socialmente tambm no o impede de ser um livre pensador de sua prpria condio. Em algum momento o homem deve fazer o uso de sua razo publicamente, para indicar o que h de errneo e expor suas propostas de melhorias dentro de seu campo de atuao. Essa liberdade, no entanto, limitada ao questionamento da existncia do prprio cargo ou do mecanismo social em questo: nada deve ser encontrado a que seja contraditrio com a religio interior. Neste caso, o melhor a fazer deveria ser abandonar o cargo ou funo.

Assim, alm de definir o esclarecimento como um processo, Kant indica que este processo deve ser viabilizado. Assim, para ele a principal tarefa dos diferentes grupos sociais e dos governantes garantir uma situao de liberdade que seja capaz de promover o processo do esclarecimento (Aufklrung), seja no campo privado seja no pblico, combatendo tudo o que promova um estado em que se torne impossvel para esta ampliar seus conhecimentos (particularmente os mais imediatos), purificar-se dos erros e avanar mais no caminho do esclarecimento[footnoteRef:8], valorizando o homem no apenas como uma mquina na engrenagem social, mas em sua dignidade de expressar-se livremente[footnoteRef:9]. [8: id, p. 108.] [9: id, p.116.]