Exposições a substâncias químicas e câncer de cérebro em adultos Gina Torres Rego Monteiro...
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Exposições a substâncias químicas e câncer de cérebro em adultos
Gina Torres Rego Monteiro
MINISTÉRIO DA SAÚDEFUNDAÇÃO OSWALDO CRUZEscola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
Introdução
• Incidência e mortalidade por câncer de cérebro têm aumentado nos países desenvolvidos– em países da Europa as taxas de incidência e
mortalidade cresceram entre 1950 e 1990, principalmente nos grupos mais idosos (Inskip et al., 1995)
• No Brasil, a mortalidade aumentou 50% entre 1980 e 1998 (Monteiro & Koifman, 2003):– de 2,24 para 3,35 óbitos por cem mil habitantes
(ajustadas pela população mundial)– aumento foi maior em: idosos = 6% ao ano (174% no
período) e em mulheres (56%)
• Coeficiente de incidência ajustado por idade pela população mundial, segundo estimativa da IARC, para o ano 2000:
5,85/100.000 homens 4,06/100.000 mulheres
2,83/100.000 homens 2,03/100.000 mulheres
6,00/100.000 homens 4,64/100.000 mulheres
Países mais desenvolvidos
Países menos desenvolvidos
Brasil
Dados do Brasil – RCBP
0123456789
10
Homens Mulheres
São Paulo (1997/1998)Porto Alegre (1993/1997)Goiânia (1996/2000)Recife (1995/1998)Belém (1996/1998)
Taxas de incidência de tumores SNC, ajustadas pela população mundial, por cem mil habitantes
Possíveis explicações• Aumento real:• exposição a novo carcinógeno • diminuição da exposição a um fator de proteção• reação tardia à exposição crescente em tenra idade a
carcinógeno com latência prolongada
• Artificial:• melhoria dos meios diagnósticos: TCC, RM, histologia mais
precisa• mudança na CID• mudança de atitude no cuidado à saúde dos idosos
• Mais provável:• Que o aumento seja em parte real e em parte artificial• efeito combinado da disponibilidade de
– meios diagnósticos mais sofisticados e não invasivos e – mudança de atitude para com os idosos
• e da exposição mais intensa a um conjunto de fatores ambientais que interagem entre si, implicados no processo de iniciação e na promoção dos tumores cerebrais
• mesmo porque, a tendência ao aumento da incidência já era observada antes da maior disponibilidade desses meios diagnósticos
Fatores de risco apontados na literatura
• Agregação familiar e fatores genéticos: – história familiar de câncer e síndromes hereditárias
• Fatores hormonais e reprodutivos• Exposições ambientais:
– pessoais: radiação ionizante e eletromagnética, dieta (compostos N-nitrosos), traumatismo craniano, epilepsia, viroses e outras infecções, exposição domiciliar a pesticidas e inseticidas, contato com animais e agrotóxicos, cosméticos para cabelos (tintura, henê)
– ocupacionais: campos eletromagnéticos, agroquímicos, produção de borracha, derivados do petróleo, produção de vidros, solda, pintura, indústria de cosméticos, indústria de alimentos, bebidas e tabaco, profissionais de saúde
Na literatura: exposição ambiental a produtos químicos
• exposição domiciliar a pesticidas e inseticidas• contato com animais e agrotóxicos• exposições ocupacionais:
– produção de borracha– derivados do petróleo– produção de vidros– solda– pintura– indústria de cosméticos– indústria de alimentos, bebidas e tabaco – profissionais de saúde cosméticos para cabelos (tintura, henê)
Residência em Fazenda e Exposição a Animais - crianças
Grupo estudado Lugar Estimativade risco
Autor, ano Comentários
Tumor cérebro New South Wales OR = 0,9OR = 0,9OR = 0,6
McCredie et al, 1994 Mãe morava em fazenda durante a gravidezGato em casa durante a gravidezCriança na fazenda com menos 1 mês de idade
Tumor cérebro Maryland OR = 4,0*OR = 4,5
Gold et al, 1979 Morou em fazenda e teve exposição a animaisExposição animais de estimação doente
Tumor cérebro Los Angeles OR = 0,8 Preston-Martin et al, 1980 Morou em fazenda
Estudos Caso-controle
* estatisticamente significativo
Exposição a Pesticidas ou Inseticidas - crianças
Grupo estudado Lugar Estimativade risco
Autor, ano Comentários
Tumor cérebro New South Wales OR = 2,0 McCredie et al, 1994 Uso de pesticida na casa durante gravidezTumor cérebro Missouri Davis et al, 1993 Exposição em três períodos:
pré-natal, 0-6 meses e mais 7 mesesOR = 1,8-3,4* Pesticidas em pragas
OR = 2,9* Tratamento contra cupimOR = 4,6* Xampu contra larvas de piolho
OR = 0,6-4,8 Exposição a pesticidas para animais domésticosOR = 0,9-5,5* Exposição a coleira de pulgas, animais domésticosOR = 0,5-4,2 Exposição a xampu para animais domésticos
OR = 4,6* Pesticida para jardim/pomar
Tumor cérebro Los Angeles OR =1,5OR = 0,1
Preston-Martin et al,1982
Exposição pré-natal a pesticidasExposição a pesticida na infância
Estudos Caso-controle
* estatisticamente significativo
Trabalho em Agricultura - adultos
Ocupação / Indústria Estimativade Risco
Período deestudo
Local Autor, ano
Instituto de pesquisa agrícola; pesquisa em solo e fábrica SMR = 469* 1960/80 Irlanda Daly et al, 1994
Trabalhadores agrícolas- trabalho com gado de leite- trabalho com ovelhas- trabalho em granja- administração fazenda
OR = 3,4*OR = 2,7*OR = 3,8*OR = 3,2*
1948/88 Nova Zelândia Preston-Martin et al, 1993
Fazendeiros (mortalidade por glioblastoma) OR = 1,9 1971/87 Canadá Morrison et al, 1992
Fazendeiros com permissão para usar pesticidas SMR = 169 1974/87 Norte da Itália Alberghini et al, 1991
Indústria florestal- todos tumores- astrocitomas Indústria agrícola
OR = 4,6OR = 8,5*OR = 1,1
1969/78 Washington State Demers et al, 1991
* estatisticamente significativo
Trabalho em Agricultura – adultos (continuação)
Ocupação / Indústria Estimativade Risco
Período deestudo
Local Autor, ano
Fazendeiros- trabalho em granja- trabalho com gado de leite- trabalho em pomar, vinha- trabalho geral em fazenda- trabalho em colheita
OR = 1,33OR = 2,59*OR = 1,61OR = 1,29OR = 1,11OR = 1,08
1980/84 Nova Zelândia Reif et al, 1989
Fazendeiros Por uso de produtos químicos:- não usa- usa produtos químicos- usa inseticidas / fungicidas- usa herbicidas- usa fertilizantes
OR = 1,6*
OR = 1,2OR = 1,6*OR = 2,0*OR = 1,6OR = 1,4
1983/84 Milão, Itália Musicco et al, 1988
Fazendeiros, pescadores e caçadores SIR = 110 1961/79 Suécia McLaughlin et al, 1987
Fazendeiros OR = 5,0* 1979/80 Milão, Itália Musicco et al, 1982
* estatisticamente significativo
Trabalhadores da Indústria de Borracha
Ocupação / Indústria Estimativade Risco
Período deestudo
Local Autor, ano
Fábrica de borracha (trabalho 10 anos ou +) SIR = 500* 1979/88 Moscou Solionova & Smulevich, 1993
Operários da indústria de borracha SMR = 88 1946/85 Reino Unido Sorahan et al, 1989
Indústria de borracha e plásticos Gliomas Meningiomas
PIR = 145PIR = 368*
1974/85 Los Angeles Preston-Martin, 1989
Já trabalhou no processamento de borracha OR = 6,0 1980/84 Los Angeles Preston-Martin, 1989
Já trabalhou na indústria de borracha OR = 9,0* 1979/82 Toronto Burch et al, 1987
Linha de montagem em pneus SMR = 400* 1940/76 Ohio Monson & Fine, 1976
Fabricação de pneus SMR = 190 1940/73 Ohio Monson & Nakano, 1976
Fabricação de borracha aposentados de 40 a 64 anos
SMR = 92SMR = 323*
1964/73 Ohio Andjelkovic et al, 1976
* estatisticamente significativo
Trabalhadores em Petroquímica Ocupação / Indústria Estimativa
de RiscoPeríodo de
estudoLocal Autor, ano
Trabalhadores refinaria petróleo OR = 8,8* 1969/78 Washington State Demers et al, 1991
Trabalhadores de usina petroquímica SMR = 147 1941/78 Estados Unidos Teta et al, 1991
Refinaria de petróleo e usina petroquímica refinaria há mais de 30 anos
SMR = 76SMR = 211
1948/83 Texas Marsh et al, 1991
Empregados por hora em petroquímica câncer de cérebro tumores de cérebro benignos ou sem especificação
SMR = 181*SMR = 280*
1950/83 Texas Teta et al, 1991
Trabalhou com produto de petróleo (gasolina, querosene) OR = 3,6* 1980/84 Los Angeles Preston-Martin et al, 1989
Petróleo e indústria de produção de carvão gliomas meningiomas
PIR = 113PIR = 252
1972/85 Los Angeles Preston-Martin et al, 1989
Carvão e refinaria de petróleo refinaria de petróleo indústria de carvão e outros
SIR = 180SIR = 120SIR = 260*
1961/79 Suécia McLanghlin et al, 1987
Carvão e produtos de petróleo OR = 3,5* 1959/63 Inglaterra Magnami et al, 1987
Refinaria de petróleo OR = 1,7 1978/80 Filadélfia Thomas et al, 1987
Refinaria de petróleo SMR = 126 1950/80 Califórnia Wong et al, 1986
* estatisticamente significativo
Soldadores e Trabalhadores de Eletrônica
Ocupação / Indústria Estimativade Risco
Período deestudo
Local Autor, ano
Soldadores- todos- glioblastoma
SIR = 130SIR = 150*
1961/79 Suécia Tornquist et al, 1991
Fabricação e conserto de rádio e TV- todos- glioblastoma
SIR = 290*SIR = 340*
* estatisticamente significativo
Profissionais de Saúde
Ocupação / Indústria EstimativaDe Risco
Período deestudo
Local Autor, ano
Patologistas SMR = 240 1974/87 Reino Unido Hall et al, 1991
Médicos, dentistas, profissionais afinsEnfermeiras
PIR = 152*PIR = 278*
1972/85 Los Angeles Preston-Martin, 1989
MédicasDentistas (homens)Mulheres empregadas em indústria de cuidado de saúdeIndústria de cuidado de saúde, meningiomas em homens
SIR = 370*SIR = 210*SIR = 120*SIR = 170
1961/79 Suécia McLanghlin et al, 1987
Dentistas e auxiliares de dentistas- Glioblastoma- Glioma- Meningioma
SIR = 213*SIR = 182SIR = 131
1961/79 Suécia Ahlbom et al, 1986
Ocupações em diagnóstico em saúde OR = 6,8* 1978/81 Filadélfia Thomas et al, 1986
Patologistas SMR = 300* 1974/80 Reino Unido Harrington & Oakes, 1984
Veterinários PMR = 261* 1966/77 Estados Unidos Blair & Hayes, 1980
* estatisticamente significativo
Tintura e Spray para Cabelos
Grupo estudado Lugar Estimativade risco
Autor, ano Comentários
Tumor cérebro, crianças New South Wales OR = 0,8 McCredie et al, 1994 Mãe usou tintura durante gravidez
Astrocitomas, crianças Delaware Valley OR = 0,9 Kuijten et al, 1990 Mãe usou tintura durante gravidez
Tumor cérebro, adultos Toronto OR = 2,0* Burch et al, 1987 Já usou tintura de cabelo ou spray
Meningiomas, murlheres Los Angeles OR = 1,0 Preston-Martin et al, 1980 Já usou tintura de cabelo ou spray
Estudos Caso-controle
* estatisticamente significativo
Objetivos do estudo desenvolvido no Rio de Janeiro
• Geral: Descrever o padrão da associação entre exposições selecionadas e o desenvolvimento de neoplasias intracranianas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
• Objetivo específico: estimar a magnitude da associação entre a exposição a produtos químicos selecionados (solventes, derivados do petróleo, pesticidas de uso doméstico, cosméticos) e os tumores de cérebro em adultos
Variáveis analisadas
• exposição a produtos químicos:– armazenagem domiciliar de tintas, solventes,
inseticidas, etc. (F1)– hábito de dedetização da casa (G1)– exposição ocupacional a tintas, cosméticos,
solventes (H2, H3)– contato com agrotóxicos (J1)– uso de tinturas de cabelo e demais cosméticos:
início, freqüência, duração (T2, T4)
Metodologia
• Estudo caso-controle de base hospitalar• casos incidentes de tumores primários intracranianos:
– com idade ao diagnóstico entre 30 e 65 anos– residentes na Região Metropolitana do Rio de Janeiro– internados em hospitais selecionados
• controles: – pareados por freqüência de sexo e idade (± 3 anos)– internados nos mesmos hospitais– portadores de nosologias selecionadas
• Coleta dos dados: de abril de 1999 a dezembro de 2002• tamanho amostral:
– previsto: 225 casos e 225 controles– realizado: 240 casos e 268 controles
• instrumento: entrevista estruturada utilizando protocolo de investigação desenvolvido pela IARC, adaptado à nossa realidade
• análise estatística: univariada, bivariada e multivariada• razão de chances brutas e ajustadas e os respectivos
intervalos de confiança, utilizando regressão logística não condicional
Variáveis estudadas
• Dados sociodemográficos• características do local de residência• história ocupacional • história de exposição a poluentes ambientais no local de
trabalho e à radiação ionizante• hábitos de vida em geral: uso de cosméticos, tabaco e
álcool, além de práticas de lazer, contato com animais• história médica: uso de medicamentos selecionados,
história familiar de câncer, antecedentes de traumatismo craniano
Resultados
Distribuição de casos por diagnóstico histopatológico
Diagnóstico histopatológico N (%)Meningiomas 85 (44,3)Gliomas 67 (34,9)
Glioblastoma multiforme 29 (15,1)Astrocitoma 24 (12,5)Oligodendroglioma 7 (3,6)Glioma misto 5 (2,6)Ependimoma 2 (1,0)
Outros 40 (20,8)Adenoma de hipófise 15 (7,8)Neurinoma 8 (4,2)Hemangioblastoma 7 (3,6)Tumores embrionários 6 (3,1)Craniofaringioma 2 (1,0)Tumores da pineal 2 (1,0)
Total 192 (100,0)
Distribuição dos controles por diagnósticoDiagnóstico Nº %Traumas 100 37,3Miomas 25 9,3Doenças infecciosas 22 8,2Doenças aparelho gênito-urinário 21 7,8Hérnias abdominais 21 7,8Hérnias de disco 16 6Doenças aparelho circulatório 12 4,5Doenças endócrinas 11 4,1Artrose 8 3Apendicite 7 2,6Queimadura 7 2,6Demais 18 6,7Total 268 100
Distribuição de variáveis selecionadas
Variável Estratos Casos (%) Controles (%) p-valor Sexo Masculino 102 (42,5) 106 (39,6) 0,50 Feminino 138 (57,5) 162 (60,4) Faixa etária <35 28 (11,7) 35 (13,1) 0,57 35-39 27 (11,3) 35 (13,1) 40-44 40 (16,7) 38 (14,2) 45-49 38 (15,8) 58 (21,6) 50-54 44 (18,3) 40 (14,9) 55-59 28 (11,7) 29 (10,8) 60 e + 35 (14,6) 33 (12,3) Escolaridade Nenhuma 11 (4,6) 16 (6,0) 0,86 Até a 4ª série 101 (42,1) 102 (38,1) De 5ª a 7ª série 25 (10,4) 35 (13,1) Completou 1º grau 45 (18,8) 52 (19,7) Completou 2º grau 46 (19,2) 48 (17,9) Completou 3º grau 12 (5,0) 15 (5,6)
Exposição a pesticidas• Desinsetização
– relatado em 10,4% da amostra, sendo de 7,9% nos casos (n = 19) e 12,7% nos controles (n = 34): OR = 0,60 [95% IC: 0,33 – 1,08]
• Pesticidas de uso domiciliar – referido por 70,3% da amostra, sendo 163 casos
(67,5%) e 192 controles (71,6%): OR = 0,86 [95% IC: 0,59 – 1,26]
– 2 casos relataram ter guardado inseticida na residência, mas nenhum controle
– todos negaram o armazenamento de agrotóxicos ou outros pesticidas dentro de casa
Exposição peridomiciliar• A derivados do petróleo
– estimada por relato de residir em rua de tráfego intenso, próximo a posto de gasolina, a refinaria de petróleo, ou a qualquer uma dessas três variáveis, não revelou associação estatisticamente significativa aos tumores intracranianos
• A indústrias – residência próxima a uma indústria foi mencionada por 18,7% da
amostra analisada, sendo 49 casos e 46 controles (OR = 1,25 [95% IC: 0,80 – 1,96])
– foram relacionadas fábricas de diversos produtos, sendo mais citadas:
• ramo farmacêutico (6 casos e 4 controles) e • têxtil (4 casos e 10 controles)
Distribuição de freqüências de produtos selecionados armazenados no domicílio, casos de neoplasias intracranianas
e controles, Rio de Janeiro, 1999-2002
Produto Casos (%) Controles (%)
OR bruta (95% IC) OR ajustada* (95% IC)
Solventes 13 (5,4) 2 (0,7) 7,62 (1,70 - 34,11) 7,69 (1,70 - 34,74)
Bateria de automóvel
4 (1,7) 1 (0,4) 4,53 (0,50 - 40,77) 4,42 (0,49 - 39,98)
Tintas 14 (5,9) 7 (2,6) 2,32 (0,92 - 5,85) 2,33 (0,92 - 5,92)
Metais 5 (2,1) 3 (1,1) 1,88 (0,44 - 7,95) 1,77 (0,41 - 7,59)
Pneus / borracha 4 (1,7) 5 (1,9) 0,89 (0,24 - 3,36) 0,87 (0,23 - 3,28)
Tecido 5 (2,1) 7 (2,6) 0,79 (0,24 - 2,80) 0,82 (0,26 - 2,64)
Plástico 1 (0,4) 5 (1,9) 0,22 (0,03 - 1,90) 0,21 (0,02 - 1,84)
* OR ajustada por sexo e idade
Armazenamento domiciliar de produtos selecionados
• a amostra analisada apresentou percentuais bastante reduzidos de contato com outros produtos químicos, sendo o uso estimado por armazenamento domiciliar: – tintas (4,3%), solventes (2,9%), tecidos (2,4%), pneus (1,8%), metais
(1,4%), plásticos (1,2%) e baterias de automóveis (0,8%)– armazenamento de solventes (querosene, gasolina, outros) associação
positiva e significativa : OR = 7,62 [95% IC: 1,70 – 34,11]– os outros produtos: razão de chances elevadas, sem significância
estatística • Restringindo a análise aos gliomas:
– aumento da associação com solventes (n = 7 casos e 2 controles; OR = 15,52 [95% IC: 3,14 – 76,57])
– e com tintas (n = 7 casos e 7 controles; OR = 4,42 [95% IC: 1,50 – 13,09]) que se tornou estatisticamente significante
Exposição a tinturas e alisantes de cabelos
• relato de ter usado algum produto para pintar os cabelos: 47,8% da amostra
• freqüência do uso desigual entre os sexos:– H: 26 casos (25,5%) e 20 controles (18,9%)– M: 109 casos (79,0%) e 140 controles (86,4%)
• análise por produtos químicos presentes nas fórmulas:– associação positiva entre derivados de cobre (cloreto e sulfato
cúpricos) e neoplasias intracranianas, estatisticamente significativa ao ser ajustada por idade (OR = 1,88 [95% IC: 1,01 – 3,51])
– erva hené e o peróxido de hidrogênio também apresentaram associação direta, embora sem significância estatística
– cabe notar que os derivados de cobre estão presentes apenas em fórmulas de alisantes e henés, não nas tinturas de cabelo
Associações positivas
Variável Casos / Controles OR (95% IC) Exposição a solventes 13 / 2 7,62 (1,70 - 34,11) Dormir com luz acesa 42 / 26 1,97 (1,17 - 3,33) História familiar câncer 102 / 89 1,51 (1,05 - 2,18) Uso de anticonvulsivantes 17 / 7 2,85 (1,16 - 6,99) Traumatismo craniano 117 / 104 1,50 (1,06 - 2,14) Contato com coelho 32 / 19 2,03 (1,12 - 3,68) Contato com morcego 41 / 27 1,84 (1,09 - 3,10) Fumante passivo 118 / 94 1,53 (1,02 - 2,30)
Discussão
Exposição a solventes• Associação positiva de maior magnitude:
– OR = 7,35 (95% IC: 1,62 – 33,25) ajustada pela exposição à luminosidade noturna e à história familiar de câncer
• a associação mostrou-se restrita aos gliomas:– OR bruta = 15,52 (95% IC: 3,14 – 76,57)
• dificuldade nos estudos epidemiológicos: geralmente os indivíduos estiveram expostos a produtos com misturas de solventes, não sendo possível incriminar um agente específico
• A literatura revela resultados controversos:• estudos em trabalhadores nos EUA, Suécia e
China apresentaram riscos aproximadamente duas vezes maiores em expostos(Brownson et al., 1990; Heineman et al., 1994; Rodvall et al., 1996;
Heineman et al., 1995)
• metanálise com 55 estudos de coorte relativos à mortalidade de trabalhadores expostos a solventes orgânicos, não revelou excesso de risco para esses tumores (Chen & Seaton, 1996)
• O benzeno é largamente utilizado como matéria-prima em indústrias químicas e como solvente, embora seja classificado como carcinogênico para seres humanos, estando associado a vários tipos de leucemias (IARC, 1990)
– vários solventes freqüentemente utilizados contêm pequenas quantidades de benzeno como impureza, não sendo desprezível a exposição a este agente (Rêgo, 1998)
• a exposição ocupacional é mais importante do que a associada a lazer (pintura de vidros, porcelana, etc)– mas esta pode ser elevada se executada em ambientes
fechados com diferentes tintas e solventes (Rêgo, 1998)
Tinturas para cabelos• As tinturas para cabelos foram incluídas no estudo
devido a:– presença de substâncias mutagênicas em sua composição– disseminação do hábito de pintar os cabelos em idade cada
vez mais precoce– observação de aumento da mortalidade por tumores cerebrais
no Brasil, notadamente no sexo feminino• embora não existam evidências suficientes de
carcinogenicidade no uso pessoal das tinturas para cabelos, ela é considerada uma exposição de risco ocupacional para cabeleireiros e barbeiros (IARC, 1993; Holly et al., 2002)
• preocupação com o potencial carcinogênico das tinturas para cabelos remonta à década de 70 quando o produto 2,4-diamino-tolueno foi retirado de sua fórmula por ser carcinógeno para ratos(Ames et al., 1975; Bracher et al., 1990)
• a exposição atual difere da passada, pois muitas substâncias consideradas mutagênicas ou carcinogênicas foram tiradas de uso nos Estados Unidos e Europa– mas algumas tinturas disponíveis no comércio ainda contem
diversos compostos potencialmente carcinogênicos, como os compostos N-nitrosos (especialmente aminas aromáticas), as soluções com base de amônia, o peróxido de hidrogênio e o acetato de chumbo
(Lamba e colaboradores, 2001; Holly et al., 2002)
• 47,8% dos participantes utilizaram algum tipo de tintura de cabelo– homens: 25,5% dos casos e 18,9% dos controles – mulheres: 79,0% dos casos e 86,4% dos controles
• A análise dos produtos presentes nas fórmulas das tinturas e alisantes revelou:– associação positiva entre produtos que continham erva
hené (OR = 1,55) e derivados de cobre (OR = 1,79) – a última, estatisticamente significativa ao ser ajustada
por idade (OR = 1,88 [95% IC: 1,01 – 3,51]) – essas associações foram mais fortes para meningiomas:
• erva hené (OR = 2,51 [95% IC: 1,14 – 5,51]) e • derivados de cobre (OR = 3,14 [95% IC: 1,49 – 6,61])
Análise multivariada
• O modelo acima foi o que melhor demonstrou o efeito da exposição a fatores ambientais selecionados no desenvolvimento de tumores intracranianos
• o antecedente de traumatismos cranianos apresentou uma associação positiva, com significância estatística limítrofe
Variáveis beta OR (95% IC) -2 log da verossimilhança
Contato com solventes 1,9948 7,35 (1,63 – 33,25) 662,836 Dormir com luz acesa 0,6593 1,93 (1,13 – 3,30) História familiar de câncer 0,4220 1,52 (1,05 – 2,21)
Limites do estudo
• O estudo apresenta algumas limitações:– tamanho da amostra: reduzido número para análises
estratificadas (sexo, idade, histologia)– problemas potenciais na acurácia da resposta de pacientes
com doença grave ou de seus familiares– potencial viés de memória (delineamento caso-controle)– não terem sido coletados dados primários das exposições– realização de comparações múltiplas
• são similares às apontadas em outros estudos caso-controle de tumores cerebrais
Pontos fortes do estudo
• Elevado percentual de participação (94,4%)• confirmação histopatológica de 80% dos casos
– segunda leitura em 90% destas• utilização de instrumento validado e empregado
em outros estudos, permitindo comparações• treinamento cuidadoso das entrevistadoras e
revisão dos questionários
Conclusão• A análise da associação entre variáveis ambientais
diversas e neoplasias intracranianas permitiu observar que os fatores mais fortemente associados às referidas neoplasias foram:– a exposição a solventes e a luminosidade noturna– a história familiar de câncer– os antecedentes de traumatismos cranianos– o tratamento com anticonvulsivantes e– o uso de produtos para cabelos que incluíam cobre em
sua composição
• Segundo tipo histológico, essas variáveis foram mais importante para:– Meningiomas: dormir com luz acesa e o uso de
alisantes nos cabelos – Gliomas: exposição a solventes, uso de drogas
anticonvulsivantes– Ambos: história familiar de câncer e os antecedentes de
traumatismos cranianos • os resultados permitem sugerir novos estudos que
avaliem com mais profundidade algumas das associações observadas