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ExtraLibris Uma seleção de referências bibliográficas para promover uma formação humanista Fabiano Caruso fabianocaruso.com (Organizador)

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Uma compilação de listas de livros e referências culturais.

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Uma seleção de referências bibliográficas para promover uma formação humanista

Fabiano Caruso fabianocaruso.com

(Organizador)

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SUMÁRIO Prefácio 01 Os 10 mais da Literatura Criativa, Gabriel Perissé........................................................................ 02 02 Os 10 mais da Ficção Brasileira, Rinaldo Gama............................................................................. 05 03 Os 10 mais da Ficção Alemã, Modesto Carone............................................................................. 10 04 Os 10 mais da Ficção Francesa, Leda Tenório............................................................................... 14 05 Os 10 mais da Ficção Inglesa, Marisis Camargo........................................................................... 19 06 Os 10 mais da Ficção Italiana, Diogo Mainardi............................................................................. 23 07 Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20, Paulo Henriques Britto................ 27 08 Os 10 mais da Ciência, Marcelo Glaiser........................................................................................... 31

09 História do livro, da imprensa, da tipografia, das bibliotecas e da leitura, Cultvox........ 35

10 100 mais do século XX – Ficção, Folha de São Paulo ................................................................ 39

11 100 mais do século XX – Não-Ficção, Folha de São Paulo ...................................................... 48

Referências

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PREFÁCIO Existe uma grande variedade de temas em diversas áreas do conhecimento que

podem ser explorados por mentes letradas e curiosas. Uma pessoa interessada em sua

formação intelectual não deveria necessariamente concentrar suas leituras em uma

especialidade do conhecimento. Além da leitura dos clássicos – que é a ênfase destas listas

- buscar referências que abordem de forma lúcida grandes questões relativas às ciências,

artes e humanidades do nosso tempo é fundamental.

Como tinha o costume de procurar por boas indicações de leitura através da

internet, acumulei uma variedade de referências sobre livros. Foi então que com o passar

dos anos, algumas das fontes originais das referências não estavam mais disponíveis, e

então resolvi organizar as que tinha salvo em meu computador pessoal para poder

compartilhar com os amigos.

A seleção de referências não tem a intenção de apresentar todas as possibilidades

de leitura em um universo abrangente. Listas mais específicas sobre literatura russa,

literatura policial, ficção-científica, histórias em quadrinhos, por exemplo, poderiam ser

adicionadas para oferecer maiores opções na esfera ficcional.

Esta listagem não tem nenhum interesse comercial. Ou seja, não pode ser vendida

ou revendida em hipótese alguma. O objetivo desta compilação é o de poder contribuir de

algumas forma com o estímulo a leitura e o desenvolvimento de coleções em bibliotecas.

Todo o material foi compilado de recursos de acesso livre na internet e os autores das

listas, fontes originais e datas de acesso foram devidamente preservados.

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Os 10 mais sobre Leitura Criativa por Gabriel Perissé Quem deseja escrever melhor precisa ler melhor. Não digo que deva ler muito, embora seja desejável. Não digo que deva ler tudo, o que é obviamente impossível. Prefiro sugerir que cada um leia bem o que de melhor encontrar. Nesta lista, apresento alguns títulos que me parecem importantes para a formação de um escritor. 1 - Como Ler um Livro, de Mortimer Adler O autor abre nossos olhos para a consciência de que a leitura é uma aventura. Adler valoriza muitíssimo a leitura dos clássicos, e prega uma visão humanística baseada nas grandes conquistas dos pensadores e literatos ocidentais. Um livro que inspira seriedade e serve como trampolim para muitas reflexões. Autor Mortimer Adler Título Como Ler um Livro Editora Guanabara Ano 1994 ISBN 8527701650 2 - O Escafandro e a Borboleta, de Jean-Dominique Bauby Mais do que poderia ensinar-nos um livro teórico, esse é a aventura criativa de um jornalista que, vítima de uma síndrome paralisante, perdeu todos os movimentos e só conseguia piscar o olho esquerdo. Pois bem, nesta situação de calamidade quase absoluta, Bauby redige um livro em que a borboleta da imaginação voa além dos limites. Autor Jean-Dominique Bauby Título O Escafandro e a Borboleta Editora Martins Fontes Ano 1997 ISBN 8533606516 3 - A Arte da Ficção - Orientação para Futuros Escritores, de John Gardner Um livro que não cai no defeito irritante de expor mandamentos artificiais para realidades complexas. Escrever é uma arte que exige muito mais do que obediência. A trans-obediência (algo mais do que a simples desobediência) é ouvir (ob + audire, no latim, resultou no obedecer) faz-nos escutar essa voz profunda que é a nossa própria voz. Autor John Gardner Título Original A Arte da Ficção - Orientação para Futuros Escritores Editora Civilização Brasileira Ano 1997 ISBN 8520003303

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Os 10 mais sobre Leitura Criativa por Gabriel Perissé 4 - Uma História da Leitura, de Alberto Manguel Um escritor, como dizia Ezra Pound, tem de ler, assim como um pintor tem de ver muitos quadros e um músico ouvir muitas sinfonias. A história da leitura é a história de leitores insaciáveis, que, mais do que a quantidade, viam na pluralidade das leituras uma forma de atingir a qualidade da percepção do mundo e de si mesmos. Autor Alberto Manguel Título Uma História da Leitura Editora Companhia das Letras Ano 1997 ISBN 8571647003 5 - A Coragem de Criar, de Rollo May Mais do que tudo, o escritor tem de exercitar a coragem. Criar é um ato de solidão, de sofrimento e de alegria, de descoberta e de comunhão. É preciso ter a coragem de sair da rotina tranqüilizante, para abrir caminho com os próprios pés, "golpe a golpe, verso a verso", como escreveu Antonio Machado. Autor Rollo May Título A Coragem de Criar Editora Nova Fronteira Ano 1982 6 - Ser Criativo - O Poder da Improvisão na Vida e na Arte, de Stephen Nachmanovitch Um dos melhores livros impulsionadores da criatividade que conheço. Simples, mas com reflexões de índole filosófica que fazem realmente pensar, o livro que recomendo agora elimina uma série de preconceitos que travam a vida criativa de muitos seres humanos, uma vez que a vida também é uma arte... também é uma biografia criativa! Autor Stephen Nachmanovitch Título Ser Criativo - O Poder da Improvisão na Vida e na

Arte Editora Summus Editorial Ano 1993 7 - Os Problemas da Estética, de Luigi Pareyson Esse livro traz uma série de reflexões dispostas a desmanchar falsos dilemas que alimentam falsas atitudes. Por que, por exemplo, opor arte individual a arte coletiva, ou arte engajada a arte alienada? Luigi Pareyson nos ensina a pensar em termos de contraste e não de oposição, atitude esta que, sem dúvida, facilita uma compreensão generosa da arte e da vida.

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Os 10 mais sobre Leitura Criativa por Gabriel Perissé Autor Luigi Pareyson Título Os Problemas da Estética Editora Martins Fontes Ano 1995 8 - Como um Romance, de Daniel Pennac Com aquele inconfundível estilo francês que põe a liberdade acima de tudo e valoriza ao máximo os comportamentos inovadores, esse livro é um formador de leitores que, volto a insistir, é condição básica para que uma pessoa se sinta à vontade na escrita criativa. "Como um Romance" é um livro didático que nada tem de didático e, por isso, penso eu, ensina mesmo! Autor Daniel Pennac Título Como um Romance Editora Rocco Ano 1995 ISBN 8532504256 9 - Estética, de Alfonso López Quintás Esse pensador espanhol tem realizado um trabalho importantíssimo para a compreensão da arte e em particular da literatura na compreensão do mundo em transformação, cujos paradigmas e paradogmas precisam ser abalados pela criatividade. Nesse livro, a teoria não sufoca a prática, e é uma fonte inspiradora para todo aquele que quiser escrever algo que valha a pena. Autor Alfonso López Quintás Título Estética Editora Vozes Ano 1993 ISBN 8532608981 10 - Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke Clássico da literatura "inspiradora", vamos chamar assim, que nos mostra o que é o processo interno da criação poética e da criação artística, em geral, se tivermos o bom senso de ler essas cartas como uma confidência pública de um artista em carne viva. Estas cartas foram dirigidas a todos os poetas, quer escrevam em versos, ou em prosa. Autor Rainer Maria Rilke Título Cartas a um Jovem Poeta Editora Globo Ano 1995

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Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 1 - Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880-81) não é apenas, como ensinam os livros escolares, o romance que marcou o início da chamada "fase madura" do carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908). Ele representa o amadurecimento da própria literatura brasileira. Isso porque, ao mesmo tempo que a coloca em sintonia com o que de mais avançado havia sido produzido até então nas letras mundiais - o Tristram Shandy, por exemplo, do irlandês Laurence Sterne (1760-67) -, faz com que ela adquira personalidade própria. "Foi nesse livro surpreendente que Machado descobriu, antes de Pirandello e de Proust, que o estatuto da personagem na ficção não depende, para sustentar-se, de sua fixidez psicológica nem da sua conversão em tipo", escreveu o crítico Alfredo Bosi. Assim, para além do inusitado de seu irônico ponto de partida - um morto escrevendo sua autobiografia - e de algumas passagens extraordinárias (caso do capítulo O Velho Diálogo de Adão e Eva, composto de pontinhos, exclamações e interrogações), Memórias Póstumas... põe em cena autênticos heróis trágicos, que, como ensinou o velho Aristóteles, não devem ser nem inteiramente bons nem inteiramente maus; noutras palavras, apenas homens e mulheres comuns, reais. Autor Joaquim Maria Machado de Assis Título Memórias Póstumas de Brás Cubas Ano 1880-81 2 - Dom Casmurro, de Machado de Assis Se Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Quincas Borba (1891) já revelavam um autor maduro, uma maturidade forjada no niilismo que a ironia tão bem representou, Dom Casmurro (1899) - inescapável reafirmar, com o perdão do leitor, diria Machado - atesta um momento de genialidade da literatura brasileira. A história é narrada por um certo Bento Santiago, o Bentinho, o Dom Casmurro do título, segundo a maldade dos vizinhos. Amargo, ele conta a história da traição de que teria sido vítima: o envolvimento de sua mulher, Capitolina, a Capitu, com seu melhor amigo, Escobar. Como Bentinho não dá provas concretas do adultério, a suposta traição ainda rende tribunais literários. Saber se Capitu traiu ou não o marido tem, na realidade, importância nula. O brilho do romance está precisamente nisso - apoiar-se em aparências, ou, pelo menos, na certeza, por assim dizer, traidora do ciúme. Será por acaso que Bentinho assiste a Otelo, de William Shakespeare? Se o cânone ocidental tem Shakespeare no centro, como acredita Harold Bloom, por que o romance realmente canônico da literatura brasileira o desprezaria? Autor Joaquim Maria Machado de Assis Título Dom Casmurro Ano 1899

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Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 3 - Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto Publicado em folhetim na edição vespertina do Jornal do Comércio exatamente entre os dias 11 de agosto e 19 de outubro de 1911, Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), que só sairia em livro em 1916, é um dos romances que, até hoje, melhor identificam o Brasil e os brasileiros. A começar pelo próprio autor. Mulato, de família humilde, o pai enlouquecido, o carioca Lima Barreto precisou enfrentar ao longo de seus 41 anos toda a sorte de preconceitos a que alguém de sua origem costuma ser submetido por aqui. Pessoalmente, foi derrotado - pelo álcool, pela loucura. Do livro em si, basta resumir-lhe o enredo formidável: homem honesto, patriota e sonhador esforça-se por um país que, conforme constatará no final, "era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir havia". Também ele, Policarpo Quaresma, acaba derrotado - em seus projetos culturais (queria o tupi como idioma pátrio), agrícola (sugeria a reforma agrária) e político-administrativo (o presidente, Floriano Peixoto, acabaria sendo uma de suas maiores decepções). Autor Afonso Henriques de Lima Barreto Título Triste Fim de Policarpo Quaresma Ano 1916 4 - Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade A prosa ficcional brasileira só chegou ao século 20 em 1924, ano em que o paulista José Oswald de Sousa Andrade (1890-1954) publicou, às próprias expensas, o romance Memórias Sentimentais de João Miramar. Foram sete anos de trabalho, o mesmo tempo do Ulisses (1922), de James Joyce, que por sua vez trouxera o Novecentos para a ficção mundial - e com o qual Miramar costuma ser associado. Consciente da originalidade de sua obra, Oswald de Andrade prepara o leitor para o romance por meio de duas epígrafes - que falam de "novas asas" (Basílio da Gama) e de uma "fala escura", a exigir que se "acenda uma candeia no entendimento" (A Arte de Furtar) - e também de um prefácio irônico, que classifica o livro de "mordaz ensaio satírico". Construído em 163 fragmentos, Memórias Sentimentais de João Miramar surpreende pelos limites que destrói: mistura prosa e poesia, literatura, cinema e artes plásticas, amor e humor, telegrama, paródia e fluxo da consciência. (Poderia ter citado o crítico Mário da Silva Brito, dispensaria tudo o que foi dito até aqui; segundo ele, Miramar simplesmente preparou o terreno para Macunaíma, de Mário de Andrade, Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.) Autor José Oswald de Sousa Andrade Título Memórias Sentimentais de João Miramar Ano 1924 ISBN 8525008036

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Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 5 - Macunaíma, de Mário de Andrade Como toda vanguarda, o modernismo brasileiro começou defendendo uma estética de exclusão do passado - e o paulista Mário de Andrade (1893-1945) foi dos que mais cultivaram essa postura, a ponto de, em Paulicéia Desvairada (1922), inaugurar e matar uma "escola literária" no espaço de tempo de um prefácio. Num segundo momento, o escritor considerou fundamental "abrasileirar" sua obra; assim, de cosmopolita, paulistano, seu trabalho passou a ser mais "brasileiro". Foi dessa maneira que a estética da exclusão transformou-se numa estética de inclusão (de valores nacionais, gêneros etc.). O ponto culminante da nova linha de atuação seria a rapsódia Macunaíma (1928). O livro percorre diferentes lendas, costumes e cenários do país - copiados, parodiados, distorcidos - para narrar as aventuras do herói que tenta recuperar e depois manter o muiraquitã, um amuleto que ganhara de Ci, a Mãe do Mato. Sua mencionada "falta de (um) caráter" já foi interpretada como uma metáfora do Brasil (diverso, múltiplo), o que faz sentido quando se observa, por exemplo, o caldeirão lingüístico do romance. Não é exagero, aliás, afirmar que a linguagem é tão protagonista do livro quanto seu personagem-título. Erroneamente, costuma-se dizer que Mário de Andrade buscou em Macunaíma criar uma língua brasileira, quando na verdade ele só se referia a uma fala brasileira (lembre-se de seu projeto de escrever uma Gramatiquinha da Fala - e não da língua - Brasileira). Autor Mário de Andrade Título Macunaíma Ano 1928 6 - Vidas Secas, de Graciliano Ramos Quarto e último romance do alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), Vidas Secas, publicado em 1938, é um daqueles livros - como não poderia deixar de ser num autor obcecado pela excelência da linguagem - cuja leitura torna o ofício de escritor algo mais difícil. Trata-se da primeira obra em que Graciliano abandonou o narrador, digamos assim, "emotivo", em favor de outro, mais objetivo. Isso não foi exatamente uma escolha, mas sim uma imposição do próprio romance. Para abordar o estar-no-mundo de uma família nordestina brasileira, Graciliano entendeu que só o texto enxuto, econômico era cabível. Poucas vezes na literatura nacional o esforço em provocar a sadia confusão entre forma e conteúdo foi tão bem-sucedido quanto em Vidas Secas. O livro apresenta ainda outro traço que merece destaque: sua estrutura. Os capítulos têm vida própria - chegaram a ser publicados como contos -, embora, vistos em conjunto e na seqüência em que compõem o romance, revelem-se harmoniosos. O capítulo (ou conto) sobre a morte da cadela Baleia é um dos momentos mais sensíveis da prosa de ficção do país. Autor Graciliano Ramos Título Vidas Secas Ano 1938 ISBN 8501005584

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Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 7 - Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa Poucos romances do século 20, em qualquer um dos grandes idiomas ocidentais, podem ser comparados a esta que seria a única experiência do mineiro João Guimarães Rosa (1908-67) no gênero. Não é difícil entender o porquê. Como em qualquer obra-prima, Grande Sertão: Veredas (1956) faz com que a linguagem, a representação, alcance o status de seu objeto. É na arena da linguagem, conforme já observou Haroldo de Campos, que se dá o embate entre o homem e o demônio. Explica-se. Riobaldo é um ex-jagunço do norte de Minas, que narra sua vida num jorro lingüístico extremamente original e cercado de preocupações de ordem metafísica, sobretudo acerca da existência ou não do diabo - com quem teria feito um fáustico acordo na juventude para poder derrotar seu inimigo Hermógenes. Em meio a essas questões, imiscui-se o plano amoroso: a paixão de Riobaldo por Diadorim, que ele supunha ser o corajoso Reinaldo, mas, após sua morte, descobre que era, na verdade, uma mulher. Painel do Brasil sertanejo, reflexão sobre o destino humano, luta entre forças espirituais e da natureza, oralidade, neologismos, arcaísmos, destruição do tempo e do espaço, libido - Grande sertão... é um romance que cumpre à risca o que o alemão Thomas Mann acreditava ser o único caminho de sua sobrevivência: mostrar-se como uma sinfonia de gêneros e temas. Autor João Guimarães Rosa Título Grande Sertão: Veredas Ano 1956 ISBN 8520903878 8 - Laços de Família, de Clarice Lispector Nascida na Ucrânia, Clarice Lispector (1926-77) demorou oito anos e três romances para se lançar como contista. Em compensação, as seis histórias de Alguns Contos (1952), sua estréia no gênero, seriam reaproveitadas no livro seguinte, Laços de Família (1960) - que, reforçado com sete textos até então inéditos, seguiria sendo sua principal coletânea de narrativas curtas. Compreende-se. Amor, por exemplo, já presente no livro de 52, está num degrau muito próximo de Missa do Galo, de Machado de Assis, e A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa, obras-primas do conto brasileiro. Além disso, sua protagonista, Ana - uma mulher comum, que no início da história está voltando das compras para casa -, experimenta uma epifania que, de certa maneira, seria um paradigma de toda a ficção de Clarice. Ana e o cego "que mascava chicles", visto por ela num ponto de bonde, antecipam a narradora e a célebre barata, objeto de "manducação", do romance A Paixão Segundo GH (1964), outro livro extraordinário de Clarice Lispector. Autor Clarice Lispector Título Laços de Família Ano 1960

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Os 10 mais da Ficção Brasileira por Rinaldo Gama 9 - Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa Livro seguinte a Grande Sertão: Veredas, de 1956, Primeiras Estórias (1962) tinha uma missão quase impossível - manter seu autor no patamar mais alto da literatura brasileira, posição que fora consolidada com o lançamento de seu primeiro, e único, romance. Como que para afirmar seu domínio pleno de todas as instâncias da narrativa de ficção, Guimarães Rosa escolheu a história curta na hora de reencontrar, em livro, o público e a crítica - o tradutor e ensaísta Paulo Rónai, por exemplo, à época do exuberante Sagarana (1946), duvidara dos dotes do autor para o conto breve. Não é preciso avançar muito na leitura de Primeiras Estórias para que o leitor se curve diante da excelência da prosa rosiana. Na sexta das 21 narrativas do livro encontra-se aquele que é o mais extraordinário conto da ficção brasileira desde Missa do Galo, de Machado de Assis - A Terceira Margem do Rio. A história do pai que um dia larga tudo e embarca numa canoa, para não ir a parte alguma, mas apenas executar "a invenção de se permanecer naquele espaço do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais", exibe uma estranha beleza: dilacerante. Quando o filho-narrador, "uns primeiros cabelos brancos", tenta substituí-lo naquele estranho exílio, já é possível prever o final desesperadamente humano do conto. Em tempo: Rosa teve a idéia desta história andando na rua; ao chegar em casa, escreveu-a num jato, o que não era comum. Depois, esfuziante, começou a ligar para os amigos, a fim de dividir com eles a felicidade de sua desconcertante criação. Autor João Guimarães Rosa Título Primeiras Estórias Ano 1962 ISBN 8520904440 10 - O Convidado, de Murilo Rubião No plano da prosa ficcional, o escritor mineiro Murilo Rubião (1916-91), a exemplo do argentino Jorge Luis Borges, só se dedicou ao conto. A referência ao autor de O Aleph não é gratuita: como ele, Murilo Rubião também explorou o fantástico - foi o primeiro escritor moderno do Brasil a cultivar o gênero. Sua obra, no entanto, se aproxima mais do tcheco Franz Kafka, conforme observou Mário de Andrade ainda em 1943, quando o mineiro só havia publicado alguns contos esparsos em revistas (seu primeiro livro, O Ex-Mágico, é de 1947). Ex-católico, Murilo Rubião sempre incluiu epígrafes retiradas da Bíblia em seus livros e antes de cada história. Seu amadurecimento, já disse com razão o crítico e professor de literatura Jorge Schwarz, pode ser deduzido a partir da escolha delas. Na abertura de O Convidado (1974), sua melhor obra, lê-se: "Ao sobrevir-lhes de repente a angústia, eles buscarão a paz, e não haverá" (Ezequiel, VII, 25), o que explicita o fim da pouca esperança e da perplexidade diante do absurdo que saltavam das inscrições bíblicas das coletâneas anteriores. O conto O Convidado encaixa-se à perfeição na epígrafe do livro. A história de um certo José Alferes, que um dia recebe um convite anônimo para participar de uma festa, sem que sejam mencionados nem data nem local, é, a um só tempo, kafkiana e reveladora daquela inexerorável angústia de que fala Ezequiel, posto que o protagonista jamais conseguirá se safar da armadilha em que cai a partir do momento em que decide comparecer ao compromisso. Obsessivo, Murilo Rubião escreveu e reescreveu este conto por quase 30 anos - a idéia lhe ocorreu em 1945, durante uma festa na casa do pintor Lasar Segall (basta ir ao museu que hoje leva o nome do artista para reconhecer certos ambientes relatados na história). Seu perfeccionismo foi compensador: O Convidado - impossível deixar de ratificar - é uma obra-prima.

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Os 10 mais da Ficção Alemã por Modesto Carone A literatura alemã é uma das mais importantes da literatura universal, não só da Europa, como da História Universal. Ela cobre todas as épocas, da Idade Média à contemporaneidade. E, embora seja pouco difundida entre nós (com algumas exceções, evidentemente), oferece acesso em português a suas obras-primas. A lista que se segue no momento está restrita a suas dez principais obras de ficção narrativa. Não há melhor indicação no Brasil para conhecimento da literatura alemã, em português, do que a História da Literatura Alemã escrita pelo crítico austro-brasileiro Otto Maria Carpeaux. 1 - Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe É certamente a obra máxima da literatura alemã e nenhuma lista pode dispensá-la. Drama em duas partes (Fausto I e Fausto II), das quais a primeira é a mais universalmente conhecida. A ambição de dominar tudo por meio do estudo e da experiência leva Fausto, já velho, a fazer um pacto com o diabo, aqui representado pela figura de Mefistófeles. Autor Johann Wolfgang von Goethe Título Fausto Título Original Faust Ano 1773-1831 ISBN 8585831596 2 - A Metamorfose, de Franz Kafka Considerada por Elias Canetti a maior obra de ficção mundial, narra a transformação do anti-herói Gregor Samsa num inseto monstruoso e os conflitos que passa a enfrentar com o pai, a mãe e a irmã. Autor Franz Kafka Título A Metamorfose Título Original Die Verwandlung Editora Editora Brasiliense, 1985, tradução de Modesto

Carone Ano 1916

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Os 10 mais da Ficção Alemã por Modesto Carone 3 - Os Irmãos Serapião, de E.T.A. Hoffmann São quatro volumes de contos, dos quais participam obras-primas do grande romântico alemão que influenciou amplamente a literatura européia, de Gógol a Dostoiévski, de Balzac a Maupassant e de Baudelaire a Kafka. Qualquer coletânea de contos de Hoffmann (1776-1822) pode ser lida com o maior proveito artístico por quem se interessa pelo gênero e pela criação literária em geral. Autor E.T.A. Hoffmann Título Os Irmãos Serapião Título Original Die Serapionsbrüder Ano 1818-21 4 - Mozart na Viagem a Praga, de Eduard Moerike É uma das mais belas e memoráveis novelas de lingua alemã. O centro de orientação da narrativa de Moerike (1804-75), poeta de primeira, é a personagem idealizada de Mozart, cuja ópera Don Giovanni foi apresentada pela primeira vez em Praga. Autor Eduard Moerike Título Mozart na Viagem a Praga Título Original Mozart auf der Reise nach Prag Ano 1856 5 - A Morte de Danton, de Georg Büchner Este drama do período pré-romântico alemão mostra, numa linguagem teatral inovadora, os últimos momentos de Danton, herói da Revolução Francesa, devorado, como um filho de Saturno, pelo movimento político e social que ele próprio liderou. Autor Georg Büchner Título A Morte de Danton Título Original Dantons Tod Ano 1835 ISBN 8500912006

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Os 10 mais da Ficção Alemã por Modesto Carone 6 - A Marquesa de O. e Outras Histórias, de Heinrich von Kleist Kleist (1777-1811) é um dos estilistas exemplares da prosa alemã. Nas oito novelas que deixou, introduz um narrador original (que depois influenciou o de Kafka), já descrito como alguém que conta um caso excepcional de costas viradas para o público. Autor Heinrich von Kleist Título A Marquesa de O. e Outras Histórias Título Original Die Marquise von O. Ano 1808 ISBN 8531201985 7 - A Montanha Mágica, de Thomas Mann Romance que agora volta à vaga com a energia e a sutileza de Thomas Mann (1875-1955), um escritor que não recua diante da complexidade, a ponto de transformar idéias e argumentos em personagens da trama. Autor Thomas Mann Título A Montanha Mágica Título Original Der Zauberberg Ano 1924 8 - O Homem sem Qualidades, de Roberto Musil Romance-ensaio de grandes proporções, comparável ao de Proust e aos de Thomas Mann, onde intervêm, na história de Ulrich, o herói problemático, discussões enciclopédicas no amplo cenário de Viena e do Império Austro-Húngaro, aqui satirizado com o nome de "Kakanien". Autor Roberto Musil Título O Homem Sem Qualidades Título Original Der Mann Ohne Eigenschaften Editora editora Nova Fronteira, tradução de Lya Luft e Carlos

Abbenseth Ano 1930, 1933, 1943 (o livro foi lançado em volumes) ISBN 8520901778

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Os 10 mais da Ficção Alemã por Modesto Carone 9 - O Processo, de Franz Kafka Um dos maiores romances do século 20, ao lado de O Castelo. O protagonista, Josef K., é detido, julgado e executado sem saber por que nem por quem. O "narrador insciente" (não-onisciente) de Kafka (1883-1924) dá coerência estética ao relato romanesco e aponta para um universo em que já se perdeu a noção de totalidade. Autor Franz Kafka Título O Processo Título Original Der Prozess

Editora editora Brasiliense, 1988, tradução de Modesto Carone, vencedora do Prêmio Jabuti de tradução em 1999 - depois reeditado pela Companhia das Letras

Ano 1924 10 - O Tambor, de Günter Grass O estilo naturalista de Grass (1927), extremamente vigoroso, confere forma a este extenso romance e colide de frente com uma trama quase surreal, aqui concebida, em grande parte, com o sintoma palpável de uma realidade detectada. Autor Günter Grass Título O Tambor Título Original Die Blechtrommel Ano 1959 ISBN 8520910327

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Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório

A ordem, cronológica, respeitou as datas de primeira edição. A lista de apenas dez títulos e títulos apenas de ficção - o que deixa Charles Baudelaire e Francis Ponge, por exemplo, fora da jogada - não tinha como isentar sua autora de uma boa dose de parti pris. A única justificativa para o recorte proposto, sendo assim uma mescla de convivência e fascínio, especialização e caso amoroso com a literatura em questão. Críticos literários tão instigantes quanto Harold Bloom ou, em escala nacional, Haroldo de Campos, trabalham, sem maiores problemas, com um cânone restrito, em que só entram os pontos realmente culminantes. Ora, num grau extremo de seleção, é um cânone desse tipo que aqui se apresenta, percorrendo os quatro séculos que, desde a virada renascentista (que é shakespeariana), chamamos, sem confusão com "modernismos" e "modernidade" (que é baudelairiana), de "o moderno". 1 - A Princesa de Clèves, de Madame de La Fayette Publicado anonimamente em 1678, o romance narra o evitamento exemplarmente moral de um amor proibido da princesa do mesmo nome por um duque da corte de seu marido. Desde sempre, especulou-se com a possibilidade de se tratar aí de uma obra clandestina de La Rochefoucauld, freqüentador do salão da autora e seu amante. Mas, seja qual for a verdadeira autoria ou o gênero de quem assina, problema que por si só já é fascinante, o livro representa ainda a fundação do romance moderno, e é também, como se aprende nos cursos de francês, o ancestral dos romances psicológicos. Autor Madame de La Fayette Título A Princesa de Clèves Título Original La Princesse de Clèves Ano 1678 ISBN 8525003298 2 - A Filosofia de Alcova, do Marquês de Sade Organizado em diálogos, como se fazia no século 18, o texto (seria um romance?) é supostamente impresso em Londres, em 1795. Ele "repertoria" as, para dizer o mínimo, perturbadoras lições dadas a uma jovem, Eugénie, por um professor de libertinagem, Dolmancé. No final do livro, entre o quinto e o sexto diálogos, insere-se o célebre panfleto "Français, encore un effort", que dá sustentação filosófica a toda a perversão (no sentido freudiano) preconizada. Em epígrafe, a inquietante frase: "A mãe prescreverá sua leitura à filha". Há várias traduções possíveis, algumas clandestinas. Recentemente, temos uma excelente nova tradução, seguida de um belo estudo crítico, por Augusto Contador Borges. Esta saiu pela editora Iluminuras, em 1999. Autor Marquês de Sade Título A Filosofia da Alcova Título Original La Philosophie dans le Boudoir ou Les Instituteurs

Immoraux Editora Ed. Iluminuras, 1999, tradução de Augusto Contador

Borges Ano 1795

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Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório 3 - Ilusões Perdidas, de Honoré de Balzac De 1837, este é talvez o mais belo dos fragmentos em mosaico do monumento intitulado, em lembrança e desafio a Dante, A Comédia Humana. Ele entra no tomo IV das Cenas da Vida Provinciana de Balzac (1799-1850), onde se narra a ascensão e queda, no meio jornalístico e literário da época, de um alter ego de Balzac, o célebre Lucien de Rubempré. Aquele mesmo de cuja morte Oscar Wilde dizia - e ele não estava brincando - que foi a maior tristeza de sua vida. A tradução desta obra deve-se à heróica iniciativa da velha editora Globo de Porto Alegre, que encomendou a versão de toda A Comédia Humana. E deve ser encontrável por toda parte, em sebos, bibliotecas e livrarias. Autor Honoré de Balzac Título Ilusões Perdidas Título Original Les Illusions Perdues Editora Ed. Globo (Porto Alegre) Ano 1837-43 4 - Crônicas Italianas, de Stendhal São oito novelas, de diferentes datas, só postumamente reunidas, em 1855, quando se editaram as obras completas de Stendhal (1783-1842). Saídas do palimpsesto de preciosos manuscritos italianos antigos adquiridos pelo autor, todas transpiram sua fascinação pela energia do país em que viveu e foi diplomata. E sua fixação nas mulheres, que o faz ser um dos raros escritores franceses poupados por Simone de Beauvoir em O Segundo Sexo. A premiada tradução do poeta Sebastião Uchoa Leite, Crônicas Italianas, pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), saiu em 1997. Autor Stendhal Título Crônicas Italianas Título Original Chroniques Italiennes Editora EDUSP, 1997, tradução de Sebastião Uchôa Leite Ano 1855 ISBN 8531404134 5 - Bouvard e Pécuchet, de Gustave Flaubert Obra tão desconhecida dos leigos quanto, para os especialistas, o topo da progressão do autor de Madame Bovary e, por isso mesmo, imperdível. Mas o leitor, no fundo, já ouviu falar deste livro, sem saber. Já que é aí que encontramos, a título de arremate, o célebre Dictionnaire des Idées Reçues. O romance (melhor seria dizer anti-romance), só publicado postumamente, em 1881, conta a história de dois hilários aposentados que se entregam no campo normando a leituras e experiências científicas de toda espécie, sempre fadadas a dar errado. Outra maneira de dizer isso seria notar que Flaubert (1821-1880) se põe aí a satirizar genialmente todos os discursos competentes, tudo se resumindo num Dicionário das Idéias Feitas ou, como o chamou Augusto de Campos, "Tolicionário". Em português do Brasil, contamos com a excelente tradução de Galeão Coutinho e Augusto Meyer publicada pela Nova Fronteira em 1981.

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Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório Autor Gustave Flaubert Título Bouvard e Pécuchet Título Original Bouvard et Pécuchet Editora Nova Fronteira, 1981, tradução de Galeão Coutinho e

Augusto Meyer Ano 1881 ISBN 8526212028 6 - Às Avessas, de Joris-Karl Huysmans Bíblia dos decadentistas, o livro já seria obrigatório só pelo fato de sua personagem central, um certo Des Esseintes, inspirar-se na mesma figura humana que é a melhor chave para o barão de Charlus de Proust: o poeta menor e dândi enlouquecido Robert de Montesquiou. Mas, não bastasse isso - e ainda a existência de um poema de Mallarmé para o mesmo Des Esseintes, o que faz de Montesquiou a obsessão de três grandes ao mesmo tempo -, ele é ainda importantíssimo porque marca a ruptura de Huysmans (1848-1907) com o naturalismo de Zola, a cartilha estética da época. Totalmente revolucionário e surpreendente. A tradução disponível leva a assinatura de um poeta: José Paulo Paes. Saiu pela Companhia das Letras. Autor Joris-Karl Huysmans Título Às Avessas Título Original À Rebours Editora Companhia das Letras, tradução de José Paulo Paes Ano 1884 ISBN 8585095121 7 - Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust O mais importante romance da história da literatura ocidental, assim mesmo, em termos absolutos, para nove entre dez listas dos dez mais. Trata-se de uma atordoante seqüência de volumes, o primeiro dos quais de 1913, em que, na falta de melhor, um sujeito revira-se na cama, pensando no tempo que passa e na urgência de captá-lo, antes que seja tarde, numa obra digna desse nome. Daí o romance ser também, além de uma prospecção do passado, em que entra tudo sobre a França crepuscular da Terceira República, uma infinita ansiedade com relação ao futuro e - principalmente - uma consciência vertiginosa do presente. Todas as vozes confundidas no tempo real da narração e tudo isso no estilo torturantemente digressivo de Proust (1871-1922), que escreve por dez anos, exilado no famoso quarto ao abrigo do mundo exterior, com paredes forradas de cortiça. Apesar das dimensões do texto de cerca de 4.000 páginas, em matéria de tradução, há escolha. Já que, desde os anos 80, o tradutor Fernando Py reenceta, sozinho, para a Ediouro, a façanha coletiva do pool de poetas (Mário Quintana, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade) convocados, no passado, pela velha Globo de Porto Alegre. Pelo efeito de démodé absolutamente proustiano do trabalho de Mário Quintana, sugerimos a edição revista da Globo, de 1988, em sete volumes, intitulada Em Busca do Tempo Perdido.

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Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório

Autor Marcel Proust Título Em Busca do Tempo Perdido Título Original À la Recherche du Temps Perdu Editora Ed. Globo (revista), 1988 Ano 1913-27 8 - Monsieur Teste, de Paul Valéry Perfeito alter ego do autor, como personagem inacabada e inacabável que é, o enigmático Monsieur Teste acompanha Valéry (1871-1945), nos bastidores de sua criação, por toda a vida, desde as primeiras edições, em 1926, 1927. Teste, como o apresenta o próprio autor, pertence à espécie raríssima dos monstros desarticuladores que, em sua incessante ginástica mental, não podem permanecer sequer um segundo sendo o que eram antes. Trata-se de personagem tão mais fabulosa quanto, além de exprimir os impasses de Valéry infinitamente tensionado entre o rigor matemático e a liberdade artística, representa a única investida ficcional do poeta, pensador e ensaísta que é, preponderantemente, o autor de Variété. Com cerca de 70 anos de atraso, até onde eu chego, só recentemente saiu uma tradução, em 1998, pela Ática. Autor Paul Valéry Título Monsieur Teste Título Original Monsieur Teste Editora Ed. Ática Ano 1926 ISBN 8508065965 9 - Morte a Crédito, de Louis-Ferdinand Céline Se é verdade que existe um grande poema universal que está sempre sendo recomeçado, e se é certo que esse texto infinito é o que seria a literatura, Céline (1894-1961) continua em Mort à Crédit (Morte a Crédito) a obra-prima de Marcel Proust. Até porque, confessadamente, é com Proust que queria se medir este médico de dispensário, na vida real Louis-Ferdinand Destouches, supostamente envolvido com a Colaboração, o que é um reducionismo, e o melhor autor francês depois de seu mestre. Eis por que o herói deste romance de 1936, posterior a Voyage au Bout de la Nuit (Viagem ao Fim da Noite) e bem menos conhecido, é também um Narrador rememorante e sem idade, em primeira pessoa e preso a um fio de voz. Saído não dos salões belle époque como Proust mas direto da experiência da guerra, de que fala o título. Há apenas três romances de Céline traduzidos entre nós, o que é alguma coisa, mas ainda assim muito pouco para um autor dessa importância e, ainda por cima, torrencial. Sob o título Morte a Crédito, há uma edição da Nova Fronteira, de 1982, infelizmente com alguns problemas "tradutórios".

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Os 10 mais da Ficção Francesa Leda Tenório Autor Louis-Ferdinand Céline Título Morte a Crédito Título Original Mort à Crédit Editora Ed. Nova Fronteira Ano 1936 ISBN 8520906575 10 - O Inominável, de Samuel Beckett Que vem fazer em território francês este irlandês auto-exilado falante do inglês? Manifestar, como todo grande escritor, seu estranhamento em relação ao próprio idioma. No caso, de maneira espetacularmente literal, já que Beckett (1906-1989) põe-se a escrever em outra língua que não a sua, tornando-se nessa outra um dos mais importantes escritores do século. Munido de seu bizarro estilo coloquial praticamente em pane, sem afetação nenhuma de elegância ou de modernidade, bem no meio do chique literário parisiense. L’Innommable, romance de 1953 sobre a necessidade de calar-se, é um dos pontos altos disso tudo. Autor Samuel Beckett Título O Inominável Título Original L’Innomable Ano 1953 ISBN 8520901409

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Os 10 mais da Ficção Inglesa por Marisis Camargo

Uma viagem através do tempo pela literatura inglesa pode ser uma aventura intelectualmente enriquecedora e divertida. O roteiro que aqui sugerimos é apenas uma dentre muitas alternativas. Ele tem por objetivo introduzir o leitor à riqueza de uma imensa produção literária que reflete os valores sociais, históricos, morais e estéticos de toda uma nação, ou melhor, de um império. Toda literatura manifesta-se primeiramente em forma poética. Também na literatura inglesa o primeiro texto literário documentado é um poema épico, Beowulf, escrito no período denominado de Old English (450-1100), quando a essa literatura estava ainda em seu nascedouro. Já o nascimento da narrativa de ficção pode ser festejado no período romântico.

Vamos navegar através dos séculos pela ficção inglesa. As obras selecionadas estão apresentadas em ordem cronológica para que o leitor possa acompanhar a evolução desta literatura. Recomendaremos as obras em sua língua original, mas várias podem ser lidas em português. Lembramos ainda que várias obras têm sido adaptadas ao cinema. 1 - Contos de Cantuária, de Geoffrey Chaucer Escrita por Geoffrey Chaucer (1340-1400), Canterbury Tales é um primor de obra que precede o período romântico e foi escrita em versos, segundo o costume da época. Os Contos de Cantuária são uma interessante coletânea inacabada de contos narrados por um grupo de peregrinos com destino à Abadia de Canterbury e liderado por um personagem que muitos críticos identificam com o próprio autor da obra. O modelo seguido é aquele do Decameron, de Boccacio. Esta obra dá-nos uma boa visão da vida doméstica medieval, apresentando estereótipos humanos das diferentes camadas sociais com suas fraquezas e virtudes em tom que varia do humorístico ao irreverente e, muitas vezes, até ao obsceno. Particularmente interessante é a descrição da esposa cortesã, casada várias vezes, experiente na arte do amor, com suas ancas amplas e dentes separados e enormes, que na simbologia medieval significavam sensualidade. Autor Geoffrey Chaucer Título Contos de Cantuária Título Original The Canterbury Tales Ano 1386-1400 ISBN 8585008849 2 - Robinson Crusoé, de Daniel Defoe Robinson Crusoé, de Daniel Defoe (1660-1731), é um misto de jornalismo e romance, que serve tanto ao leitor infantil como ao adulto por compreender dois níveis de entendimento da narrativa. A obra é baseada na história verdadeira de Alexander Selkirk que passou cinco anos na ilha deserta de Juan Fernandez. O que encanta o leitor, ainda hoje, apesar de ser uma das obras mais exploradas em versões cinematográficas e escritas, é a enorme perseverança do personagem central em superar, com engenho, as dificuldades do cotidiano e construir um oásis utópico de civilização ideal onde predominaria a paz interior. Existem várias traduções para o português.

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Os 10 mais da Ficção Inglesa por Marisis Camargo Autor Daniel Defoe Título Robinson Crusoé Título Original Robinson Crusoe Ano 1719 3 - Orgulho e Preconceito, de Jane Austen Pride and Prejudice é de autoria de Jane Austen (1775-1817) que é considerada a primeira romancista inglesa. Retrata a sociedade inglesa da classe alta delineando personagens memoráveis de quem são ressaltadas tanto as virtudes como os vícios. A trama do romance é simples e trata dos relacionamentos afetivos dentro de uma família em que o casamento é tido como a salvação da mulher tanto do ponto de vista financeiro como social. A palavra "orgulho" do título refere-se ao personagem central, sr. Darcy que pertence à alta sociedade e "preconceito" refere-se a Elizabeth, de origens plebéias, por quem ele se apaixona gerando tensão entre amor, preconceito e orgulho. Há algumas versões cinematográficas deste romance, sendo a mais atual e fidedigna estrelada por Emma Thompson. Autor Jane Austen Título Orgulho e Preconceito Título Original Pride and Prejudice Ano 1813 4 - Oliver Twist, de Charles Dickens Oliver Twist, de Charles Dickens (1812-1870), trata de um tema ainda atual, o do trabalho infantil e das leis de proteção à criança e ao adolescente. Embora muitas vezes o autor apele para o sentimentalismo exagerado, Dickens ainda é um favorito do público e, na sua época, serviu de incentivo à denúncia da infame Lei dos Pobres (Poor´s Law). A história de Oliver Twist confronta a inocência da criança com a crueldade de uma sociedade que não tem leis para protegê-la e a obriga a trabalhar em condições subumanas para sobreviver. Autor Charles Dickens Título Oliver Twist Ano 1837-8

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Os 10 mais da Ficção Inglesa por Marisis Camargo 5 - Tess of the D’Ubervilles, de Thomas Hardy Este romance de Thomas Hardy (1840-1928) oferece uma trágica e bela história de amor, de diferença de classes sociais, do papel inferior da mulher. Seu tom é pessimista e raro são os momentos de descontração nessa trama bem feita. Hardy é um regionalista que sabe explorar em detalhe a magnífica região de Dorset como local de ação e pano de fundo para essa história. A base de sua filosofia é determinista passando uma mensagem de que o homem não é livre, mas vive sempre oprimido pelo tempo e controlado por misteriosas forças superiores. Autor Thomas Hardy Título Tess of the D’Ubervilles Ano 1891 6 - Ulisses, de James Joyce Ulysses, de James Joyce (1882-1941), é considerada uma das obras mais importantes do período moderno da literatura inglesa, com inovações de estilo e elaborada sob a lenda do herói grego do mesmo nome. Os incidentes da trama acontecem em um único dia da vida de Leopold Bloom na cidade de Dublin, Irlanda. Cada capítulo corresponde a um episódio da Odisséia de Homero. Infelizmente, para o público em geral, Ulisses é um romance hermético de difícil leitura. Seria conveniente ler um dos guias de leitura da obra para facilitar a sua compreensão. Há excelente versão em português do Ulisses [traduzida pelo filólogo Antônio Houaiss, que criou em português neologismos correspondentes aos do original em inglês]. Autor James Joyce Título Ulisses Título Original Ulysses Editora Editora Civilização Brasileira, tradução de Antônio

Houaiss Ano 1922 ISBN 8520000088 7 - Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf (1882-1963), é obra que deve ser lida não só por seu conteúdo mas também pelas inovações de técnica narrativa que coloca em segundo plano a trama e a caracterização das personagens. O livro explora detalhes de pensamento ou estado de espírito da protagonista, usando a técnica do monólogo interior para expressar o fluxo da consciência de sua personagem reconstruindo seu passado através de lembranças. Autor Virginia Woolf Título Mrs. Dalloway Ano 1925

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Os 10 mais da Ficção Inglesa por Marisis Camargo 8 - O Amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence Lady Chatterley´s Lover, de D.H. Lawrence (1885-1930), é um clássico da literatura inglesa também adaptado para o cinema. A obra gerou uma grande controvérsia e, em1960, foi processada por obscenidade o que, de certa forma, aumentou sua circulação. O livro trata do relacionamento amoroso entre um homem e uma mulher de maneira natural, considerando-o fonte de vitalidade, aceitando que o instinto e a leis naturais prevaleçam sobre a racionalidade. Autor D.H. Lawrence Título O Amante de Lady Chatterley Título Original Lady Chatterley’s Lover Ano 1928 ISBN 8570380038 9 - Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley Brave New World, de Aldous Huxley (1894-1963), se ainda não é pura ficção científica certamente é precursor dela. A ação se desenvolve no ano 162 AF (After Ford, ou depois de Ford*) onde predomina o poder científico totalitário que tudo governa desde as incubadoras de bebês em garrafas ("Mãe" é um palavrão") até o pre-condicionamento de cada pessoa para sua designada função social. A cultura é suprimida e o lazer é padronizado e difundido pela mídia. A higiene é o princípio fundamental. Huxley satiriza a condição do homem moderno que cada vez mais se automatiza, mostrando as conseqüências de deixar em segundo plano seus sentimentos e emoções. [N. do S.: O norte-americano Henry Ford foi um dos pioneiros da indústria automobilística mundial e criador do sistema de produção em série.] Autor Aldous Huxley Título Admirável Mundo Novo Título Original Brave New World Ano 1932 10 - O Senhor das Moscas, de William Golding Lord of The Flies, de William Golding (1911), conta a história de um grupo de meninos entre 6 e 10 anos, que, após a queda do avião que os transportava, passam a viver em uma ilha deserta onde pouco a pouco regridem a um estado de selvageria. É notável como o autor subverte o modelo comum de história de aventura infantil e constrói em torno da perversidade da criança. Esta obra tem uma primorosa versão cinematográfica que data do início dos anos 60. Autor William Golding Título O Senhor das Moscas Título Original Lord of the Flies Ano 1954

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Os 10 mais da Ficção Italiana por Diogo Mainardi

Esse troço de lista é fogo. Você fica pensando em todos os autores que excluiu. Onde está Ariosto? Como é possível ignorar Machiavelli? Desde quando Aretino é melhor do que Goldoni? Não sobrou uma vaguinha para Leopardi ou Buzzati? E Gadda? Onde Gadda foi parar? Vou avisando: a minha é uma lista incompleta, parcial, com os autores italianos que mais me influenciaram, que exploraram caminhos que eu gostaria de ter explorado. Alguns deles, como Svevo, fazem parte da minha adolescência, e souberam despertar em mim o amor pela leitura. Outros, como Boccaccio, apareceram mais tarde e foram fundamentais para a minha formação como escritor. Outros, como Dante, descobri meio tarde, quando já tinha uma certa bagagem. Que me perdoem os excluídos. E aqueles que ainda não li. Por sorte, ainda há o que ler 1 - A Divina Comédia, de Dante Alighieri Todo mundo conhece a história: um poeta visita Inferno, Purgatório e Paraíso. Claro que o Inferno é mais divertido, com seus luxuriosos, gulosos, heréticos, suicidas, aduladores, ladrões, falsários e traidores que sofrem as mais terríveis penas. Há aqueles que correm nus, picados por vespas. Há aqueles que jazem em covas ardentes. Há aqueles que viram plantas. Há aqueles que são postos num espetinho sobre as chamas. Tudo isso pela eternidade. Mas o livro de Dante (1265-1321) não vale apenas pela força de suas imagens. Ele consegue combinar impulsos aparentemente inconciliáveis: fantasia popular com alta cultura, experimentação linguística com rigor matemático. Talvez seja a obra literária mais importante da história. Autor Dante Alighieri Título A Divina Comédia Título Original La Divina Commedia Ano 1321 2 - Decameron, de Giovanni Boccaccio Durante a epidemia de peste de 1348, em Florença, sete moças e três rapazes buscam refúgio numa casa de campo. Para matar o tempo, decidem contar histórias. Cada um conta uma história por dia, por um período de dez dias. O resultado é o Decameron: cem histórias de adultérios, enganos, tramóias, patifarias, cinismos, astúcias. Enquanto a peste corre solta na cidade, dizimando a população, os dez jovens tratam de contrastá-la exaltando o sexo e a razão. É uma homenagem à inteligência humana, à capacidade de alguns de contrariar as normas e as convenções e, dessa forma, resistir a tudo. [N. do S.: Bocaccio nasceu em 1313 e morreu em 1375] Autor Giovanni Boccaccio Título Decameron Título Original Il Decameron Ano 1349-51

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Os 10 mais da Ficção Italiana por Diogo Mainardi 3 - Ragionamento, Dialogo, de Pietro Aretino Com um pouco de má vontade, Pietro Aretino (1492-1556) pode até ser considerado um escritor menor, indevidamente inserido nessa lista dos dez melhores. Mas ele representa um ideal literário: o escritor como figura perigosa e temida, cujo talento verbal pode destruir as mais sólidas reputações. Era isso que Aretino fazia: ridicularizava o próximo por um punhado de cobres. Tornou-se riquíssimo graças a essa habilidade. Aretino nos interessa porque era um escritor mercenário, que usava a literatura como mercadoria. E se a literatura pode ser vendida como mercadoria, é porque tem algum valor. Autor Pietro Aretino Título Ragionamento, Dialogo Ano 1539 4 - Vita, de Benvenuto Cellini Nossa vida é um aborrecimento atroz. Mas não é necessário que seja assim. É o que mostra a autobiografia do ourives florentino Benvenuto Cellini (1500-71). Ele não se conforma com o próprio destino, transformando-o continuamente, moldando seus códigos de valor de acordo com as exigências do momento, ainda que isso o leve a mentir, difamar, roubar, matar. É a desordenada afirmação do indivíduo contra a sociedade, o triunfo da subjetividade. Autor Benvenuto Cellini Título Vita Ano 1728 5 - Zibaldone, de Giacomo Leopardi Zibaldone é a confusa tentativa de colocar um pouco de ordem nas idéias. Aquilo que deveria constituir um sistema filosófico, porém, fragmenta-se diante das próprias dúvidas do autor. Leopardi (1798-1837) não acredita no poder da razão, da virtude, da poesia, do amor. Todas as ilusões relativas à nossa capacidade de compreender o mundo racionalmente naufragam de modo irremediável. Restam apenas as dúvidas, as contradições, o desespero. É a isso que os homens de gênio devem aspirar. Autor Giacomo Leopardi Título Zibaldone Ano 1832

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Os 10 mais da Ficção Italiana por Diogo Mainardi 6 - La Storia della Colonna Infame, de Alessandro Manzoni Alessandro Manzoni (1785-1873) é conhecido por seu romance Os Noivos, o maior clássico italiano do século 19, leitura obrigatória para os estudantes do país. Mais fascinante, hoje em dia, talvez seja "A História da Coluna Infame", breve tratado histórico sobre fatos ocorridos durante a peste de 1630, em Milão, quando uns infelizes foram torturados e executados depois de serem injustamente acusados de difundir de propósito a epidemia. É mais atual do que nunca: uma poderosa denúncia contra as manipulações que o poder público faz da ignorância e das superstições do povo. Autor Alessandro Manzoni Título La Storia della Colonna Infame Ano 1842 7 - Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello Como diz o próprio Pirandello (1867-1936) no prefácio a essa peça teatral, sua literatura não é simbólica. Em vez de tentar construir uma simples representação alegórica da realidade, ele prefere demolir todas as certezas acerca do trabalho artístico. Os personagens já não sabem o que pensar, o que dizer ou como se comportar. É a reflexão de um autor que renunciou às fórmulas consolidadas e agora se encontra perdido, sem saber qual direção tomar. Uma peça teatral que deve ser lida como um romance. Autor Luigi Pirandello Título Seis Personagens à Procura de um Autor Título Original Sei Personaggi in Cerca d’Autore Ano 1921 8 - A Consciência de Zeno, de Italo Svevo A única razão de vida do [personagem] Zeno Cosini é seu patológico imobilismo. Ele é um atento observador de sua condição: reflete a respeito de si com um distanciamento científico. Esse romance de Svevo (1861-1928) constitui uma das mais divertidas sátiras ao homem contemporâneo, consciente de sua impotência, de sua insignificância e, ao mesmo tempo, desprovido de outras fontes de interesse que não sejam ele próprio. Autor Italo Svevo Título A Consciência de Zeno Título Original La Coscienza di Zeno Ano 1923

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Os 10 mais da Ficção Italiana por Diogo Mainardi 9 - É Isto um Homem?, de Primo Levi Primo Levi (1919-87) foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial. É Isto um Homem? é o relato dessa terrível experiência. Mais do que por seu valor documental, porém, o livro importa por sua linguagem. Numa situação extrema, em que cada esforço desperdiçado tem o efeito de aproximá-lo da morte, Levi economiza as palavras, medindo-as, controlando seu peso, dizendo apenas o que pode ser dito, eliminando toda a retórica dos sentimentos. Autor Primo Levi Título É Isto um Homem? Título Original Se questo É un Uomo? Ano 1946 10 - As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino As Cidades Invisíveis talvez seja o romance que melhor sintetize a produção literária de Calvino (1923-85). Marco Polo descreve ao conquistador Kublai Khan as cidades que visitou. Ele não se limita a assumir uma posição passiva diante da realidade. Pelo contrário: transforma radicalmente tudo o que vê, buscando a essência das coisas, o seu significado simbólico. Em Calvino, a fantasia se torna um elemento fundamental para a compreensão do mundo, pois permite tentar criar parábolas a partir dos acontecimentos mais prosaicos. Autor Italo Calvino Título As Cidades Invisíveis Título Original Le Cittá Invisibili Ano 1972 ISBN 8571641498

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Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20 Paulo Henriques Britto

No século 20, a ficção norte-americana foi de grande riqueza. Os primeiros anos do período foram marcados pela fase madura de Henry James, obras cujo estilo denso e complexo prenuncia a revolução que seria efetuada pouco depois na Europa por figuras como Joyce e Proust. Outros nomes importante das décadas iniciais do século foram F. Scott Fitzgerald, John dos Passos e Ernest Hemingway.

Dois escritores experimentais do período são William Faulkner, que aprofunda o romance psicológico inagurado por James, e Gertrude Stein, autora de uma prosa personalíssima que bordeja a poesia. A vivacidade vigorosa e descuidada de Henry Miller contrasta com o estecicismo cerebral de Vladimir Nabokov, russo naturalizado americano.

No pós-guerra surgem também Norman Mailer, Saul Bellow e o contista John Cheever. Um pouco mais tarde temos o humor implacável de Philip Roth e a crônica dos subúrbios de John Updike. E o caldo da contracultura dos anos 60 gera ao menos um grande romancista - Thomas Pynchon, um dos principais ficcionistas de expressão inglesa da atualidade.

1 - As Asas da Pomba, de Henry James Obra de plena maturidade, "The Wings of The Dove" (1902) é mais uma abordagem do famoso "tema continental" de James - o encontro entre ingenuidade americana e sofisticação européia - e uma sutil análise psicológica do amor e da crueldade Autor Henry James Título As Asas da Pomba Título Original The Wings of The Dove Editora Penguin Books (1986) Ano 1902 ISBN 8500003235 2 - Três Vidas, de Gertrude Stein Primeira obra de Stein, esta série de três narrativas sobre as vidas de três mulheres humildes é, segundo muitos, a obra-prima da autora. Foi publicada em 1909. Autor Gertrude Stein Título Três Vidas Título Original Three Lives Editora Library of America (1998) Ano 1909

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Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20 Paulo Henriques Britto 3 - O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald Publicado em 1925, este romance é uma pequena jóia. A história do misterioso Gatsby - efêmero sucesso a partir do nada, seguido de fim ignominioso - assume, nas mãos de Fitzgerald, uma dimensão trágica Autor F. Scott Fitzgerald Título O Grande Gatsby Título Original The Great Gatsby Editora Charles Scribner (1995) Ano 1925 4 - Contos Completos, de Ernest Hemingway O estilo seco e cru de Hemingway, marcado pelas frases curtas, despidas de adjetivos, foi dos mais influentes do nosso século. Embora seu prestígio crítico esteja atualmente em declínio, seus melhores contos continuam a ser considerados exemplares. Autor Ernest Hemingway Título Contos Completos Título Original The Complete Short Stories Editora Scribner (1998) 5 - O Som e a Fúria, de William Faulkner O "Som e a Fúria" é uma história densa e sufocante, em que os mesmos episódios são apresentados dos pontos de vista de vários personagens, sendo um deles um deficiente mental. Neste romance, lançado em 1929, Faulkner explora com virtuosismo as técnicas narrativas desenvolvidas por Joyce apenas sete anos antes em "Ulisses". Autor William Faulkner Título O Som e a Fúria Título Original The Sound and the Fury Editora Vintage (1990) Ano 1929

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Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20 Paulo Henriques Britto 6 - Trópico de Câncer, de Henry Miller O estilo descuidado, a falta de uma estrura ficcional sólida e a temática por vezes obscena não empanam a vitalidade extraordinária de Miller, um escritor que, nos defeitos e nas virtudes, guarda grandes afinidades com um dos gigantes do século 19, o poeta Walt Whitman, seu conterrâneo. Foi só em 1964 que a Justiça americana permitiu que sua obra fosse livremente publicada nos Estados Unidos. "Trópico de Câncer", seu primeiro livro, é de 1934. Autor Henry Miller Título Trópico de Câncer Título Original Tropic of Cancer Editora Grove Press (1989) Ano 1934 7 - Lolita, de Vladimir Nabokov Em sua obra mais conhecida, "Lolita" (1955), Nabokov traça um retrato satírico da América dos anos 50, ao mesmo tempo que exibe sua excepcional destreza ténica. Autor Vladimir Nabokov Título Lolita Título Original Lolita Editora Vintage (1989) Ano 1955 ISBN 8571644004 8 - Adeus Columbus, de Philip Roth Obra de estréia de Roth, esta coletânea de contos de 1959 é uma das grandes estréias literárias do pós-guerra norte-americano. Cronista da classe média judia assimilacionista, desde seu primeiro livro o autor revelou-se um dos mais criativos ficcionistas de língua inglesa de seu tempo. Autor Philip Roth Título Adeus Columbus Título Original Goodbye, Columbus Editora Vintage (1993) Ano 1959

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Os 10 mais da Ficção Norte-Americana do Século 20 Paulo Henriques Britto 9 - Coelho Corre, de John Updike Updike, um dos ficcionistas mais prolíficos de nosso tempo, tematiza a classe média norte-americana, a banalidade da vida dos subúrbios, com um toque lírico característico. Uma de suas principais criações ficcionais é Harry Angstrom, herói de uma tetralogia cujo primeiro volume é "Coelho Corre" (1960). Autor John Updike Título Coelho Corre Título Original Rabitt, Run Editora Ballantine Books (1996) Ano 1960 ISBN 8571642338 10 - O Arco-Íris da Gravidade, de Thomas Pynchon Este romance insólito, lançado em 1973, é uma das obras mais desconcertantes de nosso tempo. Utilizando os recursos da subliteratura, do cinema, do desenho animado, das revistas em quadrinhos e da música popular, Pynchon compõe um imenso labirinto de paranóia e humor corrosivo que, embora situado na Europa do final da Segunda Guerra Mundial, é, na verdade, uma crítica devastadora à sociedade norte-americana de seu tempo Autor Thomas Pynchon Título O Arco-Íris da Gravidade Título Original Gravity's Rainbow Editora Penguin (1995) Ano 1973 ISBN 8571647992

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Os 10 mais da Ciência por Marcelo Glaiser Qualquer lista compilada por uma pessoa irá refletir os gostos e idéias desta pessoa. Minha lista de dez livros sobre ciências não foge a essa regra geral. Meu primeiro critério foi a acessibilidade do texto: todas as obras listadas, com exceção do livro de Richard Feynman, que é mais técnico, são obras de divulgação científica, escritas para o público interessado em ciências e suas repercussões culturais, mas não especializado no assunto. Tentei, dentro do possível, distribuir o conhecimento em áreas diferentes da ciência, incluindo biologia, matemática, computação, física e astronomia, se bem que confesso que a física e a astronomia têm uma representação mais pesada. Todos os autores (com exceção deste que lhes escreve) são muito bem conhecidos, vencedores de vários prêmios não só por seu trabalho científico, mas também por seu trabalho de divulgação. Eles sabem como conversar com o público, como trazer as idéias da ciência sem o jargão, mas com todo o seu lirismo. O leitor corajoso que desbravar essa lista irá sem dúvida adquirir uma visão balanceada das idéias mais importantes da ciência, passado e presente (e futuro...), e também do que significa fazer ciência. E, claro, se sua curiosidade for aguçada a tal ponto de querer mais, todos os livros vêm com indicações de leituras adicionais. Esses dez são apenas os primeiros passos em uma aventura intelectual que, felizmente, jamais se esgotará: a Natureza é muito mais criativa do que nossa imaginação. 1 - O Mundo Assombrado pelos Demônios, de Carl Sagan Sagan (1934-1996) apresenta a ciência como a "vela que ilumina a escuridão" causada pela ignorância e pela superstição. Usando exemplos como a crença em extraterrestres na Terra, reencarnação, anjos, fadas etc., Sagan, em seu estilo claro e sóbrio, mostra o quanto essas "visões" são causadas por uma combinação de fatores que vão desde simples alucinações a um desejo inconsciente de estabelecermos contato com o desconhecido, o sobrenatural. O livro é uma belíssima defesa da ciência como antídoto contra essas crenças, o mundo natural e seus mistérios, ultrapassando nossa imaginação e oferecendo conforto às ansiedades humanas. Autor Carl Sagan Título O Mundo Assombrado pelos Demônios Título Original The Demon-Haunted World Editora Companhia das Letras, 1996 ISBN 8571646066 2 - A Unidade do Conhecimento - Consiliencia, de Edward O. Wilson O escritor e físico inglês C. P. Snow argumentou nos anos 60 que um dos maiores problemas da sociedade moderna é sua divisão em duas culturas, a humanista e a científica. Wilson (1929), um grande biólogo famoso por seu trabalho com formigas e um dos mais conhecidos divulgadores da ciência (duas vezes vencedor do Prêmio Pulitzer), tenta construir uma síntese do conhecimento por meio de uma "cientificação" da cultura. Para ele, a chave do mistério está no funcionamento da mente humana, que fará necessariamente com que aspectos diferentes do conhecimento sejam tratados de forma unificada. Ninguém melhor do que ele para embarcar nesta missão tão ambiciosa.

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Os 10 mais da Ciência por Marcelo Glaiser Autor Edward O. Wilson Título A Unidade do Conhecimento - Consiliencia Título Original Consilience: Unity of Knowledge Editora Campos Ano 1997 ISBN 8535203567 3 - Godel, Escher, Bach, de Douglas Hofstadter O mistério do infinito, sua representação matemática, gráfica e musical, apresenta um dos grandes desafios para a criatividade humana. Neste livro fascinante, Hofstadter tece os mecanismos mentais que geram nossa relação com o mundo da matemática e dos computadores de forma acessível e brilhante. Usando diálogos inspirados por Alice no País das Maravilhas e um estilo dinâmico e provocador, o leitor encontrará aqui uma discussão da questão da "inteligência artificial", que, embora escrita há 20 anos, continua sendo um padrão do gênero. Autor Douglas Hofstadter Título Godel, Escher, Bach Ano 1979 4 - A Dança do Universo, de Marcelo Gleiser Usando o grande mistério da origem do Universo como ponto de partida, este livro explora a evolução de nossa concepção do mundo, desde versões religiosas até as teorias mais modernas da cosmologia. Mais do que apenas um relato da história das idéias sobre o cosmo, eu exploro também a vida dos personagens principais que participaram desse drama do conhecimento, buscando compreender as fontes de inspiração do cientista de forma humanista. O leitor encontrará uma apresentação acessível das idéias básicas da física e da astronomia, desde Galileu e Newton até Einstein e Heisenberg, que conclui argumentando que - mesmo que o produto final seja muito distinto - as fontes de inspiração da ciência e da religião são as mesmas, uma compreensão do desconhecido. Autor Marcelo Gleiser Título A Dança do Universo Título Original Dancing Universe Ano 1997 ISBN 8571646775

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Os 10 mais da Ciência por Marcelo Glaiser 5 - A Evolução da Física, de Albert Einstein e Leopold Infeld Einstein (1879-1955) acreditava seriamente na importância da divulgação científica: todo cientista tem o dever de apresentar suas idéias à sociedade para que elas sejam integradas dentro da cultura da época. Este livro, como já explica o título, traça a evolução das idéias da física de modo acessível ao não-especialista. Eu me lembro do quanto este livro foi importante durante minha adolescência, quando me debatia com a idéia de embarcar ou não em uma carreira científica. Autor Albert Einstein e Leopold Infeld Título A Evolução da Física Título Original The Evolution of Physics Ano 1938 ISBN 9723803941 6 - The Feynman Lectures on Physics, de Richard Feynman Para aqueles leitores que querem uma apresentação mais técnica dos fundamentos da física, nenhum livro supera esta coleção em três volumes escrita por Richard Feynman (na verdade, baseada em suas aulas no California Institute of Technology), um dos grandes físicos do século 20. Feynman (1918-1988) apresenta as idéias da física - mecânica, eletricidade e magnetismo, gravitação, termodinâmica, ondas, relatividade, mecânica quântica - apelando sempre para a intuição antes da matemática. O texto requer um conhecimento do cálculo diferencial e integral. Autor Richard Feynman Título The Feynman Lectures on Physics Ano 1963 7 - A Mente de Deus, de Paul Davies Alguns cientistas refletem seriamente sobre as conseqüências metafísicas da ciência, em particular da física e da cosmologia. Um desses cientistas é Paul Davies, que argumenta que a racionalidade do Universo e o fato de estarmos aqui para pensar sobre ele oferecem uma "prova" da existência de um intuito universal, uma espécie de mente cósmica. Mesmo que eu não concorde com muitos de seus argumentos, a clareza e a perspicácia com que Davies apresenta suas idéias irão, sem dúvida, inspirar o leitor interessado nessas questões que unem a ciência e a religião. Autor Paul Davies Título A Mente de Deus Título Original Mind of God ISBN 8500826940

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Os 10 mais da Ciência por Marcelo Glaiser 8 - O Gene Egoísta, de Richard Dawkins Este livro marca um momento de transição em nossa interpretação da herança evolucionária de Darwin. Dawkins, um seguidor de Darwin, mostra, de forma clara e convincente, como o processo evolucionário serve aos interesses dos genes, que competem por perpetuarem seu domínio! Portanto, evolução deixa de ser um processo passivo, dependente de fatores aleatórios e de sua relação com o meio ambiente, para se tornar uma conseqüência do ímpeto evolucionário dos genes. Dawkins expande essa idéia ao domínio social, introduzindo o conceito de "memes" -basicamente idéias que tentam se perpetuar na sociedade. Como disse Dawkins, "se somos fantoches, no mínimo podemos tentar entender nossas cordas". Autor Richard Dawkins Título O Gene Egoísta Título Original Selfish Gene Ano 1976 9 - Infinito em Todas as Direções, de Freeman Dyson Na verdade, eu recomendo todos os livros de Freeman Dyson. Ele é a melhor encarnação do espírito do cientista-humanista, capaz de traduzir não só as idéias da ciência, mas a visão de mundo do cientista, de uma forma extremamente lírica e sincera. Ele não tem medo de mostrar o lado sombra da ciência, as conseqüências destrutivas do processo científico. Por outro lado, ao fazê-lo, Dyson nos mostra como cabe à sociedade escolher os caminhos futuros da ciência. Para isso, nada mais importante do que ter uma sociedade que conhece os preceitos e idéias básicas da ciência, que determinam em grande parte nossa realidade moderna, nosso futuro e nossa sobrevivência como espécie. Autor Freeman Dyson Título Infinito em Todas as Direções Título Original Infinite in All Directions Ano 1988 ISBN 857123132X 10 - Os Três Primeiros Minutos, de Steven Weinberg Este livro é um clássico da divulgação científica, em que o vencedor do prêmio Nobel Steven Weinberg conta a história dos três primeiros minutos de "existência" do Universo, segundo a teoria do Big Bang. Sua leitura não é fácil aos iniciantes, mas altamente recomendada, após, por exemplo, a leitura de A Dança do Universo ou do Big Bang de Joseph Silk. Foi este livro que me fez escolher minha especialização em cosmologia e astrofísica, quando ainda aluno de graduação. Acho que ele inspirará vários outros leitores. Autor Steven Weinberg Título Os Três Primeiros Minutos Título Original The First Three Minutes Ano 1977

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BIBLIOGRAFIA SOBRE A HISTÓRIA DO LIVRO, DA IMPRENSA, DA TIPOGRAFIA, DAS BIBLIOTECAS E DA LEITURA

1. O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, Carlos Rizzini - 1829. Ed. Imesp. Relato histórico do surgimento do livro e do jornal nas civilizações antigas e análise de seu aparecimento no Brasil entre 1500 e 1822. É uma obra-prima, não deixe de ler. Não está disponível em livrarias da Internet.

2. O aparecimento do livro, Lucien Febvre e Henry-Jean Martin - 1992. Ed. UNESP e Hucitec. Como surgiu e se difundiu o livro na história. Não deixe de ler.

3. O livro no Brasil, de Laurence Hallewell - 1982. Ed. EDUSP e T. A. Queiroz. Já esgotado; pode ser encontrado em sebos e bibliotecas universitárias ou sob encomenda nas melhores livrarias. Um clássico do gênero. Acadêmico inglês que veio para o Brasil estudar a nascente cultura editorial do país. Não pode faltar na sua biblioteca.

4. História da inteligência brasileira, Wilson Martins - 1921. Ed. T. A Queiroz. Um dos maiores estudiosos de literatura. Sete volumes de um clássico. Faz uma trajetória da história de todos os gêneros literatura brasileira e da importância da cultura eclesiástica na construção da inteligência brasileira.

5. A palavra escrita - história do livro, da imprensa e da biblioteca, Wilson Martins - 2001. Ed. Ática. Abrange desde a história do surgimento da palavra escrita, passando pela Antiguidade, Idade Média e Moderna e a consolidação das bibliotecas no Brasil e no mundo.

6. History of the Book, Svend Dahl. Ed. J. Lamarre - 1933. Um clássico, referência básica para conhecer com profundidade a história do livro. Não há tradução para o português.

7. Documentos para história da tipografia portuguesa nos séculos XVI e XVII, Venâncio Deslandes - 1888. Ed. Imprensa Nacional de Lisboa.

8. Elementos de bibliologia, Antonio Houaiss - 1967. Instituto Nacional do Livro. Livro de maior referência no assunto. Já esgotado; pode ser encontrado em sebos e bibliotecas universitárias.

9. A formação da leitura no Brasil, Marisa Lajolo e Regina Zilberman - 1996. Ed. Ática. Leva em conta o contexto sócio-político e cultural na formação da figura do leitor na sociedade brasileira.

10. A construção do livro, Emanuel Araújo - 1996. Ed. Nova Fronteira. Livro com perfil técnico. Centenas de páginas sobre princípios de técnica e editoração. Maior referência sobre o assunto.

11. Momentos do livro no Brasil - 1998. Ed. Ática. História ilustrada do aparecimento do livro, das editoras, e de figuras como Monteiro Lobato, Machado de Assis, Euclides da Cunha, no Brasil. Não deixe de ler.

12. História da Imprensa no Brasil, Nelson Werneck Sodré - 1999. Ed. Mauad. 30 anos de pesquisa formaram este livro que é a maior referência no assunto.

13. The printing revolution in early modern Europe, Elizabeth L. Eisenstein - 1983. Ed. Canto Series. Análise original sobre a importância social e histórica do surgimento da indústria do livro e suas consequências para a Europa medieval e renascentista.

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14. Books and readers in ancient Greece and Rome, Frederic G. Kenyon - 1932. Ares Publishers Inc. Da "Ilíada" de Homero, passando pelo pergaminho até os hábitos romanos de leitura. Não há tradução para o português.

15. A history of reading, Alberto Manguel - 1996. Ed. Viking. Análise erudita dos vários processos de leitura: desde sinais, livros, imagens, códigos. Abrange arte, cultura, história, literatura.

16. Uma vida entre livros, José Mindlin. Ed. Cia das letras. Famoso empresário e bibliófilo paulistano.

17. Discursos sobre a leitura, Anne-Marie Chartier. Ed. Ática.

18. A aventura do livro: do leitor ao navegador, Roger Chartier. Ed. Unesp. Renomado autor contemporâneo que estuda a história do livro e suas implicações sócio-culturais.

19. Fim do livro, fim dos leitores?, Regina Zilberman. Ed. Senac. Análise de clássicos da literatura - como "Dom Quixote", de Cervantes, "Fedro", de Platão - que fazem a apologia ou crítica da leitura como atividade intelectual nobre ou subversiva.

20. Fedro, de Platão. Ed. Martin Claret. Obra do mais famoso filósofo grego em que trata das características nocivas da leitura para a manutenção dos status quo de uma comunidade. Platão atravessou a fase na qual se deu a consolidação do alfabeto, de origem fenícia, e, a partir deste, da escrita. O filósofo condena a laicização e o fim da tradição de transmissão oral da cultura.

21. O iluminismo como negócio, de Robert Darnton. Ed. Cia. das letras. História da Enciclopédia de Diderot de um ponto de vista insólito: como um empreendimento intelectual - a difusão do iluminismo - passou a empreendimento comercial. Fala sobre a vida intelectual e editorial da época.

22. História da leitura no mundo ocidental, Roger Chartier. Ed. Ática. Estudioso contemporâneo e muito prestigiado. Traça a história da leitura até os nossos dias.

23. Cultura escrita e poder no mundo antigo, Alan, K. Bowman. Ed. Ática. Esta coletânea tem por objetivo avaliar em que medida a cultura escrita teria ocupado um papel ativo nas mudanças históricas da Antiguidade no mundo mediterrâneo e na Europa do norte de 600 a.C. a 800 d.C. O livro como um todo ilustra e explora a diversidade das práticas escritas e suas relações com a construção do poder na sociedade antiga, contemplando as exigências da história e da antropologia. Leitura essencial para aqueles cuja área de interesse é a palavra escrita.

24. Cultura, pensamento e escrita, Alan, K. Bowman. Ed. Ática. Considerando a escrita como um objeto que permite reescrever a história do espírito humano, este livro reúne ensaios sobre as conseqüências intelectuais da escrita, a revolução intelectual que acompanha a passagem das escritas pictográficas para as alfabéticas, as implicações da assinatura dos textos, entre outros.

25. Cultura escrita e oralidade, David Olson. Ed. Ática. Trata dos condicionamentos da cultura escrita pelo discurso oral. Numa perspectiva histórica, aborda desde as conseqüências do surgimento da escrita até a criação de formas especializadas do discurso escrito no início da Era Moderna.

26. Os livros nossos amigos, Eduardo Frieiro. Ed. Itatiaia. Mineiro, autodiadata, um dos mais brilhantes estudiosos do país. De maneira erudita, o livro percorre literatura, história, educação, bibliofilia, política de livros.

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27. Cartografia sentimental de sebos e livros, Marcia Cristina Delgado. Ed. Autêntica. Livro introdutório sobre a origem e a história dos sebos no Brasil. Traz descrição dos principais sebos, das pricipais cidades.

28. Leitura, história e história da leitura, Márcia Abreu (org.). Ed. Mercado de Letras, Fapesp. Pesquisadores brasileiros e estrangeiros examinam questões relativas às bibliotecas e práticas de leitura, à censura e livros proibidos, ao comércio livreiro e estratégias editoriais, a produção e circulação de livros escolares, desde o período colonial até o século XX.

29. A importância do ato de ler, Paulo Freire. Ed. Cortez. Trata da questão da leitura e da escrita encaradas sob o ângulo da luta política com a compreensão científica do tema.

30. O que é leitura, Maria Helena Martins. Ed. Brasiliense. Delicioso livrinho introdutório sobre o ato de ler e sua diversas manifestações: políticas, sociais, intelectuais. A Leitura vista como forma de entender o mundo e de decifrá-lo.

31. Lendo imagens, Alberto Manguel. Cia das Letras. Toda imagem tem uma história para contar. Todas elas podem ser lidas e traduzidas em palavras, mesmo pelo público leigo. Neste livro, Manguel passa ao largo do vocabulário árduo da crítica e defende a idéia de que os não-especialistas têm o direito de ler imagens como quem lê um texto. O autor narra histórias que se ocultam em pinturas, esculturas, fotografias e projetos arquitetônicos desde a Roma antiga até as arrojadas experiências da arte do século XX.

32. O ofício de escrever, Ramon Nieto. Ed. Angra. A criação literária, os escritores, o poder e o êxito, o estilo, a inspiração, luzes e sombras da literatura. Este livro explica os fundamentos do ofício de escrever, de sua materialidade e transcendência, de seus aspectos mais luminosos e mais obscuros, enfim, do que é ser escritor. A criação literária, os escritores, o poder e o êxito, o estilo, a inspiração, luzes e sombras da literatura. Este livro explica os fundamentos do ofício de escrever, de sua materialidade e transcendência, de seus aspectos mais luminosos e mais obscuros, enfim, do que é ser escritor.

33. A arte de ler. José Morais. Ed Unesp. Este livro trata da arte de ler. Embora o seu núcleo seja o problema da alfabetização, o tratamento vai muito além das questões exclusivamente técnicas. É notória, hoje, a existência de uma crise da palavra escrita, pois se observa por toda parte uma regressão dos hábitos da leitura. Por outro lado, tem-se observado um aumento relativo do analfabetismo e um alarmante crescimento, mesmo nos países mais desenvolvidos, do contigente de iletrados funcionais. Esses dados são expostos e analisados neste livro, a partir de estatísticas atualizadas da UNESCO.

34. Didascalion da arte de ler. Este livro faz um mergulho na cultura da Idade Média, onde o leitor irá sintonizar-se com o universo dos pensamentos humanos e divinos que habitavam as escolas e as mentes estudantis do século XII.

35. O preço da leitura. Em 'O preço da leitura' - leis e números por detrás das letras. Marisa Lajolo e Regina Zilberman abordam a literatura e os escritores de um ângulo inusitado - esmiuçam leis e contratos de direitos autorais, estatutos de agremiações literárias (entre elas a Academia Brasileira de Letras) e a correspondência entre autores. O objetivo é conhecer a condição do escritor, como profissional da escrita, ao longo da história da sociedade burguesa e capitalista, sobretudo a brasileira.

36. Como ler um livro - um guia clássico para a leitura. Mortimer Jerome Adler. O guia para leitura inteligente alia praticidade com rigor metodológico. Ajuda o leitor a se ajudar. Percorre os conceitos centrais do ato de ler, transforma o leitor em interlocutor e o introduz, como um guia, aos mundos especializados da leitura prática, da leitura imaginativa, da leitura de histórias, da leitura da História, das ciências exatas, das ciências sociais e da filosofia.

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37. Revolução impressa. Roberto Darnton. Edusp. Este livro foi concebido como parte de um projeto maior promovido pela The New York Public Library com o objetivo de comemorar o bicentenário da Revolução Francesa. O projeto compreendeu, além da realização do livro e de uma série de programas públicos, a organização de uma exposição que tornou conhecido o verdadeiro 'tesouro' encontrado no acervo dessa biblioteca. Reunindo quatorze textos de estudiosos consagrados, a publicação focaliza o papel desempenhado pela impressão tipográfica na Revolução Francesa. A palavra impressa é observada não apenas enquanto registro dos fatos, mas como ingrediente decisivo dos acontecimentos, de modo a oferecer ao leitor um abrangente panorama da cultura na França nesse importante momento histórico.

38. O que é editora. Wolfgang Knapp. Ed. Brasiliense. Típico livro da coleção "Primeiros Passos": rápido de ler, poucas páginas, informativo. Dá um panorama geral do que é e como funciona uma editora. Traça também uma breve história do livro.

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100 Mais do Século XX – Ficção "Ulisses", de James Joyce, foi escolhido como o romance mais importante do século pelos dez críticos e escritores convidados pela Folha para elaborar a lista dos cem melhores romances publicados desde 1900 e também dos 30 mais importantes romances brasileiros de todos os tempos. 1º - Ulisses (1922) - James Joyce (1882-1941). Civilização Brasileira. Retomando parodicamente a obra fundamental do gênero épico -a "Odisséia", de Homero-, "Ulisses" pretende ser uma súmula de todas as experiências possíveis do homem moderno. Ao narrar a vida de Leopold Bloom e Stephen Dedalus ao longo de um dia em Dublin (capital da Irlanda), o autor irlandês rompeu com todos as convenções formais do romance: criação e combinação inusitada de palavras, ruptura da sintaxe, fragmentação da narração, além de praticamente esgotar as possibilidades do monólogo interior. Para T.S. Eliot, o mito de Ulisses serve para Joyce dar sentido e forma ao panorama de "imensa futilidade e anarquia da história contemporânea" (leia mais à pág. 5-10). 2º - Em Busca do Tempo Perdido (1913-27) - Marcel Proust (1871-1922). Ediouro e Globo, os sete volumes. Ciclo de sete romances do escritor francês, inter-relacionados e com um só narrador, dos quais os três últimos são póstumos: "O Caminho de Swann", "À Sombra das Raparigas em Flor", "O Caminho de Guermantes", "Sodoma e Gomorra", "A Prisioneira", "A Fugitiva" e "O Tempo Redescoberto". Ampla reflexão sobre a memória e o poder dissolvente do tempo, o ciclo se apóia em fatos mínimos que induzem o narrador a resgatar seu passado, ao mesmo tempo em que realiza um painel da sociedade francesa no fim do século 19 e início do 20. 3º - O Processo - Franz Kafka (1883-1924). Companhia das Letras. Na obra-prima do escritor tcheco de língua alemã, o bancário Josef K. é intimado a depor em um processo instaurado contra ele. Mas, enredado em uma situação cada vez mais absurda, Joseph K. ignora de que é acusado, quem o acusa e mesmo onde fica o tribunal. 4º - Doutor Fausto (1947) - Thomas Mann. Nova Fronteira. Biografia imaginária do compositor alemão Adrian Leverkühn, escrita por seu amigo Serenus Zeitblom durante o desenrolar da Segunda Guerra Mundial. Nela, o autor, para recontar o pacto fáustico com o diabo, se vale de aspectos da vida de Nietzsche, da teoria dodecafônica de Shoenberg e do auxílio teórico do filósofo Adorno. O alemão Thomas Mann, filho de uma brasileira, recebeu o Prêmio Nobel em 1929. 5º - Grande Sertão: Veredas (1956)- Guimarães Rosa (1908-1967). Nova Fronteira. No sertão do Norte de Minas, o jagunço Riobaldo conta para um interlocutor, cujo nome não é revelado, a história de sua vida de guerreiro e de seu amor pelo jagunço Diadorim -na verdade, uma mulher disfarçada de homem para vingar o pai morto em luta. A escrita de permanente invenção de Guimarães Rosa (feita de neologismos, arcaísmos, transfigurações da sintaxe) reelabora a expressão oral e os mitos do interior do país a fim de criar um quadro épico e metafísico do sertão (leia mais nas págs. 5-9 e 5-10). 6º - O Castelo (1926) - Franz Kafka. Ediouro. Em busca de trabalho, o agrimensor K. chega a uma aldeia governada por um déspota que habita um castelo construído no alto da colina. Submetida a leis arbitrárias, a população passa a hostilizá-lo. Kafka morreu antes de concluí-lo. 7º - A Montanha Mágica (1924) - Thomas Mann (1875-1955). Nova Fronteira. Imagem simbólica da corrosão da sociedade européia antes da Primeira Guerra. Ao visitar o primo em um sanatório, Hans Castorp acaba por contrair tuberculose. Permanece internado por sete anos, vivendo em um ambiente de requinte intelectual, em permanente debate com idéias filosóficas antagônicas, até que decide partir para o front.

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8º - O Som e a Fúria (1929) - William Faulkner (1897-1962). Edições Dom Quixote (Portugal). No condado imaginário de Yoknapatawpha, no sul dos EUA, a vida da decadente família Compson é narrada por quatro personagens distintos, todos obcecados pela jovem Caddy, neste romance em que a linguagem se amolda à consciência de cada personagem. O americano Faulkner ganhou o Prêmio Nobel em 1949. 9º - O Homem sem Qualidades (1930-1943) - Robert Musil (1880-1942). Nova Fronteira. Fio condutor do enredo, o ex-oficial Ulrich é repleto de dotes intelectuais, mas incapaz de encontrar uma finalidade em que aplicá-los. De caráter ensaístico, a obra é uma vasta reflexão sobre a crise social e espiritual do século 20. 10º - Finnegans Wake (1939) - James Joyce. Penguin (EUA). No Brasil, trechos do livro em "Panaroma do Finnegans Wake" (Ed. Perspectiva). Joyce criou nesta obra, que radicaliza seu experimentalismo linguístico, provavelmente o mais complexo texto do século. A narrativa, repleta de referências simbólicas, mitológicas e linguísticas que tornam a leitura um desafio permanente, gira em torno do personagem Humphrey Chimpden Earwicker (HCE) e sua mulher Ana Lívia Plurabelle (ALP), que vivem em Dublin. 11º - A Morte de Virgílio (1945) - Hermann Broch (1886-1951). Relógio d'Água (Portugal). Escritor austríaco. Concebida enquanto o autor estava preso pelos nazistas, a obra é um longo monólogo interior do poeta latino Virgílio. 12º - Coração das Trevas (1902) - Joseph Conrad (1857-1924). Ediouro. Escritor ucraniano de língua inglesa. Em busca de um mercador de marfim que desapareceu na selva africana, o capitão Marlowe o encontra inteiramente louco e cultuado como um deus pelos nativos. 13º - O Estrangeiro (1942) - Albert Camus (1913-1960). Record. Obra que consagrou o autor francês de origem argelina (Nobel de 1957) ao tratar do absurdo da existência. Aparentemente sem motivação -"por causa do sol"-, Mersault mata um árabe durante passeio pela praia. Julgado e condenado à morte, resigna-se a seu destino. 14º - O Inominável (1953) - Samuel Beckett (1906-1989). Nova Fronteira. Conclusão da trilogia do dramaturgo irlandês, após "Molloy" e "Malone Morre". Reduzido a uma condição precária de existência -sem nome-, o narrador busca se apropriar da identidade de dois outros personagens, Mahood e Worm. Beckett ganhou o Nobel em 1969. 15º - Cem Anos de Solidão (1967) - Gabriel García Márquez (1928). Record. Colombiano, ganhou o Nobel em 1990. A saga de duas famílias no povoado fictício de Macondo é o pretexto para o autor construir uma alegoria da situação da América Latina. Obra que projetou internacionalmente o "realismo mágico". 16º - Admirável Mundo Novo (1932) - Aldous Huxley (1894-1963). Globo. Inglês. Alegoria sobre as sociedades administradas e sem liberdade. Em um futuro indefinido, todos os nascimentos são "de proveta" e os cidadãos são vigiados. Nascido de uma mulher, John se torna uma ameaça por sua diferença. 17º - Mrs. Dalloway (1925) - Virginia Woolf (1882-1941). Penguin Books (EUA). Inglesa. A partir de um fato banal - a compra de flores para uma festa-, Mrs. Dalloway relembra sua vida - como a relação com a filha e uma antiga paixão. 18º - Ao Farol (1927) - Virginia Woolf. Ediouro. Um passeio da família Ramsay a um farol, frustrada pelo mau tempo, torna-se imagem da sensação de perda que percorre a obra: logo após irrompe a Primeira Guerra e a morte atingirá os Ramsay.

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19º - Os Embaixadores (1903) - Henry James (1891-1980). Oxford University Press ("The Embassadors", Reino Unido). Tema central do escritor americano, o confronto entre a mentalidade puritana dos EUA a cultura "fin-de-siècle" européia dá o tom nesta história sobre americano que vai a Paris para trazer de volta rapaz seduzido pela capital francesa. 20º - A Consciência de Zeno (1923) - Italo Svevo (1861-1928). Minerva (Portugal). Após várias tentativas malogradas para deixar de fumar, Zeno Cosini segue o conselho de seu psicanalista e decide escrever a história de sua vida, fazendo um retrato impiedoso da burguesia italiana. 21º - Lolita (1958) - Vladimir Nabokov (1899-1977). Cia. das Letras. Russo naturalizado americano. O professor quarentão Humber apaixona-se pela adolescente Lolita. Para tê-la próxima, casa-se com sua mãe, que morre em um acidente de carro. Os dois se tornam então amantes. 23º - O Leopardo (1958) - Tomaso di Lampedusa (1896-1957). L&PM. Único romance do autor italiano. No século 19, em uma Sicília dominada por clãs familiares, o aristocrático Fabrizio Salina recusa-se a ver a decadência de sua classe, anunciada pelas convulsões sociais que vão levar a Itália à unificação. 24º - 1984 (1949) - George Orwell (1903-1950). Companhia Editora Nacional. Inglês. Nesta sombria alegoria passada em futuro que seria o ano de 1984, cidadãos estão submetidos à autoridade onipresente do "Big Brother" e proibidos de manifestar sua individualidade. 25º - A Náusea (1938) - Jean-Paul Sartre (1905-1980). Nova Fronteira. Nesta obra que tornou o filósofo Sartre mundialmente conhecido, o herói Roquentin, sentado num banco de praça em uma cidade do interior, subitamente deixa de ver sentido no mundo e passa a ter consciência do "mal-estar de existir". Francês, Sartre recusou o Nobel em 64. 26º - O Quarteto de Alexandria (1957-1960) - Lawrence Durrell (1912-1990). Ulisseia (Portugal). Inglês de origem indiana. Tetralogia em que a mesma história de política, amor e perversão é contada de quatro óticas diferentes, em quatro diferentes romances : "Justine", "Balthazar", "Mountolive" e "Clea". 27º - Os Moedeiros Falsos (1925) - André Gide (1869-1951). Gallimard ("Les Faux-Monnayeurs", França). Edouard mantém um "diário do romance", a partir do qual pretende escrever um romance -"Moedeiros Falsos". A obra criou o "mise-en-abîme" -técnica em que a personagem se duplica dentro do romance. Francês, recebeu o Nobel em 1947. 28º - Malone Morre (1951) - Samuel Beckett. Edições Dom Quixote (Portugal). Segundo livro da trilogia do autor. Moribundo em um leito de hospital, Malone reflete sobre sua vida. 29º - O Deserto do Tártaros (1940) - Dino Buzzati (1906-1972). Mondadori ("Il Deserto dei Tartari", Itália) Italiano. O tenente Drogo é enviado ao longínquo e decadente forte Bastiani, situado na fronteira pacificada de um país que nunca é nomeado. Lá, todos aguardam há décadas o ataque improvável dos tártaros e a desilusão se torna regra. 30º - Lord Jim (1900) - Joseph Conrad (1857-1924). Publicações Europa-América (Portugal). Conrad narra a história de um marinheiro atormentado pelo remorso de ter permitido o naufrágio de seu navio.

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31º - Orlando (1928) - Virginia Woolf. Ediouro. A autora inglesa imagina sua amiga, a também escritora Vita-Sackville West, vivendo nos três séculos anteriores. 32º - A Peste (1947) - Albert Camus. Record. Epidemia assola Orán, na Argélia. A cidade é isolada e muitos morrem. Escrita logo após o fim da Segunda Guerra, a obra reflete sobre como indivíduos reagem à morte iminente, ao isolamento e ao vácuo de sentido que se abre em suas vidas. 33º - O Grande Gatsby (1925) - Scott Fitzgerald (1896-1940). Relógio d'Água (Portugal). Americano. Vivendo de negócios ilícitos, Jay Gatsby revê antiga paixão, Daisy, agora casada com o milionário Tom Buchanan. Tornam-se amantes, mas Daisy e o marido acabarão por envolver Gatsby em intriga que o levará a um fim trágico. 34º - O Tambor (1959) - Günter Grass (1927). Vintage Books ("The Tin Drum", EUA). Obra em que o autor alemão narra a ascensão do nazismo. Internado em um manicômio, Oskar relembra sua vida desde os três anos, quando decidiu parar de crescer por ódio aos pais e ao mundo adulto. 35º - Pedro Páramo (1955) - Juan Rulfo (1918-1986). Paz e Terra. Mexicano. Nesta obra que prenuncia o "realismo mágico", Juan chega a Comala em busca do paradeiro do pai, Pedro Páramo. Mas, ao descobrir que o povoado é habitado apenas por mortos, Juan morre aterrorizado. Enterrado, outros fantasmas irão lhe contar a vida de seu pai. 36º - Viagem ao Fim da Noite (1932) - Louis-Ferdinand Céline (1894-1961). Cia. das Letras. Francês. Após ser ferido na Primeira Guerra, Bardamu conhece a americana Lola, com quem viaja para os EUA. Passado na França, África e nos EUA, a obra critica as guerras e o colonialismo. 37º - Berlin Alexanderplatz (1929)1929) - Alfred Döblin (1878-1957). Rocco. Rocco Alemão. Obra que abriu novas possibilidades ao gênero ao utilizar técnicas de montagem e justaposição para construir, nos anos 20, uma Berlim multifacetada, por onde transitam personagens esmagadas pela engrenagem social. 38º - Doutor Jivago (1957) - Boris Pasternak (1890-1960). Itatiaia. Um amplo painel da Rússia nas três primeiras décadas deste século, desde a crise do czarismo até a implantação do comunismo. O autor foi perseguido pelo regime comunista soviético, que o forçou a recusar o Prêmio Nobel de 1958. 39º - Molloy (1951) - Samuel Beckett (1906-1989). Nova Fronteira. Primeiro obra da trilogia. Relembrando suas viagens, os narradores Molloy e Moran revelam-se a mesma pessoa, e as viagens, a busca da identidade perdida. 40º - A Condição Humana (1933) - André Malraux (1901-1976). Record. Ambientado em Xangai (China), o romance dramatiza os primeiros levantes da Revolução Chinesa, em 1927. Francês, Malraux foi ministro da Cultura de Charles de Gaulle. 41º - O Jogo da Amarelinha (1963) - Julio Cortázar (1914-1984). Civilização Brasileira. Argentino. A vida de Oliveira em Paris é o pretexto para o autor criar um dos romances mais ousados do século 20. Ao propor possibilidades da leitura dos capítulos fora da ordem sequencial, o narrador delega ao leitor a capacidade de também "construir" o romance. 42º - Retrato do Artista quando Jovem (1917) - James Joyce. Ediouro. De caráter autobiográfico, a obra investiga o processo de formação do artista ao longo da infância e adolescência do personagem Stephen Dedalus, que será um dos personagens centrais de "Ulisses".

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43º - A Cidade e as Serras (1901) - Eça de Queirós (1845-1900). Ediouro. Principal autor do realismo português, Eça põe em cena a dicotomia entre campo e cidade, ao contar a história de dois amigos, um entusiasta da moderna Paris e outro da vida bucólica em Portugal. 44º - Aquela Confusão Louca da Via Merulana (1957) - Carlo Emilio Gadda (1893-1973). Record. Neste romance "policial" sobre um roubo de jóias, ambientado nos primeiros anos do fascismo, o autor italiano radicaliza o uso de jargões, gírias e dialetos. 45º - As Vinhas da Ira (1939) - John Steinbeck (1902-1968). Record. Americano, ganhou o Nobel de 1962. Marcada por forte crítica social, obra narra a saga de uma família de camponeses em busca de trabalho na Califórnia. 46º - Auto de Fé (1935) - Elias Canetti (1905-1994). Nova Fronteira. Búlgaro de língua alemã, ganhou o Nobel de 1981. Obcecado desde a infância pela idéia de ler e saber tudo, o professor Kien acaba por morrer queimado em um incêndio de seus 100 mil livros. 47 º - À Sombra do Vulcão (1947) - Malcolm Lowry (1909-1957). Ed. Siciliano. Inglês. Incorporando técnicas da linguagem cinematográfica -como flashbacks e justaposição de imagens e pensamentos-, a obra narra o périplo de um velho cônsul alcoólatra por uma cidadezinha do México. 49º - Macunaíma (1928) - Mário de Andrade (1893-1945). Scipione e Villa Rica. Obra de ficção mais importante do modernismo brasileiro, "Macunaíma", "o herói sem nenhum caráter", sincretiza o que Mário de Andrade considerava as características do povo brasileiro: índio, negro e branco, desleal, ambicioso, coração mole, corajoso, mas preguiçoso. 50º - O Bosque das Ilusões Perdidas (1913) - Alain Fournier (1886-1914). Relógio d'Água (Portugal). A partir da paixão de um estudante por uma aldeã, o autor francês constrói uma fábula poética sobre a passagem da infância à adolescência. 51º - Morte a Crédito (1936) - Louis-Ferdinand Céline (1894-1961). Nova Fronteira. Fugindo da miséria, Ferdinand deixa sua casa e se envolve com um inventor fantástico que criou uma forma de plantio "rádio-telúrico", que provoca a ira dos agricultores do interior da França. A obra radicalizou o experimentalismo linguístico de "Viagem ao Fim da Noite". 52º - O Amante de Lady Chatterley (1928) - D.H. Lawrence (1885-1930). Graal. Proibido na Inglaterra por 32 anos, acusado de obscenidade, o romance narra a paixão avassaladora entre a mulher de um aristocrata inglês e um guarda-caça. 53º - O Século das Luzes (1962) - Alejo Carpentier (1904-1980). Global. Cubano. Publicada a princípio em francês, essa crônica histórica se passa na ilha antilhana de Guadalupe, onde comerciante tenta impor os ideais da Revolução Francesa (1789) em curso na Europa. 54º - Uma Tragédia Americana (1925) - Theodore Dreiser (1871-1945). New America Library ("An American Tragedy", EUA). Escritor americano. Jovem ambicioso e arrivista planeja matar a namorada que pode impedir sua ascensão social. Deixa a idéia de lado, mas a moça acaba morrendo e ele é acusado. 55º - América (1927) - Franz Kafka. Livros do Brasil (Portugal). Obra inacabada de Kafka, publicada três anos após sua morte, conta a história de jovem que é enviado aos EUA pelos pais depois de engravidar uma empregada.

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59º - A Vida - Modo de Usar (1978) - Georges Perec (1936-1982). Companhia das Letras. Partindo da idéia do quebra-cabeças, o livro relaciona as vidas e experiências dos moradores de um edifício em Paris. Perec participou do grupo de experimentação literária OuLiPo, de Raymond Queneau. 60º - José e Seus Irmãos (1933-1943) - Thomas Mann. Ed. Nova Fronteira. Tetralogia baseada na narrativa bíblica de Jacó, vendido pelos irmãos aos israelitas: "A História de Jacó", "O Jovem José", "José no Egito" e "José, o Provedor". 61º - Os Thibault (1921-1940) - Roger Martin du Gard (1881-1958). 2 vols. Ed. Globo. Neste ciclo de oito romances, os grandes temas do entre-guerras, como o declínio do espírito religioso e a desilusão com o socialismo, são encenados por meio da trajetória de dois irmãos. Francês, ganhou o Prêmio Nobel em 1937. 62º - Cidades Invisíveis (1972) - Italo Calvino (1923-1985). Companhia das Letras. O viajante veneziano Marco Polo descreve a Kublai Khan, de modo fabular e fantasioso, as incontáveis cidades do império do conquistador mongol. 63º - Paralelo 42 (1930) - John dos Passos (1896-1970). Ed. Rocco. Inaugurando a trilogia "USA", formada ainda por "1919" e "Dinheiro Graúdo", a obra do autor americano descendente de portugueses traça um painel da América nas primeiras décadas do século. 64º - Memórias de Adriano (1951) - Marguerite Yourcenar (1903-1987). Ed. Nova Fronteira. Escritora belga. No século 2º d.C., o imperador romano Adriano, próximo da morte, faz um balanço de sua existência em carta ao jovem Marco Aurélio. 65º - Passagem para a Índia (1924) - E.M. Forster (1879-1970). Publicações Europa-América (Portugal). Inglês. Na Índia sob dominação britânica, um nacionalista hindu é acusado por uma inglesa de praticar atos imorais. É preso e levado a julgamento. 66º - Trópico de Câncer (1934) - Henry Miller. Ibrasa - Instituição Brasileira de Difusão Cultural.De caráter autobiográfico, a obra recria o clima de liberdade e inconformismo de artistas e escritores americanos que viviam em Paris no entre-guerras. 67º - Enquanto Agonizo (1930) - William Faulkner. Ed. Exped. O périplo da família Bundren para enterrar a mãe em Jefferson é um pretexto para virem à tona -na consciência das personagens- as desavenças entre irmãos, pai e tios. 68º - As Asas da Pomba (1902) - Henry James (1843-1916). Ediouro. Rapaz é estimulado pela amante maquiavélica a cortejar uma milionária que está à beira da morte. 69º - O Jovem Törless (1906) - Robert Musil. Ed. Nova Fronteira. Alemão. Descreve a vida de adolescentes em um internato alemão, onde a severidade do sistema educacional conjuga-se à brutalidade do comportamento dos alunos. 70º - A Modificação (1957) - Michel Butor (1926). Minuit ("La Modification", França). Narrado inteiramente na segunda pessoa do plural, o livro conta a história de homem que, em um trem, a caminho de encontrar a amante em Roma, divide-se entre o amor dela e o de sua mulher. 71º - A Colméia (1951) - Camilo José Cela (1916). BCD União de Editoras. Espanhol, ganhou o Nobel de 1989. Diversos personagens e histórias se cruzam neste livro em que a verdadeira personagem é a cidade de Madri (Espanha), logo após a Segunda Guerra.

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72º - A Estrada de Flandres (1960) - Claude Simon (1913). Ed. Nova Fronteira. O francês Claude Simon, ligado ao movimento do "roman nouveau" (novo romance), evoca neste livro a derrota da França pelos nazistas em 1940. Ganhou o Prêmio Nobel em 1985. 73º - A Sangue Frio (1966) - Truman Capote (1924-1984). Livros do Brasil (Portugal). Enviado como jornalista para cobrir um crime real, o autor americano criou um novo gênero -o romance-documento-, que insere na ficção a investigação sistemática da reportagem. 74º - A Laranja Mecânica (1962) - Anthony Burgess (1916-1993). Ediouro. Em uma cidade imaginária, o líder de uma gangue de vândalos é preso e submetido a lavagem cerebral para "descriminalizá-lo". Escritor britânico. 75º - O Apanhador no Campo de Centeio (1951) - J.D. Salinger (1919). Editora do Autor. O americano Salinger retrata o vazio da classe média americana e os dilemas típicos da adolescência nos anos 50 a partir da história de um jovem que vaga sem rumo por Nova York. 76º - Cavalaria Vermelha (1926) - Isaac Babel (1894-1941). Ediouro. De grande força épica, o livro narra a vida repleta de massacres e violência dos soldados russos -os cossacos. 77º - Jean Christophe (1904-12) - Romain Rolland (1866-1944). Ed. Globo. Biografia imaginária de um músico alemão que vai viver na França, mas acaba se decepcionando com a frivolidade da cultura do país. 78º - Complexo de Portnoy (1969) - Philip Roth (1933). Editora L&PM. Americano. Conceito da psiquiatria, "Complexo de Portnoy" tem como eixo garoto judeu obcecado pela mãe e em busca de satisfação sexual, o que acaba por aumentar seu complexo de culpa. 79º - Nós (1924) - Evgueni Ivanovitch Zamiatin (1884-1937). Ed. Antígona (Portugal). O escritor russo satiriza o regime comunista soviético por meio de uma cidade imaginária onde não existem nem individualismo nem liberdade. 80º - O Ciúme (1957) - Allain Robbe-Grillet (1922). Ed. Minuit ("La Jalousie", França). Francês. Nesta obra-chave do "nouveau roman", um narrador paranóico investiga a suposta traição da mulher. 81º - O Imoralista (1902) - André Gide (1869-1951). Ed. Gallimard ("L'Imoraliste", França). Escritor francês. Criado na estrita moral puritana, Michel busca a auto-realização, o que resulta no sacrifício daqueles que o cercam, como a sua mulher. 82º - O Mestre e Margarida (1940) - Mikhail Afanasevitch (1891-1940). Ed. Ars Poética. Escritor russo. Voland -a encarnação do diabo- é internado em um manicômio ao desmascarar os abusos e favoritismos da sociedade russa dos anos 20. 83º - O Senhor Presidente (1946) - Miguel Ángel Asturias (1899-1974). Ed. Losada ("El Señor Presidente", Argentina). Ganhador do Nobel de 1967, o guatemalteco se tornou um dos pioneiros do "realismo mágico" com esta obra que satiriza um ditador sul-americano. 84º - O Lobo da Estepe (1927) - Herman Hesse (1877-1962). Ed. Record. Escritor alemão. Solitário e em crise existencial, o escritor Harry Haller acaba por conhecer duas pessoas que vão incitá-lo a aceitar a vida em toda a sua plenitude.

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85º - Os Cadernos de Malte Laurids Bridge (1910) - Rainer Maria Rilke (1875-1926). Editora Siciliano (R$ 15,50). Escritor alemão. Intelectual reflete em seu diário sobre a morte e a busca de Deus enquanto se recupera de uma doença. 86º - Satã em Gorai (1934) - Isaac B. Singer (1904-1991). Ed. Perspectiva. No século 17, em uma aldeia da Polônia assediada por tropas inimigas, um falso messias anuncia a redenção próxima. Polonês de língua inglesa, Singer recebeu o Prêmio Nobel em 1978. 87º - Zazie no Metrô (1959) - Raymond Queneau (1903-1976). Ed. Rocco. Francês, criador nos anos 60 do grupo de experimentação literária OuLiPo. Enquanto o metrô está em greve, Zazie percorre a cidade de Paris, partilhando a experiência de personagens como uma viúva, um taxista e um cabeleireiro. 88º - Revolução dos Bichos (1945) - George Orwell. Editora Globo. Animais de uma fazenda se rebelam contra seus donos e tomam o poder. Ambicionam realizar uma "sociedade" igualitária, mas logo se instala uma ditadura, a dos porcos, que submete os demais bichos como faziam os donos humanos. 89º - O Anão - Pär Lagerkvist. Ed. Farrar, Strauss & Giroux ("Dwarf", EUA). No século 15, em Florença, um anão conta em um diário como foi encarcerado na torre do palácio por Lorenzo de Médici depois de servi-lo por vários anos. O autor sueco ganhou o Nobel em 1951. 90º - A Tigela Dourada (1904) - Henry James. Oxford University Press ("The Golden Bowl", EUA). Dividido em duas partes, o livro é um estudo sobre o adultério a partir da ótica de um aristocrata e de sua mulher. 91º - Santuário - William Faulkner. Editora Minerva (Portugal). Um delinquente mata um de seus comparsas e violenta uma jovem, que ele depois obriga a se prostituir. Perseguido pela polícia, ele é inocentado do crime pela mulher, que acusa a um outro, que acaba linchado. A fraqueza da justiça humana, a crueldade e a impotência são alguns dos temas reunidos por Faulkner neste livro, em que a tragédia grega se intromete no romance policial, na observação de André Malraux. 92º - A Morte de Artemio Cruz (1962) - Carlos Fuentes (1928). Ed. Rocco. Escritor mexicano. Inválido e à beira da morte, o rico e poderoso Artemio Cruz relembra o seu passado revolucionário. 93º - Don Segundo Sombra (1926) - Ricardo Güiraldes (1886-1927). Ed. Scipione. De dimensões míticas, obra narra a formação de um jovem por um dos últimos "gauchos" dos pampas argentinos. Obra de forte caráter nacionalista. 94º - A Invenção de Morel (1940) - Adolfo Bioy Casares (1914). Ed. Rocco. Neste clássico da literatura fantástica, o autor argentino cria a história de um homem em fuga da Justiça que chega a uma ilha deserta, onde pouco a pouco realidade e imaginário começam a se misturar. 95º - Absalão, Absalão (1936) - William Faulkner. Editores Reunidos (Portugal). O passado mítico e trágico de Thomas Sutpen, que impôs a destruição à velha aristocracia de uma cidade, é narrado a partir de três pontos de vista diferentes, que se contradizem, se anulam ou se confirmam. O drama familiar, o conflito racial e a decadência sulina expandem-se em um quadro histórico dos maiores construídos por Faulkner. 96º - Fogo Pálido (1962) - Vladimir Nabokov (1899-1977). Ed. Teorema (Portugal). Escritor russo-americano. Após apresentar ao leitor um poema recém-descoberto -"Fogo Pálido"-, o narrador analisa sua estrutura e investiga as motivações que levaram o autor -já morto- a escrevê-lo.

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97º - Herzog (1964) - Saul Bellow (1915). Ed. Relógio d'Àgua (Portugal). Em crise existencial, intelectual passa a enviar cartas a figuras fictícias, como filósofos, políticos, além de Deus e a si mesmo. Americano, ganhou o Nobel em 1976. 98º - Memorial do Convento (1982) - José Saramago (1922). Bertrand. Autor português, ganhou o Nobel em 1998. Durante construção de convento em Portugal no século 18, padre idealiza realizar um engenho voador, a "passarola", o que desagrada a Inquisição. 99º - Judeus sem Dinheiro (1930) - Michael Gold (1893-1967). Editorial Caminho (Portugal). Membro do Partido Comunista, o escritor americano traça um painel do bairro do Lower East Side, em Nova York, durante as primeiras décadas do século, quando começavam a chegar as primeiras levas de imigrantes judeus. 100º - Os Cus de Judas (1980) - Antonio Lobo Antunes (1942). Ed. Marco Zero. Escritor português. A obra trata de forma sarcástica e irreverente a ditadura salazarista dos anos 70 e as guerras pela libertação das colônias portuguesas na África.

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100 Mais do Século XX – Não-ficção Dez intelectuais convidados pela Folha elaboraram uma lista dos textos teóricos estrangeiros mais importantes neste século e elegeram os 30 livros de não-ficção brasileiros mais importantes de todos os tempos. O único trabalho brasileiro que aparece na lista é "Os Sertões", de Euclides da Cunha. 1º - A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904) - Max Weber (1864-1920). Ed. Pioneira. Ensaio histórico-sociológico sobre a relação entre o conteúdo doutrinal do protestantismo e a economia capitalista: este último caracteriza-se por uma racionalidade específica, para a qual concorreu a noção de trabalho como vocação e ascese intramundana, gerada no calvinismo. Sem postular uma causalidade estrita, o autor demonstra haver uma afinidade entre ambos. 2º - Dialética do Esclarecimento (1947) - Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973). Jorge Zahar Editor. Publicado em Amsterdã (Holanda) logo após a Segunda Guerra, esse manifesto filosófico expõe o grande tema da Escola de Frankfurt: a imbricação entre progresso tecnológico-material e regressão social, razão iluminista e razão instrumental. Assinado pelos dois grandes nomes da escola, o livro traz, entretanto, a marca ensaística de Adorno, ao transitar de Homero a Sade, dos conceitos filosóficos à análise do nazismo. 3º - Economia e Sociedade (1921) - Max Weber. Ed. da Universidade de Brasília. Obra teórica inacabada, redigida entre 1911 e 1913 e publicada postumamente, na qual o autor sistematiza e define os conceitos fundamentais do que chama de "sociologia compreensiva", com destaque para a análise dos tipos de ação social e dos tipos de dominação, que exerceriam enorme influência nos desenvolvimentos posteriores da disciplina -mais recentemente, na "teoria da ação comunicativa" de Jürgen Habermas. 4º - O Mal-Estar na Civilização (1930) - Sigmund Freud (1856-1939). Imago. Neste que é, ao lado de "O Futuro de uma Ilusão" (1927), um dos grandes ensaios culturais da psicanálise, Freud aponta a incompatibilidade fundamental entre libido e moral civilizada como fonte incontornável do conflito entre indivíduo e sociedade no mundo moderno, bem como daquilo que, às vésperas do nazismo, chamou de "ódio à civilização". 5º - Ser e Tempo (1927) - Martin Heidegger (1889-1976). Ed. Vozes. O antigo discípulo de Husserl empreende uma "analítica da existência humana": com a noção de existência, Heidegger espera superar o dualismo sujeito-objeto e a filosofia da consciência e faz da adesão pré-reflexiva ao mundo a questão central para o pensamento filosófico. Viria a ser acusado de irracionalismo, crítica que sua adesão ao nazismo só fez agravar. 6º - Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda (1936) - John Maynard Keynes (1883-1946). Ed. Atlas. Escrita nos anos da grande depressão que se seguiu à crise de 1929, a teoria geral keynesiana revolucionou o pensamento econômico ao propor, em divergência com o marginalismo e o liberalismo ortodoxos, uma série de políticas de prerrogativa governamental para a promoção do pleno emprego e do nível de renda, baseadas sobretudo nos gastos públicos e no controle dos investimentos. Políticas keynesianas dominaram o cenário econômico até a década de 70. 7º - Tractatus Logico-Philosophicus (1921) - Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Edusp. Único trabalho filosófico publicado pelo ex-aluno de Bertrand Russel, em que se propõe um modelo de linguagem "pura", em que a estrutura das proposições seja homóloga à estrutura dos fatos representados por elas. Contribuições estritamente lógicas à parte, o livro suscitaria polêmica e pasmo até entre os que se sentiam filosoficamente mais próximos ao autor -de Russell ao "positivismo lógico".

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8º - Tristes Trópicos (1955) - Claude Lévi-Strauss (1908). Companhia das Letras. Relato que integra memorialismo, narrativa de viagem, descrição etnográfica e ensaísmo cultural, acompanhando a conversão do autor à antropologia, consumada com suas pesquisas no Brasil Central. No capítulo final, "O Regresso", o horizonte se abre para questões mais amplas sobre a natureza do saber antropológico, o destino das civilizações e o lugar do homem na natureza. 9º - Investigações Filosóficas (1953) - Ludwig Wittgenstein. Ed. Vozes. Parte da imensa obra póstuma do autor, essas reflexões sobre lógica, linguagem e pensamento voltam as costas para o programa logicista do "Tractatus" e põem no centro da indagação filosófica o conceito de "jogos de linguagem": não cabe à filosofia determinar a essência da linguagem, mas sim examinar seus usos. Obra fundamental para as várias correntes da "filosofia analítica". 10º - Ensaio sobre a Dádiva (1924) - Marcel Mauss (1872-1950). Edições 70 (Portugal). Estudo sobre a obrigatoriedade de dar e retribuir presentes em algumas sociedades indígenas. Essa forma de troca é irredutível à esfera econômica, pois está inserida numa dimensão simbólica ampla, tornando-a um "fato social total", cujas regras de reciprocidade são anteriores a cada "contrato". A relevância geral que um fato isolado pode assim adquirir viria a inspirar a abordagem "microscópica" da história das mentalidades.

11º - O Visível e o Invisível (1964) - Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). Perspectiva. Nessa obra inacabada e publicada postumamente, o filósofo francês estende suas investigações da "Fenomenologia da Percepção" em direção ontológica, investigando os modos pré-reflexivos de "adesão ao mundo".

12º - Introdução Geral à Psicanálise (1938) - Sigmund Freud (1856-1939). Fazendo eco às "Conferências Introdutórias" de 1916-1917, esse texto inacabado é uma tentativa de balanço das teorias psicanalíticas sobre os instintos, a sexualidade, a natureza do inconsciente, a interpretação dos sonhos e a técnica psicanalítica.

13º - O Processo Civilizador (1939) - Norbert Elias (1897-1990). Jorge Zahar Editor. O autor traça uma evolução das regras de conduta (as boas maneiras) com o objetivo de analisar o processo pelo qual os indivíduos apreendem e internalizam essas regras. A esse processo de aprendizado do autocontrole está ligado o processo de formação dos Estados nacionais a partir do feudalismo.

14º - O Declínio da Idade Média (1919) - Johann Huizinga (1872-1945). Ed. Ulisseia (Portugal). O historiador holandês, uma espécie de homem renascentista em pleno século 20, dedicou sua maior obra às formas de vida e de arte na Flandres e na Burgúndia dos séculos 14 e 15. Ao tratar modos de devoção religiosa, monumentos artísticos e hábitos cotidianos com a mesma atenção e respeito, tornou-se um dos inspiradores da história das mentalidades de Marc Bloch e Lucien Febvre.

15º - História e Consciência de Classe (1923) - Georg Lukács (1885-1971). Ed. Elfos (Portugal). Principal obra do filósofo húngaro, deu novo impulso à filosofia marxista ao romper com o materialismo mecanicista e reavaliar a contribuição de Hegel à dialética. Nela estão elaboradas sua teoria da consciência de classe enquanto oposta à reificação -a "coisificação" do sujeito.

16º - Crítica da Razão Dialética (1960) - Jean-Paul Sartre (1905-1980). Em francês: "Critique de la Raison Dialectique" (Ed. Gallimard). Nessa tentativa de formulação de uma teoria materialista do sujeito, Sartre procurou conciliar conceitos oriundos do existencialismo, da psicanálise e do marxismo.

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17º - O Narrador (1936) - Walter Benjamin (1892-1940). Ensaio que consta do vol. 1 das "Obras Escolhidas", Ed. Brasiliense. Um dos maiores ensaios da crítica materialista. Benjamin liga a figura tradicional do narrador como contador de histórias e transmissor de tradições a um modo de produção artesanal e relaciona a ascensão do romance ao surgimento da moderna sociedade urbana e burguesa.

18º - O Ser e o Nada (1943) - Jean-Paul Sartre (1905-1980). Vozes. Na esteira de Heidegger, o filósofo e escritor francês, pai do existencialismo, desenvolve uma analítica da existência que visa afirmar a liberdade do "eu" como essência do humano.

19º - Massa e Poder (1960) - Elias Canetti (1905-1980). Companhia das Letras. Romancista, dramaturgo e memorialista, Canetti produziu nesse livro híbrido uma análise ampla do lugar das massas na história humana e especialmente nos totalitarismos modernos.

20º - Os Argonautas do Pacífico Ocidental (1922) - Bronislaw Malinowski (1884-1942). Em inglês, "Argonautas of the Western Pacific" (Waveland Press). Reconstrução da organização social dos nativos das ilhas Trobriand, na Oceania, a partir do regime de trocas intertribais, o "kula". O autor estabeleceu nesse livro o padrão da pesquisa antropológica moderna a partir da pesquisa de campo.

21º - A Condição Humana (1953) - Hannah Arendt (1906-1975). Forense Universitária. Um reexame da condição humana em suas três dimensões essenciais -o labor, o trabalho e a ação- a partir das experiências e temores do mundo moderno, dominado pelo conhecimento científico e técnico, que aparta o homem do mundo natural e vincula-o ao mundo dos artefatos humanos.

22º - Minima Moralia (1951) - Theodor Adorno. Ática. Obra-prima de Adorno, em que forma ensaística e conteúdo crítico tornam-se inextricáveis. Ao longo de 153 fragmentos, o autor pratica uma espécie de crônica filosófica da "vida degradada" na sociedade "administrada", no mundo contemporâneo dominado pela razão instrumental.

23º - A Grande Transformação (1944) - Karl Polanyi (1891-1976). Em inglês, "The Great Transformation" (Beacon Press). Livro dedicado à análise da formação da economia capitalista de mercado. A autonomização de uma esfera econômica, o mercado, contrapõe-se à indistinção existente nas sociedades "primitivas" entre instituições econômicas e sociais.

24º - O Pensamento Selvagem (1962) - Claude Lévi-Strauss. Papirus. Exame de diversos sistemas classificatórios, do totemismo australiano à botânica, com o objetivo de negar o caráter pré-lógico do pensamento selvagem. Tanto o pensamento selvagem quanto a ciência seriam lógicos, diferindo apenas os operadores utilizados: objetos sensíveis e concretos, no primeiro caso, e noções abstratas, no segundo.

25º - Eupalinos ou o Arquiteto (1921) - Paul Valéry (1871-1945). Ed. 34. Prefácio em forma dialogada: as sombras de Sócrates e Fedro discutem temas estéticos, e o filósofo grego lamenta ter abandonado suas inclinações artísticas em nome da abstração filosófica.

26º - Visão a partir de Lugar Nenhum (1986) - Thomas Nagel (1937). Editora Martins Fontes. Em sua obra mais ambiciosa, o filósofo americano examina a oposição sujeito-objeto em vários âmbitos -da teoria do conhecimento à ética e à morte.

27º - O Pensamento e o Movente (1934) - Henri Bergson (1859-1941). Em francês, "La Pensée et le Mouvant" (PUF). Reunião de conferências e ensaios desse que é um dos principais filósofos europeus do século. Entre eles, "Introdução à Metafísica", considerado uma importante síntese de seu pensamento.

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28º - Eros e Civilização (1955) - Herbert Marcuse (1898-1979). Ed. LTC. Em sua versão pessoal de um humanismo libidinal, o filósofo alemão, logo adotado pela contracultura dos anos 60, procura refutar as conclusões pessimistas de Freud em "O Mal-Estar na Civilização" sem abandonar as intuições psicanalíticas básicas.

29º - As Origens do Totalitarismo (1951) - Hannah Arendt (1906-1975). Companhia das Letras. Escrito sob o impacto do nazismo e do stalinismo, este ensaio examina a gênese e a particularidade do fenômeno totalitário, nova forma de dominação baseada no terror e na massificação, cujas possibilidades de surgimento foram dadas pelo anti-semitismo e pelo imperialismo.

30º - As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912) - Émile Durkheim (1858-1917). Martins Fontes, Paulus. Teoria sociológica do fenômeno religioso elaborada a partir da análise de sua forma supostamente mais simples, o totemismo australiano. A essência de todas as religiões não está no conteúdo de suas crenças, mas na dualidade entre profano e sagrado -este último igualmente derivado da sociedade.

31º - A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental (1954) - Edmund Husserl (1859-1938). Em inglês, "Crisis of European Sciences" (Northwestern University Press). Obra publicada postumamente e que ficou inacabada, representa o testamento intelectual de um dos pais da chamada fenomenologia.

32º - Origem do Drama Barroco Alemão (1928) - Walter Benjamin (1892-1940). Em inglês, "The Origin of German Tragic Drama" (Verso Books). Tese de doutorado do grande crítico e inspirador da Escola de Frankfurt, o livro recupera o drama barroco alemão a partir de preocupações estéticas eminentemente modernas, como a ruína e a alegoria.

33º - Mimesis (1946) - Erich Auerbach (1892-1957). Perspectiva. Escrito no exílio em Istambul (Turquia), esse é provavelmente o maior livro de história literária do século. Auerbach examina a história da literatura ocidental, de Homero a Virginia Woolf, a partir dos conceitos de "mistura de estilos" e "representação séria da vida cotidiana".

34º - Iluminações (1955) - Walter Benjamin. Em inglês, "Iluminations" (Schoken Books). Coleção de ensaios responsável pela difusão pós-guerra do crítico e filósofo alemão. Reúne os textos de crítica sobre Goethe, Leskov, Proust, Baudelaire e Kraus, o grande ensaio estético sobre "A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica" e seu texto filosófico mais importante: as teses "Sobre o Conceito de História", redigidas pouco antes de sua morte em 1940.

35º - A Invenção da Liberdade (1976) - Jean Starobinski (1920). Ed. da Unesp. Ensaio de reavaliação das artes plásticas no século 18 que procura afastar o preconceito moderno diante do rococó e do classicismo.

36º - Vontade de Potência - Friedrich Nietzsche (1844-1900). Em inglês, "The Will to Power" (Random House). Conjunto de aforismos e reflexões reunidos e adulterados por Elisabeth Nietzsche após a morte do irmão, visando torná-lo apologista da superioridade germânica sobre a civilização européia decadente; viria a ser aproveitado como peça de propaganda nazista.

37º - Teoria dos Jogos e Comportamento Econômico (1944) - John von Neumann e Oscar Morgenstern. Em inglês, "Theory of Games and Economic Behavior" (Princeton University Press). Depois de fazer contribuições fundamentais à matemática, à física e à ciência da computação, o húngaro Neumann tenta uma síntese de matemática, teoria dos jogos, cibernética e economia.

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38º - Ensaio sobre Algumas Formas Primitivas de Classificação (1901) - Émile Durkheim (1858-1917) e Marcel Mauss (1872-1950). Ensaio que consta do livro "Sociologia e Filosofia", Ed. Ícone. Tio (Durkheim) e sobrinho (Mauss) reúnem forças nesse exame conjunto da organização social e do totemismo australianos, que revela que os sistemas de classificação e entendimento do mundo natural dependem das relações sociais subjacentes - o que vale também para as classificações científicas ocidentais.

39º - Relatividade - As Teorias Restrita e Geral - Albert Einstein (1879-1955). Em inglês, "Relativity: The Special and the General Theory" (Outlet ed.). O físico expõe em termos científicos e filosóficos suas divergências com o universo mecânico da física newtoniana.

40º - O Homem e o Mundo Natural (1983) - Keith Thomas (1933). Companhia das Letras. Obra historiográfica inovadora quanto ao tema – as mudanças no modo de conceber as relações entre mundo natural e sociedade humana - e quanto ao método -Thomas vai de obras filosóficas a tratados de jardinagem. Obra importante da história das mentalidades.

41º - Fenomenologia da Consciência Interna do Tempo (1928) - Edmund Husserl (1859-1938). Em inglês, "On the Phenomenology of Consciousness of Internal Time" (Kluwer Press). Husserl examina de um ponto de vista fenomenológico a constituição da identidade subjetiva a partir do fluxo de percepções sensíveis e da experiência interna do tempo.

42º - Verdade e Método (1960) - H. G. Gadamer (1900). Vozes. Discípulo de Heidegger, esse filósofo alemão parte da "analítica do ser" de seu mestre para promover o primado da hermenêutica, da compreensão intersubjetiva sobre o ideal de um método científico puro. Sua influência vai de Jürgen Habermas aos estudos literários.

43º - A Ordem a Partir do Caos (1977) - Ilya Prigogine e Isabelle Stengers. Em inglês, "Order out of Chaos" (Bantham Books). Prigogine, Nobel de Química em 77, e Stengers examinam os conceitos de caos e tempo à luz de novas descobertas científicas, partindo daí para a rejeição do determinismo de raiz newtoniana.

44º - Mitológicas (1964-1973) - Claude Lévi-Strauss (1908). Em francês, "Mythologiques" (Plon). Conjunto de quatro volumes dedicados à interpretação da mitologia dos indígenas das Américas do Sul e do Norte de um ponto de vista estruturalista: os mitos não devem ser examinados isoladamente, mas relacionados dentro de um grupo e interpretados a partir de outros mitos e do contexto de origem.

45º - Manuscritos Econômico-Filosóficos (1932) - Karl Marx (1818-1893). Edições 70 (Portugal). Redigidos por volta de 1844, esses manuscritos inacabados só vieram à luz neste século, quando se tornaram uma das fontes de inspiração para uma leitura humanista do marxismo.

46º - A Genética e a Origem das Espécies (1937) - Theodosius Dobzhansky (1900-1975). Em inglês, "Genetics and the Origin of Species" (Columbia University Press). Ao lado de Morgan e Fisher, o autor é um dos pais da síntese evolucionista moderna: a arquitetura básica da teoria darwinista é complementada pelas descobertas da genética, capaz de dar conteúdo empírico preciso à idéia de mutação.

47º - A Acumulação do Capital (1913) - Rosa Luxemburgo (1870-1919). Em inglês, "Accumulation of Capital" (Books on Demand). A acumulação do capital requer o estímulo de uma demanda adicional, representada pelo "mercado externo" em áreas não-capitalistas, ou seja: forja a necessidade de um comércio mundial e estimula a expansão imperialista.

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48º - Individualismo e Ordem Econômica (1948) - F.A. Hayek (1899-1992). Em inglês, "Individualism and Economic Order" (University of Chicago Press). Reunião de ensaios de filosofia moral, teoria econômica e metodologia que convergem para uma só questão: a superioridade do mercado livre em relação ao planejamento a partir da utilização do conhecimento tácito dos indivíduos no aprimoramento da economia. Lança as bases do neoliberalismo.

49º - A Estrutura das Revoluções Científicas (1962) - Thomas Kuhn (1922-1996). Perspectiva. O físico e historiador americano rejeita a noção de progresso linear da ciência e propõe um modelo de história das ciências baseado na sucessão de "paradigmas" não inteiramente comensuráveis.

50º - Estética da Recepção (1964) - Hans Robert Jauss (1921-1997). Em inglês, "Toward an Aesthetic of Reception" (University of Minesota Press). Jauss e Wolfgang Iser são os dois grandes nomes dessa escola crítico-estética do pós-guerra alemão que desenvolveu uma noção dinâmica do leitor, ouvinte ou espectador como fator essencial à constituição da obra de arte.

51º - A Ciência e a Hipótese (1902) - Jules-Henri Poincaré (1854-1912). Em francês, "La Science et l'Hypothèse" (Flammarion). O matemático e físico francês expõe sua visão convencionalista da ciência: teorias científicas são modos convencionais de organizar o mundo sensível e devem ser julgadas a partir de critérios de economia e simplicidade -e não de verdade última.

52º - Apresentação de "Parade" (1913) - Guillaume Apollinaire (1880-1918). Apollinaire é o primeiro grande nome das vanguardas literárias da virada do século; próximo dos cubistas e inspirador do surrealismo, ele faz aqui uma defesa das novas formas de arte, não-representativas e não-lineares.

53º - O Ramo de Ouro (1906-1915) - James George Frazer (1854-1941). Ed. LTC. Clássico da antropologia inglesa, cuja influência chegou à literatura; trata-se de um compêndio de crenças mágicas mundiais. Frazer introduziu as noções de tabu, contágio e magia simpática.

54º - O Segundo Sexo (1949) - Simone de Beauvoir (1908-86). Nova Fronteira. Manifesto pioneiro do feminismo, no qual a autora propõe novas bases para o relacionamento entre mulheres e homens, fundadas na "estrutura ontológica comum" a ambos.

55º - Liberalismo e Democracia - N. Bobbio (1909). Brasiliense. Apanhado das relações históricas entre liberalismo e democracia. O autor ocupa-se sobretudo com as lutas pelo direito ao voto na passagem do Estado liberal censitário às democracias modernas.

56º - Descartes segundo a Ordem das Razões - Martial Guéroult. Em francês, "Descartes selon l'Ordre des Raisons" (Aubien). Ensaio e manifesto da "explicação de texto" aplicada à filosofia: o professor francês suspende seus juízos próprios para dedicar-se a uma leitura interna e minuciosa das "Meditações Metafísicas" de Descartes.

57º - A Sociedade do Espetáculo (1967) - Guy Debord (1931-1994). Contraponto. Crítica aos rumos da democracia capitalista, convertida em consumo contínuo de imagens, ditado pelo império da mídia, e cujo resultado é a perpetuação do presente e a aniquilação da personalidade individual. Livro característico do movimento de Maio de 1968.

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58º - Principia Mathematica (1910-1913) - Bertrand Russell (1872-1970) e Alfred Whitehead (1861-1947). Em inglês, com o mesmo título (Cambridge University Press). Obra maior do programa logicista, que tentava reduzir os teoremas básicos da matemática a teoremas da lógica; para tanto, os dois autores ingleses desenvolveram boa parte da notação e do instrumental algébrico da lógica moderna.

59º - Os Reis Taumaturgos (1924) - Marc Bloch (1886-1944). Companhia das Letras. Obra fundamental da escola historiográfica francesa reunida em torno da revista "Annales". Bloch esclarece o poder curativo atribuído aos reis franceses e ingleses, recorrendo a diversas fontes e disciplinas, numa abordagem que inspiraria toda a história das mentalidades. 60º - Giordano Bruno e a Tradição Hermética (1964) - Frances Yates. Cultrix. Ensaio clássico de história das idéias; a autora examina as origens intelectuais do herege italiano nas tradições filosóficas e ocultistas do Renascimento.

61º - Estudos de Estilo (1970) - Leo Spitzer. Em francês, "Études de Style" (Gallimard). Grande nome da estilística, Spitzer quer desvendar a estrutura e o sentido da obra literária a partir do exame minucioso de seu tecido verbal em seus níveis mais básicos. Alguns destes ensaios trazem a marca das leituras freudianas do autor.

62º - Construir, Habitar, Pensar - Martin Heidegger. Em francês, no volume "Essais et Conférences" (Gallimard). Reunião de ensaios tardios do filósofo, que dão testemunho da radicalização do programa filosófico de "Ser e Tempo" e de seu envolvimento crescente com a poesia lírica, em especial a de Hölderlin.

63º - A Obra de François Rabelais e a Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento (1965) - Mikhail Bakhtin (1895-1975). Ed. da UnB. O crítico russo, autor de ensaios sobre Dostoiévski e a poética do romance, parte da obra de Rabelais para estudar a cultura popular medieval por meio de conceitos como paródia e carnavalização.

64º - Um Universo Pluralístico (1909) - William James (1842-1910). Em inglês, "A Pluralistic Universe" (University of Nebraska Press). Série de conferências do psicólogo e filósofo pragmatista norte-americano: James sustenta que a variabilidade da experiência humana é irredutível e que, portanto, devemos aprender a viver num universo plural, onde fatos e valores são sempre sujeitos a revisão.

65º - Psicanálise dos Tempos Neuróticos - Sigmund Freud. Edimax. Coletânea de textos em que Freud analisa o sentido da guerra, como em "Desilusão da Guerra" e "Introdução aos Estudos das Neuroses de Guerra".

66º - O Mediterrâneo (1949) - Fernand Braudel (1902-1985). Ed. Dom Quixote (Portugal). Mural da Europa mediterrânea durante a segunda metade do século 16, estruturado em três níveis de ritmo histórico: o das relações entre o homem e o meio; o das estruturas sociais; e o nível dos acontecimentos singulares.

67º - Homo Hierarquicus (1967) - Louis Dumont. Edusp. A partir do estudo do sistema de castas na Índia antiga, o autor constrói um modelo de hierarquia diverso da idéia de superposição valorativa de ordens: a relação hierárquica entre um conjunto e um de seus elementos é definida como "englobamento do contrário".

68º - Oportunidade, Amor e Lógica (1923) - Charles Sanders Peirce (1839-1914). Em inglês, "Chance, Love and Logic - Philosophical Essays" (University of Nebraska Press). Antologia de ensaios do filósofo cuja reflexão é uma das mais completas nos Estados Unidos, abarcando diferentes questões que ocuparam o pensamento norte-americano neste século, como o pragmatismo, o empirismo lógico e a filosofia da linguagem.

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69º - A Sociedade Aberta e Seus Inimigos (1945) - Karl Popper (1902-1994). Itatiaia. Incursão do filósofo da ciência no terreno político, com uma defesa dos valores liberais, ameaçados pelos teóricos da "sociedade fechada", isto é, do autoritarismo e do totalitarismo, identificados em Platão, Hegel e Marx.

70º - Física Atômica e Conhecimento Humano (1961) - Niels Bohr (1885-1962). Contraponto. Reflexões filosóficas de um dos pais da física quântica: seu caráter estatístico e os paradoxos envolvendo a observação dos fenômenos subatômicos permitem a Bohr desafiar as noções clássicas de determinismo e objetividade.

71º - Teoria do Romance (1916) - Georg Lukács. Em inglês, "Theory of the Novel" (MIT Press). Nesse marco da crítica literária materialista, o autor húngaro contrapõe o romance à epopéia e vê nele a forma literária por excelência da civilização burguesa. Influenciado por Hegel, Lukács por sua vez influenciaria autores como Adorno, Benjamin e Goldmann.

72º - Os Sertões (1902) - Euclides da Cunha (1866-1909). Leia resumo na pág. 5-9. O livro foi também escolhido como um dos 30 melhores de não-ficção brasileiros.

73º - Montaillou (1975) - Emmanuel Le Roy Ladurie. Companhia das Letras. A partir da documentação de um processo de heresia em 1320, o historiador francês reconstrói integralmente a vida numa vila do sudoeste francês no começo do século 14. Um marco da história antropológica.

74º - Manifestos do Surrealismo - André Breton (1896-1966). Ed. Salamandra (Portugal). Nessa série de panfletos programáticos, Breton apresenta as palavras de ordem centrais do movimento, como a noção de escrita automática, a recusa da lírica confessional, o flerte com o "nonsense"; ao mesmo tempo, começa sua reflexão sobre o papel do poeta na política.

75º - Estética (1902) - Benedetto Croce (1866-1952). Em francês, "Essais d'Esthétique" (Gallimard). O filósofo e homem público italiano inspira-se em Hegel para propor uma doutrina estética em que os conceitos de intuição e expressão têm lugar de honra enquanto "formas não-conceituais" de conhecimento.

76º - Arqueologia do Saber (1969) - Michel Foucault (1926-1984). Forense Universitária. Nesse ensaio de história das ciências e epistemologia, com forte marca nietzschiana, o pensador francês introduz a noção de "formação discursiva" para analisar a imbricação de conhecimento e poder no Ocidente. A obra inspirou todo o pensamento francês da década seguinte.

77º - Vigiar e Punir (1975) - Michel Foucault. Vozes. Análise das origens da prisão moderna e das práticas disciplinares associadas a ela. O interesse do autor é revelar a abrangência e o funcionamento desse poder difuso, diverso em seu "modus operandi" do poder estatal.

78º - Problemas da Poética de Dostoiévski (1963) - Mikhail Bakhtin. Forense Universitária. A fim de capturar os traços distintivos dos grandes romances de Dostoiévski, Bakhtin introduz a noção capital de "romance polifônico" - aquele em que não há narrador ou personagem encarregado de explicitar o sentido ou a "moral" da trama.

79º - Outras Inquisições (1952) - Jorge Luis Borges (1899-1986). Em espanhol, "Otras Inquisiciones" (Alianza Editorial). Coleção de ensaios que pode ser vista como a contrapartida ensaística dos contos de "Ficções"; ao longo de textos sobre os temas mais díspares, o escritor argentino desenvolve suas idéias sobre o conto, a literatura fantástica, o tempo e os labirintos.

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80º - Ritos de Passagem (1909) - Arnold van Gennep (1873-1957). Em inglês, "The Rites of Passage" (University of Chicago Press). Análise dos ritos que marcam o momento de transição, social e culturalmente definido, de um indivíduo ou grupo de um estado para outro. A elaboração dos ritos varia de acordo com a sociedade, mas sua estrutura envolve sempre três fases: separação, latência e agregação.

81º - Ideologia e Utopia (1929) - Karl Manheim (1893-1947). Guanabara-Koogan. Livro dedicado à sociologia do conhecimento, que propõe critérios próprios para a análise dos discursos utópicos (projeção de um ideal de sociedade) e ideológico (idealização do presente), de modo a fornecer novos valores e interpretações do mundo em momentos de crise.

82º - A Estrutura da Ação Social (1937) - Talcott Parsons (1902-1979). Em inglês, "The Structure of Social Action" (Free Press). Clássico da teoria sociológica que parte de uma fina análise da obra de Weber, Durkheim, Pareto e Marshall para propor uma "teoria geral da ação", modelo analítico que sintetiza o conhecimento sociológico acumulado sobre o tema.

83º - O Estado da Produção e o Estado das Artes Industriais (1914) - Thorstein Veblen (1857-1929). Em inglês, "The Instinct of Workmanship and the State of the Industrial Arts" (Transaction Pub.). Depois de sua polêmica "Teoria da Classe Ociosa", o dublê de economista e sociólogo põe-se a refletir sobre o futuro da inovação técnica no capitalismo monopolista.

84º - O Teatro e Seu Duplo (1938) - Antonin Artaud (1896-1948). Martins Fontes. Ensaios de crítica ao "teatro psicológico" tradicional, em nome de um "teatro da crueldade", capaz de lidar com matérias míticas a fim de trazer à tona as forças inconscientes que ligam o homem ao cosmo.

85º - O Existencialismo É um Humanismo (1946) - Jean-Paul Sartre. Em francês, "L'Existencialisme Est un Humanisme" (Gallimard). Escrito logo após a guerra, esse manifesto procura defender o existencialismo da crítica de anti-humanismo que lhe dirigiam autores cristãos e marxistas. Tornou-se uma espécie de cartilha daquela corrente filosófica.

86º - Linguística e História Literária (1955) - Leo Spitzer (1887-1960). Em espanhol, "Linguistica e Historia Literaria" (Ed. Gredos). Coleção de ensaios de análise literária em que Spitzer faz a apologia da estilística: a interpretação da obra literária não pode prescindir da análise cuidadosa de suas texturas verbais mais básicas -sob pena de desconsiderar justamente o caráter literário da obra.

87º - Idéias sobre uma Fenomenologia (1913) - Edmund Husserl (1859-1938). Em Portugal, "A Idéia da Fenomenologia" (Ed. 70). Autocrítica em que o autor alemão procura livrar-se do lastro kantiano: a fenomenologia deve livrar-se da distinção entre fenômeno e coisa-em-si.

88º - A Filosofia das Formas Simbólicas (1923-1929) - Ernst Cassirer (1859-1938). Em francês, "La Philosophie des Formes Symboliques" (Minuit). Filósofo e historiador da filosofia, Cassirer alarga seu horizonte para propor uma filosofia da cultura humana a partir dos tipos de simbolismo que definem suas três grandes fases: o mito, a linguagem, a ciência matemática.

89º - Palavra e Objeto (1960) - Willard Quine (1908). Em inglês, "Word and Object" (MIT Press). Fortemente influenciado pelo pragmatismo, o lógico norte-americano propõe uma teoria radical da linguagem e da ciência: negando a "pureza" dos enunciados lógico-matemáticos, Quine sugere que todo o conhecimento humano está sujeito à revisão da experiência.

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90º - O Mito de Sísifo (1942) - Albert Camus (1913-1960). Guanabara-Koogan. Ensaio filosófico mais importante do romancista de "O Estrangeiro". A indiferença do mundo aos desejos e aspirações humanas faz nascer a experiência do absurdo, diante da qual a revolta se impõe como único ato genuinamente humano.

91º - O Gene Egoísta (1976) - Richard Dawkins (1941). Itatiaia. O biólogo reformula o darwinismo ao sustentar que não é o indivíduo, mas o gene, como unidade hereditária auto-suficiente e auto-replicativa, que constitui o verdadeiro "alvo" da seleção natural.

92º - Literatura Européia e Idade Média Latina (1948) - Ernst Robert Curtius (1886-1956). Edusp. Nesse ensaio monumental, que suscitou as críticas de Spitzer e Auerbach, Curtius mobiliza enorme quantidade de material para traçar a continuidade da tradição literária européia da Antiguidade ao século 19 por meio do rastreamento de "lugares-comuns" persistentes.

93º - A Sociedade Feudal (1940) - Marc Bloch (1886-1944). Ed. 70 (Portugal). Última grande obra do historiador francês, que morreria nas mãos dos nazistas em 1944; Bloch analisa a formação da sociedade feudal européia a partir do fim do mundo antigo, num ensaio de história de "longa duração".

94º - Fala, Memória (1951) - Vladimir Nabokov (1899-1977). Em inglês, "Speak, Memory" (Everyman's Library). Peças autobiográficas soltas em que o escritor rememora sua infância na Rússia imperial e a experiência do exílio, com o lirismo e a verve que se conhece de "Lolita" e "Fogo Fátuo", dois de seus principais romances.

95º - O Ouriço e a Raposa (1953) - Isaiah Berlin (1909-1997). Em inglês, "The Hedgehog and the Fox" (Ivan R. Dee, Inc.). O ensaísta britânico de origem russa, autor de "Quatro Ensaios sobre a Liberdade", une crítica literária e história das idéias para traçar o perfil dos dois grandes nomes do romance russo oitocentista: Tolstói (a "raposa") e Dostoiévski (o "ouriço").

96º - Mitologias (1959) - Roland Barthes (1915-1980). Bertrand Brasil. Primeira obra de impacto do crítico francês, que reformula a noção de ideologia por um viés semiótico para analisar momentos e imagens da vida cotidiana. Ao longo dos anos 60, com a ascensão do estruturalismo, Barthes viria a se distanciar do estilo e da liberdade desses ensaios.

97º - Metafísica, Materialismo e Evolução da Mente - Charles Darwin (1809-1882). Em inglês, "Metaphysics, Materialism and Evolution of Mind" (Britton Booksellers). Coletânea de escritos, publicados neste século, do formulador da teoria da evolução das espécies.

98º - Gramática da Política (1925) - Harold Laski (1893-1950). Em inglês, "A Grammar of Politics" (London, Allen and Unwin). Reunião de ensaios em que, a partir do ideário liberal, propõe-se um programa de reformas políticas e sociais para se chegar a uma sociedade baseada na justiça e no pluralismo.

99º - Estrutura da Lírica Moderna - Hugo Friedrich. Duas Cidades. Outro grande nome dos estudos literários na Alemanha, ao lado de Auerbach, Curtius e Spitzer; o livro oferece um quadro sinóptico das transformações da lírica entre o final do século 19 e a primeira metade do século 20.

100º - Diferença e Repetição (1968) - Gilles Deleuze (1925-1995). Paz e Terra. Representante típico do grupo de pensadores que emerge com Maio de 68, Deleuze inspira-se em Nietzsche para praticar uma espécie de anarquismo filosófico; nesse livro, vale-se da noção de uma "diferença" irredutível para criticar as pretensões.

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