Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns...

51
1

Transcript of Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns...

Page 1: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 1  

Page 2: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 2  

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

IMPLICAÇÕES DA UTILIZAÇÃO DA ANALGESIA

EPIDURAL NA EVOLUÇÃO DO TRABALHO DE

PARTO

Marília Lima Freixo

Mestrado Integrado em Medicina – 6º ano

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Correio electrónico: [email protected]

Page 3: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 3  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Superficially,   obstetric   anesthesia   appears   to   be   a   simple   field   with   a   limited   range   of  

interest,  but  it   is  a  deceptively  demanding  subspeciality.  Not  only  are  two  patients  involved  in  each  

anesthetic   administration,   but   also   the   dynamic   events   of   normal   labor   require   that   the   muscles  

concerned  with  delivery  retain  their  power  and  coordination  to  the  full”  

Philip  Bromage  

Page 4: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 4  

Índice

 

Resumo  ...............................................................................................................................................  5  

Introdução  .........................................................................................................................................  6  

Material  e  Métodos  .........................................................................................................................  8  

Dor  no  Trabalho  de  Parto  .............................................................................................................  9  

Analgesia  Epidural  .......................................................................................................................  15  

Tabela  1-­‐  Contraindicações  da  analgesia  epidural  ...........................................................  18  

Modalidades  de  analgesia  epidural  .......................................................................................  19  

Efeitos  secundários  e  complicações  .......................................................................................  23  

Efeito  na  duração  do  trabalho  de  parto  ................................................................................  28  Segunda  fase  ......................................................................................................................................................  29  Primeira  fase  ......................................................................................................................................................  32  

Efeito  no  tipo  de  parto  ................................................................................................................  35  Parto  instrumentado  ......................................................................................................................................  35  Cesariana  .............................................................................................................................................................  38  

Conclusão  ........................................................................................................................................  42  

Referências  Bibliográficas  ........................................................................................................  45    

Page 5: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 5  

Resumo

A analgesia por via epidural é hoje usada, por mais de metade das mulheres em

trabalho de parto, não havendo ainda consenso sobre os seus efeitos secundários. É

importante que todas as parturientes estejam previamente informadas das possíveis

complicações uma vez que o seu uso é quase sempre eletivo.

Este trabalho é uma revisão sistemática da literatura, examinando essencialmente

a influência da analgesia epidural na duração do trabalho de parto, no parto distócico

(instrumentado ou cesariana), referindo também outros possíveis efeitos adversos.

Para esta revisão realizou-se uma pesquisa bibliográfica baseada,

maioritariamente, nas fontes médicas Pubmed/Medline, considerando ainda outra literatura

relevante.

Grande parte da literatura é equívoca sendo que muitos ensaios clínicos são de

pequena dimensão ou não permitem uma interpretação clara dos dados por diferentes

metodologias dos estudos. Além disso, há fatores de confusão difíceis de controlar como por

exemplo o facto de que as mulheres que solicitam analgesia epidural são diferentes das que

não o fazem. No entanto, há dados suficientes para concluir que a analgesia por via epidural

se associa a um prolongamento do trabalho de parto, mas não é consensual que seja a causa

de uma maior taxa de partos instrumentados ou cesariana. As mulheres que receberam

analgesia epidural também estão mais propensas a ter febre durante o parto bem como outros

efeitos secundários.

Mais pesquisas serão necessárias para fazer avançar a nossa compreensão dos

efeitos colaterais da analgesia epidural e dos seus mecanismos, uma vez que a melhoria da

informação permitiria às grávidas tomar decisões verdadeiramente informadas sobre a sua

utilização no alívio da dor durante o parto.

Palavras-chave: “Analgesia Epidural”; “Trabalho de Parto”; “Complicações da

Analgesia Epidural”; “duração do trabalho de parto”.

Page 6: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 6  

Introdução

As primeiras referências à analgesia no trabalho de parto (TP) surgem por volta de

1847, quando o professor Sir. James Young Simpson administrou éter para aliviar a dor do

parto. Enfrentou na época uma forte oposição da Igreja e também de obstetras.

Em 1953 Jonh Snow administrou clorofórmio na Rainha Vitória, para o nascimento

do seu oitavo filho, o que despoletou uma maior aceitação desta prática.

Outros métodos foram surgindo com a evolução da medicina, como o bloqueio

regional e a raquianestesia, e entre 1940 e 1950 foram introduzidos alguns anestésicos

locais, como a lidocaína e a cloroprocaína. [1]

Desde 1980 até a atualidade, a prática da analgesia por via epidural está generalizada,

sendo utilizada em mais de metade das mulheres, o correspondente a aproximadamente 2

milhões por ano, tornando-se o método mais amplamente utilizado no trabalho de parto. [2]

Por assegurar uma maior eficácia no controlo da dor, teve um aumento muito

significativo nos últimos 20 anos sendo comprovadamente o método analgésico mais eficaz

no TP. [1]

A analgesia ideal baseia-se no equilíbrio entre a eficácia analgésica e a redução dos

efeitos adversos ou colaterais maternos e fetais. A procura constante desse equilíbrio, a par

de um maior envolvimento materno no trabalho de parto contribui para novos avanços na

analgesia do trabalho de parto. [1]

Hoje, o alívio da dor é por si só indicação suficiente para a administração de

analgesia durante o parto, desde que sob vigilância médica e na ausência de contraindicação

clínica.

A analgesia de parto por via neuroaxial com anestésicos locais tem como

vantagensuma maior perda ou modulação da perceção da dor facilitando a avaliação do

obstetra no seguimento do TP, promovendo uma melhor colaboração entre a parturiente e o

Page 7: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 7  

médico, facilitando ainda a manipulação nos partos instrumentados, a episiotomia e as as

manobras de expressão uterina pós-parto. Outra grande vantagem é a evicção dos efeitos

secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação,

as náuseas e vómitos, o prurido e a depressão respiratória. [3] No entanto, os anestésicos

locais estão também associados a outros efeitos colaterais, incluindo a hipotensão, o

bloqueio simpático e o bloqueio motor dos membros inferiores: a fraqueza muscular pode

comprometer os esforços de expulsão durante a segunda fase do trabalho de parto e o

relaxamento da musculatura pélvica pode resultar em má posição fetal.

No sentido de alcançar a técnica analgésica ideal, procura-se que a analgesia

neuroaxial esteja adaptada aos vários momentos do trabalho de parto. As baixas doses de

anestésicos locais (AL), a associação de opioides, a perfusão epidural contínua, a técnica

sequencial e a analgesia epidural controlada pelo doente (patient controlled analgesia -

PCEA) são o refelexo dessa procura. [1]

Em muitos locais, os profissionais de saúde fornecem pouca ou nenhuma informação

sobre os potenciais riscos das técnicas regionais e uma vez que a decisão do seu uso cabe à

mulher, é fundamental que esta entenda todas as vantagens e desvantagens que acompanham

a sua utilização.

Sendo a analgesia de parto um pedido cada vez mais frequente, uma vez que o

consentimento informado para a sua utilização no parto é um componente essencial da

assistência perinatal e dada a controvérsia do benefício do seu uso, o presente trabalho visa a

realização de uma síntese que considere os conhecimentos mais recentes no âmbito da

analgesia por via epidural, com particular ênfase dirigida à sua relação com o prolongamento

do parto, à necessidade de instrumentação do parto e ao recurso à cesariana, entre outros

efeitos colaterais.

Page 8: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 8  

Material e Métodos

Para a elaboração deste artigo de revisão foi realizada uma pesquisa bibliográfica

baseada, maioritariamente, nas fontes médicas Pubmed/Medline, considerando ainda

outra literatura relevante.

A pesquisa foi efetuada utilizando as palavras-chave: “epidural analgesia”, “labor

progress”, “delivery epidural complications”.

Foram ainda, utilizados artigos referenciados bibliograficamente pelos artigos

originalmente escolhidos, mesmo datados anteriormente relativamente à pesquisa inicial.

Encontram-se incluídos artigos de revisão, artigos originais, ensaios clínicos e estudos de

impacto.

Page 9: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 9  

Dor no Trabalho de Parto

A natureza da dor do trabalho de parto traduz-se por um estímulo nocicetivo,

percebido a nível central, ao qual a parturiente chama dor. Ela envolve os segmentos

espinhais de T10 a L3, responsáveis pela inervação uterina, e os segmentos de S2 a S4,

responsáveis pela inervação do colo do útero, da vagina e do períneo. [1]

Geralmente, o trabalho de parto é dividido em 4 fases (Figura  1):

A 1ª fase, durante a qual é necessário vencer a resistência do colo do útero, é

subdividida em duas:

Fase latente – caraterizada pelo início das contrações uterinas, que são progressivas e

dolorosas, e termina quando a dilatação atinge os 3/4 cm de dilatação.

Fase activa – começa no fim da fase latente e termina com a dilatação completa (10

cm). Durante a progressão normal do trabalho de parto, a dilatação do colo uterino deve

ocorrer a uma velocidade de 1cm/h.

A 2ª fase inicia-se com a dilatação completa e compreende toda a descida do feto,

através do canal de parto até ao nascimento, durando tipicamente uma a duas horas. A 3ª

fase começa após o nascimento e termina com a dequitadura da placenta, altura em que

começa a 4ª fase que decorre na hora subsequente. [4]

Figura  1-­‐  Faes  do  TP- Adaptado de [4]

 

Page 10: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 10  

Num útero de termo, o corpo uterino é praticamente desprovido de nocicetores

enquanto estes se mantêm elevados no colo. Esta diminuição da inervação (que inclui fibras

nervosas adrenérgicas e colinérgicas), associa-se a uma diminuição do fator de crescimento

dos nervos e pensa-se que será uma forma de diminuir a dor associada ao crescimento

uterino durante a gravidez, assim como de evitar o parto pré-termo ao limitar a estimulação

dos recetores α1-adrenérgicos pela noradrenalina. [5] Por outro lado, os aferentes presentes

no colo uterino distribuem-se para os tecidos circundantes durante a fase mais avançada da

gravidez e os estrogénios aumentam a excitabilidade destes aferentes. [6]

À semelhança de outros tipos de dor visceral, a dor provocada pelas contrações

uterinas é transmitida de uma forma lenta e é mal localizada.

Durante a 1ª e 2ª fases, predomina a dor visceral, com os estímulos nocicetivos a

serem causados pela distensão mecânica do segmento inferior do útero e respetivo colo. São

também responsáveis pela dor, nestas fases, os mecanorrecetores existentes no miométrio.

Estes estímulos são preferencialmente transmitidos pelas raízes posteriores de T10 a L1. À

semelhança de outras dores do tipo visceral, pode ser referida à parede abdominal, região

lombossagrada, áreas glúteas e anca. [7]

À medida que o trabalho de parto avança (fim da 1ª fase e entrada na 2ª), outras

raízes são envolvidas – o estímulo doloroso é transmitido, através dos nervos pudendos, para

os ramos anteriores de S2 a S4. A distensão e tração das diferentes estruturas pélvicas, a

distensão do pavimento pélvico e períneo são os mecanismos responsáveis pela dor. [7]

O intervalo entre o início da descida fetal e o nascimento tem sido descrito como o

período mais doloroso do trabalho de parto. Esta dor pode ser tratada com um alargamento

do bloqueio epidural de T10 a S4 ou através de uma combinação da técnica utilizada na

primeira fase com um bloqueio dos nervos pudendos, nesta fase. [8] Há descrições de uma

dor de caraterísticas neuropáticas provocada diretamente pela pressão exercida pelo feto no

plexo lombossagrado. [6]

Page 11: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 11  

Não há estudos que indiquem, que a dor do trabalho de parto seja benéfica. Pelo

contrário, a ansiedade e a dor podem ter repercussões na homeostasia materna e provocar

efeitos nocivos sobre a parturiente e o feto, bem como afetar a evolução normal do trabalho

de parto. Para além disso, pode ser interpretada como uma experiência muito desagradável,

com eventuais efeitos psicológicos importantes na mulher, afetando a relação mãe-filho. [9]

As alterações respiratórias e a libertação de catecolaminas são os principais

mecanismos responsáveis pelos efeitos negativos.

Segundo Browridge, há um aumento do consumo de O2 e hiperventilação, com a

consequente alcalose respiratória durante a dor da contração. Seguidamente, ocorre

hipoventilação no período entre as contrações, com diminuição da pO2 materna e

repercussões sobre a pO2 no sangue venoso fetal, alterando a frequência cardíaca fetal.

Ocorre ainda uma estimulação adrenérgica com libertação de catecolaminas, aumento do

débito cardíaco e consumo de O2 que, adicionalmente com a perda renal de bicarbonato para

compensar a alcalose respiratória, conduz a uma acidose metabólica que se pode repercutir

no feto. O aumento de catecolaminas e cortisol pode conduzir a uma diminuição da perfusão

placentar com consequente hipóxia e acidose fetal. [7]

Em situações extremas, a libertação de catecolaminas pode levar a hipertonia uterina

com repercussão sobre a oxigenação fetal. Por outro lado estas também têm propriedades

inibidoras da atividade uterina, pelo que a sua ação poderá conduzir a um prolongamento do

trabalho de parto. Assim a administração de analgésicos, em especial o bloqueio epidural,

pode, teoricamente, melhorar a dinâmica uterina e do trabalho de parto. [7,2,9]

A dor é uma componente do trabalho de parto, em todas as culturas, etnias e idades,

variável nas suas dimensões sensoriais e afectivas.

Page 12: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 12  

Apesar do parto ser uma experiência feliz, a dor vivenciada pelas mulheres tem sido

descrita como das mais intensas que as mulheres experimentam durante a sua vida. [10]

Apos ter sido objetivada em escalas visuais analógicas (EVA) e numéricas, a dor do

parto foi categorizada como “Dor Severa” tendo-lhe sido atribuída uma classificação igual ou

superior a 7 (numa escala de 1 a 10) pela maioria das mulheres que a experienciaram. [11]

Num estudo recente, a dor do trabalho de parto foi considerada juntamente com a dor

oncológica, do enfarte de miocárdio, da cólica renal e de queimadura como a mais

intensa.[12]

Há inúmeros fatores individuais que influenciam a intensidade da dor e que devem ser

tidos em conta na realização de investigação nesta área. Durante o trabalho de parto, a dor

aumenta com a evolução da dilatação e parece ser diretamente relacionável com a intensidade,

duração e frequência das contrações uterinas. Provavelmente, será esta a explicação lógica

para o aumento da intensidade da dor, que muitas mulheres experimentam à medida que o

trabalho de parto avança. No entanto, não reflete necessariamente a experiência individual de

cada mulher.

As mulheres nulíparas experimentam maior sensação dolorosa do que as multíparas,

essencialmente até aos 5 cm de dilatação, sendo que depois disso a diferença se atenua. A

diferença na progressão do trabalho de parto entre nulíparas e multíparas pode ser a

explicação: a maior flexibilidade dos tecidos das multíparas transmitirá menos estímulos

dolorosos; pelo contrário, a súbita estimulação dos recetores, durante a 2ª fase do trabalho de

parto, poderá, nestas mulheres, ocasionar o aumento da intensidade dolorosa, em comparação

com as nulíparas, pois estas sofrem uma distensão tecidular mais gradual. [13]

As várias diferenças fisiológicas entre nulíparas e multíparas geralmente influenciam o

uso de analgesia epidural intraparto e consequentemente a evolução deste. [14]

Em 1970 Hendricks et al realizou exames cervicais em 303 mulheres durante o

terceiro trimestre da gravidez verificando que as multíparas têm maior e mais precoce

Page 13: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 13  

dilatação. [15] Portanto, o efeito da analgesia epidural no curso do trabalho de parto deveria

ser avaliado, preferencialmente, separando mulheres nulíparas e multíparas.

Existe, também, uma relação direta entre a ocorrência de dismenorreia e a

intensidade da dor no trabalho de parto, provavelmente devido ao aumento de síntese de

prostaglandinas como mecanismo responsável em ambas as situações.

Relativamente ao feto, a sua posição posterior tem sido referida como responsável

pelas lombalgias que algumas mulheres sentem. Contudo, pelo menos um estudo mostrou

que a existência das lombalgias provavelmente não se relacionaria com a posição fetal,

sugerindo um outro que estariam relacionadas com a sua existência durante os períodos

menstruais. [16]

A posição da grávida durante as contrações também tem influência na intensidade

dolorosa. Alguns estudos mostraram que algumas mulheres sentiram menos dor na posição

supina do que na de decúbito, sendo que num deles essa diferença só foi nítida a partir dos 6

cm de dilatação. [16]

O tamanho e peso fetais, a relação peso/altura da futura mãe, também têm sido

referidos como responsáveis pelo aumento da intensidade dolorosa, embora sem

confirmação. [16]

Foi tambem referenciado que, nas mulheres que nunca tinham tido nenhuma

experiência dolorosa, a dor do seu trabalho de parto foi menos intensa do que naquelas que

tiveram experiências dolorosas anteriores. Ao contrário da relação entre dismenorreia e dor

no trabalho de parto, experiências dolorosas anteriores não ginecológicas, parecem provocar

menor intensidade dolorosa durante o trabalho de parto.

Múltiplas variáveis psicossociais têm sido estudadas em relação com a dor no

trabalho de parto, sendo que muitas destas são próprias das mulheres e outras resultantes do

seu relacionamento com os outros e com o ambiente. Experiências adquiridas e

Page 14: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 14  

comportamentos esperados, em algumas subculturas, poderão ter importância na perceção e

expressão dolorosa.

A ansiedade, associada muitas vezes à pouca informação acerca do parto, está

implicada no aumento da sensação dolorosa. Embora alguma ansiedade seja um fator

normal, o seu excesso produz uma maior libertação de catecolaminas, aumentando o

estímulo nocicetivo da região pélvica, incrementando o estímulo a nível cortical. O medo da

dor pode ser um fator de aumento da ansiedade, pelo menos na primeira fase do trabalho de

parto, predizendo maior duração e mais partos instrumentados. [16]

Uma mulher calma e confiante tem menos dor e necessita de menos analgesia

durante o trabalho de parto. [13]

O ambiente que rodeia a parturiente influencia a sua perceção dolorosa durante o

trabalho de parto, dele fazendo parte: o pessoal de saúde presente, o comportamento e a

comunicação com a parturiente; a presença de um familiar; a filosofia e política do

atendimento no estabelecimento de saúde; a mobília e o equipamento das instalações; o

ruído ambiente, a luz e temperatura das instalações; a privacidade e a liberdade de

movimentos, etc. [16]

Hodnett et al estudou a influência do apoio prestado pelo marido, outro familiar ou

amiga durante o parto numa revisão sistemática e concluiu que na presença destes a grávida

apresentou risco reduzido em relação a: necessidade de maiores doses de analgésico, parto

distócico e relato de classificação negativa da experiência ou insatisfação. Por outro lado,

aumentou a probabilidade de parto vaginal espontâneo. O apoio contínuo esteve associado a

menor duração do trabalho de parto (10 ensaios, diferença de média ponderada de -0,43

horas). [17]

Podemos concluir que o apoio contínuo durante o trabalho de parto deverá ser rotina,

em vez de exceção. Todas as mulheres deveriam ser autorizadas e estimuladas a ter apoio

contínuo durante o trabalho de parto.

Page 15: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 15  

Analgesia Epidural

A analgesia epidural é uma técnica que exige experiência por parte de quem a

executa. Pode ser realizada a nível cervical, torácico, lombar ou caudal. É no entanto a nível

lombar onde maioritariamente se realiza (Figura   2), nomeadamente para a analgesia de

trabalho de parto. A este nível o risco de lesão da medula espinhal é muito reduzido.

Constitui um método versátil que permite uma técnica analgésica contínua durante

toda a duração do trabalho de parto através da administração de doses consecutivas de AL,

além de permitir a sua conversão para técnica anestésica em caso de cesariana.

Comparativamente ao bloqueio subaracnoideu (raquianestesia), tem um início de ação

relativamente mais longo e exige administração de maiores quantidades de fármacos mas

não exige punção da duramater, pelo que a incidência de cefaleias é muito menor.

Relativamente às técnicas sistémicas, a analgesia epidural tem uma menor incidência de

sedação, depressão respiratória e cardiovascular na mãe e feto, apresentando eficácia e

flexibilidade muito superiores. [6]

Figura  2  -­‐  Abordagem  epidural  –  imagem  gentilmente  cedida  pelo  Serviço  de  Anestesiologia  dos  CHUC

Page 16: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 16  

Antes de efetuar o bloqueio epidural é importante examinar as parturientes através da

obtenção de uma história clínica completa (incluindo antecedentes obstétricos e história de

reacções adversas a fármacos) e exame físico com avaliação do ráquis e da via aérea. Se

necessário, estas informações devem ser complementadas com exames auxiliares de diagnóstico.

Para além da necessidade de monitorização contínua das funções vitais da mãe

nomeadamente da frequência cardíaca, pressão arterial e oximetria de pulso durante a realização

e manutenção da técnica, é também obrigatório dispormos no local todo o material e fármacos de

reanimação.

Inicialmente, é importante explicar o procedimento e obter o consentimento da

parturiente. É necessário colocar acesso venoso e fazer um preenchimento vascular, geralmente

com lactato de Ringer 250 a 500 mL, para proteção contra a hipotensão aquando da instalação do

bloqueio simpático. A parturiente deve estar em posição sentada ou decúbito lateral com as

apófises espinhosas alinhadas no mesmo plano e com o máximo de flexão. [18]

O espaço epidural é localizado com a utilização de uma agulha com caraterísticas

particulares (agulha de Tuohy), através da técnica da “perda de resistência” e através da qual se

introduz o catéter no espaço epidural. (Figura  3)

Figura  3-­‐  Analgesia  Epidural  -­‐  adaptado  de [4]  

Page 17: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 17  

Na analgesia epidural a vigilância é de extrema importância e envolve a

determinação da eficácia analgésica, dos efeitos secundários relacionados com os fármacos

utilizados (analgésicos e anestésicos) e das complicações com a presença do catéter. A

monitorização do pulso, pressão arterial e frequência respiratória deve ser realizada de 30

em 30 minutos nas duas primeiras horas e depois de duas em duas horas. A analgesia, a

capacidade motora e o bloqueio sensitivo devem ser avaliados e registados regularmente.

As doses e as concentrações dos fármacos utilizados na analgesia devem ser

registadas. Os cuidados e atitudes a tomar em caso de complicações devem estar

protocolizadas.

O catéter epidural é utilizado para administrar doses adicionais de analgésicos de

forma intermitente ou contínua durante todo o trabalho de parto ou para administrar uma

dose mais concentrada de anestésico local para parto instrumentado ou cesariana. O catéter

pode também ser deixado in situ no pós-parto e utilizado para controlar a dor pós-parto. [19]

Para a analgesia epidural podemos utilizar anestésicos locais, opioides ou a sua

combinação.

Os anestésicos locais produzem analgesia por bloqueio das fibras nervosas. Mas

para além do bloqueio da sensação dolorosa (fibras sensitivas), produzem-se alterações de

outras funções nervosas mediadas pelo bloqueio das fibras autonómicas e das fibras

motoras. O bloqueio destas últimas, são responsáveis por muitos dos efeitos secundários e

das eventuais manifestações de toxicidade dos anestésicos locais, particularmente se em

doses altas ou infusões prolongadas. [19]

Os opioides atuam no corno posterior da substância cinzenta da medula e dispõem de

possibilidade de antagonismo. No entanto existe grande variabilidade na resposta individual, os

seus efeitos secundários são semelhantes aos observados quando administrados por via sistémica

Page 18: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 18  

embora com muito menor incidência e entre os quais se inclui a possibilidade de depressão

respiratória.

A combinação de um anestésico local com um opioide por via epidural produz um efeito

sinérgico dado que a via nocicetora é bloqueada a vários níveis. [19]

O modo de administração e as doses necessárias para analgesia epidural variam

consoante o tipo e a intensidade da dor, a idade, o estado físico, o local de injeção e a região que

se pretende analgesiar pelo que as doses e modo de administração devem ser individualizados.

Atualmente, em Portugal os anestésicos locais mais utilizados em analgesia de parto são a

levobupivacaína a 0,125% e a ropivacaína a 0,2% e a sua ação depende essencialmente do

volume e local onde são administrados. O volume necessário pode variar de 5 a 15 ml/h.

Os opioides mais utilizados são o sufentanil e o fentanil. São os opioides mais

lipossolúveis e portanto têm uma ação mais segmentar a nível regional, mas a sua ação por

absorção sanguínea não é desprezível. [19]

Existem algumas contraindicações absolutas à realização da analgesia epidural como a

recusa da parturiente ou a infeção no local de inserção da agulha. As contra-indicações relativas

devem ser avaliadas individualmente tendo em conta os benefícios e os riscos (Tabela 1) [20,21]

Tabela 1- Contraindicações da analgesia epidural

Absolutas Relativas

Recusa do doente/não colaborante

Falta de condições de segurança

Hipertensão intracraniana

Patologia neurológica

Hemorragia activa/Hipovolémia Deformidade da coluna vertebral

Coagulopatia Tatuagens na região lombar

Infeção sistémica

Infeção no local de punção

Alergia aos analgésicos locais

 

Page 19: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 19  

Modalidades de analgesia epidural

No sentido de encontrar a técnica ideal de analgesia, combinando eficácia

(experiência aprazível para a mãe) com segurança, é importante procurar técnicas de

analgesia regional que sejam flexíveis e adaptáveis às necessidades de cada parturiente e a

cada momento do parto, sem riscos ou riscos mínimos, sem efeitos adversos maternos ou

fetais, pouca intervenção dos profissionais de saúde e de baixo custo. As baixas doses de

anestésicos locais, a associação de opioides, a perfusão epidural contínua, a técnica

sequencial, e a analgesia epidural controlada pela parturiente (PCEA) são exemplos que

reflectem essa busca. [1,6]

 

Administração única – Tem como desvantagem uma duração do alívio da dor limitada pela

duração da ação do medicamento, não sendo normalmente utilizada. [19]

Administração de bólus intermitente - Foi a técnica mais comumente utilizada antes da

disponibilidade das bombas de infusão contínua. As injeções eram cronometradas até ao

aparecimento de dor, ou em intervalos estabelecidos com base na duração da ação de cada

dose. No entanto, se as injeções não são administradas até ao retorno da dor, a parturiente irá

experimentar períodos com dor, requerindo intervenções frequentes, especialmente quando

se utiliza um fármaco com uma breve duração da ação. [19]

Infusão epidural contínua - A infusão contínua de analgésicos no espaço epidural evita os

picos de administração e resulta numa analgesia mais completa (sem períodos de dor) para a

parturiente e com menos intervenções. A infusão pode ser ajustada para individualizar as

doses à parturiente e à evolução do trabalho de parto. [19]

Page 20: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 20  

Analgesia epidural controlada pela parturiente (PCEA) - Esta modalidade foi

introduzida na prática clínica em 1988 [6] e difere da técnica de infusão contínua porque a

própria parturiente tem meios para ajustar a dose de anestésico que recebe segundo as suas

necessidades e as alterações dos padrões de dor e da dinâmica do trabalho de parto

demonstrando ser uma tecnica segura e eficaz. [22,1] Em comparação com a infusão

epidural contínua, a PCEA permite uma menor dose total de anestésicos locais utilizados no

decorrer do trabalho de parto, uma diminuição da necessidade de o médico administrar doses

adicionais de anestésico e consequentemente uma menor incidência de bloqueio motor [23]

Um aspecto particular desta técnica é o aumento da satisfação porque a parturiente é a

responsável pelo controlo da sua dor, da sua experiência com o parto, da titulação até ao

nível desejado de dor, além do considerável efeito placebo ao carregar no botão para

administração de nova dose. [24]

Técnica sequencial ou combinada do neuroeixo (combined subarachnoid epidural –

CSE) - A analgesia combinada do neuroeixo (Figura 4) é o gold- standart de analgesia

epidural em vários países, no entanto no sul da europa não teve aceitação generalizada. [6]

Esta técnica combina a rapidez inicial da analgesia subaracnoideia com a versatilidade do

catéter epidural que permanence durante todo o parto. Esta diferença é mais importante

quando o parto é iminente do que no início do trabalho de parto. [23] Fármacos como os

opioides e os anestésicos locais em baixas doses são utilizados alcançando uma analgesia

eficaz, menos efeitos adversos e elevada satisfação materna. A técnica CSE deve ser

reservada para situações específicas, como o final da primeira fase ou a segunda fase, onde a

latência prolongada de analgésicos por via epidural pode ser inaceitável. Segundo um estudo

a dilatação cervical foi mais rápida em pacientes receberam CSE, em vez de analgesia

Page 21: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 21  

epidural. [25] A alta incidência de prurido é uma desvantagem, assim como o atraso na

verificação da permeabilidade do cateter epidural. [26] Uma revisão sistemática concluiu

que a analgesia combinada do neuroeixo oferecia pouco benefício quando comparada com a

analgesia epidural. Os autores ressalvaram que tem um início de ação mais rápido, menor

necessidade de analgesia de resgate e menor incidência de retenção urinária. Estes

benefícios eram desprovidos de um aumento de complicações, exceptuando o prurido. [27]

No entanto, o maior risco de bradicardia fetal pelo início de ação rápido, assim como a

incidência de cefaleias pós-punção da dura limitam a sua aceitação generalizada.

Analgesia por via subaracnoidea ou intratecal - Comumente utilizada como dose única

(single shot) para atingir um início de ação rápido, é particularmente útil no início de

trabalho de parto, com administração de opioide isoladamente ou em fases avançadas,

quando a agitação das parturientes não permite a colocação segura e correta do cateter

epidural, concedendo analgesia até ao parto vaginal. A administração intratecal (quando

comparada com a administração epidural) de opioides elimina completamente a questão dos

efeitos colaterais sistémicos devido às doses extremamente reduzidas de opioides utilizados.

[19]

Figura 4 – Analgesia combinada do neuroeixo- adaptado de [4]

Page 22: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 22  

Walking epidural - Esta denominação é aplicada às técnicas que atraves de um bloqueio

motor mínimo permitem a deambulação da parturiente. Concentrações muito baixas de

anestésicos locais permitem um bloqueio motor-sensorial diferencial, sendo possível a

analgesia com pouco ou nenhum bloqueio motor. Tanto a técnica sequencial como a

epidural com baixas doses de anestésico local (bólus ou perfusão), associadas a

deambulação, são técnicas eficazes e seguras, que parecem diminuir a incidência de parto

instrumentado. [1]

O mecanismo de bloqueio diferencial não está bem definido. Outros adjuvantes

analgésicos (por exemplo, os opioides, α2 agonistas adrenérgicos, e/ou agonistas

colinérgicos) são muitas vezes co-administrados para compensar a diminuição da

intensidade da analgesia resultante da redução da dose do anestésico local. A co-

administração de diferentes classes de analgésicos também tem uma vantagem no que diz

respeito a efeitos secundários e segurança: uma dose menor de cada agente é utilizada de

modo que os efeitos secundários específicos de cada fármaco ocorram menos. Além disso,

os efeitos secundários de diferentes tipos de agentes não se potenciam por serem diferentes

para cada classe de analgésicos. [9]

A adição de opioide neuroaxial aos anestésicos locais parece proporcionar alívio da

dor, evitando os efeitos colaterais sistémicos dos opioides, na mãe e no recém-nascido. As

primeiras experiências com morfina por via epidural demonstraram que uma concentração

significativa do fármaco no plasma foi alcançada após a administração epidural. No entanto,

hoje em dia as técnicas epidurais para evitar este problema utilizam baixas doses de opioides

lipofílicos (fentanil, sufentanil), que não produzem efeitos colaterais sistémicos. Podem, no

entanto, resultar em efeitos colaterais como prurido e náuseas. [6]

Page 23: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 23  

Efeitos secundários e complicações

As complicações relacionadas com a execução da técnica, colocação do catéter epidural

ou decorrentes dos fármacos utilizados são múltiplas e variam de minor a potencialmente

graves, sendo estas extremamente raras desde que se respeitem as contraindicações. (Tabela  2)

Efeitos secundários e complicações Técnica Fármacos

Opioides A.L.

Hipotensão X

Alterações do ritmo cardíaco X X

Náuseas e vómitos X

Prurido X

Retenção urinária X X

Depressão respiratória X

Tremores X

Convulsões X

Alterações estado consciência X X

Dor com colocação cateter X

Parestesias X

Lombalgias/Toracalgias X

Lesão Neurológica (medular; radicular) X

Cefaleias X

Infeção (meningite; abcesso epidural) X

Hematoma epidural X

Injeção intravascular X

Injeção subaracnoideia X

Raquianestesia total X

Tabela  2  -­‐ Efeitos secundários e complicaçoes da técnica/analgesia epidural [21,19]  

Page 24: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 24  

Para além destes, em 20% das mulheres ocorre analgesia insuficiente (incompleta). [11]

Uma revisão sistemática com 16 estudos e 4721 parturientes concluiu que as

parturientes não deviam evitar a analgesia epidural com receio dos seus efeitos no feto ou leite

materno, dor lombar crónica ou retenção urinária crónica, mas esta podia alterar a dinâmica do

parto e regulação da temperatura materna. [28]

Todos os mecanismos dos efeitos secundários estão ainda mal esclarecidos e precisam

de ser estudados de forma a poderem ser evitados. Além disso existem alguns que se devem a

um prolongamento do trabalho de parto em si, e não ao efeito direto da técnica ou do fármaco.

- Hipotensão

A hipotensão é definida como uma pressão arterial sistólica inferior a 100 mmHg, ou

uma diminuição de 20% em relação aos valores basais e pode ocorrer após a analgesia epidural.

A incidência e gravidade dependem do nível de bloqueio, da posição da parturiente e da

instituição de medidas profiláticas para evitar a sua ocorrência. Estas incluem a administração

intravenosa de fluidos previamente à realização do bloqueio epidural, a prevenção da

compressão aorto-cava e vigilância da pressão arterial. A hipotensão é facilmente tratada com

administração de fluídos e colocação da parturiente na posição de decúbito lateral ou

Trendelenburg. Se estas medidas não surtirem efeito, deve ser administrado um agente

vasopressor. [6]

- Cefaleias

As complicações neurológicas são raras. As mais comuns são a cefaleia pós punção da

dura (CPPD) que se define como a cefaleia que ocorre após a punção duramáter [18] e se

considera uma complicação iatrogénica resultante da fuga do líquido cefalorraquídeo com

diminuição da pressão intracraniana e consequente vasodilatação compensatória. [29]

Page 25: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 25  

Em 1898 Bier presenciou a primeira CPPD e desde então mais de 100 estudos foram

feitos não havendo ainda consenso. Sexo feminino, idade jovem, agulhas de corte e o grande

diâmetro da agulha são considerados fatores de risco. [18]

Segundo Ranganathan a punção não intencional da duramáter tem uma incidência de

1% a 5% sendo que destas, 80-86% das pacientes desenvolvem CPPD, que se manifesta em

1 a 3 dias, e é exacerbada pela posição supina. [30,31]

O tratamento inclui a administração oral ou intravenosa de cafeína e de analgésicos.

Outras opções incluem a administração de teofilina, sumatriptano e hormona

adrenocorticotrópica (ACTH). A realização de blood patch, que consiste na injeção epidural

de sangue autólogo, constitui a medida mais eficaz quando as outras terapêuticas se

mostraram ineficazes. [6]

- Lombalgias

Um estudo que investigou os possíveis efeitos a longo e curto prazo da analgesia

epidural em 369 mulheres não forneceu evidência significativa de uma associação direta

entre o uso de bloqueio epidural durante o parto e a incidência de lombalgias a longo prazo.

[18]

Há inúmeros fatores que se correlacionam com a lombalgia que são independentes

do tipo de analgesia. Quando determinamos se a abordagem epidural aumenta ou não a

incidência de lombalgias, é importante ter em conta os fatores predisponentes.

Vários ensaios clínicos randomizados recentes, confirmam que a analgesia epidural

durante o parto não está associada a um aumento da incidência de lombalgias após o parto.

Esta dor é comum após o parto, sendo que quase 50% das mulheres a relatam seis meses

após o parto e 28% relatam que ocorreu pela primeira vez no pós-parto. No entanto não há

diferença na incidência a longo prazo de lombalgia, deficiência ou restrição de movimento

entre as mulheres que recorreram e as que não recorreram à analgesia epidural. [33]

Page 26: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 26  

- Temperatura corporal

Num estudo com 1657 nulíparas, em gravidez de termo com fetos únicos e apiréticas

à admissão hospitalar verificou-se uma temperatura superior a 38ºC em 14,5% das mulheres

que receberam analgesia epidural e apenas em 1% das que não a receberam. [34]

Noutro estudo a temperatura materna foi medida a cada 4h durante o trabalho de

parto, em 1004 mulheres e foram excluídas as que se encontravam febris ou sob o efeito de

antibiótico. Das 406 (40%) mulheres que solicitaram anestesia epidural, 11,8% atingiram

valores de temperatura superiores a 37,8º comparativamente com os pouco significativos

0.2% (n=1) que não receberam analgesia. [35]

Mulheres sob o efeito de analgesia epidural estão mais propensas a desenvolver

infeções intraparto uma vez que o tempo desde a rotura de membranas até ao nascimento

será mais prolongado. Para além disso, o grau de febre aumenta com a duração do trabalho

de parto. Trabalho de parto superior a 12h foi considerado fator preditivo independente para

pirexia materna. [33] Numa análise de regressão logística o grau de febre aumentou com a

duração da analgesia epidural: de 5%, em partos com duração menor que 3h para 28% em

partos com duração maior que 6h. Em 90% das mulheres a febre regrediu horas após o parto.

[35] A principal preocupação é que a febre leva a investigações desnecessárias,

nomeadamente no recém-nascido e a um maior utilização de antibióticos. A avaliação de

sépsis foi negativa em todos os recém-nascidos cujas mães apresentaram febre. A causa da

pirexia não é totalmente compreendida, mas parece ser independente da infeção. [33]

- Retenção urinária

Várias investigações relataram casos de retenção urinária em mulheres no pós-parto

vaginal com anestesia epidural. O mecanismo responsável, no entanto, não está esclarecido.

Liang investigou se a associação entre vários parâmetros obstétricos e retenção urinária e

Page 27: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 27  

determinou-se se mulheres com retenção urinária pós-parto, posteriormente,

desenvolveriam problemas urinários. De dezembro de 1999 a setembro de 2000, 110

primíparas com parto vaginal e analgesia epidural foram recrutadas prospectivamente.

Cem partos de primíparas em condições semelhantes, sem analgesia epidural foram

selecionados como grupo controle. O volume de urina residual foi calculado por ultra-

sonografia trans-abdominal. Mulheres com analgesia epidural, especialmente aquelas

com volume residual superior a 500 mL, tiveram trabalhos de parto significativamente

mais longos, uma maior percentagem de partos instrumentados e mais extensas

lacerações vaginais ou perineais que o grupo controlo. Apenas algumas mulheres tiveram

problemas persistentes com a micção, seis meses após o parto. [36] A analgesia epidural

fornece alívio da dor mas pode estar associada a uma maior urina residual. A retenção

urinária pós parto está, no entanto, mais relacionada com o trabalho de parto prolongado

do que com o efeito da própria analgesia epidural.

Page 28: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 28  

Efeito na duração do trabalho de parto

Trabalho de parto define-se como o início de contrações uterinas regulares,

acompanhado de modificações cervicais. Tradicionalmente divide-se em quatro fases como

descrito na página 9.

O prolongamento do trabalho de parto, sobretudo a segunda fase, pode direta ou

indiretamente contribuir para vários problemas neonatais associados.

Vários trabalhos sugerem que uma segundo fase do trabalho de parto prolongado não

resulta em complicações maternas ou fetais, desde que a monitorização electrónica da

frequência cardíaca fetal seja tranquilizadora, a mãe esteja hidratada e adequadamente

analgesiada e haja uma progressão contínua na descida da cabeça fetal. [37] No entanto,

segundo outro estudo existe um risco aumentado de trauma perineal, parto instrumentado e

hemorragia pós-parto que foram observados com maior frequência quando a segundo fase

era superior a 4 horas. [38] Ainda em outra análise, encontrou-se maior risco de trauma

obstétrico, hemorragia pós-parto, Apgar baixo aos 5 minutos, depressão neonatal e admissão

na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, nas parturientes com prolongamento da

segunda fase, particularmente quando este era superior a 3 horas nas nulíparas e 2 horas nas

multíparas. [39]. O prolongamento da segunda fase foi ainda associado a maiores taxas de

infeção (corioamniotite e endometrite) e atonia uterina. [40]

Sendo a duração do trabalho de parto uma questão tão fundamental, os seus

mecanismos potenciais serão discutidos.

As curvas do trabalho de parto surgem com Friedman em 1950 e são a base para

definir parto prolongado. [41] (Figura 5)

Page 29: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 29  

A duração média da primeira e segunda fases   do trabalho de parto, tem vindo a

aumentar nos últimos anos, e postula-se que o aumento da utilização da analgesia epidural

e/ou outros dados demográficos maternos sejam, em parte, responsáveis. [43]

Recentemente, Zhang et al sugeriram que a progressão do trabalho de parto na

obstetrícia moderna pode desviar-se do estabelecido por Friedman, relatando um aumento da

primeira e segunda fases de trabalho de parto, tanto a partir de estudos randomizados como

de observacionais. [44]

Segunda fase

Na segunda fase   do trabalho de parto a dor tem origem na dilatação do canal de

parto, com distensão dos tecidos da vagina e do períneo sendo  muitas vezes a parte  mais

difícil do processo tanto para a mãe como para o bebé e, consequentemente, para o médico.

As diferenças de opinião entre profissionais, associadas a uma falta de evidência de alta

qualidade, tornam a análise da segunda fase particularmente desafiante. [43]

Uma segunda fase longa deve ser evitada, por contribuir para a exaustão das mães e

frustração dos obstetras. Assim, é importante entender se o uso da epidural está associado a

um prolongamento da segunda fase do parto, qual o motivo e encontrar formas de o evitar.

Figura 5 - Curva média de dilatação para o parto - adaptado de [42]

Page 30: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 30  

A duração da segunda fase varia consideravelmente com a paridade, bem como com

outras caraterísticas da população (índice de massa corporal, macrossomia, idade e posição

fetal) e as práticas médicas (número de avaliações da dilatação cervical e critérios para

intervenção). [43,45]

Segundo o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) as

durações médias da segunda fase do trabalho de parto em nulíparas e multiparas são 54 e 19

minutos, respetivamente. Define-se segunda fase prolongada como mais de 2 horas sem

epidural ou mais de 3 horas com epidural em mulheres nulíparas, e 1 hora sem ou 2 horas

com epidural para multíparas. [46] A base para esses parâmetros não é clara mas esta

diferenciação já pressupõe que um parto com analgesia regional terá uma segunda fase mais

prolongada.

A metanálise de Halpern et al verificou uma duração superior da segunda fases do

trabalho de parto no grupo com epidural (mais 14 min, 95% CI 5-23 min). A incidência de

ocitocina administrada foi também superior nas parturientes do grupo com epidural. [47]

Uma análise de onze estudos abrangendo 2550 pacientes revelou que o uso da

analgesia epidural prolonga, em média aproximadamente, 16 minutos a segunda fase do

parto. [48]

Um estudo recente em 42 268 mulheres comparando a mediana e o percentil 95 da

duração da segunda fase do trabalho de parto veio alterar um pouco a panorâmica existente

até aos dias de hoje, pois verificaram um prolongamento da segunda fase do parto muito

mais marcado do que anteriormente descrito. [46] Para nulíparas, a diferença entre os

percentis 95 foi de 197 minutos sem epidural e 336 minutos com epidural (P< 0,001), uma

diferença de 2 horas e 19 minutos. Para as mulheres multíparas, o percentil 95 para a

Page 31: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 31  

duração da segunda foi 81 minutos sem epidural e 255 minutos com epidural (P< 0,001),

uma diferença de 2 horas e 54 minutos. As recomendações do ACOG para intervenção

durante a segunda fase do trabalho de parto têm como base uma diferença de 1 hora na

definição, se se utiliza analgesia epidural. No entanto, este estudo verificou que no percentil

95 a duração da segunda fase do parto é superior a mais de 2 horas com analgesia epidural,

tanto para nulíparas como para multíparas. [46] Com base nestes resultados, os autores

propõem uma nova revisão da definição de segunda fase prolongada, quando as parturientes

têm analgesia epidural.

Por outro lado, uma metanálise de onze estudos envolvendo 4.534 primíparas

mostrou que comparativamente com a curva de Friedman, a duração do segundo foi fase

significativamente menor nas parturientes que tinham analgesia epidural. [49]

No entanto, embora os estudos sejam randomizados, problemas metodológicos

prejudicam a capacidade de estimar a magnitude da diferença na duração do trabalho de

parto.

Os estudos avaliados nas metanálises têm metodologias clínicas muito diversas,

como por exmplo o momento em que se suspende a analgesia epidural. Alguns autores

suspenderam aos 8cm de dilatação, outros no início da segunda fase do trabalho de parto, ou

ainda procedem a ajustes na perfusão epidural de acordo com o progresso da apresentação.

[50,51,52,53] Todas estas práticas e diferenças metodológicas dificultaram a interpretação.

Três dos ensaios [32,53,54] tiveram altas taxas de crossover, o que tornou os grupos mais

semelhantes no que diz respeito à duração das primeiras e segundas fases de trabalho de

parto. Em dois grandes ensaios [51,52] apenas dois terços das mulheres estudadas aceitaram

o tratamento que lhes foi atribuído. Todos estes problemas tornam estes estudos menos

conclusivos. [55]

Page 32: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 32  

Um uso mais frequente de ocitocina verificado por Halpern [47] pode simplesmente

refletir o fato de que as mulheres com trabalhos de parto mais complicados e dolorosos

solicitam analgesia epidural com mais frequência.

Observou-se ainda que a duração do trabalho de parto tem vindo a aumentar ao longo

do tempo. Embora ainda não existam razões precisas para isso, as alterações das

caraterísticas obstétricas, como uma maior percentagem de trabalhos de parto induzidos,

menor utilização de fórceps e a tentativa de redução de partos cirúrgicos, bem como um

aumento da prevalência da obesidade, idade materna mais avançada e ganho de peso

gestacional parecem ter tido um papel importante. Curiosamente, quando examinamos se o

peso ao nascer aumentou durante o período de estudo, este permaneceu sensivelmente o

mesmo. [45] Assim, não poderemos considerar o peso de nascimento como um fator

potencial para aumentar progressivamente duração da segunda fase do trabalho de parto.

Primeira fase

Até hoje nenhum estudo controlado randomizado estudou o efeito de analgesia

neuraxial sobre a duração da primeira fase do trabalho de parto como objetivo primário.

Estudos que avaliaram esse parâmetro como resultado secundário têm resultados pouco

consensuais, sendo que na sua maioria consideram que a duração da primeira fase estará

aumentada. [6]

Dos vários estudos analisados verificaram-se variações consideráveis no efeito da

analgesia epidural sobre a duração da primeira fase, que vão desde o encurtamento da

primeira fase por 24 minutos até um prolongamento de 157 minutos. [28]

A metanálise de Halpern et al verificou que a primeira fase do trabalho de parto é

significativamente maior no grupo com epidural (mais 42 min 95% CI 17-68 min). [47]

Page 33: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 33  

A maior diferença entre a duração da primeira fase foi encontrada por Thorp et al

num pequeno estudo entre os dois grupos. [14] Entre as mulheres do grupo com epidural, a

primeira fase do trabalho de parto foi de 2,6 horas a mais, em média. Este estudo também

demonstrou uma alteração do ritmo de dilatação entre os dois grupos. Antes da analgesia

epidural, os grupos estavam dilatados com a mesma taxa (0,52 centímetros/hora), mas

depois da administração desta, a taxa de dilatação no grupo epidural foi mais lenta do que no

grupo sem epidural (1,9 cm/hora sem epidural e 2,7 cm/hora epidural). [34,48] Esta

heterogeneidade encontrada pode dever-se às diferenças entre as populações estudadas

(nulíparas, multíparas, misto) e às diferenças entre a definição precisa do início e do fim da

primeira fase do parto, em cada estudo.

Alterações na atividade uterina influenciam significativamente a duração da primeira

fase do trabalho de parto. [56]

O mecanismo de dilatação cervical mais lento sob o efeito da analgesia epidural é

desconhecido, mas há hipóteses que podem ser colocadas. Estudos demonstraram

diminuição da atividade uterina após a administração intravenosa de solução cristalóide de

1L, mas não após infusão de 0,5L. [57,58] Uma hipótese que explica essa observação é que

um bólus de fluído inibe a libertação de hormona antidiurética e é acompanhado de uma

diminuição na produção de ocitocina, uma vez que ambas são libertadas pela glândula

pituitária posterior. Como a técnica de administração de bólus de fluído é rotineiramente

utilizada no início da analgesia neuraxial, isso poderia explicar em parte a diminuição

transitória da atividade uterina frequentemente observada nesta fase. Para além disso, tem

sido sugerido que a analgesia epidural provoca uma diminuição na concentração de

hormonas conhecidas por aumentarem a atividade uterina. Behrens et al observaram que as

mulheres que receberam analgesia epidural durante a primeira fase do trabalho de parto

Page 34: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 34  

tiveram uma diminuição na libertação de prostaglandina F2a, uma hormona conhecida por

aumentar a atividade uterina. [59]

Por outro lado, outros estudos demonstram um aumento da atividade uterina após o

início da analgesia neuraxial, um fenómeno atribuído a uma diminuição aguda na contração

plasmática de epinefrina. A epinefrina tem efeito tocolítico devido aos seus efeitos nos

recetores beta-adrenérgicos. Iniciação de analgesia neuraxial está associada a uma

diminuição rápida na concentração plasmática de epinefrina materna devido à

simpatissectomia e redução abrupta da dor. Esta diminuição aguda da concentração de

adrenalina materna, por sua vez, pensa-se que leva a aumento da atividade uterina

secundária à diminuição da ativação do recetor β-adrenérgico. [7]

A evidência disponível sugere que analgesia neuraxial de parto tem um efeito

variável sobre a duração da primeira fase: pode prolongá-la em algumas parturientes e

encurtá-la noutras. Estes resultados inconsistentes são provavelmente resultado da influência

de diversos fatores conhecidos por afetarem a atividade uterina e a duração da primeira fase

do trabalho de parto. Nesses estudos em que analgesia neuraxial foi associada ao

prolongamento da primeira fase, não houve consequências para a mãe ou para o bebé devido

ao aumento da duração do parto. Novas investigações que controlam possíveis fatores de

confusão são necessárias para elucidar o verdadeiro impacto da analgesia neuraxial na

duração da primeira fase do trabalho de parto. [7]

Page 35: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 35  

Efeito no tipo de parto

O ACOG incorporou a presença ou ausência de analgesia neuraxial na definição de

segunda fase prolongada, mas afirmou que a necessidade de intervenção (instrumentada ou

cirúrgica) não deve ser mandatória exclusivamente com base na duração da segunda fase,

especialmente se o parto estiver a progredir. [6]

Parto instrumentado

O parto vaginal instrumentado pode ter consequências tanto para a mãe como para o

bebé. Está associado a um aumento substancial de lacerações perineais na mãe e a lesões no

bebé, nomeadamente lesões da face, cefalohematomas, lesão do nervo facial e fratura do

crânio. Estes riscos estão associados com a forma como as colheres de fórceps são colocadas

e a quantidade de tração que o médico aplica na cabeça do bebé. Para além disso, o uso de

ventosa tem sido associado com a ocorrência de hemorragia subgaleal nos recém-nascidos.

[55]

Existe uma enorme variabilidade na taxa de referência para parto vaginal

instrumentado entre as mulheres sem epidural. Mesmo em estudos incluindo mulheres

nulíparas em trabalho de parto espontâneo, a taxa de partos vaginais instrumentados em

mulheres sem epidural varia de 4% a 23-60%. Essa variação reflete a existência de outros

fatores, presentes também no grupo com epidural que aumentem a necessidade de

instrumentos. [55]

Uma taxa mais elevada de partos vaginais instrumentados (fórceps e extração com

ventosa) tem sido associada à utilização da epidural, sendo essa associação considerada

significativa em algumas metanálises de ensaios randomizados. [47,48]

Page 36: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 36  

Da mesma forma, tanto a metanálise individual relatada por Sharma et al como a de

Liu et al, o odds ratio para parto vaginal instrumentado foi de 1,86 (95% CI 1,43-2,40) e

1,63 (95 % CI 1,12-2,37), respetivamente. [36,40]

Vinte e um estudos envolvendo 6664 mulheres associaram a analgesia epidural com

um aumento do risco de parto instrumentado. [60]

Embora não inequívocos, estes resultados sugerem que o uso de analgesia está

associado a um risco ligeiramente maior de partos vaginais instrumentados.

Por outro lado, outra metanálise de nove estudos de impacto, incluindo mais de

37000 parturientes, não encontrou nenhum aumento de partos vaginais instrumentados

quando a taxa de epidural aumentou mais de 25%. [33]

Num estudo com 100 mulheres apenas 2 casos tiveram parto instrumentado com

recurso a ventosa (1 em cada grupo), demonstrando de que a analgesia epidural não é um

fator causal para partos instrumentados. [61]

Suportando a mesma ideia, outro estudo verificou que apesar do aumento para o

triplo do uso da analgesia epidural ao longo de dez anos, este foi acompanhado por um

número relativamente estável de partos instrumentados. [62]

Da mesma forma, a taxa de instrumentação em parto normal na Maternidade

Nacional de Dublin manteve-se inalterada, apesar de um aumento maior do que cinco vezes

na utilização de analgesia epidural. Esses achados foram confirmados numa revisão

sistemática de sete estudos de impacto que envolvem mais de 28 mil parturientes, onde não

houve diferença na taxa de partos vaginais instrumentados. [63]

Esses resultados não consensuais enfatizam o potencial impacto de vários fatores de

confusão, nomeadamente dor materna, a técnica anestésica, o bloqueio motor, a posição fetal

e o critério do obstetra, tornando a interpretação dos dados particularmente difícil.

Page 37: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 37  

A contribuição e a interação desses fatores para o tipo de parto vaginal não é apenas

mal compreendida, mas também não foi bem controlada na maioria dos estudos. [63]

O facto da segunda fase do parto estar prolongada pode levar os obstetras a recorrer a

partos instrumentados de forma a reduzir este período. O relaxamento da musculatura da

parede abdominal secundária à anestesia local epidural pode resultar em diminuição da

eficácia dos esforços de expulsão maternos. O bloqueio sensorial do útero e canal vaginal

pode também diminuir a capacidade materna para coordenar os esforços de expulsão com

contrações uterinas. Além disso, as altas concentrações de anestésico local neuraxial podem

relaxar a musculatura pélvica e interferir com a rotação fetal durante a descida. [64]

Thorp et al categorizaram mulheres segundo a velocidade de dilatação: se a dilatação

ocorria lentamente (<1 cm / hora) ou rapidamente (≥1 cm / hora) durante o trabalho de parto

e encontraram uma forte associação entre a epidural e parto normal instrumentado em ambos

os casos: as dilatadoras lentas (23% vs 4% sem epidural) e dilatadoras rápidas (27% vs 9%

sem epidural). Isto sugere que a associação não se deve apenas a trabalhos de parto mais

prolongados. [14]

Num dos ensaios muitos pacientes do grupo epidural tiveram parto com fórceps para

internos treinarem. Para além disso, os obstetras podem apresentar uma tendência para

realizar um parto instrumentado nas parturientes com analgesia epidural, mostrando como o

método analgésico pode influenciar as decisões obstétricas. O protocolo para o parto com

analgesia epidural era variável e praticado de diferentes formas. A metodologia dependia

também da população em causa e do método de analgesia usado no grupo sem epidural. [48]

No entanto, apenas em dois dos ensaios todas as mulheres cumpriram o tratamento

que lhes foi atribuído. [52,64] Mulheres que aceitam epidural são diferentes daquelas que

aceitam o alívio da dor com opioides. Por exemplo, segundo Ramin et al, mulheres nulíparas

foram mais propensas a aceitar analgesia epidural, enquanto as mulheres multíparas eram

Page 38: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 38  

mais propensas a aceitar opioides sistémicos. [52] Quando uma grande proporção de

mulheres não consegue receber o tratamento que lhe foi atribuído, os dois grupos

randomizados tornam-se muito mais semelhantes, tornando-se mais difícil detetar diferenças

no resultado.

O grau de analgesia neuraxial é também um fator importante, por sua vez

influenciado pela técnica analgésica específica, concentração e dose total de anestésico

local, entre outros, que se sobrepõem e são difíceis de estudar. [19]

Cesariana

Embora muitos obstetras e anestesiologistas experientes relatem que o uso de

epidural pode dificultar o trabalho de parto e aumentar o risco de cesariana, há discordância

sobre se esta associação existe ou se é resultado das diferenças individuais entre as mulheres

que optam ou não por esta via de analgesia. No entanto, qualquer que seja a razão para a

associação, há consenso que a necessidade de recorrência à cesariana se deve a má

progressão do parto e não ao estado fetal não tranquilizador. [34]

A questão é se as mulheres que recebem epidural por terem trabalhos de parto mais

difíceis, apresentariam maior risco para cesariana, mesmo sem terem recebido epidural.

Yancey et al verificou, num grande estudo de impacto no Hospital do Exército

Tripler dos Estados Unidos, que apesar do aumento da taxa de analgesia neuroaxial de 1%

para 80% ao longo de um ano, a taxa de cesarianas em mulheres nulíparas em trabalho de

parto espontâneo permaneceu inalterada (19,0% vs 19,4%). [62]

Vários outros estudos de impacto não apresentaram relação entre as taxas de

cesariana e as taxas de administração de analgesia epidural. [65]

Estes resultados foram confirmados em uma meta-análise de Segal et al que incluiu

nove estudos de impacto, envolvendo mais de 37 mil parturientes. Não houve nenhum

Page 39: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 39  

aumento na taxa de parto de cesariana durante um período de aumento da utilização de

analgesia epidural em comparação com um período de controlo histórico. [66]

Uma revisão de 2005 envolvendo 20 estudos não relatou aumento nas taxas de

cesariana entre as mulheres que receberam epidural vs analgesia sistémica. [67]

Da mesma forma, uma meta-análise de Halpern e Leighton de 17 estudos

envolvendo 6.701 mulheres, concluiu que o risco de parto por cesariana não foi diferente

entre as mulheres que receberam opioides sistémicos vs analgesia neuraxial [odds ratio (OR)

1,03; IC de 95% 0,86-1,22]. Embora diferindo em muitas variáveis (por exemplo, paridade,

tipo de analgesia neuraxial, a taxa de crossover, gestão do trabalho de parto), todos os

estudos analisados nesta metanálise, excepto um, não encontraram diferenças nas taxas de

cesariana entre as mulheres com e sem analgesia neuraxial. [47]

Segundo Decca a analgesia epidural não aumenta o risco de cesariana sendo que

tanto no grupo de pacientes com epidural como no grupo controlo 89% tiveram parto

vaginal e 11% por cesariana. [68]

Outro estudo investigou esta associação aleatorizando mais de 1000 mulheres para

um dos três regimes de analgesia: (1) “epidural em altas doses" (bolus intermitentes de

bupivacaína 0,25%); (2) " epidural em baixa dose" ou (3) CSE "baixa dose”. Não foi

encontrada nenhuma diferença na taxa de cesariana entre os três grupos apesar das

diferenças na concentração do anestésico local. [6] Estes resultados sugerem que a analgesia

neuraxial “em altas doses" não resulta em maior risco de parto por cesariana

comparativamente com analgesia "baixa dose". Para além disso mostram-nos que a técnica

analgesia neuraxial (CSE vs epidural) não afeta o risco de parto por cesariana.

Por outro lado, Philipsen e Jensen realizaram um estudo de 111 mulheres (93%

nulíparas) cuja taxa de cesariana foi 60% superior entre as mulheres que receberam

analgesia epidural (18% vs 11%). [50]

Page 40: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 40  

Bofill et al num estudo com 100 mulheres, encontraram um pequeno aumento na

taxa de cesariana (8% para mulheres com analgesia epidural vs 6% para mulheres com

narcóticos) que não foi estatisticamente significativo. [69] Outros fatores importantes que

influenciam a interpretação do presente estudo são que 24% das mulheres no grupo controlo

receberam epidural e que a média de peso no grupo com epidural foi 175 g inferior do que

no grupo sem epidural. Este maior peso está associado com um aumento na taxa de

cesariana. Esta diferença deveria ter sido controlada na análise.

Uma revisão de sistemática de ensaios incluindo parturientes sem complicações

obstétricas major, verificou que a analgesia epidural em trabalho de parto foi utilizada por

um terço das mulheres e 9,8% tiveram parto por cesariana. A analgesia epidural foi

associada a um aumento do risco de parto por cesariana. [70]

Os dados atualmente disponíveis não fornecem uma resposta clara. A falta de

controlo de fatores conhecidos por influenciar a taxa de cesariana, incluindo paridade,

caraterísticas do obstetra, gestão do trabalho de parto e status de seguros, entre outros

limitam a maioria dos estudos. [48] Há também preocupações sobre a generalização dos

resultados destes ensaios para a população em geral de mulheres férteis. Durante vários

estudos, as mulheres participantes eram muito mais jovens, em média, do que a maioria das

mulheres grávidas na realidade (18-20 anos) o que pode ser importante porque a taxa de

cesariana aumenta com a idade materna. Por exemplo, em Ramin et al, 34% das mulheres

incluídas tinham menos de 19 anos; [52] em Sharma et al, a idade média foi de

aproximadamente 22 anos, [51] e em Clark et al, 55% de inscritos tinham ≤18 anos. [54]

Para além disso, a alta proporção de partos rápidos contribuiu para que muitas mulheres não

tenham recebido a analgesia, não se cumprindo o protocolo. Tomados em conjunto, esses

Page 41: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 41  

factos sugerem que as populações usadas para estudo podem representar um subgrupo

atípico de mulheres grávidas que não corresponde à maioria.

Para além disso, em vários grandes estudos tuma alta proporção de mulheres do

grupo sem analgesia epidural acabou por solicitá-la ou vice-versa. [51,52,53,60]

Na maioria dos estudos que continuam a encontrar uma forte associação entre

analgesia epidural e cesariana tem sido sugerido que as mulheres solicitam epidural porque

estão a ter um trabalho de parto anormal ou excecionalmente difícil, sendo que essa

dificuldade é a razão pela qual haverá diferença nos resultados, embora "Trabalho de parto

difícil" seja extremamente subjetivo. [55] Atualmente mais de metade das mulheres em todo

o mundo recebe epidural para alívio da dor e não é razoável sugerir que dor "incomum" ou

"anormal" seja motivo para que estas solicitem epidural. De facto, estudos indicam que

muitas mulheres no seu primeiro parto solicitam previamente epidural, antes ainda de

sentirem qualquer dificuldade no parto. [55]

As melhores evidências provêm de ensaios randomizados que comparam analgesia

epidural com não epidural. Quando combinados, estes estudos indicam que o uso de epidural

não resulta num aumento das cesarianas. Este facto é também suportado por estudos

randomizados que comparam baixa com alta concentração de anestésicos locais para

demonstrar a dose-resposta. [47]

Page 42: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 42  

Conclusão

Mesmo havendo múltiplas opções para o controlo da dor, a maioria das mulheres

geralmente sofre mais do que as expetativas.

As parturientes devem ser envolvidas no processo de tomada de decisão sobre todos

os aspectos do parto, incluindo também a informação prévia sobre as técnicas de alívio da

dor disponíveis, de modo a poderem refletir cuidadosamente antes do início de trabalho de

parto, permitindo uma tomada de decisão informada e racional que será difícil durante

períodos de stress emocional e angústia física.

Grande parte da evidência é escassa uma vez que os estudos randomizados

controlados sobre o efeito da analgesia neuraxial na evolução do trabalho de parto sofrem

uma série de limitações. Estes ensaios não podem ser controlados com placebo, uma vez que

seria anti-ético e possivelmente poucas mulheres concordariam em participar. Outra

limitação é a impossibilidade óbvia de estudos cegos, devido à diferença acentuada na

qualidade entre a analgesia neuraxial e outros tipos de analgesia. Além disso, uma vez que a

analgesia neuraxial é significativamente superior às outras formas de analgesia, muitos dos

estudos sofrem de uma alta taxa de crossover. Existem ainda outros fatores incontornáveis

de confusão que surgem por as mulheres que solicitam epidural serem diferentes das que não

o fazem. Mais importante ainda é a variação considerável na prática clínica obstétrica e

anestesiológica muito difícil de controlar, que condiciona decisivamente a associação de

epidural com alguns dos resultados encontrados nos estudos.

A analgesia epidural convencional é um método seguro e muito eficaz para o alívio

da dor no trabalho de parto e continua a ser o Goldstandard, mas tudo indica que se associa

a um trabalho de parto mais prolongado, (mais evidente para a segunda fase) não havendo

total consenso sobre a sua influência na distócia.

Page 43: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 43  

Em partos prolongados, a analgesia epidural pode ser a responsável pelo aumento da

temperatura corporal.

Não obstante todo o interesse de que esta técnica analgésica se reveste e todas as

investigações já conduzidas, as reais implicações na evolução do trabalho de parto

permanecem controversas sendo, por isso, necessários mais estudos controlados.

Page 44: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 44  

O meu profundo agradecimento à Dra Joana Carvalhas, pela imensa ajuda, pela

disponibilidade, paciência e simpatia, desde o início de todo este processo. Não teria

sido possível sem o seu auxílio.

Aos meus pais, irmã, amigos e colegas e todos aqueles que, direta ou

indiretamente, contribuíram para a concretização deste projeto.

Page 45: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 45  

Referências Bibliográficas

[1] Cordeiro L, Ferreira I, Martin A, Castelo-Branco L, Liça L. Analgesia do Trabalho de

Parto: Perspectivas e Avanços. Dor. 2010; 18

[2] Juan Carlos Zafra Pedone, José Andrés Calvache España. Analgesia epidural para el

trabajo de parto. Iatreia vol.21 no.4 Medellín Oct./Dec. 2008

[3] Robert D. Vincent, Jr., M.D. And David H. Chestnut, M.D. Epidural Analgesia During

Labor. University Of Alabama School Of Medicine, Birmingham, Alabama Am Fam

Physician.1998;58(8):1785-1792.

[4] Eltzschig H, Regional anesthesia and analgesia for labor and delivery. The new England

Journal of Medicine. 2003; 384: 319-332

[5] Tingaker B, Johansson O, Cluff AH, Ekman-Ordeberg G. Unaltered innervation of the

human cervix uteri in contrast to the corpus during pregnancy and labor as revealed by PGP

9.5 immunohistochemistry European Journal of Obstetrics and Gynecology and

Reproductive Biology. 2006; 125:66-71

[6] Pereira L. Estudo comparativo entre três volumes de Ropivacaína 1mg/mL e Sufentanil

0,25mcg/mL por via epidural em bolus intermitentes e sua relação com a duração da

analgesia durante o trabalho de parto. Farm, F. D. E., & Aplicada, F. 2013

[7] Brownridge P. The nature and consequences of childbirth pain.

EurJObstetGynec.1995;59:9-15

[8] Pan P, Eisenach J. The pain of childbirth and its effect on the mother and the fetus. In

Chestnut et al. Obstetric Anesthesia Principles and Practice, Philadelphia, Mosby Elsevier.

2009;387-403

[9] Santos L, Palma F, Roncon A. Analgesia no Trabalho de parto. Arq MAC 2000

Available from: http://repositorio.chlc.min-saude.pt/bitstream/10400.17/582/1/Arq

Page 46: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 46  

[10] Melzach R, Kinch R, Dobkin P, Lebrun M, Taenzer P. Severity of labour pain:

influence of physical as well as psychologic variables. Canadian Medical Journal

Association. 1984; 130:579-584

[11] Ludington E1, Dexter F.Statistical analysis of total labor pain using the visual analog

scale and application to studies of analgesic effectiveness during childbirth. Anesth Analg.

1998;87(3):723-7.

[12] Priscilla H, Zambrano E, Sousa FA. Validation of the ratio scale of the differents types

of pain. Revista Latino-Americana de Enfermagem. 2008; 16:720-726.

[13] G. Capogna, M. Camorcia, S. Stirparo, G. Valentini, A. Garassino, A. Farcomeni

Multidimensional evaluation of pain during early and late labor: a comparison of nulliparous

and multiparous women International Journal of Obstetric Anesthesia. 2010; 19, 167-170

[14] Thorp, J. a, & Breedlove, G. Epidural analgesia in labor: an evaluation of risks and

benefits. Birth (Berkeley, Calif.).1996; 63–83.

[15]Hendricks CH, Brenner WE, Kraus G. Normal cervical dilatation pattern in late

pregnancy and labor. Am J Obstet Gynecol. 1970;1;106(7):1065-82.

[16] Bismarck JA. Analgesia em Obstetrícia. Permanyer Portugal 2003

[17] Hodnett ED, Gates S, Hofmeyr GJ, Sakala C. Continuous support for women during

childbirth. The Cochrane Library 2007, Issue 4

[18] Cunha, A. D. A. Analgesia e anestesia no trabalho de parto e parto.Femina.2010; 38,

600–606.

[19] Gilbert J Grant, MD. Neuraxial analgesia and anesthesia for labor and delivery:

Techniques. UpToDate. 2007

[20] Lucero J Et Rollins M. Obstetrics. In Miller R et Pardo M. Basics of Anesthesia,

Philadelphia, Elsevier Saunders, 2011; ISBN 978-1-4377-1614-6, 514-545

[21] Rung G, Marshall W. Nerve blocks in the critical care environment. Crit Care Clin.

1990; 6:343-367

Page 47: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 47  

[22] Van der Vyver M1, Halpern S, Joseph G. Patient-controlled epidural analgesia versus

continuous infusion for labour analgesia: a meta-analysis. Br J Anaesth. 2002

Sep;89(3):459-65.

[23] Fun W, Lew E, Sia AT. Advances in neuraxial blocks for labor analgesia: new

techniques, new systems. Minerva Anestesiol. 2008 Mar. 74(3):77-85

[24] Velde M. Modern neuraxial labor analgesia: options for initiation, maintenance and

drug selection. Revista Espanola de Anestediologia y Reanimacion. 2009; 56: 546-561

[25] Tsen LC, Thrue B, Datta S. Is combined spinal-epidural analgesia associated with more

rapid cervical dilatation in nulliparous patients when compared with conventional epidural

analgesia? Anesthesiology. 1999; 91:920-925,

[26] Wong C. Advances in labor analgesia. International Journal of Women ́s Health. 2009;

1: 139-154.

[27] Simmons S. Combined spinal-epidural versus epidural analgesia in labour. Cochrane

Database Systematic Reviews. 2007

[28] Leighton B et Halpern H. The effects of epidural analgesia on labor, maternal and

neonatal outcomes: a systematic review. American Journal of Obstetrics and Gynecology.

2002; 186: 69-S77

[29] Sachs A1, Smiley R2. Post-dural puncture headache: the worst common

complication in obstetric anesthesia. Semin Perinatol. 2014 Oct;38(6):386-94

[30] Ranganathan P, Golfeiz C, Phelps AL, Singh S, Shnol H, Paul N, Attaallah AF, Vallejo

MC Chronic headache and backache are long-term sequelae of unintentional dural puncture

in the obstetricpopulation. J Clin Anesth. 2014

[31] Reynalds F. Dural puncture and headache: avoid the first but treat the second. British

Medical Journal 1993; 306: 874-875

[32] Howell CJ, Kidd C, Roberts W, Upton P, Lucking L, Jones PW, Johanson RB. A

randomised controlled trial of epidural compared with non-epidural analgesia in labour.

Page 48: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 48  

[33] McGrady, E. Epidural analgesia in labour. Continuing Education in Anaesthesia,

Critical Care & Pain; 2004, 4, 114–117.

[34] Lieberman, E., Lang, J. M., Frigoletto, F., Richardson, D. K., Ringer, S. a, & Cohen.

Epidural analgesia, intrapartum fever, and neonatal sepsis evaluation. Pediatrics 99.1997;

415–419.

[35] Ron Gonen, MD, Roman Korobochka, MDShimon Degani, MD and Luis Gaitini MD.

Association Between Epidural Analgesia and Intrapartum Fever. American jounal of

perinatology/volume 17, number 3. 2000.

[36] Liang, C.-C., Wong, S.-Y., Tsay, P.-T., Chang, S.-D., Tseng, L.-H., Wang, M.-F., &

Soong, Y.-K. The effect of epidural analgesia on postpartum urinary retention in women

who deliver vaginally. International Journal of Obstetric Anesthesia. 2002; 11, 164–169.

[37] Wong A. Epidural and spinal analgesia/anesthesia for labor and vaginal delivery. In

Chestnut et al. Obstetric Anesthesia Principles and Practice, Philadelphia, Mosby Elsevier,

2009; 429-492.

[38] Myles T, Santolaya J. Maternal and neonatal outcomes in patients with a prolonged

second stage of labor. Obstetrics and Gynecology, 2003; 102: 52-58

[39] Allen V, Baskett TF, O'Connell CM, McKeen D, Allen AC. Maternal and perinatal

outcomes with increasing duration of the second stage of labor. Obstetrics and Gynecology,

2009; 113: 1248-1258

[40] Rouse D, Weiner SJ, Bloom SL, Varner MW, Spong CY, Ramin SM, et al. Second

stage labor duration in nulliparous women: relationship to maternal and perinatal outcomes.

American Journal of Obstetrics and Gynecology, 2009; 201: 357.e1-357.e7

[41] Patterson, D. a., Winslow, M., & Matus, C. D. Spontaneous vaginal delivery. American

Family Physician, 78.2008

[42] E. A. Friedman, Labor: Clinical Evaluation an Management [2ª ed.]. New York:

Appleton-Century-Crofts. 1978

Page 49: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 49  

[43] Kopas, M. Lou. A review of evidence-based practices for management of the second

stage of labor. Journal of Midwifery and Women’s Health, 59. 2014; 264–276.

[44] Zhang J, Troendle J, Mikolajczyk R, Sundaram R, Beaver J, Faser W. The natural

history of the normal first stage of labor. Obstet Gynecol. 2010;115:705–10.

[45] Cheng YW, Hopkins LM, Caughey AB. How long is too long: Does a prolonged

second stage of labor in nulliparous women affect maternal and neonatal outcomes? Am J

Obstet Gynecol. 2004; 191(3): 933-938.

[46] Cheng YW, Shaffer BL, Nicholson JM, Caughey AB. Second stage of labor and

epidural use: a larger effect than previously suggested. Obstet Gynecol. 2014

Mar;123(3):527-35.

[47] Halpern SH, Leighton BL, Ohlsson A, Barrett JF, Rice A. Effect of epidural vs

parenteral opioid analgesia on the progress of labor: a meta-analysis. JAMA.

1998;280:2105-10.

[48] Halpern S, Douglas M, editors. Evidence-Based Obstetric Anesthesia. Blackwell

Publishing. 2006

[49] Yang L, Xu BY, Hu YL. Change of labor duration: a systematic analysis. Zhonghua Fu

Chan Ke Za Zhi. 2012; 47(6):431-5

[50] Philipsen T, Jensen NH. Epidural block or parenteral pethidine as analgesic in labour: a

randomized study concerning progress in labour and instrumental deliveries. Eur J Obstet

Gynecol Re- prod Biol 1989;30:27-33.

[51] Sharma SK, Sidawi JE, Ramin SM, Lucas MJ, Leveno KJ, Cun- ningham FG. Cesarean

delivery: a randomized trial of epidural versus patient-controlled meperidine analgesia

during labor. Anesthesiology 1997;87:487-94.

[52] Ramin SM, Gambling DR, Lucas MJ, Sharma SK, Sidawi JE, Leveno KJ. Randomized

trial of epidural versus intravenous analgesia dur- ing labor. Obstet Gynecol 1995;86:783-9.

[53] Loughnan BA, Carli F, Romney M, Dore CJ, Gordon H. Ran- domized controlled

Page 50: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 50  

comparison of epidural bupivacaine versus pethidine for analgesia in labour. Br J Anaesth

2000;84:715-9.

[54] Clark A, Carr D, Loyd G, Cook V, Spinnato J. The influence of epidural analgesia on

cesarean delivery rates: a randomized, prospective clinical trial. Am J Obstet Gynecol

1998;179:1527-33.

[55] Lieberman, E., O’Donoghue, C. Unintended effects of epidural analgesia during labor:

A systematic review. American Journal of Obstetrics and Gynecology 2002, 186, 31–68.

[56] Shiv K. Sharma, Md, Frca And Kenneth J. Leveno, Md Regional Analgesia and

Progress of Labor Volume 46 Number 3. 2003;633–645

[57] Cheek TG, Samuels P, Miller F, Tobin M, Gutsche BB. Normal saline i.v. fluid load

decreases uterine activity in active labour. Br JAnaesth. 1996; 77: 632 – 5

[58] Zamora JE, Rosaeg OP, Lindsay MP, Crossan ML. Haemodynamic consequences and

uterine contractions following 0.5 or 1.0 litre crystalloid infusion before obstetric epidural

analgesia. Can J Anaesth. 1996; 43: 347 – 52

[59] Behrens O, Goeschen K, Luck HJ, Fuchs AR. Effects of lumbar epidural analgesia on

prostaglandin F2 alpha release and oxytocin secretion during labor. Prostaglandins 1993; 45:

285 – 96

[60] Anim-Somuah M1, Smyth R, Howell C. Epidural versus non-epidural or no analgesia

in labour. Cochrane Database Syst Rev. 2011

[61] Rojansky N, Tanos V, Reubinoff B, Shapira S, Weinstein D. Effect of epidural

analgesia on duration and outcome of induced labor. Int J Gynaecol Obstet 1997;56:237-44

[62]Yancey MK, Pierce B, Schweitzer D, Daniels D. Observations on labor epidural

analgesia and operative delivery rates. Am J Obstet Gynecol 1999; 180:353-9.

[63] Cambic, C. R., Wong, C. a. Labour analgesia and obstetric outcomes. British Journal of

Anaesthesia. 2010; 105 Suppl 1, i50–i60.

[64] Robinson JO, Rosen M, Evans JM, Revill SI, David H, Rees GA. Maternal opinion

Page 51: Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra · secundários dos opioides, que são comuns quando usados por via sistémica, como a sedação, as náuseas e vómitos, o prurido

 51  

about analgesia for labour: a controlled trial between epidural block and intramuscular

pethidine combined with inhalation. Anaesthesia 1980; 35:1173-81.

[65] Impey L, MacQuillan K, Robson M. Epidural analgesia need not increase operative

delivery rates. Am J Obstet Gynecol. 2000; 182: 358–63

[66] Segal S, Su M, Gilbert P. The effect of a rapid change in availability of epidural

analgesia on the cesarean delivery rate: a meta-analysis. Am J Obstet Gynecol. 2000; 183:

974–8

[67] Millicent Anim-­‐‑Somuah, Rebecca MD Smyth , Charlotte J Howell Epidural versus

non-epidural or no analgesia in labour Cochrane Database of Systematic Reviews: Reviews.

2011; Issue 12

[68] Decca L1, Daldoss C, Fratelli N, Lojacono A, Slompo M, Stegher C, Valcamonico A,

Frusca T. Labor course and delivery in epidural analgesia: a case-control study. J Matern

Fetal Neonatal Med. 2004;16(2):115-8.

[69] Bofill JA, Vincent RD, Ross EL, Martin RW, Norman PF, Werhan CF, et al.

Nulliparous active labor, epidural analgesia, and cesarean delivery for dystocia. Am J Obstet

Gynecol 1997;177:1465-70.

[70] Bannister-Tyrrell, M., Ford, J. B., Morris, J. M., & Roberts, C. L. Epidural analgesia in

labour and risk of caesarean delivery. Paediatr Perinat Epidemiol. 2014; 28(5), 400-411.