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FACULDADE DE SÃO BENTO RENATO DAMIÃO PIRES DA SILVA O PARADIGMA SENEQUIANO DE FELICIDADE NA CONSTRUÇÃO DA VIDA FELIZ São Paulo 2015

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FACULDADE DE SÃO BENTO

RENATO DAMIÃO PIRES DA SILVA

O PARADIGMA SENEQUIANO DE FELICIDADE NA CONSTRUÇÃO

DA VIDA FELIZ

São Paulo

2015

RENATO DAMIÃO PIRES DA SILVA

O PARADIGMA SENEQUIANO DE FELICIDADE NA CONSTRUÇÃO

DA VIDA FELIZ

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)

encaminhado à comissão julgadora da Faculdade

de São Bento como requisito parcial para a

obtenção do título de Licenciatura Plena em

Filosofia, sob a orientação do professor Mestre

Edson Dognaldo Gil

São Paulo

2015

Reitor da Faculdade de São Bento

Prof. Dr. D. Carlos Eduardo Uchôa Fagundes Junior, OSB

Coordenador do Curso de Filosofia da FSB

Dr. Djalma Medeiros

RENATO DAMIÃO PIRES DA SILVA

O PARADIGMA SENEQUIANO DE FELICIDADE NA CONSTRUÇÃO DA VIDA

FELIZ

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)

encaminhado à comissão julgadora da Faculdade

de São Bento como requisito parcial para a

obtenção do título de Licenciatura Plena em

Filosofia, sob a orientação do professor Mestre

Edson Dognaldo Gil

Data de aprovação:

10/12/2015

Banca examinadora:

________________________________________

Profº. Me. Edson Dognaldo Gil

FACULDADE DE SÃO BENTO - Orientador

_______________________________________

Prof. Dr. Fernando Sapaterro

FACULDADE DE SÃO BENTO

________________________________________

Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva

FACULDADE DE SÃO BENTO

São Paulo

2015

“O bem que é a liberdade terás tu de dá-lo a ti mesmo, de o reclamar a ti

mesmo! Liberta-te, para começar, do medo da

morte”

Lúcio Aneu Sêneca, carta 80.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, a minha e de todos aos quais amo, bem

como daqueles que ainda aprenderei a amar.

À Faculdade São Bento, sеu corpo docente, direção е administração quе oportunizaram a

realização, conclusão e defensa, quе hoje vislumbro, deste trabalho de pesquisa.

Agradeço ao Prof. Me. Edson Dognaldo Gil, mеu orientador, pela oportunidade е apoio nа

elaboração deste trabalho. Agradeço аоs professores Dr. Fernando Sapaterro e Dr. Franklin

Leopoldo e Silva por terem sido meus professores quando cursava as disciplinas de filosofia,

e por agora aceitarem fazer parte da banca examinadora de minha defesa.

Agradeço a Deus pela minha família consanguínea e religiosa. Agradeço à minha família

consanguínea, que sempre caminhou e caminha comigo neste mundo no caminho de darmos

sentido às nossas vidas. Agradeço a minha mãe, Maria da Conceição, que superou tantas

dificuldades para poder alimentar e educar a mim, a meus irmãos/as e sobrinhos. Agradeço,

também, às minhas irmãs, Aparecida, Sônia e Lucinéia, que tanto ajudaram minha mãe nesta

tarefa de manter uma família órfã de pai (órfã não por morte, mas por contradições humanas).

Aos meus irmãos e sobrinhos por tantos momentos juntos de alegria e de partilha das

experiências e esperanças. Foi nesta primeira escola para a vida que aprendi a amar para além

de mim mesmo. Bem como a me preocupar e me sensibiliza com os sofrimentos em meu

entorno e no mundo.

Agradeço aos amigos e irmãos de coração Adílio, que muito me incentivou a concluir o

presente trabalho de pesquisa, e Lucas Herinque, que com nossas conversas e debates, muitas

vezes exaltados, contribuiu muito em meu processo argumentativo e de oratória, bem como

por me presentear alguns livros que me ajudaram em minha pesquisa. Agradeço ao amigo e

irmão Edvaldo que, com seu exemplo de vida, sua paciência e suas sábias conversas, muito

me ajudou a olhar diferente para vida. Agradeço aos amigos e irmãos de coração Mário

Cabral, Antônio Mário, Francisco Henrique, José Miguel, Francisco William, que muito

contribuíram e contribuem para o meu crescimento humano, afetivo, psicológico e social.

Agradeço aos amigos Jarino (conterrâneo e amigo muito querido, bem como sua esposa,

Cindi), e Celso Molina (com sua alegria e espontaneidade), os quais quando me encontro me

vem uma grande alegria pela gratuidade de sua amizade. Agradeço à grande amiga Heliuza e

sua família, pela amizade, acolhida, partilha de vida e conversas que tanto demonstram o

carinho que dedicam a mim e que de igual forma correspondo. Agradeço à professora Janaina

que muito me ajudou na elaboração do meu trabalho de pesquisa. Agradeço às amigas Juliana

Roberta e Valquiria, e ao amigo e irmão de coração Marcos Aurélio que muito me ajudaram

com a correção normativa e gramatical deste trabalho. Agradeço ao padre John Horan, por sua

ajuda com a correção do resumo tradução para o inglês, bem como seu exemplo de vida que,

com seus 76 anos, não deixa de estudar e buscar continuamente se atualizar.

Aos demais familiares e amigos sinceros, com os quais convivo e me relaciono, agradeço pela

convivência e caminhada juntos, pois este convívio me forma e a cada dia me leva a descobrir

que sou um ser em continuo processo de crescimento humano, intelectual, afetivo, psicológico

e social.

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a felicidade tal qual o filosofo Sêneca nos

apresenta. A felicidade é buscada, de forma geral, nas riquezas, na beleza, no viver mais, no

poder e no prazer; tudo isso considerado por Sêneca como indiferentes; no entanto, todos

estes lugares se mostram ilusórios devido às fatalidades da vida. Quando isso ocorre,

perdemos o chão, fato que nos custa o sentido da própria vida. Sêneca nos diz que o homem

se encontra no reino de coisas indiferentes, que não depende dele possuí-las ou não

acrescentam nem diminuem a felicidade. Os filósofos, sobretudo os clássicos, defendem que a

finalidade da existência é a aquisição da felicidade. O problema está em saber onde reside a

felicidade, ou melhor, onde se deve buscá-la. O filósofo Sêneca, sendo um filósofo estoico,

nos aponta, em seus escritos, que a felicidade deve ser buscada nas coisas referentes à alma,

pois todo ser tem um instinto primeiro que o conduz a buscar tudo que incrementa e

desenvolve sua alma e a recusar tudo que a prejudica. A esse instinto primeiro, Sêneca e os

estoicos chamam de Princípio da oikeiosis. Sêneca nos diz que o princípio da oikeiosis nos

conduz às nossas escolhas e que são estas que nos mostrarão se estamos ou não na direção

certa. O princípio da oikeiosis nos é dado pela natureza, e ele nos orienta a segui-la. Uma vez

que, defende Sêneca e todos os estoicos, somente seguindo, e escolhendo conforme, a

natureza é possível se alcançar a felicidade. E Sêneca, assim, sintetiza: a felicidade está em

seguir a natureza e dela não se afastar. O seguimento da natureza se concretiza em conformar

o querer e o viver segundo os quereres da natureza do cosmos. A relação com o cosmo é

determinante na aquisição da felicidade, uma vez que o homem é parte dele. Nesse processo

de conformação com a natureza, a filosofia desempenha um papel essencial, pois é ela quem

possibilitará ao homem buscar esse alinhamento e formar sua vontade. E nesse caminho lhe

mostrará onde reside, verdadeiramente, a felicidade, afastando-o das opiniões e escolhas

equivocadas do senso comum, que põem a felicidade nas coisas indiferentes. Por fim, a

filosofia mostrará ao homem que tudo o que precisa para ser feliz se encontra dentro de si, e o

que dele se espera é simplesmente que entenda isso para, assim, iniciar o caminho rumo à

felicidade.

Palavras-chave: Estoicismo. Felicidade. Filosofia. Homem. Sêneca. Kósmos. Natureza.

Oikeiosis. Vontade.

ABSTRACT

This work has as main target to think about happiness within philosopher Seneca's thoughts

and writings. People often seek happiness in wealth, beauty; or having a long life, power and

delectation, all of them considered by Seneca as indifferent; presented as illusory due the

fatefulness of life. When death happens things start to fall apart and we see ourselves

compelled to think about the meaning of life itself. Seneca states that man finds himself in a

kingdom of indifference that is out of his control which does not increase or reduce his

happiness. Classical philosophers' state that life goal is to search and acquire the so called

happiness. The particular problem is knowing where happiness lives or in other words, where

to look for it. Seneca is a stoic philosopher, so he shows in his writing that happiness needs to

be sought in things connected with the soul, because everybody has an inclination to seek soul

development and not accept what hurts the soul. That is called the Principle of oikeiosis.

Seneca tells us that the principle of oikeiosis leads us to life choices and those same choices

indicate themselves as being right or wrong for ourselves. The principle of oikeiosis is an

attribute of nature which means we're all going to naturally search and follow it. Seneca and

all stoic philosophers believe that happiness can only be found within this principal. Seneca

defines happiness as following nature, not letting it go away. Following nature means getting

closer to the will of the cosmos. That approach is necessary to find happiness because men are

an intrinsic part of the cosmos. In that process of nature acceptance of philosophy has an

important position, because it is possible, for men, to acquire the necessary, knowledge to

shape their wishes. This way the humans will find out where the happiness lives, warding

them off opinions and choices that confirms that happiness is no indifferent thing. Lastly, the

philosopher shows that what humans need to be happy is already inside themselves. Knowing

that men can start their journey towards happiness

Keys-words: Happiness. Seneca. Stoicism. Indifference. Human. Oikeiosis. Nature. Kósmo.

Philosophy. Wish.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11

1. O ESTOICISMO ................................................................................................................ 13 1.1. Origem do Estoicismo ....................................................................................................... 13

1.2. Pensamento Estóico ........................................................................................................... 14

1.2.1. Lógica ............................................................................................................................. 15

1.2.1.1 Critério de verdade ............................................................................................. 15

1.2.2. Física ............................................................................................................................... 17

1.2.2.1. Lógos .................................................................................................................. 17

1.2.2.2. Natureza/physis ................................................................................................... 18

1.2.2.3. Simpatia Universal ............................................................................................. 18

1.2.3. Ética ................................................................................................................................ 19

1.2.3.1. Oikéiosis ............................................................................................................. 20

1.2.3.2. Vida segundo a natureza ..................................................................................... 20

1.2.3.3. Indiferentes ......................................................................................................... 21

1.2.3.4. Sábio ................................................................................................................... 22

1.2.3.5. Insensato ............................................................................................................. 24

2. SÊNECA – ESTOICO ROMANO – E A BUSCA DA FELICIDADE .......................... 25 2.1. O Filósofo Sêneca .............................................................................................................. 25

2.1.1. Vida e morte ................................................................................................................... 25

2.1.2. Pensamento e obra .......................................................................................................... 27

2.2. Perspectivas de Felicidade ................................................................................................. 29

2.2.1. O Homem e a busca pela felicidade ............................................................................... 30

2.2.1.1. A felicidade e o prazer ........................................................................................ 30

2.2.1.2. A felicidade e a virtude ....................................................................................... 32

3. O PARADIGMA DE FELICIDADE SENEQUIANO .................................................... 35 3.1. Quesito para se Alcançar a Vida Feliz............................................................................... 35

3.1.1. Caminhos para alcançar a felicidade: construção do homem senequiano ...................... 35

3.1.1.1. Aperfeiçoamento ................................................................................................ 36

3.1.1.2. Relação com a natureza ...................................................................................... 37

3.1.1.3. Relação com os indiferentes ............................................................................... 38

3.2. Felicidade Senequiana ....................................................................................................... 39

3.2.1. Quem pode alcançar a felicidade .................................................................................... 39

3.2.2. O homem comum e o paradigma senequiano de felicidade ........................................... 41

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 44

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 45

11

INTRODUÇÃO

[...] o homem feliz [pode ser definido] como aquele para o qual não há

nenhum bem ou mal senão a alma boa ou má, aquele que pratica o bem, que

se contenta com a virtude, que não se eleva nem se abate com as vicissitudes

da fortuna. (SÊNECA, 2009, p. 11)

O “fim” – ao qual os gregos denominam télos – a que todos almejam, e ponto-chave

do pensamento filosófico, é a felicidade (OLIVEIRA, 2010, p. 133). Essa busca é geral e

cremos que seja de senso comum querer alcançá-la. No entanto, nem sempre essa busca inclui

as pessoas de nosso entorno e muitas vezes se traduz em atos egoístas.

Muitos, senão todos, tentam atingir a felicidade através dos prazeres, das riquezas, da

beleza e do poder (SÊNECA, 2014, Carta, 92, p. 464). Não obstante, tendo esses lugares

como alicerce, a felicidade se torna inalcançável ou apenas episódica, momentos alegres que

acontecem de vez em quando.

O presente trabalho versa sobre a questão da busca da felicidade. Precisamente

apresentaremos os lugares onde a felicidade é buscada e se ela é encontrada. Se não o é,

tentaremos entender em que lugar se deve buscá-la. Para tanto, vamos ao encontro de

possíveis respostas e caminhos na filosofia estoica do período romano. Filosofia que postula,

conforme Oliveira (2010, p. 101), uma ética que se propõe a apontar ao homem comum1 um

caminho para o auto-aperfeiçoamento, para a felicidade.

Pretendemos também conhecer os pressupostos estoicos acerca da felicidade e

compreender o paradigma senequiano, questão que nos veio desta possibilidade de uma vida

feliz. Ao lermos algumas das obras de Sêneca, em particular Da vida feliz (2009), percebemos

que ele aponta caminhos e meios para que o homem comum a alcance.

Para entender o que Sêneca tem a nos dizer sobre o que é a felicidade, e como o

homem comum a alcança, desenvolveremos nosso trabalho em três capítulos: primeiramente

apresentaremos os principais pressupostos da filosofia estoica relativos à questão. Em

seguida, apresentaremos o filósofo Sêneca e uma explanação do seu pensamento,

introduzindo reflexões gerais referentes à questão da felicidade. E por fim, buscarmos nos

seus textos as condições que possibilitam a vida feliz.

O primeiro capítulo tem como fim expor a filosofia estoica em geral, sem se deter em

pressupostos e discussões. Para fins didáticos, faremos somente uma breve exposição dos

temas e postulados principais que nos ajudarão a conhecer e entender essa corrente de

1 Conforme Gazolla (1999, p. 85), o homem comum somos todos nós seres concretos que não somos nem

o sábios nem o insensato em sentido absoluto.

12

pensamento. Somente assim teremos base para chegarmos à compreensão do pensamento de

Sêneca, uma vez que, em seus escritos, ele dispensa a apresentação dos princípios do

estoicismo pressupondo que seus leitores já os conheçam (OLIVEIRA, 2010, p. 23).

No segundo capítulo, apresentaremos Sêneca – vida, obra e pensamento – e a questão

da felicidade – compreensão e postulados sobre a mesma. Isto é importante nesse capítulo,

porque queremos buscar respostas no pensamento desse filósofo em particular. Por isso, nos é

conveniente conhecer não só os princípios estoicos, mas como estes estão inscritos no

pensamento de Sêneca e como a felicidade é percebida e buscada.

No terceiro capítulo, focaremos na questão principal: apresentar as reflexões e

apontamentos que Sêneca nos fornece acerca da vida feliz e de como o homem comum a

busca e a alcança.

Este trabalho tem como fonte principal duas obras de Sêneca: Da vida feliz (2009) e

Cartas a Lucílio (2014), obras das chamadas Cartas morais, todas direcionadas a um amigo

de Sêneca, que ele orienta sobre como se deve proceder para se ter uma vida equilibrada, sem

se tornar escravo das paixões. Tomaremos, também, o livro do Prof. Luizir de Oliveira (da

Universidade Federal do Piauí) Sêneca – uma vida dedicada à filosofia (2010), que apresenta

sinteticamente a filosofia estoica, além de ser uma boa introdução ao pensamento de Sêneca.

Utilizaremos outras obras de Sêneca, a saber: Sobre a providência divina (2000); Da

tranquilidade da alma (2013), e Da vida retirada (2013a). Somando-se à nossa bibliografia.

13

1. O ESTOICISMO

1.1.Origem do Estoicismo

O estoicismo, ou Pórtico, teve sua origem em Atenas, no final do século IV e início do

século III a.C. Seu fundador foi Zenão de Cício (336 – 246 a.C.) que era natural de Chipre,

pequena ilha grega pertencente aos colonos fenícios. Zenão chegou a Atenas por volta do ano

316 a.C., e teve contato com diversas correntes filosóficas. Entre elas, podemos destacar os

aristotélicos, os platônicos, os megáricos, os céticos e os cínicos (BRUN, 1986, p 15). Entre

estas linhas filosóficas a que influênciou fortemente o pensamento de Zenão foi a dos cínicos

– na qual Zenão tivera como mestre Crates, grande expoente desse pensamento (1986, p. 16).

Zenão, após aplicar-se à filosofia, começou a ensinar e fundou sua escola filosófica

próximo ao Pórtico Poecilo, lugar que era memorial em homenagem aos mais de mil e

quatrocentos cidadãos atenienses que foram massacrados sob a “Tirania dos Trinta”. Por isso,

os estoicos eram também conhecidos como os filósofos do Pórtico. A fundação dessa escola

aconteceu por volta do ano 300 a.C. (GAZOLLA, 1999, p. 48).

A escola estoica surgiu no momento em que a Grécia passava por grandes

transformações políticas, sociais, culturais e filosóficas, fruto do expansionismo do Império

Macedônio, com Alexandre Magno, e da abertura do mundo heleno às outras culturas,

conforme Oliveira (2010, p. 24). Segundo Sanchez (2000, p. 22) o cidadão grego daquele

período possuía personalidade cívica. Sendo assim, o homem despojado da dimensão pública

não era ninguém, pois sua identidade advinha da pólis. Entre ética e política não havia

distinção, mas a política era, de certo modo, superior à ética em sua dimensão individual. Era

mais importante conquistar o bem para a cidade e o conjunto dos seus cidadãos, objetivo

último da política, que buscar o bem para uma pessoa individualmente.

O grego que tinha sua vida pautada pelos valores da pólis e pela moral do cidadão, se

encontrava desorientado porque a pólis não era mais um referencial para a sua conduta.

A ruptura da identificação entre homem e cidadão [...] teve um aspecto positivo: o

homem foi coagido, pela força dos acontecimentos, a fechar-se em si mesmo, a

buscar no seu íntimo novas energias, novos conteúdos morais e novas metas pelas

quais viver. Assim o homem descobriu-se como indivíduo. (REALE, 1994, p.7)

Surgiu um novo modo de olhar para o mundo e, em resposta a isso, o estoicismo

apresentou um modelo baseado no indivíduo em relação com o Kósmos (OLIVEIRA, 2010, p.

25). A partir das transformações do período Alexandrino, a vida não era mais pautada na

14

moral da pólis e na moral do cidadão, mas passara a ser pautada pela busca do

aperfeiçoamento de si como meio de conferir sentido à sua existência frente ao novo mundo

que se apresentava.

Uma das questões fundamentais que surgem nesse período é a da felicidade

individual, no sentido daquela buscada pelo homem singular participante de uma

comunidade sem, contudo, identificar-se com ela de modo indissociável. Ademais,

diante da impossibilidade de buscar no éthos da politéia os valores e os conteúdos da

própria conduta de vida, o homem vê-se agora coagido, pela força dos

acontecimentos, a fechar-se em si mesmo, a buscar no seu íntimo novos conteúdos

morais e novas metas pelas quais viver. (OLIVEIRA, 2010, p. 25)

O contexto conturbado do século IV a.C., conforme Gazolla (1999, p. 38), se tornou

palco para diversas escolas filosóficas que tentaram dar respostas aos conflitos provenientes

da quebra dos valores da pólis. Nos afirma Reale:

[…] As novas concepções filosóficas, mesmo manifestando-se de formas diversas,

nas diferentes escolas, buscam um ideal de vida que cada homem possa seguir,

extraindo os recursos unicamente de si mesmo […] todas querem ensinar como ser

feliz. (REALE, 1994, p.14 – 15)

O estoicismo era uma dessas correntes que procurou responder aos anseios e medos do

novo cidadão heleno e das novas realidades que se apresentavam.

[…] O homem helenístico procura, face ao mundo ilimitado e a um céu vazio,

alguma coisa a que prender-se, com relação à qual orientar-se; não acha ele outra

solução senão recolher-se em si mesmo e procurar, em si próprio, o princípio de sua

a ação. (MARROU, 1975, p 352)

A escola estoica defende a natureza como elemento balizador, por excelência, do viver

e agir humano (OLIVEIRA, 2010, p. 30). Esta postura se traduz no viver em conformidade

com a natureza. O estoicismo, a exemplo de todas as escolas helenísticas, se incubiu da tarefa

de conduzir o ser humano à felicidade ou de lhe indicar o caminho (2010, p. 28).

1.2.Pensamento Estóico

O pensamento estoico, em particular, distribui seus postulados filosóficos entre

Lógica, Física e Ética, a chamada Triparticipação. Nos diz Oliveira (2010, p. 27) que esta

divisão não se trata de uma fragmentação da filosofia, mas é antes uma abordagem didática.

Nessa abordagem, a filosofia é vista como o corpo de um ser vivo constituído por partes

distintas que desempenham papeis diferentes, porém essas partes não são concebidas

separadamente e se harmonizam entre si (2010, p. 26).

15

Para exemplificar, podemos utilizar a analogia do pomar feita pelos estoicos e

apresentada por Reale. Nela, a lógica representa a cerca que delimita e protege; a física

corresponde às árvores que formam a estrutura fundamental do pomar; e, por fim, a ética

representa os frutos visados por todo o conjunto (2003, p. 281). Cabe-nos, portanto, saber os

principais postulados de cada uma das partes desta filosofia pensada pelos estoicos,

destacando somente aqueles que nos ajudarão a entender e desenvolver a problemática da

felicidade senequiana.

1.2.1.Lógica

A Lógica, pensada pelos estoicos, tem fundamentalmente o papel de estabelecer ou

fornecer um critério de verdade como base para o conhecimento (REALE, 2003, 281). Por

isso, quanto à Lógica estoica, trabalharemos apenas o critério de verdade, não tratando da

questão dos silogismos e outros pontos.

1.2.1.1 Critério de verdade

O critério de verdade no qual se apoiam os estoicos é o da “representação

compreensiva ou catalética” (OLIVEIRA, 2010, p. 39), entendida como o processo de

apreensão, em que a representação compreensiva é fruto do exercício das potencialidades da

alma, ou seja, do lógos da alma. Reale (2003, p. 281) nos diz que, segundo os estoicos, “[...]

a representação veritativa [representação compreensiva] não implica só um 'sentir', mas

postula ademais um 'assentir', um consentir ou aprovar proveniente do lógos que está em

nossa alma”.

Nos diz ainda:

A impressão não depende de nós, mas da ação que os objetos exercitam sobre os

nossos sentidos, mas estamos livres para tomar posição diante das impressões e

representações que se formulam em nós, dando-lhes o assentimento (synkatáthesis)

do nosso lógos ou recusando dar-lhes nosso assentimento. Só quando existe o

assentimento é que temos a 'apreensão' (katálepsis). E a representação que recebeu

nosso assentimento é 'representação compreensiva ou catalética', constituindo o

único critério ou garantia de verdade. (REALE, 2003, p. 281)

O critério de verdade suscita algumas questões relevantes. Por exemplo, “como saber

se uma representação corresponde ao objeto que a gerou?” ou “Todas as representações estão

isentas de erros?” Em resposta a essas questões, Cícero (apud. BRUN, 1986, p, 38) afirma

16

que a “[...] representação [...] é uma impressão que reproduz aquilo donde provém e não pode

exprimir aquilo de que não provenha”. No que diz respeito ao erro, conforme Oliviera (2010,

p. 41), somente serão consideradas representações, aquelas que passam pela aprovação do

lógos, pois é o lógos quem assente ou não as coisas que afetam a alma e é ele quem atesta,

sendo um lógos correto, a veracidade do julgamento frente as representações, quer dizer, a

“[...] katalêpsis [representação compreensiva] só aparece [só se forma na alma] quando o

lógos se exercita com condições necessárias” (OLIVEIRA, 2010, p. 41).

Vale ressaltar que nem todas as representações estão isentas de erros. Há aquelas que

não nascem de um objeto existente ou que, se nascem de um objeto existente, mesmo assim

não possuem clareza nem distinção.

[...] As representações são umas compreensivas, outras não-compreensivas; é

compreensiva a que vem de uma coisa existente e é impressa e gravada em

conformidade com essa coisa. É não-compreensiva a que não vem de uma coisa

existente ou, se vem, não é nítida nem bem gravada. (LAÉRCIO apud GAZOLLA,

1999, p. 114)

Por isso, esta última não recebe o assentimento, pois ela não é compreensiva, e o

critério de verdade, como dito acima, se assenta no trabalho do lógos para acolher ou recusar

uma representação. Na lógica estoica, a representação compreensiva consiste no processo que

passa pela representação até chegar às chamadas “Noções – ennoiaí”.

A partir das representações, os estoicos concebem as noções comuns Koinaí ennoiaí,

que são o princípio da possibilidade de se conhecer uma coisa e formam-se de duas

maneiras: naturalmente physikôs ou por um esforço próprio de instrução e atenção

didaskalías kaí epimeleías. (OLIVEIRA, 2010, p. 42)

Ao citar Aécio, Oliveira (2010, p. 42) nos esclarece que “[...] algumas noções surgem

naturalmente, outras a partir da nossa própria instrução e atenção; estas são chamadas 'noções'

ennoiaí; as outras, prolépseis”. As prolépseis, segundo os estoicos, todos as possuem por

natureza. Elas são quase inatas ao homem. Fora dito quase inatas, pois, conforme Gazolla

(1999, p. 98), elas, não nascem com o homem, mas se formam em todos de maneira natural.

Portanto, são as prolépseis que servirão de base para o surgimento das ennoiaí,

chamadas apenas de noções – fruto do trabalho, da arte e do intelecto humano. Acrescenta

Gazolla:

[...] as noções que se formam pelo trabalho de um demiurgo – pela arte ou téchne –

são compreendidas e recebem julgamento em sua utilidade, firmadas com o auxílio

de uma técnica no uso das representações. Desse modo, elas, secundárias, vêm

somar-se às noções naturais ou koinaì ennoíai. (GAZOLLA, 1999, p. 98)

Esta segunda categoria de noções, as ennoiaí, por serem fruto do trabalho e da arte do

17

homem, colocam o homem no âmbito da moral, uma vez que somente elas o conduzem a um

exercício meticuloso da escolha. Conforme Gazolla (1999, p. 98), “[...] o homem deixado

somente às noções comuns não tem condições para avaliar seus diversos julgamentos e ações

nas mais variadas e imprevisíveis circunstâncias da vida”. Por isso:

Para que haja a ação ética é necessário o esforço da escolha entre as diferentes

phantasíai que se imprimem na alma; é preciso o trabalho seletivo e um critério de

avaliação para nortear a escolha que transcende o solo primário das noções comuns.

Interpretar e agir, além das noções comuns, é esse o solo do esforço ético.

(GAZOLLA, 1999, p. 98-99)

1.2.2.Física

Segundo Brun (1986, p. 47-48), a física estoica é a responsável pela construção da

cosmologia. Algumas das características desta física são o materialismo, o monismo e o

panteísmo. O materialismo consiste em que no cósmos tudo é corpóreo, incluindo a alma e os

deuses (BRUN, 1986, p. 50); o monismo afirma que o cósmos e toda diversidade que há nele

provém de uma única origem, chamada de “razão seminal”, e que, apesar de ser única, contém

todos os “sêmens” que criam a diversidade (REALE, 2003, 285); o panteísmo, enfim,

significa que Deus está no cósmos e o cósmos está em Deus, quer dizer, Deus está em tudo e

em todos. Assim, esse panteísmo postula que Deus não é nem pessoal e tampouco separado de

sua criação (2003, p. 285).

Com o que fora dito, percebemos que não se pode olhar para a física estoica com o

mesmo olhar dos modernos, para quem a física é um conjunto de teorias científicas que

sistematizam as leis. A física estoica é teologizada (BRUN, 1986, p. 47-48).

Da Física estoica trataremos somente dos termos que mais nos ajudarão a entender as

bases sobre as quais Sêneca desenvolveu seu pensamento. Vejamos a seguir os postulados

estoicos sobre o lógos, natureza/physis e simpatia universal.

1.2.2.1. Lógos

O lógos, por um lado, é algo intrínseco à natureza do homem, é o que o diferencia dos

demais animais (BRUN, 1986, p. 62-63). Ele é o responsável por orientar o homem a pôr-se

de acordo com o mundo, a só seguir as inclinações que são conformes à natureza (BRUN,

1986, p. 66). Por outro lado, conforme Brun (1986, p. 56), o lógos é considerado como a

tensão, o sopro vital e divino que preside à organização de tudo. Ele é Deus, é o artifice que

gera o cósmos, e que possui as razões seminais donde provêm todas as coisas geradas

18

(REALE, 2003, p. 285).

O Logos é a um só tempo o princípio da ordem universal, que se manifesta na

simpatia e no acordo de todas as coisas entre si, e a força motriz que faz a unidade

de cada substância real, coesão na pedra, potência vegetativa na planta, sensação no

animal, razão que associa os homens e os deuses. O Logos é a lei do universo, a lei

das cidades e a lei moral: como lei do universo, é tanto destino quanto providência,

[onde] destino quer dizer princípio que subscreve a cada ser e a cada acontecimento

seu lugar, [e] providência quer dizer potência inteligente e boa que tudo criou em

vista dos seres racionais. Lei das cidades, é aquilo que, inato na natureza humana

ordena o que se deve fazer e interdita o contrário. Lei moral é, para o sábio, anuência

à ordem mesma que criou. (BRÉHIER apud NASCIMENTO, 2003, p. 54)

Em suma, o lógos é, ao mesmo tempo, a racionalidade do universo e a divindade

presente no cósmos. Lógos, Deus e Natureza são sinônimos (BRUN, 1986, p. 54).

1.2.2.2. Natureza/physis

O termo natureza – physis – deriva do verbo grego phuein e significa crescer. Este

pensamento que é próprio dos pré-socráticos está presente também no estoicismo (BRUN,

1986, p. 47). Neste sentido, Laércio nos apresenta a natureza da seguinte forma:

[...] eles (os estoicos) chamam natureza quer ao que o mundo contém, quer ao que

produz as coisas terrestres. A natureza é uma maneira de ser que se move por si

mesma segundo as razões seminais, produzindo e contendo as coisas que nascem

dela nos tempos definidos e formando coisas semelhantes àquelas donde foi

destacada. (DIÓGENES LAÉRCIO apud BRUN, 1986, p. 47)

Os estoicos defendem uma interação harmoniosa entre os seres na natureza (BRUN,

1986, p. 56). Ela sendo o lógos divino, destino e providência dispõe todas as partes do mundo

para a completude – o bem – de todos os seres (OLIVEIRA, 2010, p. 30). O homem possui

uma natureza que é parte da natureza universal. Consequentemente, seguindo sua natureza, o

homem também estará seguindo a vontade da natureza universal, que de forma alguma é

contraria ao que é próprio do ser do homem (2010, p. 134). A natureza é, portanto, paradigma

para a conduta do homem comum, porque que a felicidade consiste na conformação às suas

leis (OLIVEIRA, 2010, p. 45).

1.2.2.3. Simpatia Universal

A tese da simpatia universal diz que o todo esta em simpatia consigo mesmo (BRUN,

1986, p. 53). Essa simpatia expressa a conaturalidade de tudo que existe (1986, p. 54).

19

Segundo Brun (1986, p. 53), todas as coisas estão numa interação mútua. O todo está em

simpatia consigo e tudo conspira para o seu bem e, consequentemente, de suas partes. Há uma

simpatia universal entre as coisas e os seres. É com base nesta simpatia universal que os

estoicos postularam um princípio guia para o homem, pois é por meio da simpatia universal

que o homem compreende e se conforma à natureza (BRUN, 1986, p. 76-77). Por isso, nos

diz Brun (1986, p. 54) que é próprio do sábio harmonizar a vida em si mesma, e mantê-la em

simpatia com o universo do qual participa.

1.2.3.Ética

A Ética estoica só será compreensível à luz do conhecimento prévio da Lógica e da

Física, considerando o exemplo do pomar – ilustrado por Reale – que evidencia a relação

entre as três partes da filosofia. Isso inferimos pois, optando pela ordem adotada por Zenão e

Crisipo - Lógica, Física e Ética – (BRUN, 1986, p. 33), entendemos que se a Ética é o fruto

visado pelo conjunto – pelo pomar – que é a filosofia (REALE, 2003, p. 281), não incorremos

em erro ao considerar a Lógica e a Física como fundamentos para a construção Ética.

Para compreender como os estoicos constroem sua ética, iniciamos com o seguinte

pressuposto:

[…] para o Pórtico os julgamentos fundam a chamada escolha ética, e podem ser

livres ou não. Serão livres se houver uma base criteriosa para julgar bem, portanto, é

necessário saber quais os critérios do conhecer e julgar para assentar-se o que seja

uma ação propriamente ética. (GAZOLLA, 2006, p. 187)

Nota-se, nesse pressuposto, que o critério de verdade é também o solo no qual se

desenvolve a escolha ética, pois a “[...] ação moral pressupõe escolha pensada, com esforço e

critérios” (GAZOLLA, 1999, p. 106). Reforçando essa necessidade da escolha criteriosa, nos

diz Gazolla: “[...] quando os estoicos dizem escolhas, não se trata de escolher entre bens e

males, pois se a saúde é um bem e a doença um mal, dizem eles [os estoicos], não se pode

afirmar que houve um árduo exercício para escolher.” (GAZOLLA, 2006, p. 191).

Antes de seguirmos a exposição sobre os elementos da ética estoica se faz necessário

considerarmos a dinâmica dos julgamentos que Cícero nos apresenta sobre a natureza da alma

humana: “[...] de natureza dupla é a atividade da alma: ela reside, em parte, nos apetites – em

grego hormé – que envolvem o homem aqui e ali; por outro lado, (reside) na razão que ensina

e explica o que se deve fazer e evitar [...]” (CÍCERO apud GAZOLLA, 2006, p. 192). No

homem há essa tensão que o levará a um laborioso trabalho no caminho do agir e viver bem.

20

Pois, conforme Gazolla (1999, p. 85), o homem comum transita no dia-a-dia entre mudanças

de estado – da virtude ao vício, da sabedoria à insensatez.

1.2.3.1. Oikéiosis

O princípio da oikéiosis consiste antes de tudo no instinto de sobrevivência que move

os seres vivos a buscarem tudo o que conserva sua vida e a fugir de tudo que a prejudica:

Se observarmos o ser vivente, em geral, constatamos que ele se caracteriza pela

constante tendência de conservar a si mesmo, de "apropriar-se" do próprio ser e de

tudo quanto é capaz de conservá-lo, de evitar aquilo que lhe é contrário e de

conciliar-se consigo mesmo e com as coisas que são conformes à própria essência.

Essa característica fundamental dos seres é indicada pelos Estoicos com o termo

oikéiosis. (REALE, 2003, p. 289)

Sendo o homem um ser racional, para além do puramente biológico, esse princípio se

refere, com maior excelência, aos movimentos da alma, que busca tudo que a conserva e

incrementa e foge de tudo que a prejudica e deforma (REALE, 2003, p. 288). O princípio da

oikéiosis é o solo para o desenvolvimento da Ética estoica, e viver na instância da oikéiosis é

o mesmo que viver segundo a natureza (OLIVEIRA, 2010, p. 44).

1.2.3.2. Vida segundo a natureza

A natureza é harmoniosa, geradora, divina e normativa, é ela quem nutre e faz crescer

tudo (GAZOLLA, 1999, p. 64). Ela é a causa e coesão do todo. Os homens são parte da

própria natureza e podem pensá-la e segui-la (1999, p. 65). Assim sendo, ao notar que está em

relação muito íntima com a natureza e que é parte da mesma, o homem perceberá que ela e

seus desígnios normativos não lhe são estranhos (OLIVEIRA, 2010, p. 35). A vida conforme a

natureza é aquela em que o homem é chamado a viver em harmonia com a natureza universal

(2010, 36). Sendo esse o paradigma pelo qual se devem orientar os homens (2010, 45), e que

a natureza do universo inscreve neles (GAZOLLA, 1999, p. 61).

No conformar-se à natureza universal, o homem compreende que ela “[...] determina

os acontecimentos que sobrevêm no curso da existência humana, e que [ele] deve

necessariamente sofrer, ao passo que a [sua] natureza individual prescreve as ações que ele

deve realizar” (OLIVEIRA, 2010, p. 35). Complementando, nos diz Marco Aurélio: “Cada ser

natural fica satisfeito consigo mesmo quando procede pelo caminho correto, [...] quando

21

acolhe de bom grado tudo aquilo que lhe é designado pela natureza universal” (MARCO

AURÉLIO apud OLIVEIRA, 2010, p. 35).

1.2.3.3. Indiferentes2

Reale nos observa que

[...] todas as coisas que são relativas ao corpo, quer sejam nocivas, quer não, são

consideradas "indiferentes" (adiaphora) ou, mais exatamente, "moralmente

indiferentes". Entre as coisas moralmente indiferentes colocam-se consequentemente

quer as coisas física e biologicamente positivas, como vida, saúde, beleza, riqueza

etc., quer as físicas e biologicamente negativas, como morte, doença, brutalidade,

pobreza, ser escravo ou imperador etc. (REALE, 2003, p. 290)

Os bens e males não têm valor moral, já os indiferentes têm (GAZOLLA, 1999, p.

100). Neste ponto se faz necessário precisar as categorias bens/ males e indiferentes. Brun nos

diz que bem é aquilo pelo qual se pode obter o útil, e o útil é o que está conforme ao sentido

da vida, do destino, da vontade de Deus – a justiça e a injustiça, a coragem e a covardia, a

sabedoria e a ignorância, etc (BRUN, 1986, p. 77). Reale nos diz que os bens são as coisas

vantajosas e úteis, os males as coisas nocivas. No entanto, o homem diferentemente dos

demais animais, além da natureza animal ele tem a natureza racional. Ou seja, no homem há

duas tendências do princípio da oikéiosis, a busca da conservação e incrementação da vida

biológica e da vida da razão (REALE, 2003, p. 289-290).

Os indiferentes, por sua vez, não servem nem prejudicam por si mesmos, mas a partir

do seu uso que eles poderão ser úteis ou prejudiciais à felicidade do homem – a vida, a morte,

a saúde, a doença, a riqueza, a pobreza, etc (1986, 77). Reale, por sua vez, nos diz que os

indiferentes são as coisas uteis à natureza biológica. Por isso ele vai dizer que bem ou mal é

somente aquilo que útil ou nocivo ao logos – o verdadeiro bem será somente a virtude e o

verdadeiro mal será o vício (REALE, 2003, p. 290).

Por isso, nos dizem os estoicos que é no âmbito dos indiferentes que acontece todo o

trabalho da escolha ética (GAZOLLA, 1999, p. 102). Afirma Gazolla: “[…] o homem estoico,

em acordo com a natureza e fortalecido em sua razão, tem a compreensão de que não deve

escolher entre os bens e os males para que sua ação possa ser dita moral” (GAZOLLA, 1999,

p. 100). Porque “[...] quando os estoicos dizem escolhas, não se trata de escolher entre bens e

males, pois se a saúde é um bem e a doença um mal, dizem eles [os estoicos], não se pode

2 Sempre que houver a ocorrência desta palavra no presente trabalho, a colocaremos em itálico por se tratar de um conceito da filosofia estoica.

22

afirmar que houve um árduo exercício para escolher” (GAZOLLA, 2006, p. 191). A escolha

ética pressupõe o exercício seletivo e criterioso (1999, p. 98).

Gazolla, citando Plutarco, nos diz que, para os estoicos, os indiferentes estão numa

categoria intermediária entre bem – a virtude – e mal – o vício (GAZOLLA, 1999, p. 103). No

entanto, ao usarmos a ideia de intermediário, tem-se o risco de pensar os indiferentes como

uma categoria mediadora, como se os indiferentes fossem um meio termo. Gazolla nos

esclarece que o “[...] campo dos indiferentes é uma terceira instância, distanciada dos bens e

males considerados comumente, e não está numa relação de medida entre os bens e os males”

(GAZOLLA, 1999, p. 103).

Os indiferentes não possuem valor por si, o seu valor é dado pelo julgamento que deles

fazemos (OLIVEIRA, 2010, p. 47). Os indiferentes só possuem um valor ou desvalor na

medida em que são uteis ou não à conservação do ser. Assim sendo, dentre os indiferentes há

os preferíveis e os não preferíveis.

[...] As coisas indiferentes são umas a preferir, outras a não preferir: são preferíveis

(proegména) as que têm um valor, e não preferíveis (aproegména) as que são a

desdenhar [...] Um valor é um certo poder secundário, aquele que ajuda a uma vida

conforme à natureza, por exemplo, aquela ajuda que a riqueza ou a saúde podem

trazer para viver conforme a natureza. (LAÉRCIO apud GAZOLLA, 1999, p. 104)

Tudo o que está em conformidade com a natureza física e que garante, conserva e

incrementa a vida – como a riqueza, a saúde, o vigor do corpo e dos membros – são

considerados valores ou preferíveis; enquanto o oposto negativo – a pobreza, a doença, a

debilidade física – são considerados desvalores ou não preferíveis (OLIVEIRA, 2010, p. 48).

Os indiferentes, portanto, devem ser considerados somente como coisas que podem ou não

facilitar a vida conforme a natureza (GAZOLLA, 1999, p. 104).

As coisas preferíveis estão no âmbito das “ações convenientes”. São estas ações que

abrem espaço para uma espécie de virtude humana, que está em paralelo com a virtude

inalcançável do sábio (OLIVEIRA, 2010, p. 48). A ação moral do homem será a “ação

conveniente” capaz de escolher aquilo que esta conforme à natureza. No sábio encontramos a

ação correta por ele possuir a virtude e a sabedoria, ao homem cabe a faculdade de refletir

sobre cada ação a ser tomada nas diversas circunstâncias (2010, p. 48).

1.2.3.4. Sábio

Segundo Sêneca é no sábio que o ideal de virtude se realiza; ainda que este não possua

23

existência efetiva, sendo apenas um horizonte a se buscar (1999, p. 85). Os filósofos não se

dizem sábios, mas alguém que se põe no caminho do aperfeiçoamento, agentes teóricos,

pessoas que podem falar sobre a sabedoria (GAZOLLA, 1999, p. 95). O sábio é aquele que se

conforma à natureza; ele não é escravo do medo e dos anseios dos demais homens, não teme a

morte nem a tortura (BRUN, 1986, p. 85). O sábio, vivendo em harmonia com a natureza,

recebe tudo que lhe advém com tranquilidade, pois compreende as leis da natureza e se

conforma a elas (OLIVEIRA, 2010, p. 99).

O sábio não ocupa seu tempo a não ser em seu aperfeiçoamento e consigo mesmo.

Dizendo assim, parece que o sábio é uma pessoa egoísta. Todavia, isso é uma conclusão

equivocada, pois o princípio da oikeiosis3 não incita o homem a buscar somente o seu bem,

mas também o de seus semelhantes:

O homem é impulsionado pela natureza a conservar o próprio ser e amar a si

mesmo. Mas esse instinto primordial não está orientado somente para a conservação

do indivíduo: o homem estende imediatamente a oikeiosis a seus filhos e parentes e

mediatamente a todos os seus semelhantes. Em suma: é a natureza que, como impõe

o amar a si mesmo, impõe também amar aos que geramos e aqueles que nos

geraram; e é a natureza que impulsiona o indivíduo a unir-se aos outros e também a

ser útil aos outros. (REALE, 2003, p. 291)

Ademais, o sábio é também aquele que busca a sabedoria e a partilha com os que

também a desejam. Sobre isso nos diz Sêneca, se referindo aos grandes pensadores que se

colocaram no caminho do aperfeiçoamento:

[...] Zenão, Pitágoras, Demócrito, Aristóteles, Teofrasto e os demais mestres de

virtude. Nenhum deles deixará de estar à nossa disposição, nenhum despedirá o que

o procura, [...] nenhum permitirá a quem quer que seja partir de mãos vazias; e eles

podem ser encontrados por qualquer homem. (SÊNECA, 1993, p. 47)

Sobre esse espírito de partilha e comunhão entre os homens, diz Sêneca ainda o

seguinte:

[...] aprender dá-me sobretudo prazer porque me torna apto a ensinar! E nada, por

muito elevado e proveitoso que seja, alguma vez me deleitará se guardar apenas para

mim o seu conhecimento. Se a sabedoria só me for concedida na condição de a

guardar para mim, sem a compartilhar, então rejeitá-la-ei: nenhum bem há cuja

posse não compartilhada dê satisfação. (SÊNECA, 2014, carta 6, p. 13)

Por isso vemos que o sábio não busca a sabedoria para guardar somente para si, mas

3 Este princípio é comum a todos os seres viventes, é ele que move os seres vivos a conservarem o seu

ser e fugir de tudo que o prejudica. Nos diz Geovanni Reale que se “[...] observarmos o ser vivente, em geral

constatamos que ele se caracteriza pela constante tendência de conservar a si mesmo, de 'apropriar-se' do próprio

ser e de tudo quanto é capaz de conservá-lo, de evitar aquilo que lhe é contrário e de ‘conciliar-se’ consigo

mesmo e com as coisas que são conformes à própria essência. Essa característica fundamental dos seres é

indicada pelos Estoicos com o termo oikéiosis” (REALE, 2003, p. 289).

24

ele a partilha com os demais homens e, sendo ele um amante da virtude, não seria coerente

padecer do vício que é o egoísmo. Vivendo de acordo com o destino, o sábio acolhe tudo que

advém. O sábio possui tudo de que necessita, por isso ele basta a si mesmo (SÊNECA, 2014,

carta 9, p. 25). Nada o perturba, conservando a serenidade mesmo no sofrimento. Portanto,

podemos dizer que:

[...] o sábio é grande, firme, alto, forte. Grande, enquanto pode conseguir as coisas

que escolhe e se proíbe; firme, enquanto cresceu em todas as partes; alto, enquanto

participa da altura que cabe a um homem egrégio e sábio: forte, enquanto é provido

da força que lhe toca, tornando-se invicto e invencível. Por isso também não é

forçado por alguém nem constrange ninguém, não é impedido nem impede, não

sofre violência de ninguém nem ele próprio com ela ameaça alguém, não é senhor de

ninguém nem tem senhores, não faz mal a ninguém nem ele próprio é disso alvo,

não cai nos males nem neles faz alguém cair, não é enganado nem engana outros,

não mente, nem se esconde de nada, nem lhe foge qualquer coisa, nem

absolutamente admite a mentira; é feliz em máximo grau, afortunado, rico, piedoso,

caro a deus, digno de honra, e além disso régio, condutor hábil, homem político,

hábil administrador, homem de negócios. [...] O sábio faz tudo bem; e, com efeito,

serve-se continuamente, sabiamente, fortemente, convenientemente e

ordenadamente das experiências da vida. (REALE, 2003, p. 299)

1.2.3.5. Insensato

[…] homens cuja natureza embrutecida e cuja ignorância de si próprios os reduzem

ao estado das bestas e dos seres inanimados. Nenhuma diferença existe entre estes e

aqueles, porque estes não têm razão e naqueles ela é deformada e hábil apenas para

perversão, com prejuízo próprio. (SÊNECA, 2009, p. 14)

Diferentemente do sábio, o insensato é aquele que não se preocupa em buscar os

desígnios de Deus/ Natureza, antes foge dele, não segue a razão, busca apenas o que lhe

apraz. Vive instintivamente indo de um lado a outro segundo a paixão que lhe arrasta (BRUN,

1986, p. 59). O insensato é o oposto do sábio. Ele não possui casa, nem cidade, não é

sociável, toda sua opinião é insensata (GAZOLLA, 1999, p. 84).

O insensato tem a mentalidade de massa, seguirá sempre o que a maioria segue.

Afirma Sêneca:

[...] ora, nada nos enreda em maiores males do que o fato de agirmos conforme a voz

comum. Julgamos ser melhor o que é aprovado pelo consenso geral e, assim,

vivemos à imitação dos inúmeros exemplos que se nos apresentam, e não conforme

a razão. [...] é prejudicial ligar-se aos que vão na frente, e, enquanto cada um prefere

acreditar a julgar, o erro, transmitido de mão em mão, nos confunde e precipita no

abismo. Perecemos ao seguir os exemplos alheios; seremos curados, contanto que

nos afastemos da massa. (SÊNECA, 2009, p. 3-4)

Portanto, nos diz Sêneca que o homem insensato vive afastado da reta razão, não se

aproxima da felicidade, nem saberá o que ela é (SÊNECA, 2009, p. 14). O insensato busca a

felicidade na vida prazerosa, nas coisas indiferentes, coisas que só o levarão à escravidão e

25

infelicidade (SÊNECA, 2009, p. 36-37).

Com o conhecimento das principais teses estoicas, apresentadas ao longo deste

capítulo, entendemos que elas são chaves de leitura do pensamento de Sêneca, sobretudo os

postulados da ética. Uma vez que, segundo Luizir de Oliveira (2010, p. 52), o estoicismo, ao

adentrar o âmbito dos romanos, tem fortalecida sua parte ética, isso em detrimento da lógica e

da física, visto que os romanos são mais propensos a uma filosofia que os auxiliassem nos

problemas do dia a dia. Portanto, com os pressupostos da filosofia estoica acima indicados,

temos base para podermos agora compreender o pensamento de Sêneca e sua linguagem

filosófica.

Entendemos que se faz necessário conhecer a vida de Sêneca – inquietações,

contradições, incertezas e dúvidas que muito se refletem em seus escritos – e suas obras

(OLIVEIRA, 2010, 17). Sendo, portanto, este o caminho escolhido para discorrermos mais

adequadamente sobre a felicidade no pensamento desse filósofo.

2. SÊNECA – ESTOICO ROMANO – E A BUSCA DA FELICIDADE

2.1.O Filósofo Sêneca

Uso das palavras do próprio autor para expressar com exatidão o que tratarei neste capítulo:

[...] aprender dá-me sobretudo prazer porque me torna apto a ensinar! E nada, por

muito elevado e proveitoso que seja, alguma vez me deleitará se guardar apenas para

mim o seu conhecimento. (SÊNECA, Cart. 6, 2014, p. 13)

Na vida de Sêneca, encontramos ecos de sua busca do aperfeiçoamento. Segundo

Luizir de Oliveira (2010, p. 56), sua filosofia é prática, quer dizer, é a reflexão sobre o modo

de vida possível ao homem, é a adequação aos postulados e máximas do estoicismo. Sêneca

dedicou toda a sua vida à filosofia, e sua contribuição filosófica e experiências são proveitosas

para todos que consideram a filosofia como forma de compreender o mundo e a própria

existência.

2.1.1.Vida e morte

26

Lucius Aneu Sêneca nasceu em Córdoba, província romana, por volta do ano 4 a.C.,

era de família rica. Seu pai, Marco Aneu Sêneca, era um escritor de renome. Sua mãe, Hélvia

Albina, foi muito importante em sua vida, ainda que pouco se conheça dela. O tratado

Consolação à mãe Hélvia demonstra a significância que sua mãe teve para ele. Sêneca, relata

Oliveira (2010, p. 56), teve dois irmãos, Júnio Galião, a quem dirigirá alguns de seus tratados,

e Marco Aneu Mela, que era pai do poeta Lucano.

Ainda muito jovem, Sêneca foi para Roma, tendo ele ambições de ascender ao posto

senatorial. Em Roma estudou a arte da retórica. Sêneca foi um dos mais brilhantes oradores de

seu tempo. Paralelamente, entrou em contato com a filosofia. Primeiramente teve como

mestre o pitagórico Sócion, de Alexandria, junto ao qual desenvolveu uma forte

espiritualidade que o acompanhou por toda a vida (2010, p. 57).

Sêneca teve outros mestres, Demétrio, filósofo Cínico; Papiro Fabiano, e Átalo,

filósofos estoicos. Desses três, Átalo foi quem mais influenciou sua formação filosófica, tanto

que seus ensinamentos ecoam na principal obra de Sêneca – Cartas a Lucílio – (2010, 57-58).

A característica mais forte herdada de Átalo foi a de que todo conhecimento adquirido tenha

uma aplicação prática na vida. Sêneca recebeu de Átalo esse espírito prático do conhecimento

filosófico, que entende que o conhecimento não é buscado simplesmente por si, mas por sua

aplicação à vida. Portanto, nos diz Oliveira comentando o pensamento de Átalo, “[...] a

erudição pura e simples, desvinculada de uma aplicação na vida ‘prática’, constituía

sobrecargas que a alma teria pesando sobre si” (2010, p. 58).

Átalo e Sócion, filósofos estoico e pitagórico, foram os responsáveis diretos da

conversão de Sêneca ao pensamento filosófico. O espírito de diretor de consciência que

vemos nos escritos de Sêneca, sobretudo em suas correspondências a Lucílio, são os indícios

das marcas deixadas por seus mestres mais significativos (2010, p. 58).

Devido a sua saúde frágil, no ano 25 d.C, Sêneca teve que se retirar de Roma, indo

morar com seu tio, representante legal do império romano no Egito. No Egito, Sêneca

encontrou ambiente propício para a recuperação de sua saúde, bem como para o seu

crescimento intelectual e espiritual, uma vez que lá se encontrava a cidade de Alexandria,

maior centro cultural e intelectual da época (2010, p. 59).

No ano 31 d.C., Sêneca retorna a Roma e retoma suas atividades filosóficas e políticas.

Rapidamente obtém êxito na política de Roma, vindo a entrar para o senado. Isso tudo graças

a sua grande habilidade na retórica e na filosofia. Por sua ascensão no campo político, Sêneca

tornou-se um personagem muito conhecido em Roma e acumulou grande fortuna (LI, 1993, p.

12). No ano 39 d.C., devido a um discurso que proferiu, irritou grandemente o imperador

27

Calígula e quase foi condenado à morte. Isso só não ocorreu porque o imperador, nos diz

Oliveira em nota, foi dissuadido por uma mulher a não mata-lo, pois era enfermo e logo

morreria – esta mulher é apontada como sendo Agripina, irmã do imperador – (OLIVEIRA,

2010, p. 61).

Por volta do ano 41 d.C., devido a conspirações políticas, Sêneca é exilado por oito

anos na ilha de Córsega. Esse período marca o início de sua produção filosófica e literária. O

exílio permitiu a Sêneca dedicar-se à filosofia que, por causa de suas ocupações políticas

passadas, tinha sido negligenciada por um bom tempo (ULLMANN, 1996, p. 11).

No ano 49 d.C., Sêneca retorna a Roma com ajuda de Agripina, sobrinha do novo

imperador, Cláudio. Nessa nova fase, experimentou o poder político e tudo o que isso

implicava. Sêneca será preceptor, ministro e conselheiro do imperador Nero, filho de

Agripina, que só chegou ao trono após manobra de conspiração de sua mãe contra o tio, o

imperador Cláudio, em 54 d.C. (OLIVEIRA, 2010, p. 79).

Conforme Oliveira (2010), Sêneca buscou instruir Nero em tudo aquilo que acreditava

ser próprio de um imperador “benfeitor da humanidade, corajoso e justiceiro” (2010, p. 79).

Contudo, Nero se mostrou o oposto de todas as aspirações morais de Sêneca (2010, p. 89). No

ano 65 d.C., após receber a ordem da própria execução, sendo equiparado, em dignidade e

serenidade, à atitude de Sócrates frente a seus carrascos (2010, p. 93).

Segundo Oliveira (2010, p. 55), Sêneca “[...] destaca-se [como] um homem

profundamente consciente do seu papel como cidadão, como também de um homem que

tentou adequar sua conduta às bases filosóficas adquiridas ao longo de toda a sua vida”.

2.1.2.Pensamento e obra

Segundo Miriam Bernardi Miguel (2005, p. 13), o homem é o cerne da filosofia de

Sêneca. O controle frente às coisas exteriores e também o saber lidar com os acontecimentos e

adversidades da vida humana formam preocupações constantes no pensar filosófico dele. A

felicidade, a sabedoria, a virtude e o aperfeiçoamento dos homens foram suas maiores

preocupações, e por isso procurou orientá-los através de regras de conduta moral, tendo como

medida a própria natureza do homem.

Miriam vai nos dizer, ainda, que:

[A] preocupação pedagógica [de Sêneca] marca sua reflexão filosófica, sustentada

pela razão e pela moral. O ideal formador contido nas ideias de Sêneca apresenta-se

em toda a extensão de sua obra, ora como regras de conduta, ora como sentenças

28

filosóficas, através das quais vai incutindo novos hábitos morais. (BERNARDI

MIGUEL, 2005, p. 13)

O pensamento de Sêneca se expressa em seus escritos, nascidos de situações concretas

fundamentadas e refletidas à luz dos conhecimentos filosóficos. Dos seus tratados filosóficos

podemos destacar os seguintes: Consolação a Márcia, Da ira, Consolação a Hélvia,

Consolação a Políbio, Tratado sobre a clemência, Sobre o ócio, Sobre a brevidade da vida,

Da constância do sábio, Sobre os benefícios, Da providência, Sobre a tranquilidade da alma,

Sobre a vida feliz, Das questões naturais e Cartas a Lucílio (OLIVEIRA, 2010).

Destes, discorremos, rapidamente, apenas os últimos quatro apresentando seus pontos

principais e sua relevância para a nossa pesquisa, uma vez que expressam o pensamento

filosófico de Sêneca no que tange à filosofia como meio para se alcançar a felicidade.

Na obra Sobre a tranquilidade da alma, Sêneca tem como objetivo amenizar as

inquietações que perturbam a alma. Isso ele o faz dialogando com seu discípulo e amigo

Sereno, a quem iniciara no pensamento estoico. Nesse diálogo, Sêneca aborda assuntos

relativos aos remédios oferecidos pela filosofia para a inquietação e a instabilidade da alma

(2010, p. 80).

O tratado Sobre a vida feliz inicia-se com uma dedicação a seu irmão Novato. A

grande preocupação desse tratado, conforme afirma Oliveira (2010, p. 85), é a felicidade

humana, a autocompreensão, o autoconhecimento e a busca de conciliar a filosofia com o

modo de vida, alcançando, assim, a conformação com a natureza. Segundo Luizir, o tratado

Sobre a vida feliz é, também, uma defesa da filosofia e do modo de vida de Sêneca, pois ele

rebate, ao final, críticas que sofre por causa de sua vida política e fortuna. Esse pode ser um

dos motivos pelo quais o autor escreve o referido tratado (2010, 84). Por fim, encontramos

também, neste tratado, uma crítica ao Epicurismo4. Sêneca desenvolve como tese central a

felicidade na virtude e não no prazer como querem os epicuristas (2010, p. 85).

O tratado Das questões naturais foi escrito como preâmbulo ao tratado Cartas a

Lucílio, onde Sêneca demonstra que a natureza é racional (OLIVEIRA, 2010, p. 90). Oliveira

ainda afirma que, neste tratado, Sêneca defende que o “universo não foi feito para os homens,

mas com o bom uso da razão os homens serão capazes de compreendê-lo e de se adequar a

ele” (2010, p. 90).

Dessa forma, é o estudo da natureza universal que permitirá ao homem entender a lei

4 O Epicurismo foi a primeira das grandes escolas helenísticas, em ordem cronológica. Fundada por

Epicuro, essa escola surgiu em Atenas por volta do fim do século IV a. C., algumas décadas antes da criação do

Pórtico (Estoicismo). O lugar escolhido por Epicuro é um prédio com um jardim, nos subúrbios de Atenas. O

jardim estava longe da agitação da vida pública e próximo do silêncio do campo. A felicidade, para essa escola, é

a ausência de dor e perturbação (Cf. REALE, 2003, p. 259).

29

estoica do viver de acordo com natureza. Por isso, dirá Oliveira (2010, p. 90) que

compreender o universo é o caminho mais curto para entender o papel humano nele. Não

abordaremos este tratado no presente trabalho para não perdermos o foco, e não nos

alongarmos muito.

A obra Cartas a Lucílio é composta pelas cartas de Sêneca endereçadas a Lucílio, um

de seus discípulo. Ela foi composta entre os anos 62 a 65 d.C., últimos anos da vida de

Sêneca. Nos diz Mirian Bernardi Miguel (2005, p. 45) que as cartas têm o objetivo de levar

Lucílio à busca do aprimoramento moral, a orientar-se no exercício da vontade, que lhe

possibilita a liberdade, a felicidade, e a atingir a sabedoria e a virtude por meio da filosofia.

Sêneca, com sua vida e escritos, entendeu que é seu dever ajudar aos demais homens,

pois como estoico, e “filósofo educador” (GAZOLLA, 1999, 96), tem um compromisso para

com a humanidade:

[...] estou trabalhando para a posteridade. Vou compondo alguma coisa que lhe possa

vir a ser útil; passo ao papel alguns conselhos, salutares como as receitas dos

remédios úteis – conselhos que sei serem eficazes por tê-los experimentado nas

minhas próprias feridas [...] Indico aos outros o caminho justo, que eu próprio só

tarde encontrei, cansado de atalhos. [...] (SÊNECA, 2014, p. 18-19)

2.2.Perspectivas de Felicidade

Ao iniciarmos nosso estudo sobre a felicidade, somos desde logo interpelados pelos

gregos, que muito discorreram sobre o tema, a buscarmos neles uma reflexão basilar para

nosso estudo. Por isso, para iluminarmos o significado de felicidade lançamos mão da

definição que Reale nos apresenta em seu livro:

Em grego, "felicidade" se diz eudaimonia, que, originalmente, significava ter tido a

sorte de possuir um demônio guardião bom e favorável, que garantia boa sorte e

vida prospera e agradável. Mas os pré-socráticos já haviam interiorizado esse

conceito. Heráclito escrevia que "o caráter moral é o verdadeiro demônio do

homem" e que "a felicidade é bem diferente dos prazeres", ao passo que Demócrito

dizia que "não se tem a felicidade nos bens exteriores" e que “a alma é a morada de

nossa sorte". Com base nas premissas que ilustramos, o discurso de Sócrates

aprofunda e fundamenta esses conceitos de modo sistemático. A felicidade não pode

vir das coisas exteriores, do corpo, mas somente da alma, porque esta e só esta é a

sua essência. E a alma é feliz quando é ordenada, ou seja, virtuosa. Diz Sócrates:

"Para mim, quem é virtuoso, seja homem ou mulher, é feliz, ao passo que o injusto e

malvado é infeliz". Assim como a doença e a dor física são desordem do corpo, a

saúde da alma é ordem da alma, e essa ordem espiritual ou harmonia interior é a

felicidade. (REALE, 2003, p. 97)

Os estoicos, como não poderia ser diferente, assumem essa definição de felicidade,

própria do pensamento grego, pois são os herdeiros dessa e de outras teses dos filósofos

30

clássicos. É a partir delas que desenvolvem seu pensamento como homens do período

helenístico (GAZOLLA, 1999, p. 37).

2.2.1.O Homem e a busca pela felicidade

[...] todos querem viver felizes, mas não têm a capacidade de ver perfeitamente o

que torna a vida feliz. (SÊNECA, 2009, p. 1)

A felicidade muitas vezes é pensada, pelo senso comum, como ausência de dor. Para

os que pensam assim, é feliz aquele que não passa pelo sofrimento – doenças, fatalidades

naturais, morte natural ou fruto da ação humana. Acreditam, ainda, que é feliz quem possui

bens materiais. Também fazem a felicidade residir nas coisas que advêm dos projetos e

desejos realizados; e assim se segue uma lista interminável. Contudo, todos os bens que o

senso comum aspira são passageiros, portanto, não podem ser a causa da felicidade

(SÊNECA, 2014, carta 72, p. 289).

Os estoicos nos dizem que a busca pela felicidade é marcada pelo princípio da

oikeiosis, que move todo ser vivo àquilo que o conserva e incrementa, bem como à fuga de

tudo aquilo que o prejudica (OLIVEIRA, 2010, p. 44). Nos dizem, também, que este princípio

possui duas dimensões: uma referente à razão e outra ao corpo. Quanto a isso, Reale diz:

[…] uma coisa, de fato, é o que promove a conservação e o incremento da vida

animal; outra é o que promove a conservação e o incremento da vida da razão e do

logos. Pois bem, segundo os Estoicos, o bem moral é exatamente aquilo que

incrementa o logos, e o ma1 é aquilo que lhe causa dano. O verdadeiro bem, para o

homem, é somente a virtude; o verdadeiro ma1 é só o vicio. (REALE, 2003, p. 290)

Conforme Cícero (2005, p. 14), os epicuristas defendem que o princípio da oikeiosis

reside em um instinto primeiro de busca do prazer e fuga da dor. Os estoicos, segundo

Oliveira (2010, p. 110-111), defendem que esse princípio reside na tendência de buscar tudo

aquilo que conserva e aperfeiçoa o ser, recusando tudo que o prejudica.

Por um lado, os epicuristas defendem que a felicidade reside no prazer (CÍCERO,

2005, p. 14)). Por outro, para Sêneca e os estoicos ela reside na virtude (SÊNECA, 2009, p.

42). Da reflexão filosófica destacamos essas duas concepções de felicidade: a epicurista –

concepção muito próxima do que pensa o senso comum – e a estoica.

2.2.1.1. A felicidade e o prazer

31

A felicidade, segundo a escola epicurista, está na obtenção do prazer (CÍCERO, 2005, p. 14).

Lúcio Torquato5, epicurista do século 2 a.C., nos diz que é compreensível afirmar que o sumo

bem se encontra no prazer:

Facilmente se pode compreender que o deleite é o sumo bem. Imaginemos um

homem que desfruta de muitos, perfeitos e grandes deleites de alma e de corpo, sem

que nenhuma dor o estorve nem ameace – que estado mais apetecível que o deste

homem poderemos imaginar? Nele haverá necessariamente firmeza de espírito, a

firmeza que não teme a dor nem a morte. (CÍCERO, 2005, p. 18)

E discorrendo sobre a dor:

[…] Imagina, pelo contrário, um homem opresso por dores de alma e de corpo, as

maiores que possam padecer a natureza humana, sem esperança de alívio nem

deleite algum, nem presente nem futuro. E, se de uma vida cheia de dores se deve

fugir, grande infelicidade é, certamente, viver com dor. E, por analogia, devemos

afirmar que o maior dos bens é viver com deleite. (CÍCERO, 2005, p. 18-19)

Por isso, Torquato nos dirá, acerca da conduta do sábio, que “[...] sempre terá o sábio

esta regra: se abandona os deleites, será para conseguir outros, maiores; se sofre as dores, será

para livrar-se de outras, mais duras” (CÍCERO, 2005, p. 15). E ainda afirma, seguindo essa

regra do sábio, que os “[...] deleites não se abandonam senão por outro deleite, maior, e as

dores não se suportam senão pela esperança de livrar-se de outras, também maiores” (2005, p.

16).

Do princípio de busca do deleite, Torquato, nos diz que:

[…] todas as coisas retas e louváveis têm por fim último o viver placidamente.

Sendo este o bem último e extremo que os gregos chamam télos, o qual não se refere

a nenhuma outra coisa, referindo-se antes a ele todas as outras, temos de confessar

que o sumo bem é viver agradavelmente. (CÍCERO, 2005, p. 19)

Com o que fora dito se percebe, nos epicuristas, que a vida feliz é entendida como a

vida no deleite com a ausência de dor e sofrimento. Os epicuristas defendem, ainda, que

praticar o bem, assim como viver na virtude, só tem sentido se isso levar ao prazer.

[...] por que haveremos de hesitar em dizer que se deve apetecer a sabedoria pelo

deleite que proporciona, e que se deve fugir da ignorância pelo incômodo que causa?

E, pela mesma razão, tampouco havemos de dizer que a temperança há de ser

apetecida por si mesma, mas sim porque dá paz à alma e nela instala plácida

concórdia. (CÍCERO, 2005, p. 21)

Não obstante a essa postura dos epicuristas, expressa no que diz Torquato, o próprio

Epicuro entende que o prazer, causa da felicidade, se fundamenta em dois valores centrais:

busca da saúde física – ausência de dor no corpo – e serenidade interior – ausência de

5 Lúcio Torquato é um seguidor e defensor de Epicuro, contemporâneo de Cícero. Torquato aparece na

obra Do sumo bem e do sumo mal de Cícero, quando busca Cícero para debater e conhecer o seu julgamento

acerca das teses de Epicuro (cf. CÍCERO, 2005).

32

perturbação na alma (REALE, 2003, p. 269). Além disso, Epicuro nos diz em sua carta a

Meneceu, um de seus discípulos:

Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres

dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, [...] mas ao prazer

que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Não são, pois,

bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor

dos peixes ou das outras iguarias de urna mesa farta que tomam doce uma vida, mas

um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e

que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma

conta dos espíritos. (EPICURO, 2002, § 20, p. 43)

Quanto à questão da relação entre felicidade e prazer, ainda que combata

energicamente os epicuristas, como veremos mais adiante, Sêneca (2009, p. 33) não condena

Epicuro por dar valor ao prazer na obtenção da felicidade, pois reconhece que os preceitos de

Epicuro são retos e nobres e até severos, posto que ele atribui ao prazer a mesma lei que os

estoicos atribuem à virtude, isto é, obedecer à natureza. Sêneca (2009, p. 34) acrescenta que a

escola de Epicuro está com a fama manchada, não por que de fato pregue a perdição, mas

porque o prazer levanta muita suspeita, e isso gera uma opinião injusta ao que Epicuro de fato

deseja transmitir.

Sêneca demonstra uma honestidade intelectual muito grande ao falar positivamente do

fundador de uma das correntes que ele tanto vai combater na defesa de sua concepção

(SÊNECA, 2009, p. 33).

2.2.1.2. A felicidade e a virtude

Ao falar da felicidade na virtude, Sêneca nos diz que o “[...] homem feliz [é] como aquele

para o qual não há nenhum bem ou mal senão a alma boa ou má, aquele que pratica o bem,

que se contenta com a virtude [...]” (SÊNECA, 2009, p. 11). Sêneca defende que a felicidade

está no viver virtuosamente. Situar o sumo bem no prazer se está sujeitando o que é mais

elevado à fortuna (2014, 2014, carta 9, p. 25-26).

O prazer consiste na mudança, pois se extingue quanto mais se deleita. O bem

supremo não é assim, ele não é oscilante, ele é permanente, um estado sempiterno, não

podendo residir em algo tão instável como o prazer (SÊNECA, 2009, p. 19). O sumo bem, por

residir na virtude, leva o homem a uma tranquilidade que não é sujeita aos ataques da fortuna

e do destino, por isso mesmo ele não pode ser interrompido, nem diminui ou aumentar de

intensidade (SÊNECA, 2014, carta 92, p. 469). O homem virtuoso mantém o mesmo ânimo

tanto no sofrimento quanto na tranquilidade. O homem virtuoso sofre os infortúnios com

33

fortaleza e firmeza de caráter. As feridas dos contratempos da fortuna são lhe iguais à ferida

superficial, não o atingem em profundidade (2014, carta 72, p. 285).

Para Sêneca e os estoicos, a felicidade é a vida tranquila, que não se abala com os

infortúnios (Carta 92, p. 462). E a vida tranquila só possível a partir da vida virtuosa (p. 469).

Os epicuristas poderiam questionar: como pode ser a virtude o bem último se ela é buscada

pelo prazer que ela gera? Como vimos no tópico anterior, os epicuristas defendem que a

sabedoria, as temperanças e todas a virtudes não são buscadas por si mesmas, mas pelo prazer

que elas geram.

O filósofo Cícero postula que a virtude não é buscada em vista de algo superior a ela.

Em sua obra Do sumo bem e do sumo mal, Cícero responde aos epicuristas afirmando que:

[...] as virtudes, que a razão quis que fossem senhoras de todas as coisas, e tu que

sejam satélites e ministros do deleite; declararão todas, em uníssono, que o deleite

não só não pode consistir no sumo bem que buscamos, mas nem sequer fazer

depender dele a honestidade. (CÍCERO, 2005, p. 51)

Sêneca, tal como Cícero, postula que a busca da vida feliz reside na virtude, que é o

bem maior, e que não há nada além dela que possa tornar a vida mais feliz (SÊNECA, 2009,

p. 24-25). Para Sêneca e os estoicos, o objeto do princípio da oikéiosis é a virtude, que é

buscada por ela mesma e não por algum bem que dela provenha, ainda que isso ocorra.

Sêneca afirma que “[...] a virtude não é buscada por dar prazer, pois não é só este que ela

produz: não se afadiga por ele, embora, tendo em vista outro objetivo, também alcance o

prazer. [...] o prazer não é recompensa nem a causa da virtude, mas um elemento acessório”

(SÊNECA, 2009, p. 23-24).

Quando se lhe pergunta o que ele busca na virtude, responde Sêneca: “[...] Ora, estás

perguntando por algo acima do que é maior. O que procuro através da virtude? Ela própria. A

virtude nada tem de melhor, é a recompensa de si mesma” (SÊNECA, 2009, p. 24).

Para Sêneca a virtude não é buscada por gerar algo além dela mesma. Sêneca admite

que a vida conforme a virtude vem seguida de certo prazer, no entanto, não admite que o

prazer é o princípio-guia da vida feliz (2009, p. 23-24). Sobre isso, Sêneca acrescenta:

[...] Por isso os antigos recomendaram seguir o melhor modo de vida, não o mais

agradável, de sorte que o prazer não seja o guia da reta e boa vontade, mas o

companheiro dela. Devemos ter a natureza como guia: a razão a observa e consulta.

(2009, p. 20)

Nessa perspectiva, percebemos que a felicidade se relaciona a uma vida honrada e não

a uma vida agradável. Esta vida honrada não é outra senão aquela vivida na virtude, o que

34

essa vida nos chama a fazer? A nada julgar como bem ou mal, a não ser o que ocorre por

causa da virtude ou do vício (2009, p. 42).

Ao se pensar nos bens, somos direcionados a discorrer sobre os indiferentes, já

tratados no capítulo anterior, por eles terem uma relação muito estreita com os bens e os

males. Lembramos que os indiferentes não acrescentam nem diminuem a felicidade, uma vez

que estão mais relacionados ao corpo do que à alma. Sêneca nos diz:

[…] Por exemplo, o que nos impede de dizer que a vida feliz é a da alma livre e

elevada, intrépida, constante, inacessível ao medo e à cobiça, que tem por único bem

a virtude e por único mal a torpeza e o ajuntamento vil de coisas, que nada subtrai

nem acrescenta à felicidade, ao vir e ir sem acréscimo nem detrimento do sumo

bem? (SÊNECA, 2009, p. 12)

Sêneca procura mostrar como se deve proceder diante dos indiferentes na construção

da vida feliz. Portanto, conhecendo-os, é preciso estabelecer duas posturas. Na primeira,

entende-se que há aqueles que são “preferíveis”, não por serem bons, mas porque com eles há

uma facilitação da vida biológica. Na segunda, entende-se que há aqueles que são “não

preferíveis”, não por serem males, mas porque com eles a vida biológica é dificultada, sem,

contudo, perturbarem a felicidade (CHAVES, 2012; OLIVEIRA, 2010, p. 48).

Para exemplificar “preferíveis” e “não preferíveis” apresentaremos dois indiferentes: a

riqueza e a pobreza. Referente a eles, Sêneca nos diz que o sábio preferirá a riqueza à

pobreza. Não que precise de uma e tema a outra, mas porque com a riqueza há um exercício

maior para a virtude (SÊNECA, 2009, p. 57). Sendo assim, Sêneca (2009, p. 40-41) afirma

que é a virtude que nos mantém firmes no caminho do aperfeiçoamento, suportando as

adversidades da vida sem resignação e com alegria, reconhecendo que tudo que nos advém

faz parte da lei da natureza.

Portanto, para Sêneca o fim buscado pelo princípio da oikeiosis6 é o viver de acordo

6 O princípio da oikeiosis, segundo Sêneca e os estoicos, visa, com maior excelência, a busca de tudo o que conserva e incrementa a alma ou a fuga do seu contrário (REALE 2003). Contudo, há que nos perguntarmos se a primeira dimensão da oikeiosis – a busca da conservação e incrementação da vida biológica – tem lugar no caminho para o aperfeiçoamento traçado por Sêneca e os estoicos. Sabe-se que, para se lançar no caminho do seu aperfeiçoamento, o homem necessita, primeiramente, ter tranquilidade no que diz respeito às coisas básicas para sua vida biológica. Nos pergunta Sêneca: “[...] Sabes quais os limites que a lei natural nos impõe? Não passar fome, nem sede, nem dor” (SÊNECA, 2014, p. 9), e nos diz, ainda, que “[...] é antinatural torturar o próprio corpo, [e] repelir os cuidados elementares [...]” (2014, p. 11). Há coisas básicas e essenciais para a vida biológica, por exemplo o alimento, a água. O homem não pode viver sem essas coisas. Contudo, para ter uma vida feliz, ele precisa de algo além da comida, bebida e vestimenta (2014, carta 9). O alimento, a água, e a vestimenta proporcionam a tranquilidade da vida biológica, mas e a tranquilidade da alma? O homem não é meramente um animal, para o qual basta apenas o básico para o corpo (OLIVEIRA, 2010). Sêneca dá mais ênfase à dimensão ontológica do princípio da oikeiosis, no entanto, não negligencia a dimensão biológica, pois entende que para a tranquilidade do corpo se precisa de muito pouco (Carta 17). O homem não precisa de um alimento requintado, ele precisa de um alimento que garanta a sua vida (Carta 4). Sêneca defende, no princípio

35

com a natureza, ou a vida virtuosa (OLIVEIRA, 2010, p. 108). E viver de acordo com a

natureza é viver feliz, pois “[...] a harmonia com o cosmo é a aquisição da felicidade” (2010,

p. 44). A felicidade do homem comum diz respeito à sua relação com a natureza. Isso exigirá

dele grande esforço e trabalho para conformar-se aos desígnios dela (2010, p. 98-99).

Ser virtuoso é ser feliz, no entanto, ninguém nasce virtuoso (2010 p. 122). Para se

chegar à virtude, se faz necessário um longo percurso. A filosofia tem o papel de formar a

consciência do homem comum, conduzindo-o à sabedoria, à virtude, entendidas como o sumo

bem (SÊNECA, 2014, carta 88, p. 424). Sendo assim, do pensamento de Sêneca,

perceberemos que o caminho da felicidade passa necessariamente pela compreensão

filosófica, isto é, pelo conhecimento que a filosofia proporciona (2014, carta 90, p. 439).

3. O PARADIGMA DE FELICIDADE SENEQUIANO

3.1.Quesito para se Alcançar a Vida Feliz

Conforme Reale (2003, p. 289), tanto para os estoicos quanto para os epicuristas, o

escopo do viver é a obtenção da felicidade. A partir das afirmações de Sêneca, percebemos

que suas argumentações acerca da felicidade têm raízes no pensamento dos filósofos gregos

do período clássico. Podemos ver essa herança no que nos diz Reale acerca desse pensamento:

[...] o homem virtuoso [...] "não pode sofrer nenhum mal, nem na vida, nem na

morte". Nem na vida, porque os outros podem danificar-lhe os haveres ou o corpo,

mas não arruinar-lhe a harmonia interior e a ordem da alma. Nem na morte, porque,

se existe um além, o virtuoso será premiado; se não existe, ele já viveu bem no

aquém, e o além é como um ser no nada. De qualquer forma, Sócrates possuía firme

convicção de que a virtude já tem o seu prêmio em si mesma, isto é,

intrinsecamente. Portanto, vale a pena ser virtuoso, porque a própria virtude já

constitui um fim. E, sendo assim, para Sócrates o homem pode ser feliz nesta vida,

quaisquer que sejam as circunstâncias em que lhe cabe viver e seja qual for a

situação no além. O homem é o verdadeiro artífice de sua própria felicidade ou

infelicidade. (REALE, 2003, p. 97-98)

3.1.1.Caminhos para alcançar a felicidade: construção do homem senequiano

da oikeiosis, a busca das coisas da alma, todavia, conclusão óbvia, para buscar as coisas da alma, ter uma vida feliz, virtuosa, o homem precisa estar vivo.

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Sêneca nos mostra que muitas são as coisas que, aparentemente, perturbam o homem

comum (SÊNECA, 2014, carta 91, p. 457). Uma vez que ele concebe a felicidade como a

ausência de dor e sofrimento, a exemplo do pensamento epicurista.

O homem comum muitas vezes se abala por colocar sua felicidade nos indiferentes.

Isso ocorrerá se houver um erro de julgamento, que o levará a denominar tais coisas de males

ou bens, desejando umas, temendo e fugindo de outras (CHAVES, 2012, p. 18). Nos diz

Sêneca que aquele que se aparta da virtude e da conformidade com a natureza, jamais

experimentará a felicidade (OLIVEIRA, 2010, p. 135).

Por isso, o homem precisa entender que a natureza se concentra em dispor as coisas

em vista da felicidade do universo, que também será a felicidade do homem. Oliveira (2010,

p. 121) ressalta que, para Sêneca, a “[...] natureza universal é sempre boa: aquilo que ela quer

é bom para o universo, e aquilo que é bom para o todo também o é para cada uma de suas

partes”.

Para entender tais princípios, o homem necessitará passar por um processo formativo

que o levará a harmonizar sua natureza com a natureza universal. Nos diz Gazolla (1999, p.

73) que é preciso que o homem aprenda sobre a natureza universal e a singular, para que

possa escolher entre harmonizar-se com o todo e ser virtuoso ou ignorar a busca dessa

harmonia e padecer os males.

Nos diz Oliveira, apresentando algo que é próprio da condição humana:

A razão, enquanto natureza do homem, compreende a natureza universal e se

conhece como parte dela. Enquanto cada indivíduo vela por sua própria conservação

e vantagens, a natureza comum vela pela conservação do universo. Se a natureza

humana é parte da natureza do todo, o homem não negligenciará o que concerne à

sua própria conservação e vantagens pessoais, na medida em que essa conservação

interessa à ordem do mundo. (OLIVEIRA, 2010, p. 134)

3.1.1.1. Aperfeiçoamento

O primeiro caminho para a felicidade é querer sair do senso comum; para isso, é preciso

recorrer à filosofia. Segundo Sêneca (1993, p. 53), a filosofia levará a todos que a ela se

dedicam ao amor e à prática das virtudes, ao esquecimento das paixões, ao saber viver e

morrer, ou seja, é a filosofia que nos abre os olhos para a verdade:

[...] O objetivo da filosofia consiste em dar forma e estrutura à nossa alma, em

ensinar-nos um rumo na vida, em orientar os nossos atos, em apontar-nos o que

devemos fazer ou pôr de lado, em sentar-se ao leme e fixar a rota de quem flutua à

deriva... Sem ela ninguém pode viver sem temor, ninguém pode viver em segurança.

A toda hora nos vemos em inúmeras situações em que carecemos de um conselho:

37

pois é a filosofia que no-lo pode dar. (SÊNECA, 2014, carta 16, p. 55)

Diante do destino, dos ataques da fortuna e tantas outras situações adversas, é a

filosofia quem nos levará a refletir sobre a situação, bem como guiará nosso proceder, para

que possamos ter a tranquilidade de passar por tudo conservando em nossa alma a serenidade:

[...] Quer nos determine a lei inexorável do destino, quer algum deus moderador do

universo ordene todos os acontecimentos, quer seja o acaso que, desordenadamente,

empurre aos baldões o curso da vida humana, a filosofia deverá proteger-nos. Ela

nos incitará a obedecer espontaneamente à divindade, a resistir a pé firme à fortuna;

ela nos ensinará a seguir a divindade, ou a suportar o acaso. (2014, p. 55 – 56)

É a filosofia, segundo Sêneca (2014, carta 37, p. 132), que indica a todos – que

desejam a liberdade, a salvação, a vida segura e feliz – o caminho para escapar do inevitável,

das investidas da fortuna. A filosofia levará todo aquele que a ela se confia a compreender os

desígnios da vontade universal, para que não seja arrastado a contragosto:

[…] Terá impresso na alma aquele velho preceito: segue a Deus. Todo aquele,

porém, que se queixa, chora e geme, é obrigado a cumprir as ordens à força e

arrastado, a contragosto, a fazer o que é ordenado. Ora, que loucura ser arrastado em

vez de seguir! É igualmente grande insensatez e ignorância da própria condição

afligir-te com algo que te falta ou te acontece de penoso, como te admirares ou te

indignares com o que sucede tanto aos bons quanto aos maus. Falo das doenças, das

mortes, das fraquezas e de outras adversidades que ocorrem na vida humana.

(SÊNECA, 2009, p. 41-42)

Acrescenta Sêneca, exortando os homens a não se deixarem abalar diante das

adversidades:

[…] Tudo o que devemos sofrer em virtude da constituição do universo, abracemos

com ânimo generoso; fomos levados a tomar este compromisso: suportar a nossa

condição mortal e não nos perturbar com o que não podemos evitar. Nascemos numa

monarquia: a liberdade consiste em obedecer a Deus. (p. 42)

Portanto, diante de tudo o que nos possa advir do destino e da fortuna, é a filosofia

quem nos guiará com ânimo inabalável, mostrando-nos a verdade sobre Deus, o cósmos e

sobre nós mesmos.

3.1.1.2. Relação com a natureza

O segundo caminho é entender a relação do ser humano com a natureza. É

compreender, iluminado pela filosofia, que a vontade da natureza universal coincide com a

vontade da natureza humana: “[...] o lógos individual [natureza individual ou natureza

humana] amolda-se ao lógos universal [natureza universal], pois são uma e a mesma coisa”

38

(OLIVEIRA, 2010, p. 98).

A partir da relação com a natureza, Sêneca nos diz que tudo o que sucede ao ser

humano, seja favorável ou desfavorável, não é para a sua destruição ou infelicidade, mas para

exercitá-lo, tornando-o forte diante da existência que muitas vezes o colocará em situações

difíceis:

[...] sem adversário a coragem [a virtude] definha: somente fica claro o quanto ela é

grande e a quanto chega seu poder quando ela mostra, ao suportar o sofrimento, de

que é capaz. É bom que saibas que o mesmo deve fazer os homens de bem: que não

se apavorem diante dos fardos duros e difíceis nem se queixem do destino; o que

quer que ocorra tomem por bem, convertam em bem; o que importa não é o que,

mas o modo como tu suportas. (SÊNECA, 2000, p. 25)

Sêneca nos mostra a importância dos acontecimentos adversos para que se exercite a

virtude. E segue nos dizendo que Deus é como um pai que quer os seus filhos experimentados

nas mais diversas situações para que não se abalem diante dos ataques da fortuna:

[…] Não vês como os pais mostram sua afeição de um modo, e as mães de outro

bem diferente? Os pais ordenam que os filhos sejam acordados logo cedo para

enfrentar as obrigações, não toleram que eles fiquem ociosos inclusive nos dias de

folga e arrancam deles suor e até mesmo lágrimas; mas as mães querem acalentá-los

no seio, deixá-los à sombra, e desejam que eles nunca se entristeçam, nunca chorem,

nunca se esfalfem. É com espírito de pai que deus se volta aos homens de bem. Ele

os ama profundamente, dizendo: “Que sejam atormentados por sacrifícios, dores e

flagelos, para que adquiram um verdadeiro vigor”. [...] quem teve uma briga

incessante com seus infortúnios criou uma couraça pelas injúrias e não cede a

nenhum mal: mesmo quando cai, luta de joelhos. (2000, p. 25)

O mal nada mais é que uma ocasião para o exercício de nossa paciência, força e

temperança. Por isso, em sua relação com a natureza, o homem deve considerar que esta não

trabalha em seu prejuízo, antes busca torná-lo mais forte e assim livre diante da existência e

capaz de alcançar a felicidade.

3.1.1.3. Relação com os indiferentes

Os indiferentes estão numa estreita relação com tudo que o homem comum concebe

como felicidade, pois tudo o que é referente ao corpo é o que pode trazer-lhe a felicidade ou

tirá-la (SÊNECA, 2014, carta 118, p. 661). Por isso, teme a morte, a doença e a pobreza. E,

por outro lado, deseja a riqueza, a saúde e a vida (CHAVES, 2012, p. 18). Todavia, essas

coisas são externas ao homem e, se a felicidade está na vida virtuosa e em tudo que

incrementa a razão, pode-se dizer que do mesmo modo que se é feliz na saúde se pode ser

feliz na doença, e, da mesma maneira que se pode ser feliz na riqueza, também é possível ser

39

feliz na pobreza (2012, p. 17). Sêneca vai dizer que, para se relacionar bem com os

indiferentes, o homem precisa conhecer essas disparidades e, assim, dar a eles o seu lugar

(SÊNECA, 2014, carta 66, p. 246-247).

Sêneca não diz que se deve ser alheio aos indiferentes, pois o homem se encontra em

um mundo de coisas indiferentes (CHAVES, 2012, p. 18), mas que se estabeleça uma relação

de valorização e desvalorização mediada pela virtude (SÊNECA, 2014, carta 82, p. 363).

3.2.Felicidade Senequiana

Ao buscarmos em Sêneca uma reflexão acerca da felicidade, bem como a

possibilidade desta, precisamos considerar primeiramente que, segundo o sistema filosófico

do estoicismo, o cósmos, que compreende o todo que é a existência – Deus, o homem e o

universo –, se organiza em um conjunto harmonioso (BRUN, 1986, p. 53). Consideremos

também que esse conjunto conta com uma Providência, expressão da própria divindade, que

faz todas as coisas da melhor forma possível, e que concede a tudo que há no cósmos as

capacidades para desempenhar a sua função nesse conjunto. Nesse contexto, surge também o

destino como a realidade natural inscrita na estrutura do mundo, sendo ele quem liga os seres.

O destino é que dá a cada uma o seu papel no cósmos (1986, p. 56.59).

Devemos lembrar, ainda, do princípio da oikéiosis, denominação estoica, que é a

tendência de todo ser vivo em apropriar-se do seu próprio ser e amá-lo, em conservá-lo e

incrementá-lo, desejando as coisas que o favorecem e rejeitando as coisas que lhe são

contrárias (OLIVEIRA, 2010, p. 43). É dever do homem, consciente desse todo harmonioso,

orientar a sua natureza a alcançar o seu fim na existência.

A finalidade do cósmos é levar tudo à felicidade (OLIVEIRA, 2010, p. 121). Disso

inferimos que, ao romper com esse processo conatural a ele e ao cósmos, o homem estará se

afastando da felicidade, estará indo contra a sua própria natureza, o que é bom para o todo é

bom para o homem. Por isso, Sênecanos diz: “[...] A sabedoria consiste em não se desviar

dela [a natureza] e em se regular segundo suas leis e exemplos” (SÊNECA, 2009, p. 9).

3.2.1.Quem pode alcançar a felicidade

O sábio é aquele que alcança a felicidade e é o único que a experimenta plenamente

(OLIVEIRA, 2010, p. 136). No entanto, para Gazolla (1999, p. 71), ele é apenas um

40

referencial ideal. Não existe e nem se sabe se existirá. O homem comum se localiza entre o

sábio e o insensato. Ora inclinado para a sabedoria, ora inclinado para a insensatez. Ele é o

campo da Paidéia estoica, do filósofo educador (1999, p. 85). O homem não nasce virtuoso,

mas possui tudo aquilo que lhe permite adiquirir a virtude, pois ele possui um instinto que

reconhece o bem (OLIVEIRA, 2010, p. 122)

No caminho de busca da virtude, para além da perfeição do sábio, um elemento que

diferencia o sábio do homem comum é o modo como ele percebe essa busca, pois o sábio

entende que o que vale é tentar ser virtuoso, ou seja, o que importa é o caminho para a

virtude, enquanto o homem comum considera como mais importante o atingir a virtude:

[...] a diferença entre o sábio e o homem comum é que este [o homem comum] tem

por importante atingir o fim a que se propõe, ao passo que aquele, o sábio, percebe

que o importante é tentar atingi-lo. [...] para o estoicismo, não se deve julgar se uma

ação é reta ou não pelo seu êxito ou por alcançar o resultado a que se propusera, mas

pelo seu móbil. Como bem lembra Cícero, o que parte da virtude deve ser

considerado correto, não pelo seu cumprimento, mas pela intenção de cumpri-lo.

(OLIVEIRA, 2010, p. 49)

Diante disso, percebemos que o homem comum deve valorizar mais o caminho de

busca da felicidade, da virtude e aperfeiçoamento, do que pensá-los somente como fim. Aqui

parece residir a felicidade possível ao homem comum, pois, como já falamos, somente o sábio

atinge a virtude. Ao homem comum resta o caminho a trilhar:

[...] Nós, os homens comuns, somos aqueles que transitam no dia a dia,

potencialmente entre as mudanças de estado, da virtude ao vício, da sabedoria à

insensatez. Somos o campo de exercício da pedagogia estoica e temos a physis como

fundamento para garantir a possibilidade do ensinamento da virtude, porém nunca

sua posse permanente. (GAZOLLA, 1999, p. 85)

O homem comum não atinge a virtude. Mas como já dissemos, ele ora está mais na

direção da virtude, ora não. Sêneca, fundamentando-se no ideal do sábio, mostra-nos que o

homem comum constrói o seu ser seguindo esse ideal, tanto em seu agir quanto em seu

querer. Por isso, ao nos apresentar os princípios que devem mover o homem comum, afirma:

[…] O homem incorruptível deve ser superior às coisas externas e admirar apenas a

si mesmo; que ele tenha ânimo confiante e esteja preparado para o êxito e o fracasso,

que ele seja o artífice da sua própria vida. Que sua confiança não seja desprovida de

prudência, nem sua prudência destituída de firmeza: suas determinações devem

permanecer para sempre, e não deve haver nenhuma rasura nos seus decretos.

(SÊNECA, 2009, p. 21)

Sêneca se espelha no sábio e o seu modelo nos aponta para a interioridade do homem,

evidenciando que o homem precisa buscar os bens dentro de si mesmo (CHAVES, 2012, p.

51). Desse modo, o cuidado que o homem tem consigo, “[...] ao mesmo tempo em que

41

proporciona a ele a realização da sua natureza, também o faz compreender a sua condição. A

razão o torna forte para suportar aquilo que não é possível mudar e para alcançar a sabedoria e

a virtude.” (CHAVES, 2012, p. 51-52).

O homem comum será capaz de alcançar a felicidade caso se deixe guiar pela razão

perfeita, pois é ela o seu bem especifico que o levará a realizar o seu ser, realizar o seu fim e

entrar em harmonia com a natureza humana (SÊNECA, 2014, carta 76, p. 315). Segundo

Rachel Gazolla (1999, p. 91), o homem comum pode ou não agir conforme a natureza; se

assim o fizer, configurar-se-á como virtuoso. Estando sob o domínio das paixões7 será

considerado insensato. Mas se agir segundo o cosmo, será considerado sábio.

3.2.2.O homem comum e o paradigma senequiano de felicidade

O paradigma estoico da vida segundo a natureza – reinterpretado por Sêneca, junto

com todo arcabouço da moral estoica, para o homem romano e suas dificuldades da vida

prática (OLIVEIRA, 2010, p. 52) – é apresentado como o caminho para a vida feliz, o

soberano bem (2010, p. 100). Viver segundo a natureza é o mesmo que viver virtuosamente.

Isso se verifica no que diz Sêneca a respeito do sábio: “[...] O homem sábio conhece o

universo, compreende as leis da physis e se conforma a elas de maneira única e total.

Compreende que não existe outra forma de viver virtuosamente (moralmente) que esteja

dissociada dessa comunhão com o todo” (2010, p. 98).

O homem pode pensar a natureza e segui-la (GAZOLLA, 1999, p. 65). Para o homem

ser virtuoso e seguidor da natureza, basta querer:

[...] Aquilo que pode fazer de ti um homem de bem existe dentro de ti. Para seres um

homem de bem só precisas de uma coisa: a vontade. Em que poderás exercitar

melhor a tua vontade do que no esforço para te libertares da servidão que oprime o

gênero humano [...]. O bem que é a liberdade terás tu de dá-lo a ti mesmo, de o

reclamar a ti mesmo. (SÊNECA, 2014, carta 80, p. 345)

Para o homem comum alcançar a felicidade não bastam os postulados, os

conhecimentos ou a filosofia, pois estes nada podem fazer se no homem não houver a vontade

para aproveitá-los.

[...] Sabes porque é que consideramos impossível dominarmo-nos a nós mesmos?

Apenas porque não acreditamos sermos capazes de o fazer. Mas não só! Há mais um

fator a ter em conta: nós defendemos os nossos vícios porque os amamos, e

preferimos desculpá-los a livrarmo-nos deles! A natureza deu-nos energia suficiente.

7 Movimento a-racional da alma humana que contraria a natureza (GAZOLLA, 1999, p. 136)

42

A questão está em aproveitá-la, em juntar todas as nossas forças e pô-las ao nosso

serviço ou, pelo menos, em não as virar contra nós mesmos. A falta de forças não

passa de pretexto; o que temos na realidade é falta de vontade. (Carta 116, p 646–

647)

Não obstante, ao mesmo tempo que nos diz que basta querer, nos fala também da

necessidade de um tutor:

[...] Os espíritos mais fracos [os homens comuns], contudo, necessitam de alguém

que os guie, dizendo: “Deves evitar isto, deves fazer aquilo”. Além disso, se

quisermos esperar a altura em que, por nós mesmos, saibamos qual o melhor modo

de agir, iremos entretanto cometendo erros [que] impedir-nos-ão de atingir um ponto

em que possamos estar contentes conosco; devemos deixar-nos guiar enquanto ainda

estamos aprendendo a guiar-nos por nós mesmos. Também as crianças aprendem a

escrever pelo exemplo: pega-se-lhes nos dedos, a mão do mestre guia-os sobre os

desenhos das letras, depois diz-se-lhes que imitem o modelo apresentado, e que por

ele corrijam a sua caligrafia. Um tal auxílio deve ser dado ao nosso espírito

enquanto aprende a guiar-se por um modelo. (Carta 94, p. 495)

Sêneca (2014, Carta 25, p. 97) reconhece que o caminho para a virtude é de

responsabilidade pessoal, mas um guia que já esteja mais adiantado no caminho do

aperfeiçoamento é muito importante desde que não se abdique do esforço pessoal: “[...] Ainda

resta muito trabalho a fazer. Se desejas atingir este objectivo, careces de muita atenção da

minha parte, mas também de bastante esforço da tua. A virtude não se conquista por

procuração” (Carta 27, p. 101–102).

A felicidade senequiana, como nos noticiam vários comentadores e se percebe nos

escritos de Sêneca, passa por uma via de ascese. Por isso dirá Sêneca (2009) que se deve

escolher a melhor vida e não a mais agradável. O homem comum, munido dos conhecimentos

e compreensões que a filosofia proporciona, entenderá, nessa via ascética, que “[...] a vida não

é um bem que se deve conservar a todo custo: o que importa não é estar vivo, mas sim viver

uma vida digna!” (Carta 70, p. 264). A vida é um valor, mas não qualquer vida. Somente a

vida na virtude é que vale a pena ser vivida.

Portanto, vai nos dizer Sêneca:

[...] A felicidade não é mais do que a segurança e a tranquilidade permanentes.

Quem no-las proporciona é a grandeza da alma [...] Os meios de atingir este estado

estão na plena consideração da verdade; em observarmos sempre em nossas ações a

ordem, a moderação, a moralidade, a inocência e a benevolência de uma vontade

sempre atenta à razão. (Carta 92, p. 463)

A felicidade é a grandeza da alma. E essa busca pela felicidade, apresentada por

Sêneca, ainda que pareça individualista, uma vez que o homem a busca no interior de si, ela

não o é, pois Sêneca entende que o homem é um ser de relações. “[...] Tal como é a natureza

que gera o horror à solidão e a procura de companhia, que atrai o homem para o seu

43

semelhante, também é o instinto natural que nos leva a procurar arranjar amizades” (Carta 9,

p. 26). Essa constituição natural leva o homem ao encontro do outro. Sêneca também nos

demonstra isso quando diz que o sábio basta a si mesmo para ser feliz. Embora para viver

necessite dos outros (Carta 9, 25).

Tendo presente a dimensão individual do homem, que é indissociável da sua dimensão

coletiva, indaga Sêneca: “Com que propósito o sábio se retira para o sossego? É para ter

certeza de que, também ali, deve praticar atos que serão de utilidade para toda a posteridade”

(SÊNECA, 2013a, p. 28). Podemos inferir que a busca do aperfeiçoamento é algo que visa a

harmonia com a humanidade:

[...] O que se exige do homem é que seja útil ao maior número de semelhantes, se

possível. Caso não consiga, sirva a poucos, ou aos mais próximos, ou a si mesmo.

Ao tornar-se útil para os demais, acaba por iniciar um trabalho comunitário. Da

mesma forma como quem se degenera prejudica não apenas a si, mas também a

todos os quais poderia prestar auxílio caso fosse melhor, quem se aprimora apenas

por isso já beneficia os outros, já que apronta quem vai beneficiá-los no futuro. (p.

22-23)

Essa harmonia com a humanidade visa também a harmonia com o universo e a

natureza. O paradigma estoico – vida segundo a natureza – leva o homem a comprometer-se

com o bem da humanidade e do mundo. Sendo assim, a exemplo do sábio, para o homem

comum ter uma vida feliz só depende de si (SÊNECA, 2014, carta 9, 25).

Qual implicação tem isso? A necessidade de uma formação, que a filosofia

proporciona, pois se “[...] é a filosofia que governa a nossa vida [Sêneca concede, como

vimos, um lugar todo especial à filosofia], deve também ela governar os acessórios da nossa

vida; o seu fim supremo, porém, é determinar em que consiste a felicidade” (Carta 90, p. 448).

E nos diz, ainda, que a tarefa da filosofia na formação do homem comum “[...] é distinguir os

males reais dos males aparentes, é libertar os espíritos de vãs ilusões, é instilar neles uma

grandeza efectiva” (Carta 90, p. 448).

Somente através de uma formação que lhe mostre como se relacionar com os

indiferentes, e que lhe ajude a entender o que quer dizer “para ser feliz só se depende de si”, é

que o homem comum poderá dar passos rumo à felicidade. Nesse processo, se percebe que o

homem comum compreende também a relação que ele deve estabelecer com os indiferentes.

Sêneca, dirigindo-se ao homem comum, discorre sobre o sábio de forma análoga,

apontando as condições para se alcançar a felicidade. Diz Sêneca: “[...] o sábio basta-se a si

mesmo para viver uma vida feliz, não simplesmente para viver, na medida em que para viver

[a vida biológica] carece de muita coisa, mas para viver uma vida feliz basta-lhe possuir um

espírito são, elevado e indiferente à fortuna” (Carta 9, p. 25).

44

O “bastar-se a si mesmo” não significa o puro individualismo – pois ninguém é feliz

se preocupando apenas consigo (Carta 48, p. 162). A busca da felicidade não é a de um ser

egoísta, mas a de um ser que se põe nesta busca levando consigo o desejo de a compartilhar

com os demais (Carta 6, p. 13). Nos diz Sêneca: “[...] nem a felicidade nem a adversidade são

fenômenos individuais: vivemos para a comunidade. Não é mesmo possível alguém viver

feliz se apenas se preocupar consigo, se reduzir tudo às suas próprias conveniências: tem de

viver para os outros quem quiser viver para si mesmo” (Carta 48, p. 162).

Sendo assim, “bastar-se a si mesmo” significa que o homem encontra dentro de si tudo

de que precisa. Nos esclarece Sêneca (Carta 9, p. 25) que o sábio entende que precisa das

mãos, dos olhos, precisa ter amigos – e ele deseja ter amigos – e de tudo o mais que é

necessário à vida; contudo, ele é capaz de ter uma vida feliz mesmo sem elas.

Por fim, os indiferentes afetam o homem, mas “[...] ele tem a possibilidade de

aprender a lidar com o que o afeta e consequentemente não se deixar perturbar” (CHAVES,

2012, p. 25). O homem comum, a exemplo do sábio, tanto mais será livre dos indiferentes,

quanto mais ele buscar dentro de si os elementos constituintes da felicidade, um espírito são,

elevado e alheio à fortuna (SÊNECA, 2014, carta 9, p. 25).

A felicidade está na vida virtuosa. Viver segundo a virtude é viver segundo a natureza,

é viver segundo a razão (BERNARDI MIGUEL, 2005, p. 32).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho abordamos o tema da felicidade no pensamento do filósofo Sêneca. Por meio

de nossa pesquisa, compreendemos que o paradigma senequiano de felicidade – viver

segundo a natureza – conduz o homem comum a alcançar uma felicidade que é fruto do

cultivo de uma vida interior pautada pela razão. Vida interior que não fecha o homem em um

individualismo, mas que o põe em harmonia com os demais homens e com o cósmos.

A felicidade é alcançada a partir do momento em que o homem passa a olhar para

dentro de si, que é onde reside tudo o que ele precisa para ser feliz. Uma vez que, nos diz

Sêneca, a felicidade não procura suas fontes nas coisas exteriores, nos indiferentes, mas é

internamente que ela se cultiva (SÊNECA, 2014). Por isso, entendemos por que a felicidade

reside na virtude, como defende Sêneca em seus escritos.

45

Com a leitura dos textos de Sêneca, bem como de comentadores, buscamos cumprir

com os nossos objetivos. Sendo eles: conhecer os pressupostos estoicos, os lugares onde

reside a felicidade e a compreensão do paradigma “viver segundo a natureza”.

Este trabalho foi muito importante para a compreensão do nosso tema, que é tão

urgente em nossa sociedade pós-moderna. Pois, a partir de nossa pesquisa sobre a felicidade,

entendemos que na vida buscamos a felicidade em muitas coisas que, na verdade, só nos dão a

ilusão de que a encontramos, e, quando nos vêm as adversidades, tudo rui. Por isso, o

caminho de busca da felicidade que Sêneca nos apresenta é totalmente válido ainda hoje. A

forma pela qual Sêneca trata da problemática da felicidade, tão importante para nós, é

totalmente nova, ou, pelo menos, porque estava esquecida, se torna novidade.

A felicidade que Sêneca nos apresenta é uma felicidade do indivíduo. No entanto, um

indivíduo que a busca para a partilhar com os demais. Posto que, a exemplo da sabedoria que

só é buscada com a condição de a partilhar com os demais homens (SÊNECA, 2014), a

felicidade, também, é buscada não para ser guardada, mas para ser dividida com todos que a

buscam. Nisso reside a riqueza do pensamento de Sêneca – um indivíduo que busca ser

melhor, que busca a virtude e a felicidade para partilhar com os seus semelhantes e para

partilhar com todos aqueles que procuram o mesmo que ele.

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