Falácias

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Argumentação, retórica e filosofia O discurso argumentativo Estrutura e organização de argumentos e falácias informais FILOSOFIA Ano lectivo: 2011/2012 Prof. Jorge Lemos

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Argumentação, retórica e filosofiaO discurso argumentativoEstrutura e organização de argumentos e

falácias informais

FILOSOFIA

Ano lectivo: 2011/2012 Prof. Jorge Lemos

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2. O discurso argumentativo2.1. Estrutura e organização do discurso argumentativo

I. A organização de um texto argumentativo e a sua expressão oral obedece a requisitos fundamentais. Por outras palavras, a argumentação tem uma dinâmica própria e uma organização interna.

Corax (século V a. C.) foi o primeiro autor a considerar que todo o discurso argumentativo se organiza em quatro momentos:

1. Exórdio – momento em que se tenta captar a adesão do auditório.

2. Apresentação dos factos – momento em que se expõe a tese.

3. Discussão – momento em que se fornecem argumentos a favor da tese, considerando objecções possíveis.

4. Peroração – momento em que se termina com uma fórmula sintética.

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2. O discurso argumentativo2.1. Estrutura e organização do discurso argumentativo

Assim, o processo argumentativo compreende sempre uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.

INTRODUÇÃO – deve ser curta ou breve, atendendo à apresentação do tema e à descrição sumária da tese a defender e em função do auditório a que é dirigida.

DESENVOLVIMENTO – deve consistir na apresentação dos argumentos favoráveis à tese, bem como dos argumento que servem para combater teses opostas, de modo claro e preciso.

CONCLUSÃO – não deve afirmar mais do que aquilo que se mostrou

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2. O discurso argumentativo2.1. Estrutura e organização do discurso argumentativo

II. Dinâmica do orador:

1. mobiliza a sua opinião isolando-a do contexto do qual ela é produzida;

2. identifica o seu ou os seus auditórios;

3. identifica o contexto em que o seu argumento será recebido;

4. «derrama» a sua opinião num ou em vários argumentos;

5. intervém sobre o contexto de recepção do auditório para o modificar a fim de «criar espaço» para a sua opinião;

6. liga a opinião que propõe ao contexto de recepção assim modificado.

Philipe Breton (1998), A Argumentação na Comunicação

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2. O discurso argumentativo2.1. Estrutura e organização do discurso argumentativo

Regras para estruturar e organizar um discurso argumentativo

PRIMEIRA REGRA – Distinção: efectuar a distinção entre premissas e conclusão: enunciar claramente a tese ou conclusão que se vai defender. As razões que avançarmos em defesa da tese são traduzidas em premissas.

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2. O discurso argumentativo2.1. Estrutura e organização do discurso argumentativo

Regras para estruturar e organizar um discurso argumentativo

SEGUNDA REGRA – Ordem: devemos apresentar as nossas ideias por ordem, de modo a facilitar a compreensão por parte do auditório. Assim, num argumento, podemos colocar primeiro as premissas e depois a conclusão, ou vice-versa.

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2. O discurso argumentativo2.1. Estrutura e organização do discurso argumentativo

Regras para estruturar e organizar um discurso argumentativo

TERCEIRA REGRA – Fidedignidade: devemos partir de premissas fidedignas, plausíveis, minimamente aceitáveis. Se as premissas forem fracas, a conclusão também o será..

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2. O discurso argumentativo2.1. Estrutura e organização do discurso argumentativo

Regras para estruturar e organizar um discurso argumentativo

QUARTA REGRA – clareza: devemos evitar o uso de termos demasiado vagos ou abstractos, privilegiando uma linguagem concreta e precisa.

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2. O discurso argumentativo2.1. Estrutura e organização do discurso argumentativo

Esquema-síntese

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2. O discurso argumentativo2.2. Tipos de argumentos

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2.2.1. Entimema Entimema: é um argumento inválido se tomado à letra,

mas que se torna válido quando lhe acrescentamos premissas aceites implicitamente. Um entimema é um argumento dedutivo ao qual falta uma das premissas, ou as duas, ou a conclusão. Trata-se, portanto de um argumento incompleto: parte dele fica subentendida porque se admite que é do conhecimento do auditório.

Exemplo:

Sou homem. Logo, sou mortal (falta a premissa: Todo o homem é mortal).

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2.2.2. Indução

1. Indução por generalização:

Uma generalização indutiva é um argumento com uma conclusão geral extraída de casos particulares.

Exemplo: cada um dos cisnes observados até agora é branco. Logo, todos os cisnes são brancos.

2. Indução por previsão:

Uma previsão indutiva também parte de casos particulares, mas a conclusão inferida é a de que algo ocorrerá no futuro. A conclusão é, portanto, particular.

Exemplo: cada um dos cisnes observados até agora é branco. Logo, o próximo cisne que observarmos será branco.

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2.2.3. Analogia

Analogia :

Um argumento por analogia é uma inferência baseada numa comparação:

Exemplo: O Universo é como uma máquinaAs máquinas são criadas por seres inteligentesLogo, o universo foi criado por um ser inteligente

Uma analogia não é válida se os objectos comparados não forem semelhantes nos aspectos relevantes.Quanto maiores forem as semelhanças relevantes entre os objectos comparados nas premissas, mais estas confirmam a conclusão.

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2.2.3. Argumento de autoridade

Características da autoridade invocada:

Num argumento de autoridade conclui-se que uma determinada proposição é verdadeira porque uma certa autoridade – um ou vários indivíduos, uma ou várias organizações – defende que essa proposição é verdadeira.

O especialista deve ser um perito no tema em questão – COMPETÊNCIANão pode haver controvérsia entre os especialistas do tema em questão - INCONTROVÉRSIAO especialista não pode ter interesses pessoais no tema em questão – IMPARCIALIDADEO argumento não pode ser mais fraco do que o argumento contrárioExemplos:1. Platão e Descartes acreditavam na imortalidade da alma. Logo a

alma humana é imortal.2. As maiores organizações de defesa dos direitos dos animais

afirmam que uma dieta integralmente vegetariana é a mais saudável.

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2.2.3. Argumento sobre causas

Os argumentos são de dois tipos:

1. Non causa pro causa - «sem causa, logo, por causa»

Exemplo: bebi um copo de água e a dor de cabeça passou.

2. Post hoc, ergo propter hoc - «depois disto, por cauda disto»

Exemplo: o trovão ocorreu depois do relâmpago. Portanto, o relâmpago é a causa do trovão.

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2. O discurso argumentativo2.2. Tipos de argumentos

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

ad misericordiam – apelo à piedade ou à misericórdia. Para levar uma pessoa a aceitar uma certa conclusão, em vez de se lhe apresentarem razões para ela acreditar que esse conclusão é verdadeira, tenta-se despertar os seus sentimentos de compaixão.

Falácias do apelo à emoção:

Exemplo: Se o meu trabalho receber uma classificação negativa, ficarei deprimido e serei repreendido. Logo, merece uma classificação positiva.

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ad terrorem ou ad baculum – apelo à força. Consiste em obrigar alguém a admitir uma opinião recorrendo à força ou à ameaça. Submetidos a ameaças físicas ou psicológicas, os indivíduos são levados a aceitar determinada conclusão ou tese, tendo em conta as consequências desagradáveis que adviriam da sua não-aceitação.

Exemplo: Se não defendes que o Manuel é o melhor candidato, serás expulso do partido. Logo, o Manuel é o melhor candidato.

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

Falácias da fuga à questão:

ad hominem – Consistem em ataques pessoais para mostrar que uma certa proposição é falsa, ataca-se quem defende a sua verdade. Desacredita-se a pessoa, descrevendo-a em termos desagradáveis, em vez de se apresentar as razões para refutar a proposição.

Exemplo: defendes que as touradas devem acabar porque não passas de um intelectual suburbano desligado da vida rural. Logo, as touradas não devem acabar.

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

ad ignorantiam ou apelo à ignorância comete-se esta falácia sempre que uma proposição é tida como verdadeira só porque não se provou a sua falsidade ou como falsa só porque não se provou a sua verdade.

Exemplo: não há destino. Jamais se provou o contrário.

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

Falácias causais:

Non causa, pro causa – Consiste em considerar que um fenómeno é provocado por outro fenómeno: associar um fenómeno a outro sem que haja, de facto, relação causal.

Exemplo: Bebi um copo de água e a dor de cabeça passou. Portanto, a o copo de água cura as dores de cabeça.

Post hoc ergo propter hoc – Numa falácia deste tipo, as premissas de um argumento dizem-nos que um acontecimento A ocorreu depois de um acontecimento B, extraindo-se daí a conclusão de que existe uma relação causal entre A e B, mais precisamente a conclusão de que B é a causa de A.Exemplo: O trovão ocorreu depois do relâmpago. Portanto, o relâmpago é a causa do trovão.

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

Outras falácias:

Petição de Princípio ou falácia da circularidade – Consiste em pressupor-se numa das premissas a conclusão que se quer estabelecer: pressupõe-se indevidamente nas premissas aquilo que se pretende provar na conclusão.Exemplo: A Bíblia é a palavra de Deus. Se a Bíblia é a palavra

de Deus, então é verdadeira. Na Bíblia está escrito que Deus existe. Logo, Deus existe.

Falso dilema – Consiste em apresentar duas hipóteses alternativas como se estas esgotassem todas as possibilidades, quando na verdade existem mais do que duas hipóteses.

Exemplo: Ou acreditas em Deus ou és ateu. Não acreditas em Deus. Logo és ateu.

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Outras falácias:

ad consequentiam – Apelo «às consequências»: ocorre quando o orador, em vez de refutar o argumento que está em causa, aponta para eventuais consequências desagradáveis que adviriam da sua aceitação.Exemplo: «Abel: defendo que Deus não existe. Marta: não

podes defender uma posição dessas. Maurício: porquê? Marta: porque isso conduziria ao caos social, pois para muitas pessoas a vida não teria sentido.»

ad populum – Apelo «ao povo»: ocorre quando, num argumento, se omitem as razões que justificam uma opção e se apela às emoções e sentimentos do auditório ou se toma o comportamento da multidão como exemplo a seguir.Exemplo: «um político diz num comício – na nossa terra tem havido muitos assaltos. Toda a gente o sabe. Querem continuar com esta insegurança? Ou preferem sair tranquilamente à noite. Então, votem no meu partido!»

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

Outras falácias:

Ignorância da questão – Ocorre quando nos desviamos da questão essencial, demonstrando algo diferente do que está em análise de modo a fazer esquecer o que é essencial.

Exemplo: Num tribunal, um advogado de defesa argumentar a favor das excelentes qualidades de pai de um acusado, quando ele é acusado de ter desviado dinheiro que não lhe pertencia.

Falácia do espantalho ou boneco de palha – consiste em atribuir a outrem uma opinião fictícia ou em deturpar as suas afirmações de modo a terem outro significado. Comete-se frequentemente, especialmente em contendas ou polémicas.

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Exemplo: O seu avô foi um macaco? Não. Então a teoria da evolução não faz sentido.

Nota: o argumento ataca uma interpretação caricata da Teoria da evolução e não a teoria em si.

Falácia do espantalho ou boneco de palha

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

Falácia da derrapagem ou bola de neve ou efeito dominó – Argumento que, introduzindo pequenas diferenças entre cada uma das premissas condicionais ou equivalentes, leva a uma conclusão precipitada.

Existem dois tipos da falácia da derrapagem ou bola de neve

Mau uso da implicação: ocorre quando se introduzem, nas implicações, antecedentes não exactamente iguais aos consequentes que os precedem, o raciocínio vai-se afastando, começa-se a derivar o sentido que, no final, leva a uma conclusão despropositada.

Mau uso da equivalência: consiste no reconhecimento de que a diferença entre duas coisas A1 e A2, não é significativa. Seguidamente, afirma-se que a diferença entre A2 e uma terceira, A3, também não é significativa. Dando continuidade ao raciocínio, resvala-se e acaba-se por afirmar que entre A1 e An não há diferença.

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

Exemplo: Se vou à escola, tenho de estudar. Se tenho de estudar, canso-me. Se me canso, fico debilitado. Se fico debilitado, adoeço. Se adoeço, posso morrer. Logo: se vou à escola, posso morrer. Como não quero morrer, não vou à escola.

Mau uso da implicação

Estrutura lógica deste tipo de derrapagem

Se ocorre A1, acontece A2Se acontece A2, acontece A3… E assim sucessivamente, até AnDonde se conclui que, se acontece A1, acontecerá An

Este tipo de derrapagem é um desvirtuar do silogismo hipotético, que é formado por uma série de proposições condicionais, em que o consequente de uma proposição tem de ser igual ao antecedente da proposição seguinte.

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

Mau uso da equivalência:

Exemplo 1: "O fogo é quente e sei disso por dois motivos: 1. ele é vermelho; e 2. medi sua temperatura com um dedo". Exemplo 2: “Porei aqui mais um exemplo, isto é, acrescentarei mais um caso prático”.

Estrutura lógica deste tipo de derrapagem

A1 não é significativamente diferente de A2A2 não é significativamente diferente de A3--- E assim sucessivamente, até AnPode concluir-se que A1 é praticamente igual a An

Este tipo de derrapagem é um desvirtuar do axioma matemático segundo o qual duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si, substituindo as quantidades por algo semelhante e não exactamente igual.

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

Outras falácias:

Falácia ad verecundiam ou falácia da autoridade – ocorre quando se pretende apoiar uma afirmação respeitante a dado ramo de saber, apelando a alguém que é uma eminência ou perito noutra área. Exemplo: defender a boa qualidade de uma marca de

computadores, afirmando que um futebolista (C. Ronaldo) comprou um computador dessa marca.

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2. O discurso argumentativo2.3. Falácias informais

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Ficha Formativa

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Ficha formativa

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Ficha formativa

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Ficha formativa

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Soluções171. 1,6 e 7 Falácia ad ignorantiam ou apelo à ignorância –

argumento que consiste em tentar refutar um enunciado só porque ninguém provou que era verdadeiro, ou em defende-lo como verdadeiro porque ninguém conseguiu provar que era falso.

2. 2 Falácia ex popolum ou demagogia – argumento que pretende impôr uma opinião, invocando que ela já é aceite pela generalidade das pessoas.

3. 3,5 e 9 Falácia ad hominem ou contra o homem – argumento que procura desacreditar uma pessoa para tentar provar que o que ela afirma é falso.

4. 4 Falácia ad verecundiam ou da autoridade – argumento que pretende sustentar uma tese, apelando para personalidades de reconhecido mérito.

5. 8 Falácia ad baculum ou apelo à força – argumento que recorre a ameaças como forma de fazer aceitar uma opinião.

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Soluções

20

A – 4 e 5

B – S/R

C – S/R

D – 2

E - 7

18

A - 1 e 5

B – 8 e 9

C – 4 e 6

D – 3

E – 2 e 7

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Soluções1. 1,2,4 e 6 – Falácia da falsa analogia – Argumento que consiste em

tirar conclusões de um objecto ou situação para outro semelhante sem atender às diferenças significativas ou semelhanças relevantes.

2. 3,8 e 11 – Petição de princípio – argumento que consiste em adoptar para premissa de um argumento a conclusão que se quer fundamentar.

3. 5,10 e 12 – Falácia da falsa causa – argumento que atribui a causa de um fenómeno a outro fenómeno, sem que entre eles haja qualquer nexo causal.

4. 7 – Falácia da pergunta complexa – argumento que consiste em aglutinar duas perguntas ou em fazer uma pergunta que pressupõe uma resposta previamente dada, de modo a que o interlocutor, quer responda afirmativamente ou negativamente, fique numa situação embaraçosa.

5. 9 - Falácia da generalização precipitada – argumento que consiste em enunciar uma regra a partir de dados não representativos ou insuficientes.

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1. Falácia ad hominem: X afirma AX é uma pessoa desacreditadaA é Falso2. Falácia ad ignorantiam: Não se conseguiu Provar a verdade de A Logo, A é falso Não se conseguiu provara falsidade de A Logo, A é verdadeiro

Estrutura lógica de algumas falácias

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3. Falácia da autoridade: Tudo o que X diz é verdadeiroX diz ALogo, A é verdadeiro

4. Falácia da falsa analogia:O fenómeno X apresenta a característica AO fenómeno Y apresenta a característica ALogo, X é igual a Y

Estrutura lógica de algumas falácias

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5. Falácia da petição de princípio:A é verdadeiroLogo, A é verdadeiro

6. Falácia do falso dilema:Ou A ou B Não é o caso que A Então BOu A ou B Não é o caso que B Então A

Estrutura lógica de algumas falácias