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Caim e Abel Família e conflito Colóquio Internacional 23 a 25 de setembro de 2015 LIVRO DE RESUMOS

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Caim e Abel Famí lia e conflito

Colóquio Internacional

23 a 25 de setembro de 2015

LIVRO DE RESUMOS

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2 | Colóquio Internacional “Caim e Abel: Família e Conflito”

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Resumos | 3

LIVRO DE RESUMOS

do

Colóquio Internacional

«Caim e Abel: Família e Conflito»

Universidade de Aveiro 23 a 25 de setembro de 2015 Página web: http://blogs.ua.pt/caim-abel Contacto : [email protected] Imagem da capa. aguarela de William Blake (1757 – 1827), intitulada “Cain Fleeing from the Wrath of God (The Body of Abel Found by Adam and Eve)”

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4 | Colóquio Internacional “Caim e Abel: Família e Conflito”

Índice

Apresentação ……………………………………………………………………. 5 Comissão organizadora ………………………………………………………….. 6 Comissão científica ………………………………………………………….. 6 Programa científico ……………..…………………………………………… 8 Programa social ……………..……………………………………………..…….. 11 Resumos ……………………………………………………………………………… 13 Entidades e patrocinadores ………………………………………………… 37

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Resumos | 5

Apresentação

O Colóquio Internacional “Caim e Abel: família e conflito” decorrerá no Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, Portugal, nos dias 23, 24 e 25 de setembro de 2015. A ciência e a religião são dois meios diferenciados de entendimento da vida. Não se equivalem nem se sobrepõem, mas complementam-se. E nem sempre se desencontram. Desde o Big Bang científico ou do Logos divino, a aventura da vida tem sido uma longa história de conflito, desequilíbrio criativo e esforço de constante reorganização. A história de Caim e Abel, gravada a sangue no relato genesíaco, simboliza, com o poder das narrativas ancestrais, a complexidade da condição humana, inscrita no alfabeto universal da vida. A decifração desse alfabeto é uma tarefa de todos os domínios do conhecimento humano, desde a ciência à teologia, não esquecendo a literatura, a filosofia, as artes, os estudos linguísticos ou os estudos de comunicação. Linhas Temáticas: Lutas fratricidas Conflitos familiares Guerras civis Violência social Antagonismos Releituras míticas Hermenêutica e tradição

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6 | Colóquio Internacional “Caim e Abel: Família e Conflito”

Comissão organizadora

António Manuel Ferreira (Universidade de Aveiro) Carlos Morais (Universidade de Aveiro) Maria Fernanda Brasete (Universidade de Aveiro) Rosa Lídia Coimbra (Universidade de Aveiro)

Comissão científica

D. António Moiteiro, Bispo de Aveiro Alex Villas Boas (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Ana Maria Ramalheira (Universidade de Aveiro) Anabela Dinis Branco de Oliveira (Univ. Trás-os-Montes e Alto Douro) António Augusto Nery (Universidade Federal do Paraná) António Cândido Franco (Universidade de Évora) António Manuel Ferreira (Universidade de Aveiro) Carlos Mendes de Sousa (Universidade do Minho) Carlos Morais (Universidade de Aveiro) Helena Buescu (Universidade de Lisboa) Helena Marinho (Universidade de Aveiro) Isabel Roboredo Seara (Universidade Aberta) João de Mancelos (Universidade da Beira Interior) João Duque (Universidade Católica, Braga) João Minhoto Marques (Universidade do Algarve) João Rocha (Universidade de Aveiro) José António Gomes (ESE do Instituto Politécnico do Porto) José Carlos Seabra Pereira (Universidade de Coimbra) José Tolentino Mendonça (Universidade Católica, Lisboa) Liliana Sousa (Universidade de Aveiro) Luís Machado de Abreu (Universidade de Aveiro)

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Luiz Gonzaga Marchezan (Unesp, Araraquara) Manuel Ferreira Rodrigues (Universidade de Aveiro) Manuela Parreira da Silva (Universidade Nova de Lisboa) Marcelo Tadeu Schincariol (University of Colorado at Boulder) Marcos Lopes (Universidade Estadual de Campinas) Maria Cristina Pimentel (Universidade de Lisboa) Maria de Lurdes Correia Fernandes (Universidade do Porto) Maria Fernanda Brasete (Universidade de Aveiro) Maria Graciete Besse (Université de Paris-Sorbonne/Paris IV) Maria Hermínia Amado Laurel (Universidade de Aveiro) Olga Maria Castrillon Mendes (Universidade Estadual de Mato Grosso) Paulo Ribeiro Claro (Universidade de Aveiro) Rosa Lídia Coimbra (Universidade de Aveiro) Rosa Maria Goulart (Universidade dos Açores) Rui Santiago (Universidade de Aveiro) Salma Ferraz (Universidade Federal de Santa Catarina) Vera Maquêa (Universidade Estadual de Mato Grosso) Zulmira Santos (Universidade do Porto)

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8 | Colóquio Internacional “Caim e Abel: Família e Conflito”

Programa

23 de setembro | quarta-feira

09h00 – Receção dos participantes e entrega de documentação

09h20 – Sessão de abertura

09h35 – Conferência inaugural

Jaume Angelats i Morató (Facultat de Teologia de Catalunya/ Espanha): Caín

y Abel: Palabra o violencia. Relectura de Génesis 4,1-16 desde una

perspectiva psicoanalítica

10h05 – Intervalo

Inauguração de uma exposição sobre “Caim e Abel na arte”

10h35 – Júlio Franclim Pacheco (Instituto Superior de Ciências Religiosas de

Aveiro): O conflito Caim-Abel: uma leitura exegético-bíblica

11h00 – Maria Fernanda Brasete (Universidade de Aveiro/Departamento de

Línguas e Culturas): A Casa de Atreu: representações de conflitos familiares

na tragédia grega

11h25 – Maria Cristina Pimentel (Universidade de Lisboa): Vetera fratrum

odia et certamina: discórdias entre irmãos na historiografia de Tácito

11h50 – José William Craveiro Torres (Universidade de Coimbra): Amadís

versus Patín: resíduo de um conflito

12h15 – Apresentação dos livros Literatura, Tradição, Religiosidades e

Literatura, Política, Religiosidades, editados pela Universidade do Estado de

Mato Grosso e pela Universidade de Aveiro.

15h00 – António Manuel Ferreira (Universidade de Aveiro/Departamento

de Línguas e Culturas): Malefícios do amor familiar no romance Os Dois

Irmãos, de Germano Almeida

15h25 – Margarida Santos (Ensaísta): Do ventre materno às lutas políticas.

Irmãos e rivais no romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis

15h50 – Luiz Gonzaga Marchezan (UNESP/Brasil): Sobre os irmãos, o calmo

e o colérico, do romance de Milton Hatoum

16h15 – Elisabeth Battista (UNEMAT/Brasil): O punhal de Caim: configu-

rações literárias e conflitos familiares – Um estudo de Corá (1932), de José

de Mesquita

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16h40 – Intervalo

17h00 – Eliziane Fernanda Navarro & Olga Maria Castrillon-Mendes

(UNEMAT/Brasil): Convergências míticas em Era um Poaieiro, de Alfredo

Marien: um diálogo com Catulo

17h25 – Maria Elizabete Oliveira & Elisabeth Battista (UNEMAT/Brasil):

Representações estéticas e (re)leituras de Gaibéus, de Alves Redol e

de Homens e Caranguejos, de Josué de Castro

17h50 – Cristiane Ivo Leite da Silva & Elisabeth Battista (UNEMAT/Brasil): Os

conflitos familiares em Tanta Gente, Mariana, de Maria Judite de Carvalho

18h15 – Elizabete Sampaio Vieira da Silva & Elisabeth Battista (UNEMAT/

Brasil): Os laços de família e os conflitos interfamiliares em Clarice Lispector

18h45 – Inauguração de Exposição sobre “Guerras fratricidas em releituras

do Mito de Antígona”

24 de setembro | quinta-feira

09h30 – Paulo Ribeiro Claro (Universidade de Aveiro/Departamento de

Química): Os "nossos" e os "outros": a química nas relações interpessoais

09h55 – Luís Machado de Abreu (Universidade de Aveiro/Departamento de

Línguas e Culturas): As heresias ou a heterodoxia iluminada

10h20 – Anabela Dinis Branco de Oliveira (UTAD/LabCom): O Triunfo da

Vontade (Leni Riefenstahl, 1934): nazismo versus estética cinematográfica

10h45 – Intervalo

11h05 – Erik van Achter (Ku Leuven, Bélgica/CLP, Coimbra): Timshel: Podeis-

Deveis. O drama bíblico de Caim e Abel no romance A Leste do Paraíso, de

John Steinbeck

11h30 – Reinaldo Silva (Universidade de Aveiro/Departamento de Línguas e

Culturas): Family conflicts in Anthony Barcellos’ Land of Milk and Money

11h55 – João Minhoto Marques (Universidade do Algarve): Et in Arcadia

ego – violência e morte no espaço campestre

15h00 – Maria Hermínia Amado Laurel (Universidade de Aveiro/ Departa-

mento de Línguas e Culturas): Rememorações, conjecturas e conflito: a

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escrita fragmentária do “Cycle Alérac” (1934-1955), por Monique Saint-

Hélier

15h25 – Aline Ferreira (Universidade de Aveiro/Departamento de Línguas e

Culturas): A Traição da Morte: Figurações de Caim e dos seus Duplos

15h50 – Maria do Carmo Cardoso Mendes (Universidade do Minho): Sob o

signo da desarmonia: conflitos familiares na ficção de Agustina Bessa-Luís

16h15 – Ana Maria Ramalheira (Universidade de Aveiro/Departamento de

Línguas e Culturas): A iliteracia moral e política no Terceiro Reich e o trauma

da memória do Holocausto na geração do pós-guerra – Der Vorleser (1995),

de Bernhard Schlink

16h40- Intervalo

17h00 – Alberto Gómez Bautista (Universidade de Aveiro/Departamento de

Línguas e Culturas): Una lectura de Réquiem por un campesino español, de

Ramón J. Sender

17h25 – Isa Severino (Instituto Politécnico da Guarda): A luta fratricida em

Sedução, de José Marmelo e Silva

17h50 – Ana Margarida Fonseca (Centro de Estudos Comparatistas): Pedro

e Paula, de Helder Macedo: fraternidade impossível?

18h15 – João de Mancelos (Universidade da Beira Interior): Como ser uma

má filha: conflito em Two Kinds, de Amy Tan

25 de setembro | sexta-feira

09h30 – José António Gomes (ESE - Instituto Politécnico do Porto): De

Bashô a Leminski: o caso dos haiku de guerra

09h55 – José Maria Rodrigues Filho (UMC, SP/Brasil): Caim e Abel na Cabala

da inveja

10h20 – Manuela Parreira da Silva (Universidade Nova de Lisboa): A

“marca” de Caim na obra de Fernando Pessoa

10h45 – Intervalo

11h05 – Carlos Morais (Universidade de Aveiro/Departamento de Línguas e

Culturas): “A voz de sangue de teu irmão clama”: a guerra civil espanhola

em recriações do mito de Antígona

11h30 – Alex Villas Boas (PUC, SP/Brasil): Identidade e alteridade a partir da

concepção de personagem em Emmanuel Lévinas

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11h55 – Marcos Lopes (UNICAMP/Brasil): A hermenêutica saramaguiana

dos textos bíblicos

15h00 – Olga Maria Castrillon-Mendes (UNEMAT/Brasil): Releituras mí(s)ti-

cas no romance brasileiro

15h25 – Manuel Ferreira Rodrigues (Universidade de Aveiro/Departamento

de Educação): Partilhas, industrialização e republicanismo no conflito entre

os irmãos Pereira Campos

15h50 – João Duque (Universidade Católica, Braga): Fraternidade originária:

da violência mimética à responsabilidade pelo outro

16h15 – Intervalo

16h30 – Virgínia Boechat (Capes/Universidade de Aveiro): Famílias viajan-

tes, famílias empreendedoras, famílias em pecado mortal: laços familiares e

o Novo Mundo português do início dos quinhentos

16h50 – Rosa Lídia Coimbra (Universidade de Aveiro/ Departamento de

Línguas e Culturas): Família e conflito no texto humorístico: mesclagens

conceptuais e representações

17h10 – Agnaldo Silva (UNEMAT/Brasil): O conflito social e familiar na

dramaturgia de língua portuguesa: a escrita de resistência em Gota d’Água

(Chico Buarque e Paulo Pontes) e Os degraus (Augusto Sobral)

Programa social Os congressistas estão convidados a assistir à inauguração da exposição "70

anos da vitória sobre o fascismo" e ao concerto "Guerra e paz". Os eventos,

integrados nas comemorações do dia dos Institutos Confúcio e dos 70 anos

da vitória sobre o fascismo, terão lugar no Museu de Aveiro, no dia 25 de

setembro, ao fim da tarde.

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Resumos

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Luís Machado de ABREU (Universidade de Aveiro/Departamento de Línguas e Culturas)

As heresias ou a heterodoxia iluminada

As heresias nascem da vontade de saber mais e asseguram aos que as

professam o conforto de se sentirem mais próximos da verdade. É este tropismo de

aproximação ao esplendor da verdade que, pelo seu próprio movimento, vai gerando

afastamento, separação e conflito. Na luta apaixonada pela conquista de mais e melhor

saber, a heresia entra em competição com todos os que acreditam estar já na posse da

verdade ou, ao menos, muito mais próximos dela. Daí que na experiência herética se

manifeste de modo tão compulsivo e frequente a dialéctica do amor-ódio, campo onde

floresce a intolerância.

Embora as heresias se tenham imposto historicamente como manifestações de

infidelidade a uma ortodoxia religiosa em fase de construção ou já constituída, há uma

funcionalidade herética inerente à conjugação do desejo com o poder e o saber na

condição humana. O gnosticismo pode documentar a complexidade dessa

funcionalidade herética.

Jaume ANGELATS I MORATÓ (Facultat de Teologia de Catalunya)

Caín y Abel: Palabra o violencia. Relectura de Génesis 4,1-16 desde una

perspectiva psicoanalítica

Para profundizar sobre lo que el hombre dice de si mismo ––en relación a sus

orígenes y a sus horizontes existenciales–– se pueden encontrar elementos muy

atendibles, tanto en los mitos culturales fundacionales como en el inconsciente tal como

lo percibe el psicoanálisis. En nuestra tradición cultural, el relato primordial sobre

relaciones humanas y violencia es el de Caín y Abel. Una posible relectura de Gn 4,1-16

parte de la constatación de un hecho significativo: el deseo de convivir ––ampliamente

compartido por una mayoría de personas–– no parece desfallecer con el paso del

tiempo, a pesar de la dificultad de ser satisfecho. Ni los conflictos bélicos han podido

extinguirlo. ¿Como se establecen y desarrollan las relaciones interpersonales? ¿Qué las

favorece y qué las impide?

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Elisabeth BATTISTA (UNEMAT, Brasil)

O punhal de Caim – configurações literárias e conflitos familiares – um

estudo de Corá (1932), de José de Mesquita

A trágica narrativa bíblica do Livro de Gênesis, Caim e Abel, aponta para uma “estética

da perplexidade”, sugerindo ampla gama de possibilidades de reflexão para a

humanidade que, desde tempos imemoriais, busca respostas para os seus conflitos

existenciais. É pela instalação de um efeito de perplexidade no leitor, que a criação

literária tem presentificado expressivas tendências do espírito contemporâneo,

catalisando angústias e inquietações perturbadoras de nossa época. Nos estudos que

estamos realizando sobre a narrativa ficcional produzida em Mato Grosso, nos anos 30

do século XX, localizamos a obra Corá, de autoria de José de Mesquita, objeto da

presente comunicação que, produzida em 1930 foi publicada, pela primeira vez, em

1932, na Revista Nova (1931-1932), em São Paulo, cujos Editores eram Paulo Prado,

Mário de Andrade e Antônio de Alcântara Machado – reconhecidos escritores

modernistas da literatura brasileira. O título da obra leva o nome da personagem central

cuja constituição forja-se emblematicamente. A atmosfera trágica configura-se a partir

dos conflitos nas relações interfamiliares. Pretende-se, à luz do ensaio de Antonio

Cândido de 1968, A personagem do romance, ali definida como entidade fictícia que

vive os fatos que compõem o enredo da narrativa, investigar a substância de que são

feitas as personagens estabelecer possíveis confrontos e confluências entre esta

referida obra, ainda pouco estudada de José Mesquita, e a narrativa bíblica Caim e

Abel. Atenção ainda será dada, em nossa apresentação, a elementos do contexto

histórico, social e cultural, do modernismo em Mato Grosso.

Virgínia BOECHAT (Capes/ Universidade de Aveiro)

Famílias viajantes, famílias empreendedoras, famílias em pecado mortal:

laços familiares e o Novo Mundo português no início dos quinhentos

Este estudo aborda, na literatura portuguesa de viagens dedicada ao território

que daria origem ao Brasil, a construção gradual e em transformação, na primeira

metade do século XVI, das imagens dos laços familiares entre homens, mulheres e

crianças habitantes do Novo Mundo. Examina-se nesse conjunto literário a

caracterização das famílias dos povos originários, das famílias inteiras de habitantes de

origem europeia estabelecidas ali pra fins de povoamento, assim como das famílias com

habitantes europeus que ali se fundam já em matrimônios e uniões com mulheres

indígenas. Entre outros fatores, tem-se em conta ainda, nesta leitura, que em muitos

dos casos as relações familiares existentes ou que se vêm a formar são rejeitadas

diante dos padrões morais e religiosos vigentes na Europa, e que em outros, os

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familiares foram fator relevante para a viagem ou para o estabelecimento do europeu na

nova terra.

Maria Fernanda BRASETE (Universidade de Aveiro/Departamento de Línguas e Culturas)

A Casa de Atreu: representações de conflitos familiares na tragédia grega

Tomando como exemplo os crimes horríveis e perversos perpetrados, ao longo

de gerações, na família dos Atridas, pretende-se nesta comunicação apresentar, com

base numa leitura as peças que integram a Oresteia de Ésquilo, a Electra de Sófocles e

quatro tragédias de Eurípides (Electra, Ifigénia em Tauros, Orestes e Ifigénia em Áulide)

examinar como a temática da violência intrafamiliar representou no antigo teatro grego

a tragédia da condição humana.

Olga Maria CASTRILLON-MENDES (UNEMAT/Cáceres, Brasil)

Releituras mí(s)ticas no romance brasileiro

O objetivo deste texto é refletir sobre a presença do mito/místico no romance Luz

e Sombras (1917), de Feliciano Galdino de Barros (1886-1938), tido como o primeiro

romance escrito em Mato Grosso/Brasil. Neste sentido, a análise, em suas bases

iniciais, privilegia o binarismo maniqueísta que entra na composição narrativa como

elemento desestruturador das personagens e das relações familiares.

Paulo Ribeiro CLARO (Universidade de Aveiro/Departamento de Química)

Os "nossos" e os "outros": a química nas relações interpessoais

São cada vez mais os estudos científicos que procuram identificar a base

molecular dos processos biológicos e, em particular, dos processos cerebrais. E daí

resulta um conhecimento cada vez maior acerca dos compostos químicos que actuam

sobre o nosso cérebro e são responsáveis pelos nossos sentimentos e emoções.

Nesta comunicação, é apresentada uma revisão bibliográfica em torno da química das

relações interpessoais: quais os “actores químicos” que têm um papel fundamental nos

processos neurobiológicos complexos que vão desde o amor romântico e a amizade,

até à violência social e a xenofobia, passando pela confiança e o heroísmo.

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Rosa Lídia COIMBRA (Universidade de Aveiro/ Departamento de Línguas e Culturas)

Família e conflito no texto humorístico: Mesclagens conceptuais e

representações

Um dos temas incontornáveis no texto humorístico é o das relações humanas em

geral e das relações familiares em particular. Partindo de um corpus de textos

humorísticos publicados em antologias e em páginas especializadas, pretende-se

analisar os mecanismos de criação do humor e os traços que compõem as

representações de todos os tipos de laços familiares: casais, pais e filhos, genros e

sogras, tios, irmãos.

No caso do laço de irmãos, foram, ao longo do tempo, geradas muitas

desconstruções intertextuais, quer literárias, quer em textos pertencentes aos mais

diversos géneros, incluindo os géneros humorísticos. Partindo de um enquadramento

teórico no âmbito da Linguística Cognitiva, nomeadamente a teoria da integração

conceptual de Fauconnier e Turner, analisámos a construção de mesclagens

conceptuais e o modo como estas recontam, em tonalidades atuais, uma história

milenar.

João DUQUE (Universidade Católica, Braga)

Fraternidade originária: da violência mimética à responsabilidade pelo

outro

Partindo simultaneamente do episódio bíblico de Gn, que relata a relação

violenta entre Caim e Abel, e da leitura que René Girard faz da relação entre religião e

violência, propõe-se uma hermenêutica da relação inter-humana originária como relação

de responsabilidade pelo outro, expressa na interpelação fundamental “Onde está o teu

irmão?”. Essa relação, articulada com as relações de parentalidade e de filiação, realiza-

se de modo especial na fraternidade, que passa a ser compreendida como

originariamente não fratricida. Essa será a relação potenciadora de toda a relação social

pacífica e criadora, ou seja, não auto-destrutora da vida social, seja pela violência

indiferenciada seja pela violência organizada.

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Aline FERREIRA (Universidade de Aveiro/Departamento de Línguas e Culturas)

A Traição da Morte: Figurações de Caim e dos seus Duplos

O objectivo desta comunicação é analisar algumas personagens que de várias

maneiras descendem temática e simbolicamente de Caim, assim como dois tópicos

intimamente relacionados com essas figuras: a imortalidade e o Duplo.

Nessa linhagem de descendentes de Caim situam-se os protagonistas do romance

Frankenstein (1818; 1831) de Mary Shelley e Cain de Lord Byron (1821), uma peça que

Shelley admirava. Tanto Frankenstein como Cain são por sua vez profundamente

devedores do poema épico Renascentista de Milton, Paradise Lost, que William Blake,

um confesso admirador de Cain de Byron, ilustrou profusamente, incluindo litografias de

Caim. A concentração da minha análise fundamentalmente em obras do período

Romântico decorre do aumento de visibilidade e interesse na temática do Herói, que

assume várias características comuns às personagens principais das obras

mencionadas: a rebeldia contra Deus, a identificação com Lúcifer, a ânsia de

imortalidade e revolta contra a condição humana, agrilhoada a um corpo finito. A

presença de um Duplo, o castigo de ter de vaguear solitário, assim como o não assumir

a responsabilidade pelos seus actos, abandonado aquele que se tornou na sua vítima

são outros traços partilhados e salientes. Estas personagens articulam assim emoções

ligadas à perda e expulsão do Paraíso: vergonha, culpa e a ambição de imortalidade,

entre outras. As semelhanças entre Caim e Abel e os protagonistas de Frankenstein,

Victor Frankenstein e a sua Criatura, também eles alternando entre Criador e Criatura,

Deus e Lúcifer, irmãos e Duplos, são numerosas e significativas, assim como entre Cain

de Byron e o Caim de José Saramago (a temática da Morte e do Duplo, de resto,

atravessam e estruturam a obra saramaguiana).

Esta confluência de personagens e temáticas será então analisada a partir de

Caim de Saramago, assim como algumas das ressonâncias da história bíblica de Caim

e Abel na sociedade contemporânea. Como mitos de criação, com numerosos ecos em

desenvolvimentos científicos actuais e antecipados, mitos esses que incluem uma

ambígua relação com a possibilidade do prolongamento da vida (uma extensão

parcialmente conseguida ou imaginada pela ciência) estas histórias, como herança de

Caim, possuem uma cada vez maior actualidade.

António Manuel FERREIRA (Universidade de Aveiro/ Departamento de Línguas e Culturas)

Malefícios do amor familiar na obra de Germano Almeida

No romance Os dois Irmãos (1995), o escritor cabo-verdiano Germano Almeida

encena, de forma muito original, a velha história de Caim e Abel. Trata-se de uma

narrativa de fratricídio, mas o crime – nunca realmente esclarecido –, serve apenas de

motivo propulsor para a reflexão acerca de algumas caraterísticas antropológicas da

sociedade cabo-verdiana. Assim, são questionados os processos da justiça, são

revisitadas as heranças coloniais, e é problematizada a tradição de um afeto familiar

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que não consegue desprender-se da noção de “honra”, um conceito marcadamente

masculino e machista. Além disso, o romance dramatiza o tema da emigração,

verbalizando, desse modo, o conflito existente entre a sedentariedade ancestral e o

deambulismo moderno. No vórtice das transformações socioculturais, desenham-se, a

traço trágico, as figuras familiares, divididas entre o apelo de pertença comunitária e o

desejo de viver livremente.

José Maria Rodrigues FILHO (Universidade de São Paulo)

Caim e Abel na Cabala da Inveja

Ao refletir acerca do tema, resolvi situar o estabelecimento do texto a partir do

seu étimo, ou seja, o episódio genesíaco de Caim e Abel relatado na Sagrada Torá. O

que se vê é que as isotopias básicas são mantidas no Velho Testamento da Bíblia

cristã; no entanto há elementos disjuntivos interessantes, em razão de o episódio ser

mais longamente disposto. Em seguida, através de uma pesquisa numa “beitsêfer”

(livraria judaica) foi encontrado um livro do respeitado rabino Nilton Bonder que trata da

Cabala da Inveja, no qual este sentimento negativo é tratado dentro dos pressupostos

cabalísticos dando uma visão mais moderna do programa narrativo do conflito familiar.

Daí que o texto a ser apresentado levará o título de “Caim e Abel na Cabala da Inveja”.

Ana Margarida FONSECA (Centro de Estudos Comparatistas/Unidade para o Desenvolvimento do Interior)

Pedro e Paula de Helder Macedo: fraternidade impossível?

O romance de Helder Macedo Pedro e Paula (1998) desenvolve-se – como o

próprio título denuncia - em torno da relação entre duas personagens, irmãos gémeos,

num período histórico se estende por cinco décadas, entre os estertores do Império e a

frágil construção da democracia. A análise desta relação implica necessariamente a

consideração de valores simbólicos explicitamente convocados pelo narrador, o qual

desejaria que o seu romance fosse a “simples história simbólica de gémeos

antagónicos”, mas cuja densidade de significação claramente transcende este propósito.

A ligação entre os dois irmãos é, pois, mais que uma relação de família, a mais

importante das “metáforas da história” de que o narrador se serve para fazer uma leitura

do “contentado tempo português” contemporâneo.

A forma distorcida como a relação fraternal se desenvolve ao longo dos anos, e

que culmina na violação que Pedro exerce sobre Paula, acentua a cisão entre os dois

irmãos, que se vai aprofundando à medida que as suas escolhas de vida se

antagonizam. Ao apresentar as diferenças ideológicas entre ambos, assim como a

tensão entre liberdade e controlo que entre eles se explicita, Helder Macedo propicia

uma leitura problematizadora da memória histórica portuguesa, nos tempos mais

recentes, desenvolvendo uma densa rede de significações. É nosso propósito, deste

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modo, facultar uma leitura do romance onde questionaremos memórias e identidades

nas encruzilhadas de uma relação de família tão perturbadora quanto incontornável.

Alberto GÓMEZ BAUTISTA (Universidade de Aveiro/Departamento de Línguas e Culturas)

Una lectura de Réquiem por un campesino español de Ramón J. Sender

La novela Réquiem por un campesino español, de Ramón J. Sender, evoca el

pasaje bíblico de Caín y Abel. En la fábula bíblica, el tema del odio se presenta,

esencialmente, como algo atávico, individual e íntimo, y muchas veces incontrolable e

irracional. Réquiem por un campesino español nos enseña, además, que el odio puede

adoptar también una dimensión colectiva, leerse en clave social, y, por tanto, política, y

transformarse en algo sociológico.

Sender, en Réquiem por un campesino español, ahonda en la vertiente más

negra de la reciente historia de España: la Guerra Civil (1936-1939). El autor realiza una

autopsia de las raíces del odio caínico que desgarró el país, odio del que él y su familia

fueron víctimas. El odio político del que nos habla Sender dejó hondas heridas en la

memoria colectiva de los españoles, muchas de ellas aún abiertas. El autor no ignora

que ese odio político a menudo se retroalimentó trágicamente de las rencillas

personales, del oportunismo de gente sin escrúpulos y de la cobardía y la pasividad de

algunos. Con todo, este relato es también una advertencia para que no bajemos la

guardia, pues el odio se sigue manifestando actualmente, de las más variadas formas,

en las sociedades contemporáneas y, por ello, debe hacernos reflexionar sobre los

peligros del sectarismo, del etnocentrismo, de la estigmatización y de la estereotipación

del otro, los cuales se han trivializado en nuestro tiempo.

Por otra parte, nos proponemos analizar la novela prestando especial atención a

las dicotomías en las que Sender se adentró de forma magistral en esta obra: por

ejemplo, la oposición entre la religiosidad popular y la eclesiástica/institucional o el

contraste entre el modo de vida de los ricos y los pobres, los explotadores y los

explotados, etc. Reflexionaremos también sobre los ecos bíblicos (Caín y Abel) y de la

cultura clásica (Antígona y Medea) presentes en Réquiem por un campesino español.

Nos acercaremos, a través de la literatura, a uno de los momentos más críticos de la

Historia de España, el de la contienda civil en la que se enfrentaron dos maneras de ver

España y cuyas secuelas pueden observarse en el presente.

José António GOMES (ESE - Instituto Politécnico do Porto)

De Bashô a Leminski: o caso dos haiku de guerra

Num colóquio subordinado ao tema «Caim e Abel: família e conflito», cabe um

estudo sobre o modo como a escrita literária representa a guerra – que é sempre um

combate entre homens, uma luta fratricida. O género escolhido é o haiku ou haikai que,

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entre os seus traços de origem, conta, além da brevidade extrema e da contenção

retórica, com uma atenção peculiar às coisas da natureza, à qual não são alheias a

atitude contemplativa e pacífica do poeta e monge viandante e, no caso japonês, a

filosofia budista. Dir-se-ia, pois, que nada mais refratário à violência da guerra do que o

haiku. Não é essa, contudo, a realidade com que depara o estudioso de um género que,

sendo japonês de origem, conheceu expansão prodigiosa por todo o mundo ocidental, a

partir de finais do século XIX, com inumeráveis cultores nos principais idiomas de matriz

europeia. Do japonês Bashô (séc. XVII) ao brasileiro Paulo Leminski (finais do séc. XX),

passando pelos poetas franceses que combateram nas trincheiras da Primeira Guerra

(Julien Vocance, René Maublanc e outros) ou ainda pelos cultores japoneses do género

que a seu modo foram vítimas também do segundo grande conflito mundial, o haijin

confronta-se, mais vezes do que provavelmente esperaria, com o horror da guerra. E o

haiku é uma forma outra, por vezes surpreendente, de o exprimir.

Maria Hermínia Amado LAUREL (Universidade de Aveiro/Departamento de Línguas e Culturas)

Rememorações, conjecturas e conflito: a escrita fragmentária do “Cycle

Alérac” (1934-1955), por Monique Saint-Hélier

Laboriosamente preparados, os volumes que compõem o chamado “Cycle

Alérac”, foram publicados por Monique Saint-Hélier entre os anos de 1934 e 1955.

Composto por quatro livros (Bois-Mort, Le Cavalier de paille, Le Martin-pêcheur e

L’Arrosoir rouge), ecoam nestes a leitura atenta de projectos latos como a Comédie

humaine, ou a saga dos Thibault, mas também o tom introspectivo de cariz gidiano ou

resultante da familiaridade com a obra de Virginia Woolf ou de Rainer Maria Rilke. A

história de três famílias surpreende o leitor pelos entrelaçamentos reais ou possíveis

que a autora conjectura, e que sustentam a composição em mosaico, desta crónica,

indiciando novos prolongamentos romanescos que permanecem no entanto inacabados.

O recurso à rememoração do passado, nem sempre comprovado, das personagens e

dos seus antepassados urde uma teia proustiana de relacionamentos e de conflitos que

se prolonga no presente, e que a continuação do projecto de escrita poderia

eventualmente ter esclarecido, interrompido pela morte da romancista suíça em 1955;

espaços brancos são deixados à imaginação do leitor que assim pode partilhar o

trabalho de expansão de uma crónica que talvez nunca viesse a ser dada por concluída.

Marcos LOPES (Universidade de Campinas/Brasil)

A hermenêutica saramaguiana dos textos bíblicos

O fio condutor desta comunicação será apresentar as bases da hermenêutica em

José Saramago e pensá-las em um dos seus últimos romances: Caim (2009). Um dos

traços característicos da ficção saramaguiana é oferecer ao leitor as condições de

intepretação da própria narrativa. A partir de um conjunto de estratégias textuais

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amarra-se fortemente o sentido do relato ficcional, sendo a ironia e a alegoria as figuras

mais expressivas. Uma espécie de cerco hermenêutico ao leitor produz o fenômeno de

um excesso de significação no romance. As consequências desse fenômeno estético

para a orientação ética da narrativa constituem o horizonte crítico desta investigação.

João de MANCELOS (Universidade da Beira Interior)

Como ser uma má filha: conflito em ‘Two Kinds’, de Amy Tan

O conto “Two Kinds”, incluído na antologia The Joy Luck Club (1989), é um dos

mais expressivos da escritora asiática-americana Amy Tan. A narrativa aborda as

grandes expetativas de uma mãe, Suyuan Woo, relativamente à filha, Jing-Mei Woo.

Suyuan persiste em ver nela a menina-prodígio, de modo a concretizar o sonho

americano de fama e riqueza. Contudo, Jing-Mei é apenas uma jovem comum, sem

qualquer talento em especial. Por conseguinte, gera-se entre ambas uma tensão que

remete para o conflito de gerações e para a diferença de pensamento entre os

imigrantes de primeira vaga e os seus descendentes. Para analisar o conto, recorro a

ensaios de especialistas em estudos culturais, a críticos literários e, naturalmente, à

minha opinião.

Luiz Gonzaga MARCHEZAN (UNESP/Brasil)

Sobre os irmãos, o calmo e o colérico, do romance de Milton Hatoum

As personagens dos romances de Milton Hatoum aparecem também em suas

crônicas e contos; acompanham o replicar de suas memórias familiares libanesas,

associadas tanto a orientações religiosas cristãs como a muçulmanas. Este trabalho

estuda tal disposição da narrativa do autor no romance Dois irmãos (2000), em que o

comportamento dos dois protagonistas orienta uma trama ficcional que passa por nexos

religiosos e questionamentos éticos, compondo, assim, o ethos autoral.

João Minhoto MARQUES (Universidade do Algarve)

Et in Arcadia ego — violência e morte no espaço campestre

Na narrativa bíblica, a morte de Abel, às mãos de Caim, ocorre no campo. Este,

como consequência do seu acto, tem de abandonar esse espaço, sendo condenado à

errância e acabando por fundar uma cidade.

Na leitura dos textos que têm constituído a tradição do bucolismo, é costume

associar-se ao campo um conjunto de características e de valores eufóricos que o

distanciam da cidade, entendida como espaço disfórico. No entanto, nem sempre o

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campo representado nesses textos, ou noutros que com eles continuam a manter um

diálogo transhistórico, tem aquele tipo de características.

Importará, pois, nesta comunicação, examinar a representação disfórica do

espaço campestre, procurando-se compreender de que modo esta se articula com o

valor simbólico da narrativa bíblica referida.

Maria do Carmo Pinheiro e Silva Cardoso MENDES (Universidade do Minho)

Sob o signo da desarmonia: conflitos familiares na ficção de Agustina

Bessa-Luís

Omnipresentes nos romances de Agustina Bessa-Luís, as histórias de família

tomam com frequência contornos de violência declarada ou velada, que se manifestam

em conflitos nas relações conjugais, nos envolvimentos entre familiares de sangue

(irmãos, pais e mães, tios a avós).

Esta comunicação tem como principais propósitos: 1.º) Mostrar que a ficção

narrativa de Agustina cumpre cabalmente a asserção da narradora expressa em

Caderno de Significados: “A família nos meus livros tem um lugar muito expressivo. Não

tanto como instituição, mas como um suporte da solidão”; 2.º) Identificar os mais

relevantes conflitos familiares dos romances agustinianos, com destaque para aqueles

que opõem marido e mulher em As grandes mudanças (um caso extremo de

agressividade, que culmina no estrangulamento da esposa) e em Vale Abraão; pai e

filha em Eugénia e Silvina; sobrinho e tias em O Mosteiro; irmãos desavindos e

conflituosos na 2.ª parte de Os Incuráveis, significativamente intitulada “Os Irmãos”; 3.º)

demonstrar que nos romances de Agustina a relação do feminino com figuras

dominantes (pais e maridos) se torna insustentável, desencadeando antagonismos que

tomam os contornos de guerras de poder; 4º) sublinhar que o ressentimento, a aversão

e a cólera, ainda que assumindo um lugar privilegiado no tratamento agustiniano das

relações familiares, não apagam a convicção da narradora de que “Um livro nasce dum

desejo profundo de relacionamentos com aqueles que nos são caros: o pai, a mãe, a

zona familiar mais densa em que abrimos caminho e que continuamente se fecha à

nossa volta”.

Carlos MORAIS (Universidade de Aveiro/Departamento de Línguas e Culturas)

A voz de sangue de teu irmão clama: a guerra civil espanhola em

recriações do mito de Antígona

Nos começos de 1939, quando a Espanha estava a sair de uma violenta guerra

civil e a Europa estava a meses de entrar numa não menos violenta Guerra, Salvador

Espriu recorre ao mito de Antígona para escrever um texto comprometido

ideologicamente, que sublinha o horror de um insensato conflito familiar que tanta

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destruição trouxe a Tebas, polis que alegoricamente representa Espanha. Inspirando-se

sobretudo no arquétipo sofocliano, mas bebendo igualmente nas Fenícias de Eurípides

e nos Sete contra Tebas de Ésquilo, a sua Antígona é construída em torno de dois

agones que sublinham o seu desejo de paz e de fraternidade.

Na linha de Espriu, José Bergamín (1955), Carlos de la Rica (1968) e Alfonso

Jiménez (1969) recorrem igualmente a este mito grego, como forma de superar o

trauma causado pelos ódios de uma dilacerante guerra fratricida.

Eliziane Fernanda NAVARRO & Olga Maria CASTRILLON-

MENDES (UNEMAT, Brasil)

Convergências míticas em “Era um Poaieiro” de Alfredo Marien: um

diálogo com Catulo

Baseado nos estudos de Eleazar M. Mielietinski, pretende-se neste estudo, fazer

uma releitura da obra mato-grossense Era um Poaieiro de Alfredo Marien, sob o viés da

mitologia. O crítico interliga os conceitos de literatura e mitologia ao reconhecer a

possibilidade da construção literária a partir de modelos míticos, possibilitando assim, a

reimpressão de alguns elementos da mitologia clássica, em obras posteriores,

elementos estes, que relacionam contextos de criações totalmente diferentes, sem que

essa disposição prejudique a originalidade dos autores. Sabe-se que a obra é fruto da

vivencia do autor. Como poaieiro no interior do estado de Mato Grosso e influenciado

pela riqueza das narrativas orais aqui difundidas, escreveu seu único livro, publicado

pela primeira vez em 1944. Para tal, foi necessário utilizar-se de um recorte que

compreende, dentro da obra do autor francês, o casal de personagens Brasilino e

Tereza, o Pé de Garrafa como símbolo dos perigos imanentes do espaço da narrativa,

além da própria floresta como projeção arquetípica do labirinto. Da mitologia

emprestamos os personagens mitológicos Teseu e Ariadne e as relações destes com o

Minotauro e seu labirinto, tendo como ponto de confluência literária o poema LXIV do

italiano Caio Valério Catulo. Ambos os autores, Catulo e Marien, constroem os

personagens protagonistas baseados no mito clássico, sendo que os personagens de

Marien estão inseridos em um contexto específico regional do Brasil na década de 30, o

apogeu da poaia em Mato Grosso. Trata-se de um posicionamento engajado do autor,

que denuncia as condições insalubres de vida dos sertanejos que tanto geraram

riquezas para o Estado, mas ficaram à margem da história.

Anabela Dinis Branco de OLIVEIRA (UTAD/LabCom)

O Triunfo da Vontade (Leni Riefenstahl, 1934): nazismo versus estética

cinematográfica

O documentário O Triunfo da Vontade, de Leni Riefenstahl (1934) projeta o

antagonismo entre o horror de uma doutrina e a essência da arte cinematográfica!

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26 | Colóquio Internacional “Caim e Abel: Família e Conflito”

Como é que se conjugam a propaganda e a arte, a ideologia e a câmara, o horror e a

beleza? Como é que a arte domina no horror e o horror exige a colaboração da arte?

Como é que coabitam o poder, a loucura sangrenta e a imanência, a espessura criativa

e o percurso estético do cinema? Qual o lado Caim e qual o lado Abel de uma

realizadora maldita? Como é a luta entre nazismo e estética cinematográfica? Um

percurso através de O Triunfo da Vontade e não só…

Maria Elizabete Nascimento de OLIVEIRA & Elisabeth BATTISTA (UNEMAT, Brasil)

Representações estéticas e (re)leituras de Gaibéus, Alves Redol & Homens

e caranguejos, Josué de Castro

Esta abordagem volta-se para o estudo dos elos de convergências e

distanciamentos entre o Romance: Gaibéus, de Alves Redol, que conta a saga dos

ceifeiros de arroz na Lezíria do Ribatejo em Portugal, com a narrativa, Homens e

Caranguejos, de Josué de Castro, o qual narra a trajetória cíclica da vida dos seres

humanos que trabalham nos mangues do Recife no Brasil. Como ponto de partida,

apresentamos alguns aspectos que se vislumbram a partir da leitura da obra Gaibéus,

escrita em 1939, momento de diversas revoluções sócio-políticas, históricas e culturais,

em diálogo com os elementos estruturais, espaço/tempo, do romance de autoria de

Josué de Castro: Homens e Caranguejos, lançado em 1967. Tanto a narrativa de Redol,

quanto de Castro elegem como foco a vida do homem ordinário (CERTEAU, 2002), que

desponta em meio ao cenário de miserabilidade humana, mas que resiste às

intempéries do poder dominante, ao criar suas artimanhas de resistência. No plano da

representação literária, as obras demarcam o traço cruel e avassalador da violência

social, nos dois lados do Atlântico, com ênfase na temática da exploração do homem

pelo homem e da fome, alimentada pela égide do sistema capitalista de organização

social. Enfatizamos, portanto, que as produções literárias dos autores engajados nos

incitam a descortinar aspectos da representação estética dos temas, sob os olhares dos

respectivos autores. Nossa reflexão elege como suporte teórico-metodológico as

proposições de Tânia Carvalhal (2005), Michel de Certeau (2002), Antonio Candido

(1995), Ernst Fischer (1971), Benjamim Abdala Jr (1987), entre outros, os quais

discorrem sobre a dialética existente entre a história sócio-cultural e política com a arte

literária.

Júlio Franclim PACHECO (Instituto Superior de Ciências Religiosas de Aveiro)

O conflito Caim-Abel: uma leitura exegético-bíblica

O autor anónimo do séc. X, de tradição javista, faz uma leitura «actual» dos

problemas da vida do povo hebreu, encontrando a sua explicação em estilo de mito do

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início. O conflito Caim-Abel, assim colocado, é usado para entender os conflitos

familiares, mas sobretudo aquilo que o autor entende como auto-destruição do povo.

O processo de sedentarização que as tribos hebreias foram sofrendo teve como

consequência a perda de vários valores que durante séculos foram fundamentais para a

sobrevivência do povo.

Antes da sedentarização que, ao tempo do autor, já tinha uma história de cerca

de trezentos anos, o valor fundamental, fonte de todos os outros valores, assentava na

solidariedade tribal. Ao tornar-se agricultor («caim») os elementos do povo perderam

progressivamente o sentido de fraternidade do povo nómada/pastor («abel).

Para o autor, Deus não pode olhar com bons olhos a situação povo do seu

tempo, nem sentir-se agradado com o culto prestado. O povo/agricultor/Caim matou o

povo/pastor/Abel.

A condição para o povo se manter na Terra prometida era «honrar o pai e a

mãe», isto é, respeitar os valores do passado. Porque rejeitaram estes valores, o

castigo será uma vida errante, que foi acontecendo ao longo da história do povo hebreu.

Manuela PARREIRA DA SILVA (FCSH, Universidade Nova de Lisboa)

A «marca» de Caim na obra de Fernando Pessoa

A comunicação partirá de uma análise, necessariamente breve, do texto

esotérico O Caminho da Serpente, procurando encontrar ecos da presença de um Caim

gnóstico em textos como A Hora do Diabo e Fausto, mas também na poesia dos

heterónimos.

Maria Cristina PIMENTEL (Universidade de Lisboa)

Vetera fratrum odia et certamina: discórdias entre irmãos na historiografia

de Tácito

É nosso objectivo observar alguns episódios da obra de Tácito que ilustram de

modo mais significativo os ódios e inimizades entre irmãos, as razões que movem essa

rivalidade e as consequências nefastas que produzem. Dando especial atenção aos

Annales, e aos pares de irmãos Armínio e Flavo, Nero e Druso (filhos de Germânico e

Agripina Maior), Nero e Britânico, e Mitridates e Farasmanes, registaremos alguns

traços comuns desses conflitos com o que opôs Caim a Abel, e procuraremos ver o

modelo literário que subjaz ao desenho das personagens e à análise da perspectiva

moral de Tácito.

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28 | Colóquio Internacional “Caim e Abel: Família e Conflito”

Ana Maria RAMALHEIRA (Universidade de Aveiro/ Departamento de Línguas e Culturas)

A iliteracia moral e política no Terceiro Reich e o trauma da memória do

Holocausto na geração do pós-guerra – Der Vorleser (1995) de Bernhard

Schlink

Internacionalmente celebrizado pela aplaudida adaptação ao cinema realizada

por Stephen Daldry (2008), o romance Der Vorleser [O Leitor], da autoria do escritor,

jurista e professor de Direito alemão Bernhard Schlink (*1944), levanta uma série de

questões que ganham hoje em dia, numa aparente «Europa alemã» (expressão usada

por Thomas Mann em contraponto a uma «Alemanha europeia») e a braços com uma

grave crise financeira e política, uma relevância muito especial. Refiro-me

especificamente à problemática da iliteracia stricto sensu, mas também à iliteracia moral

e político-social; ao trauma da memória do Holocausto na geração alemã do pós-guerra

e às formas diversas de lidar com um passado (Vergangenheitsbewältigung), cuja

«longa sombra» (tomando de empréstimo a feliz expressão «der lange Schatten der

Vergangenheit» de Aleida Assmann) se projecta inexoravelmente no presente. Será

fundamentalmente nestes temas que me deterei, tentando reflectir i) sobre a forma

como a História recente continua a ocupar e a marcar as diversas gerações alemãs

desde os anos 30 do século XX, ii) sobre o futuro de uma Europa nascida do trauma da

Segunda Guerra Mundial iii) e, por extensão, sobre os contornos da atitude e do

discurso dos actuais dirigentes alemães na União Europeia, principalmente desde o

início da crise que deflagrou em 2008.

Manuel Ferreira RODRIGUES (Universidade de Aveiro/Departamento de Educação)

Partilhas, industrialização e republicanismo no conflito entre os irmãos

Pereira Campos

No relato bíblico do Génesis (4: 2), Deus não aceitou os frutos da terra que Lhe

oferecera o «lavrador» Caim, mas, com agrado, recebeu de Abel, que era «pastor de

ovelhas», as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. Esta preferência divina

pela pastorícia e o terrível gesto de Caim testemunham a forte oposição à agricultura

arável, no início do Neolítico. Seriam precisos séculos e muitas guerras para que a

alteração da paisagem natural deixasse de ser olhada como blasfémia e as duas

atividades se tornassem complementares.

No final do séc. XIX, Portugal inicia a longa e dolorosa transição de uma

democracia liberal e elitista para uma democracia de massas. O vendaval da

industrialização começava, também em Aveiro, a revolver certezas e modos de viver

velhos de séculos. Em 1907, sentindo-se muito doente, o velho mestre de obras

Jerónimo Pereira Campos, então com 79 anos de idade, decide partilhar os bens entre

os seus quatro filhos. Algum tempo antes, tinha ajudado os dois mais velhos a

organizarem as suas vidas. O Domingos abriu uma oficina de encadernação e o Ricardo

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estabeleceu-se como comerciante de porta aberta. Logo que os mais novos, o Henrique

e o João, terminaram o curso de Desenho Industrial, ergue com eles uma fábrica de

telha e tijolo. A divisão dessa empresa cerâmica em partes iguais iria abrir uma ferida no

relacionamento entre os quatro irmãos. Mas é a adesão do mais novo aos ideais

republicanos que torna o conflito insanável. João torna-se republicano e é iniciado na

Maçonaria pela mão de Sebastião de Magalhães Lima. Ominosos acontecimentos para

uma família tradicionalmente monárquica e católica. No âmbito das duas primeiras

tentativas de restauração monárquica, Domingos e Ricardo são presos na Cadeia da

Relação com outras figuras gradas da Monarquia em Aveiro. Em 1912, João afasta-se

dos irmãos e funda uma nova fábrica de cerâmica e uma fundição. Domingos encerra a

encadernadora e assume a direção da empresa cerâmica fundada pelo pai e pelos

irmãos. Com a colaboração empenhada da elite monárquica da cidade, dirige a

construção, durante a I Guerra Mundial, do maior edifício industrial da cidade e funda a

mais importante empresa cerâmica da região. Era necessário enfrentar a séria ameaça

que constituía a empresa do irmão. Mas, no final da Grande Guerra, termina a guerra

entre os dois irmãos: João morre de doença cardíaca.

Margarida SANTOS (ensaísta)

Do ventre materno às lutas políticas. Irmãos e rivais no romance Esaú e

Jacó de Machado de Assis

Raquel, mulher de Isaac, concebeu: "As crianças lutavam no seu seio." E Raquel

foi consultar o Senhor que lhe respondeu: "duas nações estão no teu seio: dois povos

sairão das tuas entranhas" (Génesis 25, 20-22).

Foi neste episódio bíblico respeitante a Esaú e Jacó que Machado de Assis se

inspirou para a escolha do título do seu romance, que narra a história de dois gémeos, a

quem significativamente foram postos os nomes de Pedro e Paulo, os apóstolos que

tantas divergências dividiram em vida mas que um grande amor a Cristo irmanou, o que

a Igreja consagrou em morte, festejando ambos no mesmo dia 29 de junho.

Como Raquel, também Natividade, a mãe, se sente inquieta sobre o futuro dos

filhos e quer saber o que a vida lhes reserva. Por isso, decide consultar a cabocla do

Castelo, "a mulher que adivinhava tudo", que lhe revelou terem os gémeos lutados no

seu ventre mas que predisse para eles "grandes coisas futuras". A vida dos dois irmãos

decorre entre desentendimentos e reconciliações, quer na perspetiva dos afetos quer no

campo da política, onde os espera uma posição proeminente, como previra a cabocla,

mas situando-se em campos opostos. Aquando do derrube da Monarquia e da

implantação da República no Brasil, Pedro torna-se monárquico, Paulo republicano.

O romance inscreve-se na fase realista da obra de Machado de Assis e é

marcado por um forte cariz psicologista, dissecando, muitas vezes com viva ironia, o

caráter e os sentimentos, bem como o comportamento das personagens.

O autor-narrador de Esaú e Jacó afirma cingir-se aos factos relatados pelo

Conselheiro Aires num Memorial constituído por sete cadernos, um dos quais,

identificado apenas como "último", continha exclusivamente a narrativa que está na

origem do romance. A obra tem, pois, dois narradores, que, ambos, acompanham os

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30 | Colóquio Internacional “Caim e Abel: Família e Conflito”

acontecimentos com as suas reflexões, sendo que o Conselheiro alia a condição de

autor do Memorial à de personagem da própria narrativa.

A sua objetividade no relato dos factos exprime-a Machado de Assis

recorrentemente em afirmações como a seguinte, dirigida a um leitor virtual: "[...]mas eu,

amigo, sei como as coisas se passaram, e refiro-as tais quais. Quando muito explico-

as." (p. 200). E, para conferir credibilidade à sua pretensa condição de transmissor

rigoroso de um relato alheio, explicita como mera suposição da sua parte o colmatar de

hipotéticas lacunas do manuscrito.

A técnica narrativa utilizada por Machado de Assis caracteriza-se por uma

atitude irónica e lúdica e uma permanente alteração de registos que confere ao texto

grande vivacidade. Cruzam-se os factos e as descrições, os diálogos, os pensamentos

próprios ou alheios, as opiniões, as interpelações a leitores virtuais (tão depressa o

"amigo", como "tu", "a leitora", etc.), para além do recurso estilístico a inesperadas e

surpreendentes metáforas e imagens.

Quanto à análise psicológica das personagens é de salientar a fina análise da

complexidade dos sentimentos e das atitudes, com as naturais e humanas contradições,

ambiguidades, hesitações, egoísmos que alternam com impulsos de grande

generosidade. Uma tal caracterização com matizes subtis é particularmente evidente no

caso dos gémeos que, sendo fisicamente tão parecidos mas com feitios opostos,

oscilam entre a agressividade e a pacificação, e, mesmo no caso da opção política que

os opõe, um republicano ao outro monárquico, têm, por vezes, uma estranha e

misteriosa cumplicidade. Zangados, de novo, após a morte da mãe, não obstante terem-

lhe jurado ser sempre amigos, separam-se, mas o Conselheiro, arguto observador e

com o conhecimento dos factos, sabe, no seu íntimo "que eles eram os mesmos, desde

o útero".

Isa Margarida Vitória SEVERINO (Unidade de Investigação e Desenvolvimento do Interior , Instituto Politécnico da

Guarda)

A luta fraticida em Sedução de José Marmelo e Silva Tendo como ponto de partida a novela Sedução de José Marmelo e Silva,

pretendemos analisar o conflito familiar existente entre os protagnistas - Eduardo Forjaz

e sua irmã, Maria Noémia - que conduz a uma luta fraticida.

Em 1937, data da publicação da novela, a mulher detinha um papel submisso na

sociedade, contudo, Maria Noémia surge como um antimodelo do feminino, na medida

em que assume o controlo da vida do irmão, cataliza a atenção das mulheres que ele

conhece e deseja, erigindo-se como a figura usurpadora do papel que Eduardo almeja

alcançar.

Ao longo da nossa reflexão pretendemos indagar a veracidade que resulta do

registo na primeira pessoa, que faculta uma visão parcial dos acontecimentos e viabiliza

o estabelecimento de um diálogo do eu consigo mesmo, pois é aos seus complexos e

frustações que ele se dirige, num processo de desdobramento. É ainda nosso objetivo

ressaltar as contradições que residem na psicologia humana, tendo como leitmotiv o

protagonista da novela - Eduardo Forjaz.

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Resumos | 31

Agnaldo SILVA (UNEMAT/Brasil)

O conflito social e familiar na dramaturgia de língua portuguesa: a escrita

de resistência em Gota d’Água (Chico Buarque e Paulo Pontes) e Os

degraus (Augusto Sobral)

Chico Buarque é um dos principais artistas/escritores brasileiros contemporâ-

neos. No teatro, esse dramaturgo discutiu temáticas polêmicas em épocas de

resistência à censura, sendo notado nos movimentos sociais como intelectual de

linguagem polissêmica, cuja produção fez-se codificada em canções, novelas, romances

e peças teatrais. Nesse contexto, apontamos a peça teatral Gota d’água, escrita em

parceria com Paulo Pontes, texto esse que revitaliza o mito de Medéia, ao propor um

desfecho conflituoso no seio familiar, a fim de problematizar o desajuste da sociedade

brasileira na década de 1970. Augusto Sobral é um dos notáveis dramaturgos do

moderno teatro português. Ele inovou a produção do texto cênico, impondo novas

concepções de cenografia e, sobretudo, um teatro político que pudesse discutir projetos

filosóficos e sociológicos, em um tempo de combate ao capitalismo selvagem. Na

década de 1960, Sobral contribuiu com textos cênicos que combatiam a censura e os

efeitos da ditadura militar sobre as estruturas sociais, momento quando colocou em

pauta uma leitura atualizada do mito de Prometeu, em Os degraus. A peça teatral de

Sobral trouxe à cena um jovem preocupado com os problemas do mundo, mas sufocado

pelo poder constituído e incompreendido no núcleo familiar. Gota d’água e Os degraus

são peças teatrais do moderno teatro de língua portuguesa que apresentam

características da escrita de resistência, em um confronto entre o homem e o mundo, a

família e a sociedade, a ditadura e a democracia, a censura e a liberdade de expressão.

Cristiane Ivo Leite da SILVA & Elisabeth BATTISTA (UNEMAT, Brasil)

Os conflitos familiares em Tanta gente, Mariana, de Maria Judite de

Carvalho

Em meados do século XX, surgia no cenário jornalístico e literário de Portugal

uma escritora de grande talento intelectual, Maria Judite de Carvalho (1921-1998), que

com um gosto particular por narrativas curtas, buscou por meio de sua sensibilidade

tratar em suas produções das fragilidades da existência humana, principalmente da

condição subalterna da mulher portuguesa. Com a publicação de sua primeira obra, em

1959, intitulada: “Tanta gente, Mariana”, coletânea composta por oito narrativas breves,

a autora conquista o reconhecimento do público leitor e recebe inúmeros elogios da

crítica especializada. Desta maneira, a respectiva abordagem visa apresentar algumas

reflexões acerca dos conflitos familiares presentes em alguns dos contos que

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32 | Colóquio Internacional “Caim e Abel: Família e Conflito”

constituem a coletânea supramencionada de Maria Judite, em que a mulher é

apresentada em condição de submissão no ambiente familiar, bem como, verificar quais

os fatores que contribuem para a ocorrência das constantes situações conflitantes entre

as personagens juditianas. As personagens femininas de Maria Judite estão sempre em

busca de sua liberdade e tentam romper os limites impostos à elas pela hegemonia

masculina, mas, na maioria das vezes, se frustram e se limitam a esperar pela morte. É,

portanto, inseridas nesse contexto que as personagens femininas de algumas narrativas

da coletânea, como por exemplo, do conto Noite de Natal, Dores e Emília, após a

ocorrência de uma fatalidade, são tomadas por um intenso estado de desespero e

abandono que acaba levando-as ao suicídio. Para tanto, teceremos nossas

considerações com base nas reflexões críticas teóricas de Antonio Candido (2005),

Fernando Mendonça (1973), Leyla Perrone Moisés (1990), Nelly Novaes Coelho (1993),

Massaud Moisés (1981), entre outros.

Elizabete Sampaio Vieira da SILVA (PPGEL, UNEMAT, Brasil)

& Elisabeth BATTISTA (UNEMAT, Brasil)

Os laços de família e os conflitos interfamiliares, em Clarice Lispector

O presente trabalho tem como objetivo o estudo das configurações literárias dos

conflitos interfamiliares em narrativas da coletânea “Laços de Família”, publicada em

1960, por Clarice Lispector. A autora Clarice Lispector é uma figura importante da

literatura moderna no Brasil, iniciou a carreira precocemente, tendo aos 16 anos um de

seus contos publicado no jornal literário Dom Casmurro, trabalhou ainda como jornalista

e só então escreveu seu primeiro romance Perto do Coração Selvagem, que foi

publicado em 1944, pela editora do jornal onde trabalhava. Tendo como ponto de

partida, a análise de “Feliz Aniversário”, o quinto conto da coletânea, bem como outros

que serão selecionados, Clarice Lispector, a partir de sua produção ficcional vai

engendrar novas perspectivas acerca da alienação das relações interfamiliares,

desvelando a artificialidade dessas relações e o aprisionamento do ser humano em

decorrência dos laços familiares. Busca-se compreender de que forma a autora

representa os conflitos familiares e os desfacelamentos destas relações na sua

produção literária. Nossas considerações terão como embasamento as reflexões críticas

teóricas de Antonio Candido (2005), Leyla Perrone Moisés (1990), Nelly Novaes Coelho

92002) entre outros.

Reinaldo SILVA (Universidade de Aveiro)

Family Conflicts in Anthony Barcellos’ Land of Milk and Money

The aim of this paper is to revisit and update the biblical passage featuring Cain

and Abel – but within the context of family feuds and greed in the Portuguese diaspora.

Anthony Barcellos’ Land of Milk and Money (2012) tells the story of the Francisco family,

Portuguese immigrants from the Azores who settle on a dairy farm in California’s Central

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Resumos | 33

Valley. Their plans to eventually return to the Old Country fall by the wayside as their

success grows and their American lives take root. The legacy of one generation

becomes a point of contention as the members of the next generation begin to compete

to inherit and control their heritage, which includes herds of cattle and tracts of farm land.

The death of Teresa Francisco, the family’s matriarch, sets off a string of battles

(both personal and legal) between brothers, spouses, in-laws, and cousins. A courtroom

confrontation over Teresa’s will is at center stage as the contending factions discover

that the old lady had plans of her own for securing her legacy.

In any saga covering many generations of an immigrant family one of the obvious

objectives is to show the gradual, but inexorable, assimilation of old world traditions into

a new and overwhelming culture. This one is no exception. Paulo and Teresa, the

patriarch and matriarch of the dynasty remain throughout their lives more Portuguese

than American. Although Paulo becomes a US citizen, Teresa refuses to and never

ceases to long for her island home of Terceira. More tellingly, she never learns to speak

English, which means that her children and grandchildren must continue to speak

Portuguese, but ever more rudimentarily, until by the fourth generation the old language

has been almost completely subsumed by American English, though some ancient

customs, such as the festival celebrating the feast of the Pentecost, continue to be

observed.

Tapping from contemporary ethnic studies theorists such as William Boelhower,

this story focusing on family conflicts invites us to ponder the very few lingering “ethnic

signs” in a story of acculturation and melting. In the words of Jorge de Sena in “Noções

de Linguística,” while observing his children speaking in English – and not Portuguese –

as they play with one another, somewhere out there in the Portuguese diaspora the

Portuguese language and culture die and/or fade away on a daily basis. This panoramic

novel featuring four generations of mostly Americans of Portuguese extraction clearly

fleshes out this Senian predicament and the clashes among them.

José William Craveiro TORRES (Universidade de Coimbra)

Amadís versus Patín: resíduo de um conflito

Desde sempre, o conceito de “família” ultrapassou as fronteiras do parentesco:

um grupo de pessoas unidas pelos mesmos valores, por uma mesma ideologia e pelos

mesmos propósitos pode, perfeitamente, abrigar-se por trás desse termo. Na

Antiguidade Clássica, os heróis costumavam tomar para si as dores dos amigos: foi a

traição sofrida por Menelau que levou os demais gregos à guerra contra os troianos.

Formou-se, então, em torno da nem sempre unida Grécia, uma grande família. Os

teucros, por sua vez, eram “irmãos” dos dânaos: aqueus e dardânios possuíam

ascendentes comuns, cultuavam os mesmos deuses; enfim, comungavam das mesmas

práticas culturais. A Guerra de Troia foi, portanto, um conflito entre irmãos. Na Idade

Média, os cavaleiros comportavam-se exatamente como os heróis antigos. O que foi a

Távola Redonda senão uma irmandade liderada pelo Rei Artur? Tal irmandade, no

entanto, não foi capaz de impedir o conflito entre o clã de Artur e o de Lancelote, após

aquele ter descoberto que este o traía. Nesta comunicação, pretendemos mostrar como

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34 | Colóquio Internacional “Caim e Abel: Família e Conflito”

o conflito entre Amadís e Patín, personagens do Amadís de Gaula, recupera aquele

travado entre argivos e dardânidas pelas planícies de Troia; inclusive no que concerne à

briga entre “irmãos”: o clã de Amadís e o do rei Lisuarte. Excertos da novela em apreço

deixam claro que o protagonista e seus pares espelhavam-se nos antigos gregos e

troianos, pois estes eram tidos, por aqueles, como exemplos de coragem, de lealdade e

de virtude. Desse modo, analisaremos a postura das personagens amadisianas a partir

da Teoria da Residualidade, de Roberto Pontes, e do que nos dizem acerca dos

elementos clássicos presentes no Medievo estudiosos como García de la Riega, Teófilo

Braga, Cacho Blecua, Gómez Redondo e Susana Gil-Albarellos.

Erik VAN ACHTER (KU Leuven, Bélgica; CLP, Coimbra)

Timshel: Podeis – Deveis. O drama bíblico de Caim e Abel no Romance

A Leste do Paraíso (John Steinbeck)

A presente contribuição é construída em volta de uma interpretação da palavra hebraica

timshel no romance East of Eden ( a Leste do Paraíso) (John Steinbeck). A tradução da

palavra hebraica timshel para o inglês pode ser “thou mayest” (podeis) ou “ thou shallt”

(deveis), dando margem considerável para interpretações do termo. Além de destacar

outras referências bíblicas e intertextos parciais e plausíveis muito presentes em East of

Eden, como a história de Adão e Eva, a contribuição concentra principalmente em pôr

em relevo a intertextualidade do enredo, ao longo de duas gerações no romance, com a

história de Caim e Abel no livro de Gênesis. Ao preferir “thou mayest” (American

Standard Bible) sobre “thou shallt” (King James Bible), Steinbeck, através das palavras

do personagem Lee (um imigrante chinês), dá à humanidade a escolha e, portanto, o

eleva através de seu livre-arbítrio para o estado do(s) deus(es). Considerando que, para

duas gerações de irmãos cujos nomes começam simbolica e significativamente com A

(Adam / Aron) e C (Charles / Call) redenção vem do esforço do livre arbítrio e da

capacidade de perdoar. Finalmente, devida atenção também será dada à personagem

Cathy Ames, personagem cujo nome também começa com C. como Charles Trask, e

como Caim na Bíblia; como eles, ela também está marcada na testa, simbolizando que

ela é uma encarnação de Thou Shallt na forma negativa, isto é, como ela encarna a

completa falta daquilo ao que se chama em hebraico: yetzer tov (uma inclinação inata

para fazer o bem).

Alex VILLAS BOAS (Pontifícia Universidade Católica, São Paulo)

Identidade e Alteridade a partir da concepção de personagem

em Emmanuel Lévinas

Na obra intitulada Humanismo do outro homem, de 1972, Emmanuel Lévinas em que

menciona dois personagens literários como aqueles que doam imagens de sentido à

tarefa filosófica, a saber faz uma comparação entre Ulisses e Abraão. Inerente a cada

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personagem há uma estruturação psicológica que provoca uma dinâmica existencial de

desvelamento de uma unidade de sentido. No personagem homérico o acento incide

sobre a identidade, mas que se realiza em uma volta ao Mesmo, como uma

complacência no Mesmo, simbolizado na volta à Ítaca, e que resulta em uma indiferença

ao Outro, como “maneira de existir” alimentada pelo Ocidente. Nesta lógica existencial,

a “complacência no Mesmo” indica uma “absorção do outro pelo mesmo”, ou ainda a

“dedução do Outro pelo Mesmo”, de modo que “a verdade consistia em descobrir uma

totalidade onde o diverso acaba por ser idêntico” ou seja, desde a intencionalidade do

pensamento o diverso era redutível ao plano do Mesmo, sendo esse “primado do

mesmo”, uma estruturação narcísica do pensamento e da psicologia ocidental. Já no

personagem bíblico o acento incide sobre a alteridade que se dá pela experiência do

“rosto” do Outro, “experiência pura”, “sem conceito” de modo que o “Outro” extravasa o

Mesmo” na medida em que o infinito extravasa a ideia pré-concebida para reforçar o

mesmo. Essa dinâmica de extravasar só pode ser concebida por ser o Outro abraâmico

por excelência Deus, que infinitamente chama a sair de si pelo desejo que provoca o

Outro. Deste modo “o desejo mede a infinitude do infinito”. Essa insaciabilidade natural

do desejo é que “cava a profundidade da interioridade” no manifestar de um desejo que

por natureza é infinitamente provocado por Outrem. Se pretende no presente trabalho

analisar a partir da concepção levinasiana de fenomenologia como o autor elabora sua

afirmação sobre os personagens que compara a fim de identificar como a teologia

homérica e a teologia hebraica estão no fundo da questão. Contudo, essa análise

literário filosófica levinasiana não considera a complexidade da obra homérica e o

deslocamento semântico teológico entre a Ilíada e a Odisseia, que aqui se irá analisar

para se compreender que nesta diferença teológica da escola homérica incide a

distinção entre o que Lévinas estabeleceu, e mesmo identificar elementos comuns e

distintos entre os personagens homéricos e bíblicos.

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Entidades e patrocínios

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