Fátima Nunca Mais - P Mário de Oliveira

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FáTIMA NUNCA MAIS -- Digitalizado por: Lurdes e Tomé Coelho -- Outras Obras do Autor: Evangelizar os pobres, Figueirinhas 1970 Encontro, Afrontamento 1971 Maria de Nazaré, Afrontamento 1972 Chicote no templo, Afrontamento 1973 Estava preso e visitastes-me, Ed. Autor 1974 Cartas da prisão, Iniciativas Editoriais 1974 Ser jornalista é tomar partido, Ed. Autor 1975 Nascer de novo (ensaio de catequese libertadora), Afrontamento 1975 O Bispo converteu-se, Ed. Autor 1976 Creio na Revolução, Ulmeiro 1977 Viver sem deuses nem chefes, Centelha 1978 No princípio era o amor, Ed. Autor 1980 Cristãos por uma Igreja Popular, Centelha 1983 Evangelho de Isabel, Associação Padre Maximino 1986 Como fui expulso de capelão militar, Edições Margem 1995 Mas à África, senhores, por que lhe dais tantas dores?, Campo das Letras 1997 P.e Mário de Oliveira FáTIMA NUNCA MAIS p5 (FI~P G FÁTIMA NUNCA MAIS Autor: P. EMário de Oliveira Direcção gráfica e capa: Loja das Ideias O CAMPO DAS LETRAS - Editores, S. A., 1999 Rua D. Manuel lI, 33 - 5" 4050-345 Porto Telef.:6007728 Fax:6004019 E-mail: campo.letras*maíl.telepac.pt Site: www.campo-letras.pt Impressão: A.T.-Laja Gráfica, Lda. -Porto 1.'~ edìção: Abril de 1999 2," edição: Junho de 1999 Depósito legal N." 136062/99 , ISBN 972-610-160-3 Código de barras: 9789721604 Colecção: Camr a da Actualidade - 23 Índice 1. Fátima nunca mais! 9

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Transcript of Fátima Nunca Mais - P Mário de Oliveira

  • FTIMANUNCA MAIS

    -- Digitalizado por: Lurdes e Tom Coelho --

    Outras Obras do Autor:Evangelizar os pobres, Figueirinhas 1970 Encontro, Afrontamento 1971Maria de Nazar, Afrontamento 1972 Chicote no templo, Afrontamento 1973 Estava preso e visitastes-me, Ed. Autor 1974 Cartas da priso, Iniciativas Editoriais 1974 Ser jornalista tomar partido, Ed. Autor 1975 Nascer de novo (ensaio de catequese libertadora), Afrontamento 1975O Bispo converteu-se, Ed. Autor 1976 Creio na Revoluo, Ulmeiro 1977Viver sem deuses nem chefes, Centelha 1978 No princpio era o amor, Ed. Autor 1980 Cristos por uma Igreja Popular, Centelha 1983 Evangelho de Isabel, Associao Padre Maximino 1986 Como fui expulso de capelo militar, Edies Margem 1995Mas frica, senhores, por que lhe dais tantas dores?, Campo dasLetras 1997P.e Mrio de OliveiraFTIMANUNCA MAISp5 (FI~P GFTIMA NUNCA MAISAutor: P. EMrio de OliveiraDireco grfica e capa: Loja das IdeiasO CAMPO DAS LETRAS - Editores, S. A., 1999 Rua D. Manuel lI, 33 -5" 4050-345 PortoTelef.:6007728 Fax:6004019 E-mail: campo.letras*mal.telepac.pt Site: www.campo-letras.ptImpresso: A.T.-Laja Grfica, Lda. -Porto 1.'~ edo: Abril de 19992," edio: Junho de 1999 Depsito legal N." 136062/99 , ISBN 972-610-160-3Cdigo de barras: 9789721604Coleco: Camr a da Actualidade - 23ndice1. Ftima nunca mais! 9

  • 2. No outro lado de Ftima, procura de Maria de Nazar 413. Irmzinhas de Jesus: Com elas, entendemos melhor

    Maria de Nazar e o Evangelho dos pobres 474. Ftima: privilgio ou responsabilidade? 515. No ser que tambm Ftima precisa

    de se converter ao Evanglho de Jesus? 556. O que as crianas viram no foi Nossa Senhora 597. Ftima: um inferno de mau gosto 638. Agora, com o Comunismo derrotado,

    Frei Bento interroga-se: qual o papel de Ftima? 679. Deuses contra Deus 7110. Do Deus de Ftima livra-nos, Senhor! 7511. H anos que ele faz incmodas perguntas sobre "Ftima"

    e, em lugar de respostas satisfatrias, recebe insultos83

    12. Evangelizar a Senhora de Ftima 8913. Fia-te na Virgem e no corras! 9314. Eu, Maria, me de Jesus, no tenho nada a ver

    com a Senhora de Ftima 9915. No h nenhum segredo de Ftima 10916. O culto a N. S. de Ftima afasta-nos do Deus

    que se revelou em Maria de Nazar 113717. Muitas conferncias, nenhum debate l2518. O milagre da Jacintinha 137 19. Aparies e vises: quem nos livra delas? 143 20. Manifestao de F ou de Paganismo? 151 21. Ftima: a glria da nossa terra ou a nossa vergonha? 157 22. Teologicamente, um vmito ll 23. No Inferno, os pecadores uivam Como Ces danados 16924. Como brasas transparentes 173 25. E a imagem da Senhora de Ftima chorou!... 179 26. Ftima: A grande iluso 1838Ftima nunca mais!1. Quando, h tempos, aceitei participar num debate promovido pela SIC e respondi abertamente "No!" pergunta "acredita nas aparies de Ftima?", foi um escndalo (quase) nacional. Nunca tal se ouvira na televiso, para mais, da boca de um padre catlico. Infelizmente, o debate abortou pouco depois de ter comeado, e quase no me foi possvel apontar as razes do meu no. O que ter deixado toda a gente mais ou menos frustrada. E at a pensar menos bem de mim.Mas o impacto da minha resposta foi tal, que at o prprio jornalista que conduzia o debate no conseguiu esconder o seu ar de espanto. Apressei-me, por isso, a recordar tanto a ele como a todas as portuguesas e portugueses que, nessa hora, sintonizavam

  • a SIC - e deveram ser milhes, tal o impacto do debate que, ao contrrio do que pensa a maior parte das pessoas, mesmo no catlicas, as aparies de Ftima no fazem parte do ncleo da Fcrist catlica; o que quer dizer que se pode no acreditar em Ftima e continuar a ser cristo catlico romano.Mesmo assim, e talvez porque no costuma ser esta a mensagem-informao sobre as aparies de Ftima que passa nas pregaes dos procos e dos bispos, nem nas peregrinaes que, umpouco de todo o pas e de muitas partes do mundo, so reiteradamente organizadas para l, a verdade que, se eu j eraum padre meio maldito, passei, desde ento, a ser maldito de todo, aos olhos de quase todos os meus irmos e irms de f catlica.Entretanto, se ainda me aflijo com isso, no por mim que me aflijo, mas por todos aqueles e aquelas que, preguiosamente, preferem continuar a escandalizar-se com as minhas declaraes, honestamente ditadas pela F crist que me anima e d sentido minha vida, em vez de, interpelados por elas, apressarem-se, elase eles tambm, a meter mos ao trabalho para nvestigarem seriamente o que se passa volta de Ftima. que, com posies assim preguiosas e acomodadas, objectivamente to contrrias f crist, dificilmente conseguiremos ir longe em liberdade e em responsabilidade humanas. I, em vez disso, manter-nos-emos, gerao aps gerao, como uma espcie de Portugal dos pequeninos e uma Igreja de criwas (no verdade que na generalidade, todos os que nos confessamos catlicos, fomos baptizados poucos dias ou poucas semanas depois de termos nascido e que nunca mais crescemos na Fnem nas razes dela?), inevitavelmente merc de influentes hierarquias polticas e eclesisticas! Uma postura social e eclesial que, indubitavelmente, tambm a senhora de Ftima tem ajudado, e muito, a implementar. No s em Portugal, mas tambm um pouco por todo o mundo catlico.2. Entretanto, quando, na SIC, respondi que no acreditava nas aparies de Ftima, mais no fiz do que retomar hoje a mesma atitude que a Igreja Catlica em Portugal tomou entre 1917 e 1930. Na verdade, durante 13 anos, tambm ela no acreditou nas aparies de Ftima. E podia ter-se apressado a reconhec-las, porque, at ento, eram j muitos os milhares de pessoas que acorriam a Ftima, entre 13 de Maio e 13 de Outubro, de cada ano.E, inclusive, havia j ocorrido o chamado "milagre do sol", no dia 13 de Outubro de 1917.Porm, s em 1930 que a Igreja Catlica reconhece Ftima. Um reconhecimento oficial a que no ter sido alheio o facto de ter sado vitorioso o golpe militar de 28 de Maio de 1926.O novo regime, obscurantista catlico, sado deste golpe militar e presidido pela dupla Salazar-cardeal Cerejeira, carecia de uma

  • coisa assim, para mais facilmente se implantar nas populaes. A Senhora de Ftima, com a mensagem retrgrada, moralista e subserviente que lhe atribuda e que, ainda hoje, vai to ao encontro da generalidadE dos nossos funcionrios eclesisticos catlicos e do paganismo religioso-catlico das nossas populaes, vinha mesno a matar. Nem sequer era preciso

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    esforar-se por arregimentar as populaes volta do clero. Bastava ir ao seu encontro, todos os meses, em Ftima.Vai da, em lugar de continuar a demarcar-se do fenmeno e at a hostiliz-lo, a hierarquia maior da Igreja Catlica, em 1930, mudou radicalmente de estratgia e reconheceu-o e canonizou-o, como sobrenatural.Ter percebido nessa altura que, se no adiasse mais esse reconhecimento, os lucros seriam enormes, como, efectivamente, foram. Lucros financeiros, Lucros polticos, Lucros clericais. Lucros eclesistico-catlicos.Algo assim como um verdadeiro "milagre", no de Deus, evidentemente, que Deus nunca faz milagres - com eles, faria de ns uns sbditos assustados, em vez de filhas e filhos livres e responsveis-, mas um "milagre" produzido por aquela vertente demonaca que, sobretudo em horas de maior aflio, sempre se manifesta no mais fundo dos seres humanos e os leva a prostrar-sede joelhos no s diante de imagens surdas e mudas, mas tambm diante dos representantes do idolatrado poder religioso e eclesistico, na ilusria esperana de que, assim, as suas muitasaflies podero encontrar uma qualquer mgica sada.Por outro lado, esta nova atitude da hierarquia maior da Igreja Catlica veio revelar-se, igualmente, como um verdadeiro trunfo contra a Repblica de 1910. E contra a liberdade. Contra a autonomia individual. E contra todas as outras Igrejas no catlicas. Contra a maonaria. E contra a laicidade e a cidadania, ento incipientes.Mas o pior - e parece que na Igreja catlica ainda ningum , entre os mais responsveis, deu por isso - que essa surpreendente mudana de estratgia da hierarquia maior catlica,relativamente s "aparies" de Ftima, materializava tambm uma histrica traio ao Evangelho de Jesus Cristo. Uma traio que acabou por desfigurar completamente o Cristianismo, tal como o prprio Jesus Cristo o inspirou com a sua prtica e palavra, no sentido de que ele materializasse, na histria, a via de realizao humana integral, saudavelmente cmoda, como o sal da terra,e libertadoramente subversiva, como a luz do mundo (Mt 5). (3. S que Ftima e as suas pretensas aparies resumiam-se, nessa

  • altura, praticamente a nada. Para cmulo, das trs crianas

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    que, em 1917, afirmaram a ps juntos que tinham visto Nossa Senhora - uma delas, Francisco, nunca ouviu nada e tanto ele, como a sua irm, Jacinta, nunca disseram uma palavra que fosse senhora das "aparies", apenas Lcia foi protagonista, o que prova que at nas "aparies do Cu" h dscrmnao!... - duas delas j tinham morrido, h uns dez-onze anos, de pneumnica. E tambm em consequncia do terror que a Senhora de Ftima lhes incutiu (entenda-se, certas catequeses moralistas e terroristas de grande parte do clero de ento).Na circunstncia, valeu, por isso, ao regime e sua poderosa dupla, Salazar-cardeal Cerejeira, a existncia de Lcia, a mais velha das trs antigas crianas "videntes". Talvez, por ser mais vigorosa e menos mpressionvel, conseguiu sobreviver a todo aquele terror que a Senhora de Ftima materializava e materializaainda hoje.Entretanto, alguns clrigos mais fanticos do catolicismo obscurantista e moralista de ento - eles viam nas "aparies de Ftima" no a presena do demonaco, como elas efectivamente so,mas sim a presena do dvino, e at um verdadeiro milagre do cu- haviam conseguido arrastar a pequenita Lcia, poucos anos depois de 1917, para fora da sua aldeia e encurralaram-na, primeiro, no Asilo de Vilar, no Porto, e, depois, num convento daGaliza. Foram ao ponto de lhe arrancar o nome ( o mesmo que tirar-lhe a identidade) e passaram a chamar-lhe - imagine-se! Irm Maria das Dores. Ao mesmo tempo, proibiram-lhe que alguma vez falasse a algum das "aparies".O terreno estava, pois, mais do que preparado para obter desta antiga "vidente" uns relatos bem mais completos das "apares", os quais, duma vez por todas, impusessem Ftima Igreja e ao mundo. E, se bem o pensaram, melhor o fizeram.Deram ordens Irm Dores (actualmente, ela , de novo, Lcia), sempre em nome, claro, do voto de obedincia, para que ela escrevesse. E at lhe forneceram, antes de cada relato, orientaes muito precisas sobre o que ela deveria escrever. Finalmente, corrigiram-lhe os textos que ela manuscreveu, para que pudessem ser publicados sem erros e com boa pontuao. Tudo muito isento, como se v!...

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    4. Nasceram, assim, as "Memrias da Irm Lcia", um livro bizarroe delirante, mas imprescindvel para se entender Ftima e a sua Senhora. Os relatos do livro surpreenderam tanto os crticos de

  • Ftima que estes passaram a chamar-lhes "Ftima II", to diferentes eles eram dos relatos primitivos de 1917, que, por isso, passaram a ser referidos como "Ftima I" e que no passam, estes ltimos, de curtos depoimentos, mais ou menos ingnuos, dastrs crianas ditas "videntes".Quatro dessas cinco Memrias foram escritas entre 1935 e 1941; mas a quinta e ltima Memria foi escrita ainda muito mais recentemente -j em 1989! O livro que as contm encontra-se traduzido em vrias lnguas e tem conhecido sucessivas edies.Quer isto dizer que so textos escritos muitos anos depois das pretensas "aparies", e apenas por uma das suas vtimas, a qual,embora tenha conseguido sobreviver ao terrorismo que elas materializaram, nunca mais pde ter, desde ento, uma vida normale equilibradamente saudvel no meio do mundo.Violentamente sequestrada da sua aldeia, poucos anos depois das "aparies", encurralada mais ou menos fora num convento sob um nome que nem sequer era o dela e acompanhada por confessores fanticos e beatos que viam sobrenatural em tudo, ao mesmo tempo que tinham uma histrica fobia por tudo o que fosse Mundo e Repblica, laico e secular, liberdade de conscincia e cidadania,eis que a pobre rapariga de Ftima passou a ser um joguete nas mos deles, a cujos olhos, para cmulo, todos os processos a utilizar eram legtimos, desde que servissem para ajudar a derrotar mais depressa e mais eficazmente a Repblica e todos os outros supostos "inimigos" da Igreja Catlica.Pode, por isso, dizer-se que Lcia nunca mais se encontrou a si mesma, e, pelo que ela prpria conta no livro das Memrias, sobretudo, nos dois apndices, v-se que tem vivido em delrios quase contnuos, com aparies de nossas senhoras e de nossos senhores, a toda a hora e instante, que lhe confiam mensagens, para ela, por sua vez, confiar aos bispos e ao Papa.Enfim, uma verdadeira desgraa. Para no dizer um crime, que, em vez de ser denunciado e julgado, ir ser, depois da morte de Lcia, provavelinente, canonizado, quando os sucessores dos

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    eclesisticos que tanto a oprimiram e alienaram, exigirem do Vaticano que a beatifique e declare santa dos altares!5. Nestas circunstncias, que valor probatrio gozam essas Memrias da Irm Lcia? Que credibilidade merecem? Tomar a srio o que l est escrito e edificar sobre estes relatos, manifestamente delirantes, a base da religio de Ftima no umainjria F crist e ao Evanglho de Jesus Cristo? No um insulto a Deus, pelo menos, quele Deus que se nos revelou plenamente em Jesus de Nazar, e em Maria, sua me carnal e exemplar discpula?

  • Mas a verdade isto que continuamos hoje a ver em Ftima. Ou seja, vemos a Senhora de Ftima ser cultuada, como a grande deusada Serra d'Aire, e, embora este culto tenha tudo de demonaco e nada de cristo e de humano, , sem dvida, s Memrias da irm Lcia e aos seus demenciais delrios que se vai buscar todo o seufundamento.Por mim, tenho plena conscincia do chocante que estas minhas afirmaes consubstanciam. Mesmo assim, no deixo de as fazer. Com serenidade. Em nome da liberdade. Em nome do bom senso. Em nome da sanidade mental. E, sobretudo, em nome do Evangelho de Jesus, pelo menos, tal como eu o experimento e procuro viver, para cujo arnncio aos pobres fui constitudo presbtero, por causa do qual, antes do 25 de Abril de 74, fui duas vezes preso e, desde ento, me vejo votado ao ostracismo eclesistico, certamente por ter-me tornado demasiado incmodo na Igreja.Mas no se pense que apenas de agora esta minha posio sobre Ftima e a sua Senhora. Quando fui proco de Macieira da Lixa, entre 1969 e 1973, j ento promovi com a parquia uma sria reflexo teolgica e cristolgica sobre Maria de Nazar. Foi durante todo o ms de Maio de 1970 (cf. o meu livro "Maria de Nazar", Edies Afrontamento, Porto).Em lugar de nos refugiarmos no templo paroquial a repetir, no mnimo, cinquenta vezes por dia as mesmas palavras do tero, ocupmos o tempo a reflectir e a aprofundar, a partir do Evanglho e de Jesus de Nazar, quem era Maria, sua me.

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    Foi uma inesquecvel experincia de libertao para a liberdade ede fraterna alegria. Recordo-me que, no encontro correspondente ao dia 12 de Maio desse ano, uma das perguntas que ento soou no interior do templo paroquial, transformado por ns em espao de convvio e de busca comunitria da verdade, foi esta: "A Senhora de Ftima ainda ser Maria?". E todos os dados, j ento apresentados, levavam-nos a concluir que a Senhora de Ftima no tinha nada a ver com Maria, me de Jesus, ainda que, oficialmente, a Igreja Catlica persista, insensatamente, ainda hoje, a dizer que sim, que so apenas dois nomes distintos para nomear a mesma pessoa. Pura mentira!6. Mas foi sobretudo depois que assumi as funes de director do Jornal FRATErNIZAr que senti o apelo a voltar ao assunto Senhora de Ftima, concretamente, na edio referente a cada um dos ltimos meses de Maio.Esta deciso levou-me a ler-analisar com mais ateno o livro "Memrias da Irm Lcia". E, se j no tinha qualquer f na Senhora de Ftima, nem nas chamadas aparies, a leitura crtica deste livro, escrito com o manifesto objectivo de fundamentar as

  • aparies e impor definitivamente Ftima Igreja e ao mundo, fezde mim um convicto militante anti-Ftima. Tambm em nome de Maria. E do Evangelho.A leitura destes escritos deixou-me, evanglica e teologicamente,horrorizado. Nem a Senhora de Ftima da "vidente" Lcia, tal comoela se lhe refere, corresponde a Maria, me carnal de Jesus e a sua melhor e mais perfeita discpula, nem o Deus dos seus textos corresponde no Deus que ns, cristos e crists, reconhecemos e proclamamos e que se revelou definitivamente na pessoa de Jesus de Nazar, o ressuscitado que, antes, havia sido crucificado.Digamos que o deus das Memrias da Irm Lcia tem tudo a ver com o deus do Templo de Jerusalm, em nome do qual, o prprio Jesus foi condenado morte e executado, por o ter posto em cheque, em nome de outro deus, de misericrdia e de perdo, sem religio e sem templo, a quem ele, numa intimidade ainda hoje desconcertantepara ns, tratava por "Abb", uma

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    expresso aramaica que diz mais, infinitamente mais, do que "Pai"ou "Paizinho", como os tradutores da Bblia costumam traduzir para as diversas lnguas hoje faladas.Tenho, por isso, para mim que Ftima e a sua Senhora, mais do quetoleradas, devero ser teologicamente denunciadas e desmascaradas. Para que as populaes tomem conscincia do venenoque ambas veiculam, sob o disfarce de grandiosas manifestaes def.Quem tiver dvidas e achar exagerado isto que acabo de escrever experimente ler-analisar criticamente as "Memrias da Irm Lcia"e os seus dois curtos apndices. Mesmo que conhea pouco o Evanglho de Jesus e no seja muito profundo em teologia crist, poder acabar por experimentar o mesmo que eu experimentei. Bastaque tenha um mnimo de humanidade, de bom senso e de sanidade mental, para logo se demarcar de tudo aquilo que s uma mente queoutros criminosamente perturbaram capaz de ver e ouvir e de apresentar aos outros como de Deus.7. Aqui ficam, entretanto, alguns extractos dessas cinco Memriasda Irm Lcia, tais como as lemos na 6.E edio, de Maro de 1990, numa compilao do Pe. Lus Kondor, SVD, com introduo e notas do Pe. Dr. Joaquim M. Alonso, SMF, falecido em 1981, e do Pe. Dr. Luciano Cristino. Leiam e deixem-se estarrecer.Vejam o ambiente de terror religioso em que viveram as trs crianas das "aparies". O tipo de catequese que lhes era ministrado. Vejam quem a Senhora de Ftima. Como fala e do que fala. O que pretende. Com o que mais se preocupa. Como trata as crianas. Que imagem lhes transmite de Deus. Que catequese terrorista lhes ensina. Ao que que as chama. Em nome de qu as

  • mobiliza.Vero, ento, que at as crianas acabam por ser bem melhores do que o prprio Deus. Se Ele capaz, por exemplo, de condenar os "pecadores" ao lnferno eterno, as crianas, ao contrrio Dele, so capazes de se sacrificar, para que tal no acontea!...Leiam e concluiro, certamente, como eu conclu, que ser muito difcil algum da Igreja Catlica poder vir a criar uma imagem mais monstruosa de Deus, de Jesus e de Maria, do que esta imagem que a Irm Lcia criou com as suas Memrias.

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    8. Primeira MemriaA introduo esclarece que este "o seu (de Lcia) primeiro escrito extenso". E diz-nos como o livro nasceu. "No dia 12 de Setembro de 1935 eram trasladados, do cemitrio de Vila Nova de Ourm para o de Ftima, os restos mortais de Jacinta. Nesta ocasio, tiraram-se diversas fotografias ao cadver; algumas delas foram enviadas pelo Sr. Bispo (de Leiria) Irm Lcia que,ento, se encontrava em Pontevedra". Lcia agradeceu a lembrana,em carta de 17 de Novembro do mesmo ano.As recordaes que as fotografias suscitaram em Lcia "induziram o Sr. Bispo a mandar-lhe escrever tudo o que se recordasse (da sua primita Jacinta)". A introduo esclarece ainda que "o escrito, comeado na segunda semana de Dezembro, estava terminadono dia de Natal de 1935".O texto apresenta-se dirigido ao "Ex." e Rev." Senhor Bispo". Atentem no misticismo e servilismo da linguagem, logo a comear: "Depois de ter implorado a proteco dos Santssimos Coraes de Jesus e Maria, nossa Terna Me, de ter pedido luz e graa aos psdo Sacrrio, para no escrever nada que no seja nica e exclusivamente para glria de Jesus e da Santssima Virgem, venho, apesar da minha repugnncia, por no poder dizer quase nada da Jacinta sem directa ou indirectamente falar do meu miservel ser. Obedeo, no entanto, vontade de V Ex."A Reverncia que, para mim, a expresso da vontade de nosso bom Deus" (sic).E acrescenta: "Vou ver se dou comeo narrao do que me lembro da vida da Jacinta. Como no disponho de tempo livre, durante as horas silenciosas de trabalho, num bocado de papel, com um lpis escondido debaixo da costura, irei recordando e apontando o que os Santssimos Coraes de Jesus e Maria quiserem fazer-me recordar".Eis alguns extractos."Um dia, jogvamos isto (s prendinhas), em casa dos meus pais, etocou-me a mim mand-la a ela. Meu irmo estava sentado a escrever junto duma mesa. Mandei-a, ento, dar-lhe um abrao e um

  • beijo, mas ela respondeu: - Isso no! Manda-me outra coisa.

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    Por que no me mandas beijar aquele Nosso Senhor que est ali? (era um crucifixo que havia na parede)... A Nosso Senhor dou todos quantos quiseres.""A Jacinta gostava muito de ouvir o eco da voz no fundo dos vales. Por isso, um dos nossos entretenimentos era, no cimo dos montes, sentados no penedo maior, pronunciar nomes em alta voz. Onome que melhor ecoava era o de Maria. A Jacinta dizia, s vezes,assim, a av-maria inteira, repetindo a palavra seguinte s quando a precedente tinha acabado de ecoar.Gostvamos tambm de entoar cnticos. Entre os vrios profanos que infelizmente sabamos bastantes, a Jacinta preferia o "Salve Nobre Padroeira, Virgem Pura, Anjos cantai comigo.""Tinham-nos recomendado que, depois da merenda, rezssemos o tero; mas, como todo o tempo nos parecia pouco para brincar, arranjmos uma boa maneira de acabar breve: passvamos as contas,dizendo somente: Av Maria, Av Maria, Av Maria! Quando chegvamos ao fim do mistrio, dizamos, com muita pausa, a simples palavra: Padre Nosso!"- Jacinta! Por que no queres brincar? - Porque estou a pensar. Aquela Senhora disse-nos para rezarmos o tero e fazermos sacrifcios pela converso dos pecadores (...). O Francisco discorreu em breve um bom sacrifcio: - Demos a nossa merenda s ovelhas e fazemos o sacrifcio de no merendar! Em poucos minutos, estava todo o nosso farnel distribudo pelo rebanho. E assim passmos um dia de jejum, que nem o do mais austero cartuxo! A Jacinta continuava sentada na sua pedra, com ar de pensativa e perguntou: -Aquela Senhora disse tambm que iam muitas almas para o Inferno. E o que o Inferno? - uma cova debichos e uma fogueira muito grande (assim mo explicava minha me)e vai para l quem faz pecados e no se confessa e fica l semprea arder. - E nunca mais de l sai? - No. - Depois de muitos, muitos anos?! - No; o Inferno nunca acaba. E o Cu tambm no. Quem vai para o Cu nunca mais de l sai. E quem vai para o Inferno tambm no. (...)

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    Mesmo brincando, de vez em quando (a Jacnta) perguntava: - E aquela gente que l est a arder no morre? E no se faz em cinza? E se rezar muito pelos pecadores, Nosso Senhor livra-os del? E com os sacrifcios tambm? Coitadinhos! Havemos de rezar e fazer muitos sacrifcios por eles! Depois, acrescentava: Que boa aquela Senhora! J nos prometeu levar para o Cu!".

  • "A Jacinta tomou tanto a peito os sacrifcios pela converso dos pecadores, que no deixava escapar ocasio alguma. (...) Colhia as bolotas dos carvalhos ou a azeitona das oliveiras. Disse-lhe um dia: - Jacinta, no comas isso, que amarga muito. - Pois poramargar que o como, para converter os pecadores. (...) A Jacinta parecia insacivel na prtica do sacrifcio (...). O dia estava lindo, mas o sol era ardente (...) parecia querer abrasar tudo. Asede fazia-se sentir e no havia pinga d'gua para beber. A princpio, oferecamos o sacrifcio com generosidade pela converso dos pecadores; mas passada a hora do meio dia, no se resistia. Propus ento aos meus companheiros ir a um lugar, que ficava cerca pedir uma pouca de gua. (...) Em seguida, deia infuso ao Francisco e disse-lhe que bebesse. - No quero beber, respondeu. - Porqu? - Quero sofrer pela converso dos pecadores. - Bebe tu, Jacinta! - Tambm quero oferecer o sacrifcio pelos pecadores! Deitei, ento, a gua numa cova duma pedra para que a bebessem as ovelhas e fui levar a infusa sua dona. O calor tornava-se cada vez mais intenso. As cigarras e os grilos juntavam o seu cantar ao das rs da lagoa vizinha e faziamuma gritaria insuportvel. A Jacinta, debilitada pela fraqueza e pela sede, disse-me, com aquela simplicidade que lhe era habitual: Diz aos grilos e s rs que se calem! Di-me tanto a minha cabea!Ento o Francisco perguntou-lhe: - No queres sofrer isto pelos pecadores?A pobre criana, apertando a cabea entre as mozinhas, respondeu: - Sim, quero. Deixa-as cantar"."Foram interrogar-nos dois sacerdotes que nos recomendaram que rezssemos pelo Santo Padre. A Jacinta perguntou quem era o SantoPadre e os bons sacerdotes explicaram-nos quem era e como precisava muito de oraes. A Jacinta ficou com tanto

    --19-- amor ao Santo Padre que sempre que oferecia os seus sacrifcios a Jesus, acrescentava: e pelo Santo Padre. No fim de rezar o tero, rezava sempre trs ave-marias pelo Santo Padre e algumas vezes dizia: -Quem me dera ver o Santo Padre! Vem c tanta gente e o Santo Padre nunca c vem.""Passavam assim os dias da Jacinta, quando Nosso Senhor mandou a pneumnica, que a prostrou na cama, com seu irmozinho. Nas vsperas de adoecer, dizia: - Di-me tanto a cabea e tenho tantasede! Mas no quero beber, para sofrer pelos pecadores! (...)Um dia, sua me levou-lhe uma xcara de leite e disse-Lhe que o tomasse. - No quero, minha me, respondeu, afastando com a mozinha a xcara (...) Logo que ficmos ss, perguntei-lhe: - Como desobedeces assim a tua me e no ofereces este sacrifcio aNosso Senhor? Ao ouvir isto, deixou cair algumas lgrimas que eu

  • tive a felicidade de limpar e disse: - Agora no me lembrei! (...)Um dia, perguntei-lhe: - Ests melhor? - J sabes que no melhoro. E acrescentou: - Tenho tantas dores no peito! Mas no digo nada; sofro pela converso dos pecadores.""De novo, a Santssima Virgem se dignou visitar a Jacinta, para lhe anunciar novas cruzes e sacrifcios. Deu-me a notcia e dizia-me: - Disse-me que vou para Lisboa, para outro hospital; que no te torno a ver, nem os meus pais; que depois de sofrer muito, morro sozinha, mas que no tenha medo; que me vai l Ela buscar para o Cu."9. Segunda MemriaA segunda memria comeou a ser escrita no dia 7 de Novembro de 1937 e terminou no dia 21. Como que esta aparece? Segundo o texto da introduo, "o Sr. Bispo, posto de acordo com a Madre Provincial das Doroteias, Madre Maria do Carmo Corte-Real, d ordem Lcia". Ela escreve, ento, 20 anos depois de 1917, com ainteno de "deixar ver a histria de Ftima tal qual ela ". Talvez dissesse melhor se escrevesse: deixar ver a histria de Ftima como a minha fantasia hoje

    --20-- mo diz e, sobretudo, como mais convm hierarquia da Igreja Catlica!...Ela prpria comea por reconhecer que "nem sequer a caligrafia sei fazer capazmente", mas a verdade que o texto final apresenta-se muito bem concebido e escrito. Ser integralmente dela? Que mozinha ter estado por trs?Eis alguns extractos mais significativos.9.1. Antes das "aparies""Havia na igreja (paroquial) mais que uma imagem de Nossa Senhora. "Se calhar, tantas quantas ela depois "ver" nas "aparies".... Mas, como minhas irms arranjavam o altar de Nossa Senhora do Rosrio [pelos vistos, na ltima "apario", de Outubro, a senhora dir que se chama a Senhora do Rosrio! Mas que coincidncia!...], estava por isso habituada a rezar diante dessa e, por isso, l fui tambm dessa vez. Pedi-lhe, pois, com todo o ardor de que fui capaz [tinha acabado de se confessar paraa primeira comunho, aos seis anos!...] que guardasse, para Deus s, o meu pobre corao. Ao repetir vrias vezes esta humilde splica, com os olhos fitos na imagem, pareceu-me que ela se sorria e que, com um olhar e gesto de bondade, me dizia que sim. Fiquei to inundada de gozo, que a custo conseguia articular palavra".Imediatamente depois de ter comungado: "Dirigi-lhe ento as minhas splicas: - Senhor, fazei-me uma santa, guardai o meu

  • corao sempre puro, para Ti s.Aqui, pareceu-me que o nosso bom Deus me disse, no fundo do meu corao, estas distintas palavras: -A graa que hoje te concedida permanecer viva em tua alma, produzindo frutos de vidaeterna. Sentia-me de tal forma transformada em Deus!"9.2. As "aparies"Aos sete anos, Lcia feita "pastora", em substituio da sua irm Carolina, ento com 12 anos. No dia seguinte, avana com duas companheiras para "um monte chamado o Cabeo. Na encosta deste monte, ao sul, ficam os Valinhos, que V Ex." Rev."' de nome, j deve conhecer. (...)Um pouco mais ou menos a pelo meio-dia, comemos a nossa merenda e, depois dela, convidei as minhas companheiras para

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    rezarem comigo o tero, ao que elas anuram [olhem s para esta palavra to pouco popular...] com gosto. Mal tnhamos comeado, quando, diante de nossos olhos, vemos, como que suspensa no ar, sobre o arvoredo, uma figura como se fosse uma esttua de neve que os raios do sol tornavam algo transparente. - Que aquilo?, perguntaram as minhas companheiras, meias assustadas. - No sei!".Mais tarde, em casa, a me pergunta: "- Ouve l: dizem que viste para a no sei o qu. O que que tu viste? (...) Como no sabiaexplicar, acrescentei: - Parecia uma pessoa embrulhada num lenol(...) No se lhe conheciam olhos nem mos.Minha me rematou tudo com um gesto de desprezo, dizendo: - Tolices de crianas".9.3. "Aparies" do Anjo em 1916" Passado algum tempo, voltmos com os nossos rebanhos para esse mesmo stio e repetiu-se o mesmo, da mesma forma.(...) Vrias pessoas comearam por fazer troa. E como eu, desde a minha primeira comunho, me ficava por algum tempo como que abstracta, recordando o que se tinha passado, minhas irms, com algo de desprezo, perguntavam-me: - Ests a ver algum embrulhado no lenol?"Entretanto, as primeiras companheiras de Lcia, pastora, foram substitudas pelos primos, Jacinta e Francisco. At que "um belo dia (...) eis que um vento forte sacode as rvores e faz-nos levantar a vista. (...) Vemos ento que sobre o olival se encaminha para ns a tal figura de que j falei (...) maneira que se aproximava, amos divisando as feies: um jovem dos seus 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava transparente como se fora de cristal e duma grande beleza. Ao chegar junto de ns, disse: No temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo. E ajoelhando em terra, curvou a fronte at ao cho e fez-nos repetir trs vezes estas palavras: - Meu Deus! Eu creio,

  • adoro, espero e amo-vos. Peo-vos perdo para os que no crem, no adoram, no esperam e vos no amam. Depois, erguendo-se disse. - Orai assim. Os Coraes de Jesus e Maria esto atentos voz das vossas splicas.As suas palavras gravaram-se de tal forma na nossa mente, que jamais nos esqueceram".--22--

    O relato prossegue. O anjo dir, tempos depois, que "o Anjo de Portugal". Ensina-lhes outra orao, enorme, nitidamente, inventada por algum eclesistico catlico, dirigida "SantssimaTrindade" e que, bem analisada, no passa dum disparate teolgico. E at lhes d a comunho sob as duas espcies!"D-me a Sagrada Hstia a mim e o Sangue do Clix divide-o pela Jacinta e o Francisco, dizendo ao mesmo tempo: - Tomai e bebei o Corpo e Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. [Os republicanos?!...] Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus."O curioso que a mesma Lcia, nas Memrias que escreve sobre a Jacinta e o Francisco, respectivamente, quase se "esquece" de referir que eles viram o anjo de Portugal, que lhes ensinou estasoraes.Temos, pois, de dizer que todas estas "aparies" do "Anjo", das quais ningum, nem mesmo os estudiosos de Ftima, at 1937, sequer suspeitaram, tm todo o ar de montagem. E de coisa artificial. So relatos mais ou menos decalcados de certos textosbblicos do Antigo e do Novo Testamento.S que Lcia, ou quem est por detrs de tudo isto, teve, neste ponto, um grande azar, porque os relatos bblicos que podem ter inspirado estes seus relatos no so histricos, mas teolgicos, isto , no aconteceram tal e qual. E ela aqui conta as coisas como se elas tivessem sido assim. E no foram. No podem ter sido. Porque anjos nunca ningum os viu. Nem ver. A no ser na sua imaginao, mais ou menos delirante e doentia.9.4. Problemas familiares"Meu pai tinha-se deixado arrastar pelas ms companhias e tinha cado nos laos duma triste paixo, por causa da qual tnhamos jperdido alguns dos nossos terrenos."[Em nota, no final do relato, l-se, a propsito: "No se deve exagerar, na vida do pai da Lcia, a sua "paixo pelo vinho". Eleno era um alcolico. Quanto aos seus deveres religiosos, certoque os no cumpriu, durante alguns anos, na parquia de Ftima, por no se entender com o proco. Ia a Vila Nova de Ourm".]"(...) Tanto sofrimento comeou por abalar a sade de minha me. (...) Correram ento quantos cirurgies e mdicos por ali

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  • havia. Gastou-se uma infinidade de remdios, sem se obter melhoras algumas (...).Eis o estado em que nos encontrvamos, quando chegou o dia 13 de Maio de 1917. Meu irmo completava tambm por esse tempo, a idadede assentar praa na vida militar. E, como gozava de perfeita sade, era de esperar que ficasse apurado. Ademais, estava-se em guerra e era difcil conseguir livr-lo. Com o receio de ficar sem ter quem lhe cuidasse as terras, minha me (...) meteu empenhos com o mdico da inspeco e o nosso bom Deus dignou-se, por ento, dar a minha me este alvio."[Mas que dizer de um Deus assim, que livra uns, por meio de ilcitos empenhos junto do mdico da inspeco, e deixa que outros avancem para a tropa e para a guerra?! De resto, ser muito elucidativo comparar esta aluso aos "problemas familiares", com o que a mesma Lcia escrever, muitos anos depois, em 1989, na quinta e ltima Memria sobre a sua famlia. Decididamente, no parece tratar-se da mesma famlia!...]9.5. "Aparies de Nossa Senhora""As palavras que a Santssima Virgem nos disse em este dia (13 deMaio de 1917) e que combinmos nunca revelar, foram: Depois de nos haver dito que amos para o Cu, perguntou: Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparao pelos pecados com que Ele ofendido e de splica pela converso dos pecadores? - Sim, queremos, foi a nossa resposta. - Ides, pois, ter muito que sofrer mas a graa de Deus ser o vosso conforto".[De um Deus assim, no h que ser vigorosamente ateu? E que senhora esta que, em vez de estimular as pessoas a combater o sofrimento, vem catequiz-las para que sofram ainda mais?]Em Agosto, a "apario" teve de ser no dia 15, nos Valinhos, j que no dia 13, as crianas foram "desviadas" pelo Administrador de Vila Nova de Ourm. "A Santssima Virgem recomendou-nos, de novo, a prtica da mortificao, dizendo, no fim de tudo: - Rezai, rezai muito, e fazei sacrifcios pelos pecadores, que v omuitas almas para o Inferno, por no haver quem se sacrifique e pea por elas."

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    [At parece que Deus um monstro que criou o Inferno e s nos livra dele se houver muitas vtimas inocentes que se imolem. umDeus intrinsecamente perverso, que s se satisfaz com sangue humano, de preferncia, de crianas inocentes! Que teologia est subjacente s "aparies"? Uma teologia crist que no !]"Passados alguns dias, amos com as nossas ovelhinhas, por um caminho, no qual encontrei um bocado duma corda dum carro. Peguei

  • nela e, brincando, atei-a a um brao. No tardei a notar que a corda me magoava. Disse ento para os meus primos: - Olhem: isto faz doer. Podamos at-la cinta e oferecer a Deus este sacrifcio. (...)Este instrumento fazia-nos por vezes sofrer horrivelmente. A Jacinta deixava s vezes cair algumas lgrimas com a fora do incmodo que lhe causava; e, dizendo-lhe eu, algumas vezes, para a tirar, respondia: - No! Quero oferecer este sacrifcio a NossoSenhor, em reparao e pela converso dos pecadores"."Assim se aproximou o dia 13 de Setembro. Em este dia, a Santssima Virgem, depois do que tenho narrado, disse-nos: Deus est contente com os vossos sacrifcios, mas no quer que durmaiscom a corda; trazei-a s durante o dia".Da "apario" de 13 de Outubro, "as palavras que mais se me gravaram no corao foi o pedido da Nossa Santssima Me do Cu:-No ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que j est muito ofendido. (...)Tinha-se espalhado o boato que as autoridades haviam decidido fazer explodir uma bomba junto de ns, no momento da apario. No concebi, com isso, medo algum; e falando disto a meus primos,dissemos: - Mas que bom, se nos for concedida a graa de subir dali com Nossa Senhora para o Cu! (...)Em meio desta perplexidade, tive a felicidade de falar com o Senhor Vigrio do Olival. (...) Sobretudo, ensinou-nos o modo de dar gosto a Nosso Senhor em tudo e a maneira de lhe oferecer um sem-nmero de pequenos sacrifcios: - Se vos apetecer comer uma coisa, meus filhinhos, deixai-a e, em seu lugar, comeis outra

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    e ofereceis a Deus um sacrifcio; se vos apetece brincar, no brincais e ofereceis a Deus outro sacrifcio; se vos interrogareme no vos puderdes escusar, Deus que assim o quer; ofereceis-lhe mais este sacrifcio. (...) Ele tinha, ento, a pacincia de passar a ss comigo largas horas, ensinando-me a praticar a virtude e guiando-me com os seus sbios conselhos" [!!!].9.6. Depois das "aparies""Um dia, a Jacinta dizia-me: - Quem me dera que os meus pais fossem como os teus, para que esta gente tambm me pudesse bater,porque assim tinha mais sacrifcios para oferecer a Nosso Senhor.No entanto, ela sabia bem aproveitar as ocasies de se mortificar. Tnhamos tambm por costume, de vez em quando, oferecer a Deus o sacrifcio de passar uma novena ou um ms sem beber. Fizemos uma vez este sacrifcio em pleno ms de Agosto em que o calor era sufocante. Voltvamos, um dia, de haver ido rezaro nosso tero Cova da Iria e, ao chegar junto duma lagoa, que

  • fica beira do caminho, diz-me a Jacinta: -Olha: tenho tanta sede e di-me tanto a cabea! Vou beber uma pouquita desta gua.- Desta no, respondi. Minha me no quer que bebamos daqui, porque faz mal. Vamos ali pedir uma pouquita ti Maria dos Anjos(...) - No! Dessa gua boa no quero. Bebia desta, porque, em vez de oferecer a Nosso Senhor a sede, oferecia-lhe o sacrifcio de beber desta gua suja. (...)Outras vezes, dizia: - Nosso Senhor deve estar contente com os nossos sacrifcios, porque eu tenho tanta, tanta sede! Mas no quero beber; quero sofrer por seu amor.""O Senhor devia comprazer-se em ver-me sofrer, pois me preparava agora um clix bem mais amargo que dentro em pouco me dar a beber. Minha me cai gravemente enferma (...). As minhas duas irms mais velhas, vendo o caso perdido, voltam junto de mim e dizem-me: - Lcia, se certo que tu viste Nossa Senhora, vai agora Cova da Iria, pede-lhe que cure a nossa me. Promete-lhe o que quiseres, que o faremos; e ento acreditaremos.Sem me deter nem um momento, pus-me a caminho (...) rezando at l o Rosrio. Fiz Santssima Virgem o meu pedido

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    (...) e voltei para casa confortada com a esperana de que a minha querida Me do Cu me daria a sade da da terra. (...)Eu tinha prometido Santssima Virgem, se ela me concedesse o que eu lhe pedia, ir a, durante nove dias seguidos, acompanhada de minhas irms, rezar o Rosrio e ir, de joelhos, desde o cimo da estrada at ao p da carrasqueira; e, no ltimo dia, levar nove crianas pobres e dar-lhes, no fim, um jantar. Fomos, pois, cumprir a minha promessa, acompanhadas de minha me que dizia: - Que coisa! Nossa Senhora curou-me e eu parece que ainda no acredito! No sei como isto !"[Pelo que aqui escreve, Lcia teria procedido, no como "a vidente", que, noutras ocasies, se autoapresenta a tratar com a senhora de Ftima quase num tu-c-tu-l, mas sim como uma qualquer devota, ainda no evangelizada, da senhora de Ftima. O que deixa perceber claramente que as trs crianas, mais do que protagonistas de Ftima, se viram progressivamente envolvidas numcerto tipo de catolicismo religioso-pago de Ftima, totalmente estranho ao Evangelho de Jesus. Duas delas, Jacinta e Francisco, morreram tambm em consequncia de tudo isso. Lcia resistiu e foi promovida a "messias" deste tipo de catolicismo. Quando, do que ela precisava, era de ser libertada dele quanto antes. Mas, se o tivesse sido, nunca a Igreja Catlica teria tido esta autntica "mina de ouro" que o santurio de Ftima, nem este plpito moralista antilibertao que o seu altar.]"Nosso bom Deus deu-me esta consolao, mas de novo me batia

  • porta com outro sacrifcio, nada mais pequeno. Meu pai era um homem sadio, robusto, que dizia no saber que coisa era uma dor de cabea. E, em menos de 24 horas, quase de repente, uma pneumonia dupla levava-o para a eternidade. Foi tal a minha dor, que julguei morrer tambm."[Aqui, pelos vistos, j nem a senhora de Ftima lhe valeu. Talvezno goste muito de homens casados, apenas dos "virgens" e dos clrigos celibatrios fora]"Por este tempo, a Jacinta e o Francisco comearam tambm a piorar. (...) Um dia, (Jacinta) deu-me a corda, de que j falei edisse-me: - Toma; leva-a, antes que minha me a veja.

    --27-- agora j no sou capaz de a ter cinta. (...) Esta corda tinha trs ns e estava algo manchada de sangue. Conservei-a escondida at sar definitivamente de casa de minha me. Depois, no sabendo o que lhe fazer, queimei-a, com a de seu irmozinho."O relato conta, finalmente, como foi a sada da adolescenteLcia da casa dos pais."Na verdade, quando vos vi, Ex. e Rev." Senhor, receber-me com tanta bondade (...) interessando-vos apenas pelo bem da minha alma e prontificando-vos a tomar conta da pobre ovelhinha que o Senhor acabava de vos confiar, fiquei, mais do que nunca, crente que V. Ex." Rev." tudo sabia; e no hesitei um momento em me abandonar nas vossas mos. As condies impostas por V Ex." Rev."para o conseguir, para o meu natural, eram fceis: guardar perfeito segredo de tudo que V. Ex. Rev." me tinha dito e ser boa. L me fui guardando para mim o meu segredo, at ao dia em que V. Ex. Rev. mandou pedir o consentimento da minha me. (...)Sem me despedir de ningum, no dia seguinte, s duas da manh, acompanhada de minha me e dum pobre trabalhador que vinha para Leiria, chamado Manuel Correia, pus-me a caminho, levando inviolvel o meu segredo. (...)Chegmos a Leiria, a pelas nove horas da manh. (...) O combio partia s duas da tarde."[Em nota, pode ler-se: "Lcia deixou Aljustrel na madrugada de 16de Junho de 1921 e chegou a Leiria algumas horas depois. De l continuou a viagem at ao colgio do Porto, onde chegou na manh seguinte".]10. Terceira MemriaA introduo informa que esta Memria foi concluda em 31 de Agosto de 1941. Como as anteriores, foi escrita em obedincia a uma ordem do Bispo de Leiria. Escreveu-a em Tui. A temtica principal que lhe sugerem volta a ser a Jacinta. Querem mais pormenores. Se calhar, j a pensar na sua canonizao por Roma. ELcia presta-se. Recorre sua memria. Parece que quanto mais

  • distante est dos factos, mais se lembra dos pormenores. Ou, se no se lembra, inventa-os nos seus delrios. Factos

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    reais, ou imaginrios, que importa, se, com isso, o Deus de Ftima glorificado e os "inimigos" da Igreja Catlica so esmagados?!... Eis alguns extractos.O "Segredo""Bem; o segredo consta de trs coisas distintas, duas das quais vou revelar. A primeira foi, pois, a vista do Inferno!Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estardebaixo da terra. Mergulhados em esse fogo, os demnios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incndio levadas pelas chamas que delas mesmas saam juntamente com nuvens de fumo, cando para todos os lados, semelhante ao car das falhas em os grandes incndios, sem peso nem equilbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. Os demnios distinguiam-se por formas horrveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros. Esta vista foi um momento, e graas nossa boa Me do Cu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Cu (na primeira apario)! Se assimno fosse, creio que teramos morrido de susto e pavor.Em seguida, levantmos os olhos para Nossa Senhora, que nos dissecom bondade e tristeza: - Vistes o Inferno, para onde vo as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecerno mundo a devoo a Meu Imaculado Corao. Se fizerem o que eu vos disser, salvar-se-o muitas almas e tero paz. A guerra vai acabar. Mas se no deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI comear outra pior. Quando virdes uma noite, alumiada por umaluz desconhecida, sabei que o grande sinal que Deus vos d de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fomee de perseguies Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir vireipedir a consagrao da Rssia a meu Imaculado Corao e a comunho reparadora nos primeiros sbados. Se atenderem a meus pedidos, a Rssia se converter e tero paz; seno, espalhar seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguies Igreja; os bons sero martirizados, o Santo Padre ter muito que sofrer, vrias naes sero aniquiladas, por fim o meu Imaculado Corao triunfar. O Santo Padre

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    consagrar-me- a Rssia, que se converter; e ser concedido ao mundo algum tempo de paz."

  • "A segunda (parte do segredo) refere-se devoo do Imaculado Corao de Maria. J disse, no segundo escrito, que Nossa Senhora, a 13 de Junho de 1917, me disse que nunca me deixaria e que seu Imaculado Corao seria o meu refgio e o caminho que me conduziria a Deus."A propsito da aurora boreal, registada pelos astrnomos, nanoite de 25 para 26 de Janeiro de 1938, que Lcia tomou como o"sinal do cu" anunciador da 2.E Guerra Mundial (no esqueamos que Lcia est a escrever esta Memria depois dos factos, em 1941; por isso, fcil acertar nas previses...), escreve no seurelato esta coisa teologicamente asquerosa: "Deus serviu-se dissopara me fazer compreender que a sua justia estava prestes adescarregar o golpe sobre as naes culpadas e comecei, por isso, a pedir, com insistncia, a comunho reparadora nos primeiros sbados e a consagrao da Rssia. O meu fim era no sconseguir misericrdia e perdo de todo o mundo, mas em especial para a Europa".Mas ser que Deus mais dos europeus?!11. Quarta MemriaA introduo esclarece que esta Quarta Memria foi escrita em dois cadernos. O primeiro foi concludo e enviado ao Bispo (de Leiria) no dia 25 de Novembro de 1941. O segundo caderno estava terminado em 8 de Dezembro do mesmo ano.Desta vez, o que o Bispo lhe manda muito mais do que at aqui. parece que era preciso inventar coisas (ainda) mais maravilhosas.O que Lcia havia relatado antes continuava a ser insuficiente para "impor" Ftima Igreja e ao mundo.Vai da, a ordem agora : "Escrever tudo o que recordasse sobre oFrancisco, como tinha feito para a Jacinta. Escrever, com mais pormenores, as aparies do Anjo. Uma nova histria das aparies(sic). Tudo o que ainda pudesse recordar sobre a Jacinta. Os versos profanos que cantava. Ler o livro do Pe. Fonseca e anotar tudo o que lhe parecesse menos exacto".

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    O relato abre com uns prembulos, com um misticismo de manifesto mau gosto, que emprestam ao relato todo o ar de coisa artificial e postia. Tm, contudo, a vantagem de nos deixar perceber que o relato mais ou menos mtico, onde o que mais ter funcionado, para a sua elaborao, foi a imaginao delirante de Lcia.Eis alguns extractos."Antes de comear quis abrir o Novo Testamento, nico livro que quero ter aqui diante de mim (...). Volto ao que Deus me deparou,ao abrir o Novo Testamento, uma carta de S. Paulo aos Fil 2, 5-8.(...) Na verdade no sou mais que o pobre e miservel instrumentode que Ele se quer servir (...)."

  • 11. 1. "retrato do Francisco""Na apario do Anjo, prostrou-se como sua irm e eu, levado por uma fora sobrenatural que a isso nos movia; mas a orao aprendeu-a, ouvindo-nos repeti-la, pois ao Anjo dizia no ter ouvido nada. (...)- Eu no sou capaz de estar assim (prostrado) tanto tempo como vocs. Doem-me as costas tanto que no posso.(...)- Gosto muito de ver o Anjo; mas o pior que, depois, no somos capazes de nada. Eu nem andar podia, no sei o que tinha." Depoisda primeira apario, "contmos, em seguida, aoFrancisco, tudo quanto Nossa Senhora tinha dito. E ele, manifestando o contentamento que sentia, na promessa de ir para oCu, cruzando as mos sobre o peito, dizia: - minha Nossa Senhora, teros, rezo todos quantos Vs quiserdes.E, desde a, tomou o costume de se afastar de ns, como que passeando; e, se chamava por ele e lhe perguntava que andava a fazer, levantava o brao e mostrava-me o tero. Se lhe dizia que viesse brincar, que depois rezava connosco, respondia: - Depois tambm rezo. No te lembras que Nossa Senhora disse que tinha de rezar muitos teros? (...)Por vezes, dizia: - Nossa Senhora disse que amos ter muito que sofrer! No me importo; sofro tudo quanto ela quiser! O que eu quero ir para o Cu. (...)"

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    Francisco, tu no bebeste a gua-mel! A madrinha chamou tantas vezes por ti, mas no apareceste! - Quando peguei no copo, lembrei-me de repente de fazer aquele sacrifcio para consolar a Nosso Senhor e, enquanto vocs bebiam, fugi para aqui. (...)""Quando ia escola, por vezes, ao chegar a Ftima, dizia-me: - Olha: tu vai escola. Eu fico aqui na igreja, junto de Jesus escondido. No me vale a pena aprender a ler; daqui a pouco vou para o Cu. Quando voltares, vem por c chamar-me. (...)""Um dia (j Francisco estava doente), ao chegar junto de sua casa, despedi-me dum grupo de crianas da escola que vinham comigo e entrei, para lhe fazer uma visita e sua irm. Como tinha sentido o barulho, perguntou-me: - Tu vinhas com todos esses? - Vinha. - No andes com eles, que podes aprender a fazer pecados. Quando sares da escola, vai um bocado para o p de Jesus escondido e depois vem sozinha. (...)""Outro dia, ao chegar, encontrei-o muito contente. - Ests melhor? - No. Sinto-me muito pior. J me falta pouco para ir para o Cu. L vou consolar muito a Nosso Senhor e a Nossa Senhora (...)"."Bem diferente um facto que agora me est a lembrar. Um dia, num stio chamado a Pedreira (...), ouvimo-lo gritar e chamar por

  • ns e por Nossa Senhora. (...) Por fim, l demos com ele, a tremer de medo, ainda de joelhos, que, aflito, nem arte tinha para se pr de p. - Que tens? Que foi? Com a voz meia sufocada pelo susto, l disse: - Era um daqueles bichos grandes, que estavam no Inferno (que a Senhora nos mostrou), que estava aqui adeitar lume. (...)""Um outro dia, ao sar de casa, notei que o Francisco andava muito devagar. - Que tens?, perguntei-lhe. Parece que no podes andar! - Di-me muito a cabea e parece que vou car. - Ento novenhas; fica em casa. - No fico! Quero antes ficar na igreja, com Jesus escondido, enquanto tu vais escola".

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    11. 2. "Histria das aparies"Nesta segunda parte, o relato adianta mais pormenores maravilhosos a propsito das "aparies do Anjo". E, depois, passa a referir a "nova histria das aparies" da Senhora de Ftima. Com pormenores macabros. Que, se fossem verdade, justificariam, s por si, o atesmo, j que nos do a imagem de um deus carrasco, que parece alimentar-se de sofrimento e de sangue de crianas. Por este relato, temos ainda de concluir que,afinal, tambm no Cu, as nossas senhoras so mais do que muitas.E at Jesus estar l em duplicado. Por um lado, como menino com S. Jos e, por outro, como homem j adulto! Tanto disparate junto, nunca se viu!Mesmo assim, a este e outros escritos, atribudos Irm Lcia, aSagrada Congregao para a Doutrina da F, do cardeal Ratzinger, nunca os declarou perigosos para a f crist. Pelo contrrio. Atveio, h tempos, a Ftima, dar a entender que o segredo de Ftima coisa para tomar a srio. Francamente, senhores eclesisticos!...Atentemos, tambm, nos dilogos entre Lcia e a senhora de Ftima. Lcia fala como se fosse sozinha. Pergunta: que que vossemec me quer? E no, que que vossemec nos quer? Ela "a vidente" e "a intermediria", "a medianeira". Os primitos, os ajudantes que se limitam a estar e a ouvir calados. Alis, o Francisco nem sequer ouvia alguma coisa! Mas que Senhora de Ftima to insensvel. Que pecador seria o mido, aos olhos dela,para ser castigado por ela desta maneira!... mesmo de bradar aos cus! Eis.13 de Maio- No tenhais medo. Eu no vos fao mal. - De onde vossemec?, lhe perguntei. - Sou do Cu. - E que que vossemec me quer? - Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13 a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma stima vez. (...) - A Maria das

  • Neves j est no Cu? - Sim, est. Parece-me que devia ter uns 16anos. - E a Amlia? - Estar no Purgatrio at ao fim do mundo [Neste caso, pelos vistos, nem a reza de muitos teros nem as missas que, porventura, mandassem

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    celebrar por ela lhe valero de nada. Mas que Deus este e que mensageira de Deus esta!!!]. Parece-me que devia ter de 18 a 20 anos. - Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparao pelospecados com que Foi ofendido e de splica pela converso dos pecadores? - Sim, queremos. - Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graa de Deus ser o vosso conforto. (...) Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou: -Rezem o tero todos os dias, para alcanarem a paz para o mundo e o fim da guerra."13 de Junho- Vossemec que me quer?, perguntei. - Quero que venhais aqui no dia 13 do ms que vem, que rezeis o tero todos os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero.Pedi a cura dum doente. - Se se converter, curar-se- durante o ano. - Queria pedir-lhe para nos levar para o Cu. - Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas c mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar; Ele quer estabelecer no mundo a devoo a meu Imaculado Corao".13 de Julho- Vossemec que me quer?, perguntei. - Quero que venham aqui no dia 13 do ms que vem, que continuem a rezar o tero todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosrio. Para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque s ela Lhes poder valer. [Mas ento no era a prpria que estava ali a falar com Lcia?!]- Queria pedir-lhe para nos dizer quem , para fazer um milagre com que todos acreditem que vossemec nos aparece. - Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi quem sou, o que quero efarei um milagre que todos ho-de ver, para acreditar. (...) Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifcio: Jesus por vosso amor, pela converso dos pecadores e em reparao pelos pecados cometidos contra o Imaculado Corao de Maria."O relato prossegue com a "viso" do Inferno, j divulgada anteriormente. E acrescenta mais este pormenor: "Quando rezais

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    o tero, dizei, depois de cada mistrio: meu Jesus,

  • perdoai-nos, e livrai-nos do fogo do Inferno; levai as alminhas todas para o Cu, ! principalmente aquelas que mais precisarem".13 de Agosto- Que que vossemec me quer? - Quero que continueis a ir Cova da Iria no dia 13, que continueis a rezar o tero todos osdias. No ltimo ms, farei o milagre, para que todos acreditem. -Que que vossemec quer que se faa ao dinheiro que o povodeixa na Cova da Iria? - Faam dois andores: um, leva-o tu coma Jacinta e mais duas meninas vestidas de branco; o outro, que o leve o Francisco com mais trs meninos. O dinheiro dos andores para a festa de Nossa Senhora do Rosrio e o que sobrar para a ajuda duma capela que ho-de mandar fazer. (...) E tomando um aspecto mais triste: - Rezai, rezai muito e fazei sacrifcios poros pecadores, que vo muitas almas para o Inferno por no haver quem se sacrifique por elas".13 de Setembro-Continuem a rezar o tero, para alcanarem o fim da guerra. Em Outubro vir tambm Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, S. Jos com o Menino Jesus para abenoarem o mundo. Deus est contente com os vossos sacrifcios, mas no quer que durmaiscom a corda; trazei-a s durante o dia. - Tm-me pedido para lhe pedir muitas coisas: a cura de alguns doentes, dum surdo-mudo. - Sim, alguns curarei; outros no. Em Outubro farei o milagre, paraque todos acreditem."13 de Outubro- Que que vossemec me quer? - Quero dizer-te que faam aqui uma capela em minha honra, que sou a Senhora do Rosrio, que continuem sempre a rezar o tero todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltaro em breve para suas casas. - Eu tinha muitas coisas para Lhe pedir; se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc. - Uns, sim; outros, no. preciso que se emendem, que peam perdo dos seus pecados.E tomando um ar mais triste: - No ofendam mais a Deus Nosso Senhor que j est muito ofendido. (...)

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    Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distncia do firmamento, vimos, ao lado do sol, S. Jos com o menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. S. Jos com o menino, parecia abenoar o mundo com uns gestos que fazia com a mo em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta apario, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora que me dava a ideia de ser Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abenoar o mundo da mesma forma que S. Jos. Desvaneceu-se esta apario e pareceu-me ver ainda Nossa Senhora do Carmo."12. Quinta Memria

  • A introduo esclarece que esta memria "tem como origem um pedido do Rev. Reitor do Santurio de Ftima, Mons. Luciano Guerra". Em concreto, "pediu-se Irm Lcia que completasse, na medida do possvel, as recordaes da sua infncia e da vida da sua famlia, nomeadamente, a respeito do pai". O relato "principia com uma carta endereada ao Reitor do Santurio, maneira de prlogo, datada de 12 de Fevereiro de 1989; segue-se texto datado do dia 23 do mesmo ms e ano, e a concluir, juntou-se mais uma carta do mesmo dia".Eis alguns extractos. Poucos. Porque um relato manifestamente canonizador da famlia, como se ela fosse uma nova sagrada famlia, predestinada para nela nascer a "messias" da Senhora de Ftima. Tanta santidade e tanta bondade nem na famlia de Nazar.L, pelo menos, o filho sau dos trilhos e acabou crucificado s ordens dos chefes religiosos, a hierarquia de ento. Ao contrriode Lcia, que no poderia ser mais subserviente, do que foi e , em relao hierarquia catlica."Recebi a carta de V Rev.", com data de 23 de Novembro de 1988, na qual me pede para eu precisar melhor a imagem de meu pai, por a que dou nas Memrias resultar muito deficiente, e querer pr nanossa casa um lugar de reflexo sobre a famlia. (...)As respostas ao seu questionrio ficaro para depois, mas, desde j, advirto que a algumas - as que se referem s aparies - eu no posso responder sem a autorizao da Santa S, a no ser que V. Rev. queira pedir esta licena e a obtenha. (...)

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    A narrao sobre o meu pai, vou inici-la, respondendo pergunta n. 16 do seu questionrio. (...).O pai era de natural pacfico, condescendente e alegre; gostava de msica, festas e bailes. (...)- Que coisas tu ensinas pequena! Se lhe ensinasses a doutrina! Ento o pai dizia: - Vamos l fazer a vontade tua me! E pegava-me na mozita to pequena, para ensinar-me a traar na fronte, boca e peito, o sinal da cruz. Depois ensinava-me a rezaro pai-nosso, ave-maria, credo, confisso, acto de contrio, mandamentos da Lei de Deus, etc. Depois (...) voltava-se para a minha me e dizia: - Vs? Fui eu quem a ensinou. A me, sorrindo respondia: - que s um homem muito bom! Hs-de continuar sempreassim! O pai respondia: - Deu-me Deus a melhor mulher do mundo! Isto fazia-me crer que a me era a melhor do mundo e, quando vinham as outras crianas para o nosso ptio brincar comigo, eu perguntava-lhes: - A tua me boa? A minha a melhor do mundo!(Depois das aparies), por motivo de um rebulio que houve na freguesia contra o proco, no qual meu pai no quis meter-se, masque lhe fez muito m impresso, deixou por isso de comparecer

  • desobriga como costumava e afastou-se do proco, deixando de confessar-se com ele. Mas no se afastou da Igreja: continuou a ir todos os domingos e dias santos de preceito Santa Missa. Ia,de vez em quando, a Vila Nova de Ourm confessar-se (...)."13. ApndicesDos dois apndices, apenas alguns extractos do primeiro, j que osegundo a prpria introduo reconhece ser um texto transcrito, "directa e literalmente, dos apontamentos da vidente", pelo director espiritual de Lcia, em 1929, o Pe. jesuta Jos Bernardo Gonalves.A introduo diz que o texto " um documento escrito pela Irm Lcia, em fins de 1927, por ordem do seu director espiritual, o Rev. Aparcio, E acrescenta este pormenor: "Pouco tempo depois deter tido esta apario, no dia 10 de Dezembro de 1925, na sua cela, redigiu um primeiro escrito que foi destrudo pela prpria Irm Lcia. Este documento constitui, portanto, a

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    segunda redaco, exactamente igual primeira; apenas lhe acrescentou o pargrafo introdutrio referente data de 17 de Dezembro de 1927. Nele, a vidente explica como recebeu autorizao do Cu, para dar a conhecer parte do segredo.A introduo adianta ainda: "A este documento chamamos: Texto da grande promessa do Corao de Maria". Efectivamente, expresso da misericordiosa e gratuita vontade divina, dando-nos um meio desalvao fcil e seguro, visto que se apoia na tradio catlica mais s, sobre a eficcia salvadora da intercesso mariana.E termina com este naco de prosa teolgica, absolutamente incrvel, luz do Evangelho de Jesus: "Neste texto, podem ler-seas condies necessrias para corresponder ao apelo dos cinco primeiros sbados do ms, em reparao das injrias feitas ao Corao de Maria. E no pode esquecer-se nunca a sua inteno mais profunda: a reparao ao Corao de Maria".O texto abre assim:"No dia 17-12-1927, (Lcia) foi junto do Sacrrio perguntar a Jesus como satisfaria o pedido que lhe era feito, se a origem da devoo ao Imaculado Corao de Maria estava encerrada no segredoque a SS. Virgem lhe tinha confiado.Jesus, com voz clara, fez-lhe ouvir estas palavras:- Minha filha, escreve o que te pedem; e tudo o que te revelou a SS. Virgem, na apario em que falou desta devoo, escreve-o tambm; quanto ao resto do segredo, continua o silncio".Mais adiante:"Dia 10-12-1925, apareceu-lhe ( Lcia) a SS. Virgem e, ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS. Virgem, pondo-lhe no ombro a mo e mostrando, ao mesmo tempo, um corao

  • que tinha na outra mo, cercado de espinhos.Ao mesmo tempo, disse o Menino:- Tem pena do Corao de tua SS. Me, que est coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos lhe cravam, sem haver quem faa um acto de reparao para os tirar.Em seguida, disse a SS. Virgem:- Olha, minha filha, o meu Corao cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos me cravam, com

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    blasfmias e ingratides. Tu, ao menos, v de me consolar e diz que todos aqueles que durante cinco meses, ao primeiro sbado, seconfessarem, recebendo a sagrada comunho, rezarem um tero e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistrios do Rosrio, com o fim de me desagravar, eu prometo assistir-lhes, nahora da morte, com todas as graas necessrias para a salvao dessas almas.No dia 15-2-1926, apareceu-lhe, de novo, o Menino Jesus. Perguntou se j tinha espalhado a devoo a sua SS. Me. Ela exps-lhe as dificuldades que tinha o confessor e que a madre superiora estava pronta a propag-la, mas que o confessor tinha dito que ela, s, nada podia. Jesus respondeu: verdade que a tua superiora, s, nada pode, mas, com a minha graa, pode tudo.Apresentou a Jesus a dificuldade que tinham algumas pessoas em seconfessar ao sbado e pediu para ser vlida a confisso de oito dias. Jesus respondeu:- Sim, pode ser de muitos mais ainda, contanto que, quando me receberem, estejam em graa e que tenham a inteno de desagravaro Imaculado Corao de Maria.Ela perguntou: - Meu Jesus, e as que se esquecerem de formar essainteno?Jesus respondeu: - Podem form-la na outra confisso seguinte, aproveitando a primeira ocasio que tiverem de se confessar."E, j agora, saboreiem mais este naco de prosa e digam l se algum pode tomar a srio o que Lcia tem andado a dizer desde criana:"No dia 15 (de Fevereiro de 1926) andava eu muito ocupada com o meu ofcio e quase nem disso me lembrava. E indo eu deitar um apanhador de lixo fora do quintal, onde, alguns meses atrasados, tinha encontrado uma criana, qual tinha perguntado se ela sabia a ave-maria e, respondendo-me que sim, lhe mandei que a dissesse, para eu ouvir. Mas, como ela no se resolvia a diz-la s, disse-a eu com ela, trs vezes; e, ao fim das trs ave-marias, pedi-lhe que a dissesse s. Mas, como ela se calou e no foi capaz de dizer, s, a ave-maria, perguntei-lhe se ela sabia qual era a igreja de Santa Maria. Respondeu-me que sim.

  • Disse-lhe que fosse l todos os dias e que dissesse assim: minha Me do

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    Cu, dai-me o vosso Menino Jesus! Ensinei-lhe isto e vim-me embora.No dia 15-2-1926, voltando eu l, como de costume, encontrei ali uma criana que me parecia ser a mesma e perguntei-lhe ento:- Tens pedido o Menino Jesus me do Cu?A criana volta-se para mim e diz: - E tu tens espalhado, pelo mundo, aquilo que a me do Cu te pediu?E, nisto, transforma-se num menino resplandecente. Conhecendo ento que era Jesus, disse: Meu Jesus! Vs bem sabeis o que o meuconfessor me disse na carta que vos li. Dizia que era preciso queaquela viso se repetisse, que houvesse factos para que ela fosseacreditada, e a madre superiora, s, a espalhar este facto, nada podia.- verdade que a madre superiora, s, nada pode; mas, com a minha graa, pode tudo. E basta que o teu confessor te d licenae a tua superiora o diga, para que seja acreditado, at sem se saber a quem foi revelado.- Mas o meu confessor dizia na carta que esta devoo no fazia falta no mundo, porque j havia muitas almas que vos recebiam, aus primeiros sbados, em honra de Nossa Senhora e dos 15 mistrios do rosrio.- verdade, minha filha, que muitas almas os comeam, mas poucasos acabam e as que os terminam com o fim de receberem as graasque a esto prometidas; e me agradam mais as que fizerem os cinco com fervor e com o fim de desagravar o Corao da tua me do Cu, que as que fizerem os 15, frios e indiferentes..."Comentrios, para qu?! isto Ftima, mai la sua Senhora. O descrdito do Cristianismo e da Igreja. A nossa vergonha! Por isso digo com redobrada convico: Ftima nunca mais!Nota: os captulos que se seguem so textos sucessivamente escritos e publicados no jornal "Fraternizar", ao longo dos ltimos anos. Ao l-los, um aps outro, facilmente se percebe queh um crescendo na minha conscincia acerca da perversidade de Ftima. Por isso tudo desagua no captulo final, titulado: "Ftima: A grande iluso".

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    2No outro lado de Ftima III , procura de Maria de Nazar"Olhei para si e lembrei-me de Nossa Senhora!" Foi assim que o

  • Jornal FRATERNIZAR fez parar, em pleno caminho, a senhora Alda Alves Correia, residente h 32 anos, no lugar da Moita de Cima, freguesia de Ftima. Caminhava devagar carrego cabea, em direco a casa, num dos primeiros dias de Abril passado. Foi como se, de repente, vssemos Maria de Nazar, em carne e osso. Era procura dela que andvamvs, semelhana do sbio da Antiguidade, de quem se conta que, um dia, de lanterna na mo, empleno dia, dizia andar procura de um Homem. Propositadamente, no fomos por ela, nem na capelinha das aparies, nem no santurio, erguido em sua honra. Deixamo-nos guiar pelo Esprito.E Ele levou-nos para a Moita de Cima. Quando nos cruzmos com esta mulher, primeiro, passmos adiante. Mas logo o Esprito nos fez correr atrs, ao seu encontro. Se queramos estar com Maria, em Ftima, ela estava ali mo de semear, carrego cabea, pobremente vestida, corpo de muito trabalhar, mulher simplesmente.Uma barbaridadeAssustou-se a senhora Alda, com as palavras com que a saudmos. Edisse, naquele jeito dos pobres, "credo!". Mas logo se tornou acolhedora. Atirou o carrego ao cho e falou sobre Ftima e a vida do seu povo, aquele que, como Maria de Nazar, tem sabido resistir seduo da riqueza e continua a manter-se pobre, como ela.

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    "Vivo de andar a trabalhar. Como a gente precisa de trabalhar, no tem vagar para apreciar certas coisas. Ir s peregrinaes decada ms? No costumo ir, porque tenho de trabalhar. E mesmo o pessoal de c raro, s se for no Inverno; de contrrio, vivem do comrcio, no assistem a nada disso, para atenderem os peregrinos nas lojas."A senhora Alda tem dois filhos emigrantes na Sua e mais trs c, um trabalha nas obras, outro deficiente e o mais novo frequenta as aulas no colgio dos padres. Veio de Castelo de Paiva para Ftima. Trabalhar."A pessoa trabalha muito e quase no ganha para comer. Fao de tudo, s da parte de tarde. De manh, tenho de fazer o comer paraos filhos. As minhas mos agarram-se a tudo. Vim para c trabalhar e c fiquei."- E como v Nossa Senhora no meio de tudo isto?- Eu acho c para mim que isto uma barbaridade, porque vm estas pessoas com as suas promessas e, aqui, muitos s no lhes tiram o calado, nem a roupa que trazem vestida, porque no podem. Aluga-se uma cama por dois, trs contos, acho isso uma barbaridade.Precisou depois: "H muitos que vm a p, durante oito dias, at

  • um ms, chegam c, ento que o dinheiro se vai. No acho isto bem. Est bem que vivessem, explorassem, at, mas nem tanto. Eu acho demasiado. Perante Nossa Senhora, eu, c no meu conhecimento, acho que isto no deve estar certo. Aconteceu, noutros tempos, que eu deixei dormir em colches no cho, mas nolevava nada, aceitava o que me quisessem dar. Assim, como agora fazem, at tiram a f s peSSOas"."Nunca andei na escola"A senhora Alda l voltou a colocar o carrego cabea, rumo a casa. Como Maria de Nazar, outrora, ter feito. Como sempre tm feito os pobres, atravs dos tempos. Mas ns, que com ela havamos estado, que j sentamos o nosso corao mais aquecido, confortado. A verdade sempre nos deixa assim, quando nos deixamos encontrar por ela.

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    mais adiante, l estava porta outra mulher. E o Esprito fez-nos ir at ela, corpo j carregado de anos, dois carros deles, pois nasceu em 1909. Rosrio o seu nome. Criada de servir era a sua condio, ao tempo das chamadas Aparies. Mas tambm companheira de Lcia, na doutrina e missa aos domingos."Nunca andei na escola. Andei a servir at casar. A minha vida no se alterou com isto de Ftima. Ganhava pouquinho, era s o que queriam dar. Filhos? Tenho sim, mas so emigrantes."Fala, depois, do ano de 1917. "Tinha oito anos e j andava a servir. Vinham as pessoas a correr para Ftima, apanhavam arregaadas de ramos de azinheira e levavam para fazer ch. Dizia-se que curava doenas. Tambm havia muitas perseguies. Vinha a cavalaria para correr com essas pessoas para fora. As pessoas abalavam, mas vinham logo outra vez. E as crianas (pastorinhos) andavam ao colo das pessoas. Mas a Nossa Senhora nunca a vi."Terrenos que valem milhesO nosso Jornal tinha ouvido dizer que, hoje, h pessoas de Ftimaque choram, por terem vendido quase ao preo da chuva os terrenosque, agora, valem uma fortuna. Pusemos a questo senhora Rosrio."Hoje, quase tudo dos padres e das freiras." Riu-se, com olhos marotos, ao dizer isto. E prosseguiu: "Os nossos, de c, no compravam, porque no tinham posses. Mal dava para sustentar a famlia. E vendiam o que tinham. Os pobres foram afastados das terras e, agora, essa gente grande que vem de fora que se governa..."No mesmo sentido, pronunciou-se o ancio, Jos dos Reis, corpo alquebrado pela doena, e que o nosso Jornal foi encontrar a viver sozinho, no seus 75 anos, numa casa pequenina e pobre,

  • tambm na Moita de Cima."Ui! Credo!", comeou por dizer, a propsito do preo dos terrenos, ontem e hoje. "O meu pai - contou - vendeu l um terreno por 16 contos, era muito grande e hoje vale milhes."

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    Mas as suas palavras, poucas, iam insistentemente quase todas para a doena que o ataca e para a solido-abandono em que vive todos os dias. Porque, conforme testemunhou o nosso Jornal confirmou depois junto de outras fontes, na freguesia de Ftima, ainda no funciona um servio de apoio a idosos e acamados ao domiclio! Outra barbaridade, poderia dizer a senhora Alda, numa traduo actualizada do cntico do Magnificat, posto pelo Evangelho de Lucas na boca de Maria de Nazar.Disfarada de pedinteO Esprito colocou outra mulher no nosso caminho, outro corpo a fazer lembrar Maria, a pobre de Nazar, capaz de alegria, por descobrir que Deus, ao contrrio do que muitos pretendem fazer crer gente, s o , na medida em que est activamente solidriocom os pobres do mundo. De outro jeito, no seria Deus, mas um fara, ou uma multinacional do nosso tempo.Desta vez, eis que Nossa Senhora se nos apresenta disfarada de pedinte, ali mesmo sada do terreno, propriedade do Santurio, da banda sul. O terreno que, outrora, antes de 1917, foi das famlias pobres de Ftima, antes de elas o terem vendido por dez ris de mel coado.Parmos. E o Esprito disse: Procurais Maria de Nazar? Ei-la nesta mulher pobre!Sentimos sagrado aquele corpo, de 82 anos, mo estendida, boca habituada a pronunciar as palavras da esmola. No havia raios de sol, nem frondosas azinheiras, nesta apario de Maria. Mas que era ela, era, naquele corpo trmulo, suplicante."O meu nome? Chamo-me Maria da Glria, d-me uma esmolinha!" Estremecemos de comoo. Maria, a pobre de Nazar, tambm esta mulher. Infinitamente desafiadora. Porque ela todas as mulherese homens empobrecidos fora. Infinitamente desafiadores. Pedintes de uma terra outra, de um mundo outro, uma terra de pobres sem pobreza, de companheiros, numa palavra, uma terra de fraternidade.No passado dela, l est, ainda vivo, o ano de 1917. "Sim, falei com a Lcia, tinha eu ento dez anos. Aqui era s mato, hoje, est tudo muito mudado." --44--

    Mas l est, mais vivo ainda do que esta recordao da infncia,

  • o calvrio imposto por uma sociedade edificada sem o jeito de Maria: "Tive de ir servir, desde os sete anos, e nunca aprendi a ler nem a escrever."Eis! A epopeia dos pobres que nunca enriquecem, porque nunca se atrevem a explorar seja quem for! Mas tambm o drama duma vida inteira a pedir para sobreviver, s porque sempre tem havido quemfaa tudo, mesmo explorar os mais dbeis, para enriquecer, em vezde tudo fazer para que floresa uma terra de justia. Da a concluso, ao mesmo tempo espantosa e confiante, da senhora Mariada Glria: "Temos de ir indo, at que Nosso Senhor nos chame".E chamar, porque os pobres assim, que nunca enriquecem, so misteriosamente tambm parte sua, corpo seu, so Ele mesmo, o filho colectivo de Maria, Juiz da Histria (cf. Mt 25, 31-46).

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    3 Irmzinhas de Jesus: Com elas entendemos melhor Maria de Nazare o Evangelho dos pobres,Quase no se d por elas e, no entanto, elas so na sociedade como os pulmes para o corpo. Autodefinem-se "contemplativas no meio do mundo" e vivem em pequenas Fraternidades, vestidasdaquela simplicidade que caracteriza os pobres, os quais, na sua espantosa sabedoria, sempre recusam seguir o exemplo dos ricos e grandes deste mundo e, em vez disso, teimosamente, preferem a prtica dos mil e um pequenos-grandes gestos dirios da solidariedade sem reservas. Quem alguma vez as encontrou, depois sempre se h-de lembrar delas, as Irmzinhas de Jesus, como, infalivelmente, se apresentam em qualquer dos 60 pases do mundo,onde hoje habitam.Fomos respirar com elas em Ftima e assim melhor escutar e entender a Vida e, sobretudo, o que Maria de Nazar ainda agora andar a querer dizer aos homens e mulheres, tambm aos homens e mulheres que fazem a Igreja em Portugal e que, em Ftima, esto to visivelmente presentes - pelo menos, nas 45 casas de institutos religiosos femininos e nos 13 institutos religiosos masculinos l existentes, a acreditar na estimativa de um irmo de S. Joo de Deus.Gente de vida duraImpressionam qualquer pessoa os milhares de peregrinos que, de Maio a Outubro, deixam as suas casas e vo a p, estrada fora, rumo montanha de Ftima. No procuram o alto do monte. Tm fomede encontro, daquele tipo de encontro que retempera

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    a vida dura de todos os dias e nos deixa mais aptos a prosseguir,apesar das contrariedades de toda a ordem, nomeadamente, as

  • resultantes de polticas que, em vez de concretizarem projectos de vida para todos, apenas favorecem os interesses de alguns.Impressionam os gestos que muitos assumem, em cumprimento de promessas que os ricos e os tidos por cultos habitualmente no fazem, mas que os pobres, de gerao em gerao, continuam a realizar, mesmo revelia das orientaes das Igrejas institucionais e dos seus mais altos dirigentes, o clero.Que tem Maria de Nazar a ver com isto? O que pensam de tudo istoas Irmzinhas de Jesus, h mais de 30 anos, em Ftima, elas que, cada ms, l esto no servio de acolhimento aos peregrinos, com a mesma ternura que teriam pelo prprio Jesus?"Respiramos Maria nos prprios peregrinos, na simplicidade e na f deles. Acreditar ver para alm do que se v. Vemo-los chegare expressar a f de maneira diferente da que, por vezes, gostaramos de ver. Mas no h dvida de que l est a f. Pode chocar a gente, mas aquilo vem do fundo do corao das pessoas e merece-nos muito respeito."Recordam que se trata de "gente que est habituada a uma vida dura e sente necessidade de traduzir com o prprio corpo a sua experincia do divino". Como quem diz: os pobres, tambm nestas alturas, falam. a linguagem com que sempre comunicam a sua experincia, o que vivem, no mais fundo deles mesmos.Um caso exemplarContam depois ao nosso Jornal alguns casos que mais as impressionam. Entre estes, o caso daquela mulher, visivelmente empobrecida, a quem um padre tentava convencer a guardar o dinheiro que havia prometido a Nossa Senhora, com o argumento de que lhe faria falta, l em casa. E a reaco, imediata e impressionante, que deixa qualquer um sem fala: "O senhor padre s aceita dinheiro dos ricos? Pois este dinheiro para Nossa Senhora e no ser para mais nada".Mesmo distncia, no tempo, o impacto do relato deste caso foi to grande, que nos deixou, por momentos, sem fala. S algum tempo depois, ousmos balbuciar um comentrio. E foi este: Que

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    responsabilidade, ento, a daqueles que receberem um dinheiro entregue com esta fora, com esta generosidade, com este despojamento e tambm com este destino!Outro comentrio no nos ocorreu, de momento. Seria mais tarde, j depois de termos deixado a casa das Irmzinhas, mas bem na comunho contemplativa com elas, que percebemos a violncia deste"evangelho" que os pobres sempre vivem e proclamam, na eloqunciados gestos desta natureza. Um Evangelho que at ns, os cristos e respectivas Igrejas, corremos o risco de continuar a no captare, por isso, tambm a no viver.

  • Aqui o formulamos, ento, para que muitos e muitas de ns beneficiemos e mudemos de vida. Eis:Felizes os que, como os pobres, se despojam de tudo, at do que lhes pode fazer falta. Felizes os que sabem ser e fazer como aquela pobre viva, louvada por Jesus, que, no templo de Jerusalm, deu tudo o que possua, ao contrrio de outros que, embora dessem mais, davam apenas do que lhes sobejava.Mas ai de quem se aproveita do produto deste despojamento dos pobres e concebe e realiza projectos de acumulao, de enriquecimento, de grandeza, de aumento do patrimnio, de construo de palcios que tm mais a ver com a vaidade dos grandes deste mundo, do que com as preocupaes e os anseios de Maria, Nossa Senhora. Ai daquele que, diante do despojamento dos pobres, no lhe captou o apelo a despojar-se de igual jeito, paraque, assim, a vida possa ser cada vez em maior abundncia em todos, a partir dos prprios pobres que to generosamente se despojaram.O maior milagre Foi, porm, mais longe a revelao que ao nosso Jornal foi dado ouvir, horas depois de termos sado de junto das Irmzinhas. Eis o que ouvimos:No em vo que, desde h anos, o nome de Maria pronunciado emFtima, e cantado e chorado por milhares e milhares de pobres. No em vo que estes, com uma persistncia a toda a prova, continuam a despojar-se at do que lhes faz falta.

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    No em vo que este "Evangelho dos pobres" teimosamente praticado e mostrado por muitos deles, em gestos e atitudes que os bem-pensantes tm por "primitivos" e "brbaros".Quem sabe se, com tudo isto, no estar a chegar a hora de muitosdos que, um dia, escolheram Ftima para morar, nomeadamente, as congregaes religiosas femininas e masculinas, assim como os bispos e todo o clero que regularmente l se deslocam de Maio a Outubro? No estaro beira de captar este Evangelho para o praticarem como j os pobres fazem? Quem sabe se as congregaes religiosas no acabaro por converter-se aos pobres contra a pobreza, no acabaro por despojar-se como os pobres de todos os bens, at ficarem reduzidos ao essencial? Quem sabe se no acabaro por perceber que, como os pobres, devem despojar-se de todo o patrimnio que acumularam, tambm em Ftima, a partir de terrenos comprados ao desbarato? Quem sabe se no esto para concluir, alis, em coerncia com o voto de pobreza que fazem, que devem restituir e partilhar tudo o que possuem, para que a vida, finalmente, seja em abundncia para todos?Um sonho? No, antes o maior milagre que Maria de Nazar, a Me dos pobres, deseja realizar em Ftima e que, quando deixarmos que

  • acontea, bem poder mudar a face de Portugal e do mundo.

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    4 Ftima: privilgio ou responsabilidade? uma responsabilidade. Mas ns, os portugueses em geral e a Igreja em especial, temos olhado para Ftima como um privilgio. E, levados por um impulso egosta que, partida pode inquinar osmelhores projectos e os melhores ideais, comportamo-nos, perante Ftima e perante aquela que, desde 1917, aprendemos, mundialmente, a chamar "Senhora de Ftima", como crianas mimadas. Quase sempre pensamos nela, no para sermos como ela, mas para nosso prprio proveito. E a prova que a momtanha de Ftima tem sido simultaneamente uma montanha de pedidos de todo ognero, de cunhas, e comrcio com o divino, de desenfreada explorao do prximo, de discursoseclesisticos esvaziados de Evangelho libertador, de oraes sem Esprito, de promessas, as mais bizarras e exticas, com muito dedegradao moral e espiritual, onde multides e multdes, enganadas e iludidas, acorrem a deixar muitas das suas parcas economias, ou mesmo todas as suas parcas economias, na expectativa de serem curadas, ou, ao menos, aliviadas de males que est nas mos de todos ns remediar, mediante uma inteligentee aturada aco poltica libertadora e humanizadora a desenvolvernas diversas reas que fazem a nossa vida individual e colectiva,nomeadamente, as reas da sade, da educao, da habitao, do trabalho, do ambiente e, sobretudo, da economia.E assim, depois de 75 anos de existncia de Ftima, no se pode dizer que todos tenhamos crescido mais em humanidade, que estamostodos, hoje, mais libertos e responsveis, que somos mais criadores de fraternidade, que j no sabemos outra coisa

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    que ser solidrios, numa terra feita por ns cada vez mais imagem e semelhana de Maria, que um dia nos "apareceu", na sua qualidade de me e de discpula plenamente conseguida de Jesus deNazar, e tambm na sua qualidade de nica criatura em quem, at hoje, o Deus da vida e da fraternidade melhor se reviu como Pai-Me que , ou seja, gerador e criador de seres que, livre e festivamente, se descobrem, uns perante os outros e uns com os outros, como irmos, companheiros de jornada, amigos de peito.Ftima, infelizmente, tem sido para os portugueses e para o mundoem geral, e para a Igreja catlica, em particular, mais pedra de tropeo do que Graa. Temos tropeado nela e feito muitos outros,do pas e do estrangeiro, tropear tambm. A exemplo do que

  • historicamente aconteceu, outrora, com outro povo que, por ter sido "visitado" pelo Deus da vida e da fraternidade, logo se pensou, levado pelo egosmo - sempre redutor do homem/mulher e dos povos em quem assenta arraiais -, que era o nico que o tinhasido e, por isso mesmo, tambm logo se pensou "eleito" relativamente aos outros povos que o no seriam, e a si mesmo passou, at, a chamar-se "povo de Deus", como se os restantes povos da Terra o no fossem tambm. sabido como, ao fim de pouco tempo, j se sentia um povo orgulhoso do seu grandioso templo em Jerusalm (uma espcie de Ftima de ento), construdo por suas prprias mos, mas revelia desse mesmo Deus que, entretanto, quando "apareceu" a Abrao e a Moiss (cada povo tem tambm os seus e, se calhar, a maior parte ainda nem deu por isso, to dominados todos temos sido pelo que sempre se teve na conta de "eleito", judeu primeiro, eclesistico depois), f-lo, no em templos levantados por mo humana, mas nos stios mais profanos, onde a vida est a acontecer e, sobretudo, onde a vida corre perigo. Ou Ele no fosse o Deus da vida e do amor, o Deus Pai-Me, gerador e criadorde fraternidade.Ftima uma responsabilidade, mas ns apressamo-nos a fazer delaum privilgio. Apressamo-nos a pensar que, a partir da "apario"de Maria, todos os nossos problemas estavam

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    resolvidos. Para todas as dificuldades, individuais e colectivas,tnhamos, ali, mo, a "Senhora de Ftima", a quem sempre poderamos recorrer, com quem sempre poderamos negociar.Os governantes do pas, nomeadamente, ao tempo da Guerra Colonial, aproveitaram-se dela, para justificar o que sempre injustificvel, como toda e qualquer guerra. E os governantes de hoje tambm no perdem oportunidades de "aparecerem" por l, nos momentos de mais gente, em hipcritas e repugnantes atitudes de devoo mariana, eles que, entretanto, fazem da poltica uma actividade ao contrrio da "poltica" do Deus de Maria, pois possibilitam que os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres sejam cada vez mais despojados dos bens indispensveis vida, e possibilitam que os poderosos reforcem o "peso" nacional e internacional das suas multinacionais, enquanto os pequenos so obrigados a permanecer no medo e na humilhao, mediante o recurso represso policial e publicao-aplicao de leis injustas.Tambm a Igreja em Portugal tem vivido sombra de Ftima. E a prova que quase se tem limitado a ser uma empresa de servios religiosos, apoiada por um enorme e, ainda por cima, generoso corpo de funcionrios, e facilmente se dispensa do que lhe

  • especfico, ou seja, anunciar o evangelho da libertao e, desse jeito, qual parteira, ajudar a dar luz pequenas Comunidades-Fraternidades de servio libertador a favor do resto da Humanidade.Pensa que tem do seu lado a "Senhora de Ftima" e isso lhe basta.Mesmo que no faa mais nada, que se limite a manter, ali, na montanha de Ftima, aquele "altar do mundo", garantido que as multides, famintas de po e de dignidade, de sade e de justia,de trabalho e de participao, de estabilidade e de paz, sempre correro para ela, mesmo que, entretanto, estruturem as suas vidas revelia dos valores alternativos do Evangelho de Jesus que, alis, quase fazem gala de nem conhecer. tempo de todos acordarmos. Porque, se Maria, me de Jesus e de todos os empobrecidos e humilhados e crucificados do mundo, "apareceu" em Ftima, no foi para, egoistamente, nos

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    aproveitarmos dela, mas para nos tornarmos, cada vez mais, homense mulheres libertos como ela, subversivos como ela, ousados como ela, intervenientes e participativos como ela, criadores de fraternidade e de solidariedade como ela, em vez de, idolatricamente, nos plantarmos de rastos diante dela, a faz-la crescer a ela, custa de nos diminuirmos a ns.Porque a glria de Deus, do Deus da vida e da fraternidade, queo homem/mulher e os povos vivam! E no pode ser outra a glria deMaria, a "Senhora de Ftima".

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    5No ser que tambm Ftima precisa de se converter aoEvangelho de Jesus?Completam-se, este ms de Maio, 75 anos sobre as chamadas aparies de Ftima. Com o desmantelamento da URSS e a subsequente "converso" da Rssia NATO e s multinacionais do dinheiro que, hoje, se movimentam vontade no seio da ComunidadeEuropeia e noutras zonas do globo, parece que Ftima deveria encerrar as suas portas. Porque, como se sabe, ela nasceu sob o signo do anticomunismo e, durante estes 75 anos, sempre apostou na "converso da Rssia", para que ela no continuasse a espalharos seus "males" pelo mundo. E estranhamente, ou talvez no, sempre se esqueceu do Capitalismo, apesar de ele ser, luz do Evangelho de Jesus, intrinsecamente perverso e, neste momento, ser, at, o principal responsvel pela degradao da Natureza e do meio ambiente, e o assassino, pela fome e por doenas facilmente curveis, de muitos milhes de pessoas empobrecidas,

  • em cada ano. Mas no isso que est para acontecer.Pelo contrrio. Ftima prepara-se para prosseguir. Agora, j no com a bandeira do anticomunismo, mas com a da Paz. E a prova disso o congresso internacional que decorrer, entre os dias 8 e 12 deste ms, promovido pelo Santurio, e cuja organizao foi confiada Faculdade de Teologia da Universidade Catlica Portuguesa. Um Congresso - "Ftima e a Paz" - que vai trazer Serra d'Aire, especialistas reconhecidos, entre os quais, o sempre tido como "bispo vermelho" Hlder Cmara, o telogo da libertao Jos Comblin e o Prof. Jean Ladrire, da Universidade de Lovaina.O Jornal FRATERNIZAR no quis deixar passar em claro esta data. Emarcou encontro com o Padre dominicano, Frei Bento Domingues, 57 anos de idade, autor, entre outras obras, do livro "A Religio dos Portugueses", onde o fenmeno Ftima tambm dissecado. Colocou-lhe algumas questes, polmicas, entre muitas possveis. E registou a sua reflexo.Frei Bento, na conversa que, durante quase duas horas, manteve com o Jornal FRATERNIZAR, no teve a preocupao de responder s questes, uma por uma. Muito menos cuidou em esgotar o assunto. Tambm formulou algumas