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    Rev Esc Enferm USP2005; 39(1):85-91.

    Fatores de motiva-o e insatisfaono trabalhodo enfermeiro

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    MOTIVATION AND DISSATISFACTION FACTORS IN THE NURSE'S WORK

    FACTORES DE MOTIVACIN E INSATISFACCIN EN EL TRABAJO DEL ENFERMERO

    Anne Aires Vieira Batista1,Maria Jsia Vieira2,Normaclei Cisneiros dos SantosCardoso3,Gysella Rose Prado de Carvalho4 ,

    RESUMO

    Identificou-se fatores demotivao e insatisfao notrabalho do enfermeiro nasinstituies de sade de Aracaju,com nfase na remunerao econdies laborais. A amostra foiconstituda de 10% dosenfermeiros lotados em cadaunidade de sade pesquisada.Percebeu-se que a remuneraono o fator principal para amotivao no trabalho, sendo,entretanto, um dos fatores deinsatisfao mais citados,

    antecedido pelas condies detrabalho. Notou-se ainda aexistncia de outros fatores quemotivam o enfermeiro apermanecer no tra balho, taiscomo, fazer o que gosta,estabilidade adquirida porconcurso pblico, compromissocom a populao, valorizao doservio, entre outros.

    DESCRITORESMotivao.Satisfao no trabalho.

    Enfermagem.

    ABSTRACT

    Motivation and dissatisfactionfactors in the work of nurses wereresearched and identified in thehealth institutions of the city ofAracaju, with emphasis in theremuneration and workingconditions. The sample comprised10% of the nurses allotted in eachhealth unit researched. It wasfound that remuneration is not themain motivation in work, but it isthe second most mentioneddissatisfaction factor, topped onlyby working conditions . Other

    factors that motivate nurses tostay in the job include thepossib il ity of work ing insomething they enjoy, theprofessional stability given bypublic positions, a commitmentwith the population and theimportance of their service, amongothers.

    KEY WORDSMotivation.Job satisfaction.

    Nursing.

    RESUMEN

    Se identifico factores demotivacin e insatisfaccin en eltrabajo del enfermero en lasinstituciones de salud de Aracaju,con nfasis en la remuneracin ycondiciones laborales. La muestraestuvo constituda por el 10% delos enfermeros de cada unidad desalud investigada. Se percibi quela remuneracin no es el factorprincipal para la motivacin en eltrabajo, siendo, no obstante, unode los factores de insatisfaccinms citados, antecedido por las

    condiciones de trabajo. Se notan la existencia de otros factoresque motivan al enfermero apermanecer en el trabajo, talescomo, hacer lo que le gusta,estabilidad adquirida porconcurso pblico, compromisocon la poblacin, valorizacin delservicio, entre otros.

    DESCRIPTORESMotivacin.Satisfaccin en el trabajo.

    Enfermera.

    1 Enfermeira da Prefeitura

    Municipal de Aracaju. Ex-bolsista PIBIC / CNPQ /[email protected]

    2 Enfermeira. ProfessoraAdjunta Doutora doDepartamento deEnfermagem e Nutrio daUniversidade Federal [email protected]

    3 Enfermeira do HospitalGovernador Joo AlvesFilho e da Clnica deNefrologia de Sergipe.Ex-bolsista PIBIC /CNPQ / UFS.

    4 Enfermeira da PrefeituraMunicipal de Aracaju.

    Recebido: 12/02/2004Aprovado: 14/10/2004

    RELATODE

    PESQUISA

    Fatores de motivao e insatisfao

    no trabalho do enfermeiro

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    Anne Aires Vieira Batista

    Maria Jsia Vieira

    Normaclei C. dos S. Cardoso

    Gysella Rose P. de Carvalho

    INTRODUO

    A motivao tem sido considerada como umfator importante, e aqui considerada especifica-mente, no trabalho. A literatura tem mostrado que,desde a Antigidade, existe uma preocupaocom as razes pelas quais as pessoas agem ou

    pelas quais decidem o que fazer(1). Fatores queimpulsionam as pessoas a fazerem algo, estorelacionados a uma hierarquia de necessidadescomo exercer um cargo, ter reconhecimento e pro-gresso profissional, entre outros(2).

    Percebendo-se que, em qualquer organizao,o reconhecimento, em seus vrios aspectos deabordagem, representa um elemento de grandeimportncia para o desempenho profissional, pre-tendeu-se estudar os fatores de motivao e in-satisfao no trabalho do enfermeiro, conside-rando-se, nestes, como fatores intervenientes, a

    remunerao, o salrio inicial, as exigncias fei-tas pelo empregador no ato da admisso, a cargahorria, e como aquele profissional se sente emrelao a estes fatores.

    Para isto foi feito um levantamento da cargahorria dos enfermeiros nas instituies de sa-de de Aracaju, quanto ganham como salrio basee atual, para em seguida analisar se o salrio real-mente influi na motivao ao trabalho, porqueembora nem todas as pessoas sejam igualmentemotivadas, o fator pagamento uma evidncia

    comum citada na literatura. Percebendo-se, en-tretanto, que este no o nico fator motivador,procurou-se analisar outros fatores, distribudossegundo a hierarquia das necessidades huma-nas bsicas consubstanciadas em Maslow(2).

    A pesquisa foi realizada nos hospitais da ca-pital sergipana, bem como unidades de sadepblica, municipais e estaduais, por serem os prin-cipais empregadores de enfermeiros da rea

    pesquisada.

    Teve-se como objetivo geral identificar estes

    fatores, com nfase nas condies laborais e re-tribuio financeira. Como objetivos especficos:listar as exigncias feitas pelas instituies desade na admisso dos enfermeiros; conheceros salrios base e atual por instituio; identifi-car a carga horria nos hospitais e servios desade de Aracaju; verificar a influncia da remu-nerao e das condies de trabalho na motiva-o e insatisfao dos enfermeiros, segundo a

    percepo destes.

    REVISO DE LITERATURA

    Na histria do trabalho, as sociedades pas-saram por diversas transformaes em sua for-ma, tanto no modo como realiz-lo, quanto namaneira de pensar sobre ele(3). O trabalho nemsempre foi uma atividade remunerada e, por mui-

    to tempo, foi utilizado como uma forma de casti-go. Em outras situaes, quando remunerado,tratava-se de um valor irrisrio, para atender ape-nas s necessidades de sobrevivncia.

    Ao longo dos sculos, aconteceram mudan-as e revolues que levaram as sociedades a

    buscarem vrias formas de adaptaes para so-breviver. Da idia de "tripallare", que significamartirizar-se com um instrumento de tortura de-nominado tripallium passou-se de esforar-se,lutar e finalmente, trabalhar com suas diversasconotaes (4-5).

    Entende-se que o ser humano, ao desempe-nhar qualquer atividade, utiliza-se de fatores in-ternos ou externos que so responsveis pelaconduo do objetivo almejado(6).

    Vrios estudiosos construram teorias paraexplicar o fator fundamental que faz as pessoasadotarem atitudes, pensar, agir e buscar seusobjetivos ou metas, resultando em diversas teo-rias sobre a motivao (1). Esta, no contexto es-tudado, "se refere ao estado em que o trabalha-dor se sente com disposio ou vontade para

    trabalhar produtivamente"(7). Para que isto ocor-ra, a motivao no trabalho precisa ser avaliada,levando-se em considerao a autonomia nomesmo, o pagamento, as condies oferecidas, acarga horria e outros fatores(8).

    A motivao pode ser conceituada, tambm,como "o desejo inconsciente de obter algo"(9)oucomo "um impulso para a satisfao, em geralvisando o crescimento e desenvolvimento pes-soal e, como conseqncia o organizacional", oque causa, canaliza e sustenta o comportamento

    das pessoas, no sendo, porm, a nica influn-cia no nvel de desempenho daquelas(10).

    Assim sendo, notrio que o salrio em si norepresenta um fator total de motivao, pois pre-ciso levar em conta outros fatores como a cargahorria, as condies oferecidas, o relacionamen-to multiprofissional, entre outros. No entanto, ofator pagamento normalmente indicado comosendo o de maior insatisfao no trabalho do en-fermeiro, j que o salrio, em funo da responsa-

    bilidade, muito baixo e se faz necessrio adequ-lo s habilidades e ao conhecimento daquele pro-

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    fissional(10), podendo, estes fatores influenciaremna permanncia ou abandono da profisso(11).

    A motivao humana pode ser estudada a par-tir de diferentes referenciais, e entre estes pode-sedestacar o das necessidades humanas bsicas(2),ordenadas, estas, em uma hierarquia de prepotncia:necessidades fisiolgicas ou de sobrevivncia; desegurana; de amor ou estima; de pertena ou deaceitao; de auto-realizao. As trs primeirasso consideradas necessidades de carncia e ten-dem a ser episdicas e ascendentes, enquanto asduas ltimas so de crescimento e se encontramem desenvolvimento contnuo, em constante pro-gresso(2).

    Assim, o grau de satisfao e motivao deuma pessoa uma questo que pode afetar a har-monia e a estabilidade psicolgica dentro do localde trabalho. Por isso, faz-se necessrio investi-

    gar e analisar os fatores responsveis pela motiva-o do enfermeiro, considerando ser esta moti-vao um componente significativo dentro daorganizao(7).

    METODOLOGIA

    O mtodo utilizado para o desenvolvimentodesta pesquisa foi o descritivo quanti qualitativo,

    porque se desejou fazer uma anlise e reconhe-cimento das caractersticas dos fatos ou fenme-nos(12)pertinentes ao objeto de trabalho.

    O universo de pesquisa foi a cidade de Aracaju,sendo as unidades de observao as instituiesde sade, em nmero de onze, estando inseridosos hospitais, bem como unidades de sade pbli-ca, municipais e estaduais, por serem os principaisempregadores de enfermeiros da rea pesquisada.

    Para fazer a coleta de dados foi realizado inici-almente o levantamento de informaes por insti-tuio, atravs de um formulrio dirigido ao repre-sentante institucional. Para preservar o anonima-to, foi atribudo a cada instituio o nome de uma

    moeda mundial.Atravs deste formulrio foi possvel obter, entre

    outras, informaes sobre o quantitativo de enfer-meiros lotados, condies e exigncias no ato deadmisso, salrio base inicial e atual.

    A distribuio do quantitativo de enfermeiroslotados nas onze instituies pesquisadas mos-trou os seguintes dados: Taka (12 enfermeiros),Kuna (20), Dracma (66), Dalasi (07), Rublo (02), Sucre(05), Iari (111), Lek Novo (13), Dlar (70), Lats (09),Balboa (07).

    Da populao de enfermeiros de cada umadas instituies foi feita uma amostra de pelomenos 10% da sua lotao, o que totalizou cin-qenta e dois (52) enfermeiros pesquisados. Uti-lizou-se como critrio de seleo, inicialmente osorteio, aliado disponibilidade destes profissi-onais em responder ao questionrio. Posterior-

    mente, fez-se a aplicao de um questionrio aosenfermeiros, composto por treze questes aber-tas ou fechadas.

    Os profissionais mencionados, antes de res-ponder ao questionrio foram esclarecidos quantoaos objetivos da pesquisa, aos seus direitos quan-to ao sigilo e proteo da imagem, quanto ao direi-to de recusar-se a participar da pesquisa, a retirarseu consentimento no todo ou em parte, em qual-quer momento da mesma, sem que disto lhe resul-tasse algum prejuzo e, assinaram o termo de con-sentimento livre e esclarecido, conforme preceitua

    a resoluo CONEP 196/1996(13). Para manter o ano-nimato foi tambm atribudo aos enfermeiros

    pesquisados, o nome de moedas mundiais. A co-leta de dados foi feita no perodo de agosto de2001 a janeiro de 2003

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Levando-se em conta o porte e abrangncia decobertura de cada unidade pesquisada, o que nose constituiu em objeto de anlise neste trabalho,este levantamento mostrou que as instituies

    pesquisadas trabalham com um nmero reduzidode enfermeiros, acarretando, assim, uma sobrecar-ga de trabalho deste profissional.

    Dentre as diferentes exigncias admissionais,entre as instituies, tm-se: concurso pblico (03instituies); viso de liderana associada no-o de custos (01); entrevista realizada pela direto-ria de enfermagem (01); carteira do COREN comanuidade em dia (03); contrato experincia (09);vnculo federal, municipal ou estadual (01).

    Em relao faixa salarial encontrada houve

    variao de

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    Gysella Rose P. de Carvalho

    Aps o levantamento destas primeiras infor-maes foi possvel fazer a definio da amostrae, em seguida, aplicar-se os questionrios aosenfermeiros.

    Atravs deste, foi solicitado aos mesmosque colocassem, por ordem de prioridade, atcinco fatores que mais os motivavam a perma-necer no trabalho atual. No tratamento destesdados foi atribudo o peso 5 para a prioridade 1,o peso 4 para a prioridade 2, o peso 3 para a

    prioridade 3, o peso 2 para a prioridade 4 e opeso 1 para a prioridade 5. O nmero de respos-tas foi a seguir multiplicado pelo peso de priori-dade correspondente, obtendo-se, assim, o qua-dro 1. Este mostra, para cada coluna de priori-dade atribuda, o nmero de respostas corres-

    pondentes, esquerda, e o valor apurado (es-core - E) aps multiplicao pelo peso de cada

    prioridade. Assim, a coluna do total correspondeao escore apurado para cada fator referido pe-los respondentes.

    Quadro 1 - Prioridades atribudas pelos enfermeiros aos fatores motivacionais

    O quadro mostra que entre os cinco fatoresmotivacionais no trabalho atual dos enfermeiros

    pesquisados, citados por ordem de prioridade,

    esto: o gostar do que faz, o bom relacionamentomultiprofissional, a possibilidade de crescimen-to profissional, o poder de resolutividade atrela-do ao compromisso com a populao, as condi-es de trabalho, situando-se a remunerao emstimo lugar, no sendo esta portanto, a princi-

    pal varivel na motivao dos enfermeiros para oexerccio da profisso.

    Alguns autores discutem o trabalho ligadoao retorno financeiro, que convertido em umlocal para morar e condies de sobrevivncia. E

    ainda, que atravs do labor que se conseguerealizao e satisfao pessoal, a busca da felici-dade, o preenchimento da vida com atos signifi-cativos para si e para os outros. Enfim, "significaa identificao, o reconhecimento dentro do con-texto social, a incluso na sociedade como umindivduo produtivo"(4).

    Foi solicitado, ainda, que os respondentes ci-tassem que fatores lhes traziam insatisfao no seutrabalho atual, obtendo-se o maior nmero de cita-es nas condies de trabalho e o salrio, segui-dos pelo relacionamento interpessoal e intersetorial.

    Vale ressaltar ainda que, estas questes de condi-es laborais e salariais so relatos de insatisfaomanifestadas em diversas pesquisas anteriores, o

    que refora a necessidade de maior politizao eunio em busca de estratgias de lutas, de negoci-ao, a fim de transformar o valor do trabalho doenfermeiro em remunerao compatvel, embora sereconhea que a profisso tenha alcanado muitosdos seus objetivos ao longo do tempo.

    No se pode restringir a dignificao do traba-lho exclusivamente s questes salariais, emborasejam estas questes cruciais. Assim, alguns auto-res sugerem ainda que entre as formas de valoriz-lo tem-se a implementao de incentivos positivos

    traduzidos em condies dignas de trabalho inclu-indo salrio, condies laborais, o estmulo ao aper-feioamento e enfim, desenvolver sistemas de ino-vaes que certamente podero impactar positivae simultaneamente tanto para os usurios quanto

    para os prestadores de servios(14).

    Embora considerando a remunerao comoinsatisfatria, no que diz respeito especificamen-te relao terica entre remunerao e motiva-o no trabalho, pode-se encontrar, entre osrespondentes, entre as respostas s questesabertas, as seguintes categorias de percepo:

    Fatores motivacionais

    Prioridades atribudas pelos enfermeiros

    01 (x5) 02 (x4) 03 (x3) 04 (x2) 05 (x1)Total

    n E n E n E n E n E

    Gostar do que faz 20 10 10 40 10 30 4 8 2 2 180

    Bom relacionamento

    multiprofissional

    10 50 9 36 8 24 10 20 7 7 137

    Crescimento profissional 2 10 8 32 7 21 7 14 8 8 85

    Resolutividade e compromisso com a

    populao

    5 25 7 28 6 18 5 10 2 2 83

    Condies de trabalho, carga

    horria e ambiente

    3 15 7 28 7 21 3 6 1 1 71

    Apoio do gestor 4 20 5 20 - - 1 2 1 1 43

    Remunerao 4 20 1 4 3 9 1 2 3 3 38

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    A remunerao fator motivador: nesta, de-zesseis (16)respondentes relacionaram a remunera-o com a motivao no trabalho, justificando queaquela proporciona melhores condies de vida e a

    possibilidade de fixao em um nico trabalho, au-mentando conseqentemente a qualidade de servi-o prestado. Dentre estes, seis (06) consideraram

    sua remunerao atual como boa, um (01) como re-gular e nove (09) como ruim ou pssima.

    A remunerao no o nico fator motivacional:vinte (20) respondentes consideram a remunera-o como fator motivacional, destacando, entre-tanto, que este no o nico para se exercer a

    profisso. Dentre estes, dezoito (18) consideramsua remunerao atual como pssima ou regular eapenas dois (02) como boa.

    A remunerao no influi na motivao no tra-balho: oito (08) respondentes desvinculam a remu-

    nerao de motivao no trabalho, afirmando queaquela no interfere nesta. Todos estes classifi-cam a remunerao atual como regular ou pssima.

    A remunerao um fator desestimulante: oito(08) respondentes consideram a remunerao comodesestimulante. Destes, apenas um (01) enquadraa remunerao atual como regular e os demais como

    pssima.

    Os dados desta pesquisa demonstraram que en-quanto existem pessoas que se sentem motivadas

    pelo sucesso financeiro, outras se sentem felizes fa-

    zendo algo que gostam, desde que isso lhe d o retor-no financeiro mnimo necessrio para uma sobrevi-vncia digna. Desta forma, dependendo da impor-tncia que algum atribua a ter dinheiro, a remunera-o pode satisfazer alguma necessidade de auto-rea-lizao, porm com conotaes e nveis diferentes.

    Do total de cinqenta e dois (52) respondentes,84,6% esto insatisfeitos com o seu salrio atual nainstituio e, independente de classific-lo como bom,regular ou pssimo, as justificativas foram semelhan-tes: salrio no atende s necessidades pessoais e

    profissionais o que no se adequa atual realidadecapitalista e, alm do mais, consideram este valor in-

    compatvel para as atribuies, carga horria e paraum profissional com nvel superior. A partir destesdados notou-se que a remunerao, at pelo fato deno se mostrar condizente com a especificidade dotrabalho, tem funcionado como fator extrnseco paramotivao no trabalho dos enfermeiros j que estes aclassificam, na sua maioria, inadequada, mas consi-deram-se motivados por gostar do que fazem.

    Apesar de insatisfeitos com os salrios ofere-cidos pelas instituies, estas foram procuradas

    pa ra exer ccio pr of is sional , segundo osrespondentes, pela necessidade de trabalho, para

    colocar em prtica os ensinamentos aprendidos naUniversidade, para atuar em programas de sadeestruturados, e ainda, pela questo da estabilida-de no emprego, atravs de concursos pblicos.

    A discusso dos dados anteriores possibilitouuma ampliao da anlise, j que os fatores demotivao e insatisfao encontrados esta-vam enquadrados nas necessidades humanas

    bsicas(2).

    Assim, agrupou-se, segundo esta classificao,as subcategorias referidas pela amostra, ou seja,aquilo que os respondentes consideram como fatorde motivao no trabalho atual, com seus respecti-vos escores em funo do peso atribudo (Quadro 2).

    Quadro 2 - Classificao dos fatores motivacionais expressos pela amostra e seus escores por

    peso atribudo, em relao s Necessidades Humanas Bsicas hierarquizadas por Maslow(2)

    Necessidades

    Humanas

    Bsicas

    Fatores motivacionais

    includos

    01

    (x5)

    02

    (x4)

    03

    (x3)

    04

    (x2)

    05

    (x1)Total

    Auto-realizao

    Gostar do que faz;

    resolutividade e compromisso com

    a populao; crescimento

    profissional; reconhecimento

    143 86 67 32 13 369

    PertenaBom relacionamento

    multiprofissional; apoio do gestor43 52 31 22 7 183

    Auto estima Autonomia; valorizao 5 8 6 2 0 21

    Segurana

    Condies e ambiente de

    trabalho, carga horria,

    estabilidade, material de

    trabalho, localizao geogrfica

    37 30 17 9 3 112

    SobrevivnciaRemunerao, sobrevivncia e

    qualidade de vida15 12 10 2 3 44

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    Tratando-se da motivao dos enfermeiros, notvel que h uma ascenso na hierarquia dasnecessidades, notando-se que a necessidade deauto-estima tem um ndice de referncias reduzi-do em relao aos demais, levando a inferir queas organizaes no vm valorizando o enfer-meiro pelas qualidades que ele apresenta e que,

    assim sendo, este profissional busca aliar-se aogrupo para atender a esta necessidade, confor-me se expressam, considerando, inclusive o es-core total relativo pertena.

    Ainda a esse respeito, discute-se que istopode funcionar como um mecanismo de defesacriado, consciente ou inconscientemente, peloser humano e como a fora da motivao, a qualconsegue, em muitos casos, superar as situaesdesfavorveis em busca dos objetivos queconcernem auto-realizao(1).

    Tambm foi observado que a necessidade desegurana um fator motivacional, no no quese refere segurana pessoal, mas em relao scondies de trabalho oferecidas, conforme ex-

    presso pela amostra, incluindo-se carga horria,ambiente de trabalho, estabilidade, localizao ge-ogrfica do trabalho, a includa tambm a distn-cia em relao sua residncia.

    Quanto aos fatores de insatisfao expres-sos foi possvel classific-los, tambm, em rela-o s Necessidades Humanas Bsicas, perce-

    bendo-se que as necessidades de sobrevivncia

    no so as prioridades, visto que embora insatis-feito com a remunerao, o enfermeiro tem suasnecessidades de alimentao, moradia e vestu-rio resolvidos, mesmo no sendo da forma quedeveria ou que gostaria que fossem. Tem-se anecessidade de segurana como a mais afetada

    por no encontrar condies de trabalho favor-veis ao desempenho de suas atividades, o queconseqentemente afetar a necessidade de auto-realizao, medida que no se consegue resol-ver os anseios do cliente e suas prprias exign-cias em relao qualidade do servio prestado.

    Essa realidade coincide e se adequa aos se-guintes questionamentos: "mas possvel al-gum cuidar da vida, quando as suas prpriasnecessidades vitais no esto resolvidas?" "

    possvel contentar-se com reforadores sociaise escamotear a necessidade da luta?"(1).

    Neste sentido, reafirma-se o enfoque para anecessidade de organizao da categoria, a fimde desenvolver o senso de valorizao e luta pormelhores condies para o desempenho das ati-vidades cotidianas, mostrando que o trabalho do

    enfermeiro importante, necessrio e precisa serreconhecido e remunerado dignamente.

    CONCLUSES

    Com a realizao deste estudo, pode-se per-

    ceber que a remunerao se apresenta como umfator de motivao no trabalho, no sendo, en-tretanto, o principal motivador. Os enfermeiros

    pesquisados referem outros fatores motiva-cionais em seu trabalho atual, e entre eles desta-cam-se o gostar do que faz, o relacionamentosatisfatrio com a equipe multiprofissional, a

    possibilidade de obter crescimento profissional,entre outros. Desta forma, notou-se que o salriono se constitui como principal fator de motiva-o, principalmente levando-se em conta outrosfatores, tais como a carga horria e as condieslaborais oferecidas.

    A retribuio financeira foi, entretanto,indicada como sendo um dos fatores de maior in-satisfao no trabalho do enfermeiro. Isto signifi-ca que este profissional se avalia como mal remu-nerado para as suas atribuies, carga horria eresponsabilidade assumida, sendo esta citaofeita, tambm, pelos respondentes classificadosna maior faixa salarial.

    Em virtude do que fora mencionado, vale su-gerir que as organizaes avaliem os fatores deinsatisfao no trabalho do enfermeiro para queeste profissional possa fazer uma assistncia demelhor qualidade, o que conseqentemente con-tribuir para o sucesso da empresa. Alm disto,que estes profissionais se faam perceber atra-vs de um cotidiano mais revelador e com trans-formaes, a fim de serem tratados com a suadevida importncia e para que, acima de tudo,consigam conquistar o seu reconhecimento, atra-vs da competncia, da luta, da politizao, daorganizao da categoria, do posicionamento naequipe e na instituio, e da realizao de umtrabalho de qualidade.

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    Correspondncia p:Anne Aires V. BatistaRua Jos Ribeiro

    Bonfim, 226- Conj. Paulo Barreto- Bairro Pereira Lobo- AracajuCEP - 49050-460 - SE

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