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    Seminrio Arquitetura em museus: perspectivas contemporneas

    O processo de elaborao do programa museolgico

    Maria Ignez Mantovani Franco

    Introduo

    Nessa palestra abordarei os principais pontos que devem ser levados em considerao naelaborao de um programa museolgico, destacando aqueles que apresentam interfacecom a arquitetura. Procurarei realizar uma exposio metodolgica, em que pese a tentaode me espraiar para outras searas, sem, contudo, deixar de levantar temas para articularnossa discusso.

    Implantar um museu, bem como gerenci-lo e implementar suas aes, um trabalho queenvolve profissionais de diversas especialidades e campos disciplinares. A fase que vai domomento em que surge a proposta de criao de um novo museu at sua abertura para opblico concentra grande parte dos desafios implicados na implantao de um novo museu.

    Digamos que esse perodo de concepo e gestao do museu ser crucial para determinaro bom nascimento e a longa vida da instituio, em todos os seus diferentes planos.

    nessa fase que so traados: a misso e o perfil da instituio, seus objetivos, seusprogramas, planos diretores, estratgicos, de sustentabilidade e de gesto todosinstrumentos fundamentais para guiar os caminhos a serem seguidos e mensurar osresultados das aes implementadas, posteriormente.

    Em geral, h uma tendncia a conferir maior importncia para a fase de execues, svezes chamada de mo na massa, do que fase de projetos. Acho fundamental desfazer a

    falsa impresso de que fazer um museu uma operao exclusivamente prtica emimtica, que basta se ter um acervo a ser exposto e olhar um pronto, de natureza similar,para fazer igual. Implementar um museu envolve um trabalho intelectual e projetualsubstantivo. Tambm no algo que se faa por decreto ou por vontade de um s indivduoque gerou a coleo, ou mesmo de um chefe de governo que deseje uma vitrine para exporsua gesto. A criao de um museu deve ser motivada pelo desejo e impulsionada pelotrabalho e dedicao de muitas pessoas.

    Entre os muitos que se aplicam e trabalham para a realizao dessa empreitada,destacamos aqui muselogos e arquitetos profissionais que tm atribuies,

    respectivamente, de elaborar o programa museolgico e arquitetnico do museu, os doispilares principais da fundao da nova instituio. Esses so os dois temas das palestras dodia de hoje.

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    Precisamos refletir sobre um fato inquestionvel. O museu hoje o grande cone do sculoXXI. Ele o cone, o falo, o ponto de energia, o ator urbano de destaque, o ndice deinovao, o sinalizador de posse, de poder, nas mais diferentes culturas. Assim ocorre noOriente e no Ocidente, envolvendo as mais diversas formas de expresso cultural, poltica earquitetnica. Isso, como dizem os portugueses, aliciante. Temos que ter a conscinciade que estamos mobilizando foras de grande impacto social e, portanto, de altapericulosidade. Essa constatao vlida para projetos as serem implantados em grandesmetrpoles, ou mesmo em pequenas comunidades: a mudana de escala, mas noexatamente de natureza ou intensidade. Temos, portanto, que nos imbuir deresponsabilidade para atuar num cenrio ao mesmo tempo to instigante e preocupante. aqui que reside um outro perigo: a seleo do autor do projeto arquitetnico, que muitasvezes ocorre de forma alheia ao aconselhamento de especialistas da rea ou consultaprevidente de projetos bem sucedidos, movida unicamente pelo valor agregado que onome de um renomado arquiteto pode imprimir a um projeto de museu, transformando-onum projeto validado por sua autoria, e no por sua adequao natureza do museu emvias de implantao. Quando no o caso, ou no se pode lutar contra a autoriainadequada ao projeto, vale mais a pena despender esforos para salvar a misso e oprograma do museu a ser implantado, promovendo uma interao pro-ativa com o arquitetoem questo.

    Outras vezes, o que ocorre uma disfuno de planejamento que impede o correto andar dacarruagem, ou seja, a museologia chamada para criar contedo para um projetoarquitetnico j delineado e, pior do que isso, j aprovado. Nesse caso preciso atuar comhabilidade e firmeza para impedir que o projeto se desestruture e, ao mesmo tempo, garantirespao para o desenvolvimento de etapas de diagnstico e anteprojeto museolgico, que

    haviam ficado esquecidos.

    Vamos, portanto, tocar num ponto crucial, de forma enftica, para procurar dissolver umoutro equvoco bastante comum, no apenas no Brasil, que a tendncia a se considerarque a simples existncia de um imvel de relevncia cultural e esttica a ser preservado motivo suficiente para criar um museu. Como costumo dizer, trata-se de um continente embusca de contedo. Muitas vezes, no af de encontrar esse recheio cometem-sediscrepncias incrveis, no apenas na escolha tipolgica da instituio museal a serimplantada, mas principalmente no decorrente divrcio involuntrio entre coleo e edifcio.Quando no existe uma real comunho entre continente e contedo o que se pode esperar

    um acervo inadequadamente protegido e/ou um edifcio erroneamente preservado.

    O exemplo mais sensvel que eu poderia citar de situaes esdrxulas como essa so osmuseus de cincia e tcnica, comumente instalados em imveis tombados, simplesmenteporque so grandes, espaosos e esto disponveis. Nesse caso, no se levam em conta asdeterminantes que caracterizam esta natureza de museu. Para dar um exemplo impactantede um museu instalado e em funcionamento, prefiro referir-me ao Palais de la Decouverte,em Paris. A par da intensa programao que l desenvolvida, com exposies de realinteresse para o pblico, permanecem as minhas dvidas sobre a adequao da instalaodaquela natureza de museu num palcio de tal expresso arquitetnica.

    Outro dilema a ser abordado a dvida, que no raro ocorre, entre reaproveitar um imvelhistrico disponvel ou construir um novo edifcio para abrigar um futuro museu. Nesse casoa anlise deve partir no do edifcio, mas fundamentalmente da misso do museu e do

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    2. Anteprojeto

    Depois dessa fase preparatria, quando so acertados os ponteiros, firmados os pactos eassinados os contratos, o projeto de implantao entra na fase de elaborao deAnteprojetos.

    Em geral, no dada a essa etapa a ateno que ela merece, tampouco o tempo dededicao que ela requer, por conta de presses de diversas ordens, polticas e financeiras,mais comumente.

    No preciso explicar para algum que est encomendando a construo de sua casa que,antes de encomendar ao arquiteto o projeto arquitetnico, as plantas que especificamquantos quartos a casa vai ter, qual a metragem de cada espao e que materiais serousados na construo, preciso fornecer a ele informaes bsicas sobre quem vai morarl, qual o gosto e as preferncias dos moradores, seus hbitos e formas de convivncia, decompartilhamento do espao coletivo, as mltiplas especificidades de apropriao dosespaos individuais; aps tais definies internas torna-se possvel se reunir com o arquitetopara apresentar as necessidades coletivas e individuais e, a seguir, com ele se reunir outrastantas vezes para ouvir suas sugestes e dvidas, analisar seus croquis, afinar idias e aproposta.

    O processo de encomendar um museu mais ou menos semelhante. Primeiro precisosaber quem vai morar l. Isso, em outros termos, quer dizer: qual a misso e o perfil domuseu, qual o seu acervo e quais suas linhas programticas. essa precedncia docontedo sobre o continente que requer que, metodologicamente, o anteprojeto museolgico

    seja realizado antes do anteprojeto ou estudo preliminar de arquitetura (ou pelo menos nomesmo perodo, de modo a garantir a transmisso dos conceitos e contedos para osresponsveis por delinear a espacializao). Nesse caso, a ordem dos fatores altera sim oproduto. E pode alterar definitivamente o futuro do museu. Primeiramente nascem osconceitos, os planos programticos, para depois surgir a questo do espao, o edifcio, oplano fsico do museu.

    Quero que essa afirmao seja entendida como uma precedncia e uma prevalncia, no demuselogos sobre arquitetos, mas do projeto museolgico sobre o projeto arquitetnico, ouseja: o edifcio deve servir ao programa e contribuir para que objetivos institucionais traados

    e a experincia que se deseja fomentar junto ao pblico sejam atingidos. Acredito que esseseja o principal desafio do projeto arquitetnico: propor uma espacializao criativa que noapenas equacione necessidades infra-estruturais (como climatizao, acessibilidade,circulao, etc.), mas que produza sentidos e acrescente, visualmente, contedos erepresentaes afinadas misso e ao perfil do museu.

    Cabe a ns, muselogos, fazer aqui uma considerao. comum ouvirmos crticas, muitasvezes mordazes, e muitas vezes pertinentes, s construes mal resolvidas de muitosmuseus, tanto no exterior como no Brasil. Toda a culpa recai sobre os arquitetos; o projetoarquitetnico considerado deficiente ou falho. Mas poucos se perguntam se o projeto

    museolgico foi competentemente elaborado, ou mesmo se existiu um projeto museolgico.Afinal, quem encomendou a casa? Quem encomendou o museu tinha competnciaprofissional para isso? O fez com o detalhamento tcnico necessrio? Interagiu com osarquitetos e outro profissionais indicados como a natureza do museu requereria?

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    Embora existam casos em que o frenesi de ser autor de uma obra de arte total, de conceberuma obra arquitetnica magistral e singular, se sobreponha aos critrios que deveriamnortear a construo da edificao, no podemos responsabilizar apenas arquitetos peladeficincia de alguns edifcios de museus. preciso haver uma concepo que sustenteconceitualmente o projeto; preciso haver profissionais com conhecimento tcnicos paraapontar as necessidades e especificar as exigncias que a edificao precisar atender; preciso que os realizadores e demais profissionais envolvidos no projeto de conscientizemque realizar museus no entregar uma obra, mas instaurar um agente cultural e fomentarum processo social.

    Retomemos ento nossas consideraes sobre o anteprojeto museolgico. Um anteprojetodeve definir a misso, o perfil, os objetivos, os pblicos-alvo e traar as linhas dosprogramas do futuro museu, nas reas de exposio, conservao, documentao,educao e pesquisa. O anteprojeto pode ser elaborado por uma equipe de muselogos,mas recomendvel que j nessa fase seja formada uma equipe multidisciplinar, comeducadores, pesquisadores e especialistas na temtica a ser tratada pelo museu.

    A nfase do anteprojeto recai sob o plano conceitual, mas j nessa fase devem serestabelecidas recomendaes de ordem fsica ou espacial, como especificaes deinstalaes tcnicas para os diferentes espaos, indicao de estimativas de metragemquadrada para atender as necessidades do programa, natureza de projetos complementaresindicados, plano de comunicao recomendvel, enunciado dos principais programas aserem desenvolvidos, previso de fluxo de pblico, anlises comparativas com outrasinstituies museolgicas atuantes, avaliao de impacto da nova instituio no cenrio

    cultural local, anlises preventivas de distrbios urbanos e de circulao decorrentes daabertura da nova instituio, programas educacionais congneres que podero ser afetadosou beneficiados pela ao do novo museu, etc.

    Embora estejamos cientes de que impossvel generalizar, vamos considerar, apenas attulo de exerccio preliminar, quais os profissionais que precisariam necessariamente atuarem conjunto para o estabelecimento do programa museolgico: muselogo, especialista natemtica relativa ao museu a ser instalado, educador e um representante da entidaderesponsvel pela iniciativa de criao do museu. O dilogo com o arquiteto recomendvelnesta etapa como um elemento facilitador do entendimento das potencialidades do edifcio

    se ele j existir a serem exploradas pelo programa museolgico.

    Temos que levar em conta outro dado essencial. O anteprojeto , antes de mais nada, umestudo de viabilidade, ou seja, ele o grande momento de concepo criadora, mas tambmde comprovao da propriedade ( no sentido de ser apropriado) do conceito geradordelineado, de demonstrao da aplicabilidade, funcionalidade e viabilidade de execuo eimplantao do museu e principalmente de instaurao ou no de uma aura deconfiabilidade no plano de sustentabilidade futura da instituio a ser implantada.

    Diante disso, o anteprojeto museolgico deve ter um embasamento conceitual slido, um

    bem estruturado estudo programtico com clara manifestao de necessidades eespecificidades a serem atendidas pelo projeto arquitetnico e, sobretudo, um estudo deviabilidade do projeto global do museu, facilitando assim a compreenso de pblicos no

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    habituados problemtica museolgica e que certamente iro analisar o projeto em distintasesferas decisrias: governamental, empresarial, comunicacional e acadmica.

    Outra dica fundamental no esquecer de considerar no programa museolgico bsicotodas as atividades funcionais e infra-estruturais do museu. H quem pense que estesdetalhes devem ser estudados numa segunda etapa, depois que o museu estiver pronto. em funo de tais avaliaes incorretas que o mundo enfrenta hotis sem caldeira, hospitaissem reas de assepsia para funcionrios, cinemas sem sada de emergncia e, infelizmente,museus sem reserva tcnica, sem sala para educadores, etc.

    De posse do programa museolgico elaborado vital no consider-lo como algoengessado, acabado. H que se preservar a permeabilidade do programa para que outrosprofissionais possam se manifestar com liberdade sobre ele, pois este momento , semdvida, instncia de grande enriquecimento para o conjunto do projeto.

    importante lembrar que o muselogo que lidera a conduo do programa museolgicodeve ter a lisura de no tangenciar para outras reas que no so de seu conhecimentointrnseco e que poderiam causar distrbios aos demais profissionais que viro a atuar aseguir. Por exemplo: devemos sim delimitar a rea desejvel para cada programa ouatividade do futuro museu, propor relaes de vizinhana entre reas que possam garantirsinergia s interatividades futuras, fornecer indicadores seguros de climatizao, segurana,circulao, natureza das redes comunicacionais desejveis, mas jamais propor aespacializao fsica do museu, atuar sobre as plantas, pois tais funes so atinentes aoarquiteto. Uma boa forma de expresso para que os muselogos no perturbem o trabalhosubseqente dos arquitetos se valer de quadros explicativos com volumes e cores para

    indicar programas, peso (no sentido de importncia) interprogramtico , reas de atuao,etc.

    H aqui um momento ritual: a aprovao do programa museolgico.Muitas vezesesquecemos ou julgamos desnecessrio esse passo que , na realidade, fundamental, echega-se diretamente ao concurso, convite, ou seja, encomenda do anteprojetoarquitetnico. H que se criar aqui, formalmente, uma instncia de anlise e de aprovaodo programa museolgico pelo clientesimplesmente para se evitar ou pelo menos tentarevitar que equvocos sejam propagados para outras fases do projeto. Muitas vezesaspectos ou mesmo detalhes que no foram bem compreendidos podem ser melhor

    debatidos, esclarecidos e at mesmo modificados nesta fase, arredondando o programamuseolgico antes de pass-lo para a fase seguinte, qual seja, a arquitetnica. Quando issono ocorre com a necessria clareza, muitas vezes equvocos cometidos na elaborao doprograma museolgico podem, equivocadamente ou at involuntariamente, serem atribudosao projeto arquitetnico.

    Finalizando essa etapa da apresentao, gostaria de dar um depoimento sincero eencorajador sobre as relaes entre museologia e arquitetura. Nos processos museolgicosque temos vivenciado na Expomus, nos ltimos anos, envolvendo vrios processos deimplantao de museus em diferentes regies do Brasil , temos interagido, felizmente, com

    arquitetos de diversos Estados, com formaes distintas. Essa experincia enriquecedoratem nos mostrado que, quanto melhor elaborado for o programa museolgico, quanto maiorfor a interao entre as partes nos momentos de transferncia e permeabilidade dainformao, maior o grau de acerto do projeto arquitetnico decorrente, ou seja, mais

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    adequado ser misso e aos objetivos programticos do futuro museu, e ao edifcio emquesto. Portanto, aos que atuam nestas reas, coragem, o resultado compensador!

    3. Aprovao

    importante lembrar que a criao de um novo museu pode requerer aprovaesespecficas, em instncias do poder pblico federal, estadual e municipal. Como ocorre paraqualquer obra de construo civil, preciso obter a aprovao junto Prefeitura local. Asregras e exigncias variam de cidade para cidade e costumam haver normas especficasquanto a circulao, estacionamento, acessibilidade e segurana para edifcios querecebero pblico. Sendo assim, a dica sempre se informar sobre a legislao vigente.Dependendo do caso, pode ser preciso aprovar a obra em conselhos de meio-ambiente.

    Quando o projeto envolver a interveno ou adequao de um bem imvel tombado, serpreciso passar pela aprovao dos rgos de preservao federal ou estadual (IPHAN,CONDEPHAAT e outros),

    Vamos por outro lado considerar que estas instncias de aprovao so enfrentadas peloprojeto quando ele j est fundamentado e desenvolvido, ou seja, no possvel descobrirapenas neste momento o que deveria ter sido elaborado, contemplado, atendido. Assimsendo, verificamos que o planejamento do projeto deve prever, com antecedncia, todas asinstncias a que ele dever ser submetido, colhendo exigncias e pr-requisitos a serematendidos, de forma a evitar re-trabalho das equipes envolvidas. Nas experincias jvivenciadas por nossa equipe fica claro que as apresentaes que se fizerem necessrias

    para rgos patrimoniais, tcnicos, ambientais ou governamentais devem ser precedidas deuma conceituao clara do projeto, ou seja, do futuro museu, de forma a evitar a mcompreenso e anlises descabidas. desejvel que neste momento os lderes das reasatuantes no projeto elaborem apresentaes nicas e concisas que possam seresclarecedoras, sem tomar muito tempo do analista. Por outro lado, nada disso dispensa aentrega da documentao cabvel e de projetos detalhados conforme as indicaes prviasque foram fornecidas pelas instncias deliberativas.

    A inscrio do projeto para receber recursos advindos de incentivo fiscal Lei Rouanet, LeiMendona (SP) ou outras leis estaduais e municipais envolve todo um procedimento

    especial. Os processos apresentados para o Ministrio da Cultura so analisados peloDEMU Departamento de Museus e por representantes do IPHAN, que emitem umparecer tcnico sobre o projeto, e depois encaminhados para a CNIC Comisso Nacionalde Incentivo Cultura que examina a pertinncia de o projeto receber recursosincentivados e profere a deciso final. O processo complexo, cheio de detalhes e pode serdemorado, cabendo recursos ao longo do percurso. A aprovao pode prever cortes, oupodem ser autorizados apenas parte do total de recursos necessrios execuo doprojeto. Uma vez aprovado, o projeto poder captar recursos de empresas e particulares,que se beneficiaro de incentivo fiscal.

    Ainda vale lembrar que, dependendo de quem seja a instituio contratante, a fontepagadora, haver exigncias e procedimentos especiais para a contratao dos profissionaisque iro atuar no projeto. Geralmente, se envolver o poder pblico executivo ou empresas

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    do setor pblico, ser preciso realizar uma licitao. OSCIPS tambm precisam recorrer aesse processo concorrencial.

    4. Constituio legal

    Outro ponto fundamental refere-se escolha do formato institucional. As opes jurdicasmais freqentemente utilizadas, no caso de instituies culturais, so as associaes e asfundaes. Mais recentemente, por meio de leis especiais, foram criadas as OSs e asOSCIPs, modelos que vm sendo adotados de forma crescente.

    No entrarei nas especificidades de cada um desses casos, mesmo porque eles j foramtratados no seminrio Museus e entidades culturais: planejamento institucional,recentemente realizado pelo CCBB-SP em conjunto com o ICOM Brasil e com apoioinstitucional do CEMMAE-USP.

    Conforme a opo adotada, deve ser elaborado um estatuto especfico, que definir oregulamento interno da instituio (registro de seu funcionamento) e o que ir ocorrer nocaso de extino da organizao.

    5. Plano de comunicao

    O plano de comunicao um dos elementos fundamentais de um programa museolgico.Ele deve ser desenvolvido como uma ao contnua que se estabelece desde o primeiro dia

    do projeto e permanecer em vigor durante todo o projeto e depois ser incorporado ao eixoprogramtico especfico que lhe ser cabvel, no futuro museu. Ou seja, uma rea que seincorpora no princpio do projeto e permanecer ativa para sempre, enquanto durar ainstituio.

    Este plano prev todas as aes de comunicao institucionais, estratgicas, envolvendodiferentes pblicos, reas de parcerias de contedo atrativas para o museu, contatos cominstituies correlatas, interfaces especficas com a imprensa em todos os nveis e formasde interao, relaes com patrocinadores institucionais, formas de associao que possambeneficiar o museu, relaes governamentais, setores correlatos de interesse como o

    turstico, ambiental ou patrimonial, etc.

    O planejamento de comunicao dever prever uma relao clara e transparente com todosos interlocutores, realizando apresentaes setoriais sobre o projeto, de forma a propiciarum amplo engajamento e cooperao em seus diferentes nveis.

    interessante observar que os projetos de implantao de museus que sofremquestionamentos, que so controversos, que contam com resistncia por parte da opiniopblica provavelmente pecaram na tentativa de escamotear informaes julgadas sigilosas,deixaram de se comunicar com transparncia ou restringiram o acesso de determinados

    grupos a alguns contedos.

    Uma forma muito salutar de manter bons planos de comunicao estabelecer diferentesestratgias para diferentes pblicos. Outro, criar aes que beneficiem outras reas ou

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    instituies que naturalmente teriam resistncia, medo de concorrncia ou at dificuldade dese relacionar com a nova instituio. Exemplos de aes positivas dessa natureza soseminrios de interesse comum onde o novo projeto discutido, analisado, contando com apresena de vrios setores da comunidade ou mesmo reunies para grupos especficos cominteresses pontuais a serem abordados. Outra opo interessante estabelecer aes eprogramas comuns, como por exemplo, criar um roteiro turstico novo que teria como pontoatrativo o novo museu, mas que por tabela beneficiar os demais museus que se encontramem seu entorno, ou mesmo pensar na adoo de um bilhete nico integrador para visita amais de um museu.

    6. Viabilizao

    Gostaria de dizer algumas palavras sobre Viabilizao, entendida como obteno e gestode recursos (financeiros, materiais, humanos).

    Cabe a todos os que atuam desenvolvendo projetos culturais promover uma mudana depostura nesse campo, sermos menos passivos e mais criativos. Isso implica, por um lado,seguir pleiteando uma poltica pblica para a cultura mais abrangente e consistente,instrumentos de financiamento adequados e destinaes oramentrias mais expressivas.

    Por outro lado, importante envolver, nos projetos, um profissional especializado emplanejamento, captao e gerenciamento de recursos, que tenha experincia na rea econhea a metodologia especfica.

    A Lei Rouanet no deve ser a nica estratgia para a viabilizao de projetos, no Brasil. Opatrocnio (a solicitao de recursos para empresas) no a nica forma de obter recursos,nem mesmo de buscar recursos. Um projeto pode receber recursos em espcie, mastambm em materiais, ou na forma de trabalho voluntrio. Pode criar diferentes categoriasde doao ou patrocnio, para atender empresas de diversos portes e mesmo pessoasfsicas. Pode criar uma pgina na Internet incentivando pequenas doaes (o que muitocomum e bem-sucedido nos Estados Unidos). Pode realizar um evento especial voltado aobteno de recursos, ou elaborar uma campanha especfica. Pode envolver toda umacomunidade e partilhar responsabilidades e demandas. O projeto pode ser em parteviabilizado por uma instituio de pesquisa, por uma entidade no governamental

    estrangeira ou nacional, pode se valer de fundos patrimoniais, de pesquisa ou de bnusambientais. Ou seja, no existe modelo nem formato. Sem dvida o caminho pensar emcomposies dessas vrias formas de viabilizao possveis, de acordo com a natureza ecaractersticas do projeto, de forma a no onerar e nem mesmo ficar dependente de umanica fonte geradora de recursos.

    Embora saibamos da diferena entre patrocnio e doao, em ambos os casos a captaode recursos depender da consistncia do programa. No caso do patrocnio, ser precisoressaltar os motivos de associao da marca ao projeto, sem permissividade exacerbadaque prejudique a poltica institucional; prever e, depois, apresentar o relatrio comprovando

    a realizao do projeto, a aplicao do logotipo nos materiais de divulgao, a meno dopatrocnio em toda a cobertura de imprensa, etc. No caso de doaes, importanteapresentar um projeto bem fundamentado e organizado e, depois, mostrar os resultadosobtidos junto aos pblicos-alvo e a devida aplicao dos recursos. S assim se poder

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    submeter uma segunda demanda e estabelecer uma relao de parceria confivel e estvel,seja com o patrocinador ou com o doador.

    7. Programa museolgico

    A elaborao do programa museolgico envolve um trabalho interdisciplinar. So muitas asatribuies do programa museolgico, nos planos conceitual, fsico, de salvaguarda,segurana, comunicao, educao e gesto. Gostaria de repassar aqui os principaispontos:

    realizar o diagnstico e conhecer a fundo a realidade a ser enfrentada;

    analisar e estudar com cautela o acervo disponvel, suas potencialidades deampliao e determinantes para o programa a ser desenvolvido;

    planejar e propor as aes que devero orientar a implantao, de forma contnua e

    coordenada;

    definir misso, objetivos e aes museolgicas a serem empreendidas, de mododetalhado;

    definir os pblicos prioritrios do programa;

    propor polticas de aquisio e descarte de acervo, de mdio e longo prazos;

    definir critrios de conservao, acondicionamento e documentao de acervo;

    definir os conceitos, temas e roteiro de sua exposio de longa durao, bem comosua expografia;

    indicar uma poltica de exposies temporrias, podendo incluir a elaborao deexposies itinerantes;

    elaborar um programa de educao e ao cultural de comprovada consistncia eadequao;

    elaborar um programa de pesquisa continuada que possa suportar todos osdesmembramentos programticos vindouros;

    elaborar um plano de comunicao para o projeto, incluindo uma plataforma virtualinovadora para o museu;

    indicar com clareza a demanda de espaos para atender as necessidadesprogramticas e funcionais do futuro museu;

    contemplar espaos de convivncia (como loja, livraria, restaurante) de modointegrado ao programa, buscando manter a identidade do museu e a coerncia entresuas aes;

    indicar estratgias e ferramentas para a sustentabilidade do museu, incluindo planoplurianual de metas a serem alcanadas.

    contribuir na elaborao de um plano de gesto do museu, envolvendo organograma

    funcional;

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    fornecer recomendaes tcnicas e fsicas para a instalao dos sistemas e projetoscomplementares nas reas de segurana e combate a incndio, iluminao, sistemaeltrico, lgica e telefonia, sistema de climatizao, acstica, etc.)

    Nesse processo, preciso considerar as caractersticas e contemplar os anseios locais,harmonizar o continente (edificao) e contedo (programa), envolver e manter a

    participao da comunidade, trabalhar o acervo e suas potencialidades.

    8. Implantao

    O objetivo desta apresentao analisar o desenvolvimento do programa museolgico, oque impossibilita que nos aprofundemos sobre a questo da implantao do projetomuseolgico chegando at a sua realizao final. Isto demandaria sem dvida um seminriocompleto para o aprofundamento integral.

    No entanto, acho que seria fundamental abordar uma questo: a necessidade de manter oprojeto preservado durante toda a sua implementao. Quem j passou por uma experinciaprofissional de implantar um museu poder testemunhar que so muitos os percalos, osentraves, os impasses e at mesmo impedimentos a serem ultrapassados para se chegar plena execuo de um projeto. Muitas vezes o projeto submetido a mudanasintempestivas, graves interferncias e mesmo cancelamentos. nosso dever manter o olharcauteloso para proteger o projeto, para evitar mudanas que alterariam ou comprometeriamo conceito fundador estabelecido. No entanto, temos que ter cuidado tambm para noengessar, para no nos revestirmos de uma supremacia que impea a evoluo, ascontribuies e as correes que naturalmente se sucedem ao longo do desenvolvimento.

    Nesses casos, prevalecero sempre o bom senso, as decises partilhadas, as experinciasvivenciadas e a persistncia em se chegar ao final.

    9. Avaliao

    Acredito que posso falar sobre avaliao apesar deste momento no esgotar todas as fasesde implantao de um museu, pois ela comea de fato desde o incio do processo dedesenvolvimento do programa. Quanto antes a equipe responsvel se preocupar emimplementar aes de avaliao sobre a sua prpria dinmica, melhor. Isto ser

    intensificado progressivamente a cada etapa cumprida, a cada nova metodologiaimplementada, a cada momento de reflexo e avaliao, a cada incorporao de novosparceiros, a cada conquista de novos pblicos, a cada adoo de novo programa. Ou seja,esta funo primordial e devemos sempre trabalhar no sentido de intensific-la, qualific-lae nos preparar para colher corretamente seus resultados.

    A avaliao pode ser tambm uma poderosa arma aliada para subsidiar de informaes,quantificaes e anlises qualificativas os relatrios de gesto, os estudos de pblico, asdecises estratgicas, as dinmicas institucionais. Ela no um nus, deve ser um bnus.

    10. Questes finais a serem levantadas para debate

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