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    Diocese de Campina Grande PB

    Parquia do Sagrado Corao de Jesus

    Comunidade Nossa Senhora do Perptuo Socorro

    II Parte do Curso de Cura e Libertao

    F Crist e a Demonologia

    Vitria de Jesus Cristo sobre o Demnio e a Morte!

    2013

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    muito til[2]. Na verdade, seria um erro fatal de se comportar comose no tivessem nada a ensinar as lies da histria e consideram que

    o resgate teve e todos os seus efeitos sem a necessidade de se engajarna luta que se fala do Novo Testamento e os Mestres da vidaespiritual.

    Um mal-estar atual

    Neste erro tambm pode-se cair hoje. De fato, so muitos que seperguntam se no seria o caso de reconsiderar a doutrina catlicaacerca deste ponto, comeando pelas Escrituras. Alguns creemimpossvel tomar qualquer posio como se pudesse deixar emsuspenso este problema! Notamos que os Livros Sagrados nopermitem descartar a favor ou contra a existncia de Satans e seusdemnios, com maior frequncia tal existncia colocadoabertamente em duvidas. Certos crticos, creem poder distinguirprpria posio de Jesus, insinuam que nenhuma das suas palavrasgarantam a realidade do mundo dos demnios, mas a afirmao daexistncia dos mesmos, quando tal afirmao aparece, em vez reflete

    as ideias dos escritos judaicos ou dependem das tradiesneotestamentrias e no de Cristo; e dado que esta afirmao noseria parte do centro de mensagens do Evangelho, nocomprometeria hoje nossa f e estaria livre para abandon-las.Outros, mais objetivos, e s vezes mais radicais, aceitar asafirmaes da Sagrada Escritura em seu sentido mais bvio, masacrescentou que, no mundo atual no so aceitveis, nem sequer paraos cristos. Por isto, tambm eles as eliminam. Para alguns,

    finalmente, a ideia de Satans, seja qual for sua origem, no maisimportante e a tentativa de justific-la no lograria seno perdercrdito para nossos ensinamentos ou fazer sombra ao discurso acercade Deus, que o nico que merece a nossa interesse. Note-se quepara uns e outro os nomes de Satans e do demnio so apenaspersonificaes mticas e funcionais, cujo nico significado o deenfatizar dramaticamente o influxo do mal e do pecado sobre a

    humanidade. Um linguajar simples, portanto, que nossa poca[2] De diabolo Tentatore, Homil. II, 1; PG 49,257-258.

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    deveria decifrar com o fim de encontrar uma maneira diferente deinculcar nos cristos o dever de lutar contra todas as foras do mal

    existente no mundo.Estas posturas, repetidas com grande alarde de erudio e

    difundidas por revistas e por certos dicionrios de teologia, no podeperturbar os espritos. Os fiis esto acostumados a levar a srio asadvertncias de Cristo e os escritos apostlicos, tm a impresso deque essa forma de falar tende a mudar radicalmente, neste ponto, aopinio pblica tambm aqueles que conhecem as cincias Bblias ereligiosas se pergunto o quo longe eles podem levar o processodesmitificao empreendido em nome de uma certa hermenutica.

    Frente a tais postulados, e, a fim de responder aos mesmos, temosde nos deter, brevemente, antes de tudo, no Novo Testamento, paradestacar o seu testemunho e autoridade.

    O Novo Testamento e seu contexto

    Antes de recordarmos a independncia de esprito com que Jesus

    se comportou em todos os momentos a respeito das opinies de seutempo, importante notar que nem todos os seus contemporneostinham, com relao dos anjos e demnios, a crena comum de quemuitos parecem atribuir hoje e da qual o prprio Jesus dependeria.

    Uma indicao, com os Atos dos Apstolos descreve acontrovrsia provocada entre os membros do Sindrio por umadeclarao de So Paulo, nos fez saber, de fato, que os saduceus noadmitir, contra a opinio dos fariseus, nem ressurreio, nem anjo,

    nem esprito, isto , tal como interpretado pelos bons exegetas, noacreditava na ressurreio e, to pouco nos anjos ou nos demnios[3].Assim, no que se refere a Satans, os demnios e anjos, a opinio dos

    [3] Atos 23,8. No contexto da crena judaica em anjos e espritos malignos, no hnecessidade de recortar o termo esprito, sem especificao, o nicosignificado dos espritos dos mortos, isso tambm se aplica aos espritos malig-nos, isto , os demnios: esta a opinio dos dois autores hebraico (GF Moore,

    Judasmo nos primeiros sculos da era crist, vol I, 1927, p 68, M. Simon,Les sectes juives au temps de Jsus, Paris, 1960, p, 25) e de um protestante(R. Meyer," TWNT "VII, pgina 54).

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    contemporneos de Jesus parece dividida em duas concepes dia-metralmente opostas. Como pode ento sustentar que, ao exercer e

    dar aos outros o poder de expulsar os demnios, Jesus e a exemplosuja nos escritores do Novo Testamento no fez outra coisa queadotar, sem qualquer esforo crtico, as ideias e prticas de seutempo? Certamente, Cristo e como maior razo os apstolos,pertenciam a sua poca e compartilhavam a mesma cultura, masJesus, em virtude de sua natureza divina e da revelao de que tinhavindo para comunicar, transcendia seu ambiente e de seu tempo,escapava a sua presso. A leitura do Sermo da Montanha basta paranos convencer de sua liberdade de esprito, enquanto o seu respeitopela tradio[4]. Portanto, quando Ele revelou o significado de suaredeno, era, evidentemente que ter em conta aos fariseus, aosquais, como ele e mesmo, acreditavam no mundo futuro, na alma,nos espritos, na ressurreio, e no poderia esquecer os saduceus,que no suportam tais crenas. Assim, pois, quando os fariseus oacusaram de expulsar demnios com a ajuda do prncipe dos

    mesmos, ele poderia ter superado a dificuldade alinhando-se com ossaduceus, mas fazendo isso haveria desmentido o que era a suamisso. Portanto, sem negar a crena nos espritos e na ressurreio que ele tinha em comum com os fariseus devia tomar distncia arespeito deles, opondo-se no menos oposio aos saduceus.

    Espera, pois, hoje que o dito por Jesus sobre Satanssimplesmente expressar a doutrina tirada do meio ambiente e que notem importncia para a f universal, aparece em seguida como uma

    opinio embasada em uma informao incompletas sobre a poca e apersonalidade do Mestre. Se Jesus usou esta linguagem, e sobre tudo,se h pois em prtica durante seu ministrio, porque expressa uma

    [4] Quando Jesus diz: No penseis que vim destruir a lei e os profetas: no vimab-rogar, mas cumprir (Mt 5,17), expressou claramente o seu respeito pelo

    passado, e os seguintes versos (19-20) confirmam esta impresso, mas a suacondenao do divrcio (Mt 5,31) da lei de talio (Mt 5,38), etc., sublinhar a sua

    independncia total, mais do que o desejo de assumir o passado e completa. Omesmo, mais ainda, deve ser dito em sua condenao do apego exageradofariseus a tradio da velha (Mt 7,1-22).

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    doutrina necessria pelo menos em parte para a noo e arealidade da salvao que Ele trouxe.

    O testemunho pessoal de Jesus

    Tambm as principais curas de possessos foram feitas por Cristoem momentos que so decisivos na narrao do seu ministrio. Seusexorcismos colocar e direcionar a questo de sua misso e de suapessoa, como provam suficientemente as reaes suscitadas[5].

    [5] Mt. 8,28Ao chegar ao outro lado, ao pas dos gadarenos, vieram ao seu encontro

    dois endemoninhados, saindo dos tmulos. Eram to ferozes que ningumpodia passar por aquele caminho. 29E eis que se puseram a gritar: Que queresde ns, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo? 30Ora,a certa distncia deles havia uma manada de porcos que estava pastando. 31Osdemnios lhe imploravam, dizendo: Se nos expulsas, manda-nos para amanada de porcos. 32Jesus lhes disse: Ide. Eles, saindo, foram para os

    porcos e logo toda a manada se precipitou no mar, do alto de um precipcio, epereceu nas guas. 33Os que os apascentavam fugiram e, dirigindo-se cidade,contaram tudo o que acontecera, inclusive o caso dos endemoninhados.34Diante disso, a cidade inteira saiu ao encontro de Jesus. Ao v-lo, rogaram-lhe que se retirasse do seu territrio.Mt 12, 22Ento trouxeram-lhe um endemoninhado cego e mudo. E ele o curou,de modo que o mudo podia falar e ver. 23Toda a multido ficou espantada e

    ps-se a dizer: No ser este o Filho de Davi? 24Mas os fariseus, ouvindoisso, disseram: Ele no expulsa demnios, seno por Beelzebu, prncipe dosdemnios. 25Conhecendo os seus pensamentos, Jesus lhes disse: Todo reinodividido contra si mesmo acaba em runa e nenhuma cidade ou casa divididacontra si mesma poder subsistir. 26Ora, se Satans expulsa a Satans, est

    dividido contra si mesmo. Como, ento, poder subsistir seu reinado? 27Se euexpulso os demnios por Beelzebu, por quem os expulsam os vossos adeptos?Por isso, eles mesmos sero os vossos juzes. 28 Mas se pelo Esprito de Deusque eu expulso os demnios, ento o Reino de Deus j chegou a vs. 29Oucomo pode algum entrar na casa de um homem forte e roubar os seus

    pertences, se primeiro no o amarrar? S ento poder roubar a sua casa.30Quem no est a meu favor, est contra mim, e quem no ajunta comigo,dispersa. 31Por isso vos digo: todo pecado e blasfmia sero perdoados aoshomens, mas a blasfmia contra o Esprito no ser perdoada. 32Se algum

    disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe- perdoado, mas sedisser contra o Esprito Santo, no lhe ser perdoado, nem neste mundo, nemno vindouro.

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    No se pode nunca colocar a Satans no centro do seu Evangelho,Jesus falou que s em momentos evidentemente cruciais, e com

    declaraes importantes. Em primeiro lugar comeou seu ministriopblico, aceitando ser tentado pelo diabo no deserto: a narrao deMarcos, precisamente por causa da sua sobriedade, to decisivacomo a de Mateus e a de Lucas [6]. Ele advertiu no Sermo daMontanha e na orao os ensinou, o Pai Nosso, como admite hoje

    As palavras manifestam o corao 33Ou declarais que a rvore boa e o seu

    fruto bom, ou declarais que a rvore m e o seu fruto mau. pelo frutoque se conhece a rvore. 34Raa de vboras, como podeis falar coisas boas, sesois maus? Porque a boca fala daquilo de que o corao est cheio. 35O homem

    bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, mas o homem mau, do seu mautesouro tira coisas ms. 36Eu vos digo que de toda palavra intil, que os homensdisserem, daro contas no Dia do Julgamento. 37Pois por tuas palavras sers

    justificado e por tuas palavras sers condenado.O sinal de Jonas 38Nisso, alguns escribas e fariseus tomaram a palavradizendo: Mestre, queremos ver um sinal feito por ti. 39Ele replicou: Uma

    gerao m e adltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhe ser dado, excetoo sinal do profeta Jonas. 40Pois, como Jonas esteve no ventre do monstromarinho trs dias e trs noites, assim ficar o Filho do Homem trs dias e trsnoites no seio da terra. 41Os habitantes de Nnive se levantaro no Julgamento,

    juntamente com esta gerao, e a condenaro, porque eles se converteram pelapregao de Jonas. Mas aqui est algo mais do que Jonas! 42A Rainha do Sul selevantar no Julgamento juntamente com esta gerao e a condenar, porqueveio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomo. Mas aqui estalgo mais do que Salomo!

    Retorno ofensivo do esprito impuro 43Quando o esprito impuro sai dohomem, perambula por lugares ridos, procurando repouso, mas no oencontra. 44Ento diz: 'Voltarei para a minha casa, de onde sa'. Chegando l,encontra-a desocupada, varrida e arrumada. 45Diante disso, vai e toma consigooutros sete espritos piores do que ele, e vm habitar a. E, com isso, acondio final daquele homem torna-se pior do que antes. Eis o que vaiacontecer a esta gerao m. Embora admitindo variaes no significadoatribudo por cada um dos Sinpticos aos exorcismos, reconhecer a sua amplaconvergncia.

    [6] Mc 1,12E logo o Esprito o impeliu para o deserto. 13E Ele esteve no desertoquarenta dias, sendo tentado por Satans; e vivia entre as feras, e os anjos oserviam..

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    muitos exegetas[7], com base no testemunho de diversas liturgias[8].Nas parbolas, Jesus atribuiu a Satans os obstculos que

    encontrava a sua pregao[9], como no caso do joio (cizania) semeadono campo do pai de famlia[10]. A Simo Pedro anunciou que as por-tas do inferno no prevaleceriam sobre a Igreja[11], que Satans iriapassar polo crivo como aos demais apstolos[12]. Na hora de sair doCenculo, Cristo declarou como iminente a vinda do prncipe destemundo[13]. No Getsmani, quando foi preso pelos soldados, disseque havia chegado a hora do poder das trevas [14], mas Ele sabia etinha declarado no Cenculo, que o prncipe deste mundo agorajulgado[15].

    Esses fatos e as declaraes bem enquadrados, repetidos econcordantes no so casuais nem podem ser tratados como dadosfabuloso que h que desmitificar. Em caso contrrio teria que admitirque naquelas horas crtica a conscincia de Jesus, cuja lucidez edomnio de si mesmo so evidentes ante os juzes, foi uma presa de

    [7] Mt. 5,37, 6,13, cf. Jean Carmignac, Recherches sur le Notre Pre, Paris, 1969,pginas 305-319. Alm disso, esta a interpretao dos Padres gregos e demuitos ocidentais (Tertuliano, Santo Ambrsio, Casiano), mas S. Agostinho e oLibera nos da missa em latim voltada para interpretao impessoal.

    [8] E. Renaudot, Liturgiarum Orientalium collectio', 2 vols., Ad locumMissae, H. Denzinger, Ritus Orientalium, de 1961, 2 t. II, pgina 436. Estainterpretao parece ser tambm seguido por Paulo VI no discurso daaudincia geral de 15 de Novembro de 1972, porque fala do mal como um

    princpio vivo e pessoal (L'Osservatore Romano, 16 de novembro de 1972).

    [9] Mt 13,19[10] Mt 13,39.[11] Mt 16,19 assim compreendido por P. Joun, M. Lagrange, A. Mdebielle, D.

    Buzy, M. Meinertz, W. Trillinng, J. Jeremias, etc. No, se entende pois, por quehoje em dia alguns descuidam Mt 16,19, parar deter-se em 16,23.

    [12] Lc 22,31 Simo, Simo, eis que Satans pediu insistentemente para vospeneirar como trigo; 32 eu, porm, orei por ti, a fim de que tua f no desfalea.Quando, porm, te converteres, confirma teus irmos..

    [13] Jo 14,30.

    [14] Lc 22,53, cf. Lc 22,3; sugere, como tem sido reconhecido, que o evangelistaimpessoalmente entende esse poder das trevas.

    [15] Jo 16,11.

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    fantasmas ilusrios e que suas palavras carecia de toda firmeza; oqual em contraste com impresso dos primeiros que a ouviram e os

    dos leitores dos Evangelhos. imperativo, portanto, uma concluso:Satans, a quem Jesus havia afrontado com seus exorcismos, quehavia encontrado no deserto e paixo, no pode ser o mero produtoda capacidade humana de inventar fbulas ou de personificar asideias, nem tampouco um vestgio aberrante da linguagem culturalprimitiva.

    verdade que So Paulo, resumindo em grandes linhas, na Cartaaos Romanos, a situao da humanidade antes de Cristo, personificao pecado e a morte, mostrando seu temvel poder, porm se trata, noconjunto de sua doutrina, de um momento que no o efeito de umapro recurso literrio, mas de sua aguda conscincia da importncia dacruz de Jesus e da necessidade da opo de f que Ele pede.

    Os escritos paulinos

    Alm disso, Paulo no identifica o pecado com Satans. Na

    verdade, ele v o pecado, acima de tudo, de modo que o ltimo essencialmente: um ato pessoal dos homens, e tambm o estado deculpabilidade e de cegueira na qual Satans trata efetivamente decoloc-los e mant-los[16]. Desta maneira, Paulo distingue bem aSatans do pecado. O Apstolo, que enfrentam a lei do pecado quesentem nos seus membros confessa sua impotncia sem a ajuda dagraa[17], o mesmo que, com grande determinao, convida resistir aSatans[18], e no se deixar dominar por ele, e no lhe dar entrada[19],

    para esmag-lo debaixo dos ps[20]. Porque Satans para ele umaentidade pessoal, o deus deste mundo[21], um adversrio astuto,distinto por tanto de ns como do pecado que ele nos leva.

    Como no Evangelho, o apstolo v a Satans ativo na histria do

    [16] Ef 2,1-2; 2Ts 2,11, 2Cor 4,4.[17] Gl 5,17; Rm 7,23-24.[18] Ef 6,11-16.

    [19] Ef 4,27; 1Cor 7,5.[20] Rm 16,20.[21] 2Cor 4,4.

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    mundo, isto , no que ele chama de o mistrio da iniquidade [22], naincredulidade que se recusa a reconhecer a glria de Cristo [23], na

    aberrao da idolatria[24], na seduo que ameaa a fidelidade daIgreja a Cristo seu Esposo[25] e, finalmente, na prevaricaoescatolgica que conduz ao culto do homem, colocando-lhe no lugarde Deus[26]. Certamente, Satans induz ao pecado, mas distingue-sedo mal que fez cometer

    O Apocalipse e o Evangelho de So Joo

    O Apocalipse , acima de tudo, o grande quadro em que o poderde Cristo ressuscitado resplandece nas testemunhas do seuEvangelho: proclamar o triunfo do Cordeiro imaculado, porm nsnos enganaramos completamente a cerca da natureza desta vitria,se no se vir nela o final de uma longa luta na qual intervem,mediante os poderes humanos que se opem a Jesus, Satans e seusanjos, distintos uns dos outros, ademais dos agentes histricos. Naverdade, o que Apocalipse, enfatizando o enigma dos vrios nomes

    e smbolos de Satans na Sagrada Escritura, revela definitivamentesua identidade[27]. Sua ao se desenrola ao longo todos os sculos dahistria humana sob os olhos de Deus.

    No surpreende, portanto, que no Evangelho de Joo, Jesus falado diabo e que o define prncipe deste mundo[28]: certamente, a suaao sobre o homem interior, porm impossvel ver em suafigura unicamente uma personificao do pecado e da tentao. Jesusreconhece que pecar significa ser escravo[29], porm no por ele

    [22] 2Ts 2,6.[23] 2Cor 4,4, evocada por Paulo VI em seu discurso mencionado acima.[24] 1Cor 10,19-20; Rm 1,21-22. Esta certamente a interpretao seguida pela Lumen

    Gentium, n. 16: Mas, mais frequentemente os homens, enganados peloMaligno, difamado suas fantasias e trocaram a verdade de Deus em mentira,servindo a criatura em lugar do Criador.

    [25] 2Cor 11,3.[26] 2Tes 2,3-4.9-11.

    [27] Ap 12, 9.[28] Jo 12,31; 14,30; 16,11.[29] Jo 8,34.

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    identifica com Satans nem esta escravido nem o pecado em quenela se manifesta. O diabo exerce sobre os pecadores somente um

    influxo moral, na medida em que cada um segue sua inspirao [30]:eles, livremente executar seus desejos[31] e fazer sua abra[32].Somente neste sentido e, nessa medida Satans seu pai [33], porqueentre ele e a conscincia da pessoa humana sempre a distnciaespiritual que separa a mentira diablica do consentimento que elapode dar ou negar[34], da mesma forma que entre Cristo e ns, existesempre uma distancia entre a verdade, ele revela e prope, e a fque acolhida.

    A Doutrina Geral dos Padres

    Por este motivo, os Padres da Igreja[*], convencidos atravs dasEscrituras de que Satans e seus demnios so os inimigos daRedeno, continuou a lembrar os fiis da existncia e ao desses.

    Desde o sculo II dC, Melito de Sardes tinha escrito uma obraSobre o demnio[35] e seria difcil citar um nico Padre que no

    falou sobre o assunto. Obviamente, quanto mais diligente para tornarclara a ao do diabo eram aqueles que ilustrou a divina na histria,

    [30] Jo 8,38.44.[31] Jo 8,44.[32] Jo 8,41.[33] Idem.[34] Jo 8,38.44.* Chamamos de Padres da Igreja ou (Patrstica) aqueles grandes homens da

    Igreja, aproximadamente do sculo II ao sculo VII, que foram no Oriente e noOcidente como que Pais da Igreja, no sentido de que foram eles que fir-maram os conceitos da nossa f, enfrentaram muitas heresias e, de certa formaforam responsveis pelo que chamamos hoje de Tradio da Igreja; semdvida, so a sua fonte mais rica. Certa vez disse o Cardeal Henri de Lubac:Todas as vezes que, no Ocidente tem florescido alguma renovao, tanto naordem do pensamento como na ordem da vida ambas esto sempre ligadasuma outra tal renovao tem surgido sob o signo dos Padres. Fonte:[35] J. Quasten, Initiation aux Peres de l'glice I, Paris, 1955, p. 279

    (Patrologia, Volume I, p. 246).

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    especialmente Santo Irineu e Tertuliano, que enfrentaramsucessivamente o dualismo gnstico, e Marcio, logo depois so

    Victorino de Pettau e, finalmente Santo Agostinho. Santo Irineuensinou que o diabo um anjo apstata[36], que Cristo,recapitulando em si mesmo a guerra que este inimigo move contrans, ele teve que enfrentar no incio de seu ministrio[37]. Com maioramplitude e vigor Santo Agostinho demostrou sua atividade na lutadas duas cidades[*], que tem origem no cu, quando as primeirascriaturas de Deus, os anjos, se declaram fiis ou infiis ao seuSenhor[38], na sociedade dos pecadores que viu um corpo msticodo diabo[39], do qual falou tambm mais tarde, em sua Obra Moraliain Job, So Gregrio Magno[40].

    Evidentemente, a maioria dos Padres, abandonando com Orgenesa ideia de pecado carnal dos anjos cados, viram em seu orgulho ouseja, no desejo de elevar-se acima de sua condio, de afirmar a suaindependncia, de fazer-se passar por Deus o princpio de suaqueda, mas, junto a esse orgulho, muitos sobressaram tambm sua

    malcia a respeito dos homens. Segundo Santo Irineu, a apostasia dodiabo comeou quando ele ficou com cimes da criao do homem etratou de faz-los se rebelar contra o seu Criador[41]. Tertuliano julga

    [36] S. Ireneo. Adversus (Contra) Hreses libri V, Cap. XXIV De diaboliperpetuo mendacio, potestatibus quibus nos parere oportet, atque imperiisterrenis, quatenus a Deo, nom autem a diabolo constituantur. 3, PG 7,1188A.

    [37] S. Ireneo. Adversus (Contra) Hreses libri V, Cap. XXI Caput omniumqu pdicta sunt, Christus est; quem hominem assumere, a Patre universorum

    creatore mitti, et a Satana tentari oportuit, ut promissiones adimpleret, etgloriosum consummataque victoriam reportaret. 2, PG 7, 1179C, 1180A.

    * Santo Agostinho. De Civitate Dei contra Paganos libri XXII, PL 41.[38] Santo Agostinho. De Civitate Dei contra Paganos, Lib. XI, IX, PL 41, 323-

    325.[39] Santo Agostinho. De Genesi ad Litteram Libri XII. Liber XI, caput XXIV

    De corpore mystico diaboli intelligendum esse illud, Quomodo cecidit, etc.,31, PL 34, 441-442.

    [40] Gregrio Magno. Moralium Libri, sive Expositio in Librum B. Job. PL 75

    e 76, 694, 705, 722.[41] S. Ireneo. Adversus (Contra) Hreses libre IV, prefcio. 3, PG 7, 975A. e

    libre IV, 3 PG 7, 1113B-1114.

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    que Satans, para contrapor os planos do Senhor, plagiou nosmistrios pagos os sacramentos institudos por Cristo [42]. Vemos,

    ento, que os ensinamentos patrsticos foram um eco substancial-mente fiel da doutrina e orientao do Novo Testamento.

    O Magistrio da Igreja

    O IV Conclio de Latro (1215) e seu contedo demonolgico

    certo que nos vinte sculos de histria o Magistrio dedicou demonologia s poucas declaraes propriamente dogmticas. Arazo disso que a oportunidade se apresentou raramente, emconcreto, unicamente em duas circunstncias a mais importante dasquais se deu no incio do sculo XIII, quando se manifesta umreavivamento do dualismo maniquesta e priscilianistas com oaparecimento dos ctaros e albigenses, mas, em seguida, a declaraodogmtica, formulada em um quadro doutrinria familiar,corresponde muito de perto nossa sensibilidade, porque implicauma certa viso do universo e de sua criao por Deus:

    Firmemente Cremos e simplesmente confessamos um sprincpio de todas as coisas, visveis e invisveis, espirituais ecorporais, que por seu poder onipotente, que as fez desde o incio dostempos, criou do nada a umas e outras criaturas, as espirituais e ascorporais isto , as anglicas e as terrestres, e depois as humanas,como comum, composta de esprito e corpo. Porque o diabo e outrosdemnios, por Deus, certamente, foram criados bons por natureza;mas eles, por si mesmos se tornaram maus. O homem, porm, pecou

    por sugesto do diabo[43].

    [42] Tertuliano. De Prscriptionibus Adversus Hreticos. Cap. XL Fieri hcautem diaboli instinctu, qui ipsa quoque res sacramentorum divinorum in

    idolorum mysteriis mulatur; exempli gratia, qui quosdam tinguit,

    explanationem delictorum de lavacro repromittit, signat in frentibus, celebrat

    et panis oblationem. [54]. PL 2,65B,Libre De JeJuniis" cap. XVI.[977] PL 2, 1028B.

    [43] credimur et simpliciter Firmiter confitemur ... universorum unum principium,

    et visibilium invisibilium criador omnium, spiritualium et corporalium, SUAqui simul virtute omnipotenti ab initio temporis condidit Utramque creaturamnihilo, spiritualem et corporalem, Angelicam, videlicet et mundanam, ac

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    O essencial desta exposio sbrio. Sobre o diabo e os demnioso Conclio se limita a afirmar que, sendo criaturas do nico Deus,

    eles no so substancialmente maus, mas que se tornaram em talseguindo o seu livre arbtrio. No se precisa nem o nmero, nem aculpa, nem a extenso de seu poder: estas questes que no tocam oproblema teolgico foi deixada para a livre discusso escolstica. Noentanto, a declarao do Conclio, por breve que seja, de sumaimportncia porque a emanao maior Conclio do sculo XIII, e posta em evidencia na profisso de f preparada por ele (o Conclio),a qual, vindo pouco depois das profisses de f imposta ao ctaros evaldenses[44], as convices evocadas contra priscilianistas algunssculos antes[45].

    O primeiro tema do Conclio:

    Deus, criador dos seres visveis e invisveis

    Esta profisso de f merece, por conseguinte, ser tida em atentaconsiderao. Ela adota estrutura comum dos Smbolos dogmticos e

    se encaixa perfeitamente na srie deles, a partir do Conclio deNiceia. Segundo o texto citado, pode ser compreendida, deste pontode vista, em dois temas unidos entre si e igualmente importantes paraa f: o enunciado que faz referencia ao diabo e no que devemosfixarmos mais de perto vem depois de uma declarao sobre Deus, oCriador de todas as coisas visveis e invisveis, ou seja, serescorpreo e angelicais.

    Esta afirmao sobre o Criador e a mesma frmula que expressa

    Deinde communem humanam quasi ex Spiritu et corpore constitutam.Diabolus enim et alii Daemones a Deo quidem natura creatinina sunt boni, sedipsi per se facti sunt mali. Suggestione diaboli Homo peccavit vero ... (C.OeD. = Conciliorum Oecumenicorum Decretos, editora ISR Bolonha, 1973,3, p 230;.. Denz-Sch".. Symbolorum Enchiridion ", n 800).

    [44] A primeira, em ordem cronolgica, a profisso de f do Conclio de Lyon(1179-1181), promunciadada por Valdes (ed. A. Dondaine", Arch Pe. Pr', 16(1946), em seguida, Huesca Durando imposta antes do bispo de Tarragona em

    1208 (PL 215, 1510-1513) e finalmente, Bernardo Primo em 1210 (PL 216,289-292). Denz-Sch., 790-797 coleta desses documentos.

    [45] No Conclio de Braga (560-563), Portugal (Denz-Sch., 451-464).

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    tem singular importncia para o nosso tema, j que ambas vm dadoutrina de So Paulo. Na verdade, para exaltar Jesus Cristo, o

    Apstolo diz daquele que governa de todos os seres celestes,terrestres e infernais[46], tanto no mundo atual como no futuro [47];falando em outra parte de sua preexistncia, ensina que nele foramcriadas todas as coisas, as coisas no cu e na terra: tudo o visvel e oinvisvel[48]. Esta doutrina da Criao, logo adquiriu uma grandeimportncia para a f crist, devido a que o Gnosticismo eMarcionismo, j antes do Maniquesmo, trataram largamente de fazervacilar. Os primeiros smbolos da f especificam ordinariamente queos seres visveis e invisveis, todos eles foram criados por Deus.Esta doutrina afirmado pelo Conclio de niceno-constantinopolitano[49] e mais tarde pelo Conselho de Toledo[50], foiutilizado para as profisses de f eram lidos nas grandes Igrejasdurante a celebrao do batismo[51], veio a fazer parte da grandeorao eucarstica de So Tiago, em Jerusalm[52], de So Baslio, nasia Menor, em Alexandria[53] e em outras Igrejas Orientais[54]. Entre

    os Padres gregos aparece j em Santo Irineu[55]

    e a Exposio da f deAtansio[56]. No Ocidente, a encontramos em Gregrio de Elvira[57],

    [46] Fl 2,10[47] Ef 1,21.[48] Cl 1,16.[49] C. Oe. D., p. 5 e 24. Denz-Sch, 125-150.[50] Denz-Sch., 188.[51] Em Jerusalm (Denz-Sch., 41), Chipre (referido por Epifnio de Salamina:.

    Denz-Sch, 44), Alexandria (Denz-Sch., 46), Antioquia (ibid., 50) na Armnia(ibid., 48), etc.

    [52] PE (Prex Eucharistica, ed. Hnggl-Pahl, Fribourg, 1968), p. 244.[53] PE, p. 232 e 348.[54] PE, p. 327, 332 e 382.[55] S. Ireneo. Adversus (Contra) Hreses libre II, XXX Vesanam

    hreticorum impietatem castigat, qui se spiritales, Demiurgum vero animalem

    esse dicebant. 6, PG 7, 818B.[56] S.P.N. Athanasii Archiepiscopi Alexandri. Expositio Fidei.[79-81] 1-4. PG

    25, 199-207.[57] Santi Ambrsio. De Fide Orthodoxa contra Arianos Alias De Filii

    Divinitate ete Consubstantialitate Tractatus.[345] (PL 17, 579).

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    em Santo Agostinho[58], em So Fulgncio[59], e assim por diante.Quando os ctaros, no Ocidente, como os bogomilos na Europa

    Oriental, restabeleceu o dualismo maniquesta, a profisso de f doIV Conclio de Latro no poderia fazer melhor do que pegar essadeclarao e sua frmula, as quais adquiriu desde ento importnciadefinitiva. Foram repetidos de imediato nas profisses de f do IIConclio de Lyon[60], Florena[61] e de Trento[62], para reaparecer fi-nalmente na Constituio Dei Filius do Conclio Vaticano I[63], nosmesmos termos do IV Conclio de Latro de 1215. Se trata, porconseguinte, de uma declarao primordial e consistente de f,providencialmente sublinhada pelo IV Conclio de Latro para ligarcom ela o enunciado relativo a Satans e aos demnios. Indicou as-sim que o caso destes, so importante por si s, se inserida nocontexto mais amplo da doutrina sobre a criao universal e de f nosseres angelicais.

    Segunda Tema do Conclio: o diabo

    1. O textoPelo que se refere a este enunciado demonolgico, est muito

    longe de ser apresentado como algo novo ou adicionadocircunstancialmente, como consequncia doutrinal ou de uma

    Febadio. De Fide Orthodoxa Contra Arianos, Alias De Filii Divinitate etConsubstantialitate, Tractatus. (PL, 20, 31A). e Libellus Fide (PL 20,49C)

    [58] S. Aurelii Augustini Hipponensis Episcopi. De Genesi ad iluminado

    imperfectus liber, Caput I, 1-2; PL 34, 221.[59] Santi Fulgentii Episcopi Ruspensis. De Fide, Seu de Regula Ver Fidei, Ad

    Petrum, liber Unus, Cap. III[511] 25, PL 65,683A.[60] Esta profisso de f, feita pelo imperador Miguel Palelogo, preservado por

    Hardouini e Mansi nos Anais do Conclio, pode ser visto em Denz-Sch., 851.O C.Oe.D. omitido Bologna sem indicar o motivo (do relator Conclio Va-ticano Primeiro de Deputatio fidei, no entanto, deu a entender oficialmente,Mansi, t. 52. 1113 B).

    [61] Sess. IX: Bulla unionis Coptorum, C. Oe. D., p. 571; Denz-Sch., 1333.

    [62] Denz-Sch., 1862 (faltando em 'C.Oe.D.).[63] Sess. III: 'Constitutio "Dei Filius", captulo I: "C. Oe. D. ', p. 805-806; Denz-

    Sch, 3002.

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    deduo teolgicas, pelo contrrio, aparece como um ponto firme,adquirido desde muito tempo. Ele est a indicar a mesma formulao

    do texto. De fato, depois de haver afirmado a criao universal, odocumento no passa aos diabos e demnios como conclusologicamente deduzido: no escreve Consequentemente Satans eseus demnios so criados naturalmente bons , tal como tinhasido necessria se a declarao fosse nova e deduzido da anterior,pelo contrrio, apresenta o caso de Satans, como uma prova daafirmao acima como um argumento contra o dualismo. Escreve,com efeito: Porque Satans e os demnios foram de fato criadosnaturalmente bons .... Em resumo, o enunciado de que eles se referee se apresenta como uma afirmao incontestvel da conscinciacrist: este um ponto importante do documento e no poderiadeixar de s-lo, se se tem em conta as circunstncias histricas.

    2. A Preparao: as formulaes positivas e negativas

    (sculos IV V)

    Na verdade, j no sculo IV, a Igreja tinha tomado uma posiocontra a tese maniquesta dois princpios igualmente eternos eopostos[64], tanto no Oriente como no Ocidente, ensinou firmementeque Satans e seus demnios foram criados e feitos naturalmentebons. Deves crer, dizia So Gregrio Nazianzeno ao nefito, queno existe uma essncia do mal, nem um reino (do mal), sem

    princpio ou subsistente por si mesmo, ou criado por Deus[65].O diabo era considerado uma criatura de Deus, bom e luminosa

    num primeiro momento, que por desgraa no se manteve na

    [64] Mani, fundador da seita, viveu no sculo III dC. A partir do sculo seguinte, seafirmou a resistncia dos Padres ao maniquesmo. Epifnio consagrou a estaheresia uma longa exposio, seguida de uma refutao ("Adv. Haer.", 66, PG42, 29-172). Santo Atansio fala dela ocasionalmente (Oratrio contragentes, 2, PG 25, 6C). So Baslio comps um pequeno tratado Quod Deusnon sit auctor malorum, PG 31, 330-354). Ddimo de Alexandria o autor deContra Manicheos (PG 39, 1085-1110). No Ocidente, Santo Agostinho, que

    em sua juventude tinha aceitado o maniquesmo, aps a converso a combateusistematicamente (cf. PL 42).

    [65] Sancti Patris Nostri Gregorii Nazianzeni. Oratio XL. In santum Baptisma.

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    verdade, em que havia sido feito (Jo 8,44), mas haviam se rebeladocontra o Senhor[66]. O mal, portanto, no estava em sua natureza, mas

    em um ato livre e contingente[*] de sua vontade[67]. As declaraesdeste tipo que podem ser lidas de forma equivalente em So Ba-slio[68], So Gregrio de Nissa[69], So Joo Crisstomo[70], Ddimo deAlexandria[71], no Oriente, e em Tertuliano[72], Eusbio de Vercelli[73],

    XLV. PG 36, 423A. Texto: Crede, nullam mali essentiam esse, nec regnum,aut principii expers, aut a se ipso subsistens, aute a Deo creatum, sed nostrum

    opus hoc esse, et Pravi illius, malum ex incuria et socordia as nos irrepsissem,non autem a Creatore.

    [66] Os Padres interpretados nesse sentido Isaas 14,14Subirei acima das nuvens,tornar-me-ei semelhante ao Altssimo.'15E, contudo, foste precipitado ao Xeol,

    nas profundezas do abismo., e Ezequiel 28,2Pois que o teu corao se exaltaorgulhosamente e dizes: Eu sou deus, ocupo um trono divino no corao do

    mar. Apesar de seres homem e no Deus, alimentas, em teu corao,

    pretenses divinas., onde os profetas tentam desacreditar o orgulho dos reispagos da Babilnia e Tiro.

    * Contingente: [adjetivo de dois gneros] que pode ocorrer ou no ocorrer;incerto; [Rubrica: filosofia. na escolstica], diz-se de qualquer ocorrnciafortuita e casual quando considerada isoladamente, mas necessria e inevitvelao ser relacionada s causas que lhe deram origem;

    [67] No me diga que o mal sempre existiu no diabo, e no comeo no era, umacidente de seu ser, que veio depois (So Joo Crisstomo, Ad eos quiobjiciunt, cur e medio siblatus non sit Diabolus, et quos hujus malitia nihil nos

    ldat, si attendamus, et de Poenitentia. Homilia. II De diabolo Tentatore. 3,PG 49, 260).

    [68] So Baslio Magno. Quod Deus non sit autor malorum. 8, PG 31, 346CD.[69] So Gregrio de Nissa. Oratio XXXVIII. In Theophania, sive Natalitia

    Salvatoris. IX. PG 36, 319C-322A; Oratio XLV. In sanctum Pascha, V. PG 36,6230B.

    [70] So Joo Crisstomo, Homili XXI de Statui ad Populum AntiochenumHabit. Homilia. V. 5. (final do ) [67], PG 49, 76-77.

    [71] Didymi Contra Manichos Liber. Cap. XVI. Genimina viperarum facti, quiposteri Abrah: interpretado neste sentido Jo 8,39-44 (In veritate non stetit),PG 39, 1105C,

    Didymi Alexandrini in Epistolam Beati Jud Apostoli Enarratio (98). Vers 9.PG 39, 1814C-1815B.

    [72] Tertuliano. Quintus Septimus Florens Tertullianus. De Prscriptionibus

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    Santo Ambrsio[74], Santo Agostinho[75], no Ocidente poderiaassumir eventualmente uma firme formulao dogmtica. Se

    encontram inclusas sob forma de condenao doutrinria ou tambmde profisso de f.

    O De Trinitate, atribuda a Eusbio de Vercelli, o expressavafirmemente em termos de antemas sucessivos:

    Se algum crer que o anjo apstata, na natureza em que tenhasido feito, no obra de Deus, seno que existe por si mesmo,chagando inclusive a atribuir-lhe ele tem em si mesmo o prprioprincpio, seja antema[*].

    Se algum crer que o anjo de apstata havia sido feito por Deuscom uma natureza m e no disser que ele concebeu o mal, por suaprpria vontade, seja antema.

    Se algum crer que o anjo de Satans fez o mundo longe de nstal crena! e no declara que todo pecado sua inveno (de

    Adversus Hreticos. Adversus Marcionem Libri Quinque. Liber Secundus.Cap. X Neque etiamsi in diabolum transcriberetur culpa, ut instinctoremdelicti, propterea in Creatorem dirigendam, ut in autorem diaboli, utpote qui

    angelus a Deo et bonus factus sit, non diabolis, id est delator. [296] [298].PL 2,322D 324B.

    [73] Ver o primeiro pargrafo seguindo os cnones da "Sobre a Trindade". Eusbiode Vercelli foi o primeiro bispo da antiga diocese de Vercelli e foi um dos

    principais expoentes da luta contra a difuso da heresia ariana, veneradocomo santo pela Igreja Catlica.

    [74] Santi Ambrsio. Apologia prophet David, ad Theodosium Augustum, CaputI, 4; PL, 14,894A.

    Santi Ambrsio. In Psalmum David CXVIII Expositio. Sermo Duodecimus Lamed. 10; [1117] PL 15,1363D. Edio 1845.

    [75] S. Aurelii Augustini Hipponensis Episcopi. De Genesi ad iluminadoimperfectus liber, Liber Unidecimus. Caput XX Opinio de diabolo creatoin malitia. 27. Caput XXI Refellitur hc opinio. 28, PL 34, 439-440.

    * Antema: [substantivo masculino] 1.Rubrica: religio. sentena de maldioque expulsa da igreja; excomunho ; 2. reprovao enrgica; condenao,

    repreenso, maldio, execrao ; [adjetivo e substantivo de dois gneros] 3.que ou aquele que foi atingido por antema; excomungado ; 4. que ou aqueleque est margem da sociedade; maldito, execrado.

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    Satans), seja antema.[76]

    Tal redao em forma de antema no era ento um caso nico: se

    encontra j no Commonitorium, atribudo a Santo Agostinho e escritocom vistas abjurao dos maniquestas. Esta instruo consideradocom antema (maldito) a aquele que crer que existem duasnaturezas, que tem origens em dois princpios diferentes, o Bom que Deus, o outro Mal, no criados por Ele [77].

    Este ensinamento se expressa melhor, no obstante, sob a frmuladireta e positiva de uma declarao que h de crer. Santo Agostinho,no incio de seu De Genesi ad litteram, dizia assim:

    A doutrina catlica obriga a crer que a Trindade um s Deusque fez e criou todos os seres existentes em quanto existentes, demodo que toda criatura, seja intelectual, seja corporal, ou, para dize-lo brevemente, nas palavras das divinas Escrituras, visveis ouinvisveis, no pertence natureza divina, mas que tem sido feito apartir do nada por Deus[78].

    [76] Si quis confitetur angelum apostaticum in natura, qua factus est, non a Deofactum fuisse, sed ab se esse, ut de se illi principium habere adsignet,anathema sit.Si quis confitetur angelum apostaticum in mala natura a Deo factum fuisse etnon dixerit eum per voluntatem suam malum concepisse, anathema illi.Si quis confitetur angelum Satanae mundum fecisse, quod absit, et nonindicaverit (judicaverit) omne peccatum per ipsum adinventum fuisse. DeTrinitate, VI 17, 1-3, ed. V. Bulhart, CC, SI., 9, pp. 89-90;Vigilii Tapsensis. De Trinitate. Libri Duodecim, Quos edidit sub nomine S.

    Athanasii, episcopi Alexandrini. Liber Sextus. De Beatitudine fidei, et deProscriptione sect pessim.Identidem hic contra mortifera venea draconumet aspidum est nostra congressio. [259] PL 62, 280D-281A).

    [77] CSEL Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum, VOL. XXV (SECT.VI PARS II) S. AVRELI AVGVSTINI CONTRA FELICEM. DE NATVRABONI. EPISTVLA SECVNDINI. CONTRA SECVNDINVM., pp 977-982.Commonitorium vulgo Sancti Augustini Episcopi Ecclesi Catholic,Quomodo sit agendum cum Manichis qui Convertuntur. PL 42, 1153-1156.

    [78] S. Aurelii Augustini Hipponensis Episcopi. De Genesi ad iluminado

    imperfectus liber, Liber Unidecimus. Tractatur initium Geneseos usque adhuncce versiculum 26: Faciamus hominem ad imagnem, etc. Caput Primum. 1-2, PL 34,221

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    Na Espanha, o primeiro Conclio de Toledo professava igualmenteque Deus o criador de todos (os seres) visveis e invisveis e que

    fora dEle no existe natureza divina, anjo, esprito ou qualquerpotncia alguma que possa ser considerada por (como) Deus[79].

    Assim, a partir do sculo IV, a expresso da f crist tinhaensinado e vivido preservado neste ponto as duas formulaesdogmticas, positiva e negativa, que vamos encontrar oito sculosmais tarde, no tempo de Inocncio III e do IV Conclio de Latro.

    So Leo Magno

    Entretanto, estas expresses dogmtico no caiu em desuso. Defato, no sculo V a Carta do Papa So Leo Magno a Toribio Bispode Astorga, cuja autenticidade no deixa margem para dvidas, falano mesmo tom e com a mesma clareza. Entre os erros priscilianistascondenados por ele se encontra, com efeito, os seguintes:

    A sexta anotao[80] aponta sua afirmao de que o diabo nuncafoi bom e que sua natureza no obra de Deus, seno que havia

    sado do Caos e das trevas: porque de fato no tem um autor para seuser, seno que ele mesmo o princpio e a substncia de todo o mal,enquanto que a verdadeira f, a f catlica professa que a substnciade todas as criaturas espirituais e corporais, boa e que o mal no una natureza, desde o momento em que Deus, criador do universo, sfez o que bom. Por isto mesmo o diabo seria bom se ele tivessepermanecido no estado em que havia sido feito. Por desgraa(infelizmente), como fez mal uso de sua natural excelncia e no se

    manteve na verdade (Jo 8,44), no se tinha transformada (sem dvida)em uma substncia contrrio, seno que se havia separado do SumoBem (Deus), ao que se teria de ter aderido ... [81].

    [79] Denz-Sch., 188. Compndio dos Smbolos, Definies e Declaraes de Fe Moral. Heinrich Denzinger e Peter Hnermann

    [80] Ou seja, o sexto anotao do memorial dirigido ao papa pelo bispo de Astorga,seu interlocutor.

    [81] Sexta annotatio indicat eos dicere quod diabolus numquam fuerit bonus, neenatura eius opificium Dei sit, sed eum. ex chao et tenebris emersisse: quiascilicet nullum sui habet auctorem sed omnis mali ipse sit principium atque

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    Esta declarao doutrinria (comeando com as palavras averdadeira f, a f catlica professada ... at o final) foi considerado

    to importante como para ser recolhido, nos mesmos termos, entre asadies feitas no sculo IV ao Livro dos dogmas eclesisticos,atribudo a Gendio de Marselha[82]. Em fim, a mesma doutrina sersustentada, com tom magistral na Regra de f a Pedro, obra de SoFulgncio, donde se encontrar afirmada a necessidade de manterprincipalmente, de manter firmemente que tudo o que no Deus uma criatura de Deus, e este o caso para todos os seresvisveis e invisveis: Que uma parte dos anjos se havia desviado edistanciado voluntariamente de seu Criador e que o mal no umanatureza[83]. No de admirar, ento, que nesse contexto histrico, o

    substantia: cum fides vera, quae est catholica, omnium creaturarum sivespiritualium, sive corporalium bonam confiteatur substantiam, et mali nullamesse naturam: quia Deus, qui universitatis est conditor nihil non bonum fecit.Unde et diabolus bonus esset, si in eo quod factus est permaneret. Sed quianaturali excellentia male usus est, et in veritate non stetit (Joan VII, 44), non in

    contrariam transit substantiam, sed a summo bono, qui debuit adhaerere,descivit... (Epistola XV. Ad Turribium Asturicesem Episcopum. De

    Priscillianistarum erroribus. , cap. VI. Quod aiunt diabolum numquem suissebonum, nec Dei opus esse, sed ex chao et tenebris emersisse . [700]. PL 54,683B; cfr. Denz-Sch., 286; o texto crtico editado por V. Vollmann, O. S. B.,tem somente variantes de pontuao).

    [82] Cap. IX: Fides vera, quae est catholica, omnium creaturarum sivespiritualium, sive corporalium bonam confitetur substantiam, et mali nullamesse naturam: quia Deus, qui universitatis est conditor, nihil non bonum fecit.

    Unde et diabolus bonus esset, si in eo quod factus est permaneret. Sed quianatural excellentia male usus est, et in veritate non stetit, non in contrariamsubstantiam transiit, sed a summo bono, cui debuit adhaerere, discessit (Deecclesiasticis dogmatibus, PL 58, 995C-D). Mas a recesso no incio destetrabalho publicado como um apndice para as obras de Santo Agostinho notem esse captulo (PL 42, 1213-1222).

    [83] Santi Fulgentii Episcopi Ruspensis. De Fide, Seu de Regula Ver Fidei, AdPetrum, liber Unus, PL 65, 671-706. Principaliter tene (III, 25, col. 683 A);Firmissime tene... (IV, 45, col. 694C). Pars itaque angelorum quae a suo

    Creatore Deo, quo solo bono beata fuit, voluntaria prorsus aversionediscessi... (III, 31, col. 687A); nullamque esse mali naturam (XXI, 62, col.699D-700A).

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    Statuta Ecclesiae Antiqua uma coleo cannica do sculo V Seja Introduzido no interrogatrio destinado para examinar a f dos

    candidatos ao episcopado, a seguinte pergunta: Se o diabo maupara a condio ou se foi feito como tal por livre arbtrio[84], frmulaque voltar a ser encontrada nas profisses de f impostas porInocncio III para os valdenses[85].

    O primeiro Conclio de Braga (sculo VI)A doutrina era, portanto, comum e firme. Os numerosos

    documentos que a expressam, dos quais mencionamos os principais,constitui o fundo doutrinrio dentro do qual sobrasai o primeiroConclio de Braga, em meados do sculo VI. Nesta perspectiva, ocaptulo 7 deste Snodo no aparece como um texto isolado, mascomo uma sntese dos ensinamentos dos sculos IV e V nesta matriae, especialmente, a doutrina do Papa So Leo Magno:

    Se algum pretende que o diabo no havia sido antes um anjo(bom) feito por Deus e que sua natureza tem sido obra de Deus, mas

    que havia sado do caos e das trevas e que no existe um autor do seuser, seno que ele mesmo o princpio e a substncia do mal, comodizem Mani e Prisciliano seja antema[86].

    3. O surgimento dos ctaros (XII e XIII)

    Tambm fazem parte da f explcita da Igreja, desde muito tempo,a condio de criatura e o ato livre com que o diabo se haviapervertido. No IV Conclio de Latro bastou introduzir estas declara-

    es no Simbolo (Credo) sem necessidade de document-las, porque

    [84] Conciliao Gallica (314-506), (CC, SL ', 148, ed Ch Munier, p 165, 25-26,tambm no apndice do Ordo, XXXIV, in: M. Andrieu OrdinesRommani't. III, Lovanii de 1951, pgina 616.

    [85] Innocentii III Romani Pontificis. Regestorum sive Epistolarum. Liber Sextus.CXCVI Archrepiscopo et Suffraganeis Terragonesis Ecclesi. De negotioDurandi de Osca sociorum ejus. (Laterani, XV Kal. Januarrii). PL 215, 1512D,

    A. Dondaine, Arch. Fr. Pr., 16 (1946), 232; Denz-Sch., 797.[86] Denz-Sch., 457. Compndio dos Smbolos, Definies e Declaraes de F

    e Moral. Heinrich Denzinger e Peter Hnermann

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    se tratava de f claramente professadas. Tal insero, que, do pontode vista dogmtico era possvel j anteriormente, no qual ento

    tornou-se necessria por causa da heresia dos ctaros que haviamadotado alguns dos antigos erros maniquestas. Entre os sculos XII eXIII muitas profisses de f rapidamente tiveram de insistir que Deus criador de seres visveis e invisveis, que o autor de ambos osTestamentos, e especificar que o diabo no era mau por natureza,mas como consequncia uma eleio (escolha)[87]. As antigasposies dualistas, enquadradas em vasto movimentos doutrinais eespirituais, constituem ento, no sul da Frana e norte da Itlia, umdano real f. Na Frana, Ermengaudo de Bziers teve que escreverum tratado contra os hereges que dizem e crer que o mundo presentee todos os seres visveis no foram criados por Deus, mas pelodiabo e que havia um Deus bom e onipotente um deus do mal, isto, o diabo[88]. No norte da Itlia, um dos ctaros convertidosBonacursus, tinha dado o alarme, e tambm havia indicado compreciso as vrias escolas da seita[89]. Pouco depois de sua

    interveno, a Suma contra herticos, atribuda por muito tempo aPrepostino de Cremona, escrever de forma mais clara o impacto daheresia dualista sobre o ensino da poca, quando comea assim otratado sobre os ctaros:

    Deus Todo-Poderoso s criou os (seres) invisvel e incorpreo.No que se refere ao diabo, a quem este herege chamado deus dastrevas, ele criou os (seres) visvel e corporal. Depois de dizer isso oherege acrescenta que h dois princpios das coisas: o princpio do

    [87] Cf. acima, n. 44.[88] Incipit Opusculum Ermengaudi Contra Hreticos. Qui dicunt e credunt

    mundum istum et omnia visibilia non esse a Deo facta, sed a diabolo.Ermengaudus contra Waldenses. PL 204,1235-1272. Cf. E. Delaruelle, Dict.Hist. et Geogr. Eclesiastes, Vol. XV, 754-757 coleo.

    [89] PL 204, 775-792. O contexto histrico do norte da Itlia, assim descreve o Pe.Ilarino da Milano, Le eresie medioevali (ss. XI-XV), no Grande AntologiaFilosfica vol. IV, Milo, 1954, p. De 1599-1689. O trabalho de Bonacursus

    estudado pelo mesmo Pe. Ilarino da Milano: A heresis Catarum quam fecitmanifestatio Bonacursus secondo il cod. Ottob. lat. 136 della BibliotecaVaticana, Aevum. 12 (1938), 281-333.

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    bem, ou seja, Deus Todo-Poderoso, e o princpio do mal, isto , odiabo; acrescenta que existem duas naturezas: uma boa, dos (seres)

    incorpreo, criado por Deus Todo-Poderoso, outra m, a dos (seres)corpreos, criado pelo diabo. O herege que assim se expressa sechamava antigamente de maniquesta, hoje Ctaros[90].

    No obstante de sua brevidade, este resumo significativo por suadensidade. Hoje, podemos concluir que, referindo-se a O Livro dosdois princpios, escrito por um dos telogos ctaros pouco depois doIV Conclio de Latro[91]. Adentrando-se nos particulares daargumentao e embasando-se nas Sagradas Escrituras, esta pequenasuma dos militantes da seita que pretendia impugnar a doutrina donico Criador e fundamentar sobre os textos bblicos a existncia dedois princpios opostos[92]. Junto ao Deus bom dizia devemosreconhecer necessariamente, a existncia de um outro princpio, o domal, que atua perniciosa contra o verdadeiro Deus e contra acriatura[93].

    Valor da deciso do Conclio de Latro

    No incio do sculo XIII estas declaraes, longe de ser apenasteorias de intelectuais expert, correspondiam a um conjunto decrenas errneas, vividas e difundidas por uma multido de convent-culos ramificados, organizado e ativo. A Igreja tinha o dever (a

    [90] Sed primo de fide. Contra quam proponit sententiam falsitatis et iniquitatis,dicens Deum omnipotentem sola invisibilia et incorporalia creasse; diabolumvero, quem deum tenebrarum appellat, dicit visibilia et corporalia creasse.Quibus predictis addit hereticus duo esse principia rerum: unum boni, scilicet

    Deum omnipotentem: alterum mali, scilicet diabolum. Addit etiam duas essenaturas: unam bonam, incorporalium, a Deo omnipotente creatam; alterammalam, corporalium, a diabolo creatam. Hereticus autem qui hoc dicit antiquusManicheus, nunc vero Carharus appellatur (Summa contra haereticos, cap. I,EDC. Josephi N. Garvin y James A. Corbett, University of Notre-Dame, 1958,

    p. 4).[91] Este tratado, que foi descoberto e editado pela primeira vez por Antoine

    Dondaine, OP, foi recentemente publicado em sua segunda edio: "Livre desdeux principes. Introduo. Crtica Texte, traduction, notas et ndice, por

    Christine Thouzallier, S. Chr, 198, Paris, 1973.[92] Loc. cit. n. 1, pp. 160-161.[93] Ib., n. 12, pp.190-191.

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    obrigao) de intervir repetindo energicamente declaraesdoutrinrias dos sculos anteriores. O que o papa Inocncio III

    introduziu as duas afirmaes dogmticas, listados acima, naconfisso de f do IV Conclio Ecumnico de Latro. Foi lidaoficialmente aos bispos aprovada por eles: perguntados em voz alta:Crs nestas (verdades) ponto por ponto? Eles responderam com umaaclamao unnime: Cremos![94]. Em seu conjunto, o documentoconciliar um documento de f e, dada a sua natureza e formao,que um Smbolo, cada ponto principal tem igualmente valordogmtico.

    Eles caem em um erro manifesto, se pretendesse cada pargrafoum smbolo de f deva conter uma nica declarao dogmtica: istosignificaria aplica a uma interpretao hermenutica vlida, porexemplo, no caso de um decreto do Conclio de Trento, onde cadacaptulo normalmente ensinado dogmtica uma questo: anecessidade de preparar uma justificao[95], a verdade da presenareal de Cristo na Eucaristia[96], etc. O primeiro pargrafo do Latro

    IV, no entanto, condensa em um nmero igual de linhas ao captulode Trento sobre o dom da perseverana [97], uma quantidade dedeclaraes de f, em grande parte j definidas, sobre a unidade deDeus, a Trindade e a igualdade das Pessoas (da Trindade), a

    [94] Dominus papa, summo mane missa celebrata et omnibus episcopis per sedessuas dispositis, in eminentiorem locum cum suis kardinalibus et ministrisascendens, santae Trinitatis fidem et singulis fidei artculos recitari facit.

    Quibus recitatis quesitum est ab universis alta voce: Creditis haec per omnia?'Responderunt omnes: Credimus. Postmodum damnati sunt omnes heretici etreprobate quorumdam sententiae, Joachim videlicet et Emelrici Parisiensis.Quibus recitantis iterum quasitum est: 'An reprobatis sententias Joachim etEmelrici?' At illi magis inalescebant clamando: 'Reprobamus' ('A neweyewitnes Account of the the Fourth Lateran Council, publicado por St.Kuttner y Antonio Garca y Garca, en Traditio, 20 [1964], 115-128,especialmente pginas 127-128).

    [95] Sess. VI: Decretum iustificatione, captulo V, C.Oe.D.', p. 672; Denz-Sch,

    1525.[96] Sess. XIII, cap. I. C.Oe.D., p. 693; Denz-Sch, 1636-1637.[97] Sess. VI, cap. XIII, C. Oe.D., p. 676; Denz-Sch., 1541.

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    simplicidade de sua natureza, as procedncias[*] do Filho e doEsprito Santo. O mesmo ocorre com a criao, especialmente nas

    duas passagens que se referem ao conjunto dos seres espirituais ecorporais criados por Deus e com a criao do diabo e o seu pecado.Se tratava, como j vimos, outros tantos pontos que a partir dossculos IV e V pertenciam a doutrina da Igreja, introduzido-os noprprio Smbolo (Credo), o Conclio no fez outra coisa queconsagrar sua pertinncia na norma universal da f.

    Tambm a existncia da realidade demonaca e a afirmao de seupoder tem fundamento no s sobre estes documentos masespecficos, no obstante, adquirir uma outra expresso, mais geral emenos rgida, nos enunciados conciliares, quando descrevem acondio do homem sem Cristo.

    O ensino comum dos Papas e dos Conclios

    Em meados do sculo V, na vspera do Conclio de Calcednia, oTomo do Papa So Leo Magno a Flaviano precisou um dos

    efeitos da economia da salvao, evocando a vitria sobre a morte esobre o diabo, que, segundo a Carta os Hebreus, a tinha sob seudomnio[98]. Mais tarde, quando o Conclio de Florena falou daRedeno a apresentou biblicamente como uma libertao dodomnio do diabo[99]. O Conclio de Trento, resumindo a doutrina deSo Paulo, declara que o homem pecador est sob o poder do diaboe da morte[100], salvando-nos: Deus nos libertou do poder das trevase nos transportou para reino do seu Filho amado, no qual temos a

    redeno, a remisso dos pecados[101]. Cometer pecado depois do

    * Procede: Teologia. A emanao do Esprito Santo do Pai e, mais tarde, naIgreja do Ocidente, a partir do Filho: distinguida da gerao do Filho e doesplendor do Pai.

    [98] Denz-Sch., 291, a frmula ser novamente tomada pelo sess. V, cap.I.Conclio de Trento (C. Oe.D., P 666; Denz-Sch, de 1511).

    [99] Sess. XI: Sindicalismo Coptorum Bulla (C.Oe.D. pp. 675-676.; Denz-Sch,

    1347-1349.[100] Sess. VI, captulo. I: C.Oe.D. p. 671; Denz-Sch, 1541.[101] Cl 1,13-14, citado no mesmo decreto, cap. III: C.Oe.D. p. 671; Denz-Sch, 1523.

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    batismo abandonar-se ao poder do diabo[102]. Isto , com efeito, af primitiva e universal da Igreja, atestada desde os primeiros sculos

    na liturgia da iniciao crist, quando os catecmenos, que se dispu-seram para ser batizados, renunciavam a Satans, professavam sua fna Santssima Trindade e se aderiam a Cristo, seu Salvador.[103]

    Por isso mesmo, o Conclio Vaticano II, que se interessou maispelo presente da Igreja que na doutrina da criao, no deixou dealertar contra a atividade de Satans e seus demnios. Como tinhamfeito os Conclios de Florena e de Trento, recordou novamente como Apstolo que Cristo nos liberta do poder das trevas[104], eresumindo as Escrituras, maneira de So Paulo e do Apocalipse, daConstituio Gaudium et Spes, disse que a nossa histria, a histriauniversal, uma dura batalha contra o poder das trevas, que,iniciada nas origens do mundo e durar, como disse o Senhor, at ofim[105]. Em outra parte, o Vaticano II renova a exortao da Cartaaos Efsios para vestir a armadura de Deus para permanecer firmescontra as astutas ciladas do diabo[106]. Porque, como a Constituio

    Lumen Gentium recorda aos leigos, devemos lutar contra osprncipes do deste mundo de trevas, contra os espritos malignos [107].Finalmente, no causam nenhuma surpresa comprovar que o mesmoConclio, querendo apresentar a Igreja como o reino de Deus jcomeado, invoca os milagres de Jesus que, a este respeito, apelaprecisamente os seus exorcismos[108]. Efetivamente, nesta ocasio foipronunciada por Jesus a famosa frase: Sem dvida, o reino de Deus

    [102] Sess. XIV: De poenitentia cap. I. C.Oe.D. p. 703; Denz-Sch, 1668.[103] Este rito aparece j no sculo III na Tradio Apostlica (ed. B. Botte, cap.

    21, pginas 46-51) e no sculo IV, na liturgia das ConstituiesApostolorum, VII , 41, editada pelo F.X. Funk, Didascalia et ConstitutionesApostolorum t. I, 1905, p. 444-447).

    [104] Ad Gentes, nn. 3 e 14 (note a citao de Cl 1,13 (e o conjunto da nota 19 donmero 14).

    [105] Gaudium et Spes , n. 37, b.

    [106] Ef 6,11-12, citado pela Lumen Gentium, 43, d.[107] Ef., 6,12, citado tambm pela Lumen gentium, 35, um.[108] Lumen Gentium, 5, a.

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    chegado a vs[109].

    O argumento litrgicoQuanto liturgia, j evocada por sinal, traz um testemunho

    particular, a expresso concreta da f vivida, mas no devemosobrig-la a responder a nossa curiosidade sobre a natureza dos dem-nios, suas categorias e os seus nomes.

    A liturgia o contedo de insistir, de acordo com seu papel naexistncia dos demnios e na ameaa que representam para oscristos, com base nos ensinamentos do Novo Testamento, a liturgiase faz diretamente eco deles, recordando que a vida dos batizados um combate empreendido com a graa de Cristo e o poder do seuEsprito, contra o mundo, a carne e os seres demonacos[110].

    O significado dos novos rituais.

    No entanto, hoje em dia este argumento litrgica deve serutilizado com cautela. Por um lado, os rituais e Sacramentrios

    Oriental, tendo-se reunido ao longo dos sculos menos excluses queintegraes, tem perigo de desviarmos, suas demonologias soexuberantes, por outro lado, os documentos litrgicos latinos,apresentados muitas vezes ao lado da histria, convidar, justamentepor causa dessas mudanas, as concluses igualmente cautelosas.

    Nosso antigo ritual de penitncia pblica expressa fortementeao demonaca sobre os pecadores: infelizmente, estes textos quesobreviveram at hoje no Pontifical Romano[111], h muito tempo que

    j no so utilizados. Antes de 1972, se podia citar tambm as

    [109] Lc 11,20, cf. Mt 12,28.[110] C. Vagaggini, O.S.B., Il senso teologico della liturgia. Saggio di teologia

    liturgica generale, Roma, 1965, 4, cap. XIII, Le due citt, la liturgia e la lottacontro Satana, pginas 346-427; Egon von Petersdorff, De daemonibus inliturgia memoratis. Angelicum, (1942), pp. 324-339; Daemonologie, I.Daemonen in Weltlan, II. Daemonen am Werk, Munich, 1956-1957.

    [111] Leia o Ordo excomunicandi et absolvendi e especialmente a longoadmoestao Quia N. diabolo suadente...', Pontificale Romanum, segundoed. Ratisbona, 1008, p. 392-398.

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    oraes da recomendao da alma, que se recordava o horror doinferno e os ltimos assalto do demnio[112], mas esses textos signi-

    ficativos desapareceram. Acima de tudo, em nossos dias, ocaracterstico ministrio do exorcista, sem ser abolido radicalmenteest reduzido a um servio eventual, e na verdade s subsistem se onecessitam os bispos[113], sem que seja previsto nenhum rito paraconferi-lo. Uma deciso deste tipo no significa, evidentemente, queo sacerdote j no tem o poder de exorcizar, ou no deve exerc-lo,mas isso requer uma constatao de que a Igreja, para no tornar esteministrio uma funo especfica, no reconhece aos exorcismos aimportncia que teve nos primeiros sculos. Sem dvida, estedesenvolvimento deve ser considerada.

    No entanto, no devemos concluir de que houve um retrocesso ouuma reviso de f no campo litrgico. O Missal Romano de 1970continua a refletir a crena existente na Igreja sobre a intervenodemonaca. Hoje, como antes, a liturgia do primeiro domingo daQuaresma recorda aos fiis como Jesus Cristo, nosso Senhor venceu

    o demnio: as trs relatos sinticas de sua tentao so dedicados atrs ciclos A, B, C, leituras da Quaresma. O Proto-evangelho, com oanncio da vitria da descendencia da mulher sobre a serpente (Gn3,15) se l no 10 Domingo do ano B e no sbado da 5 semana. Afesta da Assuno de Nossa Senhora e o comum da Virgem apresenta

    [112] Citamos a orao Commendote Ignores omne, quod horret in tenebris,quod stridet in flammis, quod cruciat in tormentis, cedat tibi teterrimus satans

    cum satellitibus suis...[113] Ele definido no n. IV do motu proprio Ministeria quaedam: insteria in

    tota Ecclesia latina servanda, hodiernis necessitatibus accomodata, duo sunt,'Lectoris' nempe et 'Acolythi'. Partes quae hucusque Subdiacono commissaeerant, Lectori et Acolythae concreduntur, ac proinde in Ecclesia Latina ordomaior Subdiaconatus non amplius habetur. Nihil tamen obstat, quominus exConferentiae iudicio, Acolythu alicubi etiam Subdiaconus vocari possi (AAS,64[1972], pgina 532). Deste modo se suprime o exorcista e no est previstoque os relativos poderes podem ser exercidos pelo leitor ou pelo aclito. O

    motu proprio, declara somente (p. 531) que as Conferncias Episcopais quepodem solicitar para sua regio os ministrios do ostirio do Exorcista edo catequista.

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    a leitura Apocalipse, 12,1-6, isto , a ameaa do Drago contra aMulher d luz, (Mc 3,20-35), que descreve a discusso de Jesus com

    os fariseus sobre Belzebu, faz parte das leituras do 10 Domingo doano B, j mencionado. A parbola do trigo e do joio (Mt 13,23-43)aparece no 16 Domingo do ano A, e sua explicao (Mt 13,36-43) se lna tera-feira da 13 semana. O anncio da derrota do prncipe destemundo (Jo 12,20-23) se l no 5 Domingo da Quaresma do ano B e (Jo14,30) lido durante a semana. Entre os textos dos Apstolos (Ef 2, 1-10) est designado para segunda-feira da 29 semana (Ef 6, 10-20) aoscomuns dos santos e santas e as quinta-feira da 13 semana (Jo 3,7-10)se l em 4 de janeiro, e a festa de So Marcos prope na primeiraleitura de So Pedro, que apresenta o diabo rondando em torno desua presa para devorar. Estas citaes, que para ser completasdevem multiplicar-se, demostram que os textos bblicos maisimportantes sobre o diabo seguem fazendo parte da leitura oficial daIgreja.

    verdade que o ritual da iniciao crist dos adultos foi alterado

    neste ponto e no mais desafia (interpela) o diabo com apstrofesimperativas, mas no mesmo sentido se dirige a Deus em forma deorao[114]. O tom menos espetacular, porm no menos expressivoe eficaz. Portanto, falso pretender afirmar que os exorcismos foramremovidos do novo ritual do batismo. O erro to claro que o novoritual do catecumenato instrudo, antes dos exorcismos, chamadode Maiores exorcismos menores so distribudos ao longo detodo o catecumenato e que desconhecidos no passado[115].

    Os exorcismos pois permanecem. Hoje, como antes, chamando avitria sobre o Satans, o diabo, o prncipe deste mundo e opoder das trevas, e os trs escrutnios habituais, nos que, comoantes, tem lugar exorcismos, possuem a mesma finalidade negativo epositivo de sempre: A liberdade do pecado e do diabo e, ao mesmo

    [114] Ao passo a forma deprecativa (invocao) s foi realizado depois deexperincias, seguidas por sua vez pela reflexo e discusso sobre o

    Consilium.[115] Ordo Iniciao Crist de Adultos, ed. tip., Roma, 1972, nn. 101, 109-118,

    pp. 36-41.

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    tempo, fortalecer em Cristo[116]. A celebrao do batismo infantiltambm mantm em ltima anlise, um exorcismo[117], o qual no

    quer dizer que a Igreja considere essas crianas como outros tantosendemoninhado, mas que crer que tambm elas necessitam de todosos efeitos da Redeno de Cristo. De fato, antes do batismo, cadahomem, criana ou adulto, tem o sinal do pecado e da ao deSatans.

    Em quanto a liturgia da Penitncia privada (auricular), fala hojedo diabo menos do que antes, mas as celebraes penitenciaiscomunitria tem restaurado uma antiga orao, que lembra a in-fluncia de Satans sobre os pecadores[118]. No Ritual da Uno dosEnfermos como j foi referido a orao da recomendao da almano sublinha a presena de Satans, porm no decorrer do rito dauno, o celebrante suplica que o doente seja liberado do pecado ede tudo tentao[119]. O santo leo considerado uma proteo decorpo e a alma e do esprito [120], e a orao Commendote, sem men-cionar o inferno e o demnio, evoca, no entanto, indiretamente, a sua

    existncia e ao, ao pedir a Cristo para salvar o moribundo e ocontar no nmero de suas ovelhas e de seus escolhidos:evidentemente, esta linguagem quer evitar trauma para o enfermo esua famlia, mas no se esquea da f no mistrio do mal.

    [116] Ibid. , n. 25, p. 13 e nn. 154-157, pgina 54.

    [117] Foi assim desde a primeira edio: Ordo Baptismi parvolorum, ed. tip.Roma, 1969, pgina 27, n. 49 e p. 85, n. 221, a nica novidade consiste queeste exorcismo depreciativo, Oratio exorcismi e que a este se segueimediatamente o unctio praebaptismalis (ibid., n. 50), mas os dois ritos,exorcismo e uno, cada um tem a prpria concluso.

    [118] No novo Ordo Paemtentiae, ed. tip. Roma, 1974, nota, no Anexo II daorao Deus conditor benignissime humani generis (pp. 85-86), que, apesarde pequenos ajustes, idntico ao Oratio reconciliationis poenitentium daQuinta-feira Santa (Pontificale Romanum, Ratisbona, 1908, p. 350).

    [119] Ordo unctionis pastoralis eorumque infirmorum curiae, ed. tip. Roma,1972, p. 33, nmero 73.

    [120] Ib., p. 34, n. 75.

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    Concluso

    Em uma palavra, a atitude da Igreja em todo o referente

    demonologia clara e firme. verdade que ao longo dos sculos aexistncia de Satans e seus demnios nunca foi objeto de uma afir-mao explcita de seu Magistrio. A razo est em que a questonunca foi levantada nestes termos: tanto os hereges e como os fiis,baseou-se na Sagrada Escritura, estavam de concordo em reconhecera sua existncia e as suas principais perversidades. Por isso, hoje,quando se pe em duvidas a realidade demonaca, necessrio fazerreferencia como tnhamos recordado h pouco f constante euniversal da Igreja e a sua fonte maior: o ensino de Cristo. Comefeito, a existncia do mundo demonaco se revela como um dadodogmtico na doutrina do Evangelho e no corao da f vivida. Omal-estar contemporneo, que tnhamos denunciado o comeo nope, pois, em discusso um elemento secundrio do pensamento cris-to, seno que compromete a f constante da Igreja, seu modo deconceber a Redeno e, no ponto de partida, a prpria conscincia de

    Jesus. Por isso Sua Santidade o Papa Paulo VI, falando recentementedesta terrvel realidade misteriosa e terrvel do mal, pode dizer comautoridade: Se sai do quadro do ensino bblico e eclesistico quemse nega a reconhecer a sua existncia; ou quem o torna um princpioque existe por si mesmo e no como qualquer outra criatura, a suaorigem em Deus, ou a explica como uma pseudo-realidade, unapersonificao conceitual e fantstica das causas desconhecidas dasnossas desgraas[121]. Nem os exegetas e telogos deveriamesquecer esta advertncia.

    Por isso repetimos que, tambm enfatizam hoje a existncia darealidade demonaca, a Igreja no se prope nem retrocede sespeculao dualista e maniquesta de outros tempos, nem prope umsubstituto aceitvel para a razo. S quer seguir sendo fiel ao

    [121] Pai nosso ... liberta do mal Alocuo na Audincia Geral de 15 deNovembro 1972 (Paulo VI, Lies para o povo de Deus, 1972, p. 183-

    188). O Santo Padre expressou a mesma preocupao), em sua homilia, queprecede 29 de junho: Sede fortes na f (L'Osservatore Romano, edio de 9de Julho de 1972 pginas 1-2).

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    todos os textos? Nada menos certo. Certamente, em outros tempos,havia alguma ingenuidade ao temer encontrar algum demnio em

    cada encruzilhada de nossos pensamentos. Porm, hoje seriaigualmente ingnuo fingir que nossos mtodos digam de imediato altima palavra sobre a profundidade da conscincia, donde seinterferem as relaes misteriosas da alma e do corpo, do sobrena-tural, do preternatural e do humano, da razo e da revelao? Porqueestas questes tm sido sempre consideradas vastas e complexas. Emquanto a nossos mtodos modernos, estes, como os dos antigos, temlimites que no podem traspassar. A modstia, que se tambm umaqualidade da inteligncia, deve conservar seus foros e manter-se naverdade. Porque esta virtude mesmo tendo em conta o futuro,permite desde agora ao cristianismo deixar lugar para a aportao daRevelao, ou mais brevemente, a F.

    E a esta f, na realidade, nos conduz de novo ao apstolo SoPedro, quando nos convida a resistir, fortes na f, ao demnio. A fnos ensina, com efeito, que a realidade do mal um ser vivo,

    espiritual, pervertido e pervertedor[124]

    , e sabe tambm dar-nosconfiana, fazendo-nos saber que o poder de Satans no podeultrapassar os limites que Deus lhe tem marcado, nos asseguraigualmente que, embora o diabo ser capaz de tentar-nos, no podearrancar o nosso consentimento. Sobre tudo, a f abre o corao paraa orao, na qual encontra sua vitria e sua coroao, fazendotriunfar sobre o mal atravs do poder de Deus.

    certo que a realidade demonaca, testificada concretamente por

    aquilo a que chamamos o mistrio do mal, permanece todavia hojecomo um enigma que envolve a vida crist. Ns no sabemos muitomelhor do que os apstolos que o Senhor permite que ele, ou comoele a usa para seus desgnios, porm poderia suceder que, em nossasociedade, cativa pelo horizontalismo secular as explosesinesperadas deste mistrio oferecer um sentido menos refratrio competio. Estes obrigam ao homem a olhar mais longe, que

    impedem nosso caminhar, nos permite discernir a existncia de uma[124] Paulo VI, ibid.

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    vida aps a morte para ser decifrada, e voltar-se para Cristo, paradele ouvir a Boa Nova da salvao oferecida como graa.

    Roma, 26 de junho de 1976