Fé e ciência cosmogonia

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OFICINA HISTÓRICO-ARQUEOLÓGICA DO ANTIGO TESTAMENTO FÉ E CIÊNCIA Da Criação a Babel novembro de 2015

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OFICINA HISTÓRICO-ARQUEOLÓGICA DO ANTIGO TESTAMENTO

FÉ E CIÊNCIADa Criação a Babel

PRELETOR:Leialdo Pulz

novembro de 2015

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História e Arqueologia Bíblica FÉ E CIÊNCIA: da Criação a Babel

Conteúdo

INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................3

COSMOGONIA...................................................................................................................................................................5

MITOLOGIA.....................................................................................................................................................................8

Chave para o passado..................................................................................................................................................8

ANTROPOGÊNESE........................................................................................................................................................12

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INTRODUÇÃO 

O avanço das Ciências nos últimos tempos é um fenômeno realmente impressionante. As barreiras do "impossível" estão sendo transpostas constantemente. Muitas pessoas neste campo, levados pela interpretação materialista da realidade, acabaram abandonando a fé em um Criador, mesmo que os grandes cientistas do passado, como Newton, Paster Morse, Mendel e muitos outros sempre enfatizavam as suas crenças no divino.

Com o tempo, as "Academias do Saber" viraram redutos de incrédulos, e os cristãos acabaram sendo ridicularizados e banidos dos meios acadêmicos. Começaram a prevalecer nestes círculos intelectuais a visão de uma origem espontânea do Universo, da vida e do Homem. A Fé e a Ciência estavam se divorciando.

Contudo, apesar dos esforços dos materialistas ateus, suas teorias que descartam um Criador, vêm se mostrando cada vez mais enfraquecidas diante de evidências que a própria ciência têm trazido à luz.

O que a Antropologia, Geologia, História, Arqueologia, Genética Astronomia, Física e outras ciências estão nos revelando? Será que elas negam ou endossam a existência de uma Razão Criadora por trás de tudo?

Através das evidências observáveis em campo e na literatura mundial, faremos uma reconstrução do que aconteceu há milhares de anos atrás, que compreende a História Universal Comum a todos, sendo ela composta de: Criação, Queda, Dilúvio Universal e Dispersão dos povos descritos em Gênesis 1-11. Com esta reconstrução histórica realizada, obteremos elementos para uma apologética cristã (Defesa da Fé).

Trataremos desta forma dos

seguintes assuntos em nosso curso:1. Cosmogonia: A Origem do Universo2. Antropogênese: Princípio da

Humanidade3. Catastrofismo: O Dilúvio Universal4. Dispersão: Do Ararate à Babel

Partindo das mais novas visões da origem do Universo, segundo a ótica das ciências, analisaremos nosso conhecimento que temos sobre o Universo. Buscaremos então em relatos dos povos espalhados pela linha de tempo de nossa História e pelas distâncias geográficas de nosso planeta, como o homem tem compreendido o Todo (Universo e seu mundo) que o envolve.

Depois passaremos à questão da biogênese, ou seja, a origem da vida em si, e a Antropogênese, que é a origem de nossa raça.

Veremos depois como os relatos de uma Catástrofe universal se repetem por milhares de culturas, em todo o mundo. Analisaremos este fenômeno sob o prisma de algumas Ciências, e reconstruiremos, através de evidências colhidas em campo, o que ocorreu em nosso planeta há alguns milhares de anos.

Passaremos então para a reconstrução Histórica dos primeiros passos de nossa raça no sentido da estruturação social, econômica e religiosa, percebendo os estágios que levaram ao episódio conhecido como Torre de Babel e suas consequências, em especial, a dispersão dos povos e formação dos ramos étnicos que hoje observamos em tribos, povos e culturas em todos os continentes.

Por fim, teremos o desafio de estudarmos com mais profundidade as Escrituras para estarmos "sempre

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preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós". (1Pe 3.15)

Leialdo Pulz

PROPOSTA:

Através das evidências observáveis em campo e na literatura mundial, fazer uma reconstrução do que aconteceu em nosso planeta há milhares de anos atrás, que compreende a História Universal Comum a todos, sendo: Criação, Queda, Dilúvio Universal e Dispersão dos povos descrito em Gênesis 1-11. Com esta reconstrução histórica realizada, obter elementos para uma apologética cristã (Defesa da Fé).

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COSMOGONIA A Origem do Universo

O que é Cosmogonia?Segundo a definição do dicionário,

Cosmogonia é: 1. Criação ou origem do universo,

especialmente como objeto de estudo ou de especulação.

2. Cada uma das diferentes teorias filosófico-religiosas, criadas pelo homem, através dos tempos, que pretendem explicar a origem do universo. 

3 Astronomia: Estudo da origem e desenvolvimento do universo e dos seus componentes. 

4 Visão de mundo, conceito pessoal de realidade.

A Cosmogonia é um assunto que permeia toda a história humana. Desde as mais antigas civilizações, até o mundo moderno, nós temos buscado uma explicação para a existência do universo que nos rodeia.

Várias tentativas foram feitas ao longo de milhares de anos. A maioria delas, atualmente, podem ser encaixadas dentro de categorias Mitológicas. Contudo, a ciência moderna ainda sente dificuldades em poder apresentar um modelo satisfatório para a questão.

TEORIAS COSMOGÔNICAS Basicamente existem duas linhas

de explicação para a origem do nosso universo, o sistema de um Universo Estático e o do Universo em expansão.

UNIVERSO ESTÁTICOEsta teoria sustenta que o universo

é imutável, infinito, que sempre existiu e sempre existirá. Alguns dos defensores desta posição foram Tales de Mileto, Aristóteles, Galileu Galilei e Albert Einstein.

UNIVERSO EM EXPANÇÃOSegundo esta posição, o Universo

avança em todas as direções, ou seja, ele é mutável, teve um início e terá um fim.

Este conceito, apesar de encontrar paralelos em Cosmogonias antigas, recebeu sua ropagem moderna depois das descobertas de Edwin Hubble em 1929. O universo, de acordo com o modelo, tem suas galáxias se afastando umas das outras, o que foi comprovada pela constante de Hubble.

O próprio Einstein, após verificar os trabalhos de Hubble acaba por adotar o sistema de um Universo em expansão.

BIG-BANG

O passo seguinte à descoberta de Hubble foi: se o universo está se expandindo, então, ao "voltarmos o filme" no tempo, deveríamos chegar a um ponto de onde tudo começou. Coube a George Gamow, em 1948, sugerir uma nova teoria, que veio a ficar conhecida como Teoria do Big-Bang. O universo então teria surgido de uma grande explosão cósmica, que criou o espaço e o tempo.

Este modelo acabou por se popularizar nos meios acadêmicos, sendo atualmente o mais aceito para explicar a origem do Universo, apesar de não ser o único modelo existente.

CONCEITOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS

Muitos estudiosos têm buscado uma correlação das narrativas cosmogônicas bíblicas e a teoria do Big-Bang.

A primeira questão que nos sobressai é que o Universo não seria eterno, mas teria um princípio e um possível fim, como afirma o próprio texto bíblico (Ge 1.1), que relaciona a criação do espaço-tempo à pessoa do Criador.

Com esta descoberta, a expansão do universo, era enfraquecida as acusações contra as Escrituras de uma inconsistência científica , pois a própria ciência agora estava apontando para a exatidão da premissa bíblica sobre a origem do Universo.

Em relação à expansão, pode-se notar algumas "curiosidades" bíblicas sobre o assunto.

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"...é ele (Deus) o que estendev os céus como cortina, e os desenrola como tenda, para neles habitar." Is 40.22

"Eu sou o Senhor que faço tudo, que sozinho estendo v os céus, e espraio a terra por mim mesmo;" Is44.24

"Ele fez a terra com o seu poder; ele estabeleceu o mundo com a sua sabedoria, e com a sua inteligência estendeu v os céus." Jr 10.12

Podemos ainda ver: Is 48.13; 51.13; Jr 51.15; Zc 12.1.

Todos estes textos trazem a palavra vַהּנֹוֶטה (haNoteh), que significa "ele está estendendo".

Segundo alguns estudiosos, os textos mencionados confirmam a ideia de que o Universo realmente expandiu e ainda pode estar neste processo.

QUAL É A CAUSA DO UNIVERSO Se o Universo teve um início, como

explica a teoria vigente, então cabe a pergunta: Este início teve uma Inteligência que o causou, ou tudo foi uma ação arbitrária, ditada pela total casualidade?

Questões fundamentais: Se foi causal, como explicar a

assimetria balanceada perfeitamente para que tudo viesse a existir ao invés do colapso? (Matéria e AntiMatéria)

Por que existe algo ao invés do NADA?

Segundo a lei das probabilidades, o Universo não deveria existir, se fosse fruto do acaso. Para tentar explicar esta casualidade, surgem algumas teorias "científicas". Mas quanto mais se "explica", mais se vai percebendo que seria impossível termos um universo como o conhecemos, apenas por forças aleatórias do acaso. Einstein mesmo teria reconhecido que "Deus não joga dados com o Universo".

Uma das tentativas de explicar o Universo, apega-se à denominada "matéria e energia escura". Elas receberam esta nomenclatura por não terem ainda sido explicadas, formando uma espécie de caixa preta na

Cosmologia. Atualmente calcula-se que cerca de 96% de todo o Universo conhecido é formado por "matéria e energia escura", e apenas 4$ do que identificamos como matéria e energia "visível" ao nossos sentidos.

Apesar de não podermos perceber estas "matéria e energia escura", elas são conhecidas no mundo científico. Usando estas "desconhecidas", alguns apontam para elas na tentativa de explicar o Universo.

Para que haja uma inflação em aceleração do Universo (expansão do Espaço) como apontam as pesquisas de Hubble e posteriores, precisamos, por exemplo que a quantidade de Energia Escura que faça com que este universo esteja expandindo de forma acelerada (ela age como um acelerador num carro).

Para termos esta expansão nos níveis que temos, precisaríamos de uma medida exata desta energia escura atuando, nem mais, nem menos. A quantidade necessária é de 1X 10-122 !!! Se tirarmos 4 zeros, teríamos a inexistência do Universo que conhecemos.

Esta precisão assustou os cientistas, pois era um número muito específico para ser aleatório.

Por que existe o nosso Universo

então? Quem colocou esta quantidade

de Energia?

MULTIVERSOS:A Teoria do Multiverso surge, entre

outros fatores, para ajudar a explicar tamanha "coincidência" nos números. de forma resumida, o raciocínio é o seguinte: se existem muitos universos, um dos infinitos Universos deveria ter a quantidade necessária de Energia Escura que observamos no nosso. em outras palavras, tivemos muita sorte de estarmos neste aqui que não se autoaniquilou.

Contudo, a teoria do Multiverso acaba aumentando uma necessidade de um Criador e Organizador.

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O exemplo do caso do Violonista Divino pode ilustrar (ainda que opacamente) como isto é grandioso.

A Cosmologia necessita cada vez mais de um Violonista, e é isto que o texto bíblico vem afirmar, que "no princípio Deus criou os céus e a terra" (Ge 1.1).

A CRIAÇÃO EX-NIHILO“Desde que o Universo tivesse um

início, poderíamos supor a existência de um criador. “ Stephen Hawking, A Brief History of the Time, p. 156.

Hawkings, ateu professo, sempre se debate com a grande questão das origens do Universo, dedicando páginas e mais páginas ao assunto. contudo, seu dogma ateísta não o deixa reconhecer aberta e definitivamente a necessidade de uma mente criadora para o cosmos e a descrição dos atos criativos descritos na Bíblia.

Mas, por mais que nos esforcemos para entender o texto cosmogônico de Gênesis, sua interpretação tem gerado algumas teorias explicativas sobre o processo da criação. Vejamos as mais importantes:

Teoria da Interpretação Literal

Teoria do Dia-Era Teoria da Lacuna

Segundo a Teoria da Interpretação Literal, devemos interpretar o texto de Ge 1 de forma literal, onde cada "dia" deve ser interpretado como um período de 24 horas. Desta forma, o Universo teria sido criado, tomando as genealogias descritas em Gênesis de forma literal, em 4004 a.C. Ou seja, o Universo todo teria uma idade de cerca de 6.000 anos.

A Teoria do Dia-Era propõe que a palavra "dia" seja interpretada como uma Era, cujo tempo exato não pode ser determinado. Ainda se apela para o texto de 2 Pedro: 3.8: "Não se esqueçam disto, amados: Para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos com um dia". Desta forma, o universo seria um pouco mais

velho, algo ao redor de 13.000 anos. Mas poderia ser mais velho, se a palavra "dia" for entendido como "Era" indefinida.

A Teoria da Lacuna nos diz que existe um hiato de tempo entre o verso 1 e 2 de Gênesis 1. Este "tempo perdido" não pode ser calculado, justamente por não termos informações sobre o assunto. Basicamente a argumentação se dá em cima da tradução do verbo "era" do verso 2. Esta palavra ָהְיָתה (HAYETÁ) pode ser traduzida de outra forma: ser, tornar-se, existir, acontecer.

Assim sendo, o verso "A terra era sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo..." (Ge 1.2ª) poderia se traduzido como: "A terra tornou-se sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo..."

E isto mudaria completamente o sentido do texto!

Há muito tempo que os estudiosos notaram um especificidade na estrutura do texto de Ge 1.

Percebeu-se que existe uma espécie de simetria hebraica no texto sobre os 6 dias da criação, conforme vemos abaixo:

Dia 1- Luz Dia 2 - Água Dia 3 - Terra

Esta particularidade levou muitos a suspeitarem que o texto busca uma forma didática (não absolutamente literal) de transmissão da história da origem de tudo.

Chama a atenção ainda ao fato de o Universo (céus e a terra) serem mencionados no verso 1. O que vem abaixo está relacionado exclusivamente ao nosso planeta. Em outras palavras, o universo é laconicamente descrito como criado por Deus numa única sentença, e depois vêm o trabalho moldurador de Deus do nosso mundo.

Enfim, não há consenso sobre este tema da interpretação de Gênesis 1. Apenas podemos afirmar que o texto aponta para um Criador de tudo que existe, sem detalhar os processos cientificamente.

► Dia 4 - Luzeiros (Estrelas)

► Dia 5 - Animais marinhos

► Dia 6 - Animais terrestres

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MITOLOGIA: Chave para o passado

O que é Mito?Nos últimos séculos, após a

ascensão da hegemonia da "Ciência", a palavra Mito acabou por tomar uma ideia de algo negativo, se tornando pejorativo, no sentido de uma fábula, história inventada, algo não real, inexistente, etc. Um olhar evolucionista sobre os “primitivos” povos afetou esta visão dos mitos antigos. Segundo esta ideologia evolucionistas, nossa sociedade atual é mais desenvolvida e sábia do que as supersticiosas e atrasadas do passado.

Porém, após a descoberta de uma Tróia verdadeira por Schliemann, este conceito teve que ser revisto. Atualmente, apesar de popularmente a palavra Mito ainda carregar uma conotação negativa, existem muitas pessoas acadêmicas que levam os Mitos muito a sério.

O Mito passou a ser entendido pelos especialistas no assunto como um reflexo de uma realidade. O trabalho destes estudiosos é encontrar o que há por trás dos mitos. O que os mitos estão tentando transmitir, qual sua história?

E parece sempre haver alguns assuntos que se sempre repetem ao redor de todo o nosso planeta. Seria muita coincidência todos estarem interessados pelos mesmos assuntos, e de forma razoavelmente homogênea estarem relatando os mesmos casos em seus mitos?

Um dos assuntos mais recorrentes são os relatos cosmogônicos. Este assunto não é uma exclusividade dos judeus, mas aparece em todas as culturas que conhecemos, que de alguma forma preservaram por tradições orais ou escritas. O que impressiona qualquer estudioso é o fato de termos assuntos semelhantes onde, segundo o relato bíblico, deveríamos esperar que eles realmente aparecessem, ou seja, os assuntos de relevância universal. Este conteúdo de conhecimento histórico universal é o que está descrito entre

Gênesis 1 e 11. Após isto, os povos se dispersam e vão trilhar seus caminhos, e suas histórias e mitos começam então a tomar rumos próprios.

Um fenômeno comum quando tratamos com esta questão de Mitos são as distorções proporcionadas pelo deslocamento na linha tempo-espaço. Ou seja, quanto mais longe geograficamente e temporalmente da fonte primária da história em questão, maiores são as distorções que ela apresentará. Isto pode ser exemplificado pela brincadeira "telefone sem fio".

No caso do nosso estudo, quanto mais nos aprofundamos no tempo, maiores são as evidências de um começo comum.

Neste sentido, podemos verificar igualmente que os Mitos adaptam-se à realidade de quem os conta (geografia,

cultura, alimentação, etc.).Com isto em mente, podemos

vasculhar algumas culturas separadas por enormes distâncias geográficas e temporais para buscar uma resposta a questão de como os povos contavam suas cosmogonias.

EGITOComeçamos por uma das

sociedades organizadas mais antigas e ricas culturalmente, a egípcia.

Eles acreditavam que o mundo teve um começo. E este começo era ligado com uma divindade, que era conhecida por diferentes nomes ao longo do vale do rio Nilo. Esta divindade (Atum, Rá, Amon ou Ptah) havia formado tudo a partir de Nun, o oceano cósmico, e das trevas infinitas. Foi deste "oceano" que surgiu, pela palavra divina, a porção de terra

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(Ben-ben). Depois disto são criados os 8 deuses, que são  Shu, deusa do ar; Tefnut, o deus da umidade. Eles, por sua vez, fizeram Geb, deus da terra, e Nut, a deusa do céu. Geb e Nut eram os pais de Osíris, Set, Ísis e Néftis, os primeiros deuses a habitarem na terra.

Poderíamos dizer que o deus X, criou por sua palavra e Espírito o espaço (ar), o céu (Nut) e a Terra (Geb). Da união do céu com a terra temos a formação dos primeiros pares divinos na terra.

Um hino egípcio traz as seguintes palavras sobre a criação:

O Senhor de todos, depois de passar a existir, disse: Eu sou aquele que passou a existir como Quepri (isto é aquele que se transformou). Quando eu passei a existir, aí vocês passaram a existir, e todos os seres passaram a existir. Depois que eu vim a ser, muitos são aqueles que vieram a ser, que saíram da minha boca (palavra). Antes do céu existir, a terra não existia. Nem gatos, nem cobras existiam neste lugar. Em estado de tédio eu me encontrava, atado a eles no abismo das Águas (Nun). Eu não encontrava lugar onde ficar de pé. Eu pensava em meu coração e sozinho no meu pensamento fiz todas as formas. Antes de eu cuspir qualquer outro que estava em mim para que viesse a existir, planejei tudo em meu coração. E muitas formas de seres passaram a existir. Fui eu quem os criou. E o meu olho os acompanhava enquanto ele se distanciavam de mim.

Como se pode ver, existem elementos comuns à narrativa de Gênesis. você consegue alista-las?

Outro fato curioso é o monoteísmo primitivo dos primeiros egípcios. Apesar de seu efervecente politeísmo posterior, hoje sabe-se que a crença num único Deus dominava os primórdios da religião local.

De acordo com Wallis Budge, os egípcios " acreditavam em um Deus supremo, auto -nascido, todo-poderoso e eterno, que criou os outros deuses, o sol , a lua, a terra e tudo o que nela há, incluindo os seres humanos, animais, aves, peixes e répteis".

"Este Deus, Budge disse, nunca se tentou representar por qualquer forma, figura, similaridade ou semelhança, pois os egípcios entendiam que uma pessoa não pode desenhá-lo ou descrevê-lo, e que todos os seus atributos estão além dos limites da compreensão humana. Nas raras ocasiões em que mencionavam este Deus supremo em seus textos, eles sempre o chamavam de NE-TER, ou seja, DEUS, e não lhe deram quaisquer nomes". O significado primário da palavra NE-TER ainda é desconhecido.

Em grego, a palavra equivalente é theos, e em inscrições bilíngües posteriores as palavras theos e nTrand aparecem mais ou menos lado a lado, deixando claro que a tradução correta para NE-TER é "deus" (Dunard & Zivie-Coche 2004: 8).

A antiga palavra NE-TER sobreviveu através da história faraônica e já durante o período do cristianismo copta, ela se tornou o vocabulário para o Deus cristão (Faulkner, 1962: 143)

LIVRO MAIA DO POPOL-VUH

 ”Livro da comunidade”, livro da cultura maia, cujo tema é a criação do mundo. O manuscrito original do Popol vuh pode ter sido escrito por volta de 1554-1558, usando o alfabeto latino no idioma quiché. O documento foi traduzido para o espanhol em 1701, e encontra-se hoje em Chicago, EUA.

Vejamos o trecho da Cosmogonia, segundo o Popol-Vuh:

"Esta é a história do tempo em que tudo estava em suspensão, calmo e silencioso, tudo estava imóvel e o céu estava vazio. Esta é a primeira palavra, a primeira narrativa: não havia homens, nem animais, pássaros, peixes, lagostas, árvores, pedras, cavernas, barrancos moitas ou Florestas. Só havia o céu. Em lado algum se via a

Hieróglifo egípcio para a palavra "Deus"

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terra; todo o mar se espalhava no céu; nenhum corpo existia; nada havia terminado no céu; nada se movia; era tudo absorção; era tudo imobilidade quando o céu ficou terminado. Nada emergiu.

Só havia o mar imóvel e o céu que se estende por cima... A Face da Terra ainda não existia para ser vista. Só o Mar sereno e a vastidão dos céus. Nada ainda se formara em um corpo. Nada se unira a nada. Não havia equilíbrio nem sussurro. Nada havia em posição vertical no mar, solitário dentro dos seus limites pois até então nada existia.

Só havia imobilidade e silêncio na escuridão da noite. Sozinhos estavam o Criador, o Autor Tepeu, o Senhor e Gucumatz, a serpente Emplumada. Aqueles que geram, sozinhos sobre as águas como uma luz crescente..."

AS TÁBUAS DO ENUMA ELISH O texto cosmogônico sumeriano

conhecido como Enuma Elish, cujo significado é ”Quando lá no alto”, deve seu nome às primeiras palavras encontradas na Tábua 1. O texto, em algumas partes fragmentadas, é composto por 7 tábuas, cada uma delas contando a etapas na criação do Universo. Muitas semelhanças são apontadas com a narrativa de Gênesis, como o fato de serem 7 tábuas, correspondendo aos dias da criação bíblico, mais o descanso. Chama atenção ainda que a narrativa da formação do ser humano é descrita na sexta tábua, e no sétimo dia as divindades descansaram de seu labor.

Contudo, são apontadas diferenças importantes dentro do texto, como as batalhas entre divindades, que não ocorrem no texto bíblico, ao menos em Ge 1.

Entretanto, uma rápida olhada no texto nos faz perceber esta história primitiva comum que brota de num passado distante.

TÁBUA I Quando no alto o céu não era

nomeado, que embaixo a terra não tinha nome; que o primordial Apsu (abismo), de quem nascerão os Deuses; a genetriz Tiamat (oceanos/Espaço), que os parirá; todos misturavam em um só todas as suas águas; que aglomeradas não estavam às pastagens, nem visíveis, os canaviais; enquanto que dos Deuses nenhum ainda aparecera, não era dotado de nome nem provido de destino, então, de seu seio, os Deuses foram criados.

Lahmu, Lahamu (Sol e Lua) apareceram. Eles, os primeiros, tiveram um nome. Após terem crescido e se desenvolvido, Anshar, Kishar (Céu –atmosfera - e Terra) foram criados, superiores àqueles. Tiveram longos dias, ajuntaram anos, depois Anu (Céu, abóboda) foi seu filho, igual a seus pais. Anshar fizera semelhante a ele Anu, seu primogênito. Igualmente, Anu, à sua imagem, gerou Nudimmud. Nudimmud, por seus pais, foi o soberano: de vasto entendimento, sábio e de forças, robusto, mais potente ainda que Anshar que gerou seu pai. Ele era sem rival entre os Deuses, seus companheiros.

Novamente, retirando as camadas de distorções e adaptações que mencionamos anteriormente, que são nitidamente detectadas, e termos centro axial, ao redor do qual a narrativa suméria e de outras culturas antigas giram.

RIG VEDA - Livro dos Hinos, O documento mais antigo da

literatura hindu, composto de hinos, rituais e oferendas às divindades. Possui 1.028 hinos e foram compostos no idioma sânscrito védico, Estima-se que foi escrito por volta de 1700–1100 a.C.

A parte que nos interessa neste estudo é a narração sobre a criação do mundo. Vejamos o texto e façamos nossas

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observações sobre a sua singularidade e pontos de contato com a cosmogonia bíblica.

Rig Veda 10.129 1. No começo, nem o não-ser

nem o ser eram. Também não havia o espaço obs-curo nem a abóbada luminosa. O que se ocultava? Onde? Sob que protecção? O que era a água? Abismo profundo?

2. No começo, não havia nem morte nem imortalidade. Não havia nenhum signo distintivo da noite ou do dia. O uno res-pirava, sem agitação e sustinha-se a si próprio. Nenhum outro estava para além.

3. No começo, as trevas estavam escon-didas pelas trevas; sem nenhum traço distintivo tudo era um fluir indistinto. Aquele princípio vital, aquele fluir envolto na obscuridade, surgiu finalmen-te através do poder do calor.

4. No começo, o desejo intenso surgiu tornando-se a primeira semente do pensamento. Poetas sábios que procura-ram mentalmente no seu coração desco-briram a unidade do ser e do não-ser.

5. O raio de luz que estava estendido nas trevas; Mas o que é que estava em cima e o que estava em baixo? Poderes seminais tornavam férteis forças poderosas; Por baixo estava a força e em cima a infinita extensão.

6. Mas, afinal, quem sabe? Quem o pode assegurar donde é que tudo veio? Como a criação se deu? Os próprios deuses surgiram depois da criação quem sabe realmente de onde tudo surgiu?

7. Desde que a criação surgiu - aquele que a formou ou talvez não, aquele que a contempla na abóbada do céu, Só ele sa-be - ou talvez não.“

Não se pode deixar de notar semelhanças impressionantes com Gênesis. Fazendo o processo de desmistificação e remoção das camadas mitológicas provocadas pelo tempo e a

distância da história original, encontramos em suas palavras ecos claros de uma História comum.

TEOGONIA - Nascimento dos deuses

Os gregos também preservaram uma tradição sobre a criação do mundo. Ela está contida nos escritos de Hesíodo, conhecida como TEOGONIA.

Sobre a criação, ele escreve o seguinte:

"Certamente, muito antes de tudo existia Caos. Somente depois surgiram: Geia (Terra), de amplo seio, sólido sustento de todos os imortais que habitam o cume nevado do Olimpo, o tenebroso Tártaro, (“Inferno”) nas profundezas da terra, de vastos caminhos, e Eros (desejo), o mais belo dos deuses imortais, aquele que enfraquece os membros, dominando o espírito e a vontade prudente no íntimo de todos os deuses e de todos os mortais. Também de Caos nasceram Érebo e a negra Nix. Então por sua vez, de Nix nasceram Éter e Hêmera, aos quais ela concebeu e pariu após sua união amorosa com Érebo".

Como podemos ver, os gregos também compartilhavam de uma narrativa muito parecida com o descrito em Gênesis. Mas isto só é perceptivel se retirarmos as camadas mitológicas depositadas ao longo do tempo e no processo de distanciamento geográfico. Contudo, o núcleo do conceito primordial sobre a criação continua ali presente.

TAOÍSMOA China, uma das mais antigas

civilizações humanas conta com sua própria narrativa sobre a criação. Nos escritos taoístas, podemos ler o seguinte:

No princípio era o Caos. Do Caos veio apura luz que construiu o Céu. As partes mais concentradas juntaram-se para formar a Terra.

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Céu e Terra deram vida às 10 mil criações [Natureza], o começo, que contém em si o crescimento, usando sempre o Céu e a Terra como seu modelo.

A formula "princípio" mais "caos" se faz presente na narrativa, como percebemos em Gênesis. Outro elemento crucial é a "luz" (Ge 1.3). O aparecimento do "céu" e da "terra" igualmente se fazem presentes como no texto bíblico. Após isto, se encontra a criação da natureza, resultado de um ato criativo num mundo preparado para a vida.

CONCLUSÃO:Como explicar todas estas

coincidências nas narrativas ao redor do mundo, se não por uma proto-história comum? Como justificar tantas semelhanças embaraçosamente universalmente presentes nas narrativas?

A resposta nos parece óbvia, ao olhar pelos olhos da lógica: Houve um começo comum à todos os humanos. Eles ouviram a narração da criação de uma única fonte, e passaram ao longo das eras para as gerações que vinham. As distorções são um fenômeno que vai ocorrendo conforme o tempo e o espaço vão se ampliando entre a fonte e as gerações que vieram.