Fé e politica - para que todos tenham vida

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Fé e Política: para que todos

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APRESENTAÇÃO

Irmãos e irmãs, Paz e Bem.

Chega até vocês um novo material de formação de Fé e Política, cuja finalidade é ser uma iniciação a este assunto; infelizmente, não muito discutido entre nós, cristãos católicos.

Os encontros visam, minimamente, responder a uma demanda constatada durante as visitas do Secretariado de Missão e Evangelização às paróquias confiadas aos frades franciscanos da Província Santa Cruz (Minas Gerais e extremo sul da Bahia).

Estamos num ano muito importante no cenário político brasileiro. Teremos eleições para vários cargos de governo e em setembro haverá o Plebiscito Popular sobre a Reforma Política. Como cristãos, não podemos nos omitir perante esses acontecimentos. Muitos irmãos e irmãs nossos, – ou nós mesmos, às vezes, – estão em situação precária devido às escolhas políticas mal feitas. Queremos vida em abundância, para nós e para todos.

Ao todo são seis encontros, os quais sugerimos que sejam refletidos em pequenos grupos, a fim de facilitar a participação das pessoas. Cada encontro está estruturado sobre dois eixos: um olhar em Jesus e um olhar em nós, e busca confrontar os discípulos e discípulas do Ressuscitado a se abrirem à causa pública. Como Jesus, queremos que todos tenham vida e socorreram os que estão à margem do caminho.

Os grupos tenham toda liberdade para adaptar o roteiro conforme a realidade local. Os cantos e a dinamização dos leitores são meramente sugeridos.

Que Francisco de Assis, irmão universal, cantor da paz e do cuidado para com a criação nos inspire nessa caminhada.

Que Maria, Mãe da Igreja, nos ensine a fazer tudo o que Ela nos disser.

Que o Espírito do Ressuscitado nos conduza pelos caminhos da Justiça e da Vida.

Fraternalmente,

Frei Oton da Silva Araújo Júnior, ofmPela equipe de redação

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Equipe responsável

Frei Felipe Marcelino da Silva Sousa, ofm

Frei José Roney de Freitas Machado, ofm

Frei Oton da Silva Araújo Júnior, ofm

Ilustrações: José Vitor Rabelo

Iniciativa: Secretariado de Missão e Evangelização, Província Santa Cruz.

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ORAÇÃO INICIAL PARA TODOS OS DIAS

Senhor nosso Deus, Tu nos acompanhas em nossa vida, estamos reunidos, como irmãos e irmãs, em torno da Tua Palavra. É o Senhor quem nos dá forças, não nos deixa desanimar. Assim como Jesus, queremos que a vida prevaleça, que a paz reine no mundo. Iniciamos nosso encontro, colocando-nos na presença da Trindade Santa: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Diz o Senhor: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Como cristãos, somos anunciadores do Evangelho, promotores da vida, amantes da justiça, irmãos de todas as criaturas. Envia sobre nós o Teu Espírito, capaz de inflamar o nosso coração, e de nos fazer misericordiosos, segundo a Tua Palavra.

Cantemos: envia Teu Espírito Senhor e renova a face da Terra.

Rezemos juntos o salmo 15

Lado A: Senhor, quem morará em vossa casa e no vosso monte santo habitará?

Lado B: É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente.

Lado A: Que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua.

Lado B: Que em nada prejudica o seu irmão, que não cobre de insultos seu vizinho.

Lado A: Que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honra os que respeitam o Senhor.

Lado B: Que sustenta o que jurou, mesmo com dano, não empresta seu dinheiro com usura.

Todos: Nem se deixa subornar contra o inocente jamais vacilará quem vive assim.

Neste encontro, trazemos presentes todas as pessoas de nossas comunidades, sobretudo as que estão passando por momentos difíceis em suas vidas. Estamos em comunhão com todos os injustiçados da Terra, todas as crianças e jovens sem sonhos e sem brilho nos olhos.

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Cantemos:

Levanta-te, chega pra cá e vem para o meio! Levanta-te, une teu canto a nosso cantar! Levanta-te, chega pra cá e vem para o meio! Levanta-te, vem companheiro(a) à vida brindar!

Rezemos pelos nossos governantes, para que se deixem inspirar pelo Deus de Justiça e bondade. Rezemos por todo o povo brasileiro, que este ano irá escolher seus novos representantes. Por todas as pessoas da Terra, de todas as raças e línguas, culturas e religiões, que saibamos construir um mundo justo e fraterno, melhor de se viver e para deixarmos de herança para nossos filhos.

Rezemos o Salmo 45 (46) (alternado, em grupo ou cada pessoa lendo um tracinho)

– O Senhor para nós é refúgio e vigor, *

sempre pronto, mostrou-se um socorro na angústia;

– assim não tememos, se a terra estremece, *

se os montes desabam, caindo nos mares,

– se as águas trovejam e as ondas se agitam, *

se, em feroz tempestade, as montanhas se abalam:

– Os braços de um rio vêm trazer alegria *

à Cidade de Deus, à morada do Altíssimo.

– Quem a pode abalar? Deus está no seu meio! *

Já bem antes da aurora, ele vem ajudá-la.

– Os povos se agitam, os reinos desabam; *

troveja sua voz e a terra estremece.

– Conosco está o Senhor do universo! *

O nosso refúgio é o Deus de Jacó!

– Vinde ver, contemplai os prodígios de Deus *

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e a obra estupenda que fez no universo:

– reprime as guerras na face da terra, †

ele quebra os arcos, as lanças destrói, *

e queima no fogo os escudos e as armas:

– ‘Parai e sabei, conhecei que eu sou Deus, *

que domino as nações, que domino a terra!’

– Conosco está o Senhor do universo! *

O nosso refúgio é o Deus de Jacó!

Todos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *

Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

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Primeiro Encontro

AS EXIGÊNCIAS DE NOSSA FÉ

Motivação

Queridos irmãos e irmãs, sejamos todos bem-vindos a este nosso encontro. Iniciamos hoje um caminho muito importante. Nele vamos refletir sobre a relação estreita que há entre nossa fé e a política. Queremos um mundo novo, mais justo, com oportunidades para todos. Isso não vai cair do céu, passará pelas instâncias da política.

Neste primeiro encontro, vamos refletir sobre as exigências de nossa fé. Antes de tudo, temos de nos lembrar de que a primeira exigência da fé se dá na síntese dos Mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Ter fé é entregar o coração a Deus, e agir em favor dos irmãos e irmãs à nossa volta.

Canto

1. Eu venho do Sul e do Norte, do leste do oeste, de todo lugar. Estradas da vida eu percorro, levando socorro a quem precisar. Assunto de paz é meu forte, eu cruzo montanhas e vou aprender: o mundo não me satisfaz, o que eu quero é a paz, o que eu quero é viver.

No peito eu levo uma cruz, no meu coração o que disse Jesus (2x)

2. Eu sei que não tenho idade da maturidade de quem já viveu. Mas sei que já tenho a idade de ver a verdade o que quero é ser eu. O mundo ferido e cansado de um triste passado de guerras sem fim, tem medo da bomba que fez e da fé que desfez, mas aponta pra mim.

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Um olhar em Jesus

Leitor 1: Somos discípulos e discípulas de Jesus. Em sua vida, o Mestre de Nazaré foi sinal de vida e esperança para muitos que se aproximaram dele. Aqueles que estavam jogados à margem da vida, Jesus fez caminhar, fez ver um mundo diferente, escutar outras vozes. Saciou os famintos e deu água viva aos sedentos.

Leitor 2: Para Jesus a vida estava em primeiro lugar, antes mesmo que as práticas religiosas e os arranjos políticos. Mas nem todos aceitaram o jeito de Jesus. Era estranho vê-lo convivendo com os pecadores, interessando-se por aqueles pelos quais ninguém ligava.

Leitor 3: No início de sua vida pública, Jesus tomou para si a passagem do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).

Leitor 4: A missão de Jesus é voltada, de maneira especial, para aquelas realidades mais gritantes de humanidade. Em seu projeto não cabem exclusões, abandonos, considerar-se melhor que os demais, o menosprezo. O projeto de Jesus quer integrar a todos.

No Sermão da Montanha (cf. Mt 5), Jesus inverte uma lógica, assim como o Cântico de Maria também faz (cf. Lc 1,46-55): aqueles que hoje são desprezados pelo mundo são os preferidos de Deus. Aqueles que choram serão consolados, os primeiros hoje serão os últimos no Reino.

Leitor 5: No capítulo 15 do evangelho de São Lucas, aparecem algumas figuras muito importantes: a ovelha, a moeda perdida e o filho pródigo. Estas parábolas mostram que os valores do Reino nem sempre coincidem com os nossos. Na conhecida parábola do bom samaritano (Lc 10, 30-37), Jesus nos faz um importante alerta: nossas práticas religiosas não podem nos afastar dos caídos do caminho, e que muitas vezes a ajuda vem de onde menos esperamos (os samaritanos eram rivais do povo judeu).

Leitor 6: Seguir Jesus é percorrer os seus caminhos, fazer nossas as opções que eram dele. Nossa fé é uma fé exigente, que nos impulsiona em direção às pessoas. Ele quer que todos tenham vida, e não qualquer vida, mas uma vida transbordante, plena (Jo 10,10). Mãos à obra.

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Vamos aclamar a Palavra de Deus

Eu vim para escutar Tua Palavra, tua Palavra, tua Palavra de amor.2. Eu gosto de escutar tua Palavra...3. Eu quero entender melhor...4. O mundo ainda vai viver...

Ler na Bíblia: Lc 10, 30-37 (Bom samaritano)

Um olhar em nós

Leitor 1: Não nos basta ter fé em Jesus, é preciso ter a fé de Jesus: o coração voltado para Deus e as mãos voltadas para os irmãos. Uma fé que nos faz próximos, companheiros de estrada, de sonhos e lutas.

Diariamente vemos notícias que nos entristecem, nos preocupam: a violência, a falta de oportunidade, os privilégios, as exclusões e tantas outras coisas fazem parte de nosso cotidiano. O risco é de nos acostumarmos com isso, de achar que nada pode ser feito. Que tudo isso é normal.

Leitor 2: Se quisermos que as coisas mudem em nosso meio, não podemos esperar que caiam do céu. As mudanças veem graças às organizações do povo. Muitas coisas já mudaram no Brasil, para melhor,

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e muitas outras têm de melhorar, porém, nada será feito sem que o povo se interesse e se organize.

Leitor 3: Como seguidores de Jesus, somos chamados a continuar sua obra de salvação. De nada nos adiantam nossas orações se não fazemos aquilo que Jesus nos mandou fazer. Podemos lembrar o alerta da Carta de Tiago: “Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tg 2,15-18).

Leitor 4: Em nossos dias, corremos o risco de alimentar uma fé individualista, que não se preocupa com os outros, que não quer nem mesmo se encontrar com os outros. Cada um por si, Deus por todos. Mas para o cristianismo, a dimensão comunitária é um elemento fundamental para a vivência da fé. Cada um deve fazer sua experiência pessoal com Deus, sentir-se amado (a) por Ele, mas isso nunca será motivo para desviar dos irmãos e irmãs que estão à nossa volta. Pelo contrário, como resumo do Decálogo, aprendemos que devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo, como a nós mesmos.

Leitor 5: Em 1999, surgia o Grupo de Fé e Política. Uma das características deste movimento é que as pessoas que dele participam “assumem a causa dos pobres, dos oprimidos e dos excluídos; conferem prioridade à conscientização e organização popular; recusam a manipulação das bases; afirmam as classes populares como principal sujeito da própria história; rejeitam todos os valores calcados no individualismo e na absolutização do mercado e reafirmam, como valores fundamentais para o ser humano, a solidariedade, a cooperação e o direito de todos à vida em plenitude. Comprometem-se com o exercício da cidadania ativa e a construção de uma sociedade democrática, plural e planetária” (Carta de Princípios).

Nossa fé exige de nós uma plena adesão ao projeto de Jesus, um empenho em favor da vida de nossos irmãos e irmãs, sobretudo aqueles que a lógica do Mercado tem deixado de lado.

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Vamos conversar

O que o evangelho do Bom Samaritano tem a nos dizer hoje?

Temos sabido relacionar bem a nossa fé com as nossas ações de cristãos?

Temos o costume de acompanhar os políticos aqui onde moramos? Por quê?

Canto

Sou bom pastor, ovelhas guardarei, não tenho outro ofício, nem terei: quantas vidas eu tiver, eu lhes darei.

1. Maus pastores, num dia de sombra, não cuidaram, e o rebanho se perdeu. Vou sair pelo campo, reunir o que é meu; conduzir e salvar.

2. Verdes prados e belas montanhas, hão de ver o pastor, rebanho atrás. Junto a mim, as ovelhas terão muita paz; poderão descansar.

A Palavra da Igreja

Ouçamos o que a CNBB diz nas Diretrizes atuais de sua Ação Evangelizadora:

Consciente de que precisa enfrentar as urgências que decorrem da miséria e da exclusão, o discípulo missionário também sabe que não pode restringir sua solidariedade ao gesto imediato da doação caritativa. Embora importante e mesmo indispensável, a doação imediata do necessário à sobrevivência não abrange a totalidade da opção pelos pobres. Antes de tudo, esta implica convívio, relacionamento fraterno, atenção, escuta, acompanhamento nas dificuldades, buscando, a partir dos próprios pobres, a mudança de sua situação. Os pobres e excluídos são sujeitos da evangelização e da promoção humana integral.

Em tudo isso, a Igreja reconhece a importância da atuação no mundo da política e assim incentiva os leigos e leigas à participação ativa e efetiva nos diversos setores diretamente voltados para a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário (Doc. 94, n. 71).

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Preces espontâneas

Pai-Nosso (podem-se incluir pedidos particulares. Nunca se esquecer de rezar pelo mundo da política, os governantes)

Bênção final

O Senhor nos abençoe e nos guarde. O Senhor nos mostre Sua face e tenha misericórdia de nós.O Senhor volva para nós o Seu rosto e nos dê a Paz.O Senhor nos abençoe, em nome do Pai...

Canto final

Maria, Mãe dos caminhantes, ensina-nos a caminhar. Nós somos todos viandantes, mas é difícil sempre andar.

1. Fizeste longa caminhada, para servir a Isabel, sabendo-te de Deus morada, após teu “sim” a Gabriel.

2. Depois de dura caminhada, para a cidade de Belém, não encontraste lá pousada, mandaram-te passar além.

3. Com fé fizeste a caminhada, levando ao templo teu Jesus. Mas lá ouviste da espada, da longa estrada para a cruz.

4. Vitoriosa caminhada, fez finalmente te chegar ao céu, a meta da jornada, dos que caminham sem parar.

O que é um Plebiscito Popular? É uma consulta à população, em que se vota aprovando ou não uma questão. Um plebiscito popular não tem valor legal, mas exerce uma forte pressão política nos governantes, pois mostra a vontade do povo sobre certo assunto.

De 1º. a 07 de setembro vamos mostrar a nossa vontade: queremos a Reforma Política!

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Segundo Encontro

POLÍTICA: ADMINISTRAR A COISA PÚBLICA

Motivação

Irmãos e irmãs, sejamos bem-vindos. Neste nosso segundo encontro, queremos refletir sobre a origem da palavra política, a arte de governar as coisas que são públicas. Em nossas casas, sabemos que o dinheiro de nosso salário deverá ser aplicado no bem de todos, pagar as contas, e ainda sobrar para outros gastos da família. Aquilo que entra vem aplicado em benefício de todos. No corpo humano, o estômago é o responsável por distribuir as energias dos alimentos para todo o corpo. Quando há má digestão, significa que o que foi ingerido está demorando para ser absorvido. Se a digestão for muito rápida ou se o estômago não aceitar o que foi ingerido, todo o corpo será prejudicado. O estômago é uma boa comparação para o que acontece com as arrecadações do Estado. Como Jesus, queremos que todos tenham o acesso a tudo de bom que a sociedade tem.

Canto

Javé, o Deus dos pobres, do povo sofredor, aqui nos reuniu pra cantar o seu louvor. Pra nos dar esperança e contar com sua mão, na construção do reino: reino novo, povo irmão.

1. Sua mão sustenta o pobre, ninguém fica ao desabrigo: Dá sustento a quem tem fome com a fina flor de trigo.

2. Alimenta os nossos sonhos, mesmo dentro da prisão; ouve o grito do oprimido, que lhe toca o coração.

3. Cura os corações feridos, mostra ao forte o seu poder. Dos pequenos é a defesa: deixa a vida florescer.

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Um Olhar em Jesus

Leitor 1: Na época de Jesus, a sociedade se organizava de maneira diferente da nossa. Havia uma hierarquia de poder que compreendia vários grupos religiosos e políticos, desde os Fariseus, Saduceus e Escribas, como também os “radicais” Zelotes e os “puritanos” Essênios; todos submetidos ao domínio Romano. Quanto maior era o prestígio de um determinado grupo, maior era a sua influência na sociedade. Os que gozavam de pouco ou nenhum reconhecimento estavam fadados à exploração e à marginalidade.

Leitor 2: Não é sem razão que a atividade pública de Jesus tenha incomodado aqueles que detinham o poder em suas mãos, pois seus ensinamentos referentes à justiça, ao bem comum e a tantas outras dimensões de caráter social desestabilizavam todo sistema sócio-político-econômico e religioso de dominação.

Leitor 3: A parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20, 1-16) ilustra quais seriam as concepções de Jesus acerca do poder, especialmente quando enfatiza que “os últimos serão os primeiros” (Mt 20, 16); o que significa dizer que, na lógica de seu Reino, todos devem ser igualmente favorecidos, não apenas um ou outro grupo específico.

Leitor 4: Nesta mesma direção, o livro dos Atos dos Apóstolos faz questão de frisar que “os cristãos tinham tudo em comum” (At 4), sugerindo que a partilha e a solidariedade são dois gestos concretos de fé que podem nivelar e reajustar todo e qualquer tipo de desigualdade social.

Leitor 5: Jesus viu as contradições e injustiças de seu tempo, escandalizou-se diante delas e procurou remediá-las. Inclusive, há quem acredite que ele tenha proposto duas éticas diferenciadas a fim responder a tais exigências: uma individual, e outra social, sendo a primeira um apelo à conversão do coração; e a segunda, uma revolução baseada no amor que se doa.

Leitor 6: De fato, a atividade de Jesus passa por esses dois níveis, porém, é preciso entender que, para ele, essas duas éticas não caminham separadas, ao contrário, confundem-se, complementam-se. Isso porque, o mestre de Nazaré estava convencido de que o individual reflete o social, de que o todo se estrutura por meio de suas partes, de que a sociedade não é algo abstrato, um conceito vazio, mas sim, uma realidade composta de pessoas expostas a uma rede de relações.

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Leitor 7: Deste modo, jamais se poderia pensar o coletivo sem o individual, mesmo porque, uma conversão particular, a adesão à pessoa de Jesus, ao seu projeto, automaticamente implicaria comprometimento para com a causa da justiça e das minorias, uma vez que, no final das contas, o Reino de Deus é uma terra sem males.

Vamos ouvir a Palavra de Deus

Aleluia! Aleluia! Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Aleluia! Aleluia! Como estou no Pai, permanecei em mim.

Vós todos que sofreis aflitos, vinde a Mim! Repouso encontrarão os vossos corações. Dou graças a meu Pai que revelou ao pobre, ao pequenino, seu grande amor.

Ler na Bíblia: Mt 20, 1-16 (os trabalhadores da vinha)

Um Olhar em Nós

Leitor 1: No ocidente, o sistema predominante é a república. O termo deriva do latim res publica, traduzido literalmente por “coisa pública”, no sentido de interesse comum. Diferente das monarquias, na república, os governantes exercem o poder por período determinado.

Leitor 2: Embora a república como sistema político tenha tido sua origem na Roma antiga, com o surgimento do senado, os gregos também se enquadram neste sistema de governo, mas num sentido bem diferente do que conhecemos hoje.

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Leitor 3: Os gregos se agrupavam em pequenas cidades independentes uma das outras, chamadas Polis. Dentro da Polis, todas as decisões referentes ao bem-estar social eram decididas por assembleias, nas quais os cidadãos livres tinham plena participação. Entendiam que o homem era um ser político por natureza, logo, não poderia se isentar de suas responsabilidades.

Leitor 4: Embora haja grandes diferenças entre o modelo grego e o nosso atual, a forma de governo exercida pelos gregos inspirou as repúblicas e democracias ocidentais que, a partir do Século 18, substituíram os regimes monárquicos (governo de um único líder supremo). Daí veio o chamado Estado Liberal, em contraposição ao Estado absolutista de antes.

Leitor 5: O Estado tem por obrigação salvaguardar, garantir e fazer valer os direitos de toda pessoa. Porém, parece-nos mais confortável culpar as instituições, enquanto nos isentamos de nossa responsabilidade social para fazer acontecer o novo. Por esta razão, buscamos algum tipo de justificativa para o nosso comodismo, em vez de lutar por uma res publica mais adequada às necessidades do povo. Assim, acabamos traindo nossos ideais de justiça e a nossa própria fé.

Vamos conversar

Para os gregos, o homem é um ‘animal político’. Por que temos tão pouco interesse pelas coisas que são públicas?

O que podemos aprender da parábola dos trabalhadores da vinha?

Como estão sendo administradas as coisas públicas aqui onde moramos?

Canto

1. Povo que és peregrino em busca da salvação (bis)Ergue teus olhos ao alto, vê tua libertação! (bis)

2. A terra que te prometo, ei-la a manar leite e mel! (bis)Lembra-te disso, meu povo, tua promessa é fiel! (bis)

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3. Atravessando o deserto, faz da tua sede esperança, (bis)Vence o cansaço, a fadiga, grande será tua herança! (bis)

4. Se a noite for prolongada e não houver mais luar, (bis)Pensa que são como estrelas os passos do teu andar! (bis)

5. Povo que tens como guia Cristo que ressuscitou, (bis)

Rompe as correntes do medo, já novo sol despontou! (bis)

A palavra da Igreja

Vejamos um importante trecho do Documento de Aparecida:

Os bispos, reunidos na 5ª. Conferência, queremos acompanhar os construtores da sociedade, visto que é a vocação fundamental da Igreja neste setor formar as consciências, ser advogada da justiça e da verdade e educar nas virtudes individuais e políticas. Queremos chamar ao sentido de responsabilidade dos leigos para que estejam presentes na vida pública, e mais concretamente na formação dos consensos necessários e na oposição contra a injustiça.

Este trabalho político não é competência imediata da Igreja. O respeito de uma sã laicidade – até mesmo com a pluralidade das posições políticas – é essencial na tradição cristã autêntica. Se a Igreja começasse a se transformar diretamente em sujeito político, não faria mais pelos pobres e pela justiça, mas faria menos, porque perderia sua independência e sua autoridade moral, identificando-se com uma única via política e com posições parciais opináveis. A Igreja é advogada da justiça e dos pobres, precisamente ao não identificar-se com os políticos nem com os interesses de partido. Só sendo independente pode ensinar os grandes critérios e os valores irrevogáveis, orientar as consciências e oferecer uma opção de vida que vai além do âmbito político. Formar as consciências, ser advogada da justiça e da verdade, educar nas virtudes individuais e políticas, é a vocação fundamental da Igreja neste setor. E os leigos católicos devem ser conscientes de sua responsabilidade na vida pública; devem estar presentes na formação dos consensos necessários e na oposição contra as injustiças (Documento de Aparecida, n. 508).

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Preces espontâneas

Pai-Nosso (podem-se incluir os pedidos particulares. Nunca se esquecer de rezar pelo mundo da política, os governantes)

Bênção final

O Senhor nos abençoe e nos guarde.

O Senhor nos mostre Sua face e tenha misericórdia de nós.

O Senhor volva para nós o Seu rosto e nos dê a Paz.

O Senhor nos abençoe, em nome do Pai...

Canto

1. Um pouco além do presente,

Alegre, o futuro anuncia

A fuga das sombras da noite,

A luz de um bem novo dia.

Venha o teu Reino, Senhor!

A festa da vida recria!

A nossa espera e a dor

Transforma em plena alegria!

Aiê - eia - aiê - ae - ae.

2. Botão de esperança se abre,

Prenúncio da flor que se faz.

Promessa de tua presença

Que a vida abundante nos traz.

3. Saudade da terra sem males,

Do Édem de plumas e flores,

Da paz e justiça irmanadas,

Num mundo sem ódio nem dores.

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4. Saudade de um mundo sem guerras,

Anelos de paz e inocência:

De corpos e mãos que se encontram,

Sem armas, sem morte e violência.

5. Saudade de um mundo sem donos:

Ausência de fortes e fracos,

Derrota de todos os sistemas

Que criam palácios, barracos.

6. Já temos preciosa semente,

Penhor do teu Reino agora.

Futuro ilumina o presente,

Tu vens e virás sem demora.

O Plebiscito por um Novo Sistema Político é um mecanismo que o povo brasileiro usará para pressionar nossos go-vernantes para que realizem a necessária Reforma Política, garantindo maior representatividade da população no poder e combatendo práticas de corrupção e abuso do poder econômico.

De 1º. a 07 de setembro vamos mostrar a nossa vontade: queremos a Reforma Política!

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Terceiro encontro

A POLÍTICA NO NOSSO DIA A DIA

Motivação

Irmãos e irmãs, sejam bem-vindos a este nosso novo encontro. Queremos, como cristãos, mostrar que nossa fé nos abre em direção às pessoas que precisam de nós. Jesus é para nós o Salvador e nossa inspiração, modelo de ser humano. Nós queremos vida digna, ter acesso às melhores coisas da sociedade, queremos educação, saúde, transporte e tantas outras coisas. Tudo isso nos vem mediante a ação política. Com os impostos arrecadados, o governo dos municípios, dos Estados e do país devem investir o máximo em benefício da população. Sabemos que infelizmente nem sempre isso acontece.

Canto

1. Quando o Espírito de Deus soprou, o mundo inteiro se iluminou. A esperança da terra brotou, e um povo deu-se as mãos e caminhou!Lutar e crer, vencer a dor, louvar o Criador. Justiça e paz hão de reinar. E viva o amor!2. Quando Jesus a terra visitou, a Boa-Nova da justiça anunciou. O cego viu, o surdo escutou, e os oprimidos da corrente libertou.3. Nosso poder está na união: o mundo novo vem de Deus e dos irmãos. Vamos lutando contra a divisão, e preparando a festa da libertação!4. Cidade e campo se transformarão, jovens unidos na esperança gritarão. A força nova é o poder do amor, nossa fraqueza é a força em Deus libertador.

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Um Olhar em Jesus

Leitor 1: A dimensão sociopolítica da atividade de Jesus sempre fez despertar a atenção de muitos ao longo da história, desde altruístas (solidários) que viam em suas ações um singular exemplo de amor ao próximo, aos ativistas e revolucionários que, quase sempre, o viam como um grande líder comunitário, de cunho socialista.

É compreensível que cada grupo humano se identifique com um ou outro aspecto da vida de Jesus, especialmente, com aquele que melhor corresponde às suas expectativas, bem como as suas representações de mundo e de si próprio.

Leitor 2: No entanto, não é tão simples querer enquadrar Jesus em nossos esquemas atuais. Ele se autodefinia “Filho do Homem”, seguindo a tradição profética, o que significa dizer que ele assumiu definitivamente tal condição, tornou-se um de nós, na alegria e na tristeza, para a vida e para a morte. “Porque, pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado” (GS 22).

Leitor 3: Embora inserido neste mundo, Jesus jamais se conformou com o mesmo, e isso, não somente pelo fato de “seu reino” não ser daqui, mas sim, por este ser um mundo de contradições, marcado pela violência, no qual as pessoas exploram e dominam umas às outras, sobretudo aquelas que se julgam superiores às demais.

Leitor 4: Por esta razão, Jesus aposta em um projeto alternativo, em uma organização humana com alicerce nas rochas firmes do serviço, da partilha, da gratuidade e da solidariedade. O Mestre propõe algo completamente distinto daquilo que se entendia por sociedade, política, economia e religião em sua época. Neste sentido, a máxima do “dar a César o que é de César” (Mt 22, 21) foi como um alerta a todos aqueles que projetavam sua segurança no dinheiro e no poder estabelecido.

Leitor 5: Jesus tinha plena consciência de que os tributos pagos ao Imperador não eram justos, tampouco retornavam em forma de benefícios para a população, especialmente os mais pobres. Portanto, Jesus jamais quis que os seus fechassem os olhos diante de prática tão cruel e desonesta, mas, sim, que eles compreendessem que dar ou não

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a César seria menos importante, se no íntimo de seu coração eles não fossem capazes de amar uns aos outros e de se libertarem mutuamente.

Leitor 6: Jesus sempre acreditou no poder dos pequenos e nos verdadeiros gestos de generosidade, insistia nisso, ora ao associar o Reino a um grão de mostarda, ora ao compará-lo ao fermento na massa (Mt 13,31-33), ou mesmo ao realizar prodígios tais como o da multiplicação dos pães no deserto (Mt 14, 13-21), ensinando-nos que, onde existe a partilha, o milagre acontece e ninguém passa necessidade.

Leitor 7: Jesus foi um altruísta ou um revolucionário? É difícil dizer friamente. O certo é que sua figura continua a nos questionar, a nos tirar de nossa zona de conforto. Faz-nos ir ao encontro dos outros. Um Deus humano, plenamente humano, que quis regatar a humanidade das pessoas. Denunciou toda desumanidade de sua época e nos motiva para que façamos o mesmo.

Vamos ouvir a Palavra do Senhor

A vossa Palavra, Senhor, é sinal de interesse por nós: 1. Como o Pai ao redor de sua mesa, revelando seus planos de amor.2. É feliz quem escuta a Palavra, e a guarda no seu coração.

Ler na Bíblia: Mt 14, 13-21 (multiplicação dos pães)

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Um Olhar em Nós

Leitor 1: Dentre os muitos significados da palavra ‘Política’, um nos chama particular intenção: é o que se refere ao ato de governar, de administrar a coisa pública. Mas, em que consiste, de fato, tal administração? A resposta é simples, basta lembrar de que todos nós pagamos impostos, tributos ao governo. Diante disso, o que se espera é que tais recursos financeiros possam beneficiar a todos dentro de uma sociedade; o que nem sempre acontece.

Leitor 2: Não é raro ouvirmos nos noticiários televisivos e nas mídias em geral informações a respeito do descaso por parte de muitos governantes para com as instituições públicas. É estranho o fato de que se arrecade tanto dinheiro com os pagamentos de impostos, e, ainda sim, tenha que se viver em uma sociedade na qual a saúde, a educação, o transporte, a segurança, as estradas, as remunerações, as oportunidades de trabalho são tão precárias.

Leitor 3: Os governos – enquanto representantes oficiais do Estado – são ágeis para fazer valer leis e normas que esclareçam sobre os deveres a serem cumpridos por cada cidadão. Porém, quando o assunto diz respeito aos direitos do povo, a situação se inverte, e o que se tem é uma chuva de desculpas que evidencia a falta de compromisso, de responsabilidade e de caráter daqueles que foram escolhidos pela própria população para representá-la.

Leitor 4: Nas sociedades contemporâneas marcadas pelo sistema neoliberal, a lógica do lucro se encontra ainda mais acentuada que em outros períodos da história; e como bem sabemos, o lucro quase sempre implica corrupção, exploração, dominação e desigualdade. Em outros termos, para que alguns tenham cada vez mais e gozem de determinados privilégios e poderes, outros devem ter menos, e devem contentar-se com as migalhas que lhes são oferecidas, quase como esmolas dadas pelo Estado.

Leitor 5: No capitalismo, estamos diante de um sistema poderoso e influente, tanto no que diz respeito à sua infraestrutura (base econômica), quanto à sua superestrutura (base ideológica). Pior é saber que o sistemas não se mantêm por si próprios, o que significa dizer que

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sestruturas corruptíveis são o reflexo da ação humana no mundo, daquilo que realmente tem sido o homem em seu íntimo: egoísta, mesquinho e individualista; afinal, é ele quem faz política, é ele quem tece relações, é ele quem escreve a história.

Leitor 6: Falar de uma nova política, de uma nova ética, de educação e saúde de qualidade, de direitos e deveres que devam ser respeitados é falar de uma nova humanidade. Falar de justiça, paz e honestidade é falar de um novo homem que não se deixa corromper, que denuncia as incoerências do sistema, capaz de ver para além de si, que se articule politicamente em benefício de todos.

Vamos conversar

Jesus foi um homem solidário. Durante sua vida, diversas vezes se voltou para a necessidade das pessoas. Que fatos da vida de Jesus mais nos chamam a atenção neste sentido?

No evangelho, ouvimos o episódio da multiplicação dos pães. O que nós hoje, aqui onde vivemos, podemos fazer para que haja pão para todos?

Há sinais de esperança no mundo da política atual? Quais?

Canto

Pelos caminhos da América (3x), Latino-América.

1. Pelos caminhos da América, há tanta dor, tanto pranto, nuvens, mistérios e encantos, que envolvem o caminhar. Há cruzes beirando a estrada, pedras manchadas de sangue, apontando como setas, que a liberdade é pra lá...

2. Pelos caminhos da América, há um índio tocando flauta, recusando a velha pauta, que o sistema lhe impôs. No violão um menino, e um negro tocando tambores. Há sobre a mesa umas flores, pra festa que vem depois...

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A Palavra da Igreja

Ouçamos um trecho do Documento de Aparecida:

Depois de uma época de enfraquecimento dos Estados devido à aplicação de ajustes estruturais na economia, por recomendação de organismos financeiros internacionais, vê-se atualmente com bons olhos um esforço dos Estados em definir e aplicar políticas públicas nos campos da saúde, educação, seguridade alimentar, previdência social, acesso à terra e à moradia, promoção eficaz da economia para a criação de empregos e leis que favorecem as organizações solidárias. Tudo isso mostra que não pode existir democracia verdadeira e estável sem justiça social, sem divisão real de poderes e sem a vigência do Estado de direito (Documento de Aparecida, n.76).

Preces espontâneas

Pai-Nosso (podem-se incluir os pedidos particulares. Nunca se esquecer de rezar pelo mundo da política, os governantes)

Bênção final

O Senhor nos abençoe e nos guarde.

O Senhor nos mostre Sua face e tenha misericórdia de nós.

O Senhor volva para nós o Seu rosto e nos dê a Paz.

O Senhor nos abençoe, em nome do Pai...

Canto final (salmo 146)

1. Aleluia, eu vou louvar,ó minh’alma, bendize ao Senhor,toda a vida eu vou tocar,ao meu Deus vou cantar meu louvor!

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Quero cantar ao Senhorsempre enquanto eu viver,hei de provar seu amor,seu valor e seu poder!

2. Não confiem nos poderosos,são de barro e não podem salvar;quando expiram, voltam ao chão,seus projetos vão logo acabar!

3. Feliz quem se apoia em Deus,no Senhor põe a sua esperança;Ele fez o céu e a terra,quem fez tudo mantém sua aliança:

O Plebiscito por um Novo Sistema Político terá uma única pergunta: “Você é a favor de uma constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político?”. Queremos, sim, a convocação de uma constituinte exclusiva, com candidatos escolhidos pelo povo, para que façam a desejada Reforma Política.

De 1º. a 07 de setembro, vamos mostrar a nossa vontade: queremos a Reforma Política!

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Quarto encontro

OS PODERES DA REPÚBLICA

Motivação

Irmãos e irmãs, bem-vindos a este nosso quarto encontro. Hoje seremos confrontados pela maneira de Jesus de exercer o poder e a autoridade e o modo como nossos políticos o fazem. O poder do serviço muitas vezes é exercido como privilégios, como favorecimento de poucos. Aqueles que deveriam zelar pelo povo pensam mais em si que nas reais necessidades da população. Queremos um país melhor, um Estado melhor, um município melhor. Para isso, devemos aprender que poder é serviço, não privilégio.

Canto

A nós descei, Divina Luz, em nossas almas acendei o amor, o amor de Jesus.

Vinde, Santo Espírito, e do céu mandai dessa Luz um raio: Vinde, Pai dos pobres, doador dos dons, Luz dos corações. Grão consolador, nossa alma habitais e nos confortais: Na fadiga, pouso, e no ardor, brandura, e na dor, ternura.

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Um olhar em Jesus

Leitor 1: Jesus nos ensina a servir. Toda sua vida foi de doação, de entrega, de preocupação, de socorro da fraqueza humana. Se muitos pensavam que o Filho de Deus viria com glória, poder e majestade, se enganaram. Jesus nasceu de uma família simples, viveu vida simples e indicou-a para seus seguidores.

Leitor 2: Quando quiseram aclamá-lo Rei, ele deixou claro que seu modo de ser em nada se parecia com os reinos deste mundo. O poder que ele dá a seus discípulos é sempre em benefício dos outros: dá-lhes o poder de perdoar os pecados (Mt 9,6); poder de expulsar os maus espíritos e de curar as enfermidades (Mt 10, 1).

Leitor 3: Mas, infelizmente, entre nós, nem sempre é assim. Nem sempre o poder é exercido como serviço. Jesus alerta igualmente que os filhos das trevas costumam ser mais espertos que os filhos da luz (Lc 16,8). “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como a pombas (Mt 10,16).

Leitor 4: A autoridade de Jesus é exercida com firmeza, mas sem humilhar ninguém. Ele falava como quem tem autoridade, não como os mestres (Mt 7,29), que muitas vezes usavam de seus conhecimentos para impor pesados fardos às pessoas. O fardo de Jesus é leve, seu jugo é suave (cf. Mt 11,28).

Leitor 5: No julgamento perante Pilatos, Jesus lhe desconcerta, dizendo que a autoridade de Pilatos era delegada por alguém, ele mesmo estava submetido a outros poderes (cf. Jo 19,10-11), não como Jesus, cujo poder é plenamente exercido: “Toda autoridade me foi dada na terra e no céu” (Mt 28,18)

Leitor 6: Os discípulos logo entenderam que seguir Jesus correspon-dia a outra forma se poder, não desejosa de aplausos, sucesso, mas de grande preocupação e empenho pela vida das pessoas. Para são Paulo, a melhor comparação era o corpo: cada membro deverá fazer bem sua função. Se um membro sofrer, todo o restante sofrerá junto. Para que o corpo esteja bem, é preciso que os membros estejam em harmonia. (cf.1Cor 12).

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Vamos aclamar o Evangelho

Chegou a hora da alegria. Vamos ouvir esta Palavra que nos guia!

Tua Palavra vem chegando bem veloz. Por todo canto, hoje se escuta a tua voz! Nada se cria sem a força e o calor que sai da boca de Deus, nosso Criador! Aleluia, aleluia.

Ler na Bíblia: Mt 20, 20-28 (eu vim para servir)

Um olhar em nós

Leitor 1: Vivemos num regime democrático, republicano. Na organização do Estado Brasileiro, há três poderes que deverão, como num corpo, exercer bem suas funções. Vejamos quais as atribuições de cada poder da República: a) Em primeiro lugar, temos o PODER EXECUTIVO, constituído pelo Presidente da República, pelo Governador do Estado e o Prefeito da cidade.

Leitor 2: Qual o papel do(a) Presidente da República? Dentre os principais, podemos lembrar que cabe a ele nomear e demitir os Ministros de Estado; conduzir a política econômica; exercer, com o auxílio dos

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Ministros de Estado, a direção da administração federal; editar medidas provisórias com força de lei em caráter de urgência; manter relações com Estados estrangeiros e indicar seus representantes diplomáticos; exercer comando supremo das Forças Armadas, declarar guerra quando autorizado pelo Congresso Nacional; exercer outras atribuições previstas na Constituição da República Federativa do Brasil.

Leitor 3: E qual o papel do Governador do Estado? Cabe ao governador as funções de exercer a direção da administração estadual e a representação do Estado em suas relações jurídicas, políticas e administrativas, defendendo seus interesses junto à Presidência e buscando investimentos e obras federais.

O governador também é o responsável por fazer nomeações nos cargos de presidência e diretoria das empresas controladas pelo governo estadual.

Leitor 4: E qual o papel do Prefeito? É o prefeito quem encabeça a administração da cidade, empreendendo a gestão da coisa pública, do controle dos gastos ao planejamento e concretização de obras, sejam elas de construção civil ou da área social. O poder executivo é de fato aquele que coloca em prática um conjunto de intenções do governo, realiza determinada obra, projeto, programa ou política pública. Além disso, cabe ao prefeito não apenas sancionar as leis aprovadas em votação pela câmara, mas vetar e elaborar propostas de leis quando achar necessário.

Leitor 5: b) Em segundo lugar, temos o PODER LEGISLATIVO, do qual fazem parte os senadores, deputados e vereadores. Sua principal função é fazer as leis que conduzirão a população. É a instância de representação do povo, trabalhando na fiscalização do poder executivo e na apresentação e votação de leis e projetos.

Leitor 6: O que faz um Senador? Cabe a ele processar e julgar o vice-presidente, o presidente da República, os ministros de Estado, os ministros do Supremo Tribunal Federal, o procurador geral da República e o advogado geral da União, por crimes de responsabilidade; aprovar a escolha presidencial de magistrados, ministros do Tribunal de Contas, governadores de territórios, presidente e diretores do Banco Central, procurador geral da República e diplomatas; propor, debater e aprovar leis de interesse nacional; autorizar operações

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financeiras externas e condições de crédito; elaborar, em conjunto com o presidente da República, o orçamento nacional; suspender a execução de lei declarada inconstitucional.

Cada Estado é representado por três senadores, havendo, assim, uma representação igualitária; a cada quatro anos renovam-se um terço ou dois terços dos senadores, uma vez que o mandato é de oito anos.

Leitor 7: O que faz um Deputado Federal? Ele deve fiscalizar os atos do Poder Executivo; autorizar, por dois terços de seus membros, a formação de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado; proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa.

Leitor 8: O que faz o Deputado Estadual? Ele é membro da Assembleia Legislativa. Elabora e vota as leis estaduais. Segundo a Constituição do Estado, compete a ele, com a aprovação do governador, dispor sobre todas as matérias de competência do Estado. E ainda: elaborar projetos de lei, decretos e emendas à Constituição Estadual; emitir pareceres; votar projetos de lei estadual; fiscalizar as finanças e o orçamento do Estado; participar das sessões plenárias; Instaurar comissões parlamentares de inquérito, em âmbito estadual; elaborar, em conjunto com o governo do Estado, o orçamento estadual.

Leitor 9: E o que faz um vereador? É membro da Câmara Municipal. Elabora e vota as leis municipais. Cabe ao vereador mostrar os problemas da comunidade e buscar providências junto aos órgãos competentes. Mas não é só isso. Cabe-lhe também a função de fiscalizar as contas do Poder Executivo Municipal e do próprio Legislativo.

Leitor 10: c) Em terceiro lugar, temos o PODER JUDICIÁRIO. Enquanto o Poder Legislativo ocupa-se em elaborar as leis e o Poder Executivo em executá-las, o Poder Judiciário tem a obrigação de julgar quaisquer conflitos que possam surgir no País, baseando-se nas Leis que se encontram em vigor. Cabe-lhe a função de aplicar as Leis, julgando de maneira imparcial e isenta, determinada situação e as pessoas nela envolvidas, determinando quem tem razão e se alguém deve ou não ser punido por infração à Lei.

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Vamos conversar

Nosso modo de exercer a autoridade é parecido com o de Jesus?

O evangelho nos alerta para um modo de fazer política. Em sua opinião, a política, aqui onde moramos, melhorou nos últimos anos?

Temos consciência das funções dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ou achamos que é tudo a mesma coisa? Já viu pessoas pedindo favores pessoais a algum político, em vez de reivindicar em favor de toda a população?

Canto

“Eu vim para que todos tenham vida, que todos tenham vida plenamente.”

1. Reconstrói a tua vida em comunhão com teu Senhor; reconstrói a tua vida em comunhão com teu irmão. Onde está o teu irmão, Eu estou presente nele.

2. Quem comer o Pão da vida viverá eternamente. Tenho pena deste povo que não tem o que comer. Onde está um irmão com fome, Eu estou com fome nele.

3. Eu passei fazendo o bem, Eu curei todos os males. Hoje és minha presença junto a todo sofredor: onde sofre o teu irmão, Eu estou sofrendo nele.

A Palavra da Igreja

Ouçamos um trecho do Documento de Aparecida

Cabe assinalar, como grande fator negativo em boa parte da região, o agravamento da corrupção na sociedade e no Estado, envolvendo os poderes legislativos e executivos em todos os níveis, alcançando também o sistema judiciário que, muitas vezes, inclina

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seu juízo a favor dos poderosos e gera impunidade, o que coloca em sério risco a credibilidade das instituições públicas e aumenta a desconfiança do povo, fenômeno que se une a um profundo desprezo pela legalidade. Em amplos setores da população, e especialmente entre os jovens, cresce o desencanto pela política e particularmente pela democracia, pois as promessas de uma vida melhor e mais justa não se cumpriram ou se cumpriram só pela metade. Nesse sentido, esquece-se de que a democracia e a participação política são fruto da formação que se faz realidade somente quando os cidadãos são conscientes de seus direitos fundamentais e de seus deveres correspondentes (Documento de Aparecida, n.77).

Preces espontâneas

Pai-Nosso (podem-se incluir os pedidos particulares. Nunca se esquecer de rezar pelo mundo da política, os governantes).

Bênção final

O Senhor nos abençoe e nos guarde.

O Senhor nos mostre Sua face e tenha misericórdia de nós.

O Senhor volva para nós o Seu rosto e nos dê a Paz.

O Senhor nos abençoe, em nome do Pai...

Canto

Em coro a Deus louvemos: eterno é seu amor. Pois Deus é admirável:

Por nós fez maravilhas, louvemos o Senhor!

Criou o céu e a terra: Criou o sol e a lua: Fez águas, nuvens, chuvas: Fez pedras, terras, montes:

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Distribuiu a vida: Na planta, peixe e ave: E fez à sua imagem: O homem livre e forte: Na história que fazemos: Deus vai à nossa frente: E quando nós pecamos: Perdoa e fortalece:

O Plebiscito é uma iniciativa dos Movimentos Sociais e de grupos eclesiais, que, atentos à atual situação política, decidiram organizar uma grande consulta popular no Brasil inteiro sobre a Reforma Política. É nosso dever participar!

De 1º. a 07 de setembro vamos mostrar a nossa vontade: queremos a Reforma Política!

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Quinto encontro

A REFORMA POLÍTICA

Motivação

Irmãos e irmãs, sintam-se acolhidos aqui. Nos encontros anteriores, refletimos sobre alguns temas importantes para nossa vida cristã: as exigências da nossa fé, a importância da política no dia a dia e a organização do nosso governo. Eles nos permitiram conhecer um pouco mais da organização política do nosso Brasil. No entanto, podemos perceber que as coisas não estão muito boas. Alguns sérios problemas estão impedindo que tenhamos uma política justa, que beneficie todos nós, cidadãos brasileiros. Neste encontro, queremos entender a tão falada Reforma Política, que busca consertar os defeitos e melhorar nosso sistema político. Além disso, nos informaremos sobre o Plebiscito Popular por um novo sistema político, um importante meio para conseguirmos realizar a reforma necessária.

Canto

1. O teu povo, Senhor, está sofrendo, caminhando de um lado para outro. Uma vida mais justa está querendo, pois senão vai migrar até estar morto.

Estr.: Animados pela fé e bem certos da vitória, vamos fincar nosso pé e fazer a nossa história. E fazer a nossa história, animados pela fé.

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2. Deste jeito que a coisa está andando o sistema escraviza e nos domina.Ele é o mal que está nos desviandoda verdade que Cristo hoje ensina.

Um olhar em Jesus

Leitor 1: Vamos compreender um pouco do lugar, do país de Jesus de Nazaré, da sua postura diante dos problemas e incoerências dos governantes da época. Como sabemos, Jesus é o enviado do Pai com a missão de anunciar e tornar presente o Reino de Deus. Ele veio trazer uma novidade, uma Boa Notícia que convida, principalmente, para a conversão, para a mudança, não só de cada pessoa, mas também a transformação de estruturas da sociedade, para que sua missão de dar vida plena para todos pudesse acontecer de fato (cf. Jo 10,10).

Leitor 2: Jesus consegue perceber os grandes problemas e dramas do seu tempo. Ele vê a situação dos pobres, a marginalização da mulher, dos doentes e dos leprosos. Conhece o desespero do seu povo diante das situações de fome, de enfermidades, de falta de amparo, de injustiça e da falta de esperança em algo melhor. Ele também sabe que uma das causas disso são as estruturas de poder e de governo. Nelas havia muita corrupção, exploração do povo com altos impostos, governantes desinteressados dos problemas do povo, alianças entre os poderosos para a manutenção do poder opressor, entre outras tristes realidades.

Leitor 3: É neste contexto que Jesus, além de anunciar a esperança, a novidade do Reino de Deus, ele também denuncia tudo aquilo que vai contra o bem e a dignidade do seu povo. Ele evidencia em suas palavras a prática da corrupção, o descaso e a dominação dos governantes da época. O sistema e suas relações de poder, daquela forma, não podia mais continuar: era preciso a conversão das estruturas, era urgente acontecer profundas transformações.

Leitor 4: Na leitura que ouvimos, Jesus usa as imagens do pano e do vinho para mostrar a incoerência entre duas realidades: o velho e o

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novo. O sistema antigo, de realidades contra o ideal de vida para todos; e a novidade, um projeto novo baseado na justiça e na solidariedade. O velho e a novidade não podem existir juntos. É preciso superar o velho e construir o novo. Deve-se abandonar uma política, uma prática velha e assumir uma nova postura, uma nova forma de agir.

Vamos aclamar o Evangelho

Tua palavra é Luz do meu caminho! Luz do meu caminho, meu Deus! Tua Palavra é!Tua palavra está, nas ondas do mar!

Tua palavra está, no Sol a brilhar! Tua palavra está, no pensamento, no sentimento.Tua palavra está!

Ler na Bíblia: Mt 9, 14-17 (vinho novo em odres novos)

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Um olhar em nós

Leitor 1: Em junho de 2013, milhões de brasileiros tomaram as ruas, gritando por mudanças no Brasil. Em especial, pediam a Reforma do nosso sistema político por reconhecerem nele graves problemas que atrapalham a existência de uma política e de um governo a serviço do bem da população. Um deles é a força do poder econômico. Isso significa que nossos políticos e o seu trabalho foram corrompidos pelos interesses de quem tem dinheiro, empresas e bancos, que “compram” os nossos representantes.

Leitor 2: Nossos governantes devem buscar atender as demandas do povo e gerir tudo aquilo que o município, o estado e a nação têm de recursos para beneficiar todos os cidadãos. São nossos representantes, isto é, nós os escolhemos para que, em nosso nome, defendam e atendam aos nossos interesses e administrem os bens públicos.

No entanto, no processo eleitoral, um fator se mostra decisivo para ganhar as eleições: quem tem mais dinheiro para gastar com campanhas, em propaganda e com os apoios.

Leitor 3: E são campanhas bem caras! E de onde sai tanto dinheiro? Do financiamento privado das grandes empresas e bancos, que des-pejam dinheiro nos seus candidatos, para que gastem nas campanhas milionárias deles. E isso não é feito de graça. Após vencerem, os empresários vão até os políticos e pressionam para defenderem somente os seus interesses.

Atualmente, em nossas casas legislativas (câmara de vereadores, assembleias estaduais, câmara de deputados e senado) grande parte dos que lá estão são frutos dessa “compra” política. Confira o quadro a seguir referente ao Congresso Nacional, em Brasília:

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Leitor 4: Atenção para o detalhe: 273 defendem os empresários + 160 defendem os ruralistas = 473 deputados a serviço do poder econômico.

Resultado: os segmentos mais necessitados e carentes da população (trabalhadores, jovens, pobres e mulheres) por não terem poder econômico, são sub-representados, ficam sem força para defender seus interesses. Assim fica fácil entender, por exemplo, por que os trabalhadores não têm grandes conquistas no governo, como o aumento do salário mínimo ou revisão das pequenas aposentadorias. Muita coisa no Brasil podia ser diferente!

Leitor 5: Esse é um dos principais problemas. E há muitos outros que precisam ser solucionados, melhorando nosso governo. É urgente uma reforma!

Para concretizar essa Reforma Política, vários movimentos sociais, inclusive a Igreja, através dos seus grupos, decidiram organizar um “Plebiscito popular por uma constituinte exclusiva do sistema político”. E esse plebiscito tem por objetivo pressionar o governo a convocar uma

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constituinte exclusiva, isto é, com representantes eleitos só para elaborar leis e mecanismos para uma verdadeira e legítima Reforma Política.

Leitor 6: O Plebiscito vai acontecer entre os dias 1°. e 07 de setembro deste ano. Seu objetivo é consultar a população para saber se ela é a favor de uma constituinte exclusiva para a Reforma Política. Cabe a nós nos preparar e aproveitar essa forma de participar e pressionar nossos governantes para a mudança dessa politicagem que está aí. Assim como Jesus, nós, seus discípulos, não podemos ficar parados, como se nada estivesse acontecendo. Vamos começar a tecer o pano novo, a fabricar o vinho novo, a construir um Brasil novo.

Mais informações sobre a Reforma Política vide a Cartilha do Plebiscito em www.cut.org.brcut-em-acao98cartilha-plebiscito-por-um-novo-sistema-politico; e os textos no final do roteiro.

Vamos conversar:

Conseguimos compreender a necessidade da Reforma Política?

Que outros problemas encontramos na política brasileira?

Como podemos nos comprometer com a realização do Plebiscito da Reforma Política?

Canto

1. Com Maria em Deus exultemosNeste canto de amor-louvação.Escolhida dentre os pequenosMãe-profeta da libertação. (bis)

Maria de Deus, Maria da gente,Maria da singeleza da flor!Vem caminhar, vem com teu povoDe quem provaste a dor!

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És a imagem da “nova cidade”,Sem domínio dos grandes ou nobres,O teu canto nos mostra a verdadeQue teu Deus é do lado dos pobres. (bis)

A palavra da Igreja

Ouçamos o Papa João Paulo II, na exortação Christifideles Laici, n. 42:

Para animar de maneira cristã a ordem social, os fiéis leigos não podem absolutamente renunciar a participar da política, ou seja, da ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum. Todos e cada um têm o direito e o dever de participar na política, embora em diversidade e complementaridade de formas, níveis, funções e responsabilidades.

As acusações de idolatria de poder, egoísmo e corrupção que muitas vezes são dirigidas aos homens do governo, do parlamento, da classe dominante ou partido político, bem como a opinião muito difusa de que a política é um lugar de necessário perigo moral, não justificam minimamente nem a descrença nem o afastamento dos cristãos pela coisa pública.

Pelo contrário, é muito significativa a palavra do Concílio Vaticano II: A Igreja louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, ao serviço dos homens. [...]

No exercício do poder político é fundamental o espírito de serviço, único capaz de, ao lado da necessária competência e eficiência, tornar transparente ou limpa a atividade dos homens políticos, como aliás o povo justamente exige. Isso pressupõe a luta aberta e a decidida superação de certas tentações, tais como, o recurso à deslealdade e à mentira, o desperdício do dinheiro público em vantagem de uns poucos e com miras de clientela, o uso de meios equívocos ou ilícitos para a todo o custo conquistar, conservar e aumentar o poder.

Preces espontâneas

Pai-Nosso (podem-se incluir os pedidos particulares. Nunca se esquecer de rezar pelo mundo da política, os governantes)

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Bênção final

O Senhor nos abençoe e nos guarde. O Senhor nos mostre Sua face e tenha misericórdia de nós ti.O Senhor volva para nós o Seu rosto e nos dê a Paz.O Senhor nos abençoe, em nome do Pai...

Canto

1. Senhor, meu Deus, quando eu maravilhado,Fico a pensar nas obras de tuas mãos:O céu azul, de estrelas pontilhado,O teu poder, mostrando a criação.

Então minha alma canta a ti, Senhor:Quão grande és Tu! Quão grande és Tu! (bis)

2. Quando a vagar por matas e florestas,A passarada, alegre, ouço a cantar,Olhando os montes, vales e campinas,Em tudo vejo teu poder sem par.

Devemos participar do Plebiscito, organizando a votação em nossa comunidade.

Disponibilizaremos as cédulas de votação, formulários e folhas de assinaturas para a realização do Plebiscito, que acontece entre os dias 1º. e 07 de setembro. Participem!

*Em caso de dúvidas, entre em contato conosco: [email protected].

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Sexto Encontro

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA:

É HORA DE NOS COMPROMETERMOS

Motivação

Irmãos e irmãs, sejam todos bem-vindos. Chegamos ao último encontro da nossa caminhada, na qual pudemos, com nosso Mestre Jesus e da sua Palavra, conhecer mais sobre um tema tão importante para nós: a política. Neste encontro, vamos refletir sobre nossa participação como cristãos e cidadãos na vida política. Somos convocados a ser “fermento na massa”, ou seja, levar os valores cristãos de solidariedade, justiça, de vida plena para os ambientes onde se tomam as decisões importantes para nossa sociedade.

Canto

Somos gente nova vivendo a união

Somos povo semente de uma nova nação ê, ê

Somos gente nova vivendo o amor

Somos comunidade, povo do senhor, ê, ê

Vou convidar os meus irmãos trabalhadores

Operários, lavradores, biscateiros e outros mais

E juntos vamos celebrar a confiança

Nossa luta na esperança de ter terra, pão e paz, ê, ê

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Convido os negros, irmãos no sangue e na sina

Seu gingado nos ensina a dança da redenção

De braços dados, no terreiro da irmandade

Vamos sambar de verdade enquanto chega a razão, ê, ê

Vamos chamar Oneide, Rosa, Ana e Maria

A mulher que noite e dia luta e faz nascer o amor

E reunidas no altar da liberdade

Vamos cantar de verdade, vamos pisar sobre a dor, ê, ê

Vou convidar a criançada e a juventude

Tocadores, me ajudem, vamos cantar por aí

O nosso canto vai encher todo o país

Velho vai dançar feliz, quem chorou vai ter que rir, ê, ê

Um olhar em Jesus

Leitor 1: Jesus, ao exercer seu ministério, contou com a colaboração de muitas pessoas. São os discípulos e discípulas, que, ao ouvirem sua palavra, verem sua ação transformadora e respondendo ao seu convite, se colocaram a serviço do anúncio do Evangelho. Foram, em sua maioria, homens e mulheres do povo, gente simples, que sofriam os males de uma realidade injusta e se sentiam desesperançados.

Leitor 2: Todos eles, no entanto, passaram por algo transformador em suas vidas: o encontro com a pessoa de Jesus Cristo. A partir desse momento e ao acolher a sua Boa-Nova, eles encontram uma nova esperança e se colocam prontamente a serviço do anúncio e do testemunho da vontade de Deus.

Leitor 3 : Jesus quis compartilhar a responsabilidade da sua missão. Ele sempre convocava as pessoas a segui-lo, e a se comprometerem

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com o seu projeto. Nos Evangelhos encontramos vários convites para o discipulado de Jesus. Há também recomendações e orientações para os discípulos no exercício de sua missão. O mestre conhecia muito bem os desafios, os perigos que corriam os seus enviados. Sabia das perseguições, das incompreensões, de toda a maldade que existia na sua época e que entraria em conflito com os seus discípulos.

Leitor 4: Ele mesmo, ao longo de sua vida pública, sofreu difamações, acusações, perseguições, sendo inclusive, preso, torturado e morto por causa de sua palavra e de sua ação. Ao buscar uma vida mais digna para o seu povo, entrou em conflito com os poderes governantes de seu tempo.

Leitor 5: Jesus, ao enviar os seus discípulos, sempre recomendava: “não tenham medo”, “coragem”. Assim também nós, ao nos tornarmos seguidores de Jesus, não podemos ter medo, timidez; pelo contrário, devemos, sim, ter coragem e ousadia.

Ouçamos agora a Palavra de Deus. Nela Jesus envia os discípulos ao mundo e os fortalece com palavras de ânimo e coragem. Ouçamos com atenção.

Palavra de salvação somente o céu tem pra dar Por isso meu coração se abre para escutar

Por mais difícil que seja seguirTua palavra queremos ouvirPor mais difícil de se praticarTua palavra queremos guardar

Ler na Bíblia: Mt 10, 26-33 (não tenham medo)

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Um olhar em nós

Leitor 1: Hoje Jesus também nos chama a ser continuadores da sua missão. Nós, como seus discípulos, devemos assumir esse chamado e ser anunciadores e testemunhas do Evangelho. Esse anúncio e esse testemunho também devem acontecer no mundo da política. Não podemos nos ausentar dos espaços de decisão e de governo, com os valores éticos e cristãos.

Leitor 2: Muitos podem dizer: “Igreja e política não combinam. Devemos tratar das coisas de Deus e os políticos tratam das coisas deles. Política é coisa suja.” Esse pensamento não está em sintonia com a missão da Igreja. Como vimos nos encontros anteriores, tudo aquilo que perpassa a nossa vida tem uma implicação política. Sendo missão da Igreja promover a libertação integral do homem (Documento de Aparecida 62), o caráter político deve estar incluído. Evangelizar possui uma dimensão social que exige a mediação política e dos governantes.

Leitor 3: Exemplos não faltam de atuação e participação política de cristãos, que trouxeram grandes vitórias para a população. A Campanha da Fraternidade é um exemplo bem conhecido disso. Várias comunidades, após as reflexões da Campanha, conseguiram muitas vitórias junto ao poder público. Podemos lembrar a Campanha da Fraternidade 2003: “Fraternidade e as pessoas idosas”. Graças a ela foi aprovado o Estatuto do Idoso. Os próprios governantes reconhecem

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que, sem o apelo das comunidades do Brasil, o Estatuto do Idoso não teria sido aprovado tão rápido. Uma grande conquista da Igreja e do povo brasileiro.

Leitor 4: Outro bonito exemplo foi o movimento Ficha Limpa, em 2010. O projeto reuniu mais de 1,3 milhões de assinaturas e tornou-se uma grande referência durante as eleições. Nas eleições de 2012, para termos uma ideia, houve mais de 1500 casos de cassação de candidatos que não estavam conformes à Ficha Limpa.

Leitor 5: Devemos nos engajar no campo político, seja no nosso bairro, na nossa cidade, estado ou país, e lá defender a dignidade humana e a justiça social, elementos intrínsecos da proposta cristã. Como? Possuímos várias formas e instâncias de participação. Aqui apresentaremos algumas:

Leitor 6: Os Movimentos Sociais e as ONGs possuem um trabalho que tem dado certo no país. Defendem, principalmente, os interesses dos mais excluídos e esquecidos pelo poder público. São formados, geralmente, por voluntários que buscam de alguma forma melhorar as situações sociais da população. Esses exemplos podem muito bem ter acontecido, aqui, em nossa cidade. Em algumas cidades, ONGs ligadas à promoção da paz conseguiram a aprovação de leis e medidas de combate à violência. Associações de moradores conseguiram, junto ao poder público, escola e creches para seus moradores.

Leitor 7: Outra forma de participar é o partido político. Os partidos existem para representar os diversos interesses do povo. Apesar do desgaste e da corrupção da maior parte dos partidos, no nosso atual sistema, só através deles é possível concorrer em uma eleição e assumir um cargo como governante. Logo, a presença nos partidos é algo fundamental para que, de fato, ocorram mudanças sociais e políticas no país.

Leitor 8: Outra forma de participação é o acompanhamento da vida política. Isso significa estar atento ao que acontece em nossas instâncias de governo, exercendo o direito cidadão de fiscalizar. Esse é um importante papel da população, que infelizmente não exercemos. A corrupção dos governos se deve, muitas vezes, à falta de fiscalização e do acompanhamento do que anda acontecendo neles. O dinheiro desviado, o salário dos políticos e os recursos disponíveis para

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investimento vêm dos nossos impostos, que cada vez estão mais altos. É dinheiro nosso!

Leitor 9: Quem se lembra dos candidatos nos quais votou nas duas últimas eleições? Quem sabe o que eles estão fazendo, que leis e projetos estão apresentando? Estão cumprindo o que prometeram na campanha? Se a nossa resposta for “não sei”, estamos cometendo uma grave falta. Se não acompanhamos, não exigimos, não fiscalizamos, não adianta reclamar. Vamos reclamar para quem? Outro detalhe importante: se não acompanhamos os governantes, numa nova eleição podemos reeleger todos os políticos corruptos e omissos. Atenção: isso é o que mais acontece no Brasil.

E nós aqui, conhecemos alguma importante conquista? Que tal lembrarmos uma, fruto dos apelos da Igreja junto ao poder público?

Vamos conversar

Citamos o Estatuto do Idoso e o Movimento Ficha Limpa como conquistas vindas pela união das comunidades. Quem se lembra de outras conquistas vindas através da organização do povo? (no município, no país...)

Que tal se nós participássemos das reuniões dos vereadores, buscássemos informações sobre o que vai ser votado e discutido. Podemos nos organizar?

Que gestos concretos podemos assumir como cristãos ao final dessa nossa formação sobre Fé e Política aqui onde vivemos?

Canto

1. Deus chama a gente pra um momento novoDe caminhar junto com seu povo.É hora de transformar o que não dá mais:Sozinho, isolado, ninguém é capaz.

Por isso vem! Entra na roda com a gente, também! Você é muito importante! (Vem!) (bis)

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2. Não é possível crer que tudo é fácil,Há muita força que produz a morte,gerando dor, tristeza e desolação.É necessário unir o cordão.

3. A força que hoje faz brotar a vidaAtua em nós pela sua graçaÉ Deus que nos convida pra trabalhar,O amor repartir e as forças juntar.

A Palavra da Igreja

Ouçamos hoje o papa Francisco, em sua primeira Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), n. 183.

Ninguém pode exigir-nos que deixemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos. Quem ousaria encerrar num templo e silenciar a mensagem de São Francisco de Assis e da Beata Teresa de Calcutá? Eles não o poderiam aceitar. Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela. Amamos este magnífico planeta, onde Deus nos colocou, e amamos a humanidade que o habita, com todos os seus dramas e cansaços, com os seus anseios e esperanças, com os seus valores e fragilidades.

A terra é a nossa casa comum e todos somos irmãos. Embora a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central da política, a Igreja não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça (...), sendo um sinal de esperança que brota do coração amoroso de Jesus Cristo.

Preces espontâneas

Pai-Nosso (podem-se incluir os pedidos particulares. Nunca se esquecer de rezar pelo mundo da política, os governantes)

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Bênção final

O Senhor nos abençoe e nos guarde.

O Senhor nos mostre Sua face e tenha misericórdia de nós.

O Senhor volva para nós o Seu rosto e nos dê a Paz.

O Senhor nos abençoe, em nome do Pai...

Canto final

1. O Senhor me chamou a trabalhar, a messe é grande a ceifar. A ceifar o Senhor me chamou, Senhor aqui estou.

Vai trabalhar pelo mundo afora, eu estarei até o fim contigo. Está na hora, o Senhor me chamou: Senhor aqui estou!

2. Dom de amor é a vida entregar, falou Jesus, assim o fez, dom de amor é a vida entregar: chegou a minha vez.

3. Todo bem que na terra alguém fizer, Jesus no céu vai premiar, cem por um, já na terra Ele vai dar, no céu vai premiar.

4. Teu irmão à tua porta vem bater, não vai fechar teu coração. Teu irmão a teu lado vem sofrer, vai logo socorrer.

A data da votação do Plebiscito está chegando. Já estamos organizados? Não podemos perder essa grande oportunidade de pressionarmos nossos governantes e realizar as transformações necessárias no nosso sistema político.

De 1º. a 07 de setembro vamos mostrar a nossa vontade: queremos a Reforma Política!

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ANEXOSTEXTOS PARA APROFUNDAMENTO

1 - Sobre a Constituinte Exclusiva e Soberana para

mudar o sistema político

De acordo com a cartilha “Plebiscito por um Novo Sistema Político”, a Assembleia Nacional Constituinte, ou simplesmente Constituinte, é a realização de uma assembleia de representantes eleitos pelo povo para modificar a economia e a política do país e definir as regras, instituições e o funcionamento das instituições de um Estado, com o governo o Congresso e o Judiciário. Suas decisões resultam em uma Constituição.

A Constituição brasileira atual é de 1988, mas, apesar dos avanços nos direitos sociais, ela preservou muitas instituições criadas ou aprofundadas pelo regime militar, como a polícia militarizada, a manutenção da estrutura fundiária e o pagamento da dívida pública. A proposta de uma Constituinte Exclusiva e Soberana do sistema político é para que a mesma alcance os problemas do povo brasileiro, realizando reformas política, agrária, urbana, tributária e outras mudanças, que não foram contempladas em 1988, e que assegurem a igualdade de direitos econômicos, sociais e civis.

Representações no Congresso Nacional

Segundo dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), dos 594 parlamentares (513 são deputados e 81 senadores) eleitos há três anos, 273 são empresários, 160 são ruralistas, 66 fazem parte da bancada evangélica e apenas 91 são da bancada sindical. Além dos representantes dos trabalhadores e trabalhadoras no Brasil representarem uma minoria, esse quadro revela uma distorção no sistema eleitoral.

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A maioria das cadeiras do Congresso Nacional está sendo ocupada por homens brancos, representantes de uma elite econômica, com interesses privatistas. O atual parlamento exclui segmentos de grande expressividade no país como, por exemplo, os afrodescendentes.

A Reforma Política

A reforma política, só se pode dar este nome a ela se ela trata e pensa o sistema político como um todo: a organização do Estado Brasileiro, como se dá a disputa do poder, como se distribui o poder no país, como se articulam os poderes do Estado... portanto, é uma questão muito mais estrutural do que este ou aquele ponto. Inclusive, os parlamentares insistem em tratar desta forma, que é para poder inviabilizar uma autêntica reforma política. A questão da votação em lista é um dos aspectos do sistema político. A lista pré-ordenada é um modelo e prática no mundo inteiro da democracia. A votação uni-nominal, candidato por candidato, é uma visão que não ajuda a fortalecer e a criar uma consciência política coletiva e de projetos políticos. E por falta de entendimento, as pessoas dizem ter orgulho de votar em pessoas e não em partidos. É verdade que os partidos que existem hoje não têm muita identidade. E esse é um dos temas da reforma política, que é reconstruir o quadro partidário. Hoje, existem 30 partidos e outros mais na fila para serem criados e ter acesso ao fundo partidário, porque, no fundo, é isto que eles querem. Querem partido para disputar poder e ter um projeto de poder. Entendo que a lista pré-ordenada relacionada com o financiamento público e exclusivo e com o fim das coligações avança. E defendo também a alternância de gênero. O Brasil tem menos de 9% na Câmara e menos de 10% no Senado, de mandatos de mulheres. Falta uma política efetiva de estímulo à participação das mulheres, mesmo nos partidos de esquerda, se é que ainda existe partido de esquerda neste país. É uma distorção da nossa política a participação tão pequena das mulheres. O machismo predomina na política também. Só há democracia plena quando há igualdade de direitos, entre homens e mulheres, entre negros e brancos, entre jovens e idosos...”

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2 - Os Candidatos são todos iguais? Frei Betto

Época de eleição é época de emoção. A razão entra em férias, a sensibilidade fica à flor da pele. Em família e no trabalho, todos manifestam opiniões sobre eleições e candidatos.

O tom das opiniões varia do palavrão (a desqualificar toda a árvore genealógica do candidato) à veneração acrítica de quem o julga perfeito. Marido briga com a mulher, pai com o filho, amigo com amigo, cada um convencido de que possui a melhor análise sobre os candidatos...

Um terceiro grupo insiste em se manter indiferente ao período eleitoral, embora não o consiga em relação aos candidatos, todos eles considerados corruptos, mentirosos, aproveitadores e/ou demagogos.

Não há saída: estamos todos sujeitos ao Estado. E este é governado pelo partido vitorioso nas eleições. Portanto, ficar indiferente é passar cheque em branco, assinado e de valor ilimitado, a quem governa. Governo e Estado são indiferentes à nossa indiferença e aos nossos protestos individuais.

É compreensível uma pessoa não gostar de ópera, jiló ou cor marrom. E mesmo de política. Impossível é ignorar que todos os aspectos de nossa existência, do primeiro respiro ao último suspiro, têm a ver com política.

A classe social em que cada um de nós nasceu decorre da política vigente no país. Houvesse menos injustiça e mais distribuição da riqueza, ninguém nasceria entre a miséria e a pobreza. Como nenhum de nós escolheu a família e a classe social em que veio a este mundo, somos todos filhos da loteria biológica. O que não deveria ser considerado privilégio por quem nasceu nas classes média e rica, e sim dívida social para com aqueles que não tiveram a mesma sorte.

Somos ministeriados do nascimento à morte. Ao nascer, o registro segue para o Ministério da Justiça. Vacinados, ao da Saúde; ao ingressar na escola, ao da Educação; ao arranjar emprego, ao do Trabalho; ao tirar habilitação, ao das Cidades; ao aposentar-se, ao da Previdência Social; ao morrer, retorna-se ao Ministério da Justiça. E nossas condições de vida, como renda e alimentação, dependem dos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

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Em tudo há política. Para o bem ou para o mal. A política se faz presente até no calendário. Já reparou: dezembro, último mês do ano, deriva de dez? Novembro de nove, outubro de oito, setembro de sete?

Outrora o ano tinha dez meses. O imperador Júlio César decidiu acrescentar um mês em sua homenagem. Criou julho. Seu sucessor, Augusto, não quis ficar atrás. Criou agosto. Como os meses se sucedem na alternância 31/30, Augusto não admitiu que seu mês tivesse menos dias que o do antecessor. Obrigou os astrônomos da corte a equipararem agosto e julho em 31 dias. Eles não se fizeram de rogados: arrancaram um dia de fevereiro e resolveram a questão.

O Brasil é o resultado das eleições de outubro. Para melhor ou para pior. E os que o governam são escolhidos pelo voto de cada eleitor.

Faça como o Estado: deixe de lado a emoção e pense com a razão. As instituições públicas são movidas por políticos e pessoas indicadas por eles. Todos os funcionários são nossos empregados. A nós devem prestar contas. Temos o direito de cobrar, exigir, reivindicar, e eles o dever de responder às nossas expectativas.

A autoridade é a sociedade civil. Exerça-a. Não dê seu voto a corruptos nem se deixe enganar pela propaganda eleitoral. Vote no futuro melhor de seu município. Vote na justiça social, na qualidade de vida da população, na cidadania plena.

3 - Nota da CNBB (trechos escolhidos, 2013)

Lei da Ficha Limpa

Uma campanha vitoriosa foi a da Ficha Limpa. Trata-se da Lei Complementar n°. 135 de 2010, uma emenda à Lei das Condições de Inelegibilidade ou Lei Complementar n°. 64 de 1990, originada de um projeto de lei de iniciativa popular idealizado por integrantes do MCCE, destacando-se a CNBB, a CBJP, o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), a Cáritas e a OAB Nacional. O projeto da Ficha Limpa reuniu cerca de 1,3 milhões de assinaturas com o objetivo de aumentar a idoneidade dos candidatos. A participação ativa das comunidades católicas na campanha pelas assinaturas foi fundamental.

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Nas eleições de 2012, a primeira sob o efeito da Lei da Ficha Limpa, tivemos mais de 1500 casos de cassação de candidaturas no país.

Desta forma, a Igreja vem dando sua significativa contribuição para uma política mais ética e voltada para os reais interesses da população.

Mais do que uma lei, vem se impondo em diversos lugares uma espécie de “cultura da ficha limpa”, onde outros setores, por analogia, têm procurado aplicar o sentido da lei, ou seja, usam o conceito de ficha limpa para montar secretariado, contratar empresas e pessoas.

Posição oficial da Igreja

Já é explícito e claro que a Igreja reserva a atuação direta na vida partidária aos leigos.

0 papa Bento XVI afirmou que os padres devem ficar afastados do compromisso pessoal na política partidária para não comprometer a unidade e a comunhão de todos os fiéis. Disse que é bom evitar a secularização dos padres e a clericalização dos leigos. Os fiéis leigos devem empenhar-se em exprimir na realidade, inclusive através do empenho político, a visão antropológica cristã e a Doutrina Social da Igreja, uma vez que todas as ações sociopolíticas da Igreja têm como objetivo o bem comum.

Esse ensinamento está em profunda sintonia com o Direito Canônico que prescreve: “Os clérigos se abstenham completamente de tudo o que não convém a seu estado, de acordo com as prescrições do direito particular. Os clérigos evitem tudo o que, embora não inconveniente, é, no entanto, impróprio ao estado clerical. Os clérigos são proibidos de assumir cargos públicos que impliquem participação no exercício do poder civil.” (Cân. 285 §1°, 2o e 3o). “Os clérigos promovam sempre e o mais possível a manutenção, entre os homens, da paz e da concórdia fundamentada na justiça. Não tenham parte ativa nos partidos políticos e na direção de associações sindicais a não ser que, a juízo da competente autoridade eclesiástica, o exijam a defesa dos direitos a Igreja ou a promoção do bem comum” (Cân. 287 § Io e 2o).

A política partidária está em contraste com o ministério ordenado, porque este deve estar acima das facções políticas e servir a todos indistintamente. “Fora de sua expressão teológica, de seu primado

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espiritual, de seu discurso ético, a Igreja perderia sua própria identidade e, portanto, a possibilidade de atuação em qualquer outro nível”.

Com essas diretrizes, o episcopado nacional tem instado junto aos seus padres no sentido de que obedeçam às normas da Igreja.

Superação do divórcio entre fé e dever temporal

Por outro lado, isso não exime qualquer fiel, incluindo os clérigos, de seu dever para com a transformação da realidade social. A Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, já alertava: “O divórcio entre a fé professada e a vida cotidiana de muitos deve ser enumerado entre os erros mais graves do nosso tempo” (GS 43). E mais: “Ao negligenciar os seus deveres temporais o cristão negligencia os seus deveres para com o próximo e o próprio Deus e coloca em perigo a sua salvação eterna” (GS 43).

Assim como se tem claro que não cabe ao clérigo assumir diretamente um cargo político, é preciso ter claro que é dever da Igreja, portanto, a todos os clérigos, a formação de leigos para que estejam aptos para essa missão. Nada justifica a omissão nesta fundamental tarefa eclesial. Dessa forma, a Igreja Católica, significativamente atuante em todos os campos da vida do povo brasileiro, faz-se presente na política partidária e no serviço à sociedade através de cargos políticos, não pelo seu clero, mas pelos seus leigos. Para isso eles devem ser formados, encorajados, respaldados e acompanhados no exercício de suas funções e do seu mandato, quando eleitos. A presença qualificada de católicos no mundo da política tomará a fé cristã ainda mais relevante na organização da sociedade democrática, pois não há contradição entre democracia e religião. A fé católica, coerentemente vivida, não só não é obstáculo como pode ser uma das melhores defesas da democracia contra sua possível decomposição interna.

A pobreza, a democracia e a atuação do cristão no meio social

Ao assumir a opção preferencial pelos pobres, na perspectiva levantada pelo discurso inaugural da 5a Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, proferido pelo Papa Bento XVI: “A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus

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que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza” (cf. 2Cor 8,9), a “Igreja pobre, para os pobres”, como é o desejo evangélico do Papa Francisco, se engaja na defesa dos interesses dos mais desprezados na história. Esse engajamento decorre de sua fé em Jesus Cristo e não por questões meramente ideológicas. Isso tem implicações claras nos períodos eleitorais, pois não se pode praticar a indiferença quando candidatos a cargos políticos são claramente contrários à promoção dos pobres, quer por uma posição elitista, quer por estar envolvido em processos de corrupção, que atentam contra os interesses dos pobres e aviltam a convivência social e cristã.

Campanha confessional

A comunidade cristã se sente verdadeiramente solidária com o gênero humano e com sua história, portanto, os seus interesses coincidem com os interesses dos homens e mulheres de boa vontade, que desejam uma sociedade justa e fraterna. Para a consecução deste objetivo, a Igreja sempre estará como uma sentinela pronta a defender os direitos, sobretudo dos pobres, da família, dos pais a educar os filhos, da luta contra a corrupção, da exigência de plena transparência na administração pública, e a vida em todas as situações, desde a fecundação até a morte natural. Porém, não cairá na tentação de buscar constituir uma bancada parlamentar católica, que tenha feições confessionais. Pautar-se-á sempre pela conduta ética, em todas as campanhas, trabalhando para que os fiéis tenham plena consciência de seus deveres mais amplos com a sociedade e não se limitará a defender seus interesses institucionais. Também evitará emitir notas e pareceres que defendam ou atinjam diretamente este ou aquele candidato, por causa de filiação partidária ou identificação com esta ou aquela denominação cristã, mas não se fartará a defender os valores emanados da sua fé no Evangelho de Nosso Senhor.

Autonomia da realidade política

A conveniente consideração da relação entre a comunidade política e a Igreja é bem pertinente, sobretudo onde vigora uma sociedade pluralista como a brasileira. De modo algum, a Igreja se confunde com a comunidade política e nem pode ser identificada com um sistema

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político. Ambas as instâncias devem respeitar a independência e autonomia de cada uma, mesmo que trabalhem, muitas vezes, tendo por escopo as mesmas aspirações, ou seja, o bem-estar da comunidade humana. Guardadas as devidas proporções e natureza de cada uma, devem agir em cooperação, levando-se em conta as circunstâncias dos tempos e lugares. “A Igreja, sem dúvida, alicerçada no amor do Redentor, contribui para que a justiça e a caridade floresçam mais amplamente no seio de cada nação e entre as nações. Pregando a verdade evangélica, e iluminando todos os setores da atividade humana pela sua doutrina, pelo testemunho dos fiéis cristãos, a Igreja respeita e promove também a liberdade política e a responsabilidade dos cristãos” (GS 76).

Não obstante o desejo de colaborar no que promove o bem comum, a Igreja não abrirá mão, justificada pela mesma autonomia, de ser instância crítica e profética e de fazer seu caminho próprio, sem se identificar com as pessoas que exercem as funções políticas nem com as que exercem o poder econômico. Por isto cuidará, com sabedoria, que sua proximidade do poder não seja entendida como alinhamento e sua distância do poder não seja entendida como indiferença política.

Teocracia e alienação

Vivemos, hoje, um fenômeno crescente de participação de muitas denominações cristãs ou não no mundo da política. Aqui é preciso aprender da história. Nesse campo, há experiências no mundo que vão desde a teocracia até a total alienação; há experiência de envolvimento político partidário e direto por interesses corporativistas e experiência de envolvimento direto pelo bem da coletividade. Como discernir o momento exato de atuar ou se omitir? Deve-se evitar, por certo, toda e qualquer atitude oportunista, isto é, aproximar-se ou afastar-se segundo os interesses meramente institucionais. Seria um comportamento por demais pragmático e antiético. A Igreja não pode se transformar numa instância colaboracionista do poder político nem tampouco se identificar como a oposição cega e irracional. Há que se buscar a medida exata em cada momento histórico.

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Conclusão

Enfim, buscar o justo equilíbrio na participação da comunidade cristã nos momentos em que as campanhas políticas ganham as ruas do país é dever de todos os que acreditam na eficácia do fermento evangélico na transformação das realidades sociais e políticas. Imiscuindo-se na política partidária, a Igreja pode não dar a sua real contribuição, porém, omitindo-se da participação na política, sobretudo, da preparação concreta dos fiéis leigos para nela atuarem, negligencia parte significativa de sua missão evangelizadora.

Avaliação do material de Fé e Política

Pedimos que, ao terminar o percurso dos grupos, façam a seguinte avaliação e a enviem para nós:

[email protected] ou

Secretariado de Missão e Evangelização

Av. Gabriel de Rezende Passos, 178

CEP 32 603-246

Betim, MG

Quantas pessoas participaram de seu grupo de reflexão? _________

O material foi esclarecedor para vocês?

( ) muito ( ) pouco ( ) razoavelmente

Como vocês avaliam a parte “Um olhar em Jesus”?

( ) muito bom ( ) bom ( ) razoável

Como vocês avaliam a parte “Um olhar em nós”?

( ) muito bom ( ) bom ( ) razoável

Qual encontro lhes chamou mais a atenção? _______________________

Qual encontro foi mais difícil de ser entendido? ___________________

Sugestões e outros comentários para a equipe responsável.

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Secretariado de Missão e Evangelização