Federal University of Rio Grande do Norte - UNIVERSIDADE ......Literatura de cordel - Tese. I....

160
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO INFLUÊNCIA DE FATORES ABIÓTICOS NA DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DE FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA: PSYCHODIDAE) EM UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA DO RIO GRANDE DO NORTE MARCOS PAULO GOMES PINHEIRO NATAL 2017

Transcript of Federal University of Rio Grande do Norte - UNIVERSIDADE ......Literatura de cordel - Tese. I....

0

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

INFLUÊNCIA DE FATORES ABIÓTICOS NA DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

DE FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA: PSYCHODIDAE) EM UMA UNIDADE DE

CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA DO RIO GRANDE DO NORTE

MARCOS PAULO GOMES PINHEIRO

NATAL

2017

1

Marcos Paulo Gomes Pinheiro

INFLUÊNCIA DE FATORES ABIÓTICOS NA DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DE

FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA: PSYCHODIDAE) EM UMA UNIDADE DE

CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA DO RIO GRANDE DO NORTE

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente, associação ampla em Rede, Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Doutor.

Orientadora: Profa. Dra. Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes

2017

Natal-RN

2

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Biociências - CB

Pinheiro, Marcos Paulo Gomes.

Influência de fatores abióticos na distribuição e abundância de

flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) em uma unidade de conservação

da mata atlântica do Rio Grande do Norte / Marcos Paulo Gomes Pinheiro. - Natal, 2017.

158 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Orientadora: Profa. Dra. Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes.

1. Flebotomíneos - Tese. 2. Lutzomyia longipalpis - Tese. 3. Psychodopygus wellcomei - Tese. 4. Leishmanioses - Tese. 5. Mata

Atlântica - Tese. 6. Literatura de cordel - Tese. I. Ximenes,

Maria de Fátima Freire de Melo. II. Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 616.993.161

3

MARCOS PAULO GOMES PINHEIRO

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, associação

ampla em Rede, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Doutor.

Aprovada em: 13/02/2017

4

APRESENTAÇÃO

A Tese tem como título “Influência de fatores abióticos na distribuição e abundância

de flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) em uma unidade de conservação da mata atlântica

do Rio Grande do Norte”, e, conforme padronização aprovada pelo colegiado do DDMA

local, se encontra composta por uma Introdução Geral (embasamento teórico e revisão

bibliográfica do conjunto da temática abordada, incluindo a identificação do problema da

Tese), uma Caracterização Geral da Área de Estudo, Metodologia Geral empregada para o

conjunto da obra, e por cinco Capítulos que correspondem a artigos científicos, sendo dois

capítulos/artigos já publicados (Capítulos 01 e 03). Todos os capítulos/artigos estão nos

formatos dos periódicos aos quais estão aceitos/publicados/submetidos e os endereços dos

sites onde constam as normas dos periódicos estão destacados em cada capítulo/artigo.

5

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho só se tornou possível graças à participação de muitos. Cada um, a

seu modo, contribuiu para sua realização. A eles meu sincero reconhecimento:

Ao Deus Criador, restaurador e mantenedor da vida;

À minha Orientadora, professora Fátima Ximenes;

Ao CNPq e à Capes pelo suporte financeiro e bolsa de doutorado;

À Coordenação e professores do Prodema/UFRN, especialmente à professora Eliza, e

aos Secretários David e Érica;

Aos professores Jeffrey J. Shaw, Patrícia Barbosa, Eliza Freire e Herbet Tadeu,

membros da banca examinadora;

Ao ICMBio e a Patrícia, chefe da Floresta Nacional de Nísia Floresta;

Aos vigilantes da Floresta Nacional de Nísia Floresta;

Aos professores de Entomologia Renata Antonaci e Ricardo Andreazze;

À minha esposa Paula;

Ao meus pais, Paulo e Luziana;

Às minhas irmãs Luciana e Lidiane;

Aos meus tios e tias;

Aos meus sogros, Djalma e Bastinha;

Aos amigos do Labent: Ayrton, Carlos, Cássio, Hannah, Hilário, Ivan, João, Joyce,

Juliana, Marcel, Maria, Patrícia, Paulo, Tamy e Virgínia;

A Iraci Duarte, da Secretaria Estadual de Saúde;

Ao senhor João e senhora Ana, moradores de Nísia Floresta;

À Secretaria Municipal de Educação de Nísia Floresta;

Aos Gestores, professores e alunos das escolas municipais de Nísia Floresta;

A Melque, diretor da Escola Municipal Leonor Bezerra, em Nísia Floresta;

A todos os professores, colegas, amigos e parentes que de alguma forma participaram.

6

RESUMO

Influência de fatores abióticos na distribuição e abundância de flebotomíneos (Diptera:

Psychodidae) em uma unidade de conservação da mata atlântica do Rio Grande do

Norte

As leishmanioses são graves problemas de saúde pública no Brasil, causadas por protozoários

do gênero Leishmania transmitidos pelos flebotomíneos, pequenos insetos da ordem Diptera

cujas fêmeas são hematófagas. A leishmaniose visceral (LV) ou calazar, tem como principal

vetor nas Américas Lutzomyia longipalpis e Leishmania infantum como agente etiológico. No

Brasil, a Região Nordeste se destaca com a maior incidência de casos de LV, principalmente

entre as camadas mais desfavorecidas da sociedade. A leishmaniose tegumentar (LT) possui

diferentes vetores e agentes etiológicos em todo o país, tem ampla distribuição, e apesar da

menor gravidade, causa sérias lesões desfigurantes e incapacitantes em todas as regiões,

principalmente na região Norte. É relevante a introdução de estratégias de prevenção que

venham a modificar as ações humanas por meio da informação e sensibilização para o

problema, sendo a literatura de cordel um instrumento educativo que atrai por sua conotação

lúdica e informal, despertando a atenção das pessoas. O presente estudo buscou, portanto,

conhecer os flebotomíneos de uma Unidade de Conservação da Mata Atlântica e seu entorno,

bem como alguns fatores bióticos e abióticos relacionados à sua ocorrência, além de testar a

utilização do cordel como ferramenta informativa sobre o tema. O estudo aconteceu durante

três anos na área interna e externa da Floresta Nacional (Flona) de Nísia Floresta, localizada

no município de Nísia Floresta, região metropolitana de Natal, Rio Grande do Norte,

utilizando-se armadilhas Shannon e CDC. Foi produzido um cordel, em seu formato clássico,

intitulado “Um bebedor de sangue na terra do mandacaru - Peleja contra o calazar”, para

ações de educação em saúde com a população residente no entorno da Flona e com alunos de

escolas do município. Foram coletados e identificados 82.638 flebotomíneos das espécies

Evandromyia evandroi, Evandromyia lenti, Evandromyia walkeri, Evandromyia sallesi,

Lutzomyia longipalpis, Micropygomyia schreiberi, Nyssomyia intermedia, Nyssomyia

whitmani, Psathyromyia abonnenci, Psathyromyia brasiliensis, Psathyromyia shannoni,

Psychodopygus wellcomei e Sciopemyia sordellii. Os flebotomíneos foram mais abundantes

junto ao solo do ambiente silvestre, apesar de também serem abundantes junto às copas e no

peridomicílio rural. Evandromyia walkeri foi a espécie mais abundante, representando 76% de

todos os flebotomíneos coletados, sendo importante outras investigações acerca dessa espécie.

Lutzomyia longipalpis, E. evandroi e E. lenti demonstraram preferência pelos ambientes

antropizados. Esse estudo comprova a elevada antropofilia de P. wellcomei, que se mostra

ativo durante quase todo o dia no ambiente silvestre, bem como sua relação com os meses

chuvosos. Com base no conhecimento da bioecologia dos flebotomíneos vetores das

leishmanioses na área, espera-se que esse trabalho possa contribuir com estratégias de

prevenção e controle das leishmanioses no Nordeste.O cordel teve grande aceitação por parte

dos estudantes da EJA e a experiência demonstrou que esse pode ser um importante meio para

a disseminação de informações acerca da leishmaniose visceral, regionalizando as estratégias,

sensibilizando e divulgando um tema tão importante em saúde pública.

PALAVRAS-CHAVE: Flebotomíneos, Lutzomyia longipalpis, Psychodopygus wellcomei,

Leishmaniose visceral, Leishmaniose tegumentar, Mata Atlântica, Educação em saúde,

Literatura de cordel.

7

ABSTRACT

Influence of abiotic factors on the distribution and abundance of sand flies (Diptera:

Psychodidae) in a Conservation Unit of the Atlantic Forest at Rio Grande do Norte state

Leishmaniasis is a serious public health problem in Brazil, caused by protozoa of the genus

Leishmania transmitted by sand flies, small insects of the order Diptera whose females are

hematophagous. The main vector of visceral leishmaniasis (VL), or kala-azar, in the Americas

is Lutzomyia longipalpis while Leishmania infantum is the etiological agent. In Brazil, the

Northeastern Region stands out with the highest incidence of VL cases, especially among the

most disadvantaged groups of society. Tegumentary leishmaniasis (TL) has different vectors

and etiological agents throughout the country, a wide distribution, and despite its lower

severity, it causes serious disfiguring and disabling lesions all over the country, especially in

the North Region. It is relevant to introduce prevention strategies, through information and

consciousness of the problem, in order to modify deleterious anthropic actions. Cordel folk

literature has proved to be an educational instrument with potential use to address this issue,

since it attracts by its playful and informal connotations and awakens the attention of people

of different age groups. This study aimed, therefore, to know the sand flies fauna at an

Atlantic Forest Conservation Unit and its surroundings, as well as some factors related to their

occurrence, in addition to testing the use of cordel literature as an informative tool on the

subject. The study took place over three years in the internal and external area of the Nísia

Floresta National Forest (Flona) located in the city of Nísia Floresta, metropolitan region of

Natal, Rio Grande do Norte, using Shannon and CDC traps. A cordel pamphlet in its classic

format was produced, entitled "A blood drinker in the land of mandacaru - fight against kala-

azar," for health educational activities among the population living in the vicinity of the Flona

and students. The use of the cordel was validated through questionnaires applied to students

of the Education of Young and Adults Program. The pamphlet approaches the transmission,

symptoms, treatment and prophylaxis of the disease. There were collected and identified

82,638 sand flies of the species Evandromyia evandroi, Evandromyia lenti, Evandromyia

walkeri, Evandromyia sallesi, Lutzomyia longipalpis, Micropygomyia schreiberi, Nyssomyia

intermedia, Nyssomyia whitmani, Psathyromyia abonnenci, Psathyromyia brasiliensis,

Psathyromyia shannoni, Psychodopygus wellcomei and Sciopemyia sordellii. Phlebotomines

were more abundant near the soil of the wild environment, although they were also abundant

near the canopy and in the rural peridomicille. L. walkeri was the most abundant species,

representing 76% of all sandflies collected, and other investigations about this species are

important. L. longipalpis, E. evandroi and E. lenti showed preference for anthropized

environments. This study confirms the high anthropophilic behavior of P. wellcomei, which is

active throughout the day in the wild, as well as its relationship with the rainy months. Based

on the knowledge of the bioecology of sand flies vectors of leishmaniasis in the study area, as

well as the factors involved in its occurrence, it is expected that this work may contribute to

strategies for the prevention and control of leishmaniasis in Northeastern Brazil. The cordel

literature was widely accepted by students and the experience has shown that this may be an

important way for dissemination of information about visceral leishmaniasis. It is also desired

that the regionalization of educational strategies through cordel literature can contribute to the

dissemination of knowledge, sensitizing the community and disseminating such an important

subject in public health.

KEY WORDS: Sand flies, Lutzomyia longipalpis, Psychodopygus wellcomei, visceral

leishmaniasis, kala-azar, cutaneous leishmaniasis, Atlantic Forest, health education, cordel

literature.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................................

9

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO ...........................................

28

METODOLOGIA GERAL .............................................................................................

36

CAPÍTULO 01

Flebotomíneos (Diptera: Psychodidae), transmissores dos protozoários causadores das

leishmanioses, em uma Unidade de Conservação da Mata Atlântica do município de

Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil .......................................................................

40

CAPÍTULO 02

Sazonalidade de flebotomíneos (Diptera: Psychodidae), transmissores de Leishmania,

na área interna e externa de uma Unidade de Conservação de Mata Atlântica do

Nordeste do Brasil...............................................................................................................

63

CAPÍTULO 03

Antropofilia de Lutzomyia wellcomei (Diptera: Psychodidae) em uma unidade de

Conservação de Mata Atlântica do Nordeste do Brasil ......................................................

89

CAPÍTULO 04

Variação horária para atividade hematofágica de Lutzomyia wellcomei (Diptera:

Psychodidae) em um fragmento de Mata Atlântica da Região Metropolitana de Natal,

Rio Grande do Norte, Brasil ...............................................................................................

101

CAPÍTULO 05

A literatura de cordel como ferramenta na ampliação do conhecimento para a prevenção

da leishmaniose visceral......................................................................................................

119

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................

144

REFERÊNCIAS ...............................................................................................................

146

APÊNDICE ....................................................................................................................... 157

9

INTRODUÇÃO GERAL

Muitas doenças podem ser entendidas além de um problema de saúde pública,

passando a ser um desafio importante, de cunho socioeconômico, e de grande influência,

especialmente em áreas menos desenvolvidas (BATISTA et al., 2001). Nesse contexto, as

parasitoses transmitidas por insetos vetores se constituem um grave problema no Brasil,

destacando-se as leishmanioses, que apresentam índices elevados no país (BRASIL, 2015).

As leishmanioses estão entre as principais doenças humanas cujos agentes causadores

são transmitidos por insetos (ROHOUSOVA; OZENSOY, 2005). São doenças de ampla

distribuição mundial presentes atualmente em cerca de 88 países de quatro continentes. Os

sintomas variam dependendo do agente etiológico, da resposta imune do hospedeiro e de

fatores ainda não esclarecidos (VOLF; HOSTOMSKA, 2008), sendo a infecção consequência

da interação entre o inseto vetor, o animal reservatório e o parasita, que no repasto é

inoculado no hospedeiro sadio (KILLICK-KENDRICK, 1990).

São doenças que ocorrem geralmente em áreas com condições socioeconômicas

precárias, e, portanto, acometem principalmente as camadas sociais mais desfavorecidas.

Consideradas entre as doenças mais negligenciadas do mundo, ocorrem principalmente em

países em desenvolvimento, nos quais 350 milhões de pessoas são consideradas em risco e 2

milhões de novos casos ocorrem anualmente (WHO, 2010). Está associada a má alimentação,

más condições de moradia, sistema imunológico enfraquecido, mudanças climáticas,

desmatamentos, urbanização desordenada, construção de barragens, estradas e hidrelétricas,

migração de populações e guerras (CARDIM et al., 2013; ALAWIEH et al. 2014).

As mudanças climáticas influenciam na expansão geográfica dos vetores, e,

consequentemente, na transmissão das várias formas de leishmaniose em todo o mundo

(PATZ et al., 2000). A devastação de áreas naturais, que incluem o habitat dos vetores, pode

causar a adaptação destes aos ambientes modificados, contribuindo para o aumento de casos

peridomésticos, periurbanos ou mesmo urbanos da doença (CAMPBELL-LENDRUM et al.,

2001, SARAIVA et al., 2012). Casos isolados ou mesmo surtos podem ainda acontecer

quando humanos entram em ambientes florestais para fins ocupacionais ou de lazer, ou

mesmo quando suas habitações passam a adentrar áreas silvestres (BERN et al., 2008).

As leishmanioses são das mais complexas doenças cujos insetos vetores estão

envolvidos na transmissão de seus agentes causadores (SHARMA; SINGH, 2008). Atingem

10

seres humanos e animais, e são causadas por protozoários do gênero Leishmania Ross, que,

dependendo da espécie, podem causar a leishmaniose tegumentar (LT) ou leishmaniose

visceral (LV), podendo ser assintomática ou se apresentar de forma grave (CDC, 2016). A LV

é conhecida popularmente como calazar, termo derivado de Kala-azar que significa “febre

negra” ou “febre mortal” na Índia, onde a doença pode apresentar escurecimento em partes do

corpo (WHO, 2010).

As leishmanias são transmitidas por insetos hematófagos da Ordem Diptera, os

flebotomíneos (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae), também conhecidos como mosquito-

palha, flebótomo, cangalhinha, asa-dura, tatuquira ou birigui, que além de transmissores de

agentes causadores de LT e LV (YOUNG; DUNCAN, 1994), também podem atuar como

vetores de Vesiculovirus, vírus causadores da estomatite vesicular, entre outros arbovírus, e

bactérias do gênero Bartonella, que causam a doença de Carrión, também conhecida como

verruga peruana, e a febre das trincheiras, dentre outras (STEFANO et al., 2002; DANTAS et

al., 2006).

A primeira espécie de flebotomíneo foi descrita por Scopoli na Itália, em 1786, a atual

Phlebotomus papatasi (DEDET et al., 2003), e somente em 1907 Coquillett fez a primeira

descrição de espécies americanas, Flebotomus cruciatus e Flebotomus vexator

(COQUILLETT, 1907). No Brasil, as primeiras espécies foram descritas por Lutz e Neiva, em

1912, Phlebotomus longipalpis, Phlebotomus squamiventris e Phlebotomus intermedius. A

classificação de flebotomíneos mais recente é a de Galati, com 464 espécies neotropicais

pertencentes a 23 gêneros (GALATI, 2003a; 2003b).

Os flebotomíneos são insetos de pequeno porte, medem de dois a três milímetros, sua

coloração é de amarelada a marrom-escuro, são densamente pilosos, e apresentam as asas em

forma de ponta de lança, mantidas eretas quando em pouso.

São holometábolos, isto é, seu desenvolvimento compreende quatro fases: ovo, larva,

pupa e adulto (Figura 1). Após copularem, as fêmeas fazem a postura dos ovos em um

substrato com matéria orgânica úmida no solo, o que garante alimentação para as larvas. Após

a eclosão, as larvas se alimentam e desenvolvem, passando por quatro estádios, chegando à

fase de pupa, que fica imóvel no substrato, de onde finalmente emerge o flebotomíneo adulto

(BRAZIL; BRAZIL, 2003; BRASIL, 2014).

11

Figura 1 - Ciclo evolutivo de Phlebotominae: Ovos (A), larva (B), pupa (C) e adulto (D).

Fonte: Autoria própria.

Os ovos dos flebotomíneos (Figura 2) podem medir, conforme a espécie, cerca de 300

a 500 micrômetros de comprimento por 70 a 150 micrômetros de largura. Possuem forma

ovóide ou elipsóide e são de coloração clara após a postura, passando a se tornar escuros

depois de algum tempo. Apesar de apresentarem certas ornamentações essa característica dos

ovos ainda não pode ser utilizada como meio seguro de identificação específica (WILLIAMS,

2000; XIMENES et al. 2001; BRAZIL; BRAZIL, 2003).

Figura 2 - Ovos de Phlebotominae.

Fonte: Autoria própria.

12

Em condições de laboratório, uma fêmea realiza postura de 40 ovos em média, que

podem ser dispostos isoladamente ou em grupos, embora isso possa variar de acordo com a

espécie. Ximenes et al. (2001) obtiveram de 21 a 50 ovos por fêmea de E. evandroi em

condições de laboratório. Uma substância rica em ácido graxo produzida pelas glândulas

acessórias dá impermeabilização aos ovos e faz com que estes fiquem aderidos ao substrato

(WILLIAMS, 2000; BRAZIL; BRAZIL, 2003; BRASIL, 2014).

De 7 a 17 dias após a postura acontece geralmente a eclosão das larvas dos

flebotomíneos, que são claras e vermiformes (Figura 3). As larvas vivem no solo úmido e

sombreado, com abundante matéria orgânica animal e vegetal em decomposição, da qual se

alimentam após a eclosão. Alimentam-se também das cascas dos ovos e dos corpos dos

adultos mortos (FORATTINI, 1973; BRAZIL; FERRO et al., 1997; XIMENES et al. 2001;

BRAZIL, 2003).

As larvas são pequenas chegam a medir aproximadamente 12 milímetros, possuem

cabeça bem desenvolvida e mais escura que o restante do corpo, constituído de doze

segmentos, dos quais três são torácicos e nove abdominais. Na cabeça existem as antenas e as

peças bucais trituradoras e, no último segmento abdominal, observa-se um par de filamentos

no primeiro estádio e dois pares de filamentos nos seguintes estádios (YOUNG; DUNCAN,

1994; WILLIAMS, 2000; XIMENES et al. 2001; BRAZIL; BRAZIL, 2003; BRASIL, 2014)

(Figura 3).

Figura 3 - Larva de flebotomíneo Psathyromyia abonnenci.

Fonte: Autoria própria.

As pupas dos flebotomíneos (Figura 4) não se alimentam e são mais resistentes às

variações ambientais. Possuem 13 segmentos, sendo os quatro primeiros fundidos, formando

13

o cefalotórax e, os outros nove, compondo o abdome. São inicialmente de cor clara, tornando-

se mais escura ao longo do tempo e conforme fica mais próximo o momento da emergência

do adulto que acontece dentro de 7 a 12 dias (YOUNG; DUNCAN, 1994; XIMENES et al.

2001; BRAZIL; BRAZIL, 2003).

Figura 4 - Pupa de flebotomíneo Psathyromyia abonnenci.

Fonte: Autoria própria.

Flebotomíneos adultos possuem grandes olhos compostos, de tamanho e aparência

semelhantes, além de longas antenas, palpos com cinco segmentos e peças bucais perfurantes

(Figura 5).

Figura 5 – Fotografia de cabeça de P. wellcomei em microscopia

eletrônica de varredura.

Fonte: PINHEIRO et al., 2013.

14

Observando-se o abdome, machos e fêmeas são facilmente distinguíveis (Figura 6). Os

machos possuem uma terminália (porção terminal do abdome), cuja função é a apreensão da

fêmea durante a cópula, formada por apêndices bastante desenvolvidos e ornamentados por

espinhos e cerdas de valor taxonômico, uma vez que variam em tamanho e forma nas

diferentes espécies. As fêmeas apresentam o abdome mais discreto, de aspecto curvo e

abaulado (BRAZIL; BRAZIL, 2003; WILLIAMS, 2000; AMENDOEIRA et al., 2012;

BRASIL, 2014) (Figura 6).

Figura 6 - Terminálias de flebotomíneos macho (A) e fêmea (B).

Fonte: Autoria própria.

Os flebotomíneos são bastante sensíveis ao ressecamento e costumam procurar abrigos

que os mantenham em uma mínima variação de temperatura e umidade. Assim, costumam se

proteger em diferentes ambientes como caules de árvores, tocas, folhiço, arbustos, copas de

árvores e arbustos, fendas em rochas, ou mesmo em abrigos de animais domésticos ou

domicílios de seres humanos onde também as fêmeas realizam o repasto sanguíneo (AGUIAR

et al., 1985; ALEXANDER et al., 1992; AZEVEDO et al., 1993; GOMES et al., 1980;

XIMENES et al., 1999).

No Brasil já foram catalogadas mais de 220 espécies de flebotomíneos (GALATI,

2003a), e apesar da maioria não ter importância comprovada em saúde pública, é provável

que o número de espécies vetoras seja subestimado (SHAW, 2002).

Além da hematofagia realizada apenas pelas fêmeas, flebotomíneos adultos, machos e

fêmeas, ingerem carboidratos para obtenção de energia vital (CAVALCANTE et al., 2006;

PINHEIRO et al., 2013). É relevante a relação entre a viabilidade da Leishmania e a

15

existência desses açúcares na alimentação dos flebotomíneos, o que pode ter importante

contribuição na transmissão, e ainda a possibilidade desses insetos estarem adaptados à

alimentação em plantas exóticas (PINHEIRO et al., 2013).

A Leishmania (Figura 7) é um parasita intracelular digenético, ou seja, necessita de

dois ou mais hospedeiros para a realização de seu ciclo de vida, e apresenta duas principais

formas evolutivas: promastigota e amastigota. Seus principais hospedeiros vertebrados são o

homem, roedores, canídeos silvestres e domésticos, marsupiais, equinos preguiças e felinos

(AMENDOEIRA et al., 2012).

Figura 7 - Macrófago em rompimento repleto de leishmanias. Na parte inferior há

uma forma amastigota evidenciando núcleo (N) e cinetoplasto (C).

Fonte: Ximenes, M.F.F.M.

O gênero Leishmania faz parte do filo Sarcomastigophora, subfilo Mastigophora,

Ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae, e possui cerca de 20 espécies patogênicas

para seres humanos (ASHFORD, 2000; AMENDOEIRA et al., 2012), sendo Leishmania

infantum chagasi Cunha e Chagas a causadora de LV no Novo Mundo, incluindo o Brasil.

Dentre as causadoras das formas dermotrópicas no país estão Leishmania braziliensis Vianna,

Leishmania amazonensis Lainson e Shaw, Leishmania guyanensis Floch, Leishmania shawi

Lainson, Braga e de Souza, Leishmania lainsoni Silveira, Shaw, Braga e Ishikawa,

Leishmania naiffi Lainson e Shaw (SHARMA e SINGH, 2008; AMENDOEIRA et al., 2012).

16

No ciclo de transmissão da Leishmania (Figura 8), quando o flebotomíneo fêmea

realiza o repasto em um hospedeiro infectado, adquire as formas amastigotas do protozoário

(Figura 7), que alcançam o intestino anterior do inseto, sofrendo uma série de modificações

morfológicas, bioquímicas e funcionais necessárias à sua sobrevivência no hospedeiro e

consequentemente à infecção (SACKS, 1989; WALTERS; MODI, 1989; KILLICK-

KENDRICK, 1990; AMENDOEIRA et al., 2012).

Figura 8 - Ciclo vital de Leishmania em flebotomíneo e em humano.

Fonte: Adaptado de CDC (https://www.cdc.gov/dpdx/leishmaniasis/index.html).

No trato digestivo do vetor, o parasito assume sua forma promastigota (Figura 9),

diferenciando-se então em promastigota procíclica, estágio que evita sua expulsão do intestino

médio do inseto vetor. Posteriormente, a Leishmania assume sua forma promastigota

metacíclica infectante, fase em que migra para as peças bucais, o que parece estar relacionado

17

à ingestão de carboidratos pelos flebotomíneos (AÑEZ et al., 1989; SHARMA e SINGH,

2008; AMENDOEIRA et al., 2012). É importante ressaltar que a presença de açúcares

contribui para a sobrevivência, desenvolvimento e infectividade da Leishmania no corpo do

inseto (SCHLEIN; JACOBSON, 1994; JACOBSON et al., 2001).

Figura 9 - Formas promastigotas de Leishmania mostrando

núcleo (A), cinetoplasto (B) e flagelo (C).

Fonte: Amendoeira et al., 2012

Ao exercer novamente a hematofagia, o flebotomíneo fêmea inocula, juntamente com

sua saliva, as formas promastigotas no hospedeiro vertebrado. Essas formas, ao penetrarem nas

células do sistema fagocítico mononuclear local, transformam-se em amastigotas,

multiplicando-se intensamente por divisão longitudinal binária. No hospedeiro vertebrado

infectado, dentro de seus macrófagos, desenvolvem-se as formas amastigotas do parasita, o

que pode levar ou não aos sintomas da doença. O hospedeiro serve então de reservatório para

um próximo flebotomíneo reiniciar o ciclo parasitário (PESSÔA; MARTINS, 1977; REY,

2014).

A forma mais comum de leishmaniose em todo o mundo é a tegumentar, mais

frequentemente causada por L. infantum, Leishmania major Yakimoff e Schokhor,

Leishmania tropica Wright e Leishmania donovani no Velho Mundo, e por L. braziliensis e

Leishmania mexicana Biagi no Novo Mundo. No Afeganistão, Algeria, Irã, Arábia Saudita,

Síria, Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia ocorrem cerca de 90% dos casos mundiais (Figura 10)

(DESJEUX, 2004; REITHINGER et al., 2007; MODABBER et al., 2007, AVERSI-

FERREIRA et al., 2014).

18

Figura 10 – Casos mundiais de LT de 2004 a 2014.

Fonte: Aversi-Ferreira et al. 2014.

Em todos os países onde ocorre, a LT é um problema de saúde pública, uma vez que

pode causar lesões destrutivas com sérios efeitos psicológicos e sociais (GONTIJO;

CARVALHO, 2003), uma vez que compromete pele e mucosas com sérias lesões

desfigurantes e incapacitantes (Figura 11).

Figura 11 – Formas clínicas de leishmaniose tegumentar: forma cutânea localizada (A), mucosa (B) e

forma cutânea disseminada (C).

Fontes: http://www.revistacirurgiabmf.com/2004/v4n4/pdf/v4n4.3.pdf e Brasil 2006.

Recentemente, observou-se um dramático aumento dos casos de LT durante a guerra

civil na Síria, também no Líbano e Turquia, principalmente entre jovens, associado a

19

migrações de refugiados, passando de 0-6 para 1033 casos (ALAWIEH et al., 2014;

SALMAN et al., 2014). Apesar da carência de informações concretas, estima-se cerca de

100.000 casos nas áreas de conflito, demonstrando um exemplo do risco associado a guerras,

e a facilidade de expansão para outros locais pela travessia de fronteiras (ALAWIEH et al.,

2014). Devido a fuga dos sírios para países vizinhos e para a Europa, a LT pode se tornar uma

nova ameaça em regiões anteriormente não afetadas (HAYANI et al., 2015).

No Brasil, casos notificados de LT eram mais associados a atividades de garimpo,

agricultura ou uso da floresta até a década de 1980 (DOURADO et al., 1989), mas

posteriormente passaram a ser notificados casos ligados a áreas periurbanas (BARRET;

SENRA 1989; PASSOS et al., 1993).

As espécies vetoras relacionadas às diferentes formas de LT no Brasil variam,

dependendo da região, sendo as principais: Migonemyia migonei França, Nyssomyia whitmani

Antunes e Coutinho, Nyssomyia umbratilis Ward e Fraiha, Psychodopygus wellcomei Fraiha,

Shaw e Lainson, Trichophoromyia ubiquitalis Mangabeira, Psychodopygus complexa

Mangabeira e Bichromomyia flaviscutellata Mangabeira.

No Rio Grande do Norte, a LT é causada por L. braziliensis e possui baixa incidência

(Figura 12), apesar de provavelmente subestimado devido dificuldades de acesso aos serviços

de saúde e consequente diagnóstico precoce (XIMENES et al., 2007). Nesse Estado, a doença

prevalece nas áreas rurais do município de São Miguel e áreas adjacentes (OLIVEIRA et

al., 2004), onde ocorrem as espécies Nyssomyia intermedia e M. migonei, relacionadas com a

transmissão de L. braziliensis também em outras áreas do Brasil (XIMENES et al., 2007;

SESAP, 2015).

Figura 12 – Casos confirmados de LT no Rio Grande do Norte (RN), Nordeste (NE) e Brasil, de 2003 a 2015.

Fonte: SINAN/SVS/MS.

20

A LV tem uma ampla distribuição mundial, ocorrendo no Oriente Médio, na Ásia,

Europa, África e nas Américas, onde também é conhecida por leishmaniose visceral

americana (LVA) ou calazar. Aproximadamente 90% dos casos mundiais de LV ocorrem em

cinco países: Índia, Bangladesh, Nepal, Sudão e Brasil (Figura 13) (GONTIJO; MELO, 2004;

AVERSI-FERREIRA et al., 2014).

Figura 13 – Casos mundiais de LV de 2004 a 2014.

Fonte: Adaptado de Aversi-Ferreira et al., 2014.

O agente etiológico da LV é L. infantum e acomete principalmente fígado, baço e

medula óssea, causando febre persistente, diarreia, crescimento abdominal e emagrecimento

(Figura 14), com considerável mortalidade. A maioria dos casos acometem crianças abaixo

dos 10 anos, mas adultos são frequentemente afetados, principalmente em focos de introdução

recente, sendo fatores de risco a desnutrição, os fatores genéticos e outras infecções como co-

infecção com HIV (WHO, 2010)

21

Figura 14 - Aspectos clínicos de leishmaniose

visceral em paciente do RN.

Fonte: JERÔNIMO, S. M. B.

Na América Latina, a LV já foi descrita em pelo menos 12 países, contudo 90% dos

casos ocorrem no Brasil, especialmente no Nordeste do país (BRASIL, 2014), onde possui a

maior incidência, principalmente junto às camadas sociais mais desfavorecidas (XIMENES et

al., 2006; XIMENES et al., 2007). O primeiro caso da doença registrado no Brasil foi em

1913, em paciente de Boa Esperança, Estado do Mato Grosso (ALENCAR et al., 1991).

Posteriormente, Penna (1934), pesquisando casos de febre amarela, encontrou 41 casos de LV

ao observar amastigotas do parasito em laminas histológicas, sendo um paciente oriundo do

Rio Grande do Norte. A doença se espalhou pelo país e sua transmissão vem sendo descrita

em vários municípios, de todas as regiões, principalmente no Nordeste (Figura 15),

acometendo pessoas de todas as idades, sendo que na maior parte das áreas, constata-se que

cerca de 80% dos casos acometem crianças abaixo dos 10 anos de idade (GONTIJO; MELO,

2004).

22

Figura 15 - Casos confirmados de LV no Brasil, Nordeste e Rio Grande do Norte, 2003-2015.

Fonte: SINAN/SVS/MS.

A LV era considerada predominantemente rural até o final dos anos 70, mas a partir de

1981, na cidade de Teresina, Estado do Piauí, Brasil, verificou-se o início de seu processo de

urbanização, fenômeno também observado em Natal no início dos anos 90 (JERÔNIMO et

al., 1994) e em outros países da América Latina (SOARES; TURCO, 2003). Nesse sentido, o

Ministério da Saúde (BRASIL, 2015) enfatiza que a LV era antes restrita às áreas rurais da

região Nordeste, passando a se expandir, avançando para áreas periurbanas e urbanas. Nos

últimos anos vem passando por um importante processo de expansão e urbanização, com

diferentes fatores envolvidos no ciclo de transmissão e a tornando uma doença em avanço em

todas as regiões do país.

As teorias que explicam o processo de urbanização da LV, bem como de seu inseto

transmissor, ainda não são conclusivas. É cogitado que a intensa atividade urbana e os altos

índices populacionais, associados à existência de fragmentos de ambientes naturais, com

perda da biodiversidade, tenham favorecido tal processo (MCINTYRE et al., 2001; NUNES

et al., 2008). São, portanto, imprescindíveis novas análises e argumentos para o fenômeno de

urbanização da doença e das alterações na bioecologia de seus vetores que possam explicar a

epidemiologia das leishmanioses em áreas urbanizadas nos dias atuais.

Na América Latina, as principais espécies envolvidas na transmissão do protozoário L.

infantum são Lutzomyia longipalpis Lutz e Neiva, Lutzomyia cruzi Mangabeira e Pintomyia

evansi Núñez-Tovar (TRAVI et al., 1990; BENDEZU et al., 1995; MONTOYA-LERMA et

al., 2003; IBÁÑEZ-BERNAL et al., 2004; BEJARANO et al., 2009).

23

No Brasil, apesar da evidência de transmissão de LV por outras espécies, o principal

vetor é Lutzomyia longipalpis, espécie bastante abundante, principalmente nas regiões

Nordeste, Norte e Centro-Oeste do país (GONTIJO; MELO, 2004; LAINSON; RANGEL,

2005; MISSAWA et al., 2011; AMENDOEIRA et al., 2012).

Encontrado em matas conservadas, áreas modificadas ou em descampados, L.

longipalpis é um flebotomíneo bastante eclético, se esconde em abrigos de animais, entre

rochas ou em grutas, invade residências e abrigos de animais, principalmente à noite, onde

procura realizar o repasto sanguíneo em mamíferos e aves (XIMENES et al., 1999; SOARES;

TURCO, 2003). Investigação realizada em áreas rural e periurbana próxima a Natal revelou

que L. longipalpis realizou repasto sanguíneos em diferentes fontes como homem, cão,

galinha e tatu (MACEDO-SILVA et al., 2014).

No Rio Grande do Norte a LV é causada por L. infantum, tendo o flebotomíneo L.

longipalpis como vetor, embora não tenhamos ainda a identificação dessa espécie infectada

por L. infantum no estado. O primeiro registro da doença no Rio Grande do Norte aconteceu

em 1934, e a partir da década de 1980 foi observada sua expansão. A LV é mais presente na

Região Metropolitana de Natal, onde ocorreram 37% dos casos registrados entre 2007 e 2014

(XIMENES et al., 2007; SESAP, 2015), mas também em municípios da Região Oeste do

estado, que nos últimos anos vem tendo um número expressivo de casos (LEITE; ARAUJO,

2013).

Os vertebrados que atuam como hospedeiros ou reservatórios podem variar de acordo

com a região, podendo ser domésticos, silvestres ou ambos (LAINSON et al., 1969). Dentre

os reservatórios silvestres de L. infantum mais conhecidos no Rio Grande do Norte estão as

raposas (Cerdocyon thous) e marsupiais do gênero Didelphis, conhecidos como gambá ou

timbu, ambos de hábitos sinantrópicos (Figura 16), podendo funcionar como ponte entre os

ciclos doméstico e silvestre. Em área rural do Rio Grande do Norte, Macedo-Silva et al.,

(2014) encontraram grande quantidade de flebotomíneos ingurgitados com sangue de

Euphractus sexcintus (tatu). No ambiente doméstico, o cão é o principal hospedeiro e

importante fonte de infecção para os vetores (GONTIJO; MELO, 2004).

24

Figura 16 - Raposa (A e B), tatu (C) e gambá (D) ocorrentes no Rio Grande do Norte.

Fonte: XIMENES, M. F. F. M. (A-C) e PINHEIRO, M. P. G. (D).

A ocorrência da LV vem se espalhando em vários estados brasileiros, podendo estar

relacionada à adaptação do vetor diante de processos de ocupação em áreas de mata ou sua

derrubada para construção de estradas, novos núcleos populacionais e ampliação de atividades

agrícolas (VALE; FURTADO, 2005; MARZOCHI, 1992).

Como medidas de prevenção mais comuns para as leishmanioses estão o diagnóstico e

tratamento dos casos humanos, diagnóstico e eliminação dos cães soropositivos, combate ao

vetor, principalmente através de inseticidas e manejo ambiental, proteção das pessoas e

melhoria nas condições de vida das populações atingidas (ALENCAR, 1961; LACERDA,

1994; DAVIES et al., 2000). Encontra-se ainda em teste e tem surgido propostas para controle

biológico de flebotomíneos por meio de fungos (REITHINGER et al., 1997; FEIJÓ et al.,

2007; AMÓRA et al., 2009).

É imprescindível o conhecimento acerca da bioecologia dos vetores, bem como dos

aspectos socioambientais envolvidos na sua ocorrência, e consequentemente na epidemiologia

das leishmanioses, contribuindo com os estudos já realizados e agregando conhecimentos a

respeito dos fatores que influenciam o ciclo do vetor e da ocorrência da doença. Nesse

contexto, é notório que as questões ambientais envolvidas na existência dos vetores das

leishmanioses precisam ser conhecidas mais profundamente, e que a prática interdisciplinar

25

voltada para educação ambiental é fator importante, a fim de uma melhor compreensão das

relações entre o homem, a saúde e o ambiente. Contudo, ações de caráter interdisciplinar e

multiprofissional, voltadas à educação em saúde e ambiente, que aliem diferentes saberes,

ainda são insuficientes (SCHMIDTH, 2007).

Greco (1999) enfatiza que as doenças estão relacionadas com diferentes contextos

ecológicos e sociais, nos quais ocorre o desequilíbrio das relações entre hospedeiro-ambiente-

agente. Nesse sentido, se torna importante analisar a problemática relativa aos

comportamentos humanos nas diversas culturas ao redor do planeta. Essa diversidade é

complexa, e se torna um desafio quando se objetiva a adoção de práticas que possam resultar

no bem-estar social. As interferências humanas causam impactos ao ambiente que, à medida

que é explorado, pode-se tornar forte gerador de desigualdades ecológicas estreitamente

ligadas à saúde da população (SCHMIDTH, 2007).

Portanto, a regionalização de medidas visando a ampliação e garantia de melhores

condições de saúde, educação e ambiente, é de fundamental importância (SCHMIDTH,

2007). Sendo a educação um ato de conhecimento e conscientização (FREIRE, 2001, p.11),

no contexto da educação em saúde e ambiente é relevante que as estratégias educativas a

adotem e atinjam os diversos segmentos e realidades sociais, respeitando os diferentes

contextos.

Considerando que “A poesia é um instrumento educativo que gera imagens e visões,

estimula a motivação e inflama, aguça a imaginação e, quem aprende passa a adquirir novas

atitudes” (ZÓBOLI, 1998), compreende-se que a literatura de cordel pode ser utilizada como

ferramenta educativa, uma vez que estimula nos alunos a busca pelo conhecimento.

O cordel é considerado uma forma de arte popular bastante singular no Brasil,

publicada como versos em rima, e apresentado em pequenos folhetos confeccionados em

papel simples. É chamado cordel por serem os folhetos originalmente expostos para venda

pendurados em cordéis ou cordões (ÂNGELO, 1996). Chegou ao país em meados do século

XIX (ÂNGELO, 1996), vindo da Europa, e passou a ser uma das mais importantes

manifestações da literatura popular brasileira, especialmente do Nordeste, sendo comum ainda

atualmente em mercados populares e feiras livres (LUYTEN, 2007).

Esse gênero literário possui uma conotação lúdica, informal e prazerosa, que pode ser

inserida no contexto educacional, de modo a popularizar a ciência, uma vez que aborda

variados temas com linguagem acessível, tornando-se um instrumento de disseminação do

conhecimento que atinge diferentes públicos (MACIEL, 2010). Uma vez que as leishmanioses

26

são doenças de grande expressividade no Nordeste do Brasil, e que acometem as camadas

sociais menos favorecidas, justificam-se como tema de grande importância a ser tratado em

um material educativo como o cordel.

Diante do exposto, é importante destacar que:

O conhecimento das interações entre protozoários, flebotomíneos vetores,

hospedeiros humanos e animais sinantrópicos poderá resultar em estratégias

de controle da doença, que possam ser compreendidas e adotadas pela

população, por meio de ações educativas que resultem na mudança de

atitudes de gerações de pessoas que vivem em áreas onde a pobreza e a

exclusão social são imperativas. (XIMENES; ALVES, 2013, p. 30).

Nesse sentido, propõe-se, portanto, divulgar informações acerca das leishmanioses

através de cordel (Figura 17), um material educativo popular, de boa aceitação e de caráter

lúdico, utilizando-o como ferramenta de sensibilização, com enfoque na transmissão, nos

sintomas e na prevenção da doença.

Figura 17 – Ações de divulgação sobre leishmanioses através da literatura de cordel em municípios da

região metropolitana de Natal.

Fonte: Autoria própria.

Estudos sobre a influência das condições sociais, econômicas e ambientais na saúde

dos indivíduos são de grande importância, podendo gerar estratégias e ações preventivas e de

educação em saúde. Para Tambellini (2002) a saúde é um bem ideal, e está relacionada à ética

e à estética como um desafio da atualidade, e a relação da saúde com o ambiente provoca a

27

necessidade de resgatar estudos e propostas nas diversas áreas de pesquisa, com o propósito

de possibilitar outras maneiras de prevenir e controlar doenças.

As questões relativas à urbanização desordenada, migrações, aumento populacional e

degradação ambiental são complexas, bem como a compreensão do processo de adaptação de

parasitos e seus insetos vetores. Contudo, é provável que a manutenção de áreas de

conservação, bem como o conhecimento dos impactos causados pela expansão urbana junto a

essas áreas possam contribuir com a redução da expansão geográfica das leishmanioses

(LAINSON, 1989; XIMENES et al., 2007). Cabe ressaltar ainda o grave problema ambiental

em face da perda de cerca de 93% da área original da Mata Atlântica brasileira e o atual nível

de fragmentação, resultante do processo de urbanização (GALINDO-LEAL; CÂMARA,

2003; TABARELLI et al., 2010). O conhecimento acerca dos efeitos da urbanização sobre

populações de animais varia bastante entre grupos taxonômicos, mas é notória as

consequências no caso de espécies vetoras (MCKINNEY, 2008).

Como graves doenças negligenciadas, cuja ocorrência está intimamente relacionada a

problemas ambientais, e que têm afetado as diferentes regiões do país e a população do Rio

Grande do Norte, as leishmanioses necessitam de vigilância constante. É notória a

necessidade do desenvolvimento de estudos que contemplem a bioecologia das espécies

vetoras, sua expansão e urbanização, destacando-se a sazonalidade e as condições locais que

influenciem os riscos para a saúde humana. Associando-se a isso, a proposição de

informações e medidas que venham a contribuir com a minimização dos riscos de infecção.

O presente trabalho tem como objetivo geral conhecer alguns fatores abióticos que

influenciam a ocorrência e distribuição dos flebotomíneos vetores das leishmanioses na área

interna e externa de uma Unidade de Conservação da Mata Atlântica da Região Metropolitana

de Natal, bem como difundir informações que cheguem à população exposta aos riscos. Os

objetivos específicos são: a) Identificar as espécies de flebotomíneos presentes na área da UC

e entorno; b) Aprofundar os conhecimentos sobre abundância e sazonalidade das principais

espécies de flebotomíneos existentes na área da UC e seu entorno; c) Avaliar a antropofilia

das espécies presentes na área do fragmento de Mata Atlântica; d) Identificar os principais

aspectos abióticos relacionados à existência das espécies vetoras das leishmanioses; e)

Conhecer a distribuição vertical e horizontal das espécies de flebotomíneos nos diferentes

ecótopos da UC e entorno; f) Avaliar a utilização da Literatura de Cordel como ferramenta de

educação em saúde para disseminação de informações acerca da LV.

28

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

O estudo aconteceu na Floresta Nacional (Flona) de Nísia Floresta, localizada no

município de Nísia Floresta, estado do Rio Grande do Norte, Brasil. O município de Nísia

Floresta faz parte da Região metropolitana de Natal, situa-se na Mesorregião Leste Potiguar e

na Microrregião Macaíba, e está localizado a 30 km da capital, Natal, limitando-se ao Norte

com Parnamirim, a Oeste com São José do Mipibu, ao Sul com Arês e Senador Georgino

Avelino e a Leste com o Oceano Atlântico (Figura 18).

Figura 18 - Localização da Floresta Nacional de Nísia Floresta (borda em amarelo).

Fonte: adaptado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil e Google Earth.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016 a

população estimada de Nísia Floresta era de 26.994 habitantes e a área territorial de 307.839

km² (IBGE, 2016).

O clima da região é quente e úmido, com chuvas de outono e inverno. Anualmente a

temperatura média de Nísia Floresta se situa em torno dos 26º C, com pluviometria média

anual de 1.455mm e umidade relativa média de 76%. A vegetação do município era

originalmente composta por Mata Atlântica, predominando as florestas estacionais

semideciduais, relacionadas ao clima com uma estação chuvosa e outra seca, onde de 20 a

29

50% dos indivíduos do estrato arbóreo superior perdem as folhas na estação desfavorável.

(BRASIL, 2012).

Implantado principalmente na área do grupo Barreiras, o relevo de Nísia floresta está

abaixo dos 100 metros de altitude. O solo predominante da região é bastante arenoso com

fertilidade natural muito baixa, pobre em macro e micronutrientes. O município possui lagoas

de pequeno e médio porte como Bonfim, Papeba, Urubu, Papari, Hiota, Redonda, Carcará,

Carnaúba, Papebinha, Seca, Boa Água, entre outras (BRASIL, 2012).

A Flona de Nísia Floresta se encontra em uma região historicamente explorada para a

monocultura da cana-de-açúcar, localizada no município de Nísia Floresta entre as

coordenadas S 06°05’12,4”, W 035°11’04,0”, a 38 km de Natal. É uma Unidade de

Conservação e Pesquisa gerenciada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade (ICMBio), inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Bomfim/Guaraíra,

com 168,84 hectares de diversas coberturas vegetais exóticas e nativas da Mata Atlântica

(BRASIL, 2012).

A Flona de Nísia Floresta se encontra em uma área que pertencia ao poder público

municipal e foi doada ao poder público federal em novembro de 1948. Na década de 60 foi

incorporada ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) como dependência

da Estação Florestal de Experimentação (Eflex) de Assú. Em 1989, com a criação do Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), passou a integrar à Superintendência Estadual como

Eflex de Nísia Floresta. Posteriormente, em 27 de setembro de 2001, tornou-se Flona de Nísia

Floresta, entidade fomentadora do desenvolvimento sustentável da região (BRASIL, 2012).

No interior da Flona existem três lagoas, a Lagoa da Vaquinha, que não é perene e está

completamente inserida na área da Flona, a Lagoa da Coruja, que também não é perene e está

completamente inserida na área, e a Lagoa Seca, que é a maior lagoa (20,8 ha), a única

perene, cuja maior porção está inserida em uma fazenda particular na divisa com a Flona

(Figura 19) (BRASIL, 2012).

A Flona faz limite ao sul com uma estrada e propriedades rurais, a norte e leste com

propriedades privadas, e a oeste com uma estrada carroçável, propriedades rurais e um

condomínio residencial (BRASIL, 2012).

Como resultado da constante interferência antrópica no decorrer de sua história, esta

Flona não possui cobertura florestal primária, mas composição florística típica de áreas

alteradas, em médio estágio de regeneração, e áreas de experimentação florestal. O fragmento

de floresta nativa compõe 59,3% da área, sendo 45,2% de Floresta Estacional Semidecidual

30

(Área IV) e 14,1% de Tabuleiro Litorâneo (Área V). A cobertura vegetal restante está na área

de experimentação florestal, áreas I, II e III (BRASIL, 2012) (Figura 19).

Figura 19 - Divisão da área da FLONA. As áreas I, II e III, são áreas de reflorestamento; área IV, de

Floresta Estacional Semidecidual; e a área V corresponde a Tabuleiro Litorâneo.

Fonte: Brasil, 2012.

O fragmento de floresta (Figura 19) apresenta estágio de regeneração avançado, pois

sua conservação teve início anterior a 1950. É a porção da Flona que apresenta a vegetação

mais conservada, composta por árvores de médio e grande porte (Figura 19), tendo espécies

como Licania rigida Benth. (oiticica), Bowdichia vigilioides Kunth (sucupira), Hymenaea sp.

31

(jatobá), Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz (pau-ferro), Tabebuia sp. (ipê), e

Paubrasilia echinata (Lam.) E. Gagnon, H. C. Lima & G. P. Lewis (pau-brasil), entre outras

(BRASIL, 2012).

Apesar da fragmentação da Flona e de seu histórico de perturbação, sua área mais

conservada (área IV) apresenta uma flora com índice de diversidade considerado alto

(H’=4,62078) em comparação com outras áreas do país (BRASIL, 2012).

A área de remanescentes de experimentação florestal era originalmente coberta por

floresta estacional semidecidual, vegetação essa que foi retirada para implementação de

experimentos florestais, principalmente com Pinus e Eucaliptus. Esses experimentos

objetivavam conhecimento acerca do desenvolvimento das espécies nas condições ecológicas

do Nordeste devido a demanda de matéria prima necessária em setores do comércio, indústria,

e geração de energia para famílias, considerando que a exploração de espécies nativas poderia

leva-las à extinção e descaracterizava a paisagem (BRASIL, 2012).

A área de tabuleiro litorâneo da Flona possui um relevo plano com solo arenoso, as

lagoas, além de algumas porções de mata preservada. Sua flora é representada por dois

estratos, sendo um estrato herbáceo ralo e descontinuado, e um arbóreo-arbustivo, formado

por representantes isolados ou grupos, ocorrendo Piptadenia moniliformis Benth. (catanduva),

Annacardium occidentalis L. (cajueiro), Byrsonima basiloba Juss. (murici), Hancornia

speciosa Gomes (mangabeira) (SENA, 1999; BRASIL, 2012).

Quanto à fauna existente na área da Flona, percebe-se uma escassez de dados, uma vez

que os levantamentos científicos são poucos e a maioria dos dados referentes a esse tema

estão contidos no Plano de Manejo da própria Flona (BRASIL, 2012). Segundo o documento,

na Flona ocorre uma importante diversidade de artrópodes e anfíbios, além de cerca de 26

espécies de répteis, 56 de aves e 15 de mamíferos. Dentre os representantes da mastofauna,

são citados Monodelphis domestica (Wagner, 1842) (catita), Procyon cancrivorus (G. Cuvier,

1798) (guaxinim), Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) (raposa), Callithrix jacchus (Linnaeus,

1758) (sagui), Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) (tamanduá-mirim), Euphractus

sexcintus (Linnaeus, 1758) (tatu-peba), Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 (tatu-

verdadeiro) e Didelphis albiventris Lund, 1840 (timbu), entre outros (BRASIL, 2012).

As coletas sistemáticas foram realizadas no interior da floresta estacional semidecidual

conservada (Figura 20) e em sua borda (Figura 21), na área de remanescentes de

experimentação florestal (Figura 22), em ambientes mais modificados da UC, como um

bambuzal (Figura 23) e em uma trilha (Figura 24) próximos à parte administrativa da Flona,

32

em áreas peridomiciliares de um condomínio residencial (Figura 25) e de uma propriedade

rural (Figura 26) do entorno.

Figura 20 - Área da Flona mostrando fragmento de floresta estacional semidecidual.

Fonte: Autoria própria.

Figura 21 - Área da borda a leste da Flona de Nísia Floresta.

Fonte: Autoria própria.

33

Figura 22 – Área da Flona com vegetação remanescente de experimentação florestal.

Fonte: Autoria própria.

Figura 23 - Bambuzal na área mais antropizada da Flona.

Fonte: Autoria própria.

34

Figura 24 - Trilha na área mais antropizada da Flona.

Fonte: Autoria própria.

Figura 25 - Área do condomínio residencial próximo à Flona.

Fonte: Autoria própria.

35

Figura 26 - Peridomicílio da propriedade rural situada ao lado da Flona.

Fonte: Autoria própria.

36

METODOLOGIA GERAL

Coleta de flebotomíneos

Os flebotomíneos foram coletados com armadilhas de dois tipos, armadilha CDC e

armadilha Shannon.

As armadilhas luminosas do tipo CDC (Center for Diseases Control – Hausherr’s

Machine Works, Toms River, New Jersey 08756), consistem em uma base onde se encontra

uma lâmpada e um ventilador (sugador) ligados a uma bateria de seis volts (6V). Acoplada a

essa base existe uma gaiola para armazenamento dos insetos, confeccionada com tecido fino

(Figura 27). A armadilha funciona quando os insetos são atraídos pela luminosidade da

lâmpada e sugados pelo ventilador para dentro da gaiola, onde ficam armazenados.

Figura 27 - Armadilha luminosa tipo CDC.

Fonte: Autoria própria.

As armadilhas CDC eram instaladas e acionadas por volta das 17 horas, e retiradas

aproximadamente às 7 horas da manhã seguinte, o que resultava em um período de 14 horas

aproximadas de exposição. Ao serem retiradas, as gaiolas contendo os insetos capturados

37

durante a noite eram levadas ao laboratório de Entomologia (Labent) da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte (UFRN) para triagem, montagem e identificação.

A armadilha de Shannon (SHANNON, 1939) (Figura 28) é constituída por uma tenda

principal com aproximadamente 1,3 x 3,0 x 2,0 m e duas abas laterais de 0,6 x 3,0 x 1,0 m

(largura x comprimento x altura). A estrutura da armadilha era montada de maneira que ficava

a aproximadamente 30 cm distante do solo (CEVS, 2009).

Figura 28 - Armadilha de Shannon e utilização de aspirador de Castro na Flona de Nísia Floresta.

Fonte: Autoria própria.

Durante a utilização da Shannon em captura diurna os odores liberados pelos próprios

operadores (principalmente CO2 e ácido lático) atuam como atrativos para os insetos. Nas

coletas noturnas foi usada uma fonte luminosa como atrativo adicional, uma lâmpada de luz

branca tipo fluorescente de 6 volts alimentada por bateria. Os flebotomíneos eram atraídos

para a armadilha e ficavam aprisionados no seu interior ou nas abas externas, sendo então

capturados com auxílio de um capturador manual de sucção tipo Castro, e colocados em

frascos mortíferos contendo acetato de etila (CEVS, 2009).

38

Triagem, montagem e identificação

No Laboratório de Entomologia (Labent) da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN), após mortos em baixa temperatura (-20° C), os insetos capturados foram

triados para separação dos flebotomíneos de outros grupos. Após a triagem, flebotomíneos

machos e fêmeas foram clarificados por um período de 24 horas em hidróxido de potássio

(KOH), passados em um banho de quinze minutos em ácido acético (C2H4O2), e duas vezes

consecutivas, também por quinze minutos, em água destilada (H2O).

Os flebotomíneos foram então montados, cada um em uma gota de glicerina, entre

lâmina e lamínula, para identificação das espécies. A identificação foi feita em microscópio

óptico por meio de observação das características morfológicas, de acordo com a chave de

Young e Duncan (1994) e com a classificação filogenética proposta por Galati (1995, 2003a,

2003b), de acordo com as solicitações dos revisores dos periódicos. Após identificação, os

flebotomíneos foram organizados separadamente, por local, data de coleta, sexo e espécie, em

microtubos de 1,5ml contendo álcool a 70% e armazenados no Laboratório de Entomologia

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Produção do cordel

Foi produzido um folheto de literatura de cordel cujo título é “Um bebedor de sangue

na terra do mandacaru - Peleja contra o calazar” contendo oito páginas, com 30 estrofes na

forma de sextilha, e capa confeccionada a partir de xilogravura criada pelo xilogravurista

Erick Lima. Na sextilha, que é a forma de versos mais utilizada para a literatura de cordel,

cada estrofe possui seis versos, sendo que o segundo, o quarto e o sexto verso rimam entre si

(Figura 29).

Considerando a complexidade que envolve a temática das leishmanioses, na

construção do cordel foram escolhidos temas mais relevantes, como a transmissão, os

sintomas no homem e no cão, a prevenção e o tratamento da doença.

39

Figura 29 – Capa do cordel produzido.

Fonte: Autoria própria.

40

CAPÍTULO 01

Flebotomíneos (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae), transmissores das leishmanioses,

em uma Unidade de Conservação da Mata Atlântica no município de Nísia Floresta, Rio

Grande do Norte, Brasil

Marcos Paulo Gomes Pinheiro. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de

Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Avenida Senador Salgado Filho,

3000, Natal, RN, Brasil. [email protected].

Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes. Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Avenida

Senador Salgado Filho, 3000, Natal, RN, Brasil. [email protected] - Corresponding author.

Este artigo foi publicado no periódico Parasites & Vectors (A1 em Ciências Ambientais)

(DOI: 10.1186/s13071-016-1352-5) e, portanto, está formatado de acordo com as

recomendações desta revista

(http://www.parasitesandvectors.com/authors/instructions/research).

41

Resumo

Introdução: Os flebotomíneos são insetos vetores de protozoários do gênero Leishmania,

causadores das leishmanioses visceral e tegumentar, com ampla distribuição mundial. O

presente estudo discute aspectos bioecológicos de espécies de flebotomíneos, transmissores de

leishmanioses, em diferentes ecótopos de uma Unidade de Conservação da Mata Atlântica

localizada na região metropolitana de Natal, estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Métodos:

Foram realizadas duas capturas mensais durante um ano, com armadilhas luminosas tipo

CDC, em dois ambientes antropizados e dois preservados. Resultados: Foram capturados

2.936 flebotomíneos de dez espécies: Evandromyia walkeri, Evandromyia evandroi,

Psychodopygus wellcomei, Sciopemyia sordellii, Psathyromyia brasiliensis, Lutzomyia

longipalpis, Evandromyia lenti, Psathyromyia shannoni, Nyssomyia whitmani e Nyssomyia

intermedia. A espécie que mais ocorreu foi E. walkeri, com 77,6%, seguida de E. evandroi

com 17,5%. O local com maior abundância foi a mata com 32,4% seguida pelo bambuzal com

26,3%. Conclusões: Em geral os flebotomíneos se mostraram mais abundantes no período

chuvoso e L. longipalpis, espécie vetora de Leishmania infantum, se confirmou como

adaptada a ambientes antropizados. P. wellcomei, vetora de Leishmania braziliensis, se

confirmou como espécie associada a ambientes mais preservados e ocorreu apenas em

períodos chuvosos.

Palavras-chave: Flebotomíneos, Lutzomyia, Psychodopygus, Nyssomyia, Leishmaniose

visceral, Leishmaniose tegumentar, Mata Atlântica.

42

Introdução

Os flebotomíneos são insetos de ampla distribuição, responsáveis pela transmissão de

leishmaniose visceral (LV) e leishmaniose tegumentar (LT), que se constituem um grave

problema de saúde pública para milhões de pessoas em todo o mundo [1], estando entre as

principais doenças humanas transmitidas por insetos vetores [2].

A Organização Mundial da Saúde aponta países como Brasil, Etiópia, Sudão, Iraque,

Índia e Bangladesh com o maior número de casos de LV, e os maiores índices de LT estão no

Brasil, Peru, Colômbia, Argélia, Paquistão, Afeganistão, Irã e Síria [3].

No Brasil, a LV tem como vetor o flebotomíneo Lutzomyia longipalpis e como agente

etiológico da doença o protozoário Leishmania infantum [4, 5]. A LT, causada por

Leishmania braziliensis no Rio Grande do Norte [6], apresenta diferentes vetores dependendo

da região do país [7-15]. Dentre os principais flebotomíneos considerados vetores de LT no

Brasil, Nyssomyia whitmani, Nyssomyia intermedia, Migonemyia migonei, Psychodopygus

complexa e Psychodopygus wellcomei ocorrem no Nordeste [7, 8, 16-18].

A transmissão das leishmanioses acontece em todas as regiões do Brasil, sendo que o

Nordeste concentra o maior registro de LV, com 53,6% dos casos confirmados, onde a doença

era antes restrita a áreas rurais, mas se expandiu para áreas periurbanas e urbanas [4, 19]. Nos

últimos anos a LV tem se expandido e urbanizado em todas as regiões do país, fazendo-se

presente em 21 estados e em contínuo avanço por todo o território [20].

A LT ocorre em todas as regiões do Brasil, com surtos nas regiões Sul, Sudeste,

Centro-Oeste, Nordeste e Norte, principalmente na Amazônia, onde está relacionada com

processos de colonização de áreas de mata, derrubada para construção de estradas, novos

núcleos populacionais e ampliação de atividades agrícolas [21, 22].

43

No estado do Rio Grande do Norte a LT tem ocorrência predominante na área serrana

do estado e a LV é mais presente na Região Metropolitana de Natal, onde ocorreram 37% dos

casos registrados entre 2007 e 2014 [6, 23, 24], mas também em municípios da Região Oeste

do estado, que nos últimos anos vem tendo um número significativo de casos [25].

Este estudo busca analisar a composição de espécies de flebotomíneos, principalmente

as transmissoras de LT e LV, em diferentes ecótopos de um fragmento de Mata Atlântica,

visando ampliar o conhecimento sobre tais espécies, e consequentemente contribuir com a

vigilância epidemiológica do estado.

Métodos

Área de estudo

O estudo ocorreu na Floresta Nacional (Flona) de Nísia Floresta, uma Unidade de

Conservação (UC) da Mata Atlântica localizada no município de Nísia Floresta, estado do Rio

Grande do Norte, Brasil. O município está localizado a 30 km da capital, sua área territorial é

de 307.839 km², e de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2014 sua

população estimada era de 26.208 habitantes [26].

A FLONA de Nísia Floresta está em uma região historicamente explorada para a

monocultura da cana-de-açúcar. É uma unidade de conservação e pesquisa com 168,84

hectares de diversas coberturas vegetais exóticas e nativas da Mata Atlântica [27].

As coletas aconteceram em quatro pontos específicos denominados: bambu (1), trilha

(2), mata (3) e pinheiral (4), sendo a distância entre esses pontos de aproximadamente 300

metros (Figura 1).

44

Fig. 1 Localização do município de Nísia Floresta e da Unidade de Conservação onde foram

realizadas as coletas.

O bambu (S06°05’13.9”/W035°11’09.1”) e a trilha (S06°05’09.2”/W035°11’06.5”)

são os pontos mais próximos à área da sede da FLONA, com maior ação antrópica. A área de

Mata Atlântica (S06°04’57.7”/W035°10’58.7”) e o pinheiral (S06°04’50.2”/W035°10’57.8”)

são os pontos de mata mais preservada, com pouca ação antrópica.

O primeiro (1) é bastante impactado e caracterizado por alguns pés de bambu

(Poaceae: Bambusoideae) em uma clareira com cerca de 900 m² onde existe folhiço, galhos

em decomposição, além de material vegetal descartado de podas.

A segunda área (2), chamada trilha, possui árvores nativas tais como Tabebuia sp.

(ipê), Caesalphinia echinata (pau-brasil), Caesalpinia ferrea (pau-ferro), Bauhinia forficata

(mororó), entre outras, e exóticas como Eucaliptus sp. (eucalipto) e Pinus sp. (pinheiro) [27]

em uma trilha a cerca de 50 metros de um campo de futebol que fica entre a sede

administrativa e a floresta.

A terceira área (3), denominada mata, é composta por árvores nativas de médio e

grande porte, que atingem de 10 a 25 metros, tendo como principais espécies Buwdichia

45

vigilioides (sucupira), Lecythis pisonis (sapucaia), Buchenavia sp. (mirindimba), Tapirira

guianenis (cupiúba), Myrcia sp. (pau mulato), Coccoloba sp. (cauaçu), Tocoyena sp.

(juruparana), Hymenaea sp. (jatobá), Cassia apoucovita, C. ferrea (pau ferro), Tabebuia sp.

(ipê), C. echinata (pau-brasil), B. forficata (mororó), dentre outras. É considerado um

fragmento de Floresta Estacional Semidecidual em estágio avançado de regeneração, com

cerca de 80 ha, o que representa 45,22% da área total da FLONA [27].

A quarta área (4), o pinheiral, está na área de experimentos florestais para regeneração

de Mata Atlântica, com plantação de árvores exóticas do tipo pinheiro, Pinus sp., junto ao

ambiente de mata preservada [27].

Coleta e identificação dos flebotomíneos

Duas coletas mensais foram realizadas, de maio de 2012 a abril de 2013, com

armadilhas luminosas CDC (Center for Diseases Control) instaladas a 1 metro de altura,

sempre acionadas às 17 horas e retiradas às 7 horas da manhã seguinte.

No laboratório de Entomologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, os

insetos foram mortos em baixa temperatura (-20° C) e triados.

Os flebotomíneos foram então clarificados em hidróxido de potássio (KOH) a 10%,

montados e observados em microscópio óptico, para identificação com base em características

morfológicas, através da classificação filogenética proposta por Galati [28, 29]. Após

identificação, foram catalogados e armazenados na Coleção Entomológica Professor

Adalberto Antônio Varela-Freire da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Análise estatística

A análise para determinação e comparação de diversidade entre os ambientes foi

obtida com a utilização do the Shannon-Wiener Diversity Index (H’) [30]. Para cálculo desse

índice, foi utilizado o software Ecological Methodology versão 5.2 [31].

46

O índice de abundância de espécies (ISA) e o índice padronizado de abundância de

espécies (SISA) [32] foram utilizados para análise de abundância dos dados obtidos. Os

valores de ISA foram determinados e convertidos em SISA, com valores entre 0 e 1,

utilizando-se o Microsoft Office Excel 2007.

Os resultados foram comparados com dados climáticos de precipitação, umidade

relativa do ar e temperatura obtidos através de dados da rede do Instituto Nacional de

Meteorologia [33].

Resultados

Foram coletados 2.936 flebotomíneos de seis gêneros, pertencentes a dez espécies:

Evandromyia walkeri, Evandromyia evandroi, P. wellcomei, Sciopemyia sordellii,

Psathyromyia brasiliensis, L. longipalpis, Evandromyia lenti, Psathyromyia shannoni, N.

whitmani e Nyssomyia intermedia (Tabela 1).

Tabela 1 Espécies de flebotomíneos coletados em cada ecótopo, resultados de SISA e H’.

Espécies Ecótopos

Total % SISA Ranking Pinheiral Mata Trilha Bambu

Evandromyia walkeri 456 779 473 589 2297 77.60% 1.00 1

Evandromyia evandroi 138 118 80 159 495 17.50% 0.87 2

Psychodopygus wellcomei 11 32 8 3 54 1.90% 0.82 3

Sciopemyia sordellii 4 13 6 3 26 0.86% 0.81 4

Lutzomyia longipalpis 1 3 6 9 19 0.64% 0.80 5

Evandromyia lenti 2 3 4 1 10 0.34% 0.79 6

Psathyromyia brasiliensis 10 6 6 0 22 0.73% 0.56 7

Psathyromyia shannoni 0 1 1 7 9 0.30% 0.54 8

Nyssomyia whitmani 0 3 0 0 3 0.10% 0.04 9

Nyssomyia intermedia 0 1 0 0 1 0.03% 0.04 10

Total 622 959 584 771 2936 100% - -

% 21.5% 32.4% 19.8% 26.3% 100% - - -

H’ 1.097 1.008 0.993 0.978 - - - -

47

O ambiente com maior número de flebotomíneos coletados foi a mata, com 32,4% dos

espécimes, seguido do bambu e do pinheiral, com 26,3% e 21,5% respectivamente, e

finalmente a trilha com 19,8% (Tabela 1).

Dentre as espécies coletadas, E. walkeri foi a mais abundante em cada ecótopo

pesquisado, com 77,6% de todos os flebotomíneos coletados (SISA = 1,0), seguida por E.

evandroi com 17,5% (SISA = 0,87) (Figura 2). As espécies com menor abundância foram N.

whitmani (SISA = 0,04) e N. intermedia (SISA = 0,04) (Tabela 1).

Fig. 2 Indice padronizado de abundância e espécies (SISA) total, em ambientes antropizados

(pontos bambu e trilha) e em ambientes silvestres (pontos mata e pinheiral).

48

O local de coleta com maior diversidade, de acordo com o índice de diversidade de

Shannon (H’), foi o pinheiral (H’ = 1.097), seguido da mata (H’ = 1.008) (Tabela 1).

P. wellcomei teve maior abundância nos pontos de menor ação antrópica, enquanto

que L. longipalpis se mostrou mais presente nos ambientes de intervenção humana mais

evidente (Tabela 1) (Figura 3).

Fig. 3 Ocorrência de L. longipalpis e P. wellcomei em ambientes antropizados (pontos bambu

e trilha) e silvestres (pontos mata e pinheiral).

Quanto ao número mensal de flebotomíneos coletados, o mês onde as coletas

alcançaram maior número foi maio de 2012, com 33,7% dos flebotomíneos de todas as

capturas realizadas. O mês com menor número de flebotomíneos foi abril de 2013, com

apenas cinco espécimes, sendo quatro E. evandroi e um E. walkeri (Tabela 2).

49

Tabela 2 Espécies de flebotomíneos coletados mensalmente na UC.

Espécies Meses

Total Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr

Evandromyia walkeri 863 156 299 86 80 90 142 68 92 300 120 1 2297

Evandromyia evandroi 87 29 63 19 36 32 34 35 40 80 36 4 495

Psychodopygus wellcomei 25 5 9 9 2 0 0 0 0 3 1 0 54

Sciopemyia sordellii 10 0 4 2 3 4 1 0 0 1 1 0 26

Psathyromyia brasiliensis 8 0 5 5 4 0 0 0 0 0 0 0 22

Lutzomyia longipalpis 7 2 1 0 6 0 1 0 0 2 0 0 19

Evandromyia lenti 5 0 0 1 0 1 0 2 1 0 0 0 10

Psathyromyia shannoni 1 0 1 7 0 0 0 0 0 0 0 0 9

Nyssomyia whitmani 0 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 3

Nyssomyia intermedia 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1

Total 1007 192 384 129 132 127 178 105 133 386 158 5 2936

Em todos os meses de coleta, as espécies com maior frequência foram E. walkeri e E.

evandroi (Tabela 2). P. wellcomei foi a terceira espécie mais numerosa nos meses de maio,

junho, julho, agosto e fevereiro (Tabela 2), sempre em meses com alguma quantidade de

chuva (Figura 4). Notou-se a tendência para uma maior quantidade de flebotomíneos da

maioria das espécies nos meses chuvosos (Tabela 2).

50

Fig. 4 Distribuição anual de P. wellcomei e L. longipalpis na Flona de Nísia floresta e

variáveis climáticas (umidade relativa do ar, chuva e temperatura média).

51

Discussão

As espécies mais abundantes foram E. walkeri e E. evandroi, espécies ainda não

identificadas como vetoras de leishmanioses. Contudo, é relevante a presença de vetores

como L. longipalpis, N. whitmani, N. intermedia e P. wellcomei.

Dentre os flebotomíneos vetores, constatou-se a associação de L. longipalpis,

transmissor de L. infantum, a ambientes modificados, uma vez que a maioria foi coletada

nesse ambiente. Isso está de acordo com muitos estudos sobre a ocorrência dessa espécie em

ambientes modificados, ou que evidenciam seu comportamento antropofílico [4, 34, 35].

Nyssomyia whitmani, N. intermedia e P. wellcomei, espécies indicadas como vetoras

de TL em ambientes silvestres do Nordeste [10, 16, 36-38], demonstraram preferência pelas

áreas mais preservadas da UC, P. wellcomei e N. whitmani se mostraram predominantemente

silvestres nas áreas pesquisadas, uma vez que a maioria das capturas de ambas as espécies

ocorreram em ambientes de mata.

Na área estudada foi observada diferença entre os habitats das espécies vetoras de LT

e L. longipalpis, transmissora de LV, o que deve ser definido por fatores fitogeográficos e

biológicos. Essa diferença foi também sugerida em estudos feitos por outros autores no estado

da Bahia, onde L. longipalpis ocorre em áreas de Caatinga ou com evidente ação antrópica,

enquanto que N. whitmani e N. intermedia em áreas de floresta tropical [35, 39, 40]. Isso

mostra que em algumas regiões existe uma provável associação das espécies transmissoras de

LT com ambientes florestais, enquanto que L. longipalpis, transmissor de LV, está

relacionado a ambientes de Caatinga ou a áreas mais degradadas com ação antrópica evidente.

O fato de L. longipalpis estar mais presente no ambiente antropizado confirma o

comportamento antropofílico da espécie e certamente se relaciona aos casos de LV humana na

região metropolitana de Natal. No Rio Grande do Norte foram diagnosticados 799 casos de

LV entre 2007 e 2014, sendo 297 nos municípios da região Metropolitana [24]. Desse modo,

52

a maior frequência de L. longipalpis nos ambientes antropizados confirma o potencial

invasivo desta espécie, assim como seu sucesso como vetor em áreas urbanizadas.

P. wellcomei, a terceira espécie mais abundante desse estudo, foi inicialmente

encontrada na Amazônia brasileira [41, 42] e posteriormente no Nordeste, em florestas do

estado do Ceará [36], em ambientes florestal e peridomiciliar do estado do Maranhão [16], e

em ambientes florestais das regiões metropolitanas dos estados de Pernambuco [38] e do Rio

Grande do Norte [18].

A ocorrência de P. wellcomei se mostra de grande relevância, uma vez que no Brasil

essa espécie foi comprovada como vetora de LT [16, 36-38, 41, 43] e exerce intensa

antropofilia mesmo em período diurno [44]. Apesar de área endêmica da doença no Rio

Grande do Norte estar na região serrana do estado, o achado dessa espécie na região

metropolitana com abundância maior em alguns meses do ano reforça a necessidade de

vigilância, uma vez que na área moradores, funcionários e pesquisadores estão diariamente

próximo ou no interior da mata.

Nesse estudo P. wellcomei se mostrou relacionada aos meses chuvosos, seguindo o

mesmo padrão descrito na Amazônia [11]. Essa espécie ocorre predominantemente nesse

período, o que nos faz suspeitar da possibilidade de diapausa durante a estação seca como

cogitado em pesquisas na Amazônia [45]. A diapausa parece ser uma estratégia adotada pelos

flebotomíneos para sobreviverem durante condições adversas ou extremas, estratégia já

observada em algumas espécies de Phlebotomus e Lutzomyia [46-49].

Nyssomyia whitmani é uma espécie antropofílica, podendo ser considerada a mais

importante vetora de L. braziliensis [10, 13, 15]. A presença dessa espécie, mesmo em

pequeno número, também é importante, apesar da área não ser endêmica para LT, uma vez

que essa espécie é vetora de L. braziliensis no Nordeste do Brasil [7, 50].

53

É importante ressaltar a expansão urbana nos limites da UC, onde atualmente há um

aumento no número de condomínios residenciais. Tal interferência pode conduzir à adaptação

dos vetores a novos ambientes e a fontes alternativas de alimento, e em algum momento

propiciar ciclos de transmissão do protozoário, como observado após colonização ou

desmatamentos [51-54].

A presença de espécies predominantemente silvestres, mencionadas nesta pesquisa,

indica certa persistência das condições de sobrevivência, e consequentemente potencial para

transmissão, apesar da crescente degradação ambiental ocorrida nos arredores da área

estudada. É importante destacar a crescente adaptação das espécies vetoras aos ambientes

modificados pelo homem [55], o que pode contribuir para manter o potencial vetorial dessas

espécies.

Nas áreas de maior ação antrópica da UC, bambu e trilha, apesar de E. walkeri e E.

evandroi serem dominantes, é relevante a presença concomitante de P. wellcomei, mais

adaptada a ambientes silvestres, e de L. longipalpis, espécie já urbanizada. Nesse sentido, é

importante a possibilidade dos flebotomíneos buscarem alimento em áreas habitadas, como

sugerido em outro estudo realizado na região metropolitana de Natal, quando cogitada a

possibilidade desses vetores estarem adaptados à alimentação em plantas exóticas, uma vez

que os monossacarídeos neles encontrados coincidiram com os mesmos detectados em

vegetais como Eucalyptus sp. (eucalipto) e Pennisetum pupureum (capim elefante) [56].

P. shannoni foi capturada em três pontos: bambu, trilha e mata. Essa espécie é

considerada, nos Estados Unidos da América, vetora do Vesiculovirus causador da estomatite

vesicular [57], e alguns estudos indicam que L. infantum consegue se desenvolver bem nesse

flebotomíneo [58]. Existe ainda a hipótese de que a presença de cães infectados em áreas de

ocorrência de P. shannoni poderia dar início a ciclos epidêmicos [59].

54

Uma vez que a expansão, bem como a urbanização das leishmanioses resultam de

interações entre os hospedeiros e o protozoário parasito, bem como da degradação ambiental,

os estudos objetivando analisar a bioecologia das espécies vetoras e seu potencial de

adaptação a novos ambientes, se constituem em fontes de informação que podem contribuir

com a vigilância epidemiológica das leishnmanioses.

Conclusões

O período mais chuvoso foi o de maior ocorrência de flebotomíneos, e a maior

abundância e diversidade se deu em área de mata preservada.

Ficou demonstrada uma diferença na composição das espécies entre os ambientes mais

antropizados e os mais preservados.

P. wellcomei se confirmou como espécie adaptada ao período mais chuvoso do ano, e

a ambientes silvestre, especialmente com mata mais preservada. Contudo, essa espécie já

demonstra alguma adaptação a ambientes degradados, uma vez que nesse estudo aparece

também nos ambientes de maior ação antrópica.

L. longipalpis pareceu mais adaptado aos locais com maior intervenção antrópica,

contudo, ainda existente nos ambientes mais preservados.

Abreviações

LT: leishmaniose tegumentar; LV: leishmaniose visceral; CDC: Center for Diseases

Control; FLONA: Floresta Nacional; UC: Unidade de Conservação.

Conflito de interesses

Os autores declaram que não possuem conflito de interesses.

55

Agradecimentos

Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), à direção e

aos servidores da Floresta Nacional (FLONA) de Nísia Floresta pela permissão e apoio.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo suporte

financeiro.

Referências

1. Desjeux P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comp Immunol

Microbiol Infect Dis. 2004;27:305-18.

2. Rohousova I, Ozensoy S. Detection of species-specific antibody response of humans and

mice bitten by sand flies. Parasitology. 2005;130:493-499.

3. World Health Organization (WHO). Leishmaniasis. Fact sheet 375. 2014.

http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs375/en/. Accessed: 08 Sept 2014.

4. Lainson R, Rangel EF. Lutzomyia longipalpis and the eco-epidemiology of American

visceral leishmaniasis, with particular reference to Brazil - A Review. Mem Inst Oswaldo

Cruz. 2005;100:811-827.

5. Lainson R, Shaw JJ. Leishmaniasis in the New World. In: Collier L, Balows A, Sussman

M, editors. Topley & Wilson’s Microbiology and Microbial Infections, 10th ed., Vol 5,

Parasitology, Arnold, London; 2005. p. 313-349.

6. Oliveira CC, Lacerda HG, Martins DR, Barbosa JD, Monteiro GR, Queiroz JW, et al.

Changing epidemiology of American cutaneous leishmaniasis (ACL) in Brazil: a disease of

the urban-rural interface. Acta Trop. 2004;90:155-162.

7. Azevedo ACR, Rangel EF, Costa EM, David JR, Vasconcelos AW, Lopes UG. Natural

infection of L. (Nyssomyia) whitmani (Antunes & Coutinho,1939) by Leishmania of the

56

braziliensis complex in Baturité, Ceará State, Northeastern Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz.

1990;85:251.

8. Azevedo ACR, Rangel EF, Queiroz RG. L. migonei (França, 1920) naturally infected with

peripylarian flagellates in Baturité, a focus of cutaneous leishmaniasis in Ceará State, Brazil.

Mem Inst Oswaldo Cruz. 1990;85:479.

9. Rangel EF, Barbosa AF, Andrade CA, Sousa NA, Wermelinger ED. Development of

Leishmania (Viannia) brasiliensis Viana 1911 in Lutzomyia intermedia (Lutz and Neiva

1921) (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) under experimental conditions. Mem Inst

Oswaldo Cruz. 1992;87:235-238.

10. Queiroz RG, Vasconcelos IA, Vasconcelos AW, Pessoa FA, Sousa RN, David JR.

Cutaneous leishmaniasis in Ceará State in Northeastern Brazil: incrimination of Lutzomyia

whitmani (Diptera: Psychodidae) as vector of Leishmania braziliensis in Baturité

municipality. Am J Trop Med Hyg. 1994;50:693-698.

11. Lainson R, Shaw JJ. New World Leishmaniasis. The neotropical Leishmania species. In:

Collier L, Ballows A, Sussman M, editors. Topley & Wilson's microbiology and microbial

infectious diseases. 9th ed. London: Arnold; 1998. p. 241-266.

12. Cabanillas MRS, Castellón EG. Distribuition of sandflies (Diptera: Psychodidae) on tree-

trunks in a non-flooded area of Ducke Forest Reserve, Manaus, AM, Brazil. Mem Inst

Oswaldo Cruz. 1999;94:289-296.

13. Teodoro U, Alberton D, Kühl JB, Santos ES, Santos DR, Santos AR, et al. Ecologia de

Lutzomyia (Nyssomyia) whitmani em área urbana do município de Maringá, Paraná. Rev

Saude Publica. 2003;37:651-656.

14. Pita-Pereira D, Alves CR, Souza MB, Brazil RP, Bertho AL, Barbosa AF, et al.

Identification of naturally infected Lutzomyia migonei with Leishmania (Viannia) braziliensis

57

in Rio de Janeiro (Brazil) revealed by a PCR multiplex non-isotopichy bridisation assay.

Trans R Soc Trop Med Hyg. 2005;99:905-913.

15. Alessi CAC, Galati EAB, Alves JR, Corbett CEP. American cutaneous leishmaniasis in

the Pontal of Paranapanema - SP, Brazil: ecological and entomological aspects. Rev Inst Med

Trop Sao Paulo. 2009;51:277-282.

16. Rebêlo JMM, Araújo JAC, Carvalho ML, Barros VLL, Silva FS, Oliveira ST. Flebótomos

(Diptera:Phlebotominae) da Ilha de São Luis, Zona do Golfão Maranhense, Brasil. Rev Soc

Bras Med Trop. 1999;32:247-253.

17. Balbino VQ, Andrade MS, Coutinho-Abreu I, Sonoda IV, Marcondes CB Shaw JJ, et al.

Sand flies (Diptera: Psychodidae) in Pernambuco State, northeastern Brazil: The presence of

species incriminated as vectors of cutaneous leishmaniasis in the Amazon region. Zootaxa.

2005;1078:25-32.

18. Pinheiro MPG, Silva JHT, Silva VPM, Andrade MJM, Ximenes MFFM. Lutzomya

wellcomei Fraiha, Shaw & Lainson (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae) em Fragmento de

Mata Atlântica do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil. EntomoBrasilis. 2013;6:232-238.

19. Ximenes MFFM, Pinheiro MPG, Cavalcante KB, Silva VPM, Pontes NN, Queiroz PV, et

al. Urbanization of visceral leishmaniasis in Rio Grande do Norte, Brazil: biotic and abiotic

interactions. Rev Soc Bras Med Trop. 2009;42:138-140.

20. Leishmaniose Visceral: Casos confirmados notificados no Sistema de Informação de

Agravos de Notificação–Sinan Net. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde,

Brasil. 2013.

http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/tabnet/tabnet?sinannet/leishvi/bases/leishvbrnet.def.

Accessed 08 July 2015.

21. Marzochi MCA. Leishmanioses no Brasil: as leishmanioses tegumentares. J Bras

Medicina. 1992;63:82-104.

22. Vale ECS, Furtado T. Leishmaniose tegumentar no Brasil: revisão histórica da origem,

expansão e etiologia. An Bras Dermatol. 2005;80:421-428.

58

23. Ximenes MFFM, Silva VPM, Queiroz PVS, Rego MM, Cortez AM, Batista LMM, et al.

Flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) e Leishmanioses no Rio Grande do Norte, Nordeste do

Brasil - Reflexos do Ambiente Antrópico. Neotrop Entomol. 2007;36:128-137.

24. Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP), Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Leishmaniose tegumentar e Leishmaniose

Visceral por Município de Residência no estado do Rio Grande do Norte, Brasil: 2007-2014.

2015.

http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/tabnet/tabnet?sinannet/leishvi/bases/leishvbrnet.def.

Accessed 27 June 2015.

25. Leite AI, Araújo LB. Leishmaniose visceral: aspectos epidemiológicos relacionados aos

óbitos em Mossoró-RN. Rev Patol Trop. 2013;42:301-308.

26. Estimativa da População 2014, Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil. Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 2015.

http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=2408201. Accessed 15 July

2015.

27. Plano de Manejo da Floresta Nacional de Nísia Floresta (Volume I). Ministério do Meio

Ambiente, Brasília, Brasil. 2015. http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/ imgs-

unidades-coservacao/Volume_I___Diagn%C3%B3stico_02ago12.pdf. Accessed 05 August

2015.

28. Galati EAB. Classificação de Phlebotominae. In: Rangel EF, Lainson R, editors.

Flebotomíneos do Brasil, Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2003. p. 23-51.

29. Galati EAB. Morfologia e Taxonomia: Morfologia, terminologia de adultos e

identificação dos táxons da América. In: Rangel EF, Lainson R, editors. Flebotomíneos do

Brasil, Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2003. p. 53-175.

59

30. Magurran AE. Ecological diversity and its measurement. London: Cambridge University

Press; 1988. p. 179.

31. Kenney AJ, Krebs CJ. Programs for Ecological Methodology, 2nd ed. Vancouver,

Canada: University of British Columbia; 2000.

32. Roberts DR, Hsi BP. An index of species abundance for use with mosquito surveillance

data. Environ Entomol. 1979;8:1007-1013.

33. Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Banco de Dados Meteorológicos para

Ensino e Pesquisa. 2015. http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep.

Accessed 12 June 2015.

34. Ximenes MFFM, Castellon EG, Souza MF, Freitas RA, Pearson RD, Wilson ME. et al.

Distribuition of phlebotomine sandflies (Diptera: Psychodidae) in the state of Rio Grande do

Norte, Brazil. J Med Entomol. 2000;37:162-169.

35. Dias-Lima AG, Guedes MLS, Sherlock IA. Horizontal Stratification of the Sand Fly

Fauna (Diptera: Psychodidae) in a Transitional Vegetation between Caatinga and Tropical

Rain Forest, State of Bahia, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2003;98:733-737.

36. Ready PD, Ribeiro AL, Lainson R, Alencar JE, Shaw JJ. Presence of Psychodopygus

wellcomei (Diptera: Psychodidae), a proven vector of Leishmania braziliensis, in Ceará State.

Mem Inst Oswaldo Cruz. 1983;78:235-236.

37. Brandão-Filho SP, Brito MEF, Martins CAP, Sommer IB, Valença HF, Almeida FA, et al.

Leishmaniose tegumentar americana em centro de treinamento militar localizado na Zona da

Mata de Pernambuco, Brasil. Rev Soc Bras Med Trop. 1998;31:575-578.

38. Silva DF, Vasconcelos SD. Flebotomíneos em fragmentos de Mata Atlântica na Região

Metropolitana do Recife, PE. Rev Soc Bras Med Trop. 2005;38:264-266.

60

39. Vexenat JA, Barreto AC, Cuba CAC, Marsden PD. Características epidemiológicas da

leishmaniose tegumentar americana em uma região endêmica do estado da Bahia. III. Fauna

flebotomínica. Mem Inst Oswaldo Cruz. 1986;81:293-301.

40. Azevedo ACR, Vilela ML, Souza NA, Coelho CAA, Barbosa AF, Firmo ALS, et al. The

sand fly fauna (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) of a focus cutaneous of leishmaniases

in Ilheus, state of Bahia, Brazil Mem Inst Oswaldo Cruz. 1996;91:75-79.

41. Lainson R, Shaw JJ, Ward RD, Fraiha H. Leishmaniasis in Brazil: IX Considerations on

the Leishmania braziliensis complex: Importance of the genus Psychodopygus Mangabeira in

the transmission of L. braziliensis brasiliensis in north Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg.

1973;67:184-196.

42. Lainson R, Shaw JJ. The role of animals in the epidemiology of South American

Leishmaniasis. In: Lumsden WHR, Evans DA, Editors. Biology of the Kinetoplastida.

London: Academic Press; 1979. p. 1-116.

43. Ryan L, Lainson R, Shaw JJ. Leishmaniasis in Brazil. XXIV. Natural flagellate infections

of sandflies (Diptera: Psychodidae) in Pará State, with particular reference to the role of

Psychodopygus wellcomei as the vector of Leishmania braziliensis in the Serra do Carajás.

Trans R Soc Trop Med Hyg. 1987;81:353-359.

44. Fraiha H, Shaw JJ, Lainson R. Phlebotominae Brasileiros II. Psychodopygus wellcomei,

nova espécie antropófila de flebótomo do grupo squamiventris, do sul do estado do Pará,

Brasil (Diptera: Psychodidae). Mem Inst Oswaldo Cruz. 1971;69:489-500.

45. Ryan L, Lainson R, Shaw JJ, Fraiha-Neto H. Ecologia de flebotomíneos (Diptera,

Psychodidae, Phlebotominae) na Região Amazônica. Instituto Evandro Chagas “50 anos”,

Belém. 1987;1:307-320.

46. Schmidt ML. Laboratory culture of two Phlebotomus species, P. papatasi and P.

orientalis. Bull Wld Hlth Org. 1964;31:577-578.

61

47. Ready PD, Croset H. Diapause and laboratory breeding of Phlebotomus perniciosus

Newstead and Phlebotomus ariasi Tonnoir (Diptera: Psychodidae) from southern France. Bull

Entom Res. 1980;70:511-523.

48. Killick-Kendrick R, Rioux JA. The Cevennes focus of leishmaniasis in Southern France

and the biology of the vector, Phlebotomus ariasi. In: Canning EU, editors. Parasitological

Topics, Society of Protozoologists, Special Publication. 1981; p. 136-145.

49. Lawyer PG, Young DG. Diapause and quiescence in the neotropical sand fly Lutzomyia

diabolica (Hall). Parassitologia. 1992;33:353-360.

50. Costa SM, Cechinel M, Bandeira V, Zannuncio JC, Lainson R, Rangel EF. Lutzomyia

(Nyssomyia) whitmani s.l. (Antunes & Coutinho, 1939) (Diptera: Psychodidae:

Phlebotominae): geographical distribution and the epidemiology of American cutaneous

leishmaniasis in Brazil – Mini-review. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2007;102:149-153.

51. Costa JML, Saldanha ACR, Mello-Silva AC, Serra-Neto A, Galvão CES, Pedroso-Silva

CM, et al. Estado atual da leishmaniose cutânea difusa (LCD) no estado do Maranhão. II.

Aspectos epidemiológicos, clínicos e evolutivos. Rev Soc Bras Med Trop. 1992;25:115-123.

52. Rebêlo JMM, Leonardo FS, Costa JML, Pereira YNO, Silva FS. Flebotomíneos (Diptera,

Psychodidae) de área endêmica de leishmaniose na região dos cerrados, estado do Maranhão,

Brasil. Cad Saude Publica. 1999;15:623-630.

53. Rebêlo JMM, Oliveira ST, Barros VLL, Silva FS, Costa JML, Ferreira LA, et al.

Phlebotominae (Diptera:Psychodidae) de Lagoas, município de Buriticupu, Amazônia

Maranhense. I – Riqueza e abundancia relativa das espécies em área de colonização recente.

Rev Soc Bras Med Trop. 2000;33:11-19.

54. Bern C, Maguire JH, Alvar J. Complexities of Assessing Disease Burden Attributable to

Leishmaniasis. Negl Trop Dis. 2008;313:1-8.

62

55. Lainson R, Shaw JJ, Ready PD, Miles MA, Póvoa M. Leishmaniasis in Brazil: XVI.

Isolation and identification of Leishmania species from sandflies, wild mammals and man in

north Para State, with particular reference to Leishmania braziliensis guayanensis, causative

agent of “pian-bois”. Trans R Soc Trop Med Hyg. 1981;75:530-536.

56. Pinheiro MPG, Silva JHT, Cavalcanti KB, Azevedo PRM, Ximenes MFFM. Ecological

interactions among phlebotomines (Diptera: Psychodidae) in an Agroforestry environment of

northeast Brazil. J Vector Ecol. 2013;38:307-316.

57. Corn JL, Comer JA, Erickson GA, Nettles VF. Isolation of vesicular stomatitis virus New

Jersey serotype from phlebotomine sand flies in Georgia. Am J Trop Med Hyg. 1990;42:476-

482.

58. Ferro C, Cardenas E, Corredor D, Morales A, Munstermann LE. Life cycle and fecundity

analysis of Lutzomyia shannoni (Dyar) (Diptera: Psychodidae). Mem Inst Oswaldo Cruz.

1998;93:195-199.

59. Travi BL, Ferro C, Cadena H, Montoya-Lerma J, Adler GH. Canine visceral

leishmaniasis: dog infectivity to sand flies from non-endemic areas. Res Vet Sci. 2002;72:83-

86.

63

CAPÍTULO 02

Sazonalidade de flebotomíneos no Nordeste do Brasil

Sazonalidade de flebotomíneos (Diptera: Psychodidae), transmissores de Leishmania, na

área interna e externa de uma Unidade de Conservação de Mata Atlântica do Nordeste

do Brasil

Marcos Paulo Gomes Pinheiro. Laboratório de Entomologia, Departamento de

Microbiologia e Parasitologia, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Avenida Senador Salgado Filho, 3000, Natal, RN, Brasil. [email protected].

Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes. Laboratório de Entomologia, Departamento de

Microbiologia e Parasitologia, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Avenida Senador Salgado Filho, 3000, Natal, RN, Brasil. [email protected]

Palavras-chave: Flebotomíneo, sazonalidade, leishmaniose, mata atlântica, Lutzomyia

walkeri, Lutzomyia wellcomei.

Este artigo será submetido ao periódico Vector-Borne and Zoonotic diseases (A2 em Ciências

Ambientais) e, portanto, está formatado de acordo com as recomendações desta revista

(http://www.liebertpub.com/forauthors/vector-borne-and-zoonotic-diseases/67/).

64

Resumo

Introdução: Flebotomíneos transmitem parasitas do gênero Leishmania, causadores das

leishmanioses visceral e tegumentar. As leishmanioses são doenças de grande circulação

mundial que ocorrem em todas as regiões do Brasil. A região Nordeste é a segunda do país

em casos de leishmaniose tegumentar e apresenta a maioria dos casos de leishmaniose

visceral, doença que se encontra em franca expansão, responsável por considerável número de

óbitos. Esse estudo busca conhecer a fauna de flebotomíneos da área interna e de

peridomicilios do entorno de um fragmento de Mata Atlântica do Nordeste do Brasil,

enfatizando aspectos da bioecologia e sazonalidade das espécies vetoras das leishmanioses.

Materiais e Métodos: Aconteceram três capturas mensais durante três anos, em ambientes

silvestres e peridomiciliares, utilizando-se armadilhas CDC. Resultados: Foram capturados

75.499 flebotomíneos das espécies Lutzomyia walkeri, Lutzomyia wellcomei, Lutzomyia

longipalpis, Lutzomyia evandroi, Lutzomyia lenti, Lutzomyia brasiliensis, Lutzomyia

abonnenci, Lutzomyia sordellii, Lutzomyia schreiberi, Lutzomyia whitmani e Lutzomyia

sallesi. As espécies mais abundantes foram L. walkeri (79,7%), L. wellcomei (12,7%), L.

longipalpis (3,1%) e L. evandroi (2,9%). As armadilhas colocadas a um e a seis metros de

altura na mata, e a um metro no peridomicílio rural foram as que apresentaram maior

abundância. Conclusões: Os flebotomíneos de modo geral foram mais abundantes no

ambiente silvestre, com pico de ocorrência em janeiro e fevereiro, mas também apresentaram

grande densidade no peridomicílio rural. A abundância de L. walkeri torna importante mais

estudos acerca da bioecologia da espécie. Esse estudo aponta a relação de L. wellcomei aos

meses chuvosos de temperaturas mais baixas. L. longipalpis, L. evandroi e L. lenti

demonstraram preferência pelos ambientes antropizados. L. walkeri teve seus picos de

ocorrência nos meses de janeiro e fevereiro, L. wellcomei de fevereiro a julho, enquanto que

L. longipalpis não apresentou padrão, com um pico apenas entre janeiro e fevereiro de 2014.

65

Palavras-chave: Flebotomíneo, sazonalidade, leishmaniose, mata atlântica, Lutzomyia

walkeri, Lutzomyia wellcomei.

Introdução

Os flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) são responsáveis pela transmissão de

parasitas do gênero Leishmania, causadores da leishmaniose visceral (LV) e da leishmaniose

tegumentar (LT). As leishmanioses são consideradas doenças bastante complexas, uma vez

que estão envolvidas diversas espécies de agentes causadores e de vetores (Sharma e Singh

2008).

No Brasil a LV é causada por Leishmania infantum, que tem como principal vetor o

flebotomíneo Lutzomyia longipalpis (Lainson e Rangel 2005). A LT possui diferentes vetores

e agentes etiológicos, sendo os principais vetores Lutzomyia whitmani, Lutzomyia intermedia,

Lutzomyia migonei, Lutzomyia complexa e Lutzomyia wellcomei (Oliveira et al. 2004,

Azevedo et al. 1990, Queiroz et al. 1994, Teodoro et al. 2003, Alessi et al. 2009, Diniz et al.

2014, Freitas et al. 2015). Leishmania braziliensis é o agente etiológico mais distribuído e

principal responsável pelos casos de LT nos estados do Nordeste (Queiroz et al. 1994).

Apesar das leishmanioses ocorrerem em todas as regiões do Brasil, no Nordeste está

concentrada a maioria dos casos de LV, com 53,6%. A região apresenta ainda grande

quantidade de casos de LT, uma vez que apresentou 27% dos casos em 2015, ficando atrás

apenas da região Norte, que teve 46% (Sesap 2015, Ministério da Saúde 2016). A LV está em

franca expansão e urbanização em todas as regiões do país nas últimas décadas, bem como a

LT, forma mais associada à invasão de ambientes silvestres com objetivo de povoamentos,

criação de empreendimentos, surgimento de núcleos populacionais e atividades agrícolas

(Marzochi 1992, Vale e Furtado 2005).

66

O presente estudo objetivou conhecer a composição e distribuição das espécies de

flebotomíneos da área interna e externa de uma Unidade de Conservação de Mata Atlântica,

analisando sua sazonalidade, estratificação horizontal e vertical, com ênfase nas possíveis

espécies vetoras de LT e LV, ampliando o conhecimento sobre as mesmas e contribuindo com

a vigilância epidemiológica.

Materiais e Métodos

Área de estudo

A pesquisa aconteceu na área interna e no entorno de uma Unidade de Conservação

(UC) de Mata Atlântica do município de Nísia Floresta, estado do Rio Grande do Norte,

Nordeste do Brasil. O município de Nísia Floresta fica a 30 quilômetros da capital do estado,

Natal, possui diversas praias e lagos de importância turística, área de 307,841 Km², e

população estimada em 26.994 habitantes em 2016 (IBGE 2016).

A UC, denominada Floresta Nacional de Nísia Floresta, está em uma região

historicamente usada para plantio de cana de açúcar. Possui composição florística típica de

áreas alteradas, com espécies vegetais nativas e exóticas, em uma área total de 168,84

hectares. Está dividida em um fragmento de floresta nativa, com floresta estacional

semidecidual (FES) (45,2%) e tabuleiro litorâneo (14,1%), e uma área de experimentos

florestais (40,7%) (Figura 1) (Brasil 2012).

67

Figura 1. Unidade de Conservação da Mata Atlântica onde aconteceu a pesquisa no

município de Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil, com pontos de coleta. Três alturas

na área de mata: 12 metros (P1A), 6 metros (P1B) e 1 metro (P1C), borda da mata (P2),

ambiente peridomiciliar rural (P3) e ambiente peridomiciliar do condomínio residencial (P4).

68

A floresta estacional semidecidual se encontra em avançado estágio de regeneração,

possui cerca de 80 hectares com árvores de altura entre os 10 e 25 metros. As principais

espécies são Bowdichia vigilioides (sucupira), Lecythis pisonis (sapucaia), Buchenavia sp.

(mirindimba), Tapirira guianenis (cupiúba), Myrcia sp. (pau mulato), Coccoloba sp. (cauaçu),

Tocoyena sp. (juruparana), Hymenaea sp. (jatobá), Cassia apoucovita, C. ferrea (pau ferro),

Tabebuia sp. (ipê), C. echinata (Brazilwood), B. forficata (Brazilian orchard tree), entre

outras (Brasil 2012).

As coletas aconteceram na área interna e no entorno da Unidade de Conservação, nos

seguintes pontos: três estratos no mesmo ponto da área de mata conservada denominada ponto

1 (P1A, P1B, P1C) (6° 4'57.45"S/ 35°11'5.80"O) que é o ponto onde a FES se encontra de

forma mais conservada; na borda da FES, denominado ponto 2 (P2)

(6°5'2.93"S/35°11'17.06"O), limitada por uma cerca que de um lado possui um aceiro

(firebreak) e do outro uma estrada de terra que separa a área da UC das propriedades vizinhas;

ambiente peridomiciliar rural, denominado ponto 3 (P3) (6°4'56.26"S/35°11'13.62"O), possui

uma casa com três pessoas adultas, e no peridomicílio plantação de Pennisetum purpureum

(capim), Manihot esculenta (mandioca), e árvores frutíferas como Mangifera indica

(mangueiras), Persea americana (abacateiros), Cocos nucifera (coqueiros), Musa sp.

(bananeiras) e Citrus sp. (laranjeiras e limoeiros), dentre outras, e animais domésticos que são

Gallus gallus (galinhas), Cairina moschata (patos), Canis lupus familiaris (cães), e Equus

caballus (cavalo); e ambiente peridomiciliar de um condomínio residencial com 263

residências, denominado ponto 4 (P4) (6°5'11.76"S/35°11'27.05"O), situado junto a UC

limitada pela estrada de terra (Figura 1).

Captura e identificação dos flebotomíneos

As coletas aconteceram três vezes ao mês, durante 36 meses, de setembro de 2013 a

agosto de 2016, com armadilhas luminosas CDC (Center for Disease Control), ligadas das

69

17h00min às 7h00min do dia seguinte. Foram utilizadas seis armadilhas, dispostas da seguinte

forma: três em P1, sendo uma a 12 metros de altura (P1A), uma a 6 metros (P1B) e outra a 1

metro (P1C), uma a 1 metro no ponto 2 (P2), uma a 1 metro no ponto 3 (P3) e outra, também

a 1 metro no ponto 4 (P4) (Figura 1).

Todos os flebotomíneos capturados foram identificados de acordo com Young e

Duncan (1994) por meio de suas características morfológicas, e em seguida armazenados na

Coleção Entomológica Professor Adalberto Antônio Varela-Freire da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte.

Análise estatística

Para análises de comparação entre as diversidades dos diferentes ambientes foi

utilizado o Indice de Diversidade de Shannon-Wiener (H’) (Magurran 1988), e feito o teste de

Kruskal-Wallis para comparações entre os pontos de coleta, com nível de significância menor

ou igual a 0.05, por meio do software Bioestat 5.3 (Kenney e Krebs 2000).

Para comparação e abundancia foi usado o Standardized Index of Species Abundance

(SISA) (Roberts e Hsi 1979), com valores entre 0 e 1, utilizando-se o Microsoft Office Excel

2013.

Os resultados obtidos nas coletas foram comparados às médias mensais de

precipitações pluviométricas, temperaturas e umidade relativa do ar, disponibilizados pelo

Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) (Inmet 2016), utilizando-se o teste de correlação

cruzada (cross-correlation), através do software Paste 2,17c.

Resultados

Foram coletados 75.499 flebotomíneos pertencentes a 11 espécies: Lutzomyia walkeri,

L. wellcomei, L. longipalpis, Lutzomyia evandroi, Lutzomyia lenti, Lutzomyia brasiliensis,

70

Lutzomyia abonnenci, Lutzomyia sordellii, Lutzomyia schreiberi, L. whitmani e Lutzomyia

sallesi (Tabela 1).

Tabela 1. Espécies de flebotomíneos capturados em cada ecótopo, proporção macho/fêmea,

percentual (%), SISA e índice de diversidade de Shannon (H’). Três alturas na área de mata:

12 metros (P1A), 6 metros (P1B) e 1 metro (P1C), borda da mata (P2), ambiente

peridomiciliar rural (P3) e ambiente peridomiciliar do condomínio residencial (P4).

Espécies Ecótopos

Total ♂:♀ % SISA P 1A P 1B P 1C P 2 P 3 P 4

Lutzomyia walkeri 9717 12740 21039 3260 11725 1705 60186 3,3:1 79.718 1,00

Lutzomyia wellcomei 1055 2411 4868 812 440 37 9623 0,4:1 12.746 0,89

Lutzomyia longipalpis 5 19 61 57 2102 106 2350 4,6:1 3.113 0,87

Lutzomyia evandroi 101 190 360 252 783 541 2227 1,9:1 2.950 0,89

Lutzomyia lenti 9 18 41 51 327 123 569 1,8:1 0.754 0,86

Lutzomyia brasiliensis 36 118 139 9 2 3 307 1,9:1 0.407 0,86

Lutzomyia abonnenci 19 23 22 4 32 2 101 0,8:1 0.134 0,86

Lutzomyia sordellii 8 10 18 24 13 3 76 0,2:1 0.101 0,86

Lutzomyia schreiberi 2 8 17 15 10 4 56 2,3:1 0.074 0,85

Lutzomyia whitmani 0 0 2 0 0 0 2 1,0:1 0.003 0,02

Lutzomyia sallesi 0 0 0 1 0 0 1 0,0:1 0.001 0,02

Total 10952 15537 26567 4485 15434 2524 75499 2,4:1 100.0 -

% 14.506 20.579 35.189 5.940 20.443 3.343 100.000 - - -

H’ 0,18 0,25 0,27 0,38 0,36 0,42 - - - -

De forma geral, a proporção foi de 2,4 machos para cada fêmea coletada. A maior

proporção de machos foi apresentada pelas espécies L. longipalpis (4,6/1), L. walkeri (3,3/1),

L. schreiberi (2,3/1), L. evandroi (1,9/1), L. brasiliensis (1,9/1) e L. lenti (1,8/1), enquanto

que L. abonnenci (0,8/1), L. wellcomei (0,4/1) e L. sordellii (0,2/1) apresentaram maior

número de fêmeas por machos.

As armadilhas com maior número de flebotomíneos foram a mais próxima ao solo da

mata (P1C), com 26.567 espécimes (35,2%), seguida pelas de seis metros do solo da mata (P

1B), com 15.537 (20,6%) e peridomicílio rural (P3) com 15.434 (20,4%) (Tabela 1).

Apesar da representativa abundância de flebotomíneos em todas as armadilhas da

mata, comprovou-se a preferência desses insetos pelas atividades mais próximas ao solo

71

(P1C), com diferenças significativas entre o ponto na copa das árvores (P1A) e no solo (P1C)

(p<0,05). O ponto junto ao solo da mata (P1C) aparece como o ponto onde ocorreu o maior

número de flebotomíneos, bem como das espécies L. walkeri, L. wellcomei, L. brasiliensis e

L. schreiberi. As espécies L. longipalpis, L. evandroi e L. lenti foram mais abundantes nos

ambientes peridomiciliares.

Os ambientes que apresentaram maior diversidade foram o condomínio (P4)

(H’=0,42), a borda da mata (P2) (H’=0,38), e o peridomicílio rural (P3) (H’=0,36).

A espécie mais abundante em todos os locais de coleta foi L. walkeri com 79,7% dos

flebotomíneos coletados (SISA=1,00), principalmente na armadilha próximo ao solo da mata

(P1C), onde foram coletados 21.039 indivíduos (Tabela 1 e figura 2). As próximas mais

abundantes foram L. wellcomei com 12,7% (SISA=0,89), L. evandroi com 2,9% (SISA=0,89)

e L. longipalpis com 3,1% (SISA=0,87) (Tabela 1).

Figura 2. Flebotomíneos mais abundantes a 12 metros na copa das árvores (P1A), a 6 metros

(P1B), próximo ao solo a 1 metro (P1C), na borda da mata (P2), no peridomicílio rural (P3) e

no peridomicílio do condomínio (P4) de setembro de 2013 a agosto de 2016.

72

Lutzomyia wellcomei foi a segunda espécie mais abundante na área de mata (P1A, P1B

e P1C) e da borda (P2), ocorrendo também nos ambientes antropizados como no

peridomicílio rural (P3) e condomínio (P4), contudo em menor abundância (Tabela 1 e figura

2).

O ambiente com maior densidade de L. longipalpis foi o peridomicílio rural (P3), onde

apareceu como a segunda espécie mais abundante. A espécie ocorreu também nos outros

ecótopos, mas em menor densidade (Tabela 1 e figura 2).

Foi observada uma maior abundância de flebotomíneos sempre nos meses de janeiro e

fevereiro, principalmente devido à grande densidade de L. walkeri nesses meses, localizados

no final do período seco e início da estação chuvosa na região. Outras espécies que também

predominaram nesses mesmos meses foram L. evandroi e L. lenti. A maior ocorrência de L.

wellcomei foi observada nos meses chuvosos, sendo praticamente ausente nos meses com os

menores índices pluviométricos (Figura 3).

Análises feitas por correlação cruzada (cross-correlation) revelaram inexistência de

relação entre o total de flebotomíneos e as chuvas do mês de coleta (p>0,05). No entanto, as

chuvas de dois (corr=0,33154), quatro (corr=0,42887) e cinco (corr=0,50071) meses antes

influenciaram nas capturas (p<0,05).

Para as espécies L. walkeri, L. evandroi, L. longipalpis e L. lenti não houve relação

com as chuvas do mês de coleta (p>0,05), mas foram observadas correlações defasadas com

essa variável climática. Para L. walkeri houve correlação positiva das chuvas ocorridas dois

(corr.=0,33573), quatro (corr.=0,43244) e cinco (corr.=0,53493) meses antes (p<0,05). Para a

espécie L. evandroi a análise revelou influência positiva das chuvas ocorridas quatro

(cor.=0,57912) e cinco (cor.=0,46004) meses antes (p<0,05). Para L. longipalpis a correlação

indicou influência positiva das chuvas ocorridas quatro (cor.=0,36804) e cinco (cor.=0,58542)

meses antes (p<0,05). Para a espécie L. lenti, houve correlação positiva das chuvas ocorridas

73

quatro (corr.=0,55132) e cinco (cor.=0,47816) meses antes (p<0,05). A ocorrência da espécie

L. wellcomei foi influenciada de forma positiva pelas chuvas no mês de coleta (cor.=0,47144),

bem como um mês antes (cor.=0,34502) (p<0,05).

Figura 3. Ocorrência das espécies mais abundantes e variáveis climáticas, de setembro de

2013 a agosto de 2016.

74

As análises de correlação cruzada mostraram ausência de corrrelação entre o total de

flebotomíneos e a umidade relativa do ar no mês de coleta (p>0,05). No entanto, a umidade de

quatro (cor.=0,43911) e cinco (cor.=0,4582) meses antes influenciaram nas capturas (p<0,05).

A ocorrência das espécies L. walkeri, L. evandroi, L. longipalpis e L. lenti não mostrou

relação significativa com a umidade do mês de coleta (p>0,05), mas a correlação cruzada

indicou influência defasada da umidade (p<0,05). Para L. walkeri houve influência positiva da

umidade de quatro (cor.=0,4834) e cinco (cor.=0,52023) meses antes. L. evandroi teve sua

ocorrência relacionada positivamente à umidade de três (cor.=0,40565), quatro (cor.=0,56295)

e cinco (cor.=0,45062) meses anteriores. Para L. longipalpis houve correlação positiva com a

umidade ocorrida quatro (cor.=0,40144) e cinco (cor.=0,40582) meses antes. L. lenti foi

influenciada de forma positiva pela umidade de três (cor.=0,39545), quatro (cor.=0,58646) e

cinco (cor.=0,46304) meses anteriores. A ocorrência da espécie L. wellcomei foi influenciada

positivamente pela umidade no mês de coleta (cor.=0,52699), bem como de um

(cor.=0,34571), quatro (cor.=0,36586), cinco (cor.=0,42232) e seis (cor.=0,4202) meses antes

(p<0,05).

A correlação cruzada mostrou relação positiva (cor.=0,3859) entre o total de

flebotomíneos e a temperatura ambiental no mês de coleta (p<0,05), assim como no mês

anterior (cor.=0,39376) e dois meses antes (cor.=0,37867) (p<0,05).

Para as espécies L. wellcomei, L. evandroi e L. longipalpis não houve relação com a

temperatura do mês de coleta (p>0,05), mas a correlação cruzada indicou influência da

temperatura ocorrida em meses anteriores (p<0,05). A ocorrência da espécie L. walkeri foi

influenciada positivamente pela temperatura do mês de coleta, bem como de um

(cor.=0,48081) e dois (cor.=0,46181) meses antes. L. evandroi teve correlação positiva apenas

com a temperatura do mês anterior (cor.=0,38238). L. longipalpis teve a ocorrência

correlacionada negativamente com temperaturas de cinco meses antes (cor.=-0,41611). L.

75

lenti teve correlação positiva com a temperatura no mês de captura (cor.=0,36953), assim

como em um mes antes (cor.=0,38902) (p<0,05). Para L. wellcomei houve correlação negativa

com as temperaturas ocorridas um (cor.=-0,44397), dois (cor.=-0,43629) e três (cor.=-

0,35252) meses antes (p<0,05).

Discussão

Estudos acerca da bioecologia e sazonalidade dos flebotomíneos vetores das

leishmanioses são relevantes, especialmente quando o acompanhamento acontece em longo

prazo, o que possibilita um melhor entendimento dos fatores que influenciam sua ocorrência,

e servindo inclusive como indicador de risco de transmissão.

O número de espécimes coletados foi bastante elevado, contudo o número de espécies

é inferior a outros estudos, por exemplo em Pernambuco, onde Carvalho et al. (2007)

encontrou 16 espécies coletando durante um ano em abrigos de animais perto de casas,

plantações e remanescentes da Mata Atlântica, e Andrade et al. (2005) também no período de

um ano encontrou 16 espécies em um remanescente de mata atlântica dentro de uma área de

treinamento militar.

A espécie mais abundante em todos os ecótopos pesquisados foi L. walkeri.

Comparando-se com trabalhos anteriores no mesmo município, em que a espécie representou

apenas 7,46% dos flebotomíneos capturados e L. longipalpis 64,47% (Ximenes et al. 2000),

percebe-se uma mudança na composição das espécies, tornando importante maiores

investigações acerca de sua bioecologia. L. walkeri, não é associada à transmissão de

Leishmania, mas como outros dípteros, possui importância ecológica, servindo certamente de

alimento para aves, lagartos, sapos, aranhas e insetos, além de contribuir com a polinização,

uma vez que algumas espécies buscam o néctar das flores como fonte de açúcar (Müller e

Schlein 2004, Fang 2010, Miller 2012).

76

Esse trabalho cita pela primeira vez L. schreiberi no estado do Rio Grande do Norte,

espécie com a maioria dos registros na região Sudeste do Brasil (Martins et al. 1978, Silva e

Grunewald 1997, Andrade Filho et al. 2004, Pinto et al. 2010).

Dentre as espécies encontradas, L. longipalpis está relacionada a casos de LV,

causados por L. infantum em todo o país, destacando-se a região Nordeste com grande

número de casos, onde os óbitos podem chegar a 10% (Jerônimo et al. 1994, Lainson e

Rangel 2005). No presente trabalho, a espécie foi pouco representativa, principalmente se

comparado com estudo anterior em que representava mais de 60% dos flebotomíneos

coletados, também no município de Nísia Floresta (Ximenes et al. 2000).

Lutzomyia whitmani foi pouco abundante no presente estudo, mas demonstrou

preferencia pela mata preservada, sendo capturada apenas nesse ambiente. Essa espécie foi

dentificada em outros locais com infecção natural por L. braziliensis, inclusive em ambientes

florestais do Nordeste (Queiroz et al. 1994, Rebêlo et al. 1999, Dantas-Torres et al. 2010,

Donalisio et al. 2012). Contudo, são relevantes os registros acerca de sua fácil adaptação a

ambientes antropizados (Brandão-Filho et al. 2011).

A maioria dos flebotomineos da Floresta Nacional de Nísia Floresta demonstrou

comportamento sazonal relacionado a variáveis ambientais como chuvas, umidade relativa do

ar e temperatura, ocorridas principalmente em meses anteriores, fato provavelmente

relacionado à queda sazonal de folhas e decomposição de matéria orgânica no solo,

favorecendo o desenvolvimento das fases imaturas algum tempo antes.

Uma vez que os seres vivos enfrentam variações diárias e sazonais de temperatura

ambiental que influenciam seus processos fisiológicos e bioquímicos, é importante notar a

maior ocorrência de L. wellcomei na estação chuvosa, entrando provavelmente em diapausa

no período seco, quando se mostra praticamente ausente, fato já apontado na Amazônia

77

brasileira e no Nordeste (Ryan et al. 1986, Rangel e Lainson 2009, Tachinardi 2012, Pinheiro

et al. 2016a).

O comportamento sazonal de L. wellcomei como espécie adaptada aos meses mais

úmidos, chuvosos e de temperaturas mais baixas na região Nordeste do Brasil, bem como sua

atividade também durante o dia (MPG PINHEIRO, manuscrito em preparação) pode ser

importante na profilaxia da LT, de modo a se evitar o contato com a espécie nos períodos de

maior ocorrência. Esses achados reforçam a suspeita da participação de L. wellcomei nos

ciclos de transmissão de L. braziliensis. L. wellcomei é uma espécie altamente antropofílica,

que tem sua importância epidemiológica até o momento restrita a casos de LT na região

amazônica, não sendo ainda comprovadamente associada a casos de LT na região Nordeste

(Fraiha et al. 1971, Lainson et al. 1973, Wilkes et al. 1984, Ryan et al. 1987, Rangel e

Lainson 2009, Pinheiro et al. 2016b).

A maior abundância de flebotomíneos encontrada no estrato mais baixo da mata da

Flona de Nísia Floresta pode estar relacionada às preferencias desses insetos quanto a

açúcares ou repasto sanguíneo em animais terrestres, pelo desenvolvimento larval em matéria

orgânica contida no solo resultante da decomposição de folhas, ou por evitarem o vento nos

estratos superiores (Lainson et al. 1973, Killick-Kendrick 1999, Faiman et al. 2011, Pinheiro

et al. 2013, Witt 2013). Contudo, esse estudo indica que algumas espécies como L. walkeri e

L. wellcomei também estão presentes em grande densidade nos estratos elevados, junto à copa

das árvores sugerindo um comportamento alimentar eclético ou oportunista.

Na área estudada L. wellcomei foi muito frequente na copa das árvores, a

aproximadamente 12 metros, comportamento que deve estar associado à aquisição de

carboidratos em espécies vegetais ou busca de repasto sanguíneo, por parte das fêmeas, em

animais arborícolas como aves, saguis (Callitrix jacchus) e timbus. Alguns estudos,

especialmente na Amazônia, onde as copas das árvores alcançam alturas bem maiores,

78

indicam uma escala de voo vertical próxima ao solo para L. wellcomei (Lainson et al. 1973,

Ward et al. 1973, Rangel e Lainson 2009), associando-os à alimentação em animais que se

mantém junto ao solo, como roedores e marsupiais.

As espécies L. walkeri, L. wellcomei, L. brasiliensis e L. schreiberi, abundantes no

ambiente silvestre, são espécies já associadas a fragmentos florestais do Nordeste do Brasil

(Martins et al. 1978, Ready et al. 1983, Silva e Vasconcelos 2005, Pinheiro et al. 2013), com

exceção de L. wellcomei que é vetor de L. braziliensis na Amazônia (Ready et al. 1983,

Brandão-Filho et al. 1998, Silva e Vasconcelos 2005), não são incriminadas como espécies

vetoras.

As espécies L. longipalpis, L. evandroi e L. lenti foram mais abundantes nos

ambientes peridomiciliares, principalmente na propriedade rural, mostrando-se adaptadas a

ambientes modificados. O fato dessas espécies serem menos abundantes no peridomicílio do

condomínio residencial se deve provavelmente ao fato deste ser recém construído e cercado

por muros que podem atuar como barreiras, enquanto que no ambiente rural a área é aberta

sombreada e possíveis fontes alimentares como árvores frutíferas e animais como Gallus

gallus (galinha), Cairina moschata (pato), Canis lupus familiaris (cão), e Equus caballus

(cavalo).

Conclusões

A maioria das espécies encontradas na Floresta Nacional de Nísia Floresta

demonstram comportamento sazonal relacionado a condições ambientais como chuvas,

umidade relativa do ar e temperatura, seja no momento de ocorrência dos adultos ou

principalmente nas fases imaturas algum tempo antes.

Quanto à estratificação vertical, a maioria das espécies demonstrou preferencia pelos

habitats mais baixos, junto ao solo, mas L. walkeri e L. wellcomei apareceram em grande

79

densidade nas copas das árvores, fato possivelmente relacionado à busca por açúcares ou

repasto sanguíneo em animais arborícolas.

O presente estudo confirma a presença de L. wellcomei em ambientes peridomiciliares

da região, além de sua ocorrência em ambiente silvestre, principalmente nos meses mais

úmidos do ano.

L. longipalpis é confirmada na região como espécie relacionada a ambientes

modificados, demonstrando maior abundancia no peridomicílio rural, e certamente

relacionada a casos de LV ocorrentes na área.

A grande densidade de L. walkeri torna importante os estudos acerca da bioecologia e

adaptação da espécie, que em levantamentos anteriores era das mais raras na área estudada,

passando a ser a mais abundante.

O presente estudo acrescenta conhecimentos sobre composição e distribuição das

espécies de flebotomíneos em áreas de Mata Atlântica do estado do Rio Grande do Norte,

contribuindo com a vigilância epidemiológica.

Agradecimentos

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(Capes) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo suporte

financeiro, e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CNPq/ICMBio

No. 552004/2011-1), à direção e aos servidores da Floresta Nacional de Nísia Floresta pela

permissão e pelo apoio durante as atividades de campo.

Author Disclosure Statement

No competing financial interests exist.

80

Referências

Alessi CAC, Galati EAB, Alves JR, Corbett CEP. American cutaneous leishmaniasis in the

Pontal of Paranapanema - SP, Brazil: ecological and entomological aspects. Rev Inst Med

Trop Sao Paulo 2009;51:277-282.

Andrade Filho JD, Carvalho GML, Saraiva L, Falcão AL. Bilateral anomaly in the style of

Micropygomyia schreiberi (Martins, Falcão & Silva) (Diptera, Psychodidae). Rev Bras

entomol 2004;48:583-585.

Andrade MS, Valença HF, Silva AL, Almeida FA, et al. Sandfly fauna in a military training

area endemic for American tegumentary leishmaniasis in the Atlantic Rain Forest region of

Pernambuco, Brazil. Cad Saude Publica 2005;21:1761-1767.

Azevedo ACR, Rangel EF, Queiroz RG. L. migonei (França, 1920) naturally infected with

peripylarian flagellates in Baturité, a focus of cutaneous leishmaniasis in Ceará State, Brazil.

Mem Inst Oswaldo Cruz 1990;85:479.

Brandão-Filho SP, Brito MEF, Martins CAP, Sommer IB, et al. Leishmaniose tegumentar

americana em centro de treinamento militar localizado na Zona da Mata de Pernambuco,

Brasil. Rev Soc Bras Med Trop 1998;31:575-578.

Brandao-Filho SP, Donalisio MR, Silva FJ, Valenca HF, Costa PL, Shaw JJ, et al.

Spatial and temporal patterns of occurrence of Lutzomyia sand fly species in

an endemic area for cutaneous leishmaniasis in the Atlantic Forest region of

81

Northeast Brazil. J Vector Ecol. 2011;36 Suppl 1:71-76.

Brasil. Plano de Manejo da Floresta Nacional de Nísia Floresta (Volume I). Ministério do

Meio Ambiente, Brasília, Brasil. 2012. http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgs-

unidades-coservacao/Volume_I___Diagn%C3%B3stico_02ago12.pdf. Accessed 5 Dez 2016.

Carvalho MR, Lima BS, Marinho-Júnior JF, Silva FJ, et al. Phlebotomine sandfly species

from an American visceral leishmaniasis area in the Northern Rainforest region of

Pernambuco State, Brazil. Cad Saude Publica 2007;23:1227-1232.

Dantas-Torres F, Andrade AJ, Tenório KER, Andrade Filho JD, et al. Phlebotomine sand flies

(Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) in the State of Pernambuco. Rev Soc Bras Med Trop

2010;43:733-736.

Diniz MMCSL, Ovallos FG, Gomes CMC, Lavitschka CO, et al. Hostbiting

rate and susceptibility of some suspected vectors to Leishmania braziliensis. Parasit Vectors

2014. doi:10.1186/1756-3305-7-139.

Donalisio MR, Peterson AT, Costa PL, Silva FJ, Valenca HF, Shaw JJ, Brandao-Filho SP.

Microspatial distributional patterns of vectors of cutaneous leishmaniasis in Pernambuco,

Northeastern Brazil. J Trop Med 2012. Doi: 10.1155/2012/642910.

Faiman R, Kirstein O, Moncaz A, Guetta H, et al. Studies on the flight patterns of foraging

sand flies. Acta Trop 2011;120:110-114.

82

Fang J. Ecology: A world without mosquitoes. Nature 2010;466:432-434.

Fraiha H, Shaw JJ, Lainson R. Phlebotominae brasileiros: II - Psychodopygus wellcomei,

nova espécie antropófila de flebótomo do grupo squamiventris, do Sul do Estado do Pará,

Brasil (Diptera, Psychodidae). Mem Inst Oswaldo Cruz 1971;69:489-500.

Freitas MTS, Ríos-Velasquez CM, Costa-Junior CRL, Figueiredo-Junior CAS,

et al. Phenotypic and genotypic variations among three allopatric populations of Lutzomyia

umbratilis, main vector of Leishmania guyanensis. Parasit Vectors 2015. doi:10.1186/s13071-

015-1051-7.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estimativa da População 2016, Nísia

Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil. 2016. http://www.

cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=2408201. Accessed

15 Dez 2016.

Inmet. Instituto Nacional de Meteorologia. Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e

Pesquisa. 2016. http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep. Accessed 12 Dez

2016.

Jeronimo SMB, Oliveira RM, Mackay S, Costa RM, et al. An urban outbreak of visceral

leishmaniasis in Natal, Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg 1994;88:386-388.

Kenney AJ, Krebs CJ. Programs for Ecological Methodology. 2nd ed. Vancouver: University

of British Columbia; 2000.

83

Killick-Kendrick R. The biology and control of phlebotomine sand flies. Clin Dermatol

1999;17:279-289.

Lainson R, Rangel EF. Lutzomyia longipalpis and the eco-epidemiology of American visceral

leishmaniasis, with particular reference to Brazil - a review. Mem Inst Oswaldo Cruz

2005;100:811-827.

Lainson R, Shaw JJ, Ward RD, Fraiha H. Leishmaniasis in Brazil: IX Considerations on the

Leishmania braziliensis complex: Importance of the genus Psychodopygus Mangabeira in the

transmission of L. braziliensis brasiliensis in north Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg

1973;67:184-196.

Magurran AE. Ecological diversity and its measurement. London: Cambridge University

Press; 1988:179.

Martins AV, Williams P, Falcão AL. American Sand Flies (Diptera: Psychodidae:

Phlebotominae). Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Ciências; 1978. 195 p.

Marzochi MCA. Leishmanioses no Brasil: as leishmanioses tegumentares. J Bras Med

1992;63:82-104.

Miller E. Mosquitoes' Role in the Ecosystem - they provide food and pollination, but spread

diseases. 2012. http://www.mosquitoreviews.com/mosquitoes-ecosystem.html. Acessed 16

Jan 2017.

84

Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Sistema de Notificação de Agravos.

Casos confirmados de Leishmaniose Visceral, Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas.

1990 a 2015. http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/novembro/07/LT-Casos.pdf

Accessed 22 Dez 2016.

Müller G, Schlein Y. Nectar and honeydew feeding of Phlebotomus papatasi in a focus of

Leishmania major in Neot Hakikar oasis. J Vector Ecol 2004;29(1):154-158.

Oliveira CC, Lacerda HG, Martins DR, Barbosa JD, et al. Changing epidemiology of

American cutaneous leishmaniasis (ACL) in Brazil: a disease of the urban-rural interface.

Acta Trop 2004;90:155-162.

Pinheiro MPG, Silva JHT, Silva VEP, Andrade MJM, et al. Lutzomyia wellcomei Fraiha,

Shaw & Lainson (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae) em Fragmento de Mata Atlântica do

Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil. EntomoBrasilis 2013;6(3):232-238.

Pinheiro MPG, Silva MMM, Silva Júnior JB, Silva JHT, et al. Sand flies (Diptera,

Psychodidae, Phlebotominae), vectors of Leishmania protozoa, at an Atlantic Forest

Conservation Unit in the municipality of Nísia Floresta, Rio Grande do Norte state, Brazil.

Parasites & Vectors 2016a;9:83. DOI 10.1186/s13071-016-1352-5.

Pinheiro MPG, Silva JHT, Inacio CLS, Ximenes MFFM. Anthropophily of Lutzomyia

wellcomei (Diptera: Psychodidae) in an Atlantic Forest Conservation Unitin Northeast Brazil.

Journal of Medical Entomology 2016b;53(6):1444-1448. DOI: 10.1093/jme/tjw089.

85

Pinto IS, Santos CB, Grimaldi Jr G, Ferreira AL, et al. American visceral leishmaniasis

dissociated from Lutzomyia longipalpis (Diptera, Psychodidae) in the State of Espírito Santo,

Brazil. Cad Saude Publica 2010;26:365-372.

Queiroz RG, Vasconcelos IA, Vasconcelos AW, Pessoa FA, et al. Cutaneous leishmaniasis in

Ceará State in Northeastern Brazil: incrimination of Lutzomyia whitmani (Diptera:

Psychodidae) as vector of Leishmania braziliensis in Baturité municipality. Am J Trop Med

Hyg 1994;50:693-698.

Rangel EF, Lainson R. Proven and putative vectors of American cutaneous leishmaniasis in

Brazil: aspects of their biology and vectorial competence. Mem Inst Oswaldo Cruz

2009;104:937-954.

Ready PD, Ribeiro AL, Lainson R, Alencar JE, et al. Presence of Psychodopygus

wellcomei (Diptera: Psychodidae), a proven vector of Leishmania braziliensis, in Ceará State.

Mem Inst Oswaldo Cruz 1983;78:235-236.

Rebêlo JMM, Araújo JAC, Carvalho ML, Barros VLL, et al. Flebótomos (Diptera:

Phlebotominae) da Ilha de São Luis, Zona do Golfão Maranhense, Brasil. Rev Soc Bras Med

Trop 1999;32:247–253.

Roberts DR, Hsi BP. An index of species abundance for use with mosquito surveillance data.

Environ Entomol 1979;8:1007-1013.

86

Ryan L, Lainson R, Shaw JJ, Fraiha H. Ecologia de flebotomíneos (Diptera: Psychodidae:

Phlebotominae) na Região Amazônica. In: Lainson R, organizador. Instituto Evandro Chagas:

50 anos de contribuição às ciências biológicas e à medicina tropical. v. I. Serviços de saúde

pública. Belém: Instituto Evandro Chagas;1986:307-320.

Ryan L, Lainson R, Shaw JJ. Leishmaniasis in Brazil. XXIV. Natural flagellate infections of

sandflies (Diptera: Psychodidae) in Pará State, with particular reference to the role of

Psychodopygus wellcomei as the vector of Leishmania braziliensis in the Serra do Carajás.

Trans R Soc Trop Med Hyg 1987;81:353-359.

Sesap (Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte), Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Leishmaniose tegumentar e leishmaniose

visceral por Município de Residência no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil: 2007–2014;

2015. http://sinan.saude.gov.br/sinan. Accessed 7 Feb 2016.

Sharma U, Singh S. Insect vectors of Leishmania: distribution, physiology and their control. J

Vector Borne Dis 2008;45:255-272.

Silva OS, Grunewald J. Preliminary studies on Phlebotominae fauna from Parque Estadual do

Turvo, RS, a endemic tegumentary leishmaniasis area. Mem Inst Oswaldo Cruz 1997;92:317.

Silva DF, Vasconcelos SD. Flebotomíneos em fragmentos de Mata Atlântica

na Região Metropolitana do Recife, PE. Rev Soc Bras Med Trop 2005;38:264-266.

87

Tachinardi P. Efeitos das variações de temperatura ambiental em ritmos circadianos. Revista

da Biologia 2012;9(3):13-18. DOI: 10.7594/revbio.09.03.03.

Teodoro U, Alberton D, Kühl JB, Santos ES, et al. Ecologia de Lutzomyia (Nyssomyia)

whitmani em área urbana do município de Maringá, Paraná. Rev Saude Publica 2003;37:651-

656.

Vale ECS, Furtado T. Leishmaniose tegumentar no Brasil: revisão histórica da origem,

expansão e etiologia. An Bras Dermatol 2005;80:421-428.

Ward RD, Shaw JJ, Lainson R, Fraiha H. Leishmaniasis in Brazil: VIII. Observations on the

phlebotomine fauna of an area of highly endemic cutaneous leishmaniasis in the Serra dos

Carajás, Pará State. Trans R Soc Trop Med Hyg 1973; 67:174-183.

Wilkes TJ, Ready PD, Lainson R, Killick-Kendrick R. Biting periodicities of nulliparous and

parous females of Psychodopygus wellcomei. Trans. R Soc Trop Med Hyg 1984;78:846-847.

Witt CJ. Emerging and re-emerging diseases. In: Morain, SA, Budge AM. (Eds.).

Environmental Tracking for Public Health Surveillance. New York: CRC Press; 2013:187-

227.

Ximenes MFFM, Castellón EG, Souza MF, Freitas RA, Pearson RD, Wilson ME, Jerônimo

SMB. Distribution of Phlebotomine Sand Flies (Diptera: Psychodidae) in the State of Rio

Grande do Norte, Brazil. Journal of Medical Entomology 2000;37(1):162-169.

88

Correspondence address

Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes

Laboratório de Entomologia, Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Centro de

Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Avenida Senador Salgado Filho,

3000, Natal, RN, Brasil.

E-mail: [email protected]

89

CAPÍTULO 03

Antropofilia de Lutzomyia wellcomei (Diptera: Psychodidae) em uma Unidade de

Conservação de Mata Atlântica do Nordeste do Brasil

Journal of Medical Entomology - Seção: Vector-Borne Diseases, Surveillance, Prevention

Marcos Paulo Gomes Pinheiro – [email protected]

Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes – [email protected]

Laboratório de Entomologia, Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, 59.078-970, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.

Telefone: +55-84-3342-2286

Este artigo foi publicado no periódico Journal of Medical Entomology (A2 em Ciências

Ambientais) (DOI: 10.1093/jme/tjw089) e, portanto, está formatado de acordo com as

recomendações desta revista (http://jme.oxfordjournals.org/for_authors/manuscript-

preparation.html).

90

Resumo

Lutzomyia wellcomei (Fraiha, Shaw & Lainson) (Diptera: Psychodidae) pode atuar como um

importante vetor de Leishmania (Viannia) braziliensis. Esse estudo apresenta os resultados de

coletas feitas em um fragmento de Mata Atlântica de uma Unidade de Conservação do estado

do Rio Grande do Norte. As coletas aconteceram por 12 meses consecutivos utilizando

armadilhas Shannon e CDC. Foi coletado um total de 777 flebotomíneos de oito espécies:

Lutzomyia walkeri (Newstead), Lutzomyia evandroi (Costa Lima & Antunes), Lutzomyia

wellcomei (Fraiha, Shaw & Lainson), Lutzomyia sordellii (Shannon & Del Ponte), Lutzomyia

brasiliensis (Costa Lima), Lutzomyia lenti (Mangabeira), Lutzomyia longipalpis (Lutz &

Neiva) e Lutzomyia abonnenci (Floch & Chassignet). L. wellcomei foi a espécie mais

abundante utilizando-se a armadilha Shannon (97%) e L. walkeri na armadilha CDC (81%). É

importante ressaltar a abundância de L. wellcomei nas coletas realizadas com a armadilha

Shannon, uma vez que esta favorece a captura de espécies antropofílicas. L. wellcomei esteve

presente apenas nos meses com chuvas acima dos 100 milímetros, confirmando-se assim

como uma espécie adaptada aos meses chuvosos.

Keywords: Phlebotominae, Lutzomyia wellcomei, public health, Atlantic Forest

Lutzomyia wellcomei (Fraiha, Shaw & Lainson) (Diptera: Psychodidae) foi encontrado

pela primeira vez em 1968 como parte de uma investigação sobre casos de leishmaniose

tegumentar causados por Leishmania (Viannia) braziliensis entre trabalhadores de uma

estrada na Serra dos Carajás na floresta amazônica, estado do Pará, Brasil (Rangel e Lainson

2009). A espécie foi mais tarde encontrada no Nordeste do país em ambientes florestais do

Ceará, Pernambuco, e Rio Grande do Norte e também em ambientes florestais e

peridomiciliares do estado do Maranhão (Ready et al. 1983, Rebêlo et al. 1999, Silva e

Vasconcelos 2005, Pinheiro et al. 2013).

91

Lutzomyia wellcomei pode atuar como um importante vetor de L. braziliensis dado seu

alto potencial antropofílico, picando humanos avidamente tanto à noite como durante o dia

(Fraiha et al. 1971, Wilkes et al. 1984). É sugerido que roedores e marsupiais sejam os

principais vertebrados fontes de repasto sanguíneo para essa espécie de flebotomíneo

(Lainson et al. 1973).

Em relação a seu comportamento sazonal, L. wellcomei é mais abundante durante a

estação chuvosa e entra em diapausa durante os meses secos, quando é raramente encontrada

(Rangel e Lainson 2009).

Dada a importância de L. wellcomei como uma espécie vetora de L. braziliensis na

Amazônia, bem como sua ocorrência em diversos lugares do Nordeste do Brasil, o objetivo

do presente estudo foi analisar os aspectos locais da sazonalidade e comportamento

antropofílico de L. wellcomei, considerando a possibilidade dessa espécie tornar-se vetora de

L. braziliensis na região, adicionalmente contribuindo com conhecimento das espécies de

flebotomíneos, assim como controle e vigilância epidemiológica.

Materiais e Métodos

Esse estudo aconteceu na Floresta Nacional de Nísia Floresta, uma Unidade de

Conservação (UC) de Mata Atlântica do município de Nísia Floresta, que possui cerca de

26.208 habitantes (IBGE 2015), e está localizado na região metropolitana de Natal, estado do

Rio Grande do Norte, Brasil (Fig. 1). O município é endêmico para leishmaniose visceral

(LV), como as áras rurais do estadeo, mas não possui casos confirmados de leishmaniose

tegumentar (LT), que estão mais restritos à região serrana do estado.

92

Fig. 1. Localização da área de estudo no município de Nísia Floresta, Rio Grande do Norte,

Brasil.

A UC (Latitude: 06º05’12,4” e Longitude: 035º11’04,0”) abrange uma área de 168.84

hectares e consiste de áreas de reflorestamento experimental com diferentes espécies nativas e

exóticas, floresta semidecidual em avançado processo de regeneração, e tabuleiro costeiro.

Ocorrem diversas árvores exóticas, principalmente Eucaliptus sp. e Pinus sp., e uma grande

variedade de espécies endêmicas como oiticica (Licania rigida), sucupira (Bowdichia

vigilioides), jatobá (Hymenaea sp.), pau ferro (Caesalpinea ferrea), ipê (Tabebuia sp.) e pau-

brasil (Caesalpinea echinata), entre outras (MMA 2012).

As principais espécies de vertebrados que ocorrem na UC, e que servem como fonte

de repast ou possíveis reservatórios para Leishmania são raposa (Cerdocyon thous), gambá

(Didelphis albiventris), tatu (Dasypus novemcinctus, Euphractus sexcintus) and sagui

(Callithrix jacchus), entre outros (MMA 2012).

93

As coletas aconteceram uma vez ao mês, no 15º dia, de fevereiro de 2013 a janeiro de

2014, em uma área de mata preservada, utilizando-se uma armadilha de Shannon e uma CDC

equidistantes 300 metros (Fig. 1). As coletas com a armadilha Shannon aconteceram das

17h00min às 20h00min, sempre pelos mesmos dois coletores, utilizando-se lâmpada de luz

branca. Os flebotomíneos que entravam na armadilha ou pousavam nos coletores eram

capturados com auxílio de um aspirador de Castro. A armadilha CDC era instalada a um

metro de altura do solo e funcionava das 17h00min às 7h00min do dia seguinte, quando os

insetos capturados eram levados ao laboratório para processamento. Todos os flebotomíneos

coletados foram clarificados em hidróxido de potássio (KOH), montados em lâminas e

identificados de acordo com a chave de Young e Duncan (1994).

Os resultados foram comparados com dados de precipitação obtidos junto ao Instituto

Nacional de Meteorologia (Inmet 2015). O índice padronizado de abundância de espécies

(SISA), com valores entre zero e um foi determinado utilizando-se o Microsoft Office Excel

2013 e aplicado para comparação das abundâncias (Roberts e Hsi 1979).

Resultados e Discussão

Foi coletado um total de 777 flebotomíneos de oito espécies utilizando-se os dois tipos

de armadilha. A armadilha Shannon capturou 289 espécimes, sendo 281 L. wellcomei (97%)

(SISA=1.00) e 8 Lutzomyia walkeri (3%) (SISA=0.50). A armadilha CDC capturou 488

flebotomíneos de oito espécies: 396 Lutzomyia walkeri (81.1%) (SISA=1.00), 61 Lutzomyia

evandroi (12.5%) (SISA=0.50), 15 L. wellcomei (3.1%) (SISA=0.33), 9 Lutzomyia sordellii

(1.8%) (SISA=0.25), 3 L. brasiliensis (0.6%) (SISA=0.20), 2 L. lenti (0.4%) (SISA=0.17), 1

Lutzomyia longipalpis (0.2%) (SISA=0.14) e 1 Lutzomyia abonnenci (0.2%) (SISA=0.14)

(Table 1) (Fig. 2).

94

Tabela 1. Flebotomíneos coletados na Floresta Nacional de Nísia Floresta, estado do Rio

Grande do Norte, Brasil, de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014.

Espécies Shannon

CDC

Total % ♂ ♀ Total % ♂ ♀ Total %

Lutzomyia walkeri 1 7 8 3

276 120 396 81.1 404 52.0

Lutzomyia wellcomei 20 261 281 97

3 12 15 3.1 296 38.1

Lutzomyia evandroi 0 0 0 0

24 37 61 12.5 61 7.9

Lutzomyia sordellii 0 0 0 0

1 8 9 1.8 9 1.2

Lutzomyia brasiliensis 0 0 0 0

2 1 3 0.6 3 0.4

Lutzomyia lenti 0 0 0 0

2 0 2 0.4 2 0.3

Lutzomyia longipalpis 0 0 0 0

0 1 1 0.2 1 0.1

Lutzomyia abonnenci 0 0 0 0 0 1 1 0.2 1 0.1

Total 21 268 289 100 308 180 488 100 777 100

Figure 2. Número mensal das espécies mais abundantes de flebotomíneos coletados na

Floresta Nacional de Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil, de fevereiro de 2013 a

janeiro de 2014.

95

Esse estudo é a primeira descrição da fauna de flebotomíneos em uma UC de Mata

Atlântica do estado utilizando a armadilha Shannon com método de coleta. É importante

enfatizar a abundância de L. wellcomei (97%) nesse tipo de armadilha, que favorece a captura

de espécies antropofílicas. Isso acontece porque, além da fonte luminosa, as pessoas ficam

junto à armadilha durante as coletas e assim atuam como fontes atrativas. Assim, esse método

reflete o comportamento alimentar dos flebotomíneos que são atraídos por odores e CO2

liberados pelos coletores (Perez et al. 1988, Alexander 2000, Galati et al. 2001).

Em ambos os métodos de coleta, L. wellcomei foi a única espécie que ocorreu apenas

nos meses com chuvas acima dos 100 mm, de abril a setembro (Fig. 2), que também

apresentam temperaturas mais amenas na região Nordeste, confirmando que essa espécie é

adaptada aos meses mais úmidos (Lainson e Shaw 1998), com possibilidade de diapausa nos

indivíduos imaturos no período seco, como detectado na floresta amazônica (Ryan et al.

1986). Esse fato pode ter implicações profiláticas, uma vez que as pessoas podem evitar o

contato com o vetor, tendo maiores cuidados na estação chuvosa.

Os animais vertebrados associados à área provêm as condições necessárias à

ocorrência e reprodução dos flebotomíneos. Contudo, as populações humanas residentes em

propriedades rurais e em condomínios recém construídos no entorno da UC podem também

servir como fontes de repastos sanguíneos, uma vez que estão expostas às picadas.

Flebotomíneos são frequentemente associados a fragmentos de Mata Atlântica de áreas

urbanas (Silva e Vasconcelos 2005, Virgens et al. 2008, Pinto et al. 2010), e o

desflorestamento e a urbanização podem fazer com que esses vetores se adaptem e a

Leishmania entre em contato com humanos e reservatórios domésticos (Tolezano 1994,

Rebêlo et al. 1999, Rebêlo et al. 2000). Apesar de não haver registros de casos autóctones de

LT, o município de Nísia Floresta tem se expandido nos últimos anos, com crescimento de

áreas residenciais no entorno da Flona (MMA 2012), inclusive com a migração de populações

96

de outras áreas do estado, incluindo aquelas endêmicas para LT, podendo desencadear casos e

até surtos.

É importante ressaltar a ausência de L. longipalpis, espécie vetora de Leishmania

infantum adaptada a ambientes antropizados, nas coletas realizadas com armadilha Shannon,

assim como a presença de apenas um exemplar na armadilha CDC. Isso se deve

provavelmente à suas características antropofílicas e adaptação a áreas peridomiciliares.

Embora a presença humana na armadilha Shannon atraia espécies antropofílicas, as coletas

aconteceram dentro da área de mata preservada, sendo essa a provável justificativa para a

raridade de L. longipalpis na mata e abundância da espécie em ambientes modificados do

entorno da UC (Ximenes et al. 2007). Apesar de L. longipalpis ser considerado o principal

vetor de L. infantum, não podemos descartar a possibilidade de outras espécies atuarem como

vetoras, assim como relatado em outros estudos (Galati et al. 1997, Pita-Pereira et al. 2008,

Guimarães et al. 2016).

A urbanização, o crescimento e as consequentes alterações na paisagem, combinado

com a presença de vetores, pode resultar no surgimento de casos de LT na região. Apesar de

não haver casos de LT no município, L. wellcomei é um vetor confirmado de L. braziliensis

na Amazônia (Lainson et al. 1973, Ready et al. 1983, Ryan et al. 1987). Assim, a combinação

da presença de um vetor altamente antropofílico, exibindo grande densidade durante a estação

chuvosa, e a migração de populações humanas, pode proporcionar as condições para o

surgimento de casos.

Agradecimentos

Ao Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), aos

administradores e seguranças da Floresta Nacional (FLONA) de Nísia Floresta pela permissão

e apoio. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao

97

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio

financeiro.

Referências

Alexander B. 2000. Sampling methods for phlebotomine sandflies. Med. Vet. Entomol.

14: 109-122.

Fraiha, H., J. J. Shaw, and R. Lainson. 1971. Phlebotominae brasileiros: II -

Psychodopygus wellcomei, nova espécie antropófila de flebótomo do grupo

squamiventris, do Sul do Estado do Pará, Brasil (Diptera, Psychodidae). Mem. Inst.

Oswaldo Cruz 69: 489-500.

Galati, E. A. B., V. L. B. Nunes, F. A. Rego-Jr, E. T. Oshiro, and M. R. Chang. 1997.

Estudo de flebotomíneos (Diptera, Psychodidae) em foco de leishmaniose visceral no Estado

de Mato Grosso do Sul, Brasil. Rev. Saude Publica. 31: 378-390.

Galati, E. A. B., V. L. B. Nunes, M. E. C. Dorval, G. Cristaldo, H. C. Rocha, R. M.

Gonçalves-Andrade, and G. Naufel. 2001. Attractiveness of black Shannon trap for

phlebotomines. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 96: 641-647.

Guimarães, V. C. F. V., K. Pruzinova, J. Sadlova, V. Volfova, J. Myskova,

S. P. B. Filho, and P. Volf. 2016. Lutzomyia migonei is a permissive vector competent

for Leishmania infantum. Parasit. Vectors 9: 159.

(IBGE) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2015. Estimativa da

População 2014, Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil.

(http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=2408201) (Accessed

29 Aug 2015).

(INMET) Instituto Nacional de Meteorologia. Banco de Dados Meteorológicos para

Ensino e Pesquisa. 2015. (http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep)

98

(accessed 12 Jun 2015).

Lainson, R., J. J. Shaw, R. D. Ward, and H. Fraiha. 1973. Leishmaniasis in Brazil

IX. Considerations on the Leishmania braziliensis complex. Importance of sand flies of

the genus Psychodopygus (Mangabeira) in the transmission of Leishmania braziliensis

braziliensis in North Brazil. Trans. R. Soc. Trop. Med. Hyg. 67: 184-196.

Lainson, R., and J. J. Shaw. 1998. New World Leishmaniasis: the Neotropical Leishmania

species, pp. 241-266. In L. Collier, A. Ballows and M. Sussman (eds.), Topley & Wilson’s

microbiology and microbial infectious diseases. Arnold, London.

(MMA) Ministério do Meio Ambiente. 2012. Plano de Manejo da Floresta Nacional

de Nísia Floresta (Volume I). (http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgs-

unidades-coservacao/Volume_I___Diagn%C3%B3stico_02ago12.pdf) (Accessed 22

Aug 2015).

Perez, J. E., A. Villaseca, A. Llanos-Cuenta, M. Campos, and H. Guerra 1988.

Técnicas para coletar “titiras” (Lutzomyia spp., Diptera: Psychodidae), em ambientes

altoandinos peruanos. Rev. Peru. Ent. 30: 77-80.

Pinheiro, M. P. G., J. H. T. Silva, V. P. M. Silva, M. J. M. Andrade, and M. F. F.

M. Ximenes. 2013. Lutzomya wellcomei Fraiha, Shaw & Lainson (Diptera, Psychodidae,

Phlebotominae) em Fragmento de Mata Atlântica do Rio Grande do

Norte, Nordeste do Brasil. EntomoBrasilis 6: 232-238.

Pinto, I. S., C. B. Santos, A. L. Ferreira, and A. Falqueto. 2010. Richness and diversity of

sand flies (Diptera, Psychodidae) in an Atlantic rainforest reserve in southeastern Brazil. J.

Vector Ecol. 35: 325-332.

Pita-Pereira, D., M. A. Cardoso, C. R. Alves, R. P. Brazil, and C. Britto. 2008. Detection

of natural infection in Lutzomyia cruzi and Lutzomyia forattini (Diptera: Psychodidae:

99

Phlebotominae) by Leishmania infantum chagasi in an endemic area of visceral leishmaniasis

in Brazil using a PCR multiplex assay. Acta Trop. 107: 66-69.

Rangel, E. F., and R. Lainson. 2009. Proven and putative vectors of American

cutaneous leishmaniasis in Brazil: aspects of their biology and vectorial competence.

Mem. Inst. Oswaldo Cruz 104: 937-954.

Ready, P. D., A. L. Ribeiro, R. Lainson, J. E. Alencar, and J. J. Shaw. 1983.

Presence of Psychodopygus wellcomei (Diptera: Psychodidae), a proven vector of

Leishmania braziliensis, in Ceará State. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 78: 235-236.

Rebêlo, J. M. M., J. A. C. Araújo, M. L. Carvalho, V. L. L. Barros, F. S. Silva, and

S. T. Oliveira. 1999. Flebótomos (Diptera: Phlebotominae) da Ilha de São Luis, Zona do

Golfão Maranhense, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 32: 247-253.

Rebêlo, J. M. M., S. T. Oliveira, V. L. L. Barros, F. S. Silva, J. M. L. Costa, L. A.

Ferreira, and A. R. Silva. 2000. Phlebotominae (Diptera: Psychodidae) de Lagoas,

município de Buriticupu, Amazônia Maranhense. I – Riqueza e abundancia relativa das

espécies em área de colonização recente. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 33: 11-19.

Roberts, D. R., and B. P. Hsi. 1979. An index of species abundance for use with

mosquito surveillance data. Environ. Entomol. 8: 1007-1013.

Ryan, L., R. Lainson, J. J. Shaw, and H. Fraiha-Neto. 1986. Ecologia de flebotomíneos

(Diptera, Psychodidae, Phlebotominae) na Região Amazônica. pp. 307-320. In R. Lainson

(org.), Instituto Evandro Chagas: 50 anos de contribuição às ciências biológicas e à medicina

tropical. Serviços de Saúde Pública, Belém, Pará, Brasil.

Ryan, L., R. Lainson, and J. J. Shaw. 1987. Leishmaniasis in Brazil. XXIV. Natural

flagellate infections of sandflies (Diptera: Psychodidae) in Pará State, with particular

reference to the role of Psychodopygus wellcomei as the vector of Leishmania

braziliensis in the Serra do Carajás. Trans. R. Soc. Trop. Med. Hyg. 81: 353-359.

100

Silva, D. F., and S. D. Vasconcelos. 2005. Phlebotomine sandflies in fragments of rain forest

in Recife, Pernambuco State. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 38: 264-266.

Tolezano, J. E. 1994. Eco-epidemiological aspects of American cutaneous leishmaniasis in

the State of São Paulo, Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 89: 427-434.

Virgens, T. M., C. B. Santos, I. S. Pinto, K. S. Silva, F. C. Leal, and A. Falqueto. 2008.

Phlebotomine sand flies (Diptera, Psychodidae) in an American tegumentary leishmaniasis

transmission area in northern Espírito Santo State, Brazil. Cad. Saude Publica 24: 2969-2978.

Wilkes, T. J., P. D. Ready, R. Lainson, and R. Killick-Kendrick. 1984. Biting pe-

riodicities of nulliparous and parous females of Psychodopygus wellcomei. Trans. R.

Soc. Trop. Med. Hyg. 78: 846-847.

Ximenes, M. F. F. M., V. P. M. Silva, P. V. S. Queiroz, M. M. Rego, A. M. Cortez, L. M.

M. Batista, A. S. Medeiros, and S. M. B. Jerônimo. 2007. Phlebotomine (Diptera:

Psychodidae) and leishmaniasis in Rio Grande do Norte State Brazil – anthropic environment

responses. Neotrop. Entomol. 36: 128-137.

Young, D. G., and M. A. Duncan. 1994. Guide to the identification and geographyc

distribuition of Lutzomyia sand flies in Mexico, the West Indies, Central and South America

(Diptera: Psychodidae). Mem. Am. Entomol. Inst. 54: 1-881.

101

CAPÍTULO 04

Frequência horária para atividade hematofágica de Lutzomyia wellcomei (Diptera:

Psychodidae) em um fragmento de Mata Atlântica da Região Metropolitana de Natal,

Rio Grande do Norte, Brasil

Journal of Medical Entomology - Seção: Vector-Borne Diseases, Surveillance, Prevention

Marcos Paulo Gomes Pinheiro – [email protected]

Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes – [email protected]

Laboratório de Entomologia, Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, 59.078-970, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.

Telefone: +55-84-3342-2286

Este artigo será submetido ao periódico Journal of Medical Entomology (A2 em Ciências

Ambientais) e, portanto, está formatado de acordo com as recomendações desta revista

(http://jme.oxfordjournals.org/for_authors/manuscript-preparation.html).

102

Resumo

Dentre as espécies de flebotomíneos vetores de Leishmania (Viannia) braziliensis no Brasil,

Lutzomyia wellcomei (Fraiha, Shaw & Lainson) (Diptera: Psychodidae) vem se destacando

nos últimos anos como uma das mais abundantes em fragmentos de Mata Atlântica da região

Nordeste. Esse trabalho apresenta resultados de coletas realizadas com armadilhas Shannon

durante 24 horas seguidas em um fragmento de Mata Atlântica do estado do Rio Grande do

Norte, Nordeste do Brasil. Foram coletados 3.914 flebotomíneos das espécies Lutzomyia

wellcomei (Fraiha, Shaw & Lainson), Lutzomyia walkeri (Newstead), Lutzomyia evandroi

(Costa Lima & Antunes), e Lutzomyia longipalpis (Lutz & Neiva). L. wellcomei foi a espécie

mais abundante (91,9%), predominando no período chuvoso e durante a noite, mas foi a única

espécie ativa durante a maior parte do dia. Esse estudo destaca L. wellcomei como uma

espécie relacionada a períodos chuvosos, com elevada antropofilia e ativa durante o dia em

fragmento de Mata Atlântica da Região Metropolitana de Natal, Nordeste do Brasil.

Palavras chave: Lutzomyia wellcomei, frequência horária, antropofilia, Mata Atlântica, Saúde

Pública, Nordeste.

Introdução

As leishmanioses são causadas por protozoários do gênero Leishmania Ross, 1903,

transmitidos pelos flebotomíneos (Diptera: Psychodidae), pequenos insetos cujas fêmeas são

hematófagas. São doenças amplamente distribuídas em todo o mundo, que ocorrem

principalmente em lugares com condições socioeconômicas precárias, onde acometem

principalmente as camadas sociais mais desfavorecidas. As leishmanioses permanecem como

um grave problema de saúde pública, que necessita continuamente de novos conhecimentos

nas diferentes áreas de ocorrência quanto aos diversos aspectos socioambientais envolvidos

103

Os sinais clínicos podem variar dependendo da espécie de Leishmania envolvida, da

resposta imune do hospedeiro e de fatores ainda não esclarecidos, podendo se manifestar na

forma de leishmaniose tegumentar (LT) ou leishmaniose visceral (LV) (Volf e Hostomska

2008).

A LT causa lesões mutilantes e incapacitantes. No Velho Mundo é causada

principalmente por Leishmania major Yakimoff & Schokhor e Leishmania tropica Wright, e

no Novo Mundo por Leishmania braziliensis Vianna e Leishmania mexicana Biagi (Berman

1997; Desjeux 2004, Rohousova e Ozensoy 2005, Reithinger et al. 2007). A maioria dos

casos está no Afeganistão, Argélia, Iran, Arábia Saudita, Síria, Brasil, Colômbia, Peru e

Bolívia (Desjeux 2004; Modabber et al. 2007). Nos países das Américas, a LT ocorre dos

Estados Unidos à Argentina, mas no Brasil estão concentrados a maioria dos casos do

continente (Rabello et al. 2003; Reithinger et al. 2007; Llanos-Cuentas et al. 2008; Negrão e

Ferreira 2009).

Diversos estudos apontam que ocupações em áreas silvestres e degradação ambiental

são de grande importância no aumento de casos de leishmanioses, uma vez que podem

contribuir com a adaptação e expansão dos flebotomíneos vetores em áreas com intervenção

humana, seja em ambientes urbanos ou periurbanos (Patz et al. 2000; Campbell-Lendrum et

al. 2001; Bern et al. 2008, Saraiva et al. 2012). A expansão de áreas residenciais dentro ou

próximo a ambientes silvestres pode expor as populações ao risco de transmissão da LT,

mesmo em áreas não endêmicas para a doença, dada a proximidade com os insetos vetores e

reservatórios silvestres.

As principais espécies de flebotomíneos relacionados à transmissão de de LT no

Brasil são Lutzomyia intermedia (Lutz & Neiva, 1912) (Rangel et al. 1986, 1990, 1992),

Lutzomyia migonei (França, 1920) (Pessôa e Coutinho 1941; Queiroz et al. 1994), Lutzomyia

whitmani (Antunes & Coutinho, 1939) (Azevedo et al. 1990; Alessi et al. 2009), Lutzomyia

104

umbratilis Ward & Fraiha (Cabanillas e Castellón 1999), Lutzomyia wellcomei Fraiha, Shaw

& Lainson (Ready et al. 1983) e Lutzomyia complexa Mangabeira (Lainson e Shaw 1998).

No Rio Grande do Norte, a LT ocorre principalmente na região Oeste do estado,

predomina em municípios de área serrana entre 500 e 700 metros, e tem L. braziliensis como

agente etiológico (Oliveira et al. 2004). As espécies de flebotomíneos vetores de L.

braziliensis conhecidos no estado até o momento são L. intermedia, L. migonei, L. whitmani e

L. wellcomei (Ximenes et al. 2007, Pinheiro et al. 2016a).

Dentre os vetores de L. braziliensis, L. wellcomei tem se mostrado nos últimos anos a

mais abundante em fragmentos de mata do Rio Grande do Norte (Pinheiro et al. 2013a,

Pinheiro et al. 2016a). L. wellcomei é uma espécie que requer vigilância, uma vez que se

mostra bastante antropofílica e é responsável por casos de LT na região amazônica, Norte do

país (Rangel e Lainson 2009, Pinheiro et al. 2016b).

Esse estudo teve como objetivo conhecer a frequência horária de L. wellcomei em um

fragmento de Mata Atlântica do estado do Rio Grande do Norte, buscando aprofundar

conhecimentos acerca da bioecologia dessa espécie e contribuir com o controle e a vigilância

epidemiológica no estado.

Materiais e Métodos

O estudo aconteceu em um fragmento de floresta estacional semidecidual localizado

na Floresta Nacional de Nísia Floresta (S 06°05’12.4” e W 035°11’04.0”), uma Unidade de

Conservação da Mata Atlântica localizada no município de Nísia Floresta, estado do Rio

Grande do Norte, Nordeste do Brasil (Fig. 1). O município apresenta casos de LV, mas não é

endêmico para LT. Tem 307.839 km² de área, 26.994 habitantes e fica localizado na região

metropolitana de Natal, capital do estado (IBGE 2017) (Fig. 1).

105

Fig. 1. Local de coletas no fragmento de Mata Atlântica (x), Floresta Nacional de Nísia

Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil.

A Floresta Nacional de Nísia Floresta fica em uma região turística e de expansão

urbana do município. Possui 168,84 hectares divididos entre um espaço de convivência com

escritórios, campo de futebol, garagem, e residências para pesquisadores, uma área de

experimentos florestais onde predominam espécies exóticas dos gêneros Pinus e Eucalyptus

(MMA 2012), e uma área preservada com floresta estacional semidecidual e tabuleiro

litorâneo.

Na área de convivência são encontradas espécies exóticas como Cocos nucifera L.

(coqueiro), Eugenia uniflora L. (pitangueira), Artocarpus heterophyllus Lam. (jaqueira),

Mangifera indica L. (mangueira), Pinus sp. (pinheiro) e Eucalyptus sp. (eucalipto).

106

A área de floresta estacional semidecidual compreende vegetação nativa com árvores

de médio e grande porte como Licania rigida Benth. (oiticica), Bowdichia vigilioides Kunth

(sucupira), Hymenaea sp. (jatobá), Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz (pau-ferro),

Tabebuia sp. (ipê), e Paubrasilia echinata (Lam.) E. Gagnon, H. C. Lima & G. P. Lewis

(pau-brasil), entre outras. No tabuleiro litorâneo ocorrem Piptadenia moniliformis Benth.

(catanduva), Annacardium occidentalis L. (cajueiro), Byrsonima basiloba Juss. (murici),

Hancornia speciosa Gomes (mangabeira), entre outras (Sena 1999; MMA 2012).

A fauna existente na área da Flona possui uma importante diversidade de artrópodes e

anfíbios, além de cerca de 26 espécies de répteis, 56 de aves e 15 de mamíferos (MMA 2012).

Dentre os representantes da mastofauna, são citados Monodelphis domestica (Wagner, 1842)

(catita), Procyon cancrivorus (G. Cuvier, 1798) (guaxinim), Cerdocyon thous (Linnaeus,

1766) (raposa), Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) (sagui), Tamandua tetradactyla

(Linnaeus, 1758) (tamanduá-mirim), Euphractus sexcintus (Linnaeus, 1758) (tatu-peba),

Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 (tatu-verdadeiro) e Didelphis albiventris Lund, 1840

(timbu), entre outros (MMA 2012).

As coletas aconteceram na área preservada de floresta estacional semidecidual,

utilizando uma armadilha Shannon (Shannon 1939) e como atrativo uma lâmpada de luz

branca alimentada por bateria de 6 volts. Foram feitas três coletas com duração de 24 horas,

iniciando às 16 horas, e finalizando no mesmo horário do dia seguinte, nos meses de junho,

agosto e outubro de 2016. Na área de estudo, o sol nasce por volta das 5h15min e se põe cerca

de doze horas depois. Consideramos como crepuscular o período com certa claridade devido a

dispersão da luz solar na atmosfera antes de se estabelecer o dia ou a noite.

As capturas foram sempre feitas por dois coletores, protegidos com vestimentas para

proteção individual. Os flebotomíneos que pousavam na armadilha ou nos coletores foram

capturados com aspirador manual, armazenados em frascos plásticos que eram substituídos

107

em intervalos de uma hora e levados ao laboratório para montagem e identificação específica

com base na chave de Young e Duncan (1994).

O software Bioestat 5.3 foi utilizado nas análises de regressão linear múltipla com os

dados de precipitação, umidade relativa do ar, temperatura e velocidade do vento, obtidos do

Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet 2017). O teste de Kruskal-wallis foi utilizado para

verificar diferenças entre os meses de captura.

O índice padronizado de abundância de espécies (SISA) (Roberts e Hsi 1979) foi

calculado para comparação de abundância entre as espécies encontradas, com valores entre

zero e um, utilizando-se o software Microsoft Office Excel 2013.

Resultados e Discussão

Foram coletados 3.914 flebotomíneos das espécies L. wellcomei, L. walkeri, L.

evandroi e L. longipalpis. A espécie mais abundante foi L. wellcomei, com 3.598 indivíduos

(91,93%) (SISA=0,92), seguida de L. walkeri, com 306 (7,82%) (SISA=0,87). L. evandroi e

L. longipalpis apresentaram apenas 8 (0,20%) (SISA=0,47) e 2 (0,05%) (SISA=0,44)

indivíduos respectivamente (Tabela 1). Do total de flebotomíneos, 496 eram machos e 3.418

fêmeas, sendo 283 machos e 3.315 fêmeas da espécie L. wellcomei (0,08 macho:1fêmea), 205

machos e 101 fêmeas de L. walkeri (2,03macho:1fêmea), 08 machos e nenhuma fêmea L.

evandroi, e nenhum macho e 02 fêmeas L. longipalpis (Tabela 1).

108

Tabela 1. Flebotomíneos coletados mensalmente, proporção entre machos e fêmeas,

resultados de SISA e H’.

Species Jun Ago Oct Total ♂ ♀ ♂/♀ % SISA

Lutzomyia wellcomei 3.470 127 1 3.598 283 3.315 0,08:1 91,93 0,92

Lutzomyia walkeri 32 57 217 306 205 101 2,03:1 7,82 0,87

Lutzomyia evandroi 0 7 1 8 8 0 - 0,20 0,47

Lutzomyia longipalpis 0 1 1 2 0 2 0,0:1 0,05 0,44

Total 3.502 192 220 3.914 496 3.418 0,14:1 100 -

% 89,47 4,91 5,62 100 12,67 87,33 - - -

H’ 0,1257 0,3396 0,0378 - - - - - -

É evidente a grande densidade de L. wellcomei, principalmente de fêmeas, que

provavelmente se aproximam da armadilha não apenas atraídas pela fonte luminosa, mas

devido à alta antropofilia da espécie, sendo atraídas pelos odores e CO2 exalados e tentando

alimentação sanguínea nos pesquisadores (Fraiha et al. 1971, Perez et al. 1988, Alexander

2000, Galati et al. 2001, Pinheiro et al. 2016b).

A grande proporção de fêmeas de L. wellcomei também pode estar relacionada à

antropofilia da espécie. Contudo, observa-se que em investigações realizadas com armadilhas

tipo CDC, com atração exercida apenas por fonte luminosa, a proporção de fêmeas dessa

espécie também é superior, apesar da diferença entre machos e fêmeas ser menor (Pinheiro et

al. 2013b, 2016b), o que aponta para a possibilidade de estratégia reprodutiva diferente de L.

walkeri, cuja proporção de machos foi superior, ou de L. longipalpis como demonstrado por

Quinnell e Dye (1994), sem deixar de considerar a possibilidade de diminuição do número de

hospedeiros vertebrados para as fêmeas no local de captura.

A ocorrência de L. wellcomei foi dominante na coleta realizada no mês de junho,

quando foram capturados 96% de todos os indivíduos dessa espécie, que se mostrou

relacionada ao período chuvoso, de maior umidade relativa do ar e menor temperatura

(p=0,0039) (Figura 2). Tal fato está de acordo com outros estudos realizados na Amazônia e

109

em Mata Atlântica, que mostram maior número de espécimes de L. wellcomei no período

chuvoso e de umidade elevada (Ready et al. 1984, Rangel e Lainson 2009, Pinheiro et al.

2016a).

As outras espécies, L. walkeri, L. evandroi e L. longipalpis, predominaram nos meses

seguintes, com diminuição das chuvas e da umidade, e aumento da temperatura (Figura 2),

apesar dos resultados não serem significativos (p>0,05). Esse fato difere de estudo anterior

realizado com L. longipalpis na mesma região, quando a espécie revelou predominância no

período chuvoso (Ximenes et al. 2006).

Fig. 2. Ocorrência de flebotomíneos e variáveis climáticas nos meses de captura.

110

Quanto à ocorrência dos flebotomíneos ao longo do dia, observa-se que de modo geral

chegam aos hospedeiros no crepúsculo, permanecem no período noturno e desaparecem com

a incidência da luz do sol, com exceção das fêmeas da espécie L. wellcomei, que

permaneceram ativas durante o dia, apesar de em menor densidade que durante a noite,

estando ausente apenas entre as 13 e 14 horas (Tabela 2; Fig. 3).

Tabela 2. Frequência horária das espécies de flebotomíneos nos três períodos de coleta.

17h 18h 19h 20h 21h 22h 23h 00h 01h 02h 03h 04h 05h 06h 07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h Total

M 2 15 18 15 30 19 72 16 37 20 15 12 6 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 277

F 219 176 224 155 397 50 343 181 208 368 397 95 218 111 17 16 1 6 6 2 0 0 1 2 3193

M 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0 0 1 25 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 31

F 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1

M 0 1 0 0 0 0 0 1 2 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 6

F 0 8 1 11 4 7 13 18 6 9 4 29 9 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 121

M 0 1 0 0 1 0 16 15 9 0 1 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 46

F 0 1 0 0 0 1 2 2 1 1 1 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 11

M 0 0 0 0 0 0 5 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7

F 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

M 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

F 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1

M 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

F 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1

M 0 0 3 0 0 2 3 9 0 41 58 5 3 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 128

F 0 1 1 0 5 3 5 3 0 22 34 3 9 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 89

M 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1

F 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

M 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

F 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1

221 203 247 182 439 84 460 247 263 461 510 146 271 124 17 17 1 6 6 2 0 0 2 5 3914

L. longipalpis

Total

L. wellcomei

L. walkeri

L. evandroi

L. wellcomei

Horário

L. wellcomei

L. walkeri

22-23/06/2016

07-08/08/2016

02-03/10/2016

L. walkeri

L. evandroi

L. longipalpis

111

Fig. 3. Frequência horária das variáveis climáticas e das espécies de flebotomíneos nos três

períodos de coleta (junho, agosto, outubro).

A espécie L. walkeri, que se mostrou ativa apenas entre os períodos crepuscular e

noturno, desaparecendo logo após o nascer do sol, teve seus picos de ocorrência entre as 23 e

0 horas no mês de agosto, e entre as 2 e 3 horas em outubro (Tabela 2; Fig. 3).

A variação de horário nas atividades desses insetos, assim como sazonalidade ao longo

do ano, pode significar estratégia de competição por fontes de alimento. Essa competição

acontece quando diferentes espécies colonizam o mesmo espaço, podendo ser mais acirrada à

medida que os recursos alimentares são escassos (Natal et al. 1997, Townsend et al. 2010).

112

O padrão de atividade diurna de L. wellcomei se mostra semelhante ao encontrado na

Amazônia, onde essa espécie permanece ativa durante o dia, principalmente em tempo

nublado, inclusive picando avidamente. Esses estudos na Amazônia mostraram que o número

de fêmeas infectadas capturadas durante o dia é maior que à noite, e assim a transmissão por

essa espécie de flebotomíneo pode ser mais frequente durante o dia (Lainson 1983, Wilkes et

al. 1984, Ryan et al. 1986, Rangel e Lainson 2009). Esse fato tem importância

epidemiológica, uma vez que, a espécie predomina em ambiente silvestre e seres humanos

geralmente realizam atividades dentro ou próximo à área de mata durante o dia, demandando

estratégias de controle quanto ao período em que a infecção pode ser adquirida.

Agradecimentos

Agradecemos ao Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade

(ICMBio) e à bióloga Patrícia Macêdo, chefe da Floresta Nacional de Nísia Floresta, pela

permissão e apoio. Também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq – 552004/2011-1) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES) pelo suporte financeiro.

Referências

Alessi, C. A. C., E. A. B. Galati, J. R. Alves, and C. E. P. Corbett. 2009. American

cutaneous leishmaniasis in the Pontal of Paranapanema – SP, Brazil: ecological and

entomological aspects. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo. 51: 277-282.

Alexander, B. 2000. Sampling methods for phlebotomine sandflies. Med. Vet. Entomol. 14:

109-122.

Azevedo, A. C. R., E. F. Rangel, M. E. Costa, J. David, A. W. Vasconcelos, and U. G.

Lopes. 1990. Natural infection of Lutzomyia (Nyssomyia) whitmani (Antunes & Coutinho

113

1939) by Leishmania of the braziliensis complex in Baturité, Ceará State, Northeast Brazil.

Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 85: 251.

Berman, J. D. 1997. Human leishmaniasis: clinical diagnosticand chemotherapeutic

developments in the last ten years. Clinical Infectious Diseases. 24: 684-703.

Bern, C., J. H. Maguire, and J. Alvar. 2008. Complexities of Assessing Disease Burden

Attributable to Leishmaniasis. Neglected Tropical Diseases. 313: 1-8.

Cabanillas, M. R. S., and E. G. Castellón. 1999. Distribution ofsandflies (Diptera:

Psychodidae) on tree-trunks in a nonflooded area of Ducke Forest Reserve, Manaus, AM,

Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 94: 289-296.

Campbell-Lendrum, D., J. P. Dujardin, E. Martinez, M. D. Feliciangeli, and J. E. Perez.

2001. Domestic and peridomestic transmission of American cutaneous leishmaniasis:

changing epidemiological patterns present new control opportunities. Mem. Inst. Oswaldo

Cruz. 96: 159-162.

Desjeux, P. 2004. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comp Immunol

Microbiol Infect Dis. 27: 305-18.

Fraiha, H., J. J. Shaw, and R. Lainson. 1971. Phlebotominae Brasileiros II. Psychodopygus

wellcomei, nova espécie antropófila de flebótomo do grupo squamiventris, do sul do estado

do Pará, Brasil (Diptera: Psychodidae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 69: 489-500.

Galati, E. A. B., V. L. B. Nunes, M. E. C. Dorval, G. Cristaldo, H. C. Rocha, R. M.

Gonçalves-Andrade, and G. Naufel. 2001. Attractiveness of black Shannon trap for

phlebotomines. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 96: 641-647.

(IBGE) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2017. Estimativa da População

2016, Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil.

(http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang¼&codmun¼2408201) (accessed

11 January 2017).

114

(INMET) Instituto Nacional de Meteorologia. Banco de DadosMeteorológicos para Ensino

e Pesquisa. 2017. Série histórica de dadosmeteorológicos mensais em estação convencional.

(http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep) (accessed 11 January 2017) .

Lainson, R., and J. J. Shaw. 1998. New World Leishmaniasis - The Neotropical Leishmania

species, p. 242-266. In: Cox, F.E.G., J.P. Kreier & D. Wakelin (Eds.). Topley &

Wilson’sMicrobiologyand Microbial Infections. Parasitology, 701p.

Llanos-Cuentas, A., G. Tulliano, R. Araujo-Castillo, C. Miranda-Verastegui, and G.

Santamaria-Castrellon. 2008. Clinical and parasite species risk factors for pentavalent

antimonialtreatment failure in cutaneous leishmaniasis in Peru. Clinical Infectious Diseases.

46: 223-231.

Marzochi, M. C., and K. B. F. Marzochi. 1994. Tegumentary andVisceral Leishmaniasis in

Brazil- emerging Anthropozoonosis and possibilities for their control. Cadernos de Saúde

Pública.10: 359-375.

(MMA) Ministério do Meio Ambiente. 2012. Plano de Manejo da Floresta Nacional de

Nísia Floresta (Volume I). (http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgs- unidades-

coservacao/Volume_I___Diagn%C3%B3stico_02ago12.pdf) (accessed 11 January 2017).

Modabber, F., P. A. Buffet, E. Torreele, G. Milon, and S. L. Croft. 2007. Consultative

meeting to develop a strategy for treatment ofcutaneous leishmaniasis. Kinetoplastid Biology

and Disease. 6: 3.

Natal, D., E. F. B. Gonçalves, and L. A. Taveira. 1997. Proliferação de mosquitos (Diptera,

Culicidae) em cemitérios e perspectivas de controle. Inf. Epidemiol. Sus, Brasília , v. 6, n.

2, p. 103-110, jun. 1997 . Disponível em

<http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

16731997000200010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 16 jan. 2017.

http://dx.doi.org/10.5123/S0104-16731997000200010.

115

Negrão, G. N., and M. E. M. C. Ferreira. 2009. Considerações sobre a dispersão da

leishmaniose tegumentar americana nas Américas. Revista Percurso, 1: 85-103.

Oliveira, C. C., H. G. Lacerda, D. R. Martins, J. D. Barbosa, G. R. Monteiro, J. W.

Queiroz, et al. 2004. Changing epidemiology of American cutaneous leishmaniasis (ACL) in

Brazil: a disease of the urban-rural interface. Acta Trop. 90: 155-162.

Patz, J. A., T. K. Graczyk, N. Geller, and A. Y. Vittor. 2000. Effects of environmental

change on emerging parasiticdiseases. International Journal for Parasitology. 30: 1395-1405.

Perez, J. E., A. Villaseca, A. Llanos-Cuenta, M. Campos, and H. Guerra. 1988. Técnicas

para coletar “titiras” (Lutzomyia spp., Diptera: Psychodidae), em ambientes altoandinos

peruanos. Rev. Peru. Ent. 30: 77-80.

Pessoa, S. B., and J. O. Coutinho. 1941. Infecção natural e experimental dos flebótomos

pela Leishmania braziliensis, no Estado de São Paulo. Hospital. 20: 25-35.

Pinheiro, M. P. G., J. H. T. Silva, V. P. M. Silva, M. J. M. Andrade, and M. F. F. M.

Ximenes. 2013a. Lutzomya wellcomei Fraiha, Shaw & Lainson (Diptera, Psychodidae,

Phlebotominae) em Fragmento de Mata Atlânticado Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil.

Entomobrasilis. 6: 232-238.

Pinheiro, M. P. G., J. H. T. Silva, K. B. Cavalcanti, P. R. M. Azevedo, and M. F. F. M.

Ximenes. 2003b. Ecological interactions among phlebotomines (Diptera: Psychodidae) in an

Agroforestry environment of northeast Brazil. J. Vector Ecol. 38: 307-16.

Pinheiro, M. P. G., M. M. M. Silva, J. B. Silva Júnior, J. H. T. Silva, M. L. Alves, and M.

F. F. M. Ximenes. 2016a. Sand flies (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae), vectors of

Leishmania protozoa, at an Atlantic Forest Conservation Unit in the municipality of

NísiaFloresta, Rio Grande do Norte state, Brazil. Parasites & Vectors. 9: 83. DOI:

10.1186/s13071-016-1352-5.

116

Pinheiro, M. P. G., J. H. T. Silva, C. L. S. Inacio, and M. F. F. M. Ximenes. 2016b.

Anthropophily of Lutzomyia wellcomei (Diptera: Psychodidae) in an Atlantic Forest

Conservation Unitin Northeast Brazil. Journal of Medical Entomology, 53(6): 1444-1448.

DOI: 10.1093/jme/tjw089.

Queiroz, R. G., I. A. Vasconcelos, A. W. Vasconcelos, F. A. Pessoa, R. N. Sousa, and J.

R. David. 1994. Cutaneous leishmaniasis in Ceará State in Northeastern Brazil: incrimination

of Lutzomyia whitmani (Diptera: Psychodidae) as vector of Leishmania braziliensis in

Baturité municipality. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene. 50: 693-698.

Quinnell, R. J., and C. Dye. 1994. An experimental study of the peridomestic distribution of

Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae). Bull. Entomol. Res. 84: 379-382.

Rabello, A., M. Orsini, and J. Disch. 2003. Leishmania/HIV coinfectionin Brazil: an

appraisal. Annals of Tropical Medicine and Parasitology. 97: 17-28.

Rangel, E. F., A. C. R. Azevedo, C. A. Andrade, N. A. Souza, and E. D. Wermelinger.

1990. Studies on sand fly fauna (Diptera:Psychodidae: Phlebotominae) in a focus of

cutaneous leishmaniasis in Mesquita, Rio de Janeiro State, Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz,

85: 39-45.

Rangel, E. F., A. F. Barbosa, C. A. Andrade, N. A. Sousa, and E. D. Wermelinger. 1992.

Development of Leishmania (Viannia) brasiliensis Viana 1911 in Lutzomyia intermedia (Lutz

and Neiva 1921) (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) underexperimental conditions. Mem.

Inst. Oswaldo Cruz. 87: 235-238.

Rangel, E. F., N. A. Souza, E. D. Wermelinger, A. C. R. Azevedo, A. F. Barbosa, and C.

A. Andrade. 1986. Flebótomos de Vargem Grande, foco de leishmaniose tegumentar no

Estado do Riode Janeiro. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 81: 347-349.

117

Ready, P. D., A. L. Ribeiro, R. Lainson, J. E. Alencar, and J. J. Shaw. 1983. Presense of

Psychodopygus wellcomei (Diptera: Psychodidae), a proven vector of Leishmania

braziliensis, in Ceará State. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 78: 235-236.

Ready, P. D., R. Lainson, and J. J Shaw. 1984. Habitat and seasonality of Psychodopygus

wellcomei help incriminate it as a vector of Leishmania braziliensis in Amazônia and

Northeast Brazil. Trans. R. Soc. Trop. Med. Hyg. 78: 543-544.

Rangel, E. F., and R. Lainson. 2009. Proven and putative vectors of American cutaneous

leishmaniasis in Brazil: Aspects of their biology and vectorial competence. Mem. Inst.

Oswaldo Cruz 104: 937-954.

Reithinger, R., J. C. Dujardin, H. Louzir, C. Pirmez, and B. Alexander. 2007. Cutaneous

leishmaniasis. Lancet Infectious Diseases. 7: 581-596.

Roberts, D. R., and B. P. His. 1979. An index of species abundancefor use with mosquito

surveillance data. Environmental Entomology. 8: 1007-1013.

Rohousova, I., and S. Ozensoy. 2005. Detection of species-specific antibody response of

humans and mice bitten by sand flies. Parasitology. 130: 493-499.

Saraiva, L., G. Lima, C. Castilho, D. Alves, and J. Dilermando. 2012. Biogeographical

aspects of the occurrence of Nyssomyia neivai and Nyssomyia intermedia (Diptera:

Psychodidae) in a sympatric area of the Brazilian savannah. Mem. Inst. Oswaldo Cruz.107(7):

867-872.

Sena, C. M. 1999. Diagnóstico Biológico/Ambiental da EFLEX de Nísia Floresta. Natal:

Relatório Técnico. 21 p.

Shannon, R. C. 1939. Methods for Collecting and Feeding Mosquitoes in Jungle Yellow

Fever Studies. Am. Journal of Trop. Medicine and Hygiene. 19: 131-140.

Townsend CR, Begon M, Harper JL. 2010. Fundamentos em Ecologia. 3ed.

118

Volf, P., and J. Hostomska. 2008. Molecular crosstalks in Leishmania-sandfly-host

relationships. Parasite. 15: 237-243.

Wilkes, T. J., P. D. Ready, R. Lainson, and R. Killick-Kendrick. 1984. Biting periodicities

of nulliparous and parous females of Psychodopygus wellcomei. Trans. R. Soc. Trop. Med.

Hyg. 78: 846-847.

Ximenes, M. F. F. M., V. P. M. Silva, P. V. S. Queiroz, M. M. Rego, A. M. Cortez, L. M.

M. Batista, A. S. Medeiros, and S. M. B. Jerônimo. 2007. Phlebotomine (Diptera:

Psychodidae) and leishmaniasis in Rio Grande do Norte State Brazil – anthropic environment

responses. Neotrop. Entomol. 36: 128-137.

Ximenes, M. F. F. M., E. G. Castellon, M. F. Souza, A. A. L. Menezes, J. W. Queiroz, V.

P. M. Silva, and S. M. B. Jerônimo. 2006. Effect of abiotic factors on seasonal population

dynamics of Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae) in Northeastern Brazil. J. Med.

Entomol. 43: 990-995.

Young, D. G., and M. A. Duncan. 1994. Guide to the identification and

geographycdistribuition of Lutzomyia sand flies in Mexico, the West Indies, Central and

South America (Diptera: Psychodidae). Mem. Am. Entomol. Inst. 54: 1-881.

119

CAPÍTULO 05

A literatura de cordel como ferramenta na ampliação do conhecimento para a

prevenção da leishmaniose visceral

Cordel literature as a tool to broaden knowledge of visceral leishmaniasis prevention

Marcos Paulo Gomes Pinheiro

Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, Avenida Senador Salgado Filho, 3000, 59.078-900, Natal, RN, Brasil.

[email protected]

Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes

Laboratório de Entomologia, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Avenida Senador Salgado Filho, 3000, 59.078-900, Natal, RN, Brasil.

[email protected].

Este artigo está submetido ao periódico Ciência & Saúde Coletiva (B1 em Ciências

Ambientais) e, portanto, está formatado de acordo com as recomendações desta revista

(http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/instrucoes_pt.pdf).

120

Resumo Esse estudo objetivou testar a literatura de cordel como ferramenta educativa e de

ampliação do conhecimento para a prevenção da leishmaniose visceral (LV). A LV ou

calazar é uma doença parasitária grave, cujo agente etiológico é transmitido aos humanos

pelos flebotomíneos, podendo ser letal se não tratada. O uso do cordel foi testado com alunos

da Educação de Jovens e Adultos (EJA) de quatro escolas por meio de questionários

aplicados antes e após a leitura do folheto, que abordava a forma de transmissão, sintomas,

tratamento e profilaxia. Ao comparar os resultados, constataram-se diferenças expressivas.

Antes da leitura do cordel a maior parte dos alunos demonstrou desconhecer a doença,

confundindo sintomas caninos com humanos, citando o cão como vetor e sua mordida como

forma de contágio, e após a leitura a maioria passou a demonstrar conhecimentos acerca dos

aspectos mais importantes da LV. O folheto teve grande aceitação por parte dos alunos,

evidenciando que a literatura de cordel pode ser considerada uma importante alternativa

para a disseminação de informações acerca da leishmaniose visceral.

Palavras-chave Educação, Literatura de cordel, Leishmaniose visceral

Abstract This study aimed at testing cordel literature as an educational tool to broaden

knowledge regarding visceral leishmaniasis (VL) prevention. VL or kala-azar, a serious

parasitic disease whose etiological agent is transmitted to humans by sandflies, can be lethal

if untreated. The use of cordel was tested with Youth and Adult Education (EJA) students from

four schools by means of questionnaires applied before and after they had read the pamphlet

describing forms of transmission, symptoms, treatment and prophylaxis. Significant

differences in the results were observed. Before reading the cordel literature most of the

students had no knowledge of the disease, confusing canine with human symptoms, stating the

dog as a vector and its bite as the form of contagion, but after the Reading most of the

subjects demonstrated knowledge regarding the most important aspects of VL. The pamphlet

121

was widely accepted by the students, confirming that cordel literature can be considered an

important alternative for disseminating information on visceral leishmaniasis.

Key words Education, Cordel literature, Visceral leishmaniasis

Introdução

A compreensão acerca da transmissão de doenças, particularmente daquelas que

envolvem a participação de insetos vetores nos ciclos epidemiológicos, resulta quase sempre

na constatação de que as condições socioeconômicas são determinantes, especialmente nas

áreas menos desenvolvidas1. Nesse contexto, as leishmanioses se constituem graves

problemas de saúde, com ampla distribuição geográfica e altos índices de ocorrência2.

As leishmanioses são causadas por protozoários do gênero Leishmania, transmitidos

por pequenos insetos, os flebotomíneos, também conhecidos como mosquito-palha, cujas

fêmeas são hematófagas, e durante o repasto sanguíneo inoculam o parasita no hospedeiro

vertebrado3.

A leishmaniose visceral (LV), conhecida popularmente como calazar, é uma grave

doença crônica, caracterizada anteriormente como de ambientes rurais, mas que vem se

expandindo para áreas urbanas de médio e grande porte e se tornou um crescente problema de

saúde pública no Brasil4 classificada pela Organização Mundial de Saúde como doença

negligenciada. A LV tem uma taxa de letalidade de até 10%, mas se não tratada pode resultar

em óbito de 90% dos casos4,5. No país, a doença é causada por Leishmania infantum,

protozoário transmitido pelo flebotomíneo Lutzomyia longipalpis6,7, destacando-se a Região

Nordeste, com a maior incidência de casos, sobretudo entre as camadas sociais mais

desfavorecidas, ocorrendo principalmente em áreas periféricas com condições

socioeconômicas precárias8,9.

122

Entre as principais medidas de prevenção e controle para a LV estão o uso de

mosquiteiro de malha fina, telagem de canis, portas e janelas das casas, uso de repelentes,

evitar exposição ao vetor, limpeza de ambientes propícios a criadouros para os insetos, uso

adequado de inseticidas para controle do vetor, diagnóstico e eliminação dos casos caninos,

diagnóstico e tratamento dos casos humanos, entre outras10.

A complexidade dos fatores envolvidos no ciclo de transmissão da LV, bem como os

comportamentos humanos em relação ao processo saúde-doença nas diversas culturas,

interferem no sucesso das medidas de controle. Isso gera desafios para a adoção de práticas

eficazes que alcancem o objetivo pretendido pelos órgãos de vigilância epidemiológica,

entomológica ou ambiental e o bem-estar social, uma vez que os padrões culturais definem

não somente o que é saúde, mas também o que é cuidado adequado à saúde, formatando

sentidos e condutas11. Ademais, as transformações nas sociedades humanas causam impactos

ao ambiente que, à medida que é explorado, pode se tornar forte gerador de desigualdades

ecológicas estreitamente ligadas à saúde da população12. Greco13 enfatiza que as doenças

estão relacionadas com diferentes contextos ecológicos e sociais, onde ocorre o desequilíbrio

das relações entre hospedeiros, ambiente e agentes etiológicos.

É, portanto, primordial a introdução de elementos de intervenção, por meio de

diferentes estratégias, no contexto dos diversos segmentos sociais, que venham a modificar as

ações humanas por meio da informação. Assim, a regionalização das estratégias, por meio de

ações voltadas à educação, saúde e ambiente são de grande importância12.

Para Tambellini14 a relação entre saúde e ambiente provoca a necessidade de resgatar

estudos e propostas nas diversas áreas de pesquisa, com o propósito de possibilitar outras

maneiras de prevenir e controlar doenças. Nesse sentido, considerando que a educação é um

ato de conhecimento e conscientização15, e que a poesia é um instrumento educativo que

estimula a motivação, aguça a imaginação e faz com que quem aprende passe a ter novas

123

atitudes16, surgiu a ideia de se trabalhar a temática da leishmaniose visceral utilizando a

literatura de cordel como ferramenta educativa, enfatizando-se principalmente a transmissão,

os sintomas e a prevenção da doença.

Esse gênero literário possui uma conotação lúdica, informal e prazerosa, que pode ser

inserida no contexto educacional, de modo a popularizar o conhecimento científico, uma vez

que aborda variados temas com linguagem acessível, tornando-se um instrumento de

disseminação do conhecimento que pode atingir diferentes públicos17,18.

A literatura de cordel é uma criação popular em versos, produzida artesanalmente em

pequenos folhetos confeccionados em papel simples e barato, ilustrados com xilogravuras,

que consistem na expressão artística entalhada em madeira com camada de tinta, sobre a qual

se coloca o papel a ser impresso, de forma semelhante a um carimbo19. O cordel chegou ao

Brasil em meados do século XIX e recebeu esta nomenclatura por ser exposto em cordões

para venda nas feiras livres20. Advinda da Europa, a literatura de cordel passou a ser uma das

mais importantes manifestações da literatura popular brasileira, especialmente no Nordeste,

sendo comum ainda atualmente em mercados populares e feiras livres21.

Diante da incidência e da distribuição da LV no Nordeste do Brasil, e da possibilidade

de utilização da literatura de cordel como meio de divulgação, o objetivo desse estudo foi

avaliar, junto a alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), o potencial desse gênero

textual como ferramenta de informação e consequente prevenção da doença.

Métodos

Área de estudo

O trabalho aconteceu no município de Nísia Floresta, localizado na Região

Metropolitana de Natal, Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, região onde é registrada a

124

maior parte dos casos humanos e caninos de LV 9. O município de Nísia Floresta está a 30 km

de Natal, capital do Rio Grande do Norte, e suas coordenadas geográficas são: Latitude -

6.09359, Longitude -35.2104, 6° 5′ 37″ Sul, 35° 12′ 37″ Oeste22 (Figura 1).

Figura 1 – Localização do município de Nísia Floresta.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística22 a população de Nísia

Floresta era estimada em 26.208 habitantes em 2014, a área territorial de 307.842 km² e a

densidade demográfica de 77,26 hab/km². O município teve 16 casos de LV confirmados

entre os anos de 2010 e 201423.

Produção do material educativo

O folheto, intitulado “Um bebedor de sangue na terra do mandacaru - Peleja contra o

calazar”, contendo oito páginas, com 30 estrofes na forma de sextilha, foi produzido pelo

primeiro autor desse artigo, e a capa confeccionada a partir de xilogravura (Figura 2). A

125

sextilha, que é a forma de versos mais utilizada para a literatura de cordel, possui seis versos

em cada estrofe, sendo que o segundo, o quarto e o sexto verso rimam entre si21,24.

Figura 2 – Capa do cordel produzido.

Considerando a complexidade que envolve a temática da leishmaniose, na construção

do cordel foram escolhidos temas mais relevantes, como a transmissão, os sintomas no

homem e no cão, a prevenção e o tratamento da doença. A seguir seguem alguns trechos do

cordel:

A transmissão da leishmaniose visceral:

E o povo se confunde

Com um fato interessante,

Pensam que é o cachorro

O transmissor importante,

Sem saber que é um inseto

Quem leva a doença adiante.

126

O tal do flebotomíneo

É o inseto transmissor

Dessa terrível doença

Que causa tristeza e dor.

Quem for por ele atacado

Vai sofrer grande terror.

São cangalhinha, freboti,

Asa-dura e biriguí

Os nomes mais conhecidos

Desse inseto por aqui,

E também mosquito palha

São os nomes que já vi.

Os sintomas no homem doente:

Quem pega essa tal doença

Fica de barriga inchada,

Cresce o fígado e o baço,

Fica de cara fechada,

Não sente gosto na vida,

Nem consegue fazer nada.

Outras coisas bem comuns

Em quem ela acometer:

127

Febre por várias semanas,

Também pode emagrecer,

Anemia e diarreia

É o que pode acontecer.

Os sintomas no cão doente:

Se seus cães estão doentes

E sintomas aparecerem:

Unhas grandes e feridas

Não espere eles morrerem

Avise na prefeitura

Para o sangue eles colherem.

A prevenção da leishmaniose visceral:

Se pegar essa doença

Você pode até morrer,

E como eu sei que ninguém

Gosta de adoecer

Eu vou deixar explicado

O que devemos fazer:

Use sempre mosquiteiro,

Mas com malha bem fininha,

Uma vez que o tal inseto

Tem estrutura magrinha,

128

Passa por qualquer espaço,

Nem que seja uma brechinha.

O inseto transmissor

É um bicho interessante,

Pois prefere se abrigar

Onde a sujeira é constante,

Então faça uma limpeza

Da limpeza seja amante.

Não deixe frutas no chão

E evite molhaceiro,

Cuidado pra não deixar

Nada sujo no terreiro,

Pois é de sujo e molhado

Que esse bicho é hospedeiro.

Evite entrar numa mata

Pra caçar ou pegar lenha,

Pois sentindo sua presença

Pode ser que ele venha

A procura de alimento

Onde quer que sangue tenha.

Após algumas lições

129

Quero algo destacar,

Mostrar a necessidade

Do meio ambiente cuidar,

Pois é do desequilíbrio

Que essa doença vai dar.

Tratamento da leishmaniose visceral:

E quem for acometido

Dessa doença tão séria

Tem que ir ligeiro ao médico

Que estudou bem a matéria

Pra fazer o tratamento,

Ficar bom dessa miséria.

Coleta de dados

Como instrumento para coleta de dados foram utilizados questionários, um método de

investigação no qual as questões são apresentadas por escrito aos participantes25,26. Os

questionários foram aplicados no mês de agosto de 2015 e continham oito perguntas fechadas

e respostas do tipo múltipla escolha abordando os seguintes aspectos: forma de transmissão

do calazar, o vetor, os sintomas no homem e no cão, as formas de prevenção e o tratamento da

doença, além de sexo, idade e ocupação do participante. Participaram do estudo 93 alunos de

terceiro e quarto níveis da EJA, presentes nos dias de aplicação dos questionários, das quatro

escolas da rede pública municipal do município de Nísia Floresta que oferecem a EJA.

As turmas de EJA27 funcionam no turno noturno e compreendem alunos que se

encontram fora da faixa etária para o Ensino Fundamental normal. Os alunos da EJA se

130

enquadram em uma grande diversidade de condições socioeconômicas, de idade, gênero,

ocupação, cultura, etnia, religião, além da motivação para procurar a escola28,29.

O trabalho ocorreu em três etapas: 1) avaliação, através do questionário I, dos

conhecimentos prévios acerca do calazar antes da leitura do cordel; 2) exposição do cordel

sobre a doença; e 3) avaliação, através do questionário II, dos conhecimentos obtidos após a

leitura do cordel. Os questionários I e II continham as mesmas perguntas e foram utilizados

antes e após a apresentação do cordel aos alunos, no mesmo dia. O cordel foi exposto

oralmente, através de uma única leitura por um dos pesquisadores e acompanhada pelos

alunos que receberam cada um seu folheto.

A presente atividade, classificada como pesquisa-ação quantitativa30,31, foi, portanto,

delineada e realizada objetivando avaliar o uso do cordel como forma de contribuir com a

divulgação e consequente prevenção da LV, por meio da cooperação entre pesquisadores e

voluntários, pretendendo-se que os envolvidos se beneficiem por meio dessa interação.

Ética

O estudo teve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, sob o número de parecer 1.168.340. Os estudantes ou seus

responsáveis legais, bem como o pesquisador responsável, assinaram o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) após a explicação sobre os objetivos do estudo e

antes da aplicação dos questionários.

Análise dos dados

Na análise dos dados foi utilizado o Qui-quadrado de Pearson (χ²), através do Sistema

Estatístico R, versão 3.1.1, fazendo-se comparações entre as proporções de acertos dos alunos

131

nos dois questionários. As comparações em que o p-valor foi menor ou igual a 0,05 foram

consideradas significativas.

Resultados

Dos 93 estudantes que participaram do trabalho, 50 (53,8%) eram do sexo masculino.

A faixa etária predominante ficou entre os 14 e os 21 anos (50,5%), seguida por 22 aos 29

(17,2%). A maioria dos entrevistados, 58 (63,4%) se declarou desempregado, se ocupando

apenas dos estudos, enquanto que 16 (17,2%) eram trabalhadores autônomos e 9 (9,7%)

desempenhavam atividades domésticas (Tabela 1).

Tabela 1 – Gênero, faixa etária e ocupação dos alunos da Educação de Jovens e Adultos. Nísia

Floresta/RN, 2015.

Variáveis N %

Gênero

Masculino 50 53,8

Feminino 43 46,2

Faixa etária

14 a 21 47 50,5

22 a 29 16 17,2

30 a 37 14 15,1

38 a 45 11 11,8

46 a 53 3 3,2

54 a 61 1 1,1

62 a 68 1 1,1

Ocupação

Estudante 58 62,4

Trabalhador autônomo 16 17,2

Do lar 9 9,7

Garçom 2 2,2

Auxiliar de serviços gerais 2 2,2

Aposentado 1 1,1

Auxiliar de cozinha 1 1,1

Empregada doméstica 1 1,1

Merendeira 1 1,1

Motorista 1 1,1

Promotor de vendas 1 1,1

132

Ao serem questionados sobre a definição de calazar, não houve diferença significativa

entre as respostas aos questionários I e II (p = 0,7000) (Tabela 2), uma vez que a maioria das

respostas, 89 (95,7%) já reconheciam o calazar como uma doença antes da leitura do cordel

(Tabela 3).

Tabela 2 – Número de respostas corretas antes e após a leitura do cordel sobre calazar pelos alunos da

Educação de Jovens e Adultos. Nísia Floresta/RN, 2015.

Questionamentos Respostas corretas

Antes Depois x² p valor

1. Definição de calazar 89 90 0,1484 0,7000

2. Modo de infecção do calazar 26 88 87,1082 <0,0001

3. Nome do transmissor do calazar 5 87 144,6189 <0,0001

4. Alguns sintomas do calazar no humano 12 86 118,1048 <0,0001

5. O que fazer ao sentir sintomas do calazar 78 91 10,9412 0,0009

6. Sintomas frequentes do calazar no cão 62 85 17,1627 <0,0001

7. Principais medidas preventivas 51 88 38,9766 <0,0001

8. Outras medidas preventivas 7 80 115,0812 <0,0001

Quanto à forma de contágio da doença, houve significativa diferença entre as respostas

aos questionários I e II (p < 0,0001) (Tabela 2), pois inicialmente 41 alunos (44,1%)

responderam que a transmissão do calazar se dava por meio da mordida do cão ou raposa e 19

(20,4%) disseram não saber (Tabela 3). Após a leitura do cordel, 88 (94,6%) passaram a

identificar a picada de um inseto como meio de contágio (Tabela 3).

Quando questionados sobre o nome do transmissor da doença, houve grande diferença

entre as respostas antes e depois da leitura do material oferecido (p < 0,0001) (Tabela 2), pois

17 (18,3%) declararam não saber e 67 (72%) acreditavam inicialmente ser o cão o transmissor

do calazar aos seres humanos (Tabela 3). Após a leitura, 87 (93,5%) passaram a reconhecer o

flebotomíneo como o inseto vetor da doença (Tabela 3).

133

Tabela 3 – Respostas dos alunos da Educação de Jovens e Adultos antes e após a leitura do cordel

sobre calazar. Nísia Floresta/RN, 2015.

Questionamentos Antes da leitura Após a leitura

n % n %

1. Definição de calazar:

a. Um lugar 0 0,0 1 1,1

b. Um animal 1 1,1 1 1,1

c. Uma planta 1 1,1 1 1,1

d. Uma doença 89 95,7 90 96,8

e. Declarou não saber 2 2,2 0 0,0

2. Modo de infecção do calazar:

a. Pela mordida de cachorro ou da raposa 41 44,1 2 2,2

b. Pelo contato com as fezes do gato 3 3,2 1 1,1

c. Pela picada de um inseto infectado 26 28,0 88 94,6

d. Pelo contato com uma pessoa doente 5 5,4 1 1,1

e. Declarou não saber 19 20,4 1 1,1

3. Nome do transmissor do calazar:

a. Barbeiro 3 3,2 0 0,0

b. Flebotomíneo 5 5,4 87 93,5

c. Caramujo 1 1,1 0 0,0

d. Cachorro 67 72,0 3 3,2

e. Declarou não saber 17 18,3 3 3,2

4. Alguns sintomas do calazar no humano:

a. Feridas no corpo e na cabeça 29 31,2 4 4,3

b. Dor de cabeça, dor nos olhos e febre 6 6,5 1 1,1

c. Queda de cabelo, dor no corpo e nos olhos 14 15,1 2 2,2

d. Barriga inchada, febre por vários dias, emagrecimento e diarreia 12 12,9 86 92,5

e. Declarou não saber 32 34,4 0 0,0

5. O que fazer ao sentir sintomas do calazar:

a. Tomar remédio para febre e dor 4 4,3 0 0,0

b. Procurar logo o médico para começar o tratamento 78 83,9 91 97,8

c. Beber muita água e ficar na cama por uns dias 1 1,1 0 0,0

d. Ficar em casa para repousar e não transmitir a doença 3 3,2 2 2,2

e. Declarou não saber 7 7,5 0 0,0

6. Sintomas frequentes do calazar no cão:

a. Produção de espuma na boca 14 15,1 3 3,2

b. Vômito e agressividade 6 6,5 2 2,2

c. Unhas grandes e feridas no corpo 62 66,7 85 91,4

d. Fome excessiva e agitação 1 1,1 0 0,0

e. Declarou não saber 10 10,8 3 3,2

7. Algumas medidas preventivas:

a. Beber sempre água tratada 11 11,8 1 1,1

b. Não tomar banho em água contaminada 6 6,5 2 2,2

c. Lavar bem as frutas e verduras 3 3,2 0 0,0

d. Usar mosquiteiro, limpar o quintal, criar os animais afastados da casa 51 54,8 88 94,6

e. Declarou não saber 22 23,7 2 2,2

8. Outras medidas preventivas:

a. Evitar entrar em lagoas e rios de água contaminada 17 18,3 3 3,2

b. Tomar a vacina no posto de saúde 47 50,5 10 10,8

c. Evitar entrar em matas e cuidar do meio ambiente 7 7,5 80 86,0

d. Cozinhar ou assar bem a carne 0 0,0 0 0,0

e. Declarou não saber 22 23,7 0 0,0

134

Sobre os sintomas da doença apresentados pelos seres humanos, a maior parte

demonstrou não os reconhecer no questionário I (p < 0,0001) (Tabela 2), uma vez que 32

(34,4%) declararem desconhecer e 29 (31,2%) citaram feridas como sintomas (Tabela 3).

Após a leitura 86 dos entrevistados (92,5%) passaram a citar barriga inchada, febre por vários

dias, emagrecimento e diarreia como sintomas (Tabela 3).

Quanto à ação indicada no caso de sentir algum dos sintomas, houve diferença

significativa entre as respostas antes e após a apresentação do cordel (p = 0,0009) (Tabela 2).

Apesar de 78 alunos (83,9%) já terem noção da importância de se procurar socorro médico

precocemente, como visto nas respostas ao questionário I (Tabela 3), após a leitura 91

(97,8%) passaram a reconhecer essa necessidade (Tabela 3).

Em relação aos sintomas do calazar no cão, também foi visto uma diferença

significativa entre as respostas aos dois questionários (p < 0,0001) (Tabela 2), uma vez que 21

(22,7%) responderam de forma equivocada e 10 (10,8%) não sabiam (Tabela 3). Ao

responderem ao questionário II, após a leitura do cordel, 85 alunos (91,4%) passaram a

perceber o crescimento das unhas e feridas no corpo como sintomas do calazar canino (Tabela

3).

Ao serem questionados sobre medidas preventivas a serem tomadas para evitar a

infecção, a maioria não soube responder a essa questão do questionário I (p < 0,0001) (Tabela

2), pois 22 (23,7%) declararam não saber e 11 (11,8%) citaram o uso de água tratada (Tabela

3). Inicialmente, 51 (54,8%) já reconheciam corretamente uso de mosquiteiro, limpeza do

quintal e criar os animais afastados da casa como maneiras de evitar a doença (Tabela 3).

Após a apresentação do material, 88 entrevistados (94,6%) passaram a reconhecer

corretamente tais medidas (Tabela 3).

Quanto às outras medidas preventivas questionadas na pergunta oito, verificou-se

diferença significativa entre as respostas dadas aos questionários I e II (p < 0,0001), uma vez

135

que 47 alunos (50,5%) responderam inicialmente que uma forma eficaz de evitar a doença

seria tomar a vacina, e 22 (23,7%) declararam não saber. Após a leitura do cordel sobre o

tema, 80 alunos (86,0%) passaram a responder corretamente (Tabela 3).

Discussão

Comparando-se os resultados dos questionários em momentos distintos, ou seja, antes

e depois do conteúdo abordado no cordel, foram percebidas importantes diferenças.

Antes da leitura do cordel a maioria dos alunos demonstrou ter alguma noção a

respeito do calazar como doença e sabiam da importância de se procurar ajuda médica ao

serem notados os sintomas, indicando algum conhecimento sobre sua gravidade. Contudo, a

maior parte desconhecia o nome do inseto vetor, a forma de transmissão, os sintomas no

humano e algumas medidas profiláticas.

Após a leitura do cordel, houve um significativo aumento nas respostas corretas,

principalmente com relação ao vetor, à transmissão, aos sintomas no ser humano e às medidas

de prevenção da LV.

A pequena quantidade de acertos quanto ao nome do vetor do calazar, evidenciada

antes da leitura do cordel, demonstrou que as pessoas o confundem principalmente com o cão,

ignorando a existência de um inseto no ciclo de transmissão. Essa dificuldade de associar os

vetores às doenças por eles veiculadas tem sido demonstrada em outros trabalhos32-34, sendo

de grande relevância, uma vez que compromete o enfrentamento da transmissão e as medidas

profiláticas a serem adotadas.

No que se refere aos sintomas do calazar no ser humano, antes da leitura do cordel

havia um significativo desconhecimento dos entrevistados, confundindo-os principalmente

com os sintomas que acometem o cão doente. Quanto ao modo de transmissão, as pessoas

136

demonstraram desconhecimento, apontando a mordida do cão como principal meio de

infecção pelo protozoário que causa a LV e não pela picada de um inseto. Parte dos

participantes citou ainda o uso de água contaminada como forma de contágio, demonstrando

confundir o calazar com algumas doenças de veiculação hídrica ocorrentes na região.

Entretanto, após a leitura do cordel, os alunos passaram a reconhecer os sintomas da doença

no homem, bem como a picada do flebotomíneo como forma de infecção. Conhecendo-se o

inseto, suas formas de reprodução, condições ambientais que propiciam seu desenvolvimento,

locais usados para abrigo e hábitos de vida, certamente as medidas de controle serão bem

mais eficazes.

É importante também o reconhecimento por parte de indivíduos residentes em áreas

endêmicas quanto à gravidade da LV no ser humano, fato demonstrado pelos participantes

desse estudo que, mesmo antes da leitura do cordel, citaram a necessidade de procurar

tratamento médico com urgência ao perceber os sintomas da doença.

Os alunos se mostraram inicialmente confusos entre sintomas humanos e caninos do

calazar, uma vez que atribuíram ao homem os sinais comuns no cão, fato que foi pouco

evidenciado depois da leitura do cordel, quando puderam diferenciar os sintomas humanos e

caninos.

A noção das pessoas quanto aos sintomas no cão obteve significativo acréscimo após a

leitura do folheto. Quanto ao conhecimento acerca dos sintomas em humanos, que eram

incipientes, também obtiveram significativo aumento. Tal fato é relevante, uma vez que o

reconhecimento dos principais sintomas pode levar ao diagnóstico e tratamento precoce de

casos humanos e eliminação dos cães doentes, classificados como reservatórios domésticos do

parasito que causa a doença35,36.

A educação em saúde é importante para a prevenção de doenças e promoção da saúde,

contudo tem sido utilizada de modo insuficiente em ações de controle de doenças, apesar do

137

conhecimento e da participação das pessoas serem considerados importantes. Tais fatos

ressaltam a relevância de ações que possam informar às populações, que se tornam parceiras

das autoridades de saúde no combate a doenças tais como a LV37-39.

É relevante que as instituições que lidam com informação busquem meios para o

desenvolvimento da pessoa humana, por meio do lúdico, da informação e da educação

continuada40, utilizando uma linguagem acessível que facilite a comunicação e assimilação de

temas importantes41. Nesse sentido, a literatura de cordel se mostrou eficaz, confirmando-se,

portanto, como importante instrumento de disseminação da informação nas escolas, atingindo

diferentes faixas etárias. Desse modo, o cordel, através de uma linguagem popular e simples,

pode atingir um público mais amplo, aproximando temas mais complexos em saúde das

populações menos favorecidas.

Há necessidade de maior aprofundamento e continuidade de reflexões acerca do uso

de ferramentas como a literatura de cordel com objetivos educativos em saúde. Contudo, esse

método já se mostra relevante no sentido de alcançar e sensibilizar, fato evidenciado neste

estudo, considerando o significativo avanço na compreensão sobre a LV por parte dos alunos.

Agradecimentos

Aos gestores, professores e alunos da Educação de Jovens e Adultos das escolas

municipais de Nísia Floresta, Rio Grande do Norte, Brasil, que contribuíram com essa

pesquisa. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo suporte

financeiro.

138

Referências

1. Batista RS, Gomes Igreja RP, Huggins DW. Doenças infecciosas emergentes. In: Batista

RS, Gomes Igreja RP, Huggins DW, organizadores. Medicina tropical : abordagem atual das

doenças infecciosas e parasitárias. v. 1. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2001. p. 75-79.

2. Rohousova I, Ozensoy S. Detection of species-specific antibody response of humans and

mice bitten by sand flies. Parasitology 2005; 130:493-499.

3. Killick-Kendrick R. The life-cycle of Leishmania in the sandfly with special reference to

the form infective to the vertebrate host. Ann Parasitol Hum Comp 1990; 65:37-42.

4. Portal da Saúde SUS – Leishmaniose visceral (LV). [Acessado 2016 Jan 03]. Disponível

em:http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/oministerio/principal/secretarias/svs/leishmanio

se-visceral-lv.

5. Ribeiro RAN, Teixeira-Neto RG, Belo VS, Ferreira EC, Schallig HDFH, Silva ES. Ability

of immunodiagnostic tests to differentiate between dogs naturally infected with Leishmania

infantum and Leishmune®-vaccinated dogs. Vet Res Commun 2015; 39:87-95.

6. Macedo-Silva VP, Martins DR, Queiroz PV, Pinheiro MPG, Freire CC, Queiroz JW,

Dupnik KM, Pearson RD, Wilson ME, Jeronimo SMB, Ximenes MFFM. Feeding preferences

of Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae), the sand fly vector, for Leishmania

infantum (Kinetoplastida: Trypanosomatidae). J Med Entomol 2014; 51:237-244.

139

7. Rodrigues AC, Silva RA, Melo LM, Luciano MC, Bevilaqua CM. Epidemiological survey

of Lutzomyia longipalpis infected by Leishmania infantum in an endemic area of Brazil. Rev

Bras Parasitol Vet 2014; 23:55-62.

8. Marzochi MCA, Marzochi KBF. Tegumentary and Visceral Leishmaniasis in Brazil -

emerging Anthropozoonosis and possibilities for their control. Cad Saude Publica 1994;

10:359-375.

9. Ximenes MFFM, Silva VPM, Queiroz PVS, Rego MM, Cortez AM, Batista LMM,

Medeiros AS, Jerônimio SMB. Flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) e Leishmanioses no

Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil - Reflexos do Ambiente Antrópico. Neotrop

Entomol 2007; 36:128-137.

10. Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Departamento de Vigilância Epidemiológica.

Ministério da Saúde. Brasil. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral.

Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

11. Gutierrez DMD, Minayo MCS. Produção de conhecimento sobre cuidados da saúde no

âmbito da família. Cien saude colet 2010; 15:1497-1508.

12. Schmidt RAC. A Questão Ambiental na Promoção da Saúde: uma Oportunidade de Ação

Multiprofissional sobre Doenças Emergentes. Rev Saude Coletiva 2007; 17:373- 392.

13. Greco DB. Ética, saúde e pobreza: as doenças emergentes no século XXI. Bioetica 1999;

7:189-198.

140

14. Tambellini AT. Desafios teóricos na relação produção, ambiente e saúde. In: Porto MFS,

Freitas CM, organizadores. Problemas ambientais e vulnerabilidade: abordagens integradoras

para o campo da Saúde Pública. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2002. p. 22-39.

15. Freire P. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e Terra; 2001.

16. Zóboli G. Práticas de ensino: subsídios para a atividade docente. São Paulo: Ática; 1998.

17. Maciel AD. Informação e cultura: a folkcomunicação no cordel nordestino. In: Anais do

Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Gestão e Ciência da

Informação; 2010, João Pessoa. [Acessado 2015 Aug 23]. Disponível em:

http://dci.ccsa.ufpb.br/enebd/index.php/enebd/article/view/103/52.

18. Jahn LP. A Literatura de Cordel no Século XXI: Novas e velhas linguagens na obra de

Klévisson Viana. In: III Colóquio do PPG-Letras UFRGS; 2011, Porto Alegre. [Acessado

2015 Jul 22]. Disponível em:

http://www.ufrgs.br/ppgletras/coloquio2011/cadernoderesumos.pdf

19. Filipouski AM. Cordel: patrimônio cultural brasileiro. In: Borges JF organizador.

Dicionário dos sonhos e outras histórias de cordel. Porto Alegre: L&PM; 2003.

20. Ângelo A. As origens do cordel. In: Ângelo A, organizador. Presença dos cordelistas e

cantadores repentistas em São Paulo. São Paulo: IBRASA; 1996.

141

21. Luyten JM. O que é literatura de cordel. São Paulo: Brasiliense, 2007. p. 317.

22. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nísia Floresta, RN. [Acessado 2015

Jul 15]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1.

23. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Casos de Leishmaniose

Visceral por município de residência notificados em Nísia Floresta nos anos de 2010 a 2014.

Rio Grande do Norte: SINAN; 2015.

24. Matos E. Literatura de cordel: a escuta de uma voz poética. Rev Cultura Critica 2007; 1:8-

14.

25. Lakatos EM, Marconi MA. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas;

1985.

26. Oliveira DPR. Sistemas, organização e métodos: uma abordagem gerencial. 15 ed. São

Paulo: Atlas; 2005.

27. Brasil, Resolução CNE/CEB Nº 1, de 5 de julho de 2000. Estabelece as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação e Jovens e Adultos. [Acessado 2015 Aug 23].

Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB012000.pdf.

28. Gonçalves TGGL. Escolarização de Alunos com Deficiência na Educação de Jovens e

Adultos: Uma Análise dos Indicadores Educacionais Brasileiros. [Dissertação]. Londrina

(PR): Universidade Estadual de Londrina; 2012.

142

29. Oliveira ABT, Lima MBP, Toledo, EA. Educação de Jovens e Adultos (EJA):

Perspectivas Metodológicas e Aprendizagem Significativa. Mimesis 2012; 33:181- 204.

30. Lakatos EM, Marconi MA. Metodologia do trabalho científico. 2 ed. São Paulo: Atlas;

1986.

31. Minayo MC. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro:

Abrasco; 2007.

32. Weigel MM, Armijos RX, Racines RJ, Zurita C, Izureta R, Herrera E. Cutaneous

Leishmaniasis insubtropical ecuador: popular perceptions, knowledge, and treatements. Bull

Pan Am Health Organ 1994; 28(2):142-155.

33. Luz ZMP, Schall V, Rabello A. Evaluation of a pamphlet on visceral leishmaniasis as a

tool for providing disease information to healthcare professionals and laypersons. Cad Saude

Publica 2005; 21(2):608-621.

34. Lobo KS, Bezerra JMT, Brito LMO, Silva JS, Pinheiro VCS. Conhecimentos de

estudantes sobre Leishmaniose Visceral em escolas públicas de Caxias, Maranhão, Brasil.

Cien Saude Colet 2013; 18(8):2295-2300.

35. Gama MEA, Barbosa JS, Pires B, Cunha AKB, Freitas AR, Ribeiro IR. Avaliação do

nível de conhecimento que populações residentes em áreas endêmicas têm sobre leishmaniose

visceral, Estado do Maranhão, Brasil. Cad Saude Publica 1998; 14(2):381-390.

143

36. Borges BKA, Silva JA, Haddad JPA, Moreira EC, Magalhães DF, Ribeiro LML.

Avaliação do nível de conhecimento e de atitudes preventivas da população sobre a

leishmaniose visceral em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saude Publica 2008;

24(4):777-784.

37. Esteso SC. Educación popular punto débil en la lucha contra la enfermedad de Chagas.

Rev Fac Cienc Med 1984; 42(2):14-17.

38. Santos JB, Lauand L, Souza GS, Macedo VO. Fatores socioeconômicos e atitudes em

relação à prevenção domiciliar da leishmaniose tegumentar americana, em uma área endêmica

do Sul da Bahia, Brasil. Cad Saude Publica 2000; 16(3):701-708.

39. Abrahão AL, Garcia ALS. Sobre o exercício da educação em saúde: um estudo

bibliográfico da prática em enfermagem. Saude Colet 2009; 7(31)155-162.

40. Gaudêncio SM, Borba MSA. O cordel como fonte de informação: a vivacidade dos

folhetos de cordéis no Rio Grande do Norte. Biblionline 2010; 6(1)82-92.

41. Assis RA, Tenório CM, Callegaro T. Literatura de cordel como fonte de informação.

CRB-8 Digital. [Periódico na internet] 2012 [Acessado 2015 Set 22]; 5(1)3-21. Disponível

em: http://revista.crb8.org.br/index.php/crb8digital/article/viewFile/66/68.

144

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho nos permitiu ampliar os conhecimentos acerca das espécies de

flebotomíneos do estado do Rio Grande do Norte, contribuindo com a vigilância e prevenção.

Foram analisados fatores locais de bioecologia e sazonalidade, frequência horária e

comportamento antropofílico das espécies vetoras, aprofundando conhecimentos sobre as

espécies de flebotomíneos da região.

Foram coletados e identificados 82.638 flebotomíneos de treze espécies, sendo uma

delas, Micropygomyia schreiberi, pela primeira vez registrada no estado. Evandromyia

walkeri aparece como a espécie mais abundante em todos os ambientes, onde certamente

desempenha papel ecológico. Também é importante a presença das espécies Lutzomyia

longipalpis e Psychodopygus wellcomei em todos os ecótopos, uma vez que possuem

respectivamente importância comprovada na transmissão de leishmaniose visceral e

tegumentar.

Fatores abióticos como chuva, umidade relativa do ar e temperatura influenciam a

ocorrência dos flebotomíneos, que na área de mata preservada são mais abundantes em estrato

próximo ao solo, embora também existam em grande densidade junto à copa das árvores. L.

longipalpis se confirmou como espécie associada aos ambientes antropizados, apesar de estar

presente em todos os ecótopos pesquisados, e P. wellcomei se mostrou como a espécie mais

antropofílica na área de mata preservada, aparecendo em grande densidade na estação

chuvosa e se ausentando no período seco.

As leishmanioses se encontram entre as doenças negligenciadas, afetando sobretudo as

populações mais desfavorecidas, e apesar de sua ampla distribuição geográfica e elevada

incidência anual em países como o Brasil, os investimentos ainda são insuficientes, o que

evidencia a necessidade de políticas públicas que viabilizem uma maior atenção à prevenção

de doenças.

Sugere-se que para um efetivo controle das leishmanioses haja um envolvimento entre

diversos segmentos, que venham a contribuir por meio de estratégias eficazes. Nesse sentido,

o conhecimento acerca dos insetos vetores é de significativa importância, especialmente no

tocante à sazonalidade das espécies, e sinaliza a necessidade de medidas preventivas eficazes

em nível regional e local, que possam contribuir com a diminuição do risco.

145

A experiência com a literatura de cordel demonstrou que esta pode ser uma alternativa

válida na disseminação de informações acerca das leishmanioses, dos insetos vetores e da

importância da conservação do ambiente natural. Em Nísia Floresta, foi comprovado, junto a

alunos da Educação de Jovens e Adultos, o potencial da literatura de cordel como ferramenta

de informação e consequente prevenção de doenças.

Desse modo, a integração de diferentes experiências e saberes para a reorientação dos

serviços às comunidades, aliada ao conhecimento técnico e ao poder político, reforça a

importância da interdisciplinaridade nas questões de saúde pública.

As questões identificadas nesse estudo certamente trarão benefícios, uma vez que

discussões acerca de fatores de risco associados à doença, bem como de educação em saúde,

são de particular importância à medida em que sensibilizam e contribuem com a melhoria das

condições ambientais e de vida das populações expostas.

146

REFERÊNCIAS

AGUIAR, G. M.; SCHUBACK, P. A.; VILELA, M. L.; AZEVEDO, A. C. R. Aspectos da

ecologia dos flebótomos do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro: II.

Distribuição vertical (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae). Memórias do Instituto

Oswaldo Cruz, v. 80, p. 187-194, 1985.

ALAWIEH, A.; MUSHARRAFIEH, U.; JABER, A.; BERRY, A.; GHOSN, N.; BIZRI, A. R.

Revisiting leishmaniasis in the time of war: the Syrian conflict and the Lebanese outbreak.

International Journal of Infectious Diseases, v. 29, p. 115-119, 2014.

ALENCAR, J. E. Profilaxia do calazar no Ceará, Brasil. Revista do Instituto de Medicina

Tropical de São Paulo, v. 3, p. 175-180, 1961.

ALENCAR, J. E.; DIETZE, R. Leishmaniose visceral (Calazar). In: VERONESI, R. Doenças

infecciosas e parasitárias. 8ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1991, p. 706-

717.

ALEXANDER, B; FERRO, C; YOUNG, D. G; MORALES, A.; TESH, R. B. Ecology of

Phlebotomine sand flies (Diptera: Psychodidae) in a focus of Leishmania (Viannia)

braziliensis in Northern Colombia. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 87, p. 387-395,

1992.

AMENDOEIRA, M. R. R.; MATTOS, D. P. B. G.; CARREIRA, J. C. A.; SILVA, A. V. M.;

GOULART, P. R. M. Protozoologia. In: MOLINARO, E. M.; CAPUTO, L. F. G.;

AMENDOEIRA, M. R. R. (Orgs.). Conceitos e métodos para a formação de profissionais em

laboratórios de saúde, volume 5. Rio de Janeiro: Editoras EPSJV; IOC, 2012.

AMÓRA, S. S. A.; BEVILAQUA, C. M. L.; FEIJÓ, F. M. C.; SILVA, M. A.; PEREIRA, R.

H. M. A.; SILVA, S. C.; ALVES, N. D.; FREIRE, F. A. M.; OLIVEIRA, D. M. Evaluation of

the fungus Beauveria bassiana (Deuteromycotina: Hyphomycetes), a potential biological

control agent of Lutzomyia longipalpis (Diptera, Psychodidae), Biological Control, v. 50, p.

329-335, 2009.

AÑEZ, N.; NIEVES, E.; CARLOZA, D. The validity of the developmental pattern in the

sandfly gut for classification of Leishmania. Transactions of the Royal Society of Tropical

Medicine and Hygiene, v. 83, p. 634-635, 1989.

ÂNGELO, A. As origens do cordel. In:_____. Presença dos cordelistas e cantadores

repentistas em São Paulo. São Paulo: Editora IBRASA, 1996.

147

ASHFORD, R. W. The leishmaniases as emerging and reemerging zoonoses. International

Journal of Parasitology, v. 30, p. 1269-1281, 2000.

AVERSI-FERREIRA, R.A.G.M.F.; GALVÃO, J. D.; SILVA, S. F.; CAVALCANTE, G. F.;

SILVA, E. V.; BHATIA-DEY, N.; AVERSI-FERREIRA, T. A. Geographical and

Environmental Variables of Leishmaniasis Transmission. 2014. In: CLABORN, D. M.

(Org.), Leishmaniasis - Trends in Epidemiology, Diagnosis and Treatment. Disponível em:

<http://www.intechopen.com/books/leishmaniasis-trends-in-epidemiology-diagnosis-and-

treatment/geographical-and-environmental-variables-of-leishmaniasis-transmission>. Acesso

em: 22 Jul. 2016.

AZEVEDO, A. C. R.; LUZ, S. L. B.; VILELA, M. L.; RANGEL, E. F. Studies on the sandfly

fauna of Samuel ecological station, Porto Velho Municipality, Rondônia state, Brazil.

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 88, p. 509-512, 1993.

BARRET, T.; SENRA, M. S. Leishmaniasis in Manaus, Brazil. Parasitology Today, v. 5, p.

255-257, 1989.

BATISTA, R. S.; GOMES, A. P.; IGREJA, R. P.; HUGGINS, D. W. Doenças infecciosas

emergentes. In: ____. Medicina tropical: abordagem atual das doenças infecciosas e

parasitárias. Rio de Janeiro: Editora Cultura Médica, 2001, p. 75-79.

BEJARANO, E. E.; ROJAS, W.; URIBE, S.; VÉLEZ, I. D.; PORTER, C. H. Genetic analysis

of a recently detected urban population of Lutzomyia evansi (Diptera: Psychodidae) in

Colombia. Rev. Soc. Entomol. Argent, v. 68 (1-2), p. 135-141, 2009.

BENDEZU, H.; MORENO, G.; VILLEGAS, E.; OVIEDO, M. Bionomía de los vectores de

leishmaniasis visceral en el Estado Trujillo, Venezuela. V. Preferencias alimentarias de

poblaciones silvestres Lutzomyia longipalpis y Lu. evansi. Bol Dir Malariol San Amb, v. 35

(Suppl. 1), p. 45-52, 1995.

BERN, C.; MAGUIRE, J. H.; ALVAR, J. Complexities of Assessing Disease Burden

Attributable to Leishmaniasis. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 313, p. 1-8, 2008.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano de Manejo da Floresta Nacional de Nísia

Floresta (Volume I). 2012. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/

imgs-unidades-coservacao/Volume_I___Diagn%C3%B3stico_02ago12.pdf>. Acesso em: 11

de set. 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Leishmaniose Visceral:

Casos confirmados notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação –

148

SINAN Net. 2015. Disponível em:

<http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/tabnet/tabnet?sinannet/leishvi/bases/leishvbrnet.def>.

Acesso em: 08 set. 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de

Vigilância Epidemiológica. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral. 1ª

ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

BRAZIL, R. P.; BRAZIL, B. G. Biologia de flebotomíneos neotropicais. In: RANGEL, E. F.;

LAINSON, R. (Orgs.). Flebotomíneos do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003.

CAMPBELL-LENDRUM, D.; DUJARDIN, J. P.; MARTINEZ, E.; FELICIANGELI, M. D.;

PEREZ, J. E. Domestic and peridomestic transmission of American cutaneous leishmaniasis:

changing epidemiological patterns present new control opportunities. Memórias do Instituto

Oswaldo Cruz, v. 96, p. 159-162, 2001.

CARDIM, M. F. M.; RODAS, L. C.; DIBO, M. R.; GUIRADO, M. M.; OLIVEIRA, A. M.;

CHIARAVALLOTI NETO, F. Introdução e expansão da Leishmaniose visceral americana

em humanos no estado de São Paulo, 1999-2011. Revista de Saúde Pública, 47(4):691-700,

2013.

CAVALCANTE, R. R.; PEREIRA, M. H.; FREITAS, J. M.; GONTIJO, N. F. Ingestion of

saliva during carbohydrate feeding by Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae).

Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 101, p. 85-87, 2006.

CDC (Centers for Disease Control and Prevention). Resources for Health Professionals.

2016. Disponível em:< https://www.cdc.gov/parasites/leishmaniasis/health_professionals/>.

Acesso em: 08 jan. 2017.

CEVS (Centro Estadual de Vigilância em Saúde). Rio Grande do Sul. Secretaria Estadual de

Saúde. Vigilância entomológica de mosquitos (Diptera, Culicidae). Porto Alegre: CEVS,

2009.

COQUILLETT, D. W. Discovery of Blood-sucking Psychodidae in America. Entomol News

Proc, v. 18, p. 101-177, 1907.

DANTAS, J. O.; CARVALHO, C. M.; VILAR, J. C. Chaves para identificação de vetores das

principais zoonoses de Sergipe. I. Diptera. Biologia Geral e Experimental, v. 6, p. 32-48,

2006.

149

DAVIES, C. R.; LLANOS-CUENTAS, E. A.; CAMPOS, P.; MONGE, J.; LEON, E.;

CANALES, J. Spraying houses in the Peruvian Andes with lambda-cyhalothrin protects

residents against cutaneous leishmaniasis. Transactions of the Royal Society of Tropical

Medicine and Hygiene, v. 94, p. 631-636, 2000.

DEDET, J. P.; VIGNES, R.; RANGEL, E. F. Morfologia e taxonomia: grupo CIPA. In:

RANGEL, E. F.; LAINSON, R. (Orgs.). Flebotomíneos do Brasil. Rio de Janeiro: Editora

Fiocruz, 2003, p. 177-184.

DESJEUX, P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comp Immunol

Microbiol Infect Dis, v. 27, p. 305-318, 2004.

DOURADO, M. I. C.; NORONHA, C. V.; ALCÂNTARA, N.; ICHIHARA, M. Y. T.;

LOUREIRO, S. Epidemiologia da leishmaniose tegumentar americana e suas relações com a

lavoura e o garimpo em localidade do estado da Bahia (Brasil). Revista de Saúde Pública, v.

23, p. 2-8, 1989.

FEIJÓ, F. M. C.; LIMA, P. M.; ALVES, N. D.; LUNA-ALVES LIMA, E. A. Comportamento

e aspectos citológicos de Beauveria basssiana após passagem em ovo, larva e adulto

de Chrysomya albiceps. Arquivos do Instituto Biológico, v. 74, p. 349-355, 2007.

FERRO, C.; PARDO, R.; TORRES, M.; MORRISON, A. C. 1997. Larval microhabitats

of Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae) in an endemic focus of visceral

leishmaniasis in Colombia. J Med Entomol 34: 719-728.

FORATTINI, O. P. Entomologia Médica: Psychodidae, Phlebotominae, leishmanioses,

bartonelose. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1973.

FREIRE, P. Educação e Mudança. 24ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra S.A., 2001.

GALATI, E. A. B. Phylogenetic systematics of Phlebotominae (Diptera, Psychodidae) with

emphasis on American groups. Bol Dir Malariol San Amb, v. 35, p. 133-142, 1995.

GALATI, E. A. B. Classificação de Phlebotominae. In: RANGEL, E. F.; LAINSON, R.

(Orgs.). Flebotomíneos do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, p. 23-51, 2003a.

GALATI, E. A. B. Morfologia, terminologia de adultos e identificação dos táxons da

América. In: RANGEL, E. F.; LAINSON, R. (Orgs.). Flebotomíneos do Brasil. Rio de

Janeiro: Editora Fiocruz, p. 53-175, 2003b.

150

GALINDO-LEAL, C.; CÂMARA, I. G. The Atlantic Forest of South America:

Biodiversity Status, Threats and Outlook. Washington: Island Press, Center for Applied

Biodiversity Science at Conservation International, 488 p.. 2003.

GOMES, A. C.; RABELLO, E. X.; SANTOS, J. L. F.; GALATI, E. A. B. Aspectos

ecológicos da leishmaniose tegumentar americana. 1 – Estudo experimental da freqüência de

flebotomíneos em ecótopos artificiais com referência especial a Os. intermedius. Revista de

Saúde Pública, v. 14, p. 540-556, 1980.

GONTIJO, B.; CARVALHO, M. L. R. Leishmaniose tegumentar americana. Revista da

Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, p. 71-80, 2003.

GONTIJO, C. M. F.; MELO, M. N. Leishmaniose Visceral no Brasil: quadro atual, desafios e

perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 7, p. 338-349, 2004.

GRECO, D. B. Ética, saúde e pobreza: as doenças emergentes no século XXI. Bioética, v. 7,

p. 189-198, 1999.

HAYANI, K.; DANDASHLI, A.; WEISSHAAR, E. Cutaneous Leishmaniasis in Syria:

Clinical Features, Current Status and the Effects of War. Acta Dermato-Venereologica, v.

95, p. 62-66, 2015.

IBÁÑEZ-BERNAL, S.; RODRÍGUEZ-DOMÍNGUEZ, G.; GÓMEZ-HERNÁNDEZ, C. H.;

RICARDEZ-ESQUINCA, J. R. First record of Lutzomyia evansi (Nuñez-Tovar 1924) in

Mexico (Diptera: Psychodidae, Phlebotominae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 99 (2), p.

127-129, 2004.

IBGE. Nísia Floresta, RN -Estimativa da População 2016. 2016. Disponível em:

<ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_de_Populacao/Estimativas_2016/estimativa_dou_2016.pdf

>. Acesso em: 10 Dez. 2016.

JACOBSON, R. L.; SCHLEIN, Y.; EISENBERGER, C. L. The biological function of sand

fly and Leishmania glycosidases. Med Microbiol Immunol, v.190, p.51-55, 2001.

JERONIMO, S. M B.; OLIVEIRA, R. M.; MACKAY, S.; COSTA, R. M.; SWEET, J.;

NASCIMENTO, E. T.; LUZ, K. G.; FERNANDES, M. Z.; JERNIGAN, J.; PEARSON, R.

D. An urban outbreak of visceral leishmaniasis in Natal, Brazil. Trans. R. Soc. Trop. Med.

Hyg, v. 88, p. 386-388, 1994.

151

KILLICK-KENDRICK, R. The life-cycle of Leishmania in the sandfly with special reference

to the form infective to the vertebrate host. Ann Parasitol Hum Comp, v. 65, p. 37-42, 1990.

LACERDA, M. M. The Brazilian leishmaniasis control program. Memórias do Instituto

Oswaldo Cruz, v. 89, p. 489-495, 1994.

LAINSON, R.; SHAW, J. J.; WARD, R. D.; FRAIHA, H. Leishmaniasis in Brazil. IX.

Considerations on the Leishmania braziliensis complex. Importance of sand flies of the genus

Psychodopygus (Mangabeira) in the transmission of Leishmania braziliensis braziliensis in

North Brazil. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 67,

p. 184-196, 1973.

LAINSON, R. Demographic changes and their influence on the epidemiology of the

American leishmaniases. In: SERVICE, M. W. (Ed.). Demography and Vector-Borne

Diseases. Boca Raton: CRC Press, p. 85-106, 1989.

LAINSON, R.; RANGEL, E. F. Lutzomyia longipalpis and the ecoepidemiology of American

visceral leishmaniasis, with particular reference to Brazil – A review. Memórias do Instituto

Oswaldo Cruz, v. 100, p. 811-827, 2005.

LAINSON, R.; SHAW, J. J.; LINS, Z. C. Leishmaniasis in Brazil IV. The fox, Cerdocyon

thous (L.) as a reservoir of Leishmania donovani in Pará state, Brazil. Transactions of the

Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 63, p. 741-745, 1969.

LEITE, A. I.; ARAÚJO, L.B. Leishmaniose visceral: aspectos epidemiológicos relacionados

aos óbitos em Mossoró-RN. Revista de Patologia Tropical, v. 42, p. 301-308, 2013.

LUYTEN, J. M. O que é literatura de cordel. São Paulo: Editora Brasiliense, 2007.

MACEDO-SILVA, V. P.; MARTINS, D. R.; QUEIROZ, P. V.; PINHEIRO, M. P. G.;

FREIRE, C. C.; QUEIROZ, J. W.; DUPNIK, K. M.; PEARSON, R. D.; WILSON, M. E.;

JERONIMO, S. M.; XIMENES, M. F. Feeding preferences of Lutzomyia longipalpis

(Diptera: Psychodidae), the sandfly vector, for Leishmania infantum (Kinetoplastida:

Trypanosomatidae) Journao of Medical Entomology, v. 51, p.237-244, 2014.

MACIEL, A. D. Informação e cultura: a folkcomunicação no cordel nordestino. In:

Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Gestão e Ciência da

Informação, 33., 2010, João Pessoa. Anais eletrônicos... João Pessoa: UFPB, 2010.

Disponível em:

<http://dci.ccsa.ufpb.br/enebd/index.php/enebd/article/view/103/52>. Acesso em: 02 agosto.

2015.

152

MARZOCHI, M. C. A. Leishmanioses no Brasil: as leishmanioses tegumentares. Journal

Brasileiro de Medicina, v. 63, p. 82-104, 1992.

MCINTYRE , N. E.; RANGO, J.; FAGAN, W. F.; FAETH, S. H. Ground arthropod

community structure in a heterogeneous urban environment. Landscape and Urban

Planning, v. 52, p. 257-274, 2001.

MCKINNEY, M. L. 2008. Effects of urbanization on species richness: A review of plants and

animals. Urban Ecosyst. v. 11, p. 161-176.

MISSAWA, N. A.; VELOSO, M. A. E.; MACIEL, G. B. M. L.; MICHALSKY, E. M.; DIAS,

E. S. Evidência de transmissão de leishmaniose visceral por Lutzomyia cruzi no município de

Jaciara, Estado de Mato Grosso, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop, v. 44 (1), p. 76-78,

2011.

MODABBER, F.; BUFFET, P. A.; TORREELE, E.; MILON, G.; CROFT, S. L. Consultative

meeting to develop a strategy for treatment of cutaneous leishmaniasis. Institute Pasteur,

Paris. 13-15 June, 2006. Kinetoplastid Biol Dis, v. 6, p. 3, 2007.

MONTOYA-LERMA, J.; CADENA, H.; OVIEDO, M.; READY, P. D.; BARAZARTE, R.;

TRAVI, B. L.; LANE, R. P. Comparative vectorial efficiency of Lutzomyia evansi and L.

longipalpis for transmitting Leishmania chagasi. Acta Trop, v. 85, p. 19-29, 2003.

NUNES, V. L. B.; GALATI, E. A. B.; CARDOZO, C.; ROCCA, M. E. G.; ANDRADE, A.

R. O.; SANTOS, M. F. C.; AQUINO, R. B.; ROSA, D. Estudo de flebotomíneos (Diptera,

Psychodidae) em área urbana do município de Bonito, Mato Grosso do Sul. Revista

Brasileira de Entomologia, v. 52, p. 446-451, 2008.

OLIVEIRA, C. C.; LACERDA, H. G.; MARTINS, D. R.; BARBOSA, J. D.; MONTEIRO,

G. R.; QUEIROZ, J. W.; SOUSA, J. M.; XIMENES, M. F. F. M.; JERÔNIMO, S. M. B.

Changing epidemiology of American cutaneous leishmaniasis (ACL) in Brazil: a disease of

the urban-rural interface. Acta Tropica, v. 90, p. 155-162, 2004.

PASSOS, V. M. A.; FALCÃO, A. L.; MARZOCHI, M. C. A.; GONTIJO, C. M. F.; DIAS, E.

S.; BARBOSA-SANTOS, E. G. O.; GUERRA, H. L.; KATZ, N. Epidemiological aspects of

American cutaneous leishmaniasis in a periurban area of the metropolitan region of Belo

Horizonte, Minas Gerais, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 88, p. 103-110,

1993.

PATZ, J. A.; GRACZYK, T. K.; GELLER, N.; VITTOR, A. Y. Effects of environmental

change on emerging parasitic diseases. Int J Parasitol, v. 30, p. 1395-1405, 2000.

153

PENNA, H. A. Leishmaniose visceral no Brasil. Brasil-Médico, v. 48, p. 949-950, 1934.

PESSÔA, S. B.; MARTINS, A. V.; Tripanosomatidae - Gênero Leishmania. In: _____.

Parasitologia Médica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, p. 77-118, 1977.

PINHEIRO, M. P. G.; SILVA, J. H. T.; CAVALCANTI, K. B.; AZEVEDO, P. R. M.;

XIMENES, M. F. F. M. Ecological interactions among phlebotomines (Diptera: Psychodidae)

in an Agroforestry environment of northeast Brazil. Journal of Vector Ecology, v. 38, p.

307-316, 2013a.

PINHEIRO, M. P. G.; SILVA, J. H. T.; SILVA, V. P. M.; ANDRADE, M. J. M.; XIMENES,

M. F. F. M. Lutzomya wellcomei Fraiha, Shaw & Lainson (Diptera, Psychodidae,

Phlebotominae) em Fragmento de Mata Atlântica do Rio Grande do Norte, Nordeste do

Brasil. EntomoBrasilis, v. 6, p. 232–238, 2013b.

REITHINGER, R.; DAVIES, C. R.; CADENA, H.; ALEXANDER, B. Evaluation of the

fungus Beauveria bassiana as a potential biological control agent against phlebotomine sand

flies in Colombian coffee plantations. Journal of Invertebrate Pathology, v. 70, p. 131-135,

1997.

REITHINGER, R.; DUJARDIN, J. C.; LOUZIR, H.; PIRMEZ, C.; ALEXANDER, B.

Cutaneous leishmaniasis. Lancet Infect Dis, v. 7, p. 581-596, 2007.

REY, L. Leishmania e Leishmaníases: os parasitos. In: ____ REY, L. Parasitologia. Rio de

Janeiro: Editora Guanabara Koogan, p. 359-371, 2014.

ROHOUSOVA, I.; OZENSOY, S. Detection of species-specific antibody response of humans

and mice bitten by sand flies. Parasitology, v. 130, p. 493-499, 2005.

SACKS, D. L. Metacyclogenesis in Leishmania promastigotes. Exp Parasitol, v. 69, p. 100-

103, 1989.

SALMAN, I. S.; VURAL, A.; UNVER, A.; SACAR, S. Cutaneous leishmaniasis cases in

Nizip,Turkey after the Syrian civil war. Mikrobiyol Bul., v. 48 (1), p. 106-113, 2014.

SCHLEIN, Y.; JACOBSON, R. Mortality of Leishmania major in Phlebotomus papatasi

caused by plant feeding of the sand flies. American Journal of Tropical Medicine and

Hygiene, v. 50, p. 20-27, 1994.

154

SCHMIDT, R. A. C. A Questão Ambiental na Promoção da Saúde: uma Oportunidade de

Ação Multiprofissional sobre Doenças Emergentes. PHYSIS: Revista Saúde Coletiva, v. 17,

p. 373-392, 2007.

SENA, C. M. Diagnóstico Biológico/Ambiental da EFLEX de Nísia Floresta. Natal:

Relatório Técnico, 1999. 21 p.

SESAP/RN – Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte, Sistema de

Informação de Agravos de Notificação – SINAN. Leishmaniose Tegumentar e

Leishmaniose Visceral por Município de Residência no Estado do Rio Grande do Norte,

Brasil: 2007-2014. 2015. Disponível em:

<http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/tabnet/tabnet?sinannet/leishvi/bases/leishvbrnet.def>.

Acesso em 27 Jun. 2015.

SHANNON, R.C. Methods for Collecting and Feeding Mosquitoes in Jungle Yellow Fever

Studies. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 19, p. 131-140, 1939.

SHARMA, U.; SINGH, S. Insect vectors of Leishmania: distribution, physiology and their

control. J Vector Borne Dis. 45(4):255-272, 2008.

SHAW, J. J. New World Leishmaniasis: The Ecology of Leishmaniasis and the Diversity of

Leishmanial Species in Central and South America. In: FARRELL, J. P. (Ed.). Leishmania.

Springer US, p. 11-31, 2002.

SOARES, R. P. P.; TURCO, S. J. Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae:

Phlebotominae): a review. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 75, p. 301-330,

2003.

STEFANO, E.; ARAÚJO, W. P; PASSOS, E. C.; PITUCO, E. M. Revisão Bibliográfica –

Estomatite Vesicular. Arq Inst Biol São Paulo, v. 69, p. 127-133, 2002.

TABARELLI, M.; AGUIAR, A. V.; RIBEIRO, M. C.; METZGER, J. P.; PERES, C. A. 2010.

Prospects for biodiversity conservation in the Atlantic Forest: Lessons from aging human-

modified landscapes. Biological Conservation. v. 143, p. 2328-2340.

TAMBELLINI, A. T. Desafios teóricos na relação produção, ambiente e saúde. In: PORTO,

M. F. S.; FREITAS, C. M. (Orgs.). Problemas ambientais e vulnerabilidade: abordagens

integradoras para o campo da Saúde Pública. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2002, p. 22-39.

155

TRAVI, B. L.; VÉLEZ, I. D.; BRUTUS, L.; SEGURA, I.; JARAMILLO, C.; MONTOYA, J.

Lutzomyia evansi, an alternate vector of Leishmania chagasi in a Colombian focus of visceral

leishmaniasis. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 84,

p. 676-677, 1990.

VALE, E. C. S.; FURTADO, T. Leishmaniose tegumentar no Brasil: revisão histórica da

origem, expansão e etiologia. An Bras Dermatol, v. 80, p. 421-428, 2005.

VOLF, P.; HOSTOMSKA, J. Molecular crosstalks in Leishmania-sandfly-host relationships.

Parasite, v. 15, p. 237-43, 2008.

WALTERS, L. L.; MODI, G. B. Ultrastructural development of Leishmania chagasi in its

vector, Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae). Am J Trop Med Hyg, v. 41, p. 295-

317, 1989.

WHO (World Health Organization). 2010. Control of the Leishmaniasis: report of a meeting

of the WHO Expert Committee on the Control of Leishmaniasis, Geneva, 22-26 March 2010.

WILLIAMS, P. Psychodidae. In: NEVES, D. P.; MELO, A. L.; GENARO, O.; LINARDI, P.

M. Parasitologia Humana. São Paulo: Editora Atheneu, 2000, p. 311-319.

XIMENES, M. F. F. M.; SOUZA, M. F.; CASTELLON, E. G. Density of sand flies (Diptera:

Psychodidae) in domestic and wild animal shelters in area of visceral leishmaniasis in the

State of Rio Grande do Norte, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 94, p. 427-

432, 1999.

XIMENES, M. F. F. M.; MACIEL, J. C.; JERÔNIMO, S. M. B. Characteristics of the

Biological Cycle of Lutzomyia evandroi Costa Lima & Antunes, 1936 (Diptera: Psychodidae)

under Experimental Conditions. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 96, p. 883-886,

2001.

XIMENES, M. F. F. M.; CASTELLON, E. G.; SOUZA, M. F.; MENEZES, A. A. L.;

QUEIROZ, J. W.; SILVA, V. P. M.; JERÔNIMO, S. M. B. Effect of abiotic factors on

seasonal population dynamics of Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae) in

Northeastern Brazil. Journal of Medical Entomology, v. 43, p. 990-995, 2006.

XIMENES, M. F. F. M.; SILVA, V. P. M.; QUEIROZ, P. V. S.; REGO, M. M.; CORTEZ, A.

M.; BATISTA, L. M. M.; MEDEIROS, A. S.; JERONIMIO, S. M. B. Flebotomíneos

(Diptera: Psychodidae) e Leishmanioses no Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil –

Reflexos do Ambiente Antrópico. Neotropical Entomology, v. 36, p. 128-137, 2007.

156

XIMENES, M. F. F. M.; ALVES, M. L. Saúde, ambiente e desenvolvimento: marcos

históricos, determinantes biológicos e sociais. In: XIMENES, M. F. F. M.; SOUZA, R. F.

(Orgs.). Meio Ambiente e Saúde Humana: práticas, vivências e saberes. Natal: Editora

EDUFRN, 2013.

YOUNG, D. G.; DUNCAN, M. A. Guide to the identification and geographyc distribuition of

Lutzomyia sand flies in Mexico, the West Indies, Central and South America (Diptera:

Psychodidae). Memoirs of the American Entomological Institute, n. 54, 1994.

ZÓBOLI, G. Práticas de ensino: subsídios para a atividade docente. São Paulo: Editora

Ática, 1998.

157

APÊNDICE – Cordel produzido e utilizados nas ações de Educação em Saúde.

158

159