Felicidade - rl.art.br · felicidade, e com um desejo inato, urgente e irreprimível pela mesma....

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Felicidade Título original: HAPPINESS—its NATURE and SOURCES Described, and MISTAKES Concerning it Corrected. Por John Angell James (1785-1859) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Abr/2017

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Felicidade

Título original: HAPPINESS—its NATURE and

SOURCES Described, and MISTAKES

Concerning it Corrected.

Por John Angell James (1785-1859)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Abr/2017

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J27 James, John Angell – 1785-1859 Felicidade / John Angell James. Tradução, adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 85p.; 14,8 x 21cm Título original: Título original: HAPPINESS—its NATURE and SOURCES Described, and MISTAKES Concerning it Corrected. 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

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“Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem? Levanta,

Senhor, sobre nós a luz do teu rosto. Puseste no meu

coração mais alegria do que a deles no tempo em que

se lhes multiplicam o trigo e o vinho.” (Salmo 4: 6-7)

Leitor, este pequeno trecho chega até você com

uma alta pretensão (e mais elevada não pode haver),

que é a de apontar para você a verdadeira felicidade,

onde ela deve ser encontrada e como ela deve ser

obtida. A esse assunto você não pode e não deve ser

indiferente. Como um entre os milhões incontáveis

cuja morada está em um vale das lágrimas, e como

uma parte da "criação inteira, que geme e está com

dores de parto até agora", você está interessado em

um tratado que lhe é endereçado no caráter de um

consolador, para executar o ofício caritativo de

iluminar os seus olhos chorosos.

Ou se, talvez, não tenha sido objeto de uma tristeza

real ou opressiva, mas apenas daqueles desejos

inquietos e insaciáveis, por algum bem adequado,

que todos os homens sentem, você ainda pode

reservar com aproveitamento alguns minutos, lendo

estas páginas simples, cujo desejo é o de pô-lo em

posse do que tão ardentemente cobiça, e que talvez

tenha até agora, tão infrutiferamente procurado.

Pode ser que você tenha começado um esforço

desesperado para se reconciliar com a insatisfação e

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a tristeza. Você tentou uma experiência após outra

para extrair a felicidade por vários processos e talvez

tenha sido malsucedido em todos eles. O elixir não

pôde ser obtido. O espírito etéreo não podia ser

capturado; e no desânimo abandonou o esforço e a

esperança, dizendo da felicidade, como Brutus,

pouco antes de se esfaquear, disse sobre a virtude;

que ele a procurara onde quer que fosse, e finalmente

descobriu que era apenas um nome. Revogue tal

conclusão, pelo menos até que você tenha examinado

este tratado. Pode haver uma fonte ainda

inexplorada; um método não experimentado; e

aquilo que pode conter o objeto de sua pesquisa.

O autor desta obra não é um teórico especulativo; ele

dá o resultado da observação estendida, encarna o

testemunho de milhares com quem conversou. E,

ainda mais, ele oferece o resultado de sua própria

experiência. Ele tentou o assunto, e "provou, e

manipulou, e sentiu," o que ele apresenta a você. Ele

bebe na fonte das águas vivas, e agora oferece sua

mão amigável para guiá-lo para o fluxo de cristal, do

qual, se você beber, você não terá sede por outra

pessoa, mas contente e grato dirá: "é suficiente!"

“Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem? Levanta,

Senhor, sobre nós a luz do teu rosto. Puseste no meu

coração mais alegria do que a deles no tempo em que

se lhes multiplicam o trigo e o vinho.” (Salmo 4: 6-7).

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O homem é formado com uma capacidade de

felicidade, e com um desejo inato, urgente e

irreprimível pela mesma. Este desejo de felicidade é

uma propensão universal, e pertence a ele como

homem, independentemente de distinções externas e

adventícias. Seu generoso Criador colocou-o em uma

situação onde pode ser obtido; e não implantou nele

um apetite pelo qual ele não tivesse feito qualquer

provisão adequada. Se alguém, portanto, é realmente

miserável; é por sua própria culpa; e ele somente tem

a culpa. No entanto, quão poucos comparativamente

são felizes, mesmo naquele nível inferior que pode

ser obtido por nós neste mundo presente! Quão

pequeno é o número cujo aspecto e conversa nos

levam a inferir que estão satisfeitos, ou mesmo

moderadamente satisfeitos! Há outros com uma

pressa em seu passo; uma ansiedade, para não dizer

uma tristeza, em seu olhar; um tom de queixa na sua

língua; uma inquietação em seus hábitos; uma

mudança perpétua em seus prazeres, que indicam

claramente; que eles não são felizes, e não sabem o

que a felicidade significa, ou como ela deve ser

procurada.

Posso atribuir e explicar imediatamente a razão, por

que isso é assim; ou, antes, vou citar a linguagem do

próprio Deus, que, ao se dirigir aos judeus, revelou o

segredo. "Meu povo", disse ele, "fez duas maldades: a

mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e

cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que não

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retêm as águas." Sim, lá está. O homem foi criado

para o gozo de Deus! Sua alma queria, e ainda quer,

um objeto infinito para amar, servir e deleitar-se; e

nada menos pode satisfazê-lo. Deus ofereceu, e ainda

se oferece para o gozo do homem; mas em vez de

servir ao seu Criador, o homem serve a si mesmo e,

em vez de buscar a sua felicidade no favor de Deus,

procura-a em outras fontes. Assim ele deixa a fonte

sempre cheia e fluindo; e cava uma cisterna que

quebra sob a sua mão; vive como vítima descontente

de sua insensatez e pecado ao afastar-se de Deus para

a criatura; e morre com o triste lamento de Salomão:

"Vaidade de vaidade, tudo é vaidade e aflição de

espírito".

(Nota do tradutor: Neste ponto é possível que alguns

estejam pensando em não prosseguir com a leitura,

uma vez que parece que o autor foi direto demais,

simplista demais, em atribuir a causa da felicidade

humana a Deus, como inferindo que o que se está

propondo seja o ato de abraçar alguma forma de

religião dentre as muitas existentes para que possa

ser feliz afinal. Todavia, seria aconselhável avançar

um pouco mais e ver em que o autor fundamenta os

seus argumentos, e por que afirma que é somente em

Deus que se pode encontrar a verdadeira e

permanente felicidade.)

Será admitido por todos, que Adão foi perfeitamente

feliz no Paraíso antes de sua queda. Não havia

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lágrimas nos olhos; nenhum cuidado enrugou sua

testa; nenhum medo perturbou sua paz; nenhum

gemido escapou de seu peito. Estava em repouso. Ele

se levantava de manhã sem temor; passava o dia sem

um sentimento de necessidade; e deitava-se à noite

sem um suspiro. O sol perpétuo dourava seu

semblante, e uma serenidade tranquila reinava em

sua alma. O que o fazia feliz? Não era companhia,

pois um único sócio de sua felicidade compartilhava

com ele o mundo novo criado; não os prazeres da

mesa, pois ele só comia dos frutos que cresciam ao

seu redor e bebia das fontes que regavam o jardim;

não eram divertimentos públicos, pois não tinham

existência; nem música, pois, à exceção do coro

emplumado do bosque, havia apenas uma voz além

da sua, e nenhum instrumento na terra; nem as artes,

pois não haviam sido inventadas; nem ciência, pois

não tinha começado suas descobertas; nem

literatura, pois não tinha começado seus estudos. No

entanto, apesar da ausência de todas essas fontes de

satisfação de que o homem caído depende para a

pouca felicidade que tem, o homem perfeito e não

caído era feliz. E o que o fazia assim? O gozo de Deus!

Ele olhou para o céu com olhos filiais e disse: "Ó

Deus, tu és o meu Deus, o teu favor é a vida, e a tua

benignidade é melhor do que a própria vida!" (Nota

do tradutor: era a comunhão perfeita do seu espírito

com o espírito de Deus que o fazia sentir-se pleno de

felicidade, e esta é ainda a única causa da real

felicidade válida para qualquer pessoa. Deus é luz e

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Adão andava na luz, pois não havia nele, até então,

qualquer pecado. Agora, como o pecado habita

mesmo nos crentes piedosos, eles sempre terão uma

felicidade marcada por muitas tristezas, pois a que é

plena e da qual Adão desfrutou, eles terão somente

no porvir, quando forem completamente perfeitos, e

sem pecado, conforme é a promessa que têm em

Jesus Cristo.)

Pense também nos "espíritos de homens justos

aperfeiçoados" no céu. Eles não estão felizes? O que

os torna assim? Nenhuma das diversões da terra

estão lá; não existem festas alegres, nem cenas

festivas, nenhuma das delícias que agora agradam

aos devotos do prazer. Não, é respondido, pois é

impossível que eles se adequem a esse estado. No

entanto, esses seres santos são felizes. Qual é a fonte

de sua felicidade? O favor de Deus! Certamente que

deve ser a felicidade que foi desfrutada pelo homem

quando estava sem pecado no Paraíso; e será

apreciada pelo homem restaurado no céu.

Mas, talvez seja pensado e dito, que o que se

adequava ao homem sem pecado no Éden, e o

espírito sem pecado no céu, não convém ao homem

pecador na terra. Por que não? Por nenhuma outra

razão, isso pode ser imaginado, mas porque ele é

pecaminoso. Não pode ser porque o favor de Deus

não é adequado à sua natureza como uma criatura

racional; ou porque ele não tenha faculdades para tal

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tipo de prazer. O que pode ser mais adaptado à

natureza de uma mente finita do que o desfrute do

favor da mente infinita? Se, portanto, a alma do

homem não pode desfrutar de Deus, isso deve ser,

não de qualquer causa natural que é desculpável, mas

de alguma causa pecaminosa; e quão pecaminoso

deve ser? Que degradação da natureza é não ter

gosto, nem disposição para o gozo de Deus; afastar-

se do nosso Deus para a felicidade; não ter nenhuma

inclinação para procurá-la nele! Preferir muitas

coisas, qualquer coisa, menos o favor de Deus, como

fonte de felicidade! Quão surpreendente é isto!

Mas olhemos agora para a passagem do Salmo que

está na introdução deste tratado. Ela nos apresenta

duas classes de pessoas claramente distintas, que

descreverei por designações muito usadas e

geralmente entendidas. "As pessoas do mundo" e "o

povo de Deus". Cada classe é marcada por suas visões

peculiares sobre o assunto da felicidade.

No "muitos estão dizendo: quem pode nos mostrar

algum bem?" Reconhecemos imediatamente as

pessoas do mundo. Observe o que eles querem, e

estão perguntando a respeito do bem. Com isto

devemos entender, algo que satisfaça, algo que é

adaptado para dar contentamento e prazer. Não há

nada de errado em tal desejo. É a investigação

instintiva e natural de uma criatura dependente e

racional. Cabe a Deus somente ser a fonte de Sua

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própria bem-aventurança, e conter todas as fontes de

felicidade em Si mesmo. Deus, e Ele somente, é

autossuficiente. Todos os seres criados são

dependentes, não apenas da existência, mas da bem-

aventurança. O homem, especialmente como uma

criatura caída, deve olhar para fora de si mesmo. Ele

deve viajar, por assim dizer, de casa para o bem. Este

desejo e indagação pelo "bem" não é nem virtuoso

nem mau, não tem caráter moral, mas é

simplesmente um instinto. É certo ou errado de

acordo com a escolha que fazemos para satisfazer o

desejo. É uma necessidade positiva, absoluta e

incontrolável de nossa natureza desejar ser feliz; pois

é impossível desejar o contrário. Em comum,

portanto, com o povo de Deus, o povo do mundo

deseja o bem.

Mas observe também a indefinição da investigação;

qualquer bem. Agora o que deveria ter sido a

pergunta? O que deveria agora ser a investigação de

toda criatura racional? Eu respondo que deveria ter

sido isto: "Quem nos mostrará o bem? Diga-nos qual

é o bem principal? Instrua-nos qual é o bem que as

nossas almas necessitam, que Deus providenciou

para nós, e que, quando possuído, nos satisfará?"

Não é evidente que tal seja a natureza e o objeto de

nossas investigações? Deveríamos estar satisfeitos

com qualquer coisa, adequada ou inadequada,

satisfatória ou insatisfatória? É digno de um ser

pensante, em referência a um assunto tão importante

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como sua própria felicidade, partir com um guia tão

vago como aquela palavra "qualquer", em busca da

bem-aventurança? Não devemos instituir uma

investigação mais rígida e ansiosa sobre a

constituição, condição, desejos, desgraças e

capacidades de nossas almas; e também nas

provisões que Deus fez para nosso contentamento e

gozo? Se não houvesse meios de averiguar essas

questões; ou se todas as coisas estivessem

igualmente adaptadas para nos satisfazer, então seria

racional seguir nossas próprias fantasias; mas

quando há o perigo de que as sombras possam ser

perseguidas em vez de substâncias e veneno pode ser

tomado em vez de comida; devemos ser mais

inteligentes, discriminativos, definidos e resolvidos

em nossa escolha.

(Nota do tradutor: Imagine este mundo como sendo

apenas um palco de aperfeiçoamento ou ruína de

espíritos.

Desde Adão o espírito humano é aqui colocado por

Deus, certamente não com o propósito de ser

arruinado, senão de ser aperfeiçoado.

Sendo Ele o Pai dos espíritos, é impossível ter tal

aperfeiçoamento aparte dele, pois é somente na

comunhão com ele que se pode fazer o uso adequado

de todas as faculdades naturais ou espirituais, nas

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diversas circunstâncias que somos chamados a

vivenciar.

Um outro ponto importante a ser considerado é que

se não formos despertados pelo próprio Espírito de

Deus, jamais poderemos topar com o propósito real

e final de nossas vidas.

Sem esta revelação do Espírito somos cegos e mortos

para o referido propósito.

Uma indagação pode vir à nossa mente quanto ao

motivo de sendo Deus espírito, e tendo objetivado

que também fôssemos espirituais, por que nos dotou

de um corpo natural e nos colocou em mundo

natural?

Vejamos o que é dito pelo apóstolo Paulo:

"Sim, na verdade, tenho também como perda todas

as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo

Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas

estas coisas, e as considero como refugo, para que

possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo

como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem

pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus

pela fé." (Filipenses 3: 8, 9).

Muito pode ser depreendido destas palavras, mas

elas apontam sobretudo para o fato de que uma vez

tendo sido descoberta a excelência da vida espiritual

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que há em Jesus Cristo, tudo o mais que nos rodeia

neste mundo, seja em bens materiais, honras,

intelectualidade, saúde física etc, deixa de ocupar o

centro de nossas aspirações e interesses, pois

passamos a ter o nosso entendimento iluminado para

a grande verdade de que tudo o que é visível e

passageiro se destina apenas a provar a nossa fé, e a

indicar o quanto nosso coração tem sido de fato

conquistado pelo Senhor, em vista do valor que

atribuímos às coisas do mundo ou à Sua pessoa

divina, e tudo o que recebemos em nossa própria

transformação espiritual em decorrência de nosso

relacionamento com ele.

Numa avaliação apressada poderíamos pensar que o

mundo material se destina a aperfeiçoar o nosso ser

espiritual pela forma como usamos as coisas e nos

comportamos diante das circunstâncias, mas é muito

mais do que isso, pois podemos aprender a ser gentis

e não avarentos, por não retermos os bens materiais,

mas usá-los também para atender às necessidades de

outros. Mas, sabemos que é possível fazer isto e não

ter contudo qualquer comunhão com Cristo, e desta

forma, nenhum aperfeiçoamento espiritual seria

decorrente do referido comportamento.

A gentileza, apesar de ser um dos componentes do

amor, deve estar baseada em motivos divinos para

que seja de fato espiritual, pois somente assim, visará

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à Sua glória exclusivamente, e não a qualquer outro

interesse egoísta daquele que é supostamente gentil.

A este respeito, quantos não se enganam como o

próprio apóstolo Paulo antes da sua conversão,

pensando que Deus lhes deve uma grande

recompensa em razão das obras da lei que eles

praticam. Paulo chegou até o extremo disso, a ponto

de perseguir os cristãos por pensar que eram

seguidores de um falso profeta chamado Jesus.

Todavia, estava cego para a verdade de que pela mera

prática das obras da Lei nenhuma recompensa de

vida nos aguarda, senão o salário da morte, pois a Lei

condena a todos os que não guardam os seus

mandamentos perfeitamente, ou seja, a todos os

homens, pois não há quem ame perfeitamente a Deus

e ao próximo durante todos os dias e minutos de suas

vidas. Uma só transgressão o torna culpado e digno a

uma condenação eterna no inferno de fogo.

Há somente uma forma de termos uma recompensa

futura que nos seja favorável, e esta é decorrente

exclusivamente da nossa união com Jesus Cristo, que

é da parte de Deus para nós a nossa justiça, redenção,

sabedoria e santificação. Sem ele, nada somos ou

temos, que seja de valor eterno e aprovado.

Ele é a árvore da vida que estava no centro do Jardim

do Éden, de cujo fruto Adão deveria comer com um

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coração obediente, para que vivesse eternamente em

comunhão com Deus.

Todo aquele que se alimenta do fruto desta Árvore

bendita – Jesus - pela fé nele, tem a vida eterna, e

terá o seu entendimento iluminado para conhecer e

fazer a vontade de Deus.

Concluímos portanto, que por mais que se tenha de

tudo o que pertence ao mundo, quando falta esta

única coisa que é necessária, pode-se dizer do seu

detentor que é pobre, miserável, cego e nu, pois lhe

falta o que é essencial, que é o conhecimento e posse

da fonte da vida eterna.

O Espírito Santo, que é esta fonte que flui no coração

do crente – é ele quem tudo opera quanto a esta vida

espiritual que deve ser vista em nós. Sem a

verdadeira fé em Jesus Cristo não pode haver a

habitação, a unção, a regeneração, a renovação e a

santificação que são operadas pelo Espírito.

De modo que devemos não apenas viver pelo

Espírito, mas andar no Espírito continuamente, pois

é Ele que aperfeiçoa o nosso espírito, pela

instrumentalidade da Palavra de Deus.

Mas, fiel é o que prometeu completar a boa obra da

santificação que começou em nós na conversão.

Ainda que seja por meio de correções dolorosas

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presentes ou até mesmo pelo extremo da morte

física. Ele jamais deixará de realizar o Seu trabalho,

pois é paciente e longânimo, de modo que sendo

tardio em se irar, pode suportar muitas falhas e

fraquezas em seus servos, sem no entanto, jamais

aprová-las.

O crente pode viver apaticamente, de forma

negligente, e isto sempre entristecerá e apagará a

ação do Espírito Santo, em manifestações de Seu

fruto em sua vida. Importa pois, ser diligente e se

esforçar em vigilância, oração, meditação na Palavra,

em santificação no cuidado com suas palavras,

pensamentos e ações. Mas, se vier a falhar, Deus

cumprirá o Seu propósito eterno, ainda que o crente

fique privado de muitas consolações divinas e do

galardão futuro. O pecado será por fim vencido e a

graça triunfará completamente e o Senhor receberá

toda a honra, glória e louvor.

Tenhamos pois, a mesma paciência que há em Deus,

em relação àqueles que são fracos no corpo de Cristo

presentemente, sabendo que ainda que demore até

mesmo anos, Deus os conduzirá a uma melhor

condição, se continuarmos nos estimulando ao amor

e às boas obras, segundo a prática de tudo o que nos

é ordenado na Sua Palavra.)

Mas não é este o caminho da multidão? Terão alguma

noção precisa da verdadeira felicidade, quer quanto

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à sua natureza, às suas fontes, quer ao modo de obtê-

la? A grande questão "O que é bom?" É para eles

instável. Todo o assunto está para eles envolvido em

escuridão impenetrável. E, portanto, eles estão

correndo para cima e para baixo no mundo, e no

meio da confusão de muitas vozes ouvimos apenas

um som distinto e prevalecente, e que é "qualquer

bem". O que eles querem além da noção vaga de

felicidade, eles não podem te dizer. Supõe-se que é

riqueza; outro, posição; outro, fama; outro, prazer;

outro, amizade; outro, conhecimento; outro amor; e

outros, perpetuamente mudando sua opinião,

concluem que é tudo isso em conjunto. Nada tem

mais dividido e perturbado as mentes dos homens do

que a natureza da suprema felicidade. Varro, um

erudito pagão, contava mais de duzentas opiniões

sobre este assunto que existiam em seu tempo; uma

ilustração impressionante da expressão; e muitos

comentam; muitos dizem: "Quem pode nos mostrar

algum bem?" E não menos convincente se prova a

necessidade de um oráculo infalível para decidir a

questão; de uma revelação celestial para resolver o

mistério. O oráculo foi proferido; a revelação foi

dada, e ainda "os muitos" com a resposta em sua

posse, ainda estão perguntando por "qualquer" bem.

Você não pode deixar de ficar impressionado com a

sensualidade da pergunta "Quem nos mostrará

algum bem?" Utilizo o termo "sensualidade", não em

seu sentido grosseiro, como importando a

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indulgência dos apetites inferiores de nossa natureza

animal, mas em um significado um tanto mais

refinado, como significando o exercício da mente em

objetos do sentido, distintos dos objetos de fé. Para

tais objetos a investigação é dirigida; é um desejo por

algo ser visto ou ouvido, ou manuseado,

experimentado ou sentido; algo que pode ser

conhecido e apreendido além de qualquer revelação

especial de Deus; e que é adaptado aos nossos

sentidos, apetites e propensões como seres físicos, e

como colocados neste presente estado terrenal.

Não é isso também mais precisamente descritivo da

disposição, ideias, gostos e perseguições da grande

maioria da humanidade? Eles não têm uma noção de

felicidade, senão o que está associado com algo visto

e temporal. Eles vivem em um mundo de sentido, não

apenas quanto à sua posição natural, e sua habitação

corporal, mas igualmente para todos os exercícios de

suas mentes. Eles não têm nenhuma concepção de

qualquer felicidade, que não venha de objetos de uma

natureza terrena; eles se importam somente com as

coisas terrenas. Suas alegrias e suas tristezas; suas

esperanças e seus medos; suas aspirações e aversões;

são todos despertados e sustentados pelo que pode

ser mostrado; como objetos de sentido.

Agora deixe-me perguntar: isso é racional? Somente

na suposição, certamente, de que este mundo visível

é o todo que constitui o ser; a soma total da existência

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do universo. Mas é assim? Você sabe que não é. Você

sabe que há "coisas invisíveis e eternas", quer as olhe

ou não. O mundo visível, em comparação com o

invisível, é apenas como a folha em que o inseto passa

sua existência de curta duração e que é toda a região

que vê ou conhece; em comparação com o grande

globo que habitamos; ou como a única gota de água,

em que uma comunidade de organismos

microscópicos encontra o único mundo que eles

conhecem; em comparação com o oceano sem

limites. Que simplicidade de linguagem, e que

sublimidade de sujeito existe na expressão: "O que é

invisível e eterno!" Mas como, pode-se perguntar,

sabemos algo sobre esse mundo invisível? Pela

revelação das Escrituras. E torná-lo conhecido é o

grande desígnio do volume inspirado. A Escritura

revela um Deus invisível, um Salvador invisível, um

Céu invisível, um inferno invisível, uma eternidade

invisível, anjos e espíritos invisíveis; e todos estes são

apreendidos não pelo sentido, mas pela "fé que é a

substância das coisas esperadas, e a evidência de

coisas não vistas."

Considere que estamos tão seguros da existência de

um mundo invisível e de seus objetos, como podemos

ser visíveis. A excelência invisível é infinitamente

maior do que a que é visível, pois os objetos em si são

infinitos. Estamos, na realidade, muito mais

preocupados com o que é invisível do que com o que

é visível. Sim, as coisas invisíveis de outro mundo são

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capazes, a partir de suas próprias naturezas, de

serem mais conhecidas por nós, e podemos estar

mais familiarizadas com elas em alguns aspectos do

que podemos estar com aquelas que apelam aos

nossos sentidos. Pense no grande e bendito Deus,

nosso Criador, Preservador e Benfeitor; habitando

sua própria eternidade, enchendo a imensidão,

possuindo em plenitude infinita todas as fontes do

ser, da vida, da sabedoria, do poder, da bondade, da

santidade e de tudo o que seja perfeição e glória que

possamos conceber. Contemple o Senhor Jesus

Cristo, a imagem do Deus invisível; o brilho da glória

de seu Pai, e a imagem expressa de sua pessoa; o

Salvador dos homens; o Cabeça da Igreja; o

Governante do universo. Eis a salvação que está em

Cristo Jesus com glória eterna. Olhe para o Céu, a

região da imortalidade, o mundo da luz sem nuvens,

a santa habitação do Deus eterno, onde Cristo está

sentado à direita do Pai; com a inumerável

companhia de anjos e os espíritos de homens justos

aperfeiçoados, herdando uma plenitude de alegria

em sua presença. São essas as realidades; e não

temos nenhuma preocupação com elas? O que, existe

um Deus que, embora invisível, está tão perto de nós,

que ele pode estar familiarizado conosco onde quer

que vá, e assim que estamos dispostos a estar com ele

o encontramos conosco?

"Assim que fechamos os olhos sobre as coisas vistas

e temporais, e nos ausentamos em nós mesmos, com

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um projeto para conversar com ele, ele está

imediatamente presente conosco, e é muito fácil

conversar com ele. Assim que pensamos que estamos

com Deus, e Ele conosco, em um abrir e fechar de

olhos nós o encontramos. Nós olhamos para Ele e

somos iluminados, com um relance de olhar a alma

pode ser cheia de felicidade, e reabastecida com uma

luz divina, celestial e vital." (Nota do tradutor:

enquanto nos mantivermos endurecidos à recepção

de Jesus, a nos arrependermos de nossos pecados, a

crer na Sua Palavra nas Escrituras, e por conseguinte,

se ficamos sem a habitação e a unção do Espírito

Santo, é impossível vislumbrar o mundo espiritual na

forma como o autor o descreve, pois tudo isto é

somente possível de ser revelado a nós pela operação

do Espírito Santo.)

É todo esse fato, e não veremos e admitiremos a

insensatez e o pecado de virar as costas para tal

mundo; de vagar longe de tais fontes de prazer, com

a indagação, "Quem nos mostrará algum bem?" Isso

tudo não é nada, porque não pode ser visto senão

pelo olho da fé? O que constitui a glória destes

objetos, quero dizer, sua invisibilidade, será o

fundamento e a razão para desprezá-los? Será que

eles serão abandonados e esquecidos porque não são

visíveis aos olhos, ou audíveis ao ouvido, ou palpáveis

ao toque? Oh, é isso que os que, de acordo com sua

dupla natureza de corpo e espírito, estão colocados

nos confins de ambos os mundos, o país fronteiriço

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dos estados visíveis e invisíveis, que essas criaturas,

tão terrível e maravilhosamente criadas e tão terrível

e maravilhosamente colocadas, devem procurar a sua

felicidade apenas no visível e material, no mortal e

corruptível, em vez de no invisível e imaterial, no

imortal e incorruptível? Que todas as suas excursões

e pesquisas pela bem-aventurança, não sejam feitas

no mundo invisível e eterno, por meio da fé, mas no

mundo que é visto e temporal, pelo auxílio dos

sentidos? Criadas com mentes racionais e imortais;

feitas para serem criaturas da razão, e não do sentido,

e da fé ainda mais do que da razão; devemos abjurar

a nossa alta distinção, deixar de lado nossa

prerrogativa, e por uma degradação voluntária, e

descida voluntária, descer e colocar-nos ao nível do

ateu, que diz: "Comamos e bebamos, porque amanhã

morreremos?"

É necessário indicar o resultado de um curso como

este? Salomão o proclama; "Vaidade de vaidades,

tudo é vaidade, todas as coisas estão cheias de

trabalho, o homem não pode pronunciá-lo, o olho

não está satisfeito com ver, nem o ouvido cheio de

ouvir". Oh, com que ênfase amarga de enunciados

aqueles que viveram e morreram estranhos às

bênçãos da verdadeira religião, e o amor de Deus;

que procuravam todos os seus prazeres do mundo

visível; que se contentavam com o que lhes podia ser

mostrado; que cavaram suas cisternas quebradas que

não podiam conter água; com que ênfase amarga de

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expressão, digo, se eles pudessem ouvir sua voz além

do abismo intransponível, e se certificarem da

verdade do veredicto; tudo é vaidade! Embora

advertido por vozes solenes de fora, e sussurros

suaves e inteligíveis de dentro; embora admoestados

por acontecimentos impressionantes na história dos

outros, e pela dolorosa experiência em si mesmos,

eles ridicularizaram a vida procurando a gratificação

do sentido, em vez das alegrias da fé. Cada período

de existência, e cada mudança de situação,

encontrou-os incitando a investigação, "Quem nos

mostrará algum bem?" Nenhuma decepção curou

sua loucura, nenhuma experiência corrigiu seu erro.

O visível, e só isso, chamou sua atenção; eles

decidiram ter felicidade disso ou não ter alguma; e

eles morreram com a convicção sombria, se não com

a confissão sincera, que eles tinham vivido sem fé;

estranhos à felicidade.

Não que eu pretenda afirmar que ninguém se

considera feliz, e tem na realidade uma parcela

considerável de gozo, exclusivamente das coisas

visíveis. Muitos sem dúvida têm. Há certamente

algum prazer na gratificação dos apetites; no gozo da

saúde, amigos, propriedade, fama. Até os objetos

pecaminosos têm seus prazeres. Não poderia haver

poder na tentação se o pecado não produzisse prazer.

Mas o que é projetado em tudo que eu disse é que o

homem, como uma criatura racional, moral e

imortal; como um pecador sujeito às picadas de uma

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consciência de reprovação, e sob o desagrado do

Deus que ofendeu; como sujeito a todas as

vicissitudes de uma existência chorosa, e sempre

exposto ao medo e ao golpe da morte, precisa de algo

mais para sua felicidade do que aquilo que possa ser

encontrado nos objetos do sentido. Eles têm

necessidades que não podem satisfazer; desejos que

não podem satisfazer; aflições que não podem

aliviar; e ansiedades que não podem dissipar. Para

cada um que mesmo sendo toleravelmente bem-

sucedido em ganhar a felicidade dos objetos visíveis,

há muitos que falham completamente. Seus planos

são frustrados; suas esperanças perecem; seus

castelos construídos no ar desaparecem enquanto

viajam na vida; e cada um termina um curso de

mundanismo, adicionando outro aos milhões dos

exemplos que provaram ser vaidade.

Em alguns casos, a abundância e o gozo sem

obstruções produzem saciedade. Cansados dos

velhos prazeres, eles procuram novos, e suplicam a

frequente indagação: "Quem nos mostrará alguma

coisa boa?" A novidade talvez venha ao alívio de suas

mentes descontentes, inquietas e insatisfeitas; mas a

própria novidade em breve envelhece, e ainda algo

novo é desejado. Permanece um vazio dolorido no

seu interior, um apetite ansioso, com fome de

felicidade, insatisfeito, sem alimentação. Procuram

se alegrar em infinitas festas de prazer, em todos os

lugares de diversão; na dança e no jogo; no teatro, e

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no concerto; em meio às cenas da natureza e às

mudanças de viagens no estrangeiro; mas a

felicidade, como uma sombra que sempre voa diante

deles, e sempre ultrapassando sua compreensão,

tentando-os com sua forma, sem lhes render sua

substância, excita suas esperanças apenas para

decepcioná-los.

Tal é a consequência de buscar a felicidade somente

a partir dos objetos do sentido. Este raciocínio será

retomado em uma parte subsequente do tratado.

Passo agora à outra classe de pessoas que nos são

apresentadas no texto que estamos considerando e a

quem chamei de o povo de Deus, porque são assim

reconhecidas nas Sagradas Escrituras. Quero me

referir àqueles que vivem pela fé; que são nascidos de

novo do Espírito; e amam a Deus supremamente,

habitualmente e praticamente. Eles também têm um

desejo pelo bem, ou felicidade; e ainda mais, eles

sabem o que é, onde ela deve ser encontrada, e como

ela deve ser obtida, e eles também a possuem e

desfrutam, pelo menos em seu começo. Você ouviu a

oração da outra classe, agora ouça a deles. "Senhor,

ergue a luz do teu rosto sobre nós!" Tal é o seu desejo,

e tal a sublimidade de seu objeto. Na suposição de

que sua petição foi ouvida e concedida, e na verdade,

na consciência de que possuem a bênção que eles

buscaram, eles declaram que experimentam uma

alegria muito superior à alegria com que os homens

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do mundo se regozijam nas fontes de sua riqueza;

uma alegria, brilhante e pura, e serena como a região

de onde desce: "Tu colocaste mais alegria em meu

coração do que quando seu grão e vinho novo

abundam!"

É necessário dizer que à luz do semblante de Deus se

entende o seu favor? A luz do semblante, o brilho do

rosto, é um sorriso, e um sorriso é o símbolo do

deleite. É, portanto, como se o salmista tivesse dito:

"Que a multidão, em sua preocupação ignorante em

busca da felicidade, busque sua felicidade de fontes

terrenas e de objetos de sentido; quanto a mim, ó

Deus, eu vejo e obrigado por ter por tua graça me

permitido ver que a verdadeira bem-aventurança só

pode ser encontrada no gozo de tua graça. Contigo

está a fonte da vida, e só na tua luz posso ver a luz. A

felicidade da minha existência!"

Observe, então, que o povo de Deus considera seu

favor como sendo o próprio elemento de bem-

aventurança para uma criatura racional e imortal.

Isto é! Pois, como já mostrei, foi a felicidade de Adão

no Paraíso, e é a felicidade dos anjos e santos no céu.

É uma pergunta que vale a pena perguntar, e deve ser

perguntada; uma vez que o homem como pecador

está sob o desgosto de Deus, como ele pode se tornar

um objeto da Divina consideração; e de que modo

aqueles que eram por natureza filhos de sua ira

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podem se tornar filhos e filhas de seu amor? O Novo

Testamento explica o mistério. "Pois, quando ainda

éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos

ímpios. Porque dificilmente haverá quem morra por

um justo; pois poderá ser que pelo homem bondoso

alguém ouse morrer. Mas Deus dá prova do seu amor

para conosco, em que, quando éramos ainda

pecadores, Cristo morreu por nós. Logo muito mais,

sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos

por ele salvos da ira. Porque se nós, quando éramos

inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte

de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados,

seremos salvos pela sua vida." (Romanos 5: 6-10).

Plano maravilhoso! Glorioso plano de misericórdia

infinita! Este é o amor, sua manifestação mais

brilhante, seu louvor mais rico! Deus é amor, e aqui

Ele mostra ao universo tudo o que Seu amor pode

fazer. Não é de admirar que o Apóstolo tenha orado

pelos crentes de Éfeso, para que eles "pudessem

compreender o que é a largura, o comprimento, a

profundidade e a altura, e conhecer o amor de

Cristo." O povo de Deus (e assim se tornaram tais),

creram no amor que Deus tem para com eles. Eles

deram credibilidade ao Evangelho que declara a

verdade maravilhosa, e têm, por meio da fé somente,

sido reconciliados com Deus. A inimizade da mente

carnal neles, foi morta pela fé na cruz de Cristo; e

agora eles amam a Deus, porque Deus primeiro os

amou. Um novo mundo lhes foi aberto em suas visões

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de um Deus de amor, e em suas apreensões do amor

de Deus. Aquele novo mundo em que eles entram

pela fé e quando objetos de contemplação, fontes de

interesse e fontes de consolação se apresentam à

mente deles, eles retomam o exultante esforço do

apóstolo, enquanto eles provam algo de seu deleite:

"Deus proíbe que eu me glorie salvo na cruz de nosso

Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está

crucificado para mim, e eu para o mundo." Esta é

agora a sua felicidade, o favor de Deus; e esta é a

maneira pela qual eles a ganharam, pela fé em nosso

Senhor Jesus Cristo.

Nisto você vê algo DEFINITIVO. O filho de Deus é

decidido em sua escolha; fixado em seu objetivo;

resolvido em seu propósito; e estabelecido em seus

planos. As névoas da ignorância rolaram e

apresentaram-lhe o objeto do desejo de seu coração;

uma fonte de felicidade, próxima, certa e satisfatória.

O suspense está no fim. A incerteza acabou. "Aqui

está!" Ele exclama; "É isso mesmo, a única coisa que

preciso; toda a minha alma pode desejar; provida por

Deus; de forma satisfatória, infinita, eterna; o amor

de Deus em Cristo!"

E como é algo definitivo, então é algo ADEQUADO;

exatamente o que o homem precisa; algo para a

mente, para o coração, para toda a alma; a

restauração para ele, do que ele possuía e desfrutava

quando ele veio fresco e puro da mão de seu Criador

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no Paraíso; e para a qual ele foi de fato criado, mas

que perdeu pela queda; o que o levou de volta à

árvore da vida no meio do jardim, para se banquetear

novamente com seus preciosos frutos. O que é tão

apropriado para o espírito do homem como o amor

de Deus; de fato, onde há algo que lhe convém, senão

isso? Quais são todos os prazeres do tempo e do

sentido, todos os objetos deste mundo visível; para o

coração do homem; mas como a queda de seixos em

um abismo profundo, que, em vez de enchê-lo,

apenas dizem-lhe o quão profundo é, despertando os

sombrios ecos do vazio e da desolação?

Não, nada mais que a reconciliação a Deus e o

retorno do espírito filial através da fé em Jesus Cristo

para desfrutar o sorriso e ter a certeza do amor do Pai

dos espíritos, pode ser sempre considerado uma

felicidade adequada para qualquer dos descendentes

de Adão. Isso o cristão tem. Ele sente os braços do

amor eterno ao seu redor, e é sustentado pelo

envolvimento destes; ele olha para cima para

encontrar a luz do semblante de Deus irradiando

sobre ele, e ouve no mesmo momento as palavras

graciosas que caem dos lábios de benignidade

infinita: "Eu te amei com um amor eterno, por isso

com afeto eu te atraí."

Este é realmente o "bem principal"! A felicidade

suprema, boa no pleno significado, e na mais

profunda ênfase da palavra. Que ser podemos

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encontrar maior do que Deus, para nos fazer felizes;

e o que podemos encontrar em Deus que é maior do

que o Seu amor? O sorriso de Deus é a luz do dia, sim,

a glória do céu no meio-dia, em que os espíritos

remidos se aquecem, e os anjos espalham suas asas e

voam com êxtases desconhecidos para nós. O mais

alto e o mais baixo intelecto se encontram aqui como

em seu centro comum. Tanto a razão como a

revelação proclamam que o bem supremo de todo ser

racional e moral deve ser o gozo de Deus.

(Nota do tradutor: muito desta felicidade que

provém da pessoa de Deus consiste no gozo de

vermos crescer gradualmente em nós a graça de

Cristo, tornando-nos semelhantes ao seu precioso

caráter, e quão prazeroso é isto. Adquirir aquela

paciência que habita na essência da divindade e pela

qual aprendemos a ser como Deus, também tardios

em nos irarmos, a ser pacientes com as fraquezas

daqueles que amamos e nos quais desejamos ver

Cristo ser também formado. Ter o fruto do Espírito

Santo sendo implantado em nós de forma gradual e

progressiva, de maneira que se veja em nós o amor, a

paz, a bondade, a benignidade, a alegria, a mansidão,

o domínio próprio, a fé, a misericórdia, a justiça,

assim como eles habitam em Cristo. Além de tudo

isso, o consolo divino na tribulação, a força na

fraqueza, a sabedoria e a direção na escuridão, e tudo

o mais que nos torna vitoriosos sobre o mundo, sobre

o pecado e o Inimigo de nossas almas. Quanta

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felicidade há em vermos o pecado sendo

enfraquecido cada vez mais em nós, em todas as suas

formas de manifestação de impureza, cobiça, ira etc,

e a graça se tornando cada vez mais forte.)

Quão consoante é tudo isso com o que a razão nos

ensina sobre a natureza do bem principal; o que

demonstra que, qualquer que seja; deve incluir as

seguintes características: deve ser algo que todos os

homens podem possuir; deve ser um e o mesmo para

toda a humanidade; deve ser algo que, embora em si

próprio para tornar o possuidor feliz, não é impedido

em seu funcionamento por outra coisa que o impeça

de desfrutá-lo; deve ser uma coisa que não é

dependente de qualquer outra, mas todas as outras

coisas devem ser abraçadas por causa dele; deve ser

imutável, e não variar com as estações e

circunstâncias em mudança pelas quais os homens

sejam chamados a passar; e deve ser suficiente para

proporcionar uma felicidade adequada às

capacidades da natureza humana, e de igual duração;

não deve ser perfeito enquanto durar, mas eterno.

Ninguém, seguramente, sustentará que qualquer

coisa pode ser o supremo bem do homem, no qual

estes critérios não possam ser encontrados; ou negar

que seja em que todos se unem. De acordo com esses

caracteres, podemos inferir que nem o prazer, nem a

riqueza, nem a saúde, nem mesmo a própria virtude,

constituem o bem principal. Essa alta distinção

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pertence ao favor de Deus, obtido por meio da fé em

Cristo. A isso se aplicam todos os critérios, todos os

homens a quem vem o Evangelho são convidados a

possuí-la; é um e o mesmo para todos, para o

selvagem e para o sábio, para os ricos e para os

pobres, para os jovens e para os velhos; é

independente das circunstâncias externas e pode ser

desfrutado na doença, na saúde, na pobreza, como na

riqueza, na solidão como na sociedade, na prisão

como no palácio, na morte como na vida. Nada além

de ser necessário para desfrutá-lo existe por si

mesmo, subordinando todas as outras fontes de

prazer à sua própria supremacia, e comunicando-

lhes de sua própria plenitude infinita, uma

capacidade ilimitada para nos fazer felizes. Sendo

infinito, é mais do que adequado à nossa natureza, e

sendo eterno, é igual à nossa duração.

(Nota do tradutor: A felicidade que decorre do

evangelho não está desprovida de tribulações, e

muito da alegria do crente consiste em se gloriar

nestas tribulações, pois é por meio delas que a sua fé

é refinada e ele mesmo transformado em seu caráter

de modo a poder participar mais efetivamente da

santidade de Deus, e por conseguinte, da comunhão

com Ele. Assim, vemos que a natureza da felicidade

que procede de Deus não pode excluir aquilo que o

mundano considera como sendo a própria

infelicidade, a saber, a tribulação. Não podemos

esquecer que sendo pecador, o crente está em

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processo de restauração, e não há outro meio pelo

qual possa ser restaurado à imagem de Cristo, senão

por meio da provação da fé.)

Como exatamente o bem providenciado para o

homem pela revelação das Escrituras, concorda

então com o que a razão demonstra ser necessário

para ele! Que qualquer homem dê à alma humana,

com todas as suas faculdades de intelecto, vontade,

coração, consciência, memória e conhecimento

limitado, sua mais profunda atenção e estudo mais

profundo; que ele entenda a profundidade de sua

capacidade, e meça a altura de suas aspirações; que

ele atenda aos seus anseios pelo que é infinito, eterno

e imutável; que leia o registro de seus

desapontamentos, bem como o diário de suas

experiências e suas descobertas; acima de tudo, que

faça tudo isso em relação àquela alma que é parte de

sua própria natureza, e com a qual se pode supor que

ele esteja mais intimamente familiarizado do que

com qualquer outra alma; e diga, se não seria um

insulto e um escárnio oferecer a um ser como este,

convidá-lo a qualquer outra fonte de felicidade, do

que o favor de Deus? Deixe-o, quando estudou a si

mesmo, e quando descobriu que tem realmente uma

capacidade para desfrutar o infinito, eterno e

imutável; e de fato pode ser satisfeito com nada

menos; estudemos a natureza de Deus, como ele é

revelado, não apenas nas cenas da natureza, que são

suas manifestações menos gloriosas, mas nas

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páginas do Novo Testamento, onde todo o seu Nome

aparece completo; que ele pense na infinita coleção

de excelências morais que compõem o caráter desse

Grande Ser que chamamos de Deus; lembra-te de

que é o projeto de todo o plano da misericórdia

redentora abrir um caminho honrado ao próprio

Deus, trazer de volta o homem apóstata ao favor de

Deus e que cada página do registro inspirado está

inscrita com um convite à nua, faminta e degradada

alma pródiga do homem, para retornar aos braços, à

casa e ao coração de seu Divino Pai; e então diga, se

não for verdadeiramente um ditado de boa razão,

como é uma lição de verdadeira religião, que a

felicidade do homem deve consistir no favor de Deus,

obtido por meio da fé em nosso Senhor Jesus Cristo.

Vocês viram, então, as duas classes, e suas

respectivas fontes de prazer; agora façamos uma

COMPARAÇÃO entre elas.

Olhe para o mundano. Será que ele teve sucesso em

sua busca pela felicidade? Ele está satisfeito? Que ele

possua tudo o que procura, tudo o que deseja, tudo o

que a terra pode fornecer; que se acrescente riqueza

à riqueza e fama a ambas; deixe uma série constante

de divertimentos da moda, cenas festivas e festas

elegantes, seguirem em sucessão infinita, até que seu

copo esteja cheio e transbordante; e o que tudo isso

significa? Salomão deve novamente dar provas e

responder à pergunta.

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"1 Disse eu a mim mesmo: Ora vem, eu te provarei

com a alegria; portanto goza o prazer; mas eis que

também isso era vaidade.

2 Do riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve

estar.

3 Busquei no meu coração como estimular com vinho

a minha carne, sem deixar de me guiar pela

sabedoria, e como me apoderar da estultícia, até ver

o que era bom que os filhos dos homens fizessem

debaixo do céu, durante o número dos dias de sua

vida.

4 Fiz para mim obras magníficas: edifiquei casas,

plantei vinhas;

5 fiz hortas e jardins, e plantei neles árvores frutíferas

de todas as espécies.

6 Fiz tanques de águas, para deles regar o bosque em

que reverdeciam as árvores.

7 Comprei servos e servas, e tive servos nascidos em

casa; também tive grandes possessões de gados e de

rebanhos, mais do que todos os que houve antes de

mim em Jerusalém.

8 Ajuntei também para mim prata e ouro, e tesouros

dos reis e das províncias; provi-me de cantores e

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cantoras, e das delícias dos filhos dos homens,

concubinas em grande número.

9 Assim me engrandeci, e me tornei mais rico do que

todos os que houve antes de mim em Jerusalém;

perseverou também comigo a minha sabedoria.

10 E tudo quanto desejaram os meus olhos não lho

neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma;

pois o meu coração se alegrou por todo o meu

trabalho, e isso foi o meu proveito de todo o meu

trabalho.

11 Então olhei eu para todas as obras que as minhas

mãos haviam feito, como também para o trabalho

que eu aplicara em fazê-las; e eis que tudo era

vaidade e desejo vão, e proveito nenhum havia

debaixo do sol." (Eclesiastes 2: 1-11).

Não há multidões desde o tempo de Salomão que

fizeram a mesma confissão melancólica? Não é uma

admissão geral de que o prazer dos objetos

mundanos surge mais da esperança e da antecipação

do que da possessão? São como bolhas bonitas, que,

enquanto flutuam, refletem as cores do arco-íris; mas

dissolvem-se e desaparecem quando agarradas!

Diga-me, devoto do bem terreno, você percebeu o

que você esperava? Não são as cenas de festa e

diversão recorrida, por muitos com corações

doloridos? O rosto sorridente não costuma esconder

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um espírito perturbado, e não é o riso que se recorre

a fim de suprimir o suspiro?

A história do Coronel Gardiner, que era uma vez

alegre, depois piedosa, e sempre corajosa, é uma

ilustração que comprova isso. "Sua boa constituição",

diz seu biógrafo, "deu-lhe grande oportunidade de se

entregar a excessos pecaminosos, e lhe permitiu

prosseguir em seus prazeres de toda espécie de

maneira tão alerta e entusiasta, que a multidão o

invejava e o chamava por um tipo terrível de elogio:

o feliz libertino.

Mas não! Tal associação não pode ser formada. Vício

e felicidade não podem ser unidos. Pode haver

gratificação, diversão, prazer, alegria, no pecado;

mas não felicidade. É uma profanação chamar o

prazer sensual pelo nome sagrado da felicidade; e é

uma impossibilidade de obter satisfação real e bem-

aventurança; do vício. Assim, encontramos o coronel

Gardiner, pois seu biógrafo continua o relato da

seguinte forma: "Ainda assim, apesar de sua

aparência alegre, as verificações da consciência e

alguns princípios remanescentes de uma boa

educação, interromperiam suas horas mais

licenciosas. Disse-me que quando alguns de seus

companheiros o felicitavam uma vez por sua ilustre

felicidade, um cão que passava naquela hora para

entrar na sala, não podia deixar de gemer

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interiormente e dizer a si mesmo: "Oh, eu era aquele

cachorro!'"

Tal era a sua felicidade, e tal é a felicidade de

multidões que não têm senão objetos de tempo e de

sentido para satisfazê-los. Enquanto parece haver

raios de sol no rosto, há uma densa nuvem negra que

ofusca seu espírito. Enquanto uma flor alegre pode

parecer florescer em cima da testa - lá há um espinho

para perfurá-lo. Eles são alegremente miseráveis,

suntuosamente infelizes, esplendidamente

miseráveis. E mesmo onde o coração não é assim

miserável, é inquieto e insatisfeito. Se não tem a dor

de um estômago doente, tem o desejo de um vazio.

Está sujeito a uma fome mórbida de felicidade, que

nada satisfaz. (Nota do tradutor: E como isto se

agrava à medida que a velhice se instala.)

O seguinte contraste marcante entre os prazeres

sensuais e intelectuais é tomado, principalmente, de

um erudito tratado sobre "A Luz da Natureza", de

Culverwell, um dos escritores mais brilhantes do

século XVII: "O mais nobre em qualquer ser é o que

é mais puro. O prazer do corpo é mais suave, fraco e

frágil. O prazer sensível tem mais de escória, o

intelectual mais de quintessência. Se o prazer fosse

medido pelos sentidos corporais, os brutos que são

mais requintados em sentido do que os homens são

em geral, em virtude disso, teriam uma porção de

felicidade maior do que os homens podem alcançar.

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Não pode haver maior prazer do que o da

compreensão abraçando uma mais clara verdade e a

vontade que cumpre o seu bem mais justo.” Foi uma

bela observação de um escritor grego antigo: "Não

pode haver prazer a não ser mergulhado em

bondade, ele deve sair borbulhando de uma fonte da

razão e deve fluir para fora em expressões e

manifestações virtuosas."

"Delicias corporais, como alguns meteoros

temporários, dão uma coruscação brilhante e súbita,

e imediatamente desaparecem, enquanto que a

alegria intelectual brilha como as estrelas com um

brilho fixo e incandescente." O prazer sensual é

limitado e contraído ao momento presente, pois o

sentido não tem prazer, senão no gozo de um objeto

presente, mas o prazer intelectual não é de modo

algum contido por quaisquer condições temporárias,

mas pode sugar a doçura do tempo passado, presente

e futuro, sendo a mente não só capaz de beber prazer

e apresentar fontes, mas pode provar os riachos de

alegria que fugiram há muito tempo, e pode saciar

sua sede com as delícias, que ainda estão por vir. A

memória não reproduz e repete os prazeres

anteriores? E o que é a esperança senão o prazer em

botão?

"O prazer sensual é mesclado e impuro... Digam-me,

vocês que se coroam com rosas, vocês não se coroam

ao mesmo tempo de espinhos, já que eles são sempre

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companheiros de rosas? Mas o prazer intelectual é

claro e cristalino Os homens se envergonham de

alguns prazeres corporais, mas quem se envergonha

de prazeres intelectuais? Os homens se cansam de

prazer sensual, e enfraquecem e desmaiam em tais

delícias fracas e frágeis, ou melhor, é a lei de nossa

natureza, que nosso corpo suportará melhor a dor

extrema do que o prazer excessivo, mas quem já

esteve cansado de aprendizado intelectual, que

esteve cansado de um deleite interior, ou que alguma

vez se alimentou de uma alegria racional? Outros

prazeres diminuem por intermitência; os intelectuais

aumentam e avançam por operações frequentes e

constantes.

"Os prazeres corporais não preenchem e satisfazem a

alma, enquanto que os racionais a enchem até a

borda, e compensarão abundantemente a falta de

prazeres corporais; e transformarão um deserto num

paraíso. O prazer sensual só serve para alguns

paladares, um doente não pode apreciá-lo, um velho

não pode abraçá-lo. Mas o prazer intelectual, como o

maná, se adapta a todos os gostos e é um bastão para

os velhos se apoiarem, um consolo para os enfermos,

e adequado para um gênio ou um palhaço. Os

prazeres sensuais são cansativos e agitados,

acompanhados de turbulência e ansiedade. Os

prazeres intelectuais tranquilamente elevam e

enchem a alma, e lhe dão descanso.

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"Os homens que são levados com a alegria intelectual

atropelam outros objetos inferiores. Vemos isso nos

prazeres angélicos, aqueles cortesãos do céu não se

aproximam de quaisquer gratificações carnais ... O

céu pintado ou fingido de Maomé, com seus prazeres

sensuais, formaria um inferno real para um anjo ou

um santo glorificado. O prazer sensual é o deleite dos

homens, mas o intelectual deleita a alegria dos anjos,

dos espíritos aperfeiçoados, sim do próprio Deus! Ele

é o Deus bendito e, como possui todas as perfeições,

também a perfeição de todos os verdadeiros prazeres

reais, e de uma maneira mais espiritual e

transcendente, tem uma satisfação infinita em sua

própria essência, atributos e operações. Seus

decretos gloriosos e planos estão todos ricamente

grávidos de alegria e doçura. Os milagres são o prazer

de sua Onipotência. As variedades são o deleite de

sua sabedoria. A criação foi um ato do seu prazer, e

devia lhe agradar ver tanto de sua própria obra,

tantas fotos de seu próprio projeto. A redenção foi

uma expressão daquele deleite singular e prazer que

ele tomou nos filhos dos homens. Para concluir, o

prazer sensual é de curta duração e logo termina. "O

tempo é curto!"; é a sua história e sua sentença. Mas

o prazer intelectual atinge a perpetuidade, e perdura

pela eternidade.

Portanto, convençam o mundo de que a própria

medula do prazer não habita no corpo; mas num

centro profundo e racional da mente. Que sua razão

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triunfante atropele o sentido, e que nenhum prazer

corporal o encante, mas que seja ajustado e

corretamente subordinado à razão. Não inveje “o

alho e a cebola do Egito de prazeres desenfreados

sensuais”, enquanto você pode alimentar e

banquetear-se mais com deleites espirituais e

angelicais. (Nota do tradutor: considere-se também

que há muito risco de abuso dos prazeres decorrentes

dos sentidos, tornando-se assim pecaminosos e

contrários à obtenção da verdadeira felicidade que é

dependente da comunhão em santidade com Deus.)

"Contudo, eu poderia mostrar-vos uma maneira mais

excelente, pois os prazeres da mera razão natural são

apenas cascas em comparação com aquelas delícias

do evangelho; esses prazeres misteriosos que estão

escondidos em Cristo." Em delícias mentais, você só

olha a luz de vela, mas nos prazeres do evangelho,

você tem o sol do prazer em toda a sua glória!"

Mesmo se fosse concedido que a posse de riquezas,

as gratificações do gosto e a indulgência do apetite,

pudessem dar felicidade em épocas de saúde e

prosperidade; elas inevitavelmente falharão no dia

da doença e da adversidade. Se eles fossem

satisfatórios por uma temporada; todos eles são

frágeis e incertos! Todos os prazeres desta vida são

como as flores recolhidas, que não são mais cedo

arrancadas do que começam a perder a sua beleza e

sua fragrância enquanto olhamos para elas e as

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cheiramos; e que, por mais alegres e belas que elas

apareçam enquanto estavam crescendo, começam a

murchar assim que estão em nossas mãos!

O que é isso, que você está olhando e dependendo

para a felicidade? A SAÚDE é seu ídolo, e a fonte de

sua felicidade? Quão rápido poderemos ser feridos

pela doença; e condenados a passar algumas noites e

meses na câmara da doença. As riquezas suavizarão

o travesseiro da doença? Será que o dinheiro ou as

propriedades, encantam as horas sem dormir e

animam os longos dias tristes de dor incessante? A

lembrança das festas que frequentaram, os prazeres

que desfrutaram, mas que não podem mais

desfrutar, animam a escuridão da câmara solitária?

Oh, o que, naquela longa e sombria época de

provação pode vir sobre vocês, e o que os prazeres e

posses da terra farão por vocês?

O que é isso, que você está olhando e dependendo

para a felicidade? É a RIQUEZA seu ídolo, e a fonte

de sua felicidade? Como justamente é chamado na

Escritura, "riquezas incertas!" E "riquezas

enganosas!" "As riquezas", disse o homem sábio,

"farão asas para si e voarão para longe como uma

águia para o céu." E não é a mais estranha loucura

apostar sua felicidade naquilo que, como um pássaro,

pode a qualquer momento voar onde não podemos

segui-lo? Que mudanças vimos nas circunstâncias

dos homens; o que cai rapidamente da riqueza para

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a pobreza! Quantos sabemos que, por aquelas

vicissitudes que estão sempre acontecendo neste país

comercial e nesta idade especuladora, desceram das

alturas ensolaradas da prosperidade; para morar o

resto de seus dias no sombrio vale da pobreza abaixo!

Este pode ser o seu caso. Seu tesouro, como o

mercúrio volátil, pode escorregar através de seus

dedos quando você acha que o segurará firmemente.

O que você vai fazer para o seu conforto, então? Seus

amigos, como pássaros do verão, migrarão quando

seu inverno vier sobre você! Você não poderá mais ter

festas; e quem convida o filho do infortúnio para a

deles? Aqueles que uma vez compartilharam suas

hospitalidades, o esquecerão na época de sua

humilhação, pois sua presença não irá mais

beneficiar seu círculo. O que, então, você fará,

quando o mundo franzir a testa; e você não tiver mais

ninguém para sorrir para você? (Nota do tradutor:

Além de tudo isso deve ser considerado que nosso

Senhor e o conjunto das Escrituras nos advertem

solenemente quanto ao perigo de juntar riquezas

neste mundo pelo simples desejo de ser rico, pois isto

se coloca geralmente como um grande peso que nos

impede de viver para Deus e segundo os seus

mandamentos. As riquezas que não são espirituais

carregam consigo esta característica de nos levar a

nos opormos a Deus. Quão raros são aqueles que

conseguem conciliar uma vida de riqueza segundo o

mundo com uma vida devotada ao Senhor e ao

evangelho! Não é surpreendente pois, que Jesus

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afirme que é muito difícil para um rico entrar no

reino dos céus. É impossível servir a dois senhores

antagônicos. Deus e Mamom. Deus aponta para o

que é espiritual como prioritário sobre tudo o mais –

seu reino e a sua justiça, e Mamom para o que é deste

mundo e que via de regra não se sujeita à vontade de

Deus. Concluímos portanto, que por mais alegre que

alguém tenha sido por ter acumulado riquezas

mundanas, pode-se dizer que certamente tal pessoa

não alcançou a felicidade verdadeira que procede de

Deus, porque a amizade do mundo é inimizade

contra Deus, e num estado de inimizade não pode

existir felicidade.)

O que é isso, que você está visando e dependendo

para a felicidade? PRAZER é o seu ídolo, e a fonte de

sua felicidade? Quão rapidamente você pode ser

capaz de doença ou mudança de circunstâncias para

isso, e ter o copo doce e intoxicante quebrado em seus

lábios! Como em breve pode ser o seu lugar se tornar

vago no resort da alegria e da moda! E então com que

sentimentos melancólicos você vai contrastar as

diversões da sala de baile, do concerto ou da festa;

com a morada da pobreza ou doença!

O que é isso, que você está visando e dependendo

para a felicidade? São os AMIGOS seu ídolo, e a fonte

de sua felicidade? Infelizmente! Em que momento o

"espoliador" pode entrar no seu paraíso terrestre, e

converter essa cena alegre em um deserto, pela morte

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dos objetos mais próximos de seu afeto! O que!

Depender de sua felicidade suprema sobre a frágil

continuação de um coração pulsante! A morte entra,

não só nas cenas de discórdia e de contenda, mas

também nas do amor mais puro e da mais doce

harmonia; e, desconsiderando as súplicas do amor

conjugal ou parental, retira o objeto no qual, além de

todo o universo, você procurou sua felicidade!

Onde, então, você vai encontrar satisfação? O finito

falhou; e o Deus infinito não foi procurado! O

humano e terreno foi tirado; e o divino e celestial não

foi adquirido? A felicidade, então, deve ser

encontrada em meio a tais incertezas? Não estamos

construindo sobre uma areia movediça, ou lançando

nossa tenda sobre as margens de um rio

perpetuamente passível de ter inundações?

E se nenhuma mudança acontecer, que misturas de

cuidado e vexação corrompem a natureza, e

diminuem a quantidade de prazer terreno! Que

trabalho é necessário para a AQUISIÇÃO dos

prazeres terrenos! Como é que a força está exausta e

o espírito cansado na perseguição; até que o

perseguidor se sinta cansado e fraco, confessando

com um gemido que o objeto mal pode pagar por

todo esse gasto de trabalho e tempo! Depois, há a

decepção das esperanças elevadas e expectativas

exageradas; pois, a fruição não está sempre aquém da

expectativa? Todo objeto de esperança terrena

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parece melhor quando visto a uma grande distância,

ou por trás; seu rosto raramente é igual à expectativa

quando ele para, se vira e cede à nossa posse.

Então, há o cuidado e vexação sobre RETENÇÃO, e o

medo de perder nossos confortos. O cuidado é a

sombra da possessão; e quanto maior a substância,

mais ampla é a sombra que ela reflete. O medo, em

um mundo como este, onde há tantas coisas para

perturbar e angustiar, é o associado natural de

nossos prazeres, e quanto mais forte nosso afeto,

mais profunda é nossa ansiedade; e maior é o medo

de perdê-los.

Então, o que é uma ligeira mistura do que é doloroso,

repugnante e irritante; vai manchar e estragar a

maior abundância e profissão do que é agradável e

delicioso! Quão cheia e doce uma xícara será com

uma gota de amargor de absinto? Considere quantas

coisas devem entrar na composição do prazer

terreno; a ausência de uma das quais vai estragar o

todo. Calcule o número de ingredientes, companhia,

saúde, facilidade de mente, tempo e autoaprovação,

necessários para um único dia de prazer! Um homem

pode ter riquezas, mas não saúde; ele pode ter

ambos, e não ter amigos agradáveis; ele pode ter

todos os três, e não uma consciência sensível; e ele

pode ter mesmo isso, além do resto; e ainda ter medo

do amanhã! Um evento irritante, é suficiente para

cancelar todo o nosso deleite. Tal é a estupidez da

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natureza humana, que se não temos tudo o que

queremos; encontramos pouco prazer no que temos.

E como somos mais propensos a nos ocupar dos

nossos problemas do que dos nossos confortos; quão

vão é esperar a felicidade de um mundo onde nossos

problemas são tão numerosos, e nosso conforto tão

precário! (Nota do tradutor: Como fica à vista de tudo

isto que tem sido falado até aqui a malfazeja doutrina

da prosperidade material que contaminou a grande

maioria das igrejas cristãs nos últimos tempos?

Como conciliar a pregação da busca da vitória cristã

na mera conquista de bens terrenos, quando o

evangelho nos ordena exatamente o oposto disto: que

não acumulemos tesouros na terra, mas no céu, e que

busquemos as coisas que são do alto e não as que são

daqui embaixo? São coisas antagônicas que muitos

tentam em vão conciliar por motivos interesseiros e

carnais. Quem ama o mundo faz-se inimigo de Deus.

Um coração cujos afetos são conquistados

meramente pelo que é visível, não pode conhecer o

que seja o afeto pelo que seja espiritual, celestial e

divino. A fé não se apoia no que é visível, senão no

que é invisível, pois sua essência em sendo espiritual,

é invisível. É triste e lamentável ver um contingente

imenso de crentes enredado por este laço terrível do

mundanismo, pensando ser possível conciliar o que

é natural com o que é verdadeiramente espiritual.)

Quão logo os prazeres da terra se tornam insípidos,

aborrecidos e tediosos; para aquele que os tem em

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abundância! O prazer se esgota, e o riso termina em

uma lágrima. Aquele que é capaz de compreender as

delícias do mundo; logo toca o fundo, e acha que é

lama! Tempo, repetição e costume, desgastam o

prazer; e reflexão produz saciedade, se não desgosto.

Dá-se com aqueles que se entregam ao bem

mundano, o que sucede com aqueles que fazem os

perfumes; eles não gostam deles, como os outros que

os compram.

O que farão estes prazeres terrenos no dia da

MORTE? Passo por muitas das cenas da vida, ou

apenas aludo a elas da maneira geral que já fiz, como

a hora da doença e o tempo de uma consciência

inquieta; e chamo você para antecipar a última e

maior mudança que você terá ao passar pela hora da

morte! Oh! Pense nessa cena solene, quando se

encontrar além da possibilidade de confundir seu

destino e sentir que está nas próprias fronteiras do

túmulo, onde verá o mundo a cada momento recuar

e a eternidade em rápido avanço! Oh! Sentir a

esperança cada dia mais fraca, e a realidade terrível

da morte tornando-se cada dia mais certa e mais

perto! Ler sua sentença nos olhares solenes de cada

rosto, e senti-lo nas sensações indizíveis de seu

próprio corpo e mente exaustos!

O que pode sustentá-lo, então, e confortá-lo; se este

mundo tem sido seu único objetivo? O que vai brilhar

em sua câmara escura e ainda mais escura mente? O

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que vai acalmar sua perturbação e animar seu

espírito? Seus companheiros alegres não apreciam o

leito da morte; não é uma cena boa para eles, e eles

vão abandoná-lo, ou apenas provar uma espécie de

consciência externa lembrando-lhe de seus pecados,

como sua própria consciência o fará. As riquezas o

confortarão então? Quando não tiver nada a ver com

elas, senão transferi-las para outros, e nada ficará

delas para ti mesmo, senão a culpa de obtê-las, à

custa da negligência da sua alma, e à perda da

salvação? Os prazeres sensuais partirão. Honra,

posição e fama não impedem uma única dor do

corpo, ou silenciam uma sílaba das acusações da

consciência, ou dão uma alegre esperança de

imortalidade.

Todas as coisas olharão impiedosamente para você,

e, como fantasmas de possessões anteriores,

deslizarão silenciosa e hostilmente diante de você,

não derramando nenhum raio de luz sobre a

escuridão que se espalha ao seu redor; nem

pronunciarão um sussurro de consolo em resposta a

seus pedidos de ajuda.

Como seus pecados se elevarão à sua lembrança

naquela cena terrível! A consciência parecerá então

estar ocupada em coletá-los completamente;

multidões de pecados que você tinha esquecido, a

consciência lembrará agora na hora da morte; e os

amarrará como uma carga intolerável sobre o seu

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espírito, com o qual irá para a eternidade. Temível é

a morte do mundano! Oh, do que ele parte; e para o

que ele vai! Que despedida! Deixar tudo o que amava

e admirava; e ir para o seu destino eterno! Não ter

adquirido nada, e salvo nada; senão o que ele não

pode mais manter! Depois de cruzar as águas escuras

da morte, ele será colocado em terra em uma vasta e

negra eternidade, nua e destituída, sem nada para

aliviá-lo, apoiá-lo ou confortá-lo! Tal é o fim daqueles

que passam a vida dizendo "Quem nos mostrará

algum bem?"

E quem deve descrever a cena que se segue? É feito

por alguém cujo lápis solene foi guiado por uma mão

infalível.

"19 Ora, havia um homem rico que se vestia de

púrpura e de linho finíssimo, e todos os dias se

regalava esplendidamente.

20 Ao seu portão fora deitado um mendigo, chamado

Lázaro, todo coberto de úlceras;

21 o qual desejava alimentar-se com as migalhas que

caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham

lamber-lhe as úlceras.

22 Veio a morrer o mendigo, e foi levado pelos anjos

para o seio de Abraão; morreu também o rico, e foi

sepultado.

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23 No hades, ergueu os olhos, estando em tormentos,

e viu ao longe a Abraão, e a Lázaro no seu seio.

24 E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia

de mim, e envia-me Lázaro, para que molhe na água

a ponta do dedo e me refresque a língua, porque

estou atormentado nesta chama." (Lucas 16: 19-24)

Esta é uma imagem terrível! Sobre o que? Um infiel?

Não! Um homem imoral e despudorado? Não! Um

tirano sangrento? Não! Um opressor sem remorsos

dos pobres? Não! Esta é uma imagem de um

mundano. De um homem que disse: "Quem nos

mostrará algum bem?" De um homem cujo pecado

era que ele buscava sua felicidade inteiramente de

fontes terrenas. Não era intenção de nosso Senhor

descrever um homem de riqueza mal adquirida, mas

aquele cuja felicidade derivava totalmente de sua

riqueza; alguém que não se importava senão com o

que viu, e provou, manipulou e sentiu, que tinha o

que procurou, e depois, tendo passado seu tempo em

uma vida de gratificação terrena em vez de uma vida

de fé, foi passar sua eternidade em um estado de

banimento daquele Deus cujo favor nunca foi, em sua

estimativa, essencial para sua felicidade.

Tal término de seu curso sensual é exatamente o que

o mundano poderia e deveria esperar; porque se ele

desprezou o favor de Deus, e nem sequer procurou

por ele; se ele se fez, ou se esforçou para fazer-se, feliz

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sem ele; se ele valorizou tudo mais que Deus, e

colocou sua riqueza, ou posição, ou fama, ou prazer,

acima do amor de Deus; se não se importava com a

salvação, e pensava que o céu tinha tão pouca

importância, que não valeria a pena a sua

perseguição; tem alguma razão para queixar-se de

ser negado o que ele nunca pediu, e aquilo para o qual

ele não era adequado? Ao banir tal homem do céu

Deus fez, senão dar-lhe a sua escolha; mas deixando-

o a si mesmo. Termina o curso terreno e começa o

eterno, daquele que busca a felicidade nas vaidades

terrenas.

Agora, observe o povo de Deus no gozo de suas fontes

de felicidade. Consideramos a sua natureza e vimos

que ela é a mesma em espécie que a de Adão no

Paraíso e dos habitantes do céu, embora,

naturalmente, muito menor em grau do que o deles;

é o favor de Deus. Eles realmente têm a sua

felicidade. Não pense que seu lugar de morada é um

deserto estéril, onde não se vê nenhuma flor, e nada

de verde cresce; ou um vale sombrio, tão escuro, tão

profundo, que exclui cada raio de sol; ou uma região

de suspiros e lágrimas, onde nenhum sorriso de

prazer existe, nenhuma nota de alegria soa do lábio.

Poupe sua piedade! Eles não precisam, mas guardem

para vocês mesmos. Eles descobriram as fontes do

verdadeiro deleite e, com alegria, exclamam: "Eu o

achei, eu o achei, ó Deus, o teu favor é a vida, e a tua

benignidade é melhor do que a vida".

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A verdadeira religião é bem-aventurança. O homem

verdadeiramente piedoso é o verdadeiramente

abençoado e feliz. O cristianismo contém o segredo

da felicidade. Foi prefigurado pelos profetas como

bênção a todas as nações. Ele foi introduzido no

mundo pela voz de um anjo como boas notícias de

grande alegria para todas as pessoas, e iluminou

nossa triste terra na forma do Salvador infantil, como

o mensageiro da paz. Seu desenvolvimento pelo

ministério de Cristo e os escritos de seus apóstolos;

enquanto todos os filósofos da Grécia e de Roma

investigavam ignorantemente no que a felicidade

consistia e onde se encontrava; revelou sua

verdadeira natureza e sua única fonte.

A Bíblia está sempre desafiando a atenção para a

bem-aventurança dos filhos de Deus. E os crentes em

resposta às suas repetidas injunções a eles: "Alegrai-

vos no Senhor" e "regozijai-vos sempre", respondem:

"Alegramo-nos em Deus por Jesus Cristo, por quem

recebemos a salvação!" Sim, o cristianismo tem um

poder tão grande e uma tendência tão óbvia para

abençoar que o próprio enquadramento e

temperamento de uma mente verdadeiramente

cristã é uma alegria habitual prevalecendo sobre

todas as ocasiões temporárias de tristeza que possam

ocorrer. Nem é uma mera teoria, que não pode ser

reduzida à prática; observamos e experimentamos

que os verdadeiros cristãos viram no Evangelho

causas de alegria que os elevaram acima das suas

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provações, e lhes permitiram dizer: "Ainda que

pesarosos, estamos sempre alegres, e gloriamo-nos

em tribulações, também com alegria inefável e cheia

de glória." Não só os cristãos têm sido consolados em

suas aflições, mas também em seus leitos de morte,

como veremos agora, e os mártires cantaram em suas

masmorras e em chamas, pelo poder da fé em Cristo.

(Nota do tradutor: Este é o ponto. Aqui reside a

verdadeira e real felicidade. Ela está pontuada por

tristezas, mas estas não tornam o crente infeliz. Há

alegria em meio a aflições. Nisto consiste a

verdadeira felicidade, pois não há quem possa se

eximir de tristezas e aflições. Por mais que os

poderosos, os ricos, os que são alegres segundo o

mundo se esforçassem, eles não poderiam encontrar

esta felicidade calma e triunfante cheia de glória em

meio às suas perturbações, contrariedades e aflições.

É somente pela graça de Deus que se pode obter tal

felicidade. Mas o melhor e maior de tudo é que o

crente amadurecido na fé e que tem discernido esta

verdade, sabe que não é no propósito de ser feliz que

acha a felicidade, mas em fazer Deus feliz através de

seu comportamento obediente à Sua vontade.)

Em uma página anterior eu representei a felicidade

do povo de Deus como resultante do favor Divino, e

eu vou agora apresentar em detalhes, os vários

BENEFÍCIOS que são os frutos deste favor.

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1. Como um dos frutos deste amor, todos os pecados

de um cristão são perdoados, e ele mesmo é recebido

no número dos justificados. "Sendo justificados pela

fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus

Cristo". Bendito estado, o de ser libertado da

condenação da lei e da ira de Deus, para estar

justificado diante dele, e olhando através de Cristo,

para ver um sorriso em seu rosto, e ouvir a sua voz

proclamando: "Vá em paz, a sua fé lhe salvou, e seus

pecados estão todos perdoados!" Quão

inefavelmente agradável é se aproximar do Deus

Infinito e Santo, com a consciência de que agora

nenhum aguilhão está na sua mão, nenhum terror

lhe cobre a face, mas que seu amor paternal irradia-

se em cada olhar! Quem dirá, ou quem pode duvidar,

da felicidade de viver sob o sol sem nuvens do amor

perdoador de Deus?

2. Conectado a isso, ou em uma visão idêntica a ele, é

a bem-aventurança de ser considerado e amado

como um filho de Deus. "Eis qual é o amor que o Pai

nos concedeu, que fôssemos chamados filhos de

Deus!" Um filho de Deus! Que ideia! Quanto de

dignidade e felicidade deve atribuir a tal

relacionamento! Estar ligado ao infinito e eterno Pai

do universo, pela escolha de sua própria

misericórdia, como seu filho; e como seu filho ser

considerado, possuído, tratado e amado! Misteriosa

condescendência! Graça maravilhosa! Honra

incomparável! No entanto, esta é a felicidade de todo

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verdadeiro cristão; e para completar a distinção, ele

é abençoado com o espírito de adoção. Assim diz o

apóstolo: "Não recebemos o espírito de escravidão

para temer, mas recebemos o espírito de adoção, pelo

qual clamamos Abba, Pai!" E nesse espírito infantil

temos a evidência de nossa relação filial, pois é

acrescentado: "O próprio Espírito testemunha com

nosso espírito que somos filhos de Deus". Considerar

Deus como nosso Pai amoroso, olhar para ele, vir até

ele, sentir-se como ele! Não é essa a felicidade?

3. Outro fruto do amor de Deus para conosco é o

exercício de nosso amor a ele. "Nós o amamos,

porque ele nos amou primeiro." O cristão que

acredita no amor que Deus tem para com ele, não

pode deixar de amá-lo em troca. O exercício do amor

sobre qualquer objeto que o julgamento julgue digno

dele é um estado de espírito prazeroso, e o prazer

deve necessariamente aumentar com a dignidade do

objeto e a intensidade do afeto. Pense então, da

felicidade de amar a Deus em sua infinidade! Pense

no estado desse coração que sai em suprema

consideração a um ser de infinita perfeição, daquela

alma que contempla suas glórias inigualáveis e se

eleva em uma chama de afeição pura e forte a ele.

"Quero", disse a bela e realizada filha do célebre

Cuvier, "um objeto infinito do amor". E assim todos

nós; e como o coração nunca pode ser satisfeito sem

ser amado por um ser infinito, tampouco pode ser

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satisfeito sem amar um ser infinito. Esta é a

felicidade de um cristão, ter um objeto acima de

qualquer coisa terrena, que não tenha defeito, nem

culpa; que é ilimitado e eterno; em que, como em

uma altura sem medida ou uma profundidade

insondável, pode voar ou descansar sem ser

confinado ou restringido.

4. O amor de Deus fez provisão para a nossa

santificação. Sim, isso é "a vontade de Deus", e

também o seu amor "a nossa santificação". Seu amor

não poderia nos deixar em nossos pecados. Nossos

pecados são nossos inimigos, eles nos roubam a

nossa paz e nos enchem de miséria. A bondade de

Deus concedeu não somente o ser, mas a pureza

sobre Adão em sua criação. Sua santidade era sua

felicidade. A imagem de Deus não era menos

essencial do que seu favor, para a felicidade de Adão.

O Paraíso não teria sido um Paraíso sem santidade, e

não era assim quando a santidade foi perdida pela

queda. É o pecado que trouxe a miséria ao mundo, e

enquanto o pecado reina no coração humano deve ser

o assento da miséria. Esta é a causa da inquietação e

miséria da raça humana; eles culpam suas

circunstâncias, e rastreiam até elas as causas de seu

mal-estar; mas essas causas existem em si mesmas.

Tome um corpo quebrado e coloque-o sobre uma

cama macia, e ele fica tão inquieto como sobre uma

cama de madeira ou pedra, pois a causa da dor está

nele próprio. Assim é com a alma. Ainda que um

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homem esteja em saúde, é inquieto e descontente; e,

em meio à maior abundância, está quase tão

insatisfeito quanto o pobre homem em sua cama. E

por que? Porque seu coração está sob o poder do

pecado!

Até que a alma seja renovada e santificada, as paixões

subjugadas, os apetites controlados, as corrupções da

natureza caída mortificadas, o temperamento

regulado e os pecados assediadores abandonados;

não pode haver paz para a mente. Ora, o amor de

Deus providenciou isso no plano da redenção. A fé

em Cristo opera pelo amor, purifica o coração e vence

o mundo. Ela opera uma mudança inteira de mente,

coração e conduta. Despoja as obras da carne e

produz os frutos do Espírito. Não torna o homem

perfeito, mas o torna santo. Ela corta as ações

pecaminosas, expulsa os gostos pecaminosos e

elimina sentimentos pecaminosos. Ela quebra os

grilhões do pecado, e dá a liberdade de verdadeira

santidade; e isso é felicidade!

5. A Palavra de Deus assegura ao crente que "todas as

coisas cooperam para o bem daqueles que o amam,

daqueles que são chamados segundo o seu

propósito". Que garantia! Quão tranquilizante, em

meio a todas as provações, calamidades, perdas e

ansiedades da vida; saber que o amor infinito está

empregando a onisciência e a onipotência para

tornar o bem e o mal misturados, dos quais a nossa

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história se compõe para produzir benefício para nós.

Tenha certeza de que cada lágrima deve terminar em

um sorriso; cada gemido em uma canção; cada perda

em um ganho; e que todas as nossas dores são, em

última análise, para aumentar os nossos prazeres!

Isto é colher uvas de espinheiros, e figos de cardos. E

esta é a felicidade daqueles que vivem pela fé, em vez

do sentido.

6. O cristão que busca a sua felicidade em Deus,

encontra prazer nos vários exercícios de devoção. O

que para os outros é um mero dever, relutantemente

executado, felizmente terminado ou posto de lado; é

para ele um privilégio. O que para os outros é uma

penitência, rigorosa e indesejável, levada ainda para

o clamor ou para evitar as picadas de uma

consciência inquieta; é para ele a indulgência de seu

gosto, o impulso de afeto, o gozo de uma bênção. A

oração é a oferenda de um coração que se sente

honrado e feliz em falar a Deus; o espírito de adoção

em um filho clamando “Aba Pai”, e amando para

aliviar seus cuidados, para aliviar sua tristeza, para

expressar sua afeição e suas necessidades

derramando sua alma ao Deus de amor. Oh, que

felicidade há na oração para aquele que a apresenta

com fé, fervor e espírito de adoção. Suas palavras que

fluem de seus lábios, vêm sobre as preocupações

tormentosas e tristezas do espírito perturbado, como

a voz de Jesus aos ventos e ondas do mar de

Tiberíades, dizendo: "Paz, fique quieto!" Levanta a

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alma a meio caminho entre a terra conquistada e o

céu aberto; levanta-a acima dos fragmentos das

cisternas quebradas e do seu conteúdo derramado, e

a coloca na fonte das águas vivas, abrindo o coração

para receber a plenitude de Deus e trazendo a

plenitude de Deus para o coração aberto.

Quão precioso para o cristão são os pensamentos de

Deus expressos nas palavras de Deus nas Escrituras;

e quão agradável é a leitura delas! Ao ler este Livro

Divino, ele exclama:

"7 A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o

testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos

simples.

8 Os preceitos do Senhor são retos, e alegram o

coração; o mandamento do Senhor é puro, e alumia

os olhos.

9 O temor do Senhor é limpo, e permanece para

sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros e

inteiramente justos.

10 Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que

muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o que

goteja dos favos.

11 Também por eles o teu servo é advertido; e em os

guardar há grande recompensa." (Salmo 19.7-11).

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Tudo o que está relacionado com a Bíblia é caro ao

seu coração, e suas partes contêm tantas fontes de

puro prazer, sejam suas verdades sublimes, seus

convites graciosos, suas promessas preciosas, suas

perspectivas ilimitadas, seus preceitos santos ou suas

profecias. Uma única passagem, por vezes, mora em

sua mente por horas, e alegra sua alma como com

maná do céu. A descoberta de um novo significado

em alguma promessa, preceito ou previsão, não visto

antes, é como a alegria do botânico ou geólogo em

descobrir um novo espécime em sua ciência favorita.

Alguma palavra abençoada está sempre chegando

com poder fresco e doce para sua mente ansiosa ou

perturbada, provando sua adaptação a todas as cenas

variadas e mutáveis da vida.

E então, há o repouso sagrado e solene do descanso

sabático, daquele dia sagrado que o mundano dedica

às delícias sensuais! Quão calmo, quão sereno, quão

suave o hino de louvor, a comunhão dos santos, o

desdobramento e aplicação da Palavra, a lembrança

do Crucificado e a antecipação do Salvador

glorificado no santuário de Deus! Não há felicidade

nisso?

Todos esses exercícios não são apenas deveres, mas

privilégios para os verdadeiros cristãos, para todos os

que, como filhos de Deus, têm uma liberdade

abençoada em seus caminhos. Eles não são atraídos

para as coisas celestiais pelos terrores da lei, ou

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arrastados para elas pelas cadeias da morte e do

inferno. Seus deveres não são extorquidos deles pela

pressão de um espírito de escravidão; nem são os

movimentos convulsivos de uma alma morta e

carnal; mas as atividades espontâneas, inteligentes e

prazerosas de uma alma viva, em que uma vitalidade

santa foi infundida pelo espírito de vida em Cristo

Jesus. A lei está em seus corações; sim, o próprio

legislador divino habita ali; a beleza do comando os

atrai; a retidão da autoridade os convence; o amor de

Cristo os constrange; a delicadeza do serviço os

envolve; as grandes recompensas no céu os energiza;

o Espírito Santo inspira obediência neles; a santidade

torna-se tão natural e agradável quanto para os olhos

verem, para o ouvido ouvir, e para o paladar provar!

"Caminham, correm, voam sobre os caminhos puros

para a felicidade eterna, não mais estão fechados nos

estreitos do pecado, nem suas faculdades confinadas

nas estreitas dimensões da terra; mas caminham

para o exterior na liberdade de um povo emancipado

pelo Espírito em meio à amplitude das realidades

divinas, celestiais e eternas: os seus corações não

descansam em coisas finitas, mas vão para o infinito,

cujos pensamentos estão sobre o primeiro bem,

sobre o fim último, e sua liberdade está unida à sua

grandeza. Seu movimento é para o verdadeiro centro,

e esta é uma postura correta, nobre, real de alma para

com Deus, em quem toda a nossa felicidade se

encontra."

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7. Então contemple o povo de Deus na esperança

crente e esperançosa de vida eterna. "Alegrai-vos na

esperança da glória de Deus". Que objeto, que

esperança e que alegria! Glória infinita e eterna,

despertando uma esperança segura e dando origem a

uma felicidade exuberante. Para eles o céu não é uma

mera palavra, um termo para algum lugar que eles

não conhecem, e de alguma felicidade que eles não

conhecem. Eles sabem o seu significado como

importando a chegada da alma na presença de Deus,

onde há plenitude de alegria, e no seu lugar à sua mão

direita, onde há prazeres para sempre; onde verá

Cristo como Ele é, e será como Ele; onde será

perfeitamente santo! E, à luz do perfeito

conhecimento, o brilho do amor perfeito, a pureza da

virtude perfeita e a comunhão com os santos e anjos;

serão felizes sem imperfeição, interrupção ou fim!

Tal é o céu que o crente espera e que brilha no seu

caminho terreno saltando da página da Escritura,

como um firmamento incandescente acima da sua

cabeça, e que o segue com seus raios em todos os

lugares, iluminando as mais sombrias e douradas

cenas mais terríveis através das quais ele possa ter

que passar.

Bem-aventurado homem! Se ele mora em um paraíso

terrestre ou em um deserto; quer goze de saúde, quer

sofra a languidez da doença; carrega consigo uma

esperança cheia de imortalidade. Se tudo estiver

escuro abaixo, o brilho vem de cima. Se a Terra é um

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vasto deserto, onde não se pode ver nenhum lugar

verdejante em todo o futuro, no entanto, à distância

se vê "as montanhas deliciosas", as colinas eternas,

sobre as quais as almas dos abençoados devem

descansar e respirar o ar da imortalidade! E ele está

se movendo em direção a eles; cada passo o

aproxima; e ele logo estará lá! A esperança, com ele,

não é uma mera expectativa vaga, frouxa e flutuante;

mas uma antecipação firme, bem fundamentada e

resolvida. Ele pode dizer: "Pois sabemos que se a casa

terrestre deste tabernáculo fosse dissolvida, teríamos

um edifício de Deus, uma casa não feita por mãos,

eterna nos céus."

Ele tem muito, talvez, na terra, e se ele morrer, ele

deve perder tudo; mas ainda morrer é ganho; pois se

ele vai deixar muito; ele vai ganhar infinitamente

mais! Por outro lado, se ele tem pouco, exceto

tristeza, o momento de sua morte é o término de sua

dor, e o começo de sua eterna e ininterrupta

felicidade! Não é essa a felicidade?

Tal é, então, a natureza, e tais são as fontes da

felicidade de um cristão; e pode ser mencionado

como uma de suas mais fortes recomendações, que é

independente das circunstâncias externas, não

requer riqueza, nem fama; nem saúde nem

companhia, para seu gozo. Quando, pelas

vicissitudes da vida, o filho de Deus é privado de sua

propriedade e é chamado a descer das elevadas

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alturas da prosperidade para o escuro e humilde vale

da pobreza, sua fé e todos os seus frutos e privilégios

abençoados descem com Ele, para irradiar a

escuridão, e lançar um aspecto alegre sobre a cena de

desolação. "Nem tudo está perdido", ele exclama,

enquanto ele olha para o céu e para a eternidade; "eu

ainda sou rico em bênçãos espirituais e esperanças

imortais. Estou cercado por destroços e fragmentos

de cisternas quebradas, mas há a fonte ainda cheia e

fluindo ... A minha mais nobre fortuna está intocada,

pois é Deus ... Pareço regozijar-me mais do que

nunca em Cristo, agora que não tenho nada em que

me regozijar, e os objetos da Divina e imortal glória

aparecem mais brilhantes, como estrelas do céu à

noite, pela escuridão que me rodeia, e do meio da

qual eu os vejo.”

Mas, além da perda de propriedade, os cristãos,

como outros, estão expostos aos ataques de doenças.

"Noites cansativas, e meses de vaidade, são

nomeados para eles." Mas sua religião os segue para

a enfermaria, e é sua enfermeira, seu companheiro e

seu consolador, dando paciência no dia, e cânticos à

noite. Quão suaves são as suas consolações, quão

agradáveis são as suas reflexões, quão brilhantes são

as suas antecipações! Ela fala aos sofredores das

fontes de suas tristezas, e diz-lhes que todos

procedem de seu Pai nos céus; recorda-lhes a Sua

sabedoria infalível, Seu amor infinito, Sua fidelidade

infalível, Sua presença graciosa na cena de aflição,

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Seu desígnio misericordioso em todo castigo de Sua

mão e o resultado feliz em que Ele fará com que tudo

termine. Eles podem ter confinamento, porque Deus

está com eles. Suas horas não são pesadas e irritantes

pela lembrança das cenas alegres de que são

cortados, e as diversões a que não têm mais acesso.

Seu entretenimento veio com eles; eles trouxeram

consigo o cálice do seu prazer, e podem bebê-lo em

meio à languidez da doença, como um consolo

refrescante, ou como um elixir estimulante.

Nem é o vale escuro da sombra da morte, uma terra

de esterilidade e seca, uma cena de melancolia, um

lugar impermeável a cada raio de verdadeira

felicidade. O cristão pode ver os feixes das luzes de

seu conforto terreno saírem um após o outro sem o

medo de ser deixado em noite tenebrosa. De um

modo geral, ele é mais que submisso, composto e

tranquilo em meio a essa cena solene. Nenhum

sotaque é mais comum, nos lábios de um crente

morrendo, do que "Feliz, feliz!" Sim, feliz mesmo

assim. Sua fé em Cristo, e esperança do céu, parecem

então expor todo seu poder. Eles veem o último

inimigo avançar, passo a passo, perdendo algo de

seus terrores em cada passo de sua aproximação, até

que, enquanto ele está diante deles, erguendo seu

dardo, e se preparando para atacar, eles olham para

ele com um sorriso e exclamam: “Ó morte, onde está

a tua dor? Ó sepultura, onde está a tua vitória?

Embora eu caia eu me levantarei e serei mais que

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vencedor, por aquele que me amou. Graças a Deus,

que nos dá a vitória, por nosso Senhor Jesus Cristo!"

Deus parece de uma maneira muito notável abençoar

e confortar seus filhos moribundos. Muitos que

caminharam em peregrinação em meio a um certo

grau de dúvidas e temores sobre sua segurança,

perderam tudo e passaram pela passagem sombria

cantando com arrebatamento a canção de segurança:

"Eu sei em quem tenho crido e estou convencido que

ele pode guardar o que lhe tenho confiado até aquele

dia." Tal foi a plenitude da graça derramada em suas

almas, e tal a luz da glória que irradiou sobre eles do

céu, que mães afeiçoadas têm sido dispostas a deixar

seus filhos, e maridos afetuosos suas esposas, para

partir e estar com Cristo.

Mas, não quero dizer ou insinuar que mesmo o povo

de Deus é perfeitamente feliz neste mundo. Pois isso

é impossível! Sujeitos a todos os males da vida em

comum com os outros e às imperfeições de uma

natureza, senão parcialmente santificada, eles

podem ter adquirido apenas o conhecimento do que

é felicidade, com o simples começo de seu gozo. Mas

mesmo este é um privilégio abençoado. É uma

vantagem indizível ter nossos erros retificados, e

possuir a verdade em um ponto tão importante. É

uma questão de agradecimento ser tirado da busca de

sombras e ser introduzido no caminho que leva à

substância e à realidade. Se eles têm apenas as

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sementes de felicidade semeadas neles, isso é uma

misericórdia. A este respeito, eles são favorecidos;

porque a luz é semeada para os justos, e a alegria para

os retos de coração. E apesar de que muitas vezes

aparecem, senão os torrões da terra; arados,

angustiados e quebrados pela aflição; contudo,

haverá neles a bênção da semente que certamente

brotará para a imortalidade e a vida eterna; como

todas as belezas de uma flor que repousam em uma

pequena semente.

Mas, os filhos de Deus têm mais do que a semente da

felicidade celestial sobre a terra; eles têm seus

primeiros frutos. Nas alegrias da fé e da santidade,

consolações e graças do Espírito Santo, eles têm a

garantia da felicidade celestial. Eles sabem o tipo de

felicidade que os espera, embora eles também

estejam em uma perda de saber a medida completa

dela, como uma criança de um ano ou dois de idade

pode saber o tipo de vida que deverá viver na terra, e

a medida plena de existência física, intelectual, moral

e social que deve desfrutar na maturidade. Isso é o

céu; o perfeito conhecimento de Deus, o perfeito gozo

de seu favor, o perfeito amor de suas infinitas

excelências, perfeita obediência a seus

mandamentos, perfeita conformidade com sua

imagem; tudo isso por uma alma refinada em seus

gostos, ampliada em sua capacidade e imortal em sua

duração! E não há nada de tudo isso que o filho de

Deus não comece a receber na terra. Que outras

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fontes de prazer serão abertas aos abençoados no

céu, não é para nós agora conhecermos, ou mesmo

conjecturar, sem dúvida há algumas que é impossível

para nós compreendermos; mas a fonte do deleite

será Deus, e sua essência o gozo de seu amor. Ele é a

primeira verdade; o bem principal; para além do qual

nada mais alto ainda é para ser conhecido, nada mais

rico para ser apreciado!

E agora, leitor, posso perguntar a qual dessas duas

classes você pertence? Você está entre os "muitos"

que dizem: "Quem nos mostrará algum bem?" Ou

entre os poucos que oram: "Senhor, levanta a luz do

teu rosto sobre nós?" Você está procurando a

felicidade nas coisas terrenas; ou nas celestiais? Para

um ou outro você deve pertencer. Não há terra

neutra, nem ponto intermediário, entre coisas vistas

e temporais, e coisas invisíveis e eternas. O que é que

você cobiça, conta com, almeja, para a felicidade? É

o favor de Deus; ou do mundo? De que maneira o seu

coração se transforma e para o que ele aponta? Você

deve saber; você sabe!

Talvez alguns estejam tentando unir ambos, e estão

buscando tirar felicidade do mundo e da religião

também. É uma tentativa vã, um esforço

impraticável. Lembre-se, a questão é se podemos dar

nossos corações a Deus e ao mundo. Estou falando

agora da suprema felicidade; e, como não pode haver

dois objetos supremos, a questão é; o que é supremo:

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Deus ou o mundo? Aquele que ama qualquer coisa,

ou cobiça qualquer coisa, mais do que o amor de

Deus para com ele, não pode ser um cristão. E é

perfeitamente claro que, embora a todo cristão real

não haja nada que possa ser amado e desfrutado mais

do que Deus; então há muitas coisas que não podem

ser amadas e seguidas de modo algum. Elas são de

uma natureza tão oposta, que se tornam insípidas e

até nauseabundas para a alma que se deleita em

Deus. Aquele que é levado a buscar a salvação que

está em Cristo Jesus com glória eterna, que crê e se

alegra em Cristo, que ama comungar com o Pai

Celestial, que tem o hábito de gozar do favor do

Altíssimo, que está à procura da esperança

abençoada e gloriosa aparição de nosso Senhor Jesus

Cristo, que está conversando diariamente com

assuntos revelados na Bíblia e os torna objeto de

meditação e oração; não pode realmente ser suposto

ter qualquer gosto pelas folias da moda e diversões

alegres da vida!

Apreciar o amor de Deus pela manhã, e o teatro, o

baile ou a festa à noite; ou, na mesma noite, ir de uma

meditação piedosa e deleitosa sobre a Escritura, para

desfrutar de um jogo de cartas, uma dança ou uma

festa da moda; são gostos tão diferentes que não

podem coexistir na mesma mente! Assim tampouco

um amor supremo à riqueza, ou um prazer supremo

em casa, ou amigos, ou ciência, ou literatura; se

ajusta com um supremo amor a Deus. Se há alguma

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coisa que preferimos ao favor de Deus, não importa

o que seja, não podemos ser seus filhos! Todas as

tentativas, portanto, de conciliar o amor de Deus e o

amor do mundo são inúteis e fúteis! "Se alguém ama

o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o

que há no mundo, a concupiscência da carne, a

concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é

do Pai, mas é do mundo." Assim diz a Palavra de

Deus. E o próprio Cristo declarou que não podemos

servir a Deus e a Mamom. Você deve, portanto, fazer

sua escolha.

Talvez você esteja pronto para dizer que você não vê

que os cristãos são mais felizes do que outros; e que

muitos deles parecem muito menos felizes que eles.

Há alguma verdade na observação, mas admite uma

resposta satisfatória. Muitos que se chamam cristãos

não são assim na realidade. Provavelmente não são

hipócritas, mas simples formalistas autoenganados.

Eles nunca realmente acreditaram em Cristo, nem

experimentaram aquela grande mudança espiritual,

que é chamada de ser "nascido de novo", e sem a qual

não há amor verdadeiro a Deus, nem prazer em Seu

favor. Sua profissão religiosa separou-os da

sociedade mundana e das diversões mundanas, sem

introduzi-los nas felicidades da própria religião. Eles

são como a esposa de Ló, aparentemente fugindo de

Sodoma, mas ainda deixando seu coração lá.

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Outros podem ser verdadeiros cristãos, mas ainda

são apenas parcialmente instruídos na extensão e

riqueza de seus privilégios; é a infância de seu

conhecimento, e eles não compreendem plenamente

as bênçãos e privilégios de um crente no Evangelho;

que resultam em alegria indizível. Ou, talvez, alguns

que talvez saibam que são de um temperamento

sombrio e nervoso, constitucionalmente propensos à

melancolia, e que nada terreno ou celestial pode fazer

tão alegre como alguns outros. E então, ainda, sua

ideia de felicidade pode estar incorreta. Você pode

confundi-la com riso, alegria, leviandade, frivolidade

ou diversão; e supor, que por não ver estas coisas no

povo de Deus, eles devem ser infelizes. Seu prazer,

entretanto, é sério, profundo, interior. É paz,

contentamento, satisfação. É a "quietude" do prazer;

não a "agitação". É o repouso, a tranquilidade e

serenidade de um coração que tem encontrado

descanso de suas perseguições cansadas e frequentes

decepções. É a santidade da felicidade, a felicidade da

santidade; solene, mas não sombria; séria, mas não

triste. E, por outro lado, alegre, mas não superficial;

animada, mas não insignificante. Em suma, é o

começo da bem-aventurança do céu, profunda,

devota, santa; que o mundano pode entender tão

pouco quanto da fonte de onde flui.

Além de minhas próprias observações, introduzo as

de um escritor justamente celebrado:

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"É verdade que os cristãos não são felizes segundo a

maneira como o mundano mede a felicidade; não são

felizes, se os verdadeiros sinais da felicidade são um

espírito volátil, um brilho contínuo de alegria, uma

dissipação do tempo e da mente entre as ninharias,

um temor de reflexão e de solidão, uma busca ávida

de divertimentos, em suma, uma irreflexão

predominante, cujas principais tendências são para o

estudo de questões de aparência e moda, o servil

cuidado de imitar os hábitos e noções da moda.

Deve-se confessar que os cristãos têm pensamentos

demasiado sérios, a sensação de um interesse

demasiado pesado, uma consciência demasiado

solícita, e propósitos demasiado elevados, para lhes

permitir qualquer rivalidade com os devotos de tal

felicidade frágil. Certamente eles têm uma dignidade

em sua vocação que nega-lhes o prazer de ser frívolo,

mas você verá cristãos muitas vezes alegres, e às

vezes animados. E sua animação é de um tom mais

profundo do que o das suas criaturas esportivas,

podem ter. É a ação e o fogo das paixões maiores,

dirigidas a objetos maiores. Suas emoções são mais

internas e cordiais; elas podem ser afetuosas e

permanecer dentro do coração, com um brilho

prolongado, profundo e vital. Você pensou que esses

discípulos da verdadeira religião devem renunciar ao

amor ao prazer? Olhe então para sua política em

protegê-lo. A pior maneira de alcançar o prazer é

viver expressamente para ele; os cristãos vivem

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principalmente pelo dever, e o prazer vem como uma

certa consequência. Há também, na felicidade da

verdadeira religião, o que pode ser chamado de

princípio de acumulação; o prazer não desaparece no

gozo, mas, enquanto passa como um sentimento,

permanece um reflexo, e cresce em uma reserva de

consciência deleitosa, que a mente mantém como

uma possessão, deixada pelo que foi possuído. Ter

tido tal prazer é prazer; e é assim ainda mais, mais do

que é passado. Considerando que as delícias dos

filhos da loucura quando passadas são

completamente idas, deixando nada para se entrar

em um senso calmo e habitual de ser feliz. Seu prazer

é uma chama que consome inteiramente o material

sobre o qual é iluminado." (Foster)

É possível que você também tenha sido levado a

formar noções incorretas sobre a felicidade da

religião verdadeira, pelas representações um tanto

injustas e até mesmo imprecisas dadas por alguns

escritores e pregadores. Em seu benevolente ardor

pela salvação das almas e sua profunda convicção da

necessidade da religião para este propósito, eles têm

desenhado um quadro de verdadeira piedade em que

eles têm suprimido todos os tons mais escuros; as

características mais austeras da piedade pessoal; e

deram uma representação iluminada quase toda com

imagens deleitáveis. Eles mostraram o caminho da

graça e o caminho da paz; mas não o morro da

dificuldade, e o abismo do abatimento. Eles

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mostraram o céu brilhante e o florido caminho

verdejante; mas não a tempestade e a estrada

acidentada. Eles mostraram o grito e o louro da

vitória; mas não o cabo da guerra. Eles mostraram a

coroa brilhante; mas não a pesada cruz. O cristão é

representado mais como no Paraíso; do que

perseguindo um caminho esperançoso, embora

frequentemente cansativo, para suas felizes coroas.

Mas, a verdadeira religião tem suas dores, bem como

seus prazeres, só porque vem do céu para manter um

conflito mortal na alma com princípios e disposições

que são rebeldes contra o céu e destrutivos para a

própria alma. Ela se acende no caminho do homem

na capacidade de um espírito guardião, para assumir

a seu cargo um ser pervertido, pecador, tentado, que

deve ser humilhado e recuperado, e lhe ensinar

muitas lições mortificantes, sendo disciplinado

através de uma série de muitas correções, contido e

incitado; e assim conduzido em diante, avançando na

preparação para a felicidade de outro mundo. Esse

agente, tendo esse sujeito responsável, tendo que

treinar o filho rebelde da terra para as felicidades

puras do céu, "deve ser o infligidor de muitas dores

durante o progresso de sua cura benéfica". Isso é

suficiente para explicar esse aspecto sério e

ocasionalmente sombrio sob o qual a piedade se

apresenta mesmo naqueles que são seus verdadeiros

súditos. E o que tudo isto prova e ensina? Não que os

caminhos da sabedoria não tenham prazer, e os seus

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caminhos não tenham paz; mas que o prazer não é

tão puro, nem a paz tão sem moléstias, como alguns

de seus amigos iníquos representariam.

Destes, e são muitos, que no meio da riqueza, da

moda e do prazer, estão prontos às vezes a imaginar

que de nada precisam, ou pouco, para completar a

sua felicidade, eu pergunto; não há momentos em

que você mesmo ouve o eco da palavra "vaidade!"

Que vem de tantos quartos ao seu redor? Quando o

seu espírito suspira por algo maior e melhor do que

tudo o que possui? Não há sazonalidade de

saciedade, languidez, desapontamento e tédio,

quando se faz sentir que a alma do homem não pode

ficar satisfeita com as coisas vistas e temporais?

Nenhuma comunhão à meia-noite com seu próprio

coração, quando a máscara pintada cai da face do

mundo, e está diante de você um feio impostor? Seja

admoestado, então, a voltar-se para a fonte de todo o

bem. Procure o favor de Deus, através de Cristo. Beba

o fluxo de cristal em que anjos e espíritos

aperfeiçoados sorvem grandes goles de felicidade.

Participe das felicidades da imortalidade. Olhe para

o céu. Comece a eterna carreira de uma alma

passando de alegria em alegria na presença e favor de

Deus.

Mas há outros que, sentados em meio ao naufrágio

de suas posses, com as muitas memórias de sua

felicidade partida, as cenas de desilusões e os maus

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presságios do futuro, exclamam com um suspiro:

"Estes me contam de prazeres passados, e aqueles de

muitas vezes, e tão amargamente zombado pelas

"sombras do gozo", que abandonei a perseguição, e

sob a mão férrea da necessidade me empenho, como

último recurso de desespero, em me esforçar para

reconciliar-me com a miséria e extrair uma única

gota de conforto, a única que posso esperar, pela

consideração de que a felicidade é, em meu caso, uma

impossibilidade."

Pare, antes de chegar a tal conclusão, e pese bem o

que eu agora endereço a você. Você nunca ouviu falar

de alguém que veio ao nosso mundo "para amarrar o

coração partido e para consolar todos os que

choram?" Aquele que, estando no meio dos filhos

pecaminosos e tristes do homem, disse, em acentos

de ternura: "Bem-aventurados os que choram,

porque eles serão consolados; Vinde a mim, todos os

que estais cansados e carregados, e eu vos aliviarei."

Quão suave é essa linguagem! Que música para o

espírito perturbado! É a linguagem de Jesus Cristo, o

Filho de Deus, falando como o Salvador do homem;

e convidando todos os filhos e filhas da aflição, para

a fonte da felicidade que é aberta no evangelho de sua

salvação! Milhares atraídos pelo som e conduzidos

apenas pelos anseios instintivos de gozo que todo

coração sente, mas que neles haviam sido muitas

vezes decepcionados; vieram ao Evangelho como

uma experiência última e desamparada, quando

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todos os outros recursos falharam. E oh, que

descoberta inesperada eles fizeram!

Aqueles que não tinham encontrado lugar de

descanso no mundo e que haviam perambulado

através dele em busca de algum objeto, mesmo

insignificante, que pudesse interessá-los, e por um

momento, pelo menos, remover a sensação de que a

languidez desesperada que estavam mortos em seus

corações; encontraram agora um objeto que seus

mais amplos desejos não podem captar; nem mesmo

a comunhão filial com Deus aqui, e o pleno gozo dele

através da gloriosa eternidade no próprio limiar do

qual estão agora! Aqueles que se sentiram demasiado

fracos para resistir às tempestades e durezas da vida,

aprenderam a apoiar-se com confiança na

Onipotência; e os que não viam nada em suas

circunstâncias atuais ou suas perspectivas futuras,

senão uma interminável terra de desgraças, em que

mesmo o túmulo tinha perdido seus terrores, em

comparação com o caminho desolado que

percorriam; de repente se viram cercados com as

provisões do amor infinito e completo de Deus!

E o que causou a maravilhosa mudança? O que os

salvou do desespero e os elevou à plena certeza da

esperança? O que produziu uma transição tão grande

e tão súbita, e que lhes deu beleza no lugar de cinzas,

óleo de alegria para o pranto e roupa de louvor para

o espírito angustiado? O que? Marque bem a

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resposta! Fé! Eles creram no Evangelho de nosso

Senhor Jesus Cristo. Existe o grande segredo da

felicidade humana. Está tudo embrulhado naquele

monossílabo comum, mas transcendente: Fé! Como

nosso Senhor disse ao pai agonizante que lhe trouxe

seu filho possuído de demônios para ser curado,

"apenas creia!" Então eu digo ao homem que busca a

felicidade: "Apenas creia!" Esse passo transporta a

alma, das regiões de tristeza sem esperança, para a

terra da paz e da alegria. Nada fica entre o coração

triste e a bem-aventurança imediata, senão a

incredulidade; que a fé veio em seu lugar; e a

felicidade começa.

O Evangelho é o grande remédio universal; o

consolador do homem pecador e triste. Mas o que é o

Evangelho? As boas-novas anunciadas em passagens

como as seguintes: "Deus amou o mundo de tal

maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo

aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida

eterna". "É uma palavra fiel, e digna de toda

aceitação, que Jesus Cristo veio ao mundo para

salvar os pecadores". Tal é o Evangelho; o anúncio de

que Deus ama nossa raça culpada, deu seu Filho para

sua salvação, e perdoará, santificará e eternamente

salvará todos os que creem nestes fatos, e com um

coração penitente descansam sobre Cristo para a

salvação. A crença real nisso, que é fé, não pode

deixar de dar paz à consciência e alegria ao coração.

Pode um homem realmente acreditar que Deus o

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ama, que o Eterno é favoravelmente disposto para

com ele, que todos os seus pecados são perdoados, e

o céu assegurado a ele, e não ser grato e feliz?

Esta é a fé que somos chamados a ter, e a exercer. É

verdade agora que Deus ama nossa raça, que Cristo

morreu por nós, e a salvação com todas as suas

infinitas e eternas bênçãos é oferecida; e, portanto,

somos convidados sem demora a acreditar e entrar

no favor de Deus, na bem-aventurança de seus filhos

e na esperança da vida eterna. É em Cristo que

devemos regozijar-nos, assim como crer, e, portanto,

somos chamados a regozijar-nos imediatamente,

porque ele é tudo, e sua salvação é tudo. Nenhuma

espera longa ou obras piedosas podem lhe servir para

a fé; ao contrário, a fé é a fonte e o princípio de todas

as boas obras. Não podemos fazer nada de bom até

que acreditemos.

É esta maravilhosa e bela simplicidade do método

evangélico de salvação, que impede multidões de

entendê-lo; eles estão procurando por alguma coisa

grande que eles pensam que devem fazer para

conciliar Deus, fazendo expiação pelos seus pecados

passados; esquecendo-se de que a expiação foi feita

pelo Senhor Jesus Cristo, e que a única coisa que lhes

é exigida, para participar de seus efeitos, é crer nesse

fato e levar ao seu seio a paz que está calculada para

dar. É um erro supor que Deus não está disposto a

salvar o pecador; é o pecador que não quer ser salvo

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por Deus. "Como eu vivo, diz o Senhor, não tenho

prazer na morte dos ímpios." "Deus é amor", e está

esperando e disposto a conferir todos os benefícios

de Sua infinita benevolência àqueles que realmente

creem em Sua misericórdia, e em um espírito de fé

confiante descansar na Sua promessa.

A fé salvadora tem uma grande influência sobre

todos os sentimentos, ações e caráter. Embora não

haja mérito na fé; há poder maravilhoso nela! A fé é

a entrada da felicidade e da santidade para a alma.

Acreditar que o Deus eterno é reconciliado conosco,

perdoa todos os nossos pecados, nos recebe à Sua

graça especial, nos dá um título para a vida eterna,

deve necessariamente ser uma fonte de deleite

inefável e a causa de uma mudança inteira em todos

nossos gostos, aspirações, e caráter!

Se houvesse uma criatura a favor de quem

dependesse nossa vida, liberdade ou fortuna, a quem

tínhamos feito nosso inimigo e em cuja ira

tivéssemos incorrido, naturalmente o temeríamos

como sendo oposto a nós. Mas se uma mensagem

gentil foi enviada por ele, assegurando-nos de sua

disposição favorável, que ele ainda era nosso amigo,

e esperando, depois de reconhecermos nossa culpa,

para deixar de lado o seu desagrado, e para nos

conceder inestimáveis benefícios; a nossa crença na

mensagem, se realmente acreditássemos, mudaria

instantaneamente todo o estado de nossa mente e

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conduta para com ele! A inimizade daria lugar ao

amor; o medo daria lugar ao desejo e à esperança; a

tristeza daria lugar à alegria. Nós nos apressaríamos

à sua presença, nos jogaríamos a seus pés,

expressaríamos até onde as palavras o permitissem,

nossa gratidão; e estaríamos muito ansiosos para

agradá-lo. Assim é a mudança que a fé no Evangelho

produz no coração e na conduta de um pecador para

com Deus, assim que crê no amor que Deus tem por

ele, tal como o amor está expresso no Evangelho. A

verdadeira fé em Cristo é o fundamento da felicidade

do crente, dos meios de sua santidade, da fonte de

todas as suas ações e da verdadeira base de seu

caráter.

Amado leitor, aqui está a felicidade. "Os homens

serão abençoados nele", disse o salmista, ao falar do

Messias. A fonte da felicidade humana foi descoberta

quando Cristo nasceu! "Eis que vos trago boas

notícias de grande alegria!" Disse o anjo; "Porque vos

nasceu hoje um Salvador, que é Cristo, o Senhor!"

Esta mensagem foi ditada por aquele que fez o

coração, e sabe o que é ajustado para dar-lhe alegria.

O Evangelho não nos apresenta simplesmente como

pecaminosos, mas como miseráveis. Deus nos

convida a vir e sermos felizes. Ele encontra o grito

natural da miséria, e os desejos cansados e

indefinidos do espírito insatisfeito. Os seus convites

mais altos e gerais, tanto no Antigo como no Novo

Testamento, são dirigidos principalmente, não aos

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sentimentos morais, mas aos sentimentos naturais;

ao sentimento de miséria e ao desejo de felicidade. “Ó

vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que

não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim,

vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e

leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é

pão! e o produto do vosso trabalho naquilo que não

pode satisfazer? ouvi-me atentamente, e comei o que

é bom, e deleitai-vos com a gordura. Inclinai os

vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma

viverá; porque convosco farei um pacto perpétuo,

dando-vos as firmes beneficências prometidas a

Davi." (Isaías 55: 1-3).

Tente este caminho simples, bíblico e eficaz para a

felicidade! É o mais curto; o melhor; o único caminho

para a verdadeira felicidade! Inúmeros milhões

tentaram outros métodos, e todos falharam, e

morreram lamentando sua loucura em buscar sua

felicidade na terra e nas coisas terrenas. Mas quem

lamentou sua loucura ao buscar sua felicidade de

Deus? Quem, na doença, na desgraça, na morte, se

arrependeu de ter acreditado em Cristo e de ter

cuidado com a piedade pessoal e experimental?

Busque a felicidade que então estará em você quando

tudo o mais falhar, e permanecerá com você no meio

das cenas mutantes da vida; que o sustentará em

meio às agonias do último conflito; que irá com você

para o mundo invisível; e que na eternidade encherá

e satisfará os poderes do seu espírito glorificado; e o

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encherá e o satisfará para sempre, sem interrupção!

Para possuí-la, você deve abandonar os muitos que

dizem: "Quem nos mostrará algum bem?" E estar

entre os poucos que adotam e apresentam a oração

do salmista: "Senhor, ergue a luz do teu rosto sobre

nós!"