Reconhecimento e evasão do sistema imune inato por fungos e ...

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RESUMO o sistema imune humano pode ser dissociado em duas vertentes: imunidade inata e imunidade adquirida. Embora diferentes, estes dois tipos de imunidade se completam e são bem efetivos no combate aos microrganismos invasores. A imunidade inata é aquela que já está pronta no momento da infecção. É composta principalmente por fagócitos, células natural killer (NK), proteínas séricas conhecidas como sistema do complemento e citocinas. Embora não apresente uma especificidade apurada, como ocorre na imunidade adquirida, vários receptores estão presentes na imunidade inata e são capazes de reconhecer moléculas conservadas presentes nos patógenos, chamados de padrões moleculares associados a patógenos (PAMPS). O reconhecimento dos PAMPS é executado por receptores de reconhecimento de padrões (PRR), dentre os quais se destacam os receptores do tipo TolI (TLRs). A ativação dos receptores TolI culmina na ativação celular e na liberação de diversos mediadores da resposta imune que contribuem para a eliminação de patógenos como fungos e protozoários. Fungos são seres dispersos no meio ambiente e, embora sejam estimados em 250 mil espécies, menos de 150 foram descritos como patógenos aos seres humanos. Leveduras são fungos capazes de colonizar o homem e animais e, frente à perda do equilíbrio parasita-hospedeiro, podem causar diversos quadros infecciosos com formas clínicas localizadas ou disseminadas. De modo contrário, fungos filamentosos, ou bolores, normalmente, não fazem parte da microbiota animal e portanto o homem não é um reservatório importante para esse grupo de fungos. As portas de entrada no hospedeiro são as vias aéreas superiores ou quebra na barreira epidérmica após traumatismos com objetos perfuro-cortantes. Protozoários são patógenos unicelulares eucariontes que habitam dentro de células hospedeiras e / ou líquidos extracelulares. Estes organismos normalmente causam infecções de longa duração, a fim de maximizar as oportunidades para uma infecção bem-sucedida. Seu sucesso como parasitas depende de uma série de adaptações altamente evoluídas que os capacita para fugir da destruição pelo sistema imunológico. A infecção por protozoários é um importante problema de saúde mundial, afetando mais de meio bilhão de pessoas no

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RESUMO

o sistema imune humano pode ser dissociado em duas vertentes: imunidade inata e

imunidade adquirida. Embora diferentes, estes dois tipos de imunidade se

completam e são bem efetivos no combate aos microrganismos invasores. A

imunidade inata é aquela que já está pronta no momento da infecção. É composta

principalmente por fagócitos, células natural killer (NK), proteínas séricas conhecidas

como sistema do complemento e citocinas. Embora não apresente uma

especificidade apurada, como ocorre na imunidade adquirida, vários receptores

estão presentes na imunidade inata e são capazes de reconhecer moléculas

conservadas presentes nos patógenos, chamados de padrões moleculares

associados a patógenos (PAMPS). O reconhecimento dos PAMPS é executado por

receptores de reconhecimento de padrões (PRR), dentre os quais se destacam os

receptores do tipo TolI (TLRs). A ativação dos receptores TolI culmina na ativação

celular e na liberação de diversos mediadores da resposta imune que contribuem

para a eliminação de patógenos como fungos e protozoários.

Fungos são seres dispersos no meio ambiente e, embora sejam estimados em 250

mil espécies, menos de 150 foram descritos como patógenos aos seres humanos.

Leveduras são fungos capazes de colonizar o homem e animais e, frente à perda do

equilíbrio parasita-hospedeiro, podem causar diversos quadros infecciosos com

formas clínicas localizadas ou disseminadas. De modo contrário, fungos

filamentosos, ou bolores, normalmente, não fazem parte da microbiota animal e

portanto o homem não é um reservatório importante para esse grupo de fungos. As

portas de entrada no hospedeiro são as vias aéreas superiores ou quebra na

barreira epidérmica após traumatismos com objetos perfuro-cortantes.

Protozoários são patógenos unicelulares eucariontes que habitam

dentro de células hospedeiras e / ou líquidos extracelulares. Estes organismos

normalmente causam infecções de longa duração, a fim de maximizar as

oportunidades para uma infecção bem-sucedida. Seu sucesso como parasitas

depende de uma série de adaptações altamente evoluídas que os capacita para

fugir da destruição pelo sistema imunológico. A infecção por protozoários é um

importante problema de saúde mundial, afetando mais de meio bilhão de pessoas no

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mundo inteiro. Muitas das doenças que induzem (como a malária, a tripanossomíase

e a leishmaniose) representam as principais causas de mortalidade e morbidade em

países tropicais e, como tal, são obstáculos importantes ao desenvolvimento

econômico.

A resposta Imune frente aos fungos e protozoários pode variar dependendo da

morfologia que eles se encontram. Defesas imunes inatas, incluindo receptores de

f3-glucano, receptores de manose, dectina-1 e receptores toll-like (TLRs), evoluíram

para reconhecer e responder aos componentes da parede celular dos fungos (f3-

glucano, manose, etc) e protozoários (âncoras de glicosilfosfatidilinositol,

lipofosfoglicano). Estes receptores reconhecem o patógeno e dão início a uma

cascata de sinalização levando a expressão de moléculas microbicidas e citocinas.

O sucesso do estabelecimento e sobrevivência dos fungos e protozoários no

hospedeiro depende, principalmente, dos mecanismos desenvolvidos por eles para

se esquivarem do sistema imunológico. Dentre estes mecanismos os principais são:

penetração e multiplicação em células, evitando mediadores extracelulares; variação

de antígenos de superfície, o que dificulta o reconhecimento e ativação de

receptores da imunidade; revestimento de PAMP, que impede o reconhecimento

pelo receptores; modulação de sinais inflamatórios; liberação de iscas GPA que

agem concorrendo no reconhecimento com o microrganismo; internalização de

células não-fagocíticas, e com isso escapar de mecanismos de defesa

extracelulares; modulação de TLR para infectar células e garantir sua multiplicação;

persistência nos macrófagos, indicando que a fagocitose não é necessariamente a

morte do microrganismo; evasão do Sistema Complemento, através da ligação com

os inibidores do complemento; evasão da resposta inata humoral, através da

produção de moléculas de superfície anti-complemento, inibido a formação da C3

convertase; modulação da apoptose, já que está inibição mostrou prolongar a vida

da célula e, assim, promover a difusão do parasita no hospedeiro; dentre outros.

O conhecimento sobre os mecanismos de evasão utilizados pelos patógenos

permite o desenvolvimento de novas estratégias de combate a estes

microrganismos e consequentemente uma melhor qualidade de vida para o ser

humano.

Palavras- chave: Imunidade inata - Receptores TolI-like - Mecanismos de evasão -

Fungos - Protozoários