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“O dinheiro é a história de maior
sucesso imaginada por humanos,
porque é a única história em que todos acreditam.
Desde um simples ato de troca até a ganância
pelo ouro e a economia globalizada de hoje,
o significado do dinheiro e o
que nós valorizamos muda conforme a civilização evolui.
Se o dinheiro moderno é um reflexo
de quem somos, o que isso diz sobre nós?” Ferguson
Apresentação
Milhões de brasileiros não conhecem a diferença entre juros simples e
compostos e muito menos conseguem manter uma reserva financeira para
emergências. Há mais de 50 milhões de brasileiros com o nome negativado
no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Uma pessoa alfabetizada
financeiramente compreende como ganhar, gastar, investir e poupar seu
dinheiro. São questões como essa que justificam a organização dessa
publicação, que foi originalmente postada em meu blog. Além disso, em 2018
foi aprovada a nova lei da Base Nacional Comum Curricular, que trata das
diretrizes nacionais para educação no Brasil. Pela primeira vez, a educação
financeira passou a fazer parte dos currículos obrigatórios de todos os
colégios do país, sendo um dos assuntos abordados no ensino da matemática.
Minha educação financeira começou bem cedo, aos 10 anos, quando
comecei a trabalhar no bar da família. Alguns anos mais tarde passei a poupar
parte do salário que recebia como desenhista, profissão que exerci dos 13 aos
18 anos. Foi essa disciplina que me permitiu mais tarde custear integralmente
meus gastos durante o curso de Engenharia Mecânica da UFSC.
Ao longo da vida venho realizando investimentos sempre com muito
cuidado e dentro de um planejamento cuidadoso, procurando usufruir de uma
boa qualidade de vida no presente sem descuidar do futuro. Nem sempre é
fácil esse equilíbrio.
Atualmente tenho a preocupação de ensinar aos meus filhos alguns
conceitos básicos da inteligência financeira. E tenho certeza que muitas outras
famílias têm esse mesmo desafio. Um país economicamente mais saudável
começa com ensinamentos simples em casa.
Boa leitura !
Prof. Jesué Graciliano da Silva
Ensinando noções de economia para crianças
Enquanto consumir parece ser uma religião, precisamos ampliar a
consciência de que os recursos naturais não são infinitos.
Não é fácil vivenciar a cultura de que “menos é mais”. Somos
fortemente influenciados pelo modo de vida norte-americano e pela lógica de
que “quanto maior ou mais novo melhor”. A obsolescência programada, a
indústria da propaganda e do entretenimento muitas vezes nos induzem ao
consumo pelo consumo, principalmente em momentos festivos como o Natal.
Não é fácil resistir.
Se o sistema incentiva a gastar até o que não temos, acumular dinheiro
é visto por alguns como algo pecaminoso. Se você economiza é sovina e
avarento… Muitos acreditam que ser pobre é uma virtude. Marcos escreveu
no evangelho: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do
que um rico entrar no reino dos céus…” O interessante é que há algumas
décadas o líder chinês Deng Xiaoping disse que enriquecer era glorioso.
Desde então muitos chineses vem ficando ricos em um regime tido como
comunista.
Nossa relação com o dinheiro é sujeita a influências diversas, mas nem
sempre temos consciência. Os ensinamentos de nossos pais, as mensagens das
novelas, as histórias infantis, os valores cristãos e as propagandas na TV têm
impactos na forma como lidamos com o assunto. Por esse motivo penso que é
importante entender como funciona a microeconomia. E digo isso porque
vivemos em um país em que mais de 60 milhões de brasileiros estão com o
nome sujo no SPC. Um quarto delas está desempregada. E se parte dos
brasileiros não está conseguindo equilibrar seus orçamentos, a União não é
um bom exemplo. O déficit público de 150 bilhões de reais ao ano é motivo
de preocupação. Os Estados estão com dívidas gigantescas. Muitas prefeituras
quebradas. Se o governo perde sua capacidade de investimento, a roda da
economia acaba emperrando. Os liberais que me desculpem, mas um pouco
de keynesianismo durante as crises muitas vezes ajuda. Os norte-americanos
têm muita experiência nessa área com o New Deal de Roosevelt e com a
injeção de 700 bilhões de dólares durante a crise de 2008 por Barack Obama.
Por falta de opção, recebi as primeiras lições de economia financeira
muito cedo. Aos 10, no bar de meu pai, aprendi o que eram as margens de
lucro na compra e na venda de cigarros e bebidas. Desde jovem tive a
consciência de que era importante economizar uma parte do salário.
Gastar menos do que se ganha é essencial. Isso significa restringir o
consumo no presente em troca de uma promessa de consumo futuro. Cresci
vendo o sacrifício de minha família como trabalhadores rurais (bóias-frias).
Por isso também procurava ajudar nas despesas da casa. Assim que passei a
trabalhar como desenhista de arquitetura repassava todo salário para minha
mãe. Com o tempo passei ganhar um pouco melhor e por isso abri aos 16 anos
minha primeira poupança no Bradesco. Observei com atenção os erros e
desacertos dos diversos planos econômicos. O mais emblemático foi o
congelamento de preços determinado pelo presidente José Sarney em 1986.
Recentemente tive interesse de compreender a dinâmica do
desenvolvimento regional e o papel da educação profissional nesse processo.
Foi necessário mergulhar nos estudos econômicos para escrever a parte
introdutória da tese de doutorado.
Queria entender como as grandes potências se desenvolveram. As obras
de Niveau, Alice Amsden, Hunt & Sherman, Niall Ferguson, Daron
Acemoglu, Leo Hubberman, Michael Porter e Pikety foram de grande ajuda.
Entender porque algumas regiões se destacavam enquanto outras entravam em
colapso também me intrigava. Por isso estudei um pouco os parques
tecnológicos, a Terceira Itália, o Vale do Silício, o Vale dos Vinhedos no Rio
Grande do Sul e as políticas de desenvolvimento regional.
Mas nem todo mundo tem paciência e interesse de ler sobre
fundamentos econômicos, principalmente os adolescentes. Por isso comecei a
pensar na melhor forma de abordar o assunto.
Entendo que as histórias contadas têm um poder de comunicação
incomparável. Lembrei-me das histórias infantis e como poderia explorar o
fato delas serem de conhecimento universal. Fazer análise econômica destas
histórias me pareceu uma boa alternativa.
As crianças crescem ouvindo estórias cheias de mensagens
subliminares. Entre elas tem aquela do porquinho trabalhador, que fez sua
casa de tijolos e por isso salvou seus dois irmãos do lobo mau. La Fontaine
nos brindou com a estória das formigas que trabalhavam duro durante o verão
para terem alimento durante o inverno. Já a cigarra só queria cantar e fazer
festas. Conheço algumas pessoas que têm esse comportamento pouco
previdente. Há muitas outras estórias como a lenda do rei Midas, João e
Maria, João e o Pé de Feijão. Quem não conhece a história do Príncipe e o
Vagabundo? Até o Pequeno Príncipe traz algumas lições: “para que serve
mesmo ser rico?” Pergunta o principezinho para o adulto ganancioso.
Na minha revisão bibliográfica encontrei um excelente artigo falando
exatamente dos contos infantis como instrumento de letramento econômico
das crianças, o que mostra que estou no caminho certo.
O teste do Marshmallow
Na década de 1960 em Stanford, Walter Mischel projetou um
experimento para avaliar a capacidade das crianças se controlarem diante de
um doce, que ficou conhecido como The Marshmallow Test. Nele uma
criança sozinha em uma sala recebe 1 marshmallow, mas é informada de que
se esperar alguns minutos poderia receber 2 marshmallows. Dois terços das
crianças não aguentaram e comeram o doce. Enquanto um terço delas resistiu.
Os pesquisadores acompanharam o desempenho escolar das crianças ao longo
de uma década e descobriram que aquelas que controlaram melhor seus
impulsos eram mais bem sucedidas.
O teste pode ser utilizado para falar sobre educação financeira com
crianças e adolescentes, pois retrata um pouco o que acontece com os adultos.
Lembro-me que muitos ganhadores da Loteria, Mega-Sena ou do Big Brother
acabam pobres. Muitos jogadores de futebol outrora famosos terminam a vida
dependendo de outras pessoas. Há razões diversas, entre elas a falta de
orientação para lidar com o sucesso ou com a riqueza conquistada muito
rapidamente. Em alguns casos as pessoas são enganadas por empresários e
corretores inescrupulosos.
O experimento do marshmallow está mais presente do nosso dia a dia
do que pensamos. Quando uma pessoa ganha um prêmio de 500 mil de reais
tem a opção de sair gastando imediatamente ou aplicar o dinheiro para receber
o dobro depois de alguns anos. Nesse exemplo a pessoa teria 100% de lucro
em seu investimento. Mas será que ela aceitaria a proposta? O que é melhor?
Consumir no presente ou no futuro? Penso que isso depende muito das
expectativas e maneira de viver de cada pessoa. Muitos vivem intensamente o
presente, como se não houvesse amanhã.
Como conclusão posso afirmar que as pessoas que resistem mais a seus
impulsos têm mais chances de alcançar sua autonomia financeira no futuro. A
disciplina para economizar todos os meses 10% do salário não é encontrada
em todos os assalariados. Mas para construir ativos e começar o próprio
negócio é importante acumular aquilo que se chama de capital inicial. E isso
vale também quando se tem por objetivo adquirir uma casa própria ou
comprar um carro novo.
Por experiência posso dizer que quando conseguimos poupar
conseguimos descontos maiores do que quando compramos a prazo. Certa vez
consegui 30% de desconto na compra de um terreno à vista.
É mais fácil obter descontos maiores pagando à vista. Muitas pessoas
não pensam duas vezes antes de comprar no cartão de crédito. Elas acreditam
que o importante é a prestação caber no orçamento. Mas não pensam nas altas
taxas de juros. Outro dia vi um sofá que custava 1800 reais à vista. Se o
cliente comprasse a prazo pagaria 12 prestações de 290 reais. A pessoa estaria
comprando um sofá e pagando dois. Parece o experimento do marshmallow
ao contrário. E assim as lojas acabam ganhando mais cobrando juros do que
vendendo eletrodomésticos.
Para saber mais veja um vídeo demonstrativo:
Educando com Monopoly
Ensinar as crianças e adolescentes sobre os fundamentos econômicos
pode ser mais fácil se partirmos daquilo que elas conhecem. Ao longo dos
anos adquiri diversos jogos de tabuleiro para meus filhos. Entre eles o
Monopoly, que já vendeu mais de 200 milhões de exemplares em todo mundo.
“Compre terra – já não se fabrica mais”, disse certa vez Mark Twain. É
uma máxima que certamente pode ser aplicada em uma partida do Monopoly,
o bem-sucedido jogo de tabuleiro que ensinou gerações de crianças a comprar
propriedades, enchê-las de hotéis e cobrar aluguéis astronômicos de outros
jogadores pelo privilégio de passar por ali por acidente.
Os jogadores podem comprar ou vender casas, bairros, hotéis e
empresas. Alguns jogadores ficam ricos e outros vão à falência. Os direitos
do jogo foram vendidos por Charles Darrow alguns anos após a quebra da
Bolsa de Valores de Nova Iorque. Mas na verdade Monopoly foi “inspirado”
em um jogo chamado de The Landlord’s, criado por Magie Phillips para
ensinar princípios econômicos básicos como taxa de juros e funcionamento
dos monopólios. O pai de Magie lhe presenteou com um livro de Henry
George, Progresso e Pobreza (1879). No livro ela aprendeu que “o direito
igual de todos os homens ao uso da terra é tão claro como seu direito a
respirar o ar – é um direito proclamado pelo fato de sua existência”. Em suas
viagens Henry George assistiu a diversos casos de perdas do direito à
propriedade em meio ao enriquecimento de algumas poucas famílias. A
desigualdade da posse de terras era responsável pela pobreza e pelo progresso.
O jogo de Magie tinha por objetivo denunciar e ensinar as crianças os
problemas decorrentes do capitalismo monopolista.
Segundo Magie os jogadores deveriam experimentar papeis diferentes
em relação à posse da terra e perceber que isso levava a resultados sociais
diferentes. O filho de um grande proprietário de terras em geral tem mais
oportunidades que o filho de um lavrador. Eles podem até brincar juntos na
infância, mas quando adultos suas histórias de vida podem ser muito distintas.
A propriedade da terra ainda é um grande fator de desigualdade.
Na década de 1990 os direitos do jogo foram adquiridos pela empresa
Hasbro, que recentemente o lançou na forma de aplicativos para as versões
IOS e Android.
O jogo é uma forma lúdica de ensinar que adquirir imóveis em boa
localização é uma estratégia antiga de enriquecimento. Apesar de o mercado
imobiliário estar sofrendo os efeitos da crise recente, os imóveis ainda são
uma opção de investimento imbatível para os investidores mais
conservadores.
Um imóvel pode ser um ativo ou um passivo. Se uma pessoa adquire
um imóvel bem localizado para investimento e não consegue vendê-lo ou
alugá-lo, tem-se uma fonte de despesas. Mas provavelmente o valor do
imóvel se valorizará com o tempo.
É possível utilizar o jogo como um gancho para explicar para as
crianças e adolescentes as diferentes formas de se ganhar dinheiro com os
imóveis. Algumas pessoas tem como atividade profissional a aquisição de
imóveis em leilões por valores inferiores ao de mercado. Esses imóveis
podem se valorizar muito depois da intervenção de um arquiteto e designer
de interiores.
Algumas pessoas compram casas de veraneio para alugar. Nesse caso
os ganhos de aluguel podem ser utilizados para pagar o financiamento do
imóvel. Isso funciona bem se há escassez de imóveis desocupados em
determinadas regiões.
Muitas pessoas costumam comprar imóveis na planta para vendê-los
com sobre preço depois de prontos. Outras pessoas são especializadas em
comprar terrenos na periferia e construir imóveis de pequeno valor para
vendê-los com boa margem de lucro. Quem já leu os livros do escritor
Gustavo Cerbasi deve se lembrar que a compra e venda de imóveis foi uma de
suas primeiras estratégias de enriquecimento.
Mas quando falamos de imóveis temos que lembrar que a economia do
país tem muita influência nos preços praticados. Quando as pessoas perdem
seus empregos é difícil convencê-las a comprar imóveis financiados. E sem
financiamento para os compradores as construtoras acabam demitindo os
profissionais da construção civil.
Ao conversar com minha filha sobre o Monopoly foi possível explicar
porque as pessoas pagam aluguel pelo uso de uma propriedade que não é sua.
O jogo também permite explicar porque algumas regiões são mais valorizadas
do que outra. Normalmente, quanto mais próximo do centro mais caro é um
terreno. E essa lógica acaba determinando a localização das indústrias e
loteamentos nas periferias das grandes cidades.
Enfim, jogos como Cash-Flow e Monopoly, também conhecido no
Brasil como Banco Imobiliário, podem ajudar na educação de matemática,
geografia (localização dos imóveis é essencial) e economia. Basta criatividade
para tanto.
Saiba como jogar Cash-Flow – criado por Robert Kyosaki
Saiba como jogar Monopoly
Um vilão chamado “quilowatt-hora”
No verão as pessoas se assustam com o aumento da conta de energia
elétrica. As temperaturas do verão acabam obrigando os consumidores a
utilizarem mais os aparelhos de climatização.
Figura – Ilustração de um aparelho de climatização split.
É importante entender que 1 kWh (quilowatt-hora) corresponde ao
consumo de 3.600kJ de energia. Observe que kJ (quilojoule) é unidade de
energia. A letra “k” significa 1.000. A letra “W” corresponde a unidade de
potência Watt. Mas 1 Watt é igual a 1 Joule dividido por 1 segundo (1 J/s).
Como 1 hora corresponde a 3.600 segundos temos:
1 kWh = 1000 J/s . 3600 s = 3.600.000 joules ou 3.600kJ.
Os aparelhos de ar condicionado são capazes de reduzir a temperatura e
a umidade relativa de um ambiente, melhorando a sensação de conforto
térmico dos ocupantes. A maioria das pessoas se sente confortável à
temperatura de 25ºC e umidade relativa de 50%.
Quando a umidade relativa do ar é reduzida o suor depositado na
superfície de nossa pele consegue se evaporar mais facilmente. E isso ajuda a
manter nosso equilíbrio térmico.
Um equipamento de climatização split de 12.000BTU/h com etiqueta
do Inmetro classe A consome em torno de 1kW. Não vamos considerar o fator
de potência para simplificar as contas. Se o aparelho ficar ligado durante 10
horas por dia ao longo de 30 dias teremos um consumo aproximado de
300kWh por mês.
kWhdiasdia
hkWConsumo 30030.
10.1
O valor gasto é de 300kW.h x R$ 0,78 = R$ 234,00 fora os impostos.
Para que o consumo dos aparelhos de climatização não seja uma dor de
cabeça na hora de se pagar a conta há algumas dicas práticas. A primeira é
calcular corretamente a carga térmica do ambiente a ser climatizado. Um
engenheiro ou um técnico de climatização deve ser consultado se necessário.
Esse cálculo vai determinar a capacidade ideal do aparelho a ser instalado.
Aparelhos mal dimensionados contribuem para gastos excessivos.
Ambientes de mesma área podem precisar de aparelhos de capacidades
térmicas diferentes. Um dos ambientes pode ter uma janela maior ou uma
parede que recebe sol da tarde, por exemplo.
Sempre que possível é importante adquirir aparelhos da Classe A
(Etiqueta do Inmetro). Os mais econômicos são do tipo Inverter.
O preço pode ser mais alto, mas um aparelho classe A inverter, de igual
capacidade, pode consumir 30% menos. O consumo de 300kWh calculado
anteriormente poderia ser reduzido para 210kWh. A redução de 90kWh
corresponde a uma economia de R$ 70,00 por mês. Vamos supor que esse
aparelho seja utilizado durante 4 meses por ano. O que daria R$ 280,00 de
economia por ano.
Mas ressaltamos que o aparelho modelo Inverter exige mais cuidados
com a manutenção, principalmente quando instalado no litoral, por conta da
maresia.
A posição da unidade evaporadora também deve ser observada. Não é
incomum ver aparelhos splits ou de janela instalados na parte de baixo da
parede. Essa configuração consome mais energia.
A bitola dos fios utilizados para instalar os equipamentos de
climatização deve ser compatível com as recomendações do catálogo. A
economia na fiação pode aumentar o risco de incêndio e aumentar o consumo
de energia.
A limpeza e troca do filtro da unidade interna e a limpeza periódica do
ventilador e da serpentina externa contribuem para aumentar a vida útil do
equipamento, reduzir problemas de qualidade do ar e reduzir o consumo de
energia. A unidade condensadora externa, sempre que possível, deve ser
protegida da radiação solar direta. A sua posição também deve permitir fácil
circulação de ar pelas serpentinas.
O controle remoto, se bem utilizado, permite realizar a programação do
funcionamento do equipamento de climatização. Muitas vezes o aparelho
pode ser desligado por volta das 4h da madrugada, quando a temperatura do
ambiente externo é mais baixa. Há usuários que fixam a temperatura de set-
point do aparelho de ar condicionado em 18ºC, o que aumenta o consumo de
energia. Lembrem-se que a temperatura de conforto térmico fica entre 24 e
26ºC.
Há ainda usuários que utilizam os aparelhos de climatização com portas
do ambiente abertas, o que acaba aumentando o consumo e reduzindo a vida
útil do equipamento. E há quem deixe o aparelho de climatização ligado sem
necessidade.
Sempre que possível, a parede do ambiente climatizado que recebe a
incidência direta do sol da tarde deve ser isolada. É importante também que as
janelas que recebem insolação direta sejam protegidas por meio de breeses
externos, cortinas ou películas reflexivas.
Aparelhos de climatização antigos consomem, aproximadamente, 25%
a mais que os aparelhos mais novos com etiqueta de classe “A”. Muitas vezes
a troca de um aparelho antigo por um novo pode ser um bom negócio.
Para fins de simplificação vamos supor que um aparelho de
climatização de 12.000BTU/h novo tenha uma redução de consumo de R$
50,00 por mês em relação a um aparelho antigo. Supondo que esse aparelho é
utilizado o ano todo. Nesse caso, a economia em 10 anos será de,
aproximadamente, 8 mil reais. Nesse caso consideramos que o valor
economizado seria aplicado todo mês a uma taxa de juros de 0,5% por 120
meses.
67,8193005,0
)1)005,01(00,50 120
FV
Como é possível observar a troca do aparelho velho por outro novo
classe A, mesmo que não seja Inverter compensará o investimento realizado.
Mesmo que o aparelho não seja ligado o ano todo, o retorno do investimento
deverá retornar em no máximo 4 anos.
Saber utilizar um aparelho de climatização é uma questão de economia
doméstica. As crianças devem aprender desde cedo o quanto custa cada hora
de equipamento ligado. Elas podem não compreender o impacto de R$ 0,78
por 1kWh, mas entendem bem se explicarmos que a economia realizada ao
longo de 10 anos dará para comprar até um carro usado ou para pagar aquele
tão sonhado intercâmbio.
E não se esqueçam, antes de contratar um instalador, verifiquem se ele
é um técnico de verdade. Uma instalação mal feita também contribui para o
aumento do consumo. Um técnico de refrigeração e climatização deve ter
1200 horas de formação específica.
Essas são dicas simples que podem ajudar na redução do consumo
mensal. Os aparelhos de climatização são uma das invenções mais
importantes da humanidade, mas devem ser utilizados com sabedoria.
Economia no consumo consciente de água
O consumo consciente de água é uma questão de sustentabilidade
ambiental, mas também uma oportunidade de se praticar economia doméstica.
Gastar água em excesso é como jogar dinheiro pelo ralo. Também há uma
responsabilidade social envolvida. A água tratada que recebemos em casa é o
sonho de milhares de famílias brasileiras que ainda não tem esse conforto.
O gasto médio diário de água por pessoa em Santa Catarina é estimado
em 175 litros. Isso significa que uma família composta por 4 pessoas gasta,
aproximadamente, 700 litros de água por dia ou 21.000 litros por mês.
Uma forma interessante de ensinar os adolescentes a entenderem o
quanto gastam é pedir para que eles acompanhem a indicação do hidrômetro
antes e depois de cada banho. A diferença indica o volume de água gasto. Para
esse procedimento é importante que todas as outras torneiras sejam
desligadas.
O consumo de água em um único banho pode não assustar muito, mas
deve ser multiplicado por 4 pessoas e por 30 dias. Outra forma indireta de se
medir o gasto de água no banho é colocar um balde debaixo do chuveiro com
volume conhecido e avaliar o tempo de enchimento.
Vamos supor que um balde de 10 litros seja cheio em 120 segundos.
Como um minuto tem 60 segundos podemos fazer uma regra de três é
encontrar que a vazão do chuveiro é de 5 litros por minuto. Sabemos que 10
litros está para 120 segundos, assim como “x” litros está para 60 segundos.
Logo,
min5
120
60.10 litrosx
Assim, um único banho de 15 minutos corresponde a um consumo de
15 x 5 = 75 litros.
Para quatro pessoas tomando 1 banho por dia de 15 minutos temos um
consumo diário de 300 litros. Ao longo de um mês a família vai consumir
9.000 litros (9m³) somente no banho.
Mas quanto isso custa em reais? Se o total consumido de água no mês
for entre 11 e 25 metros cúbicos, o valor cobrado é de R$ 6,30 por m³. Se o
consumo ultrapassar 25m³ no mês o custo é de R$ 8,70 por m³. Vamos usar
um valor médio de R$ 7,50 por m³ nos nossos cálculos. Só que além da água
consumida algumas concessionárias cobram também uma taxa referente ao
serviço de tratamento de esgoto. Na Palhoça esse valor é de 80% do valor da
água. Logo, para 9m³ tem-se um gasto de 9 x R$ 7,50 = R$ 67,50 para água +
R$ 54,00 para o tratamento do esgoto = R$ 121,50 por mês.
Agora vamos supor que o tempo de banho seja reduzido pela metade. A
conta de água seria de 4,5m³ x R$ 7,50 = R$ 33,75 + 27,00 para o tratamento
do esgoto = R$ 60,70 por mês.
A economia de R$ 60,70 por mês poderia ser aplicada mensalmente
(PMT), o que geraria um valor acumulado de quase R$ 10.000,00 (FV) em
10 anos (n=120 meses) valor que pagaria uma viagem de intercâmbio,
ajudaria na troca do carro ou seria uma boa poupança para a universidade dos
filhos. Nesse cálculo usamos taxa de juros de 0,5% ao mês. Há uma equação
que relaciona pagamentos mensais e valor futuro.
i
iPMTFV
n )1)1(
17,9490005,0
)1)005,01.(70,60 120
FV
Nessa equação FV = valor futuro, PMT são os aportes mensais, i = taxa
mensal de juros e n corresponde ao número de meses.
Essa economia seria possível com uma simples mudança de hábitos.
Algumas famílias têm instalado temporizadores nos chuveiros, outras
controlam o tempo do banho dos filhos por meio de cronômetro do celular e
outras fecham parcialmente o registro de água para reduzir a vazão na
canalização.
A troca de uma máquina de lavar roupas por outra que gasta menos
água é também uma boa opção. Outra maneira de se economizar é usar a água
da chuva coletada nas calhas para descarga dos banheiros.
Vamos imaginar agora que uma máquina de lavar roupa nova custe R$
2.500,00, mas que ela consuma metade da quantidade de água de uma
máquina antiga. Nesse caso vamos supor que a máquina é utilizada a cada 3
dias no mês. São 10 lavações de 400 litros cada. A nova máquina gasta 200
litros a cada lavação, o que equivale a uma economia de 2000 litros de água
ao mês. Considerando-se o custo de 1 m³ de água como sendo da ordem de R$
15,00 (água e taxa de esgoto) temos uma economia mensal de
aproximadamente R$ 30,00. Parece pouco, mas ao longo de 10 anos teremos
economizado quase R$ 5000,00.
38,4916005,0
)1)005,01(00,30 120
FV
Essa economia corresponde a apenas ao valor que deixamos de gastar
com a água. Uma máquina de lavar nova modelo com etiqueta classe A do
Inmetro pode economizar até 20% de energia elétrica em relação a uma
máquina antiga.
O valor de um copo de água no deserto
Dos 10 aos 13 anos trabalhei meio período no bar de minha família, que
ficava na frente de casa. Além de atender e servir os clientes também limpava
o chão, lavava os copos, organizava o balcão e verificava os estoques de
refrigerantes, cigarros e cervejas. Quando sobrava tempo desenhava estórias
em quadrinhos e caricaturas dos clientes. Minha carreira na engenharia
começou porque o gerente do banco Itaú me observou desenhando o Batman
e me indicou para trabalhar em um escritório de engenharia. Além de aprender
na prática os malefícios do álcool, do cigarro e do jogo, também foi no bar
que aprendi as primeiras lições de educação financeira. Desse período lembro-
me de meu pai me chamando de gerente, dos bêbados de final de noite e de
um cliente que me fez uma pergunta intrigante: “Qual o valor de um copo de
água no deserto?” Nessa época eu não entendia a diferença entre valor e
preço. Isso se deu no ano de 1983, quando a inflação assombrava o país. Os
preços subiam semanalmente e era preciso remarcar os produtos para não
perder dinheiro. O cliente me ensinou que um copo de água podia não valer
muito na cidade, mas no deserto uma pessoa com sede pagaria o que pudesse
para não morrer. O preço é orientado pela escassez do produto.
Essa ideia nunca me saiu da cabeça. O valor de um produto depende da
utilidade que tem para uma pessoa. Eu não fazia ideia, mas um dos primeiros
economistas a pensar sobre o conceito de valor foi Adam Smith, que publicou
o livro “A riqueza das nações” no ano de 1776. Adam Smith fez uma
comparação interessante entre o valor de um copo de água e de um diamante.
A esse respeito ele escreveu:
Importa observar que a palavra VALOR tem dois
significados: às vezes designa a utilidade de um
determinado objeto, e outras vezes o poder de compra que
o referido objeto possui, em relação a outras mercadorias.
O primeiro pode chamar-se “valor de uso”, e o segundo,
“valor de troca”. As coisas que têm o mais alto valor de
uso frequentemente têm pouco ou nenhum valor de troca;
vice-versa, os bens que têm o mais alto valor de troca
muitas vezes têm pouco ou nenhum valor de uso. Nada é
mais útil que a água, e ,no entanto, dificilmente se
comprará alguma coisa com ela, ou seja, dificilmente se
conseguirá trocar água por alguma outra coisa. Ao
contrário, um diamante dificilmente possui algum valor
de uso, mas por ele se pode, muitas vezes, trocar uma
quantidade muito grande de outros bens (SMITH, 1776).
À época ele não poderia antever o valor de uso dos diamantes na
extração de petróleo, mineração entre outras aplicações.
Recentemente me lembrei dessa pergunta quando visitamos o Museu da
Mercedes Benz em Stuttgart. Tomamos um ônibus seguindo as indicações do
mapa, mas a comunicação com o motorista não fluiu muito bem. Acabamos
descendo no ponto errado e o jeito foi andar até o museu. A distância que
percorremos deve ter sido de, aproximadamente, 2 quilômetros, mas a
temperatura era de 35 graus Celsius. Para piorar, não havíamos levado água e
parecia que íamos desmaiar de tanto calor. Como resultado pagamos 5 euros
por uma garrafinha de menos de meio litro de água. Em um supermercado ela
teria sido comprada por menos de 0,50 euros. Nessa hora é que entendemos
bem o conceito de valor. Aquele quiosque estava estrategicamente
posicionado na frente do Museu e nos oportunizou um espaço para descanso,
onde pudemos nos refrescar com um copo de água gelada. E apesar de caro,
isso não tem preço. Aquela água teve utilidade.
Os especialistas dizem que preço é o que você paga em dinheiro, mas o
valor é aquilo que você leva para casa. Por isso muitos amantes do futebol
pagam R$ 500,00 por uma chuteira assinada pelo Lionel Messi, que não
parece ser tão diferente de tantas outras. Para uma pessoa que não gosta de
futebol esse preço é difícil de ser explicado.
O que a publicidade faz com maestria é adicionar valor aos produtos.
Uma xícara de café pode custar mais de R$ 220 reais dependendo da
localidade. As empresas dizem que estão vendendo “experiências” e não mais
produtos. Steve Jobs fez isso como ninguém. Suas apresentações do ipod, do
iphone e do ipad são memoráveis.
Ainda no ramo dos esportes há o exemplo o Novo Basquete Brasil
(NBB), que tem ajudado a aumentar a presença do público nos ginásios por
meio de uma configuração inspirada na expertise dos norte-americanos. Não
gosto muito de basquete e de futebol norte-americano, mas tenho que admitir
que eles são especialistas na organização de espetáculos grandiosos. Um jogo
de basquete é um acontecimento nacional e rende milhões em bilheteria e
publicidade.
Quando falamos em educação financeira para crianças e jovens não
podemos nos esquecer de ensinar o conceito de valor. Muitas vezes pagamos
caro demais por produtos que não valem tanto assim. Para mostrar às crianças
a diferença entre preço e valor há uma experiência interessante: peça que elas
anotem os itens de uma cesta básica e escrevam quanto acham que custa cada
produto. Depois peça para que eles encontrem o preço real na internet ou no
supermercado do bairro. Isso pode ensinar muito.
Um clássico da educação financeira: Pai Rico, Pai Pobre
Falar em dinheiro nem sempre é bem visto em nossa cultura. No Brasil
há mais de 60 milhões de pessoas endividadas. Muitas delas não tiveram a
sorte nascer em famílias organizadas financeiramente. Muitos estão sofrendo
os resultados da recente crise econômica. Além dos mais de 12 milhões de
desempregados, há 15 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de
pobreza, cujo principal objetivo imediato é a sobrevivência. Para elas os
programas de segurança alimentar são essenciais. A desigualdade entre os
muito ricos e os muito pobres tem crescido. Então é preciso ter noção de
contexto quando tratamos desse tema. A economia brasileira está interligada
em uma grande teia global. Os empregos com baixos salários na China
impactam o planejamento financeiro dos trabalhadores brasileiros, que se
veem em negociações pouco favoráveis para não acabarem desempregados. É
o efeito borboleta…
Quando uma pessoa começa a se educar financeiramente, normalmente
se depara com um dos livros mais populares na área de educação financeira.
Chama-se “Pai Rico, Pai Pobre”. Ele foi escrito por Robert Kiyosaki e Sharon
Lechter há mais de 30 anos.
A principal razão que leva as pessoas a enfrentar
dificuldades financeiras é que passam anos na escola sem
aprender nada sobre dinheiro. O resultado são pessoas
que precisam trabalhar pelo dinheiro… mas nunca
aprenderam a fazer o dinheiro trabalhar para elas.
KIYOSAKI (1989)
O livro conta um pouco do dilema de Robert ao se deparar com os
conselhos contraditórios de seu pai biológico (pai pobre) e do pai de seu
amigo Mike (pai rico). Seu pai biológico era um professor universitário que
vivia em dificuldades financeiras. Ele lhe ensinou que o importante na vida
era ir para a escola, tirar boas notas, procurar um emprego seguro para ter
uma boa aposentadoria. Enquanto seu pai pobre o aconselhava a ser
empregado, seu pai rico dizia que ele deveria estudar muito para poder
comprar ou criar uma empresa e ser financeiramente independente.
Um dizia: “Não posso pagar por isso”, enquanto o outro perguntava:
“Como posso gerar renda para pagar por isso?”
Robert explica que seguir o conselho do pai pobre levaria a uma
“corrida dos ratos”. As pessoas trabalham duro, se casam, adquirem um
imóvel, tem filhos, recebem promoções e compram casas maiores,
aumentando assim seus gastos. Acabam com o tempo trabalhando pelo
dinheiro para pagar as despesas que só aumentam.
A maioria das pessoas depende de um salário mensal e acredita que
investir em um negócio próprio é muito arriscado. Por isso acabam sendo
empregados. Muitos acreditam que adquirir bens de consumo caros, casas de
praia e automóveis de luxo as farão se equipararem aos ricos. No entanto, os
gastos necessários para manutenção destes bens acabam consumindo boa
parte dos rendimentos. Trata-se de uma armadilha. Os ricos se empenham em
aumentar seus ativos para que o dinheiro trabalhe para eles.
O pai rico aconselhava que o certo é adquirir ativos ao longo da vida.
Um ativo gera mais renda que pode ser reinvestida na aquisição de mais
ativos. Com o tempo os ativos geram uma renda capaz de cobrir os gastos da
pessoa, tornando-a independente financeiramente.
Nos Estados Unidos, os pobres e a classe média
frequentemente compram itens de luxo como casas
grandes, diamantes, peles, joias ou barcos porque desejam
parecer ricos. Parecem ricos, mas na verdade estão
afundando em dívidas. As pessoas que já têm dinheiro, os
ricos a longo prazo, constroem primeiro sua coluna de
ativos. Então, com a renda gerada por sua coluna de
ativos, compram os artigos de luxo. Os pobres e a classe
média compram artigos de luxo com seu próprio suor,
sangue e com a herança de seus filhos. KIYOSAKI
(1989)
O livro nos ensina que, independente da área de atuação, é importante
que as pessoas ampliem seus conhecimentos sobre educação financeira e
sobre vendas. Se uma pessoa é capaz de vender bem uma ideia terá sucesso.
Finalmente os autores afirmam que dividir o conhecimento financeiro
com os filhos é a melhor maneira de prepará-los para o mundo que os
aguarda. A educação formal não prepara as crianças para os desafios
relacionados ao uso inteligente do dinheiro. Muitos jovens acabam se
endividando quando se deparam com oferta de crédito fácil e passam anos da
vida trabalhando para pagar contas acumuladas.
Os autores conseguiram construir um enredo capaz de ensinar conceitos
econômicos complexos de forma didática.
Conheça mais as ideias de Robert KIYOSAKI sobre o livro Pai Rico, Pai
Pobre (título em inglês: Rich Dad) nessa palestra no TED.
Bilhete premiado
Sempre que recebo uma mensagem em que uma pessoa promete ganhos
exagerados sem muito esforço lembro-me do golpe do bilhete premiado. Se
você não conhece esse golpe ele é mais ou menos assim: Um(a) golpista de
aparência simplória aborda uma vítima e diz que precisa de ajuda para
conferir um bilhete de loteria.
Nesse momento aparece um(a) comparsa, uma pessoa bem vestido(a),
que prontamente se oferece a ajudar ligando no viva voz para a Caixa
Econômica Federal para conferir o resultado do bilhete. Do outro lado da
linha há um comparsa se passando pelo atendente da Caixa. O (a) golpista diz
que não tem documentos para retirar o prêmio e que poderia vender o bilhete
para a vítima por um valor simbólico. Outro(a) golpista aparece e se mostra
disposto(a) também a comprar o bilhete premiado. A pessoa acaba se vendo
obrigada a participar porque senão perderia uma grande bolada sem esforço.
Se ela pensasse um pouco mais racionalmente nesse momento desconfiaria e
ligaria para a polícia. Algumas pessoas fazem isso, mas outras acabam indo
em frente.
A chance de uma pessoa ganhar na Mega Sena com uma simples aposta
é de 1 em 52 milhões. Sempre há algumas poucas pessoas ganhando o prêmio
e isso faz com que grandes filas se formem no final de ano na MEGA DA
VIRADA. Quando os prêmios se acumulam as pessoas pensam que as
chances aumentam. Não importa se jogamos há 20 anos toda semana ou
apenas uma vez na vida. Em cada sorteio, independente do valor do prêmio, a
chance de acertar as seis dezenas na Mega Sena continua sendo próxima de
zero. Mas mesmo assim as pessoas fazem planos sobre o que fazer com os
milhões que supostamente receberão. A expectativa de se ficar rico de uma
hora para outra mexe com a cabeça das pessoas e faz com que não parem para
pensar. É como se a pessoa ficasse hipnotizada.
O(A) dono(a) do suposto bilhete premiado solicita uma prova de que a
vítima tem dinheiro para comprá-lo por, digamos, 10% do valor a ser
recebido. Nesse momento a vítima é direcionada a uma agência bancária para
retirar dinheiro de sua conta entregar para os golpistas. Quando a vítima
percebe está sozinha com o bilhete premiado falso e sem suas economias.
Muitas pessoas bem formadas caem no golpe porque ele é praticado por
especialistas que entendem bem sobre comportamento.
Esse golpe continua sendo aplicado em todo o país, sempre se
adaptando e se reinventando. Em tempos de internet é comum ver gente
comprando produtos de procedência duvidosa a preços muito baixos em sites
de comércio eletrônico. Muitas vezes não recebe o produto adquirido ou está
se tornando um receptador involuntário. É preciso desconfiar.
Há pessoas que são enganadas com anúncios falsos de carros ou
máquinas agrícolas baratos. Essa armadilha atrai muita gente esperta. Mas a
lógica é a mesma do golpe do bilhete premiado. A pessoa acha que vai ganhar
dinheiro fácil e acaba assaltada. Algumas pessoas acabam sendo mortas. A
seguir estou disponibilizando algumas reportagens para mostrar como o golpe
ainda faz muitas vítimas em todo o país.
O ditado norte-americano continua muito atual: “Não há almoço
grátis”. Quando a promessa de ganho é muito grande, pode apostar que os
riscos são proporcionais.
Ativos financeiros
Uma franquia ou uma lanchonete em um ponto movimentado, por
exemplo, são ativos capazes de proporcionar um lucro líquido da ordem de
10% de cada produto vendido. Para cada cerveja vendida a R$ 6,00 o
comerciante recebe aproximadamente R$ 0,60 de lucro líquido. O custo de
cada cerveja adquirida em grande quantidade é menor que R$ 3,00. O valor de
R$ 2,40 restantes são despesas decorrentes do pagamento dos funcionários,
das instalações físicas e dos impostos. Por isso o segredo para lucrar é vender
1000 cervejas em um final de semana. Junto com as cervejas são vendidos os
aperitivos e lanches.
É um exemplo fictício, só para mostrar que um empreendimento bem
movimentado não deixa de ser uma “máquina legal” de imprimir dinheiro.
Algumas pessoas lucram “na escala” vendendo muitos produtos de baixo
valor, enquanto há empresários que têm grandes lucros vendendo produtos
caros e sofisticados com grandes margens de lucro. Há ainda empresários que
se dedicam à distribuição de produtos para centenas de comércios de uma
determinada região. São diferentes maneiras de se posicionar na cadeia de
empreendimento. Enquanto algumas pessoas especializadas ganham a vida
prestando serviços de instalação de ar condicionado, há outras que lucram
vendendo insumos como tubulações de cobre. E há pessoas que lucram
importando e revendendo equipamentos diretamente da China, aproveitando-
se das alíquotas mais baixas para determinados segmentos da economia.
Alguns negócios só são acessíveis para empresários com maior
capacidade de investimento, enquanto outros necessitam de menos capital. Há
alguns milionários que começaram a vida vendendo sapatos de casa em casa.
Algumas pessoas ficaram ricas construindo casas em terrenos de periferia. E
outras criando e vendendo franquias que caíram no gosto popular. Mas para
passar de construtor de casas de periferia para construção de um prédio de 20
andares é preciso que o empreendedor consiga crédito em um banco ou um
sócio disposto a correr algum risco. O tamanho do capital investido diferencia
os pequenos dos grandes empreendedores.
Muita gente deseja ser dono de seu próprio negócio. Mas os riscos são
grandes para aqueles que não têm experiência. Muitos empreendimentos
acabam fracassando por falta de um plano de negócios bem elaborado. Não há
negócio lucrativo que não seja arriscado. Por isso, entendo que o golpe do
bilhete premiado parece se aplicar bem às corretoras que nos enviam emails
diários prometendo triplicar nosso investimento em um curto espaço de
tempo. Algumas mensagens prometem um lucro diário de R$ 400,00.
Alguns youtubers dão conselhos na internet e contam de forma bastante
entusiástica como ficaram ricos. Se eu ganhasse milhões com meus
investimentos não ficaria na internet me vangloriando desse fato, como assisti
em um vídeo de uma Youtuber. Parece-me muito mais marketing pessoal para
fidelizar seguidores do canal em busca de uma fórmula mágica para a riqueza.
Cada pessoa tem um perfil de investimento. Alguns são mais ousados e
outros são conservadores. Cada centavo que invisto é fruto de muito trabalho
e por isso entendo que as propostas ousadas que os corretores apresentam não
me parecem viáveis. Há um vídeo interessante que um especialista promete
dobrar nosso salário, sem trabalharmos mais e sem reduzir nossos gastos.
Nunca vi alguém acumular dinheiro honestamente sem reduzir suas despesas
e sem aumentar seus ganhos por um longo período. A propaganda diz que
milhares de investidores são assinantes dos relatórios produzidos por esse
especialista e já estão ganhando muito dinheiro com sua estratégia. Vejam que
se 100 mil assinantes estão dispostas a pagar R$ 5,00 todo mês para receber
os conselhos desse especialista então ele acaba tendo uma renda considerável.
As pessoas acreditam em coisas incríveis quando um vendedor argumenta
com uma voz segura e se veste bem.
Se uma pessoa tem salário de 5 mil por mês e consegue guardar 1 mil
reais por mês, acumulará, aproximadamente, 164 mil reais em 10 anos.
34,163879005,0
)1)005,01(1000 120
FV
Em mais 10 anos, esse montante acumulado não se transformará em 1
milhão de reais sem uma estratégia ousada de investimentos. Nesse caso, há o
risco de se perder parte desse valor em operações mal sucedidas. O fato de um
fundo de ações ter gerado ganhos elevados no passado não garante nada no
futuro. Há pessoas que passam o dia na frente do computador atuando como
trader, comprando e vendendo ações.
Vamos imaginar que um investidor tenha comprado 100 mil reais em
ações na Bolsa de Valores em 2007, quanto ela teria acumulado em 2018?
Dependerá muito dos riscos que estava disposta a assumir e também de um
pouco de sorte… basta lembrar que a crise dos subprimes nos EUA pegou
muita gente desprevenida. Por isso desconfio sempre de conselheiros de
internet e das propostas exageradas dos corretores. Os corretores ganham
comissão para cada investimento realizado. Os youtubers, quando famosos,
podem vender mais livros e cobrar mais caro por suas palestras. Essa é a
maquininha legal de imprimir dinheiro de muitos deles.
Lembre-se que o golpe do bilhete premiado funciona porque as pessoas
sonham em se dar bem sem muito esforço. Sucesso só vem antes de trabalho
no dicionário. Quando um corretor diz que aquele apartamento ou aquele
terreno é a última unidade disponível penso imediatamente na mesma lógica
do bilhete premiado funcionando.
Um exemplo foi o vídeo viral de uma jovem de 22 anos , que afirmou
ter se tornado milionária partindo de um investimento inicial de R$ 1.500,00.
Sinceramente, penso ser um exagero os insultos que ela recebeu por causa
disso. Os “memes” a tornaram mais famosa do que ela poderia imaginar.
Penso que ela deve receber um percentual sobre cada cliente que assina os
pacotes de orientações financeiras da corretora em que trabalha. A jovem
afirmou que seu primeiro milhão é fruto de três anos de investimentos na
Bolsa de Valores.
Penso que milhares de sonhadores podem acreditar que ela poderá lhes
ensinar o caminho das pedras por uma assinatura anual de R$ 150,00. Vamos
imaginar que apenas 10 mil pessoas, das milhões de pessoas atingidas pelo
seu vídeo, façam a assinatura do pacote de cursos e relatórios financeiros da
corretora. Então ela embolsaria um bom percentual dos R$ 1.500.000,00 que
a corretora receberá pelos novos clientes. E também poderá ganhar uma boa
quantia para ministrar cursos e consultorias. Um bom negócio para ela com
certeza.
Há anos recebo mensagens de e-mail de sua corretora de investimentos
com promessas incríveis. Penso que mensagens como essa vão de encontro
aos ensinamentos mais básicos de educação financeira.
Entendo que a Bolsa de valores não é para amadores. Para cada
milionário, há muitos perdedores que compram e vendem ações na hora
errada. Como bem disse Michael Viriato, professor de finanças do Insper,
“aqueles que mais ganham são os que vendem planos para enriquecimento
rápido, fácil e seguro”. Mesmo que ela tivesse conseguido a proeza de
alcançar seu primeiro milhão por meio de uma acertada carteira de
investimentos, penso que jamais teria conseguido esse resultado em apenas
três anos sem assumir algum risco. Entendo que o vídeo é um exemplo claro
de deseducação financeira. Estatisticamente, há 3% de pessoas com altas
habilidades na população. Essas pessoas notáveis podem fazer coisas
extraordinárias. Mas e os outros 97%?
Penso que quem quiser ser financeiramente independente – de forma
honesta – deve investir em educação financeira, ter uma atitude
empreendedora, trabalhar duro e ter disciplina para poupar, nunca gastando
mais do que recebe. E precisará de muita paciência apostando sempre nos
juros compostos.
Martelinho dourado
É inegável que em todo o mundo há profissões que são mais
valorizadas do que outras. Um médico no Brasil, por exemplo, ganha muito
mais que um enfermeiro, trabalhando o mesmo número de horas por semana.
Entre as explicações para a diferença salarial tem-se o tempo exigido de
formação e o grau de responsabilidade de cada profissão. Um curso de
medicina exige no mínimo 7.200 horas de estudo. Mas há outros componentes
culturais que não podem ser ignorados. Penso que no Brasil ainda predomina
um pouco da cultura do “bacharel” e isso contribui para que o trabalho
manual não seja tão valorizado. Por muitas décadas os filhos dos proprietários
de terras foram enviados para Coimbra, em Portugal, para estudarem
principalmente medicina e direito. Desde a época da colonização, as
atividades que exigiam esforço físico eram consideradas indignas para os não
escravos. Por isso, as atividades artesanais e manufatureiras, como a
carpintaria, a serralheria, a construção, a tecelagem, entre outras, eram
repudiadas por se tratarem de ocupações consideradas de escravos. Bem
diferente do que acontece na Alemanha, por exemplo, onde as profissões
manuais são muito valorizadas. Lá um médico ganha, em média, apenas 50%
a mais que um técnico.
No Brasil, há pesquisas que mostram que quanto mais anos de estudos
uma pessoa tem, maior sua renda mensal. Isso significa que ser especializado
em uma área de conhecimento é o maior investimento que alguém pode fazer
em sua vida.
Penso que os jovens devem escolher profissões com as quais se
identifiquem. Conheço muitos técnicos que têm renda superior a dos
profissionais com diploma de ensino superior. Aliás, não gosto dessa
denominação. Prefiro “ensino terciário”. Se um ensino é superior, os outros
são inferiores? Como professor e ativista da educação profissional e
tecnológica penso que a formação técnica é um diferencial na vida de um
jovem, não importando se sua opção será pela continuidade ou não dos
estudos. Na Alemanha, por exemplo, aproximadamente 75% dos jovens
possuem formação técnica. No Brasil esse percentual não chega a 10%. Dos
seis milhões de estudantes que fazem a prova do ENEM todo ano, apenas um
milhão e meio ingressam no ensino terciário. A maior parte acaba ingressando
no mercado de trabalho sem qualificação e sem nenhum diferencial.
Para mostrar o valor de um profissional especializado vou contar uma
estória. Em uma grande cidade ficava a sede de um jornal de circulação
nacional. Todos os dias milhões de exemplares eram impressos e distribuídos
em todo país. Mas em uma determinada noite a máquina de impressão
simplesmente parou. A equipe de manutenção foi acionada e depois de quase
duas horas não conseguiu resolver o problema. O desespero começou a tomar
conta do diretor comercial. Mas ele se lembrou de um antigo técnico
mecânico aposentado, que havia projetado e instalado o equipamento. Esse
técnico foi tirado do jantar com sua família e trazido às pressas para a
empresa. Ele olhou admirado sua criação, andou em volta do equipamento
várias vezes em silêncio. Daí abriu sua maleta de couro e tirou lá de dentro
um pequeno martelinho dourado. As pessoas acharam estranha sua atitude,
mas não falaram nada porque ele era uma lenda entre os técnicos da empresa.
Pediu silêncio para todos e depois deu duas marteladinhas em um eixo da
impressora. Quase que por milagre a máquina voltou a funcionar. No outro
dia ele enviou o custo de seu serviço: R$ 5.000,00. O diretor comercial ficou
assustado e pediu que ele detalhasse melhor esse valor. Todos haviam visto
que ele não demorou mais de 15 minutos para solucionar o problema dando
duas marteladinhas. Ele explicou que havia cobrado R$ 5,00 pelas duas
marteladinhas e R$ 4.995,00 por saber onde aplicá-las.
Há profissões cuja valorização é sazonal. Como exemplo tem-se o
Técnico de Refrigeração e Climatização. Experimentem chamar esse
profissional para instalar seu aparelho de climatização no mês de janeiro.
Quando as pessoas passam calor e não conseguem dormir à noite
compreendem o real valor de um técnico de refrigeração.
Quem quer ser um milionário?
Há alguns anos o filme “Quem quer ser um milionário” fez sucesso em
todo mundo. “Jamal Malik é um rapaz de 18 anos que teve uma infância
muito difícil, lidando com a violência e a miséria na Índia. Ele é chamado
para participar da versão indiana do famoso programa de TV e sua
experiência de vida o ajuda a responder as perguntas do show. Porém a polícia
desconfia da honestidade de Jamal, que deve provar sua inocência”
Esse programa tem muitas adaptações. No Brasil, Luciano Huck tem
apresentado um quadro parecido, que utiliza como cenário uma versão
tecnológica da Tábua de Galton.
A palavra “milionário” mexe com o imaginário das pessoas. A primeira
vez que a ouvi foi na infância por causa da dupla sertaneja “Milionário e José
Rico”. Ficar rico da noite para o dia é o sonho de milhões de brasileiros que
toda semana se dirigem às Casas Lotéricas para jogar na Mega Sena, na
Loteria Federal ou na Loteria Esportiva. E a televisão explora esse sonho com
programas como Big Brother, Show do Milhão entre outros.
Muitas pessoas pensam que basta ganhar um prêmio de R$ 1 milhão de
reais para se tornar um milionário. Não é bem assim. Um apartamento bem
localizado em uma grande cidade custa muito mais que esse valor. Muitos
assalariados adquiriram terrenos ou casas que se valorizaram ao longo dos
anos, mas isso não são pessoas milionárias.
Para muitos economistas é necessário, no mínimo, ter um patrimônio de
U$ 1 milhão de dólares para uma pessoa ser considerada milionária. Muitos
especialistas também dizem que um milionário não depende de um salário
mensal para manter um padrão de vida confortável. Sua fonte de renda é
geralmente proveniente de seus ativos. Mas não é preciso ficar esperando a
sorte bater à porta. Para muitos empreendedores tornar se milionário é uma
questão trabalho, inovação, talento e um pouco de sorte. Todos os anos mais
de cinco mil brasileiros tornam-se milionários sem depender da sorte.
Há alguns anos, uma reportagem chamada: “O milionário mora ao
lado” mostrou que o crescimento econômico brasileiro também estava
propiciando o surgimento de milhares de milionários que apostaram em
negócios próprios. O título da reportagem fazia referência a um livro escrito
por Thomas Stanley e William Danko, que mostrou que apenas uma minoria
de milionários vive uma vida de ostentação. Um típico milionário norte-
americano, na verdade, leva uma vida normal, e pode passar despercebido aos
olhos da maioria. Ele pode, inclusive, ser o vizinho do lado.
A reportagem foi feliz em mostrar que não é necessário se ganhar na
Mega Sena, ser um astro do futebol ou ganhar o Big Brother para ser um
milionário. Milhares de brasileiros comuns têm conseguido ascender
financeiramente, o que não significa que precisem ostentar essa condição,
principalmente no Brasil onde são assassinadas mais de 60 mil pessoas por
ano.
Muitos se perguntam o que significa ser rico no Brasil. Essa definição é
importante do ponto de vista estatístico.
De acordo com o Critério de Classificação Econômica Brasil, criado
pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), apenas 5% das
famílias brasileiras pertencem à Classe A (renda familiar mensal de R$
12.926,00). Parece pouco, mas a maior parte da população sobrevive com
uma renda mensal menor que R$ 1.200,00. Na classe A há famílias que
ganham R$ 10 mil reais por mês e outras com rendimento de até R$ 1 milhão
de reais. Como se pode perceber o desvio padrão é muito grande. Em alguns
casos os próprios entrevistados não são capazes de avaliar precisamente sua
renda ou identificar sua classe social. Um dos motivos é que há diversas
outras formas de se avaliar os estratos sociais. É interessante observar que ser
rico ou classe média no Brasil é muito diferente de ser rico ou classe média
nos Estados Unidos e na Alemanha, por exemplo. Nos Estados Unidos, é
considerada classe média quem ganha entre US$ 50 mil e US$ 500 mil por
ano. Na Alemanha, para pertencer ao grupo dos mais ricos, os solteiros têm
que ter um rendimento líquido de 4.400,00 euros e os casais sem filhos,
6.590,00 euros.
A estratificação da população por critério de renda é muito comum nas
pesquisas eleitorais ou de perfil de consumo, por exemplo. Pela metodologia
da inferência estatística a amostra deve representar o desejo da população. Se,
por exemplo, 2500 brasileiros forem selecionados aleatoriamente em todas as
regiões do país, na amostra deve haver 125 pessoas da classe A (5%), 600 da
classe B (24%), 1075 da classe C (43%), 625 da classe D (25%) e 75 da classe
E (3%). A opinião dos 2500 brasileiros, se escolhidos utilizando-se de
métodos estatísticos apropriados, deverá representar a opinião de 205 milhões
de pessoas com nível de confiança de 95%.
Para finalizar, penso que mais interessante do que a pergunta “quem
quer ser um milionário” é “para quê ser um milionário?” Você já pensou
nisso? Na maioria das vezes a felicidade não está associada à renda. Há uma
pesquisa interessante realizada com 4 mil milionários de Harvard que mostrou
que eles se considerariam mais felizes se aumentassem o patrimônio em
100%. E há outras pesquisas com pessoas comuns que mostram que a partir
de certo rendimento mensal não há alteração da sensação de felicidade. Por
isso é tão importante uma família ter saúde financeira, não gastando mais do
que se ganha.
Para saber mais assista a palestra de Michael Norton sobre Dinheiro e
Felicidade
O paradoxo dos juros
Quando penso em juros sempre me lembro de um livro famoso: “O
Mercador de Veneza” de William Shakespeare, escrito no século XVI. O
banqueiro Shylock e o mercador Antônio entram em conflito por um causa de
um empréstimo cuja letra vencida estipulava como multa uma libra de carne
junto ao coração do mercador. No livro Auto da Compadecida há uma parte
inspirada nesse conflito. A comédia se passa no Tribunal de Veneza e mostra
as diferentes visões de mundo entre um mercador e um banqueiro. O
mercador empresta sem cobrar juros enquanto o banqueiro enriquece com a
prática da usura.
Na atualidade os banqueiros continuam cobrando altas taxas de lucros
daqueles que tomam empréstimos. Esse é um dos motivos pelos quais os
bancos são as instituições que mais lucraram nos últimos anos no Brasil.
Os juros são praticados desde a antiguidade, antes mesmo do
surgimento das primeiras instituições financeiras. Eles eram pagos pelo uso de
sementes emprestadas que deveriam ser pagas em uma quantidade maior.
Uma pessoa que emprestava 100kg de milho para outra recebia de volta os
100kg adicionados de uma quantidade que compensava o empréstimo. Essa
operação era vista como justa porque quem emprestava poderia ter plantado
os 100kg de milho e obtido uma colheita de 200kg.
Em uma tábua de pedra disponível no museu do Louvre, datada de
cerca de 1700 a.C., há o seguinte problema: Por quanto tempo deve-se aplicar
uma certa soma de dinheiro a juros compostos anuais de 20% para que ela
dobre? Um exercício interessante envolvendo Valor Presente e Valor Futuro.
Apesar de muito praticada no mundo antigo, para os filósofos gregos a
ganância não era uma virtude esperada de um cidadão, que deveria nutrir
amor pelo bem comum.
Durante a Idade Média a Igreja Católica condenou duramente a prática
da usura ou da cobrança de juros. O comércio era uma atividade marginal e o
lucro excessivo era mal visto.
Santo Agostinho exprimiu o receio de que o comércio afastasse os
homens do caminho de Deus e por isso ensinava que nenhum cristão deveria
ser um mercador. No Concílio de Latrão de 1179 foi decretada que a prática
de usura era proibida entre os cristãos. Com o tempo o direito canônico
passou a aceitar a tese do preço justo e do lucro cessante para justificar o juro
dos empréstimos em dinheiro, mas nunca se libertou da concepção
pecaminosa do lucro.
No século XVI a moral econômica da Igreja entrou em choque com a
atividade da grande burguesia, que sentiu a necessidade de uma nova ética
religiosa, mais adequada ao espírito do capitalismo comercial, que foi
satisfeita, em grande parte, com a ética protestante decorrente da Reforma de
Martinho Lutero.
Para Ricardo Ferreira (2013) o dilema moral cristão criou uma grande
oportunidade para os judeus praticarem a atividade bancária. Em o Mercador
de Veneza, Shakespeare explora bem esses dilemas morais de seu tempo.
Para Mauro Halfeld (2007), os juros são a remuneração que pagamos
pelo capital emprestado e está sujeito às mesmas leis de oferta e procura a que
se submetem o trabalho e a terra. É como se os juros fossem um tipo de
aluguel que uma pessoa paga para usufruir de um determinado montante
financeiro no presente. É o pagamento pela oportunidade de dispor de um
capital durante determinado tempo.
As taxas de juros são importantes instrumentos de controle
inflacionário. No Brasil a inflação deve ser mantida dentro de metas pré-
estabelecidas pela equipe do Ministério da Economia. Se a taxa de juros é
aumentada é mais caro fazer um financiamento ou comprar a prazo no cartão
de crédito, o que tem como consequência provável uma redução de consumo.
Com a taxa de juros mais baixa as empresas têm incentivo maior para tomar
dinheiro emprestado para investir na produção. Com juros mais baixos as
pessoas acabam comprando mais e isso acaba aquecendo a economia.
No entanto, a falta de disciplina para a poupança e o uso equivocado do
cartão de crédito acabou criando uma legião de inadimplentes. Os juros que
aquecem a economia também criam uma armadilha para os consumidores. Por
isso chamei essa publicação de paradoxo dos juros.
De maneira bem simples há dois tipos de juros, os simples e os
compostos. Se você emprestar R$ 1000,00 para um amigo com taxa de juros
simples de 1% ao mês ele deverá pagar ao final do ano um valor de R$
1120,00. A taxa de 1% sobre R$ 1000,00 corresponde a um acréscimo de R$
10,00 ao mês. Só que essa taxa é aplicada mensalmente ao valor inicial
(Capital). Por isso temos R$ 1010,00 ao final do primeiro mês, R$ 1020,00
ao final do segundo mês e assim por diante. Mas se o empréstimo é a uma
taxa de juros compostos de 1% ao mês é preciso aplicá-la sobre o valor
acumulado a cada mês. Se emprestássemos R$ 100.000,00 de um banco a
uma taxa de 10% de juros ao mês o valor a ser pago no final do ano seria de
quase 314 mil reais.
niPVFV )1(
83,313842)10,01(00,000.100 12 FV
Onde:
PV = Capital Inicial (valor presente)
i = taxa de juros (10% a.m = 0,10)
n = número de períodos considerados na operação
FV = Valor Futuro
Observem que se o valor fosse emprestado a uma taxa de juros simples,
bastaria somar R$ 10.000,00 por mês ao capital inicial de R$ 100.000,00.
Após 12 meses o valor devido ao banco seria de R$ 220.000,00. Bem menos,
não é mesmo?
Para o caso de juros simples:
00,22000012.1,0.00,10000000,100000)..( niPVPVFV
Assim, se aplicarmos hoje R$ 1500,00 a uma taxa de juros de 2% ao
mês então teremos R$ 1902,36 em 12 meses.
Em tempos recentes cada loja de eletrodomésticos do país tornou-se
uma empresa financeira, ganhando muito dinheiro com os juros cobrados nas
vendas a prazo. Uma televisão que custa R$ 2000,00 à vista é vendida em 24
prestações de R$ 150,00 = 3600,00. Os juros cobrados são de R$ 1600,00. Ou
seja, o cliente compra 1 e paga quase 2 televisões. E faz isso porque está
pagando pela oportunidade de ter no presente um bem que só poderia comprar
no futuro. Para a loja que vende a prazo o capital imobilizado na televisão
poderia ser aplicado em outro empreendimento da mesma forma que na
Babilônia quem emprestava as sementes poderia fazer melhor uso das
mesmas.
Penso que a maioria dos brasileiros não sabe calcular qual a taxa
mensal de juros que está pagando. O cálculo pode ser realizado a partir da
equação:
n
n
ii
iPMTPV
)1.(
)1)1(.(
Lembre-se que PMT são as prestações mensais e que PV é o valor presente.
Substituindo se n=24, PV=2000,00 e PMT=150,00 na equação
podemos encontrar a taxa de juros praticada como sendo aproximadamente
5% ao mês. As calculadoras financeiras (HP12C, por exemplo) permitem
realizar cálculos como esse de forma bem simples.
Enquanto o dinheiro poupado rende na caderneta de poupança apenas
5% ao ano, a loja nos cobra muitas vezes 5% ao mês nas compras a prazo. Por
isso é muito importante, sempre que possível, juntar dinheiro para comprar à
vista com desconto. Observamos que a taxa de 5% de juros ao ano (iA)
corresponde a uma taxa mensal aproximada de 0,4% ao mês (iM).
)12/1()1(1 anualmensal ii
Os bancos pagam pouca rentabilidade para os depósitos e cobram taxas
de juros elevadas para os empréstimos e por isso lucram muito em momentos
de forte endividamento.
Em uma postagem anterior comentamos que a ideia de lucro ainda
incomoda muitas pessoas. No entanto, uma empresa não pode honrar seus
compromissos fiscais e pagar os salários de seus funcionários se não obtiver
balanços financeiros positivos. Uma das principais metas de uma empresa é a
obtenção de lucros, que se reinvestidos podem contribuir para a geração de
novos empregos. Evidentemente que seria ideal se as empresas conseguissem
lucrar sendo socialmente responsáveis e pagando salários justos para seus
colaboradores.
Mas devemos nos perguntar por quê um empresário se arriscaria a
comprar uma nova máquina para ampliar a produção de sua fábrica se
pudesse aplicar o valor a ser gasto em uma aplicação capaz de lhe trazer um
retorno maior de investimento. Quando o mercado financeiro remunera mais
que a produção, penso que temos um problema.
Por isso a taxa de juros praticada pelos bancos acaba sendo uma
referência da economia brasileira. Muitos empresários se aproveitam de
linhas de financiamento para adquirir máquinas e equipamentos com taxas de
juros mais baixas. Quando se trata da análise da compra de equipamentos é
também comum considerar o tempo de depreciação.
A taxa básica de juros no Brasil é determinada pela SELIC (Sistema
Especial de Liquidação e de Custódia). A cada 45 dias uma meta para a
SELIC é definida pelo COPOM. Em agosto de 2019 a SELIC era de 6% ao
ano. Nesse caso a caderneta de poupança com depósitos realizados a partir de
2012 paga ao poupador 0,70 x 6% + a TR, ou seja, 4,2% + TR. A poupança
antiga paga ao poupador 6% ao ano + TR.
A TR é a taxa referencial foi criado em 1991 como um indicador geral
da economia. Seu cálculo é realizado pelo Banco Central. Em 2018 seu valor
foi nulo. Há diversas siglas utilizadas pelas instituições tais como CDI,
VGBL, IPCA, CDB, TR etc. Então antes de falar com seu gerente de banco
para pedir um empréstimo ou fazer uma aplicação financeira é interessante
aprender esse vocabulário.
Para saber mais, assista ao filme O mercador de Veneza:
Uma vida mais simples
Gustavo Cerbasi é um dos meus autores favoritos quando se trata de
educação financeira. Há alguns anos ele escreveu: “Cartas a um jovem
investidor” e “Investimentos Inteligentes”. Nesse último livro o autor
apresenta as características de diversas aplicações financeiras em uma
linguagem bem simples. Também mostra a diferença entre investimentos,
acumulação e consumo.
Uma vida de menor consumo não é necessariamente uma
vida mais pobre, desde que você saiba encontrar
felicidade em momentos e atividades que não precisam,
obrigatoriamente, de desembolso para acontecer
(CERBASI, 2010).
Ao ler essa passagem lembrei-me de uma estória: “Um empresário
estava passando férias em uma vila de pescadores. Na praia viu um homem
voltando do mar em um pequeno barco com alguns peixes frescos. O
empresário ficou encantado com a beleza dos peixes. Então ele deu os
parabéns ao pescador e perguntou quanto tempo levou para pescar. Demorou
duas horas, disse o pescador. O empresário então falou: Por que o senhor não
ficou mais tempo para pegar mais peixes? Eu peguei peixe suficiente para
mim, minha família e até para meus amigos, respondeu o pescador. Mas o que
o senhor faz com o resto de seu tempo? indagou o empresário. O pescador
sorriu e respondeu com um tom calmo e relaxado: Eu durmo bem, brinco com
meus filhos, tiro uma soneca à tarde, e à noite dou uma caminhada na praia
com minha esposa, bebo minha cerveja, e toco violão com meus amigos. Eu
tenho uma vida boa! O homem de negócios riu e deu alguns conselhos ao
pescador: Olha, eu tenho um MBA de uma universidade de muito prestígio
nos Estados Unidos e vou lhe ensinar um pouco sobre negócios. O que o
senhor deve fazer é passar mais tempo pescando para vender os peixes que
não consegue consumir. Com o dinheiro extra que o senhor vai ganhar poderá
comprar um barco maior e empregar outras pessoas para lhe ajudar. Logo o
senhor terá dinheiro suficiente para comprar vários barcos. Poderá até vender
ações de sua empresa na bolsa de valores ! O pescador então respondeu: Mas,
quanto tempo vai levar isso tudo? O empresário respondeu: Penso que levará
alguns anos…. E depois, o que faço? perguntou o pescador. O empresário
sorriu e respondeu: Um dia o senhor poderá vender as ações de sua empresa e
ganhar milhões de reais na Bolsa de Valores. O pescador ficou assustado:
Milhões de reais? E o que eu faria com todo esse dinheiro? E o empresário
respondeu: O senhor pode se mudar para o litoral e poderá dormir até mais
tarde, brincar com seus filhos…. Mas não é isso que eu faço hoje? Respondeu
o pescador olhando para o mar…”
Essa estória mostra como diferentes pessoas têm conceitos diversos de
sucesso. Enquanto algumas querem mais é tranquilidade, outras querem
alcançar seu primeiro milhão antes dos 30 anos. Penso que o “caminho do
meio” sempre é mais interessante. O pescador deveria também pensar de
forma previdente porque tem responsabilidades para com sua família. Mas
também não precisa ser milionário para ser feliz.
Há alguns estudos recentes que analisam a correlação entre renda e a
sensação de felicidade. A partir de um determinado valor pouco importa se
ganhamos mais ou menos. “Uma renda pequena exacerba as dores emocionais
associadas a problemas como divórcio, doença ou solidão”, diz Daniel
Kahneman, da Universidade Princeton, vencedor do Prêmio Nobel de
Economia em 2002 e coautor da nova pesquisa publicada na revista científica
“PNAS”.
Ter um carro já não é uma necessidade para muitos jovens. E até
mesmo ter um imóvel já não é a prioridade. Soluções de co-living são cada
vez mais presentes.
A mesada pedagógica
Ao conversar sobre mesada com minha filha disse-lhe que na idade dela
eu já trabalhava com carteira assinada e repassava todo o salário recebido para
minha mãe. Ela me disse que essa frase já havia viralizado na internet.
Contei-lhe que muitos pais trabalhavam quando jovens porque não tiveram
escolha. Trabalhar era uma necessidade familiar. Na atualidade, muitos
adolescentes querem uma mesada, mas nem sempre fazem por merecer ou
entendem o valor do dinheiro.
Os tempos são outros. Muitos pais de classe média, que tiveram uma
infância pobre, hoje podem proporcionar uma vida mais confortável para seus
filhos, que têm como principal missão na vida a dedicação aos estudos.
Mas isso não significa que as crianças não devam ajudar nas pequenas
tarefas da casa, começando pela arrumação do próprio quarto. Se não
educamos nossos filhos para que arrumem seu próprio quarto, corremos o
risco de criarmos adultos que querem mudar o mundo, mas que não são
capazes da arrumar sua própria bagunça.
E quando falamos que as crianças devem ajudar em casa não estamos
propondo o trabalho infantil, ainda muito comum no Brasil. Não é esse o país
que queremos. As crianças devem estar nas escolas, preferencialmente em
tempo integral e bem alimentadas. E se possível aprendendo uma profissão
que possam praticar na vida adulta.
Em países mais desenvolvidos mais de 70% dos jovens participam de
programas de educação profissional. Na idade certa, há programas como
“Jovem Aprendiz”, onde os adolescentes podem compreender desde cedo a
importância do trabalho, da disciplina e da responsabilidade. São
competências essenciais para a vida adulta.
Segundo diversos especialistas o recebimento de uma mesada pode
ajudar as crianças e adolescentes a assumirem a responsabilidade pela guarda
e bom uso do dinheiro. É melhor cometer erros nessa fase da vida do que
quando se tornarem adultos, onde as consequências serão mais graves.
Para muitos especialistas, a mesada é um poderoso instrumento de
educação financeira, pois possibilita à criança a capacidade de ordenar o
orçamento, definir escolhas para o dinheiro e desenvolver um plano de
poupança.
Concordo que quanto mais cedo o contato com o dinheiro, melhor. Mas
também entendo que a mesada deve ser merecida. Os pais não são obrigados a
dá-la. Trata-se de uma conveniência familiar.
Há alguns anos fiz uma experiência. Organizei uma listagem de
atividades que dariam pontos positivos e negativos. Cada filho começava com
uma mesada mensal de R$ 50,00. Mas esse valor poderia ser maior ou menor
de acordo com a pontuação alcançada. Deixar de arrumar a cama retirava R$
1,00 do valor total. Mas obter uma nota máxima na escola garantia uma
pontuação extra de R$ 5,00. Em uma consulta rápida na internet percebi que
esse tipo de controle de mesada foi transformado em um aplicativo que pode
ser baixado no celular. Trata-se de uma ótima ideia para ser aplicada no dia a
dia porque trabalha com a lógica de merecimento.
Também tenho experimentado contratar pequenos serviços como
lavação e aspiração do carro. Atividades simples, mas que ajudam na
manutenção da casa. Quando meu filho quer um dinheiro extra, ele se oferece
para lavar os carros.
O valor da mesada também é objeto de muitas discussões. O importante
é que os pais deem um valor que seja compatível com a realidade familiar.
Alguns pais não podem dar uma mesada a seus filhos e isso deve ser
conversado de maneira franca. Não há uma regra que possa ser aplicada a
todas as configurações familiares. Não são raras as histórias de jovens que
começaram a fazer brigadeiros em casa para ajudar seus pais e obtenção de
renda própria.
Há um jogo muito conhecido sobre o assunto – Jogo da Mesada. Ao
jogar com meu filho observei que ele traz diversos conceitos financeiros de
maneira lúdica. Jogos como estes possibilitam o início de uma construtiva
discussão entre pais e filhos.
Finalmente, penso que não basta repassar o valor da mesada. É preciso
ensinar a gastar bem esse dinheiro e deixar as crianças e adolescentes
aprenderem com seus erros. As crianças são alvo fácil das campanhas
publicitárias e precisam saber a diferença entre desejo e necessidade. A
compra por impulso é comum entre os adultos, então por que os jovens
estariam livres dela?
Da mesma maneira que um adulto deve reservar parte de sua renda
mensal para objetivos de longo prazo é interessante ensinar às crianças a
importância de se poupar 10% da mesada para realização de algum sonho no
futuro. Devemos ficar atentos para criarmos consumidores conscientes e não
consumistas compulsivos.
Para saber mais sobre o papel da mesada, assistam a essa entrevista de Cássia
Aquino.
A origem dos bancos
Os bancos são as instituições que mais lucraram nos últimos anos. Eles
estão tão onipresentes que não questionamos sua forma de funcionamento.
Um banco pode ser definido simplificadamente como uma instituição que
capta recursos a uma taxa de juros mais baixa e que empresta a uma taxa de
juros mais alta.
Recentemente assisti um documentário produzido por Niall Ferguson,
que conta a história do surgimento do sistema da moeda, dos juros e do
crédito. Para ele, os bancos não são mais do que o formato institucional que
surgiu na Itália renascentista com o objetivo de reduzir os riscos inerentes ao
crédito – a insolvência.
Ferguson usou a história do declínio espanhol, mesmo com a extração
de grandes toneladas de prata da América espanhola, para explicar a natureza
do dinheiro: ele não possui nenhum valor em si mesmo. O dinheiro é apenas
uma promessa de pagamento. Por exemplo, uma nota de cem reais é uma
promessa de que podemos trocar essa nota por algum bem. A moeda em si
não tem valor: seu valor está relacionado com seu poder de compra. Daí o
caráter altamente prejudicial da inflação. Por isso, o grande fluxo de prata não
salvou o reino espanhol de sua decadência.
Um banco costuma oferecer crédito, emprestando dinheiro com uma
promessa de seu retorno em um futuro fixado, somado a uma compensação –
o juro. Na Europa medieval, a concessão de crédito era dada por agiotas, que
na maioria das vezes usavam de violência contra os maus pagadores.
Ferguson mostrou no documentário que a criação dos bancos foi uma
necessidade para ampliar a oferta de crédito de uma forma legal.
Um dos primeiros bancos surgiu na Itália renascentista: o banco da
família Médici. Com uma grande escala de operações e diversificação de
clientes foi possível reduzir os riscos, a tal ponto que não foi mais necessário
usar de violência para operações de crédito.
Para Ferguson, os governos tendem a gastar mais dinheiro do que
arrecadam, especialmente em tempos de guerra. A impressão de mais papel-
moeda normalmente gera inflação. Para financiar o excesso de gastos do
governo, surgiram os mercados de títulos públicos na Itália renascentista.
Títulos públicos são papéis que registram uma dívida de um governo, com o
objetivo de captar recursos para o financiamento da dívida pública e podem
ser negociados em um mercado de títulos. Na atualidade podemos investir no
Brasil em Letras do Tesouro Direto, por exemplo.
Enfim, esse documentário é essencial para todos aqueles que querem
entender a origem dessa complexa criação humana, que é o sistema bancário.
Conheça mais sobre o documentário produzido por Niall Ferguson: A
ascensão do dinheiro:
Considerações finais
O aprendizado dos princípios de economia pelos mais jovens não é
apenas possível, mas fundamental. É preciso formar adultos responsáveis
financeiramente. Entender como a economia está presente em nossas vidas é o
primeiro passo.
Na sociedade de consumo, onde muitas vezes se valoriza mais o TER e
não o SER, é importante aprender desde cedo o que pode e o que não pode ser
comprado. Gosto de uma frase: “Tudo aquilo que pode ser comprado na
verdade não tem valor”. O dinheiro tem o valor que atribuímos a ele. Há
pessoas que são felizes com muito pouco. Enquanto outros passam a vida
correndo atrás dele e não são felizes.
Dalai Lama, quando perguntado sobre o que mais lhe surpreendia na
humanidade respondeu: “Os homens … Porque perdem a saúde para juntar
dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem
ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por
não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem
morrer… … e morrem como se nunca tivessem vivido”.
Desde que acordamos somos bombardeados por propagandas,
elaboradas por profissionais da área de publicidade e propaganda. Ele sabem
como ninguém explorar nossos medos, ansiedades e desejos mais escondidos.
E usam a psicologia para manipular nossos desejos, criando necessidades que
muitas vezes não temos. Para sair dessa armadilha é preciso que sejamos
capazes de pensar criticamente.
Sócrates dizia há mais de 2 mil anos: “Conhece te a ti mesmo”. Quem
não se conhece de verdade acaba virando uma caricatura manipulada pelos
profissionais de propaganda. Para se conhecer é primeiro saber de onde
viemos:
Meus pais migraram na década de 1950 de Serrinha – Bahia para Júlio
de Mesquita – interior de São Paulo. A viagem durou oito dias de caminhão.
Nasci em Marília em dezembro de 1969 e morei até os seis anos em uma
pequena cidade próxima – Júlio de Mesquita. Em 1976 minha família se
mudou para Marília. Em Júlio de Mesquita morávamos em uma casa de
madeira simples com piso de “barro batido”. Nosso colchão era de palha de
milho. Minha família trabalhava como boias frias. Íamos junto com minha
mãe e irmãs para a colheita de café. Saíamos bem cedinho e voltávamos no
final da tarde.
A colheita do café foi responsável pela expansão da linha de ferro para
o oeste paulista e criação de diversas cidades bem como distritos menores. A
data de instalação de Marília é 4 de abril de 1929 –mesmo ano da quebra da
bolsa de Nova Iorque e quando o principal produto de exportação brasileiro
sofreu um grande golpe. O distrito de Júlio de Mesquita foi emancipado em
1948. Atualmente o município, onde passei parte de minha infância, não tem
mais de quatro mil habitantes.
Em 1975 houve uma grande geada na região, o que destruiu a maioria
das plantações de café. Uma grande crise se abateu nas fazendas. Meu irmão
mais velho mudou-se então para a capital São Paulo para trabalhar na
indústria. Ele voltava mensalmente nos visitar e contribuía com parte de seu
salário com as contas da família. Um ano depois nos mudamos para a
periferia de Marília.
Desde pequeno ouvia meu pai dizer que as crianças que economizavam
conseguiriam comprar até uma casa quando cresciam. E essa foi minha maior
lição de economia… É preciso poupar para realizar nossos sonhos. Também
lia muitas estórias em quadrinhos. Achava interessantes as histórias de como o
Tio Patinhas ficou rico explorando ouro no velho oeste americano. A
conquista do oeste americano no final do século XIX fez grandes milionários.
Passava a tarde atrás do balcão do bar da família ajudando no atendimento,
dando troco e fazendo minhas tarefas escolares. Foram três anos aprendendo a
fazer contas rapidamente sem calculadora. Havia outros bares nas outras
esquinas, o que levava a concorrência. E a redução de preços era uma
alternativa. Também ganhava alguns refrigerantes por desenhar a caricatura
dos clientes. Acabava sendo divertido e educativo também. Aos domingos, às
vezes acompanhava meu irmão que ia vender galos e galinhas na feira. Lá se
comercializava de tudo. Conheci uma banca de sebo e quase sempre
comprava um gibi do Batman ou Superman. Lia e revendia para outro amigo
que também trabalhava no bar na outra esquina. Sempre com uma pequena
margem de lucro. E assim passei a ler cada vez mais porque era lucrativo.
E graças a um desenho do Batman, que fui descoberto como desenhista.
Fui indicado para trabalhar em um escritório de engenharia e arquitetura.
Trabalhava inicialmente à tarde até que passei a estudar à noite e trabalhar o
dia todo. Meu salário era de cinco mil cruzeiros. O salário mínimo era de
trinta e cinco mil cruzeiros em 1983. Meu apelido era Tostão, em referência
ao meu pequeno salário. Aprendi a desenhar, a cuidar do escritório, a usar o
computador TK 85 no almoço, quando não estava assistindo He Man. Levava
uma marmita térmica para o trabalho. Todo salário era repassado para minha
mãe, como era costume para ajudar nas despesas da casa.
Depois de ter aprendido algumas técnicas de desenho de perspectiva
conheci um dos melhores desenhistas da cidade: Emílio Nagai. A partir da
indicação dele, em 1985 fui contratado com carteira assinada pela Construtora
Yamashita e pela Arc Plus Arquitetura com um salário de 434 mil cruzeiros.
Era esse o valor de um salário mínimo. Entre os donos do escritório havia um
casal de arquitetos formados em Zurique na Suíça que também possuíam uma
fazenda de café. Tive oportunidade de visitar a fazenda deles e lá pude
relembrar a minha infância.
Abri uma caderneta de poupança no Bradesco e depositava uma parte
de meu salário. A maior parte repassava para minha mãe. O Bradesco foi um
dos primeiros bancos a automatizar o atendimento com os caixas eletrônicos
no país. Em diversos finais de semana fazia projetos de arquitetura para
ampliar a renda. Nesse ritmo acabava não gastando muito.
Em 28 de fevereiro de 1986 veio o plano Cruzado e o congelamento de
preços. A desvalorização da moeda aconteceria novamente quando o
presidente Collor mudou a moeda para Cruzado Novo. Com a inflação alta, a
poupança era corrigida. Minha conta no Bradesco era administrada com
cuidado. E aos poucos fui tendo a perspectiva de poder pensar em fazer uma
universidade, de preferência pública. Tinha algum dinheiro na poupança e
havia ganhado o prêmio de “Aluno Padrão” da Escola Antônio Reginato.
Tinha uma profissão que gostava. A escolha por um curso de engenharia não
foi difícil.
Por indicação de alguns colegas e dos professores, decidi cursar a
melhor engenharia mecânica do Brasil, na UFSC, segundo o Guia do
Estudante. Nunca havia deixado o estado de São Paulo até então.
No segundo ano de engenharia, o então presidente Collor confiscou os
recursos depositados na poupança dos brasileiros. Esse fato prejudicou meu
planejamento, obrigando-me a trabalhar durante todas as férias seguintes para
me sustentar. Arrumei um emprego em uma fábrica de móveis inicialmente.
Depois comecei a fazer desenhos de arquitetura, que enviava pelos Correios
para Marília. Também fui bolsista de iniciação científica na área de energia
solar e monitor de Geometria Descritiva, Termodinâmica e Transferência de
Calor.
Ao me graduar Engenheiro, um semestre antes do prazo, tive a
oportunidade de participar do concurso público para professor da antiga
Escola Técnica Federal de Santa Catarina. O concurso abriu 18 dias depois de
minha formatura. Fui aprovado e empossado meses depois.
Transformei-me de auxiliar de desenhista em professor de desenho de
climatização em uma década (1983 – 1993). Ao longo de mais de duas
décadas pude ajudar muitos estudantes a realizarem seus sonhos, inspirando-
os a ultrapassarem seus limites. Indiquei muitos alunos para seus primeiros
empregos. Aprendi com prof. Alvaro Prata que somos limitados por nossa
imaginação.
Ao seguir o conselho de meu pai, nunca gastei mais do que ganhei.
Hoje cada vez mais compreendo que nossas escolhas são motivadas pelo
custo de oportunidade. Quando escolhemos fazer algo, deixamos de fazer
outra coisa. E quando decidimos poupar também escolhemos consumir menos
no presente para usufruir de um futuro mais seguro. Mas temos que saber
dosar e aproveitar a vida. Atualmente vejo a necessidade de ensinar meus
filhos e contribuir para que outros jovens aprendam a lidar com a educação
financeira.
A migração de minha família da Bahia (Serrinha) para o interior de São
Paulo em busca de trabalho na lavoura, a mudança de meu irmão mais velho
para São Paulo em 1975, nossa migração de Júlio de Mesquita para Marília
em 1976 foram eventos motivados pela economia. A Bahia foi capital do
Brasil e liderou o ciclo econômico da cana de açúcar. A criação de Marília se
deve à expansão cafeeira. A minha mudança para Florianópolis se deve à
busca pela excelência acadêmica. Florianópolis tem se transformado no Vale
do Silício brasileiro.
A disponibilidade de empregos em determinadas profissões ou em
determinadas regiões, leva ao movimento migratório dentro do país. Saber
fazer essa leitura é importante porque a história de vida de cada pessoa está
ligada a história econômica do país, mesmo que ela não perceba isso.
QUESTÕES PARA REFLETIR
1- Qual a origem do dinheiro?
2- Como surgiram os bancos?
3- O que são juros?
4- Qual a diferença entre juros simples e compostos?
5- O que é inflação e como ela é medida?
6- O que é e qual a importância da taxa SELIC?
7- O que é o Tesouro Direto?
8- Qual o rendimento de uma caderneta de poupança?
9- O que é custo de oportunidade?
10- Qual a importância de se realizar um planejamento financeiro?
PROBLEMAS INDICADOS
1- Um trabalhador tem atualmente 45 anos e pretende se aposentar aos 65. Considerando
que seu objetivo é receber R$ 5000,00 por mês dos 65 aos 85 anos, quanto precisa investir
todo mês. Considere uma taxa de juros da ordem de 0,4%.
2- Um trabalhador tem 35 anos e pretende se aposentar aos 65. Ele pretende obter uma
renda complementar a sua previdência pública da ordem de R$ 10.000,00 por 15 anos.
Nesse caso, quanto ele precisará investir todo mês para ter um patrimônio acumulado aos
65 anos capaz de garantir seus objetivos? Considere uma taxa de juros da ordem de 0,4%.
3- Vamos supor que uma pessoa deposite R$ 100,00 todo mês em uma carteira de
investimentos que paga 0,5% ao mês. Após 30 anos, quanto ela terá acumulado?
4- Uma pessoa deseja acumular um montante de 200.000,00 daqui a 30 anos. Quanto ela
terá que depositar todo mês para atingir seu objetivo? Considere uma taxa de juros da
ordem de 0,4%.
5- Uma pessoa pretende se aposentar aos 60 anos com uma renda mensal de R$ 5.000,00
até seus 80 anos. Quanto ela precisará ter aos 60 anos para atingir seu objetivo? Considere
uma taxa de juros da ordem de 0,4%.
6= Se aplicarmos R$ 100.000,00 reais em uma aplicação que paga uma taxa de juros da
ordem de 0,6% ao mês, quanto ela terá acumulado ao final de 10 anos?
7- Qual é o valor que precisamos depositar no banco hoje para recebermos R$ 100.000,00
daqui a 10 anos? Considere uma taxa de juros da ordem de 0,6%.
8- Suponha que um proprietário deseja instalar um sistema de aquecimento solar que tem
custo de R$ 4.000,00. A economia obtida será de R$ 90,00 por mês. Esse valor será
depositado a uma taxa de juros de 0,5% ao mês. Em quanto tempo o proprietário será
capaz de obter o retorno de seu investimento?
9- Um celular custa R$ 1.999,00 a vista, mas pode ser comprado em 12 prestações de
299,00. Qual é a taxa de juros cobrada pela loja?
10- Um refrigerador novo custa R$ 3.500,0 e consome 52kWh por mês. Um aparelho
antigo consome 90kWh por mês. Quanto tempo demorar á para se pagar o investimento?
Considere que 1kWh custe R$ 0,80.
11- Um cliente compra um refrigerador em 24 parcelas de 208,00. O custo à vista é de R$
3.500,00. Nesse caso, qual é a taxa de juros cobrada pelo lojista?
12- Uma pessoa deseja receber R$ 70.000,00 após 10 anos. Considerando uma taxa de
juros de 0,6% ao mês, quanto ela deverá depositar no presente?
13- Uma pessoa deseja obter um montante de R$ 70.000,00 após 10 anos. Quanto deverá
depositar todo mês para alcançar esse objetivo? Considere uma taxa de juros da ordem de
0,4%.
14- Uma loja vende uma televisão a R$ 8.499,00 em 24 prestações com taxa de juros de
5,5% ao mês. Nesse caso, qual é o valor de cada parcela mensal?
15- Uma pessoa poupa todo mês R$ 300,00 por mês em uma aplicação que paga uma taxa
de juros da ordem de 0,6% ao mês. Qual o valor resultante dessa operação após 10 anos?
16- Uma pessoa está em dúvida se compra um celular de R$ 1.000,00 pagando a vista com
desconto de R$ 50,00 ou em três parcelas de R$ 340,00. Nesse caso qual é o melhor a se
fazer. Suponha que essa pessoa possa depositar as parcelas restantes em uma aplicação
financeira que paga 0,5% ao mês.
17- Uma pessoa pegou R$ 1.000,00 emprestado e devolveu R$ 1.400,00 após 2 anos. Qual
a taxa anual de juros?
18- Qual a diferença de se emprestar R$ 2.000,00 a uma taxa de 9% ao ano pagando juros
simples e juros compostos?
19- Uma empresa compra um equipamento em 36 parcelas iguais, mensais e consecutivas
no valor de R$ 1.488,62, ocorrendo o primeiro pagamento um mês após a efetivação da
compra. Supondo que a taxa de juros cobrada é de 3% ao mês, qual o valor equivalente à
vista do equipamento?
20- Um equipamento que custa R$ 20.000,00 deve ser pago em um prazo de 10 anos. O
comprador pode optar por uma taxa de juros de 6% ao ano ou a 0,5% ao mês. O que seria
mais vantajoso?
As respostas poderão ser obtidas no link:
SUGESTÕES:
BRASIL, Estratégia Nacional de Educação Financeira. Brasília, 2010.
GIANNETTI, Eduardo. O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros. Companhia
das Letras: São Paulo, 2005.
INSTITUTO AKATU. Guia - ABC do consumo consciente do dinheiro e do crédito. 2006.
Disponível em: <http://www.akatu.org.br/Publicacoes>.
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Editora Objetiva: Rio de
Janeiro, 2012.
CERBASI, Gustavo Petrasunas. O dinheiro: os segredos de quem tem. Editora Gente: São
Paulo, 2007.
HALFELD, Mauro. Investimentos: como administrar melhor seu dinheiro. Editora
Fundamento: Curitiba, 2007.
STANLEY, Thomas J. e DANKO, William D. O milionário mora ao lado. Editora Manole:
Barueri, 1999.
https://www.bcb.gov.br/pre/pef/port/caderno_cidadania_financeira.pdf
Valor presente líquido – Univesp TV: https://youtu.be/R0djk82mzv4
Tempo de retorno – Univesp TV: https://youtu.be/8jq3v1rusoo
Mauro Halfeld - https://audioglobo.globo.com/cbn/podcast/feed/87/cbn-dinheiro
https://www.researchgate.net/publication/311427470_Consumption_Income_and_Happine
ss
http://www.gustavocerbasi.com.br/videos-dicas-inteligencia-financeira/
https://www.natgeo.pt/video/tv/origens-o-dinheiro