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CENTRO DE CIÊNCIAS EXTAS DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS FERNANDA RODRIGUES MELO DE MENESES TURISTIFICAÇÃO E GEOGRAFIA NA FORMAÇÃO DOS TURISMÓLOGOS Londrina 2009

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CENTRO DE CIÊNCIAS EXTAS DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

FERNANDA RODRIGUES MELO DE MENESES

TURISTIFICAÇÃO E GEOGRAFIA NA FORMAÇÃO DOS

TURISMÓLOGOS

Londrina 2009

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FERNANDA RODRIGUES MELO DE MENESES

TURISTIFICAÇÃO E GEOGRAFIA NA FORMAÇÃO DOS TURISMÓLOGOS

Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharelado em Geografia apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. Orientador: Prof.ª Maria del Carmen Huertas Calvente

Londrina 2009

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FERNANDA RODRIGUES MELO DE MENESES

TURISTIFICAÇÃO E GEOGRAFIA NA FORMAÇÃO DOS TURISMÓLOGOS

Trabalho de Conclusão de Curso Bacharelado em Geografia apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________ Prof. Orientadora - Maria del Carmen

Huertas Calvente Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Prof. Componente da Banca - Wladimir

Fuscaldo Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Prof. Componente da Banca – Mirian

Vizintim F. de Barros Universidade Estadual de Londrina

Londrina, _____de ___________de _____.

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Dedicatória

Dedico este trabalho ao meu pai Aluísio, e minha mãe Janete, que sempre acreditaram e apoiaram minhas escolhas. E ao meu namorado Ricardo por todo o companheirismo.

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AGRADECIMENTOS

A Deus que me permitiu continuar lendo e escrevendo iluminando

meu caminho e força nos momentos em que pensei em desistir.

Agradeço ao meu grande companheiro Ricardo Tombolato pela

paciência e apoio no desenvolvimento deste trabalho, sempre me incentivando as

leituras e acreditando na sua importância.

Aos meus pais pela motivação e incentivo na área de formação que

escolhi.

A minha orientadora pela orientação neste trabalho, sinceridade,

esclarecimentos e exigências.

Agradeço também algumas pessoas que contribuíram para a

conclusão deste trabalho e aos amigos que me acompanharam durante o

desenvolvimento deste trabalho.

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RESUMO

A construção do pensamento geográfico constituiu-se uma seqüência de práticas teóricas, as principais correntes epistemológicas são Determinismo Ambiental, Possibilismo, Nova Geografia, Geografia Crítica e Geografia Humanística e Cultural. A concepção de espaço marca profundamente os geógrafos que passaram a adotar o materialismo histórico e dialético como paradigma. Considerado o paradigma dominante na Geografia atual, denominado como Geografia Crítica, este busca nas teorias marxistas, entre outras teorias, sua base epistemológica. Desta forma, o espaço é concebido como “lócus” da reprodução das relações sociais de produção. A sociedade se apropria do espaço geográfico, apropriação que pode ser feita por uma comunidade, uma empresa ou um grupo que apropria-se e produz o espaço geográfico e vice-versa, de diferentes formas e intensidades. O turismo é um grande consumidor do espaço e de tempo livre. A territorialização do espaço turístico é chamada de processo de turistificação.A atividade turística é capaz de criar, de transformar e, inclusive, de valorizar espaços, através do trabalho que envolve o processo de turistificação. O turismo, assim como qualquer outra atividade econômica, traz grandes mudanças para as localidades receptoras. A implantação de determinadas estruturas turísticas traz grandes impactos sobre a sociedade, a economia e o meio ambiente. É importante haver profissionais qualificados para planejar a atividade turística e prevenir impactos negativos. O bacharel em turismo tem a titulação necessária para efetuar tais ações, mas passa por um problema que se inicia na formação acadêmica e continua por conta da falta de prestígio do mercado de trabalho. Foram aplicados questionários em diversas classes de cursos superiores de Turismo desde o 2º semestre até o 8 º semestre e foi possível constatar que os alunos possuem conhecimento das conseqüências trazidas pela prática turística e como já era de se esperar uma visão bem positiva dos alunos dos cursos superiores de Turismo.

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SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................................07

1 O espaço geográfico..........................................................................................10

1.1 Concepções do Saber Geográfico.................................................................10

1.1.1 Determinismo Ambiental..............................................................................11

1.1.2 Possibilismo - Escola Francesa...................................................................13

1.1.3 A Nova Geografia...........................................................................................15

1.1.4 Geografia Crítica............................................................................................17

1.1.5 Geografia Humanística e Cultural................................................................18

1.2 Conceito de espaço.......................................................................................19

1.3 Apropriações do Espaço Geográfico..........................................................21

1.3.1 Espaço Urbano..............................................................................................23

1.3.2 Agentes Produtores do Espaço Geográfico...............................................24

1.3.2.1 Os Proprietários dos Meios de Produção.................................................25

1.3.2.2 Os Proprietários fundiários........................................................................25

1.3.2.3 Os Promotores Imobiliários........................................................................27

1.3.2.4 O Estado.......................................................................................................27

1.3.2.5 Os grupos sociais excluídos......................................................................29

2 Turistificação – Formas de apropriação do espaço pelo turismo.................31

2.1 Impactos sociais.................................................................................................36

2.2 Impactos Econômicos.......................................................................................42

2.3 Impactos ambientais..........................................................................................50

2.3.1 Turismo em áreas naturais.............................................................................51

2.3.2 Impactos ambientais do turismo em paisagens naturais brasileiras.........54

3 A visão dos futuros turismólogos diante da apropriação do espaço........59

Considerações finais...............................................................................................74

Bibliografia................................................................................................................79

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INTRODUÇÃO

O que será desenvolvido neste trabalho é a questão do turismo como

consumidor do espaço geográfico. O turismo apropria-se de equipamentos, bens e

serviços das localidades receptoras. Sendo assim, será feito um levantamento dos

impactos ambientais, econômicos e sociais trazidos pela atividade. Além de

identificar se os alunos dos cursos superiores de Turismo possuem conhecimento

sobre essa temática.

Neste trabalho, intitulado “Turistificação e Geografia na formação dos

turismólogos”, serão tratadas, inicialmente, as concepções do saber geográfico e do

conceito de espaço geográfico de acordo com a corrente dominante atual.

Ao longo de sua trajetória histórica, o homem vem desenvolvendo o estudo

da categoria espaço, através da ciência geográfica. Nesta evolução, tem buscado

entender a importância desta categoria para as análises e reflexões de fenômenos

sociais, culturais, e naturais, dentre outros. Contudo, ocorre a necessidade de se

avançar mais nessa discussão e tentar entender melhor o processo de construção

dos conceitos de espaço, buscando desde as mais antigas definições de espaço e

as novas concepções. Não simplesmente defini-lo, mas avançar na construção de

seu conceito através de uma reflexão. Em princípio, é importante transitar por

estudos e definições feitas sobre o espaço à luz de outros métodos e concepções.

Após a análise da trajetória epistemológica dos conceitos da Geografia,

serão discorridas considerações sobre o conceito de espaço geográfico embasadas

na corrente fundamentada no materialismo histórico e na dialética.

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Serão tratados também os fatores que levam a apropriação do espaço

geográfico, efetivados pelos agentes que fazem e refazem a cidade, também serão

explicadas as estratégias e ações concretas desempenhadas neste processo. A

apropriação do espaço traz consigo a formação de territórios, que em geral é uma

forma de relação de poder que remete à soberania.

O turismo é um dos eixos desencadeadores dessa espacialização, age

territorializando, desterritorializando e produzindo novas configurações geográficas.

Assim, é que regiões litorâneas originalmente ocupadas pelos indígenas,

pescadores, comunidades tradicionais, são expropriadas para dar lugar às segundas

residências, aos grandes resorts, as cadeias hoteleiras, aos restaurantes e demais

equipamentos turísticos, como parques temáticos.

O turismo é uma modalidade do processo de acumulação que vem

produzindo novas configurações geográficas e materializando o espaço de forma

contraditória, pela ação do Estado, das empresas, dos residentes, e dos turistas. Por

ser um processo novo e complexo o turismo ainda é polêmico, atualmente é forma

de reprodução do capital e transforma as paisagens e as comunidades envolvidas. E

dependendo da forma que se insere no espaço geográfico pode representar riscos

importantes de desestabilização dos ecossistemas em que se inserem.

Serão abordadas as formas com que este fenômeno se insere e transforma

as comunidades receptoras, destacando os impactos ambientais, econômicos e

sociais, tanto os positivos quanto os negativos.

E para identificar se os alunos dos cursos superiores de Turismo têm

conhecimento da dimensão dos impactos trazidos pelo desenvolvimento turístico,

foram aplicados questionários com questões relacionadas a este tema. Após este

processo foram tabulados e interpretados tais resultados.

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Graduada em Turismo e Hotelaria e Licenciada em Geografia, a autora

deste trabalho realizou um curso de especialização de ensino de Geografia. Na

monografia foi desenvolvida uma pesquisa a fim de identificar quais disciplinas com

conteúdos geográficos eram ministradas nos cursos superiores de Turismo, e a

forma com que estes conteúdos eram trabalhados. Após a realização deste trabalho

a autora interessou-se em saber se as consequências trazidas pela atividade

turística eram de conhecimento dos alunos dos cursos superiores de Turismo.

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1 O ESPAÇO GEOGRÁFICO

Através dos estudos de Varenius, no século XVII, Kant no século XVIII e

Humbolt e Ritter no século XIX, a Geografia foi gradativamente se configurando

como um conhecimento específico, sem perder, no entanto, a visão abrangente ou a

capacidade de observar e correlacionar os fenômenos geográficos.

Para Corrêa (2005) apenas no século XIX a ciência geográfica começou a

usufruir do status de conhecimento organizado, penetrando nas universidades.

Debateu-se a construção do seu objeto, que se definiu epistemologicamente no

decorrer do tempo. Assim como todas as demais ciências, a Geografia teve que

desenvolver seus paradigmas, ou seja, idéias contidas em seus conceitos-chave

para poder alicerçar os objetos de análise e os conceitos fundamentais de seu

universo científico.

1.1 Concepções do Saber Geográfico

As principais correntes de pensamento geográfico, ou paradigmas, foram o

Determinismo Ambiental, o Possibilismo, a Nova Geografia e a Geografia Crítica. A

partir do final do século XIX, constituiu-se uma seqüência de práticas teóricas, em

que a cada momento um ou dois padrões eram predominantes. Com o passar do

tempo, eles foram perdendo destaque, mas não desapareceram, e continuaram a

coexistir, conflituosamente, com outros. As diversas correntes e tendências que

fluem nos estudos geográficos da atualidade apresentam as características e os

rumos para a Geografia. Tais perspectivas enriquecem-na conceitualmente e

promovem o seu dinamismo científico e utilitário (CORREA, 1995).

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No século XIX, com o ensino da Geografia inserido em universidades

européias, o pensamento geográfico passou a se desenvolver de forma

independente das demais ciências, e a estabelecer princípios gerais que dariam a

este ramo do conhecimento certa autonomia perante a História e às Ciências

Naturais (ANDRADE, 1997).

O conjunto de correntes que caracterizavam a geografia no período que se estende de 1870 aproximadamente, quando a geografia tornou-se uma disciplina institucionalizada nas universidades européias, à década de 1950, quando verificou-se a denominada revolução teorético-quantitativa, é por nós identificado como geografia tradicional, que antecede as mudanças que se verificarão nas décadas de 1950, primeiramente, e , depois, na década de 1970. (CORRÊA, 1995, p.17)

Para compreender o desenvolver do pensamento geográfico, serão

exaradas algumas considerações sobre a chamada Geografia Tradicional,

englobando o Determinismo Ambiental e o Possibilismo.

1.1.1 Determinismo Ambiental

Os defensores do Determinismo afirmavam que as condições naturais,

especialmente as climáticas, são determinantes para o comportamento do homem,

interferindo na sua capacidade de progredir. Cresceriam, então, aqueles países ou

povos que estivessem localizados em áreas meteorológicas mais favoráveis. No

século XIX, ocorre o imperialismo e a fragmentação dos saberes em várias

disciplinas. O imperialismo justificava o progresso através das riquezas naturais. O

Determinismo Ambiental justificava a expansão territorial através da criação de

colônias de exploração e de povoamento.

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Para Moraes (1989), o processo de sistematização do pensamento

geográfico inicia-se na primeira metade do século XIX. As primeiras cadeiras de

Geografia foram criadas na Alemanha, em 1870. A ciência estava, naquele

momento, estruturada em função das obras de Alexandre Von Humboldt e de Carl

Ritter, que desabrochavam na Alemanha.

Ritter é considerado um representante do Determinismo Ambiental. Este

paradigma possuía um objetivo sistematizador explícito, isto é, tinha o propósito de

estabelecer e tornar patentes os princípios fundamentais e as noções básicas da

Geografia. Propõe-se a instituir uma Geografia. Dedica-se a delimitar seu campo,

localizá-la entre as ciências e subdividi-la, a padronizar seus conceitos, sugerindo

normas para o procedimento dos geógrafos. Na sua concepção, a Geografia é

definida como a ciência das relações terrestres espaciais, sendo uma disciplina

científica autônoma e especifica.

Ritter assume de modo mais explicito a diferenciação entre ciência e filosofia

e mesmo a particularização do conhecimento científico em campos específicos.

Diferentemente, Humboldt identifica-se mais com uma concepção unitária do

conhecimento.

É neste quadro que se inicia a Geografia, Ritter e Humboldt forneceram os

elementos da sua sistematização. A presença das formulações desses autores na

evolução da Geografia posterior é evidente. Os dois são os primeiros formuladores e

organizadores da Geografia, e a partir deles foram definidas as metas e os

contornos da discussão geográfica.

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A dita Geografia tradicional, primeira estabelecida no estudo do espaço,

trabalha com fundamentos de paisagem e região, deixando em segundo plano a

abordagem espacial. Ratzel, geógrafo alemão também precursor do Determinismo

Ambiental, considera o espaço base indispensável à vida, valorizando a posse e o

domínio do espaço. Surgem daí dois conceitos-chave, que são o território e o

espaço necessário à vida, o espaço vital.

Trata-se do conceito de território e de espaço vital, ambos com fortes raízes na ecologia. O primeiro vincula-se à apropriação de uma porção do espaço por um determinado grupo, enquanto o segundo expressa às necessidades territoriais de uma sociedade em função de seu desenvolvimento tecnológico, do total de população e dos recursos naturais. (CORREA, 1995, p.18)

É importante compreender que o espaço é anterior ao território. O território

forma-se a partir do espaço; é o resultado de uma ação conduzida por um ator que

realiza um programa em qualquer nível. Ao apropriar-se de um espaço, de forma

concreta ou abstrata, o ator territorializa o espaço. Desta forma, o território é uma

produção a partir do espaço.

1.1.2 Possibilismo - Escola Francesa

No final do século XIX, surge a escola francesa, que inicia sua formação

após o confronto com a Alemanha, e estende seus fundamentos a várias partes do

mundo. Num momento em que a França tornou-se um grande império, surge esta

corrente epistemológica que teve origem com Paul Vidal de La Blache, chamada de

Possibilismo.

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La Blache realizou estudos regionais que procuravam demonstrar que a

natureza exercia influências sobre o homem, mas que o homem tinha possibilidades

de modificar e de melhorar o meio. O referido autor fundamenta sua escola apoiada

na sociologia funcionalista de Durkheim, para quem os processos sociais são partes

de um todo que se orientam harmonicamente. Portanto, este pensamento está na

contramão de Ratzel.

Mas, para a escola francesa a relação sociedade-natureza criava um gênero

de vida, próprio de uma determinada sociedade. O contato entre diferentes gêneros

de vida seria um elemento fundamental para o progresso humano, pois, para La

Blache, esse contato dava oportunidade a verdadeiras oficinas de civilização.

Apesar dos argumentos serem diferentes dos da Geografia alemã, também

justificavam a colonização dos povos que construíram gêneros de vida mais simples,

fortalecendo a idéia de missão civilizadora européia.

Corrêa (1995) afirma que para Vidal de La Blache a natureza foi considerada

como fornecedora de possibilidades para que o homem a modificasse: o homem é o

principal agente geográfico. As contribuições e as idéias apresentadas pelos

geógrafos alemães e franceses tiveram grande influência no desenvolvimento dessa

ciência na primeira metade do século XX.

Para Marques e Castro (2008), desde que surgiu como ciência, em meio às

disputas entre alemães e franceses no século XIX, até meados do século XX, o

conceito de espaço transformou-se no elo entre as várias „escolas‟ que usam a

Geografia como ciência.

A contraposição à escola francesa ocorre na década de 1950. Um geógrafo

estado-unidense virá propor outra conceituação de espaço. Para ele, os espaços

eram divididos em classes de área, nas quais os elementos mais homogêneos

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determinariam cada classe, e assim as descontinuidades destes trariam as divisões

das áreas. Hartshorne propôs que o espaço é absoluto por tratar-se de um conjunto

de pontos independentes. A sua concepção de Geografia afirma que esta ciência

estuda todos os fenômenos que se organizam no espaço, e que este último é,

portanto, o receptáculo que apenas contém as coisas (CORRÊA, 1995).

Ele quis propor o conceito de espaço absoluto, onde uma dada área possui

uma combinação única de fenômenos naturais e sociais, sendo único e absoluto

(MARQUES e CASTRO, 2008).

1.1.3 A Nova Geografia

Com a Segunda Guerra Mundial fecundam novas perspectivas de

abordagem da transformação profunda nos setores científico, tecnológico, social e

econômico. Na construção do saber geográfico, surge a chamada Nova Geografia. A

Nova Geografia procura leis ou regularidades empíricas sob a forma de padrões

espaciais. Para tanto, utiliza-se das técnicas estatísticas. Possuía metas básicas:

rigor maior na aplicação da metodologia científica, desenvolvimento de teorias e o

uso de técnicas matemáticas (CORREA, 1995).

O conceito de espaço ganhará novos rumos com a promoção da Nova

Geografia, também chamada de teorética-quantitativa, que vinculou a Geografia ao

planejamento necessário a uma sociedade capitalista fordista-keynesiana, o modelo

de produção em massa que revolucionou a indústria automobilística na primeira

metade do século XX utilizando à risca os princípios de padronização e simplificação

de Frederick Taylor. Uma das principais características do Fordismo foi o

aperfeiçoamento da linha de montagem. Este modelo de produção impunha ao

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Estado investimentos enormes em infraestrutura modernizante e à iniciativa privada

a construção de plantas industriais.

A década de 1960 iniciou-se com a euforia da expansão do modo de

produção capitalista e a apologia da sociedade de consumo. É disseminada a

ideologia do desenvolvimento, sem levar em conta uma racionalização da utilização

dos recursos naturais e a procura de uma melhor qualidade de vida para a

população.

No Brasil, projetou-se, em nome do desenvolvimento, uma política rodoviária

agressiva, estimulando a abertura de grandes rodovias e o uso de automóveis

individuais. Com isto, a política ferroviária foi abandonada. E quando as cidades

cresceram de forma descontrolada, marginalizando grande parte de sua população,

é que o problema da qualidade de vida passou a preocupar técnicos, cientistas,

administradores e políticos.

O crescimento econômico não-racionalizado provocou a formação de

escolas, nas várias ciências sociais, que procuraram abstrair as conseqüências

negativas deste crescimento e projetar apenas as vantajosas, utilizando para isto o

método matemático-estatístico. E a matemática e a estatística, ciências que dão

excelente contribuição quando utilizadas como meios, como instrumentos, passaram

a ser utilizadas como um fim, ignorando o fato de que os problemas econômicos e

sociais eram também, e principalmente, qualitativos.

A vertente embasada na substituição do qualitativo pelo quantitativo e a

utilização exclusiva de indicadores numéricos para interpretar situações foi chamada

pelos geógrafos de Nova Geografia ou Geografia Quântica ou Quantitativa

(ANDRADE, 1997).

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De acordo com o mesmo autor, a teoria defendida pela Nova Geografia leva

a um raciocínio dentro de uma lógica formal, que encara os fatos como estatísticos e

não como resultados de um processo que está permanentemente em evolução, em

transformação.

1.1.4 Geografia Crítica

Mas é na década de 1970 que surge com vigor a Geografia baseada nos

fundamentos do materialismo histórico e na dialética que visou romper com a

tendência teorético-quantitativa. Em sua obra de 1978, Por uma Geografia Nova,

Milton Santos apresenta o espaço como conceito chave dos debates, sendo o

espaço um fator social e não apenas um reflexo social (MARQUES e CASTRO,

2008).

Esta tendência nos estudos geográficos está relacionada com a Geografia

Radical. Iniciou-se na década de 1960 em virtude do ambiente de contestação, em

função da guerra do Vietnã, da luta pelos direitos civis, da crise da poluição e da

urbanização. Surgiu uma corrente geográfica preocupada em ser crítica e atuante.

Vários adjetivos são mencionados para caracterizá-la, tais como Geografia Crítica,

de relevância social, marxista e radical.

Considerado o paradigma dominante na Geografia atual, denominado como

Geografia Crítica, este paradigma busca nas teorias marxistas, entre outras teorias,

sua base epistemológica. Desta forma, o espaço é concebido como locus da

reprodução das relações sociais de produção. O espaço e a sociedade estão ligados

e fazem parte de um mesmo conceito, pois o espaço é o produto do modo de

produção colocado pela sociedade. Um representante importante desta corrente é

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Milton Santos, que em suas diversas obras sobre o espaço, define categorias de

análise do espaço: estrutura, processo, função e forma (DUARTE e MATIAS, 2008).

Para os mesmos autores, forma é o conjunto de objetos visíveis que

constitui um padrão espacial como um bairro ou uma cidade por exemplo. A função

é o papel desempenhado pela forma: cotidiano, moradia, por exemplo. O processo é

a dinâmica interna da estrutura social e econômica, resultantes das contradições

internas, e, por fim, a estrutura é a matriz histórica para que se concretize todo o

processo.

1.1.5 Geografia Humanística e Cultural

Outra importante corrente epistemológica da atualidade é a chamada

Geografia Humanística e cultural. Este paradigma baseia-se nos sentimentos, na

experiência, privilegiando o singular, e na percepção vista como significação. À luz

deste paradigma, a categoria mais utilizada tem sido o lugar, mas o espaço também

é considerado, principalmente como espaço vivido e como espaço percebido.

De acordo com Duarte e Matias (2008), resgata-se a interação entre sujeito

e objeto, o mundo deixa de ser um agente passivo e o homem se aproxima do seu

espaço e dos fenômenos após anos do falso distanciamento imposto pelos demais

métodos.

Os teóricos humanistas adeptos dessa corrente utilizam-se da

fenomenologia existencialista para a elaboração do paradigma. Seguindo esta linha

de pensamento, onde o espaço é o objeto de estudo, leva-se em consideração o

modo de vida, a religião e a cultura. Assim, a partir dessas variantes, é possível

compreender o espaço vivido.

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De acordo com os mesmos autores, o significado do espaço vivido baseia-se

na construção de cada um. A reconstrução da memória espacial é feita através do

uso seletivo do passado. Estas variantes são encontradas nas construções do

espaço. Todo espaço é espaço de alguém, é o espaço do mais forte, de uma cultura

dominante onde um grupo que se destaca sobre outro controla os meios de vida

impondo sua própria experiência do mundo. Então, o ser do e no mundo encontra-se

imerso em um espaço que nem sempre atende aos seus interesses, mas, sim, ao

interesses de poucos.

Como existem várias culturas, grupos e estilos de vida, cada um ocupa uma

parte do espaço e lhe dá características próprias, organizando-o de acordo com

suas concepções e necessidades. Esse esquema é perceptível através das

paisagens que são vistas no dia a dia, pois estas resultam de ações, pensamentos,

estilos de vida.

Esta parte inicial do trabalho tratou de uma explanação do desenvolvimento

do pensamente geográfico e suas correntes mais significativas, como o

Determinismo Ambiental, o Possibilismo, a Nova Geografia, a Geografia Radical e a

Geografia Cultural.

A ciência que estuda o espaço geográfico está em plena mudança. As

metodologias de pesquisa ampliam-se e os temas tradicionais são agora revisitados

pelos olhos do tempo atual, uma exigência da modernidade.

1.2 Conceito de Espaço

O estudo do espaço é tarefa maior da Geografia. Entende-se que o campo

de atuação da Geografia está balizado pelo conceito de espaço geográfico. Ao longo

da história da Geografia, o espaço geográfico foi concebido de diferentes maneiras.

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A Geografia, em seu início, assumiu uma concepção de tempo à maneira de Kant,

concebendo-o de forma seqüencial, linear, como sucessão de fatos no espaço

(SANTOS, 2002).

Cada conceito expressa uma possibilidade de leitura de espaço geográfico.

Os fundadores da Geografia, a exemplo de Ritter, Ratzel e La Blache, dentre outros,

propõem um objeto para a Geografia centrado na relação homem-meio (natureza).

Esta visão modifica-se com o tempo, em parte devido à aproximação da

Geografia com a Sociologia, a Economia e a Ciência Política, a partir do

Materialismo Histórico.

De acordo com Corrêa (1995) esta concepção de espaço marca

profundamente os geógrafos que passaram a adotar o materialismo histórico e

dialético como paradigma.

A visão crítica da Geografia, ao romper com a visão de estabilidade, afirma

que o espaço geográfico é a coexistência do passado e do presente ou de um

passado reconstituído no presente. Esta concepção permite aos geógrafos, como

faz Milton Santos (1996), propor uma nova concepção de tempo-espaço

indissociável.

Será tomado como referência o conceito expresso por Milton Santos (1996,

p.51), no qual o espaço geográfico constitui um sistema de objetos e um sistema de

ações que:

[...] é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina.

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O espaço geográfico é o resultado da inseparabilidade entre os sistemas de

objetos e sistemas de ações. Os sistemas de objetos interagem, dialética e

indissociavelmente.

De um lado os sistemas de objeto condicionam as formas como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos pré-existentes. È assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma. (SANTOS, 1996, p. 52)

O mundo é apresentado de forma móvel e em transformação, como um

conjunto indissociável, em que se encontra de um lado o arranjo de objetos

geográficos, naturais e artificiais, e de outro lado a vida que os anima, através da

sociedade que está sempre em movimento.

O espaço geográfico é um espaço socialmente produzido. Este sistema

indissociável de objetos e ações ocorre através das relações capitalistas, visto que a

sociedade está cada vez mais voltada ao capital. O espaço tem que ser encarado

como fator social e não um reflexo social, o importante é realçar a inseparabilidade

entre ação e objeto, para afirmar que o tema central da Geografia não é

separadamente os objetos, nem as ações, mas objetos e ações tomados em

conjunto (SANTOS 1996).

1.3 Apropriações do Espaço Geográfico

O espaço geográfico é produto do processo histórico, social, e, também,

condição para o devir, tanto social como do próprio espaço geográfico. Isto já é claro

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nas perspectivas críticas de leitura, principalmente na de base marxista, na

Geografia (SAQUET, 2005).

A discussão sobre o espaço geográfico é antiga. De acordo com os

pensamentos de cada época, a discussão do espaço geográfico tomou vários

rumos. Sempre que se falou em Geografia, procurava-se o espaço geográfico,

mesmo quando este não era concebido como seu objeto central (SILVA, 2001).

O espaço geográfico é produzido social e historicamente, e é fruto das

contradições sociais, historicamente condicionadas. Este espaço é a todo momento

re-produzido através do trabalho e das demais atividades do homem e revela as

contradições e desigualdades sociais. A dialética sócio-espacial é, ao mesmo tempo,

espaço-temporal, porque a sociedade produz seu espaço geográfico historicamente.

“O homem, vivendo em sociedade, ocupa, localiza-se, apropria-se e molda seu

habitat, seu lugar de vida” (SAQUET, 2005, p.35). E, ao movimentar-se, pode perder

este lugar, esta referência, porém irá se recolocar, re-localizar, ou seja, produzir seu

espaço.

A apropriação pode ser material ou simbólica e cultural. Ela é feita pela

sociedade, podendo ser uma comunidade, uma empresa ou um grupo que apropria-

se e produz o espaço geográfico e vice-versa, de diferentes formas e intensidades.

No caso de uma empresa, esta pode apropriar-se legalmente de uma área, e

de forma abstrata dominar todo o seu entorno, ou seja, influenciar o comércio local,

valorizar ou desvalorizar as locações próximas, entre outras modificações na infra-

estrutura do bairro ou até mesmo do município.

De acordo com SAQUET (2005), a vida cotidiana é lugar de apropriação, de

domínio, regulação, de posse, do espaço geográfico. É a dimensão em que se dá a

produção e a re-produção social, espacial e territorial.

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A vida cotidiana tem como fruto o processo de territorialização. O território é

apropriado e produzido econômica, política e culturalmente, e centrado nas relações

de poder e na comunicação. Há, portanto, no território, fixação e movimento,

contradições e unidades; dominação e formação territorial.

Mais uma vez, é importante salientar que o espaço é anterior ao território. O

território é formado a partir do espaço. O território é um espaço onde se projetou um

trabalho, ou seja, energia e informação, e que revela relações marcadas pelo poder.

1.3.1 Espaço Urbano

De acordo com o mesmo autor, o espaço urbano é um reflexo social e

fragmentado, especialmente o da cidade capitalista, que é desigual. A desigualdade

constitui-se em característica própria do espaço urbano capitalista. Por ser reflexo

social e porque a sociedade tem a sua dinâmica, o espaço urbano é também

mutável.

O espaço urbano capitalista-fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas - é um produto, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. (CORRÊA, 2005, p.11)

Os agentes sociais que produzem o espaço são agentes concretos, que

derivam da dinâmica de acumulação de capital. As cidades possuem diferentes usos

da terra. Esses usos definem áreas, como o centro da cidade, local de atividades

comerciais, áreas industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e

conteúdo social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão.

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O espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado. Em relação à

articulação, esta se dá de uma forma tão clara e notória como pode ocorrer de uma

maneira menos visível aos olhos gerais da população.

A reorganização espacial emerge via incorporação de novas áreas ao

espaço urbano, deterioração de certas áreas, renovação de áreas urbanas,

realocação diferenciada da infra-estrutura e mudança, coercitiva ou não.

1.3.2 Agentes Produtores do Espaço Geográfico

Corrêa (2005) aponta quem são estes agentes sociais que fazem e refazem

a cidade e quais são as estratégias e ações concretas desempenhadas no processo

de fazer a cidade. Estes agentes são os seguintes:

(a) Os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais.

(b) Os proprietários fundiários.

(c) Os promotores imobiliários.

(d) O Estado.

(e) Os grupos sociais excluídos.

A ação destes agentes ocorre dentro de um marco jurídico que regula a sua

atuação. Estes processos refletem o interesse dominante de alguns dos agentes, e

permitem que haja infrações de acordo com os interesses do agente dominante.

Sendo assim, servem ao propósito dominante da sociedade capitalista, que

é o da reprodução das relações de produção, implicando a continuidade do processo

de acumulação e a tentativa de minimizar os conflitos de classe, este aspecto

cabendo particularmente ao Estado.

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1.3.2.1 Os Proprietários dos Meios de Produção

Devido à dimensão de suas atividades, os grandes proprietários industriais e

das grandes empresas comerciais são os maiores consumidores de espaço.

Necessitam de terrenos amplos e baratos que atendam requisitos para efetuação

das atividades de suas empresas. A terra urbana tem assim o papel de suporte

físico e o de expressar os requisitos específicos às atividades.

1.3.2.2 Os Proprietários Fundiários

Apesar de fazerem parte das classes dominantes e de estarem por diversas

vezes sendo favorecidos, tendo seus interesses atendidos, há divergências entre os

interesses dos proprietários dos meios de produção e os proprietários fundiários.

De acordo com Corrêa (2005), a especulação fundiária interessa aos

proprietários fundiários: a retenção de terras cria uma escassez de oferta e o

aumento de seu preço, possibilitando-lhes ampliar o valor da terra. Esta prática é

diretamente geradora de conflitos entre proprietários industriais e fundiários.

Os conflitos que surgem tendem a ser, em principio, resolvidos em favor dos

proprietários dos meios de produção, pois estes, no sistema capitalista, comandam a

vida econômica e política. A solução desses conflitos faz-se através de pressões

junto ao Estado para realizar desapropriação de terras, instalação de infra-estrutura

necessária às suas atividades e para a criação de facilidades com a construção de

casas baratas para a força de trabalho.

Os proprietários de terras atuam no sentido de obterem a maior renda

fundiária de suas propriedades, ou seja, interessam-se em destinar as terras ao uso

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mais remunerador possível, principalmente uso comercial ou residencial de status,

como loteamentos de alto padrão. A existência de áreas alagadiças em um dado

setor da periferia pode ser um obstáculo para uma valorização fundiária.

Os proprietários de terras bem localizadas, valorizadas por características

físicas, como o mar, lagoa, sol, sal, verde etc., agem pressionando o Estado visando

à instalação da infra-estrutura urbana ou obtendo créditos bancários para eles

próprios instalarem a infra-estrutura.

Estas terras da periferia, valorizadas por características físicas, são

destinadas à população de status. Como se trata de uma demanda solvável, é

possível aos proprietários fundiários tornarem-se também promotores imobiliários;

loteiam, vendem e constroem casas de luxo. Criam-se assim bairros seletivos em

razão das vantagens (características). Campanhas publicitárias exaltando as

qualidades da área são realizadas ao mesmo tempo em que o preço da terra sobe

constantemente.

No Brasil os exemplos de ex-periferias urbanas enobrecidas são numerosas. Nas cidades litorâneas localizam-se junto ao mar, como no rio de Janeiro, em Salvador, Recife e Fortaleza. Bairros, como Copacabana, Ipanema, Barra da Tijuca, Barra, Itapoã, Boa Viagem e Aldeota já foram, num passado mais ou menos distante, periferias urbanas: agora são bairros de status, frutos de valorizações

fundiários. (CORRÊA, 2005, p. 18)

De acordo com Da Trindade Júnior (2005), os proprietários fundiários são

em grande parte responsáveis pela criação do padrão de segregação. É comum a

preocupação em transformar terras rurais em terras urbanas, contribuindo para a

valorização das localidades das áreas rurais que cercam as cidades. Preocupam-se

também com a implantação da infra-estrutura, estimulando a valorização de suas

propriedades.

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1.3.2.3 Os Promotores Imobiliários

Correa (2005, p.19) traz as operações realizadas pelos promotores

imobiliários, que são um conjunto de agentes que realizam, parcial ou totalmente, as

seguintes operações:

(a) incorporação, que é a operação-chave da promoção imobiliária; o incorporador realiza a gestão do capital-dinheiro na fase. (b) financiamento, ou seja, a partir da formação de recursos monetários provenientes de pessoas físicas e jurídicas, verifica-se de acordo com o incorporador, o investimento visando à compra do terreno e à construção do imóvel. (c) estudo técnico, realizado por economistas e arquitetos, visando verificar a viabilidade técnica da obra dentro de parâmetros definidos anteriormente pelo incorporador e à luz do Código de Obras. (d) construção ou produção física do imóvel, que se verifica pela atuação de firmas especializadas nas mais diversas etapas do processo produtivo; a força de trabalho está vinculada às firmas construtoras; e (e) comercialização ou transformação do capital-mercadoria em capital-dinheiro, agora acrescido de lucros; os corretores, os planejadores de vendas e os profissionais de propaganda são os responsáveis por esta operação.

Os promotores imobiliários realizam a produção e a reprodução através de

mecanismos que variam desde valorização sob forma de mercadoria até mesmo o

financiamento de recursos monetários. É representado por pessoas ou firmas que

transacionam terrenos ou edificações.

1.3.2.4 O Estado

O Estado atua diretamente na organização espacial. Acaba por incorporar

atuações de outros produtores do espaço, pois age como grande industrial,

consumidor de espaço e de localizações específicas, proprietário fundiário e

promotor imobiliário. “As terras públicas são uma reserva fundiária que o Estado

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dispõe para usos diversos no futuro, inclusive para negociações com outros agentes

sociais” (CORREA, 2005, p.24).

É através da implantação de serviços públicos de interesse tanto das

empresas, quanto da população em geral, como, por exemplo, sistema viário,

calçamento, água, esgoto, iluminação, parques, coleta de lixo, que o Estado atua de

maneira mais esperada. Aos olhos populares, esta é a função do Estado. A

elaboração de leis e normas vinculadas ao uso do solo constituem outra função no

que se refere ao espaço. E é o Estado alvo de certas reivindicações de segmentos

da população urbana.

De acordo com o mesmo autor, o Estado dispõe de um conjunto de

instrumentos que pode empregar em relação ao espaço urbano. São os seguintes,

dentre outros: direito de desapropriação e precedência na compra de terras;

regulamentação do uso do solo; controle e limitação dos preços de terras; limitação

da superfície de terra da qual cada um pode apropriar-se; organização de

mecanismos de crédito à habitação.

Espera-se do Estado uma atuação neutra, como se o Estado fosse uma

instituição que governasse de acordo com uma racionalidade fundamentada nos

princípios de equilíbrio social, econômico e espacial, pairando acima das classes

sociais e de seus conflitos. Sua ação é marcada pelos conflitos de interesse dos

diferentes membros da sociedade de classes. O Estado capitalista cria mecanismos

que levam à segregação residencial e a sua ratificação.

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1.3.2.5 Os Grupos Sociais Excluídos

Para viver, a maior parte da população tem que se localizar em algum lugar,

alguma parcela do território. Há quem possua um terreno ou uma casa, há também

quem possua dezenas de terrenos ou casas, equivalendo a grandes extensões do

território (SPOSITO, 2001).

É comum as famílias deslocarem-se para a periferia das cidades, em busca

de aluguel ou terreno mais barato, aumentando sua distância dos locais de emprego

e do centro da cidade, o que leva a maior perda de tempo no deslocamento para o

trabalho, provocando o cansaço e o desgaste físico. Isso pode explicar o peso

pejorativo que a palavra periferia incorporou.

O aumento do número de veículos (ônibus, caminhões, automóveis, dentre

outros) nas mesmas ruas e avenidas que temos hoje, provoca a diminuição da

velocidade média dos veículos, aumentando o tempo necessário para os

deslocamentos, gerando tensão e cansaço nas pessoas.

Por outro lado, devido principalmente à desproporção das possibilidades de emprego (maior número de trabalhadores que o número de empregos), para sua sobrevivência, há pessoas que passam a exercer atividades chamadas informais, que são consideradas marginais ao sistema. “O guardador de carros”, o ” carregador nas feiras”, o vendedor de bugigangas (camelô), etc., cuja presença, principalmente nas cidades grandes tem se tornado cada vez maior, são pessoas que exercem atividades marginais ao sistema.(SPOSITO, 2001, p.61)

Segundo o autor, alternativas são utilizadas pelos “despossuídos”, como a

formação de cortiços e favelas, com problemas sérios de saneamento básico. É

comum a prática de aluguel de casas até nas favelas. Pode-se observar o grau de

exploração entre os próprios “despossuídos”, reproduzindo de maneira bem clara as

contradições do sistema capitalista.

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Para compreender a dinâmica da sociedade, também é preciso observar que

a população está se movimentando, não só da casa para o trabalho ou para o lazer,

mas também se mudando de uma cidade para outra, ou entre o campo e a cidade.

O deslocamento muito intenso, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, do

campo para a cidade provocou um crescimento acelerado.

A população de baixa renda apropria-se de terrenos usualmente

inadequados para os outros agentes da produção do espaço, encostas íngremes e

áreas alagadiças. Trata-se de uma apropriação de fato. No plano imediato, a favela

corresponde a uma solução de um duplo problema, o da habitação e de acesso ao

local de trabalhadores. O autor lembra que a cidade do Rio de Janeiro, que possui

numerosas áreas íngremes e alagadiças, constitui um excelente exemplo. O

problema habitacional é hoje intenso em grandes e médias cidades. A resistência e

a sobrevivência são traduzidas na apropriação. Na sociedade de classes verificam-

se diferenças sociais no que se refere ao acesso aos bens e serviços produzidos

socialmente (CORRÊA, 2005).

Como vimos neste capítulo, são muitas as formas de apropriação do espaço.

Há, no entanto, uma atividade econômica que tem uma grande contribuição para

apropriação e reorganização do espaço: o turismo. O turismo tem a capacidade de

criar, de transformar e, inclusive, de valorizar espaços.

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2 Turistificação – Formas de apropriação do espaço pelo turismo

O sistema industrial, pós-industrial e o processo de urbanização crescente

da sociedade contemporânea implicaram no aparecimento e no desenvolvimento do

lazer como necessidade. Em meio ao sistema capitalista, o lazer surge para as

pessoas que trabalham poderem descansar e estar em equilíbrio, para assim

gerarem novas fontes econômicas. O turismo é uma das formas de lazer, os

empreendedores e planejadores da atividade procuram organizar e planejar o tempo

livre da sociedade atual. O turismo contribui para a circulação de capital, melhoria

econômica de uma região e o consumo dos lugares e do meio.

Diante da dinâmica do sistema capitalista industrial em que as pessoas

passaram a trabalhar constantemente e de forma intensa surge a necessidade de

tempo livre e a atividade turística vem como opção de lazer e de descompressão.

Porém não são todos que têm acesso. Até hoje as pessoas mais carentes

frequentemente não têm condições de praticar uma atividade turística, muitas vezes

há a necessidade de preencher seu tempo livre com outro trabalho.

Os agentes capitalistas produtores do território em meio à organização e

reorganização do espaço, processos e sua influência de poder, vão estruturando o

espaço, selecionando seu território, distribuindo a pobreza e concentrando a riqueza.

Isto com uma essência sempre mascarada, mantendo os mais pobres excluídos

dentro da alienação, ou seja, sem perceberem que estão sendo explorados. Pode-se

perceber então que no processo de territorialização do espaço, onde a sociedade já

se apropriou e organizou o espaço, este tem agora outro significado, o de território, e

está carregado de poder e de influências de poder.

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A territorialização do espaço turístico é chamada de processo de

turistificação. Para se compreender o processo de turistificação do espaço é preciso

destacar o papel do turismo no reordenamento do território, sua ação e reação

perante sua apropriação do território.

O turismo é um grande consumidor do espaço e de tempo livre, sendo

também considerado produtor e transformador, isto por ter em seus investimentos a

criação e a adaptação de infra-estrutura no espaço consumido. O turismo concorre

no processo de transformação dos territórios para seu uso, com outros usos do

território.

A atividade turística é capaz de criar, de transformar e, inclusive, de

valorizar espaços, através do trabalho que envolve o processo de turistificação, além

de toda a lógica que se insere nos pacotes turísticos.

Para Dantas (2007), a “turistificação” trata-se da utilização do espaço

através de um determinado período que traz conseqüências no âmbito sócio-cultural

em um determinado local. Turistificação são as transformações feitas pela ação

humana para fins de lazer. Essas mudanças podem ocorrer através de expansões

imobiliárias, como por exemplo, construções de resorts e condomínios de luxo, bem

como na exploração turística em áreas litorâneas, sob o pretexto de geração de

emprego e renda para as comunidades locais, pois em muitos casos os grandes

empresários acabam expandindo seus negócios e excluindo a comunidade local.

Para a mesma autora as inovações turísticas trazem a concentração de

renda e lucro para poucos, além da degradação ambiental e dos valores e símbolos

de um determinado local, uma vez que o aumento de turistas provoca uma

readaptação dos mesmos.

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Tornou-se comum na paisagem às margens de oceanos, de mares ou de

rios, um processo de apropriação do espaço em que a vista para as águas torna-se

um elemento fundamental para se auferir valores a partir do fator localização e das

amenidades relacionadas a recursos naturais. Tal valorização justifica-se devido à

existência de uma paisagem pouco comum nas cidades, diante da escassez

produzida pela dinâmica caótica da vida urbana. Esta é a razão pela qual as

vantagens locacionais das orlas fluviais e marítimas passam a ser privilégios

daqueles que podem pagar para visitar e se hospedar nesses espaços (DA

TRINDADE JÚNIOR, 2005).

Paisagens naturais são grandes atrativos para pessoas que pretendem

descansar e sair do seu cotidiano. Em geral, como foi escrito no parágrafo anterior,

vistas para as águas, sejam mares ou rios, montanhas, e áreas verdes, dentre

outros componentes da paisagem natural, são sempre valorizados pelo turismo e

geralmente despertam grande demanda. As redes de serviços destinadas ao turismo

levam em consideração essas vantagens de localização representadas pela

presença de riquezas naturais. Por este motivo, muitas localidades litorâneas

sofreram drásticas mudanças em seu cotidiano: passaram a receber turistas em

temporadas, finais de semana, ou até o turismo de segunda residência, ou seja,

alojamentos turísticos particulares, utilizados temporariamente, nos momentos de

lazer, por pessoas que têm seus domicílios permanentes em outro lugar.

Diversas cidades do litoral brasileiro passaram pelo processo de

turistificação, muitas delas sem planejamento. Essa ação pode ocorrer lentamente

ou de modo mais veloz. Tais cidades, vilarejos e pequenas comunidades, tinham ou

têm em comum as praias, o clima agradável e o ar puro, dentre outros atrativos que

foram sendo divulgados através da mídia, e atraindo a população que vivia em

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cidades maiores, cidades do interior do país, ou até mesmo por estrangeiros. Ao

tornarem-se conhecidas, essas localidades litorâneas passaram a ser visitadas

constantemente, e para abrigar estes turistas foram construídos hotéis e pousadas.

Para alimentá-los, construíram restaurantes, padarias, mercados e bares. Muitos

moradores abandonaram suas antigas atividades para trabalharem a serviço do

turista. Essas são as maneiras mais corriqueiras de o turismo reorganizar o espaço.

Alem das riquezas naturais há também as localidades que despertam

interesse pelo valor do patrimônio cultural e histórico (arquitetura, museus). São

estes fatores e também as decisões das instituições especializadas que determinam

a capacidade de o país receber turistas. As atividades ligadas ao turismo (hotéis,

restaurantes) são dependentes de mão de obra, e é por isso que as multinacionais

do setor obtêm consideráveis vantagens por uma localização em países que

combinem atrações naturais com mão de obra barata.

A turistificação pode ser entendida como o processo de implantação,

implementação e/ou suplementação da atividade turística em espaço já turístico ou

com potencialidade para o turismo.

A turistificação influencia na organização espacial, instalando-se e

dinamizando as paisagens. É uma atividade complexa com múltiplas relações

econômicas, sociais, políticas e culturais (ASSIS, 2003).

O turismo age territorializando e desterritorializando. Produzindo novas

configurações geográficas. Cada local, região ou país tem sua formação própria, sua

cultura, valores e costumes, e quando a atividade turística começa a se desenvolver

o espaço vai sendo (re) produzido.

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Ao transformarem o espaço em mercadoria, os capitalistas fazem surgir

novas atividades econômicas, como o ramo econômico das atividades do lazer e do

turismo. O turismo provoca profunda mudança sócio-espacial. Ele redefine as

singularidades espaciais, além de reorientar os usos.

O turismo é uma prática sócio-espacial complexa e multifacetada que

interage fixos e fluxos, e tem seus rebatimentos nas diferentes esferas da

organização sócio-espacial. Dentre outras, Assis (2003, p.109) destaca:

-Econômica: requalifica os espaços através da diversificação, do crescimento e/ou decréscimo das atividades, provocando alterações nos perfis de emprego, na renda e na base produtiva; -Cultural: modifica os sistemas de valores, o estilo de vida e os padrões de consumo das populações receptoras; -Política: (re) define o papel do Espaço como gerenciador da infra-estrutura turística e de ordem; -Ideológica: articula estratégias e táticas que permeiam o imaginário do turismo como via de salvação do mundo e como mecanismo de manutenção de ordem; e -Espacial: refere-se a espaço como meio de produção, como produto de consumo e como o lócus das práticas sócio-espaciais.

As incidências do turismo nessas diversas esferas da organização sócio-

espacial mostram como elas se encontram articuladas num campo de ações

conjuntas que denotam a totalidade do espaço turístico.

A complexidade do espaço do turismo se dá nas relações sociais

materializadas territorialmente nas zonas de recepção, de deslocamento e de

recepção de turistas que resultam no processo de produção e reprodução do

espaço. Assim o turismo articula os elementos do espaço, comercializando a

natureza como atrativo, articulando fluxos populacionais, inserindo uma rede de

equipamentos de infra-estrutura, transportes, serviços.

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Assumindo que o turismo constitui uma atividade complexa com múltiplas

relações econômicas, sociais, políticas e culturais, serão discutidos os impactos

positivos e negativos da turistificação.

2.1 Impactos sociais

O turismo, assim como qualquer outra atividade econômica, traz grandes

mudanças para as localidades receptoras. Essas mudanças podem ser benéficas ou

maléficas. Cabe a este item o levantamento de alguns impactos sofridos pelas

comunidades locais e decepções sofridas pelos turistas.

Os principais problemas que o turismo pode trazer para a comunidade

receptora são a desintegração das atividades econômicas tradicionais, alterações na

cultura, migração, fenômenos de crescimento populacional e urbano desordenado, e

falta de serviços públicos, dentre outros problemas (DIAS, 2003).

No Brasil, as atividades ligadas ao turismo vêm se expandindo ao longo dos

anos, aproveitando as formas urbanas existentes e criando novas formas sociais,

como os hotéis de luxo, resorts e parques temáticos.

O aparecimento de infra-estruturas grandiosas pode trazer grande impacto à

vida cotidiana da comunidade local, afetando-a economicamente passa a afetar

culturalmente, pois os trabalhadores de atividades tradicionais mudam de atividade

econômica, ou modificam a sua função dentro da mesma atividade. Um exemplo

claro é a pesca, os pescadores mudam de função dentro da mesma atividade e

passam a atender a grande demanda, abandonando antigas técnicas de pesca para

atingirem grandes quantidades, e assim venderem para restaurantes e bares. Além

de abandonarem a forma tradicional de pesca, o retorno financeiro em geral não é

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compensador para os pescadores. Dessa forma, o turismo age desestruturando,

modificando os modos de viver anteriores e subordinando-os aos ditames turísticos.

Há também o problema da especulação imobiliária que ameaça algumas

comunidades tradicionais em virtude do crescimento acelerado da atividade turística,

já que com o aumento do número de casas de veraneio, de empreendimentos

turísticos e loteamentos, algumas comunidades pesqueiras estão abandonando o

litoral em busca de outros lugares para viver. Havendo uma grande

descaracterização da cultura local.

Isso ocorre por conta da supervalorização do imóvel, o aumento do valor real

da terra prejudica as colônias dos pescadores, pois estes são pressionados a vender

suas terras de forma indevida. No litoral, a aquisição das terras dos pescadores e da

própria casa é um desrespeito ao nativo (CORIOLANO, 2001).

De acordo com a mesma autora algumas comunidades brasileiras resistem

às pressões por terem certo nível de consciência e politização. Em Redonda, Ceará

nenhum pescador pode vender terreno sem que a comunidade avalie, analise se

convém ou não. Isto é garantido por um regimento local.

Não apenas no litoral brasileiro, mas também em áreas do interior do Brasil

os trabalhadores de atividades tradicionais como pecuária e pesca mudam de

atividade ou de função dentro da mesma atividade. Um exemplo desta mudança

são os boiadeiros de comitivas. Já que as comitivas são cada vez mais raras devido

ao avanço nos sistemas de transporte, as comitivas passaram a existir como parte

de um cenário turístico, veiculadas através de um pacote turístico para o Pantanal

Mato-Grossense. O turista pode viver a experiência de conduzir uma boiada através

do Pantanal, enfrentando os perigos de antigamente, mas tudo não passa de uma

dramatização.

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Ainda no Pantanal Mato-Grossense, o aparecimento do turismo criou uma

outra categoria de trabalhadores, são os isqueiros, que vivem às margens das

rodovias e dos rios pantaneiros, sendo explorados pelos atravessadores. São os

atravessadores que compram as iscas a preços baixíssimos e as revendem aos

empresários ligados ao turismo, estas iscas são disponibilizadas aos turistas que se

dirigem a região para a prática de pescaria esportiva (DIAS, 2003).

No Brasil, medidas são tomadas pelos governos para a proteção das

populações indígenas, através da criação ou reconhecimento de reservas. Dessa

forma, conservando o território, a cultura e os interesses de muitas tribos, os

indígenas podem escolher o caminho para seu desenvolvimento.

Ao se compreender a cultura dentro do seu processo social e dinâmico de produção, parecem sem sentido posturas como o ato de conservar objetos, acreditando estar preservando a cultura. Quando uma comunidade enfrenta condições que alteram parte significativa da vida, como a perda das terras ou do acesso ao mar, não é possível pensar em uma política cultural, sem antes pensar em uma política social e econômica que se coloque ao lado dos agentes desta cultura. Tampouco é possível pensar numa política protecionista de “preservação de cultura” enquanto algo estático, pois a cultura é dinâmica. Os agentes da cultura popular necessitam de posições solidárias na procura de uma política democrática, de participação e de pressão para abertura de canais de diálogo, no sentido de práticas coletivas que fortaleçam ou reproduzem o poder popular. (CALVENTE, 1993, p.18)

De acordo com a mesma autora muitas vezes, ocorre um reducionismo onde

a cultura é representada por estilos arquitetônicos, instrumentos. Mas não se pode

pensar em conservar a cultura colocando objetos em um museu. A cultura se

movimenta e se transforma, ela é dinâmica, não é estática. A permanência de um

povo em seu território é importante para que a cultura sobreviva.

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Muitas vezes os turistas, ao visitarem esses locais onde há de certa forma

uma dramatização, podem se decepcionar, pois os turistas são atraídos para essas

regiões exatamente pelo que elas apresentam de autenticidade. Mas, para atender à

demanda produzem-se profundas alterações no modo de vida dessas populações.

Nesses exemplos há um desvirtuamento dos objetivos iniciais, da manutenção dos

costumes tradicionais (DIAS, 2003).

Além da mudança de forma nas relações de trabalho, vem ocorrendo no

Brasil a transformação da cultura em espetáculo, pela invenção de tradições e pela

transformação do folclore e festas populares em mercadorias turísticas.

Afora os exemplos de mudanças culturais, há também a inversão cultural. O

Brasil possui uma fama internacional relacionada ao samba, carnaval, futebol, dentre

outros símbolos. Mas o país possui dimensão continental, possui inúmeras

manifestações culturais por todo o seu território. Um exemplo de inversão cultural é

encontrado em Foz do Iguaçu, no estado do Paraná. O município recebe turistas de

todo o mundo, atraídos pelas Cataratas do Iguaçu. Porém é muito comum encontrar

em restaurantes e bares passistas de escolas de samba fazendo apresentações de

dança, o que foge completamente da cultura local, levando a ilusão ao turista

estrangeiro, processo constatado em viagem realizada pela autora.

Em alguns lugares o turismo apropria-se de manifestações populares e

realidades sociais que em outros momentos eram consideradas expressões da

pobreza, mas que passam a ser valorizadas e, em alguns casos, tornam-se

mercadorias turísticas.

Em outra viagem realizada pela autora, foi possível constatar que no

Nordeste brasileiro, grande pólo receptor de turistas, também se pode encontrar

alguns símbolos distorcidos, na tentativa de atrair e agradar aos visitantes. Na

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cidade de Maceió, em Alagoas, além das belas praias, são oferecidas aos turistas

apresentações de danças de “Xaxado”, uma dança típica criada no sertão

pernambucano, popular na época do cangaço e que hoje não faz parte da cultura

local, mas são apresentadas aos turistas como típicas da cultura.

Estes e muitos outros exemplos de transformações e inversões culturais são

encontrados nos pólos receptores do Brasil. Essas alterações não são nada

positivas. É imprescindível haver um planejamento para que o turismo ocorra de

maneira mais autentica. O que não é fácil, pois se são construídas estruturas e se as

pessoas se disponibilizam para receber os turistas já se dá uma modificação intensa

no cotidiano da localidade. No entanto, o que é discutido neste texto são as

dramatizações que modificam totalmente a realidade local. O ideal é que através do

planejamento, construções ou alterações sejam feitas procurando minimizar os

impactos negativos, possibilitando a autenticidade do local, permitindo que a vida

dos moradores continue na sua dinâmica, com seu ritmo natural, e com suas

manifestações culturais, pois muitas vezes justamente essa autenticidade é que atrai

os turistas.

A expansão da atividade nesses moldes transforma as paisagens em

mercadorias. Apropria-se dos aspectos da realidade social e do passado na tentativa

de resgatar tradições para fins turísticos. Através da publicidade o turismo tem sido

vendido como um espaço imaginário, em que estes espaços são reconstruídos

simbolicamente, ocultando os problemas socioeconômicos presentes na realidade e

gerando uma alienação do turista.

Toda essa criação pode decepcionar o turista, pois ele compra uma imagem

e, quando chega ao local, encontra uma realidade completamente diversa da que

lhe havia sido transmitida previamente, podendo não mais retornar ao local e ainda

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transmitir a sua experiência ruim a outras pessoas. Divulgando a experiência

negativa, acaba prejudicando o desenvolvimento da atividade turística no local.

Por conta da reconstrução simbólica das localidades, acontece a exclusão

da população local, que fica deslocada em sua própria cidade. Isso ocorre porque

ela não consegue entrar e participar deste espaço imaginário ou então porque não

se identifica com ele. Não apenas isto, como também se transforma num fator

incômodo a comunidade nativa, fazendo-a sentir-se invadida em seu cotidiano.

Perde a liberdade de movimento em seu próprio meio. Este desencontro agrava-se

nas altas temporadas e por ocasiões de eventos especiais que provocam grandes

concentrações humanas.

Impacto cultural e social são alterações drásticas nos modos de vida das

populações nativas e são muito preocupantes, verificando-se em alguns lugares

uma total descaracterização da área. A intensa massificação do turismo em algumas

localidades influencia na cultura. Um exemplo são os visitantes vindos de grandes

centros que se impõem sobre as comunidades menos desenvolvidas. A absorção

origina uma incorporação cultural que poderá deturpar a cultura local. Na maioria

das vezes é justamente este sabor local o elemento de maior poder atrativo

(CORIOLANO, 2001).

Nesses casos, resta à população receptora tentar sobreviver, após ter

vivenciado outras experiências sociais, econômicas e culturais. Porém, dificilmente

voltará às origens e resgatará a sua antiga forma de vida (FONTELES, 2004).

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Cabe às prefeituras desenvolverem políticas públicas, planejarem o turismo

e orientarem as comunidades locais. Estas precisam estar bem informadas para

adaptarem-se a esse processo de turistificação, buscando, por meio desse

planejamento, assegurar maneiras de obter benefícios econômicos com o turismo,

conservando a cultura local.

O turismo pode representar uma maneira de enriquecimento da sociedade,

mas também pode representar a decadência da mesma, isso depende da forma

como ele se constituiu enquanto fenômeno social. Por isso deve ser estudado e

planejado antes de ser aplicado em qualquer localidade. É evidente a lucratividade

do negócio turístico. Porém, para Dantas (2007), esta pode ser obtida sem que haja

exclusões sociais e devastações.

Sendo a paisagem um fenômeno extremamente dinâmico, ela deve ser

trabalhada cuidadosamente pelo turismo para não se tornar mais uma mercadoria

de consumo, tendo em conta que a paisagem é de extrema importância para as

comunidades locais, pois retrata a sua história e cultura, devendo ser priorizada

pelos promotores da atividade turística no caso de mudanças.

2.2 Impactos Econômicos

O crescimento econômico por si só não tem sido suficiente para resolver os

problemas sociais relativos à pobreza e às desigualdades, pois a distribuição da

riqueza produzida não é dividida de forma justa. É necessário buscar meios que

permitam aos menos favorecidos uma maior participação na economia e nas

decisões políticas (CORIOLANO, 2001).

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Para a mesma autora, o turismo é um fenômeno social, mas espera-se dele

uma força econômica que traga melhores condições de vida, através das muitas

atividades. Entretanto, sem uma postura ética perante a sociedade, a atividade

turística sofrerá sérios problemas de esgotamento.

O turismo introduz no espaço novos objetos que servirão de apoio ao

desenvolvimento da atividade, mas também se utiliza dos objetos preexistentes em

determinado espaço, ou seja, objetos que já faziam parte da localidade podem ser

absorvidos pelo e para o turismo, tendo seu significado alterado para atender a uma

nova demanda de uso, a demanda de uso turístico (CRUZ, 2001).

Isto é o que acontece com farmácias, supermercados, bancas de jornal,

igrejas, dentre outros equipamentos que já existiam atendendo a demanda apenas

da comunidade local antes do surgimento do turismo. A prática social do turismo

apropria-se desses objetos, dando-lhes novos significados.

Os componentes necessários a quase todas as localidades receptoras são:

infra-estruturas de saneamento básico, energia, telefonia e acesso. Esse conjunto

de equipamentos turísticos que dão suporte a prática turística, juntamente à

presença do turista, configura e materializa o lugar turístico.

O aparecimento de territórios turísticos depende especialmente de três

agentes de sua turistificação: os turistas, o mercado, e os planejadores e promotores

territoriais. São muitos os tipos de turistas, diferentes propósitos, diferentes sonhos,

diferentes expectativas, porém há um tipo de turista que descobre um local

interessante e por conta própria decide visitá-lo. Aos poucos o local ganha outros

admiradores e assim vai tendo seu cotidiano alterado com as constantes visitações.

Diversos lugares foram e ainda são inventados como lugares turísticos em função da prática espontânea de certos turistas, ou

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seja, sem a mediação direta do mercado. Nesses casos, são esses visitantes pioneiros que estão na base de transformações de determinado local em lugar turístico. (CRUZ, 2001, p.14)

O mercado representado pela iniciativa privada, empreendedores do setor

turístico, é hoje a principal fonte de turistificação. Hoje em dia estes empreendedores

são capazes de criar produtos turísticos que variam desde grandiosos resorts, como

complexos hoteleiros, ou um circuito gastronômico (CRUZ, 2001).

Os planejadores e promotores territoriais, por fim, são os agentes de

turistificação que têm ou não uma ligação mais próxima com o lugar. Eles podem

morar e trabalhar bem distante do lugar, e revelam-se a partir de iniciativas locais,

regionais, nacionais e internacionais que ao perceberem o potencial da região

passam a planejar o processo de turistificação

A título de exemplificação, os promotores imobiliários empreendem uma

verdadeira pressão para a compra dos terrenos dos pescadores residentes para

apropriação das praias, especialmente as áreas mais bonitas, acarretando assim

verdadeiras segregações territoriais. A praia de Jericoacoara localizada no Ceará

está hoje nas mãos de empresas imobiliárias, de empresários do turismo e de

turistas. Os nativos de Jericoacora passaram a residir em áreas mais distantes do

mar.

O turismo cria outra finalidade para o território. A praia deixa de ser lugar de trabalho, passando a ser lugar de lazer e de consumo. Por isso o turismo precisa ser repensado para desenvolver tecnologias alternativas de menor impacto ao ambiente, tais como incentivos a médios e pequenos empreendimentos em vez dos megaprojetos. (CORIOLANO, 2001, p. 100)

Durante a década de 1960, num primeiro instante a característica da

exploração realizada pelo turismo de massas não tornava tão evidente seus

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impactos negativos no ambiente natural e social, somente se considerava seus

aspectos positivos em termos de desenvolvimento econômico, e ele era visto como

uma verdadeira salvação.

O turista apresentava-se com uma característica consumista, individualista,

buscando consumir os melhores recursos naturais: a flora, a fauna, o clima, a

paisagem (turística), a cultura, o silêncio etc. Desenvolveu-se dessa forma, como

característica do turismo de massas, a concepção de consumo imediato dos bens e

recursos dos destinos turísticos, e no menor prazo possível. Os problemas

decorrentes da atividade não atingiam diretamente o turista que retornava a seu

local de origem, mas afetavam profundamente a população local (DIAS, 2003).

A produção do espaço ou da (re)criação deste é a atividade de produção de

“novas mercadorias”, mesmo que simbólicas. É dessa forma que as paisagens são

oferecidas ao turista. Essas mercadorias são, inclusive, passageiras, pois não

duram, para cada turista, mais do que alguns dias ou no máximo um mês. São

várias as formas pelas quais se produz rapidamente este território. Aquele que

deverá proporcionar o descanso ou o consumo da natureza.

Assim como a maior parte das atividades do modo de produção capitalista,

os empreendedores do turismo destroem as próprias condições de produção. Ao se

produzir um espaço para ser consumido como lugar turístico, destrói-se assim, as

próprias condições que deram origem a esta “mercadoria”. O processo de

turistificação realizado sem planejamento adequado age tratando as localidades

como mercadorias, consumindo e descartando as mesmas quando não há mais

interesse econômico.

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As áreas litorâneas são sempre muito visadas pelos turistas, pelo mercado e

pelos promotores imobiliários. Conseqüentemente são as áreas que mais sofrem

problemas econômicos relacionados à prática turística. Os espaços turísticos

evoluem através do processo de ocupação, que é ditado pela moda, levando à sua

degradação e, portanto, à destruição dos recursos que o engendram. Especialmente

no litoral existe o problema da segregação espacial da demanda. As camadas

sociais privilegiadas procedem a ocupação como verdadeiras frentes pioneiras. Os

núcleos produzidos baseados em certos parâmetros assentados sobre modismos e

veiculados pela mídia ao longo do tempo vão sendo abandonados e substituídos por

outros, à medida que oscilam os valores ou que os espaços tornam-se saturados

pela ocupação desenfreada, e assim estes vão deslocando-se em busca de novos

espaços. Os núcleos anteriores, considerados degradados, perdem o valor de

mercado e são ocupados por elementos das camadas sociais menos favorecidas ou

por população fixa. Para exemplificar com bastante nitidez, esse processo é

constatado no litoral do Estado de São Paulo (RODRIGUES, 2001).

A apropriação dos espaços pela prática do turismo comporta a incorporação

de novos espaços, mas comporta também o abandono parcial ou total dos espaços,

pois, entre os fatores que determinam sua valorização, destacam-se os modismos,

produzidos pela ação do marketing ou da mídia (CRUZ, 2001).

Um destino turístico pode ter um boom de procura de repente, mas também

pode entrar em decadência com a mesma velocidade com que cresceu. Nesse

aspecto, o turismo, mais que outra atividade, é bastante dependente do

planejamento e do monitoramento do espaço geográfico onde se desenvolve a

atividade (DIAS, 2003).

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É inegável que o turismo pode provocar efeitos negativos. Se for massificado

e desordenado, pode degradar o meio, trazer grandes mudanças culturais, além das

questões econômicas, como o aumento de preços, a redução da oferta de produtos

à demanda da população local e a instabilidade no mercado de trabalho. Por ser

uma atividade sazonal, durante a alta temporada de visitação a comunidade local

possui grandes chances de trabalhar, mas na época de baixa temporada as pessoas

têm uma baixa significativa nos rendimentos.

Em diversas localidades onde a prática turística se desenvolve, o setor

torna-se única fonte de renda, eliminando alternativas já existentes e

impossibilitando a busca de novas opções. Fonteles (2004) aponta o exemplo de

Jericoacoara no Ceará, com relação à pesca, onde a maioria dos pescadores

abandonou a profissão acreditando que o turismo traria melhores oportunidades de

sobrevivência, e para muitos desses pescadores os resultados não foram os

esperados.

Um aspecto a ser considerado é que o turismo apresenta-se como uma

atividade de crescimento muito rápido, e de modo geral as prefeituras não

conseguem dimensionar seus impactos em tempo suficiente. E não há duvida de

que a atividade turística apresenta importante capacidade de alterar a cultura local e

o ambiente em tempo bastante curto. Aumentam os investimentos na infra-estrutura,

alojamento e transportes que darão retorno em curto prazo, e adiam-se os que

poderiam manter ou até mesmo recuperar a paisagem natural, que originalmente

atraiu os visitantes, impedindo sua recuperação com o retorno do investimento.

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O desenvolvimento das instalações turísticas, como as acomodações, o suprimento de água, restaurantes e áreas de lazer, pode envolver a mineração de areia de praia ou de rios e a erosão de dunas de areia, a erosão do solo e a extração de rochas e pedras. Acrescente-se a isso a construção de rodovias e aeroportos, que podem levar à degradação da terra, à perda dos habitats da vida selvagem e a deterioração do cenário natural. (DIAS, 2003, p.91)

O autor afirma que o desenvolvimento das instalações turísticas pode

acarretar diversos problemas para o meio. É claro que pode haver grande

movimentação da economia local, mas pode trazer impactos sociais e ambientais

irreparáveis.

Um grande problema econômico ocorre quando o turismo gera emprego e

renda, mas parte desses benefícios acaba por se concentrar nas áreas que fazem

os agenciamentos da atividade, bem como estruturas relacionadas a acessibilidade

dos visitantes que viajam por meios de transporte comerciais, como aeroportos e

rodoviárias. A renda pode vir a concentrar-se também em hotéis, que fazem parte de

grandes redes que não têm familiaridade com a localidade em que se encontram

(CRUZ, 2001).

Como qualquer outra atividade econômica, o turismo apresenta aspectos

positivos e negativos, por ser uma atividade muito dinâmica possui a capacidade de

estar em constante mutação.

No que se refere à dimensão econômica, o turismo pode ser responsável

pelo desencadeamento de processos inflacionários localizados no tempo, sobretudo

nas altas temporadas. Mas pode também ser um agente importante da geração de

emprego e de renda nas cidades e localidades das quais ele se apropria.

O turismo pode contribuir diretamente para a conservação dos habitats. É

possível obter rendas com a cobrança de ingressos nos parques e nas áreas

protegidas, para pagar o gerenciamento e a proteção das áreas mais ameaçadas do

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ponto de vista ambiental. Outra forma específica de pagamento para determinadas

atividades nas áreas protegidas são as contribuições definidas diretamente pelos

operadores turísticos (DIAS, 2003).

Na Ilha de Fernando de Noronha, a cobrança de taxa tem uma dupla finalidade: contribuir para a manutenção da ilha e reduzir o número de visitantes e o tempo que permanecem. É cobrada uma taxa de R$ 21 por dia de permanência, e após o décimo dia o valor vai ficando mais alto, até ultrapassar R$ 1700, para quem quiser ficar um mês. A ilha tem uma população fixa de 3.000 moradores e, pelas normas, não pode ter mais de 460 turistas por vez. Um casal que fica uma semana na ilha paga quase R$ 300 só de taxas. Estas são importantes para ajudar a diminuir os problemas trazidos pelo turismo, entre os quais a destinação de lixo, que deve ser todo retirado de navio e levado ao continente. (DIAS, 2003, p.97)

O governo arrecada contribuições financeiras das mais variadas formas de

toda atividade turística. Existem impostos e taxas e licenças para o exercício de

diversas atividades. Essa renda possibilita que os governos atuem para gerir os

recursos que podem ser destinados a qualquer programa de conservação, servindo

tanto para o pagamento dos salários dos funcionários, como para a manutenção das

áreas naturais protegidas, ou seja, através de contribuições financeiras obtidas de

fontes governamentais é possível obter renda favorável à comunidade local e a

proteção ambiental.

Através do turismo é possível a geração de empregos alternativos. Pessoas

que se dedicavam a atividades predatórias tornam-se guias turísticos, contribuindo

para a conservação. O desenvolvimento de artesanato pode substituir outras

atividades econômicas não-lucrativas e desgastantes.

O turismo pode trazer muitos benefícios econômicos, porém fazer dessa

prática um possível veículo da melhoria da qualidade de vida das sociedades deve

ser um compromisso político. Tanto quanto outras atividades setoriais, o turismo

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está submetido às políticas públicas que organizam uma dada sociedade. Mas

enquanto este compromisso não existir verdadeiramente, não se poderá esperar do

turismo mais do que ele é capaz de oferecer (CRUZ, 2001).

A atividade turística provoca o deslocamento constante de pessoas,

aumenta o consumo, motiva a diversidade de produção de bens e serviços e

possibilita o lucro, a geração de emprego e renda, valorização do artesanato local,

estruturação e criação de associações e cooperativas. Mas como qualquer atividade

capitalista produz desigualdades na distribuição dos benefícios e dos custos. A

população residente é vítima dos efeitos do turismo e sofre com alguns impactos

negativos.

O turismo foi, por muito tempo, considerado uma atividade econômica limpa,

não-poluente, geradora de amplo leque de oportunidades. Embora esse cenário

tenha-se alterado nos anos recentes, com os diversos estudos do impacto

provocado pelo turismo nas comunidades e ecossistemas, há sim muita contribuição

potencial e efetiva do turismo para a sociedade (DIAS, 2003). Dentre as

contribuições do turismo para comunidades estão: a criação de reservas ambientais

e planejamento assegurando o desenvolvimento do turismo adequado à capacidade

de carga do local a ser visitado, dentre outros que serão destacados no próximo

sub-item.

2.3 Impactos ambientais

Nos últimos anos, surgiu uma forte tendência em transformar elementos

naturais em recursos disponíveis aos consumidores, que passaram a procurar

espaços propícios para o reencontro com a natureza, onde seja possível respirar

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melhor, ver o sol, a lua, as estrelas, as montanhas, as florestas, os animais, as

águas dos rios e cachoeiras, enfim, encontrar-se consigo mesmo e experimentar um

gostinho de liberdade, prazer e emoção (FONTELES, 2004).

Atentos a esse fato, empreendedores turísticos, o poder público e a iniciativa

privada, criaram territórios dirigidos a um novo tipo de consumidor, transformando

elementos da natureza em recursos, divulgando ambientes naturais veiculados por

um marketing específico.

2.3.1 Turismo em áreas naturais

As práticas do turismo mais diretamente relacionadas à ambientes naturais

têm a natureza como seu principal objeto de consumo, mas, requerem uma infra-

estrutura, ainda que seja mínima, sobre o espaço do qual se apropria. Devido ao

fato dessa prática requerer menos infra-estrutura que o turismo de massa, possui a

fama de ser menos impactante nos ambientes naturais do que o turismo de massa

(CRUZ, 2001).

Os impactos do turismo em ambientes naturais estão associados tanto a

implantação de infra-estruturas nos locais para que o turista tenha acesso, como o

fato das pessoas ficarem circulando pelo lugar. Há situações em que tais infra-

estruturas são implantadas de forma ambientalmente inadequada. Os locais de que

o turismo apropria-se podem ser qualquer ecossistema, tanto pode se tratar de

praias como de montanhas cobertas de neve, ecossistemas florestais ou áreas

dunares, recursos hídricos, manguezais, etc.

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Existem muitos lugares em que as margens de rios foram concretadas para

permitir que o turista chegue à beira de um rio. Há casos de instalação de holofotes,

com interruptor, em cavernas, para que os turistas possam ver melhor tais cavernas

e os animais que nelas residem.

A utilização de recursos naturais para a prática turística resulta, em muitos

casos, na deterioração da qualidade de vida humana e do ambiente natural, não

somente transformando o aspecto físico das zonas turísticas, mas também gerando

problemas ecológicos: destruição de ecossistemas, diminuição da quantidade e

qualidade da água, empobrecimento e contaminação dos solos, extinção de muitas

espécies da fauna e da flora, e a contaminação do mar.

É interessante ressaltar sobre a possibilidade de poluição das águas e do ar.

O turismo, comparativamente a outras atividades econômicas, foi enaltecido por ser

uma atividade limpa, pois diferentemente das indústrias não possuía poluentes. Na

prática, não é o que acontece. Serviços como o de hospedagem, transporte e

alimentação não estão evitando a poluição. Nas áreas de grande fluxo turístico, a

poluição das águas torna-se um grande problema, devido à falta de infra-estrutura

de esgoto para receber turistas em alta temporada (FONTELES, 2004). Há cidades

que vêem sua população multiplicar-se por três, quatro, dez vezes, nas altas

temporadas.

Os manguezais, as dunas, as restingas e falésias, os terraços, as lagoas, os canais de drenagem, as águas subterrâneas, a água oceânica, são elementos ambientais que passam a ser afetados por remoções de cobertura vegetal, por aterros, por retiradas massivas de material sólido e líquido, por entulhamentos de lixo e de descargas de esgoto, etc. A fauna aquática e terrestre é depredada. A atmosfera antes calma, clara e límpida, torna-se plena de partículas poluentes e ruídos e odores antes ausentes. (BARROS, 1998, p.35)

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Realmente o turismo tem uma enorme capacidade de mudar e transformar

os lugares para que ele possa acontecer. O turismo tem-se revelado um grande

consumidor de espaço, especialmente aqueles que apresentam elevado valor

ambiental.

As implantações de casas, hotéis, pousadas, vias de acesso,

estacionamentos para veículos, superfícies de água para abastecimento, áreas de

dejetos, etc, conduzem à substituição ou alteração dos componentes anteriores do

lugar, como por exemplo, a cobertura vegetal nativa (matas de restingas, florestas

atlânticas, caatingas, manguezais, dentre outros.) ou cultivada (coqueiros, cajueiros,

mangueiras) (BARROS, 1998).

O turismo depende da criação de alguns aspectos essenciais ao turista. O

transporte e a acomodação de pessoas em certos espaços físico, por exemplo,

exige o desenvolvimento de vias de acesso. São essas facilidade que permitem a

chegada e a permanência do visitante no lugar. A construção da infra-estrutura e

das facilidades para este fim transformam o aspecto físico do lugar escolhido para o

desenvolvimento do turismo, e, se essas facilidades não forem planejadas de modo

adequado, poderão afetar a qualidade do ambiente, tanto natural quanto cultural

(CRUZ, 2001).

As infra-estruturas mal planejadas podem comprometer a qualidade de

recursos naturais, promovendo desmatamentos, aterros inadequados e

desestabilização do solo. Tal comprometimento ocorre especialmente na qualidade

estética, tão importante para as práticas de turismo.

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2.3.2 Impactos ambientais do turismo em paisagens naturais brasileiras

“O potencial ecoturístico brasileiro está associado aos seus mais importantes

ecossistemas, como Mata Atlântica, Floresta Amazônica, Cerrado, Pantanal,

Caatinga, Floresta Araucária, Campos do sul e Ecossistemas costeiros e insulares”

(CRUZ, 2001, p. 63).

No Brasil as áreas costeiras nas proximidades de grandes aglomerações

urbanas atingiram elevados graus de degradação. São exemplos desse fenômeno

Salvador, Recife, Fortaleza, Santos e Rio de Janeiro. As áreas costeiras mais

afastadas permanecem mais conservadas porque ainda existem dificuldades de

acesso e de custo para serem alcançadas.

No caso da cidade de Santos, por ser muito próxima da capital São Paulo, e

possuir a facilidade de acesso, as praias santistas sempre foram muito freqüentadas

em determinados períodos do ano. Junto à turistificação do local vieram diversos

problemas, como muitas ligações clandestinas de esgotos que despejam os dejetos

nos canais de águas servidas. Por conta disso, as praias foram gradativamente

tornando-se contaminadas e em alguns períodos impróprias para banho de mar. Tal

situação afastou os turistas mais exigentes causando a migração de turistas para o

litoral norte (São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba) e para o litoral sul (Itanhaém,

Peruíbe), que até então permaneciam com a natureza relativamente conservada.

Mas essa migração trouxe para essas regiões os mesmos problemas que antes

ocorriam com Santos: praias lotadas, contaminadas às vezes, poluição sonora,

degradação do meio (DIAS, 2003).

Os impactos ambientais oriundos da ocupação desordenada do litoral são

expressivos, porque o litoral apresenta ecossistemas frágeis e de difícil recuperação.

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Afinal, muitas vezes, trata-se de ambiente envolto por uma serra e o mar,

constituindo-se de espaços menores e, como já foi dito: frágeis. Um exemplo desse

tipo de ecossistema são os mangues. O autor destaca três tipos de impactos que os

ecossistemas litorâneos sofrem:

Ocupação desordenada: o turismo se apropria do uso do solo e paralelamente ocorre intenso crescimento urbano;

Uso intenso dos recursos naturais: em muitas regiões litorâneas o uso intenso dos recursos naturais tem provocado profundas alterações ambientais.

Contaminação: ao introduzir-se no meio ambiente um número grande de resíduos não recicláveis, tanto devido à intensidade de seu lançamento (grande volume de esgoto, por exemplo), quanto às características do resíduo (plásticos e outros materiais, não recicláveis). (DIAS, 2003, p.20)

Esses tipos de impactos são bastante comuns pela faixa litorânea brasileira

e estão relacionados com o turismo de massas, que provoca contaminação da água

do mar pelo excesso de esgoto lançado sem tratamento; destruição de áreas de

grande valor ambiental, com a instalação da infra-estrutura exigida para a recepção

dos visitantes; eliminação de espécies animais e vegetais de grande valor ecológico,

em razão das atividades esportivas e de lazer; e o aumento do consumo de água

potável pelo aumento sazonal da pressão demográfica, dentre outros.

No Brasil, parte do território coberto por esses ecossistemas, como Mata

Atlântica, e ecossistemas costeiros e insulares, está protegida por lei, na forma de

unidades de conservação (como parques, reservas florestais, estações ecológicas,

áreas naturais tombadas). De acordo com Cruz (2001, p. 65), estes são alguns

benefícios considerados pelo poder público federal:

A diversificação da economia regional, por meio da indução do estabelecimento de micros e pequenos negócios;

A geração local de empregos;

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A fixação da população no interior;

O melhoramento das infra-estruturas de transporte de transporte, comunicação e saneamento;

A criação de alternativas de arrecadação para as unidades de conservação;

A diminuição do impacto sobre o patrimônio natural e cultural;

A diminuição do impacto no plano estético – paisagístico;

Melhoria nos equipamentos das áreas protegidas.

A atividade turística pode contribuir para a conservação por meio de

contribuições financeiras, melhorando o planejamento e o gerenciamento ambiental,

elevando a consciência ambiental, protegendo e conservando os ambientes

naturais, tornando-se uma alternativa de emprego e estabelecendo limites de

visitação em áreas em que o ecossistema seja frágil.

Nem todo impacto sobre os ambientes naturais é, a priori, negativo. Temos

um impacto positivo do turismo sobre o ambiente quando, por exemplo, ele apropria-

se de áreas naturais degradadas (por outras práticas humanas) e promove a sua

recuperação, assegurando sua proteção.

O turismo é também desenvolvido como medida compensatória, ou seja,

ambientes que sofreram grande degradação e não têm mais nenhuma

produtividade, como é o caso de áreas de mineração abandonadas, hoje em dia

sofrem intervenção de projetos turísticos que têm por finalidade revitalizar o local.

A ocorrência de impactos ambientais em cidades ou ambientes naturais é

conseqüência da inexistência ou até mesmo de erros de planejamento. O turismo

exerce tanto influencias benéficas quanto maléficas sobre os ambientes, afetando os

recursos de maneira contraditória (CRUZ, 2001).

Ele degrada irreversivelmente justo as atrações que atraem os turistas,

alterando a paisagem tradicional e suas construções típicas, deteriorando recursos

naturais, poluindo praias, destruindo florestas. Mas toda essa degradação poderia

ser evitada ou ao menos minimizada, mediante um planejamento correto, embora

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nem todos os efeitos negativos sobre o meio anterior possam ser evitados. Porém o

turismo protege estimulando o interesse da população e autoridades locais para a

valorização do ambiente e introduzindo medidas para sua proteção, e através de

rendimentos oriundos da prática turística, financiando o próprio turismo.

O turismo tem a capacidade avassaladora de transformar o espaço

geográfico, mas não é tão simples dizer se isso é bom ou ruim. É preciso fazer

análises de caso para poder constatar quando e onde o turismo impactou positiva ou

negativamente o espaço geográfico. Mas mesmo quando se tratar de impactos

socioeconômicos e culturais, aquilo que for considerado negativo por determinado

autor poderá ser visto como positivo por outro. Bem como o que pode ser bom para

um grupo social pode ser ruim para outro grupo.

Por força do capital ou do poder do Estado, pessoas são beneficiadas em detrimento de outras, como os habitantes locais, que são desapropriados/prejudicados, e que por uma política inconsistente do Estado podem ter descaracterizados sua cultura e seu modo de vida, sem mencionar o engrossar das fileiras da marginalidade social. Mas também se tem que atentar para as ocupações em áreas ilegais como de encostas, de fundos de vale e

de mata nativa, entre outras. (BRAZ e CALVENTE, 2003, p.172)

O impacto do turismo sobre o meio é inevitável. O essencial é manter o

turismo dentro de limites aceitáveis, para que não provoque modificações ambientais

irreversíveis. O turismo não é o único vilão, pois existem outros processos

econômicos que contribuem para as modificações ambientais nos locais turísticos

(DIAS, 2003). Todas as atividades humanas interferem nos ambientes de alguma

forma. É impossível o homem viver sobre este planeta sem transformá-lo.

É constatável que o turismo pode ter impactos negativos, bem como

positivos, mas sabe-se que os efeitos do turismo podem ser desastrosos caso não

sejam tomadas as devidas precauções. Os recursos naturais são limitados e os

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turistas procuram as áreas onde eles estão mais disponíveis. Caso esses recursos

estejam degradados, pode ocorrer o abandono da região quando esta não lhes

oferecer mais os cenários que motivaram a sua vinda. Portanto, recomenda-se que

o turismo seja praticado de forma a compatibilizar o uso do atrativo com a proteção

do ambiente, planejado de forma ecologicamente equilibrada (FONTELES, 2004).

De acordo com Barros (1998), nas últimas décadas disseminou-se a

preocupação de se avaliar os possíveis ou prováveis impactos que a implantação de

determinadas estruturas turísticas teriam sobe o ambiente. Cruz (2001) afirma que o

planejamento turístico é o único instrumento capaz de evitar ou de minimizar

possíveis impactos dessas estruturas sobre esses ambientes naturais.

O planejamento turístico deve ser realizado pautando-se nos bens

socioeconômicos voltados para as comunidades receptoras, de modo que haja

cuidado com o ambiente. Diversos profissionais trabalham neste segmento político e

econômico, mas cabe ao turismólogo participação efetiva neste processo, e espera-

se dele tal preocupação com os impactos negativos e positivos trazidos pelo

desenvolvimento da atividade.

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3 A Visão dos Futuros Turismólogos Diante da Apropriação do Espaço

Foram expostos no capítulo anterior os diversos impactos que o turismo traz

para as comunidades receptoras. É necessário que haja um planejamento turístico

por parte das prefeituras locais, realizado por profissionais competentes e

conhecedores da temática de turistificação, para que os impactos positivos sejam

superiores aos impactos negativos, e que haja uma grande preocupação para

reduzir os impactos negativos sociais, ambientais e econômicos.

O bacharel em turismo, ou turismólogo, carrega consigo a titulação

necessária para efetuar tais ações, mas este passa por um problema que se inicia

na formação acadêmica, pois o curso superior de Turismo enfrenta problemas

encontrados em geral pelo ensino superior. E o problema se agrava por conta da

falta de prestígio do mercado de trabalho, pois dificilmente encontra-se um

turismólogo trabalhando em secretarias de turismo. Os mesmo encontram-se em

geral trabalhando em agencias de viagens e hotéis.

Em relação ao ensino superior, este tem a finalidade de formar cidadãos

responsáveis pelo planejamento, organização e execução de algumas atividades

sociais. Para Nericí (2004), a finalidade do ensino superior é levar a refletir sobre o

mundo e seus fenômenos, sobre a vida social e sobre o homem. Mas infelizmente

não é isso que ocorre em diversos cursos universitários brasileiros.

A educação brasileira passa por vários outros problemas, tanto no ensino

básico como no ensino superior. Encontra-se a falta de incentivo para um ensino

crítico e reflexivo. No Brasil, estão bem difundidas escolas de ensino médio que

oferecem a educação regular e profissionalizante com a tendência de priorizar o

ensino profissionalizante.

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Parte da sociedade e um segmento da comunidade universitária se

preocupam com a forma como o mercado acaba por direcionar os cursos

universitários. Isso ocorre porque o mercado de trabalho está cada vez mais

exigente, o que leva os profissionais a buscarem um constante aperfeiçoamento e a

corrida atrás de mais conhecimento. E o conhecimento, torna-se uma ferramenta

competitiva das empresas e das pessoas. É necessário que os profissionais

possuam uma bagagem teórica estruturada e conhecimentos diversificados que vão

muito além da sua própria área de atuação.

Entende-se que os estudantes devam ser preparados para pensar com

autonomia. Sendo assim, cabe aos cursos universitários proporcionar um ensino de

caráter reflexivo, mas não é o que acontece em muitos cursos superiores,

especialmente os cursos superiores de Turismo. Nestes, prepara-se o bacharel em

turismo para que tenha apenas uma qualificação operacional.

O ideal para o bacharel em turismo é que este profissional tenha os

conhecimentos técnicos necessários ao exercício de suas funções e que esteja apto

para atuar em um mercado competitivo e em constante transformação.

São exigidas do bacharel em turismo muitas competências. Dentre elas:

Elaborar e operacionalizar Inventários Turísticos utilizando metodologia adequada para a confecção de diagnósticos turísticos;

Elaborar o planejamento do espaço turístico;

Elaborar planos municipais; estaduais e federais de turismo;

Identificar, analisar e avaliar os possíveis efeitos positivos e negativos provocados pelas atividades turísticas;

Interpretar, avaliar e selecionar informações geográficas, históricas, artísticas, esportivas, recreativas e de entretenimento, folclóricas, artesanais, gastronômicas, religiosas etc.; gerir empreendimentos turísticos. (SHIGUNOV NETO e MACIEL, 2002, p. 45).

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O bacharel em Turismo pode atuar em qualquer organização, com ou sem

fins lucrativos, tendo o objetivo de satisfazer as necessidades e desejos dos turistas,

de maneira ética e responsável, gerando resultados benéficos para o setor turístico

e para sociedade. Mas para que isso ocorra é importante que este profissional tenha

um reconhecimento por parte das prefeituras a fim de que ao tentarem desenvolver

o turismo em uma determinada cidade sejam contratados estes profissionais.

Especialmente os países menos industrializados e com atrativos turístico

necessitam de profissionais que possuam percepção ampliada da atividade turística,

capazes de compreender o turismo em sua totalidade, os seus impactos, para evitar

formas de desenvolvimento do turismo inadequadas ao país.

A formação destes profissionais precisa ser melhorada, especialmente no

que diz respeito à grade curricular oferecida nos cursos superiores de Turismo,

devendo desenvolver ensino reflexivo. Os estudantes dos cursos de Turismo devem

ter em suas grades curriculares disciplinas que os preparem para o trabalho, mas

devem ter também enfoques que os estimulem ao pensamento crítico. A reflexão

deve ser utilizada para uma intercessão prática e consciente dos profissionais

formados nos cursos de Turismo.

Foi aplicado um questionário para os alunos do curso superior de Turismo

com ênfase em hotelaria da universidade X desde o 2º semestre até o 8º semestre e

com os alunos do curso superior de Turismo com ênfase em eventos da

universidade Y apenas para a turma do último ano, para identificar se há uma

preocupação com os impactos negativos trazidos pela atividade turística. A escolha

das universidades se deu por estarem localizadas na cidade de Londrina. Os nomes

das universidades não serão citados por uma questão ética. Foram aplicados

questionários em todas as salas existentes dos cursos superiores de Turismo. Os

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questionários foram aplicados em quatro salas de aulas da Universidade X, sendo

22 alunos cursando o 2º semestre do curso, 20 alunos cursando o 4º semestre do

curso, 26 alunos cursando o 6º semestre do curso, e 12 alunos cursando o 8º

semestre do curso. Igualmente, foi aplicado a uma sala de aula da Universidade Y,

sendo 11 alunos cursando o 4º semestre do curso. A maior parte dos alunos

considera que o turismo traz impactos positivos e negativos a uma localidade.

O formulário se inicia questionando aos alunos se eles consideram que o

turismo pode traz impactos positivos a uma localidade. Cerca de 97 % dos alunos

afirmam que o turismo pode sim trazer impactos positivos para a comunidade local.

Isso demonstra o otimismo dos alunos frente à prática turística. Os dados podem ser

observados na tabela 01.

Pode-se observar na tabela 02, continente dos dados obtidos através do

segundo questionamento, que os alunos consideram que o principal benefício da

prática turística em determinada localidade está relacionado à economia. Mas os

alunos consideram que além dos impactos positivos para a economia, a atividade

traz também melhorias para a comunidade local.

Tabela 01 – Primeira questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008.

1 - Em sua opinião o turismo traz impactos positivos a uma localidade?

Sim 89 97,8%

Não 1 1,1%

Não respondeu 1 1,1 %

Total 91 100%

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Tabela 02- Segunda questão

2- Quais os principais impactos positivos trazidos pela atividade turística?

Impactos Econômicos 77 84,6%

Impactos Sociais 32 35,2%

Impactos Ambientais 11 12,1%

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008. RM.

Em seguida, foi questionado aos alunos se eles consideram que o turismo

traz impactos negativos. Mais de 82% dos alunos afirmaram que sim, o que

demonstra a consciência entre eles de que a atividade pode ser prejudicial. Para

compreender melhor o pensamento dos entrevistados, questionou-se quais tipos de

impactos negativos as localidades podem sofrer.

Tabela 03 – Terceira questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008.

Já na tabela 04 ficou constatado que cerca de 76% dos alunos consideram

que a parte ambiental é a que mais sofre com o desenvolvimento da atividade

turística em determinada localidade. O que é facilmente compreensível, pois hoje em

dia há uma enorme preocupação com o meio. Isso é perceptível em muitas

dimensões. Tanto na mídia, quanto nas medidas legislativas, demonstra-se um

grande discurso de motivação para a conservação da natureza. Neste caso isso

ocorre na universidade. Cruz (2001) afirma que existe uma preocupação muito maior

em resolver os problemas que agridem o meio do que os problemas sociais que

afligem as populações mais carentes.

3 - Em sua opinião o turismo traz impactos negativos a uma localidade?

Sim 75 82,4%

Não 16 17,6%

Total 91 100%

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Tabela 04 - Quarta questão

4- Quais os principais impactos negativos trazidos pela atividade turística?

Impactos Ambientais 83 91,2%

Impactos Sociais 16 17,6%

Impactos Econômicos 3 3,3%

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008. RM.

Mas quando é questionado diretamente se a prática turística pode

prejudicar a população mais carente, aproximadamente 84% dos alunos afirmam

que sim, conforme tabela 05.

Tabela 05 – Quinta questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008.

Ainda que os alunos afirmem que a atividade em questão pode prejudicar a

população mais carente, 90,1% dos alunos consideram que também é possível

trazer benefícios socioeconômicos às comunidades mais pobres, como pode ser

visto na tabela 06.

Tabela 06 – Sexta questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008.

5 - A forma com que a atividade turística se desenvolve em determinados locais pode prejudicar a população mais carente?

Sim 77 84,6%

Não 14 15,4%

Total 91 100%

6 – Você considera a atividade turística uma forma de trazer benefícios socioeconômicos às comunidades mais pobres?

Sim 82 90,1%

Não 9 9,9%

Total 91 100%

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Para identificar se os alunos têm conhecimento do processo de apropriação

do espaço geográfico e da dimensão deste fenômeno, foi questionado aos alunos se

eles tinham conhecimento do termo turistificação. Através das aulas relacionadas às

ciências geográficas, grande parte dos alunos tem conhecimento do termo

turistificação. Como expõe a tabela 07, aproximadamente 91% disseram conhecer o

termo.

Tabela 07 – Sétima questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008.

Quanto a apropriação do espaço físico e dos serviços disponibilizados pelo

poder público, dentre os 91 entrevistados, 71 alunos consideraram que isso ocorre.

Mas o que se destaca é que ainda assim 19 alunos afirmaram que isso não ocorre, o

que é um grande engano, pois essa é uma das principais características da

turistificação. A turistificação pode ser entendida como o processo de implantação

e/ou suplementação da atividade turística em espaço já turístico ou com

potencialidade para o turismo. A seguir na tabela 08:

7 – Você conhece o termo turistificação?

Sim 83 91,2%

Não 7 7,7%

Não respondeu 1 1,1%

Total 91 100%

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Tabela 08 – Oitava questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de Novembro de 2008.

As respostas apresentadas na tabela 09 demonstram novamente o otimismo

desses estudantes com relação a atividade turística, pois 88 alunos dos 91

entrevistados concordam que é possível turistas e moradores locais conviverem de

maneira vantajosa para ambas as partes.

Tabela 09 – Nona questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de Novembro de 2008.

Já na décima questão foram disponibilizadas algumas características da

apropriação do espaço geográfico feita pela prática da atividade turística, solicitando

aos alunos a identificação de benefícios e malefícios. Os resultados podem ser

observados nas tabelas 10 a 17.

Quanto à presença de hotéis à beira-mar, apesar de a maioria reconhecer

que isso é um impacto notadamente negativo, 16 alunos consideram ser um impacto

positivo, analisando como uma vantagem a mais para oferecer ao turista, visando

apenas aspectos econômicos. Está claro na tabela 10.

8 - Você considera que o turismo se apropria do espaço físico e dos serviços disponibilizados pelo poder público?

Sim 71 78%

Não 19 20,9%

Não respondeu 1 1,1%

Total 91 100%

9 - De acordo com seu conhecimento e leitura, há maneiras dos turistas e dos moradores locais conviverem de maneira vantajosa para ambas as partes?

Sim 88 96,7%

Não 2 2,2%

Não respondeu 1 1,1%

Total 91 100%

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Tabela 10 - Décima questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008.

Quanto à possibilidade de utilização de praças para feiras de souvenir, pode-

se observar na tabela 11 que os alunos consideram-na um benefício para a cidade,

levando em conta mais uma vez o fator econômico, pois através de feiras de

souvenir a comunidade pode ter uma renda extra. Desconsideraram, no entanto, o

fato de a comunidade local perder a praça ao cedê-la apenas para uso comercial, ao

invés de desfrutarem dela para encontros de amigos, brincadeiras de crianças e

muitas outras ações tradicionais.

Tabela 11 - Décima questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008

Quando há o desenvolvimento turístico em uma localidade, pode ocorrer de

serem inseridas placas de indicações por toda a cidade, facilitando os acessos para

os turistas. Para 86 dos 91 alunos entrevistados este fato é beneficente a

comunidade local. A seguir na tabela 12.

Consideram hotéis à beira-mar, na areia das praias, um exemplo de apropriação do espaço geográfico:

Negativo 74 81,3%

Positivo 16 17,6%

Não respondeu 01 1,1%

Total 91 100%

Consideram utilização de praças para feiras de souvenires exemplo de apropriação do espaço geográfico:

Positivo 69 75,8%

Negativo 21 23,1%

Não respondeu 01 1,1%

Total 91 100%

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Tabela 12 - Décima questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008

Na tabela 13 faz-se evidente que entre os 91 alunos 87 responderam que o

aumento do policiamento nas localidades receptoras é um impacto positivo.

Considerando que com o aumento do policiamento a população local pode ter mais

acesso à segurança.

Tabela 13 - Décima questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008

Foi inserido no questionário um caso específico que apresenta uma

mudança drástica na vida e na cultura de pessoas que fazem parte das

comunidades receptoras. O fato de um antigo pescador transformar-se em um

fornecedor de peixes para um restaurante foi considerado um impacto positivo por

grande parte dos alunos, ou seja, 75 dos 91 alunos. Porém, o pescador abandona a

forma tradicional de pesca, e o retorno financeiro em geral não é compensador para

os pescadores. Dessa forma, o turismo age desestruturando, modificando os modos

de viver anteriores e subordinando-os aos ditames turísticos. A seguir na tabela 14.

Consideram inserção de placas de indicações por toda cidade exemplo de apropriação do espaço geográfico:

Positivo 86 94,5

Negativo 04 4,4%

Não respondeu 01 1,1%

Total 91 100%

Consideram o aumento do policiamento exemplo de apropriação do espaço geográfico:

Positivo 87 95,6%

Negativo 03 3,3%

Não respondeu 01 1,1

Total 91 100%

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Tabela 14 - Décima questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008

No questionamento referente ao fato de que em algumas comunidades

receptoras quando há turistificação de um lugar, há aumento dos preços dos

alimentos em mercados, padarias e demais serviços, para a maior parte dos alunos

trata-se de um impacto negativo, como está claro na tabela 15.

Tabela 15 - Décima questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008

Para 64 dos 91 alunos que responderam o questionário, a implantação de

hotéis nos arredores das cidades é um impacto positivo, enquanto 26 alunos

consideraram como impacto negativo. Para alguns alunos a implantação de hotéis

nos arredores da cidade é um impacto positivo, pois traz condições para que os

visitantes tenham opções e conforto nas acomodações. Mas alguns alunos

consideram um impacto negativo, pois estes grandes empreendimentos em geral

trazem graves conseqüências para o ambiente. A seguir na tabela 16.

Consideram o fato de um antigo pescador se transformar em um fornecedor de peixes para um restaurante exemplo de apropriação do espaço geográfico:

Positivo 75 82,4%

Negativo 15 16,5%

Não respondeu 01 1,1%

Total 91 100%

Consideram aumento dos preços dos alimentos em mercados, padarias e demais serviços exemplo de apropriação do espaço geográfico:

Negativo 84 92,3

Positivo 06 6,6%

Não respondeu 01 1,1

Total 91 100%

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Tabela 16 - Décima questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008

Já na tabela 17 diz respeito ao aumento dos preços dos aluguéis de casas e

apartamentos na localidade. 57 alunos responderam ser um impacto negativo para o

local receptor, pois isso prejudica os moradores da cidade que ao procurarem alugar

casas para moradia efetiva, encontram dificuldades, pois o preço é alto e os

proprietários estão à espera, na verdade, dos turistas. Enquanto 33 alunos

afirmaram ser um impacto positivo, considerando a lucratividade recebida pelos

donos de imóveis.

Tabela 17 - Décima questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008

Abandonando a temática originada da questão da tabela 10, é possível

observar que no questionamento relativo à tabela 18, pouco mais da metade dos

alunos pretendem trabalhar com planejamento turístico. O curso superior de Turismo

Consideram a implantação de vários hotéis na cidade e ao seu redor exemplo de apropriação do espaço geográfico:

Positivo 64 70,3%

Negativo 26 28,6%

Não respondeu 01 1,1

Total 91 100%

Consideram o aumento dos alugueis de casas e apartamentos na localidade exemplo de apropriação do espaço geográfico:

Negativo 57 62,6%

Positivo 33 36,3%

Não respondeu 01 1,1

Total 91 100%

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não tem um foco, ou uma atividade definida, porém há um grande interesse em

trabalhar com planejamento. Como já foi dito, entretanto, o agenciamento de viagens

e a hotelaria absorvem grande parte desses profissionais.

Tabela 18 – Décima primeira questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008.

Na questão 19 foi perguntado aos alunos dos cursos de Turismo se os

mesmos já desenvolveram algum trabalho na universidade abordando temas

relacionados aos impactos turísticos na sociedade, e 68 alunos responderam que

sim, enquanto 22 responderam que não. Observou-se que desses 22 alunos, 19

estavam freqüentando o 2º semestre e o 4º semestre do curso de Turismo, que são

as séries iniciais dos cursos, podendo-se prever que possivelmente nos próximos

semestres terão a oportunidade de desenvolver tal tema em seus trabalhos

acadêmicos.

Tabela 19 – Décima segunda questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de novembro de 2008.

11 - Você pretende trabalhar com planejamento turístico no futuro?

Sim 48 52,7%

Não 42 46,2%

Não respondeu 1 1,1%

Total 91 100%

12 - Você já desenvolveu algum trabalho na universidade abordando temas relacionados

aos impactos turísticos na sociedade?

Sim 68 74,7%

Não 22 24,2%

Não Respondeu 01 1,1%

Total 91 100%

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Na ultima pergunta do questionário, a intenção era saber quão importante os

alunos consideram estudar o espaço geográfico no curso de turismo. 76 alunos

afirmaram ser muito importante, enquanto 13 alunos consideraram apenas

importante o estudo do espaço geográfico. Através de entrevistas não estruturadas,

pois foram entrevistas informais com o coordenador do curso e com professores do

curso, pode-se perceber que há a preocupação por parte dos discentes em

apresentar aos alunos a importância do estudo do espaço geográfico, e a maior

parte dos alunos concordam ser muito importante esse estudo.

Tabela 20 - Décima terceira questão

Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os dias 03 e 21 de Novembro de 2008.

Através deste questionário, pode-se observar que os impactos provocados

pela atividade turística são reconhecidos e estudados pelos alunos dos cursos

superiores de Turismo. Apesar de as universidades possuírem grades curriculares

voltadas ao atendimento do mercado, os professores passam aos alunos as

conseqüências econômicas, sociais e ambientais trazidas pelo fenômeno turístico.

O ideal é que as grades curriculares das disciplinas preparem-nos para o

trabalho, mas devem ter também enfoques que os estimulem ao pensamento crítico.

13 - Quão importante você considera estudar o espaço geográfico no curso superior de Turismo?

Muito importante 76 83,5%

Importante 13 14,3%

Um pouco importante 0 0%

Sem importância 1 1,1%

Não respondeu 1 1,1%

Total 91 100%

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A reflexão deve ser utilizada para uma intercessão prática e consciente dos

profissionais formados nos cursos de Turismo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi somente no século XIX que a Geografia começou a usufruir do status de

conhecimento organizado, adentrando nas universidades. Debateu-se a construção

do seu objeto de estudo que se definiu epistemologicamente no decorrer do tempo

através das principais correntes de pensamento geográfico foram: Determinismo

Ambiental, Possibilismo, que são englobados pela Geografia Tradicional e tiveram

grandes destaques até meados da década de 1950. A Nova Geografia que se utiliza

de empirismo lógico e fez uso da linguagem matemática por meio da estatística,

Geografia Crítica com a proposta de engajamento junto a toda a conjuntura social,

econômica e política do mundo. Este ramo estabelece uma leitura crítica frente aos

problemas e interesses que envolvem as relações de poder, e a preocupação com

as disparidades sócio-econômicas. E Geografia Humanística e Cultural. Os

humanísticos e culturais buscaram imediatamente analisar a relação homem-

natureza através da valorização do lugar enquanto conceito-chave. A geografia

humanística e cultural prioriza a subjetividade ao invés da objetividade, propondo

entender os motivos de cada pessoa e dos grupos aos quais pertencem sobre a

relação com o lugar. A partir do final do século XIX constituiu-se uma seqüência de

práticas teóricas

O estudo do espaço é tarefa maior da Geografia, ou seja, entende-se que o

campo de atuação da Geografia está balizado pelo conceito de espaço geográfico.

Tratou-se do conceito de espaço, conceito este que precisa ser compreendido por

estudantes da atividade turística.

O turismo é uma atividade econômica desenvolvida a fim de garantir lazer

aos visitantes, é um grande consumidor do espaço e de tempo livre, sendo também

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considerado produtor e transformador. O turismo de massas surge em decorrência

do desenvolvimento após a Revolução Industrial, que teve seu início na Inglaterra.

A revolução introduziu na sociedade moderna um modelo econômico que

tem como seu objetivo principal a geração de renda, por meio da expropriação e

exploração dos recursos naturais. De fato, o capitalismo industrial promoveu o

desenvolvimento das sociedades baseadas na intensa apropriação dos recursos

naturais e exploração humana.

Em meio ao sistema capitalista com horas exaustivas de trabalho foi

observado que os trabalhadores precisavam de tempo livre para descanso e assim

estariam em equilíbrio para produzirem cada vez mais. O lazer surge como

necessidade e o turismo é uma das formas de lazer, procurando organizar e planejar

o tempo livre da sociedade atual.

O desenvolvimento e a massificação do turismo contribuem decisivamente

para a expansão dos problemas ambientais, econômicos e sociais nos destinos

turísticos tradicionais, pois o crescimento do turismo exige a construção de toda uma

infra-estrutura e equipamentos, tanto para acomodação, como para o deslocamento

dos viajantes. São as principais obras a serem efetuadas facilitando a viagem do

visitante: construção e melhoramento das vias de acesso, aeroportos, rodoviárias,

redes de esgoto e de água potável, energia elétrica, hotéis, pousadas, restaurantes,

centros. Os lugares preferidos são os atrativos naturais, exóticos e os histórico-

culturais intermediados por agentes da produção do espaço turístico tais como: os

planejadores e promotores territoriais, o mercado, o Estado e os próprios turistas.

O turismo pode trazer muitos benefícios econômicos, pois traz

oportunidades de empregos para famílias que viviam de atividades predatórias ou de

atividades econômicas não rentáveis e desgastantes. Motiva a diversidade de

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produção de bens e serviços e possibilita a renda, valorização do artesanato local,

estruturação e criação de associações e cooperativas.

O turismo também traz impactos negativos. Dentre os problemas trazidos

para a comunidade receptora estão a desintegração das atividades econômicas

tradicionais, aculturação, migração, crescimento populacional sazonal e urbano

desordenado, e falta de serviços públicos.

São grandes os impactos econômicos sofridos pelas comunidades

receptoras, como o aumento de preços, a redução da oferta de produtos à demanda

da população local e a instabilidade no mercado de trabalho. Por ser uma atividade

sazonal, durante a alta temporada de visitação a comunidade local possui grandes

chances de trabalhar, mas na época de baixa temporada as pessoas têm uma baixa

significativa nos rendimentos. Além de ocorrerem pressões por parte dos promotores

imobiliários no caso de áreas litorâneas para a compra dos terrenos dos pescadores

residentes nas áreas mais próximas das praias, estes pescadores e suas famílias

são obrigados a se estabelecerem em áreas distantes, provocando segregações

territoriais.

Surgiu uma forte tendência em transformar elementos naturais em recursos

disponíveis aos turistas que passaram a procurar espaços propícios ao reencontro

com o ambiente natural. A utilização de recursos naturais para a prática turística em

muitos casos resulta em deterioração da qualidade de vida humana e da natureza,

muitas vezes gerando problemas ecológicos: destruição de ecossistemas,

diminuição da quantidade e qualidade da água, empobrecimento e contaminação

dos solos, extinção de muitas espécies da fauna e da flora, e a contaminação do

mar.

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Porém, se a renda for distribuída justamente para a comunidade receptora,

os benefícios econômicos podem vir a ajudar socialmente as comunidades mais

carentes. O turismo pode trazer muitos benefícios econômicos. Entretanto, fazer

dessa prática um possível veículo da melhoria da qualidade de vida das sociedades

deve ser um compromisso político.

Quanto ao ambiente, o ideal é que o turismo seja praticado de forma a

combinar o uso do atrativo com a proteção do meio, planejado de forma equilibrada,

pois apenas através do planejamento turístico será possível evitar ou minimizar

impactos sobre esses ambientes naturais.

Para realizar um bom planejamento é preciso ter um profissional com

capacidade de elaborar e operacionalizar inventários turísticos utilizando

metodologia adequada para a confecção de diagnósticos turísticos e elaborar o

planejamento do espaço turístico. O bacharel em turismo tem a titulação necessária

para efetuar tais ações, mas este passa por um problema que se inicia na formação

acadêmica e continua por conta da falta de prestígio do mercado de trabalho.

Para identificar se os alunos dos cursos superiores de Turismo possuem

conhecimento sobre os impactos trazidos pelo turismo, foram aplicados

questionários em diversas classes desde o 2º semestre até o 8 º semestre e foi

possível constatar que os alunos possuem conhecimento das conseqüências

trazidas pela prática turística e como já era de se esperar uma visão bem positiva do

desenvolvimento turístico.

Com o desenvolvimento deste trabalho é possível perceber que muitos são

os impactos turísticos, tanto positivos, quanto negativos, mas apenas através de

planejamento turístico e políticas públicas adequadas o turismo pode tornar-se uma

atividade benéfica para a população local e para o ambiente. Os alunos dos cursos

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superiores de Turismo possuem conhecimento sobre esta necessidade, porém ainda

há nestes cursos uma preocupação maior voltada para aspectos econômicos e

ambientais do que sociais.

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