Fernando Pessoa e Heterônimos: Uma proposta intertextual para o Ensino Médio

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1 UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES FELIPE DE SOUZA COSTA MARIA CLAUDIA SANTANA DE AZEVEDO FERNANDO PESSOA E HETERÔNIMOS: UMA PROPOSTA INTERTEXTUAL PARA O ENSINO MÉDIO. Mogi das Cruzes, SP 2008

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  • 1. UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES FELIPE DE SOUZA COSTA MARIA CLAUDIA SANTANA DE AZEVEDOFERNANDO PESSOA E HETERNIMOS: UMA PROPOSTAINTERTEXTUAL PARA O ENSINO MDIO.Mogi das Cruzes, SP 20081

2. UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZESFELIPE DE SOUZA COSTA MARIA CLAUDIA SANTANA DE AZEVEDOFERNANDO PESSOA E HETERNIMOS: UMA PROPOSTAINTERTEXTUAL PARA O ENSINO MDIO.Trabalho de Concluso de Cursoapresentadoao curso deLicenciatura emLetras-Portugus/Ingls e respectivasliteraturas da Universidade de Mogidas Cruzes como parte dosrequisitos para a concluso docurso.Prof Orientador: Anderson da Cruz Zaneti Mogi das Cruzes, SP20082 3. RESUMOEste trabalho apresenta uma proposta intertextual para o ensino de literatura,utilizando como ferramentas dilogos travados entre textos contemporneos e ospoemas de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro e lvaro de Campos. Tem comoobjetivo propiciar condies para que os alunos do Ensino Mdio adquiram o hbitoprazeroso da leitura, atravs de uma anlise crtica e reflexiva dos contedospropostos e, conseqentemente, a sua conscientizao como agente participativo nasociedade. Assume a relevncia o fato de que a leitura de poemas tem sidosecundarizada no ensino da referida disciplina, o que no assegura ao aluno umdireito que lhe garantido: apropriar-se totalmente do bem simblico que aliteratura. Foi desenvolvido por alunos do curso de Letras Licenciatura Plena emPortugus/Ingls e respectivas Literaturas, da Universidade de Mogi das Cruzes.Espera-se que os educandos, ao final desta Seqncia, consigam perceber asdiversas leituras que podem ser feitas de poesia e outros gneros, bem comorelacion-los de forma reflexiva.Palavras-chave: Ensino de literatura; Ensino dialgico de literatura; Literaturano Ensino Mdio.3 4. ABSTRACT This work presents an intertextual proposal to teach literature, using sometools like dialogs establishing relations with contemporary texts and poems ofFernando Pessoa, Alberto Caeiro and lvaro de Campos. The aim is to createconditions to high school students acquire the pleasant habit of reading, through acritical and reflexive analysis of the proposed content and, consequently, theirawareness like a historical and participant agent in the society. It takes over therelevance because the reading of poems has been seen from many years assecondary importance, which doesnt guarantee a students right: to appropriate of asymbolic right that is the literature. It has been developed by the students ofLanguage and Literature, tracks Portuguese and English and its literatures, from theUniversity of Mogi das Cruzes. We wish the students, in the end of this Sequence,can perceive the differents ways of reading that can be did with others genres, aswell as relate them reflexively. Key words: Literature teaching; Dialogic Literature Teaching ; Literature in thehigh school. 4 5. AGRADECIMENTOSAgradecemos, primeiramente, a Deus por nos sustentar e permitir que chegssemosat aqui.Ao Programa Universidade para Todos (PROUNI) e seus idealizadores, j queambos somos bolsistas e foi por meio dele que alcanamos mais um degrau emnossa caminhada acadmica. Universidade de Mogi das Cruzes, por abraar o referido programa com afinco eresponsabilidade.Ao nosso professor Orientador Anderson da Cruz Zaneti, pela compreenso e apoio.Aos nossos familiares, motivadores constantes e responsveis pela formao. 5 6. Ao ler este texto, muitos educadores podero perguntaronde est a literatura, a gramtica, a produo do textoescrito, as normas. Os contedos tradicionais foramincorporados por uma perspectiva maior, que alinguagem, entendida como espao dialgico, em que oslocutores se comunicam. (PCN, 2002, p. 144). 6 7. SUMRIOINTRODUO .......................................................................................................... 1Apresentao ......................................................................................................... 1Justificativa ......................................................................................................... 2Pblico-Alvo ...................................................................................................... 3Objetivo Geral ................................................................................................... 3FUNDAMENTAO TERICA ............................................................................... 4DISCUSSO........................................................................................................... 10CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 18REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................... 20ANEXOS ................................................................................................................ 22 7 8. INTRODUOApresentaoO ensino de literatura tem passado por verdadeiras mudanas, metodologiasdiversas aplicadas em instituies de ensino tm buscado suprir uma necessidadehistrica do povo brasileiro: o hbito da leitura. bem verdade que pensar emliteratura muito mais do que tentar incutir nos educandos um hbito, ler o pontode partida para a fruio de um prazer, que quando aproveitado de forma adequadae bem trabalhada reflete diretamente em mudanas de atitudes, quebra deparadigmas e rompimento do senso comum.Todas essas transformaes contribuem para a formao de um cidadoconsciente de seus direitos e deveres, tarefa difcil nos dias atuais. Haja vista que ascondies impostas educao formal, verdadeiramente, dificultam esse processo.Pensando em poesia, a situao recebe um maior agravo. Por ser um gneroaparentemente complexo, muitas pessoas desistem aps a primeira leitura. Falta ainterpretao, o entendimento se torna esparso, dificultoso, nebuloso... Transportaressa competncia para uma comunidade de poucos leitores um desafio.Embora a obra de Fernando Pessoa propicie espao suficiente para aintroduo dessa prtica, requer daqueles que aceitam o desafio um trabalho rduo,de modo que se possa, ao mesmo tempo, sistematiz-lo e aproxim-lo de umarealidade muito distante.O universo musical e os diversos gneros que circulam na sociedade sero aponte que ligar o processo potico realidade dos alunos, auxiliar singularmente,para que eles possam se sentirem identificados e, a partir dela, chegar ao objetivoproposto nesta seqncia de aulas.Esta Seqncia tem por finalidade a prtica e instrumentalizao deferramentas que possibilitem aos professores em formao a aquisio deconhecimentos prticos aliados aos tericos abordados nas aulas de LiteraturaPortuguesa do curso de Licenciatura Plena em Letras da Universidade de Mogi dasCruzes, objetivando a reflexo da prtica da leitura de poemas no Ensino Mdio.Tem como uma das principais fundamentaes tericas as OrientaesCurriculares Nacionais para o Ensino Mdio, fazendo especial referncia aodesenvolvimento da intertextualidade entre os poemas de Fernando Pessoa e, 8 9. principalmente, a msica. Sero considerados aqui seus trabalhos produzidos nombito hortonmico e heteronmico. A presente Seqncia, por sua vez, tambmser utilizada pelos seus autores como entrega parcial do Trabalho de Concluso deCurso.Justificativa A presente Seqncia Didtica justifica-se pela relevncia temtica queassume ao colocar em voga a situao da leitura de poemas nos dias atuais, emespecial no mbito escolar, pois objetiva solucionar essa problemtica nas aulas deliteratura do ensino mdio. Partindo do pressuposto de que a aplicao destas se dar numa instituiode ensino pblico, podemos refletir acerca da importncia social que ela abarca, poissabemos que a leitura deste gnero em locais menos favorecidos quase nula,dada a sua necessidade de maior ateno e por que no dizer de conhecimentocultural erudito, com o qual muitas vezes est associado a leitura de poesia. Ainda meditando sobre essa questo podemos nos alicerar no que asOrientaes Curriculares Nacionais afirmam em torno desse mote:Cabe aqui um parntese relativamente leitura da poesia. Sabe-se que elatem sido sistematicamente relegada a um plano secundrio. Muito j sefalou sobre a dificuldade de lidar com o abstrato, com o inacabado, com aambigidade, caractersticas intrnsecas do discurso potico, que temtornado a leitura de poemas rarefeita nas mediaes escolares com suatradicional perspectiva centrada na resposta unvoca exemplar e nainequvoca inteno autoral. (MEC, 2006, p. 74) A justificativa poder-se-ia resumir no seguinte trecho: Sabe-se que ela [apoesia] tem sido sistematicamente relegada a um plano secundrio, pois por ser umgnero mais complexo no podemos excluir do aluno o direito que lhe garantido.Talvez, a secundarizao ocorra pela precria formao dos profissionais daeducao, visto que por demandar maior critrio, a poesia precisa ser maisanalisada, do que qualquer outro texto pronto dos livros didticos. conhecido de todos, tambm, que uma das principais preocupaes dasinstituies educacionais criar condies para que os educandos se tornem 9 10. cidados crticos, conscientes e sujeitos de sua prpria histria. Pode-se dizer que otrabalho com a poesia auxilia na reflexo, humanizao e, conseqentemente, aalcanar esse objetivo, pois Por extenso, podemos pensar em letramento literriocomo estado ou condio de quem no apenas capaz de ler poesia ou drama,mas dele se apropria efetivamente por meio da experincia esttica, fruindo-o.(MEC, 2006, p.55) Percebemos que o pblico-alvo, a quem se destinam essas dez aulas, passapor uma carncia na prtica de leitura de poesia dentro e fora do mbito escolar,reforando dessa forma a responsabilidade da escola e daqueles que dela fazemparte. A literatura um bem simblico do qual o aluno deve se apropriar e, paratanto, faz-se necessrio a adequao na escolha dos textos ao nvel de escolaridadedos leitores em formao, e justamente o que se prope nesta Seqncia, pois aaproximao entre textos remotos com os atuais visa a uma leitura proficiente eprazerosa:Configurada como bem simblico de que se deve apropriar, a Literaturacomo contedo curricular ganha contornos distintos conforme o nvel deescolaridade dos leitores em formao. As diferenas decorrem de vriosfatores ligados no somente produo literria e circulao de livros queorientam os modos de apropriao dos leitores, mas tambm identidadedo segmento da escolaridade construda historicamente e seus objetivos deformao. (MEC, 2006, p. 61) Retomando as afirmaes expostas nesta justificativa, podemos concluir quea Seqncia de Aulas em questo est em consonncia com as OrientaesNacionais e com importantes tericos que propem um ensino dialgico e scio-interacionista de Linguagem e Literatura, pois proporciona possibilidades para que oaluno construa o conhecimento de modo social e assimilando cannicos comgneros que circulam em seu contexto atual.Pblico-Alvo: 3 Srie do Ensino Mdio.Objetivo Geral Criar condies para que os alunos do Ensino Mdio adquiram o hbitoprazeroso, crtico, analtico e intertextual da leitura de poemas, visando sempre 10 11. formao do leitor competente, para que atravs desta prtica possa desenvolver,almdos conhecimentosacadmico-cientficosemLiteratura, chegar,conseqentemente, a um senso crtico, reflexivo e conscientizao de suaimportncia como agente histrico na sociedade. preciso, contudo, conduzi-los de forma eloqente, buscando sempre situ-los numa posio em que sejam capazes de compreender o real sentido do prazerliterrio: A poesia indispensvel. Se ao menos soubesse para qu... (MEC, 2006,p. 52 apud FISCHER, 1966). Faz-se necessrio mostrar aos educandos o por quese deve ler poesia. No basta dar explicaes inmeras oriundas de um status quo,as quais eles esto cansados de ouvir. Deve-se agir, e as Orientaes Curriculares,inclusive, apontam meios para isso: A escola no precisa cobrir todos os estilosliterrios. O professor pode, por exemplo, recortar na histria autores e obras que oucorresponderam com maestria conveno ou estabeleceram rupturas; ambaspodem oferecer um conhecimento das mentalidades e das questes da poca,assim como propiciar prazer esttico. A partir desse recorte, ele pode planejar atividades de estudo das obras que devem ser conduzidas segundo os seus recursos crtico-tericos, amparado pelo instrumental que acumulou ao longo de sua formao e tambm pelas leituras que segue fazendo a ttulo de formao contnua. (MEC, 2006, p. 79). O recorte, do qual trata esta Seqncia de Aulas, dar-se- atravs de umrecurso didtico e, ao mesmo tempo, literrio: a intertextualidade, visando aaproximar o proposto a uma realidade circunstancial dos alunos em formao.11 12. FUNDAMENTAO TERICAO projeto de ensino de literatura em questo tem como um de seus suportestericos as Orientaes Curriculares Nacionais, dentro de inmeras argumentaesexpostas neste documento. Tais orientaes ressaltam o fato de que embora aliteratura seja um modo discursivo entre vrios, o discurso literrio difere-se dosoutros, porque de todos os modos discursivos o menos pragmtico, o que visa aaplicaes prticas, garantindo ao participante da leitura literria o exerccio daliberdade, favorecendo-lhe o desenvolvimento de um comportamento mais crtico emenos preconceituoso diante do mundo.Mais que propiciar o exerccio da liberdade e a leitura proficiente, estaSeqncia Didtica, atravs da observncia das Orientaes Nacionais, prope epossibilita um dos principais objetivos do ensino de literatura que o processo dehumanizao do indivduo e para melhor abordar esta questo consideramosnecessrio citar palavras de Antnio Cndido no que se refere literatura como fatorde humanizao: Entendo aqui por humanizao [...] o processo que confirma no homem aqueles traos que reputamos essenciais, como o exerccio da reflexo, a aquisio do saber, a boa disposio para com o prximo, o afinamento das emoes, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepo da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em ns a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade e o semelhante. (CNDIDO, 1995, p. 249).De acordo com as Orientaes Nacionais, para alcanar tais objetivos dentrodo ensino de literatura no se faz necessrio sobrecarregar o educando cominformaes sobre escolas literrias, pocas e estilos, o aluno deve ser levado paraalm da memorizao de movimentos literrios, sendo estimulado a ampliar earticular conhecimentos e competncias. Para cumprir com esses objetivos, entretanto, no se deve sobrecarregar o aluno com informaes sobre pocas, estilos, caractersticas de escolas 12 13. literrias, etc., como at hoje tem ocorrido, apesar de os PCN, principalmente o PCN+, alertarem para o carter secundrio de tais contedos... (MEC, 2006, p.54).Com base nesta explanao, o projeto em questo busca, por meio de suadidtica, propiciar condies para que o aluno adquira experincia literria, ou seja,o contato efetivo com o texto, objetivando a sensao de estranhamento emrelao aos temas propostos e posteriormente possibilidades de intertextualidadecom seu contexto, etapas necessrias para a ampliao dos contedos a seremministrados, dos j adquiridos e capacidade de reflexo crtica, elementosfundamentais para a aquisio do letramento literrio. Tais experincias so vivenciadas nas atividades em que so consideradasas idias e discusses dos alunos, possibilitando troca de impresses acerca dasintertextualidades, admitindo a perspectiva de que um texto sempre permite mais deuma interpretao e que cada leitor reage de forma diferente diante dele. Parece, portanto, necessrio motiv-los leitura com atividades que tenham para os jovens uma finalidade imediata e no necessariamente escolar (por exemplo, que o aluno se reconhea como leitor, ou que veja nisso prazer, que encontre espao para compartilhar suas impresses de leitura com os colegas e com os professores)... Ele ler ento porque se sentir motivado a fazer algo que deseja e, ao mesmo tempo, comear a construir um saber sobre o prprio gnero, a levantar hipteses de leitura, a perceber a repetio e as limitaes do que l, os valores, as diferentes estratgias narrativas (MEC, 2006, p.70,71).A opo de utilizar msicas contemporneas no desenvolvimento de algumasatividades surgiu a partir da observncia de que na poca medieval, os trovadorescompunham seus textos poticos, ou seja, as cantigas, para serem cantadas eacompanhadas por instrumentos musicais. Porm com o advento de novas prticasbaseadas na esttica humanista, os textos literrios separaram-se da melodia,resultando em dois textos distintos: o poema, gnero literrio, e a cano, o gneroletra musical. Esta Seqncia referente ao ensino de literatura tambm objetivacomprovarapermannciada irmandade entrepoema ecano.As Orientaes Nacionais para o Ensino de Literatura sugerem a utilizao demsicas, filmes contemporneos e outras modalidades como instrumento didtico 13 14. para o ensino desta. Encontram-se nos PCNs e OCNs explanaes que ressaltam ofato dessas modalidades e tantos outros tipos de produo, em prosa ou em versoser de importncia significativa para o ensino da referida disciplina, seja portransgredir, denunciar e principalmente por serem significativos dentro do contextodos alunos alertando para o fato de que as escolhas utilizadas pelos professoresdevem ter suporte, revelando a qualidade esttica. Qualquer texto escrito, seja ele popular ou erudito, seja expresso de grupos majoritrios ou de minorias, contenha denncias ou reafirme o status quo, deve passar pelo mesmo crivo que se utiliza para os escritos cannicos: H ou no intencionalidade artstica? A realizao correspondeu inteno? Quais os recursos utilizados para tal? Qual seu significado histrico-social? Proporciona ele o estranhamento, o prazer esttico? (MEC, 2006, p.57) Baseados nestas reflexes, a Seqncia Didtica em questo visou interseco de filmes e msicas contemporneas no desenvolvimento de atividadescom o intuito de aproximar os poemas realidade e ao interesse dos alunos, pois aescolha de modalidades populares com relevante valor esttico colabora naidentificao e empatia dos alunos em relao s obras eruditas, muitas vezesconsideradas inatingveis para as classes menos favorecidas. Podem propiciar aos alunos momentos voluntrios para que leiam coletivamente uma obra literria, assistam a um filme, leiam poemas de sua autoria de preferncia fora do ambiente de sala de aula: no ptio. Na sala de vdeo, na biblioteca, no parque (PCN+, 2002, p.67).Na busca de inserir-se numa postura terica mais abrangente, esta Seqnciade Aulas baseia-se na idia defendida por Bakhtin (2000), de lngua como atividadesocial, histrica e cognitiva, e suas aplicaes de ao e interveno sobre o mundo.A partir dessa hiptese scio-interativa da lngua, pode-se inferir que todacomunicao verbal se realiza por meio de gneros, fundamentando-se nesseprincpio bsico, Marcuschi, que complementa e atualiza as idias bakhtinianas,considera os gneros textuais como fenmenos histricos vinculados aos fatossociais e culturais. 14 15. Em Ensino de Literatura: Uma proposta dialgica para o trabalho deLiteratura, o autor William Roberto Cereja apresenta aos leitores, aps discorrersobre toda a problemtica que envolve o ensino de literatura atualmente, trspropostas didticas para potencializar o ensino da referida disciplina.A primeira hiptese organizar o curso em grandes unidades temticas e, apartir de cada uma delas, abrir um amplo leque de leituras, confrontando autores egneros que de, alguma forma, contriburam para referendar a importncia do temaem foco. (CEREJA, p.162, 2005).Pensar nessa opo nos faz alavancar algumas suposies que, a priori,parecemse encaixar fidedignamentecoma propostadesta Seqncia:intertextualizar os poemas de Fernando Pessoa e o gnero msica, pois podemosentender a obra do poeta como uma uma grande unidade temtica, haja vista queele por si s j d conta de grande parte da literatura produzida em seu tempo.A segunda a organizao do curso em torno dos gneros literrios. Nessecaso, teramos uma perspectiva evolutiva de gneros da literatura, como o romance,a novela, a epopia, a crnica, a fbula, a tragdia, o drama, etc., cuja origem,evoluo e eventual extino deveriam ser relacionadas com o contexto social ecultural de cada um (CEREJA, p.163, 2005). Essa proposta, embora consistente econsidervel, no abriria espao para incluso do gnero msica, por exemplo,como elemento norteador do trabalho em sala de aula, pois restringe a metodologiaaos gneros literrios, no podendo ser aceitos os gneros do discurso.A terceira e ltima diz respeito forma que parte da contemporaneidade parachegar s origens, tem a vantagem de se iniciar com textos cuja linguagem familiarao aluno. Nesse caso, o aluno de 15 anos comearia a estudar literatura por textosde autores contemporneos, com linguagem e temas atuais; os textos maisdistantes no tempo, como os do Trovadorismo ou de Cames, seriam estudados na3 srie do ensino mdio, quando o aluno est mais preparado e amadurecidointelectualmente. (CEREJA, p.164, 2005) O fator que nos impede de tom-la comoponto de partida est justamente na no-concordncia com o nosso pblico-alvo,pois no iniciaremos o trabalho na primeira srie do ensino mdio, no qual os 15 16. poemas de Fernando Pessoa, por fazer parte do Modernismo, teriam de ser um dosprimeiros a serem utilizados.A intertextualidade deve ser observada como suporte para que se chegue aum ponto determinado, nunca como substituinte daquilo que priorizado: o textoliterrio. Portanto, podemos encar-la como metodologia que nos auxiliar a criar umambiente favorvel para a leitura de poemas. Partiremos de algo mais prximo davivncia extra-escolar dos educandos para, ento, encoraj-los, ambient-los esuport-los na leitura de um texto que demanda um pouco mais de reflexo eateno, neste caso, os poemas de Fernando Pessoa.A fim de nos aprofundarmos acerca dessa questo e de como, diretamente,ela pode estar ligada ao ensino de literatura, encontramos em Kristeva aportesterico-discursivos que nos remetem de maneira mais prxima ao que visa a estaseqncia de aulas, pois ela afirma que a linguagem potica, matria-prima destetrabalho, nada mais do que um dilogo entre textos, ampliando assim as idiasdialgicas sugeridas por Bakhtin: A linguagem potica aparece como um dilogo de textos: toda seqncia se faz em relao a uma outra proveniente de um outro corpus, de maneira que toda seqncia est duplamente orientada: para o ato de reminiscncia (evocao de uma outra escrita) e para o ato de intimao (a transformao dessa escritura). (KRISTEVA,Autores como Haroldo de Campos encaram esse processo de aproximaocomo fator determinante para o ensino de literatura, pois j defendia a necessidadede se criar uma nova antologia da literatura brasileira sob o ponto de vistasincrnico e testar o corpus assim obtido no ensino de vrios graus (CEREJA, 2005,p. 149 apud, ROCCO, 1992). O poeta via, ento, a literatura como um espao desimultaneidades capaz de aproximar, por exemplo, Fernando Pessoa e Cames oulvares de Azevedo e Drummond e, assim, nos fazer ver o passado naquilo que eletem de novo. (CEREJA, p.165, 2005).Alm de aproximar os poemas de Pessoa msica, propomos, tambm,nesta seqncia a aproximao de sua obra com autores de tempos remotos, paraser mais preciso, Cames. O que, de certa forma, acaba por abrir outros lequespossveis para a construo de intertextualidade e novas leituras.16 17. Desta maneira, assim como Bakhtin postula que todo discurso umaresposta a outros discursos, conclumos que em literatura o processo no diferente:Todo discurso artstico estabelece relaes dialgicas com outros discursos,contemporneos a ele ou fincados na tradio. Aproximaes e contrastesde temas, gneros e projetos literrios; aproximao e contrastes de estilosde poca e de estilo pessoal; aproximaes e contrastes entre a literatura eoutras artes e linguagens ou outras reas do conhecimento, comparaesinterdiscursivas eis alguns caminhos possveis para o ensino de literaturana escola, ancorados no princpio bakhtiniano de dialogismo. (CEREJA,2005, p. 178)DISCUSSO Pensado e encarado, em princpio, como um trabalho que envolveria poesia ea intertextualidade com a msica, esta Seqncia didtica, bem como asfundamentaes que a acompanham, ganhou moldes, enveredou por novos 17 18. caminhos e tomou propores diversas ao que pensvamos. O tmido projetoconseguiu focalizar um autor especfico no grande universo deste gnero e o tomoucomo mote para apresentar uma proposta intertextual no ensino de literatura:Fernando Pessoa e trs heternimos seus de maior destaque, Alberto Caeiro, lvarode Campos e Ricardo Reis. Como j foi explanado em nossa fundamentao terica, tomamos por baseas Orientaes Curriculares Nacionais e alguns tericos importantes que nosfundamentaram, inclusive, na escolha da abordagem inicial. O foco justamentetomar as produes deste importante autor da Literatura Portuguesa como um temacentral e, a partir delas, sugerir possveis intertextualidades com outros gneros quecirculam na sociedade, a fim de que se possa criar entre o texto literrio e o alunouma aproximao importante e necessria para sua formao escolar e aquisio daproficincia literria. . Partindo desses pressupostos, iniciamos a elaborao da seqncia de aulaspor meio de uma pesquisa com a finalidade de reunir dados referentes ao autor eselecionar poemas, msicas, filmes, charges e ilustraes para que fossem travadosos dilogos entre os textos. O Manual do Aluno possui, na primeira pgina, uma apresentao que oconvida a participar das aulas, esclarece o objetivo geral e os alerta acerca daatividade final, o Sarau. Esperamos que desde o incio o educando possa serelacionar com o projeto de maneira harmoniosa e compreenda que a partir dali eleter uma tarefa importante, a de no se portar como um mero ouvinte, mas sim umintegrantefundamental que atuar comosujeito real na construo doconhecimento. A linguagem utilizada durante todo o projeto visa a essaaproximao, pois a todo o momento utilizam-se vocativos construdos de maneiradescomplicada, pois acreditamos que facilitar o acesso do aluno ao texto ocaminho ideal para alcanarmos o objetivo geral. As aulas I, II e III visam conceituao dos gneros poesia e cano e deintertextualidade. A primeira aula apresenta na Atividade 1 o poema Isto deFernando Pessoa e um pargrafo de um texto de Kierkegaard falsamenteversificado. Espera-se que eles possam l-los e em seguida discuti-los seguindo18 19. algumas questes que so levantadas na Atividade 2. O ponto alto da discussodeve centrar-se na ltima questo, em que se revela qual o verdadeiro poema, naseqncia criou-se oportunidade para que eles pudessem discutir o que de fato fazum texto ser realmente literrio e especificamente, possa ser classificado comopertencente ao gnero poesia. O professor, nesse momento, deve mediar adiscusso e deixar que eles alcancem uma resposta satisfatria e no simplesmenteconceituar o que poesia, j que um profissional com boa formao literria saberque essa no uma tarefa fcil.A Aula II, Letra e Msica comea, mesmo que de forma tmida, a inseriroutros gneros discursivos para se alcanar o alvo, ou seja, a intertextualidade:apresentamos o gnero filme e junto com ele uma sinopse que descreverapidamente o enredo da trama e ento so exibidos trechos do filme que devem serintercalados com comentrios feitos pelo professor e questes que so dadas noprprio escopo da aula.A idia que o professor no se prenda ao enredo e sim mensagemintrnseca do filme, a qual nada mais do que a unio entre melodia e letra, e opapel que cada uma desempenha. A partir de ento, deve-se entrar com umadiscusso mais abrangente, concentrada na segunda questo da Atividade, a qualrelaciona a irmandade existente entre poesia e msica no tempo do Trovadorismo,levantando ainda uma questo maior: Todas as msicas so poemas? A Aula III, Conversa entre os Textos, objetiva a conceituao deintertextualidade e para tanto faz uso de dois gneros, que j foram anteriormentediscutidos, a poesia e a msica. A saber: o poema de Cames Amor fogo quearde sem se ver e a msica de Renato Russo Monte Castelo.Os dois textos tratam do mesmo assunto e o segundo, inclusive, empregaparte do primeiro. justamente neste momento que aparecer uma atividade queser aproveitada em outros momentos do trabalho: Pensar e Argumentar, nela oaluno deve refletir sobre as questes apresentadas e ainda se posicionar, sendo quepara tanto ele dever utilizar, alm dos seus conhecimentos prvios, os adquiridosnas duas aulas anteriores.19 20. Aps a conceituao de dilogo entre textos semelhantes, eles seroconvidados a enxergar este processo em dois poemas que tratam de temasdivergentes, embora sejam do mesmo autor. Essa ltima atividade deve funcionarcomo uma espcie de pr-anncio das aulas seguintes, pois os dois poemas so deautoria do Fernando Pessoa, o mesmo poeta que ser trabalhado nas demais aulas. As aulas IV, V e VI, assim como as trs precedentes, possuem um ncleocomum: apresentao da produo ortnima de Fernando Pessoa. A primeiraconsiste, inicialmente, na apresentao de dois pequenos vdeos, retirados do siteYoutube, os quais apresentam um breve relato biogrfico da vida deFernando Pessoa, bem como do processo de heteronmia. Em seguida sugerida aleitura de um texto retirado da Revista Cult, que tem tambm como tema central abiografia do autor e ainda acrescenta uma discusso acerca do processo de criaodos heternimos, durante essa discusso faz-se necessrio que o professor abra umespao para que os alunos exponham suas dvidas e impresses sobre o assunto.O objetivo que se possam adquirir conhecimentos acerca da vida e obra destepoeta e, ao mesmo tempo, colocar os alunos em contato com outros gnerosdiscursivos: a biografia (apresentada por acadmicos) e vdeos rpidos do Youtube,muito usuais atualmente. A Aula V visa a reunir os conhecimentos adquiridos ao longo das anteriores,de modo que o educando poder colocar em prtica e visualizar, por exemplo,intertextualidade dentro do prprio Fernando Pessoa. So apresentados, primeiramente, dois poemas do poeta: O menino da suame e Dobrada moda do Porto. Inicialmente ser feita uma leitura e na atividade2 eles escutaro os mesmos textos acrescidos de melodia e interpretados na voz dedois artistas contemporneos. Em seguida, a proposta de Atividade Pensar eArgumentar reaparece, a fim de criar discusses que objetivam uma compreensotemtica como temas transversais e, ao mesmo tempo, retomar as que foramrealizadas em aulas anteriores. A sexta aula considerada como ponto pice deste ncleo, pois tratar deum assunto muito importante para a compreenso de Pessoa, pelo menos no quediz respeito construo da obra Mensagem, o povo portugus e sua relao como Mar.20 21. Os alunos sero convidados leitura de dois textos que discutem estatemtica, ambos circulantes na sociedade. Neste momento, enquanto ocorre aleitura, o professor poder mediar a discusso acrescendo, mesmo que de formasuscinta, um pouco da histria pica dos portugueses.Na Atividade 2 eles lero o poema Mar Portuguez de Fernando Pessoa etrechos especficos de Os Lusadas,a fim de que possam entender a obra paralelade Fernando Pessoa em relao a Cames. Aps, escutaro a msica O Rei doMar, de Djavan. O professor dever estimul-los a intertextualizar os trs textos pormeio das questes que lhes so apresentadas. O objetivo que eles consigampercebe o foco temtico e, ao mesmo tempo, atentar-se ao possvel dilogo com amsica.A ltima atividade consiste numa proposta de redao, na qual pedimos paraque os alunos produzam um pequeno texto, explorando uma temtica mais prxima realidade atual: a conquista humana do espao e sua possvel comparao comas conquistas martimas.O fim da aula d-se com uma sugesto de leitura, o aluno tambm encontraroutras sugestes como esta no decorrer da seqncia. O alvo despertar acuriosidade do aluno em relao ao assunto e ampliar o seu conhecimento, fazendocom que eles possam continuar mantendo contato com literatura fora do mbito doescolar.As aulas VII, VIII e IX so reservadas para apreciao e fruio da obra dosheternimos Alberto Caeiro, lvaro de Campos e Ricardo Reis. Esperamos que elesadquiriram conhecimento da biografia pessoal de cada um e, tambm, possam terum contato direto com suas obras, fazendo relaes diretas com asintertextualidades propostas.Iniciamos por lvaro de Campos, a primeira atividade consiste na leitura deexcertos da cartas de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, apenas a parteem que se tem a descrio do heternimo em questo.Aps essa leitura inicial, apresentamos uma breve tabela que descrevealgumas caractersticas particulares da escrita de lvaro de Campos, nestemomento no h necessidade de se prender a explicaes longas e tradicionais.Espera-se que o professor acompanhe a leitura junto com o aluno e enquanto istoocorre, interfira ressaltando alguns pontos especficos sem, ainda, mostar o poema. 21 22. Pede-se que seja feita essa leitura colaborativa porque nesta aula ser utilizadoapenas um poema, o qual, por ser extenso, nortear toda as demais aes.O processo da atividade ocorrer de modo diferente, pois os alunosacompanharo a leitura de Cruzou por mim musicado e interpretado na voz de JSoares. Em seguida haver uma Roda de Conversa, a fim de que sejamdiscutidas questes temticas que esto intimamente ligadas ao texto, sabendo queuma leitura coletiva um mtodo eficaz na construo do conhecimento.A aula seguinte, destinada a Ricardo Reis, ter o mesmo incio da anterior,apresentaremos a biografia do referido heternimo e leremos um pequeno resumodas temticas que ele costuma utilizar em suas obras. Como os poemas dele estodiretamente ligados s odes, achamos por bem conceitu-la, apresentando umabreve definio de uma enciclopdia.Aps ter o conhecimento de Ode, os educandos sero solicitados a escutar opoema Segue o Teu Destino, interpretada na voz de Nana Caymmi. O objetivo que eles possam perceber a proximidade da ode com a msica.Recorrendo temtica e aproveitando a questo da intertextualidade,selecionamos um quadro Renascentista de Andrea Mantegna e pedimos para queeles, partindo de conhecimento adquiridos de seu contato com a literatura, liguemalgumas caractersticas Neoclssicas, tema recorrente em Ricardo Reis, a estrofesde Segue o Teu Destino.A aula IX foi dedicada ao mestre, Alberto Caeiro. A atividade 1 prope aleitura de dois poemas, o Fragmento V de O Guardador de Rebanhos eLiberdade, ambos tambm acompanhados pela voz de J Soares. Espera-se queesses acompanhamentos criem uma proximidade com os alunos, j que o intrpreteassume um sotaque portugus e incorpora ao poema, para alm dos efeitos criadospela melodia, uma outra roupagem.A atividade 2 solicita aos alunos a discusso em grupo de dois fragmentosdos poemas j lidos. Embora sejam de autores diferentes, Fernando Pessoa eAlberto Caeiro, esperamos com esta discusso criar condies para que os alunospercebam a intertextualidade temtica existente entre os dois poemas.As caractersticas formais e literrias do autor, so dadas por meio de umaatividade, na qual os alunos devem identific-las por meio de leitura e reflexo noFragmento V de O Guardador de Rebanhos. A biografia do autor apresentada22 23. por ltimo, pois como afirma o prprio Pessoa, este heternimo era considerado omestre, portanto a fruio da leitura de sua obra muito mais prazerosa do que oconhecimento biogrfico em si.A ltima aula dedicada inteiramente s apresentaes programadas pelosalunos, porm fez-se necessria a apresentao de significado da palavra Sarau,pois sabemos que esse no um evento usual nas escolas de hoje e que muitosdos alunos participantes podem nunca ter se envolvido em um projeto como esse,por isso tambm sugerimos o que pode ser feito e o alvo no limitar, masenriquecer as idias.Cada grupo ter sete minutos para se apresentar. No podemos esquecertambm que durante todas as aulas o professor deve lembrar, empolgar, motivar ealertar os alunos para esse grande evento da ltima aula.O objetivo fazer com que todo o conhecimento produzido durante as dezaulas seja compartilhado com os demais colegas da escola. No h necessidade deser um mega evento, dado que o tempo no permite, as apresentaes podem sersimples, sem deixar de conter, claro, qualidade e contedo. O tema central dosarau deve ser pautado em Fernando Pessoa e heternimos estudados.Aps essa Seqncia, espera-se que os educandos envolvidos neste projetopossam estar aptos a compreender o gnero poesia e cano, sem esquecer dospossveis dilogos que podem existir em qualquer texto e que estes, por sua vez,ajudam a compreender e, ao mesmo tempo, enriquecer qualquer construo deconhecimento, em especial o literrio.23 24. CONSIDERAES FINAISA preocupao com a maneira que a Literatura tem sido abordada no mbitoeducacional fez com que esse projeto fosse pensado e desenvolvido. Partindo dasreflexes citadas anteriormente, pudemos concluir que esta proposta contribui paraa formao de alunos do Ensino Mdio, no que se refere aquisio de habilidadesnecessrias para o desenvolvimento crtico de um cidado.Todo o trabalho em si engloba uma srie de elementos que auxiliam noaprendizado contextualizado e, ao mesmo tempo, consonante com as OrientaesCurriculares Nacionais. Foram confrontados textos contemporneos com literrios, afim de que se pudesse despertar o interesse do aluno, por meio de umaaproximao, a textos considerados inacessveis e de difcil leitura. Os conceitos de fundamentao da Seqncia Didtica surgiram a partir daanlise e reflexo de idias de grandestericos que compreendem a literaturaatravs de uma viso dialgica, a qual nos instigou a transp-la para um ambiente 24 25. extra-escolar, deixando de lado os mtodos usuais que historicamente tm sepreocupado com o sentido tradicional do ensino: Ao ler este texto, muitos educadores podero perguntar onde est a literatura, a gramtica, a produo do texto escrito, as normas. Os contedos tradicionais foram incorporados por uma perspectiva maior, que a linguagem, entendida como espao dialgico, em que os locutores se comunicam. (PCN, 2002, p. 144).As atividades propostas foram idealizadas para que o aluno pudesse assumiruma posio ativa durante o processo de ensino-aprendizagem, criando condiespara que ele, desta forma, adotasse uma postura participativa e autnoma, refletindoas atitudes que a sociedade espera de um cidado atuante.Entendemos que as dificuldades implcitas a qualquer educador que v oensino de uma forma scio-interacional so inmeras, a primeira delas pensar quesua aplicao demanda tempo, preparo, experimentaes e condies mnimas paraum bom desenvolvimento das atividades.O professor que se deparar com a presente Seqncia Didtica, com certeza,ter que transpor muitos obstculos, pois, como j sabido de todos, no existemanual que os impulsionem rumo ao xito profissional. preciso pensar que todasas experimentaes esto suscetveis a sucessos e fracassos, mas o que de fatodever nortear o seu trabalho a reflexo que deve ser feita aps cada tentativa,seja o seu resultado esperado ou no.Alm de pensar naquele que futuramente poder fazer uso deste projeto,podemos refletir na condio em que se encontram os autores deste trabalho:professores em formao. Muito se fala sobre a deficincia na formao deprofissionais da educao, contudo podemos entender que esse pr-preparo auxiliaem nossa atuao, de modo que no futuro, ao nos depararmos com situaoparecida, no nos sentiremos desambientados e estaremos, tambm, bemfundamentados, principalmente no que diz respeito s propostas correntes, oriundasde estudos cientficos, os quais, a todo momento, tm buscado um caminho maisacertado para o cumprimento desse papel to importante.Esperamos que essa Seqncia Didtica seja uma ferramenta eficaz notrabalho docente e que possa cumprir de maneira satisfatria os objetivos propostos,25 26. de modo que possveis alteraes ou sugestes possam enriquecer e aprimorarnossas expectativas, visando sempre obteno de resultados que privilegiem areflexo e a atuao na prxis do professor de Literatura. REFERNCIAS BIBLIOGRFICASA MSICA em Pessoa. Rio de Janeiro: Biscoito Fino Ltda, 2005. 1. disco compacto:digital, stereo.AS QUATRO Estaes. So Paulo: Coraes Perfeitos Edies Musicais Ltda EMI, 2004. 1. disco compacto: digital, stereo.CAMES, Lus Vaz de. Os Lusadas. 1. ed. Portugal: Europa-Amrica, 2002CAMES, Lus Vaz de. Sonetos para amar o amor. 1. ed. Porto Alegre: L&PM,2007. 26 27. CEREJA, William Roberto. Ensino de Literatura: Uma proposta dialgica para otrabalho com literatura. 1. ed. So Paulo: Atual, 2005.CESANA, Nathalia. As diferentes pessoas em Pessoa. Revista Cult: EspecialBiografias, So Paulo, v. 3, p. 6 e 7. 2007.COUTINHO, Afrnio. O eu profundo e os outros eus. 1. ed. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 2006.DONOFRIO, Salvatore. Pequena enciclopdia da cultura ocidental. 1. Ed. SoPaulo: Campus, 2005FALCO, Fernanda Scopel. O poema e a cano: Uma aproximao intergneros.Disponvelemhttp://www.ufes.br/~mlb/multiteorias/pdf/FernandaScope%20FalcaoOPemaEACancao.pdf. Acesso em 02/07/2008.YAMPOLSCHI, Roseane. Intertextualidade e estetismo na msica ps-moderna.Disponvelemhttp://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2006/CDROM/COM/04_Com_Musicologia/sessao05/04COM_MusHist_0503-. Acesso em 02/07/08.GREGORIM, Clovis Osvaldo. Michaelis lngua portuguesa: Novo dicionrioescolar. 1. ed. So Paulo: Melhoramentos, 2008.KIERKEGAARD, Soren. O conceito de angstia. 1. ed. So Paulo: Hemus, 2007.LETRA E MSICA. Marc Lwarence. Estados Unidos: Warner, 1996. 1 DVD.PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930. 1. ed. So Paulo: Companhia das Letras,2007.REMIX em Pessoa. So Paulo: Performance Music Sony DADC Brasil, 2007. 1.disco compacto: digital, stereo.27 28. SECRETARIADEEDUCAO BSICA. Linguagens, cdigos e suastecnologias. 1. ed. Braslia: Ministrio da Educao, 2006. Acesso em 01/09/2008> 28 29. ANEXOS SEQNCIA DIDTICA 30. SEQNCIAFERNANDO PESSOA E HETERNIMOS: UMADIDTICAPROPOSTA INTERTEXTUAL PARA O ENSINO MDIO 31. SEQNCIA DIDTICAAPRESENTAO Caro aluno,Esta seqnciade aulasfoi criadaespecialmente para que voc, aluno do EnsinoMdio, possa conhecer melhor a obra de umgrande escritor modernista da Lngua Portuguesa,Fernando Pessoa e seus heternimos.Por meio destas aulas voc poder seaprofundar em conhecimentos literrios, referentes complexidade e apreciaodo gnero poesia, alm de ser uma ferramenta de aprendizagem que visa a umafutura participao em vestibulares e, principalmente, a fruio literria. Estas aulas sero proveitosas para voc que no dispensa um trabalhodiferente com a turma, que gosta de aprender, realizar projetos, ler, criticar,argumentar, debater e escrever. Esperamos que desta forma voc possa aprimorarsua capacidade de interagir com as pessoas e com o mundo em que vive e, aomesmo tempo, adquirir a habilidade de viajar pela palavra atravs da poesia. Ao final desta seqncia, desejamos que voc, juntamente com seus colegas,elabore uma apresentao para o sarau que se realizar na ltima aula. Aproveitetodos os conhecimentos construdos durante os dias que estudaremos este autorpara colocar sua criatividade em prtica. Bons estudos,Os autores.2 32. AULA I: O QUE POESIA? Objetivo: Nesta aula, o objetivo que voc possa adquirir conhecimentos especficos acerca do gnero poesia, suas principais caractersticas e complexidade de conceituao.Atividade 1: Converse com seus colegas de turma e dividam-se em sete grupos.Lembre-se que este ser o mesmo grupo utilizado para o sarau; a seguir leiam osdois poemas:ISTOO EU E O INFINITODizem que finjo ou mintoO eu a sntese consciente de infinitoTudo que escrevo. No.E de finito em relao com ela prpria;Eu simplesmente sinto Mas tornar-se si prprio tornar-se concreto,Com a imaginao. coisa irrealizvel no finito ou infinito.No uso o corao.A evoluo consiste em afastar-se de si prprio,numa infinitizao. O eu que no se tornaTudo o que sonho ou passoO que me falha ou finda,ele prprio permanece desesperado; como que um terrao o eu est em evoluo a cada instanteSobre outra coisa ainda.da sua existncia, e no sabe o queEssa coisa que linda. serPor isso escrevo em meio(KIERKEGAARD, Soren. O conceito de angstia.Do que no est ao p,So Paulo: Hemus, 2007.)Livre do meu enleio,Srio do que no .Sentir? Sinta quem l!(PESSOA,Fernando. Poesia: 1918-1930.SoPaulo: Companhia das Letras, 2007.)Atividade 2: Agora que voc j leu, discuta com seus colegas as questes que seseguem: Em sua opinio, o que faz estes textos serem considerados poesia? 3 33. Aponte neles algumas caractersticas em comum. O que de mais importante caracteriza uma poesia, a forma ou o contedo? Um destes dois textos no um poema. Trata-se de um texto em prosafalsamente versificado, a fim de exemplificar a complexidade de conceituaode poesia. Voc arriscaria apontar qual destes dois textos no um poema?Justifique sua opinio.AULA II: LETRA E MSICA Objetivo: O objetivo da segunda aula ampliar a discusso da aula anterior eacrescentar conhecimentos acerca do gnero cano, apontando suas afinidades com a poesia.Atividade 1: A seguir haver exibio de fragmentos do filme Letra e msica,objetivando a conceituao de letra e melodia, bem como suas semelhanas com apoesia. Antes de assistir, conhea mais sobre o filme:Sinopse: Alex Fletcher (Hugh Grant) um decadente astro da msica pop, que fezmuito sucesso na dcada de 80, mas que agora apenas se apresenta no circuitonostlgico de feiras e parques de diverso. A chance de mais uma vez fazer sucessobate sua porta quando Cora Corman (Haley Bennet), a atual diva do pop, oconvida para compor uma cano e grav-la com ela, em dueto. O problema queAlex h anos no compe uma cano sequer, alm de jamais ter escrito uma letrade msica. Sua salvao Sophie Fisher (Drew Barrymore), a encarregada de cuidardas plantas de Alex, cujo jeito com as palavras serve de inspirao para Alex.Inicialmente reticente em trabalhar com Alex devido ao trmino conturbado de umrelacionamento e fobia dele a compromisso, Sophie termina por aceitar aparceria.A partir dos comentrios do professor em relao ao filme, reflita sobre asquestes abaixo: Em sua opinio, dentro de uma cano qual a funo da letra e da melodia? No trovadorismo, as poesias eram escritas para serem acompanhadas porinstrumentos musicais. Voc acredita que as msicas contemporneas souma ramificao deste perodo? Por qu? 4 34. Voc conhece poesias que foram utilizadas como letras de msica? Exemplifique.AULA III: A CONVERSA ENTRE OS TEXTOSObjetivo: A construo da terceira aula objetiva favorecer identificao de dilogos existentes entre textos e oferecer-lhe a oportunidade de ouvir e expor argumentos relacionados ao tema em questo.Atividade 1: Organize-se com seus com os componentes de seu grupo e leia opoema a seguir: AMOR FOGO QUE ARDE SEM SE VERAmor fogo que arde sem se ver, querer estar preso por vontade; ferida que di, e no se sente; servir a quem vence o vencedor; um contentamento descontente, ter com quem nos mata, lealdade. dor que desatina sem doer.Mas como causar pode seu favor um no querer mais que bem querer;nos coraes humanos amizade, um andar solitrio entre a gente; se to contrrio a si o mesmo Amor? nunca contentar-se de contente; um cuidar que ganha em se perder. (CAMES, Lus Vaz de. Sonetos paraamar o amor. So Paulo: L&PM, 2007) 5 35. Atividade 2: Agora oua e acompanhe a letra da msica que ser reproduzida: MONTE CASTELO um no contentar-seDe contenteAinda que eu falasse cuidar que se ganhaA lngua dos homens Em se perder...E falasse a lngua dos anjosSem amor, eu nada seria... um estar-se presoPor vontade s o amor, s o amor servir a quem venceQue conhece o que verdade O vencedorO amor bom, no quer o mal um ter com quem nos mataNo sente invejaA lealdadeOu se envaidece...To contrrio a si o mesmo amor...O amor o fogoQue arde sem se ver Estou acordado ferida que diE todos dormem, todos dormemE no se senteTodos dormem um contentamentoAgora vejo em parteDescontenteMas ento veremos face a face dor que desatina sem doer... s o amor, s o amorQue conhece o que verdade...Ainda que eu falasseA lngua dos homens Ainda que eu falasseE falasse a lngua dos anjosA lngua dos homensSem amor, eu nada seria...E falasse a lngua dos anjosSem amor, eu nada seria... um no quererMais que bem querer (Renato Russo. Adaptao de I Corntios 13 e solitrio andar Soneto 11 de Lus Vas de Cames. CoraesPor entre a gente Perfeitos Edies Musicais Ltda EMI).6 36. Atividade 3: Agora que voc leu o poema e ouviu a msica, posicione-se emrelao s seguintes questes: O que existe em comum entre o poema de Cames e a letra da msicainterpretada do grupo Legio urbana? Os textos discutem um mesmo tema. Qual esse tema? Os autores expemdivergncias ou concordncias em relao a ele? Destaque os fragmentos da poesia que foram utilizados na msica. Considerando os fragmentos em comum, podemos afirmar que h dilogoentre os textos. Aponte de que forma ele ocorre e comente as impresses doseu grupo com o restante da turma: a) Reproduo fiel do poema; b) Abordagem do mesmo assunto, valendo-se de uma opinio divergente; c) Reproduo criativa, valendo-se de excertos da poesia, a partir de outrasperspectivas.Atividade 4: Baseando-se em noes adquiridas na atividade anterior, voc pdeperceber que os textos travam dilogos, os quais recebem uma definio deintertextualidade. Trabalhar a intertextualidade consiste em identificar semelhanase diferenas no registro e nos aspectos temticos, estruturais e discursivos. Partindoda afirmao de que os textos tambm podem travar dilogos divergentes, leia osseguintes poemas e identifique exemplos:7 37. ISTOAUTOPSICOGRAFIADizem que finjo ou mintoO poeta um fingidor.Tudo que escrevo. No.Finge to completamenteEu simplesmente sinto Que chega a fingir que dorCom a imaginao. A dor que deveras sente.No uso o corao.E os que lem o que escreve,Tudo o que sonho ou passo,Na dor lida sentem bem,O que me falha ou finda,No as duas que ele teve, como que um terrao Mas s as que eles no tm.Sobre outra coisa ainda.Essa coisa que linda. E assim nas calhas de rodaGira, a entreter a razo,Por isso escrevo em meioEsse comboio de cordaDo que no est ao p,Que se chama coraoLivre do meu enleio,Srio do que no .(COUTINHO, Afrnio. O eu profundo e osSentir? Sinta quem l! outros eus. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 2006).AULA IV: VIDA E OBRA DE FERNANDO PESSOAObjetivo: Esperamos que nesta aula voc possa adquirir conhecimentos sobre avida e obra de Fernando Pessoa, bem como seus heternimos.Atividade 1: Acompanhe os vdeos Fernando Pessoa e Fernando Pessoa Vida eObra.Atividade 2: Aps assistir aos vdeos, amplie seus conhecimentos sobre o referidopoeta, atravs da literatura cuidadosa do seguinte texto:8 38. Fernando Pessoa - o poeta da inquietude e do desassossegoAliteratura pode ser um meio de vida. Para Fernando Pessoa, a vida foi um meio para a literatura se revelar, uma demonstrao daquilo queoutro poeta, o mexicano Octavio Paz, Prmio Nobel de Literatura de 1990, definiacomo aspectos biogrficos no mtier da poesia: Os poetas no tm biografia; suabiografia -lhes a obra... Nada h de surpreendente em sua vida, nada, a no seremos poemas....Uma biografia de Pessoa pode ser uma impossibilidade, mas tambm a provade que uma vida repleta de surpresas quando engajada de maneira incondicional criao literria.Segundo Marcos Siscar, poeta, tradutor e professor de Teoria da literatura daUniversidade Estadual Paulista (UNESP), em So Jose do Rio Preto, para que osheternimos sejam o que so, isto , diferentes de pseudnimos, precisoimaginar que eles no sejam apenas estratgia de uma conscincia lrica central,mas uma maneira de dramatizar (de dar a sentir) a disperso constitutiva daquiloque chamamos conscincia. Ou seja, no se trata, por um lado, de ver osheternimos apenas como parte do plano autoral de um poeta central chamadoFernando Pessoa, nem, por outro lado, de passar a tratar esses heternimos comoautores contemporneos do modernismo portugus. A heteronmia deveria serconcebida como um teatro, nesse caso cheio de notaes de cena, mas semdiretor.Leyla Perrone-Moiss, no livro Fernando Pessoa-Aqum do eu, alm dooutro, diz que o fenmeno da heteronmia no decorrncia uma riqueza, mas deuma falta. Os heternimos no so frutos de uma rica imaginao to somenteartstica, ou a prova da versatilidade do poeta, mas o cobrimento de uma falha. Faltade ser e excesso de desejo faz implodir o sujeito que, ao tentar reunir diversos euspostios num conjunto, precipita-se, pelo contrrio, na experincia da disperso semvolta.(Nathalia Cesana, Revista Cult-, volume 3: O poeta da inquietude e do desassossego)9 39. Aula V: Intertextualidade em Pessoa Objetivo: A quinta aula visa reflexo sobre o contedo da aula anterior e a possibilidade de intertextualizar as poesias de Fernando Pessoa e declamaes adaptadas com melodias por artistas contemporneos.Atividade 1: Em grupo, leia os seguintes poemas de Fernando Pessoa: O MENINO DE SUA MENo plaino abandonadoCaiu-lhe da algibeiraQue a morna brisa aquece, A cigarreira breve.De balas trespassadoDera-lhe a me. Est inteira Duas, de lado a lado , E boa a cigarreira,Jaz morto, e arrefece.Ele que j no serve.Raia-lhe a farda o sangue.De outra algibeira, aladaDe braos estendidos, Ponta a roar o solo,Alvo, louro, exangue, A brancura embainhadaFita com olhar langue De um leno... Deu-lho a criadaE cego os cus perdidos.Velha que o trouxe ao colo.To jovem! que jovem era! L longe, em casa, h a prece:(Agora que idade tem?)Que volte cedo, e bem!Filho nico, a me lhe dera (Malhas que o Imprio tece!)Um nome e o mantivera:Jaz morto, e apodrece,O menino da sua me.O menino da sua me.(PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930.SoPaulo: Companhia das Letras, 2007.)10 40. DOBRADA MODA DO PORTO Um dia, num restaurante, fora do espao e do tempo, Serviram-me o amor como dobrada fria. Disse delicadamente ao missionrio da cozinha Que a preferia quente, Que a dobrada (e era moda do Porto) nunca se come fria. Impacientaram-se comigo. Nunca se pode ter razo, nem num restaurante. No comi, no pedi outra coisa, paguei a conta, E vim passear para toda a rua. Quem sabe o que isto quer dizer? Eu no sei, e foi comigo ...(Sei muito bem que na infncia de toda a gente houve um jardim,Particular ou pblico, ou do vizinho.Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.E que a tristeza de hoje).Sei isso muitas vezes,Mas, se eu pedi amor, porque que me trouxeramDobrada moda do Porto fria?No prato que se possa comer frio,Mas trouxeram-mo frio.No me queixei, mas estava frio,Nunca se pode comer frio, mas veio frio.(PESSOA, Fernando. Poesia: 1918-1930.So Paulo: Companhia das Letras, 2007.)Atividade 2: Oua agora os mesmos poemas interpretados na voz de J Soares eMarlia Pra, acrescidos de melodia.Atividade 3: Aps a leitura e escuta dos poemas, discuta com os colegas de gruposobre o contedo dos textos, atentando para o que se segue: 11 41. Lembrando das aulas 1, 2 e 3, nas quais conceituamos poesia, msica eintertextualidade, podemos afirmar que houve dilogo entre o que lemos eescutamos? Que efeito a melodia e a voz dos artistas contemporneos acrescentam compreenso dos poemas? Embora exista uma distncia entre o tempo de produo da obra de FernandoPessoa e a adaptao feita pelos artistas, o dilogo pode ser consideradocomo uma forma de atualizao temtica ou apenas uma recriao criativa? De que forma podemos relacionar o amor que foi servido frio em Dobrada moda do Porto com a triste estria do poema O menino de sua me? Em relao ao poema O menino de sua me, est correto afirmar que amisria e a falta de horizontes a que esto sendo submetidos os jovens so acausa da violncia que impera em nossa sociedade?Atividade 4: Organizem-se em crculo para iniciar uma roda de conversa referentes questes anteriores; em seguida escolham um representante do grupo paracompartilhar as discusses realizadas com o restante da classe, voc podeacrescentar outras informaes e conhecimentos que possui acerca do assunto,evitando manter-se restrito ao contedo dos textos.Aula VI O povo portugus e o mar Objetivo: A proposta fazer com que voc adquira conhecimentos sobre aimportncia da figura do mar para o povo portugus e, conseqentemente, relacion-la com as obras literrias de Cames e Fernando Pessoa, ou seja, Os Lusadas e Mensagem. 12 42. Atividade 1: Leia os textos abaixo :A saudade que sentem os portugueses pode eventualmente ser explicada geograficamente. Com efeito, Portugal um pas pequeno cercado pelo mar, quase como uma ilha, que predispe os seushabitantes a deixarem o continente. No por isso, supreendente a vontade que osportugueses tm em se virarem para o mundo, lanando-se ao mar. Os portuguesesno gostam de limites e, por isso, evitam-nos. Os portugueses gostam de desafios;ficam tristes quando falham, mas ficariam ainda mais tristes se no tivessemtentado. As descobertas portugueses situam-se, algures, no passado porque ascolnias j o foram. De todo o lado onde os portugueses chegaram, deixam e trazemlembranas da sua passagem. Da arquitectura lngua, de Marrocos China, passando pela ndia, Japo e Timor.A saudade que sentem os portugueses pode eventualmenteser explicada geograficamente. Com efeito, Portugal um pas pequeno cercado pelo mar, quase como uma ilha, que predispe os seus habitantes a deixarem o continente. No por isso, supreendente a vontade que os portugueses tm em se virarem para o mundo, lanando-se ao mar. Os portugueses no gostam de limitese, por isso, evitam-nos. Os portugueses gostam de desafios; ficam tristes quandofalham, mas ficariam ainda mais tristes se no tivessem tentado. As descobertasportugueses situam-se, algures, no passado porque as colnias j o foram. De todoo lado onde os portugueses chegaram, deixam e trazem lembranas da suapassagem. Da arquitectura lngua, de Marrocos China, passando pela ndia,Japo e Timor.(Adaptado de http://www.teiaportuguesa.com/lusografo/saudade.htm - Acessado em01/09/2008)... Um exemplo disso a relao de admirao e competio que Pessoamantm com Lus de Cames, autor de Os Lusadas, Ao escrever Mensagem13 43. Pessoa procura corrigir os erros de viso do pico camoniano quanto ao destinoportugus. Corrige, tambm a inadequao formal do poema pico, uma vez que,segundo ele, os poemas longos j no so possveis hoje em dia, quando aacelerao da vida exige uma forma concentrada, mas ricamente alusiva esignificativa de expresso potica. a tentativa de reescrever Os Lusadas dosculo XX, conta Yara.(Nathalia Cesana, Revista Cult-, volume 3: O poeta da inquietude e dodesassossego). Atividade 2: Agora que voc aprendeu sobre a relao do povo portuguscom o mar e sobre a obra Mensagem de Fernando Pessoa, rena-se com o seugrupo e leia os poemas Mar Portuguez, Fernando Pessoa e alguns trechos de OsLusadas. Aps a leitura, identifique intertextualidade com a msica de Djavan: ORei do Mar. Levando em considerao as seguintes questes: Os autores abordam o assunto do mar partindo de uma mesma perspectiva? Explique. Por que podemos afirmar que h intertextualidade entre a msica e os poemas? Destaque alguns versos dos poemas e da msica em que fique explcita a exaltao do povo portugus em relao dominao do mar.MAR PORTUGUEZ mar salgado, quanto do teu salSo lgrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mes choraram,Quantos filhos em vo rezaram!Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, mar!Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma no pequena.Quem quere passar alm do BojadorTem que passar alm da dor.Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,Mas nelle que espelhou o cu. 14 44. (COUTINHO, Afrnio. O eu profundo e os outros eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006).TRECHOS DE OS LUSADAS CANTO IV 62"Pelo mar alto Sculo navegam;Vo-se s praias de Rodes arenosas;E dali s ribeiras altas chegam,Que com morte de Magno so famosas;Vo a Mnfis e s terras, que se regamDas enchentes Nilticas undosas;Sobem Etipia, sobre Egito,Que de Cristo l guarda o santo rito. 63"Passam tambm as ondas Eritreias,Que o povo de Israel sem nau passou;Ficam-lhe atrs as serras Nabateias,Que o filho de Ismael coo nome ornou.As costas odorferas Sabeias,Que a me do belo Adnis tanto honrou,Cercam, com toda a Arbia descobertaFeliz , deixando a Ptrea e a Deserta. 90 "Qual vai dizendo: " filho, a quem eu tinhaS para refrigrio, e doce amparoDesta cansada j velhice minha,Que em choro acabar, penoso e amaro,Por que me deixas, msera e mesquinha?Por que de mim te vs, filho caro,A fazer o funreo enterramento,Onde sejas de peixes mantimento!" 91 15 45. "Qual em cabelo: " doce e amado esposo, Sem quem no quis Amor que viver possa, Por que is aventurar ao mar iroso Essa vida que minha, e no vossa? Como por um caminho duvidoso Vos esquece a afeio to doce nossa? Nosso amor, nosso vo contentamento Quereis que com as velas leve o vento?" (CAMES, Lus Vaz de. Os Lusadas. Portugal: Europa-Amrica, 2002). O REI DO MARVou me perder O brilho dos farisNo azul verde do marQue me importaJunto da manhO fundo, a calmaria e o temporalEm busca da vidaEu sou o reiVou remover Eu sou o reiLendas, tormentas, paixo Eu sou o reiLivre a navegar do marEm busca da vidaDa minha cidade natalQue me importa(Djavan. 1975 BMG Music Publishing BrasilA brisa friaLtda). Atividade 3: Agora , individualmente, redija um pequeno texto expondo sua opinio acerca do seguinte comentrio: Em sua nsia de explorao e conquista, o homem olha sempre para frente e para longe; est sempre em busca de uma nova aventura e descoberta. Atualmente o homem tem realizadoconquistas de planetas distantes como a Lua e Marte. Em sua opinio,os motivosque levaram o ser humano a empreender a conquista espacial so os mesmos quelevaram o povo portugus s conquistas martimas?16 46. Sugesto de Leitura:Poema - O homem; as viagens, de Carlos Drummond de Andrade. AULA VII LVARO DE CAMPOS, O POETA DA PROSA RITMADA E EMOTIVA.Objetivo: O objetivo que voc possa aprofundar conhecimentos sobre a vida eobra de lvaro de Campos e identificar seu estilo potico, bem como a escolha desuas temticas.Atividade 1: Conhea um pouco mais sobre a vida e obra de lvaro de Campos:(Excertos da Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro - Escrita emLisboa). 17 47. Fases da Escrita:1 Fase DecadentistaEsta fase expressa-se como a falta de umsentido para a vida e a necessidade de fuga monotonia, com preciosismo, smbolos eimagens apresenta-se marcado peloRomantismo e pelo Simbolismo.2 Fase Futurista/Sensacionista Esta fase foi bastante marcada pela influnciade Walt Whitman e de Marinetti (ManifestoFuturista), nela, lvaro de Campos celebra otriunfo da mquina, da energia mecnica e dacivilizao moderna. Sente-se nos poemasuma atraco quase ertica pelas mquinas,smbolo da vida moderna. Campos apresentaa beleza dos maquinismos em fria e dafora da mquina por oposio belezatradicionalmente concebida. Exalta oprogresso tcnico, essa nova revelaometlica e dinmica de Deus.3 Fase Intimista/PessimistaNesta fase, Campos sente-se vazio, ummarginal, um incompreendido. Sofre fechadoem si mesmo, angustiado e cansado. Comotemticas destacam-se: a solido interior, aincapacidade de amar, a descrena emrelao a tudo, a nostalgia da infncia, a dorde ser lcido, a estranheza e a perplexidade,a oposio sonho/realidade frustrao. adissoluo do eu, a dor de pensar e oconflito entre a realidade e o poeta.(Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_de_Campos. Acessado em01/09/2008)18 48. Atividade 2: Oua o poema Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da baixa,musicado na voz de J Soares:Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da BaixaAquele homem mal vestido, pedinte por profisso que se lhe v na cara,Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:No sou parvo nem romancista russo, aplicado,E romantismo, sim, mas devagar...).Sinto uma simpatia por essa gente toda,Sobretudo quando no merece simpatia.Sim, eu sou tambm vadio e pedinte,E sou-o tambm por minha culpa.Ser vadio e pedinte no ser vadio e pedinte:E estar ao lado da escala social,E no ser adaptvel s normas da vida,As normas reais ou sentimentais da vida -No ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,No ser pobre a valer, operrio explorado,No ser doente de uma doena incurvel,No ser sedento da justia, ou capito de cavalaria,No ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistasQue se fartam de letras porque tem razo para chorar lagrimas,E se revoltam contra a vida social porque tem razo para isso supor.No: tudo menos ter razo!Tudo menos importar-se com a humanidade!Tudo menos ceder ao humanitarismo!De que serve uma sensao se ha uma razo exterior a ela?Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,No ser vadio e pedinte, o que corrente:E ser isolado na alma, e isso que ser vadio,E ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso que ser pedinte.Tudo o mais estpido como um Dostoiewski ou um Gorki.Tudo o mais ter fome ou no ter o que vestir.E, mesmo que isso acontea, isso acontece a tanta genteQue nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.Sou vadio e pedinte a valer, isto , no sentido translato,19 49. E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.Coitado do lvaro de Campos!To isolado na vida! To deprimido nas sensaes!Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco aquele pobre que no era pobre que tinha olhos tristes porprofisso.Coitado do lvaro de Campos, com quem ningum se importa!Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!E, sim, coitado dele!Mais coitado dele que de muitos que so vadios e vadiam,Que so pedintes e pedem,Porque a alma humana um abismo.Eu que sei. Coitado dele!Que bom poder-me revoltar num comcio dentro de minha alma!Mas at nem parvo sou!Nem tenho a defesa de poder ter opinies sociais.No tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lcido.No me queiram converter a convico: sou lcido!J disse: sou lcido.Nada de estticas com corao: sou lcido.Merda! Sou lcido.(J Soares - Voz. Billy Forghieri Arranjo. Remix em Pessoa: Performance Music SonyDADC Brasil.)Atividade 3: Organizem-se em crculo para iniciar uma roda de conversa e discutaminicialmente sobre as seguintes questes: Baseando-se no texto lido na atividade 1, sabemos que lvaro de Campos tinha como uma de suas caractersticas enfatizar a emotividade. Em que momentos de Cruzou por mim podemos encontrar essa caracterstica?20 50. Em sua opinio, que sentimento o eu lrico tenta expressar no seguinteverso: No me queiram converter a convico: sou lcido!. Em qual das trs fases, citadas acima, se encaixa o poema Cruzou pormim? Uma das caractersticas predominantes de lvaro de Campos a de prosador(narrador). Em Cruzou por mim, podemos fundamentar essa afirmao?Justifique sua resposta. De acordo com o poema, qual opinio o eu lrico expressa sobre o que ser vadio e pedinte? AULA VIII RICARDO REIS, O POETA NEOCLSSICO.Objetivo: Possibilitar oportunidade para que voc, aluno, construa conhecimentos sobre a vida e obra de Ricardo Reis, bem como bem como a escolha de suastemticas.Atividade 1: Leia os textos a seguir: 21 51. (Excertos da Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro - Escrita emLisboa, 13 de Janeiro de 1935).A poesia de Ricardo Reis constituda com bases em idias elevadas e odes,ou seja, na poesia de Reis constante o Neoclassicismo. Para finalizar, podemosconcluir que atravs da intemporalidade das suas preocupaes, a angstia dabrevidade da vida, a inevitvel Morte e a interminvel busca de estratgias delimitao do sofrimento que caracteriza a vida humana, Reis tenta iludir o sofrimentoresultante da conscincia aguda da precariedade da vida.Temticas: Aceita a calma da ordem das coisas; Sofre com as ameaas do Fatum, da velhice e da Morte; V o rio como uma imagem da vida que passa efemeridade; Considera a infncia a idade ideal; Defende o ideal de uma vida passiva e silenciosa; Preconiza a carncia das ideias dogmticas e filosficas como meio demanter-se puro e sossegado; Ope o paganismo e ao cristianismo;(Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Reis. Acessado em 01/09/2008) O que Ode? Poema lrico de forma complexa e varivel. Surgiu na Grcia Antiga, onde era cantado com acompanhamento musical. A ode caracteriza-se pelo tom elevado e sublime com que trata determinadoassunto.As literaturas ocidentais modernasaproveitaram sobretudo, do ponto de vista da forma, a ode composta por trsunidades estrficas, correspondentes, no desenvolvimento da idia do poema, estrofe, antstrofe (cantada pelo coro, originalmente) e ao epodo (concluso dopoema). A ode comportava uma srie de esquemas mtricos e rtmicos, de acordocom os quais era classificada.22 52. (DONOFRIO, Salvatore. Pequena Enciclopdia da Cultura Ocidental. So Paulo:Campus, 2005).Atividade 2: Oua o poema Segue o teu destino, de Ricardo Reis, musicado navoz de Nana Caymmi:SEGUE O TEU DESTINOSegue o teu destinoRega as tuas plantasAma as tuas rosasO resto a sombraDe rvores alheiasA realidadeSempre mais ou menosDo que ns queremosS ns somos sempreIguais a ns prprios.Suave viver sGrande e nobre sempreViver simplesmenteDeixa a dor nas arasComo ex-voto aos deusesV de longe a vidaNunca a interroguesEla nada podeDizer-te. A respostaEst alm dos deuses.Mas serenamenteImita o OlimpoNo teu coraoOs deuses so deusesPorque no se pensam23 53. (Nana Caymmi Voz: Dori Caymmi. A msica em Pessoa. Biscoito Fino Ltda).Atividade 3: Observe o quadro abaixo atentando para o seguinte enunciado: Voc j estudou o Neoclassicismo, tanto o quadro como o poema tm caractersticas classicistas. Identifique-as, relacionando as duas obras. O Parnaso (sc. XV), de Andrea Mantegna, obra do Renascimento italiano.Atividade 4: Ligue as caractersticas (coluna 1) aos versos retirados do poemaSegue o teu destino (coluna 2). Segue o teu destino Rega as tuas plantasDefende o ideal de uma vidaAma as tuas rosaspassiva e silenciosa O resto a sombra De rvores alheias Suave viver sReferncia mitologia grega Grande e nobre sempre Viver simplesmente V de longe a vidaSofre com as ameaas doNunca a interroguesFatum, da velhice e da Morte Ela nada pode Dizer-te. Mas serenamenteBucolismoImita o Olimpo No teu corao Os deuses so deuses Porque no se pensam 24 54. Sugesto de Leitura: Romance O ano da morte de Ricardo Reis, de Jos Saramago.Sinopse: Neste romance, o heternimo mais clssico do poeta portugusFernando Pessoa, o horaciano Ricardo Reis, acha-se novamente em Lisboa,depois de uma temporada no Brasil, onde se auto-exilara. O ano o de 1936.Mdico, educado pelos jesutas e monarquistas, ele um sbio capaz de secontentar em assistir ao espetculo do mundo, como diz numa das epgrafes dolivro. Aqui, porm, ele se v confrontado com os acontecimentos de 1936, emPortugal e fora dele; de um lado, a ditadura fascista de Salazar; de outro, agestao da Segunda Guerra Mundial, a Frente Popular francesa, a Guerra Civilespanhola, a expanso nazista na Europa. Um confronto, enfim, com um mundoque decerto no era um espetculo. AULA IX ALBERTO CAEIRO, O MESTRE.Objetivo: Possibilitar oportunidade para que voc, aluno, construa conhecimentossobre a vida e obra de Alberto Caeiro, bem como a escolha de suas temticas. Atividade 1: Leia o seguinte trecho de O Guardador de Rebanhos, poema de Alberto Caeiro e oua Liberdade, de Fernando Pessoa, musicado na voz de J Soares: FRAGMENTO V H metafsica bastante em no pensar em nada. O que penso eu do mundo? Sei l o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso. Que idia tenho eu das cousas? Que opinio tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma25 55. E sobre a criao do Mundo?O mistrio das cousas? Sei l o que mistrio!O nico mistrio haver quem pense no mistrio. []Metafsica? Que metafsica tm aquelas rvores?A de serem verdes e copadas e de terem ramosE a de dar fruto na sua hora, o que no nos faz pensar,A ns, que no sabemos dar por elas.Mas que melhor metafsica que a delas,Que a de no saber para que vivemNem saber que o no sabem?Constituio ntima das cousasSentido ntimo do UniversoTudo isto falso, tudo isto no quer dizer nada. []Pensar no sentido ntimo das cousas acrescentado, como pensar na sadeOu levar um copo gua das fontes.O nico sentido ntimo das cousas elas no terem sentido ntimo nenhum.(COUTINHO, Afrnio. O eu profundo e os outros eus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006).LIBERDADE(Fernando Pessoa)Ai que prazerNo cumprir um dever.Ter um livro para lerE no o fazer!Ler maada,Estudar nada.O sol doira sem literatura.O rio corre bem ou mal,Sem edio original.E a brisa, essa, de to naturalmente matinalComo tem tempo, no tem pressa 26 56. Livros so papis pintados com tinta.Estudar uma coisa em que est indistintaA distino entre nada e coisa nenhuma.Quanto melhor quando h bruma.Esperar por D. Sebastio,Quer venha ou no!Grande a poesia, a bondade e as danasMas o melhor do mundo so as crianas,Flores, msica, o luar, e o sol que pecaS quando, em vez de criar, seca.E mais do que isto Jesus Cristo,Que no sabia nada de finanas,Nem consta que tivesse biblioteca(J Soares - Voz. Billy Forghieri Arranjo. Remix em Pessoa: Performance Music SonyDADC Brasil.)Atividade 2: A partir da leitura realizada na atividade anterior, discuta com os seuscolegas de grupo o dilogo existentes entre esses dois fragmentos, retirados dosdois poemas acima:H metafsica bastante em no pensar em nada.(O Guardador de Rebanhos Fragmentos V)Estudar uma coisa em que est indistintaA distino entre nada e coisa nenhuma.(Liberdade)Atividade 3: Observe as seguintes caractersticas da escrita de Alberto Caeiro e apartir dessas informaes identifique-as dentro do Fragmento V de O Guardador deRebanhos: 27 57. Todo objeto uma sensao nossa; Toda a arte a conveno de uma sensao em objeto; Portanto, toda arte a conveno de uma sensao numa outra sensao; regressa a um primitivismo do conhecimento da natureza; ensinou a filosofia do no filosofar; linguagem espontnea, discursiva, e prosaica.(Adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Caeiro. Acessado em 01/09/2008) (Excertos da Carta de Fernando Pessoa para Adolfo Casais Monteiro - Escrita emLisboa, 13 de Janeiro de 1935).28 58. AULA X SARAU.Objetivo: Agora, abriremos espao para que voc, juntamente com seu grupo, exponha todo o conhecimento adquirido sobre Fernando Pessoa de maneira criativa.O que Sarau?sm (cast sarao) 1 Reunio festiva, em casa particular, em clube ou teatro, em que se passa a noite danando, jogando, tocando etc. 2 Concerto musical de noite. 3 Reunio de pessoas amantes das letras, para recitao e audio de trabalhos emprosa ou verso.(Michaelis Lngua Portuguesa Novo Dicionrio Escolar. So Paulo:Melhoramentos, 2008)Atividade 1: Agora que voc compreendeu a concepo de um Sarau, organize-secom seus colegas de grupo e ponha a sua criatividade em prtica. Utilize osconhecimentos adquiridos sobre Fernando Pessoa e heternimos e realize umaapresentao de no mximo 7 minutos.Faa algo breve, mas que, ao mesmo tempo, consiga captar a essncia destaSeqncia Didtica. Pense na idia de convidar outros colegas do ensino mdio desua escola, a fim de que se possa compartilhar o aprendizado.29 59. Divirtam-se! 30