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Psicologia e Educação 89 Vol. VII, nº 1, Jun. 2008 Fiabilidade e validade da versão Portuguesa do Questionário das Dificuldades de Tomada de Decisão de Carreira: Estudo piloto José Manuel Tomás da Silva* Ludovina Almeida Ramos** Resumo: As dificuldades relacionadas com o processo de tomada de decisão de carreira são bastante prevalentes entre os estudantes que se vêm confrontados com os momentos normativos de escolha característicos do sistema de ensino português. Por essa razão os psicólogos vocacionais que trabalham em contextos educativos têm uma forte necessidade de instrumentos apropriados para avaliar com fiabilidade as facetas, ou factores, que contribuem para a indecisão de carreira. No presente estudo os autores procuraram colmatar essa necessidade procedendo à tradução e à adaptação para Português da versão reduzida do Career Decision- Making Difficulties Questionnaire (Gati, Krausz, & Osipow, 1996). Os resultados obtidos no estudo piloto a respeito das propriedades psicométricas deste instru- mento (fiabilidade e validade de construto e concorrente), numa amostra de 231 estudantes do nono ano de escolaridade, foram muito prometedores, revelando que a precisão dos resultados para as categorias, subcategorias e resultado total são bastante boas (mediana dos alfas é de .80 para todas as escalas e de .95 para o resultado total). As restantes análises realizadas também ofereceram suporte à validade convergente (correlação com uma medida de identidade vocacional) e validade concorrente dos resultados. Os autores discutem ainda as principais implicações dos resultados para investigação futura e para o aconselhamento. Concluímos que o questionário de dificuldades de decisão de carreira é um utensílio adequado, inovador, compreensivo e útil na “caixa de ferramentas” do psicólogo de aconselhamento de carreira. Palavras-chave: dificuldades; decisão; carreira; fiabilidade; validade (construto e concorrente). Abstract: Difficulties with the process of career decision making are a very common problem among Portuguese students coping with normative educational choice points. Therefore, vocational psychologists working in educational contexts have a strong need of sound psychometric instruments to assess with accuracy the different facets, or factors, of career indecision. In the present study the authors addressed this need by translating and adapting to Portuguese the reduced version of the Career Decision-Making Difficulties Questionnaire (Gati, Krausz, & Osipow, 1996). The results obtained with the pilot study concerning the psychometric properties of this instrument (reliability, construct and concurrent validity), on a sample of 231 ninth grade students, were very promising, revealing that the scores on the major categories, subcategories and total score have good _______________ * Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. E-mail: [email protected]. ** Departamento de Psicologia e Educação da Universidade da Beira Interior. E-mail: [email protected].

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Fiabilidade e validade da versão Portuguesa do Questionário dasDificuldades de Tomada de Decisão de Carreira: Estudo pilotoJosé Manuel Tomás da Silva*Ludovina Almeida Ramos**

Resumo: As dificuldades relacionadas com o processo de tomada de decisãode carreira são bastante prevalentes entre os estudantes que se vêm confrontadoscom os momentos normativos de escolha característicos do sistema de ensinoportuguês. Por essa razão os psicólogos vocacionais que trabalham em contextoseducativos têm uma forte necessidade de instrumentos apropriados para avaliarcom fiabilidade as facetas, ou factores, que contribuem para a indecisão de carreira.No presente estudo os autores procuraram colmatar essa necessidade procedendoà tradução e à adaptação para Português da versão reduzida do Career Decision-Making Difficulties Questionnaire (Gati, Krausz, & Osipow, 1996). Os resultadosobtidos no estudo piloto a respeito das propriedades psicométricas deste instru-mento (fiabilidade e validade de construto e concorrente), numa amostra de 231estudantes do nono ano de escolaridade, foram muito prometedores, revelandoque a precisão dos resultados para as categorias, subcategorias e resultado totalsão bastante boas (mediana dos alfas é de .80 para todas as escalas e de .95para o resultado total). As restantes análises realizadas também ofereceram suporteà validade convergente (correlação com uma medida de identidade vocacional)e validade concorrente dos resultados. Os autores discutem ainda as principaisimplicações dos resultados para investigação futura e para o aconselhamento.Concluímos que o questionário de dificuldades de decisão de carreira é um utensílioadequado, inovador, compreensivo e útil na “caixa de ferramentas” do psicólogode aconselhamento de carreira.Palavras-chave: dificuldades; decisão; carreira; fiabilidade; validade (construtoe concorrente).

Abstract: Difficulties with the process of career decision making are a verycommon problem among Portuguese students coping with normative educationalchoice points. Therefore, vocational psychologists working in educational contextshave a strong need of sound psychometric instruments to assess with accuracythe different facets, or factors, of career indecision. In the present study theauthors addressed this need by translating and adapting to Portuguese the reducedversion of the Career Decision-Making Difficulties Questionnaire (Gati, Krausz,& Osipow, 1996). The results obtained with the pilot study concerning thepsychometric properties of this instrument (reliability, construct and concurrentvalidity), on a sample of 231 ninth grade students, were very promising, revealingthat the scores on the major categories, subcategories and total score have good

_______________* Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. E-mail: [email protected].** Departamento de Psicologia e Educação da Universidade da Beira Interior. E-mail: [email protected].

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reliabilities (median alpha of .80 across all scales and .95 for the total score).The other analysis undertaken also offered support about the convergent (correlationwith a measure of vocational identity) and concurrent validity of the questionnairescores. The authors also discuss the major implications of the results for futureresearch and counseling with undecided clients. We conclude that the Portugueseversion of the career decision difficulties questionnaire it’s a very sound,innovative, comprehensive and useful device for the toolbox of the Portuguesecareer counseling psychologists.Key-words: career decision-making difficulties; reliability; validity (construct andconcurrent).

Introdução

Decidir é um verbo transitivo que temorigem no vocábulo latino decidiìre, «re-solver». Numa acepção corrente decidirsignifica “determinar, resolver; deliberar,dispor, estatuir; opinar; julgar” (Dicioná-rios Editora, 1998). Estas característicasaccionais qualificam uma parte substanci-al do comportamento quotidiano observávelde qualquer elemento da espécie humana,independentemente do tempo e do espaçoem que se inscreve a sua existência.Praticamente em todos os momentos donosso dia-a-dia somos convocados a de-cidir, a maioria das vezes sobre questões,matérias ou eventos menores, outras vezesporém a nossa deliberação incide sobreassuntos de grande significado e impor-tância para o devir pessoal e colectivo.Mitchell e Krumboltz (1984), num impor-tante tratado sobre o processo de decisãohumana, distinguem estes dois tipos dedecisões: as primeiras são triviais, quaseinconsequentes nos seus resultados emtermos dos reflexos que podem ter parao autor. As do segundo tipo, porém, “têmo poder de consumir os nossos dias e deassombrar as nossas noites” (Mitchell &Krumboltz, 1984, p. 238). São as decisõesdeste último tipo, decisões consequentes,como foram denominadas por Janis &Mann (1977), que levam as pessoas aprocurar a ajuda profissional de psicólo-

gos e de outros prestadores de serviçoshumanos. As decisões de carreira inclu-em-se na categoria de actos deliberativosque reúnem a potencialidade de afectar deuma forma poderosa e marcante a trajec-tória de vida das pessoas, a sua satisfaçãoe o seu bem-estar psicofísico com a vidaque ambicionam usufruir.Sendo as decisões de carreira tão funda-mentais para a vida das pessoas não admiraque estas tenham constituído, desde osmomentos fundadores da PsicologiaVocacional (Savickas & Baker, 2005) umdos tópicos frequentemente estudados noâmbito desta disciplina. Em particular, nastrês últimas décadas do século vinte (e.g.,Brown, 1990; Phillips & Jome, 2005; Pitz& Harren, 1980; Slaney, 1988), houve porparte dos investigadores um assinalávelrevigoramento do interesse acerca do papelque as teorias da decisão podem desem-penhar na predição e explicação do com-portamento de carreira e das suas vicis-situdes (dificuldades de decisão, ou inde-cisão de carreira).O estudo do processo de decisão de car-reira e, concomitantemente, das dificulda-des (indecisão) e barreiras que assolam odecisor neste processo é, compreensivel-mente, uma matéria complicada dedeslindar. Sendo a complexidade do fenó-meno um aspecto amplamente aceite peloscientistas que o pretendem descrever,explicar e, na medida do possível, con-

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trolar, não admira que ao longo dos anosvários programas de investigação tenhamsido encetados (para uma visão geral veja-se, por exemplo, Phillips & Pazienza, 1988;Silva, 1997, 2004). No caso concreto daindecisão da carreira, aspecto mais direc-tamente relacionado com tema deste tra-balho, pelo menos duas linhasprogramáticas têm merecido um interessecontinuado e sistemático por parte dosinvestigadores (Silva, 1997, 2004; Santos,2007; Savickas, 1989; Slaney, 1988). Emprimeiro lugar, podemos destacar o vo-lumoso número de trabalhos que procura-ram identificar as característicaspsicossociais e demográficas que permitemdiferenciar os sujeitos indecisos dos sujei-tos decididos. Esta abordagem diferencialda indecisão produziu resultados mistos, porvezes confusos e algumas vezes contradi-tórios ou inconsistentes (Harman, 1973).Um segundo grupo de investigadores,procurando uma solução para a situaçãode confusão herdada da psicologia dife-rencial da indecisão, investiram fortemen-te na construção de instrumentos e/ou debaterias de indicadores, precisos (fiáveis)e válidos, que permitissem realizar umadiscriminação mais fina e sensível entreindivíduos decididos e indecisos, por umlado, e, especialmente, entre diferentestipos de indecisão, por outro. Esta abor-dagem psicométrica da indecisão de car-reira, complementada por contributos te-óricos (e empíricos) igualmente relevantespropugnados pela corrente desenvolvi-mentista de carreira (e.g., Super, 1957,1980), constituiu um forte impulso, sobre-tudo visível durante as décadas de oitentae noventa do século passado, para o avançodo conhecimento existente sobre a inde-cisão de carreira. Um dos resultados maisemblemáticos desses esforços é visível noamplo leque de procedimentos de medida(e.g., escalas de autoavaliação, inventári-

os) que foram construídos nesse período(para uma recensão completa veja-se, porexemplo, Savickas, 1992; Silva, 1997,2004; Slaney, 1988).Apesar dos inegáveis avanços no estudodas dificuldades de tomada de decisão decarreira proporcionados pela existência demelhores medidas e indicadores maisrobustos do fenómeno, várias especialistascontinuam a afirmar que o domínio con-tinua eivado de incertezas e marcado porinconsistências difíceis de explicar(Tinsley, 1992). Como antídoto para estasituação inconfortável alguns autores pro-curam soluções e inspiração em novasabordagens teóricas do fenómeno. Emparticular a abordagem construtivista (e.g.,Cochran, 1991; Savickas, 1995) e sistémica(ou dos sistemas familiares), nomeadamen-te, representada por Blustein, Walbridge,Friedlander e Palladino (1991), Lopez(1989, ver também, Lopez & Andrews,1987) e Kinnier, Brigman e Noble (1990),merecem um destaque particular.Outra linha de trabalhos, na qual o presenteestudo se inscreve, procurou fundar-se nosmodelos explicativos da tomada de decisãohumana e, sobretudo, naqueles que directa-mente intentaram a sua aplicação ao con-texto das escolhas relacionadas com a car-reira (e.g., Brown, 1990; Gati, 1986; Harren,1979; Jepsen & Dilley, 1974; Mitchell &Krumboltz, 1984; Pitz & Harren, 1980).De particular interesse para o presentetrabalho, porém, é a taxinomia das difi-culdades na tomada de decisão de carreiraproposta por Gati, Krauz e Osipow (1996)que será apresentada de seguida.

Taxinomia das Dificuldades de Decisãode Carreira

Em resposta ao criticismo recorrente sobreo alheamento existente entre as teorias da

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escolha e do desenvolvimento de carreirae a teorização sobre o fenómeno da in-decisão de carreira e, em particular, do seudiminuto contributo para a construção dasferramentas psicométricas propostas paraa sua avaliação (e.g., Slaney, 1988; Tinsley,1992), Gati, Krausz, e Osipow (1996),elaboraram uma taxinomia das dificulda-des de decisão de carreira. A classificaçãoproposta pelos autores parte do modelo deum “decisor de carreira ideal.” Com estaexpressão os autores referem-se, abstrac-tamente, a uma pessoa que está conscienteda necessidade de efectuar uma decisãovocacional, deseja fazê-la, e é capaz detomar a decisão “certa”, ou seja, umadecisão baseada no processo adequado eque, simultaneamente, apresenta a máxi-ma compatibilidade com os objectivos dodecisor (Gati et al., 1996). Postula-se, deseguida, que qualquer desvio deste mode-lo ideal constitui um problema potencial,que afectará o processo de decisão decarreira numa de duas maneiras possíveis:(a) inibindo o indivíduo de tomar umadecisão ou, então, (b) conduzindo-o a umadecisão de qualidade inferior (nãooptimizada). Mais especificamente, depoisde reverem os principais modelos dedecisão e algumas das taxionomias dosproblemas associados com a escolha e odesenvolvimento de carreira (e.g.,Campbell & Cellini, 1981; Brown, 1990;Gati, 1986; Gelatt, 1962; Mitchell &Krumboltz, 1984; Pitz & Harren, 1980;Rounds & Tinsley, 1984), Gati et al. (1996)propõem uma representação estruturalhierárquica das dificuldades de decisão decarreira. Num primeiro estrato separam asdificuldades que podem ocorrer antes doinício do processo de decisão daquelas quesurgem durante o processo, propriamentedito. Num segundo nível encontram-se astrês categorias principais: Lack ofReadiness (Falta de Prontidão), Lack of

Information (Falta de Informação) eInconsistent Information (Informação In-consistente). As duas últimas referem-sea dificuldades que podem advir durante oprocesso de decisão enquanto que a pri-meira remete para as dificuldades que têmlugar antes do episódio de decisão terinício. No terceiro nível de generalidadeda taxinomia encontram-se representadasdez categorias específicas de dificuldades.Dentro da categoria principal de Falta deProntidão (modelo taxinómico revisto) faz-se uma distinção entre três categorias: Lackof Motivation (Falta de Motivação),Indecisiveness (Indecisividade) eDysfunctional Beliefs (Crenças Disfunci-onais). Estas três subcategorias reflectem,respectivamente pela ordem que foramapresentadas, dificuldades devidas à faltade motivação para se implicar no processode decisão, indecisão generalizada a res-peito de todos os tipos de tomada dedecisão, e crenças disfuncionais (e.g.,crenças irracionais) acerca da decisão decarreira. A categoria Falta de Informação,por sua vez, integra quatro subcategorias:Lack of Information about the CareerDecision Making Process/Falta Informa-ção sobre o Processo de Tomada deDecisão de Carreira (Passos), Lack ofInformation about the Self /Falta de In-formação sobre o Self, Lack of Informationabout Occupations/Falta de Informaçãosobre Profissões, Lack of Information aboutWays of Obtaining Information/Falta deInformação sobre os Meios de ObterInformação. Finalmente, a categoria Infor-mação Inconsistente integra trêssubcategorias: Unreliable Information/In-formação Duvidosa, Internal Conflicts/Conflitos Internos (inclui conflitos inter-nos ao indivíduo); External Conflicts/Conflitos Externos (inclui conflitos queenvolvem outros significativos na vida doindividuo).

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Para além das três categorias principais edas dez categorias mais específicas, Gatiet al. (1996) consideram que o modeloteórico pode ser mais finamente elabora-do, tendo para o efeito construído 44dificuldades específicas, representativas dascategorias e subcategorias da taxinomia (oApêndice do texto de Gati et al. (1996)contém a lista das 44 dificuldades indi-viduais incluídas no modelo).

Career Decision-making DifficultiesQuestionnaireO Career Decison-making DifficultiesQuestionnaire (CDDQ), na sua versãooriginal, foi construído por Gati et al.(1996) para investigar empiricamente avalidade da taxinomia teórica das dificul-dades relacionadas com o processo detomada de decisão de carreira. Esta fer-ramenta psicométrica permite que cadaindivíduo se autoavalie em cada uma das44 dificuldades específicas propostas, numaescala de tipo Likert com 9 pontos (1=Doesnot describe me; 9=Describes me well).Com base nas pontuações recolhidas nositens do questionário, podem construir-se14 pontuações distintas, 10 corresponden-tes às subcategorias, 3 respeitantes àscategorias principais e 1 uma pontuaçãoreferente ao cômputo total dos itens.O CDDQ foi construído obedecendo a umcuidadoso plano de desenvolvimento, quese encontra descrito de forma detalhadano artigo de Gati et al. (1996). Os itensforam inicialmente escritos em hebraico,tendo sido posteriormente traduzidos parainglês (para ver uma amostra de itens doCDDQ usar a seguinte URL: http://kivunim.huji.ac.il/cddq/items.htm). Paraalém da versão original com 44 itens, Gatie colaboradores construíram outras versõesmais abreviadas deste questionário. Emparticular Gati e Saka (2001 a) produzi-ram três versões distintas do CDDQ em

correspondência com três situações dedecisão diferentes (escolhas vocacionaispós 9º ano, escolhas optativas no 10º anoe escolhas pós 11º ano). Posteriormente,os mesmos autores (Gati & Saka, 2001 b),elaboraram uma versão do CDDQ para seradministrada na Internet. Este instrumentocontém apenas 34 itens (dos quais dois sãoutilizados para detectar padrões de respos-tas “questionáveis”). Na presente investi-gação iremos utilizar esta versão abrevi-ada do questionário (CDDQ-34 itens).O CDDQ, em particular a versão original,encontra-se traduzido em diferentes línguase foi adaptado em distintas culturas epaíses. Existem, actualmente, versões emlíngua hebraica, inglesa, árabe e chinesa(Taiwan e República Popular da China).Esta é primeira investigação que utilizauma versão em língua portuguesa doquestionário (para uma revisão completados estudos realizados, até à data, com oCDDQ, consulte-se o seguinte endereço:http://kivunim.huji.ac.il/cddq/addinf1.htm).A taxinomia, e o instrumento que aoperacionaliza, foi testada e recebeu su-porte empírico em diversas investigações(e.g., Amir & Gati, 2006; Albion &Fogarty, 2002; Gaffner & Hazler, 2002;Gati et al., 1996; Gati, Osipow, Krausz,& Saka, 2000; Gati & Saka, 2001 a, b;Gati, Saka, & Krausz, 2001; Hijazi &Tatar, & Gati, 2004; Kelly & Lee, 2002;Kleiman & Gati, 2004; Kleiman, Gati, etal., 2004; Lancaster, Rudolph, Perkins, &Patten, 1999; Mau, 2001; Morgan & Ness,2003; Osipow & Gati, 1998). A estruturada taxinomia foi validada, inicialmente,através da análise de agrupamentos (e.g.,Gati et al., 1996), tendo-se concluído que,em geral, há uma boa correspondênciaentre o modelo teórico (as categoriasprincipais e subcategorias anteriormenteexplanadas) e os dados empíricos, embo-ra, por vezes tenham sido notadas algumas

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inconsistências (por exemplo, sobre acomposição da categoria relativa à Faltade Prontidão). Mais recentemente, tem-seassistido a um crescente recurso por partedos investigadores às técnicas de análisefactorial confirmatória, incluídas nosmodelos de equações estruturais, com ointuito de averiguar os aspectos estruturaisda CDDQ (e.g., Albion & Fogarty, 2002).Outros aspectos relacionados com a va-lidade dos resultados, nomeadamente a suavalidade convergente, concorrente ediscriminante, têm recebido atenção porparte de diversos investigadores, sendo aavaliação geralmente positiva. Finalmen-te, no que diz respeito à precisão dosresultados, quer quanto à consistênciainterna das respostas, quer no que toca àestabilidade temporal dos mesmos, asevidências apuradas são maioritariamenteboas, embora subsistam algumas questõespor resolver relativamente às escalas queintegram a categoria de Falta de Prontidão(e.g., Creed & Yin, 2006; Kelly & Lee,2002; Lancaster et al., 1999). A primeiraanálise da precisão dos resultados foirealizada por Gati et al. (1996), em doisgrupos diferentes de jovens adultos, umem Israel e outro nos EUA. Na amostraisraelita o coeficiente alfa de Cronbachmediano, para o conjunto das escalas, foide .78, e o coeficiente de teste-retestemediano foi de .65; na amostra de estu-dantes universitários norte-americanosapenas foi medida a consistência interna,sendo a mediana dos coeficientes de .77.Para o resultado total no CDDQ, o alfade Cronbach foi de .95, em ambos osgrupos de participantes. Estudos realiza-dos posteriormente, nomeadamente, comamostras de participantes mais jovens(estudantes do 9º ano e do ensino secun-dário) têm, em geral, apurado valoressimilares (e.g., Hijazi et al., 2004; Gati &Saka, 2001 a). Existe alguma evidência de

que a maioria dos coeficientes de consis-tência interna são moderados a elevados,para a maioria das escalas, com excepçãodas que servem de indicadores da catego-ria de Falta de Prontidão (especialmente,a escala de Crenças disfuncionais que, porsua vez, afecta adversamente a performancedo factor de que é a parte integrante). Estaescala tem revelado, praticamente, emtodos os estudos até agora realizados aspiores performances em termos defiabilidade.Em suma, o CDDQ é uma medida robustae abrangente das dificuldades de decisãode carreira (Osipow, 1999; Silva, 2004),que reúne imensas potencialidades para oestudo e a intervenção no processo deescolha e desenvolvimento de carreira, bemcomo para a investigação internacional einter cultural sobre a indecisão de carreira.

Objectivo desta investigação

Como referimos anteriormente o primeiroestudo empírico sobre o CDDQ foi rea-lizado com base em amostras recolhidas,simultaneamente, em Israel e nos EstadosUnidos da América (Gati et al., 1996). OCDDQ tem sido, desde então, uma medidaextensivamente usada em vários países econtextos culturais (e.g., Creed & Yin,2006; Hijazi et al., 2004; Mau, 2001;Morgan & Ness, 2003; Tien, 2005; Zhou& Santos, 2007). Este dado atesta o in-teresse suscitado por este questionário entrea comunidade internacional de investiga-dores. Até à presente data o CDDQ nãofoi alvo de qualquer adaptação para alíngua Portuguesa, assim, o principalobjectivo deste estudo é proceder a essaadaptação e dar início à análise das suasqualidades psicométricas, nomeadamente,no que diz respeito à precisão (e.g., con-sistência interna) e à validade (e.g.,

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construto e concorrente) dos resultadosrecolhidos numa amostra de estudantesPortugueses.

Método

ParticipantesA amostra (não probabilística) inicial,recolhida no âmbito dos trabalhosconducentes à obtenção do grau de Mestrepela segunda autora deste estudo, incluía244 alunos frequentando o 9º ano deescolaridade em escolas localizadas, exclu-sivamente, nas regiões da Beiras (litorale interior). O exame preliminar da basede dados revelou que 13 participantes(5.3% do total) tinham um número derespostas omissas superior a 5%, nasvariáveis que pretendíamos estudar. Umavez que os casos restantes eram suficien-tes para as análises estatísticas planeadas,todos os participantes com valores omis-sos foram removidos do ficheiro de dados.Assim, a amostra definitiva é constituídapor 231 estudantes, dos quais 128 (55.4%)são do sexo feminino e 103 são do sexomasculino. A média da idade para oconjunto da amostra é de 15.5 anos (DP= .85 anos; amplitude: 15 – 19 anos). Aopção de recolhermos dados em alunosdo 9º ano de escolaridade deveu-se aofacto de, à luz do sistema educativoPortuguês, no final deste nível de ensinose requerer – formalmente e pela primei-ra vez – aos alunos que tomem umadecisão acerca do seu futuro formativoe profissional.

InstrumentosCareer Decision-Making DifficultiesQuestionnaire – CDDQ34q (versão Por-tuguesa). A versão inglesa reduzida doCDDQ (Gati & Saka, 2001 b) serviu debase para a tradução das instruções e dos

itens para a língua Portuguesa. No pro-cesso de tradução tivemos em conta aslinhas orientadoras que os especialistas daárea do testing têm vindo a enfatizar como propósito de se alcançarem formasequivalentes dos instrumentos de medida(e.g., Hambleton & Kanjee, 1995; Van deVijver & Hambleton, 1996). Desta forma,a versão inglesa foi inicialmente traduzidapara Português por um dos autores desteestudo. Essa versão foi de seguida revistapelo outro autor, que procedeu a pequenasalterações no fraseamento de alguns itens.De seguida, o questionário foi retraduzidopara o inglês, por um tradutor profissionallicenciado em Línguas Modernas (Portu-guês/Inglês). A retradução foi de seguidaenviada ao primeiro autor do CDDQ(Itamar Gati), tendo sido obtida aprovaçãopara a versão retraduzida (com ligeirasalterações) e autorização para a sua ad-ministração (Itamar Gati, comunicaçãopessoal, Dezembro 2005).Na parte inicial do questionário osrespondentes são convidados a fornecerinformação acerca da idade, sexo e onúmero de anos de escolaridade comple-tados. Devem ainda indicar se já consi-deram alguma área de especialização ouocupação (Sim/Não) e, em caso afirma-tivo, o grau de confiança que têm nessamesma escolha (1 = “Nada confiante”, 9= “Muito confiante”). De seguida surgemas instruções acerca do modo como se deveresponder e cada um dos itens, propria-mente ditos. Para responderem a cadaquestão os participantes deverão utilizaruma escala de Likert com 9 níveis paraindicar em que medida cada uma dasdificuldades apresentadas descreve a suasituação actual (1 = “Não me descreve”,9 = “Descreve-me bem”). A última ques-tão do CDDQ refere-se à severidade glo-bal das dificuldades de tomada de decisãode carreira, igualmente aferida através de

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uma escala com 9 níveis (1 = “baixa”,9 = “alta”). Os resultados nas 10 cate-gorias de dificuldades (bem como nas trêsprincipais categorias e no resultado totalno CDDQ) são definidos como a médiados itens que lhes pertencem (amplitude1-9). Pontuações mais elevadas traduzemmaior grau de dificuldade em tomardecisões de carreira em todas assubcategorias e categorias consideradas.Evidências acerca da precisão (consistên-cia interna) e da validade dos resultadosrecolhidos com o Questionário de Difi-culdades de Decisão de Carreira serãoapresentados numa secção subsequentedeste trabalho.

Vocational Identity Scale (VIS). Paraexaminarmos a validade concorrente dosresultados do CDDQ administramos, aosparticipantes no estudo, uma medida doseu nível de identidade vocacional. A VISintegra, juntamente com a OccupationalInformation (OI) e a Barriers Scale (BS),o instrumento My Vocational Situation(MVS) desenvolvido por Holland, Daiger,e Power (1980). A VIS (denominada emlíngua Portuguesa, Escala de IdentidadeVocacional), foi traduzida e adaptada parao nosso país por Silva (1997, 2005) eintegra 18 itens de resposta dicotómica(verdadeiro/falso). O conceito de identida-de vocacional é definido por Holland etal. (1980) como “a posse de uma imagemclara e estável dos nossos objectivos/metas,interesses, personalidade e talentos” (p. 1).Postula-se que níveis mais elevados desteconstruto estejam associados a um proces-so mais fácil e não problemático de de-cisão de carreira e a uma maior confiançanas capacidades que o próprio sujeito temde efectuar uma “boa” escolha. As pon-tuações na VIS situam-se entre 0 e 18pontos, e quanto maior a pontuação obtida

pelo respondente, maior será, o seu sen-tido de identidade vocacional. A VIS temsido alvo de vários estudos no domínioda carreira, denotando estar associadamoderada a fortemente com outras medi-das da indecisão da carreira (e.g, CareerDecision Scale, de Osipow, 1987). Váriosestudos com a VIS têm, em geral, con-firmado as suas características positivas aonível da consistência interna (com oscoeficientes situando-se entre .86 e .89,segundo Holland et al., 1980). Nos estu-dos realizados com a versão portuguesa,em duas amostras de adolescentes, obti-veram-se valores de consistência internade .77 e .78, respectivamente (Silva, 1997,2005). Na amostra observada neste estudoobteve-se um coeficiente de consistênciainterna de .79. Espera-se obter uma rela-ção inversa e estatisticamente significativa(p < .05) entre o nível de identidadevocacional e as 14 pontuações derivadasdas respostas ao CDDQ.

ProcedimentoOs dados foram recolhidos no âmbito desessões de grupo de orientação vocacional,no anos lectivo de 2004/2005 junto dealunos a frequentarem o 9º ano de esco-laridade em escolas básicas do segundo eterceiros ciclos e secundárias afectas àDirecção de Educação da Região Centro.Depois de se terem clarificado os objec-tivos do estudo a efectuar, foi solicitadoo consentimento dos alunos para a apli-cação das provas. Para além das instruçõesque acompanham cada uma das escalas uti-lizadas, foram dadas indicações precisasrelativamente a cada uma delas, bem comoos esclarecimentos inerentes à sua aplica-ção. Os participantes responderam emgrupos de cerca de 10 elementos (númeromédio de elementos dos grupos das ses-sões de orientação). A recolha foi feita num

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momento único. Além do CDDQ e da VISforam ainda administrados outros inventá-rios que, todavia, não foram objecto deanálise neste estudo (cf., Ramos, 2006).

Resultados

Fiabilidade dos resultados da versãoPortuguesa do CDDQAs médias e desvios-padrão para as sub-escalas, escalas e resultado total do CDDQconstam do Quadro 1. A média maisbaixa, nesta amostra, corresponde à ca-tegoria Falta de Motivação (M = 3.16)e a mais alta à escala CrençasDisfuncionais (M = 5.56), ambas asescalas pertencem à categoria Falta deProntidão. A maior parte das restantesmédias localizam-se em torno dos 4-5pontos. De facto, o valor da média parao total do CDDQ é de 4.41. Os valores

de dispersão são adequados face à am-plitude das escalas do CDDQ (os desvi-os-padrão estão todos acima de 1 unida-de). Na última coluna do Quadro 1 apre-sentam-se os coeficientes alfa deCronbach para cada uma das escalas. Asduas escalas com índices de fiabilidademais baixos são as Crenças Disfuncionaise Falta de Motivação (.52 e .68, respec-tivamente). Todas as restantes escalasapresentam valores bastante aceitáveis deconsistência interna (a Mediana para os14 coeficientes é de .81). O alfa deCronbach para o total no CDDQ é de .93.De facto, os valores de homogeneidadedas respostas para as categorias princi-pais, exceptuando o relativo à Falta deProntidão (.64), são bastante elevados,quer para a escala Falta de Informação(.93), quer para a escala InformaçãoInconsistente (.92).

sadedadilibaifedsetneicifeoceoãrdap-soivseD,saidéM-1ordauQ)QDDC(arierraCedoãsiceDedsedadlucifiDedoiránoitseuQodsalacsE

alacsE snetIedoremúN M PD hcabnorCaflA

oãditnorPedatlaF

oãçavitoMedatlaF 3 61.3 07.1 86.

edadivisicednI 3 70.5 97.1 17.

sianoicnufsiDsaçnerC 4 65.5 04.1 25.

oãçamrofnIedatlaF

ossecorPodacrecA 3 60.5 38.1 38.

fleSodacrecA 4 75.4 09.1 58.

seõssiforPsadacrecA 3 48.4 28.1 48.

sianoicidAsetnoFedacrecA 2 03.4 98.1 08.

etnetsisnocnIoãçamrofnI

asodivuDoãçamrofnI 3 20.4 17.1 37.

sonretnIsotilfnoC 5 90.4 47.1 97.

sonretxEsotilfnoC 2 64.3 29.1 18.

oãditnorPedatlaF 01 06.4 01.1 46.

oãçamrofnIedatlaF 21 96.4 26.1 39.

etnetsisnocnIoãçamrofnI 01 68.3 65.1 29.

QDDClatoT 23 14.4 62.1 39.

132=N:atoN

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Relação entre o CDDQ a VIS e apercepção da “severidade” das dificul-dades de decisão

O Quadro 2 apresenta os coeficientes decorrelação produto-momento de Pearsonentre cada uma das 10 escalas do CDDQ,as três categorias principais e o resultadototal, por um lado, e o total da VIS e dograu percebido de severidade/gravidade dasdificuldades de decisão de carreira, poroutro. Como esperávamos a maioria dascorrelações entre os resultados do CDDQe o nível de identidade vocacional, me-dido pela VIS, são negativas e estatisti-camente significativas. A única excepçãodiz respeito à escala Crenças Disfuncionais(r = .13, p > .05). Os restantes coeficientes

de correlação situam-se entre -.18 (Faltade Motivação) e -.55 (para a categoriaprincipal que avalia a Falta de Informa-ção).Um padrão de relações similares pode ver-se no Quadro 2 para a questão que avaliaa percepção do grau de severidade dasdificuldades de decisão de cada participan-te. Mais uma vez, com uma única excep-ção (o resultado nas Crenças Disfunci-onais), todos os coeficientes apurados sãopositivos, como teoricamente era espera-do, e estatisticamente significativos, em-bora, as magnitudes sejam, em geral,inferiores às registadas entre o CDDQ ea VIS. A relação mais forte que encon-tramos refere-se à escala do CDDQ Infor-mação Inconsistente (r = .43, p < .01).

edoiránoitseuQodsalacsEsaertneseõçalerroC-2ordauQSIValacsEae)QDDC(arierraCedoãsiceDedsedadlucifiD

oãsicededsedadlucifided”edadireves“eduargoe

alacsEedaditnedI

)SIV(lanoicacoVamocoãçalerroC

"edadireves"

oãditnorPedatlaF

oãçavitoMedatlaF **81.- *41.

edadivisicednI **14.- **22.

sianoicnufsiDsaçnerC sn31. sn30.-

oãçamrofnIedatlaF

ossecorPodacrecA **84.- **43.

fleSodacrecA **35.- **04.

seõssiforPsadacrecA **84.- **63.

sianoicidAsetnoFedacrecA **44.- **62.

etnetsisnocnIoãçamrofnI

asodivuDoãçamrofnI **73.- **72.

sonretnIsotilfnoC **94.- **64.

sonretxEsotilfnoC **52.- **04.

oãditnorPedatlaF **62.- **81.

oãçamrofnIedatlaF **55.- **93.

etnetsisnocnIoãçamrofnI **24.- **34.

QDDClatoT **15.- **14.

ovitacifingisoãn=sn;132=N:atoN50.<p*10.<p**

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Validade concorrente

As respostas dos participantes à questão“Já considerou qual a área em que gostariade se especializar ou qual a ocupação quegostaria de escolher?”, incluída no iníciodo questionário do CDDQ, permitiu-nosconstituir dois grupos: “decididos” (n =167) e “indecisos” (n = 64). O Quadro 3apresenta as médias, os desvios-padrão, osrácios F e as magnitudes do efeito (co-eficientes eta parciais), para as 10subcategorias, as três categorias principaise o resultado total no CDDQ, em cada umdos grupos considerados. Depois de ter-mos verificado as assunções subjacentesà utilização de testes estatísticosparamétricos, nomeadamente, quanto ànormalidade (e.g., todos os coeficientes deassimetria e de achatamento encontram-seno intervalo 1), linearidade,homogeneidade das matrizes de variância-covariância (e.g., teste M de Box), e dahomogeneidade das variâncias (e.g., testede Levene), foram calculadas duasMANOVAS (uma com as 10 subcategoriase outra com as três categorias principais)e uma ANOVA para o resultado total noCDDQ. Em todas as análises usámos comocritério de significância p < .05. A pri-meira MANOVA mostra que os doisgrupos diferem estatisticamente na variá-vel compósita (Lambda de Wilks’s = .90,p < .001). As ANOVAS univariadas,relatadas no Quadro 3, mostram que osparticipantes “decididos” apresentammenores dificuldades do que os “indeci-sos” em seis das subcategorias do CDDQ(Crenças Disfuncionais, em todas as ca-tegorias incluídas no categoria Falta deInformação, com excepção da escala“Outras Fontes Adicionais de Informação”,Informação Duvidosa e Conflitos Internos).Apesar das diferenças entre os gruposserem confiáveis, do ponto de vista esta-

tístico, o tamanho do efeito (aferido pelocoeficiente eta quadrado parcial) é, geral-mente, fraco.Na segunda parte do Quadro 3 apresen-tamos os resultados da MANOVA efec-tuada com as três categorias principais doCDDQ como variáveis dependentes. Oteste multivariado revelou que existe umefeito estatisticamente significativo(Lambda de Wilks’s = .81, p < .001). Nasanálises de variância univariadas realiza-das subsequentemente verificámos que ossujeitos “decididos” apresentam médiasmais baixas nas categorias Falta de Infor-mação e Informação Inconsistente, nãodiferindo dos participantes “indecisos” naescala Falta de Prontidão (p > .05). Naparte inferior do Quadro 3 apresentamosa informação relativa à ANOVA efectu-ada sobre o resultado total do CDDQ.Como pode ver-se os participantes “deci-didos” apresentam, em média, menordificuldade com o processo de tomada dedecisão de carreira (F = 6.64, p < .05),embora, o tamanho do efeito, seja tambémneste caso fraco.Os participantes que responderam já terescolhido uma área de especialização ouocupação (nesta amostra, n = 167, reve-laram-se “decididos”) eram de seguidaconvidados a avaliarem numa escala de 9pontos a firmeza que colocavam nessadecisão (1 = Nada confiante; 9 = Muitoconfiante). Nesta sub-amostra calculámosos coeficientes de correlação de Pearsonentre esta variável e as 14 pontuaçõesderivadas a partir de CDDQ e, ainda, ototal na VIS. Relativamente às pontuaçõesno CDDQ esperávamos relações negativascom o grau de confiança na escolha,enquanto que com a VIS era esperada umacorrelação positiva. O padrão de correla-ções observado, em geral, está conformecom a expectativa teórica, embora comalgumas excepções. Assim, como previ-

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mos, uma maior confiança na decisão estáassociada a uma menor dificuldade nasseguintes escalas do CDDQ: Indecisividade(r = -.24, p < .01), Falta de Informaçãosobre o Processo (r = -.22, p < .01), Self(r = -.29, p < .01), Ocupações (r = -.25,p < .01), Meios Adicionais (r = -.21, p< .01). Obtiveram-se ainda correlaçõesestatisticamente significativas com a ca-tegoria principal Falta de Informação (r= -.28, p < .01) e o resultado total noCDDQ (r = -.20, p < .05). A correlaçãode Pearson com o total na VIS foi, comoesperávamos, positiva e significativa (r =.44, p < .01). Finalmente, a correlação de

.25 (p < .01) entre a subcategoria CrençasDisfuncionais e o grau de confiança nadecisão, embora estatisticamente significa-tiva, é incongruente do ponto de vistateórico.

Discussão

O século vinte e um emerge num contextode crescente globalização e internaciona-lização, de enormes e vertiginosas mudan-ças económicas, sociais e políticas, circuns-tâncias que levaram a questionar a “bon-dade” explicativa das perspectivas clássi-

sodoãçarapmocàsovitaleratesetneicifeoceFserolav,oãrdap-soivseD,saidéM-3ordauQ"?oãssiforp/aeráamuuehlocseáJ"QDDCodoãtseuqà"oãN".sv"miS"marednopsereuq

alacsE

?aeráamuuoredisnocáJ

F atEsodidiceD/miS a sosicednI/oãN b

M PD M PD

s’skliW 100.<p,40.8=F;09.=

oãditnorPedatlaF

oãçavitoMedatlaF 80.3 87.1 83.3 54.1 34.1 600.

edadivisicednI 60.5 37.1 01.5 49.1 20. 100.

sianoicnufsiDsaçnerC 07.5 73.1 91.5 44.1 *03.6 720.

oãçamrofnIedatlaF

ossecorPodacrecA 47.4 97.1 78.5 07.1 **28.81 670.

fleSodacrecA 23.4 78.1 22.5 28.1 **27.01 540.

seõssiforPsadacrecA 06.4 48.1 54.5 26.1 **24.01 440.

sianoicidAsetnoFedacrecA 91.4 98.1 95.4 98.1 60.2 900.

etnetsisnocnIoãçamrofnI

asodivuDoãçamrofnI 78.3 37.1 14.4 26.1 *67.4 020.

sonretnIsotilfnoC 58.3 08.1 27.4 83.1 **79.11 050.

sonretxEsotilfnoC 04.3 39.1 06.3 09.1 45. 200.

s’skliW 100.<p,90.5=F;18.=

oãditnorPedatlaF 16.4 11.1 65.4 01.1 31. 100.

oãçamrofnIedatlaF 74.4 26.1 82.5 64.1 **93.21 150.

etnetsisnocnIoãçamrofnI 17.3 26.1 42.4 13.1 *56.5 420.

QDDClatoT 82.4 03.1 57.4 70.1 *46.6 820.

46=Nb;761=Na50.<p*10.<p**

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cas da Psicologia Vocacional, propostas noâmbito de uma visão da carreira e do papeldo trabalho na vida das pessoas (e.g,Richardson, 1993) que nos dias de hojejá não é possível defender. As pessoasvêem-se hoje confrontadas com inúmerastransições que se estendem bem para alémdo período da adolescência, sendo estas,na verdade, co-ocorrentes ao longo de todoo curso de vida das pessoas. Estes mo-mentos de transição (e.g., escola-trabalho,emprego-desemprego) obrigam a um pro-cesso contínuo de planeamento, explora-ção e de tomada de decisão de carreira(cf. a noção de maxi e mini-ciclo e oconceito de reciclagem, proposto porSuper, 1980). Cada nova transição acar-reta uma elevada taxa sobre as capacida-des cognitivas, emocionais e sociais daspessoas e, consequentemente, potenciam odesencadear de estados de indecisão, maisou menos prolongados, dependendo entrediversos factores, dos atributos psicológi-cos, dos suportes sociais existentes e, evi-dentemente, das próprias características dadecisão (importância, consequências, ur-gência). Desde a década de sessenta quea indecisão de carreira figura como umadas grandes preocupações dos psicólogosvocacionais. Nessa altura os países ociden-tais desenvolvidos experimentavam umenorme surto de evolução económica e umgrande número de pessoas desses paísesbeneficiavam de uma acrescida mobilida-de social ascendente e, simultaneamente,de um maior número de opções educativase profissionais que podiam escolher.Naturalmente, esse acréscimo no leque dealternativas disponíveis desencadeou anecessidade de um maior apoio profissi-onal àqueles que sentiam dificuldades emfazer uma escolha. A sociedade do riscoe da incerteza do século XXI multiplicou,como vimos acima, os momentos deescolha para todas as pessoas e, para além

disso, devido à velocidade com que ocor-rem as mudanças na economia e nascondições sociais, a complexidade doprocesso de decisão de carreira aumentouconsideravelmente. A tomada de consci-ência destas tendências e dinâmicas revelaa necessidade de desenvolvermos formasexpeditas e válidas de medir (diagnosti-car) e de intervir sobre os problemas dedecisão de carreira (Osipow, 1999).O presente trabalho insere-se nessa pre-ocupação fundamental que passa porcompreender quais os factores que maisfortemente condicionam o processo dedecisão de carreira, como é que estespodem ser avaliados e, finalmente, quaissão as intervenções que devemos encetarpara resolver as dificuldades que as pes-soas exprimem quando têm de tomardecisões de carreira. Em particular, nestainvestigação, procedemos ao estudo pilotode adaptação para a língua Portuguesa doCareer Decision-Making DifficultiesQuestionnaire (CDDQ-34q), de Gati et al.(1996; Gati & Saka, 2001 b). O CDDQpertence à terceira geração de instrumen-tos psicométricos da indecisão de carreira(Osipow, 1999) e é considerado umamedida inovadora e promissora das difi-culdades que sobrevêm durante o processode decisão de carreira. O facto destequestionário ter sido estudado em diferen-tes países e culturas contribuiu igualmentepara a nossa decisão de o adaptar para oportuguês. Um aspecto interessante doCDDQ resulta da sua construção assentarem bases teóricas sólidas propugnadaspelos modelos de tomada de decisãohumana (e.g., Brown, 1990; Gati, 1986;Mitchell & Krumboltz, 1984; Pitz &Harren, 1980), facto que o distingue detodas as outras medidas correntes daindecisão de carreira, cujas origens sãoexclusivamente empíricas. Em particular,o CDDQ mede o conjunto de categorias

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e subcategorias identificadas na Taxinomiadas Dificuldades de Decisão de Carreira(Gati et al., 1996). De acordo com ataxinomia, as dificuldades no processo dedecisão de carreira podem classificar-se emdois momentos, ou fases, (1) antes doprocesso de decisão e (2) durante o pro-cesso de decisão propriamente dito. Asdificuldades que ocorrem antes do proces-so ter início envolvem a falta de prontidãoque pode resultar da ausência de motiva-ção, indecisão generalizada ou crónica e,ainda as que advêm de crençasdisfuncionais (e.g, mitos, crenças irracio-nais) acerca do processo de decisão decarreira.As dificuldades que têm lugar durante oprocesso de decisão de carreira podemainda subdividir-se na falta de informaçãoacerca dos passos implicados no processoem si mesmo, acerca do eu/self (interes-ses, valores, traços de personalidade), dasprofissões (requisitos, recompensas), e deoutras maneiras adicionais de obter maisinformação. Sob a categoria de informa-ção inconsistente incluem-se os problemasque resultam de informação duvidosa,conflitos internos e externos.Neste trabalho examinámos, em primeirolugar, as propriedades psicométricas dosresultados recolhidos com a versão Por-tuguesa do CDDQ, nomeadamente, quan-to à fiabilidade (consistência interna) nasescalas, sub-escalas e resultado total, numaamostra de 231 estudantes do 9º ano deescolaridade. Os coeficientes alfa deCronbach para as 10 escalas oscilam entre.52 (Crenças Disfuncionais) e .85 (Faltade Informação Acerca do Self), com aMediana = .80. Nas três categorias prin-cipais, Falta de Prontidão, Falta de Infor-mação e Informação Inconsistente, osvalores de consistência interna foram,respectivamente, .64, .93 e .92. Finalmen-te, para o resultado total no CDDQ en-

controu-se um coeficiente alfa de Cronbachde .93. Os valores de homogeneidade dasrespostas aos itens que obtivemos nesteestudo são muito similares aos que têmsido encontrados por outros autores queestudaram as qualidades psicométricas doCDDQ (e.g., Gati et al., 1996; Gati & Saka,2001 a; Lancaster et al., 1999; Mau, 2001;Morgan & Ness, 2003; Osipow & Gati,1998) e, em algumas escalas, são mesmosuperiores aos encontrados por outrosinvestigadores que usaram igualmente aversão reduzida do CDDQ (e.g., Creed &Yin, 2006; Gati & Saka, 2001 b; Hijaziet al., 2004; Kleiman & Gati, 2004). Nestaanálise também verificámos que assubcategorias que descrevem as dificulda-des de decisão que ocorrem durante oprocesso de decisão são bastante maisfidedignas do que as que avaliam a Faltade Prontidão para iniciar o processo. Emespecial as escalas Falta de Motivação eCrenças Disfuncionais apresentam alfas deCronbach demasiado baixos (< .7); estefacto, relativo à deficiente performancedestas escalas, tem sido documentado, deum modo bastante consistente, nas inves-tigações realizadas com o CDDQ. Natu-ralmente, a pior comportamento destasescalas afecta adversamente ahomogeneidade da categoria mais geralonde estão integradas – Falta de Prontidão(alfa de Cronbach = .64, neste estudo). Onível de consistência interna para o con-junto dos 32 itens (resultado total noCDDQ) é, porém, como já referimos muitobom (.93).Para além do grau de precisão dos itens,nesta investigação examinamos igualmen-te alguns aspectos da validade das respos-tas, tendo-se procedido a uma análise davalidade de construto e da validade con-corrente. Para avaliarmos a validade deconstruto as 14 pontuações derivadas dasrespostas ao CDDQ foram correlacionadas

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(coeficiente de correlação de Pearson) como resultado total na Escala de IdentidadeVocacional (VIS) de Holland et al. (1980).Face ao modo como os construtos sãomedidos por cada um dos instrumentosesperávamos que as correlações entreambos fossem negativas e moderadas. Estahipótese foi confirmada uma vez que, comuma única excepção, os coeficientes en-contrados são estatisticamente significati-vos (p < .05), com os valores dos r’soscilando entre -.18 (Falta de Motivação)e -.55 (Falta de Informação), sendo de -.51 o valor da correlação entre o total daVIS e do CDDQ. A força das correlaçõesque encontrámos neste estudo mostra queexiste uma sobreposição fraca a moderadaentre os dois construtos (máximo de 30%de variância comum) e que um menor graude clareza e de definição da identidadevocacional está provavelmente mais asso-ciado a dificuldades que advêm da faltade informação dos participantes sobrevariáveis importantes do processo dedecisão de carreira.A validade concorrente dos resultados doCDDQ foi analisada, por um lado, com basenas correlações obtidas com a percepçãoglobal que os participantes manifestaramacerca das suas dificuldades em tomar umadecisão da carreira e, por outro, através dacomparação de dois grupos (“decididos” vs.“indecisos”), formados a partir das suasrespostas a uma questão que indagava sobrese estes já tinham efectuado uma escolhade uma área ou profissão. Esta não é umaquestão puramente académica para estesparticipantes, uma vez que no final desseano escolar cada um deles teria de encon-trar uma resposta adequada para este pro-blema. Para o subconjunto da amostra dosparticipantes decididos (72% da amostra)calculámos ainda a correlação entre as 14pontuações do CDDQ e o grau de confi-ança dessa decisão.

As correlações entre o grau de severidadedas dificuldades percebidas e as pontua-ções no CDDQ foram, como esperávamos,positivas e na sua maioria, estatisticamen-te significativas (os valores oscilaram entre.14, para a Falta de Motivação, e .46, naescala Conflitos Externos). Os participan-tes que afirmaram sentirem maiores difi-culdades de decisão pontuaram mais altona dimensão do CDDQ que avalia asdificuldades relacionadas com a existênciade Informação Inconsistente, em particu-lar, a que resulta de conflitos internos.As três análises da variância multivariadase univariadas que efectuamos revelaramque as distintas pontuações no CDDQ(categorias, subcategorias e resultado to-tal) permitem diferenciar fidedignamenteos sujeitos decididos dos indecisos, em-bora o contributo das escalas do CDDQpara esta diferenciação seja bastante he-terogéneo. Em particular, deve-se sublinharque as escalas incluídas na categoriarelacionada com a Falta de Informaçãoparecem desempenhar um papel maisrelevante para essa função.Finalmente, na última análise que efectu-ámos, correlacionando as pontuações noCDDQ com o grau de confiança atribuídoà decisão já tomada (apenas com osparticipantes que se declararam decididos),verificámos que, em geral, os sujeitos maisconfiantes apresentam, como esperávamos,menores dificuldades de decisão.No seu conjunto os resultados das análisesque efectuámos mostram que a versãoPortuguesa do CDDQ permite, em geral,obter respostas fiáveis na maioria das suasescalas, revelando-se como uma medidabastante adequada das facetas relaciona-das com a Falta de Informação e Infor-mação Inconsistente, dimensões que dizemrespeito às dificuldades que podem sobre-vir durante o processo de decisão decarreira. As análises da validade dos re-

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sultados revelaram-se igualmente bastantepromissoras, nomeadamente, no que res-peita à sua validade convergente (no caso,com o nível de identidade vocacional), querquanto à validade concorrente.

Implicações

Esta primeira investigação com a versãoPortuguesa do CDDQ (forma reduzida)revela que é possível fazer uma avaliaçãoconsistente de um vasto leque de dificul-dades relacionadas com o processo dedecisão de carreira. Uma das caracterís-ticas inovadoras do CDDQ, como tem sidoobservado por vários investigadores, estána abrangência que permite na avaliaçãodas dificuldades de decisão (a partir dasrespostas aos 32 itens do questionáriopodem derivar-se 14 pontuações). Este éum aspecto importante quando se pretendeestudar, avaliar ou intervir no domínio daindecisão de carreira, um fenómeno queos autores consensualmente descrevemcomo complexo e multidimensional (e.g.,Osipow, 1999). Se, como esperamos asinvestigações actualmente em curso, con-firmarem as boas qualidades psicométricasencontradas neste estudo piloto, os inves-tigadores e os profissionais portuguesesinteressados na área da psicologia dacarreira, passam a dispor de um instrumen-to teoricamente fundamentado eempiricamente validado para a análise dasdificuldades na tomada de decisão decarreira.

Conclusão

Diversas investigações têm revelado queum número significativo de pessoas refe-rem ter dificuldade em lidar com as tran-sições na carreira e, particularmente,

quando se vêm confrontados com a ne-cessidade de efectuar uma escolha decarreira. Desde os anos sessenta que ospsicólogos da carreira procuraram desen-volver instrumentos que lhes permitissemfazer uma avaliação objectiva, sistemáticae compreensiva da natureza e do níveldessas dificuldades. O Career Decision-Making Difficulties Questionnaire, desen-volvido por Gati et al. (1996), tem-serevelado na última década como umamedida promissora da indecisão de carrei-ra e, mais especificamente, dos factoresque hipoteticamente contribuem para expli-car as dificuldades que os indivíduosmostram antes e durante o processo detomada de decisão de carreira. As evidên-cias empíricas, recolhidas no âmbito dopresente estudo, sobre a qualidadepsicométrica da versão Portuguesa doCDDQ, quer no que diz respeito à pre-cisão, quer quanto à validade dos resul-tados (construto e concorrente), revelaram-se encorajadoras e atestam o potencial desteinstrumento tanto para o estudo dos as-pectos teóricos relacionados com a deci-são de carreira, como para a avaliação eo delineamento de intervenções psicoló-gicas que procurem resolver as dificulda-des de decisão de carreira dos jovensportugueses.

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