FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos...

85
1 FICÇÃO E CIÊNCIA

Transcript of FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos...

Page 1: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

1

FICÇÃO

E

CIÊNCIA

Page 2: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

2

APRESENTAÇÃO

Tudo que se refere ao Universo é simplesmente maravilhoso. Ao olhar o céu, há

sempre a visão instantânea. Há mistério ao imaginar que há vida num Planeta tão

pequeno como a Terra? E, se realmente a Terra for o único planeta em condições de

vida no Universo? Em contraponto, com um Universo tão imenso, pode sim haver vidas

em outros corpos celestes de outras galáxias, assim como existe na Órion.

Os movimentos dos planetas, o modelo geocêntrico considerava a Terra no

centro do Universo. Toda a crença se manteve em rítmo próprio. Assim morreu a

ciência e Roma triunfou. A fábrica de gênios da Grécia cessara de produzir gênios.

Apagou-se o centro da intelectualidade em Atenas e, ascendeu em Alexandria. As

formas e os símbolos destruíam a originalidade, floresciam os gramáticos. Galeno (130-

210) acabara de morrer. Abaixou a cortina escura sobre a inteligência humana. O

espírito deu aparencia de abandono à matéria. Contudo, bastou alguém iniciar algumas

pesquisas para obter nova descoberta, o sistema heliocêntrico. Ressuscitou a

grandiosidade da imagem criada, combatendo a ignorância e em especial o preconceito.

A compilação e a crítica ocupou o lugar da dedução e pesquisa.

Agora, imagine o Sol e os planetas em órbitas! O sistema possui movimento de

translação, rumo a algo de domínio. Procurei nos livros por este detalhe, revirei a

Internet sobre tudo que existe de Astronomia e, encontrei em parte o que procurava,

sobre o Movimento de Translação Helicoidal dos Planetas. Embora este assunto não

seja tratado pela maioria dos cientistas, neste trabalho manifesto as minhas conclusões

sem nenhuma intenção, que possa ferir suscetibilidades.

Osasco, Janeiro a Junho de 2013.

NASAN XANTOX

(Autor)

Page 3: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

3

ÍNDICE

1. VISÃO DOS FILÓSOFOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Páginas 04 a 08

2. DEFINIÇÕES E DADOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Páginas 09 a 14 2.1 Referencial

2.2. Dados Planetários

2.3. Unidade de Medidas Astronômicas e Definições

2.4. Esfera Celeste

2.5. As Órbitas

2.6. A inclinação do eixo do Planeta Terra

2.7. O Universo

2.8. Condução

2.9. A Energia

2.10. A Radiação

2.11. A Energia Térmica

2.12. Convecção

2.13. Radiação do “corpo negro”

2.14. O efeito fotoelétrico

2.15. Refração

2.16. Batimento

2.17. Ondas Estacionárias

2.18. Ressonância

2.19. Matéria Bariônica

2.20. Prótons

2.21. Quarks

2.22. Nêutrons

2.23. Elétrons

2.24. Neutrinos

2.25. Pósitron

2.26. Fótons

2.27. Compton

2.28. Glúon

2.29. Bóson de Higgs

2.30. Mésons

3. QUEM FOI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Páginas 15 a 73 3.1. Cláudio Ptolomeu

3.2. Nicolau Copérnico

3.3. Giordano Bruno

3.4. Tycho Brahe

3.5. Galileu Galilei

3.6. Johann Kepler

3.7. Isaac Newton

3.8. Albert Einstein

4. IMAGENS EM ANÁLISES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Páginas 74 a 79 4.1. Galáxias.

4.2. Provas objetivas do Sistema Solar (M.T.H.).

4.3. O movimento retrógrado dos Planetas Venus, Urano

(e Plutão).

5. DIMENSÕES DA MATÉRIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Páginas 80 a 83

6. FICÇÃO E CIÊNCIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Páginas 84 e 85

Page 4: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

4

1. VISÃO DOS FILÓSOFOS

É prazeroso ler e imaginar sobre àqueles que vieram e, como pintores, deixaram

suas “pinceladas” de sabedoria à humanidade. Foram camadas aplicadas com

dedicações e esforços pessoais, que proporcionaram “novas matizes”. Não seria justo

deixar de fora, por exemplo: os Filósofos da Natureza. Foram eles os primeiros

Filósofos gregos, que se enteressaram pela Natureza e aos processos naturais.

Ainda hoje um grande número de pessoas pensa: de onde vêm todas as coisas?

Uns mais e outros menos acreditam que, em algum momento tudo surgiu do nada. Entre

os gregos, partiam do fato de que sempre existiu algo ou alguma coisa, que deu início a

tudo. Para estes pensadores gregos a curiosidade era saber, como a água podia se

transformar em peixes, a terra sem vida podia se transformar em plantas e árvores com

suas flores coloridas e perfumosas.

Os primeiros Filósofos acreditavam na existência de uma substância básica, para

a criação de todas as outras coisas. No entanto, a maior preocupação era descobrir

algumas leis naturais e eternas, que possibilitassem entender os fenômenos naturais,

simplesmente observando a Natureza.

Isso no entanto, é algo diferente de explicar os trovões e raios, estações do ano e,

outros acontecimentos no mundo fenômenico dos deuses. Desta forma, a filosofia e os

Filósofos se libertaram da religião. Portanto, foram os primeiros passos em direção a o

que se chamou à posteriore, Ciências Naturais. A grande parte dos pensamentos

filosóficos ficou perdido no tempo e, o que se conhece em nossos dias são escritos por

Aristóteles, que surgiu duzentos anos após os “Filósofos da Natureza”. O pouco que foi

registrado por este grande Filósofo, deixa claro que, os gregos buscavam conhecer a

substância básica, encoberta pelas transformações que ocorrreram na Natureza.

Tales de Mileto (c. 640-550 a.C.) o primeiro Filósofo que se tem notícia. Ele

considerava a água como a base de todas as coisas. Tudo forma na base água e depois

retorna quando se desfaz. Dizem que ele também afirmou que todas as coisas estão

cheias de deuses. Talvez, mais uma vez tenha percebido a existência de gérmens da vida

em toda a terra.

Anaximandro (610 – 547 a.C.), também viveu em Mileto, achava que o mundo

fosse alguma coisa que surgiu, como surgem tantos mundos e se dissolvem nesta coisa

que é chamado de infinito. Anaximandro diferenciava o pensamento de Tales, pois não

imaginava uma substância básica, que a partir dela tudo deu início.

Pitágoras (582 - 5°século a.C.) nasceu em Samos. Um nome que entre os

antigos gregos ainda ressoa. Por essa ou aquela razão, seu nome é familiar a quase todos

nós. Se, se acredita em Astrologia, o vidente favorito gritará “Pitágoras” ao nossos

ouvidos. Caso acredite na Numerologia, dirão que foi ele quem inventou essa ciência de

dizer a sorte. Nas escolas escutamos desde muito cedo, que foi ele quem descobriu que,

num triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos

catetos. Não se agradece por isso! Provavelmente esquecemos o que isso significa. Era

um jovem possuidor do dom da palavra, tinha o poder de vencer e conquistar amigos.

Viajou pelo mundo conhecido da época, chegando à Babilônia, mas o Oriente ainda lhe

acenava. Foi para a Índia e encontrou Buda. Não é verdade que Pitágoras tenha sido um

budista declarado, contudo, o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual. O seu

idealismo pouco prático, tudo revela a influência de Buda. Mesmo assim, voltou para o

Page 5: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

5

Ocidente e encaminhou-se para o Egito. Dizem que foi alí que ele enunciou o famoso

teorema do triângulo.

Pitágoras imiscui-se em questões políticas na cidade italiana de Crotona, onde

constituíra o seu lar. Para os séculos vindouros ele ensinou: primeiro como Astrônomo,

o seu sitema foi o melhor que se conheceu até Copérnico. Afirmava que a terra era

redonda e suspensa no espaço, e não permanecia parada, mas girava em volta de uma

chama central, a que chamava Héstia. Afirmou ainda que, a Terra não era plana e não

estava parada. Os planetas, em consequência disso, também giravam em torno dessa

chama central. Em movimento através do espaço, eles produziam notas claras e fortes,

que nós não ouvimos porque já estamos com elas acostumados.

Após a morte de Pitágoras, os pitagoricianos tinham o costume de se reunir em

casa de um deles. Aí conversavam sobre o Mestre, repassavam as suas teorias e faziam

planos para a mais longa divulgação de suas ideias.

O Pitágoras que falava morreu, mas o que ensinava anda continuou a viver.

Durante mais de cinquenta anos, os seus amigos levaram adiante a sua obra. Para os

homens das ruas, esses pitagoricianos eram gente estranhas, mas, para os instruídos, os

velhos deuses estavam mortos, para o comum das pessoas estavam vivos na sua eterna

juventude.

Os cultuadores de Zeus viam estas reuniões como algo demoníaco. Não

deveriam ser descentes. Do lado de fora de Milo, onde se achava reunida a comunidade

dos discípulos de Pitágoras, juntou-se uma multidão. Milo e seus companheiros o

ignoravam. A multidão avançou sobre a casa, e, obra de um minuto apenas, põe abaixo

as portas. À multidão deparam-se com os heréticos, Milo e os outros. Massacra-os,

incendiando a casa por cima de mais de cinquenta corpos mutilados. Assim terminou a

escola de Pitágoras. Vítimas e assassinos misturaram os pós por muitos séculos a fora.

Os deuses em honra dos quais se praticaram os assassínios, desapareceram das alturas

do Olimpo. Eles próprios se tornaram poeira de mitos. Entretanto, Pitágora vive, e cada

estudioso venera o seu nome quando ouve um harmônico da música das esferas.

Anaxímenes (c. 550-526 a.C.) foi um terceiro pensador de Mileto, que conhecia

o pensamento de Tales sobre a teoria da água. Para Anaxímenes, a terra, o ar, o fogo e a

água eram necessários juntos para existir vida, mas, ele acreditava realmente que o

ponto de partida era o ar, portanto, como Tales, era uma substância básica.

Assim os três pensadores de Mileto acreditavam em uma e só uma substância

primordial, a partir dela tudo se originava. Neste contesto, porém, havia ainda a

dificuldade de saber como manifestava a transformação.

Eis então, que surge Parmênides (c. 530-460 a.C.) que acreditava que tudo

sempre existiu. Nada pode surgir do nada. Nada que possa existir se transformaria em

nada. Ele seguia somente o que sua razão dizia. O dizer: só acredito vendo, para

Parmênides nada significava, pois, ele não acreditava nem vendo. A crença na razão é o

racionalismo, fonte de conhecimento do mundo.

Com Heráclito de Éfeso (c. 535-475 a.C.) o pensamento era que tudo flui. Tudo

está em movimento e nada dura para sempre. Este velho dizer, que conhecemos de

ensinamentos orientais, era também praticado por Heráclito, quando afirmava que não

podemos entrar duas vezes no mesmo rio. Isto é, na segunda vez, o rio e quem entrou, já

não são os mesmos, ambos estão mudados. Este mesmo pensador afirmava a existência

dos opostos, quem se adoecesse saberia o que é a saúde; assim como, quem comesse

Page 6: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

6

uma bela refeição, saberia o que é fome; se nunca houvesse guerras, ninguém saberia o

que é paz.

Surgiu logo após, Empédocles (c. 494-434 a.C.), para tirar a ideia de uma

substância básica, ele trouxe o pensamento da existência de quatros alementos básicos:

terra, ar, fogo e água, à semelhança de Anaxímines. Tudo na Natureza seria uma

combinação dos quatros elementos, de maneira que, voltam finalmente a se separar. As

transformações da Natureza seriam pela combinação das quatro raizes em proporções

diferentes de misturas.

Com Anaxágoras de Atenas (500-428 a.C.) a Natureza era composta por uma

infinidade de partículas minúsculas, invisíveis a olho nu. Para ele tudo poderia ser

dividido ainda em mais partes, mas, mesmo nas ínfimas partes mantinham as

características. Portanto, as partes minúsculas era chamadas por ele de sementes ou

gérmens. Anaxágoras se interessou muito por Astronomia, chegou a afirmar que os

corpos selestes eram feitos da mesma materia que a Terra. Afirmou ainda que a Lua não

tinha luz própria, que recebia o brilho da Terra.

Demócrito de Abdera (c. 460-370 a.C.), na Trácia, acreditava que tudo na

Natureza era constituido de pedrinhas minúsculas, invisíveis, a qual ele deu o nome de

átomo, isto quer dizer, indivisível. Para ele os átomos eram unidades sólidas, alguns

arredondados, outros lisos, irregulares ou retorcidos, para poderem ser combinados e

criar coisas diferentes. Podemos garantir que a teoria atômica de Demócrito estava

quase perfeita. Hoje sabemos que os átomos podem ser divididos, em partículas ainda

menores e elementares. Ele não acreditava numa inteligência ou força que permitisse

intervir nos processos naturais, a única coisa que existe são os átomos e o vácuo,

portanto, ele era um exemplo de materialista. Neste aspécto, ele dizia sobre a

consciência, e acreditava que a alma era composta de átomos especiais, lisos e

arredondados que ao morrer se espalhavam por toda direção, indo se juntar a outra alma,

no momento mesmo em que esta é formada. Desta forma, o homem não possui uma

alma imortal. Com Demócrito a alma está intimamente relacionada ao cérebro, não pode

portanto, possuir qualquer consciência quando o cérebro deixa de funcionar e se

degenera.

Sócrates (470-399 a.C.) o Filósofo mais inigmático que conhecemos. Não

escrevia nada, somente usava a técnica da Maêutica (parto ou dar a luz). Conhecemos a

vida de Sócrates através dos Diálagos de Platão. Há uma mera semelhança entre

Sócrates e Jesus Cristo, pois ambos, não deixaram nada escrito. O que conhecemos

pode não ser totalmente verídico, pois, enquanto Platão falou sobre os ensinamentos de

Sócrates, Mateus ou Lucas disseram sobre o que Jesus disse. Com esse conceito será

sempre um mistério, não saberemos ao certo o que Jesus histórico realmente disse,

menos ainda sobre Sócrates histórico, o que realmente ele disse. O importante de

Sócrates é que ele não tinha a mínima pretensão de ensinar quem quer que seja. Sempre

demonstrava querer saber, aprender com seu interlocutor, ele dialogava e discutia.

Durante os longos dialogos, ele levava a pessoa a perceber seus pontos fracos de

suas próprias reflexões. Só o conhecimento que vem de dentro é capaz de revelar o

verdadeiro discernimento. Ele era capaz de se fingir ignorante, mostrar-se imbecil, para

depois demonstrar ao seu interlocutor toda sua genealidade, isto se chamava ironia

socrática.

Page 7: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

7

Jesus e Sócrates já eram consideradas pessoas inigmáticas no tempo em que

viveram. Como não deixaram qualquer registro escrito, resta-nos confiar naqueles que

escreveram sobre eles. O certo é que, ambos eram mestres da retórica. Tinham absoluta

autoconfiança no que diziam e, podiam tanto agradar como irritar quem ouvia. Ambos

desafiavam os poderosos dos seus tempos, sempre falavam desafiando os que detinham

o poder na sociedade, criticavam todas as formas de injustiças e de abusos de poder. No

entanto, estes comportamentos causaram a morte de ambos. Os que questionam são

sempre os mais perigosos. Responder não é perigoso, uma única pergunta pode ser mais

perigosa do que centenas de respostas. Creio existir ainda hoje os mesmos princípios,

com novos modos estratégicos de destruir um opositor contestador.

Platão (427-347 a.C.) tinha vinte e sete anos quando Sócrates teve de beber

cicuta. Por mais tempo ele havia sido discípulo de Sócrates e, acompanhou o processo

movido contra seu mestre. A primeira manifestação de Platão foi escrever o discurso em

defesa de Sócrates. Nele Platão torna público o que Sócrates disse ao grande juri. Além

do discurso, Platão escreveu uma coletânea de cartas, mais de trinta diálogos filosóficos.

Platão acreditava numa realidade autônoma por trás do mundo dos sentidos, o qual deu

o nome de “mundo das ideias”. Ele achava que tudo que vemos ao nosso redor na

Natureza, tudo o que podemos tocar pode ser comparado a uma bolha de sabão.

Portanto, nada que existe é duradouro. Sobre as coisas do mundo dos sentidos, coisas

tangíveis, não podemos ter opiniões incertas. Só podemos chegar a ter um

conhecimento seguro daquilo que reconhecemos com ser, através da razão.

Vimos que, para Platão a realidade se dividia em duas partes. A primeira parte é

o mundo dos sentidos, do qual não podemos ter senão um conhecimento aproximado ou

imperfieto, já que fazemos o uso dos cinco sentidos. No mundo do sentido as coisas

simplesmente surgem e desaparecem. A outra parte é o mundo das ideias, do qual

podemos chegar a ter um conhecimento seguro, caso, para tanto, usarmos a razão.

Em compensação as formas são eternas e imutáveis. Para Platão o homem é um

ser dual. Temos um corpo, que flui e que está indissoluvelmente ligado ao mundo dos

sentidos, compartilha do mesmo destino de todas as outras coisas presentes neste

mundo. Como todo os nossos sentidos estão ligados a este corpo, consequentemente,

não são plenamente confiáveis. Platão acreditava que a alma já existia antes de habitar o

nosso corpo.

Platão escreve uma parábola que ilustra como reflexão. A alegoria da caverna,

está contida no diálago A República. Disse ele:- “Imagine uma multidão de pessoas que

habitam o interior de uma caverna. Elas vivem de costas para a entrada da caverna, e

tudo que veem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse

muro passam figuras de formas variadas e que se elevam para além da borda do muro.

Como há fogueiras queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras bruxuleantes

na parede da caverna. Assim, a única coisa a ver é o teatro de sombras. E como aquelas

pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que veem são as

únicas coisas que existem”.

Imagine, se um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão.

A primeira coisa seria saber de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da

caverna. O que acontece quando ele vê as figuras que se elevam para além da borda do

muro? Primeiro é a luz intensa, que não permitirá enchergar nada. Depois, a precisão

dos contornos das figuras que lhes dão dimensões, que até então só vira as sombras com

a visão ofuscada. Se ele conseguir escalar o muro, passar pelas fogueiras e sair da

caverna, terá ainda dificuldade de enxergar. Mas, depois de um certo tempo, ele verá

Page 8: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

8

que tudo é bonito, verá as cores e contornos precisos nas perfeitas dimensões. Assim o

feliz habitante poderá andar livremente pelo espaço da Natureza, desfrutando da

liberdade que acabara de conquistar.

Os outros habitantes no interior da caverna não lhe sai da cabeça, por esse

motivo ele resolve voltar. A primeira atitude é tentar explicar aos outros as sombras na

parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Não acreditarão nele, e aquilo

que veem é o que existe. Por certo acabam matando-o. De certa forma, a alegoria da

caverna é uma imagem da coragem e da responsabilidade pedagógica do Filósofo, e

vale até nos nossos dias.

Aristóteles (384-322 a.C.), o estagirita, foi aluno da Academia de Platão durante

vinte anos. Ele era natural do golfo Estramônico (Macedônia) e veio para a Academia,

quando Platão tinha sessenta e um anos de idade. Seus interesses foram com as coisas

vivas, portanto, ele não foi apenas o último grande Filósofo grego, foi o primeiro

biólogo da Europa. Pode-se afirmar que enquanto Platão usou apenas a razão,

Aristóteles ao contrário usou também seus sentidos. Na época de Aristóteles a filosofia

era uma atividade essencialmente oral. Ainda em Atenas, Aristóteles fundou uma escola

e, tornou-se o chefe dos Peripatéticos (Filósofos que discutiam passeando).

Em nenhum instante os atenienses aceitaram Aristóteles, por ter sido professor

de Alexandre da Macedônia, o inimigo mortal dos atenienses. Ele escreveu

incansavelmente sobre metafísica da Natureza, sobre as partes do corpo dos animais,

movimentos dos animais, geração dos animais, sobre retórica, poética e política. Mas

negou sobre a teoria atômica de Demócrito, escarneceu as alusões à evolução feita por

Empédocles, repudiou a teoria de Anaxágoras, pôs de lado a ideia de Pitágoras de que a

Terra girava em volta de um fogo central e, satisfez o seu ego com a velha concepção de

que a Terra era o centro do Universo. Além de tudo isto, ele antecipou as obras de

Gregor Mendel sobre a hereditariedade.

O velho estagirita, trezentos e cinquenta anos antes da era cristã, fez uma

hipótese sagaz. A substância material, as coisas que vemos e apalpamos, os maiores

sábios afirmam nos anos que correm, que não passam de vibrações, movimentos

produzidos nos átomos pelos elétrons girando em torno de sua órbita. Movimento

elétrico? Talvez! Será que tudo no Universo é uma manifestação elétrica? Mesmo que

assim seja, as coisas continuam a ser reais, juntamente como o Impulsionador de

Aristóteles, que se conservava imóvel (Deus). Para ele este impulso, não foi transmitido

à Terra, pois, esta permanece parada, porque a forma considerada aproximava da

perfeição do círculo, imune portanto da interferência da Natureza. O erro predileto de

Aristóteles perdurou até os tempos de Galileu. A velocidade com que os objetos caem,

dizia ele, estava proporcional ao peso. Ele dominou como um monarca asoluto, e

nenhum outro homem na ciência exerceu tão grande influência por tão longos anos.

Page 9: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

9

2. DEFINIÇÕES E DADOS

2.1. REFERÊNCIAL de observação: a Terra. Isto porque estamos sobre ela, a

olhar para o espaço Sideral. A Terra gira sobre o próprio eixo de Oeste para

Leste (dia/noite) e, avança com o Movimento de Translação no sentido horário.

2.2 DADOS PLANETÁRIOS Planetas Graus inclinação Aceleração Raio-dist. Ø real em Translação do Massa T.

Eixo (°) 9,81m/s2 Sol (km) (km) Planetas (h) (6.1024kg)

Mercúrio 0,100 0,376 57 950 000 4 866 2 111,28 0,0600

Venus (MR) 177,40 0,903 108 110 000 12 106 5 392,80 0,8200

Terra 23,44 1,000 149 570 000 12 742 8 766,24 1,0000

Marte 25,19 0,380 227 840 000 6 760 16 468,80 0,1100

Júpiter (gás) 3,13 2,340 778 140 000 139 516 103 893,60 317,8000

Saturno (gás) 26,73 1,160 1 427 000 000 116 438 258 069,60 95,2000

Urano (gás)(MR) 97,77 1,150 2 870 300 000 46 940 735 927,60 14,6000

Netuno (gás) 28,32 1,190 4 499 900 000 45 432 1 443 560,40 17,2000

(Plutão) (MR) 119,61 0,066 5 913 000 000 2 274 2 177 648,40 0,0022

SOL (gás) - 28,000 - 1 391 900 Independ. 1,9891.1030

2.3. UNIDADE DE MEDIDAS ASTRONÔMICAS E DEFINIÇÕES:

1 UA = 1,496 x 1011

m - Unidade Astronômica (distância da Terra ao Sol).

1 AL = 9,5 x 1015

m - Ano-luz (distância que a luz percorre em um ano).

1 pc = 3,08 x 1016

m - Parsec (Parallax second).

1 pc = 206 265 X 1 UA - “ ( “ “ ).

1 pc = 3,26 - Anos-Luz (AL).

299 792 458 m/s - Velocidade da Luz.

30 000 m/s - Velocidade de translação da Terra.

19 400 m/s - Velocidade do Sistema Solar (rumo à estrela Veja).

225 000 m/s - Velocidade de Translação do Sol.

M - Massa Solar.

Galáxia - Galáxias são associações de estrelas, gás, poeira

interestelar e matéria escura, ligadas pela

gravitação.

C.G. - Centro Galáctico (abreviatura).

M.T.H. - Movimento de Translação Helicoidal (abreviatura).

Disco da Galáxia - Área projetada pelos braços da galáxia em rotação.

Halo galáctico - Região das linhas de campo magnético da galáxia.

Bojo - Volume central da galáxia onde há o buraco negro.

2.4. ESFERA CELESTE entende-se como abstração do envolvimento do Sistema

Solar por uma esfera. A definição de esfera é uma superfície curva fechada

cujos pontos se encontram todos em igual distância R, de um ponto interior, o

centro da esfera.

2.5. AS ÓRBITAS dos planetas do Sistema Solar são praticamente circulares. Com

o movimento de translação vemos e sentimos como elíptico (1ª Lei de Kepler),

por navegarmos na superfície da Terra.

Johan Daniel Tietz (1729–1796) criou uma forma empírica, onde há

possibilidades de encontrar planetas. Bode completou com matemática o

Page 10: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

10

trabalho, determinando que a distância de um planeta ao Sol é “N”; e “d” a

posição em que se encontra. Desta forma foi desenvolvida uma equação

matemática:

d= 0,4 + 0,3 N

N d(Bode) Planeta d (real)

0 0,4 Mercúrio 0,39 UA

1 0,7 Venus 0,72 UA

2 1,0 Terra 1,00 UA

4 1,6 Marte 1,52 UA

8 – Cint. de asteroides 2,8 Ceres – desconh. na época 2,77 UA

16 5,2 Júpiter 5,20 UA

32 10,0 Saturno 9,55 UA

64 19,6 Urano – desconh. na época 19,20 UA

128 38,8 Netuno- desconh. na época 30,10 UA

256 77,2 Plutão - desconh. na época 39,44 UA

2.6. A INCLINAÇÃO DO EIXO DO PLANETA TERRA O planeta Terra tem seu eixo com inclinação correspondente ao

movimento de translação e, a rotação sobre si mesmo, com a precessão e o

momento de efeito giroscópio. A intervenção de forças externas provoca o

movimento de precessão do eixo de torção e do eixo de impulso. A precessão

descreve um cone no espaço, porém permanece como linha central do cone, com

duração de 25 800 anos ao redor do Sol em uma volta completa. Deve-se

considerar ainda que, os planetas sofrem influências de todos os movimentos do

Sol. Estes fenômenos podem ser considerados como os liames de interações

gravitacionais, campos magnéticos e as massas correspondentes. Portanto, em

oposição ao movimento cria-se nutação (oscilação) no planeta, provocado por

massa em sua órbita. O ângulo de inclinação do eixo da Terra corresponde a

23,5° num período de giro completo em torno do sol.

2.7. O UNIVERSO (lat. Universu) é constituído de 4% átomos; 74% de energia

escura e 22% de matéria escura. Energia escura significa não saber do que são

constituídos tais elementos. Fazem parte deste Universo, as galáxias, todas as

matérias disseminadas no Cosmo, o Macrocosmo.

O Universo de Einstein com modelo estático com constante cosmológica

positiva, cujo raio de curvatura é constante e independente do tempo.

O Universo de A. Friedmann, modelo homogêneo e isotrópico, que

envolve soluções não estáticas, ou seja, com expansão e contração para as

equações de Einstein (com constante cosmológica nula), e que foi calculado

pelo Astrônomo soviético em 1922. Universo dinâmico, concebido pelas teorias

cosmológicas que admitem serem variáveis as dimensões do Universo (opõe-se

a Universo estático).

2.8. CONDUÇÃO é o processo de propagação no qual a energia passa de partícula

para partícula do meio. As forças de interação molecular são de origem elétrica

e magnética. Num corpo, duas moléculas vizinhas estão na posição de

Page 11: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

11

equilíbrio quando as forças de interação entre elas são nulas. Nesta situação

chamamos de d0 a distância que separam estas moléculas. Quando a distancia d

entre as moléculas torna-se maior que d0, surgem forças de interação atrativas.

Por outro lado, quando as moléculas são aproximadas de modo que a distância

d entre elas torna-se menor que d0, surgem às forças de interação repulsivas.

2.9. A ENERGIA não se troca de modo contínuo (descontínuo). A ideia de

estados ligados têm níveis de energias discretas e, é definida a Max Planck com

a constante de Planck é 6,13 x 1034

Js.

2.10. A RADIAÇÃO é o processo de propagação de calor no qual a energia

denominada radiante, apresenta-se na forma de ondas eletromagnéticas,

principalmente o infravermelho. A radiação é o único processo de propagação

de calor que ocorre no vácuo.

2.11. A ENERGIA TÉRMICA é a somatória das energias de agitação das

suas partículas e depende da temperatura do corpo e do número de partículas

nele existente. Calor é energia térmica “em transito” de um corpo para outro ou

de uma parte de um corpo para outra parte desse corpo, transito este provocado

por uma diferença de temperatura.

2.12. CONVECÇÃO é o processo de propagação de calor no qual a energia

térmica muda de local e, acompanha o deslocamento do próprio material

aquecido. A convecção só ocorre nos fluídos (gases, vapores e líquidos), não

ocorrem nos sólidos e no vácuo.

2.13. RADIAÇÃO DO “CORPO” NEGRO, espectro resolvido por Max

Planck com a preposição da quantificação da energia.

2.14. O EFEITO FOTOELÉTRICO descoberto por Heinrich Rudolf Hertz,

onde se propõe que a luz se propaga em quantas (pacote de energia definida) os

chamados fótons, explicação e a denominação são de Albert Einstein. A luz é

uma forma de onda radiante. Energia radiante é o tipo de energia que se

propaga por meio de ondas eletromagnéticas. Uma característica

importantíssima da energia radiante é sua enorme velocidade de propagação. A

velocidade de propagação no vácuo vale aproximadamente 2,99792 x 105

km/s

(velocidade da luz). As fontes de emissão de luz são divididas em: fontes

primárias e fontes secundárias. A fonte primária são corpos de emitem luz

próprios, como exemplo: o Sol. A fonte secundária são corpos que nos enviam a

luz recebida de outras fontes.

O processo ocorre por difusão, ou seja, a luz é refletida para todas as

direções nos arredores do corpo. A propagação de um pincel de luz não é

perturbada pela propagação de outros na mesma região; um independe da

presença dos outros. Podemos dizer que o cruzamento de raios de luzes, cada

qual continua sua propagação independentemente da presença dos outros.

Observamos que se chama meio homogêneo, aquele que apresenta as mesmas

características em todos os elementos de volume. Meio isótropo é aquele em

que a velocidade de propagação da luz independe da direção em que é medida.

Page 12: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

12

Meio ordinário é todo aquele que é ao mesmo tempo transparente, homogêneo

e isótropo. O vácuo é um meio ordinário.

2.15. REFRAÇÃO de uma onda é a passagem dessa onda de um meio para

outro, de características diferentes. Qualquer que seja o tipo de onda, na

refração sua frequência não se altera. No entanto, devido à mudança de meio, a

velocidade se modifica, o mesmo ocorre com o comprimento de onda. A onda

refratada está sempre em fase com a onda incidente. Podemos afirmar a

existência de um reticulado formado por ondas eletromagnéticas. As ondas

eletromagnéticas são compostas de dois campos variáveis, um elétrico e outro

magnético. Os campos citados são perpendiculares entre si, perpendiculares à

direção de propagação da onda. Em outras palavras, as perturbações

eletromagnéticas que atingem os pontos de um meio, seja ele vácuo ou não, são

sempre perturbações transversais.

De acordo com a teoria eletromagnética de Maxwell, as ondas

eletromagnéticas são originadas por cargas elétricas aceleradas, uma

contribuição natural do campo magnético de cada planeta em interação com o

Sol, e, entre eles, em plenos orbitais no Sistema.

Há reações de ondas de reflexão, além do som de origem magnética que

se propaga com vibrações longitudinais através de meios materiais,

compreendendo compressões e rarefações. Nas compressões a pressão é mais

elevada do que seria, caso não houvesse ondas (meio de equilíbrio). Nas

rarefações, por sua vez, a pressão apresenta-se mais baixa que no equilíbrio.

Essas compressões e rarefações propagam-se de maneira análoga às ondas

longitudinais. É importante destacar, porém, que em geral, as ondas sonoras de

origem magnética propagam-se a três dimensões pelo espaço. Por isso, elas são

ondas tridimensionais.

Pode-se afirmar que, um ponto qualquer atingido por essas compressões

e rarefações oscila na mesma direção da propagação. Por isso, as ondas sonoras

são longitudinais. Considera-se que ao atingir um obstáculo, como, por exemplo,

um planeta, ela sofre reflexão com inversão de fase. Como acontece com

qualquer onda, o som refletido tem a mesma velocidade de propagação, a mesma

frequência e o mesmo comprimento de ondas que o som incidente. A reflexão

mesmo em superfícies curvas, o raio refletido pertence ao plano de incidência,

ou seja, o raio refletido, a reta normal no ponto de incidência e o raio incidente

são coplanares. O ângulo de reflexão é sempre igual ao ângulo de incidência.

Na reflexão e refração difusas, ao contrário do que se pode imaginar,

valem as leis da reflexão e da refração. As direções diversas assumidas pelos

raios refletidos e refratados devem-se às irregularidades da superfície de

incidência. Como não há superfície perfeitamente lisa, sempre que ocorre

reflexão ou refração uma parte da luz incidente é difundida. É claro que tal

parcela será tanto menor quanto mais regular for a superfície. Neste caso, os

oceanos têm características diferentes que a superfície dos continentes para

reflexão e refração.

A luz do Sol é policromática, isto é, constituída de várias cores

(frequências). Todas as cores visíveis estão contidas na luz do Sol, também

chamada de luz branca. Se um determinado corpo, quando iluminado pela luz do

Sol, apresenta-se vermelho, por exemplo, é porque seleciona dentre as várias

cores componentes da luz solar a vermelha, difundindo-a para o meio. A esse

Page 13: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

13

processo se da o nome de reflexão seletiva. As demais cores que constituem a

luz branca do Sol são predominantemente absorvidas pelo corpo considerado.

Convém observar que, um corpo que se mostra branco sob a luz solar tem a

propriedade de difundir todas as cores. Os corpos negros, por sua vez, não

difundem a luz recebida, tendo a propriedade de obsorver todas às cores.

Costuma-se dizer, inclusive, que o negro é a ausência de cor.

A luz monocromática é constituída por ondas eletromagnéticas de uma

única frequência, ou seja, de uma única cor. Desta forma podemos ter luz

monocromática vermelha, azul, violeta etc. As fontes de luz em geral não

emitem luz monocromática. Podemos, no entanto, obter luz sensivelmente

monocromática. As fontes de raio LASER (Light Amplification by Stimulated

Emission of Radiation) são exemplos de fontes de luz monocromática, com

utilização de filtros. A luz branca solar costuma ser descrita por meio de sete

cores correspondentes: vermelho (menor frequência); alaranjado; amarelo;

verde; azul; anil e violeta (maior frequência).

As complexas análises teóricas de vibrações dependem largamente do

número de graus de liberdades dos sistemas e, é definido em números de

coordenadas independentes, com determinações de igualdade de posição das

partículas. Dentre as ondas tridimensionais (som e luz) que se propagam no

espaço, destacam-se aquelas cujas frentes de onda são esféricas ou planas. Como

exemplo a luz emitida pelo Sol, que avança pelo espaço e apresenta frente de

ondas esféricas. É justamente este um dos conceitos desta apresentação, pois, as

ondas sonoras de reflexão emitida pelos planetas são exatamente tridimensionais

e esféricas, reação às ondas recebidas do Sol. Além destes vetores temos as

irrupções periódicas denominadas de ventos solares ou plasma, de 5-10 prótons

por cm3.

O espaço interestelar contém plasma de hidrogênio com densidade mais

baixa. Como existem filamentos entre as Galáxias, neste plasma as variações de

pressão propagam tal e qual o som no ar. Por tudo isto, Einstein tinha razão

quando afirmou os movimentos dos corpos sempre em curvas, segundo a

geodésica do Universo.

2.16. BATIMENTO é obtido através da superposição de ondas periódicas, de

frequências ligeiramente diferentes e de mesma amplitude. A onda resultante

tem amplitude variável no período, apresenta pontos de máxima intensidade

(interferência construtiva) e pontos de mínima intensidade (interferência

destrutiva). Dar-se a denominação de batimento a essa variação gradual e

periódica de amplitude da onda resultante. Entende-se também por batimento,

cada conjunto de vibrações que vai de um mínimo até outro mínimo

consecutivo.

2.17. ONDAS ESTACIONÁRIAS é a configuração resultante da

superposição de duas ondas idênticas que se propagam na mesma direção e em

sentidos opostos. Esse fenômeno é mais facilmente observado com ondas em

cordas, apesar de poder ocorrer também com outros tipos de ondas. Ocorrem

nelas permanente interferência destrutiva. Esses pontos são denominados “nós”

ou “nodos” de deslocamento. Há ainda permanente interferência construtiva,

sendo, por isso, denominados ventres, antinós ou antinodos de deslocamento.

Como não se propagam, os nós e ventres permanecem sempre nos mesmos

Page 14: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

14

pontos incidentes, a configuração resultante recebe a denominação de onda

estacionária.

2.18. RESSONÂNCIA é um sistema físico com um agente excitador, quando

recebe excitações periódicas numa frequência igual a uma de suas frequências

naturais de vibração. Todo sistema físico capaz de vibrar, se for excitado,

vibrará numa frequência que lhe é característico, que lhe é natural. Alguns

sistemas admitem uma única frequência natural de vibração e outros admitem

mais de uma.

2.19. MATERIA BARIÔNICA é tudo que formado por prótons, nêutrons e

elétrons (estrelas, planetas e seres humanos).

2.20. PRÓTONS são partículas que fazem parte do núcleo dos átomos com os

Nêutrons e Neutrinos.

2.21. QUARKS são filamentos unidimensionais vibrantes (cordas).

2.22. NÊUTRONS são partículas que fazem parte do núcleo dos átomos, junto

com os Prótons e Neutrinos.

2.23. ELÉTRONS são partículas negativas que orbitam o núcleo dos átomos.

Também considerados filamentos unidimensionais vibrantes (cordas).

2.24. NEUTRINOS são considerados como partículas de massas nulas

(podem sim, ser atribuída alguma massa).

2.25. PÓSITRON é um elétron com carga positiva. É conhecido como

partícula antimatéria.

2.26. FÓTONS são pequenos pacotes de energias ou partículas de interação da

força magnética (denominação de Einstein).

2.27. COMPTON é o efeito no qual se propõe que os fótons podem se

comportar como partículas, quando sua energia for grande o bastante (Erwin

Schrödiger, Wener Heigemberg e Eisens).

2.28. GLÚON é um bóson de massa nula, associado a um campo de cor.

2.29. BÓSON DE HIGGS é uma partícula elementar basônica, teoricamente

surgida logo após o Big Bang.

2.30. MÉSONS é uma partícula subatômica (Hádron) composta por

um Quark e por um Antiquark com carga de cor oposta.

Page 15: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

15

3. QUEM FOI. . .

3.1. CLÁUDIO PTOLOMEU (100-178), a quem o mundo ainda tinha simpatia,

não brilhou. O grande homem destacou-se porque uma ideia adequando à

doutrina bíblica, acabava de ser divulgada no Ocidente pelos judeus. Ele soube

distinguir o erro da verdade e escolheu. Enquanto Pitágoras tinha a noção de

uma Terra girando em torno do Sol, o povo simples pensava que a Terra estava

estática, enquanto o Sol e as estrelas orbitavam-na. Com os acontecimentos da

época, Ptolomeu, em Alexandria, considerou as duas correntes de pensamentos.

Depois de muito estudo, acabou escolhendo a corrente errada. Pleno de

confiança, com superiores conhecimentos para a época, decidiu manifestar-se:-

A terra é fixa, giram estrelas e o Sol em torno dela.

O seu sistema era composto de círculos e globos cristalinos, com extrema

dedicação para dar conta das fases da Lua, e se possível as posições estáveis dos

planetas. Seu trabalho foi coroado de êxito, no entanto, faleceu sem levar a

menor dúvida de que havia resolvido o maior dos grandes problemas naturais.

Entre tantas coisas que foram ditas, pelo menos em uma ele teve razão: a Terra

era redonda e estava suspenas no espaço sem apoio, e nada à susterntá-la. Era

evidente que a ideia era exatamente como a religião queria, portanto,

iconoclasta. Aos homens simples, pouco intereçavam estes detalhes, embora

achassem um absurdo, pois que, viam a Terra chata, talvez sustentadas por

colunas em suas extremidades. Restavam saber em que lugar ou bases as colunas

estavam apoiadas. Contudo, para o homem simples, bastava saber que a Terra

não cairia jamais, assim ele continuava a viver. Com esta aparência de absurdo,

suas conclusões foram reservadas, não divulgadas ao público, até que Cristovão

Colombo, sem intensões, provou o seu sonho com a demonstração da verdade.

Ao explicar de que maneira o Sol se levanta e deita, Ptolomeu cometeu

um erro grave. O seu erro foi devido a um outro problema, que não pode ser

resolvido, pois percebeu com evidências, que a Terra realmente se movia. Sem

ter com quem contar para uma decisão e eficaz entendimento, viu que a Terra

girava em torno do seu eixo, muito mais facil e simplesmente do que o Sol e as

estrelas corriam pelos céus em velocidades inconcebíveis. Entretanto, veio uma

dúvida própria da objetividade, se a Terra se move, onde foi parar o vento que

produz? Não havendo vento de proporção arrebatador, tudo era calmo, ou quase

isso, para ele, destruia qualquer ideia da Terra girando no espaço.

Ptolomeu sabia que havia alguma coisa diferente nessa sua teoria,

também não houve como se convencer de que a teoria estaria totalmente errada.

O ponto fraco da teoria era a velocidade do Sol e as estrelas, movendo-se no seu

percurso em 24 horas ao redor do mundo. Admitiu que o mundo fosse uma

grande esfera, no seu interior estariam as estrelas presas, assim como se fazem

com as joias. Essa grande esfera, com a Terra parada no centro, girava

transportando com ela os corpos pesados.

Quando estudou os planetas, sentiu-se completamente confuso. Percebeu

que estes corpos não estavam presos à grande esfera, mas corriam como bem

lhes aprazia em volta do mundo, arrogantes à toda a bela teoria. Neste momento,

Ptolomeu conceder-lhes movimentos próprios, ao redor de pontos fixos. Criou-

se assim para a nomenclatura Astronômica os chamados “epiciclos”, os quais

permaneceram até que Copérnico os desclacificou. Cheio de boas intensões,

Ptolomeu apresentou seus trabalhos, com admiração de muitos, principalmente

Page 16: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

16

da igreja. Terminou na sepultura, enquanto, o seu modelo continuou com vida.

Não há necessidade de grandes interrogações, há nos dias atuais, quem julga que

tais ideias ainda são palpáveis, e outras pessoas gostariam de saber o que retém o

mundo no espaço.

O cristianismo condizia com a teoria ptolomaica, o homem e a sua

morada, a Terra, eram frutos do Criador, o Senhor do Universo. A ideia

ptolomaica se cristalizou, passou a tomar parte dos dógmas da Igreja. Por em

duvida era considerada heresia. Por mais catorze séculos nenhum homem

importante pôs em duvidas. Catorze séculos não era pouco tempo! Vejam o

poder da falsa ideia. Com base nestas afirmações a Igreja firmou-se no poder,

tanto temporal como espiritual, propiciando sua expansão por toda a Europa.

Desta forma quem acreditava na Igreja, não acreditava na ciência, como

consequência até a erudição, morria. Roma triunfava, mas, não podemos

considerar os romanos quando se tratava de ciência, muito menos na propagação

de cultura. A degeneração, coincidiu rudemente com a queda de Atenas e o

florescimento de Alexandria, ganhou velocidade durante os primeiros séculos do

cristianismo. O Crepúsculo esvaneceu em trevas e se espalhou sobre a Europa,

isto no século V.

Roma que mantinha o poder terrestre, passara. A Igreja tomou uma

posição militante. Do Norte da Europa vinham as hordas dos bárbaros.

Destruiram as escolas, esmagaram a cultura, impondo freio à civilização. Com

todos esses acontecimentos, os rituais pagãos se detiveram ao pé da cruz. Nesta

época foi como um grande milagre para a Igreja. Os nomades vindos do Norte

foram manuseados, guiados e lentamente instruídos pela política. Assim, tudo o

quê constiui o desenvolvimento da Europa repousa no coração e no cérebro dos

invasores. Quando invadiram Roma, restaram duas soluções para à civilização:

exterminá-los ou civilizá-los. A Igreja era a única Instituição capaz de modificá-

los. Não poderiam ser exterminados. A Igreja tomou a si a tarefa da conversão.

Como uma luta de morte, ou as hordas beijariam a cruz ou a Igreja se

desintegraria como Instituição. Como consequência final, as hordas beijaram a

cruz.

Nestas mesmas épocas, a venda das indulgências tornara-se um vasto

negócio, altamente lucrativo. Para vencer o demônio haviam os breves, enquanto

as indulgências asseguravam a passagem para o céu. Os grandes homens da

Igreja defendiam o negócio, indagando: “Não pode Jesus aceitar donativos das

pessoas de bem?” Esta postura inconformista ainda perdura na época atual.

Como a política invadira a Igreja, a moralidade era uma simples palavra.

Novas doutrinas introduziam-se nos credos, muitas eram concessões às idolatrias

nórdicas. As tribos germânicas exigiam como hábito daquele povo, uma imagem

visível diante da qual pudesse se ajoelhar. A personificação da divindade criou

como solução, a Trindade.

Os efeitos dessas atitudes não foram plenamentes maus. Devem ter sido

feitos visando a uma boa finalidade. Encontravam-se nos mosteiros alguns

frades e padres honestos. Os homens bons continuaram a existir. Foram eles que

perceberam para onde estava indo Roma, e não raras vezes do seio deles saiu “a

voz clamando no deserto”. Denunciavam a vergonha da Cidade Eterna, e sem

temores às condutas dos cardeais e papas. Eram palavras que calaram no fundo

das consciências dos povos do Norte. Nas denúncias por si já continham um

espírito revoltoso.

Page 17: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

17

De repente, surgia no Oriente uma força nova. Os mouros invadiram a

Espanha e, com eles o fanatismo religioso, num ardente zelo do proselitismo.

Era de uma cultura superior a tudo que havia na Europa. Conquistaram parte da

Espanha, constituíram um governo permanente e ergueram cidades com

admiráveis belezas arquitetônicas.

Abriram escolas em que o espírito de tolerância admitia os cristãos. Seus

eruditos pesquisaram o passado, desenterraram os clásiscos gregos, traduzindo-

os em árabe. Haviam recebido os algarismos arábicos da Índia, que levaram

apara a Europa, juntamente com a álgebra e o seu peculiar sistema de notação.

Deram ao mundo grandes eruditos, numa época em que constituía raridade um

homem mediamente culto. Enquanto da Itália e dos países germânicos os líderes

se debatiam seriamente, questões de extremas profundidades como a de saber

quantos anjos poderiam caber na ponta de um agulha. Um mouro, Assamh,

morto em combate no ano de 720, escrevia sobre topografia e anotava.

Observava as variações da flora e fauna relativas à altitude. Nos últmos anos do

século IX, Mohammede Bem Musa ensinava álgebra a seus discípulos,

substituía a corda pelo seno em trigonometria. Inventava o método comum da

resolução das equações quadráticas. Na Europa, nem dez homens,

provavelmente haviam ouvido falar em equação nesta época.

Ebn Junis, precede e ultrapassa Galileu na mesma ordem de ideias, usou

pela primeira vez o pêndulo na medida do tempo, isto no ano 1000. Antes disso,

os mouros usavam clepsidras, relógios de água, que eram fabricados com rara

perfeição.

Enquanto os europeus morriam como moscas e viviam como porcos, com

esperanças de curas em breves e relíquias, Avicena (980-1037) ensinava a

Filosofia e a Medicina aos árabes. Era médico e cirurgião, deixou uma descrição

dos instrumentos que utilizava. Era um estudioso, livre de supertições as quais

ensombravam a Europa.

O maior nome da Escola Árabe, Alhazen, é um tanto misterioso. Talvez

seja impossível que alguns dos escritos a ele atribuídos possam ser autênticos.

Sabia demais, bem por isso, devia ter vindo com Newton, ou depois. Alguns

interessados no assunto tentaram, sem grande sucesso, separar o real do falso.

Essas dúvidas são devidas à inveja que os europeus nutriam pelo progresso dos

árabes. O fato é que esse Alhazen ou outro árabe qualquer do princío do século

XII, deixou admiráveis contribuições para o conhecimento do mundo.

Alhazen escreveu sobre questões de óticas. Foi ele que corrigiu uma

velha noção a respeito de como o homem vê. Os gregos supunham que a

excitação partia dos olhos na direção ao objeto, tornando-o visível. Pois, as

maiores autoridades dos tempos antigos achavam que essa era uma explicação

plausível. Alhazen foi direto à verdade – os raios luminosos é que vêm do objeto

para os olhos. Foi mesmo além, e afirmou que a retina era a sede da visão e que

a impressão nela causada passa aos longos do nervo ótico até chegar ao cérebro.

E como ele tinha toda razão! Mas como pode alcançar esta dedução? Simples

(meu caro Wotson), dissecando um corpo humano! Ah! Isso era contrário à lei.

Não importa, Alhazen era capaz de enfrentar a própria morte para poder saber.

A luz foi uma questão que ele se interessava. Foi no entanto, o primeiro a

perceber que nós não vemos os objetos exatamente onde eles estão. Desta ideia

até simples, ele tirou as conclusões sobre a refração, e, pela primeira vez na

história, ficou estabelecido o percurso em desvio de um raio luminoso. Na parte

Page 18: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

18

da obra de Alhazen posta em dúvida pelos europeus, ele teve a humildade em

reconhecer a existência da gravidade e o fato de que, ela diminui com a

distância. Não chegou, todavia, a saber que tal diminuição era na razão inversa

do quadrado das distâncias. O mais grave, foi que ele limitou a gravidade à

Terra, não teve portanto, a visão do seu poder Universal. Era um evolucionista,

tendo feito a descrição do desenvolvimento progressivo dos animais 700 anos

antes de Darwin ter nascido.

Por motivos culturais, os homens de ciências Àrabes, não contribuíram

tanto, quanto os gregos contribuiram para o progresso da Europa. No

Renascimento foram buscar na antiguidade as ideias ou entregou-se a intensas

pesquisas e experiências, esquecendo ou ignorando as contribuições dos Árabes.

Por questões de raça, religião e finalmente falência política, os Árabes

ficaram fora da corrente principal do progresso humano. E ainda se conservam

fora dela. Evidentemente, merecem todo nosso respeito, nosso tributo por

haverem alimentado a chama no altar da ciência, quando o resto do mundo

estava perdido na escuridão.

Com excessão da Itália e da Espanha, quando a débil luz de um sol

nascente prenunciava o fim da Idade das Trevas. Paris e Londres estavam

cobertas de casebres, de teto de colmo e chão de palha, tendo no alto da

cobertura uma passagem por onde a fumaça saía. As casas não possuiam chão

assoalhado em cidade alguma do Norte, e, quando chovia, as ruas se

transformavam em lamaceira onde as pessoas se atolavam até às virilhas. Não

havia iluminação nas ruas e para sair à noite tinham que carregar tochas ou

toscas lanternas. Não havia esgotos, nem hospitais, nem escolas, nem estradas. A

população xafurdava no lixo das casas, nas lamas das ruas e conviviam com a

pestilência no ar. Mas, não deixavam de sonhar com os céus.

O corpos humanos eram cobertos com camisas de felpo e sevandijas,

mas não deixavam de orar pela pureza de suas almas. Em nome de Jesus, o

Galileu, saqueavam e matavam. As terras eram aradas com instrumentos de

madeiras, e suas belas carruagens eram os carros de bois. Um proeminente

cidadão possuia quatro bois, como sinal de realeza, e quando passavam aos

solavancos pelas poças de lamas, ainda eram reverenciados. A religão para os

Europeus era tão sombria, tal e qual as suas guerras, exceto quando se vestiam

de flores para celebrar ritos pagãos.

Nada sabiam de matemática, Geografia, Medicina e Astronomia. E,

quando dizemos nada, significa absolutamente coisa nenhuma. Os seus

conhecimentos mecânicos eram os mais primitivos. Conheciam apenas a

alavanca, a roda e a polia. Mas, em toda a Europa, a não ser na Espanha, não

havia ninguém capaz de explicar o princípio pelo qual trabalham aquelas

máquinas simples. Ninguém. O pensamento do homem Europeu, colocava em

suspensão a sabedoria humana, e afastada como alguma coisa que viesse se

colocar entre Deus e o homem. Nesta época a ignorância e sua filha, a

brutalidade, governavam o cérebro humano. Será que nestes nossos tempos

mudaram-se algumas coisas?

Page 19: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

19

3.2. NICOLAU COPÉRNICO (1473-1543) Não é surpreendente, que tenha sido

membro da igreja, afinal, nessa época só havia duas condições oferecidas aos

jovens: as armas e a Igreja. Copérnico nasceu na cidade de Thorn, sobre o rio

Vístula. Portanto, prussiano, isto é, Alemão. Longe de satisfazer a ideia que se

faz vulgarmente de um prussiano, Copérnico era um jovem débil, estudioso, de

bom coração, religioso e modesto, jamais seria um militar. O seu desejo de saber

era insaciável, estudou medicina em Cracóvia, depois frequentou as

Universidades de Viena, Bolonha, Pádua, Ferrara e Roma.

Dedicou-se à matemática como gosto pessoal e, devorou todos os livros

sobre Astronomia que foi possível encontrar. Aos 24 anos foi para Frauenburgo

como cônego, e aí permaneceu a maior parte de sua vida.

Não tinha nenhuma superstição esse sacerdote. Praticou a medicina

gratuitamente, jamais acreditou que as doenças viessem de Deus e pudessem ser

curadas com rezas, ou adorando uma relíquia. Encarava a Natureza de frente e

nunca deixou que a sua devoção o persuadisse, fazendo da Bíblia um livro de

ciência. Demonstrava ainda muito cedo, que havia nascido mais um homem para

fazer uso de seu cérebro.

Naquela época, todos acreditavam que a Terra estivesse parada. Poucos

acreditavam que ela fosse chata, contudo, a maioria acreditava. Os mais

evoluídos da época, afirmavam que a Terra era o centro do Universo. Com este

pensamento, em torno dela girava tudo mais. A negação desta crença era

considerada herético, assim quanto mais depressa fosse mandado para o inferno,

melhor. Esta foi à herança deixada pelo velho Ptolomeu à Europa. Copérnico

acreditava no céu e no inferno tanto quanto os outros. A difícil compreensão era

que uma criatura pudesse ser condenada por usar os seus olhos e o seu cérebro.

Mesmo correndo riscos, resolveu e dedicou-se ao novo caminho.

Alguns cientistas gregos, como Pitágoras, por exemplo, ensinavam que o

Sol estava fixo e que a Terra era quem se movia em vota dele. Copérnico

estudou com dedicação a ideia, que lhe parecia razoável. À medida que se

aprofundava nos estudos, mais lhe parecia que a Terra é que se movia. Pôs-se a

fazer cálculos, e concluiu que por essa teoria se passavam mais facilmente do

que pela teoria de Ptolomeu. Como não havia outro jeito, teve que empregar

“epiciclos” para representar os movimentos dos astros com fidelidade. Isso

estava preso à sua crença, de que tudo se movia em círculo. A tal ideia da

perfeição do círculo era de origem dos gregos, sobretudo a Aristóteles.

Copérnico não quis de imediato, tornar público as suas conclusões. Havia duas

coisas que o impediam:- Não estava absolutamente certo de ter razão. A outra

era o medo das interpretações bíblicas.

Os seus contemporâneos não ignoravam que Josué havia ordenado que o

Sol parasse. Entretanto, Copérnico não acreditava que a Bíblia fosse um tratado

de ciência. Para ele era uma revelação religiosa e, representava um belo código

de moral. Isto ele acreditava tão fortemente, assim como o Deus personificado

em Jesus Cristo. Com astúcia, considerou que a grande maioria do público

acreditava totalmente na Bíblia, ainda que duvidasse da existência de todo

conhecimento estranho a ela. Não acreditaria em nada que estivessem em

oposição às suas afirmações, pois, só eram tolerantes à medida que, se

concordasse com eles.

Copérnico com inteligência procurou não cair em desgraça. Neta época,

cair em desgraça expondo a vida era coisa das mais fáceis no mundo. Cada

Page 20: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

20

homem fazia de sua individualidade um conceito próprio. Usou a matemática,

para comprovar suas ideias, pôs de lado o manuscrito e esqueceu-o. Voltou aos

seus deveres na Igreja. . . mas, continuou pensando.

Não havia naquela alma qualquer desejo de autopromoção, desejava

conhecer somente a verdade, e muito lhe agradaria passá-la adiante quando a

encontrasse. Quando Jorge Joachim lhe falou de Astronomia, assuntos que ele

próprio estudara, Copérnico confidenciou ao jovem tudo o que havia descoberto,

e não deixou de mostrar o seu trabalho. Joachim era professor de matemática na

Universidade Luterana de Wittenberg, e um dedicado pesquisador da verdade.

Os luteranos não duvidavam da sabedoria cientificada na Bíblia. Lutero, que

muito havia lido e pensara muito, chegou a desafiar os demos em Worms. Porém

ele nada teve que ver com a ideia de Copérnico, do qual recebeu o nome de

louco, uma palavra fácil de dizer em qualquer língua, inclusive em alemão

(wahnsinnig).

Joachim procurou defender o amigo, discordou do chefe da sua Igreja, e

aceitou toda a teoria de Copérnico. Insistiu pela publicação do trabalho que

representava toda a vida de Copérnico com o nome de “Revoluções dos Corpos

Celestes”. Com a idade e a saúde precária, Copérnico cedeu. Já não era mais o

que as autoridades eclesiásticas poderiam fazer com ele, pois, a morte sobreviria

pondo um fim ao martírio, contudo, tomou seus necessários cuidados. Enviou ao

Papa Paulo III, um prefácio, de tom conciliatório e esclarecedor:- “Eu posso

facilmente entender, Sacratíssimo Pai, caso alguém compreenda que, o meu livro

eu atribuo movimentos a Terra, exclamará que eu e as minhas teorias deverão

ser rejeitados. Tenho pouco apego às minhas conclusões, que permitem que

outros possam dizer sobre as mesmas. Portanto, ao considerar isso, o desagrado

que tenho por causa da novidade e aparente absurdo do meu ponto de vista,

quase que me levou a abandonar a tarefa que havia iniciado”.

No fim desse prefácio, Copérnico faz ouvir algo mais livre e desafiador:-

Caso houver faladores comodistas, ignorantes de toda a ciência matemática e, se

ainda arrogarem o direito em dar a opinião sobre esses assuntos. E, se ousarem

atacar essa minha teoria por causa das Escrituras, que torceram a verdade para

servir a propósitos escusos. Pouco ou nada me alterará semelhante coisa; não

terei respeito com tal julgamento e, considerarei como insensato.

Foi assim o prefácio, que haveria de marcar época. Desta maneira ficou

evidente que não tenha agradado nem tenha representado um sucesso de venda.

A teoria foi escarnecida e completamente rejeitada. Depois da morte de

Copérnico foi considerada herética pela Igreja. Tycho Brahe e Francis Bacon

recusaram aceitá-la. Muitos não só rejeitaram, riram dela também. Para as

pessoas comuns parecia ser completamente idiota, sem nenhuma dúvida poderia

ser classificada como heresia.

Imagine por um só momento, o velho doutor-cura, cuidando de suas

atribuições diárias em Frauenburgo. A idade chegou para ele no cumprimento

aos serviços de Deus e dos homens. Enquanto trabalhava arduamente, meditava.

Foi nesta época em que Joachim insistiu na publicação de sua obra, o bom

velhinho vibrou de emoção.

Durante todos os anos de sua vida, pouca coisa lhe sucedeu. Viveu e

permaneceu junto ao sofrimento alheio. O médico e sacerdote via nos homens o

que eles possuem de mais triste. Durante 30 anos ele sustentou nos ombros a

carga de quase a metade da população de Frauenburgo.

Page 21: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

21

Copérnico nunca se impôs como um grande homem. Aristóteles vivera

fazendo alto conceito de si próprio e, Roger Bacon tinha a convicção do próprio

gênio. Mas nem por minuto sonhou Copérnico que o seu nome duraria tanto

como o próprio Mundo. Seu livro estava para ser publicado, sobressaltava-se e

ficava melancólico. Sabia o que pode a intolerância fazer para com aquele que

ousa caminhar sozinho. Provavelmente sussurrou aos ouvidos de alguém íntimo,

que grandes coisas se passariam com ele, e, Deus o livre, não sabia bem o que

aconteceria quando os cardeais tomassem conhecimento do seu livro.

Estava impaciente, excitado a ponto que a febre levou-o ao leito. E como

um moribundo ficou esperando, esperando. . . e o tal livro não chegava. E a

morte que também não vinha. Era o livro de sua vida, mas a publicação era tão

lenta. Copérnico foi se enfraquecendo, mas esperançoso. A esperança definhava.

A consciência ainda não o abandonara. Eis que então. . . um exemplar do livro

lhe foi apresentado, colocaram-no em suas mãos. Os seus dedos acariciaram o

que os seus olhos não mais podiam ver. Não mais de uma hora depois,

Copérnico falecia.

Ptolomeu reinou por mais de mil anos. E esse médico-padre, jazia

silencioso para sempre, com um livro recém-saído do prelo em suas mãos

pálidas e crispadas. Destronava os dominadores, congregando em torno de sua

memória um pequeno grupo de rebelados, que tão magnificamente influíram na

história do mundo.

Francis Bacon era conhecido na ciência como o homem que sempre

errava. Não lhe faltou oportunidade e, escreveu 50 anos após a morte de

Copérnico:- As coisas estranhas que ele afirma, são processos que definem o

homem e, ele só pensa em introduzir ficções de toda espécie na Natureza, desde

que, seus cálculos lhe saiam bem.

Portanto, Francis Bacon seria um dos faladores comodistas ignorantes da

matemática. Uma observação mais verdadeira do grande Astrônomo foi feita por

E. F. C. Morton, que assim se expressou:- A figura titânica do velho monge,

melancólico parece assomar da planície sombria que o rodeia, rompendo com a

sua cabeça as névoas que a envolvem, para recolher os primeiros raios do sol

nascente.

Copérnico era simples, corajoso, paciente. Sondou o terreno à busca da

verdade, e reconheceu-a quando surgiu à luz. Não tinha a genialidade de Galileu,

nem a capacidade do Matemático Kepler. Foi muito corajoso e, esta era a virtude

mais necessária naquele momento; e foi extremamente honesto quando tudo em

torno era corrupção.

Page 22: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

22

3.3. GIORDANO BRUNO (1548-1600), nome de batismo Filippo Bruno. O nome

de Giordano passou a ser usado ao entrar para a Ordem Dominicana, quando

completou seus 15 anos de idade. Doutorou-se em Teologia, porém, por possuir

ideias avançadas para a época, a hierarquia da Igreja acusou-o de heresia. Ele foi

levado para Roma para ser julgado pelo Santo Ofício da Inquisição, isto em

1576.

Algum tempo depois abandonou o hábito em 1579 e, deixou a Itália.

Iniciou-se o período difícil de sua vida. Ainda em 1579, em Gênova, adotou o

Calvinismo. Porém, ao ser preso em Veneza, negou ter adotado o Calvinismo.

De forma melancólica foi excomungado pelos calvinistas e expulso de Gênova.

Viajou para França, Suiça e Inglaterra. Em Londres permaneceu de 1583 a 1585,

sob a proteção do embaixador francês. Frequentou círculos de amigos do poeta

inglês Sil Philip Sidney. Retornou a Paris em 1585 e seguiu para Marburg,

Wittenberg, Praga, Helmstadt e Frankfurt, onde publicou seus escritos.

Culto, possuidor de grande sagacidade, Giordano Bruno desenvolveu

ideias muito avançadas para a época. Suas ideias eram misturas de panteismo e o

neoplatonismo. Bruno pregava uma nova visão ao homem, assim como ao

infinito Cósmos. Atacou ele com viemência a tradição e, como tinha como base

a filosofia dos clássicos antigos, principalmente Aristóteles, escrevia suas ideias

em forma de diálogo, à semelhança de Platão. Foi considerado o precursor da

filosofia moderna, com influência à Espinoza e Leibniz.

Havia um membro de uma ilustre família de Veneza, Giovanni Mocenigo

(1558–1623), que por acaso encontrou Bruno em Frankfurt em 1590. A pretexto

de lhe ensinar mnemotécnica (arte de desenvolver a memória), convidou Bruno

para ir à Veneza. Bruno como perito nesta técnica, aceitou o convite. Suspeitava-

se que Bruno estivesse na lista dos procurados pela Inquisição, embora Veneza

protegia tais forragidos e Filósofos. Sentiu-se encorajado e cruzou os Alpes.

Mocenigo usou de segundas intenções, pois queria usar as artes da

memória na área comercial, e quis obter de Bruno os ensinamentos do

ocultismo. Assim, prejudicaria os seus concorrentes e inimigos. Como Mocenigo

era católico, assustava-se com as heresias que o Filósofo expunha em seus

ensinamentos. Consultou membros da igreja, se deveria denunciar Bruno à

Inquisição. Um sacerdote recomendou-lhe esperar e reunir provas, no que

Mocenigo consentiu. Quando Bruno anunciou seu desejo de regressar a

Frankfurt, foi denunciado ao Santo Ofício. Bruno foi preso e, acusado de

heresia. Ele foi transferido em 23 de maio de 1592, de San Domenico de

Castello. No seu último interrogatório pela Inquisição do Santo Ofício, não

abjurou. Assim no dia 8 de fevereiro de 1600 foi condenado à morte na fogueira,

obrigado a ouvir a sentença ajoelhado.

Giordano Bruno ainda desafiou o Santo Ofício com as seguintes

palavras:- Maiori farsan cum timore sententians in me fertis quan ego accipiamu

(Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-las).

A execução foi em 17 de fevereiro de 1600. Ao contrário do que se

pensa, Bruno não foi queimado na fogueira por defender heliocentrismo de

Copérnico. Ele na verdade acreditava que o infinito era povoado por infinidades

de estrelas, como o Sol, e por outros planetas assim como a Terra e, sem dúvida

lá existiria vida inteligente. Já havia antes dele, Nicolau da Cusa, Copérnico e

Giovanni Battista della Porta, que pregaram estas mesmas ideias.

Page 23: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

23

Suas ideias sobre relatividade anteciparam Galileu, qualquer perspectiva

de um objeto no Universo infinito, é sempre com relação ao observador. Há

infinitos referenciais imagináveis. Além destas ideias, ainda defendeu algumas

das quais depois seria a própria Teoria da Evolução de Darwin. Diziam alguns

historiadores que Bruno filiou-se ao hermetismo, tendo como base os escritos

egípcios da época de Moisés. Utilizavam ensinamentos egípcios atribuídos ao

deus Thoth, cujo correspondente grego era Hermes, conhecido dos seguidores

como Hermes Trimegistus. Bruno recebeu bem toda a teoria copérnica, porque

ela estava de acordo com a ideia egípcia de um Universo centrado no Sol.

Em 1591, em Frankfurt, Giordano Bruno escreveu dois poemas em latim,

sobre mônada:- Do triplo mínimo (De triplici minimo), e “Da mônada, do

número e da figura (De monade, numero et figura)”. Ele definiu a mônada como

o ponto na matemática e o átomo na física. Considerou como o primitivo,

indestruitivo, de Natureza tanto corporal como espiritual, e envolve por

interações todas as vidas no mundo. Para esta filosofia e crença, a mônada é

Deus, sendo o mínimo e o máximo. “Todas as coisas naturais têm almas? Todas

as coisas são animadas? Pergunta Dicson Theophilo, o porta-voz de Bruno

responde:- Sim, uma coisa por minúscula que seja, encerra em si uma parte de

substância espiritual, a qual se encontra o sujeito adequado, torna-se planta,

animal (. . .). Porque o espirito se encontra em todas as coisas, e não há mínimo

corpúsculo que não o contenha em certa medida e, que não seja por ele animado

(Causa, Princípio e Unidade, 1584).

“E o que se pode dizer de cada parcela do grande Todo, átomo, mônada,

pode-se dizer do Universo como totalidade. Seria o mundo abrigando em seu

coração a Alma do Mundo?”

“O mundo é infinito porque Deus é infinito. Não se pode acreditar num

mundo fechado e limitado. A Divindade está em nosso foro íntimo, mais

intimamente em nós, do que estamos em nós mesmos (A ceia de cinzas)”.

Page 24: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

24

3.4. TYCHO BRAHE (1546-1601) excluiu de sua vida a medicina e a fisiologia.

Homem de temperamento, não poderia se dar bem com a medicina e fisiologia.

No entanto, foi um bom negócio que haja tratado dos astros. Tycho nasceu na

Escânia, província dinamarquesa, em 1546. Era o mais velho de dez irmãos. Seu

pai, Otto Brahe, era um homem com funções oficiais, portanto, um homem de

lei, mas, não podia instruir o filho. Coube a incumbência ao tio. Antes de Tycho

nascer, Otto e seu irmão George combinaram que o primogênito do primeiro

seria confiado ao segundo, que não tinha filhos e desejava adotar um. Quando

Tycho nasceu, Otto e a esposa se recusaram a entregá-lo. Isso motivou certo

desentendimento entre os dois irmãos. George, entretanto, deixou a questão

pendente, até que um ano depois, nasceu o segundo filho de Otto. Para quem

vivia solitário e George assim vivia, imediateamente procurou o irmão e levou

Tycho.

Os europeus da Idade Média foram insuperáveis em imaginação

supersticiosa. Os mitos e ignorância estavam ligados à religião e, tal coisa

signficava aflições, prisão e uma pilha de achas de lenha ardente, tendo um

herético amarrado no alto, com um obstáculo na boca para não falar nem gritar.

Imagina-se que nesta época era mais seguro ser supersticioso. O

desenvolvimento do cérebro da Europa ocorreu paralelo com a morte das

crenças. Foi neste ambiente de temor, que a Astronomia saiu dos séculos

tenebrosos e deu origem ao mundo moderno. Tratava-se de uma ciência

independente; cuja finalidade era menos perigosa do que dizer aos homens algo

a respeito do próprio organismo. Miguel Servetus, anatomista espanhol, foi

forçado à compreender isso. . . mas, o fez tarde demais. A Inquisição cuidou dele

e foi o suficiente.

Agora o casal com um outro filho, achou melhor não discutir com o

irmão rico e deixaram Tycho sob seus cuidados. Muito cedo, aos treze anos de

idade, Tycho entrou para a Universidade de Copenhague. Era um menino

impetuoso e desabusado, como seria de esperar de quem fora criado por um tio

rico. Não tinha interesses pelos trabalhos escolares, a vida era levada a seu bel-

prazer. Aos quatorze anos, algo despertou a sua personalidade. No dia 21 de

agosto de 1560 houve um eclipse do sol, visível em Copenhague, fenômeno que

causou profunda impressão àquele rapaz. Não foi o espetáculo que lhe excitou a

imaginação, mas, o fato de haver sido rigorosamente previsto. Tycho resolveu

então que aprenderia a Astronomia e matemática, que lhe permitissem fazer

previsões.

Estudou as obras astronômicas de Ptolomeu. O fato de, com tão pouca

idade fazer uma ideia dos céus, explica de certo modo a tenacidade com que se

apegou, aos pontos de vista de Ptolomeu. Por conseguinte, não foi capaz de

achar sentido nas teorias do “louco Copérnico”. O tio se aborrecia com essa

febre científica, pois tinha o desejo que o sobrinho se dedicasse aos assuntos

jurídicos, e se apresentasse como um elemento distinto da Universidade. Com o

objetivo de curá-lo da mania de contemplar estrelas, levou Tycho para Leipzig

em 1562. Foi com ele um tutor chamdo Vedel, quatro anos mais velho que

Tycho. O compromisso de Vedel era fazer com que Tycho abandonasse os astros

e se ligasse à retórica.

Vedel era uma pessoa conscienciosa e fez jus ao seu salário. Mas Tycho

era hábil, esperto demais para o tutor que lhe deram. Quando tinha certeza de ter

Vedel na cama, Tycho saia, passava longas horas contemplando os astros e

Page 25: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

25

estudando matemática. Sua energia era enorme, nada parecia fatigá-lo e um par

de horas de sono era quanto lhe bastava. Logo aos dezessete anos, Tycho deu

início a um sério estudo dos planetas. Achou que as posições dos astros diferiam

muito das indicações dos livros. Isso o levou a fazer observações com o máximo

cuidado possível. E desta maneira se lançou no assunto que teria de ser a

principal tarefa de sua vida. Tycho não possuía telescópio e contava apenas com

instrumentos feitos em casa. Com o passar do tempo, aprendeu a construir

instrumentos melhores, mas nunca observou o céu através de uma lente. A

fiscalização de seu tutor Vedel terminou quando seu tio faleceu. Tycho contava

com dezenove anos. Doravante, com a fortuna que herdara, poderia fazer o que

bem lhe aprovesse.

De Leipsig foi para a Universidade de Rostock, no Norte da Alemanha, e

quase que imediatamente conquistou uma fama pouco desejável. Anunciava-se

um eclipse da Lua. Tycho usando de sua esperteza profetizou, que tal eclipse era

um prenúncio da morte de um sultão da Turquia. Não demorou, chegou a notícia

dessa morte e Tycho passou logo a ser o herói do dia, nestes casos seria um

homem capaz de prever o destino. Infelizmente para Tycho, logo depois

souberam que o sultão havia falecido antes do eclípse. A fama do jovem profeta

foi para o lixo. Tornou-se objeto de comentários e ridícularizaram-no. Tycho

facilmente se encolerizava ou magoava-se com a menor crítica. Portanto, é

perfeitamente explicável que aquela falsa profecia o tenha levado a um duelo.

Discutiu com um colega, a respeito de averiguar qual dos dois sabia mais

matemática. O encontro foi combinado para as caladas da noite, a fim de se bater

à espada. Na mais completa escuridão, cada contendor sabia onde o outro estava

apenas pelo ouvido. O duelo se travou galhardamente, sem que nos primeiros

ataques houvesse ferimentos.

De repente, Tycho meteu o nariz na trajetória da espada adversária.

Nesse momento perdeu o duelo. . . e também o nariz. Com a honra satisfeita,

Tycho foi levado ao médico. O grande dinamarquês não se mostrava satisfeito

em continuar a sua vida, privada do nariz. Mandou fabricar um nariz de prata ou

de ouro. Mas, podem estar certos de que o novo nariz não foi de cobre. Coisa tão

vulgar não ia com o aristocrático Tycho. Colou no lugar próprio o nariz artificial

e seus inimigos afirmavam que o novo nariz tinha melhor aparência que o

antigo. Se bem, que caísse algumas vezes, mas Tycho o repunha no lugar e

continuava a fazer o que estava fazendo no momento.

Tycho tinha uma personlidade marcante. Era um homem que gostava de

“mostrar”, um temperamento teatral. A sua apressada profecia em Rostock o

prova, tanto quanto o seu duelo no escuro. Esse seu traço teatral o levou a

acreditar na Astrologia e de quebra em Alquimia. Sempre gostou de causar

espanto aos outros, de fazer coisas inesperadas e o inauditas. Nesses tempos não

havia nada que se assemelhasse à Química, a não ser a Alquimia. A Alquimia

não era uma ciência, embora o aparentasse ser e seguia os processos científicos.

Tycho julgava que o ouro podia ser obtido por processos alquímicos, e tentou

obtê-lo. Brahe poderia ter continuado a viver assim, gastando a sua vida em

preparar receitas em seu laboratório, se os astros não houvessem interferido. Em

ceta noite de novembro de 1572, Tycho, ao contemplar o firmamento, ficou

atônito. Apelou ao seu criado, e êste confirmou o que ele duvidava de ter visto.

O que estavam vendo era uma estrela nova. A cada noite se percebia, que ela

crescia e aumentava de esplendor, até rivalizar com Júpiter. Em seguida

Page 26: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

26

diminuiu gradualmente até desaparecer. Esse espetáculo atraiu de novo Brahe

para a sua velha paixão. Mais do que isso: fê-lo estudar a estrela em todas as

suas variações e escrever minuciosamente tudo aquilo que havia observado. A

princípio não quis publicar os seus escritos, a publicidade pela imprensa estava

abaixo da sua dignidade de nobre. Pela mesma razão recusou lecionar na

Universidade de Copenhague, quando lhe solicitaram. Mudou o modo de pensar,

quando o rei deu a entender que veria com agrado que tais lições fossem dadas.

Tycho regressou à Dinamarca para regularizar o testamento de seu tio,

mas, não tinha intenção de se demorar. Pensava em Praga ou Basileia, estas sim,

convinham melhor à sua obra. Portanto, tratou de preparar a sua saída para

sempre da Dinamarca. Uma singular mudança se operou em Tycho, exatamente

nesta ocasião, e nenhum de seus biógrafos parece ter sido capaz de explicá-la. O

aristocrata, que fora por demais orgulhoso para dar à impressão um estudo sobre

uma estrela nova ou lecionar na Universidade, tornou-se repentinamente um

radicalista. Começou a criticar os seus amigos da alta roda. Chegou a ponto de,

gratuitamente, distribuir seus remédios pelos camponeses e fazer amigos nas

classes mais desfavorecidas. Fez mais do que amigos: enamorou-se de uma filha

de camponês. Para um homem aristocrata excêntrico, nem mesmo ele teria

suposto que tal se pudesse acontecer em sua vida. Todas as moças casamenteiras

de Copenhague o haviam “paquerado”. Para Tycho, não haviam os necessários

atrativos, somente àquela componesa os tivera. Todos os parentes e amigos

chamava-no de louco, ou quase ousavam assim chamar a um indivíduo como ele

de temperamento tão exaltado. Seus parentes discutiram com ele, mas Brahe lhes

disse que cuidassem de sua própria vida. E, lá se foi casar com a jovem

camponesa. Viveram juntos a vida toda, e felizes, pois pelo menos Brahe assim

se considerava no que se referia à sua vida conjugal.

A história não nos conta muita coisa a respeito da esposa de Tycho

Brahe, mas ela deve ter sido uma bela, sadia e equilibrada mulher, pois, ser

esposa de um Brahe não era lá muito fácil. Ele, por sua vez, era altivo, vaidoso,

egoísta e extremamente ambicioso. A esposa camponesa era do tipo que tudo

suportava. Deu-lhe muitos filhos, manteve seu lar em paz e soube passar

facilmente por cima dos infindáveis defeitos do esposo. Quando Frederico II

mandou chamar tão famoso súdito a seu palácio, o encontro dos dois motivou

grande coisas para a ciência. Tycho foi persuadido a continuar na Dinamarca.

Frederico fez grandes concessões para conservar o seu Astrólogo. Deu-lhe a ilha

de Huen para construir um observatório, e destinou quantia equivalente a

$100.000 para edifícios e aparelhamentos. Concedeu a Tycho uma pensão de

$2.000, além dos rendimentos de um domínio na Noruega.

Como se vê, Tycho Brahe conheceu dias de fartura ao conquistar a

aprovação real. As obras foram logo iniciadas e, veio a ser o maior e o mais

paerfeiçoado Observatório do mundo. A pedra fundamental foi lançada a 8 de

agôsto de 1576. O Observatório de Uraniborg (Castelo dos Céus) foi construído

muito rapidamente. Tycho Brahe trabalhou incansavelmente por mais de vinte

anos, fez suas observações e recolheu os dados que muito mais tarde foram

publicados com o título de “Tábuas Rodolofinas”.

Tycho vivia empenhado na obra que prezava como sendo a mais ideal

que poderia imaginar. Noite após noite, fez as mais pauradas observações,

anotando-as trabalhosamente. Ocupou-se em corrigir erros que figuraram

durante centenas de anos nas tabelas dos astros. Não nos devemos esquecer de

Page 27: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

27

que os instrumentos de Tycho, julgados pelos padrões modernos, eram

incrivelmente simples e toscos. Sem telescópio ele só contava com os seus dois

excelentes olhos. E apesar das deficiências, suas observações causam ainda a

admiração dos cientistas. É difícil conceber que Tycho, contemplando a precisão

de determinados astros em seus movimentos pelo céu, não tivesse pressentido a

verdade das teorias de Copérnico. Era um homem supremamente vaidoso, e a

sua vaidade o cegava a ponto de não poder admitir a pequeneza da Terra onde

ele vivia. Toda a sua vida dera um lugar predominante ao mundo, tirado sem

nenhuma dúvida de sua própria personalidade. Isso se enquadrava bem na

concepção ptolemaica. Fez da Terra o centro de tudo, mas afirmou que os

planetas giravam em torno do sol, enquanto que o Sol e todos os planetas

giravam em volta da Terra. Esse é o chamado “sistema ticoniano”, que morreu

com ele.

O grande observador Tycho Brahe não era muito forte em teoria e

cálculo. Outros homens poderiam ter feito a mesma obra, mas Tycho foi o

homem que criou a astronomia moderna, pois Kepler e Newton edificaram sobre

os seus alicerses.

Frederico II foi o protetor de Tycho. Uraniborg tornou-se o centro

científico do mundo na época. Homens de estado, Filósofos, estudantes,

chegavam à pequena ilha de Huen. Tycho tinha sempre alguns jovens

trabalhando sob a sua direção, aprendendo Astronomia com o mestre. Através do

tempo ele se tornou um radicalista e, assim se conservou. Extremamente

orgulhoso, não respeitava as altas personagens; era capaz de tratar um visitante

real ou o próprio príncipe herdeiro como trataria qualquer outro visitante, o que

não impedia que fossem sempre bem recebidos por sua esposa camponesa, que

não gostava que os visitantes fossem embora. Entre os hóspedes desse estranho

observatório, havia um anão pretensioso de nome Lep. Era considerado o

favorito de Tycho. Ninguém tinha licença de incomodá-lo. Sentava-se

normalmente à mesa em companhia do Astrônomo, e, quando o imbecil anão

começava a tartamudear, todos os demais hóspedes tinham ordem de se calar.

Tycho demonstrava acreditar ou fazia que acreditava, que o anão falava

perfeitamente e as suas palavras semi-incoerentes. Nestes momentos eram

cuidadosamente escritas para posterior análise. Toda a sua vida Brahe foi

superticoso. Mas toda a sua vida também foi um tanto ator. É possível, pois, que

usasse o anão meramente para manifestar o seu desprezo pelos “tagarelas”. Não

se sabe, mas, de quando em vez surgia alguma pérola de sabedoria nas palvras

daquela pobre criatura. Imaginem a cena, o grande Brahe sentado à cabeceira de

uma mesa bem posta, ordenando que os seus hóspedes se calassem para ouvir as

palavras desconexas de um anão idiota e cheio de empáfia.

Assim, pelo espaço de vinte anos, Tycho obsevou os astros e, governou a

sua pequena ilha pairando acima dos senhores da nobreza que vinha espiar

boquiabetos aquele ambiente. Jaime I, que viera da Escócia para governar a

Inglaterra, visitou Brahe. O rei ficou impressionado e entusiasmado. Não se sabe

sobre o Astrônomo, se por acaso tenha dado grande importancia a sua majestade,

mas pelo menos Jaime I partiu sem ser flagrantemente insultado. Entre sua

vítimas figurou com resultados desatrosos no futuro para Tycho Brahe, o

príncipe herdeiro. Ele veio a ser depois Cristiano IV. Jovem ainda, Cristiano

acompanhou a comitiva que foi visitar o indomável Astrônomo em seu trabalho.

Rodeado pelos seus bajuladores cortesões, Cristiano fazia de si, a ideia de que

Page 28: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

28

era uma criatura superior, capaz portanto, de ter a sua opinião firmada sobre

qualquer assunto. Tentou colaborar com Tycho aplicando a autoridade real em

certo problema científico abstrato. Ao fazê-lo, cessou de ser príncipe herdeiro

aos olhos do Astrônomo, para ser colocado no seu devido lugar. Assim procedeu

Tycho, mas dali em diante, o cientista de lingua solta caiu na antipatia de

Cristiano, que era incapaz de perdoar. Outro que dele sofreu e também não

esqueceu, foi o chaceler da Dinamarca, Walchendorf. Frios olhos azuis,

mandibulas quadradas, ombros largos – homem pesado, útil ao fraco Frederico.

Foi visitar Tycho, se bem que não tivesse mais interesse pelas estrelas do que

essas por ele. O causador da briga entre os homens foi um cão. Um cão que se

tornou imortal. Não porque Jaime I o tivesse dado a Brahe, mas porque figura na

estampa que possuímos do observatório de Tycho. E aquele cachorro galgo que

está deitado, com a melancolia característica da raça, aos pés de Tycho,

cuidando tanto de astronomia como Walchendorf. O cachorro pulou na frente do

chanceler, que de imediato deu-lhe os pés. Mas fê-lo com mais energia do que

estava habituado o cão e, este pagou-lhe na mesma moeda. Tycho interveio,

acusou o chanceler de ser grosseiro e comum. Aproveitou a oportunidade e

entrou em particularidades, referindo-se a vária gerações de Walchendorf,

passadas e futuras. Após Tycho concluir, o chanceler tratou de se retirar

imediatamente de Uraniborg.

Retirou-se imediatamente e, jurou que arruinaria Tycho Brahe. Frederio

II veio a falecer, e Walchendorf e Cristiano se coligaram para destruir o diretor

de Uraniborg. Esses dois homens, vivem na História só porque odiaram Brahe.

Eram na época bastante podrosos para derrotá-lo. Aos poucos, foi sendo Tycho

esbulhado de seus recursos financeiros. Fizeram-no perder as suas proriedades

na Noruega. Cortaram-lhe a pensão. E êle teve que gastar a sua fortuna particular

na manutençao de Uraniborg. Mas não o pode fazê-lo por muito tempo, tendo

que residir numa casa particular em Copenhague. Walchendorf ainda não estava

satisfeito. Criou uma comissão para examinar o valor da obra astronômica de

Tycho Brahe. Essa comissão era tal qual as comissões que todos conhecemos:

raras são aquela que apresentam um relatório contrário aos desejos de quem está

por cima. A reunião dos marionetes de Walchendorf achou que os trabalhos

realizados em Uraniborg, eram não só falhos como perigosos para a moral e a

inteligência espiritual do povo dinamarquês. Numa liguagem clara, queria dizer

que Tycho era um herege. Foi assim que o entendeu o bom povo de

Copenhague, e eles não precisavam de hereges.

Tycho além de célebre, inscrevera o seu nome entre os imortais. Não

importa: homens mais importantes do que ele já haviam sido entregues a

multidões enfurecidas. Os cidadãos de Copenhague o atacaram. Ele já era um

velho, as traições e desapontamentos dos últimos meses o haviam alquebrado,

porém, nada pôde abater o seu valoroso espírito. Imaginem esse seu último

lampejo, o seu ódio explodindo contra a adversidade, sua retidão calcando a

hipocrisia, sua coragem vencendo os covardes. Tycho atravessou a multidão de

ponta a ponta, cabeça erguida, desafiante na palavra e na atitude. Assim

conseguiu chegar em casa; mas também, o seu ódio e dignidade, todo o amor

pela Dinamarca extinguiu-se do seu coração. Ali não haveria paz; não havia um

lugar onde repousasse tranquilamente. Depois de vinte anos, ei-lo que refaz a

sua viagem. Ei-lo de volta para o sul, para encontrar em Praga um soberano e

amigo na pessoa do rei Rodolfo II.

Page 29: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

29

Em pleno mês de junho de 1599, Tycho chegou a Praga. Rodolfo II lhe

deu para residência a altura do Astrônomo, o castelo de Beanatky, e um

observatório, além duma pensão, suficiente para viver, caso tivesse sido paga.

Depois de algumas peregrinações (visitou Rostock, no Norte da Alemanha e

passou um inverno em Wittenberg, logo depois de abandonar Copenhague),

Tycho chegara ao fim de sua jornada. A sua tarefa estava concluída. Somente

dois fatos importantes lhe sucederam em Praga. Um foi a chegada de Johann

Kepler. O ponto de maior importância nesta amizade foi porque Kepler

concordou em publicar as observações do grande Astrônomo de Uraniborg.

Publicou-as com a denominação de “Tábuas Rodolfinas”. O outro fato

importante foi a sua morte. Adoeceu e, não teve ânimo para acombater a crise.

Exclamava frequentes vezes:

- Oh, se ao menos fosse verdade que eu não tenha vivido em vão!

Tycho morreu em 24 de outubro 1601, e foi enterrado e seus

instrumentos mandados guardar num museu pelo rei Rodolfo. Ma não se

destinavam a ficar aí. Quando Praga foi invadida, os instrumentos foram

roubados ou destruídos. Passados mais de trinta anos, o grande globo

astronômico de cobre, mandado construir por Tycho Brahe, foi encontrado,

reconhecido e enviado para a Academia de Ciências de Copenhague. E ali ainda

se conserva. Nada mais é que a testemunha silenciosa de que Tycho Brahe viveu

trabalhando neste mundo. Os aristocratas, que o expulsaram da Dinamarca,

tomaram conta da sua ilha de Huen. O observatório foi destruido e, hoje, apenas

há um monte de terra no lugar em que, um dia existiu Uraniborg, o “Castelo do

Céu”.

Tycho Brahe não era um meditativo. Sua imaginação poderia rivalizar

com a de Kepler ou de Newton, pois quando se afastava dos fatos, perdia-se.

Sobre cometas, assunto sobre o qual nada se sabia na época, eis o que escreve:

- “Os cometas são formados pelos pecados e misérias humanas que

sobem da terra, sob a forma de uma espécie de gás, depois de queimados pela

cólera de Deus. Os resíduos venenosos caem então de novo sobre a cabeça dos

homens, causando toda espécie de malefícios, trais como as pestes, os franceses,

as mortes repentinas e o mau tempo”.

Page 30: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

30

3.5. GALILEU GALILEI (1564-1642) nasceu na cidade de Pisa, em 15 de

fevereiro de 1564, próximo da célebre “Torre Inclinada”. Essa torre teria que

tomar grande parte na vida desse homem corajoso, que então brincava

alegremente nos braços de sua jovem mãe. Ninguém foi gritar aos ouvidos dos

estudantes da Universidade, que naquela hora estavam candidamente achando os

erros de Aristóteles, que nascera o Destruidor. Mais um recém-nascido em Pisa?

Pouco importava!

Na metade final do século XVI, a Itália se achava atada de pés e mãos às

tradições de Aristóteles. Eram consideradas infalíveis e quem delas discordasse

comprometia a própria vida. Em compensação o deus dos gênios fora generoso

para com a Itália. Dera-lhe muitos homens de expressão, por ela desdenhados ou

arruinados. Leonardo da Vinci, não permitiu que seu brilho se projetasse muito

distante. Por 200 anos, suas notações científicas e desenhos anatômicos ficaram

escondidos do grande público. Leonardo sabia muito a respeito do corpo

humano, dos músculos, veias, vávulas, cérebro, tudo que podia ser visto a olhos

nus. Seus desenhos eram obras-primas de fidelidade espantosa. O nome

Leonardo da Vinci, não faz parte da história porque sua obra científica

desapareceu com a sua morte, e tudo que produziu no campo científico foi por

outros realizados, antes que fossem ressuscitados os seus inestimáveis trabalhos.

Serveto e Vesálio, duvidaram de Aristóteles, foram ousados e pagaram

com a vida pela sua temeridade. Não, a Itália não tinha falta de homens de

expressão, mas os seus grandes homens viviam e morriam à sombra de um poder

invejoso, enquanto a Inquisição surgia constantemente para agarrá-los. Muitos

anos sombrios teriam ainda que passar antes que a Igreja despertasse convendo-

se afinal de que a Bíblia não é um tratado de ciência. Havia os moldes prontos

para ele, e neste caso, era só colocá-lo dentro. De repente, sairia acabadinho

como os demais. Mas e se aquela criança, Galileu, se recusasse a entrar no

molde? Se vier a quebrar o mode em pedaços? Neste caso, a Igreja terá que

cuidar dele, e possa Deus ter compaixão da sua pobre alma.

Não por acaso, esses arcaicos indivíduos quase puseram Galileu dentro

do molde! Fizeram dele um noviço, aproveitaram suas tendências religiosas e

sua resolução de tornar-se membro dessa mesma Igreja que, mais tarde faria

recair sobre ele a sua mão pesada. Sobreveio, porém, um incômodo de olhos, e,

não fosse isso, Galileu teria sido ordenado. Essa simples doença deu a

oportunidade para seu pai, Vincenzio Galileu, tirar o filho das mãos dos frades

de Vallombosa, nas proximidades de Florença. E nunca mais Galileu se

aproximou da Igreja, a ponto de querer fazer parte da vida religiosa. Outros

interesses logo tomaram conta dele. Tinha uma inteliegência ativa e

perscrutadora. Fascinava-o os maquinismos; e despendia grande parte de seus

dias de infância a construir brinquedos mecânicos, mesmo contra a aprovação

paterna.

Vincenzio Galilei pertencia à lista dos nobres decaídos. Os seus

antepassados haviam sido senhores em Florença, em plena república. Depois, os

negócios foram ter a outras mãos, e Vincenzio, inteligente mas pobre, teve

poucas facilidades na vida. Era um Matemático de primeira, um hábil transcritor

de músicas, além de campeão dos tocadores de alúde da Itália. Tais predicados

não facilitava converter em metal sonante, e, por isso, a infância de Galileu foi

realmente pobre. Vincenzio resolveu não permitir que Galileu se fizesse músico

ou Matemático, coisas que não se apresentavam probabilidades de lucro na

Page 31: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

31

Itália. Mas, como todo mundo usava roupa, um negociante destes artigos podia

ter a esperança de afugentar a miséria. Daí surgiu a ideia de semelhante

profissão para o filho.

Primeiro quis que aprendesse um pouco, pois umas tinturas de instrução

não prejudicariam o jovem Galileu. Mas, logo que começou a aprender, Galileu

foi uma revelação. Impregnou-se todo de latim e grego, filosofia, música e a arte

da pintura. A pintura, então, foi o seu primeiro amor e esteve por algum tempo

enamorado da ideia de vir a ser pintor. A música também não tinha dificuldades

para ele, pouco tempo foi preciso para o velho Vincezio concordar que seu filho

Galileu podia tocar alaúde em companhia dos que melhor o tocavam. Aos

poucos, Vincenzio foi percebendo que um jovem com aquele talento não podia

desperdiçar-se na simples venda de roupas. A pintura e a música foram postas à

parte. Mas, e a Medicina? Os médicos prosperavam com facilidade e, se

conseguiam um lugar nas Universidades, eram bem remunerados. Por que não,

Galileu um médico? Tudo parecia resolvido, o jovem com apenas 18 anos foi

mandado para a Universidade de Pisa, a fim de estudar medicina sob a direção

do grande Andrea Casalpino.

Galileu, seguiu atentamente as lições de Cesalpino, tomando notas de

seus ensinamentos. Seu pai ficou orgulhoso, suportando satisfeito o pesado

encargo da manutenção do filho na Universidade. As despesas, sem dúvidas

reverterão com lucro quando o filho for um médico. Ele era um jovem robusto,

que se fazia homem um tanto estouvadamente, com ideias novas a zumbirem-lhe

na cabeça. Era portanto, um jovem cujos olhos sabiam ver, inteiramente livres

da inflamação que o fizera abandonar a vida de noviço. Ao observá-lo no

interior da Catedral de Pisa, ele olha atentamente para uma lâmpada que oscila, e

com os dedos da sua mão direita comprime o pulso esquerdo. Seus lábios

imóveis. Galileu, certamente está contando. Durante anos balançaram ali

lâmpadas como aquela! Centenas e centenas de pessoas observaram-nas,

distraidamente, e seguiram o seu caminho, sem jamais imaginar que tais

lâmpadas eram impulsionadas um grande mistério. Para aquele jovem de 18

anos, os olhos fixos nas oscilações aquelas lâmpadas suspensas disseram muita

coisa. Da sua meditação seurgiram as leis do Pêndulo, e, mais tarde, deu

possibilidade da construção dos relógios. Galileu verificara a duração de uma

oscilação, usando seu próprio pulso como relógio para quantificá-las, e viu que

era constante a duração, fosse qual fosse a amplitude da oscilação.

Tudo passaria despersebido para um homem comum, mas, não para

Galileu, a lei da constância das pequenas oscilações do pêndulo lhe veio logo à

mente. Tomou por base como um instrumento para que os médicos pudessem

medir rigorosamente as pulsações. Até estes momentos, não lhe ocorrera a ideia

de construir um relógio. Mas quando surgiu o homem para tal realização, isto é,

Huygens, a lei de Galileu deu a base sólida para a invenção do relógio. E tudo

isso só foi possível porque um desinteressado se deixou ficar contemplando uma

lâmpada que oscilava.

Algum tempo depois se deu um grande acontecimento na vida de

Galileu; grande para ele e para o Mundo. Entre os amigos da família encontrava-

se um Matemático de nome Ricci, que indiretamente se imortalizou. A corte

toscana, a cujo séquito Ricci pertencia, chegou a Pisa, e Galileu foi visitá-lo.

Justamente quando o jovem entrou no palácio, Ricci dava uma aula de geometria

aos príncipes. Galileu parou junto à porta do salão, escutando, e estremeceu. O

Page 32: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

32

assunto que ouvia, e que ele ignorava, interssou-o. Ele compreendeu que

precisava aprendê-lo. Mas era um filho obediente, e o pai lhe havia

recomendado:- Nada de matemáticas, meu caro. O que fazer, no entanto, se

aquilo se lhe deparava de primordial importância? Ricci, atendendo a seu

pedido, concordou em dar-lhe umas aulas em particular. Desta forma, Galileu se

tornou um Matemático.

Foi um banzé por parte de Vincenzio, quando soube do segredo.

Matemático era a coisa mais mal paga do mundo, mesmo que o filho

conseguisse um lugar de professor. Aquele jovem, porém, que lhe competia

iniciar na vida profissional, teria de ser o que era, e nada que dissesse ou fizesse

o demoveria. Foi difícil tirar da cabeça de Vincenzio a ideia de Medicina. Mas

os progressos de Galileu em seus estudos Matemáticos conseguiram-no. O

jovem girava velozmente em volta de Euclides e Arquimedes. O velho pai,

Vincenzio, que entendia de matemática, pode aquilatar-lhe o talento. Segue o teu

prórpio destino, resmungou, sê Matemático e contente-se em ser um pobretão,

mas, que seja feliz. Não te posso libertar da triste sina, nem posso sequer

conservá-lo na escola. O pouco dinheiro de que dispunha se esgotou, e, em 1585,

Galileu deixava a Universidade sem o grau de doutor. Seus pais mudaram para

Florença e ele foi ter com eles.

Tinha apenas 21 anos e, era um turbulento vistoso, um exaltado rapagão.

Idade dos prazeres, rixas passageiras, aventuras foras de horas e, dos impetuosos

amores. O sangue quente italiano estava nele, e muito se tem que perdoar à sua

mocidade e ao seu temperamento. Galileu não empregaria suas energias em tão

fáceis passa-tempos. Ele que não concluíra curso algum, atraiu a atenção dos

entendidos com um ensaio em que descrevia uma balança hidrostática de sua

invenção. Fez a seguir, um outro trabalho sobre a determinação do centro de

gravidade dos sólidos. O velho pai balançava a cabeça, incrédulo, e admirado

quando ouvia chamarem ao filho “o Arquimedes de seu tempo”.

A reputação de Galileu angariou-lhe um lugar de lente de matemática na

sua velha Universidade de Pisa. Os vencimentos eram inferiores aos que

Vincenzio imaginava, embora Galileu, não estivesse interessado em ganhar

dinheiro. Havia mil coisas que queria realizar, e Pisa deu-lhe aportunidade de

realizar algumas, pelo menos. O jovem era arrojado, cortava caminho pelas

veredas que arrojadamente se abriam, para mais cedo chegar às suas conclusões.

Aristóteles dissera que a velocidade de um corpo que cai está na razão direta do

seu peso. Um corpo que pesa 4,5 kg , por exemplo, cairá 10 vezes mais depressa

que um outro que pesa 0,45 kg. A tal afirmação soa razoavel e não havia

ninguém que colocasse em dúvida, não a julgasse correta. Os professores de Pisa

ensinavam-na a seus discípulos, e estes solenemente a engoliam o que lhes

diziam os professores. Todos acostumaram e não colocavam em dúvidas, todos,

menos Galileu. Tal afirmação não havia para ele sentido. Dedicou-se a prová-lo,

com experiências em segredo, e chegou a conclusão que as plavras de

Aristóteles não exprimiam a verdade. Aristóteles, o estagirita, estava apenas

alguns degraus abaixo de Deus para os mestres daquela época. Foram dezessete

séculos reverenciando a sabedoria do Filósofo grego, enquanto Galeleu

represtava somente 25 anos! Quem poderia desafiar tamanha autoridade?

Contudo, a confiança que a mocidade em si deposita não reconhece o verdadeiro

preconceito sobre a idade. A torre de Pisa fornecia o local ideal para a

experiência. Permitiu que os professores ficassem vendo no lado de fora, junto à

Page 33: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

33

base da torre. Fez com que todos examinassem os seus pesos, um de 45 kg e

outro de 0,45 kg . Anunciou-lhes toda a experiência, o que deveria suceder

quando os dois pesos fossem deixados cair ao mesmo tempo do alto da torre.

Com os pesos às mãos, foi subindo as escadarias da torre. Os comentários logo

surgiram entre os figurões que ficaram embaixo. Esse rapaz é completamente

louco, mas deixem que o faça. Será uma grande lição. É muita ousadia, esse

pobre e pretensioso, discordar de Aritstóteles!

Galileu posicionou-se no alto da torre. A inclinação contribuia com a

queda dos pesos, além de proporcionar uma visão clara do acontecimento. Ele

solicitou que deixassem um espaço vazio embaixo. De repente disse:- Lá vão

eles!

Os dois pesos desceram paralelos um ao outro, tanto assim que tocaram o

solo ao mesmo tempo. Marcou o baque simutâneo desses dois corpos. Estava

destruido o reinado de Aristóteles? Os homens da cátedra não quizeram

acreditar, não a veem, ou não a ouvem, ou ainda não a sentem. Os homens de

cátedra que assistiram à experiência não acreditaram. Admitiram sim! Alguma

coisa andou errado no céu, ou quem sabe no inferno, ou mesmo na terra, mas

nunca que Aristóteles houvesse cometido tamanho erro. Tiveram fortes suspeitas

de que Galileu conjurou o demo a entrar no peso maior para impedir a

velocidade de sua queda. Não aceitaram o fato como prova, que ele o tivesse

feito. Galileu tinha a lingua afiada e sarcástica, e não deixou de esfolar os

acadêmicos. O fato não contribuiu para torná-lo mais estimado.

Galileu jamais suportou a estupidez humana. Acredita-se ser um defeito

natural nos jovens de talento. Não somente talento, ele ainda tinha o hábito de

falar a verdade, não dando nenhuma importância à autoridade. Era um traço de

sua individualidade, e causar-lhe-ia o seu primeiro grande transtorno na vida.

Giovanni de Medici, grão-duque de Toscana, filho bastardo de Cosmo I,

considerava-se um gênio em Mecânica. Com objetivo de prová-lo projetou e

construiu uma grande e dispendiosa maquina para ser empregada no

assoreamento e limpeza do porto de Liorna. Galileu foi consultado a respeito.

Examinou-a, e declarou a não aprovação, dizendo que, caso fosse testada, não

daria bom resultado. Giovanni se enfureceu com issso. Sua cólera não haveria de

esfriar quando a máquina, de fato, se negou a funcionar. Giovanni se queixou ao

pai Cosmo, que Galileu não passava de uma disfarçada serpente. Cosmo deu

confiança ao filho e passou a desprestigiar Galileu, com grande orgulho dos

professores que passaram a atacá-lo diante de qualquer propósito. Os estudantes,

seus caudatários, por sua vez, riram-se dele, e chegaram ao ponto mesmo de

vaiá-lo dentro da sala de aula. Galileu não se conformou, pois se considerava

mais inteligente do que o comum dos moços de seu tempo. Num ato de ódio e

orgulho ferido, retirou-se da Universidade, regressando a Florença.

O apaixonado cultor da Ciência novamente entre os seus, chegou ainda a

tempo de assistir à morte de seu velho pai, Vicenzio. Cessaram os concertos de

alaúde, os cuidados para que seu filho não viesse a ser um Matemático, as lutas

para conseguir alguns florins. Chegara o fim para quem tanto se atormentou para

arranjar uma profissão ao filho. Três irmãs e um irmão, todos mais moços do

que ele, e totalmente sem dinheiro e posição. Essa a situação sombria que

Galileu tinha que enfrentar. Mas não deixou-se abater com à presença da

adversidade, pois contava com um amigo, rico, poderoso e capaz de apreciar um

cientista. O marquês Guidubaldo del Monte de Pesaro antes da comprometedora

Page 34: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

34

experiência de Pisa conhecera Galileu e sua obra. Viu nele um jovem merecedor

de auxílio, Galileu apelou para Guidubaldo, que usou de sua influência para

conseguir uma colocação em Pádua para o seu amigo. Galileu prazerosamente

aceitou-a e assinou contrato de seis anos como lente da Universidade. Os

vencimentos em torno de $200 anuais, o que representava justamente o triplo do

que recebia em Pisa. Mas os vencimentos não eram tudo em Pádua.

As mais influentes personalidades da Itália haviam passado por suas

aulas, na Universidade de Padua. Era, portanto, grande o número de estudantes

que alí frequentavam. Galileu percebeu a sua oportunidade e fez o melhor que

pode. Imprimiu toda a dinâmica de sua personalidade nas aulas que lecionava,

conquistando a popularidade. Ansiosamente os alunos o procuravam para aulas

extraordinárias, com isso, aumentavam consideravelmente as suas rendas. Deu

aulas, sobre a geometria da esfera, alavancas, roldanas, parafuso e até sobre

fortificações. Foi durante a preparação destas aulas que, pela primeira vez,

desenvolveu o princípio: o que se ganha em força, perde-se em velocidade. É

essa uma noção básica em Mecânica, e todos os que sobem numa montanha por

meio de cremalheira fazem uso dela.

Um insidente em Pádua, ficou como ar de certo mistério. Estava ele em

companhia de dois outros rapazes e, dirigiram-se a uma gruta nas imediações de

Pádua. Resolveram por motivos desconhecidos passar a noite na gruta.

Permaneceram para dormir na entrada da gruta, por onde passava uma corrente

de ar frio e posssivelmente envenenado. Após dois dias de semelhante aventura,

sentiram-se mal. Neste insidente, veio a falecer os dois amigos de Galileu, e ele

próprio nunca mais se sentiu com boa saúde. Pádua não está tão distante de

Veneza, e Veneza é uma cidade de romances, com gôndolas e luares. Galileu

também desfrutaria dessas facilidades. Teria ele encontrado a mulher misteriosa

que se tornou sua amante? A que sociedade pertencia ela? Seria alegre ou triste,

extrovertida ou introvertida? Como ela conseguiu os dotes intelectuais, que lhe

tornou possível conservar cativo por tantos anos o mais sábio dos homens

daquele tempo? Seria uma paixão avassaladora, que fez aliar-se ilegitimamente

àquele professor e cientista? Uma verdadeira dama, escreveu alguém. E devia

ser sim! Outro gênero de mulher não seria capaz de atrair Galileu, pois ele se

manteve reservado como um túmulo. Nada de elogios nem queixas.

Aproximadamente em 1600, montou uma casa para ela, que lhe deu três

crianças, duas filhas e um filho. O filho nunca deu que falar. As filhas foram ser

freiras. Havia muito poucas oportunidades para elas, por ser vilhas de uma união

irregular. Celeste, uma das filhas, ouviremos falar depois. Havia nela alguma

coisa do gênio do pai, temperado pelo rigoroso regime a que foi submetida. O

que se pode apurar, Galileu não desposou a mãe de seus filhos. Ao deixar Pádua,

àquela Senhora ficou na cidade, e, dois anos se passaram, ela encontrou um

homem que a aceitou como esposa.

Galileu pelo que se sabe, nada objetou a isso. Ao contrário, auxiliou-a

financeiramente possibilitando-lhe o casamento. Seria interessante, saber como

viveu ela o resto de sua vida em companhia do novo companheiro. Havia

acalmado Galileu de suas agitações, cuidado dele em suas enfermidades,

reanimando-o, participando de alguns triunfos e contrariando-se com seus

problemas. Aquela figura notável havia de fato sido o seu companheiro. Agora

estava casada com uma criatura calma, contente com o que tinha, não trazendo

problemas de Natureza incompreendida, nem mesmo agitando-se com ideias

Page 35: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

35

ilusórias e sonhos demasiadamente sutis. Nesta troca ela ganhara, pelo menos

repouso e segurança.

Em 1599, Galileu foi nomeado professor de matemática da Universidade

de Pádua por mais seis anos. Os vencimentos correspondiam então mais ou

menos a $350 anuais. Fora uma bela promoção que o colocava entre os

Matemáticos mais bem pagos do país. Os seus alunos particulares aumentavam-

lhe apreciavelmente a renda. Além de uma oficina onde construía os seus

inventos, agora muito procurados. A balança hidrostática, o seu setor usado em

desenho geométrico, e o mecanismo pendular para contar pulsações eram os

objetos que se fabricavam na sua pequena oficina. Tudo contribuia para a

melhora de sua situação financeira. Mesmo assim, precisava de auxílio, pois ele

e o irmão haviam sido fiadores do dote da irmã. O seu irmão fugiu para não

pagar a sua parte da dívida. Contudo, não se pode dizer que Galileu tenha

passado necessidade depois que conseguiu o seu lugar em Pádua.

Logo após a renovação de seu contrato, a tragédia passara por ele,

roçando. Foi mais um acontecimento sobre o qual Galileu, provavelmente por

prudência, preferiu não falar. Por temperamento, não havia silêncio capaz de

envolvê-lo, causou a impressão que seu espírito havia de se manifestar

amplamente em toda a sua conduta posterior. Giordano Bruno tinha um espírito

tão irrequieto como o próprio Galileu. Passou ele muitos anos na França e

finalmente dois anos na Inglaterra, onde aprendeu e ensinou muita ciência.

Aceitou a teoria de Copérnico e defendia outras ideias não bem vistas em Roma.

Afinal, cançado do exílio, pretendeu voltar à pátria. Um amigo convidara-o para

Veneza, assegurando-lhe que ele ali estaria em segurança, esquecido pelos

dominicanos e ignorado de Roma. Mais tarde, porém, provou-se ser inteiramente

falsa a afirmação. Os dominicanos sempre estiveram à espreita, e Roma pávida.

Galileu omitiu tudo o que era essencial nos ensinamentos científicos de

Bruno. Os fatos com a prisão, todo o processo e a morte de Bruno eram

familiares. A última recusa de Bruno em retratar-se, e seu apego à verdade que

estava de acordo com o seu ponto de vista, devem ter conquistado para sempre a

admiração de Galileu, nas mesmas proporções em que o castigo, com a sua

atrocidade, implantou-lhe um profundo terror.

Em 1609 uma “estrela nova” foi quem o revelou. Galileu dera três aulas

sobre o astro. O público se achava interessado pela estrela e também por Galileu,

desde a primeira lição. A sala ficara literalmente repleta. A segunda lição teve

que ser dada num salão com capacidade para mais de mil pessoas. Mesmo assim,

foi tão exíguo o espaço que a terceira lição teve que ser dada ao ar livre. Galileu

foi severo demais para com o seu auditório, disse que considerava aqueles que o

ouvia pueris em demontrar tão vivo interesse por uma simples novidade, quando

se faziam surdos a quem pretendesse discorrer-lhes sobre as maravilhas das

estrelas e outras verdades de real importância na Natureza. A assistência tomou

isso num sentido favorável, e todos atentamente ouviram o que Galileu tinha

para dizer a respeito da “estrela nova”.

Falou com abundância de plavras e, suscitou controvérsias. Aristóteles, o

benigno e infalível grego, ensinara que os céus eram imutáveis e perfeitos.

Exclamou Galileu:- Isso não passa de um amontoado de absurdos! Ele

empregou na afirmação uma expressão popular local. “Estamos estudando uma

estrela, tal e qual como as outras: ora, essa estrela há pouco não se via, mas

Page 36: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

36

passou a ser vista agora, e tem todas as probabilidades de deixar de ser vista

daqui a tempos. Então, pode-se chamar a isso de imutabilidade? Que absurdo!

Na Natureza nada é permanente. Já é tempo de não declamar frases

latinas, de esquecer Aristóteles e prestar atenção às maravilhas e belezas que nos

rodeiam. Quem não faz a ideia de como os homens das cátedras apreciaram

essas palavras? Contestaram com veemência a Galileu. Ficaram furiosos porque

a estrela havia aparecido. Contra isso nada poderiam fazer. Contudo, preferiram

tê-la igonorado e havia a certeza de que a grande maioria das pessoas nem

ouviria falar do assunto. Aqueles palavreados em público era o que mais

fortemente não podiam tolerar em Galileu. Tudo bem! Respondeu Galileu, se os

senhores estão para suprimir parte da verdade, eu estou aqui para dizê-la

completa. Ouçam o resto e vejam se vão gostar. Passou a ensinar a teoria de

Copérnico, estava certo da sua veracidade. Ao ouvirem estes ensinamentos,

houve um sentimento de ódio nos corações professorais. O quê é isto? Destronar

a Terra? Arrancá-la da sua posição no centro do Universo? Fazer dela uma mera

partícula, um grão de poeira flutuando emvolta do Sol? Que profanação!

Galileu sustentava as teorias de Copérnico apelando às provas, e ensinava

em italiano; por isso, a tempestade serenou. Tudo poderia ter sido esquecido se

um fato importante não acontecesse logo depois. Em Middleburg, na Holanda,

vivia um ótico chamado Hans Lippershey. Ele tinha uma mentalidade curiosa!

Divertir-se com as lentes ao empregá-las na fabricação de lunetas para os velhos

e míopes, como também faziam os seus colegas. Manipulando-as e virando-as de

todos os lados, descobriu por acaso, que se podiam combinar duas lentes de

forma tal que, quando alguém olhasse através das mesmas, via os objetos

distantes como se estivessem muito perto. Isso passou para ele como um

divertimento. E, na verdade, Lippershey considerava a sua descoberta como um

simples brinquedo engenhoso. Isto aconteceu em 1608.

Só no mês de junho do ano seguinte, os boatos dessa descoberta

chegaram aos ouvidos de Galileu. Agora, observe a diferença entre Hans, o ótico

de Middleburg, e Galileu, o cientista e Matemático. Hans já havia conseguido o

telescópio e, através deste instrumento, poderiam ter desvendado as maravilhas

do céu! A forma de conduta diferenciada, mostra que para Hans não passava

realmente de um brinquedo. Ora, um holandes colocou duas lentes juntas e os

objetos olhados através das duas lentes parecem ficar muito perto, isso era tudo,

o que haviam informado a Galileu. Ninguém sabia nada a respeito de lentes

naquele tempo, senão que melhoravam as vistas más. A pergunta principal:-

Como se podia fazer uma lente para utilizar num telescópio? A que distância se

deveriam encaixá-las? O tipo de tubo em que deveriam utilizá-las para conseguir

tal intento? Nada disso fora ainda descoberto, ninguém até aqueles dias pensara

no assunto.

Diante de tanta dificuldade com materiais, quem poderia construir um

telescópio? Mesmo agora em 2013, com tudo que temos em conhecimento sobre

os telescópios, mesmo com o uso que são feitos de binóculos, alguém pode ter

uma ideia, de como proceder para construir com vossas próprias mãos um

telescópio? Imaginem as condições daquela época, um homem se senta à noite

diante de uma mesa, e, na manhã seguinte, tem uma luneta de alcance à sua

disposição! Pois foi justamente o que aconteceu com Galileu. Uma longa noite

concentrado, de sondagens para conhecer os fundamentos da questão. Galileu se

sentiu capaz, e na manhã seguinte construiu o primeiro telescóio. Tomou de um

Page 37: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

37

pedaço de tubo metálico; em uma de suas extremidades fez entrar uma lente

convexa, na outra extremidade uma côncava. – e aí está tudo o de que precisou

para ter em mãos uma luneta capaz de aumentar três vezes os objetos obsevados.

Era um telescópio bastante simples, mas, um bocado melhor do que tudo

quanto Lippershey havia feito. Hans parara no brinquedo, entretanto, Galileu

não parou. O sentido instintivo parece ter-lhe indicado que estava no encalço de

algo muito grande, pôs-se a construir uma luneta imediatamente. Essa agora

com aumento de 8 diâmetros. Através dela era possível ver no mar uma

embarcação, duas horas antes de poderem ser avistadas a olhos despreparados.

Galileu mostrou-se impetuoso como um adolecente, foi a Veneza para

mostrá-lo ao Conselho e, evidentemente, regozijar-se com as expressões de

espanto por parte dos Conselheiros. Um homem milagroso! Davam a entender

que, se Galileu lhes fizesse entrega do instrumento nada lhe recusariam em

troca. O genio, Galileu, aceitou. Um gesto bem inspirado de usa parte, o

Conselho votou a duplicação de seus vencimentos em Pádua e, declarou-o

vitalício o seu posto de professor.

Galileu pôs-se a construir mais telescópios, fazendo cada vez melhores e

mais potentes, até que conseguiu um, capaz de aumentar 32 vezes. Já

apresentava um grande salto em relação ao primeiro que havia construido,

aquele de 3 diâmetros, que, no entanto, já sobrepujava o que Lippershey

conseguira fazer. Não se admira, que a maioria das pessoas pense que foi Galileu

o inventor do telescópio. Certamente, ele apanhou um brinquedo e converteu-o

num instrumento poderoso em auxilio à Ciência. Quando Galileu mirou a lua

pela primeira vez, acabaram-se os velhos contos de fadas, que passaram,

buxuleantes. A superfície da Lua perfeitamente polida, mostrava-se agora que

era rugosa, com cicatrizes e eriçada de ásperas montanhas. Jamais alguém

poderia sonhar com tal transfiguração. Ela parecia uma velha encarquilhada,

contra a previsão dos homens mais instruídos da época? Os professores de Pádua

deviam ter-se contorcidos de raiva naquela noite. A superfície da Lua não ser

lisa, ao contrário, esfolada e enrugada como a Terra! A conclusão que logo se

impunha era que a Terra devia brilhar no céu da Lua, exatamente como esta, e a

imagem da Lua velha nos braços da Lua nova, que todos distinguiam nos

crescentes lunares. De agora em diante atribuia-lhe o fato de o brilho da Terra

não alcançava a parte não iluminada da Lua. Com certeza, Aristóteles ter-se-ia

revirado na sepultura quando tal constatação foi feita.

O interessante é que houve mais ainda. A Via Láctea, fulgindo de ponta a

ponta nos céus, Galileu dizia que era formada de infinitas estrelas separadas. E

aquela estrela, que se via piscando nas alturas, na realidade eram duas e não uma

estrela. Em todo o firmamento, estrelas esparsas, distantes demais para serem

vistas sem o auxílio da luneta de Galileu. Coisa igual no mundo jamais se vira. A

bela fantasia de Aristóteles, de uma perfeita abóbada celeste, fora assim

destruída de um golpe por um pobre e mal construído telescópio. Contudo, os

sabichões da época, que professavam em Pádua, acreditaram logo em tudo isso?

Podiam olhar pela luneta de Galileu, observar com seus próprios olhos, mas não

se deram por satisfeitos. Haveria algum truque! De qualquer modo, se o que

Galileu via era diferente do que Aristóteles ensinava, Galeleu era o maior

mentiroso de seu tempo, tudo aquilo não passava de mistificação.

Assim continuaram a rosnar, aquelas velhas criaturas para quem a

originalidade e a experiência eram sacrilégios. Enquanto isso, a luneta de Galileu

Page 38: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

38

era dirigida para os céus. Ele prosseguia na sua marcha de astro em astro,

colhendo novas coisas, aumentando o sorriso de escárnio dos truculentos, agora

convertidos em intoleráveis azedumes. Neste sentido, Galileu chegou ao ápice, à

mais sensacional de todas aquelas descobertas. Após se acostumar com o uso do

novo instrumento, sentia-se inteiramente afeito. Não se deixava mais enganar

pelas observações superficiais e aprendera a ler com segurança tudo que as suas

lentes lhe mostravam. Em 8 de janeiro de 1610, focou com a sua luneta o Planeta

Júpiter, não acreditou nos seus olhos, pois na noite anterior, havia observado

pela primeira vez três pequenos astros perto de Júpiter, dois à esquerda e um à

direita. Nesta noite, porém, estavam todos eles à direita. Estaria a luneta

pregando-lhe peças? A noite logo a seguir foi nublada e Galileu esperou. 10 de

janeiro, noite clara, Júpiter plainava nas alturas, agora eram dois astros apenas, e

ambos do lado esquerdo de Júpiter. Na noite seguinte, os dois se conservaram no

mesmo lado, porém um deles estava agora muito maior que o outro. E na noite

posterior, eram quatro desses astros que apareciam, três à direita e um grande à

esquerda! Galileu reconheceu que não havia enlouquecido e que a sua luneta não

fracassara. Deu-se afinal com a explicação do grande mistério:- Júpiter tinha

quatro luas.

Kepler ao ouviu falar da descoberta, acreditrou imediantamente, pois

Kepler não era laguém que se pudesse enganar. “Estou tão longe de pôr em

dúvida”, escreveu ele a Galileu, “estou à espera de uma luneta para me antecipar

as vossas descobertas, se é possível assim dizer, e descobrir os 2 satélites de

Marte, 6 ou 8 em vota de Saturno, e 1 em vota de Vênus e de Mercúrio”.

Entretanto, o Astrônomo florentino, Francesco Sizzi, um extemado membro da

Igreja, não se entusiasmou como Kepler. Desenvolveu esta obra-prima de

raciocínio: “os satélites são invisíveis a olho desarmado, portanto não têm

influência sobre a Terra e não têm utilidade alguma; não existem, por

conseguinte”.

Galileu sorriu dessse raciocínio invejoso. Escreveu a Kepler:- Oh, meu

caro Kepler, como eu desejava ter junto de mim alguém que pudesse

abertamente rir comigo! Aqui em Pádua, o principal professor de Filosofia

negou-se em absoluto a olhar através da minha luneta. Se pudesse ouvir o

professor de filosofia de Pisa insistindo com os seus argumentos lógicos junto ao

grão-duque, como se estivesse tentando, à cusa de sortilégios, atrair os novos

Planetas para fora do céu!

Os satélites de Júpiter, elevaram Galileu a uma posição de grande

destaque, mas acabaram por desgraçá-lo. Veneza oferecia relativa segurança, a

despeito do trágico fim de Giodano Bruno. Por que Galileu resolveu regressar a

Florença? Lá não havia nem liberdade e muito menos justiça? Ele tinha

inimigos, dentro e fora da Igreja. Bruno havia sido preso diante dos olhos atentos

da pupulação. Acontece que, Florença e Pisa eram a sua terra e também a terra

dos seus, por isso resolveu voltar. Sentia-se bastante capaz para enfrentar os seus

adversários. Quem ousaria a pôr as mãos no podeoroso Galileu? Principalmente

porque ele tinha as costas quentes com a proteção dos duques. Além disso,

estava garantido pela sua honesta aceitação da Igreja. Havia passados a época

em que a Igreja podia ordenar, que um rei andasse descalço pela neve, enquanto

aguardava a decisão do Papa. Ir para Florença, era o que sempre Galileu quisera

fazer, mas só agora podia realizar. Tinha um compromisso com a Universidade

Page 39: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

39

Pádua. Mas era apenas um acordo verbal, e Galileu, aceitou uma generosa oferta

de Cosmo II, deixou prontamente Pádua para nunca mais voltar.

Copérnico não podia estar doido. Cem anos antes de Galileu apontar a

sua luneta na direção dos astros, o padre alemão havia previsto que, se a vista

humana fosse aguçada, veria que Vênus e Mercúrio apresentam fases como a

Lua. A luneta de Galileu provou-lhe que Copénico tinha toda razão quanto a

Vênus. Esse fato atingiu aqueles que ainda ensinavam as doutrinas de Ptolomeu.

Ficaram sem mais nenhum apoio, e só através da teimosia podiam agora voltar a

Ptolomeu. Ainda não se chegara ao fim, vamos olhar para o Sol, disse Galileu.

Tudo nos céus, até agora é diferente do que se esperava. Quem sabe se o Sol é

diferente também? Observou atentamente, e na face do Sol distinguiu. . .

manchas! Jamais alguém imaginou coisa tão extravagante! Impossível, mas as

manchas lá estavam. Elas andavam, moviam-se. Não! Não eram elas que se

moviam, era o próprio Sol que girava sobre seu eixo.

Galileu não perdeu tempo com lamentos sobre Aristóteles, o deus

deposto. Assestou para Saturno com sua lente. Viu um Planeta triplice, escreveu

a Kepler. Seria assim mesmo? Jamais chegaria a uma conclusão a tal respeito.

Quando voltava a observá-lo novamente, dois dos componentes de Saturno

haviam desaparecidos. Realmente uma surpresa. Novamente suspeitou de sua

luneta. Lembrou-se da velha lenda grega, Saturno teria devorado seus filhos?

Nesse caso, um certo dia haveria de vomitá-los. Eles hão de reaparecer, disse o

mestre Galileu. E reapareceram. As lentes de Galileu eram muito fracas para lhe

contar a verdade sobre os anéis de Saturno, embora, compreendesse que algo

havia visto e, acerditou no que vira. Consequentemente, os inimigos se

multiplicaram em cada revelação. Os devotos extremados da Igreja levantavam

as mãos horrorizados. São ciraturas não se conformavam com a possiibilidade de

afastar da religião e de seu Deus. Reuniram-se e planejaram fazer calar Galileu.

O homem a quem atacavam vivia em plena fama, era um católico devotado.

Porém, a fúria das investidas cada vez eram mais fortes, ocorreu a Galileu que

seria uma boa ideia ir a Roma, esclarecer a situação diretamente com o Papa,

garantir a sua segurança.

Galileu foi bem recebido em Roma, enaltecido, homenageado pela Igreja

e pelo Estado. Mas, de repente se intrometeu um pequenino mas, o livro de

Copérnico fora banido e Galileu dava a sua palavra de honra que não mais

ensinaria a imbecil doutrina, obviamente contrária à Biblia, por afirmar que a

Terra girava em volta do Sol. Galileu concordara, julgando que a coisa não

passava, quanto lhe era dado entender, tudo era mera formalidade. Deixava,

porém, uma arma nas mãos de seus inimigos. Melhor teria sido respirar o seu

contato e ter continuado em Pádua. Aquela primeira visita a Roma,

acompanhada de honras, com o papa levantado o dedo em séria advertência,

aconteceu em 1615. O livro de Copérnico fora banido. Galileu silenciado. Por

nada menos de 200 anos, a Igreja manteve aquele banimento. Só em 1885, e

mesmo assim em absoluto silêncio, é que foram levantados os entraves em

relação a Copérnico. Nove anos se passaram, Galileu esteve ocupado durante

todo o tempo, mas seus inimigos também. . . vigilantes na espionagem da

heresia. Julgavam-se ser Deus.

Galileu vivera com tranquilidade; enquanto os seus fiscais, carajosos só

de boca, rosnavam à distância do contemplador do céu. Passara todos aqueles

dias como quem estava predestinado a destruição. As doenças acompanhadas de

Page 40: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

40

intensas dores reumáticas, adquiridas na noite que passara na entrada da gruta, o

aflingiam. Quando estava bem, entretinha-se com atividade pequenas:

consertava o relógio que se recusara a funcionar; mandava presentes à irmã

superior sob cuja direção estavam suas duas filhas; estudava hidrostática e

percorria o céu com a sua luneta. Ele vivia tranquilamente. Três anos de lutas e

vitórias já haviam passado, a glória nada mais lhe daria, e a luta contra a pobreza

ficou esquecida. Mas, e a verdade? E, se ele ousasse ignorar a advertência papal?

Somente o tempo corrigira as coisas. Quem o havia advertido tinha morrido.

Urbano VIII era agora quem estava no poder da igreja, era, portanto, o mesmo

cardeal Barberini (homem de consideráveis brilhantismos), amigo de Galileu.

Urbano dentro da razão deixaria expor os seus pensamentos. Assim imaginou

Galileu.

O grande sábio daria a conhecer o seu modo de pensar a todos os

interessados. Mas, para sua maior segurança, procedeu indiretamente. Escreveu

e publicou os Diálogos sobre os sistemas de Ptolomeu e Copérnico. O seu plano,

era que, nenhuma opinião própria dele apareceria na obra, portanto, nenhuma

conclusão se chegava quanto aos méritos relativos aos dois sistemas. Ainda

como medida complementar de segurança, juntou um prefácio, em que declarava

que o sistema de Copérnico é apresentado simplesmente como hipótese e não,

absolutamente, para ser considerado a sério. Cercado de cautelas e protegido por

um Papa amigo, o livro e o autor poderiam passar sem maiores consequências.

Não perderia os sombrios olhos de lince a tão bela oportunidade. Contudo, a

advertência publicada em 1616 ainda vigorava. E, sem que fosse considerada por

Galileu, houvera uma violação direta da ordem da Igreja. Além disso, ou seja,

pior do que isso, os inimigos de Galileu declararam que Simplício, que no livro

defendia Aristóteles e a quem Galileu constantemente ridicularizava, era a

imagem viva do Papa Urbano VIII. Bastaria um olhar à publicação do seu

desobediente filho para ver que este o pusera em ridículo. Sem dúvidas, Urbano

lançou o olhar, e a sua vaidade humilhada levantou a suspeita que foi

avolumado até certeza. Galileu foi intimado a ir a Roma. Decorrido nove anos da

confecção e publicação da obra impugnada, Galileu com 70 anos e doente.

Aquela intimação era terrível! Outros já a haviam recebido; foram para a cidade

Eterna e nuna mais de lá voltaram. Como acompanhantes, quando Galileu se

dirigia para Roma, caminhavam as sombras de Savonarola, João Huss e

Giordano Bruno.

Desta vez, nem festas, nem honrarias, apenas frias ordens para se

conservar em casa. Isolar-se e aguardar o chamado da Inquisição. Pelas mãos

desse sinistro tribunal, Galileu ficou preso em seus aposentos, examinado e

reexaminado, e por fim inquirido por homens comissionados para votar contra

ele, pelas formas expostas de suas próprias palavras. Não havia a menor dúvida

sobre a culpa. A ofensa soara dos púlpitos aos ouvidos de todos os humildes

cristãos. A Inquisição não tinha que fundamentar à acusação. Não foi para isso

que o atormentaram com perguntas; não foi para issso que o levaram à sala de

torturas para que pudesse ver com os próprios olhos os cruéis instrumentos

destinados a purificar da alma dos hereges. As usuais medidas eram somente

para forçá-lo a se retratar, a abjurar da sua diabólica heresia. Os seus amigos que

obtiveram licença para vê-lo, imploraram-lhe chorando, que se retratasse. De

Arcetri, a sua filha, irmã Maria Celeste, escreveu-lhe piedosas cartas. Salva-te,

Galileu, retrata-te; retrata-te! Mas, Galileu não se retratava. Imagine-se Galileu

Page 41: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

41

exclamando:- Não sou eu um Cristão? Não sou um digno filho da Igreja? Não

me ajoelho na pooeira do chão para adorar Deus, Pai todo Poderoso, e Jesus

Cristo? Agora. . . retratação? Retratação de quê? Como esconder a verdade e,

assim procedendo lançar a mentira em face da Igreja? Ainda perder a minha

alma com blasfêmia? Meus amigos, eu disse a verdade, posso agora negar a

minha fé e chamar a Deus de mentiroso?

O interrogatório rigoroso feito de acordo com as normas minuciosas da

Inquisição, compõem cinco fases. Primeira: a ameaça de tortura feita na sala do

julgamento. Segunda: o herege infrator era levado até a porta da sala de tortura,

onde lhe era renovada a ameaça. Terceira: o herege era introduzido na sala,

sendo-lhe apresentados os instrumentos de torturas. Quarta: a vítima era

despida, amarrada em cima da mesa de tortura. Quinta: a aplicação da tortura.

No final de cada fase, dava-se ao acusado a oportunidade de se retratar. Em

fevereiro Galileu chegou a Roma, e foi interrogado por várias vezes, gastando-se

semanas com os interrogatórios. Galileu resistiu com firmesa ao interrogatório.

À primeira sucedeu o verão, e foi até ao dia 21 de junho. Para ele, estava

sombrio e havia na aragem um sopro morte. Neste mesmo dia, levaram-no à

presença da Inquisição para o interrogatório rigoroso. Visitou novamente a sala

dos horrores, deixando seus amigos, que lhe imploravam. As portas se abriram e

fecharam, mas, aos ouvidos dos que ansiosos esperavam do lado de fora não

chegou uma única palavra de como corriam as coisas para o mestre. Foi o dia

mais longo do ano. Outra noite e mais um terrível dia, prolongado-se por outra

noite trágica. Galileu somente foi restituído a seus amigos em 24 junho.

Cinco fases. Um interrogatório rigoroso. Quantas vezes ele passou por

estes interrogatórios os arquivos nada dizem. A certo ponto do processo abateu-

se-lhe o ânimo e, teria exclamado:- Basta! Eu abjuro. Maldigo a minha heresia.

Que mais querem os senhores que eu faça? Assine, disseram os dez cardeais.

E, sem pestanejar, Galileu assinou. Quando, se ergueu de sua posição

ajoelhada, sacudido pelo horror, tinha tudo a ver com ele, a verdade sobre a

Terra e seus movimentos! Não passava de um velho apavorado e doente, que

ansiava por sentir os braços acolhedores de sua filha e, ouvir a voz dos seus

amigos. Após o interrogatório, Galileu continuou prisioneiro. Não estava mais

trancado numa das masmorras da Inquisição, mas privavam-lhe à liberdade. Por

algum tempo o consevaram num subúrbio de Roma, sendo em seguida removido

para Siena e colocado sob a responsabilidade do arcebispo Piccolomini. Ali,

segregado, permaneceu por um período de seis meses. Somente em dezembro do

ano seguinte, a Igreja, por sua benignidade permitiu a Galileu, voltar a residir na

sua antiga propriedade em Arcetri perto de Florença. Mesmo assim, não

deixaram de avisá-lo que devia conservar-se sempre em Arcetri, sem jamais ir a

Florença. Tinha autorização para receber visitas de amigos, no máximo dois de

cada vez.

Em Siena, Galileu sentira grande falta dos carinhos da filha; mas em sua

residência em Arcetri pode ter ao seu lado a filha Maria Celeste, que se

incumbiu da missão de encorajá-lo para a vida. Tomara conta das propriedades

durante a sua longa ausência. Sofreu com os tormentos que a inquisição infligira

a sua saúde, principalmente pelos três dias de interrogatório final. Suas cartas

haviam sido os únicos pontos luminosos que Galileu teve na escuridão daqueles

dias. Entretanto, em Arcetri teve-a de novo a decepção de perdê-la. O sofrimento

ao ver a que ponto deixaram seu pai, haviam minado as froças da filha

Page 42: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

42

extremosa. Antes de o pai deixar Siena, ela sentira que a sua existência pouco

duraria, e em dezembro escrevia: “não penso que viverei até poder ver a hora do

vosso regresso. Mas permita Deus que eu o veja, se fôr de seu agrado”.

Foi do agrado do Altíssimo e, os dois novamente se reuniram. Mas pouco

pode Galileu alegrar-se com a convivência da filha. Celeste estava realmente

muito doente. Durante o inverno foi piorando e, veio a falece em 2 de Abril de

1634. O hábito de trabalhar, salvou a vida de Galileu, que a despeito dos

sofrimentos físicos e morais, pôs-se a trabalhar. Assim passou por cima do

infortúnio e esqueceu a sua condição de prisioneiro. Embora a cabeça sem

repouso continua produzindo, (escreveu ele sete mese depois do falecimento da

filha) estou tratando no momento dos “Dialogos sobrre as Novas Ciências”. Este

seria o trabalho que desejava concluir, antes que a morte o chamasse.

“Novas Ciências” era a Mecânica. Por muitos e muitos anos Galileu

estudou a força em ação na vida quotidiana. Como vimos, ele havia lidado com a

hidrostática, com a lei que reje as quedas dos corpos e o ganho de força com

perda de velocidade. Ele escreveu em seus “Diálogos” sobre a coesão, a

resistência à fratura, os movimentos uniforme e acelerado e, sobre o movimento

dos projéteis. Foi com os “Diálogos” que estabeleceu os fatos, os quais mais

tarde seriam utilizados por Newton, divulgados sob a forma das três leis do

movimento. Essas leis são filhas de Galileu e, dizem:

1ª – Se nenhuma força atua sobre o corpo, este continuará a mover-se

não só em velocidade como em direção.

2ª- Quando uma força atua, o movimento varia em velocidade, em

direção ou em velocidade e direção, proporcionalmente à intensidade da

força e à direção em que aquela força atua.

3ª – As forças centrífuga e centrípeta são iguais e constituem juntas a

tensão de elasticidade.

Entretanto, são as leis do movimento, enunciadas por Isaac Newton,

porém baseadas nos trabalhos de Galileu, pois Newton colocou as vestes, mas o

corpo era de Galileu. O grande Matemático francês Lagrange escreveu sobre “A

dinâmica é a ciência das forças aceleradas ou retardadas”, mas quem lançou os

fundamentos dessa ciência foi Galileu. A sua contribuição na Mecânica formou

a parte real e sólida da glória desse grande homem. Não por acaso, que o próprio

Galileu denominou os seus trabalhos de Mecânica como uma “Nova Ciência”,

inventada por ele, desde os seus fundamentos. Os tratados dos trabalhos de

Arquimes, há provavelmente a opinião de Galileu um tanto de ufania, mas a

verdade é que a Mecânica, como ciência moderna, recebeu o seu impulso e

direção da poderosa inteligência experimentadora de Galileu. Em dezembro de

1637, ele ficou cegou completamente. Em data de 2 de janeiro de 1638, escreveu

a um amigo: ”ai de mim, meu caro, seu devotado amigo e servo Galileu há um

mês que cegou irremediavelmente”.

O seu derradeiro esforço foi a aplicação do pêndulo à medida do tempo.

Quanto tempo levara a ideia em sua cabeça? Dataria ela daquela manhã de

juventude no interior da catedral de Pisa? O que é verdade, porém, é que, por

mais de meio século, ela se fervilhou em seu cérebro, vindo a ocupar as suas

horas de cegueira, e conseguiu pôr ainda à prova o seu assombroso gênio.

Passaram no entranto os dias, e esse problema da medida do tempo pelo pêndulo

não lhe foi possível resolver.

Page 43: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

43

A Inquisição continuava atenta ao grande Galileu. A prisão fora

parcialmente relaxada, mas nunca a sua liberdade permaneceu completa. No

verão de 1638, consentiram que fosse residir em Florença com o filho; mas o

número de visitas ainda continuou limitado e não podia sair da cidade. Foi

durante esse verão que recebeu uma visita singular. Deveria ter sido o encontro

em que o jovem John Milton, cheio de ardor puritano, contemplou admirado, o

velho gigante cego. Milton assim descreve:- Foi então que encontrei e visitei o

célebre Galileu, envelhecido e, prisioneiro da Inquisição por ter em Astronomia

pensado de forma diversa daquela em que pensavam os censores franciscanos e

dominicanos.

Em 5 de novembro, Galileu caiu de cama para não mais se levantar.

Ardeu em febre, atormentado por insônias, ainda pelos padecimentos de antiga

hérnia, mas assim mesmo, ainda lúcido de inteligência. Discutia assuntos

científicos com Viviani, planejava um tratado sobre o movimento dos animais e

ditava notas para uns diálogos sobre a teoria do choque. Muitos problemas e tão

pouco tempo a contar. Em 8 de janeiro de 1642, houve um rebuliço na casa de

Galileu, uma chamada apressada para receber os últimos sacramentos e a

extrema-unção. E o curto dia de inverno passou rapidamente a ser a eterna noite.

Foram 78 anos de vida. Construíra com suas próprias mãos um olho mágico para

poder ver até os limites do Univeso. Daí em diante passou a viver desprezando

os pequeninos recursos dos outros homens, e estes se voltaram e se atiraram

como felinos contra ele. Coligaram-se em intrigas, meteram-no na prisão. Agora

podem levar as suas mesquinhas existências com mexericos e perseguindo à

vontade. A sua vítima imortalizou-se e escapou das perversas garras. Agora

Galileu é livre. . .

Page 44: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

44

3.6. JOHANN KEPLER (1571-1630) não era doente, mas, nunca estava

completamente são. Permaneceu sujeito aos frequentes e sérios ataques que

fatalmente o levou à morte. Ainda criança, quase morrera de variola, de que

ficara marcado para sempre. Passou quase que incólume pela escarlatina, mas

não conseguiu ficar sem sequelas, a vista foi afetada e sua contituição

enfraquecida. Como criança de sete meses, nascida a 27 de dezembro de 1571,

em Weil, tivera um mal princípio de vida.

A inteligência de Johann, porém, parecia ser inteiramente normal, pois

deu perfeita conta de si no colégio de Lenberg. Só não continuou no colégio por

tempo completo porque seu pai estava em apuros financeiros. Atendeu a um

pedido de um amigo, endossando a dívida de um amigo, e este simplesmente

desaprecera. Com arrependimento teve que pagar sozinho a dívida. Pagou-a, mas

ficou ainda mais pobre. Passou a tomar conta de uma taberna. O comércio não

rendia o suficiente, e, como consequência, Johann foi retirado do colégio para

atrabalhar. Era um menino delicado e aparentemente doente, que não podia

suportar tarefas pesadas e poucos asseadas. Mesmo assim, ajudava o pai nas

tarefas da taberna, muitas vezes servindo cervejas para uns gordos holandeses. O

pai de Johann, homem bondoso, não gostava de vê-lo fazendo papel de criado, e,

logo que surgiu uma oportunidade, mandou-o novamente para uma escola

gratuita.

Ao saber que ia para a escola, Johann ficou radiante, a ponto de quase

adoecer. Estava ansioso por deixar de lavar louças, que nem teve tempo de dizer

adeus a seus amigos. Mas, abraçou o pai e apertou-o com toda a pouquinha força

de que dispunha. Como foi bom poder lembrar-se disso mais tarde, ele que

nunca mais pode rever o pai, aquele homem tão bom e brincalhão! O mesmo não

fez em relação à mãe. Mesmo criança sabia que ela dava pouco valor à afeição.

Assim, pode deixá-la sem grandes saudades. Não é de se estranhar, portanto, que

o pai tenha também pensado assim. Pouco tempo depois de Johann estar no

colégio, o pai abandonou a família. Este foi o fim da apagada vida do pai de

Johann Kepler. É possível que tenha alguns negócios pela Holanda ou Inglaterra,

mas o que se sabe, é que nunca mais voltou para a família. Acredita-se que tenha

vivido o suficiente para saber que era pai de um dos grandes nomes da

humanidade? Talvez não! Embora a fama tivesse surgido muito cedo para

Johann Kepler.

Ao terminar o curso universitário em Maulbroon, Johann recebeu o

convite para lecionar Astronomia em Gratz. Não gostou da ideia. A Astronomia

na época não era um ciência. Era pouco mais que uma arte de dizer sobre o

futuro. A matemática, sim! Era o que Johann Kepler gostava. Mas não foi dado

escolher, e aceitou o posto, mesmo de contrariado. Disso tudo, que ganhou foi a

humanidade. O jovem Kepler não sabia do pouco que se sabia sobre a ciência

dos céus. Teve algumas aulas sobre o assunto na escola, e tinha uma superficial

noção da teoria de Copérnico. Nunca fizera uma observação, os astros não

passavam de coisas brilhantes no céu. O senso de responsabilidade deste

Alemão, levou-o a estudar sobre Astronomia para que pudesse lecionar. Desta

forma, aos poucos foi se estimulando e, em breve ficou fortemente interessado

por esta ciência, em cujo estudo havia o mais livre campo de atividade que um

homem pode ter. Percorreu o assunto com muita imaginação e, por todo oresto

de sua vida foi um doador de leis sobre o Universo.

Page 45: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

45

Passou a gostar tanto do assunto, que simplesmente ficou fascinado. A

astuta inteligência excepcionalamente especulativa, dizia-lhe que devia existir

alguma relação entre os movimentos dos planetas e suas respectivas distancias

ao Sol. Mas, antes, abordou o problema um tanto mais simples, isto é, do cálculo

do afastamento exato das órbitas deles em realação ao Sol. Tentou várias

soluções que lhe apareceu magnífica. Sabia que existiam apenas 5 sólidos

regulares, isto é, poliedros regulares em que a soma dos ângulos planos em cada

vértice é menos do que 4 ângulos retos. Com esses sólidos, Kepler, aos 24 anos

de idade, tentou resolver o enigma dos planetas.

Utilizando uma esfera circunscreveu ao dodecaedro; observou que a

órbita de Marte estaria situada na superfície dessa esfera. Traçou o tetraedro

relativo a essa órbita, e desta forma a esfera que o circunscreve deveria conter a

órbita de Júpiter. Sucessivamente, utilizou os demais poliedros regulares,

determinando aproximadamente as órbitas de todos os planetas então

conhecidos. Foram dias e noites nessa hipótese, e após terminar seus cálculos

estava plenamente satisfeito que nem sequer um momento lastimou o tempo que

empregara naquela tarefa cansativa. Os seus resultados, mistura de uma grande

dose de absurdos metafísicos e raciocínios indefinidos, foram por ele publicados

numa obra com o título de “Misterium Cosmographicum”. Como vemos, esta

obra perdeu quase todo o seu valor.

Ao abordar as relações entre a velocidade dos planetas e suas respectivas

distancias ao Sol, deparou com um problema muito mais difícil, pois os planetas

ao se afastarem do sol, mais lentos tornam seus movimentos. Por quê isso

acontece? O Astrônomo, jovem, queria descobrir toda a razão destes

acontecimentos. A explicação encontrada, um tanto vaga: “talvez haja uma

inteligência motora do Sol, que é o centro comum, forçando os planetas a

girarem em torno dele, porém mais violentamente os que estão mais próximos. E

essa força vai definhando e enfraquecendo-se até ao mais distante, em razão

desssa mesma distância e pela atenuação da intensidade da referida força”.

Os seus esforços para encontrar os planetas, uma relação entre os seus

moviemntos e distancias, falharam, tendo abandonado o problema quando achou

que estava trabalhando num círculo vicioso. Kepler enviou um exemplar de sua

obra ao grande observador Tycho Brahe. O ilustre dinamarquês mostrou-se assaz

interessado por aquele moço, que assim se mostrava desejoso em saber e

sugeriu-lhe que as suas observações realizadas em Uraniborg poderiam

simplificar o problema. Tycho se encontrava em Praga. Johann Kepler disse à

esposa:- Temos que ir a Praga.

Johann Kepler em toda a sua vida enfrentou dois sérios obstáculos: a

pobreza e a doença. Não era um jovem muito atraente, era indiferente para com

as vestimentas. Entretia-se com os livros e problemas, que não tinha tempo de

aprender as pequeninas exigências da vida social e mundana. Não tinha o dom

das conversas tão ao agrado das moças. Mas, era emotivo, entusiasta,

sentimental, e desejava um dia se casar.

A mulher de sua preferência era duas vezes viúva e, diziam ter fortuna.

Talvez, Johann tivesse deixando influenciar por essa consideração. Nada no

resto de su avida indica que pudesse ter uma cega paixão. Considerando que, ao

arranjar ao mesmo tempo uma fortuna e uma pessoa que cuidasse da casa, podia

vencer todas as suas dificuldades.

Page 46: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

46

Ela, sabiamente estava para lhe dar o “sim”, mas os parentes intervieram,

queriam saber se Johann pertecia à aristocracia. Efetivamente, ele pertencia. Mas

teve que empregar muito tempo e trabalho para documentá-lo. Casaram-se, mas

nunca viveram felizes. Para iniciar, a tal fortuna da viúva nunca chegou. Johann

criticava os parentes da esposa. As exigências de títulos nobiliárquicos tinham

decepcionado o espírito pouco prático de Johann. Entrou em atrito com os novos

parentes e, teve que carregar um peso acima de suas forças nos ombros.

Portanto, a decisão de ir a Praga não resultava de uma precipitação.

Recebera várias cartas de Tycho e chegara a um bom entendimento antes de se

decidir a aceitar o convite. Venha, não como um estranho, escrevia Tycho.

Como um amigo a quem estimo. Era uma longa distância de Gratz até Praga, por

uma estrada fatigante. A Senhora Kepler e as crianças suportaram bem a viagem,

mas Johann! Excitado pela ideia dos personagens que iria encontrar em Praga,

talvez o poderoso Rodolfo, teve um ataque de nervos e viu-se obrigado a ficar

por várias semanas num albergue dos que se serviam pelo caminho.

Agora, a questão do dinheiro tornava-se um fato premente. Doença num

meio estranho não combina. Tudo que possuia, uma pequena importância,

trazida pelo casal Kepler logo se esgotou. Doente, longe de casa, sem dinheiro e

com a mulher e os filhos dependendo dele, Johann Kepler pôs-se a pensar na sua

morte e na falta de comida para os seus. Em Gratz ele tinha amigos que

pudessem socorrer em apuros, mas Gratz ficava deveras distante. A solução seria

apelar para o local mais perto, Praga. E em Praga havia Tycho Brahe. Escreveu

para o dinamarquês, num apelo, um verdadeiro apelo de deseperado. E suas

palavras não caíram em ouvidos moucos: Tycho correspondeu, enviando-lhe o

dinheiro.

Sanada as dificuldades financeiras, prontamente se restabeleceu, e logo,

em companhia da familia, achava-se em Praga. Finalmente o grande encontro,

entre Brahe e Kepler: o vidente, com o seu nariz de prata, e o míope, de aspecto

gasto, que não podia observar os astros por não ser capaz de suportar o frio das

noites. Um via, como ninguém antes dele jamais viu sobre os corpos, que

estavam no céu. O outro, cujo pensamento se dirigia para além dos planetas e

dos sóis cintilantes, onde tateava em busca de leis universais. Nada havia em

comum esses dois homens, senão o mesmo desejo de saber, tendo para tesouro

comum aquele lindo céu aberto. Tycho era um homem robusto, dominador, filho

de luxo e do privilégio, participante das esferas oficiais, espírito um tanto

fanfarão, porém, simples.

Johann Kepler era uma amável criatura, delicado com as plavras e de

gestos. Era uma figura que perseverava, tinha sonhos belos e raros e, passava as

horas da noite lutando para que seus sonhos se concentrassem em uma forma

definida. Falhar seria apenas prosseguir de novo na pista de uma nova fantasia.

Tycho era todo olhos, Johann todo raciocínio. Tycho era o homem para a sua

obra, mas Kepler era quem teria de prendê-la, continuar a sua tarefa inacabada,

dizer a sua significação e cobri-la com o ouro da imortalidade. Foi uma bela

amizade entre os dois. Tycho já havia caído na desgraça, sido apupado e expulso

de Copenhague. A glória de Uraniborg fora apagada. O antivo democrata

soubera o significado do sofrimento. Ele encontrou em Kepler um homem que

só conhecera na vida a opressão e o constragimento. A ordem de Kepler vir para

Praga, não era essa uma frase ôca. Tycho estava pleno dos melhores sentimentos

quando os receberam.

Page 47: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

47

Infelizmente, a Senhora Kepler complicava a situação. Estava longe de

sua casa, dos parentes, e odiava Tycho. A atitude afetuosa deste para com

Johann não podia enternecer com a presença daquela mulher azeda que, pelo

fato de ter casado três vezes, supunha conhecer todos os homens. Não se sabe

exatamente o que se deu. Acusar a Sra. Kepler pode parecer precipitado. Mesmo

em dúvidas, Kepler ouvia as infinitas insinuações da esposa, que Brahe não a

tenha tratado dignamente. Rodolfo dava ouvidos a todas as suas palavras e

alguma coisa poderia ter arranjado o Astrônomo chefe, claro que com o apoio de

um príncipe tão poderoso. Tycho é um mentiroso, está traindo a nossa amizade.

Devemos deixar Praga.

Partiram de Praga, com dinheiro conseguido de Tycho para as despesas

de viagem. Johann mostrava-se aborrecido com o homem a quem chamava de

amigo e com quem contraíra tão pesada dívida. Estava tão furioso que chegou a

escrever a Brahe declarando-lhe como e quando falhara ele como amigo.

Felizmente, Tycho não era mais o aristocrata de temperamento esquentado, que

o fez se meter em tantas brigas, fazendo centenas de inimigos. O tempo, o

senhor da verdade, o haviam acalmado, alguma coisa semelhante a tolerância lhe

tinha incutido novos modos de agir. Além disso, estimava realmente Kepler e

compreendera o temperamento inadequado de sua esposa. A carta de Kepler não

lhe despertou nenhum ódio. Era um simples mal-entendio e, Johann precisava

ser inteirado dos fatos. Entregou uma carta ao seu secretário.

Responda-me, disse-lhe ele; sabe tanto quanto eu como me sinto e como

penso. Faça a que Kepler veja a verdade dos fatos. A carta do secretário de

Tycho alcançou Kepler quando este se achava ainda próximo de Praga. Ele leu-a

repetidas vezes e as suas plavras queimavam-no de vergonha. Via agora que

prestara ouvidos aos sentimentos, sem que lhe despertasse a razão. Com toda

pressa, pegou na pena para se desculpar diante do grande Tycho. Na mais

absoluta verdade, humilhou-se. Nenhum homem assim o fez tão contrito e

completamente. Dizia com bastante clareza, o que quer que haja eu dito ou

escrito contra a sua pessoa, fama, honra e sabedoria de Vossa Excelência, ou o

que tenha eu injuriosamente falado ou escrito, com pesar meu, falei e escrevi

mais coisas mesmo do que posso neste instante me lembrar. Portanto, eu me

desdigo de tudo e de cada qual dessas afirmações, e livre e honestamente o

declaro ser infundadas, falsas e incapazes de ser provadas.

Uma desculpa não podia ser mais completa. Kepler não tivera razão, mas

admitia seu erro sem a sombra de uma justificação. Tycho ficou satisfeito, mas,

um tanto confuso, com a cartra recebida do amigo. E escreveu-lhe logo em

seguida, pedindo a Kepler que voltasse a Praga. Kepler assim procedeu. Reuniu-

se ao amigo que ia perdendo, e que de novo encontrava. Quando se viram,

Johann começou a repetir o que já havia escrito na carta, mas Tycho o

interrompeu: que temos nós dois a ver com o passado? És meu amigo e voltaste

para a minha companhia. Basta, portanto. Mesmo na tua ausência consegui uma

audiência para falares com Rodolfo. Grandes coisas hão de advir daí. Teus

aborrecimentos já estão passados. Todos, menos aqueles que Marte te dá. Faço-

te entrega dele. Basta que um homem com ele se aborreça.

Na verdade, grandes coisas resultaram, para o Astrônomo. Imperial

Matemático, foi o título que lhe conferiram. E trazia uma renda suficiente para

suprir todas as necessidasdes, vindo suprir uma caixa que cada vez mais se

esvaziava. A importância da pensão prometida abrandou a Senhora Kepler, e a

Page 48: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

48

vida em breve se tornou mais risonha para o casal. Felizes foram esses dias para

Kepler. Vivia estudando Marte, lutando para que o planeta lhe fizesse entrega

dos seus segredos. Sobreveio, porém, um triste e penoso acontecimento, que fez

Marte ficar esquecido por algum tempo. Uma candeia crepitava no quarto de

Tycho Brahe. Tycho estava de cama, e Johann Kepler sentado num banco, à sua

cabeceira, ouvia-lhe as últimas plavras. Pois Tycho Brahe estava moribundo e

Johann, o eterno doente, cuidava do forte, do sempre sadio, que terminava a sua

turbulenta jornada. Dizia Tycho: toda a minha vida lidei com os astros, desejei

organizar tábua que fossem rigorosas e conseguiria o meu alvo quando atingisse

um milhar delas. Agora chego a este estado, e apenas 750 estão concluídas.

Poderia ter terminado esse trabalho, mas, o meu rei e a minha pátria voltaram-se

contra mim. Foi uma longa interrupção. Kepler, meu querido amigo, prossegue a

minha obra. Deixo-te todos os meus escritos. Publica as minhas observações e

da-lhes o título de “Tabuas Rodolfinas”. Devo essa homenagem ao nosso

soberano. Não me hás de falhar!

Falhar? Quem? Um Johann Kepler! Compormeteu-se sem pensar na

dificuldade e no trabalho que o seu cumprimento lhe traria. Apenas 750, dissera

baixinho Tycho. A obra de um homem favorece até os seus inimigos. A minha,

eu a fiz o melhor que pude. As Tabelas subsistirão. Tracei para os navegantes

uma rota segura. Johann ouvia calado. As lágrimas caiam-lhe. O silêncio, o

quarto, e Tycho-Brahe. O principal Matemático junto ao Imperador, tal foi o

título que o paranóico rei solteirão da Boêmia e Imperador de Roma outorgou a

Kepler depois da morte de Brahe. Com os seus vencimentos devidamente

assinados, selados e recebidos, Kepler sentiu que haviam cessado todas as suas

dificuldades pecuniárias. Foi nessa época em que fez presente a si próprio, um

belo casaco de peles que os séculos futruros veriam como parte integrante de sua

figura. Uma pessoa bem aparentada, empertigada naquele casaco, tendo na

cabeça uma espécie de gorro achatado e redondo que os universitários usavam.

A barba completa cobrindo-lhe o rosto marcado pela varíola. Estava agora, em

condições de concluir as tabelas de Tycho. Todos os papéis do Astrônomo

dinamarquês estavam em suas mãos e iniciaria logo o trabalho. Mas, os parentes

gananciosos de Brahe intervieram, reclamando os manuscritos, e tomaram-nos

de Kepler. Tudo, menos as observações, que estas, Kepler guardou-as, para

poder cumprir a sua promessa de publicar as “Tábuas Rodolfinas”.

Havia principes e até reis que não eram capaz de se desvencilar das

supertições. Rodolfo, um destes, precisava de um adivinho para ler os astros e

predizer-lhe o futuro. Os negócios públicos haviam desandados na Boêmia, e o

príncipe Rodolfo não era do tipo de homem que haveria de endireitá-los.

Pusilâmine, neurótico, essa pobre figura de rei só poderia fazer as coisas

desandarem para as piores condições. Comprometia-se irremediavelmente e

aguardava que intolerância e o fanatismo viesse cumprir sua tarefa. A que veio

acontecer, explodiu a Guerra dos Trinta Anos, considerada a mais sangrenta e

cruel de todas as guerrras da humanidade.

O quê? Um adivinho! Kepler sempre odiou a Astrologia. Para ele, os

astros eram todos enigmas, cujas leis secretas estavam decidido a conhecer. Os

astros, belos e distantes. Nada havia em comum com as pequenas coisas que

rastejavam, com duas pernas, sobre a face da terra. E não obstante isso, Kepler

tornou-se um Astrólogo e deu a Rodolfo os horóscopos que lhe pedira. Uma

pobre tarefa para o maior cerebro da humanidade. Aconteceu que a família do

Page 49: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

49

Matemático tinha que viver, o salário que o rei prometera não lhe era pago.

Promessas, ordens de pagamento, e coisas tais, traziam-lhe profundos desgostos.

Mas Johann entregou-se ao negócio de classificar signos, embora, nos momentos

de folgas tratava de Marte.

Tentava verdadeiras caçadas da imaginação, para descobrir a relação

entre a velocidade de Marte e a sua distância ao Sol. Sabia que devia existir uma

lei e desejava suspender provisoriamente a tarefa e dedicar suas energias às

“Tábuas Rodolfinas”. Para estas, necessitava de dinheiro. Apelou para Rodolfo,

mas o tesouro real estava “quebrado”. Não houve qualquer auxilio, e teve que

adiar a publicação. Sem que esperasse, surge no momento uma estrela nova na

região da Cassiopeia. Era a oportunidade para dar um verdadeiro golpe na

Astrologia, e o fez nos seguintes termos: “o que essa nova estrela pode

pressagiar é difícil de dizer, o certo é que ela vem dizer à humanidade,

coisíssima nenhuma ou altas e grandes novidades, destas que ficam

absolutamente além dos entendimentos humanos. Ela pressagia grandes

pertubações e razoáveis lucros para os vendedores de livros. Pois quase todo o

mundo teve a ocasião de opinar sobre ela e desejar publicar suas opiniões.

Outras pessoas entedidas ou não, desejarão conhecer a significação da nova

estrela, e comprarão os autores que se propõem ensiná-la. Menciono tais coisas

apenas como exemplo, embora isso possa ser fácil, predito sem grandes esforços

da inteligência, pode dar-se também com a mesma facilidade, e de forma

idêntica, que qualquer pessoa de boa fé ou de pouco juízo, deseje apresentar-se

como um grande profeta. Pode muito bem vir a acontecer que algum poderoso

senhor, que tenha boas possibilidades e possui grande dignidade, também se

anime com o fenômeno a aventura-se em novos projetos de domínio, como se

Deus tivesse colocado essa linda estrela nas trevas simplesmente para iluminá-

lo.

Sem dinheiro para publicar as “Tábuas Rodolfinas” e sem probabilidade

imediata de dominar Marte, ele voltou sua atenção para os fenômenos da luz.

Estudou e escreveu sobre a refração luminosa nos meios densos. Não foi muito

além na questão e a verdadeira solução foi deixada aos futuros investigadores.

Quando estava empenhado nesse assunto, ouviu falar da luneta de Galileu.

Kepler chegou a uma surpreendente conclusão, descobriu que se devem

empregar duas lentes convexas, para se obter uma imagem real, permitindo

ainda usar fios numerados para as medidas de referência. Com tal sugestão,

deixou-a caminhar por si, não tentando construir o instrumento adequado a

utilizá-lo. Esse trabalho foi realizado por Gascoignhe, na Inglaterra, que seguiu

as sugestõs de Kepler, construindo o instrumento conhecido por “luneta

astronômica”.

Em 1606 outro trabalho sobre a nova estrela foi publicado. O objetivo da

publicação era eliminar a ideia de que o estranho astro fosse um “aglomerado de

átomos”. Creia-se que naquela época surgisse alguma coisa de inovador, ao se

lembrarem dos átomos, os quais foram batizados por Demócrito de Abdera (c.

460-370 a.C.. Para ele, não passava de uma estrela como qualquer outra, que

bruscamente penetrara no campo de observação da Terra. No ano seguinte,

quando um cometa, reconhecido mais tarde com o nme de cometa Halley,

atravessou os céus, Kepler escreveu um estudo sobre ele. Nesse estudo não

incluiu a qualquer parcela de superstição ou ficção. Ele tinha a opinião, que um

cometa era um planeta que se deslocava em linha reta. Admitia até, que os

Page 50: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

50

cometas não pertenciam ao nosso Universo. Caso não tivesse cometido tal

engano, poderia ter precedido a Halley na teoria dos cometas. Kepler afirmou

nessa publicação uma coisa que nos mostra ser ele uma inteligência ainda sujeita

a enganos. Os planetas, ele fez questão de dizer, brilham com luz própria. Caso

contrário, deveriam deixar ver as suas fases, como se vê a lua. Galileu poucos

anos depois revelaria a verdade sobre estes detalhes. Kepler não era uma pessoa

incapaz de praticar um erro, embora, estivesse sempre pronto a reconhecer o erro

que lhe apontavam. Tanto é verdade, que em 1607, tendo publicado uma

descrição de suas observações sobre Mercúrio passando em frente ao Sol, logo

depois, com conhecimento da descoberta das manchas solares por Galileu, o que

invalidava aquelas afirmações, imediatamente rejeitou com satisfação a sua

teoria sobre Mercúrio. Admitiu e deu razão as observações de Galileu.

Pouco a pouco, Kepler estava edificando a teoria da gravidade, e, nos

seus “Comentários sobre os Movimentos de Marte”, escreveu:- A gravidade é

uma afeição recíproca entre corpos cognatos para que se realize a sua união ou

conjunção (semelhante em espécie à virtude magnética). Devido a ela a Terra

atrai antes a pedra do que esta à Terra. Aí estava portanto, a ideia que Newton

devia tomar-lhe para integrá-la numa arrojada e esplêndida teoria, elaborada com

provas matemáticas. No entanto, para Kepler, tudo parecia uma pálida noção da

gravitação universal. Tudo indica que, Kepler certamente viu a sombra, mas

nunca pode ver real coisa em si.

Kepler se exauria no trabalho com as tabelas de Tycho Brahe. Nelas

encontrou uma porção de dados importantes e, quando se tratava de acompanhar

o percurso dos planetas, apareceu-lhe que deveria existir alguma lei ou leis

governando os movimentos planetários. Em seus cálculos, para Marte revelar a

verdade de sua órbita, servira-se sempre de grandes hipóteses, principalmente

uma de fazer estontear. Ao tratar da órbita de Marte que fez uma descoberta

positiva. Descobriu o que se conhece hoje por “segunda lei de Kepler.

Tendo-se acreditado nessa lei, utilizou-a na tentativa de descobrir a órbita

exata percorrida por Marte. Aristóteles e os gregos, haviam insistido na

afirmação de que a circunferência era a curva perfeita, e que, portnato, tudo no

céu devia mover-se segundo uma circunferência. Kepler experimentou a

circunferência. Infelizmente não serviu, pois não permitia que Marte

concordasse com os cálculos. Havia uma diferença de 8 minutos em suas

observações. Estava mais do que certo, o erro era dele, Kepler, e não de Brahe. E

convenceu-se finalmente de que a órbita não era circular. Apelou então para as

curvas ovais, utilizando-as arbitrariamente. Algumas delas serviam

regularmente, mas nenhuma “encaixava” exatamente. Todo esse enorme esforço

esgotou as forças de Kepler. Para a Senhora Kepler as coisas andavam de mal a

pior, quando o marido lidava com as circunferências, agora que dizer então, ele

com as ovais. Passavam dias e dias enchendo de algarismos folhas e folhas de

papel. O pior é que as coisas não davam certo. Julgou ele certo dia que tinha

achado a solução. Pôs-se a proclamá-lo. Mas, conferindo a posição de Marte,

apareceram os erros. Outra vez errado, até parecia que não havia solução. Kepler

insistia que teria certamente um fim, pois estava convencido de que existiria uma

lei, e que acabaria encontrando-a. Justamente nessa época, quando já

praticamente esgotara todas as ovais, deu-se um desses acontecimentos incríveis.

Johann Kepler estava sonhando com as suas figuras, parecia que já havia

experimentado todas, desencorajado, exausto, doente devido aos gigantescos

Page 51: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

51

cálculos a que se verificavam inúteis. O segredo escapava-lhe. Tudo estaria

terminado? O seu olhar cansado percorria as figuras à sua frente. E deteve-se

diante de dois números. Impressionou-o com a semelhança dele, emocionou-se

com o que se apossou em seu espírito. Ali estavam dois números: 1,00429 e

0,00429.

O primeiro representava a máxima desiguladade ótica de Marte. O

segundo, a metade da relação entre uma elipse e uma circunferência. Tocara-lhe

o sopro do gênio. Ali estava o seu número, o número que lhe daria a desejada

órbita. Excitadamente se pôs a trabalhar. E os resultados o converam de que

acertara. Deixemo-lo dizer com as prórias palavras de triunfo, com que

comunicou ao mundo a sua descoberta:

- Aquilo que eu profetizei há 22 anos, na ocasião em que descobri os

cincos sólidos regurlares nas órbitas celestes, aquilo em que firmemente

acereditei como uma imagem, muito antes de ter visto as “Harmonias de

Ptolomeu”, aquilo que prometi aos meus amigos no título do meu livro e a que

dei nome antes de descobri-lo, aquilo que há 16 anos proclamei e insisti como

devendo ser procurado; aquilo para o qual eu me uni a Tycho Brahe e me dirigi a

Praga; pelo que devotei a melhor parte da minha existência às observações

astronômicas, acabo finalmente de trazer à luz e de proclamar a sua verdade

além das minhas mais ardentes aspirações. Não faz dezoito meses que

vislumbrei os primeiros raios da verdade, três meses que a aurora e poucos dias

que o Sol a descoberto, o mais admirável que se possa contemplar, brilham

nestes instantes aos meus olhos. Nada me detém; compreendo minha fúria

sagrada; proclamarei aos homens triunfalmente que roubei os vasos de ouro dos

egípcios para erguer um tabernáculo ao meu Deus, muito além dos confins do

Egito. Se me perdoades, eu estimo. Se me censurardes, suporto-o; os dados

foram lançados; está escrito o livro para ser lido agora, ou pela posteridade, não

importa; ele pode bem esperar um século por um leito, se Deus esperou seis mil

anos por um observador.

Em 1609 Kepler seus “Comentários sobre Marte” foram publicados.

Duas de suas grandes leis foram expostas nessa obra: A segunda, descoberta em

primeiro lugar, refere-se às áreas iguais em tempos iguais. A primeira também

foi anunciada. Estas duas leis unidas á terceira deram a Kepler o título de

“Legislador dos céus”.

As considerações de orbitais elípticos do sistema solar indicam que, os

Planetas permanecem num único plano, com as definições das três Leis de

Kepler:

1ª Lei - A órbita de um planeta é uma elipse com o Sol em um dos focos.

2ª Lei - A área coberta pela linha que liga o Sol ao planeta é sempre a

mesma em intervalos de tempos iguais. Como consequência a velocidade

de um planeta é variável ao longo de sua órbita.

3ª Lei - A razão entre o quadrado do período “P” de um planeta, e o cubo

do semieixo maior de sua órbita “a”, é a mesma para todos os planetas

(P1²/a1³ = P2²/a2³ = K).

Tornou-se célebre, tinha um título pomposo na corte de Praga com todos

os méritos. Mesmo assim, continuava na penúria, e não podia ver publicadas as

“Tábuas Rodolfinas” como havia prometido. Desejava dá-las ao mundo, estava

decidido a cumprir a promessa. Mas, como manter a família e de sua própria

subsitência. A Boêmia passava por dificuldades políticas e financeiras. Rodolfo,

Page 52: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

52

tornara um mentecapto, tinha acessos de melancolia e de letargia. Mostrava-se

indiferente a tudo, exceto às Astrologia. Continuava a interessar-se ainda pelo

que os astros pudessem dizer sobre o futuro da sua pessoa e das pequeninas

coisas de sua vida. A Kepler restava fornecer-lhe essas informações de longo

alcance. Desnecessário dizer que o Astônomo odiava tal incumbência. Mas

desempenhava-se com dedicação, e as suas predições provaram ser tão justas

como as de qualquer outro Astrólogo impostor. Este era o único meio de ter

vencimentos, portanto, o pão sobre a mesa. Tornou-se um adivinho profissional,

cujos horóscopos eram procurados não pelos acertos, mas devido ao seu título e

à sua fama.

Johann Kepler decidiu deixar Praga e à esposa concordou. A Senhora

Kepler completou, voltemos para casa, este príncipe, Rodolfo, não passa de um

lunático. Nada faz por nós! Arrematou Kepler, tens razão, mas, não vamos voltar

para a nossa terra. Não. . . não. Lá também não há trabalho para mim. Vamos

para a Áustria, em Linz espero arranjar um bom trabalho. Kepler e a família

dirigiram-se para lá em 1610, com a promessa de um emprego. Ao voltar a

Praga, encontrou-a em plena reviravolta. O grande Rodolfo tinha sido forçado a

abdicar. Frederico e Matias estavam em campos opostos, e a guerra pairava no

ar. Econtrou a esposa eferma, com a “febre húngara”, agravada ainda pela

epilepsia, que a levou à cama. Ele já começava lentamente melhorar de situação,

quando os três filhos foram atacados de bexigas. Um deles, o preferido de

Kepler, morreu, e os outros dois levaram muito tempo para se curar. Rodolfo

veio afalecer e Matias subiu ao trono. O novo soberano não queria saber de

Astronomia, mas confirmou o titulo de “Matemático Imperial” para Kepler, sem,

contudo, conseguir verba para pagar-lhe. Para se livrar da obrigação e do

infortuno súdito que precisava receber seus vencimentos, o novo rei da Boêmia

fez presente de Kepler ao grande Wallenstein, que concordara em pagar-lhe os

vencimentos em atrasos. Mas Wallenstein, como veremos, não quis ou não pode

cumprir tal obrigação.

Uma epidemia tomou conta de Praga, e em toda parte só se falava em

guerra. Kepler logo sentiu que ali não havia lugar para ele. Sairei de Praga, mas

desta vez para meu conforto, disse Johann Kepler. Logo depois fez uma segunda

viagem à Áustria, onde foi nomeado para a Universidade de Linz. Ali haveria de

receber os seus vencimentos e talvez encontrasse recursos para publicar as

“Tábuas Rodolfinas”. E foi com muita alegria que voltou a Praga para levar a

família. Mas, esse homem, esse gigante entre os visionários, estava marcado pela

desgraça. A Sra. Kepler enfermara de novo. Padecimentos e contrariedades,

somados à sua má constituição, tinham finalmente ultrapassado a sua resistência.

Não mais a sua voz se levantaria para falar mal dos outros, ou para se lastimar da

sorte. Quando o esposo penetrou no quarto, a morte já estava à cabeceira dela.

Segurou-lhe as mãos, ele, o homem que nunca havia amado a mãe de seus filhos,

e contemplou longamente a esposa. Havia de ser pouco o que esse casal de

estranhos teria que dizer um ao outro nessa hora de despedida final, estando ela

no leito moribunda. Pouco depois, Johann Kepler era um viúvo com dois filhos a

criar, e sem nenhum recurso.

Kepler, mesmo assim, casou pela segunda vez com uma órfã. Teceria ela

um romance com seu amor pelo esposo? Sabe-se apenas que, no seu novo lar,

Kepler se sentiu finalmente um homem feliz. Para todo o resto da vida,

Page 53: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

53

serviram-lhe muito bem “a pessoa e as maneiras” daquela esposa. A sua segunda

escolha provou ser tão razoável quanto fora desajuizada a primeira.

Contudo, as dificuldades ainda perseguia Kepler. Os seus vencimentos

em Linz não lhe eram pagos. O país estava em sérias dificuldades, as lutas

religiosas, posteriormente conhecidas pela denominação de “Guerra dos Trinta

anos”, levava a Europa Central aos caos. Kepler também foi atacado pelos

jesuítas e, excomungado. A sua biblioteca foi trancada, e só a proteção imperial

o livrou da prisão e de coisas ainda piores. Viu-se, então, novamente forçado a

se tornar adivinho e publicar um “vil almanaque de profecias” que apenas “era

mais respeitável do que pedir esmolas”. O imperador me abandonou, queixava-

se Kepler. Sem dúvidas permitiria que ele moresse de fome.

Em 1619, publicou um livro em 5 partes, “Harmônica”, dedicado a Jaime

I, de Inglaterra. É simplesmente uma obra estranha. Algo de profundamente

interessante para a ciência. Por exemplo, no livro IV, fala da Terra como se a

julgasse um animal e admira-se de que, em suas profundezas, não se encontre

algo que “possa suprir a função dos pulmões e das guelras”. Neste livro ele

escreve um trecho sobre a harmonia das esferas. A noção confusa que datava de

Pitágoras. Parece ter feito apenas uma vaga ideia sobre tal harmonia e não

fornece ao leitor oportunidade para compeendê-lo. Em compensação, no mesmo

livro anuncia a sua magnífica terceira Lei sobre o movimento dos corpos

celestes.

Imaginem o oceano de papel que deve ter coberto de algarismos; as

incontáveis horas que passou, altas noites, só, numa casa sem conforto, à luz de

um lampião fumarento ou de uma candeia a cuspir azeite, fracamente alumiando

a mesa onde trabalhava. Doente a maior parte do tempo, sempre pobre, abatido

pela morte de seu amigo, de sua mulher, pela luta para um novo casamento,

pelos seus deveres na Universidade, pela compilação de um “vil almanaque de

profecias”, ainda para completar, atacado pela Igreja, excomungado, rodeado de

confusão e guerra. Kepler, assim mesmo, achou tempo para levar avante, com

sucesso, um dos cálculos mais profundos e complicados que se conhece em

ciência.

A mãe de Kepler, tinha obrigado o marido a abandonar a casa, e tão

poucos carinhos tinha dado ao filho doente. Ela ainda vivia, velha, encarquilhada

como um velho tronco. Kepler se achava em Linz quando lhe chegou a notícia

de que a mãe estava presa e na iminência de ser torturada como feiticeira. Pôs-se

logo em caminho para o distante Wurtenberg. Tinha que salvar aquela mulher da

sala de torturas. A velha Kepler era acusada de bruxaria. Fora sempre uma

mulher de pulso, de temperamento exaltado, brigalhona e intrigante. Havia anos

que movera uma ação contra certa vizinha, a quem acusara de crime de calúnia.

Os defensores da acusada alegaram que a velha Kepler havia dado a beber a

alguém uma mistura venenosa por ela mesma preparada. Após intermináveis

delongas, as coisas mudaram de aspecto, quando um novo juiz veio dirigir o

processo, e a velha Kepler viu-se na prisão acusada de feitiçaria. Indignara-se

com a invesão dos papéis habilmente praticada pelos seus adversários. Mas,

agora a sua língua afiada e o seu ódio cego não lhe podiam servir de nada.

Confessa a verdade ou serás torturada!

Kepler chegou a Wurtenberg no momento propício. Seu poder e prestígio

foram bastantes para salvar a mãe do suplício, mas não para tirá-la da prisão.

Ficou detida por mais um longo ano, ruminando toda a sua raiva. Quando afinal

Page 54: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

54

terminou a sentença e foi posta em liberdade. Era, portanto, de se esperar que

não mais quisesse se meter com a justiça. Pois não é que meteu-se novamente

em intrigas. Imediatamente propôs uma ação para receber indenização e custas.

Agora uma nova inimiga veio interromper o processo, a morte. Afinal cerrou

aqueles lábios que tantos vitupérios haviam proferidos.

A principal missão ainda tinha Kepler a cumprir. Devia dar cumprimento

à promessa feita a Tycho-Brahe, no seu leito de morte, a promessa de publicar as

“Tábuas Rodolfinas”. Por um esforço estremo, empregando diretamente os seu

prestigio pessoal, conseguira arrancar algumas centenas de florins do tesouro de

Viena. Não, não fora o bastante! Sevira apenas para cobrir as primeiras despesas.

Deus sabe onde foi conseguir o resto da quantia. Mas conseguiu-o e, em 1627,

foram as tábuas dadas à publicidade. Para apreciar o valor das tabelas aí

contidas, basta saber que, por mais de um século, foram elas a única base para os

cálculos que os navegantes tinham que fazer para garantia da rota de seu navio e

de sua própria vida. Eram minuciosas, esmeradas, completas, isto é, não tinham

preço. Pela admiração por essa obra, o grão-duque de Toscana enviou a Kepler

uma corrente de ouro. Galileu, provalmente, meteu seu dedo no negócio. E,

como a corrente valia dinheiro, serviu sem dúvida para comprar comida para os

Kepler.

Com a publicação das “Tábuas Rodolfinas”, estava concluída a tarefa de

Kepler. Mas ele não pensava assim! Planejava ainda grandes coisas, enquanto a

realidade exigia obter dinheiro. Deviam-lhe muito, mas Wallenstein não lhe

podia pagar e ninguém mais estaria disposto a dar ouvidos a um simples

cientista, quando havia tantas coisas mais interessante a fazer, como por

exemplo, estar às ordens de um rei imbecil para assassinar cristãos. Os

assassinatos prosseguiam com satisfação à mais de 30 anos; e para tal ação

sempre havia dinheiro. Esta inútil atividade era levada avante, enquanto Kepler,

que sondara os céus e descobrira três de suas leis fundamentias, medigava o que

lhe deviam. A energia da velha Kepler manifestava-se no gênio do filho. Ele

também não esmoreceu. Por direito, aquele dinheiro pertencia-lhe, e dele

necessitava para si e para os seus.

Johann Kepler numa fria manhã de outono, despediu-se da esposa.

Montou no cavalo e partiu. Voltando-se na sela disse o seu último adeus. Sim, o

derradeiro adeus. Deixava Linz para sempre. Supunha Kepler que o seu cavalo

estava caminhando para Praga, quando na verdade, estava dando os primeiros

passos para uma viagem bem mais longa. Tinha 59 anos de idade quando se viu

forçado a empreender esse último esforço. Foram 59 anos sem um dia de saúde.

Foi uma viagem difícil, chuvas, má alimentação, péssimas dormidas, e, ao fim,

desapontamento. Kepler discutiu, suplicou, mas suas palavras foram ouvidas por

quem não mais podia socorrê-lo. A guerra devastara o país todo. Não havia

dinheiro disponível em Praga.

Em pleno mês de novembro; quando as folhas mortas indicam o

caminho, por onde as árvores erguiam os seus galhos nus, negando-lhe, até elas,

a sua proteção. Os ventos frios sopravam e fria a chuva não parava um só

minuto. Podia apenas, colado à sela, olhar com dificuldade para a frente,

confiando em seu cavalo, que conhecia a estrada e retornava para casa. Em

Ratisbona saltou para passar a noite. Na manhã seguinte, não pode mais

levantar-se, ardia em febre. Passou o dia inteiro na cama, madizendo a demora,

irritado pelo desejo de se ver em casa. “Amanhã estarei melhor. Já estou

Page 55: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

55

habituado com essas crises. Não costumam durar muito”. Todavia, na manhã

seguinte, não se achava melhor. A febre aumentara. As sombras cresciam diante

dele e as vozes desconhecidas que o cercavam foram-se apagando, apagando. . ..

Johann Kepler faleceu na pequena cidade de Ratisbona, no ano de 1630.

Kepler encontrara a morte como encontrara a maior parte da sua vida:

absolutamente só. Recebeu ajuda, é verdade, através de Tycho-Brahe. Antes e

depois desse pequeno tempo, lutou sem qualquer ajuda. Brahe tivera um rei que

lhe dera privilégios; houve duques por trás de Galileu, e o Estado auxiliou

Newton. Kepler, no entanto, doente e na miséria, não encontrou um potentado

que olhasse por ele. Mesmo assim, nada conseguiu deter tal homem. Tropeçava,

mas logo em seguida se erguia. Falhava, falhava e novamente falhava; mas,

sabia tirar luz de suas próprias falhas, e, superpondo-as, construiu com elas uma

torre alta, da qual pode recolher as leis do céu. A considerar seu físico fraco e

doente, desafiou o Universo. O seu desafio lhe valeu um trunfo imortal!

Page 56: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

56

3.7. ISAAC NEWTON (1642-1727) nasceu na mansão dos

Woolsthorpe, na noite de Natal do ano de 1642. No quarto, uma Senhora pálida

e exausta, tendo ao lado, sobre uma almofada, um bebê de 1,36 kg. Ele, o bebê,

vivo mas ameaçado de morrer a qualquer instante. As velhas parteiras correram

a chamar um médico na pequena cidade de Colsterworth.

Ao regressarem a Woolsthorpe, onde um gigante da humanidade,

pesando 1,36 kg apenas, permanecia deitado no berço, lutando para poder

respirar. O que valiam os pulmções e as pernas cansadas de duas velhas

parteiras, quando a vida dessa criança estava sendo decidida? Que éreis vós,

pobres velhas, curtindo a vossa existência? O vosso trabalho foi auspicioso. A

criancinha viverá. Isaac Newton resistiu e viveu. A sua mãe também, e a

ansiedade da noite de Natal de 1642 ficou esquecida, voltando a vida de

Woolsthorpe à sua antiga rotina de monotonia. Gradativamente o pequeno Isaac

foi adquirindo peso e sua mãe restabelecendo-se. O pai havia falecido à alguns

meses antes do nascimento do filho. Fôra um proprietário agrícola, cuja herdade

do patrimônio da família fazia parte havia um século. Pode-se imaginá-lo

obstinado e confiante em sua pessoa, dotado de alguma inteligência e encarando

honestamente as coisas da vida. Com este modo honesto de encarar as coisas da

vida, deparou-se-lhe Hannah Ayscough, por quem se enamorou. Casaram-se e

pouco depois uma pneumonia, ou o sôpro das pestes que viviam a assolar a

Europa naqueles tempos, o atingiu. Hannah ficou viúva quando apenas era uma

recém-casada. Ferida, embora por tão trágica interrupção de sua lua-de-mel, não

se sentiu vencida pela sorte, pois deu à luz um filho, recuperou a saúde e veio a

ser conhecida como uma Senhora “extremamente boa”. Dois anos após o

nascimento de Isaac, a sua mãe desposou o reverendo Barnabas Smith, indo

viver em North Witham.

O pastor não mostrou muito gosto em receber uma família já constituída,

tendo sido Isaac mandado para viver com a sua avó. Hannah deu a Smith três

filhos, duas meninas e um menino. Com o falecimento Smith, Hannah

regressado a Woolsthorpe. Nesta época, Isaac tinha 14 anos. Estivera no colégio

em Skillington Stokes e depois no liceu de Grantham, morando em casa de um

farmaceutico da aldeia, que assim saiu da obscuridade com o nome de Clark.

Nome este que será sempre citado, por ter um dia dado morada a pensão a um

colegial. Newton não era de inteligência brilhante, mas extremamente

meditativa. Porque ser reservado e não tomava parte nos jogos dos colegas, estes

o provocavam. Mesmo uma criatura reservada reage quando muito atazanada.

Isaac um dia reagiu para gáudio de todos, irrompendo pela escola adentro, a

brigar e a desafiar os colegas, com socos e unhadas, até conseguir rápida e

sangrenta vitória. A História registrou-a como a sua única batalha, pois nos

representa Isaac como uma criatura pacífica.

É possível que aquela luta colegial despertara suas glândulas

adormecidas. Teria a excitante adrenalina mudado a ordem das coisas? Faça-se a

hipótese que se quiser, mas o fato é que, desse dia em diante, Isaac tornara-se

outro. O que lhe parecia obscuro tornou-se claro, passando rapidamente a ser o

primeiro da classe, se não, o mais brilhante. Mostrava-se o mais inteligente entre

todos os colegas. Foi exatamente nesta ocasião que sua mãe, duas vezes viúva,

voltou a residir em Woolsthorpe. Com elea os três filhos e nenhum dinheiro.

Nenhum é um modo de dizer, possivelmente uma renda anual no valor

aproximado de $400 para cinco pessoas. Não deve ter sido fácil ser a esposa de

Page 57: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

57

um reitor, homem certamente culto. Hannah, descendente como era de uma

família de agricultores, considerava a agricultura como um meio de vida. Veio

portanto desejar que, Isaac a agricultura se dedicasse. Por isso foi ele chamado

de Grantham, com 14 anos e meio de idade, para se tornar agricultor.

O velho rei Canuto tivera também um bonito ofício de observar as marés,

e com pequeno sucesso conforme nos conta a história. Sendo um exato

cumpridor de seus deveres, Isaac tudo tentou para se tornar um honesto lavrador.

Mas, convenha-se em que é duro lavrar o solo, quando se tem a cabeça repleta

de sonhos. É complicado ir à feira de Grantham especular preços, quando na

casa do boticário há tantos livros a sua espera. Este era o motivo, os livros, e,

enquanto um velho empregado se esforçava por vender os produtos da plantação

na feira, o jovem Isaac, à sombra de uma sebe, lia com toda avidez. Os negócios

através de intermediários raramente traz lucro. Assim aconteceu com Isaac

Newton. É possível que sua mãe ralhava com ele muitas vezes, entretanto, é

penoso ser severo com alguém que sempre pratica o bem e, deixa os sonhos à

parte. Não somente os sonhos, mas, projetos, principalmente no que referia à

mecanismos. Os relógios hidráulicos, mostadores solares, papagaios de papel

que construiu, os raios de luz solar que o fascinavam, todos os recursos da

Natureza que um alguem pode observar, sem que fosse preciso imediatamente

entendê-los. Os sonhos perenes brotavam na cabeça daquele quase menino.

Observamos a singular justaposição de destinos: em 3 de setembro de

1658, Oliver Cromwell agonizava em Londres. Lamentava-se, entre gemidos de

dor, implorava a Deus a quem muitas vezes se humilhou. Suas últimas palavras

foram ouvidas com dificuldades pelos amigos que o cercavam, porque lá fora, a

tempestade bramia. E, naquele mesmo instante, em Woolsthorpe, no condado de

Lincoln, Isaac Newton, enfrentava essa mesma tempestade, ocupava-se em

estudar a força do vento. Ele dava pulos contra e a favor do vento e, verificava a

diferença nos dois casos. Avaliava a força do vento, embora, parecesse esquisito

que um moço de 16 anos, ignorante de matemática cuidasse de tal problema. Era

desse tipo de homem que se faria um lavrador? O jovem Newton, sem que

percebesse seguia sua verdadeira vocação. Hannah, sua mãe, queixava-se a seu

irmão o reitor em Burton Coggles, sem encontrar nenhum apoio de sua parte, ou,

pelo menos, dar algum conselho que lhe possibilitasse não interromper os planos

que fizera para o jovem filho. “Enfrente a pobreza, e Deus providenciará sem

dúvida”.

Sem uma saída imediata, Newton foi novamente mandado para a escola.

Com grandes progresssos nos estudos levaram-no ao Trinity College, de

Cambridge, onde participou de assuntos que até então ignorava. Entre eles, os

livros de Euclides. Não que outros estudos de geometria lhe fossem fáceis de

aprender, mas, achou tão evidentes os problemas apresentados pelo velho

geômetra grego, que pôs de lado o compêndio, dizendo:- Acho tudo isso

extremamente trivial.

Outra vez interrompia os seus estudos. Desta vez, a praga, esse terrível

imposto do século XVII, assolava toda a cidade de Londres, e, como atingisse o

interior do país com as suas garras assassinas, fecharam-se as escolas e

dispensaram-se os alunos, evitando a contaminação por aglomeração. Isso fez

com que Newton regressasse a Woolsthorpe, mas não para trabalhar na lavoura

ou tomar conta dos negócios maternos. A luz sempre o fascinara e continuava a

fasciná-lo. As férias forçadas motivadas pela epidemia, fez com que ele

Page 58: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

58

começasse a trabalhar com prismas, dedicando-se em aprender alguma coisa a

respeito da luz solar. Esses estudos o levou a decompor a luz em seus diferentes

raios coloridos e a lançar os fundamentos de toda a teoria moderna sobre esse

capítulo de Fisica. Foi o primeiro a dividir a “branca luz do infinito” e assinalar

os diferentes graus de refrangibilidade dos raios de cada cor. Aqueles que,

atualmente, buscam os salutares raios violetas, estão em débito para com

Newton, que foi quem soube fazer a combinação adequada de prismas, operando

com um simples feixe de luz solar passando por um orifício praticado numa das

janelas da herdade de Woolsthorpe. Que importa que a teoria de Newton, sobre

as partículas de luz não seja correta? Huygens viria a tempo para nos falar das

ondas e dar-nos a boa direção ao assunto. (Ver itens 2.14 e 2.15).

Costuma-se datar dessa época a prova de que Newton se interessava pela

gravitação. Não podemos nos enganar em pensar que Newton tirou do nada a

sua concepção. Também devemos não relacionar com a história da maçã. Que

permaneça como símbolo. Pouco importa se a maçã caiu, e mesmo que se tenha

esborrachado na cabeça do jovem Isaac. Como podemos concluir, este fato o

teria levado a lembrar-se da obra de Kepler e de Galileu. Ele deve ter olhado

para o sol e considerado que a Lua, os Planetas e a Terra que pisava giravam no

espaço, aproximadamente à razão de 108 000km por hora. Uma explosão de

raciocínios tomou conta de seu espírito. Seria possível que outro cérebro teria

sido capaz de funcionar dessa maneira? O cristal de galena que resolve o

mistério do rádio ou assinala a passagem das tempestades com dez anos de

antecedência, pode ser considerado agora estar tão próximo da nossa

compreensão como a maçã de Newton. O mesmo pode-se dar para a causa da

morte, ou um fato tão comum como a queda de uma maçã. A linha do raciocínio

aí está, mais do que tinha Newton para a gravitação, ainda mais, onde está a

solução? Há portanto, uma porção de problemas para os estudiosos que julgam

que os mestres facilmente podem resolvê-los quando bem lhes entender. Seja lá

como fôr, os ingleses têm grande apego pela “história da maçã”. Não há muito

tempo, mostravam-se aos curiosos a árvore, a qual ela teria caído. Ao resolver

dar fim a árvore, macieira, foi cortada em pequenos pedaços, que ainda hoje se

conservam.

Ninguém imagina desde quando Newton cogitava sobre a gravitação. A

funda com que Davi derrubou Golias, arremessando uma única pedra, foi

aplicado um movimento de rotação. Da mesma forma, costumam-se também

rodar uma vasilha de leite por cima da cabeça, e, o leite não entorna. Mágica

surpreendente, se corretamente executada. Também impinam pipas (papagaios)

que esticam fortemente a linha, e muitas outras coisas que as pessoas da cidade e

do campo sabem fazer. Agora, diante destas ações, pergunta-se:- Qual a força

necessária para que prenda a pedra na funda e o leite na vasilha? Da-se uma

tração constante e um constante esforço para resistir a essa tração. Assim,

portanto, duas forças iguais agindo em sentido contrário fazem o equilibrio.

Newton estava estudando tais questões, seis anos antes de Huygens publicar as

leis da força centrífuga. Conseguira até certo ponto conceber a teoria na sua

totalidade, e pôs-se a tentar prová-la com os cálculos Matemáticos. Não é

novidade que tenha escolhido a Lua para servir de exemplo. Admitiu a Lua para

representar a pedra. Colocada na funda e a Terra representava a mão do atirador.

Neste caso, a gravidade representria então uma cinta. As coisas assim figurou no

Universo, contudo, não deu certo. Pelos seus cálculos, a Lua não deveria estar

Page 59: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

59

onde ela realmente se encontra. Não tinham, pois, as suas previsões. Nada a

fazer, então, fora com elas. Foi uma grande e amarga decepção. Isaac julgava

que tomara o pulso do Universo, e perseguia uma grande descoberta, e agora

verificava que a sua hipótese era tão descabida como qualquer das que haviam

posto Kepler quase louco. Descepcionado, disse o nosso Filósofo de 23 anos de

idade:- Deixemos para pensar mais tarde sobre este assunto.

Se os mais estupendos segredos do Universo estão além de nosso

alcance, a gravidade não dá resultado, temos que tentar então, alguma coisa mais

simples, mais à nossa mão. O telescópio! A imagem fica sempre um tanto

confusa, e como não havia de ser assim? Se os raios de todas as cores da luz não

se refratam sob a lenta o mesmo grau? Fora o próprio Newton que o provara

com o seu prisma num raio de sol através do orifício de uma janela. Outros

imputavam a imperfeição da imagem à imperfeição das lentes, o que era, sem

dúvidas, um erro. A imperfeição das lentes não mudaria a Natureza da luz,

portanto, como resolver semelhante dificuldade? Por que se não constroi um

telescópio baseado na reflexão? Um aparelho côncavo daria a imagem, e ficaria

dispensada a refração.

Imediatamente pôs-se a construir um telescópio com a imagem fornecida

por um espelho. E tudo funcionou com perfeição. O instrumento tinha apenas

25,4mm de diâmetro e 152,4mm de comprimento, mas aumentou em 40 vezes os

objetos e deu uma boa imagem dos satélites de Júpiter. Um telescópio comum de

1219,2mm de comprimento não era melhor do que o pequenino de Newton. Esse

sucesso levou-o a experimentar de novo. Cosntruiu um telescópio maior, que,

uma vez concluído, foi o maior telescópio da época. Pode ser ainda visto por

quem visita a Biblioteca da “Real Sociedade” de Londres, e junto dele se lê:-

Primeiro telescópio de reflexão, inventado por Isaac Newton, e construído por

suas próprias mãos.

Se procurar conhecer os enormes telecópios que estão atualmente em

uso, verão que são instrumentos de reflexão, essencialmente iguais ao que

Newton construiu há mais de 250 anos. Com o desaparecimento da praga na

Inglaterra, Newton voltou a Cambridge, contava com menos de 25 anos de

idade, mas já havia lançado os fundamentos das obras que o tornariam imortal.

Criou o cálculo das fluxões, isto é, o cálculo diferencial. Formulara, mesmo sem

ser capaz de demonstrá-la, a lei da gravitação universal. Dera um claro

enunciado às três leis de Galileu sobre o movimento. Analisara a luz e conseguiu

a análise espectral. Não havia ainda terminado o seu curso, portanto, nada havia

publicado. Foi no ano seguinte, 1668, que recebeu o seu “A. B”. Quem o

conhecia sabia tratar-se de um habilíssimo Matemático. Sua capacidade

matemática sassegurou-lhe em 1669, a cadeira “Lucasion” de matemática de

Cambridge. Ali deu ele as suas aulas e dirigiu os estudos como um discreto

professor. Não há notícia de serem suas aulas particularmente interessantes, nem

a sua personalidade ser mais popular que de um homem comum. A habilidade

em resolver as mais difíceis questões da matemática devia surpreender os seus

admiradores.

Não era uma figura antipática, e a sua maneira de vestir-se não

despertava inveja em ninguém. Não tinha uma retórica invejável, mas as suas

paletras eram sólidas. Não havia nele juvenilidades de Kepler ou dos lances

teatrais de Galileu. Portanto, não era de espírito gracioso. Tinha respostas

imediatas sobre simples observações, como se houvesse atingido de imediato o

Page 60: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

60

fundo das questões. Os reflexos de sua inteligência eram céleres demais para

serem seguidos por uma pessoa comum. A concentração tirava-o deste mundo.

Nunca se incomodou com vestuário. As meias poderiam furar, ele não se dava

conta disso. Se saía para jantar fora, era preciso que alguém o avisasse, caso

contrário, ele compareceria vestido como estava, e era mais do que provável que

não estivesse em condições apresentáveis. Quando jantava em casa, tinha que ser

trazido para a mesa e quase forçado a comer. Se arranjava companhia e deixava

a casa para beber uma garrafa de vinho, era bem provável que se esquecesse que

havia outro dia de trabalho. Era completamente distraído, e contam-se histórias

ligadas à sua pessoa, evidentemente uma grande parte inventada. Uma história

refere-se a um jantar em casa de um amigo. A comida já estava à mesa, e

Newton não chegava. O amigo teve que jantar sozinho. Comeu toda a galinha e

guardou os ossos na terrina. Ao chegar, Newton vendo os ossos, diz: “ah, pensei

que não tivesse jantado, mas agora vejo que já jantei”.

A veracidade dessas histórias mostram como ele era distraído,

descuidado e simples ser humano. Não se preocupava consigo mesmo, mas era

um pensador profundo, que conhecia o caminho por onde os planetas se moviam

e possivelmente como os Universos nascem e morrem. Depois disso tudo,

parece-nos desnecessário acrescentar ainda, que Newton permaneceu solteiro.

Houve, entretanto, uma única vez, naquele verão em que se viu obrigado a

abandonar a escola para escapar da praga, com apenas 23 anos, era um rapaz

forte e robusto. Havia umas primas, filhas daquele tio que havia contribuído para

que ele deixasse de ser lavrador. Ele passava muitas horas na casa do reitor. Para

um estudante preocupado em descobrir o cálculo diferencial, suas primas

significam muita coisa. Eram longas conversas, e a bela prima ficava ouvindo,

absorta. Eram monólogos infindáveis que para ela continham o justo número de

palavras. As moças até hoje bem o sabem valorizar estes momentos e a prima de

Newton o soube tanto que ele se sentiu exaltado em suas qualidades pessoais.

Ela, uma mulher bem pouco comum, cheia de espírito e inteligencia. Assim

pensou o jovem Newton, que sorte seria poder contar com ela para resolver os

meus problemas.

Mas, aconteceu que, o encadeamento de seu raciocínio levou Newton à

convição de que a prima nunca o entederia. Teria Isaac, com a sua pobreza,

parecido um mau partido? Julgaria ela que, a despeito de suas longas conversas,

ele era incapaz de dominar alguém? Ou teria Isaac, distraidamente esquecido de

fazer-lhe a declaração? Isso não o teria desculpa em nossos tempos. Por essa ou

aquela razão, o certo é que se separaram. Ela se casou com outro, e, depois de

muitos anos ela e Isaac vieram a ser novamente bons amigos, tendo apagado o

ardor da juventude.

A gravidade surgiu novamente na vida de Newton. Na França, um

cientista de nome Picard fizera cuidadosas medidas pra determinar o

comprimento de um grau na superfície da Terra. A última avaliação dera a um

grau o valor de 111,12km. Picard achou para a medida quase 129,64km. Quando

Newton tratara pela primeira vez do problema da Lua e da gravidade, sabia que,

no caso de a teoria estar correta, a Lua cairia na direção da Terra à razão de

4,8768m por minuto. A sua primeira avaliação, feita quando tinha 23 anos de

idade, mostrara-lhe que ela seria atraída numa velocidade de 3,9624m por

minuto. Essa diferença fez com que ele deixasse de lado a teoria e não

continuasse mais a pensar no caso. Agora, porém, em 1672, chegava a notícia de

Page 61: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

61

que os primitivos dados não estavam certos. O tamanho da Terra era maior do

que se julgava. Dar-se-ia o caso dessa nova e cuidadosa medida vir corrigir os

seus cálculos? Viria no caso, provar que a sua teoria era fundamentada? As

milhas excedentes podiam causar uma certa diferença. Seriam suficientes para

isso? Quando seus dedos traçaram os números no papel tremia de nervoso.

Aquele homem impassível, um tanto pesadão, já sem mocidade, desbruçava-se

agora sobre os seus cálculos com os olhos flamejantes, e, assim tornavam-se a

verdadeira incorporação da juventude. Mais veloz ainda que seus dedos, corria o

seu cérebro. Precisava de qualquer maneira continuar os cálculos. Dominara o

segredo do Universo e colocara-se ao lado de Kepler e Galileu.

Descobrira a gravidade? Só um espírito inferior ao comum dos homens

afirmaria semelhante coisa. A gravidade foi descoberta, pode-se dizer, pelo

primeiro homem que caiu duma árvore abaixo. Todo mundo sabia da existência

de algo que atrai as coisas para o centro da Terra. Kepler tinha andado bem no

encalço do probelma que Newton viria a resolver, quando se referiu à ação da

Lua sobre as marés. Galileu com seus estudos sobre a queda dos corpos e sobre

os projeteis, retirara da Natureza as três leis guiadoras. Mas parou aí. Newton fez

a aplicação aos problemas do Universo. Muitos, muitos séculos atrás, os homens

concebiam o mundo como sustentado por um gigante, montado nas costas de um

touro, o qual, por sua vez, se apoiava numa tartaruga.

Na Idade Média, a maioria das pessoas, avaliando as coisas pelas

aparências, pensava que a Terra fosse chata e sustentada por colunas em suas

extemidades. Sobre que estaria apoiadas tais colunas? Isso não importava. Essa

concepção foi aos poucos decaindo, e com as viagens e descobrimentos que

vieram provar a redondeza da terra, aceitou-se que esta se sustentava por si

mesma no espaço, estacionária no centro do mundo. Havia mnuitos anos que um

velho escandinavo afirmara que a Terra era redonda e que a suportava uma

serpente, comendo sua própria cauda.

Kepler reconhecia a existência da gravidade, tendo determinado as

órbitas dos Planetas e descoberto as leis de seus movimentos. Mas nunca

penetrou no problema de como cada Planeta podia manter-se em suas órbitas,

conservando o seu impulso. As três leis mecânicas de Galileu e as três leis do

movimento celeste de Kepler forma os instrumentos que Newton usou para a

demosntração de sua teoria. Depois de Newton, o que era lenda não passou de

mera lenda. Mesmo aqueles que não faziam a menor ideia do que fosse

gravitação universal, deixaram de acreditar num gigante sustentando a Terra em

suas costas. Que força impele para a frente o sol e o sistema solar com uma

velocidade de 19,4 km por segundo? Como essa força os atinge e com que linhas

invisíveis prende os planetas ao Sol, e, por sua vez, o Sol a algum astro mais

poderoso e distante? A nenhuma dessas questões Newton respondeu. A nenhuma

dessas questões homem algum respondeu.

Isaac Newton, diante de seu sucesso, não publicou as suas descobertas.

Ficou pensando sobre o assunto por mais de dois anos, e continuou trabalhando.

Não conversava com ninguém; proceguia sozinho, lutava renhidamente com um

após outro planeta, vendo a sua teroria confirmar-se e não importava a que parte

do Universo a aplicasse. E quando a terminou, a primeira parte dos seus

“Pincipia” ficou concluída, não mandou imprimir a obra. Nem mesmo a ela se

referiu na “Real Sociedade”. Simplesmente guardou-a em seu baú, continuou a

viver a sua vida cotidiana. Assim procedeu em vista da discussão que fora

Page 62: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

62

obrigado a manter com outros cientistas, por causa de sua publicação sobre

ótica, não desejou provocar um rebuliço com a sua teoria da gravitação. Tanto

quanto lhe era dado avaliar, a tarefa estava concluída e isso era tudo para ele.

Edmund Halley chegou providencialmente. Estava às voltas com um

problema que ninguém na Inglaterra era capaz de resolver. Procurava

demonstrar a órbita de um planeta, sujeito a uma lei do inverso do quadrado,

devia ser uma elipse. Apelou para Newton. Ora, isso era exatamente o que

Newton tinha levado dois anos para provar a si mesmo. Em resposta a Halley

pode dizer de imediato:- Pois não, já a calculei.

Newton explica os planetas com as três leis de movimentos e a Lei da

gravitação universal. Desta forma nasce a mecânica celeste:

- Primeira Lei: qualquer corpo permanece em seu estado de repouso, ou

de movimento retilíneo uniforme, a menos que seja compelido a mudar

de estado por uma força externa.

- Segunda Lei: a taxa de variação do movimento é proporcional à força

impressa e na mesma direção em que a força age. A equação resume em

F= M x a.

- Terceira Lei: a cada ação corresponde a uma reação de mesma

intensidade e sentido oposto.

- Lei da Gravitação Universal: qualquer dois corpos atraem um ao outro

com força proporcional ao produto de suas massas e inversamente

proporcional ao quadrado da distância entre eles, FG=-G(M1 x M2/r2) ř.

Realmente a calculara. Após uma pequena demora, devida à relutância de

Newton em publicar, os “Principia” foram entregues a Halley. Mas as

atribulações deste cientista não haviam terminado. Halley mostrou os originais à

“Real Sociedade”, e esta resolveu publicá-los. De repente, mudou de parecer e

decidiu que seria muito custoso fazê-lo. Assim, Halley teve que publicá-los à sua

custa. O livro repercutiu nos meios científicos, Halley reembolsou o seu

dinheiro. A “Real Sociedade” arrependeu-se amargamente pela decisão tomada.

Criou-se a celeuma que Newton já houvera previsto. Hooke, que era também um

campeão da matemática, reclamou a paternidade da teoria e tentou fazer com

que a “Real Sociedade” sustentasse a sua reclamação. Realmente, ele havia

trabalhado na questão, mas não a tinha até então demonstrado e havia dúvidas se

teria efetivamente formulado a teoria como Newton a entendia e expressara em

seu trabalho. O fato é que as duas grandes autoridades entabularam uma

discussão e, na segunda edição da sua obra, Newton deu a Hooke todos os

direitos que lhe competiam, e mais alguns. Com esta atitude, mostra bem quem

era o histórico Newton.

Ele tinha nesta época 45 anos de idade, e a não ser a preparação de uma

obra sobre o seu cálculo diferencial, havia dado por concluído a sua tarefa no

mundo. Um ato estraordinário na vida desse grande homem foi que a totalidade

da sua obra, estava completa quando Newton tinha apenas 23 anos de idade.

Tivesse ele conhecido as verdadeiras dimensões da terra, seus cálculos sobre a

gravidade teriam desde logo sido exatos. O que quer dizer que a sua teoria estava

certa e só ficara aguardando dados rigorosamente certos para poder ser

demonstrada. Dera ao mundo uma lei abrangendo todo o Universo, que

patenteava o que de superstição havia nas fábulas, lendas e folclore.

Decompusera a luz branca, mostrando a sua naturea e instituindo as leis da

refrangibilidade no estudo “Experimentum Crucis”. Construíra um telescópio de

Page 63: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

63

reflexão, tendo portanto ampliado enormemente o Universo visível. Inventara o

Cálculo Diferencial.

Com idade de 45 anos, já toda a sua obra completa. Estaria exausto?

Seria sua imaginação tão limitada que não podia sugerir novos problemas? Teria

seu árduo e incessante trabalho destruído a sua flexibilidade? Estaria reduzida a

sua cabeça, com aquela idade de 45 anos a uma concha vazia? Newton foi eleito

para o Parlamento. Nas novas eleições foi derrotado. E note-se que era então um

dos mais famosos homens do mundo. Olive Cromwell, Richard Cromwell,

Carlos II, todos chegaram e partiram durante a sua existência. Jaime II chegara

fanfarronamente e partira a toda pressa. Maria e Guilherme III reinavam.

Agitados tempos para a velha Inglaterra, para a liberdade e para o homem. Mas

Newton nunca tomara parte nos acontecimentos políticos. A tempestade podia

rugir a sua volta que ele se conservaria no meio dela em plena calma.

Arquimedes procedeu de modo bem diverso.

É facil de localizar um fato que lhe abalou profundamente o espírito. O

seu cão Diamond derrubou uma Lâmpada acesa no quarto de Newton,

queimando-se as publicações e notas acumuladas havia vinte anos. Para ele isso

tomou as proporções de verdadeira calamidade. Queixou-se pouco, mas caiu no

desânimo. Todavia, nada de muito precioso se deve ter perdido. Não tinha mais

cálculos decisivos e complicados a terminar. Tudo estava feito e publicado. Mas

quem sabe se sobrara alguma coisa. . ..

Algumas cartas que escreveu pouco depois desse terrivel acontecimento

denotam esquisitas particularidades. Uma delas, escrita a Samuel Pepys, é

ilógica, não parece fruto de uma mentalidade profunda como a dele. Mas a crise

foi passageira. Recuperou a saúde e voltou ao trabalho com toda a firmeza. Foi

então que alguém chamou a atenção do Lorde Halifax para a pobreza de

Newton. Ali estava o maior sábio vivo da humanidade e seus recursos

financeiros davam-lhe apenas para viver. Halifax compreendeu que a Inglaterra

devia alguma coisa àquele grande homem. Pouco tempo depois, era Newton

nomeado diretor da Casa da Moeda, com vencimentos correspondentes a $7.000

por ano. Que fortuna deve ter parecido para Newton!

Para falar a verdade, depois da publicação de sua obra sobre o cálculo

diferencial, a ciência não lhe ficou devendo mais grande coisa. Continuou a

escrever, mas só a teologia passara a interessar-lhe. Em toda a sua vida fora

profundamente religioso, e nunca a dúvida lhe penetrou no espírito, nem quanto

à forma nem quanto à substância. Por isso, para os leitores de agora, as suas

publicações religiosas carecem de interesse e frequentemente não são incluídas

na sua herança intelectual. Não resta dúvida, que, para quem tenha tempo de lê-

las com atenção, monstram ser o fruto de uma mentalidade luminosa e invulgar.

Mesmo que a obra de Newton, por essa ou aquela razão, tenha sido

concluida aos 45 anos de idade, ou mesmo, se não fosse por circunstância

acidental, aos 24. Como diretor da Casa da Moeda, com os vencimentos que sua

posição lhe dava, Newton podia ter vivido como um príncipe. Mas, no entanto,

viveu simples e isolado, gastando a maior parte do seu tempo fechado na casa

com os seus livros e escrevendo artigos de nenhum valor sobre teologia. Em

1703 mais uma honra lhe adveio. Foi eleito presidente da “Real Sociedade”,

sendo reeleito para esse alto cargo durante 25 anos ininterruptos. Após 40 anos

quando a Natureza escreveu a palavra “FIM” do seu gênio, Newton ainda vivia.

Honrado e respeitado por todos. Era efetivamente estimado pelo pequeno grupo

Page 64: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

64

a que se reduziam as suas relações mais íntimas. Morava em companhia de uma

sobrinha, como um velho solitário que serenamente caminhava para o fim da

vida.

Viveu os últimos anos livre de padecimentos. Não passava muito bem

dos rins, e achavam que tinha pedras na bexiga. Não somente isso, juntou-se a

gota. Contudo, não se queixava. Suportava suas dores pacientemente, encarando

com sabedoria o descanso final. Que longa estrada percorrera desde o dia em

que aquelas velhas parteiras correram apressadamente em busca de socorrro para

uma criança quase morrendo e que pesava apenas 1,36kg. Aquela criança

nascera num Universo que os homens supunham movendo-se no caos.

Decorreram 85 anos, e agora estava ali um velho que havia banido o caos e

estabelecido a ordem no Universo. No dia 28 de fevereiro de 1727, Newton,

sentindo-se vigoroso e bem disposto, foi a Londres para presidir a uma reunião

da “Real Sociedade”. As numerosas pessoas que, como membros dessa

instituição, haviam conhecido o presidente durante 25 anos, não mais veriam a

sua figura, coroada de cabelos brancos.

A 4 de março ao regressar a Kensington, adoecera de morte. Dois

médicos o assistiram. Durante 10 dias torceu-se de dores, mas no dia 15 sentiu

algum alívio, e voltaram as esperanças. Teria sido nesse pequeno intervalo de

espera pelo sopro final, que Newton pronunciou as seguintes maravilhosas

palavras, dignas de serem ouvidas por todo aquele que pensa:- Não sei que

impressão darei ao mundo, mas, para mim, penso não ter sido mais que uma

criança que brinca na praia divertindo-se em encontar de vez em quando uma

pedrinha mais lisa ou uma conchinha mais bela, enquanto diante de seu olhos o

grande oceano da verdade se estende desconhecido.

E acrescentou, voltando-se a custo ao leito:- Se vi mais do que Descartes,

foi por estar trepado nos ombros de giantes.

Não houve arrogância nas palavras. Não se lastimou como Tycho Brahe

quando disse:- Oh, que ao menos possa parecer aos outros que não vivi em vão.

Em perfeita modestia, entrou num sono tanquilo, na luz pura em que

tanto mereceu viver.

Page 65: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

65

3.8. ALBERT EINSTEIN (1879-1955) natural de Ulm, no Wurtenberg, Alemanha.

Nasceu em 14 de maio de 1879. Seu pai foi um negociante de produtos

químicos, tendo sempre reinado uma atmosfera de ciência em tôrno de Albert,

desde sua infância. O pai abrira a sua casa de negócio em Munique pouco depois

do nascimento do filho. Foi nela que frequentou pela primeira vez a escola e que

conheceu pela primeira vez a amargura de ser judeu na Alemanha. Era franzino

demais para lutar sozinho e muito sensível para ignorar a cruel perseguição que

ali moviam aos judeus.

Aos quinze anos, seu pai transferiu o negócio para à Suiça. Albert pode

então respirar o ar um tanto mais livre de Aarau, na Suíça. Nunca se queixou de

sua vida de aluno da escola cantonal da localidade, mas é bastante significativo

que, enquanto Pasteur, Darwin, Wallace, Hooker e Gray tiveram amigos íntimos,

Einstein, nesse ponto semelhante a Lamarck, viveu uma vida solitária,

construindo em sua imaginação um mundo para si, onde dominava

soberanamente.

As aptidões de Einstein devem ter brotado cedo, pois, quando deixou

Aarau já se achava em condições de ganhar o sustento de sua própria vida. Em

Zurique, entrou para a Escola Politécnica, provendo as despesas com lições de

matemática e física. Como Pasteur, desejava unicamente ser professor. Com essa

ideia foi servir como preceptor em Schaffhauser.

É de acreditar que o seu emprego de professor particular lhe haja

satisfeito, pois no ano seguinte aceitou com agrado o lugar de examinador oficial

de patentes na cidade de Berna, para o qual teve de se naturilizar cidadão suíço.

Einstein trabalhou compenetrado no seu registro de patentes, examinou

escrupulosamente esquemas e modelos para evitar infrações. Isso, representava

apenas o seu ganha-pão. Não correspondia à agitação do seu cérebro, pois, nos

seus momentos de folga cursava a Universidade de Zurique, conquistando o seu

grau de “H.D”. Foi durante este período de examinador de patentes, que

encontrou uma jovem de família eslava, que se interessava pela matemática, e

pelos Matemáticos, vindo a se casar com ela. A jovem aceitou Albert porque viu

que ele precisava de alguém. Seja como for, não conseguiram manter um

entendimento permanente, e parece que, com mútua satisfação, o casamento foi

dissolvido.

Raramente uma pessoa consegue fazer como Einstein. Tão útil emprego

de um cargo oficial, proporcionou-lhe por causa dele uma esposa e um grau de

doutor, assim como escreveu e publicou trabalhos que os firmaram desde logo

como um cientista de grande cultura e imaginação. Num de seus primeiros

trabalhos publicados, que atraiu a atenção geral, deu uma explicação do

movimento browniano. Esse fenômeno, descoberto por Robert Brown em 1827,

constituíra sempre um enigma para os homens de ciência. Em resumo, o que

Brown observou em seu microscópio foi o seguinte: diminutas partículas que,

suspensas num fluído, eram vistas em estado de grande agitação. Mas constituía

um mistério a razão pela qual tais parículas de matéria, apenas distinguíveis sob

grande aumento, se empenhavam trabalhosamente em correr daqui para ali nas

mais desencontradas direções. Foi esse o problema que Einstein atacou ao

mesmo tempo em que examinavam as patentes.

Como se sabe, o calor aumenta a atividade molecular. Mas semelhante

atividade não pode ser observada numa partícula relativamente grande, nem

tampouco na molécula, por estar fora do alcance do mais possante microscópio.

Page 66: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

66

Entretanto, esse movimento devido à energia térmica, quando a partícula ocupa

em tamanho o limite da visão microscópica, pode perfeitamente ser visto.

Einstein, partindo desses conhecimentos, utilizou a sua capacidade matemática

para estabelecer as operações que tornaram possível deduzir as massas das

partículas do cálculo dos referidos movimentos.

Ainda quando em plena tarefa de examinar patentes, publicou, em 1905,

sua Teoria da Relatividade, deduzida dos estudos que fizera das transformações

de Fitzroy-Lorentz, equação tão sutil que a sua significação completa só foi

concebida depois que Einstein a iluminou com o seu gênio.

Os mestres da Ciência começaram a olhar com alta consideração para

aquele funcionário de um simples registro de patentes. Zurique chamou-o para

ser professor de física teórica de sua Universidade. Isso se deu em 1909, tendo

permanecido Einstein dois anos nesse cargo, quando Praga lhe ofereceu uma

cadeira de professor de física. Mas Zurique reconquistou-o um ano depois, e aí

se demorou ele até que a Alemanha, por sua vez, o requisitou.

Einstein foi chamado a Berlim para dirigir o Instituto Kaiser Wilhelm,

sendo então eleito membro da Real Academia de Ciências da Prússia, com

vencimentos que lhe permitiram devotar-se exclusivamente às pesquisas

científicas. Passados dois anos, assombrava o mundo com a sua Teoria da

Relatividade Generalizada. Por volta dessa época, 1915, a Europa fazia esforços

desesperados para se suicidar, levando consigo para o túmulo a humanidade

inteira. Berlim era então um centro de ebulição de atividade guerreira, mas

Einstein, tal como Lamarck, cuja calma não se perturbara com a fúria da

Revolução Francesa, trancou-se em seu laboratório, escapando do vírus da

loucura que atacara todas as nações. Quando esse vírus se extinguiu por si e os

homens voltaram a ser racionais, a Natureza empolgante de concepção

einsteiniana do Universo arrebatou os sábios, incutindo-lhes um ardor intenso de

explorarem as suas verdades.

Einstein havia afirmado que o espaço apresenta uma “curvatura” e que,

consequentemente, as partículas que nele se movem são obrigadas a seguir a

curvatura desse “contínuo”. Mas onde as provas de tal afirmativa, que, à

primeira vista, soa como um verdadeiro absurdo? Einstein pode desde logo

apelar para um fato demonstrativo. Desde muito tempo que os cientistas que

acreditavam na lei newtoniana da gravidade se vinham vendo em apuros

relativamente ao planeta Mercúrio. Este não se comportava regularmente, não

fazia como os cálculos esperavam mostrar, a sua volta em torno do Sol,

concluindo-a no ponto predeterminado pela teoria. Ao invés disso, levava para

executar seu giro completo, tempo ligeiramente superior ao previsto. A teoria de

Newton não dava conta desse comportamento misterioso, ao passo que a nova

teoria de Einstein o explicava quase que com rigorosa exatidão.

Tratava-se de uma questão relacionada com a trajetória da luz. A velha

noção que se tinha era que a luz, pelo fato de não ser consituída de partículas

materiais, devia caminhar em linha reta no vácuo, sem sofrer a ação da

gravidade. É verdade que os teoristas filiados a Newton admitiam que o raio

luminoso, ao passar pelas proximidades do Sol, podia ser desviado de sua

trajetória retilínea, pois aceitavam que a luz fosse composta de partículas

materiais. Einstein, entretanto, insistia em dizer que, de acordo com a sua teoria,

a luz devia sofrer um desvio duplo do previsto pela lei de Newton. Era essa

controvérsia o que justamente mais agitava os físicos e os Astrônomos.

Page 67: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

67

Felizmente era um questão que poderia ser posta à prova e, a oportunidade para

isso surgiu logo depois.

Terminara a guerra, a Alemanha diminuída em seu poderio, implorava

junto à Conferência Mundial uma nova ocasião de exibi-lo de novo. A 29 de

maio de 1919, os membros dessa Conferência reuniram-se em Versalhes para

proferir a sua sentença. Nessa mesma ocasião, alguns sábios ingleses se achavam

no Brasil e na Àfrica devidamente aparelhados para fotografar um eclipse do Sol

e determinar de uma vez para sempre se Albert Einstein tinha efetivamente razão

no que afirmara. Os resultados disseram que sim. As fotografias provaram que a

luz, ao passar próximo ao sol, se desviava de sua trajetória retilínea de um

ângulo quase que rigorosamente igual ao previsto por Einstein. Posteriormente,

em 1922, foram colhidas novas confirmações fotográficas.

Enquanto o mundo científico aguardava impaciente o veredicto dos

Astrônomos, Einstein, calmamente, em sua residência em Berlim, fumava o seu

cachimbo, prosseguindo nos seus trabalhos, resolvendo suas equações, lutando

em um mundo de dura e fria realidade, em que se abstrai do sentimento e da

emoção. Se conseguisse resolver corretamente as equações e nenhum erro

cometer no tratamento dos símbolos matemáticos, as suas deduções estariam

fatalmente certas. Se a observação não viesse justificar as suas conclusões,

então, o trablalho teria que ser retomado e o erro teria que ser laborioso e

meticulosamente localizado. Não havia razão portanto, para se perturbar. Mesmo

assim, Einstein devia ter experimentado uma serena e profunda satisfação

quando lhe veio a notícia de que a sua teroria havia sido plenamente confirmada.

Em se tratando de um Matemático, nada convém afirmar ao certo a seu respeito.

O que estava fora de vúvida é que nada em Einstein permitia que fosse acusado

de vaidade. Pelo contrário, os que de perto o conheciam referiam-se sempre à

sua encantadora modestia e repetiam que, a palavra “eu” raramente figurava em

seu vocabulário. Ao visitar à América, mostrou-se sempre uma criatura serena,

sincera, sem afetação de nenhuma espécie, apaixonado pelo seu cachimbo,

possuidor de um fino senso de “humour” e tendo um honesto horror às

formalidades mundanas.

Nada se conhece da vida de Einstein que permita suspeitas acerca de sua

simplicidade. Nisso ele se assemelha a Faraday, cuja simplicidade de costumes e

maneiras, a glória não conseguiu alterar. Não possui nem o instinto de ambição

de um Davy nem certas atitudes teatrais que tão fortemente caracterizavam

Pasteur. Sua casa em Berlim, na Rua Habeland, era tão despretensiosa como

uma habitação humilde de Ghetto. Ele e a Sra. Einstein, a segunda, que dessa

vez era a sua prima Elsie, viviam num 4° andar de casa de apartamentos, e para

os demais locatários, Einstein não passava de um homem de meia-idade, um

tanto adoentado, e muito econômico para consigo mesmo. No 5° andar, contíguo

ao telhado, ficava o seu quarto de estudos. Não era espaçoso, mas era suficiente

para um homem poder pensar. Uma porta de aço isolava-o do resto do mundo.

Uma claraboia deixava entrar a luz e ar, além de poder ver as estrelas à noite.

Neste quarto, quando a porta hermeticamente se fechava, Einstein vivia num

outro mundo. Um mundo de mais de três dimensões, onde só reinavam o

silêncio e a meditação profunda.

Sua mesa de trabalho estava sempre coberta de livros e publicações

científicas, cartas, e papéis espalhados, com equações em várias fases de

resolução. E, por cima de tudo isso, restos de fumo e cinza, porque um homem

Page 68: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

68

distraído, que além do mais é um inveterado fumante, não vai cuidar de encher o

cachimbo sem sujar a mesa ou evitar que os palitos de fósforo queimados fiquem

jogados por toda parte. Sobre uma poltrona, junto à mesa, vê-se um retrato seu,

sem moldura. Num dos cantos da sala, um longo telescópio, pelo qual, nas horas

mudas da noite, Einstein observa as estrelas e perscrutava ansiosamente o

espaço, dirigindo perguntas eternas ao sóis que palpitam imensamente distantes.

Tudo isso se poderia esperar encontrar no quarto de estudos do maior

sábio do mundo, mas quem esperaria aí encontrar, do lado oposto à sua mesa de

trabalho, bem em frente a ele, um piano? Pois um piano lá estava, simbolizando

uma face do espírito de Einstein pouco conhecida do público. Era um

apaixoando na música e, quando a força do seu pensamento se excedia e

ameaçava declinar, ele se sentava ao piano e as músicas de Beethoven e Bach

refazia a sua harmonia interior. Darwin, que na sua mocidade apreciava a música

a ponto de sentir um tremor nos osssos ao ouvir uma orquestra, queixava-se de

que a operosidade científica a que se vira forçado, destruíra o seu amor pela arte.

Einstein ao contrário, parece ter levado a abstração além dos limites do

pensamento humano, encontrou na música elevação e o repouso.

A mistura de honras e glórias, com algum dinheiro, vieram ao seu

encontro, mas continuou a viver a mesma vida de quando chegou a Belim, 16

anos antes. Foi deste quarto de estudos que Einstein anunciou a sua Teoria da

Relatividade Generalizada. A teoria que abalou todo mundo científico. Nessa

nova concepção do Universo, apoiada na matemática e baseada na experiência,

“o espaço e o tempo em si”, escreveu Minkowski: “reduzem-se a meras

sombras, e só uma espécie de relação entre ambos mantém uma existência

independe”.

É de admirar, portanto, que a Ciência tenha tido um sobressalto e

exclamasse: “Que significa tudo isso”? Tão impressionante foi essa exclamação

por parte da Ciência, que até os leigos se interessaram pelo assunto. Estaria o

Univeso modificado em suas bases, estariam os nossos relógios mentido. Seria o

tempo uma ilusão e o espaço uma coisa sem sentido? Naturalmente, na

qualidade de leigos, teríamos mil e um perguntas a fazer, algumas um tanto

puerís e outras exigindo respostas apenas ao alcance de quem possui vastos

conhecimentos de matemática. Para saber o que significava aquela chocante

transformação das coisas, ninguém podia explicá-la. Todos já ouviram falar da

quarta dimensão. Mas, de repente todo o mundo se pôs a falar de uma quarta

dimensão chamada tempo. Pusemo-nos a tentar visualizar o “espaço-tempo”, e

este é um caminho certo para a loucura.

Mais recentemente, Einstein nos deu a sua Teoria do Campo de

Gravitação, com o que novamente nos deixou desorientados. Os chamados

campo de gravitação e campo eletromagnético são, no dizer de Einstein, coisas

idênticas, governadas pela mesma lei. A. S. Eddington, professor de Astronomia

em Cambridge, veio ainda complicar a questão, fazendo entrar em cena o

elétron. Já estavamos acostumados com esse mínimo dos mínimos e começamos

a manter certa intimidade com ele, quando vem Eddington dizer que o elétron

não passa de um “manequim”, usado para auxiliar o pensamento, e que por trás

dele está ”psi”, que é suposto representar a realidade, mas que, por sua vez,

podia vir a ser provado que não passava também de um manequim.

Entre o Universo e o “psi”, Einstein e Eddington haviam revolucionado a

antiga ordem de coisas, aquela ordem de coisas que nascemos e que se supõem

Page 69: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

69

conhecer um pouco. Felizmente, as leis ainda continuavam a operar, mas daí não

se segue que operassem da forma por que semelhante restrição não deixava de

ser chocante para a nossa qualidade de crentes em Newton, figura de gigante que

enchera o mundo por mais de duzentos anos.

Se Eddington tinha razão e o elétron devia ser substituído, era justo que

depositassem confiança na estabilidade do “psi”? E, se este também se fôr, que

restará de pé? Somos alguma coisa, ou menos que nada? Será toda a matéria

alguma coisa, ou menos que nada? Einstein fizera com que o tempo perdesse a

sua estabilidade, o espaço a sua realidade e, o padrão de medidas a sua

invariedade. Concorde-se em que tudo isso era mesmo para deixar um homem

confuso, e só nos restava apelar para o tempo, a cuja realidade obstinadamente

nos apegamos, para que viesse esclarecer as coisas e permitir que se lancem um

olhar furtivo para aquilo que tanto nos preocupava.

A teoria de Newton contituíra também um mistério para os seus

contemporâneos cientistas. Havia então apenas uma meia dúzia de pessoas

capazes de compreender exatamente o que ele afirmava. Até certo ponto as suas

ideias precisavam ser postas ao alcance dos sentidos. E, para as posssiblidades

dos espíritos não Matemáticos, foi necessário construir uma imagem da Terra

girando velozmente através do espaço sem deixar contudo de estar presa

indesviavelmente às poderosas garras do Sol. Nos dois séculos e meio em que se

seguiram ao aparecimento dos “Principia”, os homens aceitaram e supuseram ter

compreendido a teoria de Newton, sem se darem conta dos desnorteados meios

por que o conseguiram.

Os espíritos não Matemáticos, para fazerem uma vaga, mas assim mesmo

satisfatória ideia da gravitação, precisam visualizá-la na imagem de uma bola

que descreve círculos presa à extremidade de um cordão. Isso está longe de ser

rigoroso, mas, não obstante, tem prestado e continua a prestar serviços aos

atarefados homens de negócios e às ativas donas de casa. Não é impossível que

muita gente conserve ainda a secreta convicção de que concepção de Newton é

um tanto absurda e que deve haver algo de tangível e visível que de certo modo

sustenta a Terra para que ela possa girar como uma bola sobre o seu eixo. Esta é

uma forma de pensamento natural para quem não recebeu qualquer instrução

matemática.

Os homens em sua totalidade, nela se incluem gênios como Shakespeare,

Goethe, Hardy e Proust, só é capaz de pensar por imagens. Imagens claras ou

ilusórias, não importa, mas, somente os estudiosos esclarecidos da matemática

pura são capazes de se libertar deste processo de pensamento limitado e pouco

satisfatório. Ora, para esses que são capazes de compreender as várias etapas,

por exemplo, da transformação de Lorentz, existem raciocínios e concepções

para os quais não se pode arranjar uma imagem, que capacite ser representada

em termos da vida comum do dia a dia. Em seu esforço de compreensão, são

transportados a um mundo onde até as palavras, no seu sentido geral e criadoras

de imagens cessam de existir, onde o pensamento se mostra tão ríspido, frio e

remoto, em relação à experiência quotidiana dos homens, que deixa de poder ser

identificado como pensameto por uma mentalidade não matemática.

Verifique quem pensa exclusivamente por palavras que possuem um

certo valor pictorial definido. Não depreende que as palavras tenham a mesma

signficação pictorial para qualquer pessoa. Se for um corretor, por exemplo, da

Avenida Paulista em São Paulo, a palavra “algodão” significará coisa muito

Page 70: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

70

diferente do que se for proprietário de uma plantação de algodão no Estado de

Mato Grosso do Sul, e ainda mais diferente será para quem colhe os chumaços

de algodão. Mas, em todos os casos, a plavra “algodão” terá sempre um

determinado e expressivo valor pictorial.

Esse sentido ocasional das palavras não existe para a alta matemática.

Para os espíritos profundamente estudiosos que são capazes de entender,

digamos, uma fórmula de Riemann, a significação desta será sempre a mesma.

Literalmente, os processos de pensamento serão idênticos. Como podem, pois,

tais conclusõe, não pictorialmente imagináveis, ser expressas em palavras que

devem conter, e não podem deixar de conter, sugestões pictoriais?

Einstein é um gigante da matemática pura. Quando penetra em seu

laboratório, fecha-se com a sua porta de aço para todas as palavras, ou o que

entendemos por palavras. Passa a lidar apenas com fórmulas, com combinações

de algarismos, letras, símbolos e diagramas, em cujas manipulações o

vocabulário comum dos homens não toma parte. Quando chega ao momento de

transmitir ao mundo as suas conclusões, manda imprimir algumas poucas

páginas de formulários. Desta maneira, Einstein não tem significado grande

coisa para a compreensão dos leigos, a respeito de todos os livros, folhetos,

artigos, conferências, entrevistas, sobre a Relatividade. Quando foi da

publicação no London Times, de um artigo de vulgarização da teoria de

Eddington sobre o elétron, alguém solicitou de Sir Oliver Lodge um comentário

sobre o artigo. Tudo o que ele teve para dizer, depois de lê-lo, foi:

- Deus proteja os leitores do Times.

Bertrand Russell que, como cultor da matemática pura, pode figurar logo

depois de Einstein, escreveu:- Muitas das novas ideias podem-se expressarem

linguagem não matemática.

Mas apressa-se e acrescenta:- Exige-se uma mudança da nossa

representação imaginativa do Universo.

Quem pode mudar a representação do Universo? Quem pode varrer do

espírito a ideia de que o Sol “mantém” a Terra e os demais Planetas em suas

órbitas? Em lugar disso, concebe-se uma representação dos Planetas

percorrendo, num dado sentido, a linha de menor resistência, não em virtude de

determinada ação do Sol sobre eles, mas por causa da Natureza do espaço-

tempo! Quem pode conceber o espaço-tempo, pode sem dúvidas, imaginar uma

representação pictorial do espaço-tempo. Significa alguma coisa a semelhante

combinação de palavras?

Para os estudiosos de Einstein, ela significa alguma coisa familirizadas

com a matemática. Por exemplo: ao ver um livro, o que se vê é exatamente um

livro para quem olhou. Algo de pesado e sólido, que se pode segurar, olhar e ler.

Pode-se rasgá-lo, queimá-lo ou repô-lo na estante, como se aprouver. Imagine

instintivamente que, se ele não ocupasse espaço, não teria existência para quem

o vê. Seria apenas um espectro de livro. Ora, a ideia de associar o tempo ao livro

nunca viria à mente, a não ser que, pelo conhecimento que se tem de que o livro,

só existe durante certo tempo, por menor que este seja. A máquina

cinematográfica pode filmar um homem em movimento, porque, não importa a

pressa com que se desloque, há sempre uma fugaz fração de segundo em que

uma parte do seu corpo está parada. Pode-se ver, que se deve acerescentar a

noção do tempo à noção de livro, a fim de lhe dar uma realidade em que a gente

se possa firmar. Ao encurtar o tempo até zero, é o mesmo que dizer que o livro

Page 71: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

71

“noção” existe. Deveis, portanto, usar o tempo como uma quarta dimensão, ou o

vosso livro livro deixa de ter realidade.

O livro não é uma certa porção de matéria sólida ocupando espaço e

tempo, como o é para outras pessoas e para mim, mas sim um grupo de

acontecimentos vizinhos. Logo de princípio, somos levados à confusão por

causa da palavra “acontecimento”, que para nós significa algo diferente do que

significa para um Matemático. Uma explosão é um acontecimento para nós, mas

longe estaríamos de supor que o livro que seguramos em nossas mãos fosse

também um acontecimento. Caso se tratasse de um grande livro, tudo bem, ainda

podíamos conceber a sua publicação como constituindo um acontecimento, e

marca-se o tempo que decorreu depois dele.

Nós, como os cientistas, relacionamos o tempo aos acontecimentos da

nossa existência, mas com a diferença de que os cientistas chamam tudo de

“acontecimento”, e, por consequência:- O espaço-tempo é uma dimensão

necessária de tudo aquilo que conhece naturalmente como matéria. Além disso,

eles não falam de espaço entre dois acontecimentos. E a medida desse intervalo,

na teoria da Relatividade, é a distância que a luz percorreria no tempo entre os

acontecimentos. A velocidade da luz tende a dominar toda a Teoria da

Relatividade. Nada é possível conhecer que tenha uma velocidade superior a

299 792,458 km/s. Pode-se tomar essa velocidade por padrão. Desta forma,

como consequências naturais, as singularidades. Mas, uma vez que se tenha bem

clara essa noção no espírito, pode-se considerar no bom caminho para entender o

rito, pode-se considerar no bom caminho para entender quanto é possível dizer

de Einstein sem auxílio da matemática.

Se estiver guiando um automóvel a 37 km por hora, e um outro

automóvel, fazendo 74 km por hora passa a dianteira, se ambos os carros

conservam a respectiva velocidade, ao fim de uma hora estarão a 37 km de

distância um do outro. Se o carro estiver dando 37 km por hora e encontrar um

outro correndo em sentido oposto à razão de 74 km por hora, o vosso caro estará

ao cabo de uma hora, a 111 km do carro com que cruzou. Esses dois exemplos

são corriqueiros, toda gente os compreende perfeitamente, mas cuide cada qual

de compreender o problema que se segue: um automóvel que corre à razão de 37

km por hora, e cruzar com um outro correndo a 74 km por hora em sentido

contrário. Até aqui como num dos casos precedentes. Mas, supondo agora que,

no momento exato em que os dois carros se cruzam, um feixe de luz é projetado

pelo seu carro. A que distância se encontrará no fim de um segundo de uma onda

luminosa então produzida, e a que distância se encontrará o segundo carro da

mesma onda, no fim também de um segundo? A resposta é que cada carro estará

distante 299 792,458 km da onda de luz considerada. Isto é, nem a velocidade do

seu automóvel, nem a velocidade maior do segundo automóvel, alterarão o

resultado, mesmo em uma mínima fração.

O que defato se passa é que tanto você como a pessoa que estava guiando

o segundo automóvel, e como qualquer outra pessoa que se encontrasse naquele

dado instante na vizinhança imediata do fato, se torna o centro do feixe de luz

projetado. Se cada uma das pessoas tivesse um relógio bem regulado na mão,

verificaria, no fim de um segundo, que o raio lumminoso, caso isso pudesse ser

medido, se achava a 299 792,458 km de distância, tal e qual como se cada uma

das pessoas tivesse ficado parada em seu lugar. Só há um meio de explicar

semelhante paradoxo e, este consite na hipótese de que os relógios, tanto o seu

Page 72: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

72

como os dos outros, hajam sido afetados pelo movimento. Isso não quer dizer

que tenha havido uma variação mecânica ou alguma inexatidão no

funcionamento dos relógios. Quer dizer apenas que, houve uma mudança real na

duração do segundo. Semelhante efeito do movimento sobre o tempo acarreta

alguns resultados inesperados.

Dissemos acima que, lidando com a teoria de Einstein, podíamos

considerar como absoluta a velocidade da luz. E isso se pode dar desde que

nenhum corpo mateiral possa em circunstância alguma, atingir a velocidade da

luz, o que se torna evidente desde que se admita, que o tempo é afetado pela

velocidade. Se o seu tempo varia quando a velocidade aumenta, permanecendo

constante a velocidade da luz, como pode atingir essa constante? Vejamos um

exemplo que, por sua analogia, torne essa evidência mais compreensível:

imaginemos a dificuldade que qualquer um experimentaria se pretendesse ir de

São Paulo ao Rio de Janeiro, admitindo que, em cada dia, havia de percorrer a

metade da distância que o separa do ponto de chegada. Percorreria, por exemplo,

83,34 km no primeiro dia; 41,67 no segundo dia, 20,835 no terceiro, e assim por

diante. Ora, sendo assim, está claro que nunca conseguiria percorrer a última

fração, que o separa do Rio de Janeiro. Da mesma forma, se o seu tempo varia

com o seu aumento de velocidade, como pode esperar atingir um padrão fixo e

absoluto?

Vamos lembrar que ao mesmo tempo a Terra está movendo em relação

ao Sol; e o Sol por sua vez, se move em relação às “chamadas” estrelas fixas, e a

constelação de Hércules, para a qual se “dirige” o Sol, também está em

movimento em relação a outras estrelas mais distantes. Quem é capaz de

conceber a curva altamente complicada descrita por todos os objetos que estão

na superfície da Terra, e que é a resultante de tantos movimentos combinados?

Assim, concebê-la é fazer uma ideia do que os antigos físicos queriam exprimir

com a palavra Relatividade. Torna-se fácil compreender que um Universo assim

sem repouso, nunca é o mesmo dois segundos após, não poderia ser medido,

salvo se o tempo fizesse de algum modo parte integrante do esquema de

medidas.

A mais curta distância entre dois pontos de uma superfície esférica, o

globo terrestre por exemplo, não pode ser uma linha reta quando aquela distância

tem que ser contada sobre a superfície da esfera, caso em que é dada por um arco

de círculo máximo que passe pelos dois pontos considerados. Se quiser caminhar

de São Paulo na direção leste, seguindo o caminho mais curto, deve-se tomar

uma direção um tanto voltada para o Norte ou para o Sul, para seguir o trajeto de

um grande círculo imaginário, isto é, a geodésica do lugar.

Os corpos em seus movimentos no espaço fazem a mesma coisa: seguem

a geodésica do espaço-tempo. Pela teoria de Newton, todos os corpos tendem a

se mover segundo uma linha reta, quando não são sujeitos a uma força exterior.

Para Einstein, porém, não se trata mais de linhas retas, nenhum corpo pode ter a

tendência de se mover em linha reta. A sua conclusão é que as órbitas dos

Planetas são geodésicas do espaço-tempo e que os planetas se movem segundo

elas em virtude da Natureza curva do espaço-tempo e não em virtude de certa

força misteriosa que o Sol possa exercer sobre eles, além do mais, tinha que se

exercer necessariamente a distância, hipótese que repugnava ao modo de pensar

do homem.

Page 73: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

73

Einstein não acreditava nas retas e, não admitia mesmo que os raios de

luz caminhassem retilineamente. Atribuiu à luz, raios geodésicos e admitiu que

esses raios, a não ser que sejam interceptados por um corpo opaco, devem

percorrer toda a volta do Universo para voltar a seu ponto de origem. Essa

excursão total de um raio luminoso dura a insignificância de mil milhões de

anos. Portanto, quando chegar o momento dos raios que atualmente estão

partindo da Terra, voltarem de novo até nós, o Sol em muito se adiantou na sua

longa viagem em direção ao C.G..

Se as ondas luminosas caminham em linha curva, o espaço, como o

conhecemos, não pode ser infinito. Isso não perturbou Einstein, pois admitiu ele

que o espaço é finito, apenas mede em sua circunferência mil milhões de anos-

luz. Einstein admite que a nossa luz, não somente a luz solar, mas todas as luzes

estelares, não podem jamais abandonar o Universo onde se originaram. Esse

espaço em que se da o percurso dos raios luminosos é, para Einstein, o

verdadeiro espaço. O que afirma, é que, se existe um éter as coisas se passam

exatamenente como se passariam sem ele. Atribui uma grande significação às

experiências de Michelson-Morley, e às de seus continuadores, nas quais não se

obteve o menor indício de um arrastamento do éter, isto é, do que se podia

denominar um vento de éter. Nenhuma experiência demonstrou decisivamente, a

existência de um éter. Dayton C. Miller, em 1925, acreditou haver captado certa

coisa que podia ser considerada como sendo o éter, mas, nem Eddington nem

Bertrand Russell aceitaram os resultados de Miller.

Einstein ao construir a sua Teoria, confessadamente, simplificou e

esclareceu as leis da Natureza. Pode-se afirmar que o tenha conseguido? Os

Matemáticos dizem que sim, e devemos acreditar na sua palavra. Naturalmente

direi:- Por que devemos acreditar na palavra dos Matemáticos?

A teoria de Einstein supõe certos princípios que devem ser retidos,

gastando-se muito tempo para tentar visualizá-los. Ninguém pode prever o

futuro, mas pode-se afirmar que a Teoria da Relatividade já produziu, nos

domínios da filosofia, a maior revolução jamais registrada. Toda a teoria de

Einstein ainda não representa uma explicação completa do Universo. A esperada

explicação, global e deslumbrante, deve partir do frágil e vibrante elétron, do

próton, desse sistema solar submicroscópico que é o átomo. Mas nesse ínfimo

mundo do átomo, todas as pesquisas dependem da deslumbrante Teoria da

Relatividade de Einstein.

A primeira singularidade geral, expansão acelerada, ou resumidamente

em expansão. Portanto, se voltamos no tempo, o Universo irá diminuir, quando

toda a matéria estará num ponto, de modo que a densidade tornar-se-á infinita.

Outro exemplo é a existência de buracos negros, que são previstos pela Teoria

da Relatividade Geral. Se a velocidade de escape chega a ser maior que a da luz

(299 792,458 km/s), a região onde isto ocorre fica invisível.

Page 74: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

74

4. IMAGENS EM ANÁLISES

4.1 Galáxias são associações de estrelas, gás, poeira interestelar e matéria escura,

ligadas pela gravitação. Os Astrônomos acreditam que haja cerca de cem bilhões

de galáxias no Universo. Em cada uma dessas galáxias existem centenas de

bilhões de estrelas. Os braços das galáxias do tipo Espiral são fluxos de cargas

elétricas, em ligações com o bojo no C.G..

Hubbel classificou as galáxias de acordo com o que foi obtido até 1930.

Foram classificadas em galáxias Elípticas; Lenticulares; Espirais

normais; Espirais barradas e Irregulares. As galáxias espirais são subdivididas

em grupos (a, b, c e d). Utilizando o mesmo quadro demonstrativo é possível

concluir que, os objetivos alcançados dão ainda outras informações sobre a vida

de uma galáxia. As imagens das Espirais normais e Espirais barradas,

classificadas conforme descritas acima, com base na intensidade luminosa

(Sa>0,5; Sb≈0,45; SBc≈0,32; Sc≈0,15; Sd≈0,10). Qualquer uma destas (Sa, Sb,

Sc e SBa, SBb e SBc), sequencialmente demonstra que termina em Irr

(Irregular), ao alcançar o final da forma existencial.

Portanto, há um período de auge nas atividades de uma galáxia sob os

efeitos das transformações de energias. No correr dos milênios a luminosidade

diminui com proporcional perda de potência no bojo, caracterizando o ciclo de

vida de uma galáxia. As galáxias funcionam como reciclador e, geram campos

magnéticos abrangentes em toda área dos discos, denominado campo magnético

indutor. A densidade de linhas de campo é inversamente proporcional ao

quadrado da distância da origem C.G..

Só existirão estrelas se existirem as galáxias. A recíproca também é

verdadeira. Assim, torna-se coerente entender porque as estrelas de altas massas

não estão distribuídas aleatoriamente na Via Láctea. Elas são encontradas

reunidas nos limites dos braços, onde o nível de gás molecular é relativamente

denso. A grande concentração de estrelas ficou conhecida como aglomerados

globulares gigantes (NMGs). As massas podem chegar a 106

M .

O Sistema Solar localiza-se no eixo imaginário desta espécie de caverna

às avessas, plena em partículas e corpos celestes. Ao olhar no sentido Norte

geométrico do Sistema Solar, coincidente ao Norte geométrico da Terra,

deslumbramos o caminho a percorrer até ao bojo (C.G.) da Via Láctea, embora

as curvas que compõem o braço somente permitem contemplar da Terra o

horizonte Oeste, assim como observou Eudóxio (360 a. C.).

Page 75: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

75

O braço de uma galáxia espiral é geometricamente representado por um

eixo imaginário de espiral logarítmica ao longo do centro. A espiral logarítmica

se estende da extremidade do braço até ao bojo. Os braços são combustíveis para

manter o bojo ativo. Ele é o próprio fluxo de grãos não isotrópicos com

impurezas, possui carga elétrica e percorre toda a trajetória até chegar ao bojo

(C.G.). As galáxias são compostas de estrelas, nebulosas, gás interestelar

(H+He+C+Ni+O), poeiras interestelares (grãos sólidos), raios cósmicos

(prótons, elétrons e núcleo de He), etc.. As galáxias reciclam o que são injetados

no bojo (C.G.) e, transforma tudo em partículas elementares. Neste processo

geram ondas de choques que refletem ao longo dos braços, numa espécie de

torção ondular, favorecendo a entrada do fluxo no bojo. Após a reciclagem com

refinamento das partículas em alta temperatura, com pressão, fusão nuclear e

descargas eletromagnéticas, elas são expulsas através do buraco negro. Mesmo a

luz ao passar pelas proximidades do polo Sul do buraco negro de uma galáxia é

atraída. Observa-se que os braços das galáxias espirais têm relativa similaridade

aos aceleradores circulares (cíclotrons) de partículas. O movimento do fluxo

contínuo com cargas elétricas gera um campo magnético ao redor do braço,

proporcionado pelas partículas com metalicidade e, átomos mais pesados que o

hidrogênio e hélio. A geometria do aglomerado que compõe os braços, a força

magnética e a rotação da galáxia, proporcionam movimento acelerado do fluxo.

Portanto, a velocidade de 19,4 km/s no eixo central do braço (onde se encontra o

Sistema Solar) não pode ser considerada constante.

Na região final de jornada atingem velocidades crescentes por três

fatores:- Primeiro fator: é o aumento de densidade do campo magnético indutor.

- Segundo fator: é a forma geométrica dos braços. À medida que o fluxo

de um braço se aproxima do bojo, as curvas de configuração que o constituem

em espiral logarítmica proporcionam a aceleração.

- Terceiro fator: os braços são comprimidos com a galáxia em rotação,

geram pressões no sentido da extremidade do braço para o bojo da galáxia

(C.G.).

Nestas condições, os choques entre partículas dos braços com o bojo em

altíssimas temperaturas, liberam energias, desarranjam combinações químicas e

atômicas, transformam os componentes em partes atômicas e subatômicas. Todo

o reciclado em partículas elementares, são “chutadas” com o campo magnético

para (re) compor os braços da galáxia as quais pertencem. Os corpos grandes e

massivos são gradativamente desintegrados e, se transformam também em

partículas elementares. Todo o processo depende do período, das condições a

que são submetidos. O bojo tem a característica de decomposição dos corpos,

partindo da periferia para o C.G.. A força centrípeta, pressão, temperatura e o

campo magnético atraem as partículas elementares para o centro do bojo, o

buraco negro.

As linhas do campo magnético indutor, que partem do C.G., penetram

transversalmente em todo o disco da galáxia em rotação. Desta forma, existe um

halo de linhas de campo magnético com polaridades definidas, Norte (+) e Sul

(-) magnético. Há ainda, a dispersão de partículas “chutadas” com o campo

Page 76: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

76

magnético, as quais atingem aleatoriamente as zonas rarefeitas de gases

ionizados (plasma) entre galáxias e os respectivos braços.

O fato do Sol isoladamente possuir 99,86% da massa total do sistema e,

os demais planetas que compõe o Sistema Solar somam 0,14%, não significa

predomínio na tarefa de seguir o caminho através do braço Órion. O Sistema

Solar está a 8300 pc (2,49 x 1017

km) do C.G. da Via Láctea. Os braços

principais são: Perseus e Scutum-Centaurus. Os demais com aparência

secundária: Sagittarius; Norma (New Outer Arm) e Órion possuem ligações com

o bojo, mesmo que, aparentemente somente dois ou quatro braços representam

ligações nas extremidades da barra no Centro Galáctico. Há uma grande

probabilidade, que os braços secundários utilizam os principais como meio de

despejar o fluxo no bojo, ao se aproximarem do final de jornada.

O campo magnético induzido tem como função manter os braços entre si

afastados, em conformidade com a lei da atração e repulsão, quando as linhas

magnéticas têm os mesmos sentidos ou sentidos opostos. Neste processo geram

perdas (Joules) pela resistência encontrada. Ao adicionar perdas por dispersões

de partículas e considerando à permeabilidade do meio (sujeiras, partículas

metálicas), significa o envelhecimento das galáxias. O processo é degenerativo,

com a agravante alteração de rotação da galáxia e perda de luminosidade

(potência ativa) do bojo.

Os concatenamentos das linhas do campo magnético induzido dão

relativas estabilidades aos braços, mesmo em pleno movimento de rotação da

galáxia (Via Láctea - IAU-220 km/s e NAOJ-240 km/s) em torno do seu eixo

C.G.. Enquanto o bojo se mantém ativo, isto é, recebendo combustível

suficiente, os braços não se misturarão para a formação de uma “Irr”

VISTA NORTE MAGNÉTICO DA GALÁXIA DA VIA LÁCTEA

Bojo – Centro

Galáctico

Concatenação

das linhas de

campo magn.

induzido

Linhas

de

campo

induzido

Linhas do campo

magnético indutor

Sentido do

fluxo

Sentido

de

rotação

Page 77: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

77

(Irregular). Com exceção à aproximação de outra galáxia interferindo na

estabilidade dos braços e, neste caso, o domínio é daquela galáxia que tenha a

maior potência ativa.

A pressão gerada nas curvas internas dos braços, pela rotação do C.G. e

pelo fluxo das matérias constituinte de cada braço, ao serem injetadas no bojo,

favorecem a velocidade conhecida de 19,4 km/s, no centro do braço onde orbita

o Sol com todo o Sistema. Tudo indica que, a distribuição das velocidades do

fluxo sejam maiores (maior pressão) nas curvas internas da espiral e, diminuem

gradativamente no sentido das curvas externas (menor pressão), considerando o

sentido de rotação da galáxia.

Ao olhar para Oeste ou Leste temos a longa faixa conhecida do Zodíaco,

composto de treze Constelações: Carneiro (Aires); Touro (Taurus); Gêmeos

(Gemini); Caranguejo (Câncer); Leão (Leo); Virgem (Virgo); Balança (Libra);

Escorpião (Scorpius); Sagitário (Sagittarius); Serpentário (Ophiucus);

Capricórnio (Capricornus); Aquário (Aquarius) e Peixes (Pisces). Foi definido

na União Astronômica Internacional, que os planetas passam pelos limites de

mais oito Constelações: Baleia (Cetus); Corvo (Corvus); Taça (Crater); Monstro

Marinho (Hidra); Órion (Caçador); Cavalo Alado (Pergasus); Escudo (Scutum) e

Sextante (Sextans).

Centro Galáctico

(C.G.)

Linhas de campo

magnético indutor Polo

Norte (+). Sentido do

fluxo

Sentido do campo

magnético do braço da

galáxia.

Fluxo de grãos não isotrópicos com impurezas, com carga elétrica.

Percorre toda a trajetória até chegar ao bojo (C.G.). O Sistema Solar

possui um movimento não em direção a uma estrela de maior

grandeza com velocidade de aprox. 19,4 km/s, mas, no sentido do

eixo imaginário da espiral logarítmica, do braço para o bojo (C.G.) da

Via Láctea.

SOL

Eixo imaginário da Espiral

Logarítmica de Órion.

Sentido do

campo

magnético do

braço da galáxia.

Page 78: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

78

O Sol segue em M.T.H. com velocidade aproximada de 225 km/s, onde

há interação com os planetas através da gravitação. As curvas da espiral

logarítmica forçam o Sol a ocupar o ponto de equilíbrio gravitacional no interior

do braço, de maneira que o avanço “P.O.” do lado da curva externa é maior que

o do lado da curva interna.

4.2. Provas objetivas do M.T.H. no Sistema Solar:

- Primeira: a velocidade de deslocamento do Sistema Solar a 19,4 km/s,

rumo ao Norte geométrico do Sistema Solar.

- Segunda: uma volta da Terra ao redor do Sol (um ano) leva o tempo de

365,25636 dias, ou 8766,15264 horas. Houve o escorregamento de 6 dias em

430 anos (2012-1582) a acrescentar para a devida correção. Portanto, temos

0,0139534883 dias/ano, ou 0,3348837192 h/ano, valor médio real.

PO=Passo orbital do

movimento helicoidal.

PO(SOL)=612 228 100,4km.

Solstício de verão - 22/12

Projeção real

Projeção real

Equinócio

de outono -

20/03.

Equinócio de outono -

20/03.

Equinócio da

primavera -23/09.

Periélio - Solstício

de verão - 22/12.

Afélio - Solstício

de inverno - 21/06

Solstício de

inverno - 21/06

Perímetro: L1+L2=

939 776 026,4 km.

PRIMEIRA LEI DE

KEPLER

PROJEÇÃO ELÍPTICA

Equinócio da

primavera - 23/09

MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO

HELICOIDAL DOS PLANETAS

COM A PROJEÇÃO ELÍPTICA

(JOHANN KEPLER) E PROJEÇÃO

REAL.

R: 149 570 000 km

C.G.

Eixo da

espiral

logarítmica

Page 79: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

79

4.3.O movimento retrógrado dos planetas Venus, Urano (e Plutão). Estes planetas possuem movimentos com ângulos 177,40°; 97,77° (e

119,61°), giram em sentido contrário aos demais planetas do Sistema Solar.

Deve-se considerar que somente Urano é composto de gás, os demais são

estruturas massivas. Ao observá-los vemos que houve um giro no seu eixo, no

mesmo sentido do polo magnético sul (norte dos planetas) para o limite exterior

do braço, Órion. Várias teorias foram exploradas, entre elas que houve choques

com outros corpos Siderais. Com a posição adquirida, permaneceram.

Somente é possível constatar que, a força magnética do Sol tem a função

de estabilizar e manter as posições que os planetas se encontram. As interações

de campos magnéticos do Sol com os planetas se mantêm.

O campo magnético originário no C.G. impõe com seus liames

configurações de menores resistividades no espaço, pois nestes casos, os eixos

destes planetas (deitados) indicam o Norte magnético para o lado externo do

orbital, e assim permaneceram diferenciados dos demais planetas.

C.G

.

SOL

Mercúrio V

ê

n

u

s

Terra

Page 80: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

80

5 DIMENSÕES DA MATERIA

Com a teoria de Einstein passamos a contar com mais uma dimensão da

matéria, ou seja, o denominado espaço-tempo (4ª dimensão):

1 – O tempo e a distância são relativos e dependem do movimento.

2 – O espaço-tempo é constante e essencial a todos os cálculos.

3 – O espaço-tempo é finito e curvo.

4 – Os raios luminosos percorrem geodésicas ou grandes círculos do

Universo, e ao fim de mil milhões de anos podem voltar ao ponto de

origem.

5 – Os planetas percorrem geodésicas em volta do Sol devido à Natureza

curva do espaço-tempo, e suas órbitras são linhas de menor resistência.

O raio dessa curvatura depende das massas dos corpos solares.

6 – O Sol não exerce qualquer força direta sobre os planetas, mas estes

percorrem o espaço da forma por que o fazem, devido ao que se poderia

comparar com vales e montanhas que se encontrassem em seu trajeto.

7 – A massa de um corpo aumenta com a velocidade, e nenhum corpo

material pode atingir a velocidade da luz, pois, se atingisse, a sua massa

se tornaria infinita. Esse aumento, a experiência o denmonstrou, está

plenamente de acordo com a teoria.

A quarta dimensão da matéria introduzida por Einstein é algo realmente

novo! Esta novidade não parece que assustou os cientistas na épóca da

divulgação. Outros cientistas conseguiram chegar à até cinco dimensões. Não sei

como, nem qual a teoria para tal evidência. Entretanto, se as provas objetivas

forem realmente convicentes, com critérios científicos, devem ser apreciadas.

Enfim, a ciência é algo que pode ir além do limite da imaginação, porém tudo é

levado a obter creditos com comprovações absolutas, não somente

comprovações numéricas como ferramentas de manipulações de cálculos

comprobatórios, mas, com os efeitos físicos específicos, também!

Os seres que se locomovem, em (in) certo momento desenvolveram algo

a mais, que as plantas. A existência de um cérebro com um sistema nervoso

central, faz a diferença. Alimentamos nossas ações com a interações dos

pensamentos. Neste contexto é que se sente o perigo, ao desrespeitar os limites

do pensamento, onde o imaginário já está balizado dentro de uma ordem

psíquica, enquanto a visão no campo material se apresenta com três dimensões.

A quarta dimensão, espaço-tempo, foi viabilizada com à teoria de Einstein.

A imaginação propõe dividir didaticamente as coisas, isto é, aquilo que

vem do pensamento, do sentir, e o que se apresenta em três (quatro ou cinco)

dimensões.

Para exemplificar, apresento dois triangulos equiláteros com os vértices

opostos e definidos. O de vértice para baixo representa Sentir; enquanto o de

vértice para cima representa Ter. Portanto, Sentir e Ter são palavras que se

identificam com estas formas de expressões, por falta de outras palavras que as

explicitam com mais rigor. Sentir (lat. sentire) significa: perceber por meios dos

sentidos; sensação; pressentir; pressagiar; conhecer por certos indicios;

reconhecer; verificar; conjecturar; opinião, etc.. Ter (lat. Tenere) significa:

possuir; manter; conservar; ocupar; alcançar; obter; receber; adquirir; conquistar;

atrair; exercer; dever; precisar, etc.

Page 81: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

81

Ser (lat. sedere) significa: o que existe ou supomos existir; ente; homem;

indivíduo; pessoa; criatura; excede o parecer; posição de uma coisa ou de

qualidade em si mesma.

Como é notório, o Sentir está num campo não visível, portanto, no

psíquico (Espiritual), enquanto que o Ter representa o campo material e

existencial.

RAZÃO - Faculdade que tem

o ser humano de avaliar, julgar,

ponderar ideias universais,

raciocínio, juízo, estabelecer

relações lógicas, inteligência.

DESEJO - Ato ou efeito de

desejar, anseio, aspiração,

cobiça, ambição.

VONTADE ou VOLIÇÃO -

Faculdade de representar

mentalmente um ato que

pode ou não ser praticado em

obediência a um impulso, ou

a motivos ditados pela razão.

DESENVOLVIMENTO -

Reconhecimento de efeitos

gerados pela matéria e ação.

AÇÃO - Procedimento com

experiência; manifestação de

força energética; resultado

ou efeito de um processo.

MATERIA - Qualquer

substância sólida, líquida

ou gasosa, com densidade,

que ocupa lugar no Espaço.

Ter

Sentir

Page 82: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

82

Para Ser é necessário a união dos dois, Sentir e Ter. Para melhor entendimento, o

Ser ideal deve possuir harmonia e equilíbrio com um único “baricentro”. Pode-se

observar o hexágono interno e comum a ambos os triângulos, as áreas são exatamente

iguais às somas das áreas das partes não sobrepostas e congruentes (em perfeito

equilíbrio).

BARICENTRO

RAZÃO AÇÃO

A

VONTADE

B F OU

VOLIÇÃO

DESENVOLVIMENTO

C E

DESEJO D MATERIA

Quando um homem vê um objeto, a luz projetada do objeto penetra no órgão

apropriado à visão. Veem-se três dimensões. Todos reconhecem pela praticidade

objetiva. O ponto principal em destaque: quem está vendo tem em si outras dimensões,

ligadas à inteligência, ou a capacidade mnemônica de deduções. O objeto existe pelo

fator preponderante de olhar e definir os seus detalhes (arestas, planos e incidência da

luz), que o caracteriza fisicamente.

Neste aspecto, um poliedro representado por um “dado”, possui de um a seis

pontos marcados em cada face. Se jogarmos aleatoriamente e, ao cair o ponto um, por

dedução sabe-se que os seis pontos estão na face oposta, assim como 2 e 5; 3 e 4. Sabe-

se que existem e faz parte do todo, o dado. Há três dimensões da estrutura euclidiana,

chamada plana, porém há outros, que não se manifestam na visão objetiva, porém, são

dedutíveis pela inteligência.

Considerem no cérebro outros três eixos cartesianos (∇), circunscritos pela

Razão, Desejo e Vontade ou Volição. São abrangentes às todas as referências nas quais

não temos a mínima possibilidade de uma visão material (∆); por isso, está aquém e não

além da materialização. Da mesma forma, quando se utiliza o tempo sabe-se tratar de

algo não material (∇), mesmo que se utilize como fator de definições de outras

grandezas (v = e/t – velocidade é igual ao espaço dividido pelo tempo) matemáticas.

Mas, não ficam somente por aí, temos outras fórmulas como as equações matemáticas,

onde devem ser trabalhadas para se encontrar as incógnitas. Existe toda uma dinâmica

empregada para chegar à solução final e, nos parece não expressar ainda concretude,

que só aparecem depois de elaboradas adequadamente as equações. Neste caso, as

incógnitas não teriam igual ao tempo, também atribuições às outras grandezas e valores

reais?

O Ter é composto de Matéria, Ação e Desenvolvimento. Assim como o Sentir é

composto de Razão, Desejo e Vontade ou Volição. Independente da ordem, podemos

dizer que a união de Matéria e Ação resulta em uma terceira, o Desenvolvimento; assim

como, a união Razão, Desejo resulta em Vontade ou Volição.

Como podemos observar, os campos são independentes e interagem com

simultaneidade, com aparente consideração entre si. As faces encontradas de percepções

Ser

Page 83: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

83

e visão são as bases dos triângulos ∆A + ∆B + ∆C + ∆D + ∆E + ∆F, coincidentes nas

faces do hexágono perfeito interno (Ser).

∆A= Razão + Ação + Desenvolvimento

∆B = Desenvolvimento + Razão + Desejo

∆C = Desejo + Desenvolvimento + Matéria

∆D = Matéria + Desejo + Vontade ou Volição

∆E = Vontade ou Volição + Matéria + Ação

∆F = Ação + Vontade ou Volição + Razão

Desta maneira possibilita quantificar 6 (seis) dimensões. As faces se completam

com duas definições materiais e uma definição do pensamento ou psíquica, ou duas

definições do pensamento ou psíquicas com uma definição estritamente material. Assim

há concretude no Ser com reconhecimentos às dimensões da matéria. Portanto, a

composição em si contempla as necessidades:

∆A= Faculdade que tem o ser humano de avaliar; julgar; ponderar ideias universais;

raciocínio; juízo; estabelecer relações lógicas; inteligência + procedimento com

experiência; manifestação de força energética; resultado ou efeito de um

processo + reconhecimento de efeitos gerados pela matéria e ação.

∆B = Reconhecimento de efeitos gerados pela matéria e ação + faculdade que tem o ser

avaliar; julgar; ponderar ideias universais; raciocínio; juízo; estabelecer relações

lógicas; inteligência + ato ou efeito de desejar; anseio; aspiração; cobiça;

ambição.

∆C = Ato ou efeito de desejar; anseio; aspiração; cobiça; ambição + reconhecimento

de efeitos gerados pela matéria e ação + qualquer substância sólida; líquida ou

gasosa; que ocupa lugar no Espaço (com densidade).

∆D = Qualquer substância sólida; líquida ou gasosa; que ocupa lugar no Espaço (com

densidade) + ato ou efeito de desejar; anseio; aspiração; cobiça; ambição +

faculdade de representar mentalmente um ato que pode ou não ser praticado em

obediência a um impulso; ou a motivos ditados pela razão.

∆E = Faculdade de representar mentalmente um ato que pode ou não ser praticada em

obediência a um impulso, ou a motivos ditados pela razão + qualquer substância

sólida; líquida ou gasosa; que ocupa lugar no Espaço (com densidade) +

procedimento com experiência; manifestação de força energética; resultado ou

efeito de um processo.

∆F = Procedimento com experiência; manifestação de força energética; resultado ou

efeito de um processo + faculdade de representar mentalmente um ato que pode

ou não ser praticado em obediência a um impulso, ou a motivos ditados pela

razão + faculdade que tem o ser avaliar; julgar; ponderar ideias universais;

raciocínio; juízo; estabelecer relações lógicas; inteligência.

Page 84: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

84

6 FICÇÃO E CIÊNCIA

O título traz em si a ideia de união. Entretanto, há no mínimo as noções básicas

de ciência até como limites. Com toda a grandiosidade do Universo, infelizmente, não

passamos de insignificantes pontinhos, sem as mínimas chances de qualquer ato de

grandeza, mesmo considerando a pretensa inteligência humana.

Platão ao escrever o diálogo A República, onde conta a parábola “A Alegoria da

Caverna”, fez na verdade uma crítica ao povo de Atenas, justamente em defesa da

honra de Sócrates, que havia sido condenado e morto por envenenamento. Há, portanto,

uma interpretação dada ao texto, mas, será que alguém tem dúvida sobre a verdade desta

alegoria, que não envelhece diante da crítica aplicada a espécie humana.

Quem realmente vive na caverna às avessas, somos todos nós. Sim! Aqui vivem

poderosos e submissos, intelectuais e ignorantes, ricos e pobres, dominadores e

dominados, homens de todas as categorias comportamentais. As sociedades que

constituem o nosso mundo, durante mais de 4500 anos fez muito pouco progresso. Para

acontecer um evento de magnitude, a praticidade nos mostra uma excessiva lentidão.

Tudo é moroso, confuso na execução e, nunca acontece na velocidade e dentro da honra

que se espera. Embora este assunto seja muito sério, dou aqui a minha opinião

despretensiosa, pois, caminhamos juntos, inevitavelmente de mãos dadas sem

deslumbrar um final feliz, impotentes diante da grandeza do Universo e, analiticamente

insignificantes. Os anos vividos pelos “humanos” estão aumentando ou diminuindo?

Tudo indica aumento em proporção ao progresso científico. Neste aspecto, podemos

usar as informações mais antigas existentes, como por exemplo: Gênesis da Bíblia, onde

nos mostra as idades de grandes personagens, tais como, Noé que viveu 950 anos;

Abraão viveu 175 anos; Ismael viveu 137 anos; Isaque viveu 180 anos; Jacó viveu 130

anos; José (do Egito) viveu 110 anos e Moisés 120 anos. Os anos vividos por estes

personalidades demonstram diminuições, à medida que se aproximam de nossa geração.

As informações que recebem as crianças hoje são infinitamente maiores que as

de nossas infâncias. Numa simples observação vemos que, o amadurecimento “cedo”

talvez se faça necessário, na mesma proporção em que decaem os anos de vida. Tudo

indica crescimentos acentuados das práticas subjetivas, quando se pensam menos e,

traçam metas para produzir mais. São práticas rentáveis de anseios às soluções

imediáticas, com propostas de aparências factíveis.

As evidências mostram que, nos dias atuais não há a mínima condição de se

pegar um foguete e partir para uma galáxia distante, fugir deste futuro incerto. Mas,

mesmo que fosse tecnicamente possível, ainda nos não salvaria como espécie, pois, não

temos a mínima possibilidade de avaliar com precisão necessária as outras galáxias,

cuja função é manter-se estritamente dentro das características para a qual se formaram

no espaço sideral. Não devemos esquecer ainda, o necessário para manter a vida numa

suposta nova morada, mesmo que se considerassem os seres vivos exímios mutantes

(pós-darwinismo).

Quantas responsabilidades eventuais se exigem dos Astrônomos! Principalmente

ao diversificar a Astronomia em: Astrofísica, Cosmologia, Astrobiologia, Planetologia e

outras modalidades. Num passado não tão remoto poucos sabiam e, agiam como

crianças quando estão aprendendo a andar. Havia quedas, levantavam-se para tornar a

cair, mas sempre escorados por aqueles que chegavam depois, os mais jovens com

novas “tendências” nas observações, pesquisas e deduções. A divulgação ao público era

difícil e restrita, até que, finalmente, conseguiu-se à façanha:- O homem está de pé!

Page 85: FICÇÃO E CIÊNCIAstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/4336117.pdf · Provavelmente esquecemos o que isso significa. ... o seu misticismo acentuado, deu-lhe feição espiritual.

85

Agora é só administrar com seu ideal e seguir o caminho. As ferramentas

tecnológicas se multiplicaram, os telescópios fotografam numa só vez milhares de

estrelas. A cibernética com auxilio de circuitos eletrônicos produzem imagens com

nitidez, dando subsídio para medição de distâncias, temperaturas, composições

atmosféricas e, avalia as matérias constituintes nas formações dos Planetas. Nossos

telescópios modernos detectam raios-x, ondas de radio, luz infravermelha, micro-ondas

e outras luzes invisíveis.

Quem sabe haverá num futuro próximo, talvez outro brinquedo de crianças a

que venha ajudar, e favoreça obter uma base sólida nas comprovações científicas.

Afinal, não vivemos até aqui por nada, alguma coisa boa há de surgir do nosso DNA,

seguindo os mesmos princípios de reciclagem, que imagino existir no Universo. A

ficção também é uma forma de pensar um modelo, embora sem comprovação

permaneça no campo das possibilidades. Com o desenrolar do “novelo”, aquelas ideias

superficiais, com enredo meio forçado para um resultado esperado, deixam de serem

ficções, passam comprovadamente a fazer partes dos meios científicos. A partir destes

instantes, não são mais consideradas meras e insignificantes fantasias ilusionísticas, pois

a comprovações através de medições e controles transformam-nas em ciência.

Há por mera abstração, que tudo inicia no pensamento. Depois gradativamente

vão se reunindo, razão, desejo, vontade ou volição para a concretude, com a associação

da matéria, ação e desenvolvimento. Embora tudo pareça mais uma forma de lidar com

o imaginário. Dou-me por contente se despertei alguns sentimentos bons, que no

mínimo excitou a curiosidade de alguém. Encorajo ao leitor na luta pela vida sem

qualquer pessimismo, respeitando as diferenças socioeconômicas, religiões e etnias,

mesmo que, nossa viagem dentro desta “caverna às avessas” indique um destino

aparentemente nada promissor. Mesmo assim, deve-se perseverar no desenvolvimento e

progresso, que envolvem os seres vivos. O que hoje nos parecem fantasiosos, amanhã

poderão muito bem ser realidades. Neste aspecto incluo até mesmo os ÓVNIs. Quem

poderá nos garantir que, não existam seres que já dominam estas viagens e navegam

como um dia navegou Colombo até às Américas?

Finalmente, temos a teoria do Professor Doutor Albert Einstein, embora até

agora, não tenha revolucionado o modo de viver da humanidade (não foi criada para

isso), como fez a obra de Faraday. Não impôs mudanças como as obras de Pasteur,

Lister, Hertz, Roentgen, Langley e Darwin. O futuro aguarda pela “Teoria da

Relatividade”. As geodésicas não hão de intervir em nossas vidas, estamos vivos

acreditando ou não nelas, embora, se sairmos da nossa caverna, Órion, haverá uma

grande necessidade em utilizá-las. Só o futuro poderá nos dizer o quanto! Também não

podemos ser tão simplórios, aos Astrônomos, Físicos e Matemáticos as geodésicas

devem ter capital importância. Em suma, há sim, um elemento para se entender o

Universo e o que nele existe, o átomo. O que nos faz comum a tudo, é o átomo e sua

divisão. Este sim! Indica o verdadeiro domínio com possibilidades de mudanças

radicais. Ainda proporciona a conservação da Natureza e, de quebra, a perpetuação das

espécies. Ele faz parte de toda matéria que existe no Universo. É ainda, compõe os

nossos alimentos, o ar que respiramos e o líquido que bebemos. O átomo será o que

proporcionará oportunidades de imigração aos que virão, quando não mais houver

condições atmosféricas no planeta que habitamos, cujo nome, Gaia em grego, tornou-se

especialmente escolhido pelos romanos em latim: Terra.

FIM