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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICA PEDAGÓGICA

Título: A EVASÃO ESCOLAR NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO: BUSCANDO

ALTERNATIVAS.

Autor NEREIDE SIMONELLI MENDES

Escola de Atuação COLÉGIO ESTADUAL OLAVO BILAC.

Município da escola PEABIRU

Núcleo Regional de Educação CAMPO MOURÃO

Orientador Ms. ANALÉIA DOMINGUES

Instituição de Ensino Superior UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – Campus

FECILCAM

Disciplina/Área (entrada no PDE) PEDAGOGIA

Produção Didático-pedagógica CADERNO TEMÁTICO

Público Alvo PROFESSORES, ALUNOS E PAIS (Pesquisa de Campo)

GRUPO DE ESTUDO COM PROFESSORES E PEDAGOGO

Localização

COLÉGIO ESTADUAL OLAVO BILAC. ENSINO

FUNDAMENTAL E MÉDIO

AVENIDA CURITIBA, Nº 255. Peabiru/Pr

Apresentação: “A educação é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em

cada indivíduo, singular, a humanidade que é produzida

historicamente e coletivamente pelo conjunto de homens”

(Saviani 2008, p.13). As Leis vigentes no país asseguram esse

direito ao ensino sistematizado a todos, sendo os responsáveis:

O Estado, Família, Escola e Poder Público. Diante de tais

afirmativas não justifica a evasão escolar nas escolas públicas.

Portanto, esse trabalho tem como objetivo, levantar as causas

que contribuem para a evasão através de pesquisa de campo

com pais, alunos, professores, diretores e funcionários. Após os

dados coletados, fazer reflexões com todos os envolvidos,

através de reuniões e grupo de estudo com profissionais que

atuam no período, no sentido de conscientizar a todos da

necessidade de provocar mudanças nessa situação que está

preocupando a todos, traçar metas para fazer enfrentamento ao

problema.”

Palavras-chave Evasão escolar, ensino médio, noturno.

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE/SEED

FECILCAM – FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE

CAMPO MOURÃO

EVASÃO ESCOLAR NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO

DO

PERÍODO NOTURNO: BUSCANDO ALTERNATIVAS

PEABIRU/PR

2010/2011

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NEREIDE SIMONELLI MENDES

EVASÃO ESCOLAR NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO

DO

PERÍODO NOTURNO: BUSCANDO ALTERNATIVAS

Produção Didático Pedagógica apresentado à Coordenação do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, como requisito para o desenvolvimento das atividades propostas para o biênio 2010/2011, em parceria com a FECILCAM. Orientação:Prof.ª MS Analéia Domingues

PEABIRU/PR

2010/2011

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PROFESSOR PDE – PEDAGOGIA - NEREIDE SIMONELLI MENDES

PROFESSOR ORIENTADOR - PROFESSORA MS - ANALÉIA DOMINGUES

IES (INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR) VINCULADAS/PDE - FECILCAM -

FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE

CAMPO MOURÃO

Título:

EVASÃO ESCOLAR NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO DO PERÍODO

NOTURNO: BUSCANDO ALTERNATIVAS

Tema:

EVASÃO ESCOLAR

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Dedicatória

Ao Zezé, esposo companheiro de todos

os momentos;

A toda a família pelo apóio para o

desenvolvimento desse projeto de estudo;

À Ana amiga de todas as horas;

À professora amiga Analéia Domingues,

pela paciência e o apóio sábio na

caminhada do PDE.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 7

RESUMO ................................................................................................................ 8

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

1- A EVASÃO ESCOLAR NO COLÉGIO ESTADUAL OLAVO BILAC NO ENSINO

MÉDIO DO PERÍODO NOTURNO NA PERSPECTIVA DOS PAIS, ALUNOS E

PROFESSORES ............................................................................................... 15

A EDUCAÇÃO DOS ALUNOS OU (FILHOS) DA PÓS MODERNIDADE ......... 25

2- AS RELAÇÕES DA PRÁTICA ESCOLAR COM A FÁBULA: APRENDENDO

ALÉM DOS LOBOS DE DAVID HUTCHENS ................................................... 35

3-FILME: A ESCOLA DA VIDA ............................................................................. 47

EVASÃO ESCOLAR: NÃO BASTA COMUNICAR E AS MÃOS LAVAR .......... 49

EVASÃO ESCOLAR ......................................................................................... 55

A ESCOLA NOTURNA DE ENSINO MÉDIO NO BRASIL ................................ 63

EVASÃO ESCOLAR DO NOTURNO ................................................................ 76

4- FILME: ESCRITORES DA LIBERDADE ........................................................... 81

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 83

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Autor : Lourival Santos

Onde estão os alunos? Quais os motivos da não permanência?

APRESENTAÇÃO

Este caderno temático tem como propósito, possibilitar a discussão de um

problema que ainda é muito sério no contexto nacional – a evasão escolar. Nele

podem ser encontrados textos de autores que se ocupam dessa problemática ou

que discutem a organização da sociedade na era do Capital e suas contradições, ou

ainda textos e filmes que refletem sobre a organização da escola e a postura dos

professores. É um material rico para analisar a evasão escolar principalmente no

ensino noturno, no contexto social mais amplo, entendendo-a como fruto da própria

organização do capital que relega a segundo plano os filhos dos trabalhadores e

suas dificuldades de escolarização.

Apenas tomar consciência dessa realidade, não é suficiente para a mudança,

mas é o primeiro passo. Assumir que a escola enquanto instituição social também

pode contribuir para que esse quadro se agrave ainda mais e rever a postura e as

práticas escolares existentes principalmente no ensino noturno, onde estão a

maioria dos alunos trabalhadores é imprescindível para que a educação cumpra com

o seu papel que é através da socialização do conhecimento produzido

historicamente pelos homens possibilitar a formação humana.

Analéia Domingues Professora da Universidade Estadual do Paraná, Campus de Campo Mourão

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A EVASÃO ESCOLAR NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO DO PERÍODO

NOTURNO: BUSCANDO ALTERNATIVAS

Resumo

Este trabalho tem como objetivo investigar quais os fatores que contribuem para a evasão escolar na primeira série do Ensino Médio do período noturno do Colégio Estadual Olavo Bilac de Peabiru/PR. Busca também identificar as causas que dizem respeito à atuação da escola, para posteriormente intervir nessa realidade. Para realizar este trabalho faremos uma pesquisa de campo com a comunidade escolar, envolvendo pais, alunos, professores, pedagogos, direção e funcionários que atuam no referido período. Após o levantamento de dados, será feito um grupo de estudos com a comunidade escolar através da discussão de textos relacionados ao tema pesquisado para posteriormente intervir na realidade relativa a evasão escolar, propondo ações que contribuam para a diminuição dos índices de evadidos no Ensino Médio Noturno. Palavras-chave: evasão escolar; ensino médio; permanência; escola.

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Reprodução de Lourival dos Santos

Não adianta apontar culpados, Escola e família devem se unir.

Introdução

A Evasão Escolar é um problema muito antigo, que tem acompanhado a

história da Escola Pública brasileira. Embora muitos pesquisadores tenham

debruçado sobre esta questão com maior ênfase a partir da década de 70, ela ainda

carece de solução.

Nesse caderno temático nos deteremos à evasão escolar a partir da década

de 70, já que foi uma época muito rica em pesquisas e estudos realizados por

especialistas interessados em detectar as causas da evasão. Além do mais temos

nesse período a aprovação da Lei 5.692/71, Lei de Diretrizes e Bases da Educação

que vai determinar os rumos da educação brasileira.

Esta lei segundo Saviani, (2006) foi fruto da estratégia do “autoritarismo

triunfante”, pois no momento todos foram convocados a participar da construção do

“projeto nacional” de redenção, de desenvolvimento, de “Pátria Grande”, o então

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chamado projeto de construção do “Brasil Potência”. Estaria, então, em ação a

estratégia do “autoritarismo mobilizador” (governo militar Médici) que instituiu a

escola básica e obrigatória de oito anos para o ensino fundamental, assim como a

abertura para a autonomia das escolas e a ênfase e flexibilidade organizacional do

ensino em nosso país.

Nessa fase também houve uma desmobilização de professores e alunos, o

que fortaleceu a Pedagogia tecnicista então em vigor, com o lema de eficiência e

produtividade, ou seja, a escola deveria ser produtiva, eficiente na formação dos

comportamentos necessários a sociedade em curso. A evasão escolar nessa época

estava avançando, havia um favorecimento ascendente aos mais abastados

economicamente.

Muitas pesquisas foram realizadas nos anos 70 e segundo Patto (1993) a que

ganhou mais destaque foi um artigo publicado na Revista do INEP (Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) sobre a “teoria da carência

cultural”, que afirmou em sua primeira formulação, que a pobreza ambiental nas

classes baixas produz deficiências no desenvolvimento psicológico infantil. Essa

seria a causa das dificuldades de aprendizagem e de adaptação escolar. Esta teoria

ganhou corpo na época porque vinha ao encontro das crenças arraigadas na cultura

brasileira a respeito da incapacidade de pobres, negros e mestiços de conseguir

avançar nos estudos.

Ainda segundo a autora, essa teoria foi importante pois chamou a atenção

para o problema das desigualdades sociais em nosso país. Porém, devido a falta de

consistência teórica na formação dos profissionais da educação, estes não

possuíam os instrumentos teóricos para analisar esta questão mais a fundo e

mostrar que as desigualdades sociais precisam ser superadas e as riquezas

culturais socializadas.

Com o decorrer dos anos, novas pesquisas e estudos surgiram,

demonstrando causas variadas a respeito da evasão escolar apontando como

responsáveis ora a escola ora o aluno. Posteriormente surgiu uma terceira teoria

que afirmou que a escola é inadequada para as crianças carentes, ou seja, uma

escola supostamente adequada às crianças das classes sociais “favorecidas” estaria

falhando ao tentar ensinar, com os mesmos métodos e os mesmos conteúdos,

crianças culturalmente “deficientes” ou “diferentes”.

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Em relação a essa questão, Poppovic, (2008) que mais se destacou nas

pesquisas, chamou de marginalização inconsciente, pois se realizava sem o

conhecimento dos professores. Com esta prática o aluno não conseguia permanecer

nos bancos escolares. Dentre todas as investigações a respeito do fracasso escolar

a maioria delas apontou a inadequação da escola à realidade dos alunos.

Para Saviani (2006) na década de 1980 começou o processo de abertura

política e redemocratização, no final da ditadura militar, a sociedade e o sistema

educacional começaram o processo de organização, luta pelas eleições diretas

mobilizando todos os segmentos da sociedade. Em relação à organização

educacional é uma das mais fecundas da história. Surge a necessidade de construir

teorias que se contrapusessem a pedagogia oficial, que em lugar de servir aos

interesses dominantes se articulassem com os interesses dominados. Começava-se

a tentar descobrir formas de analisar a educação, mantendo presente a necessidade

de criar alternativas e não apenas fazer a crítica do existente.

Nessa época, segundo Bello (2001) também ocorreu à participação mais ativa

de pensadores que, impedidos de atuarem em suas áreas de conhecimento por

questões políticas durante o Regime Militar, passaram a falar de educação num

sentido mais amplo, sem ter conhecimento de escola, de sala de aula, de didática e

de relação professor e estudante. Esses “pensadores” da educação assumiram

também postos na área educativa. Iniciam-se as constituições de associações,

depois transformadas em sindicatos, aglutinando, em âmbito nacional, os

professores dos diferentes níveis de ensino e os especialistas nas diversas

habilitações pedagógicas.

Dentro da escola discutiam-se diversas teorias educacionais delineadas com

a finalidade da melhoria do ensino. Em 1988 a Nova Constituição passa a assegurar

no seu artigo 205, o direito de todas crianças e adolescentes à educação. E afirma

ainda ser esta responsabilidade dividida entre família, escola, comunidade e o poder

público.

“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida

e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento

da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o

trabalho”.(BRASIL, 1988).

Neste mesmo ano foi encaminhado pelo então deputado Octávio Elísio o

Projeto de uma nova LDB que organizasse a educação brasileira. Em 1989, após

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discussões no meio educacional e com sindicatos, o deputado Jorge Hage enviou

um substitutivo da lei, mas não obteve sucesso.

As discussões da necessidade de nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação continuavam na década de 90. Em 1992 o Senador e antropólogo Darci

Ribeiro encaminhou o projeto de Lei inspirado e defendido por ele, o qual foi

aprovado em 20 de dezembro de 1996 com o Nº 9394/96.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional trouxe muitos avanços no

sistema educacional brasileiro e na legislação educacional. Dentre eles podemos

citar a obrigatoriedade da gratuidade do ensino fundamental e médio a ser oferecido

pelos estados e municípios. Manifesta como oferta de condições de escolarização,

de acesso à escola e permanência, nos três níveis fundamental, médio e superior. A

prática docente e a formação dos professores foram repensadas.

A partir de sua publicação estabeleceu-se um prazo de 10 anos para que todo

o professor da educação Básica obtivesse titulação superior, meta ainda não

atingida. A lei também introduziu um sistema de Avaliação do ensino, como Prova

Brasil, SAEB, ENEM, IDEB. O ensino fundamental foi municipalizado, em

cumprimento ao que a LDB define “os municípios deverão oferecer a educação

infantil em creches e pré-escolas e, com prioridade o ensino fundamental” os

Estados encarregar-se-ão de “assegurar o ensino fundamental e oferecer, com

prioridade, o ensino médio”.

No Paraná a partir de 2003 começaram estudos com os responsáveis pelo

ensino no estado, os professores e governo, e após várias discussões nos núcleos,

nas escolas de todo o estado e acertos, foi implantado as Diretrizes Curriculares do

Estado do Paraná, construída pela coletividade, sustentada na Teoria Histórico-

Critica formulada por Saviani. Segundo as Diretrizes a função da escola é possibilitar

a emancipação humana e a transformação social através da transmissão de saberes

historicamente sistematizados pela humanidade, presente nos conteúdos escolares,

oferecendo ao aluno condições para que ele argumente, investigue, questione,

critique, reivindique, participe, sendo sujeito ativo, contribuindo para a transformação

social.

Segundo as Diretrizes (2009) a escola é o lugar onde o conhecimento é

socializado sistematizadamente e sequencialmente por meio de um método de

ensino que “ofereça ao estudante a formação necessária para o enfrentamento com

vistas a transformação da realidade social, econômica e política de seu tempo”.

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Embora, a LDB tenha trazido avanços em termos de educação, o problema

do abandono escolar continua latente. Dados recentes do INEP (Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) afirmam que: dos 84% dos

jovens de 15 a 17 anos matriculados na escola, apenas 48% estão no ensino médio

e, dos 10 milhões de jovens que existem no Brasil, cerca de 10% não estão nem na

escola e nem no mercado de trabalho.

No Colégio Olavo Bilac no município de Peabiru/Pr, a evasão escolar é um

problema visível. Esse colégio funciona nos três turnos, atendendo 1300 alunos,

vindos de famílias de baixa renda, na maioria assalariadas, muitos vindos da zona

rural e também de um assentamento existente no município. Dos três turnos o mais

complicado é o noturno por causa da evasão escolar. Todos os anos, muitos jovens

procuram a escola no início do ano, mas não conseguem permanecer o ano todo.

Levantamos os dados dos últimos cinco anos para verificarmos a real

situação do colégio em relação à evasão e constatamos que: em 2006 foi de 4,1% ;

em 2007 foi de 26,5% ; em 2008 foi de 46,4%; em 2009 foi de 38,4% e em 2010 foi

de 45,8%. Também fizemos pesquisa de campo, aplicamos questionário aos alunos,

pais e professores. Analisando as respostas dadas pelos alunos, constatamos que a

maioria deles desistiu das aulas por não conseguirem conciliar trabalho e escola.

Quanto ao curso noturno, onde a evasão tem sido mais grave, pesquisas

mais recentes como a de Meksenas (1998) afirmam que os alunos do noturno

desistem porque são trabalhadores, arrimo de família e chegam à escola exaustos

da maratona de oito horas de trabalho, e, desmotivados pela baixa qualidade de

ensino, muitos adolescentes desistem dos estudos sem completar o curso

secundário. Segundo o autor essa realidade dos alunos das camadas populares

difere dos alunos da classe dominante porque, com base nas pesquisas realizadas

em escolas da França pelos críticos-reprodutivistas Establet e Baudelot que

elaboraram a Teoria da Escola Dualista, enquanto os filhos da classe dominante têm

o tempo para estudar e dedicar-se a outras atividades como danças, música, línguas

estrangeiras, e outras, os filhos da classe dominada mal têm acesso aos cursos

noturnos.

Arroyo (1991) também afirma que é a escola da classe trabalhadora que está

fracassando em todo lugar. Não são as diferenças de clima e nem de região que

marcam as grandes diferenças entre a escola possível ou impossível, mas as

diferenças de classe. Para Frigotto (2010) o que se observa concretamente é que a

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classe burguesa não se contrapõe ao acesso á escola. Pois a universalização do

acesso da classe trabalhadora legitima a aparente democratização. O que

efetivamente se nega são as condições objetivas, materiais, que facultem uma

escola de qualidade e o controle da organização da escola. “O que as pesquisas

demonstram é que, ao contrário do que se poderia desejar, a escola pública

freqüentada pelos filhos das classes trabalhadoras, desde seus aspectos físicos e

materiais, até as condições de trabalho do corpo docente, é amplamente precária”.

(2010, p.188).

Mészáros (2008, p.13) afirma: “Educar não é a mera transferência de

conhecimentos, mas sim conscientização e testemunho de vida. È construir, libertar

o ser humano das cadeias do determinismo neoliberal, reconhecendo que a história

é um campo aberto de possibilidades.

De acordo com os autores citados acima, a respeito das causas da não

permanência do aluno na escola fica evidente que o tempo passou, houve muitas

mudanças na sociedade, na família, novas leis educacionais foram criadas, a

tecnologia chegou à escola, os professores são melhores graduados, mas o

problema da evasão escolar ainda persiste.

O que fazer diante dessa realidade? O que cabe a instituição escolar? Ela

pode desenvolver ações no sentido de superar esse problema? Essas são algumas

questões que precisam ser respondidas. Para tanto, faz-se necessário que toda a

comunidade escolar debruce sobre esta problemática, a fim de compreendê-la em

suas raízes e vislumbrar possíveis soluções para ela.

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1- A evasão escolar no Colégio Estadual Olavo Bilac no Ensino Médio do

período noturno na perspectiva dos pais, alunos e professores

Para compreender como os pais, os alunos evadidos e os professores

pensam a respeito da evasão escolar, foi elaborado um questionário com várias

perguntas referentes a atuação da escola e motivos do abandono escolar.

1.1 O que dizem os pais

O questionário foi entregue aos pais em suas residências. Foram distribuídos

vinte questionários aos pais dos alunos menores de dezoito anos. Retornaram treze,

sete se recusaram a responder, justificaram que os filhos também não iriam

responder.

Iniciamos a pesquisa perguntando aos pais se na opinião deles o estudo é

importante para a vida futura do filho, 100% responderam afirmativamente.

Na segunda questão perguntamos: Qual a importância da escola para seu

(sua) filho (a)? 53.84% responderam que a escola é importante para que o filho

consiga um futuro melhor; 23.00% responderam que a escola oferece melhor

educação, para que o filho viva com mais respeito e dignidade; 15.38% disseram

que na escola os filhos adquirem conhecimentos e 7.71% foram respostas variadas

com menor relevância.

Perguntamos aos pais se a escola oferece conhecimentos para o filho que o

ajudarão a ter um futuro profissional e social melhor. 100% responderam que sim.

Na quarta questão perguntamos: Os professores oferecem ao seu filho

conhecimentos e demonstram interesse pelo êxito dele na escola? A essa questão,

46.05% responderam que sim; 23.07% responderam que alguns professores sim,

outros não; 15.38% disseram que não tem conhecimento; 7.81% responderam que

não tem relação com professores e 7.69% disseram que os professores se

preocupam pelo aluno quando este demonstra-se interessado.

Perguntamos aos pais: Quais os comentários que o filho faz em relação à

escola e aos professores? 46.15% responderam nenhum; 23.07% dizem que a

escola é boa; 15.40% responderam que os filhos reclamam de alguns professores;

7.69% dizem que a escola é muito fechada e 7.69% dizem que não gostam da

escola.

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Na questão dos motivos que levaram o filho a desistir da escola, 53.84%

responderam que foi por causa do trabalho; 15.40% por doença; 15.38% devido

gravidez; 7.69% desânimo e 7.69% por probabilidade de reprovar devido as notas

abaixo da média. Perguntamos também se a escola entrou em contato com a família

quando o filho desistiu dos estudos e o incentivou a retornar. 51.54% responderam

que não e 48.46% disseram que sim.

Na oitava questão, questionamos se os pais conversavam com o filho a

respeito da escola e se o incentivavam a estudar. 53.84% disseram que não e

46.16% disseram que sim. Em relação a necessidade de trabalhar para ajudar a

família 69.24% disseram que o filho precisa trabalhar e 30.76% que não.

Também perguntamos a eles, se tem o costume de ir a escola conversar e

saber como está a aprendizagem, presença e o comportamento do filho. 50.38%

responderam que não; 32.24% disseram que às vezes vão e 17.38% disseram que

sim.

Por último, pedimos aos pais que deixasse um comentário a respeito da

escola, professores, pedagogos, funcionários e direção. 30.76% não comentaram;

23.07% disseram que a escola é boa; 23.07% responderam que são gratos à escola;

16.38% responderam que não tem relação com ninguém da escola; 6.72%

responderam que os professores e pedagogos deixam a desejar.

Percebemos nas respostas dos pais, que apesar de não visitarem a escola

para se informar da situação do filho, acreditam que é necessário o estudo e confiam

no trabalho desenvolvido por ela. Ficou claro nas respostas dos pais, que pouco

conversam com os filhos sobre escola, estudo, que não visitam a escola do filho,

não conhecem os professores. Existe, portanto um distanciamento entre a escola e

a família. Também ficou bem transparente nas respostas dos pais, que o trabalho é

a causa da desistência dos estudos, mostrando que este tem sido prioridade.

Quanto aos pais que não responderam o questionário, conseguimos

conversar com dona Maria mãe de três filhos que não conseguiram permanecer na

escola. O dois meninos, segundo ela, não tinha motivos que justificassem a evasão

por dois anos seguidos. A filha engravidou logo que ingressou no ensino médio,

abandonou os estudos e ainda não conseguiu retornar. Ela comentou que gostaria

muito que os filhos voltassem a estudar, mas confessou que não consegue fazer

com que eles estudem, apenas um de seus quatro filhos conseguiu concluir o ensino

médio. A mãe disse que não estudou porque não teve oportunidade, e que está

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com vontade de estudar. Também acredita que o estudo é o caminho para se

conseguir uma vida melhor, mais digna.

Conversamos também com dona Rosa, mãe de dois adolescentes evadidos

em 2010 que não retornaram em 2011. Ela nos confidenciou que a filha se evadiu

três anos seguidos do ensino médio, agora precisam trabalhar porque engravidou e

precisa sustentar o filho.

Dona Sandra, que também tem um filho evadido, disse que por necessidade

o filho precisou trabalhar e que agora ela não tem mais a autoridade de obrigá-lo a

estudar, já que o trabalho é prioridade.

1.2 O que dizem os alunos evadidos

Realizamos o trabalho na sala de aula, conversando com os alunos a

respeito do trabalho a ser realizado, conscientizando-os da real situação de evasão

no Colégio, principalmente na primeira série do ensino noturno. Demonstramos que

tal situação preocupa muito a comunidade escolar. Para os alunos que retornaram à

escola, distribuímos os questionários, deixando que respondessem em suas casas

com bastante tranqüilidade. O aluno de menor idade também levou para os pais

responderem. Deixamos na secretaria do colégio uma caixa para que o documento

ficasse guardado. No momento da entrega do questionário, todos foram orientados a

fazer a entrega na secretaria. Após uma semana, voltamos para buscar os

documentos, como muitos ainda não haviam sido entregues, fomos novamente até a

sala e conversamos com os alunos, voltamos outras vezes, mesmo assim vários

deixaram de devolver o documento. Também visitamos o Colégio 14 de dezembro,

encontramos lá dois alunos que estão cursando a EJA. Quanto aos alunos que não

retornaram à escola, conseguimos conversar e entregar o questionário para alguns

alunos e pais em suas residências.

Foram distribuídos ao todo trinta e três (33) questionários, dos quais

retornaram vinte e um. Portanto, houve uma abstenção de 36%.

Iniciamos a investigação perguntando aos alunos a idade e constatamos

que: 42.86% têm mais de vinte anos; 33.33% estão na faixa de dezessete a

dezenove anos (17 a 19) e 23.81% têm de quatorze a dezesseis anos (14 a 16).

Em relação às dificuldades que encontram nos estudos 61% responderam

que tem dificuldade em relação ao horário; 14.20% disseram que nenhuma; 9.52%

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mataram aula; 9.52% se desentenderam com professores e 4.76% disseram que

não conseguem aprender.

Quando questionados a respeito do trabalho, 71% responderam que

trabalham e 29% disseram que não.

Quanto à importância do estudo e do trabalho, o que seria mais relevante:

62% responderam que ambos; 24% responderam o estudo e 14% acham o trabalho

mais importante. Em relação ao relacionamento no ambiente escolar verificamos:

Com os colegas: 47.62 ótimos; 47.62% é bom e 4.76% regular. Com os professores:

43% ótimo; 38% é bom e 19% regular. Com a direção: 28.57% ótimo; 33.34% é bom

e 38.10 % regular. Com pedagogos: 20.80% ótimo; 38.09% é bom e 41.11% regular.

Com funcionários: 20.80% ótimo; 50.50% é bom e 28.70% regular

Perguntamos aos alunos se os conteúdos trabalhados durante o ano letivo

são favoráveis à sua aprendizagem, satisfazendo as suas necessidades, para uma

melhor perspectiva de um futuro profissional e social e 52.38% disseram que sim e

47.62% responderam que não. Perguntado o porquê 19.06% disseram que

aprenderam conteúdos que nunca irão usar; 14.28% responderam que o conteúdo

não acompanha o que precisam na vida; 9.52% disseram que não conseguem

aprender e 4.76% acham que os conteúdos são poucos e fracos no noturno.

Foi questionado também quantas vezes desistiram da escola e por quais

motivos, 38.09% desistiram uma única vez; 38.09% duas vezes e 23.82% disseram

que desistiram mais de duas vezes. Os motivos foram: 42.85% trabalho; 19.04%

gravidez; 14.76% desentendimento com professor; 9.07 % notas baixas; 4.76%

mataram aulas; 4.76% namoro; e 4.76% por doença.

Perguntamos se os pais concordaram ou não com sua desistência da escola

76.20% responderam que não e 23.80% responderam sim.

Quanto ao retorno à escola, 50.61% responderam que foi por sentir

necessidade de conseguir um trabalho melhor; 22.32% por incentivo da família;

19.04% responderam que o conhecimento e valores adquiridos na escola são

importantes na vida pessoal e social e 8.03% não retornaram à escola.

Perguntamos qual a importância da escola na vida das pessoas, e 77.32%

disseram que para se obter uma vida melhor e um trabalho bom o estudo é

essencial; 22.68% responderam que a escola é de extrema importância na formação

dos cidadãos, pois ela oferece conhecimentos científicos, morais e éticos.

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Na última questão, perguntamos o que foi mais importante aprender na

escola, 52.38% disseram que os conteúdos básicos necessários para a vida;

33.32% responderam que aprendem a se relacionar com as pessoas, não só com

professores, mas com direção, pedagogos, funcionários e colegas; 14.30%

responderam que adquirem educação e respeito pelas pessoas.

Apesar das recusas em responder os questionários por motivos variados.

Constatamos com essa pesquisa que, de fato, a maioria dos alunos do noturno são

trabalhadores e tem dificuldades em cumprir e chegar no horário, embora achem

que tanto o trabalho como o estudo são importantes e necessários para um futuro

melhor.

Demonstraram em suas respostas que têm boa convivência com todos na

escola, sendo mais estreito com professores e colegas. A maioria também confia

nos ensinamentos da escola, mas uma grande porcentagem assegura que muitos

conteúdos não são utilizados no dia a dia.

Também ficou claro que apesar de terem desistido, uma, duas e mais vezes,

muitas das desistências sem o consentimento dos pais, sentiram falta da escola

para conseguirem uma melhoria de vida. Acreditam que é através dela que podem

modificar a sua situação social e econômica e que os pais mesmo não tendo a

autoridade de fazer com que eles estudassem, os aconselharam a permanecer na

escola.

1.3 O que dizem os professores e os funcionários

Foram entregues vinte quatro (24) questionários com três questões para

professores, pedagogos, direção e funcionários que trabalham no período noturno.

Foram devolvidos dezenove (19).

A primeira questão informava que fora feito levantamento de dados na

secretaria do colégio a respeito da evasão escolar no período noturno, constatando

que os índices de evasão vêm se acentuando a cada ano não só no colégio, mas

em todo o Brasil há várias décadas. Muitas pesquisas e estudos foram realizados

por Instituições conceituadas e por estudiosos, chegando a diversas conclusões. A

questão feita foi a seguinte: Na sua visão de educador, convivendo com jovens e

adolescentes, enumere as colocações abaixo de 1 a 5 de acordo com seu grau de

relevância os motivos pelos quais a seu ver, muitos não conseguem permanecer na

sala de aula.

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De acordo com as respostas dos professores e demais funcionários, a

organização da questão ficou da seguinte forma: Retornaram 19 documentos, mas

um entre os entrevistados deixou de responder esta questão, portanto, a análise foi

realizada com 18 questionários.

A porcentagem foi efetuada individualmente em cada item.

(1) 56% acham que os alunos não se interessam pela aprendizagem,

apresentam indisciplina, dificultando a prática do professor;

(2) 44% afirmam que a família não está em sintonia com a escola e não

acompanha a aprendizagem do filho;

(3) 33.3% concluem que a escola não é interessante, devido aos avanços

tecnológicos que a escola não disponibiliza aos alunos.

(4) 44% acham que falta sintonia entre o professor e o aluno este último,

pouco aprende, o professor acha que sua prática está certa e não admite mudanças;

(5) 39% Afirmam que os professores não são preparados para entender e

trabalhar com alunos trabalhadores e de classe baixa.

A segunda questão afirmava que a evasão escolar tem acompanhado a

história do ensino público no Brasil. Dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) afirmam que: dos 84% dos jovens de 15 a

17 anos matriculados na escola, apenas 48% estão no ensino médio e, dos 10

milhões de jovens que existem no Brasil, cerca de 13% não estão na escola e nem

no mercado de trabalho.Tais índices recaem sempre maciçamente sobre as pessoas

provenientes dos segmentos mais empobrecidos da população. Quanto a escola

estudos afirmam que ela reproduz os conceitos da sociedade capitalista vigente e,

que os professores não são preparados para trabalhar com alunos vindo de classe

econômica baixa, pois não entendem as condições e situações vivenciadas por eles,

devido sua vivência num mundo mais privilegiados. Diante desta visão, a expectativa

dos professores referentes a esses alunos em relação aos estudos é muito baixa.

Em resposta a esta visão, os alunos acabam abandonando a escola, com sensação

de fracasso, baixa estima e rebeldia. Como educador emita seu parecer a respeito

das referidas afirmativas.

Em resposta ao questionamento e afirmativas acima 28.58% acham que as

famílias não dão suporte e não acompanham seus filhos; Falta estrutura familiar e

compromisso; 23.81% devido ao fato de os alunos serem trabalhadores e também

arrimo de família, não conseguem conciliar estudo e trabalho, quando vem, chegam

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cansados, sem ânimo para estudar. O professor precisa entender mais esse aluno

que chega cansado e desmotivado; 19.05% acham que há sim distância entre o

aluno e alguns professores que muitas vezes acabam relacionando-o com alunos do

diurno que só estudam; também os alunos não valorizam o estudo porque lhes falta

perspectiva de vida melhor; 14.28% afirmam que os conteúdos desse período

também devem ser revistos, não vem de encontro às necessidades do aluno; O

aluno quando tem de escolher entre o estudo e o trabalho, sempre faz opção pelo

trabalho; Também tem os dependentes químicos que não conseguem se comportar,

e outros que não conseguem conviver com eles, e acabam evadindo-se; Os pais

que não aprenderam o valor da escola, não conseguem transmitir entusiasmo e

interesse aos seus filhos em relação ao estudo, independente de classe social;

Tornar as aulas mais atrativas e interessantes, mais incentivo ao aluno, através de

diálogo na sala de aula, deixando claro que o estudo e o trabalho devem caminhar

juntos; 9.52% concordam com a afirmativa em questão. A escola de fato reproduz a

educação alienadora e pouco transformadora da realidade em que vivem a maioria

de nossos alunos. Ela está em consonância com a exigência da sociedade

capitalista; A maioria dos alunos que se evadem é da classe baixa, mas há também

evasão na classe média; A sociedade está doente e é a culpada de colocar o jovem

em desvantagem e para muitos ela se torna ideal, pois vêem pessoas conseguindo

bens ilicitamente os quais lhes servem de exemplos; 4.76% afirmam que o período

noturno tem mais opção de lazer, festas, feira e rodinhas de amigos por isso há mais

evasão; A escola é vista como depósito de conhecimento e não de transformação;

Muitos alunos chegam ao ensino médio, quase analfabetos funcionais; A escola

tornou-se depósito de pessoas que tem várias funções, menos a de ensinar; Ainda é

na escola que muitos adolescentes encontram conforto emocional, na convivência

com professores; A afirmativa em questão não é verdadeira, a escola faz o possível

para que os alunos não se evadam; Valorização do professor tanto por parte da

conjuntura educacional quanto a incentivo pessoal; Vivemos numa sociedade

capitalista, com experiências socialistas (ensino e saúde pública gratuita, bolsa

família, vale gás, luz fraterna etc.). Por isso o comodismo tem tomado conta das

pessoas; O professor está sim tendo dificuldade em ensinar, não porque os alunos

são pobres, mas sim desinteressados, acomodados, despreocupados com o estudo,

como conseqüência o professor sente-se fracassado, com baixa estima e às vezes

até revolta.

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A terceira e última diz respeito à evasão do Colégio Olavo que tem se

acentuado de forma muito significativa, no período noturno, conforme levantamento

de dados realizado na secretaria da escola, no período de 2006 a 2010. Segundo

estudos realizados nessa área, à evasão somam-se várias causas que são internas

ao ambiente escolar e outras que são externas, as quais ultrapassam os muros da

escola. Sem apontarmos culpados, sentimos que é chegado o momento de nos

conscientizarmos da real situação e, através de esforços conjunto de todos os

responsáveis pela aprendizagem sistematizada, obrigação da escola (professores,

pais, equipe pedagógica, direção e alunos) fazer o que cabe a ela, traçando

caminhos para que nos próximos anos tal situação se amenize. Foi então solicitado

aos professores e funcionários participantes que colocassem abaixo, em sua opinião

no mínimo três (3) atitudes a serem tomadas para provocarmos mudanças dentro do

colégio. A análise foi realizada de forma individual em dezenove (19) documentos.

De acordo com as sugestões dos professores constamos que: 57.90%

sugeriram relação mais afetiva entre professor e aluno, fazendo com que eles

tenham mais confiança e se motivem a estudar e que o professor seja de fato o

orientador não só de conteúdo, mas de vida, sem perder a autoridade de professor;

31.57% acham que é preciso maior interação entre professor e aluno e entre teoria e

prática; se faz necessário também, fazer trabalho em conjunto com a família, através

de reuniões, conscientizar os pais da importância do estudo para seus filhos;

21.05% afirmaram que o período noturno é a válvula de escape para resolver

problemas apresentados no diurno; 15.78% apontaram a importância de se ter uma

capacitação específica para o professor trabalhar com alunos do noturno para

atender as suas necessidades; 10.52% afirmaram que faltam palestras específicas

com profissionais capacitados para conscientizar os alunos da importância do

estudo; Teatro, danças, incentivo à leitura; 5.26% disseram que é preciso cobrar não

só a presença do aluno, mas também exigir rendimento escolar dos bolsistas e ter

maior tolerância quanto às avaliações, tendo em vista o pouco tempo que muitos

alunos têm para se dedicarem ao estudo.

Após a entrega do material, sentimos dificuldades em recebê-lo de volta,

mesmo assim cinco profissionais do referido turno deixaram de entregar o

documento, que a nosso ver é importante por se tratar de um problema muito sério

do período. Somos cientes que a culpa da evasão não é só relegada à escola, mas

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sim da estrutura da sociedade vigente. Também não podemos ficar calados diante

do fato, que está a cada ano se agravando.

Na primeira questão, verificamos que a maioria dos entrevistados acha que

a evasão dos jovens e dos adolescentes acontece porque não estão interessados na

aprendizagem e, que a indisciplina prejudica a prática pedagógica do professor. A

família também não está em sintonia com a escola e o estudo do filho, ela aparece

como a segunda maior culpada da evasão (de acordo com as respostas dos pais

entrevistados, de fato, eles não têm o hábito de visitar a escola, se não forem

chamados, mas não culpam a escola pela evasão do filho, só apontam motivos

pelos quais o filho não consegue permanecer), ela (família) está deixando de dar

suporte necessário aos filhos. Quanto ao desinteresse do aluno pela aprendizagem

(os alunos entrevistados, apesar das desistências, demonstraram que a escola e o

conhecimento são essenciais para melhorar as condições de vida).

Em relação ao aluno trabalhador do período noturno, as afirmativas dos

docentes estão em sintonia com as respostas de pais e dos alunos, que afirmaram

que de fato são trabalhadores e acham que esse aluno tem necessidades

específicas e que o professor desse período deve ter conhecimento da vivência

desse aluno, de onde vem e como vem. Também confirmam as respostas dos

alunos que os conteúdos devem ser revistos (os alunos disseram que muitos

conteúdos nunca utilizarão em suas vidas).

Muitos educadores manifestaram-se dizendo que as práticas devem ter

mudanças, aulas mais atrativas e animadas para atrair o interesse do aluno pela

aprendizagem, que o professor além de passar conhecimento, deve conversar muito

com seus alunos, não orientar somente conteúdos, mas sim, orientá-los para a vida.

Concordam com a afirmativa que diz que a escola muitas vezes reproduz o modelo

da sociedade alienadora e não tenta transformar essa realidade, sendo esta também

sua função, esclarecer os equívocos sociais, tornando o aluno mais conhecedor da

sua realidade dentro da sociedade capitalista. Também concordam que são os

alunos menos favorecidos que mais abandonam a escola e que também mais

precisam dela.

Também teve opiniões contrárias à questão, pois acham que tudo é feito

para esses alunos, mas estes são desinteressados, acomodados e não gostam de

estudar, conseqüência de uma sociedade capitalista assistencialista (bolsa família,

luz fraterna, saúde pública etc.) não se preocupam com o futuro e quem está

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sofrendo com essa situação é o professor que se deprime por não conseguir de fato

ensinar.

Na terceira questão foi solicitado sugestões, para tentar amenizar a questão

da evasão escolar no período noturno, as sugestões foram: melhorar a interação

entre professor e aluno para que essa relação seja mais estreita, para que tenham

mais confiança na escola e se motivem a permanecer e estudar mais; chamar a

família a fazer parte do meio escolar, a participar de reuniões, palestras

conscientizadoras, para que cumpra seu papel de responsável na educação dos

filhos. Não ser convocada somente quando algo não está indo bem. Que ela

aprenda a gostar da escola de seu filho. A mesma postura deve ser tomada com os

alunos, palestras específicas para conscientizá-los do valor da escola e do

conhecimento, não só sobre a evasão, mas outros temas pertinentes às suas

necessidades.

Sugeriram também que o período noturno seja prioridade para alunos

trabalhadores. E as aulas deverão ser ministradas por professores que mais se

identifiquem com eles, devem sentir e conhecer as dificuldades pela quais ele está

passando e enfrentando no dia a dia, propondo-se fazer um trabalho diferenciado.

Em nossas análises, percebemos que as respostas evidenciam que falta

conhecimento da realidade social, das lutas de classe, da exploração dos

trabalhadores, dos discursos proclamados pela mídia e pelas políticas. Ainda é

grande o número de pessoas dentre elas os professores, a família e até mesmo os

próprios alunos que se culpam pelo fracasso, ou a família que na maioria das

vezes é desestruturada e descompromissada. É necessário, compreender as

relações que se dão no interior dessa sociedade, em que os trabalhadores não são

os culpados, mas as vítimas dessa situação.

Para entender melhor essa realidade o texto abaixo de autoria da professora

doutora Lízia Helena Nagel intitulado A educação dos alunos ou (filhos) da pós

modernidade contribui bastante. É um retrato da realidade da educação brasileira.

Com uma clareza admirável a autora consegue em poucas páginas explicar o

comportamento dos alunos e filhos que temos hoje. Ela aponta as características tão

evidentes dessa nova geração e o mais importante é que ela nos mostra que esses

comportamentos existentes e muitas vezes inaceitáveis não são naturais, são de

origem social. Em outras palavras, a sociedade em que reina o capital, cria novas

formas de comportamento e novas formas de pensar. Portanto, não se pode

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somente culpar a escola ou a família, pois essas não são as únicas responsáveis

pela “barbárie” vivenciada na atualidade. A própria organização material da

sociedade em que uns exploram e outros são explorados, em que uns detém os

meios de produção e os outros só detém a força de trabalho cria as condições para

a existência desses comportamentos. Segue abaixo o texto na íntegra:

A educação dos alunos ou (filhos) da pós modernidade

Lízia Helena Nagel

Indispensável, em um trabalho, estabelecer e definir com quais termos ele

será encaminhado. As palavras chaves que norteiam a proposta deste tema são,

pois, pela limitação do próprio título, Pós-modernidade e Educação, que incluem,

para melhor entendimento, Cultura e Ensino.

Sem querer aprofundar o significado, lembramos que cultura é o resultado

das múltiplas ações, atividades, trabalhos, práticas dos indivíduos. No conjunto

dessas inúmeras ações interligadas, produz-se uma forma de ser de sociedade,

constrói-se a cultura de uma época, molda-se o homem desse tempo. Cultura é um

conjunto de características de uma sociedade, gerada no inter-relacionamento

humano, preservadas, aprimoradas e reproduzidas ao longo do tempo, em princípio,

sem maiores críticas. Ao se reproduzir cultura, portanto, reproduz-se educação.

Com relação à cultura, convivemos, com muita naturalidade, sem maiores

reflexões, com nossas características, como se tivéssemos nascidos com elas. Não

costumamos pensar que essas características, essas formas de ser dos homens,

foram produzidas no seio das relações por eles estabelecidas ao longo do tempo.

Quando muito, lembramos que, no passado, não nos comportávamos como se

comportam hoje nossos filhos, ou, tampouco, nossas avós se comportavam com

nossos pais. Mas o questionamento sobre as “causas” que fizeram com que os filhos

se comportassem de forma diversa da de seus pais passa a ser não só uma

exigência de poucos como revela uma preocupação educativa de maior grandeza.

Quando isso acontece, os comportamentos, no interior de um tipo de cultura sob

análise, passam a ser objeto do que chamamos, de modo amplo, de reflexão sobre

a educação.

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Na verdade, o desejo de entender por que nossos filhos procedem, hoje,

diferentemente dos filhos de ontem, só surge quando determinados

comportamentos, de modo extensivo, começam a perturbar os pais ou a sociedade

em geral. Enquanto esses comportamentos (hoje considerados problemáticos)

estavam sendo produzidos, ainda em fase de desenvolvimento, eles provocavam

muito entusiasmo e pouca, ou nenhuma, preocupação nos defensores das novas

formas sociais.

Durante o processo de gênese do novo, por assim dizer, o interesse de

grande número de pessoas concentra-se, na verdade, em acompanhar aquele

movimento que se instituiu como uma moda. O questionamento sobre a validade

das mudanças, sendo menor, termina por não oferecer argumentos suficientes para

colocar o novo, que está a se estabelecer, em xeque.

Por exemplo, perguntar à criança o que ela queria vestir, em um determinado

momento do século XX, transformava os pais, no imaginário paterno, em homens

modernos que se auto-avaliavam positivamente, como livres dos “ranços” do

autoritarismo, ou como homens atualizados no campo da psicologia ou da

educação. Nesse estágio, a família não só via seus atos modernos como

libertadores de opressões como sequer pensavam nos possíveis resultados da

exacerbação de suas atitudes, integradas às de todos os outros pais em um futuro

não tão remoto.

Com suas raízes na lógica da sociedade vigente, o direito apregoado de cada

um se decidir, ou de agir de acordo com a sua própria determinação, foi bandeira

que, mesmo pressionada por intervenções políticas, por golpes militares, cunhou as

gerações pós-60. Tenho penetrado na forma de ser da sociedade, alargando-se no

tempo de modo sistemático, começa, nos últimos anos, a ser objeto de

questionamento indireto, quando o conjunto de indivíduos passa a enfrenta, em

qualidade e quantidade crescentes, conflitos domésticos, insucessos na escola,

violência urbana.

A multiplicação de atitudes socialmente inusitadas, inconvenientes, nesses

três níveis, leva a jornais, revistas, documentários e filmes a colocam na berlinda

apenas a família e a escola. Absolvidas outras instituições ou outras figuras da

sociedade com seus papéis definidos, como médicos, psicólogos, advogados, entre

outras, apenas os pais e professores começam a se sentir impelidos (mas sem

força) a educar sob novos parâmetros. Paralela a essa conscientização, vai

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aumentando a procura por psicólogos ( independentemente de sua maior ou menor

compreensão sobre cultura & educação) com o objetivo de dirimir ou diminuir os

conflitos presentes no dia adia. È o momento em que cresce o poder editorial de

uma Tânia Zagury, de um Içami Tiba. È a hora em que o processo educativo pode

ser pensado de forma mais crítica sob uma perspectiva corretiva, embora pleno de

contradições.

A perspectiva superadora da situação indesejada viabiliza pela pergunta o

que fazer, invade os lares quando os meios de comunicação apontam para

fenômenos como: a) o consumo de drogas aumentando na classe média; b) o

consumismo marcando as crianças já em tenra idade; c) a maternidade crescendo

em jovens com 13 anos; d) as mortes no trânsito ocasionadas, com maior

freqüência, por condutores de veículos entre 18-25 anos; e) a venda de trabalhos,

na internet, aos acadêmicos, como prática freqüente; f) o assassinato de pais

elevando estatísticas na área da criminalidade; G) estudantes brasileiros não

sabendo ler, escrever e interpretar...

Diante desses fatos, os sujeitos produtores dessa cultura passam a

apresentar dúvidas sobre os comportamentos vigentes, enquanto geradores de

ansiedade ou insatisfação. Os comportamentos atuais, abrigados na defesa

inconteste da liberdade para agir sem limites, sem normas, tornam-se objeto de

reflexão de muitos cidadãos. Nesse contexto, os comportamentos indesejados,

começam a ser descritos, com maior clareza e profundidade, como típicos de uma

época.

A literatura pode, então, apontar as características da cultura atual, do homem

contemporâneo. Os aspectos mais acentuados, que vêm dando tipicidade a esse

indivíduo são: a) a busca do prazer imediato; b) o descompromisso com o outro; c) a

falta de motivação para qualquer tipo de trabalho; d) a ausência de perspectiva para

si mesmo, ou a apatia diante de seu futuro; e) a banalização da morte; f) a

indisponibilidade para qualquer reflexão.

Esses indicadores, que expressam a cultura instituída, são, de fato,os que

integram ou especificam as atitudes perceptíveis na”pós-modernidade”. Detalhando

mais esses indicadores, tem-se um indivíduo, que se caracteriza pela busca

incessante do prazer, essencialmente, voltado para seus próprios desejos, para

suas necessidades emocionais mais primárias. A satisfação imediata é o seu ponto

de partida e o seu ponto de chegada. A geração da pós-modernidade passa a viver

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sob forças internas direcionadas ao gozo pessoal. As exigências relativas à

individualidade tornam-se uma obsessão. A subjetividade torna-se radical. No

discurso e na prática dos sujeitos atuais, constata-se que o “tempo é dele”, a

“escolha é dele”...

Produziu-se uma geração voltada para si mesma, desenraizada. Os vínculos

que explicariam socialmente o homem, que o determinariam, desaparecem no

horizonte da consciência. A complexidade das inter-relações desfaz-se no ar. No

limite da convivência real, os indivíduos não se reconhecem. Os atos em sociedade

deixam de ser percebidos como mediações que dão forma e conteúdo aos homens.

A coletividade, transformando-se em mero somatório de indivíduos, deixa de ser

referência para análises comportamentais. A consciência do homem como ser social

desaparece.

A noção de igualdades de direito-inerente à consciência do outro, à

consciência de ser social, e/ou da coletividade passa-se à defesa do direito

individual. Os códigos de boas maneiras – um tipo de regulagem dos

relacionamentos – saem, inclusive, do repertório acadêmico. Os apaixonados por

um estilo próprio – delimitado pela vontade de não participarem dos propósitos da

maioria – aumentam. Na soberania do eu reina individualmente, acintosamente, a

busca da diferenciação inédita, a busca da satisfação particular, do prazer efêmero

regulado por impulsos.

Em busca do prazer efêmero, o indivíduo expressa-se, de modo significativo,

nas horas em que totaliza, preferencialmente, seu tempo, permanecendo frente à

TV, à Internet, aos Games, etc. O imagético è objeto de fascínio. Cola-se a mídia

que vive da estimulação de suas emoções, através de cenas virtuais, fantásticas,

violentas de forte apelo à sexualidade. Transforma-se, assim, em um legítimo

espectador da realidade. Seus sentimentos são exacerbados pelos meios de

comunicação que têm no escândalo sua forma competitiva de existência. Acostuma-

se, portanto, a conviver com os fatos reais, como espetáculos vivendo os

acontecimentos sociais oferecidos através da mídia apenas enquanto duram, no

tempo de suas imagens.

A temporalidade real não é resgatada pelos homens dessa época. A essência

da imagética, é a falta de profundidade, é na verdade, a ausência de relações entre

os elementos constitutivos do real. A sociedade, em geral, educa, portanto,

oportunizando emoções gerenciadas por fragmentos ou parcelas.

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Conseqüentemente, sob a força da comunicação midiática, os consumidores desse

meio passam a interpretar a realidade como um simulacro, podendo, os jovens,

nesse espectro, defender com maior energia seus espaços de privacidade, suas

experiências privatizadas, sua autonomia.

Ora, quando a realidade passa a ser percebida como um simulacro, é natural

que a percepção do homem universal, a percepção do homem enquanto raça,

enquanto espécie, enquanto ser político ou social, perca o significado. O mundo

externo, não servindo para informar, ao nada dizer, transforma-se em uma ficção.

Conceitos perdem seu conteúdo, pois palavras como humanidade e sociedade só

têm significado quando se dá aos constituintes dessas categorias proximidade

íntima, ou seja, a mesma natureza. Sem consciência sobre a unidade da espécie,

sem consciência relativa à igualdade dentro de uma mesma espécie, o interesse

pelo conjunto desaparece, é apagado, e as aspirações não ultrapassam o particular,

concebido isoladamente. Na falta da compreensão das relações que possibilitam ao

homem manter-se vivo como homem, ganha espaço a falsificação do conceito

tradicional de indivíduos. Nesse espaço, as autobiografias, as memórias invadem as

editoras e a indústria cultural saúda a exibição do privado como a forma ideal de

literatura.

O descompromisso com o outro, a falta de percepção do outro concretiza, de

fato, quando o sujeito não se identifica com ninguém. A falta de identificação com

quem quer que seja, ou a incapacidade de se ver fora de si mesmo, faz com que

desapareçam as condições para o reconhecimento, em qualquer figura humana, de

qualidades, potencialidades, desejos, necessidades similares ás suas. A ninguém é

outorgada a possibilidade de igualdade, de paridade, de semelhança, quer de

emoções, de experiências, de conhecimentos ou, melhor, de vida.

O sujeito, sem identificação com seus pares, torna-se incapaz de dimensionar

e/ou perceber alguém que não seja ele próprio. Não conta com um sistema

decodificador, ou receptor, a não ser dos próprios interesses, por isso não

estabelece laços de propriedade. Conseqüentemente não estabelece vínculos. As

amizades são fugidias, extemporâneas. Suas comunicações são do tipo on-line. Um

gesto de carinho, geralmente, é um momento pontual, presencial. Não há longo

prazo em suas perspectivas por isso não estabelece com antecipação prováveis

conseqüências sociais. Sem pares e sem perspectivas, nele não brota,

conseqüentemente, o sentimento de responsabilidade. Sem sentir-se responsável,

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ou com compromisso, potencializa sua infância, preservando, em idade avançada,

os privilégios de criança.

Mas a prática da liberdade sem princípios reguladores, o crescimento do

individualismo, de caráter narcisista, a autonomia sem responsabilidade, tudo isso

caminha junto com um sujeito que desenvolve consecutivas depressões, estado de

pânico, irritabilidade, déficit de atenção, apatia, ausência de motivação para

qualquer trabalho, além de total indisponibilidade para a reflexão. Fenômenos com

os quais a Escola do Ensino Fundamental ao Ensino de pós-graduação, está

convivendo dentro de uma situação de opacidade.

Os professores, no interior de uma situação de opacidade, de indefinições,

discursos e de práticas sociais contraditórias, vivenciam essa realidade

cotidianamente em sala de aula. Homem de sua época, e também sem um saber

totalizante que dê conta desse universo histórico, social e/ou psicológico, o professor

enfrenta sozinho, as acusações de que seu ensino não corresponde às

necessidades individuais de seus alunos. Lê na imprensa que sua forma de educar é

autoritária, antiquada o que favoreceria o descontentamento dos alunos apegados

aos mais modernos meios de comunicação. Escuta as reclamações dos pais que

independentemente do nível da escola a qual se dirigem, responsabiliza o corpo

docente e/ou técnico pelos “problemas dos filhos”. Problemas que, segundo a ótica

paterna, só existem, ou se transformam em problemas, pela falta de conhecimento,

de compreensão, administração e /ou de atendimento às particularidades de cada

um de seus rebentos (ainda que eles tenham muito mais de 20 anos)! É a pós-

modernidade falando, agora, objetivada na figura do pai que não se compromete,

não estabelece vínculos, não admite frustrações e tampouco se dispõe a refletir

sobre a prática social, da qual ele faz parte ativa e que transforma seu filho em

eterno irresponsável por seus próprios atos.

Retornando à escola – que teria, até meados do século XX, a bem definida

função de educar, de alterar comportamentos, de formar gerações competentes para

as mais diversas profissões- dentro da pós-modernidade, ela perde, em grande

parte, a possibilidade de realizar tais encargos com sucesso. Submersa nessa

cultura do individualismo exacerbado, com todas as suas variantes e/ou derivações,

a escola pouco dispõe de armas para redirecionar ou dimensionar os processos

educativos. Isso porque mudar o homem implicaria em contestar e/ou alterar

características culturais. Como alterar essas características que, ao invés de

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responder por sua humanização, estaria a destruir o indivíduo quando permite a ele

mesmo pensar-se como único, absoluto, soberano, de si mesmo? Como superar

essa cultura quando sua premissa está exatamente na defesa do direito individual?

Como pensar, pois uma relação educativa entre homens, ou para homens,

desprovidos do sentimento de polis, de comunidade? Como pensar o respeito por

quem ensina quando já houve uma renúncia do reconhecimento, do valor do outro?

Como pensar o ato de ensinar quando o de aprender com o outro não fazem sentido

para aquele que se orienta apenas por sua própria interioridade? Como repassar

saberes próprios de cada profissão, saberes objetivos, quando as chamadas

discentes são para a satisfação imediata de suas exigências subjetivas? Como

sensibilizar filhos e/ou alunos para construir uma existência fora dele mesmo,

comum, pelo trabalho?

A própria escola não sabe como fazer isso. Com maior ou menor senso

crítico, a maioria dos professores (tal como os pais) acaba incorporando valores que,

no discurso, costumam condenar. Como exemplo, cita-se um texto, retirado de uma

coletânea recomendada pelo MEC para o Ensino Fundamental que confirma o que

se disse até agora sobre o direito sacralizado de cada um fazer o que a vontade

determina em busca de satisfação imediata.

O ACAMPAMENTO

Todo mundo pensou maravilhas quando o professor de educação

física falou sobre o acampamento. Imaginamos o que

bagunçaríamos com dois dias inteiros só pra nós... Está certo que

brincamos bastante, mas o que ninguém sabia era a lista de tarefas...

O Silvio, coitado, varreu toda a quadra duas vezes. O Zito, por mais

de uma hora, pegou lenha pra fogueira, enquanto o Túlio colhia

frutas no pomar. Eu... pensa que fiquei na boa? Tive que limpar o

quarto e lavar a louça.

A proposta ideal da escola de encaminhar a participação eficiente de todos na

construção da sociedade “morre na praia”, no limite das contradições dos próprios

conteúdos curriculares, dos docentes. Os homens “pós-modernos” são induzidos a

desvalorizar o trabalho produtivo até mesmo em textos pedagógicos direcionados às

crianças. Uma provável explicação nos lança ao atual estágio da produção de

mercadorias que, em larga escala, demanda, por excelência, um consumidor

inveterado. O papel do consumidor, bastante distante do produtor, não exige

conhecimentos específicos, formação especial esforços definidos. A figura do

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consumidor, sendo passiva, tal como a do espectador, corresponde mais ao desejo

de prazer, subjetivo =, do que ao esforço produtivo, objetivo. A produção de bens,

cada vez mais rápida e menos dependente de indivíduos, e sim de tecnologia,

carece de compradores em números cada vez maior. A necessidade de formação de

trabalhador pela escola já não e mais significativa para a sobrevivência da

economia. A escola, como uma caixa de ressonância, convite, por não estabelecer

relações mais complexas, com o desinteresse por atividades produtivas.

Nesse horizonte, o trabalho organiza-se e é pensado, cada vez mais, pela

ótica do menor dispêndio de energia. O respeito pela atividade produtiva, pelo papel

definido de profissionais, a valorização das carreiras, tudo isso sai da pauta dos

valores econômico-sociais defensáveis. Desfaz-se, também, o velho refrão de que o

trabalho enriquece e enobrece. Desaparece a crença no desenvolvimento do

indivíduo dentro das empresas por seu legitimo empenho na profissão.

Inversamente, criam-se novas certezas sobre o crescente e universal desemprego.

O trabalho deixa de ser visto como o mediador político da transformação social e/ou

da ascensão dentro das classes e, como tal, custa a ser valorizado positivamente no

interior das praticas escolares. O “jeitinho” para aliviar o trabalho acadêmico vai

tomando conta, inclusive, da didática!

Contraditoriamente, a escola como o espaço destinado para a produção de

conhecimentos, não conseguimos resgatar a importância do trabalho na construção

da sociedade, na concretização do homem enquanto ser social perde as bases para

a execução de sua função educativa. Da mesma forma, a escola perde sua

possibilidade educativa quando - ao tentar reagir contra a perda de significado do

contrato social, do efetivo sentido das trocas, do significado da equivalência, da

compreensão de que os direitos são imbricados em deveres – enfrenta uma

população que, por seus valores e sua prática, não a justifica, embora a mantenha

ideologicamente.

A escola está inserida em uma época na qual não existe nenhuma garantia de

êxito social através do trabalho. Ora, não havendo garantias de êxito em qualquer

seara humana, a apatia ronda até os mais comprometidos socialmente. A

indeterminação da realidade, fundamental para o sentimento de indiferença, oferece

condições para a perda de interesses cívicos. O tédio convive com a falta de

perspectiva clara sobre o futuro e os riscos parece não compensar os prisioneiros da

efemeridade agradável. A desesperança alia-se à apatia que inviabiliza afetos e,

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ambas, dão sustentação à banalização da violência, mais uma faceta do homem

pós-moderno.

Mas a banalização da violência não se expressa apenas em relação aos

seres vivos. Os conteúdos escolares, itens dos antigos programas de ensino, itens

antes ensinados nas disciplinas, também passam a ser banalizados. Os

conhecimentos existentes do repertório social passam a ser relativizados. Assumir a

incerteza transforma-se em uma qualidade, em um ato de inteligência. Estimula-se a

descrença na razão da ciência. Negam-se as teorias que tornam os fatos ou

acontecimentos inelegíveis. Diz-se não à teoria. Acusa-se a escola de

academicismo. Desvaloriza-se o aprofundamento próprio das especializações e

estimula-se o saber descartável, temporário, sem poder explicativo. Encoraja-se a

tolerância com todos os pontos de vista, com todas as justificativas dadas. O

conhecimento é pensado apenas como um produto individual, fora das relações

sociais, sem exigência, portanto, de qualquer parâmetro para seu próprio

julgamento, para crítica ou, mesmo, para a autocrítica. Mais do que em qualquer

outra área, a escola perde a sua função científica, precisamente, a de ensinar às

gerações novas o saber acumulados pelas gerações que lhes antecederam.

Por ter, desde a época do iluminismo, de modo ideal, afirmado ser o saber o

instrumento de êxito individual, ou ser condição de vida em nível superior, a escola,

hoje, carrega um grande ônus. Sua dívida para com os homens parece ter

aumentado em contrapartida suas possibilidades de sucesso parece diminuir. No

entanto, nesse espaço contraditório, quando ela se reconhece pequena diante das

forças culturais, ela ainda tenta, sem contar com qualquer hegemonia. Sabendo ser

impossível compreender o mundo, o próprio homem, quando se está sob o estigma

assanhado das características da pós-modernidade aqui apontadas, alguns

docentes reconhecem a redução de seus poderes. Da mesma forma por outros

motivos não tão intelectualizados, alguns Pais também reconhecem que as forças

paternas direcionadas a educação de seus filhos encolheram de forma significativa.

Defrontando-se com a literatura pós-moderna, ou mesmo, com os órgãos

governamentais prenhes dessa mesma literatura, enfrentando discursos religiosos

que acreditam apenas no poder da escola ou da família, quando bem estruturada,

para educar os filhos sob a perspectiva de maior responsabilidade social,

professores e pais, em minoria, ainda lutam, no quadro das contradições dessa

mesma cultura, pelas transformações dos indivíduos autocentrados em legítimos

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aprendizes. Ainda lutam pela preservação e divulgação do saber construído,

histórico e socialmente, como fonte de riqueza para a humanidade que não se iguala

ao saber produzido por interesses individuais, interesseiros ou pragmáticos. Enfim,

ainda lutam por uma educação que leve os homens a se reconhecerem em seus

limites ou possibilidades de humanização.

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2- As relações da prática escolar com a fábula: APRENDENDO ALÉM DOS

LOBOS de DAVID HUTCHENS

Essa fábula relata a história de um rebanho de ovelhas que sempre eram

devoradas pelos lobos. E, que dentro de seus conceitos já aceitavam a condição de

que lobos sempre comeram e comem ovelhas. Aceitavam tal condição, mas não

viviam tranqüilas, pois quase todas as manhãs alguma tinha sumido. Mesmo assim

o rebanho foi crescendo, tornando-se bem grande apesar das perdas constantes.

Mas eis que alguém entre o rebanho começou a se incomodar com tal

situação e a pensar na possibilidade de mudança de tal realidade. A partir disso as

ovelhas se reuniram, conversaram, trocaram idéias, investigaram as causas,

montaram estratégias, sempre persistindo na idéia de que iam conseguir mudança,

que as ovelhas não seriam mais devorada pelos lobos.

Durante suas pesquisas descobriram que quando chovia os lobos não

apareciam. Também chegaram à conclusão que não conseguiriam pular a cerca,

pois era muito alta. Eis que um dia uma ovelha pediu para que o rebanho a seguisse

e mostrou um espaço enorme embaixo da cerca e seria por lá que os lobos

passavam quando não chovia. Após a descoberta se uniram mais uma vez para

taparem com pedras o buraco e o resultado foi muito bom, as ovelhas nunca mais

foram devoradas por lobos. Em relação a educação, esta fábula nos traz

contribuições importantes e levanta questões muito pertinentes. A primeira delas é

em relação ao compromisso com a causa, ou seja, até que ponto nós realmente

estamos comprometidos com a educação e com a escola? Como envolver a

comunidade escolar na busca de soluções para os problemas enfrentados pela

escola?

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Isto é um lobo. Isto é uma ovelha.

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Lobos comem ovelhas.

Lobos sempre comeram ovelhas.

Eles sempre comerão ovelhas.

Se você é uma ovelha, já aceita isso

como Um fato da vida.

Era uma vez um rebanho de ovelhas que

vivia em uma linda pastagem verde.

Mas a vida do rebanho não era tranqüila.

Os lobos representavam uma ameaça

constante,

Lançando uma sombra de medo sobre a Pastagem.

Algumas vezes o rebanho ia dormir à noite, acordava ao amanhecer e

descobria que uma ovelha havia

desaparecido,como se tivesse

sido servida de refeição a um

lobo, acompanhada de aspargos

e molho de menta.

Havia vários quilômetros de

cerca de arame farpado rodeando

os campos das ovelhas.

Mas mesmo assim os lobos

conseguiram entrar.

Era difícil conseguir viver

neste ambiente de incertezas.

Mesmo assim, ao longo dos anos, o

rebanho ia se tornando maior, e maior e

maior. As perdas ocasionais, apesar de

muito tristes, já eram algo esperado.

Foi assim que as coisas sempre

aconteceram.

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Este é Otto.

É bom que você saiba que Otto irá se defrontar

com um destino sombrio no final desta história. Não se

apegue muito a ele.

A resignação do rebanho em relação aos lobos

causava em Otto um grande desânimo.

- Eu tenho um Sonho... – Disse Otto,

empoleirado sobre um morro de onde todos os demais

podiam ouvi-lo. – Eu sonho com o dia que mais

nenhuma ovelha morrerá para tornar-se o café da

manhã de um lobo.

-Isso é um absurdo – disse a ovelha Shep. -Você não pode deter os lobos.

Lembre-se das sábias palavras de nossos ancestrais: “Os lobos virão, assim como

sol nascerá”. E também: “Lobos. Esses tolos”.

Na verdade, acredito que devamos ser parabenizadas porque prosperamos

sob a sombra dos lobos. Veja quantas nós somos! - Disse outra ovelha.

Isso fez Otto ficar ainda mais abatido.

- Enquanto os lobos existirem, nosso número representa apenas uma meia

verdade – disse Otto.-

Dizemos a nós mesmos que

somos fortes para não ter de

encarar nossas fraquezas.

E Otto continuou:

- Todos dizemos que

os lobos não podem ser

detidos. Mas como podemos

saber se isso é verdade?

Uma ovelha chamada

Caco respondeu:

- Isso é uma verdade. Até mesmo a cerca que nos rodeia não consegue

manter os lobos distantes. No princípio, ela os detia. Mas eles devem ter aprendido

a pular por cima dela. Os lobos aprendem muito rapidamente.

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- Então nós precisamos aprender ainda mais rápido! – disse Otto. –

Precisamos fazer com que a aprendizagem faça parte da vida do rebanho. Nós nos

tornaremos um rebanho que aprende.

- Mas nós já aprendemos – disse a ovelha Shep, meio indignada. – Outro dia

mesmo aprendi a puxar um espinho de minha pata usando meus dentes.

Todas as outras ovelhas, especialmente aquelas com algum espinho

espetado na pata, levantaram a sobrancelhas de lã,demonstrando interesse.

- E eu aprendi a cavar um buraco. Vejam isto! - disse Gigi, batendo com as

patas vigorosamente no solo.

- ah... Eu posso empurrar pedras com meu focinho e fazer uma pilha –

acrescentou Jeremias, que mal acompanhava a conversa.

Um burburinho frenético surgiu entre as ovelhas

com essas novas idéias, as quais, talvez obvias para

você e para mim, eram um tanto quanto inovadoras e

úteis no mundo das ovelhas.

-Esses aprendizados são um bom começo –

disse Otto, animado. – Idéias como essas devem ser

compartilhadas para o bem do rebanho.

-Mas para prosperar sob a sombra dos lobos,

não é o bastante. Nós precisamos de um tipo diferente de aprendizagem se

quisermos ser um verdadeiro rebanho que aprende.

O rebanho ficou cabisbaixo, pensativo. As ovelhas estavam se esforçando

para entender.

Após um período de silêncio, Caco falou:

- Talvez pudéssemos dormir em circulo.

Otto gesticulou para que ele continuasse.

- Acho que poderíamos nos proteger melhor se dormíssemos amontoados,

em vez de espalhados por todo canto. Dessa forma, quando os lobos vierem será

mais difícil de eles nos apanharem.

- Mas isso não resolve totalmente o problema dos lobos... – disse Marieta,

uma pequena ovelha. Mas ninguém deu atenção a ela. As ovelhas estavam

envolvidas demais com a idéia de Caco.

- Sim, sim! – disseram todos. – Esta noite iremos nos amontoar contra os

lobos. A aprendizagem pode ser uma boa idéia, afinal!

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Otto estava frustrado com a tentativa das ovelhas de aprender,a qual, para

ele, parecia terrivelmente reacionária. Mas ele se sentia aliviado por ver ao menos

haviam se unido em torno de um propósito. Esse era um bom primeiro passo. “O

mínimo que posso fazer é permanecer acordado esta noite e ficar de guarda

enquanto todos dormem”, ele

pensou.

[CUIDADO! Isto nos

remete à parte da história em

que Otto parte desta para

melhor. Para seu reconforto,

fique sabendo que ele estará

indo para um lugar melhor, onde

se juntará a Lassie, a mãe do

Bambi e ao rei Leão.]

Naquela noite Otto observou o céu escurecer e as ovelhas agruparam-se num

amontoado. No momento em que a lua crescente estava alta no céu de verão, o

rebanho já dormia profundamente.

Na manhã seguinte, Otto havia partido.

Quando o rebanho despertou na manhã seguinte e descobriu que havia

perdido Otto, todos ficaram arrasados.

- Otto era uma boa ovelha – suspirou Shep.

- Ele nos mostrou uma visão de dias melhores –

elogiou Caco.

- Ele tinha uma lã tão branca como a neve –

sussurrou alguém La do fundo.

Jeremias não disse uma só palavra. Ele apenas

empurrou um punhado de pedra com o focinho e formou

uma pilha. Talvez não fosse o mecanismo mais efetivo

para solucionar o problema, mas parecia funcionar para ele.

Mas os ânimos logo ficaram alterados.

- Aqueles lobos! É tudo culpa deles! - lamentou-se Caco.

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- O que devemos fazer? –

Indagou Shep. – Os lobos são

espertos e fortes, não podem ser

detidos. Nossa vida seria muito

melhor se os lobos não existissem.

-Se ao menos aquela maldita

cerca fosse um pouco mais alta, os

lobos não poderiam saltar sobre ela!

O rebanho permaneceu lá abatido e desolado

Por fim Marieta, a pequena ovelha, falou

novamente:

- Como podem os lobos aparecer apenas de vez

em quando, e não sempre? – ela perguntou ao rebanho.

Todos pararam. Eles pareciam confusos.

Marieta continuou:

- se os lobos são espertos, e podem pular por

sobre a cerca a qualquer momento que quiserem, por

que eles não vêm todas as noites?

Se eu fosse um lobo, é isso que eu faria. Eu teria um banquete de ovelhas

todo dia.

Os demais pareciam ainda mais confusos.

- Tudo o que estou dizendo é

que talvez não seja impossível

deter os lobos como pensamos.

Algo os está detendo, ao

menos em alguns momentos –

concluiu Marieta.

- O que você está tentando

dizer, Marieta? – perguntou Shep.

Estou dizendo o mesmo que

Otto disse. Nós devemos aprender.

Precisamos fazer isto juntos. E precisamos aprender mais rápido que os lobos.

- Nós já tentamos nos tornar um rebanho que aprende. E vejam só o que

aconteceu ao Otto – Falou Shep.

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- isso é porque nós apenas começamos – disse a sábia pequena ovelha. –

Vejam o que acabou de acontecer: tentamos algo diferente, mas os resultados que

colhemos foram os mesmos. O que isso significa para vocês?

Todos tinham de admitir que aquela realmente era uma boa pergunta. Mas

ninguém tinha uma resposta.

Marieta explicou:

- Para mim isso significa que não basta mudarmos apenas a forma de fazer

as coisas.

Precisamos também ampliar nossa visão e vislumbrar um horizonte maior.

Precisamos aprender como aprender de forma diferente.

- Como? – todos quiseram saber.

- Podemos começar fazendo três coisas:

Um, lembrem-se da visão do Otto. Algum dia mais nenhuma ovelha morrerá

por causa dos lobos. Daqui para frente tudo que aprendemos deverá nos levar em

direção a visão do Otto.

Dois, todos dizem que os lobos são espertos de

mais e que não podem ser detidos. Nós tomamos todas

as decisões pensando que isso é verdade, e talvez seja.

Mas e se não for?

Três, vamos descobrir como fazer as coisas de

forma diferente. O que temos de fazer para deter os

lobos? O que significa ser um lobo? Vamos nos mexer e

coletar algumas idéias e informações. Vamos descobrir o

máximo que pudermos sobre os lobos. E, então, vamos compartilhar uns com os

outros tudo o que sabemos.

- por que cada um de nós reflete por conta própria

e então nos encontramos hoje à tarde para conversar?

Com a reunião suspensa, cada ovelha seguiu seu

caminho, perdida em seus pensamentos.

Algumas das ovelhas questionavam em

pensamento o que Marieta havia dito:

“A aprendizagem pode ser muito boa e correta.

Mas se a cerca não é alta o suficiente para manter os

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lobos afastados, não a nada que possamos fazer. Nós não temos as ferramentas

para deixá-la Mais alta”.

““Eu não defenderei esse tipo de

desrespeito aos nossos ancestrais. Eles nos

ensinaram que os lobos eram um fato da vida.

Aquela ovelhota está zombando de nossa

herança”.

Mas algumas das ovelhas guardaram as palavras

de Marieta em seus corações:

“A Marieta está certa. Parece que os lobos vêm

apenas em determinados momentos. Isso não faz

sentido.”

“No ultimo verão, quando tivemos a seca, os,

lobos pareciam vir com muito mais freqüência.

Hummm.....”

“Talvez os lobos não estejam pulando por sobre a cerca. Ela é bem alta... e

não acho que animal algum seja tão forte...”

Mais tarde, todas as ovelhas retornaram para

conversar. Um sentimento de animação tomou

conta delas. [Impressionado pela mobilização,

Jeremias fez uma tentativa de contar as ovelhas...

Mas, estranhamente, quase caiu no sono e teve de

parar.]

Shep deu inicio a reunião

- Amigos, estamos hoje aqui em memória de

nosso amigo Otto e sua visão de eliminar cem por

cento as mortes provocadas por ataques de lobos.

Alguém tem algo a compartilhar?

As ovelhas expuseram todos os seus pensamentos.

Eles iniciaram um dialogo sobre a real possibilidade de os lobos saltarem a

cerca.

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Discutiram a estranha

periodicidade de ERLs [Eventos

Relacionados a Lobos] e como

eles pareciam diminuir após as

chuvas fortes e aumentar

durante os períodos de calor e

seca.

As ovelhas até mesmo

confessaram a respeito da

dificuldade que sentiam para rever seus antigos e arraigados pressupostos sobre os

lobos.

Apenas o fato de conversar sobre

essas coisas fez o rebanho sentir-se cheio

de energia e esperançoso.

Repentinamente, Caco chegou

trotando, sem fôlego mais muito animado.

-Sigam-me! Rápido! – disse ele.

Confusas, as ovelhas correram atrás

dele, sem ter muita certeza sobre para onde

Caco as estava levando.

O rebanho correu atrás de Caco por quase dois quilômetros. Logo as ovelhas

chegaram a uma cerca, no exato ponto onde um pequeno riacho passava por

debaixo dela. Este era o mesmo riacho que as ovelhas usavam para matar a sede,

embora jamais chegassem muito perto da cerca, por temerem os lobos.

- Olhem! – disse Caco, apontando com a pata para o ponto onde a cerca

cruzava sobre a água. Ali, logo acima da superfície da água e preso no arame

farpado, havia um pequeno chumaço de lã de ovelha.

-Eu estava procurando por respostas e encontrei isto. Mas não sei o que

significa- ele disse.

As ovelhas olharam umas para as outras, confusas.

Finalmente, alguém falou:

- Eu entendi! Os lobos não estão atravessando por cima da cerca. Eles estão

passando por debaixo dela!

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- Isso faz sentido! Quando ocorre uma seca, não existe água passando por

debaixo da cerca.

É quando os lobos passam por baixo!

- E depois que chove, existe água demais, e os lobos não podem passar! –

exclamou outra.

Ás ovelhas ficaram ainda mais

entusiasmadas.

- Então acho que isso significa...

que os lobos não sabem nadar!

E todas deram boas gargalhadas.

No final das contas, talvez os lobos

não fossem tão espertos.

-Existe apenas um problema – disse

alguém.

- Nós não podemos controlar as chuvas. Ainda estamos a mercê dos lobos. E

agora nos estamos a mercê do clima também.

O rebanho ficou em silêncio.

Então Gigi falou:

- Acho que mais uma vez estamos

olhando o problema de modo errado.

- É verdade que não podemos

controlar o clima. Mas podemos controlar o

fluxo de água.

Vejam isto. – E gigi começou a cavar

um buraco, rasgando vigorosamente com as

patas o solo abaixo da cerca. Logo algumas

das outras ovelhas uniram-se a ela.

- Não fiquem ai paradas! Patas a obra! – alguém gritou.

- Bem eu posso empurrar as pedras e fazer uma pilha – ofereceu-se

Jeremias, e começou a construir uma pequena represa com as pedras, alguns

metros abaixo do riacho.

Shep ficou por ali, retirando os espinhos das patas das outras ovelhas,

enquanto elas cavavam.

Rapidamente, um pequeno lago começou a se formar ao redor da cerca.

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Fascinadas por sua conquista, as ovelhas soltaram um grito espontâneo e

coletivo [um barulho

extremamente irritante, mas

que seria prazeroso se você

fosse uma ovelha].

Nos dias seguintes, o

rebanho tinha um lindo lago, ao

redor do qual podiam se reunir,

beber e brincar.

E melhor do que tudo, os

lobos pararam de vir...

...as ovelhas pararam de

desaparecer...

...E o medo foi embora.

- Estou feliz que tenhamos nos tornado um rebanho que aprende – uma ou

outra ovelha dizia, quando se aconchegavam para, em segurança, dormir à noite.

-É uma sensação ótima saber que jamais teremos de passar por algo

parecido novamente.

Mas talvez elas tenham de passar.

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3-FILME: A ESCOLA DA VIDA

Esse filme nos faz pensar que existem possibilidades de mudanças na prática

cristalizada dos professores. Para tanto, se faz necessário acreditar na mudança e

trabalhar com compromisso para que ela aconteça. No filme, um jovem professor

chega a uma escola e consegue conquistar os alunos e professores através de uma

nova prática e uma nova forma de se relacionar com os alunos.

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Reprodução: Lourival dos Santos

A Lei diz que a escola existe para todos.

EVASÃO ESCOLAR: NÃO BASTA COMUNICAR E AS MÃOS LAVAR

MURILO JOSÉ DIGIÀCOMO – PROMOTOR PÚBLICO/PR

EVASÃO ESCOLAR

LUIZ ANTONIO MIGUEL FERREIRA - PROMOTOR PÚBLICO/SP

Os textos em questão fazem parte de estudos e pesquisas realizadas por

profissionais de renome na área da Promotoria Pública no Brasil os quais se

mostram sensibilizados com o problema da evasão escolar que há muito tempo

teima em permanecer, tornando-se normal e aceitável tal situação.

As leis existentes no país asseguram claramente os direitos da criança e do

adolescente à educação, também nomeia os responsáveis que devem cumpri-las. O

Estado em primeiro lugar, seguido por outras instâncias, dentre elas a família e o

meio social em que o sujeito está inserido.

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No decorrer do texto, através de leituras identificamos que várias são as

causas. Entre elas aparece a escola por não ser atrativa e interessante para esses

jovens, ela também não é um ambiente democrático. Os professores em grande

porcentagem são despreparados quanto ao domínio dos conteúdos e também da

turma em relação à organização e disciplina. Em relação aos pais também há

desinteresse quanto ao futuro dos filhos, deixando de cumprir o pátrio poder. Sendo

a grande maioria dos alunos trabalhadores, há incompatibilidade de horário, não

conseguem freqüentar a escola e concluir os estudos.

Na visão dos promotores, o combate a evasão escolar é um eficaz

instrumento de prevenção e de combate a violência. Isto significa mais adolescentes

e jovens freqüentando a escola e penitenciárias com menos população carcerária. A

nosso ver, o combate a evasão escolar significa muito mais do que isso, é garantir a

classe trabalhadora o acesso ao conhecimento científico que permitirá o

desenvolvimento humano, a emancipação humana.

EVASÃO ESCOLAR: NÃO BASTA COMUNICAR E AS MÃOS LAVAR

MURILO JOSÉ DIGIÁCOMO - PROMOTOR DE JUSTÇA / PR.

A evasão escolar é um problema crônico em todo o Brasil, sendo muitas

vezes passivamente assimilada e tolerada por escolas e sistemas de ensino, que

chegam ao cúmulo de admitirem a matrícula de um número mais elevado de alunos

por turma do que o adequado já contando com a “desistência” de muitos ao longo do

ano letivo

Como resultado, em que pese a propaganda oficial, sempre alardear um

número expressivo de matrículas a cada início de ano letivo, em alguns casos

chegando próximo aos 100%( cem por cento ) do total de crianças e adolescentes

em idade escolar, de antemão já se sabe que destes, uma parcela não irá concluir

seus estudos naquele período, em prejuízo direto á sua formação e, é claro, á sua

vida, na medida em que os coloca em posição de desvantagem face os demais que

não apresentam defasagem idade-série.

As conseqüências da evasão escolar podem ser sentidas com mais

intensidade nas cadeias públicas, penitenciárias e centros de internação de

adolescentes em conflito com a lei, onde os percentuais de presos e internos

analfabetos, semi-alfabetizados e/ou fora do sistema de ensino quando da prática da

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inflação que os levou ao encarceramento margeia, e em alguns casos supera, os

90% (noventa por cento).

Sem medo de errar, conclui-se que é a falta de educação, no sentido mais

amplo da palavra, e de uma educação de qualidade, que seja atraente e não

excludente, e não a pobreza em si considerada, a verdadeira causa do vertiginoso

aumento da violência que nosso país vem enfrentando nos últimos anos.

O combate à evasão escolar, nessa perspectiva, também surge como um

eficaz instrumento de prevenção e combate à violência e à imensa desigualdade

social que assola o Brasil, beneficiando assim toda a sociedade.

Possuindo diversas causas, que vão desde necessidade de trabalho do aluno,

como forma de complementar a renda da família, até a baixa qualidade do ensino,

que desestimula aquele a freqüentar as aulas, via de regra inexistem, salvo

honrosas exceções, mecanismos efetivos e eficazes de combate à evasão escolar

tanto em nível de escola quanto a nível de sistema de ensino, seja municipal, seja

estadual.

E isto ocorre não em razão da falta de previsão legal para sua existência, na

medida em que tanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90),

quanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), como

decorrência do enunciado dos arts.206, inciso I² e 208, §³º , da Constituição Federal,

Há muito contém disposições expressas no sentido de sua obrigatória criação.

Situação curiosa resultou do advento da Lei nº 10287, de 20 de setembro de

2001, que acrescentou ao art. 12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, onde se encontram relacionadas diversas obrigações aos

estabelecimentos de ensino, os seguintes dispositivos:

“VII - notificar ao Conselho Tutelar do município, ao juiz competente da

comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos

alunos que apresentem quantidades de faltas acima de cinqüenta por cento do

percentual permitido em lei (verbis).

Logo surgiu uma verdadeira “enxurrada” de expedientes, encaminhados

apressadamente pelas escolas, às autoridades públicas indicadas n texto legal

transcrito, contendo listas muitas vezes bastante extensas de alunos infreqüentes,

alguns, não é preciso dizer, com percentual de faltas muito superior ao máximo

permitido em lei, que é 25% (vinte e cinco por cento) do total de horas letivas (art.24,

inciso VI da Lei nº 9.394/96).

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Tal cenário nos leva a concluir que boa parte dos dirigentes de

estabelecimentos de ensino somente se deu conta da necessidade de tomarem

medidas no sentido de providenciarem o retorno de seus alunos infreqüentes aos

bancos escolares com a promulgação do texto legal acima transcrito, quando na

verdade, consoante alhures mencionado, tal obrigação já constava do ordenamento

jurídico vigente, inclusive da própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, bem como de nossa Constituição Federal.

Pior.

Existem aqueles que pensam (ou poderão vir a pensar), em razão da citada

inovação legislativa, que sua obrigação para com a solução do problema da evasão

escolar se resume ao cumprimento de seu respectivo preceito, com a simples (para

não dizer simplória) e automática comunicação do atingimento, por um ou mais

alunos, do mencionado percentual legal.

Ledo engano.

O contido no art. 12, inciso VIII da Lei nº 9.394/96 apenas veio a se somar aos

demais dispositivos legais e constitucionais que visam combater a evasão escolar,

devendo ser junto a eles interpretado.

Para tanto, deve-se partir do princípio que os objetivos da educação, na clara

dicção do art. 205 da Constituição Federal, em muito extrapolam o simples ensino

das disciplinas curriculares, exigindo que a escola se torne cada vez mais um

espaço de democrático, aberto aos pais e à comunidade em geral, que tem por

missão ajudar a transformar e chamar `responsabilidade, de modo que todos

participem desse necessário processo de construção da cidadania de nossos

jovens, de seus pais além, é claro, dos próprios profissionais do ensino, numa

permanente e saudável dialética.

Inconcebível, portanto, que a escola se preste a uma atuação meramente

burocrática e pragmática junto à comunidade escolar, em especial no que diz

respeito ao combate à evasão escolar, através do cumprimento puro e simples do

comando citado art.12, inciso VIII da Lei nº9. 394/96.

Se semelhante conduta já não se mostra compatível com o enunciado do

art.205 da Constituição Federal,máxime quando praticada por uma instituição que

tem a vocação natural de se tornar um verdadeiro “centro de formação de cidadão”,

sua flagrante inadequação fica ainda mais evidenciada quando considerados os

demais dispositivos que tratam da matéria e a própria sistemática da Lei nº9.384/96,

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notadamente seus arts.5º,§1º, inciso III e 12, incisos VI e VII, que por sua vez

encontram respaldo no art.208, §3º da Constituição Federal acima citado,

estabelecendo claramente a obrigação de que a escola promova uma necessária

articulação com os pais ou responsáveis pelos seus alunos e, em especial, com

toda a comunidade , de modo a prevenir e evitar a evasão escolar.

Não bastasse o estatuído na Lei nº 9.384/96 e dispositivos constitucionais

referentes especificamente à educação, não podemos esquecer que estes

comportam uma interpretação conjunta com as normas correlatas contidas no

Estatuto da Criança e do Adolescente, que em seus arts53 e 54 praticamente

reproduz o enunciado dos arts. 205, 206 e 208 da Constituição federal e, em seu

art.56, é categórico ao dispor que:

“Art.56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental

comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:

I – maus-tratos envolvendo seus alunos;

II – reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar,ESGOTADOS

OS RECURSOS ESCOLARES;

III – elevados níveis de repetência” (verbis – grifei)

A regra estatutária acima transcrita, que continua em pleno vigor, deve ser

obviamente interpretada à luz de toda a sistemática estabelecida pela Lei nº

8.069/90 com vista à proteção integral da criança e do adolescente, ex vi do disposto

em seus arts.1º e 6º ( que por sua vez encontram guarida no art. 227, caput, da

mera ameaça ou da efetiva violação de seus direito, pois afinal reza o art.70 do

citado Diploma Legal que:

“Art. 70. È dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação

dos direitos da criança e do adolescente” (verbis – grifei).

Assim sendo, é deveras evidente que compete às escolas, bem como aos

respectivos sistemas de ensino, a criação de mecanismos próprios, em ambos os

níveis, que estejam articulados com a rede de atendimento à criança e ao

adolescente existente no município (vide arts. 86, 88, incisos I e III, 101 e 129, todos

da Lei nº 8.o69/90), com vista ao combate à evasão escolar em caráter preventivo,

de modo a evitar, o quanto possível, o atingimento do percentual de faltas a que se

refere ao art. 12, inciso VIII da Lei nº 9.394/96 acima transcrito.

Nessa perspectiva, uma vez apurado que um aluno atingiu determinado

número de faltas, consecutivas ou alternadas (número este que por óbvio deve ser

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consideravelmente inferior ao percentual alhures mencionado), a própria escola

deve já procurar interceder diretamente junto à sua família, de modo a apurar a

razão da infrequência e, desde logo, proceder às orientações que se fizerem

necessárias, num verdadeiro trabalho de resgate do aluno infreqüente.

Caso persista a infrequência, a própria escola deve providenciar uma

avaliação mais detalhada de sua condição sócio-familiar e, também, submeter o

aluno a uma avaliação médica e psicológica, para o que deverá acionar diretamente

profissionais, serviços e programas próprios existentes nos sistemas de ensino e de

saúde.

Em entrando na “rede” de atendimento, com a presumível articulação dos

diversos programas que a integram (nesse sentido, mais uma vez vide art.86 da Lei

nº 8.069/90), o aluno será encaminhado de forma automática (embora criteriosa), às

intervenções e equipamentos que se mostrem necessários para promover seu

retorno - com aproveitamento, aos bancos escolares, sem é claro perder de vista

que o referido atendimento se estende também à sua família, à qual cabe ser

orientada, trabalhada e, se for o caso, tratada, de modo a cumprir seu indelegável

papel nesse processo de reintegração escolar.

Apenas caso esgotados todos os recursos de que a escola e o sistema de

ensino dispõe, é que se deverá efetuar a comunicação das faltas reiteradas (com um

relatório das intervenções já realizadas), ao Conselho Tutelar e demais autoridades

públicas relacionadas no art.12, inciso VII da Lei nº 9.394/96, e para tanto, é claro,

sequer é necessário atingir o percentual de 50% ( cinqüenta por cento) do máximo

de faltas admitido em lei, pois repita-se, o objetivo do citado dispositivo, assim como

de toda a sistemática estabelecida pelas Leis nº 9.394/96 e 8.069/90, é com a

prevenção da ocorrência da evasão escolar, e isto Dave ocorrer no dia-a-dia da

escola.

Conclui, pois que a necessidade de uma atuação preventiva da escola de

modo a evitar a evasão escolar não surgiu com a Lei nº 10.287/01 nem com o

dispositivo que esta acrescentou à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

mas sim resulta de uma aplicação sistemática de dispositivos outro já contido neste

mesmo Diploma Legal, além de outros previstos no Estatuto da Criança e do

Adolescente em razão da Doutrina da Proteção Integral à Criança e ao Adolescente

que inspira além, é claro, de encontrar ampla guarida em normas constitucionais

correlatas.

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A atuação que se espera da escola com vista ao combate à evasão escolar

não se resume, pois, à singela e burocrática comunicação do atingimento, por parte

de um ou mais de seus alunos, do percentual a que se refere o art.12, inciso VIII da

Lei nº 9.394/96, mas sim deve em muito a preceder, através da criação e do

acionamento de mecanismos internos e a nível de sistema de ensino, que estejam

por sua vez articulados com toda “ rede” de atendimento à criança e ao adolescente

existente no município, que permitam o “resgate” do aluno infreqüente ou já evadido,

a orientação e responsabilização de sua família, muito antes daquele marco, que se

espera não seja atingido.

Fundamental, portanto, a mobilização da comunidade escolar e da sociedade

em geral em torno da problemática da evasão escolar, no mais puro espírito do

preconizado pelo art.88, inciso VI da Lei nº 8.069/90, sendo válida a realização de

campanhas de conscientização que venham a esclarecer e sensibilizar a todos –

pais, professores, diretores de escola, dirigentes dos sistemas de ensino, órgãos e

entidade de defesa de direitos de crianças e adolescentes etc., distribuindo-lhes

tarefas e estabelecendo uma estratégia para o atendimento crianças de crianças e

adolescentes infreqüentes desde a detecção das primeiras faltas injustificadas,

sendo que como exemplo de uma experiência bem sucedida nesse sentido, temos a

campanha “volte pra ficar”, deflagrada em Presidente Prudente/SP, cuja descrição e

sistemática de atuação se encontram publicadas na página do CAOPCA/PR na

internet, item “doutrina”, tópico “educação”.

Por fim, resta mencionar que o combate à evasão escolar começa com o

fornecimento de uma educação de qualidade, com professores capacitados,

valorizados e estimulados a cumprirem sua nobre missão de educar (e não apenas,

como mencionado alhures, ensinar), dando especial atenção àqueles alunos que

mostram mais indisciplinados e que apresentam maiores dificuldades no

aprendizado (pois são estes mais do que qualquer outro, que precisam de sua

intervenção), exercendo sua autoridade, estabelecendo limites e distribuindo

responsabilidades, sem jamais deixar de respeitá-los; conselhos escolares

realmente participativos, representativos e atuantes; escolas que apresentem

instalações adequadas, asseio, organização e segurança, enfim, que haja um

ambiente propício ao estudo e à aprendizagem, no qual o aluno se sinta estimulado

a permanecer a aprender.

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EVASÃO ESCOLAR

LUIZ ANTONIO MIGUEL FERREIRA - PROMOTOR DE JUSTIÇA/SP

1. INTRODUÇÃO

A educação, segundo estabelece a Constituição (arts. 205 e 227), é um direito

público subjetivo que deve ser assegurada a todos, através de ações desenvolvidas

pelo Estado e pela família, com colaboração da sociedade.

Quando trata especificamente do direito à educação destinada às crianças e

aos adolescentes, o Estatuto da Criança e do Adolescente ( art.4º )o descreve como

um dever da família, comunidade, sociedade em geral e do Poder Público.

Destas normas, constata-se que a educação não é um direito cuja

responsabilidade é imposta exclusivamente a um determinado órgão ou instituição.

Na verdade, é um direito que tem seu fundamento na ação do Estado, mas que é

compartilhada por todos, ou seja, pela família, comunidade e sociedade em geral,

resultado evidente que a “educação deixou de ser um tema exclusivo dos

trabalhadores da área para ser uma questão de interesse de toda a sociedade”[2]

Assim, por força da Constituição e do ECA, são parceiros necessários quando

o tema é educação: Família, Escola, conselho Tutelar, Conselho da Criança e do

Adolescente, Diretoria de Ensino, Secretarias de Educação, Assistência Social e

Saúde, Universidades, Polícia Militar e civil, Ministério Público e Judiciário.

Devem atuar de forma independente e harmônica (nos moldes dos poderes

da união) ou num regime de colaboração mútua e recíproca, sendo que,

dependendo de cada situação, acabam atuando deforma direta ou indireta, para

garantia da educação. A atuação conjunta não tem o condão de afastar a autonomia

da escola, mas deixa evidente que as ações tomadas no âmbito escolar são

passíveis de controle e questionamentos.

Dentro desse contexto, verifica-se que, entre os vários problemas que afligem

a educação, a evasão escolar e a reiteração de faltas injustificadas, apresenta-se

como um grande desafio àqueles que estão envolvidos com o referido direito. É uma

questão relevante, a ponto do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelecer a

necedade de ser partilhado tal problema, para evitar a sua ocorrência [3], deixando

de ser um problema exclusivo e interno da instituição de ensino. Quando tais

situações se verificam, constata-se que o direito a educação não está sendo

devidamente respeitado, justificando a necessidade de intervenção dos órgãos

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responsáveis, conforme apontados na Constituição e no Estatuto da criança e do

Adolescente.

Esta intervenção, como já afirmado, há de ser compartilhada, posto que a

simples atuação de um órgão ou instituição apenas, não garante o sucesso do

regresso ou permanência do aluno na escola. A intervenção conjunta é a que melhor

atende aos interesses de todo, posto que cada um, dentro de sua especificidade,

reúne meios para tentar reverter o quadro de evasão ou infrequência do aluno.

Ademais, a situação da escola junto à família é diferente da intervenção do

Judiciário ou do Conselho Tutelar frente a mesma família. Somada as formas de

intervenção, a reversão do quadro evasivo se mostra mais eficaz.

Destarte, o combate á evasão escolar ou reiteração de faltas injustificadas

dos alunos é uma forma de garantir o direito à educação, sendo um dever imposto a

todos, que devem atuar de forma independente e harmônica, para garantir o

sucesso da intervenção

2. Causas da evasão escolar

São várias e as mais diversas as causas da evasão escolar ou infrequencia

do aluno. No entanto, levando-se em consideração os fatores determinantes da

ocorrência do fenômeno, pode-se classificá-las, da seguinte maneira:

ESCOLA: não atrativa, autoritária, professores despreparados, insuficiente, ausência

de motivação, etc.

ALUNO: desinteressado, indisciplinado, com problema de saúde, gravidez, etc.

PAIS/RESPONSÁVEIS: não cumprimento do pátrio poder, desinteresse em relação

ao destino dos filhos,etc.

SOCIAL: trabalho com incompatibilidade de horário para o estudo, agressão entre os

alunos, violência em relação a gangues, etc.

Estas causas, como já afirmado, são concorrentes e não exclusivas, ou seja,

a evasão escolar se verifica em razão da somatória de vários fatores e não

necessariamente de um especificamente. Detectar o problema e enfrentá-lo é a

melhor maneira para proporcionar o retorno efetivo do aluno à escola.

Este trabalho torna-se complexo, posto que para detectar tais causas, há

diversos interesses que camuflam a real situação a ser enfrentada. Com efeito, ao

colher informações juntos aos professores e/ou diretores, muitos apontarão como

causa da evasão as questões envolvendo os alunos. Estes por sua vez, apontam

como motivo a própria escola, quando não os professores diretamente[4] , entre

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outras causas. Há uma troca de “acusação”, quanto aos motivos determinantes da

evasão.O importante é diagnosticar o problema para buscar a solução, já que para

cada situação levantada existirá um caminho a ser trilhado.

3. FORMAS DE INTERVENÇÃO

Como afirmado, dependendo de cada uma das situações detectadas,

ocorrerá a intervenção daquelas pessoas e instituições que estão diretamente

obrigadas com a educação, por força da Constituição e do Estatuto da Criança e do

Adolescente, sendo que atuarão dentro dos limites de sua competência e atribuição,

utilizando-se de todos os recursos disponíveis.

Assim, podem-se constatar as seguintes situações:

3.1- ESCOLA

Quando a evasão dos alunos ocorre em razão da escola ( incluindo a parte

pedagógica, pessoal e material),devem atuar diretamente para solucionar o

problema, a própria ESCOLA, a DIRETORIA DE ENSINO(Estado) e SECRETARIA

DE EDUCAÇÃO (no âmbito municipal), visando a melhoria do ensino, para torná-lo

mais atraente ao aluno evadido.

Indiretamente, atuam os CONSLHOS MUNICIPAIS E ESTADUAIS DA

EDUCAÇÃO, DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE e as UIVERSIDADES,

estabelecendo uma política de melhoria do ensino e criando alternativas para o

problema, com vistas a uma escola democrática, emancipadora, autônoma e de

qualidade.

3.2- Aluno

Quando o problema da evasão estiver centrado no comportamento do aluno,

a intervenção direta deve ocorrer na (e pela) FAMÍLIA, ESCOLA, CONSELHO

TUTELAR, MINISTERIO PÚBLICO E PODER JUDICIÁRIO.A atuação da família e

da escola é a mais ampla possível, sendo que os demais atuam com base no que

diz a legislação menorista (ECA) ou da educação (LDB).

3.3- Pais/responsáveis

No caso do aluno deixar de freqüentar a escola, em razão do comportamento

dos pais ou responsáveis, a intervenção ocorrerá diretamente pela ESCOLA,

CONSELHO TUTELAR, MINISTÉRIO PÚBLICO e PODER JUDICIÁRIO.

Indiretamente, atuam as SECRETARIAS DE ASSISÊNCIA SOCIAL e

SAÚDE.

3.4- Social

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Por fim, quando se constata que a evasão escolar se verifica por questão

social, com trabalho, falta de transporte, medo de violência, etc., devem atuar

diretamente para solucionar o problema a FAMÍLIA, ESCOLA, CONSELHO

TUTELAR, MINISTÉRIO PÚBLICO e PODER JUDICIÁRIO.

Indiretamente a SECRETARIA DE ASSITÊNCIA SOCIAL POLICIA MILITAR E

CIVIL.

4. QUANDO INTERVIR PARA EVITAR A EVASÃO ESCOLAR

Segundo estabelece o artigo 24 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação a

carga horária mínima anual, para a educação básica, nos níveis fundamentais e

médios, será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de

efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando

houver(1). Estabelece ainda que o controle de freqüência fica a cargo da escola,

conforme o disposto no seu regime e nas normas do respectivo sistema de ensino,

exigida a freqüência mínima de setenta e cinco por cento (75%)do total de horas

letivas para a aprovação(VII).

Assim, a intervenção com sucesso pra evitar a ocorrência da evasão escolar

ou infrequência do aluno, deve se realizar quando se constata que a sua ausência

pode comprometer o ano letivo, ou seja, a intervenção tem que ser preventiva, para

não prejudicar ainda mis o aluno.

O principal agente do processo para o combate a evasão escolar é o

PROFESSOR, face ao seu contato direto e diário com o aluno, cabendo diagnosticar

quando o mesmo não está indo a escola(sem justificativa) e iniciar o processo de

resgate.

5. PROCEDIMENTO PARA A INTERVENÇÃO

Uma vez que a evasão e freqüência do aluno é um problema que deve ser

compartilhado por todos aqueles que são apontados como responsáveis pela

educação (família, comunidade, sociedade em geral e o Poder Público) e tendo em

vista o disposto no artigo 56, II do ECA, que determina aos dirigentes de

estabelecimentos de ensino fundamental a comunicação ao Conselho Tutelar dos

casos de reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os

recursos escolares, torna-se necessário estabelecer um procedimento uniforme para

uma atuação eficiente de uma rede envolvendo todos os agentes responsáveis. Há

necessidade de se elaborar um plano de orientação das ações a serem executadas.

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O professor é quem inicia o processo, quem aciona a rede de combate à evasão,

mas os atos seguintes devem ser concatenados, tendo todos ciências das medidas

tomadas ou que irão ser tomadas, para o sucesso da intervenção.

Este procedimento deve atender às peculiaridades de cada região,

competindo aos órgãos envolvidos estabelecer a melhor forma de como intervir com

detalhamento de cada ato, até a final intervenção do poder judiciário. É conveniente

que todos tenham ciências das providências já tomadas, para se evitar a repetição

de ações.

Existem alguns modelos que podem ser seguidos, tais como:

5.1 – FICAI – Ficha de Comunicação do Aluno Infrequente

Modelo adotado no Rio Grande do Sul, onde se buscou realizar um trabalho

de resgate do aluno de forma uniformizada e compartilhada, em curto espaço de

tempo.

Esta atuação ocorre em um prazo de cinco semanas, assim distribuído: uma

semana para o professor da turma ou disciplina dar o alerta à direção; uma semana

para a equipe diretiva, juntamente com o Conselho Escolar (e a comunidade), tomar

as providências no âmbito escolar; duas semanas para o Conselho Tutelar aplicar as

medidas cabíveis; e uma semana para o Ministério Público exercer as suas

atribuições.

Esgotadas as providências no âmbito escolar para a reinserção do aluno,

caberá a Equipe Diretiva encaminhar a 1º e 3ª vias das fichas do FICAI ao Conselho

Tutelar e, na sua falta à Autoridade Judiciária, resumindo os procedimentos

adotados. O conselho tutelar, no âmbito de suas atribuições, poderá tomar as

medidas pertinentes em relação aos pais ou ao aluno. Não logrando êxito,

encaminhará a 1ª via da ficha do FICAI à Promotoria de Justiça, comunicando à

escola tal providência. De posse da 1ª via, o Promotor de Justiça, ciente das

medidas tomadas pela escola e pelo Conselho Tutelar, no âmbito de suas

atribuições, buscará resgatar o aluno. Em qualquer caso, o Promotor de Justiça,

dará ciência do ocorrido ao Conselho Tutelar e à Escola, efetuando a devolução da

1 via da ficha do FICAI à escola, que registrará o ocorrido na 2ª via (que tinha ficado

na própria escola), encaminhando a 1ª via à Secretaria da Educação[5].

5.2 – LEI Nº10.498 DE 05 DE JANEIRO DE 2000. – MAUS TRATOS

Outro procedimento que pode ser seguido é o da Lei 10.498 de 05 de Janeiro

de 2000, que estabelece o rito para a denúncia referente aos maus tratos no Estado

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de São Paulo. A referida lei contempla uma ficha padrão (modelo) a ser

encaminhada pelos órgãos interventores, na qual constam os dados de quem faz a

denúncia, da vítima (criança ou adolescente), breve relato da situação e o tipo de

violência identificada.

No caso da evasão escolar, a referida ficha poderia ser adaptada, constando

a identificação do professor informante e da escola onde o aluno estuda. Dados

identificadores do referido aluno e um breve relato de sua situação em relação a

evasão ou ao número de faltas, bem como de seu rendimento as medidas tomadas

pela escola quanto as providências para resgatar o aluno evadido e seus resultados,

para posterior encaminhamento ao Conselho Tutelar e na sua falta à Autoridade

Judiciária. Haveria também, a necessidade de se estabelecer uma seqüência de

informaçãoes quanto aos procedimentos adotados por cada órgão interventor, para

se estabelecer a rede.

6. A INTERVENÇÃO DO CONSELHO TUTELAR

O Conselho Tutelar corresponde ao controle externo da Escola quanto à

manutenção do aluno no referido estabelecimento de ensino. Este controle não

envolve a atuação da escola e sim o aluno evadido ou infreqüente e seus pais ou

responsáveis. Por isso, sua intervenção é supletiva, somente ocorrendo após a

escola ter esgotados os recursos para a manutenção do aluno. Está amparada nos

artigos 56, II e 136, I e II do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Com relação aos alunos evadidos ou infreqüentes as medidas de proteção

que o conselho Tutelar poderá tomar estão especificadas no artigo 101, I a VII, do

Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo as seguintes:

I – encaminhamento aos pais ou responsáveis, mediante termo de responsabilidade;

II – orientação, apoio e acompanhamento temporário;

III –matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino

fundamental;

IV – inclusão em programas comunitário ou oficial de auxílio à família, `criança e ao

adolescente;

V – requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime

hospitalar ou ambulatorial;

VI – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento

a alcoólatras e toxicômanos;

VII – abrigo em entidade.

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Quanto aos pais ou responsáveis as medidas aplicadas pelo Conselho Tutelar

estão previstas no artigo 129, I a VII do Estatuto da criança e do Adolescente, e são

as seguintes:

I – encaminhamento ao programa oficial ou comunitário de proteção à família;

II – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a

alcoólatras toxicômanos;

III – encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

IV – encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

V – obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e

acompanhamento escolar;

VI – obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;

VII – advertência.

Pode ainda representar ao Ministério Público, para eventual propositura de

ação civil pública, quando o problema é relativo à escola (art.208, parágrafo único do

ECA).

7. A INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO E JUDICIÁRIO

Uma vez esgotada a intervenção do Conselho Tutelar sem sucesso quanto ao

retorno do aluno evadido, deve o mesmo comunicar o fato ao Ministério Público ou

Autoridade Judiciária. (art. 136, III, “b”e da ECA).

A intervenção, neste caso, é mais ampla podendo ser aplicada a criança ou

adolescente qualquer uma das medidas de proteção (art. 101) bem como as

medidas pertinentes aos pais ou responsáveis (art.129), ou seja, além daqueles que

o Conselho Tutelar aplica, ainda pode ocorrer a colocação da criança ou do

adolescente em família substituta (art. 101, VIII), a perda da guarda, destituição da

tutela e a suspensão ou destituição do pátrio poder (art. 129, VIII,IX e X).

Estas últimas medidas são mais drásticas, mas têm previsão legal, posto que

o legislador menorista apontou como um dos deveres dos pais a educação dos filhos

(art. 22e55 do ECA).

Também pode ser processado criminalmente pela infração ao artigo 246 do

Código Penal, que trata do abandono intelectual. Este abandono intelectual refere-

se a instrução primária, só os pais respondem (ficando de fora os responsáveis –

guardiões, tutores, padrastos, madrastas, etc.), sendo que esta obrigação decorre

do pátrio poder (art.22) e da obrigação que a lei lhe impõe quanto à necessidade de

matricular o filho na escola (art.55)

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Os pais ou responsáveis também poderão responder por infração

administrativa prevista no ECA (art.249), quanto ao fato de descumprir, dolosa ou

culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder,, ou decorrentes da tutela ou

guarda, bem como determinação da Autoridade Judiciária ou do Conselho Tutelar.

Neste caso estão sujeitos a uma multa de três a vinte salários de referência,

aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando a educação passa a ser analisada com base no ideário da lei,

constata-se que há uma distância em relação a realidade. “De um lado a lei,

estabelecendo: toda criança na escola: educação direito de todos e dever do Estado

e da família; direito fundamental assegurado com prioridade absoluta à criança e ao

adolescente; direito público subjetivo. De outro lado, a realidade que conduz à lógica

da exclusão. Desigualdades dramáticas; políticas públicas direcionadas a

conveniências e oportunidades; famílias desestruturadas; escolas inertes frente aos

fracassos repetidos quase que de forma programada”[7]

Diante deste quadro, fica patente a necessidade do comprometimento de

todos aqueles que estão ligados à educação, para encurtar a distância entre o que

diz a lei e a realidade, sendo uma das frentes de ação, o combate à evasão escolar,

a fim de garantir a formação do cidadão e sua inserção na sociedade, de modo a

contribuir para a sua transformação.

Escola, Família, Comunidade, sociedade em geral e Poder Público são co-

responsáveis pela formação educacional da criança e do adolescente, sendo certo

que a evasão escolar constitui uma negação desta formação. O princípio da

prioridade absoluta, constitucionalmente garantido quanto a educação, somente será

cumprido, quando o problema da evasão escolar for enfrentando de forma

articulada, com vista a sua gradual redução.

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Reprodução: Lourival dos Santos

Muitos dos que procuram a escola no início do ano não permanecem.

A ESCOLA NOTURNA DE ENSINO MÉDIO NO BRASIL

ANA CECÍLIA TOGNI E MARIA JANE SOARES CARVALHO

Neste texto, as autoras discutem o ensino noturno no Brasil mostrando que

este apresenta altos índices de desistência escolar e baixa frequência dos alunos.

Ele foi criado para satisfazer as necessidades postas e também para atender as

reinvidicações da classe tranbalhadora. A princípio foi instituído somente para

trabalhadores do sexo masculino que não tinham tido a oportunidade de estudar na

idade correta, depois estendido aos demais. Porém, o ensino noturno se organizou

tal como estava organizando o ensino no diurno, não construindo uma identidade

própria, características próprias para atender as necessidades dos alunos que a

frequentam que na maioria das vezes procuram esse perído pela necessidade de

trabalhar para sobreviver.

A ESCOLA NOTURNA DE ENSINO MÉDIO NO BRASIL

Ana Cecília Togni & Maria Jane Soares Carvalho

1. INTRODUÇÃO

O ensino noturno é quase sempre considerado nos meios educacionais como

um problema, uma fonte de insatisfação que necessita ser sanada. Parece que

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(Carvalho, 1998) é realmente um problema sem saída, pois com muita freqüência é

oferecido àqueles que dispõem de menos recursos.

Não se deve esquecer que o período noturno faz parte da história da

escolarização e que apesar de ter se constituído a partir de disposições

governamentais, estas disposições vieram atender a reivindicações populares.

Ao que se sabe, as primeiras notícias acerca da existência de ensino noturno

no Brasil, datam do tempo do Império. Nos registros de Primitivo Moacyr

(1936,1939) encontram-se dados de que entre 1869 e 1886, escolas noturnas para

adultos funcionavam em diversas províncias do país. Esses cursos estavam

relacionados, já naquela época, aos adultos analfabetos, que não tinham acesso à

escola em idade própria e que não tinham tido possibilidade de freqüentar aulas no

período diurno, por estarem trabalhando.

Essas escolas foram as primeiras formas de organização do ensino noturno

no país assumidas pelo poder público. Antes disso, as iniciativas de oferecer

escolarização eram de ordem privada. Deve-se salientar, ainda, que o acesso aos

cursos noturnos era muito restrito, pois estes eram oferecidos apenas nas capitais

das províncias ou em alguns centros urbanos maiores.

Desde a Monarquia (Arco-Verde, 2006) até a constituição da República, há

indícios de reconhecimento da importância do ensino noturno. No entanto, esse

reconhecimento sempre foi e ainda é marcado por um tratamento diferenciado do

que se dá ao ensino diurno.

Desde o início do funcionamento das classes noturnas, os envolvidos neste

processo enfrentavam dificuldades diversas, entre as quais se pode salientar:

• As gratificações pagas aos professores variavam de acordo com o número

de alunos atendidos.

• Nas primeiras escolas noturnas, a freqüência só era permitida a alunos

adultos do sexo masculino.

• A autorização para o funcionamento dessas escolas só era permitida se

não interferisse nas atividades das escolas regulares diurnas.

• O programa, a legislação, os critérios e as disciplinas oferecidas eram as

mesmas dos cursos diurnos.

Deve-se dizer, ainda, que, inicialmente, as classes noturnas eram voltadas

para a alfabetização de adultos e o prosseguimento de estudos iniciais, mas a

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necessidade fez com que também o ensino secundário, hoje ensino médio,

passasse a ter cursos noturnos.

Este artigo trata da problemática que envolve estes cursos.

2. O ENSINO MÉDIO NOTURNO

Até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Brasileira,

em 20 de dezembro de 1996, os cursos de ensino médio eram denominados ensino

secundário, primeiramente, e, a seguir, ensino de 2.º grau.

Ao longo do tempo, o ensino médio noturno tem sido conduzido como uma

cópia do que se faz no período diurno. Não tem, portanto, uma identidade própria.

Além de estar subordinado a uma lei generalizada, o ensino noturno

apresenta outras inconveniências e algumas características peculiares, que

precisam ser levadas em conta para se contemporizar as conseqüências: os

professores muitas vezes estão no terceiro turno de trabalho diário, quase todos os

alunos têm jornadas de trabalho de oito ou mais horas diárias, não raro em

atividades pesadas e difíceis, os conteúdos fogem da área de interesse dos alunos,

etc.

Muitas dificuldades se contrapõem a quem deseja promover situações de

aprendizagem com significado, a fim de reforçar conteúdos não devidamente

assimilados, ou para desenvolver um ambiente propício ao surgimento de relações

afetivas e sociais, tanto entre professores e alunos quanto entre os próprios alunos.

Parece-me, então, que as condições de funcionamento das escolas noturnas

de ensino médio não atendem aos princípios que nortearam o seu surgimento nos

anos 50, ou seja, atender às necessidades de prosseguimento dos estudos quando

o diploma ginasial não mais atendia às necessidades da população estudantil.

O apogeu desse funcionamento aconteceu na década de 70, com a abertura

de muitas escolas particulares de 2.º grau e também algumas estatais e, na de 80,

com a expansão do número de cursos de 2.º grau nas escolas públicas. Rodrigues

(1995, p. 62) ressalta que a demanda foi tão expressiva, que a Assembléia Nacional

Constituinte, instalada durante os anos de 1987/1988, decidiu assegurar, através da

Constituição Federal, o acesso à escola noturna.

A Constituição diz, no artigo 208 do capítulo III:

O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de:

Inciso VI - oferta de ensino noturno regular adequada às condições do educando.

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No entanto, Kuenzer (1988) e Rodrigues (1995) dizem que a generalização

dos cursos noturnos representou ao mesmo tempo a democratização do acesso à

escola, e o fortalecimento de mais uma divisão da própria escola.

A democratização é atestada não apenas pelo aumento do número de

matrículas ou pela expansão da rede pública, mas também pela possibilidade de, ao

menos a partir da década de 90, ter havido uma alteração qualitativa no perfil sócio-

econômico da clientela dos cursos de ensino médio. Os filhos de trabalhadores,

muitos deles já trabalhadores também, fizeram-se cada vez mais presentes nas

escolas de ensino médio, principalmente em anos mais recentes. E o ensino

noturno, apesar das dificuldades e problemas, contribuiu decisivamente para isso.

O ensino médio noturno, portanto, passou a ser assim denominado a partir da

promulgação da citada Lei, e é regido pela mesma legislação do ensino médio

diurno, formalizada nos artigos 35 e 36 da referida Lei:

Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de

três anos, terá como finalidades:

I A consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino

fundamental, possibilitando o prosseguimento dos estudos.

II A preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar

aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas

condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores.

III O aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética

e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.

IV A compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos

produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste capítulo

e as seguintes diretrizes:

I Destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da

ciência, das leituras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade

e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao

conhecimento e exercício da cidadania.

II Adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos

estudantes.

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III Será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória,

escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda em caráter optativo, dentro das

disponibilidades da instituição.

1.º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de

tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:

I Domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção

moderna.

II Conhecimento das formas contemporâneas da linguagem.

III Domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício

da cidadania.

2.º O ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para

o exercício de profissões técnicas.

3.º Os cursos do ensino médio terão equivalência legal e habilitarão ao

prosseguimento dos estudos.

4.º A preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a habilitação profissional,

poderão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em

cooperação com instituições especializadas em educação profissional.

Segundo Mello (1999), a Lei abre explicitamente as portas para um currículo

voltado para competências e não para conteúdos. Esse currículo tem como

referência não mais a disciplina escolar clássica, mas sim as capacidades que cada

uma das disciplinas pode criar nos alunos. Os conteúdos disciplinares se concebem,

assim, como meios e não como fins em si mesmos.

Como não existe distinção entre o ensino médio diurno e o ensino médio

noturno, e ambos os segmentos são regidos por essas mesmas diretrizes, deve-se

levar em consideração que:

Outra dimensão que as diretrizes do ensino médio consideram diz respeito ao que está ocorrendo no mundo do trabalho e no mundo da prática social, já que, diz a lei, a educação escolar deverá ser vinculada a ambos. As mudanças em curso na organização do trabalho deixam muitos educadores atônitos em relação ao perfil de habilidades e competências. O que aumenta a possibilidade de empregabilidade no mundo de hoje é a ênfase nas habilidades básicas gerais, têm grande importância a capacidade de análise, a capacidade de resolver problemas, a capacidade de tomar decisões e, sobretudo, ter flexibilidade para continuar aprendendo [...]. Fala-se inclusive em 'laborabilidade' em lugar de empregabilidade na medida em que essas competências constituem na verdade um trabalhador polivalente que pode, quando bem preparado, ser mais autônomo

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para decidir seu percurso no mercado de trabalho. (Mello, 1999, p. 166).

Resta, portanto, muito por fazer quanto às práticas pedagógicas nas escolas

que mantêm ensino noturno, para que o aluno egresso possa encarar bem o

mercado de trabalho. No entanto, é preciso considerar que, pela unificação jurídica

do sistema de ensino brasileiro, que não considera a grande diferença social

existente entre os estudantes que freqüentam a mesma escola em turnos diferentes,

(muitas vezes isso também ocorre nos turnos diurnos), na qual os mais abastados

vão à escola pela manhã e os "outros" à tarde, torna-se ainda mais evidente a

desigualdade real entre as oportunidades educacionais. É evidente (Rodrigues,

1995, p. 4) "que não se está a afirmar uma suposta excelência do ensino oferecido

durante o dia nas escolas públicas de 2.º grau, porém, é fato que à noite as

condições do ensino médio brasileiro são ajuizadas".

3. CARACTERIZANDO O ENSINO NOTURNO

Para possibilitar uma reflexão mais consistente sobre o ensino noturno, é

preciso que se conheça quem e quantos são os alunos que o freqüentam, bem

como a escola que lhes é oferecida.

Buscando tais informações, deparei-me com um quadro de jovens

estudantes, na sua maioria, inseridos no mercado de trabalho sem a devida

qualificação, e com jornadas de oito ou mais horas diárias. Constatei também que

eles assim estão por extrema necessidade de sobrevivência.

Esta condição de aluno-trabalhador talvez seja a característica mais forte dos

alunos do ensino médio noturno.

Talvez a característica mais marcante de um aluno do ensino noturno de 1.º e

2.º graus seja a condição de trabalhador desqualificado e superexplorado ao peso

de um salário vil e de uma insuportável dupla jornada de trabalho: a da fábrica, loja

ou escritório, e a da escola noturna. (Pucci, 1995, p. 31).

Considerando o fato de termos nas escolas, alunos trabalhadores, que, como

diz Arroyo (1986), "são trabalhadores que estudam", esse não é o ponto de partida

para se entender porque se dá o fracasso na escola pública, principalmente noturna,

mas, sim, é o ponto de partida para que se encontre uma possível, adequada e

necessária solução para este tipo de aluno.

Uma vez que os alunos dos cursos noturnos vão para a escola por motivos

diversificados, entre os quais se pode citar: que uma das condições que as

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empresas impõem ao contratar jovens trabalhadores é que estes estejam

matriculados em escolas noturnas, pois estudos realizados (Rodriguez e Héran,

2000) comprovam que 57% dos estudantes que estudam à noite, ou já trabalham,

ou estão em busca de trabalho; vão para a escola para encontrar seu grupo social;

ou, como dizem, para buscar algo melhor na vida.

Entre esses motivos, faz-se importante perguntar, o que, na verdade, um

jovem estudante trabalhador busca na escola à noite?

Ele busca sem dúvida "algo que lhe interesse", ou seja, além das

necessidades naturais quer também formação e informação que o auxiliem no dia-a-

dia, na luta pela sobrevivência. Se por acaso, a escola não lhe oferecer o que ele

busca, com certeza será impelido a abandoná-la. Outras motivações extra-escolares

também podem forçá-lo a esse abandono da escola.

Os alunos, portanto, buscam nas escolas muito mais do que instrução;

buscam igualdade de oportunidades e formas de não-exclusão. As experiências

vividas no ambiente de trabalho marcam profundamente a relação do aluno com a

escola e criam uma expectativa imediatista a respeito do que a escola pode lhes

oferecer.

Rodrigues (1995) afirma que esse trabalhador-estudante freqüentador dos

cursos noturnos, experimenta diariamente uma divisão social. Durante o dia ele

executa, efetua, realiza. E à noite, na escola, ele deve pensar, refletir, calcular e

planejar. Passa, portanto, da condição de trabalhador manual na maioria das vezes

para a condição de trabalhador intelectual o que faz com que ele estabeleça com a

escola um tipo de relação diferente daquela estabelecida pelos alunos que

freqüentam a escola em cursos diurnos. Um dos aspectos mais gritantes dessa

relação pode ser revelado na forma de exclusão que o ensino noturno provoca, pois

o aluno que o freqüenta recebe ensino defasado em relação ao oferecido nos cursos

diurnos.

A escola noturna como instituição não se refere ao seu aluno como

trabalhador. E, quando faz referência a essa condição de trabalhador, fá-lo de certa

forma paternalista ou autoritária, pois pretende se justificar uma diferença de

tratamento quanto à seleção de conteúdos e à avaliação ou à carga horária em

relação aos cursos diurnos. Esses argumentos costumam vir acompanhados de

justificativas como: o aluno vem cansado, ou não tem interesse ou ainda não tem

responsabilidade (atrasos, faltas, desistências).

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Evidentes defasagens ou falta de base em conteúdos já estudados e

supostamente aprendidos em séries anteriores são justificadas porque os alunos,

em grande parte das vezes, sustentam-se a si próprios, quando não, são "arrimo de

família". Esses alunos, se reprovados ou desistentes, matriculam-se novamente no

ano seguinte recomeçando o ciclo vicioso.

Essa defasagem provoca dificuldades ainda maiores para o prosseguimento

de estudos universitários ou técnicos, ou ainda, para melhorar sua posição na

empresa em que trabalha.

No entanto, se um dos motivos da opção por classes noturnas é que esses

jovens precisam trabalhar em tempo integral, isso não quer dizer que todos os

alunos do ensino médio noturno sejam trabalhadores com empregos fixos. Esta

afirmação pode conduzir a erros, pois a escolha por estudar à noite pode ser

motivada por outros aspectos que não o trabalho. Entre esses motivos, podem-se

citar:

• A idade. Muitos dos alunos tiveram de interromper os estudos quando não

tinham a idade própria para este nível de ensino, ou por terem tido reprovações

sucessivas.

• A inexistência de cursos de ensino médio diurno, o que acontece em muitos

pequenos municípios do Brasil.

• A procura de emprego para auxiliar na manutenção da família.

• A necessidade de auxiliar em trabalhos domésticos.

• A busca pela convivência com iguais.

• A busca pelas possíveis "facilidades" oferecidas nos cursos noturnos.

Por todos esses motivos, para eles está claro que "conseguir concluir o

ensino médio" será uma credencial importante perante o mundo em que vivem, uma

vez que, grande parte deles, são oriundos de famílias com baixo nível de

escolarização, o que os faz querer fugir do ciclo vicioso que a falta de escolarização

impõe.

O ensino médio, portanto, é um momento de muita importância no processo

de escolarização, para aqueles estudantes que conseguem chegar até esta etapa.

Em quase todos os municípios brasileiros há escolas públicas noturnas. E se

não há, os alunos são conduzidos a escolas nos municípios vizinhos, na maioria das

vezes em transporte público. Mas mesmo com essas facilidades, ainda há, conforme

dados do IBGE, muitos jovens fora da escola. A população jovem do país é de 28,8

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milhões1, o que corresponde a 20% da população brasileira. Em 2006, havia

8.906.820 matriculados no ensino médio sendo que destes em torno de 40% estão

em classes noturnas.

Outro fato a ressaltar é que, em classes de ensino médio noturno, convivem

alunos na faixa etária jovem, adequada para cursar este nível de ensino; e alunos já

mais amadurecidos, em busca de novas oportunidades. Essas faixas etárias

possuem diferentes perspectivas e percepções a respeito das condições de ensino-

aprendizagem a serem realizadas. Esses aspectos devem ser compreendidos por

outros agentes envolvidos no processo pedagógico neste nível de ensino.

Quem são eles, já que o ensino médio noturno, não "se faz" só de alunos?

Responder a esta questão é falar de professores e da infra-estrutura das escolas.

Quem são os professores que atuam em classes de ensino médio noturno? Por

exigência da legislação, grande parte deles possui titulação adequada, que é

Licenciatura Plena em sua área de atuação, para exercerem atividades pedagógicas

nas escolas. Registre-se, que há alguns Estados brasileiros onde todos os

professores possuem essa titulação.

Esses professores geralmente lecionam também durante o dia, pois os

contratos de trabalho são de 40 horas semanais, e, em alguns casos, 60 horas

semanais, pois os índices salariais não são coerentes com o trabalho realizado.

Quando chegam à escola, à noite, já estão, em muitos casos, no seu terceiro turno

de trabalho diário. Cansados, enfrentam classes numerosas e heterogêneas, e

dificuldades de infra-estrutura.

Outra dificuldade encontrada por esses professores é que os conteúdos a

serem desenvolvidos são os mesmos dos cursos diurnos. Não é levado em

consideração, pela estruturação dos cursos, que os interesses dos alunos do

noturno sejam diferentes daqueles do diurno e, portanto, a forma de trabalhar os

conteúdos também deve ser diferente.

A metodologia empregada por esses professores deve perpassar não

somente a seleção de conteúdos, mas deve ser precedida pela justificativa da

escolha desses conteúdos. Deve permitir também o preparo para a sua utilização

em sala de aula. Deve ser ainda considerada a avaliação contínua dos

procedimentos utilizados, tais como: técnicas, recursos, interações, atividades em

classe extraclasse, pois estas, por sua vez, prolongam a aula do professor. Outro

fator importante a ser levado em consideração é o registro do que ocorre para que

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estes momentos pedagógicos não sejam apenas fatos isolados, mas elos de uma

corrente que possibilitará a construção continua do conhecimento.

No entanto, por falta de tempo, ou até mesmo por desconhecimento das

atividades dos alunos e de suas expectativas, esses conteúdos são trabalhados da

mesma forma que nos cursos diurnos. São colocados os mesmos tipos de

exercícios, e são utilizados os mesmos livros didáticos, textos ou apostilas que nada

trazem para o atendimento das necessidades desses estudantes. Isso provoca

desinteresse e incentiva a conversa entre os alunos, não motivando situações de

aprendizagem significativas.

Por tudo o que foi dito, como deve se sentir o professor ao trabalhar em

escolas noturnas? Qual seu envolvimento com os alunos? E como são as interações

que deve ter com eles acerca dos conteúdos a serem estudados? Estará mesmo

comprometido com tudo isso?

Para tentar responder tais questionamentos, baseio-me em Carvalho (1998)

que diz:

Até que ponto lecionar à noite significa o empenho em trabalhar para a construção da cidadania do aluno, para a explicitação da inter-relação entre o saber produzido na academia e o produzido na indústria, na oficina, na loja, na lavoura? É comum, no entanto, pela rotina já estabelecida das salas de aula, que nem o realmente acadêmico chegue até a sala de aula, há o refugio dos livros didáticos, onde a simplificação atropela a compreensão dos conceitos. (Carvalho, 1998, p. 80).

A autora prossegue, dizendo que o desconhecimento, por parte dos

professores, das situações cotidianas vividas pelos alunos do ensino noturno, deixa

de estabelecer a ponte entre o conhecimento sistematizado da Escola e o

conhecimento do cotidiano impregnado do senso comum produzido pelo trabalho.

(Carvalho, 1998, p. 81).

Os professores, porém, quase sempre taxados como os culpados pelo

fracasso dos alunos, são também vítimas da estrutura organizacional que inclui os

cursos de ensino médio noturno, dentro da qual têm que realizar seu trabalho.

E, assim:

[...] ao enumerar as fragilidades que encontram no aluno trabalhador que tem, sob sua responsabilidade, nas condições de trabalho que dispõem para sua prática docente, no serviço, muitas vezes autoritário e omisso dos especialistas e do sistema de ensino dentro dos quais têm de se mover, os professores conduzem suas análises

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na direção também de sua própria fragilidade ante um problema complexo e de fortes implicações sociais. (Pucci, 1994, p. 185).

É necessário lembrar, então, que o ensino noturno, com seus alunos e

professores, está inseridos num contexto no qual os comprometimentos pelos

possíveis fracassos fogem da responsabilidade única e exclusiva do professor. É

preciso que as necessidades e as expectativas dos estudantes dos cursos noturnos

sejam atendidas.

Este é o desafio do profissional da educação que atua hoje nestes cursos. E

também é o desafio das autoridades responsáveis pelo ensino no país.

Neste contexto, qual é a Escola que recebe estes alunos e possui em seu

grupo de colaboradores esses professores?

A escola noturna que recebe esses alunos sejam eles trabalhadores

empregados ou não, e que possui entre seus funcionários, professores que, como

os alunos, vêm de uma segunda ou terceira jornada de trabalho, é uma escola que,

em grande parte das vezes, ressalta as diferenças sociais existentes. Quando os

alunos ingressam nas escolas, são tachados por uma série de preconceitos e

relegados a serem atingidos por praticas pedagógicas que cada vez mais os fazem

sentir as desigualdades sociais a que são submetidos. Essas desigualdades, ao

longo do tempo, têm consagrado a falta de oportunidades de acesso a níveis

melhores de ensino e de oportunidades de trabalho que os esperam ao término do

processo de escolarização.

Será essa a escola de ensino médio noturno que se quer para os jovens que

dela necessitam?

Parece-me que o objetivo primeiro não é esse, uma vez que a escola que

queremos e que devemos oferecer a estes estudantes consiste num ambiente de

incentivos (Rodrigues et al., 2003), de desafios, de construção de conhecimentos, de

transformações; enfim, um local onde possa haver debate acerca de questões

sociais e culturais, em que a comunidade escolar possa refletir e escolher os

princípios e valores que devem ser vivenciados, em que se permita aplicar um

projeto pedagógico que possa ser vivido e construído por todos. A escola que

queremos é um lugar onde todos e cada um possa refletir e discutir, bem como

construir relações sociais emancipatórias em que haja possibilidade da criação e da

recriação do fazer pedagógico de professores e alunos.

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Além de todas estas possibilidades é preciso não esquecer que talvez mais

do que os alunos da escola diurna, os alunos da escola noturna precisam também

ser integrados na "era da comunicação e da informação", pois, como diz Carvalho

(1998), a apropriação do saber científico e tecnológico presente no moderno

processo produtivo devem, necessariamente, integrar o currículo escolar e o fazer

dos professores, contribuindo para a própria transformação da escola em um local

de trabalho.

Desta forma, é preciso também oferecer ao aluno das escolas noturnas o

acesso às novas tecnologias2 como ferramenta de apoio à aprendizagem e também

como inclusão digital tão necessária no mundo do trabalho.

De outra forma, a Lei que rege este nível de ensino pressupõe, conforme

entendimento de Kuenzer (2001), que o compromisso da escola com os jovens é o

de lhes proporcionar educação para que possam participar política e produtivamente

no mundo das relações sociais concretas, utilizando-se do comportamento ético e do

compromisso político, conquistando autonomia tanto intelectual quanto moral.

Esta, por conseqüência, é a pergunta que paira: estão as escolas oferecendo

aos seus alunos a possibilidade de adquirirem estas habilidades?

Para que os estudantes de cursos médios noturnos possam adquirir estas

habilidades, as escolas deverão possibilitar-lhes através de seus projetos político-

pedagógicos, oportunidades de, ao longo da vida escolar, aprenderem

permanentemente; refletirem criticamente; agirem com responsabilidade individual e

social; participarem do trabalho e da vida coletiva; serem solidários; poderem

acompanhar, vivenciando as mudanças sociais; e enfrentarem problemas novos,

construindo soluções originais com agilidade e rapidez, a partir da utilização

metodologicamente adequada dos conhecimentos adquiridos, científicos ou

tecnológicos.

Não parece, todavia, que isso venha acontecendo; como já foi dito

anteriormente, as escolas, além de receberem alunos com características

peculiares, se entrincheiram dentro de medidas e padrões que nada dizem a esses

alunos.

Quanto ao uso de novas tecnologias, é pouco provável que as escolas de

ensino médio da rede pública possam oferecer este recurso a seus alunos, uma vez

que: a) os programas do governo federal que "dizem" oferecer laboratórios de

informática para as escolas, raramente "têm dado certo", e as escolas que são

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contempladas com esses projetos, raramente recebem a maquinaria prometida; b)

outras escolas que, por recursos próprios ou dos Círculos de Pais e Mestres

conseguem montar seus laboratórios, costumam mantê-los muitas vezes trancados

"à chave" por medo de violência ou de roubo; c) quando as escolas possuem

laboratório de informática, são os professores que têm dificuldades ou medo de

utilizar estes equipamentos.

Assim sendo, a inclusão digital ou o acesso às novas mídias, que poderia

também auxiliar os alunos no seu trabalho como "trabalhadores diurnos" fica

prejudicado.

Outro assunto, já abordado anteriormente, é o que se refere aos

conhecimentos científicos. Em virtude dos currículos defasados, os alunos das

escolas noturnas muitas vezes deixam de construir conhecimentos que lhes abririam

portas importantes na seqüência dos estudos e na ascensão profissional.

4. CONCLUSÕES

A questão fundamental a ser respondida agora é esta: quais são as condições

para que, dentro do processo ensino-aprendizagem, o aluno da escola noturna

esteja em busca de trabalho, iniciando-se nele ou já inserido no seu universo, e

possa construir sua aprendizagem com significado e para que essa aprendizagem

seja a base para sua vida, seja ingressando no ensino superior ou permanecendo no

mesmo nível?

Creio que os segmentos da escola pública necessitam ser revistos como um

todo: currículo, infra-estrutura, corpo docente, alunos e as necessidades de cada um

desses segmentos, pois não são ações isoladas ou grupos de pessoas (sejam

professores, pais ou autoridades) com boa vontade que conseguirão realizar todas

as modificações que esta escola necessita. É preciso, pois:

• Reestruturar a legislação que rege o ensino médio, separando as leis que

regem cursos diurnos daquelas que regem cursos noturnos.

• É urgente que as escolas conheçam melhor os profissionais que nelas

atuam, oferecendo-lhes melhores possibilidades de trabalho.

• A administração, seja de âmbito federal ou estadual, deve também fornecer

às escolas noturnas, além de legislação própria, equipamentos e infra-estrutura de

prédios e instalações.

• Os órgãos administrativos devem repensar as situações de trabalho e

salário dos profissionais da educação.

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• A escola, por sua vez, como instituição, deve oferecer aos alunos: currículo,

carga horária e avaliações adequadas à sua situação.

• Os professores necessitam melhores condições de trabalho, para que

possam também enxergar seus alunos de forma diversificada e com isso auxiliá-los

na construção significativa de conhecimentos, proporcionando, assim, promoção,

permanência e não evasão e repetência.

Creio, portanto, que se cada um dos segmentos envolvidos na criação,

administração, e manutenção das escolas noturnas se propuser a refletir, reavaliar e

transformar muitas das atividades e atitudes que hoje ocorrem nas escolas noturnas

de nível médio, com certeza haverá alunos e professores melhores e mais felizes.

EVASÃO ESCOLAR DO NOTURNO

Professor Cortez

A evasão escolar no período noturno nas escolas públicas é muito grave, mas

não é recente, há muitas décadas vem se arrastando, até o momento sem solução.

Esta situação tem preocupado muito diretores de escola e professores que atuam

nesse período, que não vêem contemplados os objetivos propostos.

O autor em seu trabalho aponta os motivos pelos quais os alunos abandonam

temporariamente ou definitivamente o estudo. Aponta o lado do aluno, os fatores

que influenciam nas suas desistências. Não deixa também de apontar as

dificuldades enfrentadas pelos professores ao realizar o trabalho no referido período.

E, finalmente dá sugestões para possíveis soluções.

EVASÃO ESCOLAR DO NOTURNO

Professor Cortez1

INTRODUÇÃO

Um dos sérios problemas enfrentados pelo ensino médio, principalmente no turno da

noite, é a evasão escolar. A ponto de colocar em dúvidas o funcionamento de alguns

cursos noturnos.

1 http://profecortez.blogspot.com/2007/04/evaso-escolar-do-noturno.html

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Este problema, muito acentuado no ensino público, tem preocupado as

direções de escolas que não vêem contemplados os objetivos propostos. Algumas

até com um alto índice de reprovação e

evasão escolar, atestando nas “entre

linhas” sua ineficiência na educação.

Com o propósito de procurar

entender um pouco melhor os motivos

que levam um aluno a desistir,

temporária ou definitivamente da escola,

dediquei um bom período do meu tempo

para pesquisar e produzir este ensaio.

A proposta deste trabalho e apontar algumas causas e possíveis soluções a

médio e longo prazo para o problema [1]. Quero ressaltar que são apenas

sugestões, pois um assunto tão complexo não é simples para ser solucionado.

Como ninguém nasce sabendo, os fundamentos que basearam este ensaio,

foram obtidos através de artigos e produções científicas, extraídas da Internet, livros

e revistas [2], de conversas com colegas, alguns alunos evadidos, da minha

experiência como professor e como aluno evadido do ensino médio durante cinco

anos.

Para um diagnóstico que relacione causa e solução com maior objetividade

possível, se faz necessária a abordagem tanto do lado “professor” quanto do lado

“aluno”.

LEVANTADO AS CAUSAS

A evasão escolar não é um problema recente, já se verifica há muito tempo.

Lembro que algumas escolas particulares tradicionais desta cidade há algum tempo

não apresentam ensino médio noturno [3]. O que levou estas escolas a tomar esta

atitude?

A resposta é simples: baixa procura e/ou alto índice de evasão escolar [4].

Como são escolas que não recebem subsídios, tem de arcar com as despesas do

funcionamento, como ocorre prejuízo, simplesmente desativaram o ensino médio

noturno, optando pelo ensino técnico, que é o que gera mais renda.

Na realidade o perfil do aluno da escola particular e bem diferente do aluno da

escola publica. Por exemplo: não necessita trabalhar, o sustento vem dos pais e

possui o claro objetivo de cursar uma faculdade.

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Nas instituições públicas existe o “amparo” do estado ou município,

mascarando de certa forma o problema. Por isso a necessidade da abordagem mais

ampla do assunto e sua conseqüente complexidade.

Usarei como método, a analise do lado do aluno, do professor e da escola.

O LADO DO ALUNO

Inicialmente é necessário que façamos um perfil do nosso aluno do noturno

hoje, para que se consiga entender as causas da evasão.

O aluno do ensino médio público noturno, em sua maioria, trabalha, está na

faixa etária inadequada para a série em que estuda e normalmente vive com os pais

(um ou ambos). Tem na escola a visão de uma chance para melhorar o salário

(profissão). A maioria só pretende terminar o ensino médio, não havendo

perspectiva de ingressar no ensino superior.

O aluno trabalhador tem no emprego a sua prioridade, relegando a escola a

um segundo plano. Segundo CARNEIRO, 2005:

“Pelas observações e pelos depoimentos analisados, conclui-se que dentre os impedimentos para que o aluno desenvolva com sucesso seu processo de escolarização destacam-se as pequenas empresas, informais ou não, de todos os ramos de atividades, as quais, ao arrepio da lei, salvo raras exceções (as que se preocupam em ter responsabilidade social), com seu descompromisso social criam entraves para que o aluno não freqüente regularmente a escola.”

Repare que este ponto nos leva a um paradigma, pois sendo o aluno

trabalhador e querendo melhorar financeiramente, deveria dar mais importância para

o estudo.

Mas o que leva este aluno do noturno ter este perfil de comportamento?

Estamos falando de uma pessoa que, trabalhadora ou não, chega no turno da

noite tendo uma atividade durante todo o dia. A grande maioria dos profissionais

graduados pelo ensino superior freqüentou a escola noturna. Inclusive nós

professores. Se lembrarmos do “nosso tempo”, enquanto aluno, veremos que não foi

muito diferente a nossa reação ao ensino. Nosso objetivo... Passar. Muitas vezes

chegávamos cansados e outras vezes desmotivados.

Mas o que realmente mudou neste perfil?

Certamente as opções de estudo. A tempos atrás ou você concluía o ensino

básico ou simplesmente não estudava. Hoje em dia, além dos cursos técnicos,

pagos ou gratuitos e muitas vezes financiados pelo empregador [5], existem

mecanismos que facilitam a formação do ensino básico, como o supletivo e a

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progressão parcial. O aluno muitas vezes “opta” por abandonar determinadas

matérias a fim de concluí-las mais adiante [6] já que não vê perspectivas de cursar

uma faculdade, não tem pressa em concluir o ensino básico.

Outro ponto importante do perfil do aluno do noturno [7] é o real uso do que

ele está aprendendo na escola. Se um aluno que não tem a perspectiva de um curso

superior, houve de um professor que é importante àquela matéria para o vestibular,

ele certamente irá se desinteressar pelo assunto.

Lembremos, novamente, do nosso tempo de aluno, se o professor dissesse

que esta matéria não iria “cair” na prova, nós a estudaríamos?

Mesmo que o aluno venha a decidir em fazer um vestibular, ele poderá fazer

um dos tantos cursos de pré-vestibular, que, aliás, são os que realmente preparam o

aluno para o concurso vestibular onde a competição é mais acirrada.

Ainda com relação ao uso do que o aluno aprende, é importantíssimo que ele

ache um uso prático para o que está aprendendo, só assim ele conseguirá resolver

o maior dos problemas atuais no ensino que é PRIORIDADE do estudo. Esta é uma

das razões que muitos alunos preferem o imediatismo de um curso técnico, onde

efetivamente irão utilizar o que aprendem.

Devemos considerar como “agravantes” neste processo de evasão, o fato do

turno da noite oferecer várias opções alternativas em relação à escola, como

cinema, festas, bares, etc. O diurno já não oferece tais opções. Na maioria das

vezes o aluno sai de casa com a intenção de realmente vir ao colégio, mas ao tomar

conhecimento de outro “programa” melhor acaba desistindo. Às vezes até

estimulado pelos colegas. Observo, ao dirigir-me à escola, que muitas vezes os

alunos ficam parados na frente do prédio, conversando sem a preocupação de

assistirem as aulas. A impressão que tenho, é a de que eles ficam esperando o

surgimento de outra opção, como desculpa, para não freqüentarem a aula.

Novamente a PRIORIDADE errada para o momento.

Nesta análise concisa, apenas considerei o perfil da maioria dos alunos. Não

me detive em exceções à regra (extremos) como, por exemplo, aqueles alunos que

são dedicados ao estudo e que podem sofrer uma breve queda em seu entusiasmo.

Ou ainda aqueles que assistem a primeira semana de aula e depois “desaparecem”

do mapa.

O LADO DO PROFESSOR

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È importante nesta análise, verificar até que ponto o professor pode

influenciar ou evitar a evasão escolar do noturno.

Não podemos esquecer que o professor do noturno, também é um

trabalhador durante o dia. Atua como professor ou em outra função. Também pode

ter estímulos negativos que façam com que “relaxe” o ensino. Os professores não

são “deuses” muito menos pessoas incansáveis.

Devemos saber os nossos limites. Se todos estão desmotivados o interesse

pela aula será muito fraco, permitindo uma evasão daquele aluno com incertezas

sobre o estudo.

Muitas vezes deixamos de prestar a atenção em alunos desinteressados em

razão de outros mais interessados; É aquela história de “dar aula só para os alunos

da frente”.

SUGESTÃO DE SOLUÇÕES

É muito importante que o professor diagnostique um possível aluno candidato

a evasão. Uma boa tática é conversar com os colegas a respeito de alunos cuja

freqüência está elevada. Se for diagnosticada falta em várias matérias, deve ser

comunicado à Orientação Educacional para medidas preventivas.

Outra idéia interessante é tornar as aulas mais atrativas, mesmo que se use

de artifícios não convencionais. Mas uma coisa eu tenho certeza, é de suma

importância a relação de amizade-confiança entre o professor e o aluno. Falar

abertamente com sinceridade, sem ferir o orgulho, sobre o caminho errado que o

aluno está tomando quando fala em desistir.

O mais importante de tudo é que somente o aluno vai desistir da idéia da

evasão quando a “ficha cair” o que muitas vezes independe da vontade do professor

ou dos colegas.

O que nós professores devemos fazer é reciclar nossos conteúdos fazendo

que os alunos do noturno realmente achem um uso efetivo do que ensinamos e não

só com a desculpa de que vão prestar um vestibular, quando em sua maioria se

quer o fazem.

Não podemos culpar professores ou alunos pela evasão, pois como já disse é

um problema muito complexo. Mas um bom começo é a mudança de postura no

ensino noturno do aluno, dando a devida prioridade que o ensino merece e do

professor, mudando sua postura como educador que deseja muito mais do que

somente alunos que passem de ano.

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Autor: Lourival dos Santos

A escola é extensão da família e esta também é extensão da escola. Portanto, ambas se completam.

4- FILME: ESCRITORES DA LIBERDADE

Esse filme nos retrata uma escola fundamentada na concepção tradicional de

educação, onde a realidade social dos alunos não é levada em consideração. A

diretora desta instituição é extremamente conservadora, não conhece a realidade

social dos alunos, ou seja, é descomprometida com a formação destes. Ela não

acredita na capacidade dos professores, não disponibilizando a estes materiais

didáticos suficientes para a realização de um bom trabalho e nem socializa o

conhecimento que possui.

Esta escola não é diferente das escolas públicas de nosso país,

principalmente em relação à falta de perspectiva dos alunos em relação ao futuro, ao

desinteresse e indisciplina.

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Uma nova professora chega a esta escola e não é bem recebida pela diretora

e também pelos professores da escola. Ela Assume a turma que era considerada a

mais problemática e começa a desenvolver um trabalho diferenciado. No início,

sentiu muitas dificuldades, mas nunca deixou de acreditar em sua capacidade como

profissional e no poder de mudança. E, através do diálogo, partiu do cotidiano, da

vivência dos alunos, foi colocando regras, deu também autonomia a eles, investiu

em materiais didáticos com recursos próprios. Enfim, demonstrou na prática diária

compromisso com a educação e acreditou nas possibilidades de mudança de uma

realidade já marcada pelo preconceito e exclusão social.

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