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FICHA PARA CATÁLOGO
PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: O despertar do leitor através dos contos
Autor Tânia Cristhina Alves Damásio
Escola de Atuação Colégio Estadual Afonso Pena – Ensino Fundamental e Médio
Município da escola São José dos Pinhais
Orientador Karine Marielly Rocha da Cunha
Instituição de Ensino Superior Universidade Federal do Paraná
Disciplina/Área Língua Portuguesa
Produção Didático-pedagógico Unidade Didática
Relação Interdisciplinar Arte, Geografia e História
Público Alvo Alunos do 1º ano – período: vespertino – Ensino Médio
Localização Colégio Estadual Afonso Pena – Ensino Fundamental e Médio. Rua
Agudos do Sul, 195.
Apresentação A leitura é a ferramenta que contribui tanto para o indivíduo melhor
compreender o mundo que o cerca, como também para um
consistente desenvolvimento pessoal. Porém, promover o prazer
literário e o hábito de leitura não é tarefa fácil, é um desafio
constante. Desta maneira torna-se imprescindível discutir,
questionar e analisar estratégias de intervenção que possam
contribuir para melhorar essas habilidades. Com base nisso, essa
proposta objetiva incentivar os alunos a tomarem gosto pela leitura
e a escreverem melhor como também formar leitores críticos,
fluentes, conscientes, criativos, e estimular a criação de textos,
discussões e debates. Pretende-se observar as possíveis leituras em
alguns contos e buscar os sentidos explícitos e implícitos dos
mesmos. Serão analisados os contos Apólogo e A Cartomante de
Machado de Assis, junto com o livro Joaquim e Maria e a Estátua
de Machado de Assis de Luciana Sandroni. Esta última obra utiliza
uma linguagem atraente, fácil e apresenta a possibilidade de se
encantar. As atividades estão relacionadas ao ensino e
aprendizagem e o público alvo desta intervenção será o aluno do
Ensino Médio.
Palavras-chave Leitura; Contos; Machado de Assis
APRESENTAÇÃO
Olá professor!
Esta Unidade Didática apresenta atividades relacionadas ao ensino
aprendizagem de leitura para os alunos do 1º ano do Ensino Médio.
Em decorrência das dificuldades que os alunos vêm apresentando quanto a
rejeição à prática de leitura e produção textual e, partindo do pressuposto que a
leitura é um elemento fundamental no processo de aprendizagem, organização
e construção do conhecimento, busca-se através destas atividades,
fundamentadas nas possíveis leituras do conto A Cartomante, de Machado de
Assis, junto com o livro João e Maria e a estátua de Machado de Assis, de
Luciana Sandroni, incentivar os jovens a ler e a se expressar de maneira que
tenham competência para interpretar qualquer mensagem na Língua
Portuguesa. Contribuindo na valorização da leitura como elemento eficaz na
formação do leitor/cidadão crítico.
A proposta de intervenção será voltada para o trabalho pedagógico com
o aluno, visando a superação de suas dificuldades quanto ao pensamento
crítico e reflexivo. Proporcionando-lhe diferentes abordagens, para que o
mesmo desenvolva o gosto pela leitura e aproprie-se da importância da leitura
na sua vida pessoal e profissional. Como saber ler significa estar aberto a um
mundo de oportunidades, faz-se necessário repensar o ensino da leitura na
escola.
Nesse sentido, o conto citado anteriormente contribui para que o aluno
reflita sobre o seu cotidiano e o mundo em que vive. E também possa perceber
que a leitura é capaz de modificar o seu meio e que o torne um sujeito crítico e
atuante na sociedade.
Precisamos então encarar o desafio de estimular o espírito crítico, e
também aproximar o leitor jovem dos textos de Machado de Assis, muitas
vezes tidos como difícil.
Desejo a você um ótimo trabalho!
INTRODUÇÃO
Tema de estudo: Incentivo a leitura através do conto de Machado de
Assis e Produção Textual
O propósito desta Produção Didático-Pedagógica é apresentar algumas
sugestões de atividades para se trabalhar o gênero CONTO e proporcionar aos
alunos uma familiaridade com um dos mestres da literatura brasileira João
Maria Machado de Assis, através da leitura do livro “João e Maria e a Estátua
de Machado de Assis, de Luciana Sandroni.
Trabalhar com contos em sala de aula é uma alternativa que auxilia a
prática da leitura, visto que são textos curtos, de fácil acesso, significativos. E,
devido a sua extensão, não intimidam o leitor, mesmo o machadiano utilizado
nesta unidade didática.
Os textos curtos permitem ao professor adequar, ao tempo-aula, as
dinâmicas e também, capacitar para a reflexão e compreensão de informações
implícitas no texto.
Segundo As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, “é tarefa da
escola que seus alunos participem de diferentes práticas sociais que utilizem a
leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas
esferas de interação”.
Esse material foi elaborado para ser aplicado no 1º semestre de 2013,
serve para contribuir no trabalho de implementação do Projeto de Intervenção
Pedagógica e tem como objetivo auxiliar o professor PDE em sala de aula.
Nessa intervenção, pretende-se apresentar, através da prática da leitura
de conto, temas que viabilizem caminhos para o aperfeiçoamento de jovens
leitores. As atividades de leitura e produção apresentam-se numa sequência
que facilitará a compreensão e a busca de novas leituras e encantamentos.
Você encontrará indicações de aplicação dos exercícios, explicações e
sugestões de aprofundamento apresentadas em negrito, caixa alta, itálico
como segue o exemplo:
PROFESSOR: indicações para o professor
Proposta de Intervenção Pedagógica
MOTIVAÇÃO
1º - Observe as gravuras:
PROFESSOR: procure gravuras que representem os vários tipos de leitura.
Questionamento:
a) O que estas gravuras representam?
b) Qual a importância da leitura em sua vida?
c) Você tem o hábito de ler? O que você gosta de ler?
d) Quantos livros você lê ao ano?
e) Você costuma ir ao cinema, teatro, museu, biblioteca?
2º - Agora, observem estas imagens:
Questões norteadoras:
1. Você lembra de alguma destas narrativas?
2. Como foi essa experiência? Alguém contou ou leu para você na
infância alguma dessas narrativas? E outras narrativas?
3. Existe alguma situação real de vida que vocês conhecem, retratada
nessas histórias?
4. Você já leu ou ouviu alguma história que poderia ter acontecido na
vida real?
ATIVIDADE 1
Exploração dos objetos:
a) Dividam-se em cinco grupos e analisem o objeto que está em sua mesa.
Converse com seus pares e elejam um integrante da equipe para
apresentá-lo à classe.
PROFESSOR: após essa atividade, comente que aqueles objetos tão
comuns em nosso cotidiano, foram usados como personagens principais
no conto Apólogo de Machado de Assis, cujo título significa uma
pequena história que revela uma lição de sabedoria, um ensinamento.
b) Façam a leitura silenciosa do conto.
PROFESSOR: pode-se fazer uma leitura oral, solicitando que um aluno
faça o papel da agulha, um sendo o novelo de lã e outro o narrador.
Um Apólogo
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para
fingir que vale alguma coisa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com
um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não
tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu.
Importe-se coma sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama,
quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que
quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao
outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando
você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno,
indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e
ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei
se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista
ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano,
pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.
Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das
sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para
dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda temia no que dizia há pouco? Não repara
que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os
dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima ...
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era
logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está
para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que ela não lhe dava respostas,
calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não
se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a
costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no
outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou
a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto
necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado
ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha,
para mofar da agulha, perguntou-lhe: — Ora agora, diga-me, quem é que vai
ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância?
Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a
caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande
e não menos experiência, murmurou à pobre agulha: — Anda, aprende tola.
Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí
ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para
ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a
cabeça: —Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
Machado de Assis
Questões sobre o conto:
1) Quem são os personagens do conto?
2) Defina o lugar em que transcorre a ação.
3) Você costuma solicitar os serviços de uma costureira?
4) Você acha que uma das personagens tem mais importância? Por quê?
5) O texto apresenta uma sociedade individualista ou não?
6) A nossa sociedade atualmente está menos individualista? Comente.
7) Há questões importantes nesse conto que nos faz refletir. Comente
sobre isso.
8) Quebra-cabeça do conto: dentro do envelope que está sobre a mesa, há
um conto embaralhado. Tentem reorganizá-lo.
PROFESSOR: a atividade 8 é uma sugestão, para que os alunos retomem
a sequência do conto.
ATIVIDADE 2
Moacir Scliar é um escritor da nossa época e escreveu o texto a seguir. Preste
atenção na leitura e tente adivinhar qual seria o título.
Moacyr Scliar
Moacir Scliar
Olá!
Não, não adianta olhar ao redor: você não vai me enxergar. Não sou
uma pessoa como você. Sou, vamos dizer, uma voz. Uma voz que fala com
você ao vivo, como estou fazendo agora. Ou então que lhe fala dos livros que
você lê.
Não fique tão surpreso assim: você me conhece. Na verdade, somos até
velhos amigos. Você me ouviu falando de Chapeuzinho Vermelho e do Príncipe
Encantado, de reis, de bruxas, do Saci-Pererê. Falo de muitas coisas, conto
muitas histórias, mas nunca falei de mim próprio. É o que eu vou fazer agora,
em homenagem a você. E começo me apresentando: eu sou o Conto. Sabe o
conto de fadas, o conto de mistério? Sou eu. O Conto.
Vejo que você ficou curioso. Quer saber coisas sobre mim. Por exemplo,
qual a minha idade.
Devo dizer que sou muito antigo. Porque contar histórias é uma coisa
que as pessoas fazem há muito tempo, muito tempo. É uma coisa natural, que
brota de dentro da gente. Faça o seguinte: feche os olhos e imagine uma cena,
uma cena que se passou há muitos milhares de anos. É de noite e uma tribo
dos nossos antepassados, aqueles que viviam nas cavernas, está sentada em
redor da fogueira. Eles têm medo do escuro, porque no escuro estão as feras
que os ameaçam, aqueles enormes tigres, e outras mais. Então alguém olha
para a lua e pergunta: por que é que às vezes a lua desaparece? Todos se
voltam para um homem velho, que é uma espécie de guru para eles. Esperam
que o homem dê a resposta. Mas ele não sabe o que responder. E então eu
apareço. Eu, o Conto. Surjo lá da escuridão e, sem que ninguém note, falo
baixinho ao ouvido do velho:
— Conte uma historia para eles.
E ele conta. È uma historia sobre um grande tigre que anda pelo céu e
que de vez em quando come a lua. E a lua some. Mas a lua não é uma coisa
muito boa para comer, de modo que lá pelas tantas o grande tigre bota a lua
para fora de novo. E ela aparece no céu, brilhante.
Todos escutam o conto. Todo mundo: homens, mulheres, crianças.
Todos estão encantados. E felizes: antes havia um mistério: por que a lua
some? Agora, aquele mistério não existe mais. Existe uma historia que fala de
coisas que eles conhecem: tigre, lua, comer – mas fala como essas coisas
poderiam ser, não como elas são. Existe um conto. As pessoas vão lembrar
esse conto para toda a vida. E quando as crianças da tribo crescerem e tiverem
seus próprios filhos, vão contar a história para explicar a eles por que a lua
some de vez em quando. Aquele conto.
No começo, portanto, é assim que eu existo: quando as pessoas narram
historias – sobre deuses, sobre monstros, sobre criaturas fantásticas. Historias
que atravessam os tempos, que duram séculos. Como eu.
Aí surgem a escrita. Uma grande invenção, a escrita, você concorda?
Com a escrita, eu não existo mais somente como voz. Agora estou ali,
naqueles sinais chamados letras, que permitem que pessoas comuniquem,
mesmo a distância. E aquelas histórias – sobre deuses, sobre monstros, sobre
criaturas fantásticas – vão aparecer em forma de palavra escrita.
E é neste momento que eu tenho uma grande ideia. Uma inspiração,
vamos dizer assim. Você sabe o que é inspiração? Inspiração é aquela
descoberta que a gente faz de repente, de repente tem uma ideia e muito boa.
A inspiração não vem de fora, não; não é uma coisa misteriosa que entra na
nossa cabeça. A boa ideia já estava dentro de nós; só que a gente não sabia. A
gente tem muitas boas ideias, pode crer.
E então, com aquela boa ideia, chego perto de um homem ainda jovem.
Ele não me vê. Como você não me vê. Eu me apresento, como me apresentei
a você, digo=lhe que estou ali com uma missão especial – com um pedido:
— Escreva uma história.
Num primeiro momento, ele fica surpreso, assim como você ficou. Na
verdade, ele já havia pensado nisso, em escrever uma história. Mas tinhas
dúvidas: ele, escrever uma história? Como aquelas histórias que todas as
pessoas contavam e que vinham de um passado? Ele, escrever uma história?
E assinar seu próprio nome? Será que pode fazer isso? Dou força:
— Vá em frente, cara. Escreva uma história. Você vai gostar de
escrever. E as pessoas vão gostar de ler.
Então ele senta, e escreve uma história. É uma história sobre uma
criança, uma história muito bonita. Ele lê o que escreveu. Nota que algumas
coisas não ficaram muito bem. Então escreve de novo. E de novo. E mais uma
vez. E aí, sim, ele gosta do que escreveu. Mostra para outras pessoas, para os
amigos, para a namorada. Todos gostam, todos se emocionam com a história.
E eu vou em frente. Procuro uma moça muito delicada, muito sensível.
Mesma coisa:
— Escreva uma história.
Ela escreve. E assim vão surgindo escritores. Os contos deles aparecem
em jornais, em revistas, em livros.
Já não são histórias sobre deuses, sobre criaturas fantásticas. Não, são
histórias sobre gente comum – porque as histórias sobre pessoas comuns
muitas vezes são mais interessantes do que histórias sobre deuses e criaturas
fantásticas: até porque deuses e criaturas fantásticas podem ser inventados
por qualquer pessoa. O mundo da nossa imaginação é muito grande. Mas a
nossa vida, a vida de cada dia, está cheia de emoções. E onde há emoção,
pode haver conto. Onde há gente que sabe usar as palavras para emocionar
pessoas, para transmitir ideias, existem escritores.
Responda oralmente:
a) Comente o que você entendeu sobre o conto.
b) Pesquise em livros ou na internet, como é a estrutura de um conto.
ATIVIDADE 3
PROFESSOR: Retomar a aula anterior, verificar o que os alunos trouxeram
sobre conto e fazer um esquema no quadro, para um melhor entendimento.
Peguem o livro “Joaquim e Maria e a Estátua de Machado de Assis” e juntos
vamos fazer a leitura do 1º capítulo – Joaquim e Maria conhecem Joaquim
Maria.
Para refletir e discutir:
1. Leia a capa do livro e observe as seguintes informações: o autor, o
ilustrador, a editora, o local de publicação, a edição e o ano.
2. Você já ouvira falar de Joaquim Maria Machado de Assis?
3. Leia a biografia e comente sobre algumas informações sobre o autor
do livro.
PROFESSOR: Neste momento deve-se fazer um breve resumo sobre a vida d
o escritor Machado de Assis. Sua vida, sua condição de mulato numa época de
escravidão. Ressaltar a importância de sua produção, a qual provoca análises,
estudos e interpretações. Comentar também, o uso do humor corrosivo
presente em suas obras. (Um homem que poderia ter sido apenas mais um
brasileiro fadado à limitada condição financeira imposta por sua origem, filho de
mulatos e neto de escravos alforriados, não fosse o talento.)
ATIVIDADE 4
Observem estes objetos:
PROFESSOR: como sugestão, pode-se preparar a sala com lenços, mesa,
vela, bola de cristal, baralho, com intuito de criar um clima para a leitura do
conto.
a) O que esses objetos o faz lembrar?
b) Você já ouviu falar em cartomante?
c) Você já procurou uma cartomante para saber alguma coisa à respeito de
sua vida?
d) Na sua opinião, ela adivinha realmente o que acontecerá na vida das
pessoas que a procuram?
Agora, vamos ler juntos o capítulo 14 – “A cartomante na ouvidor”
a) O que o título tem haver com a narrativa?
b) Por que Maria insistiu para irem até a cartomante?
c) A cartomante falou realmente o que Maria procurava saber?
ATIVIDADE 5
Leiam o capítulo 15- “Meu reino por um tílburi”.
Questões a serem debatidas:
1. Observe o vocabulário, características do texto, entre outras.
2. Por que foi dado o título “Meu reino por um tílburi”?
3. Você sabe qual a diferença em “os mistérios da vida” e
“charlatanice”?
ATIVIDADE 6
O conto que vamos trabalhar agora é “A Cartomante” de Machado de Assis.
Qual será o argumento tratado neste conto?
A Cartomante
1ª parte:
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que
sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço
Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter
tido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras
palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que
fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse
o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: ‘A senhora gosta de
uma pessoa... ’ Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas,
combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me
esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por
sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe
queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; e, todo o caso, quando
tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-
a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e
depois...
— Qual saber! Tive cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na Rua Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião.
Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas cousas? Perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe
que havia muita cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não
acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que
mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.
Cuido que ela ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as
ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve
arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos
desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e
ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os
ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação
total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não
possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é
ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério,
contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de
ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por
ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar
de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos,
onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das
Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da
Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Questões a serem abordadas:
1. Hamlet é o protagonista do drama teatral Hamlet, de William
Shakespeare. Na peça, o jovem príncipe Hamlet descobre que seu
pai foi assassinado por seu tio. Quem lhe faz essa revelação é o
próprio fantasma de seu pai. Logo após o encontro com o fantasma,
Hamlet pronuncia a célebre frase: “Há mais coisas no céu e na terra
do que sonha a nossa filosofia”. No restante da ação dramática, ele
planeja e executa sua vingança contra o tio Cláudio, e a mãe,
Gertrudes.
a) Ao fazer referência a Hamlet, de William Shakespeare, o narrador
está fornecendo ao leitor uma pista do que vai acontecer no
conto?
b) Se você concorda que a referência a Hamlet é uma pista dada
pelo narrador, você imagina que possa acontecer no conto algo
parecido com o que acontece na peça?
2. Com base no que você leu até aqui, você imagina quem poderia ser
Vilela?
3. No conto, a cartomante disse a Rita: “A senhora gosta de uma
pessoa...”.
Segundo Rita a cartomante adivinhara tudo. Você considera essa
afirmação como uma “adivinhação”?
4. Os poderes da cartomante, segundo as opiniões de Rita e Camilo,
são iguais ou diferentes? Comente sua resposta citando informações dadas
pelo narrador a respeito dessas duas personagens.
5. Na primeira parte do conto, as personagens apresentam
preocupações diferentes. Quais são? Com base nessas preocupações, qual
poderia ser o conflito do conto?
2ª parte do conto:
Agora leiam a segunda parte do conto, comparem suas hipóteses com o
desenrolar da história e vejam se elas se confirmam ou não. Anotem as
palavras e passagens que vocês não compreenderam.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação
das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela
seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a
vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu
não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de
1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta;
abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe
casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
— É o senhor? Exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina
como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois,
Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas
do marido. Realmente, era graciosa e viva dos gestos, olhos cálidos, boca fina
e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela
vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o
parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era ingênuo na vida moral e
prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a
natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem
intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu
a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes
amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou
especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que
gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase
uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que
ele aspira nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os
mesmo livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e
o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco
menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de
Rita, que procuravam muita vez os deles, que os consultavam antes de fazer
ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos,
recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão
com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio
coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares;
mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de
praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos
ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o
cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita, como uma
serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num
espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado.
Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi
curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se
acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando
folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que
algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e
estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava
imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo,
e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este
notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola
de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas
cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de
amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar
menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à
cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de
Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz
repreendeu-a por te feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo
recebeu maus duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam
ser advertências da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a
opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este
pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só
o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse
ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era
possível.
— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para compara a letra com a
das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-
se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo
ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à
casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de
algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era
confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se
por algumas semanas. Combinaram os meio de se corresponderem, em caso
de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, esteando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de
Vilela: ‘Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora. ’ Era mais de
meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-
lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra
fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas
cousas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele
com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da orelha de uma drama, Rita subjugada e
lacrimosa, Vilela indignado, pegando da pena e escrevendo o bilhete, certo de
que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo:
depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a ideia de recuar, e foi
andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de
Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a
ideia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural
uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçava antes; podia
ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas,
sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as
palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era
ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela.
‘Vem, já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora. ’ Ditas assim, pela voz
do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto
de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou
o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo.
Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada
perdia, e a preocupação era útil. Logo depois rejeitava a ideia, vexado de si
mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do Largo da Carioca, para
entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.
— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim.
Mas ao mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo
voava, e Le não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da Rua da
Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma
carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No
fim do cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a
casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou
tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as
outras estavam abertas pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a
morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era
grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns
fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O
cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele
respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa.
Depois fez um gesto incrédulo: era a ideia de ouvir a cartomante, que lhe
passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu,
reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez
as asas, mais perto, fazendo uns gritos concêntricos... Na rua, gritavam os
homens, safando a carroça:
— Anda! Agora! Empurra! Vá! Vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos,
pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as
palavras da carta: ‘Vem, já, já...’ E ele via as contorções do drama e tremia. A
casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se
diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas
cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários, e a
mesma frase do príncipe da Dinamarca reboava-lhe dentro: ‘Há mais cousas
no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia.’ Que perdia ele, se...
Deu por si na calçada, ao pé da porta. Disse ao cocheiro que esperasse,
e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus
comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada.
Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve ideia de descer, mas era tarde,
a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a
bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo
disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada
ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal
iluminada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos. Velhos trastes,
paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o
prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto,
com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em
cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas
compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para
ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos,
italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três
castra sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande
susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma cousa ou
não...
— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou
outra vez das cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas
descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes;
depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela
declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem
a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita
cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da
beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu
as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão
por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, como dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu,
como se fosse a mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi
à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas,
começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que
desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar
particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas
quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante
fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
— Vejo bem que o senhor gosto muito dela... E faz bem; ela gosta muito
do senhor. Vá, vá tranquilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele,
falando, com um leve sotaque. Camilo despediu dela embaixo, e desceu a
escada que levara à rua, enquanto a cartomante, alegre com a paga, tornava
acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua
estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as cousas traziam outro aspecto, o céu
estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou
pueirs; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que erma íntimos e
familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que
eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio
grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa;
parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à
antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as
palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o
estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O
presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as
velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o
com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado;
mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá,
vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e
graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos,
uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas
felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou
para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um
abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo,
interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de
ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de
pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; o que há?
Vilela não lhe respondeu: tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal e
foram para a saleta interior. Entretanto, Camilo não pôde sufocar um grito de
terror: — ao fundo, sobre o canapé, estava Rita morta e ensanguentada. Vilela
pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
Questões a serem abordadas:
1. Há relação entre a frase de Hamlet e essa história?
2. Confirmou-se ou não, sua hipótese sobre a continuação do conto?
3. Releia o texto do 22º ao 26º parágrafo: “A cartomante... “até “_ A mim
e a ela, explicou vivamente ele.”
Responda:
a) Qual foi a estratégia que a cartomante utilizou para observar bem
Camilo?
b) Segundo sua opinião, a primeira fala da cartomante demonstra
que ela era boa observadora?
4. Pensando nas características psicológicas – emoções, dúvidas,
crenças etc. – há alguma semelhança entre as condutas das
personagens, Rita e Camilo, em ambas as cenas do encontro com a
cartomante?
5. Leia novamente sobre a organização do conto e escreva onde
começa e termina cada uma das partes abaixo:
a) Equilíbrio inicial-
b) Conflito-
c) Clímax-
d) Desfecho-
6. Há pistas, ao longo do conto, que possibilitem prever o desfecho da
narrativa? Justifique sua resposta com elementos do texto.
ATIVIDADE 7
a) Formem uma mesa redonda para debatermos sobre os temas
abordados neste conto; amor, ciúmes, traição, possessividade.
PROFESSOR: questionar com os alunos se há diferença entre namorar e
“ficar(termo que eles usam atualmente), como fica a questão do ciúmes neste
caso.
b) Pesquise em jornais, revistas, internet, sobre reportagens atuais que
remetem aos temas abordados. ( contextualização)
ATIVIDADE 8
a) Apresentem aos colegas o material de pesquisa trazido por vocês.
b) Há alguma relação com o conto lido?
c) Vocês são a favor ou contra a atitude de Vilela? Apresentem a opinião
de vocês, através da página de um jornal. Usem a criatividade.
ATIVIDADE 9
Apresentem o jornal para que seus colegas saibam suas opiniões e
visualizem a criatividade usada na criação.
PROFESSOR: Após apresentação, o material ficará exposto no mural da sala.
ATIVIDADE 10
Sessão cinema: “A Cartomante” - filme
PROFESSOR: Após a projeção, solicitar que cada grupo comente sua análise.
Faz-se necessário ressaltar que não se pretende traçar aqui interpretações
mais profundas entre os temas abordados; busca-se apenas, uma correlação
entre a universalidade dos temas contidos no suporte literário e sua possível
transcrição/adaptação para o suporte audiovisual.
ATIVIDADE 11
Formem duplas e deixem a imaginação fluir. Lembrem-se de algum fato
marcante ou engraçado que aconteceu com vocês e escrevam um conto.
Ilustrem-no.
PROFESSOR: pretende-se, após correção, criar um livro com a coletânea dos
contos criados por eles.
ATIVIDADE 12
Apresentem seus contos para a classe.
PROFESSOR: a apresentação dos contos, será feita após o professor ter
realizado a correção. Em seguida, fazer uma exposição das produções
elaboradas pela turma.
ATIVIDADE 13
Vocês se transformarão em atores. Dividam-se em 4 (quatro) grupos e
cada grupo ficará responsável para fazer uma apresentação do conto e autor
trabalhados.
A apresentação será esquematizada da seguinte maneira;
1º grupo – Biografia do autor Machado de Assis, criação de um perfil do autor
no FECEBOOK.
2º grupo _ Introdução sobre o gênero textual estudado: contos em geral.
3º grupo _ Dramatização do conto trabalhado “A Cartomante”
4º grupo _ Fará comentários sobre os temas abordados no conto: traição,
amor, possessividade.(usando a criatividade: música, desenho, declamação
etc)
PROFESSOR: Esta atividade, após ensaiada, será apresentada aos demais
alunos do colégio, pais e comunidade, na biblioteca da escola, como um
evento literário, onde será ofertado um coquetel aos presentes.Os alunos
apresentarão o resultado do trabalho.
Pode-se também, criar um “blog” para que os alunos possam publicar
comentários a respeito das leituras feitas durante a implementação do projeto.
Como também, comentarem sobre a vida e obra do mestre da literatura
brasileira e exporem seus contos (contos criados pelos alunos).
Sugerir a leitura de outros contos, obras do escritor Machado de Assis
e/ou de outros escritores, a fim de que ampliem suas experiências como leitor.
Outra sugestão, é a criação de um “portfólio” ( caderno contendo coleção
de todo trabalho em andamento). Caso o professor opte por esta atividade,
deverá direcioná-la já na primeira atividade.
MATERIAIS NECESSÁRIOS
Recursos a serem utilizados: livro “Joaquim e Maria e a Estátua de
Machado de Assis”, cópia dos contos (disponíveis: site do MEC
<machado.mec.gov.br>), folhas, recortes de jornais, revistas, lápis, lápis de
cor, borracha, internet, data show, DVD, quadro-negro e giz.
AVALIAÇÃO
A avaliação das atividades ocorrerá num processo de conhecimento
contínuo e se dará na medida em que os alunos demonstrarem interesse e
participação no decorrer dos trabalhos, no ensino da literatura. Será avaliado
também, a reflexão a partir do texto, o significado construído e a localização de
sentidos explícitos e implícitos nos textos. Espera-se que os alunos sintam-se
motivados a ultrapassarem os seus horizontes de novas leituras e que estas
possam contribuir tanto no prazer literário quanto na visão de mundo.
REFERÊNCIAS
As imagens foram retiradas do Clip-Art.
DIAFÉRIA, C. DIAFÉRIA, M. Trajetórias da palavra: língua portuguesa, 9º ano.
São Paulo: Scipione, 2009. ColeçãoTrajetórias da Palavra
Machado de Assis – Obra completa. Disponível em: www.machado.mec.gov.br
Acessado em 19 de novembro de 2012.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação.Diretrizes Curriculares da
Educação Básica, 2008, p. 48.
REVISTA, Na ponta do Lápis, página 8. Olimpíada de Língua Portuguesa.
Escrevendo o futuro. Ano IV- número 8. Ed.Especial. 2008.
SANDRONI, L. Joaquim e Maria e a Estátua de Machado de Assis. São Paulo:
Companhia das Letrinhas, 2009.
SOLÉ, I. Estratégias de Leitura. Trad. Claudia Schilling. 6ª edição. Porto
Alegre: Editora Artmed, 1998.
ZILBERMAN, R. A Leitura e o Ensino da Literatura. São Paulo: Contexto, 1988.