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Ficha Técnica

Titulo: Celebração dos 100 Anos da Revolta de Báruè

Direcção: João Baptista Fenhane

Autores: Killian Dzinduwa e Conde Serafim Saiconde

Colaboração: Angélica João Munhequete, Ruben Taibo,

Pascoal dos Santos Saraiva, Alberto Folowara, Epifânio

Caluane Benesse, Mariano Bento e Memore Tachiua.

Design e Maquetização: Cândido Nhaquila

Imagens: Tufo Multimédia e Serviços

No de Registo: 9525/RLINLD/20018

No Depósito Legal: 9525/RLINLD/20018

Ano: 2017

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INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------- 4

BREVE HISTORIAL DA REVOLTA DE BÁRUÈ --------------------------- 6

ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO DAS COMEMORAÇÕES DA REVOLTA DE BÁRUÈ ---------------------------------------------------- 19

ESTRUTURA ORGANIZATIVA DOS 100 ANOSDA REVOLTA DE BÁRUÈ ----------------------------------------------------- 21

ACTIVIDADES ANTECEDENTES À CERIMÓNIA OFICIAL DOS 100 ANOS REVOLTA DE BÁRUÈ ------------------------------------------- 28

CERIMÓNIA OFICIAL DOS 100 ANOS DA REVOLTA DE BÁRUÈ --- 36

RESULTADOS DOS 100 ANOS DA REVOLTA DE BÁRUÈ ----------- 48

BIBLIOGRAFIA ------------------------------------------------------------------- 50

SUMÁ

RIO

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Realizou-se no dia 28 de Março de 2017, na Província de Manica, Distrito de Báruè a comemoração do centenário da Revolta

Zambeziana restritamente denominada de Revolta de Báruè, sob o Lema “Celebrando o centenário da Revolta de Báruè, reforçando a Unidade Nacional, Paz e Desenvolvimento de Moçambique”. No contexto do Programa Quinquenal do Governo (2015-2019), o evento respondeu a Prioridade I: Consolidação da Unidade Nacional, Paz e Soberania, que preconiza a Unidade Nacional como vector central e aglutinador de todos os moçambicanos por um lado, e por outro, como ponto de partida da construção e consolidação dos ideais de promoção e defesa da moçambicanidade.

O centenário da revolta de Báruè se inseriu igualmente no Plano Estratégico da Cultura (2012-2022) no Programa 3: A cultura como elemento de Identidade, Unidade e Coesão Social, que visa promover e valorizar o património cultural material e imaterial como elemento fundamental da identidade moçambicana e da coesão social.

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A celebração dos 100 anos da Revolta de Báruè constituiu o momento em que os cidadãos de todas as gerações provenientes de vários pontos do território nacional, glorificaram e renderam homenagem através de uma série de actividades culturais e científicas ao sacrifício daqueles compatriotas que de forma valente e heróica consagraram as suas vidas em prol da resistência contra a penetração colonial portuguesa.

A revolta de Báruè representa o conjunto de iniciativas levado a cabo pelo povo Barke e diversos grupos sociais e unidades étnicas do Estado de Mwenemutapa sob liderança dos Makombe, ao longo do vale do Zambeze, em resistir contra a ocupação e dominação colonial portuguesa em Moçambique.

Esta revolta iniciou em Março de 1917 e, em reconhecimento a grandeza e simbolismo que representa para a história de Moçambique, anualmente a 28 de Março, a Vila de Catandica, Distrito de Báruè acolhe as cerimónias alusivas as comemorações da mesma. Ciente que em Março de 2017 a Revolta de Báruè completou 100 anos, elaborou-se a presente revista onde são documentados os momentos marcantes que materializaram as festividades da comemoração da efeméride.

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BREVE HISTORIAL DA REVOLTA DE BÁRUÈEstado de Báruè

O Estado de Báruè era limitado ao Norte pelo curso do rio Luenha, ao Sul pelo curso do rio Punguè, a Leste por uma grande linha que definia os prazos de Massangano, Tambara e Gorongoza e, a Oeste pela fronteira da Rodésia do Sul (actual Zimbabwe).

Báruè foi produto da desagregação do Estado de Mutapa, império bastante poderoso que conseguiu resistir à devastação Nguni e às disputas com os Estados Militares vizinhos, apesar de constantes e sucessivas crises de sucessão. O Estado de Báruè foi gerido sob o comando da dinastia Makombe.

Origem dos MakombeFontes escritas convergem em afirmar que as dinastias reinantes em Báruè provieram do Estado de Mutapa, precisamente na região de Mbire, daí a ligação dos Makombe e Mwenemutapa1. 1 Serra, 2000, p.311 e Ferreira, 1982, p.73

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É provável que a formação dos primeiros Estados em Moçambique tenha se iniciado na região situada a Sul do Zambeze. No início do século XVI, os imigrados de língua Shona vindos do actual Zimbabwe impuseram sua dominação sobre a região que se estendia desde a margem sul do Zambeze até ao rio Save. A frente deste poderoso reino encontrava-se o Mwenemutapa, dele o Império dos Shona extraiu o seu nome. Ainda que as guerras civis que se seguiram tenham reduzido o poder do Mwenemutapa e oferecido a vários chefes provinciais a possibilidade de fazer sucessão e de criar reinos autónomos, a hegemonia Shona se manteve em toda a região. Os mais potentes desses Estados Shona independentes - Báruè, Manica, Quiteve e Changamira continuaram a dominar efectivamente a parte meridional de Moçambique central, até o século XIX. (Ajayi, 2010: 212/13)

Estrutura política e administrativa dos MakombeAté finais do século XVII, os Makombe possuíam o estatuto de uma unidade política independente do Mwenemutapa. Para a administração do território, o Mambo2 contava com assistência de um conselho de anciãos e com os Nyangulo3. Os Madoda4 formavam um conselho restrito que integrava também membros da família real. A indicação dos Madoda era com base no prestígio e respeito que gozavam na comunidade.

O defensor da soberaniaMakombe foi timoneiro e impulsionador da resistência à ocupação colonial, numa área que vai do rio Zambeze ao Púnguè e dos rios Luenha ao oceano Índico. Makombe é tido comummente como símbolo de resistência à ocupação colonial na região, por não ter facilitado a “usurpação” das suas terras pelos colonizadores europeus por um lado, e por outro, ter infundido no ânimo dos 2 Chefe africano. 3 Título hereditário, passado de pai para filho.4 Designação dada aos anciões na Província de Manica.

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seus contemporâneos, os dados primários daquilo que hoje é nacionalismo.

O segundo facto relevante é a afirmação de que a chegada de Makombe à região dos actuais distritos de Báruè, Guro e Macossa, foi seguida de uma “campanha” de submissão à sua soberania, de todos outros grupos já aí residente.

As batalhas

Antes de entrar no cerne da questão da revolta de Báruè, importa demonstrar que ela não foi um acto espontâneo e descontextualizado. A histórica revolta de Báruè, é antes de tudo, o culminar de um longo processo de lutas guerreiras, de vitórias descontinuadas por alguns recuos e avanços, a saber:

1. Batalha de Chideu

A história oral local guarda importantes memórias desta batalha, considerada a primeira opondo Makombe aos portugueses, ocorrida em Chideu/Dari-Dari, junto ao rio Púnguè.

De acordo com Rosário (1996: 30/31) a história oral narra que, a batalha foi breve. No dia do confronto, os dois contingentes encontravam-se em Chideu. É referido que o contingente português era comandado por Magalhães, vulgarmente conhecido por Mupungura, a frente de uma coluna que partira de Masekese (Manica). Conta-se que os portugueses foram surpreendidos pelo dispositivo bélico5 e estratégia de combate de Makombe.

5 Armas adquiridas quer pelo comércio, quer pelo saque aos prazeiros, aventureiros e comerciantes que penetravam pelo rio Zambeze.

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Batalha de Chideu. Fonte: Artur 2017

2. Batalha de Mafunda

A batalha de Mafunda fundamenta-se no ardor dos portugueses, através do seu estratega militar João de Azevedo Coutinho que pretendia eliminar todas as aringas do vale do Zambeze, essencialmente as do Norte da região do Báruè, que constituíam eminentes focos de oposição ao avanço dos portugueses na conquista de mais terras do interior, a partir de Sena.

A batalha teve lugar no dia 19 de Novembro de 1891 quando, João de Azevedo Coutinho, subindo pelo rio Zambeze apoiado pelos prazeiros, aproximou-se da aringa de Mafunda onde, crendo na sua superioridade militar, ordenou o seu assalto, sem aguardar pela chegada de toda a sua artilharia. A guarnição da aringa era dirigida por um Chefe de guerra de Massangano designado

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Mwanambwa-a-Kuwa, o qual contava com 4.000 homens armados com espingardas e flechas. (Rosário, op. cit.: 33)

As consequências da aventura de João de Azevedo Coutinho resultaram em 40 mortos e cerca de 200 feridos, sofrida pelo contingente português.

Batalha de Mafunda Fonte: Artur 2017

3. Batalha de Nyachirondo Mussongwe - 1

Em 1890, Manuel António de Sousa (Gouveia) tentou retirar o território da actual província de Manica do controlo da Companhia de Moçambique. Desta conspiração resultou a sua captura pelos agentes da British South Africa Company (BSAC) no mesmo ano de 1890, o que deu tempo aos descendentes da família real, em Báruè e os da família Vicente da Cruz, então refugiados na margem esquerda do rio Zambeze, para se aliarem ao Chefe autóctone Tawara N´toko e o Chefe Angoni Chikuse.

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Conseguida a junção e as alianças, prepararam de imediato, uma contra-ofensiva militar contra o Gouveia, sob a liderança de Makombe Kanga, filho de Makombe Chipapata que ascendera ao título de Makombe e encabeçara a contra-ofensiva. Uma das particularidades do Makombe Kanga foi ter-lhe sido atribuída a herança de um médium ou Svikiro. Este Svikiro tinha a virtude de transformar as balas inimigas em água. (Rosário, op. cit.: 36/37)

No entanto, antes que o esquadrão de Makombe Kanga entrasse em acção, foi antecipado por Gouveia. De facto, depois da sua soltura pelos britânicos de Cecil Rhodes, Gouveia atacou a fortaleza de Nyachirondo Missongwe, onde a coligação chefiada por Makombe Kanga se encontrava. Foi nesta batalha que Gouveia foi atingido mortalmente, no dia 20 de Janeiro de 1892. (Ibidem)

Batalha de Nyachirondo Mussongwe – 1 Fonte: Artur 2017

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4. Batalha de Nyachirondo Mussongwe - 2

A progressão dos portugueses era já um facto e tudo fazia crer que os guerreiros nativos tinham optado pelo recuo como artimanha que permitisse, a qualquer momento, cercar e dar o golpe fatal às colunas europeias, já que tendiam a confinar-se nas redondezas da aringa de Nyachirondo/Mussongwe. Os guerreiros dos Makombe pretendiam aproveitar-se das colinas laterais que fazia à via de acesso à aringa.

Ao fundo do corredor formado pelas colinas estavam estacionadas as ensacas dos veteranos de Makombe Kanga, sob comando de Kabendere, estando nas colinas laterais, as ensacas mais jovens fornecidas pelos chefes Kambwemba e Kavunda, então sob comando de Mussona.

Os sipaios que abriam caminho para a coluna portuguesa foram surpreendidos pelo fogo cruzado dos nativos, provocando baixas consideráveis, no entanto, a artilharia que os circundava teve tempo de se desdobrar e escalar as colinas, indo surpreender, por sua vez, os autores da emboscada.

Neste combate, o comandante mais activo dos guerreiros, o Kabendere, foi atingido mortalmente, tendo gerado pânico e incerteza entre os seus comparsas que iam abandonando o campo de batalha, um após outro. Como corolário deste incidente, os invasores puderam tomar de assalto a aringa intacta e repleta de víveres no dia 28 de Agosto de 1902.

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Batalha de Nyachirondo Mussongwe – 2 Fonte: Artur 2017

5. Revolta de Báruè

O primeiro interesse dos orquestradores da revolta de Báruè era a irradiação do domínio colonial da sua “Pátria” e repor a dignidade.

Causas da revoltaTudo começa em 1914, quando o Governo Português decidiu mandar construir uma estrada ligando Tete à Macequece, passando por terras de Báruè, que permitisse um maior controlo administrativo das zonas interiores e, o recrutamento fácil de homens para lutar contra os alemães que haviam penetrado em Moçambique pelo Norte, vindos de Tanganyika (actual Tanzânia), no decorrer da 1ª Guerra Mundial. Esse recrutamento era feito de forma abusiva por parte do pessoal administrativo português.

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A abertura da estrada anteriormente referida, resultou no recrutamento forçado de carregadores e trabalhadores. O seu recrutamento efectuava-se nas habituais condições de exploração: coerção, ausência de salário e alimentação, violação das mulheres e raparigas pelos sipaios e por certos brancos.

Eclodir da revoltaA revolta de Báruè iniciou a 27 de Março de 1917, quando as regiões de Chemba, Tambara e Chiramba foram atacados e paralelamente os camponeses de Sena e Tonga se sobrelevaram.

A primeira frente a entrar em acção foi a do Centro (comandada por Nongwe-Nongwe e Kwedzani), denominada frente de Tete, ao tomar de assalto em 28 de Março, o Posto de Mungari, cujo chefe já havia empreendido uma fuga, como o fizeram os brancos da Vila de Catandica, Chemba, Tambara e Chiramba para irem se refugiar em Sena.

Encontrando uma facilidade inesperada, os revoltosos estenderam a sua acção a Massangano, que puderam ocupar no dia 29 de Março, para no dia seguinte se apropriarem de Tambara e de Chiramba. Em pouco menos de uma semana, os insurrectos eram “donos” de grande parte do seu território, sem encontrar a oposição que tanto receavam.

Quanto a frente de Zumbo, a Noroeste, as suas operações iniciaram-se no dia 5 de Abril de 1917, sob comando do Chefe Madzombwe, com assalto a missão de Miruro, já sem missionários. Dois dias mais tarde, Mpangula, comandando os Nsenga e os Chikunda, fez a entrada triunfal em Zumbo, cujo administrador e seu pessoal tinham optado pela fuga precipitada.

Mpangula e seus homens lograram reforçar-se em armas (dois canhões e várias espingardas) e em víveres abandonados pelos fugitivos. A Sueste, o assalto a Vila de Tambara (ex-Vila Paiva de Andrade) permitiu o bloqueio de qualquer comunicação com Beira.

A makombelândia, ou seja Báruè, estava aqui sob o controlo dos

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autóctones, com excepção de Sena, para onde se refugiavam todos os brancos e onde beneficiavam de forte guarnição das Companhias Concessionárias.

Os Báruè não tinham sofrido baixas humanas, ao contrário, beneficiaram-se de reforços vindos de sipaios desertores das Companhias e colunas portuguesas, para além de se terem apropriado de várias armas. A sua fraqueza só pode ter residido na falta de consenso nos objectivos e unidades no seio dos chefes africanos que continuavam ou em pequenas querelas entre si ou animados no saque às propriedades deixadas intactas pelos colonos.

No entanto, o factor de realce que determinou a não conquista de Sena, veio depois dos chefes religiosos terem protestado, que a área em volta do posto de Sena se encontrava o túmulo de um grande rei de Báruè. Foi esta situação e o tempo aproveitado pelos portugueses para a mobilização de reforços para Sena, servindo-se tanto do rio Zambeze como da linha férrea.

Pode se dizer que os próprios insurrectos é que permitiram, dando tempo aos portugueses para pensar numa reviravolta. Com as perdas sofridas, não lhes restava que a Vila de Sena e Beira como centro para a preparação da contra-ofensiva que, como acontecera em 1902, a prioridade recairia na recuperação e defesa dos interesses económicos nomeadamente: as partes úteis da Companhia bem como extinguir o fogo das revoltas.

A partir de meados de Julho, passou a assistir-se, na parte Sul de Báruè, uma série de batalhas particularmente em Chideu, Nyangwa e Kanga na serra de Gorongosa, onde guerreiros de Makosa saíram-se bem contra alguns partidários do Governo Colonial, incluindo colunas portuguesas vindas da Beira.

No Norte, os homens de Nongwe-Nongwe demonstravam a sua bravura frente às contra-ofensivas portuguesas. Foi provavelmente em Mungari ou Massangano, em que Makombe Nongwe-Nongwe saiu derrotado, tendo se refugiado na Rodésia do Sul, em companhia de cerca de 9.000 pessoas e suas famílias. Foi assim que Makombe Nongwe-Nongwe perdeu a sua preponderância

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e, como consequência, iniciou a desagregação da resistência no Norte de Báruè. Apesar deste incidente, a resistência teve focos de continuidade, sobretudo quando Makosa (sucessor de Nongwe-Nongwe) autoproclamou-se Makombe em Agosto de 1917, tendo preferido passar a viver numa região montanhosa situada na margem direita do rio Kaeredzi, junto a fronteira da Rodésia do Sul. Esta opção foi deduzida pela dupla vantagem:

Primeiro, como os rodesianos se tinham recusado a vigiar sua fronteira, conforme o pedido dos portugueses, então, uma vez perto da fronteira, Makosa podia refugiar-se a qualquer momento, em casos de crise extrema;

Segundo, todos os Makombe e seus descendentes, como grande parte da população de Báruè incluindo os guerreiros, haviam se refugiado na Rodésia do Sul e podiam, certamente, constituir uma permanente fonte de reforços em guerreiros, ou uma retaguarda segura.

Makombe Makosa, o último soberano a usar esse título, não foi menos afoito que os seus predecessores. Preferindo combater nas montanhas, local de difícil acesso para as artilharias europeias. Makombe Makosa pôde neutralizar uma ofensiva portuguesa, em Outubro daquele mesmo ano. A sua entrega à causa da libertação era tal que, por essa altura chegou a declarar que preferia morrer a combater que voltar a estar sob o domínio português.

Os portugueses estavam ainda a festejar as suas vitórias quando Makosa, numa estratégia de guerrilha lançou “misteriosos ataques” e os escorraçou sucessivamente dos Postos de Massanga, Changara e Catandika, até meados de Março de 1918, com ajuda do Chefe Samanyanga, tendo confiscado muito material bélico e víveres.

A persistência das perturbações provocadas pelo Makombe Makosa para os portugueses era assunto para tratar escrupulosamente e com relativa urgência. A expedição ao reduto de Makosa foi decidida pelas autoridades de Tete a partir de Julho de 1918.

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Atacado de surpresa, Makombe Makosa não pôde organizar uma resistência eficiente e ao fim de um longo combate, perdeu o seu acampamento principal.

Todavia, mesmo sem os seus mais elementares meios de guerra e de subsistência, Makosa pôde escapar, indo buscar refúgio nos montes Nyabitombwe de difícil acesso, onde se presume que tivesse uma base secreta. Dessa base, sabe-se que volvidos alguns meses, quando uma coluna militar escalou esse monte, Makosa e seus fiéis já haviam passado para a Rodésia do Sul, na região de M´toko, onde os seus homens foram desarmados pelos britânicos. Esta zona montanhosa e rochosa situada junto da fronteira rodesiana e ao longo do rio Kaeredzi foi onde, como todos os outros Makombe precedentes, o Makosa (o último), escapou-se definitivamente dos portugueses. Depois de ter estancado o grande movimento colectivo de revolta, a campanha expedicionária portuguesa começou a estabelecer um sistema administrativo que regulasse a vida dos indígenas.

Batalha princiapal da Revolta de Báruè Fonte: Artur 2017

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Consequências e relevância da Revolta de Báruè

Para Boahen (2010) pode-se afirmar que, do ponto de vista de soberania, uma das consequências e relevância da Revolta de Báruè é a existência de conexão que se estabelece entre a revolta e a antecipação da conquista e o triunfo do nacionalismo africano no geral e moçambicano em particular, se bem que alguns autores como Pelissier (1988) e Serra (2000) preferem situar a acção dos Báruè numa perspectiva pan-étnica e pré-nacionalista, cujo movimento nunca foi totalmente interrompido de 1920 aos anos 60, fase em que a resistência tomou formas mais discretas e teve continuidade através dos diferentes Makombe.

O período colonial constituiu, no entanto, uma fase histórica durante a qual o nacionalismo (aparentemente) domesticado ou esmagado só se podia exprimir sob forma de revolta, novas circunstâncias históricas vão-lhe conferir a estrutura de uma revolução.

Para o caso de Moçambique, este nacionalismo aparece rejuvenescido na década de 60, o que deu outra dimensão as diferentes formas de revolta e de descontentamento - a revolução que culminou com a conquista da Independência Nacional em 25 de Junho de 1975.

Os dados expostos anteriormente permite-nos também observar aspectos comuns existentes entre os conteúdos filosóficos relacionados com a percepção da dominação e o carácter resoluto com que se encara o invasor. Sabemos por exemplo que independência ou morte: venceremos, foi uma das palavras de ordem e de determinação, no processo da Luta de Libertação Nacional. O mesmo tipo de ideal é explícito nessas palavras de Makombe Makosa, em 1917, segundo qual prefiro morrer a combater que voltar a estar sob domínio dos portugueses, sem falar das outras indicações inerentes a unidade dos diferentes grupos sociais e unidades étnicas do Zambeze entre o Báruè e o Mutapa contra o inimigo comum e outras ainda que se referem a incorruptibilidade dos líderes Makombe.

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ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO DAS COMEMORAÇÕES DA REVOLTA DE BÁRUÈ

As comemorações da revolta de Báruè são organizadas pelo Governo Provincial de Manica junto ao Governo do Distrito

de Báruè e o Conselho Municipal da Vila de Catandica. No caso das comemorações do centenário da Revolta de Báruè, envolveu também o Ministério da Cultura e Turismo devido a magnitude que o evento representava.

As comemorações da Revolta de Báruè são uma actividade com enquadramento em diferentes instrumentos legais:

O artigo 14 da Constituição da República prevê a valorização da luta heróica e resistência secular do povo moçambicano contra a dominação estrangeira e na sua alínea d) do Artigo 45, advoga a preservação dos valores culturais;

Na perspectiva do Artigo 3 da Lei nº 10/88 de 22 de Dezembro, a Revolta de Báruè constitui um património cultural;

A Convenção para Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO de 2003, defende a salvaguarda do património cultural imaterial. Assim como a de 2005 enfatiza

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a protecção e promoção da diversidade das expressões culturais.

Em cumprimento destes instrumentos comemorou-se o centenário da revolta de Báruè na Província de Manica, cujas cerimónias oficiais tiveram lugar na Vila Municipal de Catandica, Distrito de Báruè.

Objectivos do centenário da revolta de Báruè

A comemoração do centenário da Revolta de Báruè tinha como objectivo geral:

Celebrar a revolta de Báruè como um marco histórico de resistência moçambicana contra a dominação colonial portuguesa.

De forma específica a comemoração do centenário da Revolta de Báruè pretendeu:

Inaugurar um monumento em homenagem a Revolta de Báruè e dinastia Makombe;

Divulgar o rico património cultural material e imaterial da Província de Manica;

Realizar excursões, palestras, debates, simpósios e comunicações científicas sobre e ou associado a Revolta de Báruè;

Valorizar os ideais da Revolta de Báruè como elemento que contribui para activar o êxito do estruturado nacionalismo moçambicano, que culminou com a conquista da Independência Nacional à 25 de Junho de 1975;

Contribuir para o fortalecimento da Unidade Nacional, consolidação da Paz, exaltação da moçambicanidade e desenvolvimento nacional.

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ESTRUTURA ORGANIZATIVA DOS 100 ANOS DA REVOLTA DE BÁRUÈ

Para a materialização de actividades com vista a garantir a preparação e comemoração das cerimónias alusivas ao

centenário da revolta de Báruè, o evento foi organizado pela Comissão Provincial de Grandes Eventos e Datas Comemorativas (COPROGEDAC) da Província de Manica em coordenação com o Ministério da Cultura e Turismo. A COPROGEDAC tinha as seguintes subcomissões de trabalho:

1. Coordenação Geral

Actividades:Coordenar a execução de todas actividades das

subcomissões;

Apreciar e aprovar os documentos elaborados no âmbito da preparação do evento;

Apreciar e aprovar os orçamentos e/ou encargos do Centenário da Revolta de Báruè.

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2. Programação e Documentação

Actividades:Preparar e apresentar o projecto do centenário da Revolta

de Báruè a diferentes entidades;

Elaborar termos de referência das subcomissões;

Propor o programa da realização do centenário da Revolta de Báruè;

Produzir sínteses das reuniões do trabalho da comissão coordenadora;

Preparar os convites para várias personagens convidadas;

Prepara anúncios e publicidades do evento.

3. Logística e Alojamento

Actividades:

Garantir a disponibilidade de espaços, material e equipamento diverso para o evento;

Garantir o alojamento e alimentação dos participantes;

Garantir o áudio do equipamento sonoro;

Assegurar transporte local para convidados de honra;

Garantir o abastecimento em combustíveis a todas viaturas envolvidas no evento.

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4. Protocolo

Actividades:

Arrolar, classificar e propor a lista de convidados e participantes;

Assegurar crachás para os participantes; Receber os participantes e alojá-los; Prestar assistência aos participantes;Garantir o tratamento protocolar às altas individualidades e

todos os participantes do evento; Assegurar a organização do protocolo nos locais do evento; Assegurar o cumprimento rigoroso do horário e programas

definidos, evitando os improvisos.

5. Actividades Culturais e Mobilização Social

Actividades:

Programar e supervisionar as actividades culturais; Elaborar o alinhamento de grupos culturais na cerimónia

oficial e no espectáculo; Manter a ordem necessária e disciplina dos grupos presentes

no evento; Garantir a contratação de músicos locais e de fora da

Província.

6. Transporte e Comunicações

Actividades:

Organizar o transporte para as diversas subcomissões de trabalhos para a preparação e realização do evento;

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Organizar o transporte em coordenação com os distritos para a movimentação dos artistas para o distrito de Báruè e locais de espectáculos;

Solicitar apoio aos transportadores públicos e privados para a movimentação dos grupos culturais;

Inventariar e gerir as viaturas das instituições do Estado na Província para os trabalhos das celebrações do centenário.

7. Infra-estruturas, Ornamentação e Embelezamento

Actividades:Fazer o levantamento das necessidades para a ornamentação

e embelezamento; Ornamentar e embelezar os espaços abrangidos pelo

evento; Garantir a construção de palcos, barracas, sanitários

públicos e tribuna principal; Garantir a reabilitação da via que dá acesso ao local; Garantir a identificação de espaços para o parqueamento de

viaturas; Garantir o abastecimento de água; Garantir a iluminação dos locais dos eventos, traçando

medidas que visam garantir fornecimento sem interrupções da corrente eléctrica e alocação de gerador onde se achar necessário.

8. Saúde e Apoio Humano

Actividades:

Velar pelos aspectos relacionados com a saúde e higiene nos locais de acomodação dos artistas e outros convidados;

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Velar pelos aspectos relacionados com a saúde e higiene nos locais onde decorrerão as actividades das festividades do centenário;

Assegurar a observância de aspectos relacionados com a saúde e higiene nos locais onde serão servidas refeições durante as festividades do centenário Makombe.

9. Defesa e Segurança

Actividades:

Garantir a protecção e segurança de individualidades e de todos participantes;

Garantir a ordem e tranquilidade públicas, de forma particular no local dos eventos;

Garantir a salvação pública em caso de incêndios; Regular o trânsito durante as festividades.

10. Finanças

Actividades:

Elaborar as propostas orçamentais das despesas a serem efectuadas no âmbito das festividades do centenário;

Garantir a distribuição e alocação dos fundos para a realização de várias actividades;

Angariar fundos para cobrir as despesas a serem efectuadas no âmbito das festividades do centenário;

Gerir os fundos disponibilizados de acordo com as regras e procedimentos sobre a gestão do orçamento do Estado, no âmbito das festividades do centenário;

Apresentar o relatório de contas das despesas efectuadas na preparação e realização do centenário.

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11. Imprensa

Actividades:

Assegurar a divulgação pela imprensa antes e durante a realização do centenário;

Coordenar com adidos de imprensa de entidades de alto nível sobre a realização de declaração ou conferências de imprensas previstas no programa das festividades do centenário;

Garantir a ampliação sonora nos locais onde irão decorrer as actividades do centenário;

Assegurar a realização de conferências de imprensa inserida no programa das festividades;

Assegurar a criação das condições logísticas que permitam aos jornalistas e outros profissionais da comunicação social acompanhar todo o programa do centenário.

12. Exposição e gastronomia

Actividades:

Organizar os expositores por área de produto, serviço e/ou gastronomia;

Garantir a ordem dos expositores no local; Divulgar os critérios e condições de participação; Garantir todas as condições necessárias para o efeito.

13. Subcomissão Científica

Actividades:

Elaborar termos de referência das comunicações científicas;

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Avaliar os resumos de artigos científicos; Comunicar sobre comunicações aprovadas; Propor o programa da realização do seminário de

comunicações científicas; Compilar as apresentações e comunicações; Produzir uma revista de artigos científicos;Coordenar outras actividades de carácter académico e

científico.

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ACTIVIDADES ANTECEDENTES À CERIMÓNIA OFICIAL DOS 100 ANOS DA REVOLTA DE BÁRUÈ

A partir do mês de Janeiro de 2017, o Governo da Província de Manica em coordenação com o Ministério da Cultura e Turismo,

levou a cabo uma série de actividades abaixo descritas que corporizaram os preparativos para as comemorações da cerimónia oficial do centenário da Revolta de Báruè cuja realização foi no dia 28 de Março de 2017.

Construção de monumento consagrado à revolta de BáruèPara comemorar a Revolta de Báruè e homenagear a dinastia Makombe, um monumento composto por um Mural, uma Palhota e um Centro de Interpretação foram erguidos no Distrito de Báruè, Vila Municipal de Catandica, Bairro Sanhatunzi.

O monumento resultou de uma auscultação comunitária que envolveu membros do Governo do Distrito de Báruè e Autoridades Tradicionais. É um projecto que remonta a 27 de Março de 1997, data do lançamento da primeira pedra, aquando das comemorações do 80o aniversário da Revolta de Báruè.

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Desde então, multiplicaram-se debates sobre o conceito e o formato do monumento. Delegações científicas foram aos Arquivos e Centros de Documentação na República do Zimbabwe, em busca de fotografias de qualquer um dos Makombe, debalde. Vincou entre os diversos Investigadores interessados pelo assunto, o facto de não ter havido convívio entre estes e os europeus, o que possibilitasse o registo fotográfico e documental exaustivo, bem como a sua morte. Geralmente por desaparecimento, transformação em aves ou outros animais e principalmente, o retorno às terras de origem dos seus ascendentes, em Mbire, território da República do Zimbabwe.

Assistiram-se momentos de estagnação do debate, tendo este retomado em 2014, perspectivando-se o centenário da Revolta de Báruè, quando o Governo da Província de Manica iniciou as diligências para a construção do monumento. Com vista secundar as auscultações comunitárias, foram chamados vários investigadores a prestar seu apoio em ideias de maneiras a dar forma e conteúdo ao monumento, tendo Domingos Artur do Rosário, autor da obra Makombe: Subsídios a reconstituição da sua personalidade, e pesquisadores do ARPAC - Manica ajudado na concepção do projecto do monumento. Nos debates havidos, concordou-se que o monumento deveria ser expressivo, comunicativo e com capacidade de transmitir os múltiplos simbolismos e dimensões da história da região bem como dos Makombe.

A concepção do monumento deveria tornar o local num espaço mais atractivo e agradável sem esquecer que os Makombe eram guerreiros hábeis e nativos de terras montanhosas. Foi possível notar que seria necessário construir uma palhota representativa, onde decorrerão cerimónias de invocação aos antepassados. Sendo o monumento o local de reflexão e meditação ou de reencontro com as tradições sugeriu-se que instalasse um centro de interpretação para depositar artefactos e todos os vestígios da dinastia Makombe.

Das ideias discutidas, emergiu um conceito gráfico de implantação do monumento da qual nasceu o projecto definitivo. O monumento Makombe feito de pedras é constituído por um mural, uma palhota e um centro de interpretação.

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Representação gráfica da implantação do monumento: Desenhado por Killian Dzinduwa, ARPAC - Manica

Monumento erguido em homenagem à revolta de Báruè

MuralTrata-se de um muro feito de pedras com formato de elevações nas laterais que simbolizam os amuralhados espalhados no vale do Zambeze, porque os Makombe para além de viverem em grandes amuralhados feitos de pedras, garantiam igualmente a defesa e

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segurança do soberano, uma vez que as suas batalhas muitas vezes eram travadas em locais estratégicos como trunfo para suas investidas.

Os desenhos representados na parte central do muro num formato rectangular, é uma pintura executada directamente sobre a superfície plana da parede, retrata a revolta Zambeziana de 1917, representando a luta de resistência de diversos grupos sociais e unidades étnicas na região centro ao longo do vale do Zambeze, encabeçada por vários Makombe contra a dominação colonial portuguesa em Moçambique.

No mural é possível observar as formas de luta empregues pelos guerreiros Makombe e os materiais utilizados nestas lutas. Estão representados guerreiros com expressão corporal de combate munidos de arcos, flechas, paus pontiagudos e escudos que são armas artesanais de fabrico local utilizados na época, bem como algumas fortificações erguidas de pedras, trincheiras e armadilhas feitas de espinhos e paus aguçados que servia de protecção e defesa contra ataques do inimigo.

PalhotaTendo em conta que os baruístas fazem suas preces dentro de uma palhota, ergueu-se uma construção rústica africana, coberta de palha. É o local onde normalmente realiza-se as preces das cerimónias de invocação e veneração aos espíritos Makombe em particular e dos antepassados do povo Barke em geral.

A cada aniversário de comemoração da Revolta de Báruè, no início de realização das actividades, deve-se entrar em contacto com os espíritos Makombe de modo que tudo decorra da melhor maneira possível.

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Palhota para veneração aos espíritos Makombe

Centro de InterpretaçãoRefere-se a uma instituição permanente, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento aberto ao público que visa conservar, investigar e divulgar os artefactos da Revolta de Báruè, dos Makombe e de seu entorno, assumindo assim um papel importante na interpretação da cultura e na educação do homem, no fortalecimento da cidadania e do respeito à diversidade cultural.

Para apetrechar o centro de interpretação, foram elaborados textos sobre a Revolta de Báruè e esquematizadas as batalhas que antecederam a revolta propriamente dita. Depois de maquetizado os posters, foram fixados nas paredes internas do centro de interpretação. Para além dos posters explicativos, foram seleccionadas, legendadas, imprimidas e colocadas nas paredes do centro de interpretação algumas fotos de locais por onde a dinastia Makombe passou e recolhidos igualmente testemunhos materiais da Revolta de Báruè, dos Makombe e de seu entorno.

De forma a subsidiar os visitantes ao centro de interpretação, expôs-se livros, brochuras e folhetos que retratam a história da Revolta Zambeziana de 1917 e da dinastia Makombe em particular e da luta contra ocupação colonial portuguesa em Moçambique e dos her óis moçambicanos no geral.

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Centro de interpretação

Palestras sobre a Revolta de Báruè

No quadro das celebrações do centenário da Revolta de Báruè, foram elaborados textos para palestras com o objectivo de divulgar a história sobre a Revolta do Báruè e a dinastia Makombe. O material foi enviado às Repartições de Cultura dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia dos Distritos de Báruè, Guro e Macossa. As palestras foram ministradas pelos professores da disciplina de História e a sua abrangência encontram-se apresentadas na tabela que se segue:

Distrito Nº de Escolas Alunos envolvidosBáruè 3 416Guro 4 2834Macossa 2 1120

Total 9 4370Tabela 1: Palestras ministrada sobre a Revolta de Báruè

Seminário de comunicações científicas

No dia 27 de Março de 2017, o ARPAC - Instituto de Investigação Sócio-Cultural realizou na sala de reuniões do Governo Distrital de Báruè, o seminário científico sobre a Revolta de Báruè onde participaram académicos, investigadores, e a comunidade.

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O seminário que contou com a presença de 51 participantes iniciou com a projecção de um documentário preliminar de testemunhos sobre as origens de Makombe e da história da Revolta de Báruè de 1917.

De seguida foram apresentadas comunicações científicas divididas em grupos temáticos previamente definidos, nomeadamente: Luta de resistências contra a penetração colonial em Moçambique, História da Revolta do Báruè, Locais históricos ligados a Revolta de Báruè e o Turismo Cultural e O heroísmo da dinastia Makombe, cujo apresentações e debates foram divididos em quatro painéis, de acordo com a distribuição que se segue:

Artigos científicos apresentados

Seminário científico sobre a revolta de Báruè

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Exposição

Esta actividade teve lugar em dois momentos separados designadamente; no Seminário sobre a Revolta de Báruè no dia 27 de Março de 2017 onde o enfoque principal era o acervo bibliográfico diverso a respeito da Revolta de Báruè e da dinastia Makombe, da Vida e Obra dos Heróis Moçambicanos e da Luta Armada de Libertação Nacional. O segundo momento foi no dia 28 de Março aquando da cerimónia oficial que envolveu produtos agrícolas, gastronómicos, artesanais e literários para além de serviços financeiros e ficais.

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CERIMÓNIA OFICIAL DOS 100 ANOS DA REVOLTA DE BÁRUÈ

No dia 28 de Março de 2017, no Bairro Sanhantunzi, cerca de 5km Sul do centro da Vila Municipal de Catandica, Distrito de

Báruè, Província de Manica, testemunhou-se a cerimónia oficial dos 100 anos da Revolta de Báruè, dirigida por Sua Excelência, Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique. Fizeram parte da efeméride Membros do Governo Central; Membros do Corpo Diplomático acreditado em Moçambique; Deputados da Assembleia da República; Membros do Governo Provincial, Distrital e Municipal; Representantes de Partidos Políticos e Confissões Religiosas; Lideres Tradicionais e Autoridades Comunitárias; Individualidades da arena política, social e económica; Organizações da Sociedade Civil; artistas e grupos culturais; convidados nacionais e internacionais (República do Zimbabwe) e público em geral.

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Momentos da cerimónia oficial

Cerimónia tradicional

A cerimónia oficial iniciou antes do sol nascer, a comitiva composta por representantes dos regulados descendentes dos Makombe se dirigiram ao local da realização da cerimónia especificamente na palhota consagrada à Revolta de Báruè. A realização da cerimonia que ocorre antes de o nascer do sol, parte da crença segundo a qual a comunicação com os espíritos deve ser feita no ambiente calmo e fresco sem perturbações de raios solares para garantir uma boa comunicação e obter dos espíritos ancestrais respostas favoráveis.

A presença das estruturas governamentais no local da realização da cerimonia é condicionada a algumas regras que devem ser obedecidas, tais como, a capacidade de estarem presentes no local muito cedo e sem que tenham mantidos relações sexuais na noite anterior. Os participantes devem se abster igualmente, do uso de trajes de cor vermelha, sejam exteriores ou interiores.

A fase da veneração é composta pela proliferação de mensagens de pedidos aos Makombe. O conteúdo das mensagens no âmbito do centenário era basicamente pedir a protecção dos espíritos para que a cerimónia ocorresse bem. Regra geral, as mensagens são acompanhadas pelo batimento de palmas.

Chegada do Presidente da República e inauguração do Monumento Makombe

Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique, e a comitiva que o acompanhava, chegou no recinto do Monumento Makombe por volta das 10 horas e foi brindado

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por um momento cultural (dança), seguida da inauguração do Monumento consagrado a Revolta de Báruè e dinastia Makombe, que consistiu no corte da fita, descerramento da lápide, deposição de coroa de flores seguidos da entoação do hino nacional pela Banda Militar e plantio de árvore.

A visita do Presidente da República de Moçambique e sua comitiva ao Monumento consagrado à Revolta de Báruè e dinastia Makombe, começou com uma breve explicação a respeito do mural e das pinturas nele patentes, seguidas da visita a palhota, centro de interpretação e feira gastronómica e por último a exposição de produtos artísticos, culturais e turísticos onde foi recebendo explicações a respeito dos diversos aspectos e produtos expostos.

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Intervenções

As intervenções começaram com orações religiosas proferidas pela comunidade cristã e muçulmana seguida das intervenções do representante dos descendentes Makombe, Abílio Melo Mpanze, da Administradora do Distrito de Báruè, Rosa Bias Luís; do Governador da Província de Manica, Alberto Ricardo Mondlane; da Ministra para Assuntos de Manicaland (Republica de Zimbabwe), Mandi Chimene; e do Ministro da Cultura e Turismo, Silva Armando Dunduro. Importa referenciar que as intervenções foram intercaladas por três actuações de grupos culturais de dança e canto.

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O momento mais alto das cerimónias foi marcado pelo discurso de Sua Excelência, Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique, que considerou a Revolta de Báruè como um dos símbolos da resistência moçambicana contra o exército do regime colonial português e marco decisivo de um conjunto de sucessivas afirmações de um povo através de acções de negação e repulsa à humilhação, e exploração do homem pelo homem, almejando por uma Paz e progresso de Moçambique.

O Presidente da República frisou ainda que a Revolta de Báruè foi uma rebelião que marcou mais uma vez, a vontade dos moçambicanos de lutar pela concórdia, independência, e pela sua soberania através da demonstração de determinação e firmeza dos moçambicanos perante as várias formas de luta, para o alcance da liberdade.

Para o Chefe do Estado, as comemorações centenárias constituem uma forma de gratidão e valorização do ideal concretizado dos nossos antepassados, dai necessidade de todos moçambicanos render uma merecida homenagem, a cada um dos nossos compatriotas que com a sua tomada de consciência e heroísmo contribuíram para a nossa libertação.

Discurso dos 100 anos da Revolta de Báruè por Sua Excelência, Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique.

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Referir que mesmo depois da retirada do Presidente da República de Moçambique do local que acolheu as comemorações alusivas aos 100 anos da Revolta de Báruè, manifestações culturais como dança tradicional, música tradicional e ligeira, canto coral e teatro continuaram a ser exibidas noite dentro, por artistas oriundos de diversas partes das Províncias de Manica e Sofala.

Algumas manifestações culturais apresentadas durante a cerimónia oficial do centenário da Revolta de Báruè

Para abrilhantar as comemorações do centenário da Revolta de Báruè, momentos culturais marcaram as cerimónias oficiais. Eis abaixo descritas de forma sinóptica, algumas manifestações culturais exibidas durante o evento.

Dança Mafuwe

É uma dança tradicional, originária do Distrito de Changara, Província de Tete. Na Província de Manica, ela é praticada na zona Norte, no Distrito de Guro. Mafuwe é praticada por homens e mulheres das mais variadas idades sendo que, no passado, era executada somente em cerimónias fúnebres (nkhawa) e de pedido de chuva (kuteta madzi) e actualmente verifica-se igualmente nas cerimónias de recepção de dirigentes, cerimónias públicas, dias comemorativos, festivais de cultura e outras festividades e celebrações.

O grupo de dança é geralmente composto por uma média de 20 elementos, dos quais quatro homens que tocam os três batuques que acompanham a dança., os restantes elementos do grupo são constituídos por cantores, dançarinos e animadores. A dança é executada com os dançarinos dispostos de forma circular, caracterizada pelo uso do corpo seguindo movimentos estabelecidos (coreografia) ou improvisados (dança livre), movimentando-se para o interior e o exterior do círculo, e de frente para trás a medida que o círculo vai girando.

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São usados e tocados instrumentos como o apito, chocalhos (ngocho), batuques, acompanhados de batimentos das palmas das mãos e dos pés.

Actualmente os dançarinos podem executar a manifestação usando indumentária composta por capulana, blusa e lenço para as mulheres e calças, camisa e chapéu para os homens, sendo trajes da mesma cor para ambos sexos. Geralmente a dança é exibida na recepção de dirigentes, nos festivais de cultura, em cerimónias oficiais e fúnebres bem como forma de recreação.

Para o centenário da Revolta de Báruè, a dança mafuwe foi executada numa orquestra composta por artistas dos distritos de Báruè, Guro, Tambara e Macossa.

Dança mafuwe apresentada pelo grupo misto dos distritos de Báruè, Macossa, Guro e Tambara

Dança Mangoni

A dança Mangoni foi apresentada pelo Distrito de Báruè. Refere-se a uma dança tradicional originária do grupo étnico Barke, falantes de ci-barke, e praticada na maioria das vezes por pessoas

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reencarnadas por um espírito. A dança Mangoni estabelece uma relação entre o mundo visível e invisível onde através dela, as pessoas acreditam que os espíritos resolvem os seus problemas, ajudando a solucionar as suas preocupações principalmente no tratamento de doenças. Actualmente ela é igualmente praticada como uma dança recreativa sem necessariamente estarem presente pessoas reencarnadas de espírito, tal é o caso de festivais de cultura. Como dança espiritual, ela é acompanhada pelo consumo de bebida tradicional (dhoro).

A dança é executada fazendo movimentos que consiste em bater os pés sobre o solo de forma alternada (direita e esquerda e assim sucessivamente) e de trás para frente duas vezes e, a terceira vez vai dançando alternado os passos no mesmo lugar e, no final vai tocar o homem que toca Batuque (mpange) como forma de terminar. Depois entra outro elemento do grupo e vai se repetindo até que todos possam exibir as suas habilidades.

As canções retratam vários conteúdos da vida humana, como por exemplo, a canção com a letra “adabala oi oi ndasirira” faz alusão aos que nasceram filhos e que estão bem posicionados socialmente.

Dança mangoni apresentada pelo Distrito de Báruè

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Canto e dança do grupo Religioso Pedra Angular

Para além da dança tradicional, brindou o palco o grupo religioso Pedra Angular. O grupo cristão Pedra Angular usa o canto e dança como forma de educar e conquistar as almas de muitos moçambicanos de modo a sustentar os valores de amor, respeito e paz desta maneira, contribuindo na redução de conflitos que tendem crescer nas comunidades moçambicanas. Trata-se de um grupo religioso da cidade de Chimoio que entoa canções com forte inclinação para as mensagens de paz, ética e moral das sociedades moçambicanas.

O nome Pedra Angular, que também se refere à Igreja na qual o grupo está filiado, surge de uma passagem bíblica no livro de II Pedro 2:6 “Por isso, na Escritura se dizia: Eis que ponho em Sião uma principal PEDRA ANGULAR, eleita e preciosa; a quem nela crer não será confundido”. Segundo o Líder do grupo, Senhor Alexandre Domingos, a igreja tem sua origem nos Estados Unidos de América e chegou a Moçambique através do país vizinho Malawi onde os Moçambicanos que rezam nessa igreja buscaram a inspiração.

Assim como um grupo “eleito e precioso”, tem passos de dança e canções preciosas, inconfundíveis e incomparáveis. Para além de actuar nas igrejas, o grupo já é de renome nas datas comemorativas e outros eventos do Estado onde consegue arrastar as pessoas de várias camadas e crenças. Composto por doze (12) elementos sendo oito (8) homens e quatro (4) mulheres, o grupo basicamente dança ao ritmo de dois (2) pianos e o restante número se dedica no canto e dança.

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Dança Marombe

Dança tradicional praticada nos Distritos de Sussundenga, Machaze e Guro na Província de Manica. Geralmente é executada em momentos de aflição, isto é, quando um indivíduo padece de uma doença espiritual.

É uma dança cerimoniosa que para além de casos de enfermidades, pode ser praticada aquando da evocação dos espíritos durante o pedido de chuva. Actualmente, ela não se restringe aos momentos de aflição, podendo também ser praticada em momentos de lazer, de comemorações e em cerimónias diversas ligadas aos espíritos dos antepassados.

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A dança simboliza um indivíduo com uma doença espiritual que se dirige a casa de um médico tradicional (curandeiro) para fazer a advinha. Chegado ao curandeiro, o enfermo é colocado em um local e de seguida tocam-se alguns instrumentos tradicionais, acompanhados de canções. Depois executa-se a dança até que espírito causador da doença encarne sobre o corpo do curandeiro e, por via deste, informa aos familiares presentes acerca da doença que apoquenta o indivíduo e dos procedimentos que a família pode tomar de modo que o estado normal de saúde do indivíduo se restabeleça.

Geralmente enquanto entoam-se as canções, tocam-se os batuques e o apito. Os dançarinos executam a dança com uma bacia por frente, onde é colocada uma certa quantidade de água.

A coreografia caracteriza-se por duas dançarinas que dirigirem-se para junto da bacia, ajoelham-se e mergulham a cabeça nela. De seguida expelem a água para fora da bacia, simbolizando o processo de consulta, encarnação do espírito, tratamento e cura do enfermo.

Dança Manongua

Do Posto Administrativo de Nhamassonge, Distrito de Guro, Província de Manica. É originária do grupo étnico Nyúnguè. Etimologicamente, manongua refere-se aos “atrasados na assistência à dança ” e designa também espírito mau causador da morte. Esta dança foi parar em Nhamassonge nos anos 50, oriunda de Tsone, na margem do rio Zambeze, Província de Sofala. Antigamente designada de Chicuni, era executada no período nocturno, para não ser assistida por menores de idade. Nos dias de hoje já pode ser praticada a qualquer altura do dia.

Em termos de coreografia, primeiro se comunica aos dançarinos por meio de um sinal de instrumento. Este sinal é secreto e apenas os praticantes ou iniciados naquela dança o conhecem. Os instrumentos são escondidos no cemitério, na toca de um embondeiro onde pensam residirem os espíritos da região. Para se

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retirar os instrumentos do local onde se guardam, faz-se um toque rítmico das palmas das mãos, evocam os nomes dos espíritos pela ordem de importância e do papel que cada espírito desempenhou na comunidade. Com anuência destes, as serpentes se retiram e os encarregados entram na toca e retiram os instrumentos.

De referir que se os espíritos não consentirem, nada se pode fazer, o grupo não pode actuar em lugar algum, o mesmo acontece se faltar um membro com papel de muita importância na dança.

Usam-se panos pretos para cobrir os batuques Nyakawende e Kathowene, que significam esposa e marido, respectivamente. Estes fazem parte de outros seis. Os dois são sagrados e é por isso que ficam sempre tapados com pano preto pois simbolizam o espírito do morto e luto.

Apresentação da dança tradicional Manongua pelo Distrito de Guro

Grupo teatral Makombe

É um grupo composto por vários artistas da Província de Manica que apresenta uma peça teatral assimilando a história da Revolta de Báruè. Na demonstração, os artistas elucidam que a Revolta do Báruè de 1917-1918 marcou o ponto mais alto da luta de resistência nos esforços dos Barke em reaver a sua soberania e em travar a dominação colonial na zona centro do país, particularmente no vale do Zambeze.

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RESULTADOS DOS 100 ANOS DA REVOLTA DE BÁRUÈ

Fortalecida consolidação da Unidade Nacional, Paz e Soberania dos moçambicanos;

Valorizado o historial da Revolta de Báruè e os feitos da dinastia Makombe através da divulgação do processo de luta de resistência contra a penetração colonial portuguesa em Moçambique;

Assegurada a recolha do património cultural material para fins de estudo e deleite;

Incrementada renda dos expositores em feiras de gastronomia, artesanato, livro e disco;

Participaram cerca de quinze mil pessoas dentre dirigentes, artistas, funcionários, alunos e população em geral que

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fizeram parte nas comemorações dos 100 anos da Revolta de Báruè.

Subsidiado o conhecimento da história dos Makombe e da resipiscência a ocupação colonial na região centro de Moçambique.

Ganhos do centenário da revolta de Báruè

O principal ganho mensurável para a Província de Manica no geral e a Vila Municipal de Catandica em particular no âmbito das comemorações dos 100 anos da Revolta de Báruè é sem dúvidas a construção e apetrechamento do Monumento consagrado a Revolta de Báruè. A infra-estrutura foi construída com um duplo propósito, para comemorar a Revolta de Báruè de 1917 e homenagear a dinastia Makombe. Trata-se de um património histórico arquitectónico, pois representa uma produção simbólica e material capaz de expressar a história, identidade cultural e experiências sociais colectivas, a sua preservação pode ajudar as futuras gerações a compreender a sua história e atrair turistas e pessoas interessadas na história e nos costumes da região

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BIBLIOGRAFIA

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BOAHEN, Alberto Adu (2010). História Geral de África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935. UNESCO, Brasília.

FERREIRA, Ana Rita (1982). Fixação Portuguesa e História Pré-Colonial de Moçambique. Lisboa.

PELISSIER, René (1988). História de Moçambique – Formação e Oposição, 1854 – 1918. II Volume, Imprensa Universitária, Editorial Estampa, Lisboa.

ROSÁRIO, Domingos Artur do (1996). MAKOMBE: Subsídios à reconstituição da sua personalidade. Maputo.

SERRA, Carlos (2000). História de Moçambique. Agressão Imperialista, 1886 – 1930. Livraria Universitária da UEM, Maputo.

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ANEXO I

Discurso de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique, por ocasião do Centenário da Revolta

de Báruè

“Celebrando o centenário da Revolta de Báruè, reforçando a Unidade Nacional, Paz e Desenvolvimento de Moçambique”

Senhor Ministro da Cultura e Turismo;

Senhores Membros do Governo;

Senhor Governador da Província de Manica;

Senhor Administrador do Distrito de Báruè;

Senhor Presidente da Vila Municipal de Catandica;

Queridos Lideres Comunitários;

Distintos Convidados;

Minhas Senhoras e Meus Senhores;

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Compatriotas!

Estamos aqui reunidos para venerar uma das páginas da nossa história, o centenário da “Revolta de Báruè”.

A Revolta de Báruè é um dos símbolos da nossa resistência contra o exército do regime colonial português e marco decisivo de um conjunto de sucessivas afirmações de um povo.

Hoje é um dia histórico. É um dia de alegria porque como moçambicanos, celebramos um dos mais emblemáticos, exemplo de bravura e de valorização da nossa dignidade.

Bravura através de acções de negação e repulsa à humilhação, e exploração do homem pelo homem, almejando por uma Paz e progresso de Moçambique.

É com muita honra que uso desta tribuna para, em nome do Povo, do Governo Moçambicano, e em meu nome pessoal, reconhecer e saudar a presença de todos, nesta ocasião em que marcamos o ponto mais alto do reconhecimento dos 100 anos da histórica Revolta de um povo.

Estas celebrações sob o lema, “Celebrando o centenário da Revolta de Báruè, reforçando a Unidade Nacional, Paz e Desenvolvimento de Moçambique”, afigura-se como momento de reflexão sobre o que cada um de nós tem feito para esta pátria.

Endereço as minhas saudações a todos os munícipes de Catandica, um município que acolhe a história comum e agradeço pela calorosa recepção.

Através de vós estendo felicitações a afável e trabalhadora população da província carinhosa de Manica.

Minhas senhoras e meus Senhores;

Compatriotas;52

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Temos o privilégio de nos juntar aqui, aos cidadãos de todas as gerações provenientes de vários pontos do território nacional.

Sentimo-nos mais perto do recital de uma narrativa das páginas de grande simbolismo da nossa história. Uma história que é também, de toda a humanidade. A história da “Revolta de Báruè”, foi por sinal das últimas acções de resistência estruturada contra a presença colonial.

Foi uma rebelião que marcou mais uma vez, a vontade dos moçambicanos de lutar pela concórdia, independência, e pela sua soberania.

Em Moçambique, a ocupação colonial não foi pacífica, aliais, nem podia como não ser.

Foi a demonstração de uma determinação e firmeza dos moçambicanos perante as várias formas de luta, para o alcance da liberdade. E Báruè é um dos exemplos.

O povo de Báruè, abrangia as populações dos territórios hoje conhecidos como distritos de Báruè, Macossa, Guro, Tambara e parte sul da província de Tete.

A hospitalidade dos Moçambicanos é uma tradição milenar. Exemplo disso, foi a abertura com que conviveram com pessoa s de várias partes de Moçambique, de África, da Ásia e mais tarde, da Europa.

Este ambiente de socialização, e o tipo de relações existentes entre os povos que aqui se cruzavam, mudaram bruscamente e de forma violente, a partir de Novembro de 1884 a Fevereiro de 1885.

Estava em curso a implementação das decisões da Conferência de Berlim, na Alemanha, sobre a partilha de África que inclui a sua formalização política e sua partilha, entre si, dos nossos territórios.

Seguiu-se depois, um período conturbado, na medida em que os portugueses, tudo procuravam fazer para mostrar a sua supremacia

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às outras potências colonizadoras. Esta situação não foi aceite pelos nossos antepassados.

Negaram com veemência, e desde sempre, mesmo se nalguns casos, isso lhes custasse a vida. Razão da multiplicação de acções de insurreição, em todo o nosso Moçambique, ao longo dos últimos dois séculos.

Minhas senhoras e meus senhores;

Viemos aqui para viver a história secular. Este momento brinda-nos um regresso a um passado recente. Permite-nos percorrer os trilhos dos passos dos nossos compatriotas que, liderados pelos Makombe, há mais de cem anos, deram exemplo de valentia.

De novo digo, exaltamos os chefes Mawewe, Muzila, Ngungunhane, Khomala, Khupula Muno, Molid-Volay, Mussa-Quanto, Nyaringa, Mataca, entre outros.

Era cada vez mais perceptível que para a queda do colonialismo mostrava-se necessária uma luta pela libertação nacional.

Foi também nesse ideal, pelo qual lutaram os melhores filhos de Báruè, entre os quais, figuras como os Makombe: Hanga, Samanyanga, Nongue-Nongue e Makombe Makossa.

Os Makombe e as populações desta região, notáveis guerreiros nunca aceitaram a submissão à política colonial portuguesa, que era essencialmente repressiva e de exploração.

Caros Compatriotas!

Essas comemorações centenárias constituem, por isso, uma forma de gratidão e valorização do ideal concretizado destes nossos antepassados. Ousaram lutar, sabendo que o faziam contra exércitos melhor armados. Mesmo assim, nunca vacilaram, o que mostra a determinação e vencer com ousadia. Estes ditaram o comando de Mondlane: “A nossa luta é longa e prolongada”.

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Nos princípios de 1917, iniciou a rebelião no Posto de Mungari e, rapidamente se alastrou para Zumbo, Chicoa, Tonga e Sena, pondo os colonialistas portugueses desorientados e obrigando-os a confinarem-se em Tete.

A Revolta de Bárué iniciou a 27 de Março de 1917, quando Chemba, Tambara e Chiramba foram atacados e paralelamente os camponeses de Sena e Tonga se Sobrelevaram.

Meses depois, os portugueses foram expulsos de Massangano, Cheringoma, Gorongosa e Inhaminga. Instalaram-se na companhia de Moçambique. Os Bárué cercaram Tete, Zumbo estimulando outros povos ainda oprimidos.

Compatriotas, a revolta foi de nós todos como se pode ver.

Minhas senhoras e meus senhores;

A grandeza e o carácter excepcional da acção dos baruitas contra o exercício colonial, em Março de 1917, foi o facto de terem conseguido juntar a todos os chefes dos actuais distritos do norte da província de Manica e do sul da província de Tete, para uma acção conjunta contra os invasores e exploradores.

Estamos aqui para fazer justiça à nossa própria história que na prática, ela se espraiou por um vasto território. Ontem, o território, na visão dos Makombe, era a região circunvizinha de Báruè, hoje, do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Indico.

Hoje, derrotado o colonialismo, proclamada por nós a nossa independência, materializam-se vários programas de desenvolvimento. O sossego dos nossos antepassados é ver a todos nós incluído os que não se inspiram no seu passado hoje, livres.

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Moçambicanas e Moçambicanos!

O dia 25 de Junho de 1975 foi o resultado do nosso querer ser livres e independentes. Este é um ideal iniciado desde os primórdios da tentativa de implantação do sistema colonial português no nosso território nacional. 25 de Junho, foi o dia da Victoria da Revolta de Báruè.

É essa a leitura holística e de continuidade, que devemos fazer sobre o nosso passado, onde vislumbramos os factos que conduziram a forma mais estruturada do nacionalismo em Moçambique.

São estes os valores e exemplos de auto-superação que o nosso Governo estimula nos moçambicanos, para fazermos face aos desafios do presente, reflexão e de compromisso para com o desenvolvimento nacional.

Estes são os alicerces do fortalecimento da nossa Paz, da nossa Soberania e da Unidade Nacional. Somos uma Nação que respeita os seus heróis, glorifica a sua história, reconhece e valoriza os sacrifícios daqueles que consagram as suas vidas em prol da liberdade e na defesa da soberania nacional.

É nesta perspectiva que se enquadra as comemorações do Centenário da Revolta de Báruè. A nossa história é rica em conquistas e em bons exemplos. Hoje somos donos do nosso próprio destino.

A Revolta de Báruè ficou assinalada como um marco histórico da resistência moçambicana contra o jugo colonial português. Esta insurreição contribuiu para activar o êxito do nosso nacionalismo.

Hoje, dia em que celebramos o centenário, exortamos aos moçambicanos a render uma merecida homenagem, a cada um dos nossos compatriotas que com a sua tomada de consciência e heroísmo contribuíram para a nossa libertação.

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Cada um de nós deve dar o seu contributo nas várias frentes como: na agricultura, na educação, na saúde, na pesca, na defesa da pátria, na política e demais sectores. Sejamos donos do nosso próprio destino.

A nossa grande mensagem hoje é que, tal como o povo de Báruè, devemos nos revoltar contra tudo o que traz desunião, contra tudo o que nos impede de progredir económica e socialmente e assumirmos as rédeas da nossa história.

A solidariedade, reconciliação e a convivência pacífica entre nós, deve continuar a constituir a nossa marca registada e o rasgo distintivo dos moçambicanos que de mãos dadas e com trabalho árduo constroem o país próspero e de inclusão.

Báruè significa, para nós, coragem, união, foco, determinação e ousadia.

Muito Obrigado pela Atenção Dispensada

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